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REPUBLICA PORTUGUESA Processo n.’: Tipo: Subtipo: Instrutor(es): Relatorio n.’: Assunto: ero. LL =3* 4 Ste $9 LISBOA Ica INSPEGAO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA PND-7/2019 Processo de Natureza Disciplinar Disciplinar Pedro Tinoco Ferreira José Manuel Vilalonga RELAT-12/2021 Relatério Final com proposta de aplicac¢ao de sancao disciplinar Pag 121 Goma: gerlizai pe Telefone: 21 ‘Tektax, 2 OE. ~ ae IGAI INSPE¢RO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA Pig. 221 Run Martens Fedo. 11=3° 4, Se" ‘Teotone 213883430 NAR: 600043 797 1080-159 LISBOA “Telfay: 21 358.3431 emai: geralerign pt ‘REPUBLICA, PORTUGUESA a IGAL INSPEGAO-GERAL DA ADIISTRAGAO INTERNA ‘Transitada em ‘julgado a deci Jio judicial proferida no processo criminal cuja pendéncia fundamentou a suspensio dos presentes autos, propde-se a cessagdo da referida suspensiv. Considera- Se inexistirem quaisquer outras diligéncias que se afigurem iiteis, pelo que se procedera a elaboragdo de relatério final, nos termos do artigo 102° do Regulamento de Disciplina da Guarda Nacional Republicans (de seguida referido abreviadamente pelas iniciais RDGNR). I-INTRODUCAO Na sequéneia da apresentagdo de uma queixa no Departamento de Investigagio Criminal da Policia Judicidria da Guarda apresentada por uma senhora que alegou ter sido violada pelo guarda principal da Guarda Nacional Republicana (GNR) [EEE (nome). enquanto se encontrava detida no Posto Territorial de QE no dia 24 de fevereiro de 2019. foi instaurado processo disciplinar nos servigos de inspec da GNR (PD n’ 164/19CGRD). Atenta a natureza dos factos, Sua Exceléncia o Ministro da Administragao Interna determinou, por despacho de 4 de margo de 2019, que o processo disciplinar instaurado fosse lo ¢ tramitado pela IGAI (11s. 2). Foram juntos os autos relativos ao periodo em que 0 proceso diseiplinar foi tramitado nos servigos de inspegio da GNR (fls. 9 a 50). Foram juntos elementos do processo n° $6/19. 2JAGRD (fls. 56 a 70). Foi imerogado 0 argvito TI (nome) (1. 76 € ss) k ila relative oo arguido A Foi junta informagio de servico e folha de mati HR (20me) (fls. 86 e ss). Foi deduzida acusagio contra © guarda principa! JIE (nome) nos termos seguintes: 1. No dia 24 de fevereiro de 2019, o guarda principal ([ (ome) encontrava-se de servi¢o ao aiendimento no Posto Territorial da GNR i Rua Martens Ferao. n° 11-34, $6 Teleone: 215985430 Nuk: soos 797 1OS0-180 LISBOA, Telefax 213883431 Goeail, gerldigsi gt REPUBLICA, PORTUGUESA =e IGAL . INSPEGAO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA 2. Corea das 23h05m foi entregue sob custédia por elementos da Policia Judicidria, no Ambito do processo que corre termos com 0 NUIPC 50/19.0JAGRD, no posto referido , I 3 AIT (20:2) pernoiiou no posto referido em I. sendo a custédia retomada pela Policia Judicidria no dia 25 de fevereira de 2019, elas 10h40m. 4 0 quarde princip a! I (20:2) era 0 tinico militar presente no posto referido em 1, durante o periodo em que ali permaneceu, uma vez que 0 Guarda inip! CEES (om: ¢o Cards 5. 0 guarda principa! (EEE (nome) realizou o expediente respectivo encaminhou a detida para a cela. iodo em causa patrulhamento exterior. 6. Depois dos elementos da Policia Judiciéria se ausentarem do posto, ao chegarem cela, a detida perguntou se ndo seria possivel aquecer-se. 7 0 quarda principe II (301%¢) encaminkow entao a detida para a sala de convivio, onde se encontrava uma lareira. re ao guarda principal] HE (10m) que pretendia “calor humano, porque 0 marido estava preso 9. O guarda principal (EEE (nome) encaminhou entao a detida para acela 10, Ao chegarem a cela, 0 guarda principal (EE (nome) encaminhou a detida para a cela, tendo esta tocado na zona genital daquele. 11.0 guarda principal (TEE (nome) fechou a porta de cela ¢ foi buscar lengéis, tr Na sala onde se encontrava a lareira, a detida dis sendo-os para o interior da cela, 12. Enconirando-se a detida semada na cela, quando 0 guarda principa! HEE (010102) se aproximou para deizar os tencéis, a detida acedeu ao pénis cto Pag, 421 Rus Martens Ferien 11 =36 48, S66 Telefone: 21 368: 30 NAF: 004s 797 Tos0-199 LISBOA, Telefin 203883431 oman periga pe REPUBLICA PORTUGUESA INSPEGAO-GERAL DA ADVINISTRAGAO INTERNA guarda principal [EE (nome) tendo este procedido & abertura da zona da braguilha. 13. O guarda principal (EEE (ome) interrompeu o ato ¢ recuou até & porta, tendo entdo.a detida solicitado a ida é casa de benho, 14.0 quarda princip.! I (soe) nao obstame a cela dispor de zona sanitdria, encaminho a detida para outra casa de banho, tendo entrado nesta para acender a luz. 15. Estando a detida de costas para o guarda princip]] EE (10%) junto ao lavatério, este aproximou-se daquela 16. Removidas as roupas nas respectivas zonas genitais, 0 arguido penetrou a vagina da detida com 0 seu pénis, encontrando-se por detrds desta. 17. O guarda principal (EE (nome) passados instantes retirou 0 pénis da vagina da détida e ejaculou no exterior. 18. De seguida a detida foi encaminhada para a cela 19. Durante ¢ noite nada mais aconteceu entre o guarda prinip’/ _ HB (nome) ¢-a detida. 20, detida 6 no outro dia, quando se encontrou com a filha, denuncion os factos ocorridos no posto da GNR. 21. O guarda principal (EEE (x0me) desconhecia a detida, nao tendo mantido com a mesma qualquer contacto depois dos acontecimentos da noite de 24 para 25 de fevereiro de 2019. 22. O guarda principal [EE (nome) afirma-se arrependido. 23. O guarda principal (EEE (nome) teve total consciéncia dos atos que praticou, sabendo que os mesmos eram proibidos e sancionados por lei 24.0 guarda principal (EEE (nome) quis praticar os atos sexuais deseritos com a detida no lugar ¢ nas cireunstdneias descritas Run Martens Ferdo. 1-34.66" Telefe: - 21 3582430, NF: 600 043 797 TOs0-189 LISBOA, Telelex: 213583431 devas peal iganp REPUBLICA, PORTUGUESA —— IGAL eA eno ADMUAGAC TERNA 25. O guarda principal EEE (nome) sabia que a detida se encontrava sob custédia & sua guarda, 26. O guarda principal (EEE (nome) agiu livre ¢ voluntariamente, com ncia do cardcter disciplinarmente censurdivel da sua conduta, plena consei 27. Colocando em causa a capacidade funcional e o prestigio da GNR. 28.0 guarda principa! II (20:2) sabia que a sua condita era punida porque proibida por lei 29. O guarda principal (EEE (nome) tem registado em anexo & folha de matricula a sangdo disciplinar de 5 dias de suspensdo, suspensa na sua execugdo pelo periodo de um ano. 30.0 guarda principa! (TEE (nome) encontra-se na 2" classe de comportamento. 31. 0.1° sargento de infantaria (EEE (nome) emitiu informacao, segundo 4 qual 0 arguido revela pouco espirito de disciplina, obediéncia e lealdade; & um militar constantemente insatisfeito com as determinagdes dos seus superiores hierdrquicos; em termos profissionais, & um elemento perspicaz e com espirito de iniciativa, 32. Com os factos exposios, o guarda principal! (EE (nome) praticou infragdo traduzida na: - Violagdo do dever de ohediéncia, previsto nos artigos 8° n°x 1 e 2, alinea a), e 9°, n°s 1 ¢ 2, alinea a), por referéncia aos artigos 2°e 4°, todos do RDGNR: - Violagao do dever de lealdade, previsto nos artigos 8°, n’s I ¢ 2, alinea a), ¢ 10° n° 1, por referéncia aos artigos 2° e 4°, todos do RDGNR: Je 2,alineac),e - Violagéo do dever de proficiéncia a que se reportam os artigos 8°, n 11°, n°s Le 2, alineas a) e b), por referéncia aos artigos 2° e 4°, todos do RDGNR, Pag 621 Ru Martens Ferd, n= 3°. Telefone: 21.388 3430, NAF: 600083 797 HS0-189 LISBOA, Telefax, 213883431 email sevaieai pt REPUBLICA PORTUGUESA = IGAL INSPEGAO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA, - Violagdo do dever de zelo a que se reportam os artigos 8°, n’s 1 e 2, alinea d), e 12° n's Je 2, alinea b), por referéncia aos artigos 2° ¢ 4°, todos do RDGNR: - Violagdo do dever de correcdo, previsto nos artigos 8°, n°s 1 e 2, alinea pe 14%, n°s Le 2, alinea a), por referéncia aos artigos 2° e 4°, todos do RDGNR; e - Violagdo do dever de aprumo, previsto nos artigos 8°, n's 1 ¢ 2, alinea i), ¢ 17° ns Le 2, alineas a) ¢ b), por referéncia aos artigos 2°e 4°, todos do RDGNR. 34. O guarda principal (EEE (nome) ndo beneficia de circunstancias atenuantes, 35. Agrava a responsabilidade do guarda principa (IE (nome) a circunstincia de a infragdo-ter sido cometida em ato de servico ¢ em piiblico [artigo 40°, n® 1, alinea e), do RDGNR]. 36. Nos presentes autos foi aplicadd ao arguido a medida provisoria de transferéncia preventiva. 37. Considera-se ser aplicdvel ao arguido, nos termos dos artigos 21°, n°s 1 ¢ 2, alinea a), 27% n’s Le 2, alinea e), 33° ¢ 41°, n’s 1 ¢ 2, alinea c), do RDGNR, a pena disciplinar de separagdo de servigo. © arguido apresentou defesa, na qual, no essencial, sustentou que o ato sexual praticado com a detida foi consensual. Requereu a realizagio de diversas diligéncias e pugnou a ndo aplicago da sango de separago de servigo (fls. 117 e ss). Juntou documentos (fls. 125 ¢ ss). Foram inquitidas as seguintes testemunhas: - RR (10102) militar da GNR (fs. 210 e ss): - BR (1010) militar da GNR (fls. 212 e ss): - BR, (1012) militar da GNR (fs. 214 & 55): - EE (101n¢) (11s. 216 € ss); - BR (r01me) (fs. 218 & ss): - ES (10) (15. 275): Run Martens Fedo, 11-364", Se 6 Telefone: 21 3583430 NAF. 600 043797 TosD-189 LISBOA Teleie: 213583431 seem geralerign pt REPUBLICA PORTUGUESA =— IGAL IMSPECAO-GERAL DA ADMINISTRACAO INTERNA - RE 010202) (115.277): - (2102) (115. 278); ¢ - ER (10112) (0.279) © arguido produziu alegagdes escritas finais. a Mls. 299 ¢ ss, nas quais concluiu conforme havia coneluido na defesa oportunamente apresentada. Entretanto, no processo criminal que correu termos no Tribunal Judicial da Comarca da Guarda, Juizo Central Civel e Cri 1, Juiz 4, com on’ § 19.2JAGRD, foi proferido acérdio absolutério do arguido (fls. 253 ¢ ss). O acérdio absolutério foi confirmado em recurso pelo Tribunal da Relacdo de Coimbra (fls. 315). Ocorreu o trénsito em julgado da decisao absolutori Il-FACTOS PROVADOS Apreciados, concatenadamente, os elementos que foi possivel recolher nos presentes autos, encontram-: ¢ apurados, com relevancia para o presente processo, os seguintes factos: 1, No dia 24 de fevereiro de 2019, o guarda principal {i (nome) encontrava-se de servico ao atendimento no Posto Territorial da GNR de Cerca das 23h0Sm foi entregue sob custédia por elementos da Policia Judicidria, no Ambito do processo que corre termos com 0 NUIPC 52/19.0/AGRD, no posto referido on |, iS (ome). A EEE (20222) pernoitou no posto referido em 1, sendo a custédia retomada pela Policia Judiciaria no dia 25 de fevereiro de 2019, pelas 10h40m. 4. O guarda principa! SII (nome) era o inico militar presente no posto referido em 1, uma vez que o Guana Princip: TEE (one) co Guat: I (nome) realizavam no periodo em causa patrulhamento exterior. © guarda principal I (nome) realizou o expediente respetivo encaminhou a detida para a cela. Pg 821 Rus Manes Fedo, 11-3" 4.566 Telefipe: 21.3584 30 NE: o00 04879 she189 11804, Telefax’ 213883431 demail:oratiens pt REPUBLICA PORTUGUESA Sa IGAL INSPEGAO-GERAI. OA ADMINISTRAGRO INTERNA 6. Depois de os elementos da Policia Judiciaria se ausentarem do posto, ao chegarem a cela, a detida perguntou se ndo seria possivel aquecer-se. 7. O guarda principal [I (nome) encaminhou entao a detida para a sala de convi io, onde se encontrava uma lareira. 8. Na sala onde se encontrava a lareira, a detida disse ao guarda principal J HR (nome) que pretendia “calor humano, porque o marido estava preso”, referindo que gostava de ter um momento de sexo visto que tal jd nfo sucedia ha muito. 9. O guarda princip:! II (nome) encaminhou entdo a detida para a cela, sendo que a detida, no trajeto, reiterou que ha muito nao fa sexo e que nao se importaria de ter sexo. 10. Ao chegarem 4 cela, o guarda principal [EE (nome) encaminhou a detida para a cela, tendo esta acariciado a zona genital daquele, 11. O guarda principal (EE (nome) fechou a porta de cela e foi buscar lengéis, trazendo-os para o interior da cela. 12. Encontrando-se a detida sentada na cela, quando o guarda principal HB (n0me) se aproximou para deixar os lengdis, a detida acedeu ao pénis do guarda principal [IEE (nome) procedendo a abertura da zona da braguilha e colocando o p na boca, praticando coito oral durante alguns segundos. 13. A detida solicitou entao a ida 4 casa de banho com melhores condigées do que a existente na cela, 14.0 guarda principal (I (nome) cneaminhou a detida para outra casa de banho, tendo entrado nesta para acender a luz. 15. A detida agarrou-o pelo peito e puxou-o. 16. Ato continuo, virou as costas ao arguido, debrugou-se sobre © lavatério, Ievantou 0 vestido que envergava, baixou as meias e cuecas e colocou as maos para tris do seu Pig 021 ‘Rua Martens Fedo aL =3° 4° Telefone, 21 358.3430, NAL: 600043 797 1080-158 LISHOA Telex, 213883431 ana, geraldigaipt REPUBLICA PORTUGUESA — IGAL 7. 18, 19, INSPEGAO-GERAL DA ADNINISTRAGAO INTERNA corpo no intuito de alcangar o arguido, tendo este. por tris, introduzido o pénis ereto no interior da vagina da detida, praticando cépula por cerca de 2 a 3 minutos. © guarda principa! TE (nome) p: sémen e © papel higi sados instantes despejou 0 a de banho onde se nico a que se limpou na sanita da encontravam. De seguida a detida foi encaminhada para a cela, Durante ¢ noite nada mais aconteceu entre o guarda principal (nome) e a detida. A detida s6 no outro dia, quando se encontrou com a filha, denunciou os factos ocorridos no posto da GNR. © guarda principal I (nome) desconhecia a detida, no tendo 4 mantido com a mesma qualquer contacto depois dos acontecimentos da noite de para 25 de fevereiro de 2019. O guarda principal EEE (nome) afirma-se arrependido, - O guarda principal [EEE (nome) teve total consciéncia dos atos que praticou, sabendo que os mesmos eram proibidos e sancionados por lei. 24.0 quarda principal MIME (nome) quis praticar os atos sexuais deseritos com a detida no lugar e nas circunstancias deseritas, 25.0 guarda principal ME (nome) sabia que a detida se encontrava sob custédia a sua guarda. 26. O guarda principal [I (nome) agiu livre e voluntariament plena consciéneia do cardcter disciplinarmente censuravel da sua conduta. 27. Colocando em causa a capacidade funcional e o prestigio da GNR. 28. O guarda principal! III (nome) sabia que a sua conduta era punida porque proibida por lei. Pig 1021 Ra Martens Fer = 4.5766? Telefone: 2135864130 NAF: 600013797 30-189 LISBOA Telefax: 21 358 3431 ama sealaigat ‘REPUBLICA, PORTUGUESA a IGal INSPEGAO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA 29. O guarda principal [EEE (nome) tem registado em anexo a folha de matricula a sangio disciplinar d 5 dias de suspensio, suspensa na sua execugdlo pelo periodo de um ano, tendo a sangao sido declarada extinta no dia 16 de novembro de 2017, 30.0 guarda principal MD (nome) encontra-se na 2* classe de comportamento. 31.0 1° sargento de infantaria [MM (nome) superior hierirquico do arguido, emi ju informagio, segundo a qual © arguido revela pouco espirito de disciplina, obediéneia e lealdade; 6 um militar constantemente insatisfeito com as determinagdes dos seus superiores hierérquicos; em termos profissionais, é um elemento perspicaz.¢ com espirito de iniciativa . No processo criminal que correu termos no Tribunal Judicial da Comarea da Guarda, Juizo Central Civel e Criminal, Juiz 4, com 0 n° 56/19.2JAGRD, foi proferido sido confirmado em acérdio absolutério do arguido, tendo 0 acérdio absolutéri recurso pelo Tribunal da Relagiio de Coimbra, constituindo objeto do processo a pritica pelo arguido de um crime de abuso sexual de pessoa agravado, previsto pelo artigo 166.°, n.°s 1, alinea a), e 2. do Cédigo Penal, . O aresto referido em 32 ja transitou em julgado no dia 2 de fevereiro de 2021 34, (nome) quando sob custédia da Poli exibiu as suas pernas aos inspetores que a guardaram, olhando para os mesmos. Judiciaria, 35. Tal comportamento foi interpretado pelos destinatdrios como ato de sedugio. 36. Os destinatirios disseram A detida, em reagdo ao comportamento descrito, que tal comportamento ndo era préprio, pelo que devia assumir outa atitude, o que aconteceu. I - FACTOS NAO PROVADOS Nao se provaram quaisquer outros factos com relevancia para os autos. De resto, teve a Inspegdo presente no essencial a factualidade provada e nao provada no processo criminal que correu termos no Tribunal Judicial da Comarca da Guarda, no qual foi proferida decisao Pag 118 Run Martens Fert 11-3849. 5%e 6 Telefone) 21 3582430 NAF: 600 043 797 1080-189 LISBOA, Telefax: 213583431 Gamal: seals igat REPUBLICA, PORTUGUESA IGA ISPEGAO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA nal jd transitada em julgado, factualidade coincidente com a versio que o arguido, expurgadas as conclusdes e as formulagéies normativas, apresentou nestes autos. Assim, a Inspegdo nao se pronunciaré com o alegado “i vontade [da detida] com a sua sexualidade”, invocado no artigo 30.° da defesa, uma vez que se trata de matéria manifestamente conclusiva, insuscetivel de ser demonstrada pela prova de factos. Por seu turno, nao se demonstrou que a detida pratique coito oral na via publica IV-MOTIVAGAO, Nos presentes autos a Inspecdo ponderou essencialmente a factualidade apurada no proceso criminal que correu termos no Tribunal Judicial da Guarda, factualidade corroborada de resto, pela prova produzida nestes autos de processo disciplinar. Com efeito, no essencial, a factualidade provada corresponde a versio dos factos que o arguido admite. Assim, a fundamentagiio de facto neste proceso assenta nos factos apurados no processo crime, os quais so confirmados pela prova, testemunhal ¢ documental, produzida em sede disciplinar. Realce-se que a afetago da capacidade funcional da GNR, no contexto, decorre inexoravelmente de 0 tinico militar presente no Posto no momento da pritica dos factos apurados se encontrar a manter relagdes sexuais com a detida, oque provoca inexoravelmente uma erosio catastréfica na capacidade de atengao e de execugdo da missdo que no momento Ihe estava confiada (a guarda da detida e o funcionamento do Posto). prestigio da GNR foi afetado, desde logo pela publicidade que 0 caso mereceu. sendo corroborado pelos depoimentos das testemunhas arroladas pelo arguido. as quais sempre explicitaram que os factos foram comentados (EEE. (nome) fls. 210), todo o Posto ficou afetado (EEE. (nome) fls. 212) e que um GNR fardado nao devia ter feito o que o arguido fez (QM. (nome) fls. 216, esta testemunha acrescentando que “um homem nao é de barro” — trata-se, porém, de consideragdo que nao infirma a percegaio que negativa para a Instituigdio evidenciada, consubstanciando a attibuigao de uma dimensio de fraqueza ao exereicio da fungdo de militar da GNR). Refira-se ainda, no mesmo sentido, que [EB (nome) esclareceu, a fis. 218, que a populagao ficou surpreendida com a noticia que correu sobre os factos em causa. Cumpre ainda explicitar que a factualidade constante dos pontos 34 a 36 decorre das Judicidria TE. (nome) HB (come) c EEE (nome) (cf. fls. 276. 277 ¢ 278. respetivamente). declaragdes prestadas pelos inspetores da Pol Pog 1221 ua Martens Ferro, a 11-34%, Telefone: 21 388.3430 NAF: 600013 797 T0S0-159 LISBOA Telefax, 21 358 3431 Gena. geralaigatp. REPUBLICA PORTUGUESA — IGAl INSPEGAO-GERAL DA ADMINISTRACAO INTERNA Nao foi produzida prova relativa pritica pela detida de coito oral na via publica, pelo que ndio se deu como provado tal facto. Apurados os factos, importa proceder ao enquadramento juridico IV - ENQUADRAMENTO JURIDICO Nos presentes autos diividas no existem de que foi praticada inftagdo diseiplinar por parte do arguido. De resto, € 0 proprio arguido que o admite, quer na defesa que deduziu na sequéncia da acusagao disciplinar, quer nas alegagdes finais, nas quais reiterou o entendimento que havia pugnado antes. ° Na verdade, de atos sexuais pelo arguido, no posto da GNR onde exerce fungdes, no periodo em que se encontra de servigo, alias num periodo em que era 0 tinico militar presente no Posto, pelo que no momento em o Posto se encontrava em exclusivo confiado a sua guarda, com uma pessoa detida nesse mesmo Posto, a sua guarda, consubstancia uma manifesta infragio aos deveres de obediéncia, previsto nos artigos 8°, n°s 1 € 2, alinea a), ¢ 9°, n°s 1 ¢ 2, alinea a), por referéncia aos artigos 2° ¢ 4°, todos do RDGNR, de lealdade, previsto nos artigos 8°, n°s 1 e 2, alinea a), € 10°, n° 1, por referéneia aos artigos 2° ¢ 4°, todos do RDGNR, de proficiéncia a que se reportam os artigos 8°, n’s 1 e 2, alinea c), e 11°, n°s 1 ¢ 2, alineas a) e b), por referencia aos artigos 2° e 4°, todos do RDGNR, de zelo a que se reportam 0s artigos 8°, n’s 1 ¢ 2, alinea d), e 12°, n’s le 2, alinea b), por referéncia aos artigos 2° e 4°, todos do RDGNR, de corregdo, previsto nos artigos 8°, n’s 1 ¢ 2, alinea ), € 14° n°s 1 e 2. alinea a), por referéncia aos artigos 2° e 4°. todos do RDGNR. e de aprumo. previsto nos artigos 8°, n°s 1 e 2, alinea i), ¢ 17%, n's 1 e 2. alineas a) e b), por referéneia aos artigos 2° e 4°, todos do RDGNR. A questo essencial que importa apurar é o grau de ilicitude do facto praticado em ordem a identificar a sangdo disciplinar que a situago reclama, Na acusagdo considerou-se que estaria em causa uma infragdo muito grave, merecedora da sangao disciplinar de separagao de servigo. nos termos dos artigos 21°, n’s 1 ¢ 2, alinea a), 27°, n°s 1 ¢ 2. alinea e), 33° ¢ 41°, n°s 1 ¢ 2, alinea c), do RDGNR. Pig 13201 Run Martens Fado 11-3. 4,56" “Telefone: 21 358:3450 NAF. 600 043797 1080-159 LISBOA Telefex 21 35834 31 demi geraligalo FoRTUCttsa ~ ‘sore IGAL a SPEGAO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA Verifica-se, concomitantemente, que o aqui arguido foi absolvido no processo criminal no qual 0s factos sub judice foram apreciados na vertente da sua relevéncia criminal, Considerou o Tribunal, no essencial, que o crime de abuso sexual de pessoa intemada protege © bem juridico liberdade sexual, pelo que nao sera tipicamente preenchido quando a pessoa com quem é praticado o ato sexual contribui para a consumagdo do ato voluntariamente. Na sequéncia de tal entendimento, o Tribunal operou uma interpretagio restritiva do tipo, excluindo do seu ambito o caso dos autos, no qual a detida pretendeu manter relagdes sexuais com 0 arguido, nos termos apurados. Este foi, pois, no essencial, 0 entendimento relative ao enquadramento criminal dos factos praticados pelo arguido. A ilicitude criminal assume consabidamente uma dimensio subsididria em relagao a outros setores normativos. Tal vale por dizer que s6 ocorre intervengo criminal em alguns casos (os mais graves) e que essa intervengdo apenas tem lugar quando a intervengdo dos demais setores normati ‘08 nfo confere uma resposta suficiente no que a protego dos bens juridicos conceme. A sango criminal & a mais grave que o Estado de direito contempla. Nessa medida. s6 deve ser aplicada quando estritamente necessiria.a tutela de outros bens juridicos com ressondncia constitucional, uma vez que a sua concretizagao envolve a restrigao de direitos fundamentais. A inrelevancia criminal de um comportamento nio significa, portanto, a sua irrelevancia noutro ambito normative. A distingdo entre o direito penal e o direito disciplinar ¢ matéria que, no essencial, no ostenta controvérsia: ‘© direto penal visa evitar agressOes particularmente graves de bens juridicos fundamentais que a comunidade vivifica e que pretende preservar como fator de manutengtio do modelo de sociedade a que d4 corpo: o direito disciplinar visa reagir a comportamentos do prestador do trabalho (trabalhador) que de modo mais ou menos grave atentam contra a situagdo juridica (relagdo juridica ou vinculo laboral) especifica em que se encontra um empregador e um trabalhador Pog 14221 Rua Martens Fertio 11-3\4°, 56 Telefone: 21 388.3430, NAF: 600 043 797 1080-189 LISBOA, “Telefax: 2135834 31 il geraltiga pt BEBE = IGAL INSPEGAO-GERAL DA ADMINISTRAGKO INTERNA, Sendo certo que a relevancia criminal compreende também dimensdes que envolvem relag6es inter-individuais e que a relevancia disciplinar pode assumir uma ressondncia de interesse publico, é procedente, porém, afirmar-se, de modo elementar, que o comportamento penalmente relevante coloca precipuamente © infrator em face da comunidade e que o comportamento disciplinarmente relevante coloca o infrator em face do seu empregador. setores nilo A circunstincia de existirem varios pontos de contacto entre os doi impede afirmagao da sua autonomia. Autonomia que precipuamente se identifica quando 0 direito penal, por via de uma qualquer interpretagdo (que no caso nao cumpre apreciar), prescinde de intervir. Tal autonomia permite afirmar que as consequéncias sancionatérias do direito disciplinar nao tém de acompanhar necessariamente em termos de gravidade a relevancia criminal dos factos que fundamentam a sangao. Dito de outro modo: um comportamento criminal e disciplinarmente relevante nao reclama necessariamente a sango disciplinar mais grave (poderd reclamé-la ou no, tudo dependendo das circunstineias do caso conereto): e um comportamento apenas disciplinarmente relevante poderd ser sancionado (ou nao) com a sangdo disciplinar mais grave (mais uma vez, tudo dependendo do caso concreto). Tudo para dizer que nos presentes autos importa apurar o grau de ilicitude, para que se possa determinar a sangdo aplicével ao arguido. E 0 que se fard de seguida Na acusagdo disciplinar considerou-se que 0 comportamento do arguido envolveu tratamento degradante. Preliminarmente, cumpre explicitar que a referencia legal a tratamento degradante, constante do artigo 21.°, n° 2, alinea a), do RDGNR, terd necessariamente conteiido auténomo das referéncias a tratamento cruel e a tratamento desumano, Com efeito, sob pena de redundancia (e, por essa via, de inutilidade), cada segmento ter um micleo substancial proprio, que confere a cada critério normative um sentido inerente que o diferencia dos Pig 1921 Rua Martens Foro. 11 —3°.4 $6? Telefone 21388430 NAF: 600083 797 1080-189 LISBOA Telefax: 213583431 Siemon: pera gaipt REPUBLICA PORTUGUESA, \ ae IGAL INSPEGAO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA, demais. E 0 que o disposto no n.° 3, in fine. do artigo 9.° do Cédigo Civil impée ao intérprete, naquilo que alguma doutrina designa como presungao da perfeigao da ordem juridica, Podera a absolvigdo criminal infirmar. por si sé ¢ necessariamente, este entendimento, &a questo que urge preliminarmente dilucidar. Decorre do que se explicitou supra que a plenitude da relevancia disciplinar do comportamento do arguido nao ostenta uma ligag3o direta ao desfecho que 0 processo criminal mereceu nas instancias préprias (judiciais). Assim, 4 questio suscitada, responde-se negativamente. Tem, pois, de se averiguar se subsistem elementos que permitem afirmar 0 tratamento degradante protagonizado pelo arguido. Ora, o arguido, militar da GNR no exercicio de fungdes. manteve relagdes sexuais com uma senhora que se encontrava detida 4 sua guarda no Posto da GNR que se encontrava exclusivamente ao seu cuidado, O exercicio de fungdes de militar da GNR consubstancia uma materializagio de poderes relevantes no Estado de direito democritico, na medida em que, entre o mais, tais fungdes envolvem a possibilidade, se necessario, de uso da forga fisica (coergéio), envolvem a utilizagiio, se necessirio, de armas e envolvem a privagiio, nos termos legais, da liberdade dos cidadios. Trata-se, pois, de um exercicio de poderes de soberania que reclamam um espirito de missao superior, impoluto e imaculado na sua conexao com interesses, vontades ou desvios particulares. Por seu tumo, no exercicio dessas fungdes, os destinatirios das agdes coneretas que materializam os poderes de soberania respetivos beneficiam de um estatuto priprio cuja protegdo esté a cargo do militar encarregado da missdo de guarda e vigia. © respeito devido por um militar da GNR aos cidadios que serve reclama inexoravelmente o respeito pelo estatuto de todos os destinatérios das suas ages que materializam as fungdes de soberania vivificadas, No caso, o arguido, enquanto militar da GNR, tinha a seu cargo uma detida, © acesso que tinha quela pessoa apenas assentava nesse quadro: guarda / detida. Tal acesso apenas Ihe Php 162 um Marten Ferd, n 113.48. $68 Telefone: 21 358.2430, NAF: 600013 797 S0-189 LISBOA Telefax: 21 358 3431 nail gratis pt REPUBLICA PORTUGUESA nome IGAL INSPEGAO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA permitia relacionar-se com a pessoa detida no estrito respeito pelos respetivos estatutos, Qualquer desvio a este enfoque consubstancia um abuso dos poderes que 0 arguido exerce, pois materializa um exercicio desses poderes com uma finalidade completamente alheia a0 objetivo que os mesmos prosseguem. Verifica-se aqui uma légica de especialidade do fim que no admite nem autoriza qualquer desvio, sob pena de abuso. Impendia, pois, sobre o militar um especial dever de respeitar 0 respetivo estatuto da detida. ‘Trata-se de respeito pela Instituigdo que serve. Trata-se de respeito pelas funges que exerce. ‘Trata-se de respeito pelo estatuto de detida. Trata-se de respeito pelo Estado. Trata-se, incontomavelmente, de respeito pela pessoa que tem diante de si Naquele momento em que o arguido tem A sua guarda uma pessoa, & 0 Estado que ele vivifica, Ora, 0 Estado no trata as pessoas de outra forma que no seja em fungi do seu estatuto juridico. E esse referente envolve naturalmente o respeito pelo respetivo estatuto, mas envolve também e sobretudo respeito pela pessoa em causa (uma vez que se trata de um estatuto conferido pelo Estado a uma pessoa em relagdo & qual existe a garantia constitucional de respeito pela sua dignidade). Ignorar tudo o que vem de se dizer e manter relagdes sexuais com a detida, no quadro referido, envolve uma negagdo de todas as dimensdes de respeito referidas. Por consequéncia, envolve igualmente a negagdo do respeito devido aquela conereta pessoa. Nao infirma o que se deixa dito a circunstincia de a detida ter pretendido a manutengio de relagées sexuais com o arguido naquele concreto momento, Com efeito, a introdugao, na situagdio em que se encontra uma detida e 0 guarda que a vigia, da dimensio sexual no deixa de envolver a dispensa por parte do militar da GNR a detida de um tratamento que a degrada na sua condicfio de pessoa, uma vez que o Estado no tem a as Martens Ferro 11-34 Ste 6 “Teefone: 21 3583430 NAF: 600 013 797 1050-159 LISBOA Telefax. 213583431 Goma: gealiga.p @ HE. ~ errr IGAI IGAL INSPEGAO-GERALDA ADMINISTRAGAO INTERNA, possibilidade de aceder & dimensio sexual dos cidadaos, precisamente em face do respeito devido a estes. Realee-se que. como o proprio arguido trouxe aos autos, tendo a detida procurado seduzir inspetores da Policia Judiciaria que a detiveram (pelo menos, de acordo com a percegdo que estes tiveram da atitude da detida). estes reagiram, fazendo com que a detida adotasse 0 comportamento devido. Fizeram, pois, 0 que devia ter sido feito © que o arguido, em situagdo equivalente, nao fez. © comportamento que o arguido protagonizou consubstancia, pois. um tratamento degradante conferido a detida, E consubstancia uma negagdo clara do respeito devida a Instituigdo em que serve. Uma negagao incontomavel do respeito pelos poderes piblicos que the foram confiados. Um abuso inadmissivel das faculdades que o exercicio daqueles poderes envolve. Uma negagao inaceitavel dos estatutos juridicos dos dois envolvidos. Sem margem de divida, reitera-se. trata-se de um tratamento claramente degradante da detida, uma vez que enquanto oficial piblico que vivifica o Estado arguido intrometeu-se, com envolvimento pessoal, numa dimensdo intima em que o Estado nao tem qualquer papel a desenvolver. precisamente porque respeita os cidadios na sua intimidade (no caso, na sua sexualidade), A intromissio dos poderes pblicos em determinadas areas (nomeadamente, na sexualidade dos cidadaos) é inaceitavel. precisamente em face do respeito devido pelo Estado a todos os membros da comunidade. E divvidas ndo podem existir de que. no caso, foi 0 arguido enquanto militar da GNR que praticou os atos sexuais apurados. Desrespeito pelo Estado, sem ditvida; mas igualmente sem diivida desrespeito pela cidada, enquanto tal. Se a cidada, no conereto, nao consciencializou essa perspetiva, cumpria entio a0 arguido garantir o tratamento devido, também por respeito pela propria detida. E certo que 0 arguido se arrependeu. Porém, evidenciou uma total incapacidade para exercer os superiores poderes que lhe foram confiados, sucumbindo numa situago na qual no podia ceder. Pig 18721 ‘Rua Martens Fern. 11384, 8° 6 Telefine: 21 3883430, NF: 600083797 S0-189 LISBOA Telefax: 21 3583431 ceomail._geraaigaipt ical INSPECAO.GERAL DA ADMINISTRACAO INTERNA Trata-se de uma situagdo absolutamente catastrsfica no que 4 confianga que o exercicio de fungdes de militar da GNR reclama, Indiscutivelmente, o arguido atuou com dolo, Nenhuma eximente se verifica no caso. Verifica-se, portante, infragdo disciplinar muito grave, nos termos referidos supra. Importa, pois, determinar a sangdo cuja aplicagao se ird propor. V -DETERMINACAO DA SANCAO, Na acusagao considerou-se aplicavel no caso a sangdo de separagio de servigo, de acordo com o disposto nos artigos 21.°, n°s 1 e 2, alinea a), 27°, n°s 1 € 2, alinea ¢), 33.° € 41. n°s 1 ¢ 2, alinea c), do RDGNR. No caso, 0 arguido arrependeu-se, é certo. Por outro lado, os factos foram praticados no exercicio de fungées. Esta nfo é uma situagdo menor em que, nao obstante a infragdo, ainda existe espago para manter a confianga nas capacidades do arguido para o exercicio das relevantes fungdes de militar da GNR. ‘No caso, 0 arguido falhou onde nao podia, de todo, falhar. E falhou de modo catastréfico, no que capacidade para ser militar da GNR respeita Com efeito, os factos apurados consubstanciam uma evidenciag3o da total impreparago do arguido para ser militar da GNR. Falhou de um modo irreversivel, no que & confianga que tem de merecer para que Ihe sejam confiadas missdes relevantes (as que 0s militares da GNR cumprem). Revelou a pouca relevaneia que atribui a farda que enverga. Ao que ela tem de significado superior. Falhou em relagio aquilo que a comunidade dele espera, sobretudo no que respeita a0 relacionamento institucional com um conjunto de membros da comunidade: as mulheres. Cruzou uma linha que, assim se entende, nao tem ponto de retorno. Pig 1922 Rua Martens Ferro 1134, 213583430 F600 043 797 1050-159 LISBOA 213583431 Gmail grat iga pt At ern IGAI cal INSPEGRO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA AGNR pauta a sua atuagao por elevados padres de competéncia, de eficicia, de zelo e de brio. 0s facts praticados pelo arguido consubstanciam um desvio radical do plano que um militar da GNR deve seguir na sua atuagdo diria. Desvio que evidencia uma predisposicao que nao se compatibiliza com o elevado espirito de misstio que cada militar da GNR deve ter sempre (realga-se o advérbio) no cumprimento das fungdes que Ihe so confiadas. Trata-se de uma situagdo que, pela sua natureza (e, acrescente-se, pela sua estranheza), demonstra de modo dir. absoluto a incapacidade do protagonista para o desempenho da missio de militar da GNR. A Instituigdo e as fungdes que superiormente prossegue nao so compativeis com a concessio de uma “segunda oportunidade”. Esse ¢ um risco que. desde logo, a GNR nao pode correr. ‘Nao existe, pois, a possibilidade de manter o vinculo que liga este militar a Instituigo GNR, sob pena de se negarem os valores que a Instituigao prossegue. Realce-se que ndo existe altemnativa a sangiio de separagio de servigo. A alternativa, em termos de gravidade, seria a suspensio agravada, Trata-se, porém, de hipdtese que. mantendo como militar da GNR individuo que protagonizou os factos apurados, nfo daria resposta adequada, suficiente e plena as necessidades sancionatérias que 0 caso reclama, permitindo a subsisténcia de um vineulo destruido pelo modo como o arguido desconsiderou os deveres que sobre si impendiam, denegrindo inexoravelmente a fungao de militar da GNR © a propria Instituigao Inexiste, portanto, alternativa a sangdo de separagdio de servigo, a qual se propde, nos termos dos artigos 21°, n°%s 1 € 2 alinea a), 27°, n®s 1 ¢ 2, alinea e), 33° ¢ 41°, n’s 1 ¢ 2, alinea ©), do RDGNR, na linha, de resto, do que ja havia sido sustentado na acusagao. Nao poder, pois, propor-se no caso outra sango, que no seja a refe de servigo). VI-PROPOSTA Fm face do exposto, considera-se que os factos praticados pelo arguido consubstanciam manifesta infragao aos deveres de obediéncia, previsto nos artigos 8°, n°%s I 2, alinea a), € 9°, n°s 1 e 2, alinea a), por referéncia aos artigos 2° e 4°, todos do RDGNR. de lealdade, previsto nos artigos 8°, n°s 1 2, alinea a), ¢ 10°, n® 1, por referéncia aos artigos 2° ¢ 4°, todos do RDGNR, de proficiéneia a que se reportam os artigos 8°, n’s 1 ¢ 2, alinea c), € 11°, n°s 1 ¢ 2, alineas a) ¢ b). por referéncia aos artigos 2° e 4°, todos do RDGNR, de zelo a Pag 20028 Run Marens Ferd. 11-3849, 5°06 213583430 NAF: 600013 797 1080-189 LISBOA 2L3S8431 Gamal: gerahiga pt REPOBLICA, PORTUGUESA a IGAL INSPEGAO-GERAL DA ADMINISTRAGAO INTERNA que se reportam os artigos 8°, n°s | ¢ 2, alinea d), ¢ 12°, n°s Le 2, alinea b), por referéncia aos artigos 2° ¢ 4°, todos do RDGNR, de corregao, previsto nos artigos 8°, n°s |e 2, alinea f), € 14°, ns 1 ¢ 2, alinea a), por referéncia aos artigos 2° e 4°, todos do RDGNR, ¢ de aprumo, previsto nos artigos 8°, n°s 1 ¢ 2, alinea i), € 17°, n°s 1 ¢ 2, alineas a) ¢ b), por referéncia aos artigos 2° e 4°, todos do RDGNR. Dada a gravidade de tais factos, propde-se a aplicagio da sangiio de separagdo de servigo, nos termos dos artigos 21°, n°s 1 e 2, alinea a), 27°, n°s 1 € 2. alinea e), 33° e 41°, n°s 12, alinea ¢), do RDGNR. A consideragdo da Excelentissima Senhora Inspetora-Geral da Administragao Intema. Lisboa, 19 de margo de 2021 Os instrutores (Pedro Tinoco Ferreira) (José Manuel Vilalonga) Pag 21221 Rua Martens Ferao. 0°. 11-3 4h 6 Telefone: 21 38834 5 NAF; eno 797 50-159 LISBOA, Telefe: 21 3563631 Geil: gratigi pt

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