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Landen.
E, com um estrondo, a realidade voltou.
O palácio fervilhava com a movimentação, decorações festivas
em todos os ambientes, em ouro, prata e uma pitada de vermelho –
refinado, respeitável e elegante.
A equipe zumbia como abelhas, cuidando dos ajustes de última
hora, aperfeiçoando o que já era perfeito. Estilistas, mordomos e criados
entravam e saíam dos quartos, atendendo a família real, da qual eu ainda
fazia parte, naquela noite. Chloe e Heidi ficaram longe de mim; só Jenny e
alguns dos empregados mais abaixo na hierarquia vieram ao meu quarto
para me atender.
Um relógio marcou a hora, soando no corredor, uma contagem
regressiva para a minha condenação. Meu braço mole entrelaçado ao de
Theo, os saltos incrustados de joias desciam as escadas em direção à área de
imprensa, um sorriso falso atado aos lábios. Do lado de fora, eu tinha sido
lapidada e pintada em uma visão de princesa de livros clássicos. Mas, por
dentro, era o total oposto. Um nó no estômago fervia com bile. Eu estava
tão nervosa que me sentia dura igual um vidro.
Meu vestido de seda com camadas prateadas pendia parecendo
filetes de gelo cintilante. Meu cabelo foi penteado em um coque baixo
trançado, envolto em diamantes e folhas de prata. Tudo em mim foi
carimbado com a aprovação real. Theo vestia um smoking preto sob
medida, o cabelo penteado para trás, o rosto barbeado, mostrando as maçãs
do rosto salientes. Estava impecável. Juntos, parecíamos um livro de contos
de fadas ganhando vida. Éramos a imagem que o mundo queria, ávidos,
exigindo de nós, para que pudessem viver uma vida que não existia – até
mesmo para a realeza.
Theo havia murmurado apenas algumas palavras para mim, nosso
dever nos obrigando a ficar juntos como ímãs com os polos opostos
encostados. Que repeliam em vez de atrair.
A força que me atraía estava em algum lugar atrás de nós; podia
sentir sua presença mesmo sem estar ao meu lado. Seu olhar, a atenção, o
próprio ser me envolveu, mantendo-me firme.
Por mais que a festa fosse no palácio, a segurança era ainda mais
rígida. A ameaça continuava lá fora, e o número de pessoas que entravam e
saíam do palácio fazia com que muitos guardas vigiassem a família real.
Todos os convidados eram conhecidos e verificados, mas com os grupos de
bufê, organizadores de eventos com carrinhos e pessoal entrando e saindo,
algumas frestas poderiam se abrir, apesar de saber que com Dalton e sua
equipe, era muito improvável.
Entramos pelas portas, a imprensa reagindo na mesma hora.
Flash. Flash. Clique. Flash. Clique.
— Spencer. Spencer. Spencer. Você está linda! Como vai esta
noite? Por que saiu da festa mais cedo na outra noite?
— Theo! Quando é o casamento? Querem filhos logo depois do
casamento?
Flash. Clique.
— Feliz Natal para vocês, também — brincou Theo com a mídia,
o braço ao meu redor. — É Natal, pessoal, vamos aproveitar a noite. — Ele
se inclinou para mim. — Sorria como se estivesse feliz, de verdade, por
estar aqui, em vez de parecer que estou segurando uma arma na sua cabeça
— murmurou em meu ouvido, beijando minha têmpora. O próprio sorriso
curvou sua boca como se fosse o homem mais feliz do mundo.
Ele estava no seu papel de príncipe e desempenhando-o com
perfeição.
Tive dificuldade para manter um sorriso genuíno no rosto, mas
anos fingindo que estava bem quando não estava, me prepararam para isso.
— Não estava me sentindo bem. Mas obrigada pela preocupação
— projetei cada palavra como se estivesse dizendo a verdade, sorrindo e
acenando para eles enquanto Theo nos conduzia para o grande salão de
baile. As portas se abriram para nós, as câmeras não pararam até que
estivéssemos do outro lado, nos fechando como se estivéssemos em um
filme desses que se passam nos feriados.
As decorações prateadas e douradas nas mesas e paredes, e o
brilho das luzes ao redor da árvore de Natal de três metros e meio, faziam
você se sentir dentro de um globo de neve. Casais dançando, deslizavam ao
som de “O Quebra-Nozes” que a orquestra tocava lá de cima. Bandejas de
comida e bebida estavam sendo servidas por homens e mulheres vestidos de
soldados de brinquedo dessa peça. O famoso balé da Grã-Victoria
apresentaria “O Quebra-Nozes” mais tarde para todos aqui.
Era impressionante, mas minha alegria de sempre pelas férias não
estava em lugar algum. Estava nervosa, quase fazendo com que desejasse a
atenção da imprensa em comparação com o que eu tinha pela frente. Lorde
William, minha tia Lauren e Landen estavam em algum lugar nesta sala.
Segredos comprimiam o ar, fechando minha garganta.
Eu queria saber de tudo, e como Lennox previu, gostaria de não
saber nada.
O exterior reluzente de Theo escorregou um pouco quando
entramos, seu olhar deslizando para a pessoa tentando passar despercebido
perto da parede.
— Engraçado o jeito que seu namorado me encarou, como se
fosse eu a pessoa que está roubando você bem debaixo do nariz dele —
resmungou Theo, pegando uma taça de champanhe de uma bandeja e
bebendo tudo de uma vez.
— Só vamos sobreviver a essa noite. — Peguei uma para mim,
ingerindo as bolhas efervescentes. — Como você disse, depois isso pode
acabar.
Theo ficou nervoso.
— Estava pensando... devemos esperar até depois do Ano Novo.
“Sempre haverá algo. Mais um evento, mais um baile, mais um
compromisso importante.” A voz de Lennox retumbou na minha cabeça.
— Theo... você disse até o Natal.
— Eu sei, mas o Ano Novo é só uma semana depois.
— E na semana seguinte é seu aniversário. Sempre será outro
evento. — Meus dedos apertaram a taça.
— Acha que quero arrastar isso com você? — sibilou Theo, a
fachada caindo. — Quase não suporto estar no mesmo lugar... Oi, Grant.
Jillian. — O comportamento de Theo mudou, a raiva passando para um
sorriso feliz quando um homem familiar, o pai de Ben, veio até nós, sua
esposa ao lado. Minha coluna se endireitou, um sorriso nos lábios
vermelhos.
— Theo, meu garoto! — Grant lhe deu um tapinha no ombro. —
É bom vê-lo. — A voz de Grant se sobressaiu por cima da música. —
Benjamin está em algum lugar por aqui. Provavelmente perseguindo uma
daquelas deslumbrantes bailarinas de pernas compridas.
Jillian nem vacilou com o comentário malicioso de seu marido,
sua atenção se voltando para mim.
— Você é tão bonita. Aposto que só pensa ou fala no casamento,
estou certa? — perguntou, animada.
— Ah. — Bebi um gole de champanhe. — É.
— Durante todo o dia, é tudo o que ouço. — Theo olhou para
mim, a mão esfregando minhas costas. — Fala sem parar no casamento. No
vestido, sapatos, joias, bolos, festa e na lua de mel. Spencer se jogou na
organização. Está ansiosíssima... estou certo, querida?
— Sim — respondi , por entre os dentes. — Não vejo a hora.
— E nós, homens, estamos ansiosos pela despedida de solteiro,
certo, meu garoto? — Grant cutucou Theo. — Acho que Ben e Charlie
estão planejando algo bom. Deixe o passaporte pronto. — Piscou. —
Aproveite antes de se prender.
— Ah, Grant, você é terrível! — Jillian bateu nele. — Não
queremos interromper os pombinhos, só paramos para dizer oi. Muito bom
ver o amor verdadeiro — balbuciou ela. Grant deu um tapinha no braço de
Theo de novo, antes de se afastarem, nosso fingimento desaparecendo.
— Sim, essa sou eu, só falo em joias e sapatos — disparei,
ríspida.
— Ah, foi mal. Eu deveria dizer que está ocupada demais
transando com seu guarda-costas casa... Duquesa Caroline! — Theo mudou
de expressão sem esforço, segurando a mão da senhora e a beijando. — Que
bom vê-la, linda como sempre.
Ela baixou a cabeça para ele, o corpo baixo banhado num pesado
vestido bordado de ouro.
— Nossa. Parece que vocês saíram do topo de um bolo. — Ela se
emocionou, seu olhar procurando algo atrás de nós. — Seu guarda-costas
está aqui esta noite?
— Na nossa bunda, como se o pau dele estivesse dentro da minha
noiva — murmurou Theo, e tomou um gole de champanhe, me fazendo
ofegar.
— O que disse? — A velha tocou seus ouvidos quase surdos, o
barulho da festa limitando sua audição.
— Que adorável vê-la, Caroline. — Agarrei o braço de Theo, as
unhas cravadas nele. — Vamos dançar. Aproveite a festa. — Eu o arrastei
para longe, sorrindo e balançando a cabeça a cada meio metro, outra pessoa
querendo parabenizar ou falar conosco, mas não parei até que estávamos na
pista de dança, meu corpo eriçado de raiva.
— Que foi? — Theo segurou minha mão, a outra indo para a
parte inferior das minhas costas. — Eu disse algo errado? Alguma mentira?
— Tudo o que posso dizer é que sinto muito. Não queria te
magoar, mesmo tendo feito isso, de qualquer maneira. Posso pedir
desculpas até o fim dos tempos, mas sei que não vai mudar nada. — Nós
deslizamos pelo salão, nossos passos em sincronia, mas todo o resto se
chocava em desarmonia. — Então, por favor. Vamos passar o Natal sem
matar um ao outro.
Ele manteve o olhar sobre a minha cabeça, os lábios cerrados.
Ficamos em silêncio por um tempo antes de ele falar:
— Não foi assim que imaginei que seria nosso primeiro Natal
juntos — murmurou. — Ver o anel da minha bisavó em seu dedo, um
casamento à nossa espera, eu me imaginei explodindo de felicidade, tão
animado para começar a vida com minha esposa. Agora sentir seu toque me
dá calafrios...
Minha garganta se apertou, os olhos marejaram, a boca travou.
Não tive o que responder, exceto a mesma coisa que eu já havia dito
centenas de vezes. Minha parte nisso, em causar a Theo tanto sofrimento e
tristeza a ponto de ele ter se tornado furioso e amargo, sempre me
assombraria.
— Posso interromper? — Uma velha voz familiar resmungou
atrás de mim, enrijecendo as costas.
— Lorde William. — Theo se afastou. — Eu ouvi dizer o que
aconteceu. É bom vê-lo acordado e com a aparência boa.
— Agradeço, Alteza. — Lorde William se curvou, o olhar
permanecendo em mim, criando a sensação de ter insetos rastejando sobre a
pele. — Tive um atendimento incrível e uma visita que me fez reavaliar
minha vida. Ver o que era importante.
— Sim, eu vi que sua esposa, Lady Cabot, estava aqui —
respondeu Theo. — Deve estar aliviada.
Os olhos de Lorde William continuaram fixos em mim.
— Sim, minha esposa ficou eufórica de emoção.
Lívida por ainda vê-lo vivo, tenho certeza.
— Será que me daria a honra de dançar com sua noiva
deslumbrante um pouco? — perguntou Lorde William a Theo, como se eu
fosse uma propriedade a ser liberada quando ele determinasse.
— É claro. Por favor. — Acenou para mim, agradecido. — Ela
adora dançar, e eu não posso dizer o mesmo, então fique à vontade. —
Leve-a para longe de mim. Ele não disse, mas pude ouvir a mensagem não
dita. Theo recuou rapidamente.
— Spencer. — Os olhos de Lorde William se estreitaram, os
braços se abriram para segurar os meus, a mão pressionando bem na base
das minhas costas, trazendo-me para mais perto.
— Tire a mão de mim — rosnei, olhando para ele.
— Pareceríamos terrivelmente bobos se não estivéssemos nos
tocando — murmurou contra a minha têmpora, me puxando para mais
perto. — Dançar é para ser íntimo, uma forma de seduzir e tocar, bem na
frente da sociedade. — Ele nos moveu pelo salão, suas articulações e ossos
tornando a dança um pouco rígida.
— Queria conversar? Fale. — Olhei ao redor, cautelosa com as
pessoas que nos cercavam.
— O que você me disse no hospital. — Sua voz estava sem
emoção. — Não muda nada. Não que eu acredite em você, mesmo.
— O quê? — Tentei dar um passo para trás, mas seus dedos
ossudos afundaram em minha pele, me mantendo em movimento com ele.
— Ainda está em dívida comigo. Ele é filho de Fredrick. E sua
família me deve. Ou perde tudo ou salve sua família, Spencer.
— Não acredito em você. — Fervi de raiva. — Realmente, não
tem alma.
— A minha foi arrancada de mim há muito tempo.
— Ah, coitadinho. — Eu o encarei. — Seu coração foi partido.
Entre na fila. Não é o único que foi magoado ou enganado. É como se sai
disso que faz de você quem é. Sinto muito pelo que minha tia fez. Foi
horrível, mas não perdoa o que você faz. Suas ações maldosas são
responsabilidade sua. A única pessoa culpada de sua vida ter acabado, desse
jeito amargo e feio, é você. — Eu me soltei de seu aperto. Ele não lutou
comigo, seu corpo ficou imóvel. — Você é fraco, Lorde William. Um
covarde. Prefere culpar os outros por seus comportamentos cruéis,
escondendo-se atrás deles como se tivesse o direito porque alguém te
machucou. Você não tem. E ameaçar e atacar mulheres faz de você um
merda, certamente, não um homem de verdade.
Lorde William não se moveu ou falou nada, o olhar fixo sobre
meu ombro, o rosto pálido.
Minha cabeça girou, seguindo seu foco. Senti o chão sumir sob os
meus pés, o medo subindo pela garganta, cobrindo a língua.
Minha família chegou e estava conversando com Theo perto da
pista de dança. Mas sabia em quem Lorde William estava concentrado. Era
como olhar para a foto da versão mais jovem de si mesmo.
Landen estava mais perto de nós, vestindo smoking, parecendo
mais crescido e forte desde a última vez que o vi. O serviço militar havia
esculpido seu corpo de menino no de um homem. Um pouco de barba
crescia ao longo da mandíbula, seus olhos castanhos refletindo as luzes
cintilantes. Ele combinava ainda mais com o jovem Lorde William agora. E
agora que ele sabia, era algo que não podia negar, nem se quisesse.
Ele era o pai.
Landen, sentindo os olhos nele, virou a cabeça, seu olhar
pousando em mim. Um sorriso envolveu seu rosto, seus pés já se movendo
em minha direção. Corri até ele, o coração explodindo quando seus braços
me envolveram, eu me sentindo feliz e completa, no mesmo segundo. O
coração da minha família estava em casa.
— Desculpa — choraminguei, tentando ao máximo não chorar.
— Desculpa, desculpa.
— Pelo quê? — Ele se afastou um pouco.
— Por não estar com você. E-eu nem sabia que tinha ido para o
exército. Fui tão egoísta. Deus, Landen, você é o meu coração... e eu não
estava ao seu lado quando mais precisou de mim.
Ele me deu um grande abraço de urso, sem se importar com
decoro.
— Está tudo bem, Spence. Tinha muita coisa acontecendo na sua
vida.
— Não é uma desculpa boa o suficiente. Nós sempre prometemos
um ao outro... você e eu contra o mundo. Sempre protegeríamos um do
outro.
— E sempre faremos isso. — Deu um passo para trás, apertando
meus braços. — Acabou presa neste mundo. E, no começo, eu odiei e
culpei você... mas foi porque eu era egoísta, também. Não queria perdê-la.
Passei a primeira metade do treinamento amargurado, zangado e isolado,
mas um dia ouvi outro soldado dizendo coisas explícitas a seu respeito e,
depois de dar uma surra nele, percebi que tudo o que eu estava guardando
no peito não era justo com você. Você é minha melhor amiga e família. Não
importa o que aconteça, eu sabia que um protegeria o outro. E me acalmei.
Depois disso, comecei a gostar do que estava fazendo.
— Gostou do acampamento militar?
— Bem, não vamos nos empolgar, mas... — Suas bochechas
ficaram vermelhas.
— Conheceu alguém. — Meus olhos se arregalaram.
Ele deu de ombros.
— Não sei o que é. Mas me fez não odiar tudo e a todos o tempo
inteiro.
— Senti tanto sua falta. — Eu o encarei.
— Idem, prima. — Ele me cutucou. — Uma noite, precisamos
encher a cara e recuperar o atraso. Afinal, é tradição do feriado.
— Ah, acho que você não está pronto para isso. — Pisquei. Ele
não fazia ideia das histórias que eu tinha para contar.
— Por favor, eu também tenho o que te contar. — Ele piscou. —
Manda ver.
— Pode deixar. E estou ansiosa para ouvir tudo sobre a pessoa...
— Deixei a frase no ar, arqueando uma sobrancelha.
Ele apenas sorriu, sem me dar nenhuma dica. Mas não era como
se eu ligasse. Se Landen estava feliz, eu estava feliz.
— Você está bonito — repeti meus pensamentos em voz alta. —
Feliz.
— Estou, eu acho. O mais próximo que estive há muito tempo, de
qualquer maneira. — Sua testa franziu. — Nem tudo são arco-íris e
unicórnios. Mas é estranho, papai parece diferente desde que voltei.
Interessado. Ele até murmurou algo sobre eu fazer aula de atuação se
quisesse.
— O quê? — Fiquei boquiaberta.
— Não é? — Landen olhou para Fredrick. — Acho que
alienígenas possuíram o corpo dele, mas vou deixar por isso mesmo.
Olhei de Fredrick para Landen, depois para o homem que estava
atrás de mim. Lorde William havia ido embora.
Não tinha ideia de quais eram seus planos, mas sabia que levaria
esse segredo para o túmulo. O pai de Landen era Fredrick. Não importava o
que acontecesse. Nada de bom resultaria de ele descobrir a verdade. Só
levaria a mágoa, sofrimento, raiva e traição. Despedaçaria minha família e
destruiria Landen.
Faria qualquer coisa para proteger Landen, fosse o que fosse.
“#SpencerVadia #SpencerProstituta
#Vagabundatraidora #Odeiovocê #GVteodeia
#MorraSpencer #VocêéUMAPUTA.”
Um imenso obrigada a:
Hollie: www.hollietheeditor.com
Mo Sytsma: mo@TheScarletSiren.com