Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ste capítulo descreve um processo para capacitar os membros da organização a identificar suposições culturais
E importantes e a avaliar o grau em que essas suposições ajudam ou atrapalham algumas mudanças que a
organização está tentando fazer. Em razão de esse processo ser apenas útil no contexto de um programa de mudança,
o líder ou consultor/facilitador não deve ficar envolvido em uma avaliação cultural, a menos que os “clientes”
organizacionais saibam precisamente o que estão tentando obter.
Se você for o líder e conhece suas metas de mudança, pode agir por conta própria ou trabalhar com um consultor
que esteja familiarizado com a investigação cultural. Se for o consultor/facilitador e o cliente informar que deseja
apenas “avaliar a cultura” ou “mudar a cultura”, isso não é suficientemente específico para você prosseguir. Você
deve investigar o que o cliente organizacional entende por cultura e por que acha que uma avaliação cultural seria
útil. As respostas revelarão tipicamente alguma mudança de agenda que o cliente tem e é importante especificar
claramente que agenda é essa, como foi destacado no último capítulo. Depois que o cliente tiver identificado em
termos concretos o “novo modo de trabalhar” desejado, a avaliação cultural pode então ser feita para identificar que
elementos da cultura ajudarão o programa de mudança e que elementos atrapalharão (Schein, 1996b).
Por exemplo, na Alpha Power, o monitor designado pelo tribunal definiu o problema como “cultura da Alpha”;
isso deu origem a um programa de “mudança cultural” e levou a minha contratação como consultor para ajudar a
prepará-lo. Entretanto, uma avaliação cultural era irrelevante, até ser determinado que um “novo modo de trabalhar”
era exigido e envolvia: (1) maior senso de responsabilidade por parte dos funcionários horistas para identificar,
relatar e reparar vazamentos ambientais e outros problemas de saúde e segurança ambiental; (2) maior transparência
nos relatos de problemas de saúde e segurança ambiental em vez de continuar a tendência a encobrir para proteger o
grupo de trabalho de ações judiciais ou disciplinares e (3) maior trabalho em equipe ao lidar com esses problemas.
A parte da mudança cultural dessa agenda mais ampla envolvia, principalmente, (1) mudança de autoimagem
dos trabalhadores horistas, (2) mudança no papel de seus supervisores imediatos em relação à delegação de maior
responsabilidade e (3) mudanças nas estruturas de apoio, como os sistemas de disciplina e de remuneração. Contudo,
a maior parte da cultura da Alpha Power – que foi construída nas tradições de excelência técnica, confiabilidade de
desempenho, forte hierarquia altamente paternalista, comprometimento a treinamento extensivo e detalhado e
desenvolvimento da força de trabalho – simplesmente não mudou, embora devesse ser mudada. A maior parte da
cultura foi usada para fazer mudanças significativas em parte da cultura, e foi, de fato, essencial para obter as
mudanças que ocorreram no modo de trabalhar dos funcionários da linha de frente e no modo que os supervisores
reestruturaram seu papel.
Uma vez que a proposta de avaliação tenha ficado clara, a essência do processo de avaliação é reunir um ou mais
grupos mais representativos da organização, fornecer-lhes um modelo de como pensar a cultura e as subculturas
organizacionais e pedir-lhes para identificar os principais artefatos, valores assumidos e suposições tácitas
compartilhadas, com um outsider exercendo o papel de facilitador, documentador e, quando necessário, de crítico
persistente e questionador. Um membro da organização no papel de líder pode ser o facilitador, contanto que não
seja do próprio departamento e que entenda como a cultura funciona.
Várias suposições importantes estão por trás dessa abordagem:
1. Um grupo da alta administração, com a ajuda de um facilitador externo, está habilitado a decifrar as
1. Não estamos no negócio apenas pelo negócio, mas por um propósito maior – mudar a sociedade e o
mundo, criar algo duradouro, solucionar problemas importantes, divertir-se.
Um dos principais produtos da Apple era destinado a ajudar as crianças a aprender. Outro produto importante era
destinado a tornar a computação mais fácil e divertida. A Apple engajou-se em muitos rituais de diversão – por
exemplo, festas após o expediente, brincadeiras no trabalho e shows de mágica nos eventos de treinamento de
executivos. O grupo achava que apenas o que era divertido e exclusivo obtinha grandes recompensas.
• Quando você falha na Apple, está sozinho e abandonado; torna-se uma “pessoa à deriva”.
• Tempo de casa, lealdade, experiência anterior não contam em relação às realizações das tarefas atuais.
• Quando você viaja, ninguém o critica.
• Fora do ângulo de visão, fora da mente; você é apenas tão bom quanto sua última realização; os
relacionamentos formados no trabalho não são duradouros.
• As pessoas estão tão ocupadas em suas missões, que não têm tempo para você ou para formar
relacionamentos.
• A aproximação ocorre apenas em torno de tarefas e é temporária.
• Grupos são refúgios de segurança.
• A Apple se vê como um clube ou comunidade, não como uma família.
• Os indivíduos são poderosos, podem ser autossuficientes e podem criar seu próprio destino.
• Um grupo de indivíduos motivados por um sonho comum pode fazer grandes coisas.
• As pessoas têm um desejo inerente a ser o máximo e lutarão para isso.
• A Apple não espera lealdade nem espera garantir a segurança de emprego aos indivíduos.
• O indivíduo tem o direito de se sentir completo no trabalho, a expressar sua própria personalidade e
singularidade, a ser diferente.
• Não há código de vestuário e restrição sobre como o espaço pessoal é decorado.
• Crianças ou animais de estimação podem ser levados ao trabalho.
• Os indivíduos têm o direito à diversão, a brincar e a ser excêntricos.
• Os indivíduos têm o direito de ser materialistas, de ganhar muito dinheiro, de dirigir carros luxuosos, não
importa quais seus status formais.
Essa suposição já foi discutida neste capítulo, mas houve algumas outras ramificações, expressadas como
normas e artefatos:
Essas suposições dominantes e os dados de apoio foram passados ao subcomitê que lida com a cultura da Apple,
onde foram testados e aperfeiçoados com mais entrevistas. O que chama a atenção é que após vários meses de
trabalho, nenhuma mudança substancial foi feita na lista, sugerindo que um grupo pode obter com muita rapidez o
essencial de sua cultura.
Lições Aprendidas com a Apple. Este estudo de caso ilustra os seguintes pontos importantes:
1. Se um grupo interno motivado receber um processo para decifrar sua cultura, os membros podem
apresentar com muita rapidez suas suposições mais centrais. Retornei à Apple vários anos após esse evento
e foi mostrado um relatório recente sobre a cultura da empresa. O mesmo conjunto de suposições estava
escrito nesse relatório como ainda sendo a essência da cultura, embora várias suposições estivessem
declaradas em ordem um pouco diferente e com alguns comentários adicionais sobre áreas que
necessitavam mudar.
2. Declarar essas suposições dominantes permitiu aos gerentes da empresa avaliar onde sua estratégia podia
sofrer restrições culturais. Em particular, perceberam que se fossem crescer rapidamente e entrar no amplo
mercado empresarial, teriam que lidar com membros da organização que cresceram sob a suposição de que
a empresa deveria envolver-se mais do que apenas ganhar dinheiro. Também perceberam que viviam muito
o presente e teriam que desenvolver planejamento e habilidades de implementação a prazo mais longo.
3. A Apple reafirmou suas suposições sobre a prioridade da tarefa e a responsabilidade individual ao passar a
articular explicitamente uma filosofia de não obrigação mútua entre a empresa e seus funcionários. Quando
as dispensas se tornaram necessárias, a empresa, simplesmente, as anunciava sem pedir desculpas e as
executava. A Apple foi uma das primeiras empresas a informar que a segurança do emprego seria
gradualmente substituída pela segurança da empregabilidade. Significava que alguém aprenderia o
suficiente durante alguns anos na Apple para ser atraente a outro empregador se fosse despedido. Não havia
lealdade de ambas as partes: os funcionários deveriam sentir-se livres para sair da empresa se surgisse uma
melhor oportunidade.
• Nossa missão é resolver problemas de controle de rios, represas, pontes etc. pragmaticamente, não
esteticamente, mas nossa resposta ao meio ambiente leva-nos a preocupações estéticas no contexto de
qualquer projeto.
• Sempre respondemos às crises e estamos organizados para fazer isso.
• Somos conservadores e protegemos nossa área, mas valorizamos alguma ousadia.
• Somos descentralizados e esperamos que as decisões sejam tomadas no campo, mas controlamos
rigorosamente o campo por meio do engenheiro distrital.
• Estamos orientados para os números e sempre operamos em termos de análises de custo/benefício,
parcialmente porque a qualidade é de difícil mensuração.
• Minimizamos o risco porque não devemos falhar; daí, as coisas são muito bem projetadas e empregamos
apenas tecnologias seguras e bem testadas.
• Exercemos a integridade profissional e dizemos não quando é necessário.
• Tentamos minimizar a crítica pública.
• Respondemos às externalidades, mas tentamos manter nossa independência e integridade profissional.
• Somos frequentemente instrumento de política internacional por meio de nossos projetos fora dos Estados
Unidos.
O grupo identificou como seu principal problema que a missão tradicional de controlar as enchentes era
largamente realizada, e, com as mudanças de padrões do Congresso, não era fácil dizer que tipos de projetos
continuariam a justificar o orçamento. As pressões financeiras exigiam que a maioria dos projetos tivesse o custo
compartilhado com autoridades locais, requerendo graus de colaboração que o Corpo de Engenheiros não tinha
certeza de que podia contar. A discussão da cultura fornecia perspectivas úteis sobre o que estava à frente, mas não
fornecia pistas sobre que estratégia específica adotar no futuro.
Lições Aprendidas com o Corpo de Engenheiros. Este estudo de caso, como os outros, ilustra que se pode levar
um grupo a decifrar os principais elementos de sua cultura e que isso pode ser um exercício útil para identificar o
que é estrategicamente possível.
• Há uma cultura de vendas muito forte, largamente criada nas últimas décadas pelo atual VP, prestes a se aposentar.
• Essa cultura de vendas é creditada como sendo a razão por que a empresa era e continuava tão bem-sucedida.
• Percebe-se que a cultura de vendas é a maior esperança da empresa para o futuro. A organização de vendas sente fortemente que não deve ser
adulterada.
• Os elementos-chave da cultura de vendas, suas forças são:
O alto moral, a dedicação e a lealdade dos vendedores.
O alto grau de flexibilidade dos vendedores em responder às exigências da administração no marketing dos produtos existentes.
O alto grau de abertura da comunicação que permite solução rápida dos problemas, colaboração e mudança de estratégia quando necessário.
A boa comunicação e colaboração entre gerentes distritais e vendedores.
Um forte sentimento de família – relacionamentos informais para cima e para baixo na hierarquia; a administração conhece todos pelo primeiro
nome e os funcionários confiam na administração.
Um forte programa de desenvolvimento que permite opções de carreira múltiplas aos vendedores, conforme seus talentos e necessidades.
Altos padrões éticos e profissionais na venda; foco na educação dos médicos, não apenas em empurrar produtos.
Alto grau de disciplina ao seguir as diretivas da empresa em como posicionar os produtos; sentimento de que “a administração mostrava-nos
como fazer as coisas e funcionava”.
• Havia forte sentimento de que apenas um insider “entenderia” a cultura que foi construída. Trazer um outsider seria muito arriscado porque
poderia corroer ou destruir as coisas que todos consideravam efetivas.
• Embora a cultura seja autoritária e hierarquizada, funciona muito bem, porque a alta administração transmite a mensagem de que são os
vendedores e os distritos que fazem o sistema funcionar, e que o que o nível mais elevado da administração está fazendo é apoiar as linhas de
frente. É uma cultura muito orientada às pessoas que permite flexibilidade e disciplina. Por exemplo, qualquer distrito seguirá o plano de
vendas/marketing, mas cada gerente distrital permitirá que seus vendedores usem suas habilidades e vieses para obterem a melhor vantagem
e não imporão métodos arbitrários em qualquer situação. Os vendedores sentem que possuem alguma autonomia, mas também se sentem
obrigados e comprometidos aos planos da empresa.
• O incentivo individual e em grupo e o sistema de bônus estão funcionando bem para manter um equilíbrio ideal entre a competição individual e
o trabalho em equipe. O sistema administrativo é muito sensível à necessidade de equilibrar essas forças e faz isso no mais alto nível entre as
organizações de marketing e vendas.
Copyright © E. H. Schein
Lições Aprendidas da Delta Pharmaceutical. Esse relatório ilustra como uma avaliação cultural pode ser usada
para lidar com uma questão muito específica – neste caso, uma decisão de sucessão de administrador sênior. Se
tivesse havido mais conflito ou discordância na cultura, a decisão teria sido mais complexa; à medida que a
avaliação se realizava, em toda a organização havia unanimidade de que a cultura atual estava bem adaptada à
situação empresarial e deveria ser preservada e melhorada.
O processo de avaliação foi adaptado ao problema particular que a organização enfrentava, e os membros-chave
do sistema do cliente foram instrumentais para projetar um processo que melhor revelasse os elementos essenciais
de sua cultura.
RESUMO E CONCLUSÕES
O processo de avaliação descrito e ilustrado reflete várias conclusões:
Deve-se observar que o processo de intervenção em dez etapas descrito neste capítulo é extremamente rápido.
Em algumas horas, pode-se obter uma boa aproximação de quais são algumas das principais suposições. Se for
importante para o outsider/pesquisador ser capaz de descrever a cultura em termos mais bem detalhados, as
observações adicionais, a observação participante e mais avaliações do grupo podem ser feitas até um quadro
completo emergir. Em termos das implicações para a liderança, eu argumentaria que, na maioria das situações em
que os líderes precisam gerenciar algum elemento de sua cultura, esse processo interno de decifração é suficiente e é
provável que a abordagem seja útil.