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Atualmente com os cenários que temos para o crescimento e adoção de bitcoin vejo alguns

desafios para o uso do mesmo em nossa sociedade. Seria o bitcoin, o buraco negro do atual
sistema monetário? Ou seria o bitcoin uma grande revolução? Pontuei 10 pontos a serem
discutidos que acredito que sejam de válida reflexão.

Sem aquela história de que lá no futuro tudo irá se ajeitar ou tudo ainda pode evoluir ou que
inovação tem um preço, vamos analisar algumas questões com o atual sistema.

1. Mineração: Bitcoin usa uma função hash com recompensa para provas (hashcash
proof-of-work function). O propósito fundamental da mineração é permitir aos nós da
rede alcançar um consenso seguro, inviolável e adicionar bitcoins à rede. Já foram até
agora minerados cerca de 18,86 milhões de bitcoins de um total de 21 milhões.
Atualmente são indústrias com altíssimo investimento e gasto de energia que se
beneficiam da mineração, a descentralização como era no início não mais ocorre pois
necessita-se de muita capacidade de processamento.
2. A bonificação dos mineradores: Mineração de bitcoin é o processo de adicionar
registros de transações ao “livro público” (blockchain) do Bitcoin, que armazena
transações passadas. A tecnologia de blockchain serve para confirmar transações para
o resto da rede ter conhecimento, e é usado para distinguir transações de Bitcoins
legítimas de tentativas de reuso de moedas. A cada bloco minerado ou “página do
livro impressa e adicionada ao livro” é enviado ao minerador uma recompensa em
bitcoin pela energia gasta no processamento. Os custos que hoje são pagos em fiat
money, principalmente em dólar. Então em resumo, temos o cenário de energia é
gasta em dólar que se transforma em bitcoin.
3. Halving event: A cada 210 mil blocos minerados a bonificação aos mineradores cai pela
metade, atualmente está em 6.25 BTC por bloco, estimativas sugerem que os 21
milhões serão atingidos por volta do ano 2140. Ao analisar a tabela abaixo, vê-se que
faltam ainda vários halving events e como os mineradores não estão trabalhando por
filantropia a pressão mesmo que artificial dos controladores da moeda para que o
preço continue a aumentar é inevitável. Sem mineração, não ocorrem transações e
assim a rede congela. Todos os halving events até agora foram marcados por novos
ciclos de alta nos preços e se os mineradores não conseguem pagar os custos de
energia em dólar, vão buscar outras moedas mais rentáveis para não terem prejuízo e
assim congestionar a rede. Não levo em consideração nessa análise uma possível
mineração P2P e instantânea via celular, essa possibilidade ainda é totalmente
utópica.
4. Incerteza no capital circulante: Não se sabe com precisão quantos bitcoins estão
realmente em circulação, apenas se sabe o número atual, o total de moedas, e
quantias que já foram movimentadas de uma carteira para outra. Como muitas
carteiras não são movimentas e algumas já foram perdidas, não sabemos quantas
moedas do número total podem ser liquidadas no mercado. Isto porque, carteiras que
nunca foram movimentadas podem estar ativas ou não e mesmo carteiras já foram
movimentas podem ter tido suas senhas (privet key) perdidas. Uma vez perdida sua
senha de carteira bitcoin não existe outra forma de recuperar seus fundos. Sendo
assim, o verdadeiro capital circulante de moedas no sistema bitcoin, compara-se ao
problema do gato na caixa de Schrodinger. Ou seja, toda carteira de bitcoin é e não é
acessível.
5. Controle da rede na mão de poucos: Especula-se que Satoshi tenha por volta de 1
milhão de bitcoins, não quero cravar um valor que não tem como comprovar, mas a
tendência de que os primeiros evangelistas da moeda e as pequenas mineradoras que
se transformaram em grandes indústrias, possuem grande controle sobre a moeda
indica que a moeda não é tão democrática quanto parece.
6. Uma moeda deflacionária: Para consumo, tem que ter algum nível de inflação senão a
população tende a evitar o consumo, o Japão já vivenciou um grande problema de
baixo consumo no período de deflação da sua moeda que começou na década de 90.
Ao saber que os preços de mercadoria ficarão mais baixos no futuro, os consumidores
adiam as compras. Desta forma, contribui para o entesouramento de moeda, as
empresas vendem menos e reduzem os salários. Resultado: os japoneses ficaram com
menos dinheiro para comprar pois entraram em uma espiral deflacionária, uma bola
de neve que pode esmagar a economia do país. Ao se fazer um paralelo com o nível de
deflação do bitcoin desde a sua criação até os dias de hoje, podemos dizer que a
moeda sofre uma hiper deflação jamais vista em qualquer moeda na história. Essa
deflação que continuará até 2140 possivelmente será regida pela velha história:
Pagou-se uma pizza por 10 mil Bitcoins que hoje valeriam mais do que meio bilhão de
dólares. Quem quer cometer esse erro novamente? Hiper deflação gera hiper
entesouramento que resulta em falta de capital circulante e falta de consumo.
7. Adoração pela valorização sem produção: Na minha opinião as ideias de Marx não se
aplicam ao século 21, já são ultrapassadas, mas para um sistema financeiro baseado
em bitcoin volta-se o questionamento do entesouramento. Dessa vez, ao se fazer um
paralelo à crítica que Marx fez à Mais-Valia pelo intermediador de produção que se
entesourava de ouro no sistema capitalista do século 18, no sistema financeiro
baseado em bitcoin, é muito pior pois o ouro desde antes de Cristo é utilizado como
moeda de troca, já o bitcoin com sua forte deflação faz com que seus detentores
tenham receio em pagar por produto que a longo prazo perderá muito seu valor em
relação ao bitcoin utilizado em sua transação. No livro O Capital, na crítica pelo
entesouramento de Karl Marx também referencia uma carta de Colombo para criticar
a adoração por um item que na realidade é o meio de troca e não o produto “Gold is a
wonderful thing! Whoever possesses it is lord of all he wants. By means of gold one can
even get souls into Paradise.” (Columbus in his letter from Jamaica, 1503.) - Karl Marx,
O Capital, Volume 1, Capítulo 3, página 85.
8. Volatilidade sempre será uma marca: Como a cada halving event muda-se a
bonificação dos mineradores por cada bloco minerado e os mineradores da moeda
não estão na rede por filantropia, todo entorno de um halving event será marcado
volatilidade pois nunca teremos certezas se os novos valores de recompensa serão
mais interessantes para a mineração do bitcoin do que uma outra nova moeda.
9. Diferença entre pobre x rico: Com a inflação baixa e constante do dólar e a hiper
deflação constante do bitcoin, é difícil acreditar em uma sociedade do futuro onde as
duas moedas coexistem de forma sadia. Se o mercado de moedas no futuro for ganho
pelo bitcoin em sua jornada contra o dólar e os valores de mercado se basearem por
uma moeda deflacionária como o bitcoin, que não mudará sua estrutura deflacionária
até 2140 pois para mudar essa estrutura do bitcoin necessita-se de um hard-fork,
(mudança brusca que constitui uma nova moeda, como feito com o bitcoin cash) a
tendência é que a diferença entre pobres o ricos seja astronômica, muito maior do que
a criticada na atual sociedade. Sendo assim, toda geração de riqueza do capitalismo
que vem evoluindo ao longo dos séculos 20 e 21 irá por água abaixo.
10. Forma de guardar a moeda: Muitos confiam seus bitcoins em corretoras, que podem
ser hackeadas e muitas já foram, mas na realidade a forma mais segura de guardar
seus bitcoins é em papel (entre uma ledger e papel, o papel é mais seguro) da mesma
forma que o ouro começou a ser guardado em banco nos séculos passados, bitcoin
também poderá ser, mas todos os problemas já citados acima ainda permanecerão.
Mas, ao guardar o seu bitcoin no banco, com o estado e o banco em posse do seu
bitcoin, qual o real valor do criptoativo se uma das principais funções do bitcoin é ser
um trust descentralizado?

Até onde pode chegar o Bitcoin é difícil precisar, mas seguem alguns fatores relevantes:

Total de valor de mercado dos 18,6 milhões de bitcoin: 1,2 trilhões de dólares

Total de dólares circulantes no planeta: 2,1 trilhões de dólares

Mercado total valor de mercado das reservas de ouro: 11,6 trilhões de dólares

Nasdaq: 48,6 trilhões de dólares

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