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EPICURO E OS ESTÓICOS1
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STEAD, Christopher. A filosofia na antiguidade cristã. Tradução de Odilon Soares Leme. São Paulo:
Paulus, 1999. pp. 46-57.
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Mas ele acreditava também que deveríamos escolher somente aqueles prazeres que
podemos gozar sem nos atormentarmos ou sem prejudicarmos nossos vizinhos. Os
prazeres, uma vez mais, não podem estender-se além de certo limite; e os nossos
desejos naturais de alimento e vestuário, sexo e amizade, podem ser agradavelmente
satisfeitos sem sofisticados artifícios. Desse modo, Epicuro advoga, na prática, um
estilo simples de vida, no qual a tranqüilidade da mente desempenha importante papel, e
se valoriza especialmente a companhia de amigos da mesma opinião. Ele não se afastou
completamente da vida cívica, mas não nutria simpatia pela ambição política.
A doutrina de Epicuro a respeito do universo envolve dois elementos que parecem
fortemente contrastados. Em primeiro lugar, sustenta que todo conhecimento humano
começa com a sensação. Nossos sentidos funcionam, acredita ele, detectando certas
"efluências", ou imagens, emitidas da superfície dos corpos que se nos deparam, um
processo mais ou menos análogo ao sentido do olfato, tal como hoje o entendemos. Se
nossas impressões sensoriais são claras e não são desmentidas por outras impressões,
podemos reuni-las para formar conceitos e julgamentos. Um surpreendente subproduto
da teoria sensacionalista de Epicuro foi sua concepção de que o sol realmente é do
mesmo tamanho com o qual se nos apresenta, ou seja, cerca de um pé de diâmetro.
Argumentava ele que os objetos distantes situados na terra parecem tanto menores como
menos distintos; mas os corpos celestes podem ser vistos de maneira perfeitamente
distinta, não havendo, assim, razão para se pensar que eles pareçam menores do que
realmente são.
Por outro lado, Epicuro aceitava uma teoria física que certamente não poderia ser
estabelecida pela observação direta, ou seja, a teoria atômica de Leucipo e seu mais
influente sucessor, Demócrito. Os atomistas representavam os corpos materiais como
coleções de minúsculos corpos sólidos imutáveis a colidir e ricochetear no espaço
vazio. Desse modo, eles poderiam explicar uma variedade de processos físicos, como os
movimentos dos líquidos e vapores, e a passagem de corpos sólidos através deles, a
mistura de uma substância com outra, como nas soluções e ligas, e a digestão do
alimento; a consistência dos corpos sólidos foi também explicada, de modo um tanto
grosseiro, pela teoria das saliências em forma de gancho sobre os átomos, as quais
conectavam firmemente uns aos outros. Epicuro não conseguiu, porém, arranjar uma
explicação satisfatória para a emergência e persistência de estruturas ordenadas, como o
sistema planetário, ou os corpos dos animais. Ele sustentava que o universo se originara
de um enxame de átomos caindo livremente através do espaço. A certo momento, sem
que se possa saber a razão, alguns deles começaram a desviar-se do seu caminho para
baixo e começaram uma série de colisões e interações que acabaram produzindo o
mundo mais ou menos ordenado em que vivemos.
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A maioria dos pensadores antigos condenava como ilógica a noção de um desvio não
causado, e rejeitava a explicação dada por Epicuro para a ordem no universo como
resultado de eventos puramente fortuitos. A objeção é convincente; dado um tempo
infinito, podia-se conceber a emergência casual de um padrão ordenado; mas isso não
explicaria a sua persistência.2 Não obstante, a doutrina é coerente com suas intenções
filosóficas. Ele defendia que as crenças religiosas eram causa de desnecessária
ansiedade, e uma ameaça para a tranqüilidade da mente, que ele prezava. Ele não era, na
realidade, ateu, já que tanto aqui como em outra parte endossava as crenças comumente
aceitas, sustentando que havia deuses em forma humana, como eles eram
ordinariamente representados, que viviam em paz e alegria nos espaços entre os mun-
dos. Porém tais deuses, pensava ele, não podiam preocupar-se com os assuntos
humanos; por isso, rejeitava qualquer concepção do mundo como criado ou governado
por uma providência divina. A bem-aventurança dos deuses e, igualmente, a sua
imortalidade tinham um fundamento físico na excelência e regularidade dos átomos que
constituíam seus corpos. Da mesma forma, o pensamento e o caráter humanos seriam
sim- . plesmente um resultado produzido pelos movimentos harmoniosos dos átomos
dentro de nossos corpos. Mas os corpos humanos morrem e se desintegram; assim, não
poderia haver persistência da consciência ou sobrevivência à morte. E mais: não se
devia temer a morte. Ela significa uma simples extinçâo da vida; não se poderia esperar
nenhum prêmio ou satisfação celeste; inversamente, não haveria ameaça de nenhumjul-
gamento ou punição.
É claro que tal filosofia só podia ter escassa atração para os cristãos.
Seu fisicalismo, seu politeísmo, sua negação da providência divina, de um julgamento e
de uma vida futura eram diretamente opostos às afirmações fundamentais do
cristianismo. Sob um aspecto, porém, seus ataques eram injustos; ou enganados pela
propaganda dos adversários de Epicuro, ou querendo denegrir seus opositores por
qualquer meio, os escritores cristãos tendiam a acusar Epicuro de busca indiscriminada
do prazer, que então era advogada por Aristipo e sua escola, os cirenaicos. A despeito
de todas as suas divergências, o ideal de tranqüilidade de Epicuro tinha mais em comum
com os propósitos do ascetismo cristão do que seus detratores gostariam de admitir. De
fato, escritores cristãos freqüentemente faziam eco à concepção de Epicuro de que a
pesquisa científica é valiosa somente enquanto traz tranqüilidade; além daí, essa busca
era denunciada como curiositas.
2
Cf. Ambrósio, Hex.1.2. 7
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Tanto os epicureus como os estóicos têm sido representados como reagindo, cada um a
seu modo, à conquista de Alexandre e ao declínio das cidades-estado gregas, tentando
apresentar um modo de vida que pudesse ser seguido por todos os homens, em qualquer
parte, independentemente de sua orientação política ou classe social. Mas aí acaba a
semelhança. Os epicureus, como já notamos, continuavam a ensinar as idéias de seus
mestres, sem mudança substancial. O estoicismo, em contraste3, foi desenvolvido e
modificado por uma sucessão de hábeis expositores; houve intercâmbio de idéias com
escolas platônicas e aristotélicas posteriores; e um estoicismo modificado ofereceu
contribuições importantes para o pensamento de Fílon de Alexandria e, tanto por sua
influência, como de modo independente, para o pensamento dos Padres da Igreja. Mas é
difícil esclarecer os pormenores de sua história antiga, já que a grande massa dos
antigos escritos estóicos se perdeu, podendo apenas ser recuperados fragmentos a partir
de citações e notícias de escritores antigos, com o acréscimo de alguns retalhos de
documentos em papiro. A completa falta de evidência tentou muitos críticos a verem o
estoicismo como um sistema complexo, mas estático, cujos pormenores devem ser
descobertos e ajustados uns aos outros. A verdadeira situação é bem mais desafiadora;
dentro de ampla estrutura geral, há muitas dissensões e mudanças de pontos de vista; os
estóicos posteriores continuam a citar as idéias simples e incisivas de seus pais
fundadores, especialmente de Zenão, juntamente com teorias mais sutis e mais
refletidas, elaboradas em controvérsia posterior. Houve claramente uma evolução das
idéias; mas muitos aspectos desse processo não podem agora ser discernidos.
O estoicismo foi fundado por Zenão de Cício (ca. 332-262), em Chipre, o qual foi para
Atenas talvez por volta de 311 e começou a ensinar aí uns dez anos mais tarde na stoa,
ou colunata que deu seu nome à escola. Na sua juventude, ele foi influenciado pelo
filósofo cínico Crates, e essa influência aparece na sua rejeição das convenções sociais
não sustentadas pela razão, incluindo-se nelas a religião. Cleanto, que sucedeu a Zenão,
era homem de outro estofo; apesar da larga abrangência de seus interesses, deu ele à
escola um impulso mais teológico; seu "Hino a Zeus" chegou a ser amplamente
aclamado como expressão do monoteísmo. Crisipo, que lhe sucedeu em 232, era
dialético versátil e imensamente ativo, que tanto reforçou as bases teóricas do
estoicismo, como desenvolveu de modo notável sua lógica, sua ética e também sua
física. "Sem Crisipo", já se disse, "não teria existido a Stoa".
3
o contraste é observado por Numênio, fr. 24 des P., citado por Eusébio, Praep. Eu. 14.4
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Mas, como a maioria dos que empregam a teoria dos quatro elementos, os estóicos
podiam falar de elementos tanto num sentido estrito como num sentido largo. "Água"
podia significar líquido puro, ou qualquer líquido; "fogo" podia simplesmente indicar
calor, incluindo-se o calor moderado do qual dependem nossa vida e pensamento. Mas
o fogo puro tinha especial importância no seu sistema; o primitivo fogo construtivo deu
origem ao universo por meio de sua diferenciação, e assim produzindo os outros
elementos - ar, água e terra - e, a partir deles, as variadas substâncias compostas e
formas de vida. As mais baixas dessas não têm nenhum poder autodiretivo, mas apenas
consistência (hekis); as plantas, no entanto, são controladas por seu princípio
organizador, sua natureza ou "desenvolvimento" (physis) - uma palavra importante de
que nos ocuparemos mais tarde; e os homens, por seu princípio racional intrínseco, ou
alma (psyche; ou hegemonikon, a "parte diretiva"). Assim o universo todo é organizado
tendo em vista um fim racional, ou seja, promover o bem dos seres racionais, inclusive
os homens; e a sua racionalidade global é reproduzida em graus variáveis nos princípios
organizadores que controlam o desenvolvimento de suas partes, os assim chamados
"princípios seminais", spermatikoi logoi. No final, porém, essa ordem racional será
reabsorvida pelo fogo, numa conflagração cósmica, na qual, no entanto, ela persiste
numa forma latente como "fogo construtivo", pelo qual será produzido um novo
cosmos.
Parece que nós descrevemos dois princípios cósmicos, o fogo e a razão (logos); porém,
mais propriamente, existe um único princípio, que no seu apecto físico é descrito como
fogo, e em seu aspecto funcional como logos. Outros aspectos são indicados por meio
das designações espírito (pneuma), natureza (physis, num sentido largo), cosmos e
Deus. A doutrina estóica do pneuma, embora importante, não é perfeitamente clara ou
consistente. Ele foi concebido como uma espécie de vapor que podia exercer pressão e
podia conseguir um padrão de vibrações (tonos, "tom"), que variava em freqüência e
intensidade. O problema aí era que se supunha que esse tonos explicasse a consistência
variável das substâncias materiais; mas os estóicos procuravam também explicar o
próprio pneuma em termos dessas substâncias, vendo-o como uma mistura de ar e fogo,
e assim produzindo um circulus in definiendo: pneuma = seu tonos = ar e fogo =
pneuma. A conexão de pneuma com racionalidade não aparece de imediato; mas a voz
humana, que pode transmitir orientações racionais, depende exatamente das variações
rítmicas na pressão do ar; e os estóicos, não tendo conhecimento adequado dos nervos
ou do cérebro, postulavam um mecanismo similar para transmitir informações recebidas
de todos os sentidos para o organismo central diretor, o hegemonikon, do qual procedem
impulsos similares para controlar o corpo todo.
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Para Platão, um termo como ''homem'' indica uma realidade permanente e objetiva, a
Forma ou Idéia de humanidade; foram os estóicos que empregaram o termo "idéia" para
significar simplesmente uma concepção mental, ou noção, sentido que comumente ele
tem hoje.
Aristóteles, já o observamos, reconhecia três ordens de generalidades - indivíduo,
espécie e gênero - embora tanto ele como Platão tenham atribuído importância
particular às espécies. Os estóicos adotaram o sistema mais simples de distinguir entre o
(real) indivíduo e o irreal, ou concepção geral, meramente mental. Mas se poderia
formar uma concepção também dos indivíduos; e tais indivíduos são freqüentemente
indicados pela palavra eidos e seus derivados - exatamente a palavra que anteriormente
tinha indicado as espécies! Isso também atingiu nosso costume moderno; quando
falamos de um "caso especial" (specialis = eidikos) normalmente queremos dizer um
caso individual; é muito menos comum usarmos tal expressão para separarmos uma
espécie de outra. Dizer "o homem é um caso especial" é certamente legítimo, mas
menos comum.
Atribui-se aos estóicos um sistema de quatro categorias; distinguiam eles: sujeitos,
coisas qualificadas, coisas dispostas e coisas relativamente dispostas (hypokeimena,
poia, pos echonta, pros ti pos echonta). O segundo item representa as espécies (que, de
fato, Aristóteles ocasionalmente chama de poietes, "qualidade", embora normalmente
com isso queira significar uma condição ou estado de algo, corrrespondendo
aproximadamente ao pos echonta dos estóicos). Em qualquer situação real, para os
estóicos, os quatro itens apresentam-se juntos; a primeira categoria - possivelmente
também chamada, às vezes, ousia, substância - implica "é material", e, portanto, "é
real". De fato, os estóicos muitas vezes evitam falar de "qualidades" abstratamente, e
preferem falar de "sujeitos qualificados"; mais ou menos do mesmo modo,
"conhecimento" era definido, não como um estado do hegemonikon, mas como o
hegemonikon assim disposto, isto é, bem instruído; exatamente como o punho não é um
estado da mão, mas simplesmente a mão fechada. Tal referência às coisas concretas
nem sempre era possível; mas os estóicos insistiam em que, separadas dos sujeitos ou
substância, as qualidades e o resto não são plenamente reais. Mas evidentemente elas
não são puramente fictícias; daí descreverem os estóicos os sentidos das palavras (lekta)
e, naturalmente, o espaço e o tempo, como não onta, mas tina; fatos não reais, mas,
mesmo assim, fatos distinguíveis.
Voltando para a teologia, podemos observar certa tensão e alguma inconsistência na
escola estóica. Sustentavam eles que o cosmos como um todo exibe uma estrutura
racional e um princípio diretor; mas obviamente algumas partes dele - os seres
humanos, por exemplo - distinguem-se por terem uma racionalidade própria, e por isso
são chamados "microcosmos". Em conjunto, domina uma tendência panteísta; de fato,
os estóicos eram acusados de ensinar que "o mundo é Deus".
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Por outro lado, ele produziu notáveis argumentos para provar que os seres racionais
podem praticar uma escolha genuinamente não determinada. Mas o debate ficou
confuso pelo fato de os debatedores estarem muito inclinados a defender uma
concepção global, negligenciando o fato óbvio de que alguns acontecimentos são muito
mais predizíveis do que outros. Carnéades, porém, sustentava que não podia haver
nenhum conhecimento absolutamente certo de nada, sem falar do futuro, mas apenas
uma razoável crença suficiente; em contraste, porém, os estóicos ensinavam que a
percepção sensorial, em circunstâncias favoráveis, podia darnos uma "impressão
cognitiva" (kataleptike phantasia) que era uma prova contra o erro.
Os estóicos chegaram, assim, a ser acusados de negar a liberdade da vontade e de
ensinar uma doutrina fatalista parecida com a dos astrólogos. Mas não era essa sua
intenção. A noção de liberdade fora sempre importante para eles. Os cínicos tinham
incitado os homens a atingi-la não fazendo caso das convenções sociais e abrindo mão
dos confortos que tornam a pessoa dependente da sociedade. O desprezo pela
convenção foi muito evidente em Zenão; como os cristãos observaram mais tarde com
desgosto, ele ensinava que em certas circunstâncias tanto o homossexualismo como o
canibalismo podiam ser aprovados com fundamentos racionais. E um estilo de vida
ascéptico foi recomendado pelos estóicos através de toda a sua história, embora com o
passar do tempo sua moralidade social tenha-se tornado mais conformista.
Segundo sua apresentação original, o sábio estóico era completamente destituído de
pathe, ou impulsos irracionais; suas ações eram governadas tão-somente pela razão.
Essa doutrina foi modificada quando pathe veio a ser distinguida de hormai, simples
impulsos naturais, por causa de sua força imoderada ou de seus objetos impróprios;
tornou-se possível, então, aprovar as emoções moderadas e bem dirigidas. Mas causou
certa confusão o fato de os estóicos representarem pathe e os atos por ela inspirados
como "opiniões" ou 'julgamentos" errôneos e dela resultantes. Isso envolve uma boa
dose de super simplificação. Como regra geral, pode ser que os homens bons ajam de
modo refletido, frio e coerente, e, além disso, que os homens maus ajam
irracionalmente. Mas eles o fazem em sentidos muito diferentes. Alguns são fria e
coerentemente egoístas; outros submetem-se habitualmente a seus impulsos imediatos;
outros ainda, os akrateis de Aristóteles, têm algumas aspirações à bondade, mas são
dominados por impulsos desordenados, que se chocam, não somente com aquelas
aspirações, mas uns com os outros. Tais fatos, e outros como esses, podem ser mais
bem explicados se nós distinguirmos entre impulsos conflitantes de um homem e os
juízos e opiniões que, em certo sentido, ele pode manter ainda quando efetivamente se
subordina ao impulso.
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Não obstante, os estóicos retratavam o homem sábio como diferente, não só em grau,
mas em qualidade, de todos os outros, os "loucos"; o homem que não consegue flutuar,
ainda que por duas polegadas, afogar-se-á. E, em princípio, os estóicos sustentavam que
a virtude moral é o único bem. Mas, na prática, essa posição exclusiva veio a ser
modificada. Desde que o cosmos como um todo é racional, o ideal da ação racional
podia ser apresentado como "agir de acordo com a natureza". Mas não se podia negar
que certas emoções e instintos (por exemplo, a autopreservação) eram naturais ao
homem, e que a saúde ou uma prosperidade razoável eram vantagens naturais. Assim,
ainda que mantendo o valor único da bondade moral, os estóicos vieram a reconhecer
um conjunto de valores secundários - proegmena, "coisas aprovadas" - que alguém
pode razoavelmente desejar garantir para os próprios amigos ou dependentes, senão
para si mesmo, e um conjunto de obrigações morais secundárias para com as pessoas
ligadas a ele e para com a sociedade como um todo.
Os moralistas cristãos, diz-se freqüentemente, valeram-se amplamente da ética estóica
popular. Foi esse código modificado que influenciou os escritores do Novo Testamento,
embora o ideal de uma "vida sem paixão" tenha-se tornado cada vez mais importante do
século segundo em diante. Mas os pensadores cristãos, de acordo com a principal
tradição grega, tendiam a chamar de pathe a todas as emoções fortes, ao invés de
reservar o termo para as "emoções contrárias à razão". Isso gerou confusão; o ideal de
"metriopatia", propriamente "moderar as próprias paixões", podia sugerir "discreta
indulgência para com elas"; e apatheia podia sugerir ausência de toda emoção, qualquer
que fosse. Os cristãos afirmavam que Deus era apathes, "impassível". Com uma
interpretação rigorosa de pathos, isso era apropriado. Mesmo assim, sua ênfase negativa
podia soar como um estranho contraste com o ideal bíblico do amor comunicativo de
Deus.