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M I S T I C I S M O l C I Ê N C I A l A R T E l C U L T U R A

PRIMAVERA 2022 ISSN 2318-7107


Nº 322 – R$ 20,00
TRADICIONAL ORDEM MARTINISTA

O MINISTÉRIO DO HOMEM-ESPÍRITO

O ministério do Homem-Espírito compreende três graus: o primeiro consiste em


que o ser humano regenere a si mesmo; o segundo em que ele regenere o universo, que
não é mais que uma sombra dele próprio; e, no terceiro grau, o ser humano deve dar
repouso à palavra.

O eixo dessa transformação é o Logos, a Palavra eterna, o Verbo. O ser humano


deve dar repouso a essa Palavra, dar repouso a toda a natureza que, privada da Palavra
eterna, está em estado de dor. Mas é em si próprio que o ser humano deve encontrar
esse Verbo eterno. Saint-Martin indica ao leitor como ele deve proceder para bem
cumprir essa missão, refutando a necessidade de usar teurgia, bem como a de evocar
os espíritos. À evocação, Saint-Martin prefere a invocação, mas essa prece deve ser
antes de tudo ação. O cadinho dessa transformação é o coração do ser humano. É em
nosso centro que devemos ser vivificados e, para Saint-Martin, no ser humano esse
centro é o coração. É nisto que o Martinismo é uma via cardíaca.

A prece deve então ser a companheira fiel do trabalho de regeneração do ser


humano. O primeiro trabalho do Homem de Desejo consiste, portanto, no ministério
da prece, mas este ministério não é realizado de qualquer maneira. O ser humano não
pode orar sem preparação – sem que sua atmosfera tenha sido preenchida com a
palavra... Não é então o ser humano quem ora e sim é Deus quem ora nele...

Louis-Claude de Saint-Martin

Texto extraído da Revista “O Pantáculo” nº. 5 – 1997.

S.I.
n MENSAGEM

Caros Fratres e Sorores


© AMORC.ORG.BR

Saudações Rosacruzes!

Ao revisar esta edição do nosso periódico “O Rosacruz” ocorreu-


me a pergunta: Por que devo ler esta revista ou até mesmo o Fórum
Rosacruz?

Embora a proposta de reforma do ser humano para se alcançar o


autodomínio e o controle de nossas vidas em direção à realização
mística indique para a sensibilidade interior, a luz do conhecimento
advinda do nosso estudo não deve ser subestimada.

Como conciliar então a assertiva de Louis Claude de Saint-Martin


quando nos diz: “Não é a cabeça que é preciso romper para avançar na senda da Verdade; é o
coração”?

Temos então duas referências. A primeira nos remete ao aumento da sensibilidade para as coisas da
alma e a segunda para o conhecimento, a razão e as reflexões sobre os ensinamentos.

Há um aparente paradoxo, mas somente aparente porque, na realidade, existe uma linha do meio
que podemos e devemos buscar.

Não podemos negar que o processo da caminhada na Senda que leva à iluminação passa pelo
conhecimento convertido em sabedoria.

Por esta razão, encontrar a mediania entre o conhecimento da gnose arcana presente em nossa
Tradição e a vivência proporcionada pelas iniciações e pelo trabalho metafísico do Sanctum do lar
é tão importante. Torna-se imperioso portanto consultarmos o pensamento de grandes pensadores
especialmente aqueles com bases rosacruzes. E, como sabemos, a bibliografia rosacruz é bastante
rica em místicos e filósofos que contemplam todos os períodos do pensamento humano, sejam
antigos, modernos ou contemporâneos.

Assim, a resposta a questão é positiva: esta revista e toda bibliografia complementar servem para
provocar as reflexões necessárias ao buscador de um conhecimento mais profundo.

Neste contexto, quero destacar que os artigos desta edição contêm princípios e leis místicas em suas
entrelinhas que precisam ser percebidos para usufruirmos da luz que elas possuem.

Minha recomendação é que procurem ler os artigos, sejam os históricos, os reflexivos ou esotéricos,
como se estivessem levantando um véu que revela um conhecimento especial e fidedigno.

Tenho muitos agradecimentos a fazer.

O primeiro é pela resposta atenciosa e imediata dos artesãos de nossa Hierarquia ao pedido que foi
atendido amorosamente sobre o Sanctum Celestial.

O segundo é relativo à XXVI Convenção Nacional Rosacruz, com a presença de fratres e sorores de
todo o Brasil, Portugal e Angola, além dos dignitários do México, Nigéria, Itália e Estados Unidos.

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


1
n MENSAGEM

Tanto durante o evento quanto após, através dos relatórios de avaliação, os depoimentos foram
muito positivos. Não somente na organização, na parte lúdica, como também no nível das palestras
e convocações ritualísticas.

Agradeço todos os que participaram presencialmente, bem como os participantes virtuais.

O terceiro agradecimento é sobre as contribuições voluntárias em reconhecimento pelos benefícios


recebidos através da Lei de AMRA. A ajuda foi significativa, pois além de subsidiar fratres e sorores
sem condições de cobrir os custos das suas contribuições, ajudou todos os membros, pois permitiu
que mantivéssemos o valor da mensalidade no atual patamar até 30 de março de 2023.

Agradeço a boa vontade de todos(as) que reconhecem na Ordem um caminho para a sua evolução
e para beneficiar toda a humanidade.

Despeço-me com meus melhores votos de Paz Profunda, com o desejo sincero de que todos tenham
um bom Natal e um ano de 2023 repleto de realizações.

Sincera e Fraternalmente

AMORC-GLP

Hélio de Moraes e Marques

GRANDE MESTRE

2 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ
3
n SUMÁRIO

06 Os Filósofos e a Rosacruz - René Descartes


Por CHRISTIAN REBISSE

14 A Relatividade da Noção de Valor


Por RALPH MAXWELL LEWIS, FRC - IMPERATOR EMÉRITO DA AMORC

21 Mensagem de Natal
De GRANDE LOJA DA JURISDIÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA - AMORC

22 Incenso Um Perfume do Céu


06
Por SIOBHAN RUSSEL

32 Nāgārjuna o Alquimista
Por FRASER LAWSON

22
37 Como Começar um Novo Ciclo
Por DR. HARVEY SPENCER LEWIS - IMPERATOR EMÉRITO DA AMORC

38 Introdução ao Corpus Hermeticum


Por JOHN MICHAEL GREER

42 Conversando com Mestre Interior de seu Filho


Por ANA RIMOLI DE FARIA DONA, SRC

46 Terra

38
Por KAHLIL GIBRAN

50 Sanctum Celestial - A Função dos Rituais


Por RALPH MAXWELL LEWIS, FRC - IMPERATOR EMÉRITO DA AMORC

56 Tesouros do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon


Pequena Cabeça de uma Princesa
Por VIVIAN TEDARDI, SRC

46
4 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022
Publicação trimestral da
ORDEM ROSACRUZ, AMORC
O s textos dessa publicação não representam a palavra oficial da AMORC,
salvo quando indicado neste sentido. O conteúdo dos artigos represen-
ta a palavra e o pensa­mento dos próprios autores e são de sua inteira
respon­sabilidade os aspectos legais e jurídicos que possam estar inter-relacionados
com sua publicação.
Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
Bosque Rosacruz – Curitiba – Paraná Esta publicação foi compilada, redigida, composta e impressa na Ordem Rosa-
cruz, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa.
Todos os direitos de publicação e repro­dução são reservados à Antiga e Mística
Ordem Rosae Crucis, AMORC – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portu­guesa.
Proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio.
As demais juris­dições da Ordem Rosa­cruz também editam uma revista do mes­
mo gênero que a nossa: El Rosacruz, em espanhol; Rosicru­cian Digest e Rosicrucian
Beacon, em inglês; Rose+Croix, em francês; Crux Rosae, em alemão; De Rooz, em
holandês; Ricerca Rosacroce, em italiano; Barajuji, em japonês e Rosenkorset, em
línguas nórdicas.

CIRCULAÇÃO MUNDIAL
expediente
Propósito da n Coordenação e Supervisão: Hélio de Moraes e Marques, FRC
n Editor: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
Ordem Rosacruz
n Colaboração: Estudantes Rosacruzes e Amigos da AMORC
A Ordem Rosacruz, AMORC é uma orga-
nização interna­cio­nal de caráter templário, n Diagramação: Léia Regina Nascimento Guimarães
místico, cul­tural e fraternal, de homens e

como colaborar
mulheres dedicados ao estudo e aplicação
prática das leis naturais que regem o uni-
verso e a vida.
Seu objetivo é promover a evolução da n Todas as colaborações devem estar acom­panhadas pela declaração do autor
huma­nidade através do desenvolvimento cedendo os direitos ou autori­zando a publicação.
das potencia­lidades de cada indivíduo e
propiciar ao seu estudante uma vida har- n A GLP se reserva o direito de não publicar artigos que não se encaixem nas
moniosa que lhe permita alcançar saúde, normas estabelecidas ou que não esti­verem em concor­dância com a pauta da
felicidade e paz. revista.
Neste mister, a Ordem Rosacruz ofe-
rece um sistema eficaz e comprovado de n Enviar apenas cópias digitadas, por e-mail, CD ou DVD. Originais não serão
instrução e orientação para um profundo devolvidos.
auto­c onheci­mento e compreensão dos
processos que conduzem à Iluminação. n No caso de fotografias ou ilustrações, o autor do artigo deverá providenciar a
Essa antiga e especial sabedoria foi cui- autorização dos autores, necessária para publicação.
dadosamente preservada desde o seu
desenvolvimento pelas Escolas de Misté- n Os temas dos artigos devem estar relacionados com os estudos e práticas rosacru-
rios Esoté­ricos e possui, além do aspecto zes, misti­cismo, arte, ciências e cultura geral.
filosófico e metafísico, um caráter prático.
A aplicação destes ensinamentos está ao
alcance de toda pessoa sincera, disposta a
aprender, de mente aberta e motivação
nossa capa
positiva e construtiva. Nossa capa faz referência ao peregrino
em busca de luz.
A Luz que vem dos Mestres do Passado.

Rua Nicarágua 2620 – Bacacheri


82515-260 Curitiba, PR – Brasil
Tel (41) 3351-3000 / Fax (41) 3351-3065
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n PENSAMENTO DO MÊS

Os Filósofos e a
Rosacruz
René Descartes
Por CHRISTIAN REBISSE

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ários historiadores do esote- ocultas, em particular os escritos

V rismo quiseram fazer de


René Descartes um
rosacruz no sentido forte do
de Cornelius Agrippa e Raymon
Lulle (abril 1619). Foi prova-
velmente por estes dois ho-
termo. Um dos principais mens que ele tomou conhe-
responsáveis por essa cimento dos Manifestos
posição foi o bispo de Rosacruzes. Seu biógrafo,
Avranches, Daniel Huet. Adrien Baillet, diz que en-
Em 1692, com o pseu- tão elogiaram para ele os
dônimo de G. de l’A., ele conhecimentos extraor-
publicou Novas memórias dinários de uma confraria
para servir à história do de sábios estabelecida na
cartesianismo, uma sátira Alemanha fazia algum tem-
que pretendia fazer revelações po sob o nome de Irmãos da
sobre Descartes. Nela se infor- Rosa-Cruz. “Ele sentiu nascer
mava que este introduzira a Ordem em si mesmo os movimentos de uma
Rosacruz na França e fora um dos di- emulação em que foi tocado por aqueles
rigentes da mesma. Daniel Huet acrescen- rosacruzes, tanto mais que a notícia deles vie-
tou que esse filósofo não morrera em 1650, ra no tempo de sua maior dificuldade quanto
pois seguramente vivera quinhentos anos aos meios que deveria usar para a busca da
e se retirara para a Lapônia, onde dirigia a Verdade”2.
Ordem. Esse livro causou muitas inverossi- Intrigado, decidiu partir para procurá-los.
milhanças quanto à vida de Descartes. Mais Em março de 1619, foi para a Boêmia, aonde
recentemente, Charles Adam, em sua edição chegou em agosto. Assistiu então à coroação
das Obras completas de Descartes, também de Ferdinando de Estíria, em Frankfurt3. Al-
asseverou que esse filósofo era um iniciado guns historiadores acham que ele aproveitou
rosacruz (1937). sua passagem por ali para visitar o Castelo de
Foi nesse período que antecedeu a Guerra Heidelberg. De resto, vários trechos de seu
dos Trinta Anos que René Descartes (1596 Tratado do Homem e dos Experimenta pa-
– 1650) se interessou pela Ordem da Rosa- recem evocar os autômatos construídos por
-Cruz. Em 1617 ele se engajou no exército Salomon de Caus nos jardins desse castelo.
e esta carreira o levou à Holanda e à Ale- Esse lugar tinha tal fama que todo intelectual
manha. Durante essas viagens estabeleceu devia visitá-lo, o que foi provavelmente o
relação com Johann Faulhaber, brilhante caso do nosso filósofo. Como enfatizou Fran-
matemático que se interessava pela astrolo- ces Amelia Yates, o interesse de René Descar-
gia, pela cabala e pela alquimia. Fora um dos tes pela corte de Heidelberg, mais para o fim
primeiros, já em 1615, a publicar um livro de sua vida, faz pensar que ele conhecia sua
dedicado à Ordem da Rosa-Cruz: Mistério glória passada e induz a se perguntar quais
aritmético, ou descoberta cabalística e filo- foram suas relações reais com esse importan-
sófica, nova, admirável e elevada, segundo te local do rosacrucianismo4.
a qual os números são calculados racional e
metodicamente. Dedicado com humildade e Os Três Sonhos
sinceridade aos ilustres e célebres Irmãos da
Rosa-Cruz1. Nesse período, René Descartes esteve em
René Descartes se ligou também a Isaac plena busca de conhecimento. Acabara de
Beeckman, médico, filósofo e matemático. resolver dois dos três problemas matemáticos
Sua correspondência com este último mostra – o que nenhum sábio desde a antiguidade
que ele se interessava também pelas ciências conseguira – a saber, a duplicação do cubo

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n PENSAMENTO DO MÊS

essa coletânea, deu com estas palavras: “Que


caminho devo seguir na vida”?
A interpretação desses três sonhos suscitou
muitos comentários. Como constataram vários
autores, os eventos que ele viveu durante aque-
les sonhos se parecem com vários episódios re-
latados em As Núpcias Químicas de Christian
Rosenkreutz5. René Descartes tinha consciên-
cia de ter vivido uma experiência fundamental
e logo procurou analisá-la. Considerou seus
sonhos tão importantes que os transcreveu
numa coletânea que intitulou Olympica. Essa
© GETTYIMAGES.COM
experiência trouxe-lhe a confirmação de que
e a trissecção do ângulo. Em março de 1619 estava no caminho certo e de que a matemática
anunciou a seu amigo Isaac Beeckman que era uma chave essencial para se compreender
estava trabalhando para fundar “uma ciência os mistérios da Criação. Para a colaboradora
completamente nova […] um método universal de Carl Gustav Jung, Marie-Louise von Franz,
que ultrapassaria a matemática” e permitiria a iluminação vivida por Descartes pode ser
resolver todos os tipos de questões. Sentiu en- considerada como uma irrupção do incons-
tão uma jubilosa exaltação do espírito, feliz que ciente coletivo que o levou a uma compreen-
estava em ter encontrado os fundamentos de são intuitiva dos arquétipos veiculados pelos
uma ciência admirável. Passou o dia 9 de no- números6. O próprio Descartes diria que se
vembro a meditar sobre o objeto de sua busca. tratava do “acontecimento mais importante de
Foi então que à noite, perto de Ulm, teve três [sua] vida” e, até sua morte, manteve sempre
sonhos que revolucionariam sua vida. No pri- esse texto consigo. Quatro anos mais tarde, em
meiro, foi impelido por um vento impetuoso 1623, voltou a Paris. Foi então que seu nome
para um misterioso colégio onde encontrou foi associado à Ordem da Rosa-Cruz.
um homem que lhe deu um melão. Acordou
e, temendo que esse sonho fosse obra de um Os Cartazes em Paris
gênio mau, fez uma prece. Mal adormeceu e
teve um segundo sonho, seguido de um tercei- Com efeito, nesse mesmo ano, um cartaz
ro. Nesses sonhos, foram-lhe apresentados um afixado nos muros de Paris anunciava a pre-
dicionário e uma coletânea de poesias em que sença “visível e invisível” dos rosacruzes. Ga-
a filosofia era unida à sabedoria. Consultando briel Naudé, em sua Instrução à França sobre
a verdade da história dos Irmãos da Rosa-Cruz
(1623), reproduziu esse texto, que declarava:
Nós, Deputados do Colégio principal dos
Irmãos da Rosa-Cruz, estamos presentes visível
e invisivelmente nesta cidade, pela graça do
Altíssimo para o qual se volta o coração dos
Justos. Mostramos e ensinamos, sem livros nem
discriminações, a falar todos os tipos de línguas
dos países em que desejamos estar, para tirar os
homens, nossos semelhantes, de erro mortal.
Esse cartaz logo foi seguido de um segundo,
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que declarava:
Se alguém deseja nos ver somente por curio-
sidade, jamais se comunicará conosco; mas se

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a vontade o levar realmente e de fato a se ins- filósofo e erudito, opôs-se violentamente ao
crever no Registro da nossa Confraternidade, rosacrucianismo. Publicou Questiones celeber-
nós que julgamos pensamentos o faremos ver a rimæ in genesim…, em que rejeitou a filosofia
verdade de nossas promessas; tanto que não in- hermética e a cabala da Renascença, bem
dicamos o local do nosso paradeiro, visto que os como seus diversos representantes. Acusou
pensamentos ligados à vontade do Leitor serão particularmente o rosacruz inglês Robert Flu-
capazes de nos fazer conhecê-lo e ele a nós7. dd. Na realidade, Mersenne temia algo que não
Esses cartazes tiveram considerável reper- conhecia e sua compreensão do esoterismo era
cussão. Gabriel Naudé falou “num sopro tem- ridícula. Ele imaginava a França invadida por
pestuoso que varreu toda a França anunciando feiticeiros invisíveis difundindo por toda par-
a chegada da misteriosa fraternidade oriunda te doutrinas perversas. Um dos amigos mais
da Alemanha”. Rapidamente, panfletos atacan- íntimos de Mersenne, o filósofo e matemático
do os rosacruzes passaram a circular. Dizia-se Pierre Gassendi, atacou também Robert Fludd.
que a Ordem enviara trinta e seis representan- Na mesma época, François Garasse publicou A
tes ao mundo e que seis deles estavam em Pa- curiosa Doutrina dos belos espíritos deste tempo
ris, mas que só era possível comunicar-se com (1623), em que condenava a “seita dos rosa-
eles em pensamento. Ironicamente, eles eram cruzes e seu secretário Michael Maier”. Quanto
qualificados como “Invisíveis” e eram evocados à faculdade de teologia de Paris, censuraria
os pactos pavorosos feitos entre o diabo e os oficialmente o Amphitheatrum Sapientiæ Ae-
pretensos Invisíveis (1623). A seguir, Gabriel ternæ de Heinrich Khunrath em 1625.
Naudé se mostrou contudo mais conciliador
com o esoterismo em sua Apologia por todos os Políbio o Cosmopolita
grandes personagens que foram falsamente sus-
peitos de magia8. No estudo que dedicou aos sonhos de
O fato de que o aparecimento daqueles Descartes, Sophie Jama voltou a esse episódio
cartazes coincidiu com o retorno de Descartes da vida do filósofo10. Para isso questionou-
bastou para desencadear a imaginação de al-
guns parisienses. Na capital, passou a correr o
boato de que René Descartes tinha se envolvi-
do com uma confraria e até de que tinha a ver
com a origem dos misteriosos cartazes. Para
cortar logo esse boato, o filósofo chamou seus
amigos para lhes mostrar que não era “invisí-
vel” e que não tinha nada a ver com tudo aqui-
lo. Declarou que havia efetivamente procurado
os rosacruzes na Alemanha, mas não os havia
encontrado. Estaria ele dizendo a verdade, ou
procurando se proteger? Como quer que fosse,
a situação era tal que, se ele encontrou rosacru-
zes – o que parece provável – não disse nada.
De fato, nessa época, a França não estava
acolhedora quanto à Ordem da Rosa-Cruz.
Frances Amelia Yates falou do “terror rosa-
cruz” que então reinava no país9. A Igreja viu
nela um complô protestante e considerou a
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Ordem uma sociedade diabólica. No próprio


ano do caso dos cartazes, um amigo de René
Descartes, o abade Mersenne (1588 – 1648),

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n PENSAMENTO DO MÊS

-se quanto a um texto da juventude de Des- Países Baixos, perto de Leyde, para trabalhar
cartes que nunca fora publicado: o Tesouro com calma e se dedicar totalmente às suas
matemático de Políbio o Cosmopolita. Nele pesquisas. Alguns dados históricos mostram
Descartes propusera resolver todas as dificul- que o rosacrucianismo tinha se difundido ra-
dades da matemática e indicara que essa obra pidamente naquele país12. Foi lá que Frederico
era oferecida “aos eruditos do mundo inteiro e V se refugiou após a batalha da Montanha
especialmente aos F.R.C. [Irmãos Rosacruzes], Branca (1620). Já em 1615 Fama Fraternitatis
muito célebres na G. [Germânia]”11. À maneira fora traduzido para o holandês: Fama Fraterni-
dos pensadores do século XVII, que respon- tatis Oft Ontderckinge van de Broederschap des
deram ao apelo dos Manifestos Rosacruzes loflijcken Ordens des Roosen-Cruyces (Gedruckt
publicando um livro, na de Copye van Jan Berner,
Sophie Jama acha que Franckfort, Anno 1615).
René Descartes tinha Essa tradução incluiu
sem dúvida o mesmo uma carta em que
projeto. Contudo, os Andreas Hoberves-
eventos dramáticos chel von Hobernfeld
que se seguiram à pedia sua admissão
batalha da Montanha nessa Ordem da
Branca na Boêmia e o Rosa-Cruz. Esse ho-
sectarismo que reinava mem, originário de
numa França tomada Praga, seguiu Frede-
pela Contrarreforma, o rico V em seu exílio
induziram sem dúvida em Haia. A presença
a renunciar a esse projeto. da Ordem da Rosa-Cruz
Devemos acrescentar que o pro- © AMORC.ORG.BR
na Holanda nos é também conhecida
pósito desse texto se assemelhava por uma carta do pintor de Anvers,
ao que seu amigo Johann Faulhaber dedicou Paul Rubens, dirigida a Nicolas-Claude Fabri
também aos rosacruzes com seu livro Mistério de Peiresc. Nessa correspondência datada de
aritmético… Mesmo que René Descartes tenha 10 de agosto de 1623 ele contava que a Ordem
negado que tivesse encontrado rosacruzes, da Rosa-Cruz estava ativa fazia vários anos em
pode-se levantar a questão de sua adesão às Amsterdã. Mas essa informação, assim como
ideias rosacruzes. Comparando as ideias fortes a de Orvius, que afirmava que a Ordem tinha
dos Manifestos Rosacruzes com a Olympica um palácio em Haia, são muito imprecisas
e outros textos de Descartes, Sophie Jama para se conhecer o real desenvolvimento do
mostrou em seu livro que, longe de terem sido rosacrucianismo nos Países Baixos13.
um episódio marginal na vida do filósofo, as Como quer que fosse, uma correspondên-
ideias rosacruzes contribuíram para fecundar cia de janeiro de 1624, entre diversas persona-
seu pensamento. Ela foi mesmo a ponto de lidades da Corte de Justiça, denunciou a exis-
sugerir que, se René Descartes não encontrou tência de um círculo rosacruz em Haarlem.
rosacruzes na Alemanha, poderia ter encon- Os teólogos de Leyde de fato se queixaram
trado a Ordem da Rosa-Cruz através de uma da presença de uma ordem que contestava a
experiência visionária, a que ele viveu em seus integridade da Igreja. Achavam que ela po-
três sonhos. dia se tornar causa de perturbações políticas
e religiosas14. No ano seguinte, em junho, os
A Holanda magistrados ordenaram uma enquete. Hof Van
Holland pediu aos teólogos de Leyde que pro-
René Descartes não gostava da agitação que cedessem a uma análise de Fama Fraternitatis
reinava na França. Em 1628 ele se instalou nos e Confessio Fraternitatis. Seu estudo produziu

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um relatório intitulado Judicium Facultatis Neste ponto, Jean-François Maillard enfatiza
Theologicæ in Academia Leydensi de secta Fra- um fato raramente assinalado. Ele conta com
ternitatis Roseæ Crucis, texto que levaria os efeito que, por volta de 1640, o próprio René
magistrados a perseguirem os rosacruzes. Descartes se dedicou à alquimia no laboratório
Um pintor que praticava alquimia, Johan- de seu amigo Cornelis Van Hogelande20. Neste
nes Symonsz Torrentius (dito Van Der Beeck), particular, falou numa tentação, não conjurada
foi rapidamente apresentado como o líder dos pela razão, mas abortada. De fato, a atenção
rosacruzes holandeses15. Foi preso no dia 30 de do autor do Método foi mobilizada por outras
agosto de 1627, com seu amigo Christiaen Co- ciências, como a matemática, a geometria, a
ppens. Durante um processo que durou cinco meteorologia, a medicina ou a ótica.
anos, o pintor sofreu penosos interrogatórios. Cabe todavia enfatizar que, apesar do seu
A despeito dos suplícios, negou pertencer à interesse pela alquimia, René Descartes se afas-
Ordem da Rosa-Cruz. Foi, no entanto, conde- tou do esoterismo de sua época. Com efeito,
nado à fogueira, pena que, logo foi transfor- rejeitou o pensamento por analogia, a teoria
mada em vinte anos de prisão. Felizmente para das correspondências e o princípio do simbo-
ele, só ficou preso por alguns anos. Graças à lismo. Para ele, só as ideias claras e distintas,
ajuda de amigos pintores e à intervenção de em que todos os conceitos pudessem ser com-
Carlos I, rei da Inglaterra, foi libertado em pletamente analisáveis, podiam levar a um “co-
1630 e foi se instalar em Londres16. No mes- nhecimento verdadeiro”. Eram as verdades ma-
mo ano, Petrus Mormius publicou em Leyde temáticas, inatas no homem, que lhe podiam
seus Arcanos muito secretos de toda a natureza permitir compreender o mundo. Ele pensava
desvelada pelo colégio rosariano17, um livro que aliás que, se o ser humano podia apreender as
evocava a criação de um movimento rosacruz ideias de perfeição e infinito, era porque Deus
fundado por um francês originário de Dauphi- colocara nele sua própria marca.
né, Frédéric Rose. Além disso, Descartes rejeitava as causas
finais, pois refutava toda tentativa de com-
A Tentação Alquímica preensão do destino da Criação e dos seres.
E se “fundamentava sua física na metafísica”
A Igreja Católica se entregou nessa época era porque considerava que as verdades ma-
a uma verdadeira caça às bruxas. Em 1610, temáticas inatas em nossa alma permitiam
após um processo interminável, Giordano explicar o mundo natural pela física e tornar o
Bruno foi queimado vivo em Roma. Logo foi ser humano “senhor e possuidor da natureza”.
seguido de Galileu. Quando René Descartes Esse mundo natural, Descartes purgava de suas
soube da condenação deste último em 1633, qualidades ocultas e o considerava como uma
pensou em destruir seu Mundo, tratado de sucessão de volumes geométricos articulados
cosmologia que fazia referência ao heliocen- segundo o modelo dos autômatos, dos volumes
trismo. Convinha ser prudente. E, em seu Dis- mensuráveis e concebidos graças à certeza das
curso sobre o Método, que terminou em 1637, verdades matemáticas. Decerto essa concepção
preferiu condenar “as más doutrinas”, as dos mecanicista da Criação era muito diferente da
alquimistas, dos astrólogos e dos mágicos18… concepção de um Paracelso, que via na nature-
Numa correspondência de julho de 1640 com za a chave de tudo o que existe e uma realidade
seu amigo Mersenne19, criticou a alquimia e viva com a qual o ser humano deveria dialo-
sua linguagem esotérica. Pôs em discussão o gar. Isto posto, sua abordagem permitiu que
princípio dos três elementos: enxofre, sal e toda uma época saísse de um obscurantismo
mercúrio. Não obstante, suas cartas mostram hipócrita para conduzi-la a um conhecimento
que ele se interessava pela alquimia e conhecia científico decididamente moderno, livre de
seus princípios. Seu interesse por essa ciên- perigosos preconceitos e de superstições extra-
cia parece ter se prolongado por vários anos. vagantes.

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n PENSAMENTO DO MÊS

Pode-se notar, entretanto, que certos


aspectos do pensamento de Descartes con-
cordam com o rosacrucianismo. Sua rejeição
das especulações estéreis e sua aspiração a
“conhecimentos que fossem perfeitamente
úteis à vida” lembram pontos fundamentais
de Fama Fraternitatis e Confessio Fraterni-
tatis. Disse Serge Hutin: “Quanto à “dúvida
metódica”, à ênfase na experiência, à neces-
sidade de lutar contra as superstições, estes
pontos de vista se inserem perfeitamente nas
perspectivas gerais do rosacrucianismo”21.
É preciso assinalar também que em vários
pontos, notadamente quanto ao papel com-
plementar da intuição e da dedução, ou à
função da glândula pineal22, o pensamento
de Descartes se aproxima bastante das teo-
© AMORC.ORG.BR
rias do rosacrucianismo moderno. Se Des-
cartes não foi um rosacruz no sentido mais
forte do termo, pode-se ao menos considerá-lo como rosacruz na medida em que num dado mo-
mento de sua vida ele se interessou pela Ordem da Rosa-Cruz. Esse interesse deve ser levado em
consideração no processo de maturação que o levou a elaborar seu sistema filosófico.
Curiosamente, no final de sua vida, René Descartes procurou se aproximar da princesa Eli-
sabeth, filha do infeliz rei Frederico V, protetor dos rosacruzes. Essa princesa tornara-se efetiva-
mente uma de suas discípulas. Aliás, o filósofo lhe dedicou seus Principia (1644) e seu Tratado
das paixões da alma. Após o tratado de Westfalen (1648), que marcou o fim da Guerra dos Trinta
Anos, a princesa recuperou suas terras na Boêmia e convidou Descartes a se instalar perto dela.
Infelizmente, esse projeto não se realizou porque o filósofo faleceu durante uma visita à corte da
Suécia a convite da rainha Cristina, em fevereiro de 1650. 4

Excerto do livro “Rosa+Cruz, história e mistérios” publicado pela AMORC

© AMORC.ORG.BR

12 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


1 Faulhaber, Johann (1580 - 1635), Mysterium arithmeticum sive cabalistica et philosophica In-
ventio..., Ulmens, 1615, in-4o, célebre por seus conhecimentos matemáticos. Paul Arnold se en-
ganou quando afirmou em Histoire des Rose-Croix, Paris, Mercure de France, 1955, que nada
indicava que Faulhaber tivesse tido conhecimento da existência da Rosa-Cruz.
2
Baillet, Adrien, La Vie de M. Des Cartes, Paris, 1961, tomo I, págs. 87-88.
3
Ferdinando de Estíria, já rei da Boêmia desde 1617, sucedeu ao imperador Mathias II.
4
Yates, Frances Amelia, La Lumière des Rose-Croix, Paris, Retz, 1985, pág. 148.
5
Foi G. Persigout quem primeiro evocou essa particularidade em Rosicrucianisme et cartésia-
nisme, Paris, Éd. De la Paix, 1938. Mas não explorou essa pista que outros desenvolveriam mais
tarde, como Paul Arnold em sua Histoire des Rose-Croix, op. cit., e sobretudo Sophie Jama que,
em La Nuit de songes de René Descartes, Paris, Aubier, 1998, propôs uma análise particular-
mente interessante dos três sonhos.
6
Nombre et temps, psychologie des profondeurs et physique moderne, Paris, La Fontaine de
Pierre, 1998, pág. 209.
7
Gabriel Naudé só reproduziu o texto do primeiro cartaz. Lenglet du Fresnoy reproduziu o texto
de dois em sua Histoire de la Philosophie hermétique, Paris, 1742, tomo I, pág. 376-377.
8
Haia, 1653.
9
Ver La Lumière des Rose-Croix, op. cit., pág. 135
10
Jama, Sophie, La Nuit de songes de René Descartes, op. cit., págs. 195-196
11
O manuscrito original desse texto se perdeu. Quanto à dedicatória, alguns autores escrevem “F.
Ros. Cruc.” (Foucher de Careil).
12
Govert Homme Siert Snoek estudou de modo particularmente detalhado a maneira como o
rosacrucianismo se propagou nesse país em De Rozenkruisers in Nederland, Een inventaristie,
(A Rosa-Cruz nos Países-Baixos, um Inventário), 1998 Utrecht.
13
Orvius, Philosophia Occulta, 1737
14
Alguns anos antes, em 1621, os rosacruzes tinham sido atacados em Miroir des Frères de la
Rose-Croix.
15
A. J. Rehorst dedicou um livro a esse personagem: Torrentius , Rotterdam, 1939.
16
Ver De Rozenkruisers in Nederland..., op. cit., principalmente o resumo em francês nas págs.
295-299.
17
Arcana totius naturæ secretissima nec hactenus unquam detecta, a Collegio Rosiano in Lucem
produntur, Leyde, 1630.
18
Discours, parte I, 9.
19
Este último, após ter sido muito crítico quanto à alquimia em seu Questiones celeberrimæ in
genesim...(1623), mostrou-se mais aberto com La Vérité des sciences (1625). Mais tarde con-
sideraria a alquimia digna de interesse e almejaria a criação de uma academia de alquimia
(Questions inouyes, question XXVIII e Questions théologiques, physiques, morales et mathé-
matiques, 1634).
20
Ver o artigo de Jean-François Maillard, “Descartes et l’alchimie: une tentation conjurée?”, em
Aspects de la tradition alchimique ao XVIIe siècle, atos do colóquio internacional da univer-
sidade de Reims-Champagne-Ardennes (28-29 de novembro de 1996), sob a direção de Frank
Greiner, revista Chrysopoe ia, Paris, Archè, 1998. Ele se refere ao De metallorum transmutatio-
ne, de Daniel Georg Morhof (Hamburgo, 1673), que relata esse fato. Cornelis era sobrinho de
Theobald Van Hogelande, autor de tratados alquímicos com o nome de Ewaldus Vogelius.
21
Hutin, Serge, “Descartes, iniciado rosacruz?”, revista Rose-Croix, n o 62, 1967, pág. 30.
22
Em sua carta a M. Mersenne, em 30 de julho de 1640, ele a considerou a sede da alma. Este
ponto de vista lembra o que se encontra nos ensinamentos do rosacrucianismo moderno, que a
consideram a sede, não da alma em si mesma, mas da consciência que lhe é própria.
PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ
13
n COMPORTAMENTO

A relatividade da
noção de
valor
Por RALPH MAXWELL LEWIS, FRC IMPERATOR EMERITO DA AMORC

14 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


© QUINO

grau de valor dado representa um o homem colocou a realidade em sua com-

O papel muito importante em cada as-


pecto da experiência e do pensamen-
to humanos. Consequentemente, pesquisas
preensão e que ele criou nela o universo em
que faz parte. Naturalmente, toda a realidade
com todos os seus diferentes atributos existe,
filosóficas sobre este assunto são tão antigas no entanto, independentemente da percep-
quanto a própria história do pensamento. É ção e da capacidade de conhecimento do ho-
por isso que partiremos de algumas concep- mem, mas ela não existe para ele. Sem essas
ções antigas para iniciar apropriadamente faculdades o homem não teria conhecimento
nossa mensagem. nenhum do universo.
Para certos filósofos do passado, toda a Mesmo que o sol continue sendo o centro
realidade, tudo aquilo que existia, se dividia de nosso sistema solar com seus satélites, ele
em duas partes principais: o macrocosmo forma uma unidade que se move através do
e o microcosmo. A palavra “macrocosmo” espaço na galáxia da qual ela faz parte; da
significa literalmente grande universo. Na- mesma forma, o universo pessoal do homem,
quela época, ela designava geralmente nosso o microcosmo que o compõe, está sempre
sistema solar. Por ele, entendia-se o sol e os limitado à unidade de seu conhecimento. O
planetas que giravam em torno dele. Nos universo que o homem percebe como real é
séculos que se seguiram, o homem descobriu composto por fatos ou abstrações baseadas
a relação existente entre esses diversos corpos em fatos. Mas tudo aquilo que percebemos
celestes. O sol mantém esse macrocosmo, não é sempre passível de ser conhecido em
esse grande universo, através da atração que sua totalidade, ou seja, nem sempre faz total-
ele exerce sobre seus satélites. Segundo a lei mente sentido para nós, simplesmente por-
universal da gravitação, qualquer coisa ma- que o estamos vendo.
terial desse macrocosmo atrai e é atraída por Podemos, por exemplo, ver um cubo que
qualquer outra coisa material. Por “microcos- mede tantos centímetros de lado e que é de
mo”, termo que significa pequeno universo, uma certa cor. Mas o que isto significa? Qual
os filósofos entendiam o próprio homem. é seu objetivo e seu uso? Ele exerce sobre
Eles diziam que o seu sol ou seu centro era nós algum efeito particular? Alguma coisa a
formado pelo eu, a consciência humana. Na mais que a sua forma, a sua cor é necessária
verdade, este sol ou esta consciência é o cen- para que conheçamos o seu significado.
tro de dois universos, o grande e o pequeno, Essas realidades com as quais o homem
dentro do conceito que o homem possa ter é confrontado não compõem somente o
dele. Consequentemente, as forças de atração mundo das coisas, mas também um mundo
dentro desse microcosmo, que é o homem, de valores.
são as faculdades de percepção e de cognição. Uma coisa é, e deve igualmente ser. Uma
Em outras palavras, trata-se de sua capacida- coisa é, naturalmente, se percebemos a sua
de de perceber, saber e conhecer. existência e, no entanto, ela deve ainda ser
É através dessa atração e graças a ela, que através de sua relação com o eu. Tal relação

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


15
n COMPORTAMENTO

essa escolha de ação de nossa


mente e de nosso corpo que
confere valores diferentes a
nossas experiências. Mas,
exercendo as nossas escolhas,
chegamos mesmo a conferir
valor à vontade. Chamamos
essa faculdade de vontade,
mas atribuímos a ela uma
qualidade particular que cha-
mamos de eu. Vemos então
que o valor é algo essencial
para a nossa verdadeira cons-
© GETTYIMAGES.COM

ciência do eu.
Como determinamos o
grau de valor? Cada uma de
é necessária enquanto valor se desejamos nossas experiências está in-
dirigir de maneira conveniente a nossa vida. serida numa das classes gerais de valor hedô-
São as reações que as experiências produzem nico. Queremos dizer com isso que todas as
em nós que despertam a noção de valor. Se nossas experiências entram na categoria das
existem falsos valores, fica evidente, então, sensações, proporcionando graus diferentes
que conformar sua vida a eles é prejudicial à de prazer ou de dor. Algumas sensações são
personalidade. Consequentemente, o valor tão intermediárias entre o sofrimento e o
tem importância em nossas vidas. prazer que nossa consciência não as classifica
Consideremos o eu durante alguns ins- nem em uma categoria, nem em outra. Estas
tantes. Dissemos que o senso de valor é sensações diferentes tornam-se valores para o
dado pela relação que existe entre certas nosso ser orgânico, para nossa mente e para
experiências e o eu. Nossa consciência não nosso corpo. As sensações agradáveis são de-
é unicamente um amontoado de impressões sejadas e procuradas, e o prazer é, com razão,
externas de sentimentos internos. Por exem- considerado um valor positivo pelo fato de
plo, não podemos dizer que a consciência engendrar em nós a ação de encontrá-lo e de
de si seja somente um conjunto de imagens, adquiri-lo. O sofrimento, antítese do prazer,
de sons, de sofrimentos, de prazeres e de é considerado como um valor negativo que
emoções. Também não podemos dizer que não é procurado por um ser normal. No
a consciência de si seja formada unicamente entanto, ele pode levar o homem à ação, no
pela totalidade de nosso julgamento. O que único intuito de se livrar dele. Mentalmente e
conseguimos distinguir como sendo o eu no biologicamente, o prazer favorece um aspecto
meio de nossas diversas experiências, é a rea- do ser e do eu. No entanto, quando exagera-
lização da nossa força de vontade. É a cons- do, ele não conservará seu caráter agradável,
ciência da nossa vontade própria. No entanto, mas retrocederá para se transformar em so-
podemos ser conscientes das impressões, das frimento.
coisas externas a nós mesmos, ou ainda de Na vida, os fatos que constituem nossas
nossos próprios sentimentos internos; somos experiências, nem sempre nos fornecessem
conscientes igualmente do nosso poder de uma resposta imediata de valor. Como diz o
preferência. filósofo americano Josiah Royce: Os fatos são
Possuímos, então, aquilo que poderíamos realidades. Eles podem ser descritos, mas não
chamar de consciência da consciência, e que nos permitem nenhuma apreciação sobre eles.
faz brotar a natureza do eu. É essa vontade ou Em outras palavras, os fatos podem, às ve-

16 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


zes, agir sobre nós como se eles não fizessem que uma coisa produz no homem. É uma
surgir nenhum sentimento de valor. Natural- estimativa e uma avaliação das experiências
mente, sempre objetivos, eles são aquilo que que tivemos, sensações e pensamentos que
nossos sentidos percebem como coisas vistas, tais experiências fizeram surgir em nós. Na-
sentidas, escutadas e assim por diante. Mas turalmente, a própria realidade é válida. Ela
seu valor só pode ser obtido através da refle- é tão tangível e tão definida quanto o grau de
xão. É um processo subjetivo de pesagem e exatidão de nossos sentidos. Mas a realidade
de avaliação da percepção, levando em consi- não tem valor algum se não for tomada em
deração sua ação sobre o eu. Em outros ter- termos de relações humanas.
mos, é o efeito que faz parecer ter sob a nossa Em nossos julgamentos, somos levados
natureza unitária que nos leva a determinar o a estabelecer uma série de coisas, boas ou
valor que ele tem para nós. más, justas ou não. Estes julgamentos não
Sobre esse assunto, lembremo-nos da possuem nenhuma existência independente,
doutrina das ideias de Platão. Para ele, a ex- mas estão sempre, necessariamente, ligados
periência objetiva, as coisas do mundo que às coisas e aos acontecimentos. As realidades,
percebemos, só se tornam reais para nós os objetos da experiência e os valores são
quando fazem parte de algumas ideias ine- todos atraídos uns pelos outros. A palavra
rentes ao homem. São então estas ideias que “mau, por exemplo, não pode ser convenien-
conferem seu valor à experiência. temente compreendida sem nos referirmos
Será que o valor não pode jamais ser ine- a alguma coisa ou circunstância que, por sua
rente a algumas coisas? Existem coisas que, vez, fez surgir um pensamento ou um senti-
assim como os fatos, contêm nelas mesmas mento ligado a ela. Se compreendemos o que
os componentes, a essência do valor? Em significa a palavra “mau”, é somente porque
outras palavras, existem coisas nas quais o nos lembramos de uma experiência passada
valor seja tão objetivo quanto à forma, o peso ou de preceitos em que foram praticados essa
ou a cor? O valor não é nunca um compo- palavra anteriormente.
nente, ou seja, uma propriedade dos objetos Vários de nossos valores, no entanto, não
da experiência. O valor é o resultado da ação são resultado de julgamentos pessoais, nem
consequência de uma
experiência direta. Eles
são, sobretudo, herdados
enquanto tradições e cos-
tumes. Aceitamos esses
valores na fé, ou seja, pela
confiança que temos nas
reações dos outros aos
acontecimentos e às coisas
que são produzidos em
suas vidas e que eles nos
passaram. Existem muitos
tabus sociais e religiosos
cujos valores são aceitos
por nós. Por exemplo, je-
juar durante certas festas
© PNG
WING
.COM
religiosas tem o valor de
pecado para certas pessoas
que, no entanto, não ex-
perimentaram nenhuma

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


17
n COMPORTAMENTO

adversidade após tal fato; mas é um mente do homem. Os religiosos os


valor que eles atribuem ao jejum concebem como algo indepen-
única e exclusivamente pela fé. dente da influência humana,
Eles são vários. Existem obrigando os homens, ou a
valores biológicos que aceitá-los, ou senão, a sofrer
surgem pelo instinto de uma penalidade.
conservação. É das ditas Leis ou mandamentos
morais que provém prin- como: “amarás teu Deus,
cipalmente os dogmas honrará teus pais, não
religiosos. Eles podem matarás, confessarás teus
surgir, ainda, daquilo que os pecados”, não são realmen-
homens chamam de “a voz te valores universais. Eles
da consciência”, que representa, não possuem uma existência
por sua vez, sua compreensão da- independente daquela dos mor-
quilo que seria a boa e a má conduta. © GETTYIMAGES.COM
tais, seja ela divina ou terrestre, como
Os valores estéticos acreditam as pes-
provêm de um sen-
timento pessoal da
A experiência soas devotas. Essas
leis são, sobretudo,
beleza em suas dife-
rentes formas visuais
objetiva, as coisas criações mortais
objetivas, regras
e auditivas. Os valo-
res utilitários encon-
do mundo que concebidas pelo
homem, sendo que
tram sua expressão
através de coisas prá-
percebemos, só se cada uma delas saiu
de seu próprio in-
ticas, necessárias às
nossas necessidades.
tornam reais para nós telecto, após efeitos
reais ou imaginários
Os valores econô-
micos estão ligados
quando fazem parte que um ato ou um
evento produziu em
àquilo que contribui
ao nosso bem-estar
de algumas ideias sua vida. Cada um
desses valores, con-
financeiro.
A religião e a
inerentes ao homem. siderados como uni-
versais, possui uma
teologia tentaram
estabelecer impera-
São então estas ideias antítese, ou seja, um
contrário ou um es-
tivos absolutos no
que tange aos valores
que conferem seu valor tado negativo. Estes
valores negativos
morais ou da cate-
goria do bem e do
à experiência. são aqueles que o
homem crê alcançar
mal. Elas ensinaram se ele rejeitar os va-
que esses valores lores positivos. Eles
eram eternos e universais. Elas os definiram falam de punição e de castigos que produzem
como uma espécie de influência divina que, sofrimento, remorso e angústia.
tal como uma radiação misteriosa, desce Aparentemente, valores tais como o bem
até nós e coloca uma etiqueta boa ou ruim moral e religioso possuem a sua origem no
sobre os pensamentos e as ações particulares julgamento e no sentimento humanos. Eles
do homem. Elas afirmam que esses valores são interpretados pelo homem como algo
universais não brotariam espontaneamente, que constitui o bem. O bem moral vem qua-
ou seja, eles não proveriam do interior, da se que totalmente do conhecimento interior,

18 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


O meliorismo valores universais, tais como o bem divino,
tudo aquilo que não está nele incluído e que
considera a bondade é contrário a ele deve ser, então, o mal. Esta
noção faz, pois, do mal, uma criação defi-
no mundo como nida. Tal afirmação nos leva à antiga teoria
teológica que ensina que Deus tem um rival
uma coisa que não satânico. Este teria criado e estabelecido
valores negativos universais chamados de
é nem necessária, mal. Tal doutrina coloca o homem, eviden-
temente, numa posição constrangedora. De
nem impossível. Ele a um lado, ele deve esforçar-se para encontrar
em sua existência fatos que ele possa incluir
considera como uma na categoria do bem, e por outro lado, ele é
obrigado a tentar abstrair-se da influência
possibilidade cujas daquilo que é chamado de mal universal, que
compete com o bem. Mas o fato de certos
chances de realização homens escolherem uma forma de vida dita
má demonstra que os valores são humanos e
são tão grandes arbitrários e não universais.
Existe uma doutrina filosófica chamada
quanto as chances de “meliorismo” que possui um significado im-
portante no que se refere ao valor. O termo
aumentarem as boas “meliorismo” vem do latim melior que signi-
fica melhor. O filósofo William James disse:
condições para que ela o meliorismo considera a bondade no mundo
como uma coisa que não é nem necessária,
ocorra. nem impossível. Ele a considera como uma
possibilidade cujas chances de realização são
tão grandes quanto as chances de aumenta-
chamado de intuição, que faz com que o rem as boas condições para que ela ocorra.
homem conheça aquela conduta que o fará Isto significa, em substância, que o mundo,
entrar em contato com o seu meio. Ele é vis- o cósmico, não é nem bom, nem mau. No
to como algo que traz paz e harmonia ao eu entanto, o mundo detém uma potencialidade
físico e emocional. Uma conduta conformada de bem superior àquela do mal, pela vontade
pode, então, ter um valor divino e universal. do homem que pode conduzi-lo para uma
Na verdade, é dito enfaticamente: As morais boa direção.
dependem dos valores. Mas o mundo não pode ser melhorado, a
Possuímos a prova de que não existem não ser através de sua relação com o eu. Um
valores morais universais, se constatamos a mundo bom é aquele que traz a sua contri-
diversidade de dogmas religiosos. Como in- buição às qualidades positivas que servem ao
dicava John Locke, não existem leis ou regras eu completo do homem. Consideremos esse
morais que não sejam violadas por uma na- último como um ser triplo e único ao mes-
ção que se considere sábia. Cada povo encon- mo tempo, três palavras fundamentalmente
tra uma espécie de satisfação espiritual que se fundidas numa única pessoa. Estes “eus” são
conforma à conduta para qual ele foi condu- o eu físico, o eu mental e o eu psíquico. Cada
zido, conduta que ele foi levado a aceitar por um deles possui um valor positivo e um valor
uma certa condição estabelecida. negativo. A natureza destes valores depende
Se insistirmos em afirmar que existem das respostas do eu às impressões que ele

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


19
n COMPORTAMENTO

recebe. sociedade se torna, então, o eu pessoal para


Para o eu físico, a saúde é um valor posi- além do homem. Consequentemente, este é
tivo. O homem a considera como algo bom, obrigado a atribuir um valor positivo a tudo
porque a saúde é algo satisfatório para o eu aquilo que contribui para o bem-estar da
físico. A doença, então, seu contrário, é um sociedade; agindo dessa forma, ele faz, em
valor negativo. O eu mental encontra sua troca, progredir seu eu pessoal.
inspiração, sua satisfação na realização. Ela O primeiro dever do qual cada ser hu-
é, então, um valor positivo. O valor negativo mano é incumbido é o de experimentar
para o eu mental é a frustração com os valores tradicionais fazendo a
as suas complicações. relação de cada um deles com a
O eu psíquico, que é outro sua existência pessoal e com
aspecto da natureza tripla do o tempo no qual ele vive.
homem, possui sentimentos Ele deve determinar se
mais elevados; ele possui o os valores tradicionais
senso das qualidades esté- possuem as qualidades
ticas e da beleza. Estes sen- essenciais requisitadas
timentos são inteiramente pelo eu.
diferentes dos apetites e se O bem e os ideais
manifestam no amor pelas estão sempre ligados,
artes e pelos valores morais. ou seja, o ideal pertence
Esses são os valores positivos sempre ao indivíduo que o
que o eu psíquico reconhece. concebe como sendo o bem.
Aquilo que é feio, emocionalmente Na verdade, cada ideal é concebido
aflitivo, possui um valor nega- como algo que pode melhorar
tivo para o eu psíquico. Na- potencialmente certos aspectos
turalmente, a mesma coisa do eu, ou então ele não é um
ocorre com as deficiências ideal. Os ideais são razões
do positivo; é essa falta de agir. Eles necessitam
que os torna relativamen- somente de condições com-
te negativos. plementares em nosso meio
Nenhum valor deve e em nossa forma de viver
ser aceito por si próprio. É para se transformar em
sempre fundamental para realidade, possuindo o mes-
o homem experienciar um mo valor que o ideal. Am-
valor conforme aos elemen- pliamos nosso mundo íntimo
tos do eu. Nenhuma coisa deve- se os nossos ideais nos conduzem
ria ser declarada como possuindo © AMORC.ORG.BR
ao bem prático. O mundo então é
um valor positivo, a menos que essa tão bom quanto o homem o enxerga; e a
coisa contribua de alguma forma com esses bondade só possui o valor que o homem lhe
valores positivos dos aspectos do nosso ser, confere. 4
que abordamos anteriormente. Então cada
homem possui, dessa forma, a medida de
todas as coisas, como diziam os antigos sofis-
tas? Na sua estimativa de valores pessoais, o
homem, no entanto, é obrigado a considerar
certas condições relativamente impessoais.
Ele faz parte de uma sociedade que é prag-
maticamente necessária ao seu bem-estar. A

20 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


n MENSAGEM DE NATAL

obre os corações e mentes radiantes, desce o Cristo – Ieschouah,


com serena majestade, sobre os povos da Terra.
Seu matiz é o Amor em paz e benignidade que se infunde
na vida de todos os seres.
O advento do Cristo entre nós representa a Sabedoria do Espírito Santo
presente em nosso meio como a Sophia Celeste ou a Sabedoria Divina.
O princípio do Amor - Ieschouah - se encarna para trazer à humanidade os
meios necessários para a sua reconciliação
com o apoio fundamental do Cristo Reparador.
Façamos com que o nosso coração seja tocado por este Amor e, preenchido
de benevolência e sabedoria, transforme-se no receptáculo do Cristo –
Ieschouah.
Com isto feito, a Obra está completa.
Feliz Natal a todos os fratres e sorores da Ordem Rosacruz e aos Irmãos e
Irmãs da Tradicional Ordem Martinista.
Que 2023 traga a Luz da compreensão a todos!
Assim Seja!

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


21
n SIMBOLOGIA

22 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


Incenso
Por SIOBHAN RUSSEL

u estava caminhando pela calçada de nove metros de largura na antiga cidade maia de Ti-

E kal, na atual Guatemala, quando meu guia me chamou ao pé de uma magnífica árvore Cei-
ba que se estendia até o céu. Ao pé havia o que parecia ser bagas vermelhas do tamanho de
groselhas, o guia pegou um par em sua mão e me deixou cheirá-los: um perfume adorável e doce
que ele me disse que era Pom para os maias e Copal para os astecas.
Sabemos que o incenso é usado desde os tempos mais antigos e só podemos especular como
isso aconteceu. Foi quando os primeiros humanos queimavam lenha para suas fogueiras e notaram
que alguns bosques ou arbustos tinham um cheiro mais suave, pacífico e encantador do que todos
os outros? Na verdade, poderia ser que tais momentos nos levem de volta às próprias origens dos
humanos modernos oitenta ou mais mil anos atrás, quando nossos ancestrais ponderaram e bus-
caram a morada de seus ancestrais falecidos, um mundo espiritual de conhecimento de eventos
futuros e poderes além das capacidades humanas?
O sentido do olfato deve ter sido para nossos ancestrais mais antigos, um sentido muito mais
dominante e sofisticado do que é para nós hoje. Ser capaz de sentir o cheiro da próxima refeição,
sem dúvida, os ajudou a sobreviver muito mais fácil do que faríamos hoje se deixados sozinhos no
mato. E ser capaz de sentir o cheiro da presença de predadores perigosos contra o vento também
teria sido uma vantagem decisiva para a sobrevivência com seu constante imperativo de sair do
caminho do perigo o mais rápido e silenciosamente possível. Então, quase certamente, o olfato era
para nossos ancestrais o mais importante de todos os cinco sentidos, como de fato é para a maioria
dos mamíferos de hoje.

Alimentos especiais,
ervas, cascas de
árvores e plantas com
aromas agradáveis
eram oferecidos
aos deuses em
ritos solenes.
PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ
23
n SIMBOLOGIA

Avanço Rápido
Avançando dezenas de milhares de anos para eras onde
várias formas de consciência espiritual começaram a emergir,
sejam ritos pré-históricos de adoração aos ancestrais ou um
senso em desenvolvimento de uma presença espiritual pan-
teísta imanente que permeia todas as coisas..., várias crenças
religiosas definidas começaram a evoluir ao longo dos mi-
lênios, a maioria das quais não temos conhecimento hoje.
Qualidades humanas eram atribuídas aos deuses, e os deuses
eram aqueles que amam, temem e respeitam em igual medida
por causa de seu poder de ajudar e atrapalhar os humanos.
Quaisquer substâncias que os humanos considerassem
gratificantes, como o cheiro pungente e de dar água na boca
de um sacrifício assado em um altar ao ar livre, ou incenso
aromático e de cheiro agradável, supunha-se que os deuses
achariam tão gratificantes quanto seus súditos humanos. Os
deuses foram, afinal, criados à imagem dos humanos e, na
maioria das vezes, não se comportavam melhor do que seus
adoradores, embora geralmente com maior e especial força.
E, eventualmente, tornou-se a norma que: se os deuses fizes-
sem qualquer coisa por seus adoradores, eles precisariam ser
aplacados com coisas preciosas que os humanos desfrutavam,
e madeiras e resinas aromáticas acabaram se tornando uma
dessas coisas.
Alimentos especiais, ervas, cascas de árvores e plantas
com aromas agradáveis ​​eram oferecidos aos deuses em ritos
solenes. Se certas áreas de locais sagrados eram consagradas
ao culto dos deuses, como os elementos naturais, o céu, a ter-
ra e as estrelas, todos respeitados como seres sobrenaturais,
flores perfumadas eram espalhadas no chão ou colocadas em
altares. Isso, pensava-se, tornava os deuses mais propícios aos
apelos de seus adoradores.
O propósito original de usar materiais com aromas agra-
dáveis ​​de forma organizada era quase certamente para uso
em ritos religiosos. Os corpos dos mortos eram perfumados
com óleos aromáticos e enfeitados com flores. Os óleos foram
misturados com outros ingredientes para compor uma for-
ma de perfume. Os antigos persas, por exemplo, acreditavam
que o malfeitor era punido na vida após a morte sendo en-
viado para uma região de odores fétidos. Em outras palavras,
acreditava-se que o que era ofensivo para os vivos o era mais
depois da morte, como retribuição pelas más ações cometidas
durante a vida. Isso equivale ao conceito dos odores e fuma-
ças malcheirosas que dizem existir como uma forma de puni-
ção no conceito cristão de Inferno. Então, descobrimos que o
incenso era usado como...

24 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


• uma parte importante de várias práticas religiosas.
• uma ferramenta para neutralizar odores ruins ou desagra-
dáveis.
• uma maneira de repelir demônios e espíritos malignos.

O incenso é tipicamente composto de um material aromáti-


co que produz um perfume e um material de ligação combustí-
vel que o mantém unido em uma forma particular. Os materiais
aromáticos usados para
​​ fazer incenso são tipicamente à base
de plantas e podem incluir uma variedade de resinas, cascas,
sementes, raízes e flores.

Visões do paraíso
A ideia de que o paraíso tem um cheiro agradável é encon-
trada nos escritos judaicos, cristãos e gnósticos. A morada dos
deuses devia ser uma região, acreditava-se, agradável ao olfato.
O estado de prazer na vida após a morte era, portanto, uma
recompensa. O uso Rosacruz do incenso Rosa Musgosa é uma
boa indicação disso.
Além de seu principal propósito como oferenda aos deuses,
o incenso era usado para fins práticos, simbólicos e místicos.
Madeiras perfumadas eram usadas na cremação para neutrali-
zar o forte odor do corpo queimado ou dos sacrifícios queima-
dos, especialmente em climas quentes. Onde isso é feito hoje,
como por exemplo na Índia e no Sri Lanka, o cheiro é geral-
mente o mesmo em todos os ritos de cremação devido ao uso
habitual de materiais semelhantes. O odor é forte e, uma vez
experimentado, sempre sugere a queima próxima de um corpo
humano. Na verdade, o perfume tem uma doçura enjoativa.
Um outro conceito simbólico dizia respeito à fumaça que
ascendia da queima de plantas aromáticas e resinas; pensava-
-se que carregava as palavras de oração aos deuses, que ficaram
satisfeitos com o odor. Além disso, também se acreditava que
a alma dos mortos subia ao céu pela fumaça do incenso quei-
mado em seu nome. Psicologicamente, é interessante notar que
os primeiros humanos buscavam algum vínculo tangível entre
sua substância material finita e o infinito, ou a região invisível
onde eles acreditavam que os deuses habitavam. A fumaça a
princípio não era simbólica, mas pensava-se que era um meio
real para a transmissão da oração.

Incenso no Egito
No Egito, oferendas de incenso eram feitas aos deuses den-
tro de seus templos e nas ocasiões especiais em que a estátua do
deus saía do templo para que o incenso “levasse a alma para o

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


25
n SIMBOLOGIA

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Imagens de incenso aparecem em imagens egípcias antigas. Esquerda - Ramsés III oferecendo
incenso. Direita - seção do livro dos mortos mostrando o uso do incenso.

céu na fumaça do incenso”. Provavelmente a referência mais antiga ao uso de incenso para qual-
quer propósito religioso apareceu no aviso de um faraó da 11ª Dinastia, Sankhkara Mentuhotep
III (c.2004-1992 a.C). Ele enviou uma expedição de aromáticos através do deserto e navegou para
o sul no Mar Vermelho até a “Terra do Incenso de Punt”. Acredita-se que esta terra tenha sido na
região norte da Somália moderna.
Acreditamos que todos os templos tinham árvores de incenso ou arbustos plantados em seus
terrenos ou ao redor deles. Para aqueles que visitaram o Templo Mortuário do Faraó feminino
Hatshepsut, em Deir el-Bahri, na margem oeste do Nilo, em Luxor, sabe-se que, além das elegantes
ruínas que restam, árvores de incenso trazidas de sua expedição às terras de Punt foram plantadas
na frente e nas laterais das rampas, e podemos ver essa história exposta nas paredes de seu templo.
Nas paredes de outros templos mortuários reais, no lado oeste do Nilo, em frente à moderna
Luxor, podem ser vistas representações de reis oferecendo incenso. “Ele segura um incensário em
uma mão e na outra joga pequenas bolas de incenso sobre ele, rezando para que o deus o aceite e
lhe dê uma vida longa.” Durante os ritos funerários, o incenso era usado para purificar o falecido;
grãos finos eram oferecidos duas vezes à boca, olhos e mãos, uma para o Norte e outra para o Sul.
Os egípcios acreditavam que o incenso tinha uma qualidade divina. Acreditava-se que a deusa Ísis
tinha um perfume maravilhoso que ela podia transferir para os outros. Este perfume tinha quali-
dades benéficas, bem como propriedades curativas. Acreditava-se que Osíris era capaz de transferir
seu odor e o poder que o acompanhava para quem ele amasse.
Aparentemente, a importação dos ingredientes do incenso e sua composição era uma indús-
tria bastante próspera no antigo Egito. Foram usadas imensas quantidades de incenso. Durante
o reinado do faraó Ramsés III da 20ª Di-
nastia, foi relatado que 1.938.766 peças de
incenso foram usadas durante os 31 anos
de seu reinado. Aparentemente, todos os
deuses ficaram encantados com os aromas
que lhes foram oferecidos. Até as estátuas
dos deuses eram incensadas com substân-
cias perfumadas.
Queimador de incenso egípcio antigo

26 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


Incenso em outras culturas
O filósofo judeu Filo de Alexandria (c. 20 a.C a 50 d.C) relata que os quatro ingredientes do
incenso hebraico representavam os quatro elementos: terra, ar, água e fogo e, portanto, represen-
tavam todo o universo. Heródoto, o antigo historiador grego (485-423 a.C), diz que na Babilônia
1.000 talentos de incenso foram oferecidos no grande altar de Marduk, o deus do Céu e da Terra,
em sua festa anual. Heródoto também se referiu a uma terra onde o incenso era colocado sobre
tijolos. Isso provavelmente refere-se à Babilônia, pois a maioria das grandes estruturas daquela ci-
dade eram feitas de tijolos de barro e revestidas com betume, uma substância semelhante ao asfalto,
que borbulhava naturalmente naquela terra rica em petróleo.
O incenso era queimado como um ritual, acompanhado de orações e predições de oráculos.
Cerimônias domésticas um tanto semelhantes foram realizadas com incenso queimado em tijolos
como oferenda a Marduk, ao Sol, à Lua, às estrelas etc.
Os antigos sacerdotes védicos usavam sândalo como ingrediente principal de seu incenso. Eles
o usavam tanto em seus templos quanto em suas casas na realização de ritos sagrados. O fogo era
alimentado com a madeira consagrada, sândalo e outras madeiras aromáticas. Essa é a prática co-
mum hoje na Índia para a cremação. Seu cheiro pode ser detectado no rio Ganges ao flutuar pelos
ghats (degraus) em chamas na beira do rio onde as piras funerárias são construídas. Na obra literá-
ria hindu, o poeta descreve uma entrada solene na capital de seu avô: “... a cidade estava adornada
com guirlandas e exalava os odores de olíbano e perfume adocicado”. No entanto, estes não eram
nativos da Índia, mas foram trazidos principalmente da Arábia.
Entre os tibetanos, o uso ritualístico do incenso era semelhante ao da Igreja Católica Romana.
Os monges do Tibete incensavam seus altares enquanto cantavam, semelhante à prática nas igrejas
católicas. O incenso e o incensário também eram usados no ​​ Tibete em conexão com a iniciação de
um monge e nos ritos diários dos mosteiros. O budismo primitivo se opunha a ritos e cerimônias
externas. De fato, o posterior desenvolvimento externo de cerimônias por uma escola de budismo
provocou um cisma resultando em uma apresentação diferente dos ensinamentos budistas. Em
tempos posteriores, tornou-se geralmente usado em algumas cerimônias. Perfumes e flores tam-
bém são colocados diante da imagem de Buda.
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PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


27
n SIMBOLOGIA

Uma das O antigo filósofo romano Plí-


nio, o Velho (23/24 a 79 d.C) que
mais importantes morreu durante a famosa erupção
do vulcão Vesúvio, escreveu em
oferendas religiosas sem sua Naturalis Historia (História Na-
tural) que o povo da Grécia só co-
sangue dos romanos era nhecia o cheiro de cedro e cítricos,
“ ... à medida que subia em colunas
o incenso de fumaça dos sacrifícios.” Ele acres-
centou que a maioria das substân-
cias perfumadas eram o produto de
árvores que eram consideradas sa-
gradas na Arábia. Mais tarde, foi amplamente utilizado em vários rituais.
Os fenícios, após a batalha de Arbela (331 a.C), seguiram Alexandre, o Grande, em sua marcha
para a Índia, apenas para fins comerciais. “Eles carregaram seus barcos de carga com a goma de mir-
ra... em tal abundância que perfumava toda a região com a fragrância.”
Embora muitas oferendas religiosas dos romanos fossem sacrifícios de coisas vivas, um dos
mais importantes sacrifícios sem sangue era o incenso. Eventualmente tornou-se uma função es-
sencial de todo rito e era queimado em altares ou em braseiros. Quando o cristianismo se tornou
a religião oficial do império, a jovem igreja assumiu o uso de incensar a parte mais sagrada de seus
santuários. Embora o incenso seja amplamente usado hoje nos rituais das Igrejas Católica e Orto-
doxa, um dos primeiros pais da Igreja, Tertuliano (155-230 d.C), investiu contra ele. Ele declarou:
“Nem um centavo de incenso eu ofereço.” E Atenágoras de Atenas (133-190 d.C), filósofo cristão e
Pai da Igreja, disse que Deus não exigia o cheiro doce das flores e do incenso. No entanto, o incenso
agora é usado pela Igreja Católica Romana na missa solene antes do introito (a primeira parte variá-
vel da missa) e também nas bênçãos, procissões, ritos funerários e assim por diante. Também é usa-
do ritualmente em muitas igrejas da Comunhão Anglicana, “o rito simbólico que tipifica a oração”.

Tipos de incenso
Os ingredientes específicos usados ​​no incenso podem va-
riar de acordo com a região e o fabricante. Alguns exemplos
específicos de ingredientes aromáticos que você pode reco-
nhecer incluem: canela, incenso, almíscar, mirra, patchouli e
sândalo.
Gomas e resinas têm sido usadas como incenso por milê-
nios em todo o mundo. No Oriente Médio, o incenso é usado
liberalmente em perfumarias e casas. Também tem um cheiro
maravilhoso. O material de ligação combustível encontrado
no incenso é o que acende, permitindo que o incenso queime
e produza fumaça. Os materiais usados variam,
​​ mas podem
incluir coisas como carvão ou pós de madeira.
Aromas, perfumes, fragrâncias (independentemente de
como você os descreva) podem ser usados ​​para desencadear
respostas específicas. Por exemplo, para estimular o relaxa-
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mento, ajudar no sono, promover a concentração, estimular a


criatividade e aumentar a motivação. Além disso, há também
toda uma série de razões religiosas, estéticas e práticas. Uma

28 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


outra dimensão é que fragrâncias ou ingredientes específicos podem ser usados ​​para propósitos
particulares.
O incenso é uma maneira fácil, rápida e acessível de cobrir cheiros domésticos indesejados,
como os da cozinha, dos animais de estimação, das roupas úmidas etc. Aromas de cedro, mirra e
cítricos vão ‘limpar’ o ar, deixando para trás um frescor e um novo começo. Os aromas despertam
respostas significativas em nossos cérebros e podem nos lembrar instantaneamente de eventos,
pessoas e emoções passadas. Podemos ser transportados de volta para o antigo Egito, para a pri-
mavera no Japão – ou qualquer coisa dentro de nossos próprios bancos de memória. Os bons sen-
timentos estão a apenas um momento de distância.
O efeito de bons aromas, gerados a partir do incenso, demonstrou aumentar a serotonina no
cérebro. Como alternativa ao uso de drogas, os métodos não farmacológicos de aumentar a se-
rotonina no cérebro podem não apenas melhorar o humor, mas fazê-lo sem efeitos colaterais ou
perigos de dependência. A serotonina é considerada um estabilizador natural do humor e ajuda
no sono, na alimentação e na digestão. A serotonina também ajuda a reduzir a depressão, regular a
ansiedade e reduzir dores de cabeça.

Usos do incenso nos tempos modernos


O uso de incenso é sugerido para aumentar o foco. Queimar fragrâncias edificantes ao traba-
lhar ou estudar pode aumentar o foco e aumentar a concentração. Menos intrusivas do que ter
música tocando ao fundo, as fragrâncias têm um efeito mais sutil sobre mente e o corpo, tor-
nando-as uma parceira perfeita para trabalhar, estudar ou se envolver em um hobby que requer
foco detalhado. A insônia é uma aflição crescente, especialmente em nossa sociedade moderna,
sempre ativa e orientada para interrupções. A lavanda está especialmente associada a uma ajuda
para dormir, assim como o vetiver e a camomila.
Se você quiser relaxar e descontrair, acenda um incenso, aconchegue-se no sofá com uma xícara
de chá, um livro e uma música descontraída. Alternativamente, tome um banho e substitua as velas
por um ou dois incensos. Fragrâncias suaves irão melhorar ainda mais este tempo, permitindo que
você se dê tempo e espaço longe das dificuldades da vida cotidiana. Olíbano, Sândalo e Cedro são
‘fragrâncias calmantes’, então funcionam bem para relaxamento geral. Reduzir o estresse e a ansieda-
de é um passo à
frente do mero
r e l a x a m e nt o,
pois reduz cru-
cialmente pra-
ticamente todas
as atividades do
corpo, sendo a
frequência car-
díaca e a respi-
ração apenas
duas de muitas.
Incentive sua
mente a parar
de se preocupar
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e correr de uma
coisa para outra
e, para reduzir

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


29
n SIMBOLOGIA

o estresse, escolha os Sândalos


mais puros e de melhor qualida-
de. Lavanda e alecrim são outras
ótimas opções para isso também.
O incenso é amplamente usa-
do em muitas práticas religiosas
para aprofundar a atenção, au-
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mentar os sentidos e elevar seu


espírito ao praticar a meditação.
Sândalo e Lótus são usados ​​com
mais frequência para meditação
– mas você escolhe o que mais
combina com você. Um que te
transporta para o lugar que você
precisa estar, sem tomar conta de
seus pensamentos.
O efeito de bons A queima de incenso pode
funcionar como uma porta de
aromas, gerados a partir entrada para a espiritualidade,
formal ou informal, religião re-
do incenso, demonstrou conhecida ou secular. O incen-
so é, e tem sido por milhares de
aumentar a serotonina anos, de uso diário em muitas
religiões do mundo, notadamen-
no cérebro. te no hinduísmo, budismo e cris-
tianismo.
Simbolismo e Estudo do In-
censo
Além de seus usos práticos como meio de dissipar odores desagradáveis o​​ u para ritos religiosos,
o incenso perpetua um simbolismo místico e esotérico. Para o místico adepto, o simbolismo torna-
-se uma forma objetiva de seu idealismo e sentimento subjetivos. O ardor, o cheiro e a fumaça não
têm importância em si mesmos; eles simplesmente retratam o espírito dos pensamentos e emoções
do usuário.
O brilho do fogo representa simbolicamente o zelo e a devoção do adepto à sua causa. A fra-
grância, o aroma agradável, simboliza a harmonia do prazer transcendente. Finalmente, a fumaça
representa a ascensão da consciência e a projeção de nossa natureza humana finita ao infinito do
Cósmico.
O incenso é usado em todo o mundo há séculos, mas tem algum benefício para a saúde ou
bem-estar? Há pesquisas limitadas sobre os possíveis benefícios para a saúde. Muitos dos estudos
disponíveis se concentram nos ingredientes do incenso olíbano e mirra.
A queima de incenso tem sido associada a práticas religiosas e meditação. Mas o incenso real-
mente tem um efeito calmante ou psicoativo? Um estudo de 2008 em culturas de células e camun-
dongos identificou um composto na resina de olíbano que poderia causar uma resposta semelhante
a um antidepressivo. Além disso, uma resposta a este composto foi observada nas áreas do cérebro
associadas à ansiedade e à depressão. Também ativou receptores associados a uma sensação de
calor. Um estudo de 2017 descobriu que alguns compostos isolados de resinas de incenso e mirra
tiveram um efeito anti-inflamatório em camundongos. Os pesquisadores isolaram vários compos-

30 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


O Sândalo moído em pó. Um dos
ingredientes frequentemente usados ​​para
fazer incenso. Sândalo é uma fragrância
calmante, frequentemente usada para
relaxamento.
tos das resinas e descobriram que alguns deles eram capazes de inibir uma resposta inflamatória
em camundongos, dependendo da dose.
Deve-se notar, no entanto, que os pesquisadores desses estudos trabalharam com compostos
purificados a partir de resina de incenso. Mais estudos serão necessários para determinar se eles
estão presentes na fumaça do incenso e se provocam a mesma resposta nas pessoas.

Fazendo seu próprio incenso


Todos os produtores de incenso têm suas próprias técnicas quando se trata de criar esses itens
perfumados, e os métodos variam consideravelmente dependendo das tradições envolvidas. No
entanto, existem certos princípios básicos que você pode aplicar se estiver tentado a fazer seus
próprios palitos ou cones. Em primeiro lugar, você precisará levar ingredientes naturais de alta
qualidade para criar seu incenso. Você pode escolher entre uma variedade de madeiras, resinas,
ervas e especiarias. Aqui estão alguns exemplos de cada tipo de ingrediente:
• Madeiras: sândalo, agar, pinho, cedro.
• Resinas: âmbar, mirra, olíbano, hibisco.
• Ervas e especiarias: baunilha, sálvia, gengibre, canela.
• Procure sempre usar pelo menos uma resina ou madeira em sua mistura.
Em seguida, pulverize esses ingredientes em um pó bem fino para ajudar no processo de quei-
ma. A mistura resultante pode ser combinada com pó de carvão e um agente aglutinante, como
tragacanto. A esta mistura você pode adicionar o pó de makko, que é feito da casca da árvore
tabu-no-ki. Este é um material combustível que também é solúvel em água. Quando adicionado à
mistura de incenso solto junto com um pouco de água destilada, o makko permite a formação de
cones ou bastões de incenso. A água deve ser adicionada muito lentamente enquanto você mistura
os ingredientes. Você quer que a mistura se torne gomosa e maleável, mas ainda firme quando for
moldada.
Quando estiver na consistência certa, você pode formar a mistura em cones ou aplicá-la em pa-
litos. Se você estiver usando varas de bambu, certifique-se de obter versões em branco sem aditivos.
Depois de fazer os itens, deixe-os secar. Isso pode levar algumas semanas ou mais e lembre-se de
que os cones tendem a demorar mais do que os palitos. Para ver se os cones estão prontos, vire-os
de cabeça para baixo e certifique-se de que a parte de baixo seja da mesma cor. Se eles são mais
escuros no meio, eles precisam de mais tempo. 4

Artigo traduzido do Rosicrucian Beacon – Março de 2021

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


31
n PERSONALIDADE MÍSTICA

32 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


Nagarjuna
O Alquimista
Por FRASER LAWSON

o Ocidente, nomes como Michael pouco, em uma fuga, ele decidiu que seria

N Maier e Paracelsus aparecem repe-


tidamente na história da alquimia,
enquanto na Índia e no Tibete, o nome
melhor fazer os votos de um monge budista.
Outra história, a mais aceita pelos tibe-
tanos, diz que ele se tornou monge noviço
Nāgārjuna é primordial. Lá, e ainda mais ao ainda menino, prática comum na Ásia. A
leste, seu nome inspira os mesmos pensa- história diz que quando ele nasceu, seus pais
mentos que Aristóteles, Galeno e Tomás de o levaram a um vidente que previu que ele
Aquino no Ocidente. Nāgārjuna é homena- morreria em sete dias. No entanto, sua morte
geado como filósofo, místico, médico, alqui- poderia ser adiada por sete anos se seus pais
mista e santo. oferecessem um banquete para cem monges.
Ele nasceu por volta do ano 100 d.C, no Isso foi feito e o bebê sobreviveu. Quando o
sul da Índia, no distrito de Nalgonda do esta- menino se aproximava de seu sétimo aniver-
do moderno de Andhra Pradesh. Como mui- sário, seus pais o enviaram em uma viagem
tos santos e místicos primitivos, os detalhes durante a qual conheceu sua futura profes-
de sua vida são vagos, muitos deles cercados sora, Saraha, que recomendou que a criança
de mistério e lendas. Ele nasceu em uma fa- fosse treinada como monge. Acreditava-se
mília brâmane de classe alta, mas depois se que o carma de tal ato ajudaria a criança a
converteu ao budismo. Muitos aspectos de evitar a morte.
sua vida ainda são muito debatidos pelos es-
tudiosos, mas, quer acreditemos em todas as
lendas ou não, não podemos duvidar de sua Habilidades Psíquicas
impressão na mente de milhões de pessoas
na Ásia até hoje. Sob Saraha, Nāgārjuna tornou-se adepto
A mais antiga biografia datável de da meditação e da medicina, e também de-
Nāgārjuna vem de Kumārajīva, um missioná- senvolveu habilidades psíquicas considerá-
rio budista da China que viveu no século IV veis. Essas habilidades, juntamente com seu
d.C. Ele relata que quando jovem, Nāgārjuna vasto intelecto, permitiram que ele fizesse
estudou magia e tornou-se hábil na arte da grandes contribuições ao pensamento budis-
invisibilidade. No entanto, após um acidente ta, e hoje ele está entre os maiores estudiosos
envolvendo o harém do rei que resultou, por budistas que já viveram.

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


33
n PERSONALIDADE MÍSTICA

gravemente, Nāgārjuna, que nessa época era


um médico famoso, foi chamado. Ele atendeu
o rei e o curou. Em gratidão, o rei deixou
Nāgārjuna estudar os textos sagrados. Assim,
o Prajñāpāramitā finalmente veio ao mundo
humano novamente, e Nāgārjuna adquiriu
seu nome.
Os textos discutem o caminho para a ilu-
minação e, em particular, se debruçam sobre
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o conceito de vazio, tornando-se uma pedra


angular da filosofia budista. Nāgārjuna pas-
sou muitos anos interpretando esses textos, e
seu trabalho acabou se tornando a base para
Fundando a escola Madhyamika (Cami- a escola de metafísica mais influente do Ti-
nho do Meio) do Budismo Mahayana, seus bete. Em outros campos ele também deixou
ensinamentos se concentravam na doutrina sua marca. Como médico, diz-se que ele foi o
do Caminho do Meio, vivendo uma vida principal redator do Sushruta Samhita. Este
entre os dois extremos do ascetismo e da livro ainda está sendo amplamente impresso
indulgência e sendo um escritor prolífico. na Índia e é considerado um dos pilares da
Há uma história interessante por trás de seu medicina ayurvédica indiana clássica. Seus
nome, Nāgārjuna que significa “Conquistador capítulos vão desde técnicas cirúrgicas até o
de nagas”. Nagas são uma classe de seres que diagnóstico e tratamento de várias doenças.
são metade serpente e metade humanos. Eles Estão incluídos capítulos sobre toxicologia,
devem habitar em ou perto de lugares aquo- pediatria, transtornos mentais e teorias sobre
sos. Alguns estudiosos acreditam que esses farmacologia.
seres tenham sido os tritões e sereias origi-
nais do mito europeu posterior. A lenda afir- O Trabalho Alquímico
ma que o Buda (563-483 a.C) escondeu uma
série de tratados entre os nagas que deveriam de Nāgārjuna
ser descobertos em um momento em que as
pessoas estavam prontas para recebê-los. Es- Através de seu interesse pela medicina,
ses tratados eram coletivamente conhecidos Nāgārjuna se envolveu com a alquimia.
como Prajñāpāramitā, um nome sânscrito Em todo o mundo, as tradições alquímicas
que significa “A Perfeição da Sabedoria”. aparentemente tiveram duas preocupações:
Certa vez, quando o rei dos nagas adoeceu transformar substâncias básicas em subs-
tâncias nobres e criar medicamentos que
promovam a juventude e a longevidade. Em
diferentes áreas do mundo, um aspecto pode
ter sido enfatizado sobre o outro, mas ambos
existiram. Na Índia, a ênfase estava em en-
contrar um elixir da vida. Esse aspecto da al-
quimia era considerado um importante ramo
da medicina indiana, denominado rasayana,
nome que também era aplicado à transmuta-
ção de metais.
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Nāgārjuna havia se tornado um mestre


no aspecto médico da alquimia, mas tam-
bém queria aprender sobre a transmutação

34 O ROSACRUZ · PRIMMAVERA 2022


acreditando que Nāgārjuna agora era seu pri-
sioneiro, sentiu-se livre para revelar sua mis-
teriosa arte. Depois de aprender o que podia,
Nāgārjuna meditou e, usando o segundo fei-
tiço como auxílio, voltou para sua casa.
Como um mestre da arte de fazer ouro,
é dito que ele usou seu conhecimento para
atender às necessidades de outros monges em
seu mosteiro durante um período de depres-
são econômica, quando se tornou um fardo
para as pessoas sustentar a instituição. A
lenda também afirma que ele considerou fa-
zer ouro suficiente para que todas as pessoas
fossem retiradas da pobreza. Ele foi dissua-
dido dessa ideia, no entanto, pelo argumento
de que criar tanto ouro serviria apenas para
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criar mais conflitos.


Nāgārjuna tinha mais uma contribuição a
fazer. Ele ajudou a desenvolver a prática en-
tão nascente do Tantra. Tantra é um exercício
de metais. A história de sua busca, como a de meditação que envolve a transformação
de seu nome, tem seus elementos místicos. do meditador na divindade que está sendo
Nāgārjuna tinha ouvido falar de um alqui- meditada. Também envolvia a transformação
mista chamado Vyali que vivia em uma ilha. de ambientes comuns em ambientes divinos.
Vyali tinha a reputação de ser extremamente Havia diferentes graus e classes de Tantra, to-
reservado, então Nāgārjuna pensou que po- dos envolvendo iniciação e treinamento ade-
deria ter alguma dificuldade em obter os se- quado. Por causa da transformação do ordi-
gredos do alquimista. Ele, portanto, elaborou nário em divino, a prática tem sido chamada
um plano que envolvia o uso de dois feitiços por alguns tibetanos de “alquimia interior”.
que ele preparou. Ele meditou e foi con-
duzido à ilha onde vivia Vyali. Uma vez na
ilha, Vyali quis saber como Nāgārjuna havia Vida Longa
chegado lá. Nāgārjuna mostrou a ele um dos
encantos e Por causa de seu domínio da alquimia,
deu a enten- Nāgārjuna viveu por muitos anos. O peregri-
der que ele o no chinês Xuánzàng, que viajou pela Índia na
havia usado primeira metade do século VII, relatou que
para encon- o conhecimento de elixires de Nāgārjuna lhe
trar seu ca- permitiu viver vários séculos. Afirmações
minho. Vyali como essa, além da variedade de trabalhos
concordou produzidos por Nāgārjuna, levaram alguns
em ensinar estudiosos a acreditar que havia dois ou mais
alquimia a Nāgārjunas, mas isso não pode ser autenti-
Nāgārjuna
© GETTYIMAGES.COM

cado.
em troca Apesar do bem que ele fez, a vida de
do encanto. Nāgārjuna terminou tragicamente. Sua ami-
Vyali aceitou zade com o rei da região era tão conhecida
o encanto e, quanto seu domínio da alquimia. Tanto o

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


35
n PERSONALIDADE MÍSTICA

rei quanto Nāgārjuna tiveram vida longa e o


boato se espalhou de que de alguma forma
suas vidas estavam magicamente ligadas. Di-
zia-se que se um morresse, o outro também
morreria.
O príncipe herdeiro, sabendo que
Nāgārjuna era um alquimista, acreditava que
Nāgārjuna e, portanto, seu pai também, vive-
riam para sempre. Como resultado, o prín-
cipe nunca se tornaria rei. O príncipe então
elaborou uma trama para matar Nāgārjuna
e, embora Nāgārjuna soubesse da trama, por
compaixão por todos os seres e seu desapego
à própria vida, ele não interferiu nas ações de
seu assassino.
Diz a lenda que quando o grande
Nāgārjuna morreu, todas as árvores da área
murcharam. A lenda também afirma que seu
corpo ainda está preservado, sendo guardado
por oito protetores até o dia em que o Buda
Maitreya aparecerá no futuro. Nesse momen-
to, Nāgārjuna retornará mais uma vez para
espalhar sua luz no mundo. 4
Detalhe da arte de Nāgārjuna com
30 dos 84 Mahasiddhas.

Notas

Entre os textos definitivamente atribuídos a Nāgārjuna estão:


Mūlamadhyamaka-kārikā – Sabedoria Fundamental do Caminho do Meio
Śūnyatāsaptati – Setenta Versos sobre o Vazio
Vigrahavyāvartanī – O Fim das Disputas
Vaidalyaprakaraa – Pulverizando as categorias
Vyavahārasiddhi – Prova de Convenção
Yuktiāika – Sessenta Versos sobre Raciocínio
Catustava – Hino à Realidade Absoluta
Ratnavalī – Guirlanda Preciosa
Pratītyasamutpādahdayakārika – Constituintes de Origens Dependentes
Sūtrasamuccaya – Compêndio das Escrituras
Bodhicittavivarana – Exposição da Mente Iluminada
Suhllekha – Para um bom amigo
Bodhisabhara – Requisitos da Iluminação
Sushruta Samhita – Editor do Tratado de Compilação sobre Medicina Ayurvédica

Artigo traduzido do Rosicrucian Beacon – Junho de 2020.

36 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


n REFLEXÃO

Como começar um
novo Ciclo
Por DR. HARVEY SPENCER LEWIS, FRC - IMPERATOR EMÉRITO DA AMORC

P
ara mim, tem sido algo estranho que pessoas em todo o mundo considerem o chamado dia de
Ano Novo ou o começo de um novo calendário em primeiro de janeiro, como início de um novo
ciclo para fazer determinadas coisas como: tomar novas resoluções, iniciar atividades e promo-
ver mudanças. A verdade é que, para muitos poucos de nós, o primeiro dia de janeiro é o verdadeiro
começo de um novo ciclo. No caso da média dos indivíduos, o seu aniversário, o aniversário de sua data
natalícia, é, realmente, o começo de um novo Ciclo. E esse ciclo transcorre de aniversário a aniversário.
Não posso, de modo algum, compreender por que a média dos místicos e filósofos sinceros e toda
pessoa sensata não se apercebe de que o começo de cada dia, com o nascer do sol, é o começo de um
novo Ciclo. Pode haver ciclo maior, mais propício, mais fértil, do que o de vinte e quatro horas que esteja
iminente todas os dias?
Pensemos em ter de esperar de um para outro ano ou, de um para outro aniversário, para tomar
novas resoluções, modificar velhos hábitos e promover atividades novas, quando cada nascer do sol,
apenas vinte e quatro horas após, dá origem ao nascimento de um ciclo que é tão cheio de possibilidades
como pode ser qualquer grande ciclo místico!
Assim, se o(a) leitor(a) ainda não o fez, faça deste ano, um ano novo, um ciclo novo, um começo
novo. Esqueça-se do fato de que o primeiro dia de janeiro já passou e que, provavelmente, esqueceu-
-se do começo desse ciclo calendário – desse começo estabelecido pelo homem, arbitrário, indefinido,
instável, que não é uniforme em todo o mundo e pense apenas no ciclo que começa no dia seguinte ao
que tiver lido estas linhas.
Levante-se amanhã de manhã cheio(a) de disposição, energia e determinação de que tão logo o
sol comece a surgir no horizonte e se encaminhar para o meio do céu, antes de começar a descambar,
eleve-se com ele ao apogeu da glória. Determine que se elevará interior, espiritual e poderosamente, por
todos os meios possíveis, ao zênite, antes do meio-dia e que irá conquistar o mundo e tornar-se senhor
de tudo aquilo que vir.
Pense nesse dia como sendo o seu único dia. O último dia de sua vida em que terá a oportunidade,
a consciência e a vitalidade para fazer algo e torne cada um de seus minutos não apenas um minuto
feliz, mas, um minuto cósmico, essencial para realizar algo, seja esse algo um período de relaxamento
que beneficiará sua saúde, uma boa ação em favor de alguém, uma ou duas horas para estudo, atos de
caridade ou todas essas coisas combinadas.
Quando o dia terminar e o Sol já tiver desaparecido no horizonte, coloque sua cabeça no travesseiro
e seja capaz de dizer a si mesmo que esse dia - esse dia, precisamente - foi o maior ciclo de atividades e
realizações de sua vida. Faça isto todos os dias!
Não espere por qualquer outro dia “especial “. Isto será tão ridículo como aqueles que esperam pelo
domingo para ir ao seu local de e ajoelhar-se num genuflexório de banco de igreja, esquecendo-se de
Deus todo o resto da semana.
Podemos elevar nosso pensamento e consciência a Deus, em oração, a qualquer minuto, a qualquer
hora do dia, onde quer que estejamos - em um templo, no escritório, em casa, no campo ou em um
automóvel. E podemos fazer de cada dia o começo de um novo ciclo.
Portanto, se pudermos combinar cada dia deste ano com o espírito conveniente de um novo mês,
próximo ao começo de um novo ano, façamo-lo tornando-o o maior ano, o maior ciclo de nossa vida. 4

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


37
n TRADIÇÃO

38 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


Introdução
ao corpus
Hermeticum
Por JOHN MICHAEL GREER

estudioso hermético e ambientalista e tenha sua própria resposta para as principais

O John Michael Greer apresenta o con-


texto da redescoberta renascentista do
Corpus Hermeticum, bem como seu conteúdo
questões da época.
Os tratados que hoje chamamos de Cor-
pus Hermeticum foram reunidos em um
e o papel significativo que desempenhou na
luta pela liberdade de pensamento e prática
mística.

Os quinze tratados do Corpus Herme-


ticum, juntamente com o Sermão Perfeito
ou Asclépio, são a base textual da Tradição
Hermética. Escritos por autores desconhe-
cidos no Egito em algum momento antes do
final do século III d.C, eles faziam parte de
uma literatura outrora substancial atribuída
à figura mítica de Hermes Trismegisto, uma
fusão helenística do deus grego Hermes e do
deus egípcio Thoth.
Essa literatura surgiu do mesmo fermento
religioso e filosófico que produziu o neopla-
tonismo, o cristianismo e a diversificada co-
leção de ensinamentos geralmente agrupados
sob o rótulo de gnosticismo – um fermento
que teve suas raízes no impacto do pensa-
mento platônico nas tradições mais antigas
do período do Leste Helenizado. Existem
© GETTYIMAGES.COM

conexões óbvias e temas comuns ligando a


cada uma dessas tradições, embora cada uma

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


39
n TPREARDS IOÇNÃAOL I D A D E M Í S T I C A

to de uma revelação dada a


Hermes Trismegisto pelo Ser
Poimandres ou “Homem-
-Pastor”, uma expressão da
Mente universal. Os próxi-
mos oito (cap. 2-9), os Ser-
mões Gerais, são pequenos
diálogos ou palestras discu-
tindo vários pontos básicos
da filosofia hermética. Segue
a Chave (cap. 10), um resu-
mo dos Sermões Gerais, e
depois disso um conjunto
de quatro tratados: Mente
para Hermes, Sobre a Mente
Comum, O Sermão Secreto da
Montanha e a Carta de Her-
mes a Asclépio ( cap. 11-14),
abordando os aspectos mais
místicos do Hermetismo. A
coleção é completada pelas
Definições de Asclépio ao Rei
Amon (cap. 15), que pro-
vavelmente são compostas
de três fragmentos de obras
mais longas.

A Importância dos
© GETTYIMAGES.COM

Escritos Herméticos
O Corpus Hermeticum
único volume na época bizantina, e uma caiu como uma bomba cer-
cópia deste volume sobreviveu para chegar teira entre os sistemas filosóficos da Europa
às mãos dos agentes de Lorenzo de Medici medieval tardia. Citações da literatura her-
no século XV. Marsílio Ficino, o chefe da mética dos primeiros escritores cristãos (que
Academia Florentina, foi dispensado da ta- nunca tiveram pudor de se apoiar em fontes
refa de traduzir os diálogos de Platão para pagãs para provar um ponto) aceitavam uma
traduzir primeiro o Corpus Hermeticum para cronologia tradicional que datava “Hermes
o latim. Sua tradução foi impressa em 1463 e Trismegisto” como uma figura histórica do
reimpressa pelo menos vinte e duas vezes ao tempo de Moisés. Como resultado, os em-
longo do século e meio posterior. préstimos dos tratados herméticos da escri-
tura judaica e da filosofia platônica foram
O Conteúdo do Corpus Hermeticum vistos, no Renascimento, como evidência de
que o Corpus Hermeticum havia antecipado e
Os tratados dividem-se em vários grupos. influenciado ambos.
O primeiro (cap. 1), o Poimandres, é o rela- A filosofia hermética era vista como uma

40 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


n REFLEXÃO

tradição de sabedoria pri-


mordial, identificada com
a “Sabedoria dos Egíp-
cios” mencionada no Êxo-
do e louvada em diálogos
platônicos como o Timeu.
Serviu, portanto, como
um clube útil nas mãos
de rebeldes intelectuais
que procuravam quebrar
o domínio da escolástica
aristotélica sobre as uni-
versidades da época.
© GETTYIMAGES.COM

Também forneceu
uma das armas mais
importantes para outra
grande rebelião da época,
a tentativa de restabelecer a magia como um caminho espiritual socialmente aceitável no Oci-
dente cristão. Outro corpo de literatura atribuído a Hermes Trismegisto era composto de textos
astrológicos, alquímicos e mágicos. Se, como acreditavam os estudiosos da Renascença, Hermes
foi uma pessoa histórica que escreveu todas essas coisas, e se os primeiros escritores cristãos cita-
ram suas obras filosóficas com aprovação, e se essas mesmas obras pudessem ser mostradas total-
mente de acordo com algumas definições do cristianismo, então toda a estrutura do hermetismo
mágico poderia receber uma legitimidade de segunda mão em um contexto cristão.
Claro que isso não funcionou, e a redefinição radical do cristianismo ocidental que ocorreu
na Reforma e Contrarreforma, endureceu as barreiras doutrinárias a ponto de pessoas serem
queimadas no século
XVI por práticas que
eram consideradas
evidências de devoção,
assim como anterior-
mente no século XIV.
A tentativa, no entanto,
tornou a linguagem e
os conceitos dos trata-
dos herméticos centrais
para grande parte da
magia pós-medieval no
Ocidente. 4

Artigo traduzido do
Rosicrucian Beacon – Ju-
nho de 2006
© GETTYIMAGES.COM

PRIMAVERA
PRIMAVERA2022
2022 · O ROSACRUZ
41
n ORIENTAÇÃO

42 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


Conversando com
o mestre interior
de seu filho
Por ANA RIMOLI DE FARIA DONA, SRC

m seu processo evolutivo o ser procura expressar a personalidade.

E humano passa por incontáveis


experiências no plano terreno, onde
aprende buscando a perfeição através de
Sendo a Alma uma parcela Divina e de
origem Cósmica, ou, em outras palavras,
a extensão de Deus no homem, lógica
diferentes situações e em diferentes lugares, e evidentemente, é também Divina, em
ambientes e grupos familiares. É óbvia, qualquer pessoa no mesmo grau, seja ela
portanto, a relevante contribuição tida por nós como uma santa, ou
dos pais, já que são os criminosa, apesar das diferenças
encarregados, transitória e espirituais existentes entre os
cosmicamente, da tarefa
sublime, embora, por
O Eu homens: uns, com maior
consciência espiritual,
vezes, árdua, de formar
a personalidade
Interior opera outros, moralmente
superiores.
dos filhos. E o que,
de certa forma,
modificações Esta diferenciação,
porém, não reside
é um privilégio,
passa a ser também
maravilhosas no no interior, na
essência da Alma,
uma esplêndida
oportunidade de troca
comportamento da mas no exterior, na
sua expressão. Resulta
de experiências pela
vida afora. Um mútuo
criança. que a qualidade Divina
da Alma é mais manifesta
enriquecimento espiritual: em umas pessoas do que em
um dando e outro recebendo. outras, e essa radiação ou esse
No decorrer dos anos que se reflexo das características Divinas é
sucedem, os pais têm a incumbência de que se chama personalidade e que nada mais
criar ou proporcionar situações apropriadas é do que a característica objetiva da vibração
para os filhos, de modo que estes possam interior da Alma. Por estarem intimamente
exteriorizar suas características interiores, relacionadas essas duas condições “alma” e
refletidas pela Alma perfeita que, por sua vez, “personalidade” é que a metafísica Rosacruz

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


43
n O
PRER
I ES N
O TNAAÇL Ã
IDOA D E M Í S T I C A

adota a desorientada pode ser inocente e cegamente


sugestiva e levada a experiências prejudiciais ao seu
significativa progresso e à sua evolução.
expressão: No contato diário e constante com
personalidade- o filho, os pais devem promover, desde
alma. Essa cedo, a familiarização da criança com seu
personalidade, Mestre Interior. Para isso, devem começar
ou Eu Interior, explicando-lhe que dentro de seu corpo está
ou expressão o eu real, que chamamos de Mestre Interior
© GETTYIMAGES.COM da Alma no e que, aos poucos, gradativamente, vai se
interior do ser exteriorizar. As crianças, geralmente, ficam
humano, tem necessidade de evoluir, de se fascinadas pela ideia de que têm dentro
desenvolver, o que não acontece com a Alma. de si um Mestre (Interior) que possui as
Jamais poderemos fazer nossa Alma regredir, qualidades que elas atribuem ao ideal que
mas podemos desenvolver o reflexo da Alma, buscam, sentindo-se assim, mais seguras e
a personalidade, o Eu Interior. independentes. Um menino, por exemplo,
A essência anímica ou Alma nunca imagina que o Mestre Interior seja um
se separa da Alma Cósmica ou Universal “personagem” valente, forte e bonito.
porque não é um segmento anexado ao Por certo, muitos dos que nos leem
homem ou um tipo de substância, mas uma estarão indagando silenciosamente: “Como
efusão Cósmica, um fluxo que atravessa falar ao Mestre Interior de uma criança, sem
o homem; tanto assim que, ao ocorrer a qualquer outra interferência ?”
transição, quando o veículo ou receptáculo Responderemos que o processo é simples
da Alma se torna imprestável, destruído, o e consiste em conversar com a criança
fluxo continua, exatamente como a corrente quando ela estiver dormindo. Na verdade,
elétrica que se pode manifestar em outra nesse instante, apenas o eu exterior dorme; é
lâmpada, quando uma se queima. o único momento em que o Eu Interior ou o
No desempenho de sua ingente tarefa, os Mestre Interior exerce, durante algum tempo
pais devem tornar-se o modelo, o exemplo ou horas, completo controle sobre o corpo.
permanentemente vivo do que desejam que o Deve o Eu Interior ficar muito feliz por estar
filho seja, embora não devam esperar que ele o eu exterior tão
atinja o nível de realização do adulto. Em seu cansado que deseja
primeiro aprendizado, pela impossibilidade deitar e dormir,
de usar o raciocínio e outras faculdades deixando desta forma,
latentes, cujo funcionamento ocorrerá mais campo livre para ele
tarde, a criança imita o que vê, percebe e (o Eu Interior) poder
ouve. Esse vivenciar, em termos de que e agir, não interferindo,
quanto, quase sempre passa despercebido assim, no trabalho
aos pais, entretanto, a irreversibilidade do construtivo que esse
tempo e a repercussão futura das condições Mestre Interior deseja
desfavoráveis no lar, decididamente, levarão realizar em todo o
a consequências desastrosas não só para a corpo da criança.
criança, como para os que com ela vierem a O Mestre Interior
conviver e, até mesmo, para a comunidade, jamais se cansa, por
como é o caso dos delinquentes infantis isso, não precisa
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que, segundo estatísticas, procedem, em dormir. É imaterial,


grande parte, de lares desfeitos e ausência imortal e opera
de cuidados assistenciais, pois uma criança incessantemente.

44 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


n REFLEXÃO

Dirige as batidas do coração, o movimento porém, logo as palavras seriam


dos pulmões, do fígado, dos rins, intestinos esquecidas.
e de todos os órgãos. Já imaginaram se o A conversa com o Mestre
Eu Interior dissesse que está cansado e por Interior não deve se prolongar
isso vai interromper o controle das batidas além de dois ou três minutos e, se
cardíacas, para poder repousar um pouco? a criança, por acaso, mencionar
Com o eu exterior acontece o contrário. algo da conversa ouvida (pela
Quando se cansa, precisa repousar e uma interferência de seu eu exterior),
das primeiras coisas que ele torna inativa não é recomendável a mãe (ou o
é o fatigado cérebro mortal. Quando este pai) repetir o que foi falado, mas
adormece, perde todo o controle do eu apenas confirmar que falou com
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exterior e deixa de interferir na ação do Eu ela na noite anterior.


Interior, como dissemos. Então, o Mestre Sentando-se ao lado da caminha da
Interior, que durante o sono da criança fica criança, sem acender a luz ou fazer qualquer
silencioso, mas desperto, passa a exercer barulho, chama-a pelo nome duas ou três
mais controle do corpo adormecido do que vezes, com voz suave e baixa. Então, diz-lhe:
fazia antes. “É a mamãe que está aqui”, (ou papai), e
Pois bem, é nesse momento, ou seja, começa a falar sobre o assunto que imaginou,
quando a criança está dormindo, que a mãe o que e como a criança deve fazer no dia
(ou o pai) deve conversar docemente com seguinte, empregando, sempre, conceitos
ela. Estará falando ao Mestre Interior do construtivos e nada dizendo que seja
filho, que ouve e compreende tudo o que desagradável, ruim ou perigoso. Por isso, é
é dito, mantendo vívidas as impressões ou conveniente que a mãe (ou o pai) prepare,
informações recebidas e, por concordar, previamente, uma relação das coisas que
sempre, com o que é bom, passa a aplicar deseja instilar na mente do filho, uma de
todas as sugestões boas e construtivas. cada vez, e sempre com afirmações positivas.
Por este processo podem ser erradicados Por exemplo, se a criança quebrou um copo
os chamados “maus hábitos”, como ou um brinquedo e atribuiu esse ato a um
roer unhas, a enurese, mentir, furtar ou irmão ou outra pessoa, a mãe, que sabe
usar linguagem de baixo calão. E como que foi o filho o responsável, nunca dirá à
consequência, o Eu Interior criança: «Você não deve quebrar as coisas”
opera modificações ou “não diga mentira”, mas dizer: “As coisas
maravilhosas no podem se quebrar, meu filho, basta a gente
comportamento da criança tomar cuidado com elas para que fiquem
quando está acordada, sempre em bom estado”, “pode contar a
pois tudo o que lhe é dito verdade para mamãe, pois ela compreenderá
quando adormecida que isso pode acontecer”, e assim por diante.
fica registrado Quando este processo se divulgar e se
no armazém tornar bastante conhecido e amplamente
permanente da praticado, o de conversar com o Mestre
memória e jamais Interior do filho, estamos certos de que será
é esquecido, o que um excelente auxiliar dos pais na tarefa
não aconteceria se educativa que têm de desempenhar, ao
fosse falado ao eu preparar a personalidade-alma que lhes foi
exterior da criança. confiada pelo Cósmico, sob a forma de um
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Poderia causar pequenino Ser. 4


alguma impressão
momentânea,

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


45
n ECOLOGIA ESPIRITUAL

Terra
Por KAHLIL GIBRAN

Como és bela, Terra, e como és sublime!


Como é perfeita a tua obediência à luz,
e como é nobre tua submissão ao sol!

Que bela és, obscurecida na sombra,


E como é encantadora tua face, envolvida pela obscuridade!

Como é reconfortante a canção da tua madrugada,


E como são sombrias as imprecações do teu entardecer!
Como és perfeita, Terra, e como és majestosa!

Caminhei sobre tuas planícies, escalei tuas montanhas rochosas;


Desci a teus vales;

46 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


©
GE
TT
YI
M
AG
ES.C
O
M

Entrei nas tuas cavernas.


Nas planuras, encontrei teus sonhos;
Nas montanhas, deparei-me com teu orgulho,
Nos vales, auscultei tua tranquilidade;
Nas rochas, a tua resolução;
Nas cavernas, o teu segredo.

És fraca e poderosa, humilde e arrogante.


És maleável e rígida, clara e obscura.
Atravessei teus mares,
Explorei teus rios e vadeei teus regatos.
Ouvi a Eternidade exprimir-se através de tuas marés,
E os séculos dando eco às tuas canções,
Através de tuas montanhas.
Ouvi a vida chamando a vida
Nos desfiladeiros de tuas montanhas,
E ao longo de tuas encostas.
És a boca e os lábios da eternidade.
Os elos e os dedos do Tempo,
O mistério e a solução da Vida.
Tua Primavera acordou-me
E me conduziu a teus campos,
Onde teu hálito aromático recende a incenso.
Vi os frutos dos teus labores de Verão.
No Outono, nos teus vinhedos,
Vi teu sangue fluir em forma de vinho.
Teu inverno conduziu-me a teu leito,
Onde a neve atestava tua pureza.
Na tua Primavera, és uma essência aromática,
No teu Verão, és generosa;
No teu Outono, és uma fonte de abundância.
Numa noite calma e clara,
Abri as janelas
E as portas da minha alma
E sai para ver-te,
Com o coração tenso de desejo e cobiça.
E te vi, então, apresentada diante das estrelas,
Que te sorriam do infinito.
Então, lancei fora meus grilhões,
Pois descobri que o lugar de repouso da alma
Está no teu espaço.
Os desejos da alma brotam de teus desejos.
Tua paz descansa na tua paz
E sua felicidade se encontra na poeira de ouro
Que as estrelas pulverizam sobre teu corpo.

Uma noite, como os céus se tornassem cinzentos,


M
.CO

E minha alma estava fatigada e ansiosa,


ING W
NG
©P

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


47
n ECOLOGIA ESPIRITUAL

Sai para ver-te.


E tu apareceste para mim como um gigante,
Carregado de terríveis tempestades,
Atirando o passado contra o presente,
Substituindo o velho pelo novo,
E permitindo que o forte destroçasse o fraco.

Depois disto, aprendi que a lei dos homens é a tua lei.


Aprendi que aquilo que não quebra seus galhos
Mortos com suas próprias tempestades
Morrerá agoniadamente.
E que aquilo que não usa a revolução para
Livrar-se das suas folhas secas,
Morrerá lentamente.

Como és generosa, Terra, e como é forte o teu


Enternecimento por teus filhos
Perdidos entre aquilo que eles conseguiram
E aquilo que não puderam obter.
Nós clamamos e tu sorris,
Nós passamos para sempre mas tu permaneces.
Blasfemamos e tu consagras
Poluímos e tu santificas.
Nós dormimos sem sonhos,
Mas tu sonhas em tuas vigílias eternas.

Acutilamos tuas entranhas com espadas e punhais,


E tu recobres nossas feridas com bálsamo e unguentos.
Semeamos teus prados com esqueletos e ossos
E deles tu obténs ciprestes e salgueiros.

Descarregamos nossos detritos nas tuas entranhas,


E tu inundas nossos celeiros com fardos de trigo,
E afogas nossas cantinas com toneladas de vinhas.

Extraímos teus elementos para fazer obuses e canhões.


Mas de nossos restos tu recrias rosas e lírios.

Como és paciente, Terra, e como és generosa!


És tu um átomo de pó levantado pelos pés de Deus,
Quando Ele vagava do Este para o Oeste do Universo?
Ou és uma fagulha projetada da fornalha da Eternidade?
Ou és uma semente lançada no campo do firmamento
©
PN
M

Para tornar-se a árvore de Deus


G
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NG

G
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E abrir os céus com seus ramos celestiais?


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M
NG
©P

Ou és uma gota de sangue da veia


Do Gigante dos gigantes?
Ou apenas um pingo de suor na Sua testa?

48 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


Serás um fruto amadurecido pelo sol?
Tu te originas da árvore do conhecimento Absoluto,
Cujas raízes se estendem pela eternidade
E cujos ramos pairam através do Infinito.

És uma joia colocada pelo deus do Tempo,


Nas palmas do deus do Espaço?
Que és, Terra, e o que és?
Sinto, Terra, que és meu próprio eu!
És minha vista e meu discernimento.
És meu raciocínio e meu sonho.
És minha fome e minha sede.
És minha tristeza e minha alegria.
És minha imprudência e minha vigília.
És a beleza que vive em meus olhos,
A ansiedade que mora em meu coração,
E a vida eterna de minha alma.

Sinto, Terra, que és meu próprio eu.


Se não fosse por minha causa, não terias existido. 4

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Fonte: Pensamentos e meditações. Tradução de Emil Farhat. Rio de Janeiro: Record, 1960.

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


49
n SANCTUM CELESTIAL

A Função dos
Rituais
Por RALPH MAXWELL LEWIS, FRC IMPERATOR EMERITO DA AMORC

uitas pessoas não concordam com os vezes associados aos dogmas e às doutrinas

M ritos, o ritualismo e as cerimônias.


Eles lhes parecem incompatíveis com
nossa época moderna de ciência e de racio-
religiosas. É assinalado que o ritualismo
desenvolve-se no espírito religioso e que os
rituais devem ser sua expressão. Considera-
nalismo. Sua objeção é que ritual é uma subs- -se, hoje em dia, que os rituais e as cerimô-
tituição do aspecto misterioso e de natureza nias que têm mais importância na sociedade,
emocional ao que poderia ser uma explicação os que devem ser respeitados e aos quais é
plausível de um fenômeno ou de um acon- preciso se submeter escrupulosamente, são
tecimento. Tal atitude denota que a origem e os que estão relacionados aos diversos cultos.
a finalidade fundamental do ritualismo não Disto resulta que todos os outros rituais são
foram compreendidas. É igualmente evidente considerados de menor importância e supõe-
que esta objeção visa, sobretudo, uma sorte -se que aqueles que deles participam são
de ritualismo que, partindo do princípio que menos conscientes do valor do ato ritualísti-
todos os rituais, ritos e cerimônias são inú- co. Incontestavelmente, o ritual é analisado
teis, seria por si só, também antissocial. unicamente em função de suas relações com
Muitos de nossos hábitos, e entre eles nos- a religião.
sas ações diárias, podem ser realmente vistos Acredita-se, geralmente, que o ritualismo
como ritos ou rituais e até mesmo como ce- acompanha a evolução das teorias religiosas,
rimônias bem definidas. Na maior parte das sendo o ritual considerado como a forma
obras especializadas, os rituais são muitas racional e a expressão da teoria ou da ideia

50 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


seguindo uma via paralela, como
a que consiste em purificar
com a ajuda de uma
substância material
tal como a água
ou o óleo, fazendo
determinados ges-
tos que associam
esta substância ao
elemento espiritual
e intangível em
questão, a teoria
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fica mais acessível


e este procedimento
torna-se um rito.
Os ritos e rituais certa-
mente não são procedimen-
tos sempre renovados tendo
por finalidade satisfazer nossas neces-
sidades interiores ou outras. Muitos deles
são, na verdade, consequência de outros ritos
doutrinal. Deste modo, ele se torna uma téc- e de sua prática. Em seu estágio primitivo,
nica cultural, ou seja, uma atividade objetiva, eles constituíam a expressão fundamental de
combinando o gesto e o simbolismo para elementos inexplicáveis, quer se tratasse de
enfatizar a permanência de um culto à divin- sentimento ou de teoria. Com a evolução das
dade ou para invocar um poder sobrenatural. teorias religiosas, outros elementos foram in-
Os ritos e os rituais são, segundo este ponto corporados, especialmente os que podiam ter
de vista, um conjunto de cerimônias trans- uma influência nas concepções e na conduta
mitidas pelos sacerdotes e chefes de tribos a dos participantes.
seus sucessores. Eles constituem uma parte Alguns etnólogos têm uma opinião
dos meios por eles colocados em ação para contrária e pensam que os ritos e os rituais
contatar e influenciar os seres espirituais. Os precederam as teorias religiosas e que, com o
ritos, orações, sacrifícios, jejuns, orientação tempo, terminaram por se incorporar a elas.
e lustração (purificação), eram destinados Esta ideia não é plausível se ela subentende
a expressar os pensamentos e os princípios admitir que os ritos são totalmente inde-
abstratos. A ideia da purificação da alma ou pendentes de qualquer pensamento matriz.
do espírito humano, principalmente, seria A ideia, a concepção deve preceder todo
muito difícil de ser dita de um modo inte- ato que pretende manifestar. O homem não
lectual por um povo primitivo. A maneira adota nenhuma maneira de agir particular
como um elemento tão intangível como o se ela não tiver sua origem no pensamento.
espírito pode ser corrompido ou contamina- Para alcançar um propósito, naturalmente
do, e como pode ser purificado, eis o que é podemos seguir um caminho conhecido e
difícil de ser exposto oralmente. Entretanto, métodos que ofereçam uma característica de

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


51
n SANCTUM CELESTIAL

cial e exalta o bem da comunidade, enquanto


que a magia exalta o indivíduo independente
da sociedade”. Por mais forte que isso possa
parecer, também poderíamos ir mais longe e
tentar contaminar os partidários da religião
dizendo que as premissas fundamentais da
magia tocam mais de perto a atitude científi-
ca e criadora da mente do que o faz a religião.
Em resumo, a magia considera as forças da
natureza como as causas rituais de todas as
manifestações. O processo mágico não é
usado para tornar a divindade favorável ou
para obter o seu favor, mas sim na intenção
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de evocar, por poderes apropriados, as forças


da natureza, tendo como objetivo permitir a
essas causas trabalhar a serviço do homem. O
aparente facilidade. Pode até ser que este mé- mago procurava fazer o que o cientista reali-
todo seja simplesmente uma harmonização za. Ele devia, no entanto, primeiro encontrar
inconsciente de nossa ambiência mental às as causas fundamentais que converteriam em
nossas necessidades. ação as forças da natureza.
Seja como for, em todos os casos sempre Em toda religião pede-se a ajuda de um
existe primeiro o objeto, o objetivo conscien- Ser divino recorrendo a ritos como sacri-
te que nos faz agir. Podemos também adaptar fícios, orações e ações de graça. O fiel não
o ato habitual a qualquer outra teoria com a busca alcançar diretamente um propósito; ele
qual ele não tinha, originalmente, nenhuma quer alcançá-lo pela intermediação de um
ligação. Em circunstâncias assim, o ato torna- ser sobrenatural. Assim, a religião tem um
-se um rito e o rito, portanto, precede a teoria efeito benéfico sobre o indivíduo, pois este
à qual ele é de alguma maneira adaptado. acredita na necessidade de conformar sua
Contudo, o ato primitivo pode ir bem mais conduta aos imperativos do Deus ao qual ele
além do objetivo que devia alcançar. É neste apela acreditando que somente um homem
contexto que todos os ritos religiosos estão bom pode esperar resposta à sua súplica. O
relacionados com os objetivos humanos, mago, ou feiticeiro, por seu lado, assim como
mesmo que a religião os utilize para uma o cientista, trabalha unicamente com fatores
função social determinada. impessoais. O processo do mago, assim como
O emprego dos ritos e dos rituais nas o do cientista, fundamentalmente tem por
práticas mágicas é anterior ao seu uso na objetivo influenciar o curso da natureza en-
religião. A magia precede a religião, embora
a linha demarcatória com esta última fique
cada vez mais evidente com o tempo. Apesar
de a distinção, pelo menos na teoria, estar
agora estabelecida nas religiões evolutivas,
podemos ainda encontrar nelas vestígios dos
ritos mágicos. Alguém já disse: “é essencial-
mente mágico a realização de um ato acompa-
nhado de feitiços ou magias verbais dirigidas
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a um elemento conhecido ou desconhecido da


sociedade”. Também foi dito: “a religião é so-

52 O ROSACRUZ · PRIMAVERA 2022


contrando o ponto de junção entre a causa e
os efeitos.
Um exemplo dos primeiros ritos mágicos
sobrevive nos costumes destinados a celebrar
a primavera e a colheita entre os camponeses
europeus. As cerimônias realizadas nos cam-
pos para pedir a fertilidade do solo e uma
colheita abundante são inteiramente indivi-
duais. Não há participação de sacerdote, nem
do templo, nem tampouco de orações. Cada
um é considerado capaz, através do rito, de
exercer influência sobre as forças da natureza
que em troca, influencia a colheita. O ato

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ritualista é interpretado como uma parte das
leis fundamentais gerando a fertilidade.
No plano teórico, o mesmo se aplica ao
processo químico do qual se espera determi-
nado resultado. Não existe nenhum elemento e cenas que deviam representar em imagens
moral nestes ritos mágicos. Ritos semelhan- seus pensamentos e sentimentos. Alguns se
tes foram incluídos, pelo menos parcial- tornaram a expressão das ideias subjetivas do
mente, no ritualismo das religiões. O maior homem.
fator de contribuição para o ritualismo é Tem-se um exemplo deste fato no símbo-
constituído pelos costumes e tradições. Antes lo quaternário que representa os quatro pon-
da magia e da religião, os homens já se sur- tos cardiais ou as quatro posições principais
preendiam e refletiam. Suas noções abstratas dos movimentos humanos: à frente, atrás,
eram representadas por símbolos. Sabemos embaixo, em cima. Muitos costumes consi-
que uma imagem vale muito mais do que mil derados como símbolos mais expressivos, ou
palavras. O pensamento do cérebro primiti- simplesmente mais eficazes, pouco a pouco
vo muitas vezes ultrapassava o vocabulário evoluíram para o ritual. Eles tornaram-se
que dispunham os homens daquela época. santos como consequência de seu uso tradi-
Os conceitos relativos à origem do universo, cional. Há nos povos primitivos, e também
as ideias sobre o retorno do dia e da noite, nos modernos, uma relação muito acentuada
sobre a vida e a morte, os acontecimentos com a tradição. Isto se deve à veneração que
felizes ou infelizes, suscitavam no homem atribui idade às coisas e ao respeito conferi-
reações emocionais e inspiravam símbolos do pelo homem a tudo que lhe foi favorável
entre as lembranças que ele celebra. Como
resultado, muitos ritos religiosos surgiram
independente de toda crença em seres espi-
rituais ou sobrenaturais, e a religião chegou
a usar esses ritos e rituais para reforçar suas
próprias concepções, em virtude do respeito
que eles tinham obtido nas práticas pura-
mente profanas.
A psicologia do ritualismo embora com-
plexa no que concerne à identificação de
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muitos símbolos usados, é relativamente sim-


ples quando se trata de explicar as origens

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


53
n SANCTUM CELESTIAL

e as necessidades do rito. Todo ritual é uma


manifestação simbólica e uma representação
dramática. Já se falou que o ritual é, de fato,
“a linguagem dos gestos”. Os movimentos do
corpo, os ritmos, os símbolos, as vestimentas
e os objetos utilizados, assim como os figu-
rantes, juntam-se para expressar um senti-
mento ou uma crença. Os mitos são produto
da imaginação. Eles permitem explicar os

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fenômenos para os quais nenhuma causa fí-
sica foi encontrada. Eles dão à ideia o caráter
objetivo necessário e levam para o domínio
da experiência e realidade através da repre-
sentação ritual. Contudo, o ritual frequente- satisfação e encerra a substância de um rito
mente é mais evidente do que a representa- ou de um ritual.
ção de um mito. Estima-se que ele constitui Devemos estabelecer uma distinção entre
o meio de avaliar a efetividade atribuída aos o costume e o ritual, ainda que o primei-
personagens mitológicos. Em outras pala- ro tenha contribuído para a existência do
vras, o ritual é um meio de associar harmo- segundo. Um costume poder se tornar um
niosamente o observador ou o participante às ritual, mas nem todos os rituais, necessaria-
entidades míticas, de modo que ele participe mente, provêm de um costume. Podemos
dos poderes e das virtudes que supostamente fazer de alguma coisa um hábito porque, de
essas entidades míticas possuem. É uma ação fato, segundo nossa opinião, é o único cami-
por substituição, ou seja, uma substituição de nho a ser seguido. Isso, em si mesmo, não é
si mesmo por aqueles que se acredita perten- um ritual, mas sim um método eficiente e
cerem a outro plano. essencial. Contudo, quando conservamos um
Em determinadas religiões, a comunhão costume por atração ou interesse, mesmo que
não é considerada como um ato simbólico, outro meio possa ser seguido ou outros atos
mas sim como uma ação pela qual o partici- realizados com mais proveito, ou quando
pante, por meio dos elementos da cerimônia, nos agarramos a esse meio porque ele parece
participa do espírito e da substância de Cris- expressar muito melhor nosso próprio sen-
to. Mesmo que não haja nenhuma ligação re- timento, então esse costume irá adquirir a
ligiosa, todo o ato que acreditamos essencial qualidade de ritual. Se um costume se torna
à nossa compreensão e à nossa relação com muitas vezes um ritual, é consequência do
qualquer coisa, é, em si mesmo, o fundamen- desejo de mantê-lo vivo e de respeitar sua
to de um ritual. Ele nos leva a sentir certa memória cativante. A tradição torna-se para
nós uma sugestão que estimula nossa natu-
reza emocional e psíquica. Outro costume
poderia também ser do mesmo modo eficaz,
mas ele não satisfaria tão bem nosso “eu”
emocional e psíquico. Esses costumes agra-
dáveis acabam por assumir um caráter bené-
fico que nos leva a venerá-los e a atribuir-lhes
a qualidade de rituais.
A filosofia do ritualismo reside em seu va-
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lor quanto à sociedade. Muitos ritos e rituais,


sendo expressões simbólicas de nossos con-
ceitos, têm uma qualidade de universalidade,

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preservaram os ideais de pureza moral e os
conceitos de natureza social. As leis e ri-
tuais dos Judeus são um exemplo disso. Eles
mantiveram, por meio das ideias propostas,
algumas interdições sociais e tabus essenciais
no comportamento do homem. Os rituais, tal
como eram em sua origem apresentados nas
antigas escolas de mistérios, revelaram viva-
mente os conflitos entre os princípios básicos
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e as realidades do bem e do mal, da luz e das


trevas, da ignorância e do conhecimento, da
vida e da morte. Eles conduziram nossa ima-
ginação para onde os argumentos dialéticos
ou seja, constituem uma linguagem que pode não podem fazê-lo. Retrataram os conflitos
ser compreendida por todos. Vejamos como da conduta humana de maneira claramente
exemplo a saudação à bandeira nacional perceptível e, geralmente, de maneira bem
quando ela passa diante de nós. É um rito mais eficiente do que os discursos filosóficos.
simples no qual incluímos todos os princí- Os rituais diferem significativamente da edu-
pios de patriotismo, de lealdade, de respeito, cação formal no sentido em que os principais
de honra e orgulho por tudo o que ela repre- conceitos e ideias abstratas que devem ser
senta. A criança e o filósofo poderiam, ainda manifestados são reduzidos a um nível obje-
que de maneiras diferentes, explicar o que tivo para uma compreensão universal, graças
significa esta saudação. Universalmente, to- à realização de atos definidos. As qualidades
das as classes da sociedade e todos os níveis de alguns de nossos sentidos receptores,
de mentalidade, da criança ao filó- assim como o intelecto, são, por-
sofo, teriam uma compreensão tanto, acionados. Por con-
idêntica deste ato comum. seguinte, o objetivo do
Da mesma forma, os
rituais preservam
Devemos ritual torna-se muito
os conceitos que estabelecer uma mais íntimo do que
uma experiência
traduzem nossas
opiniões religio- distinção entre o costume realizada a partir
de orientações
sas e sociais e
são benéficos e o ritual, ainda que o oral ou escrita.
É exatamen-
aos povos.
Por gestos
primeiro tenha contribuído te aí que se
simples, eles para a existência do segundo. encontra sua
maior força
unem, em um
propósito co- Um costume pode se tornar sobre o “eu”
emocional e
mum, pessoas
que de outra um ritual, mas nem todos os psíquico do
homem
maneira pode-
riam estar total-
rituais, necessariamente, Para resumir,
mente separadas. provêm de um diríamos que os
rituais são gestos,
Os rituais, de
maneira muito sim- costume símbolos e atos tendo
por objetivo expressar e
ples, por meio de gestos preservar algumas ideias e
e símbolos, proclamaram e determinados costumes. 4

PRIMAVERA 2022 · O ROSACRUZ


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do Museu Egípcio e Rosacruz Tutankhamon

Pequena cabeça de uma princesa

Por VIVIAN TEDARDI

Período: Reino Novo - XVIII dinastia – 1353-1335 a.C. 


O original encontra-se no Museu do Louvre – Paris –
França.

Akhenaton e Nefertiti tiveram seis filhas e aqui


está, possivelmente, a representação de uma delas.
Esta adolescente de bochechas arredondadas e cabelo
com trança lateral que cai sobre os ombros lembra as
representações infantis. Nesta escultura é possível
perceber a combinação do estilo amarniano com
um certo realismo, mais aparente no tratamento do
pescoço, boca e queixo, características do trabalho
refinado de fins do reinado de Akhenaton.
© AMORC.ORG.BR

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leitura é um dos meios mais importantes para a aprendizagem
do ser humano. Por meio dela adquirimos conhecimentos novos
e favorecemos a prática de estarmos sempre estudando. Uma
das melhores maneiras de se apreciar uma leitura é viajar pela
imaginação, pois, esse hábito, favorece a memória e estimula a
criatividade.

A GLP lançou e reeditou obras fantásticas com assuntos que


variam em conteúdos místicos, saúde mental e física, alimentação,
ansiedade, entre outros.

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