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GEOFFREY HODSON

MEDITAÇÕES SOBRE A
VIDA OCULTA
Tradução
Beatriz Ricchiero

EDITORA PENSAMENTO
SÃO PAULO

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Título do original Meditations on the Occult Life
© The Theosophical Publishing House, Adyar, Madras, Índia.

DEDICADO A TODOS OS ASPIRANTES

Sinceros agradecimentos a
J. H., A. D. M., F. W. W., S. C., V. F., V. G. e M. S. S.

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SUMÁRIO
Introdução 05
Prefácio do Autor 07
I. O caminho da vitória acelerada. Vida espiritualizada. 08
A descoberta da verdade.
II. Cérebro e corpo. Sono: alimento puro. Vida diária 10
ordenada. Pureza de corpo necessária ao crescimento
espiritual. Meditação. As glândulas pineal e pituitária
III. As quatro tríades; suas correspondências. As sete 13
notas; suas expressões. O templo da Natureza.
IV. Vida e forma. A estrada ascendente. Irmãos mais 17
velhos e mais novos
V. O caminho da liberdade. A condição de mestre. 19
VI. A vontade do mestre. Seu amor. Seu conhecimento. 21
Seu trabalho.
VII. A natureza da condição de adepto. 24
VIII. A grande Irmandade Branca. Seu sétuplo trabalho. O 26
caminho para os mestres. Sua vida e atividade diárias.
IX. A vida do aluno. Sua aceitação e seu trabalho. 31
Ocultismo para o homem ocidental. Negócios, arte e
educação.
X. Discipulado. A vida mística e oculta do discípulo. A 35
visão do todo.
XI. Perfeição imperfeita. O trabalho do discípulo. A 40
necessidade de pureza. Amor universal.
XII. O valor da meditação. O caminho do desabrochar 44
imediato. Educação oculta.
XIII. O aluno aceito. O novo nascimento. Iniciação. A 47
corrente da vida. O trabalho do iniciado.
XIV. Atividades extraplanetárias do adepto. A vida 51
consagrada.
XV. Macrocosmo no microcosmo. A visão do todo. 54
XVI. O fragmento e o todo. A fonte da vida. A natureza da 56
beleza.
XVII. A guerra no céu. A guerra no homem. Vitória. 58
XVIII. Geometria divina. Símbolos espirituais nos reinos 61
mineral, vegetal, animal e humano.
XIX. Do homem ao super-homem. O símbolo do cone. A 63
mente abrangente.
XX. O ministério dos anjos. O ministério dos adeptos 65
Posfácio Paz. Beleza. O deus trino. 68

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INTRODUÇÃO

G. Hodson está certo quando diz que seu trabalho não é um livro didático. E eu duvido
que, exceto para um assunto limitado, possa existir um livro didático sobre Ocultismo.
Embora existam, sem dúvida, certos princípios fundamentais, que podem ser lidos por
aqueles que pesquisam, tais princípios constituem simples bases para esse estudo e
experiência, bases absolutamente individuais tanto para o instrutor quanto para o aluno.
Nenhum verdadeiro ocultista sonharia em escrever um livro descrevendo tal estudo e
experiência, pois ele sabe muito bem o mal irreparável que resultaria inevitavelmente de
tal procedimento.
Em suas Meditações sobre a Vida Oculta, G. Hodson procura mostrar alguns desses
princípios fundamentais, da maneira como os aprendeu de seus instrutores. Ele não
poderia ter feito mais do que isso num livro acessível ao público em geral, embora nesses
tempos de curiosidade desenfreada e de crença, em que basta viajar ao Oriente para se
penetrar profundamente nas verdades do Ocultismo, encontremos amadores ignorantes
publicando, até mesmo em jornais, métodos de supostas práticas de Yoga e receitas de
erudição ocultista.
A verdadeira Yoga e o verdadeiro Ocultismo são sempre para alguns poucos indivíduos,
para aqueles que buscaram seus instrutores através de vários anos de esforços, tentativas e
tribulações, que praticaram cada detalhe desse magnífico compêndio de princípios
ocultistas dado pela maior ocultista destes tempos - H. P. Blavatsky:
"Uma Vida casta, uma Mente aberta, um Coração puro, um Intelecto vivo e zeloso, uma
Percepção Espiritual vigilante, uma Fraternidade para todos, uma disponibilidade para dar e
receber Conselhos e Instruções, um senso leal de Dever para com o Instrutor, uma
obediência espontânea às Ordens da Verdade, uma vez que depositamos nela a nossa
confiança e acreditamos que o Instrutor está de posse dela, uma corajosa Tolerância para
com a injustiça pessoal, uma brava Declaração de Princípios, uma valente Defesa daqueles
que são injustamente atacados e uma constante observação do Ideal de Desenvolvimento
Humano e Perfeição descrito pela Sagrada Ciência - esses são os degraus da Escada
Dourada que o aprendiz deve galgar para chegar ao Templo da Sabedoria Divina."
Esses, na verdade, são os degraus da Escada Dourada, que o aprendiz deve galgar, de
forma a provar que é digno de ser iniciado nas glórias da eterna Ciência da Vida.
Atualmente, tais ideais podem bem ser chamados de desígnio de perfeição, pois
existem muito poucas pessoas que chegam a trazer suas vidas cotidianas para a luz de um
modelo tão elevado. Assim, desde que algo semelhante ao Ocultismo se torna necessário
para a satisfação de um paladar insensível e gasto pelas futilidades aparentes das filosofias
atuais, vemos que as superficialidades de certas posturas corporais, de certas formas de
respiração e transmutações de ideias temporais em suas contrapartes eternas são
avidamente tomadas como revelações da Yoga. E a criança vai brincando com seus
brinquedos.
Felizmente, G. Hodson nos traz para a terra e para o duro trabalho prático no curso da
vida diária, o que é necessário se quisermos iniciar nossos passos no caminho do Ocultismo.
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Ele nos deixa claro que podemos iniciar esse caminho de onde quer que estejamos e
em qualquer coisa que estejamos fazendo, por mais que pareçamos imersos em
trivialidades ou até mesmo na sordidez da vida material. Ele nos diz que os homens de
negócios são tão capazes de trilhar o caminho do Ocultismo quanto o recluso, e que
precisamos corresponder às expectativas do mundo se vamos conquistá-lo - a conquista do
mundo é o triunfo do iogue.
Antes de ousarmos pensar em estudar o Ocultismo como tal, temos que entrar no
jardim da infância, onde a natureza da vida simples e pura, da verdadeira Ordem, Lei e
Propósito da Vida, das Verdades Básicas da Existência, são reveladas ao aprendiz ansioso. O
iogue é um revelador da Lei, um agente da Lei, um mensageiro da Lei, pois através da Yoga
ele aprendeu a expressar e a personificar a Lei. Primeiro, ele tem de adquirir uma
percepção da natureza da Lei, não como ela é apresentada nas convenções do dia-a-dia,
mas como ela é, e com a ajuda daqueles que nela são iniciados.
O início, o caminho e a chegada ao final são realmente duros. Mas tudo o que não é
conseguido por um alto preço não têm valor, e isso é especialmente verdadeiro no caso das
glórias do Ocultismo. Somente os que sabem perseverar, os que não se deixam dominar
pela derrota ou pelas dificuldades, os que não consideram nenhum obstáculo
intransponível, nenhum sacrifício demasiado, nenhum sofrimento insuportável, somente
esses são dignos de entrar na corte exterior do Ocultismo. E quando eles estiverem prontos
para a corte interior, deverão ter se tornado atletas espirituais, conhecedores da Sabedoria
abrangente e abnegados administradores do poder da Lei eterna.

GEORGES ARUNDALE

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PREFACIO DO AUTOR

Este trabalho não é um livro didático que oferece uma exposição completa de seus
assuntos. Consiste, sim, numa reunião de ideias que surgiram na mente do autor, durante
experiências feitas para comprovar certos ensinamentos ocultistas.
Como o título sugere, o método dessas experiências foi o da meditação, na qual a
atenção estava focalizada sobre fundamentos da ciência oculta, num esforço de traduzi-los
em experiência. O autor se dissocia das reivindicações ocultistas, particularmente daquelas
que possam ser inferidas de suas referências ao discipulado e à Iniciação. Pela meditação e
a aspiração, pode-se adquirir o conhecimento de futuros estágios da evolução. O aspirante
deve tentar encarar deliberadamente o caminho diante de si, de forma a obter uma
previsão dos conhecimentos elevados a que mais tarde espera ascender.
No caso do autor, a realização interior, na forma como lhe aconteceu, foi
acompanhada frequentemente por um fluxo de ideias luminosas. Ele oferece este livro para
a publicação na esperança de que possa servir como ponto de partida para viagens de
descoberta similares, empreendidas por outros.

1. Para tais exposições ver: Os Mestres e a Senda. de C. W. Leadbeater (Ed.


Pensamento); In the Outer Court, The Path of Discipleship, lnitiation, de Annie Besant;
Talks on the Path of Occultism, de Annie Besant e C. W. Leadbeater; At the Feet of the
Master. de J. Krishnamurti.

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CAPÍTULO I

O Caminho da Vitória Acelerada.


Vida Espiritualizada.
A Descoberta da Verdade.

Desde que o homem é um ser autoconsciente, ele possui o poder de submeter-se a um


processo de estimulação para o amadurecimento espiritual, para uma autoaceleração. Ele
pode apressar a realização de sua meta, através da aplicação deliberada, numa forma
intensificada, dos princípios que governam o crescimento normal.
Esse processo consiste numa ênfase repetida, e eventualmente contínua, em tudo
aquilo que é espiritual nesse homem, em termos de pensamento, de sentimento, de
motivos e de conduta, assim como numa eliminação complementar de tudo aquilo que se
opõe ao ideal espiritual, dentro desses quatro aspectos de sua vida pessoal. Isso implica no
estabelecimento de um sistema de contínua auto-observação e de autocorreção, tanto
mental como emocional.
No início, essa auto-aceleração sistemática causa no neófito uma intensificação do
conflito interior. Tudo o que é material em sua natureza resiste ao processo
espiritualizador, tenta escapar ao controle mental. Por esta razão, a chave do sucesso
consiste no controle da mente, para cuja realização o aspirante deve dirigir todas as suas
energias. Será bom para ele ignorar, tanto quanto possível, os impulsos e desejos de sua
natureza emocional, as necessidades e exigências de seu corpo e concentrar-se no domínio
de sua mente.
Como personalidade, o homem é basicamente um pensador; o poder de dirigir
conscientemente seu pensamento é a nota predominante de sua existência material e é o
que o diferencia do animal. A mente, portanto, é a sua arma mais eficiente, o seu ponto de
observação mais adequado e estratégico, a sua mais poderosa influência diretiva. A mente
é a posição-chave que precisa ser ocupada e mantida durante o conflito.
O domínio da mente requer uma separação entre a consciência e a emoção, requer
ação no intelecto, até que a capacidade para uma consciência mental pura seja
desenvolvida. O interesse na vida deve se tornar, de um modo crescente, intelectual e
espiritual - pois o estado espiritual contém a emoção sublimada e controlada. O trabalho, o
estudo e a recreação devem ser intelectualizados e espiritualizados, até que o neófito
aprenda a viver em reflexão, a regrar e a dirigir a sua vida através do intelecto. Como
resultado, sua vida pessoal se tornará refinada, purificada. A austeridade e o ascetismo
caracterizarão a conduta de sua vida; o autodomínio e a dignidade caracterizarão o seu
modo de falar e de se comportar. Mas, mesmo assim, ele permanecerá cordial, amigável e
pronto para ajudar seus companheiros, principalmente em direção ao caminho da vitória
acelerada.
Esses métodos gerais de auto-espiritualização devem ser acompanhados de uma
prática sistemática de exercícios espirituais, designados em parte para fixar o foco de
consciência na mente mais elevada, em parte para fortalecer e manter o controle mental
de conduta e em parte para desenvolver a capacidade para o pensamento abstrato. Mais
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tarde, a consciência intuitiva deve ser desenvolvida na preparação para a obtenção da mais
alta auto-realização: a da vontade espiritual.
Os exercícios necessários consistem no estudo interior das verdades eternas, através
da meditação e da contemplação. Algumas dessas verdades serão apresentadas nos
capítulos deste livro.
Essas e outras verdades aparecem como bases das religiões do mundo, para cujo
estudo o neófito está dirigido. Mente e intuição devem ser usadas no estudo de
ensinamentos exotéricos, de modo que os seus significados esotéricos possam ser
percebidos. A partir desses exercícios, o neófito reunirá uma quantidade significativa de
verdades espirituais, verdades que ele deve organizar metodicamente para convertê-las em
realidades para si mesmo. Ele deve se desenvolver como um "conhecedor" da verdade.
Esse estado é alcançado através da experimentação, sendo que a técnica varia de
individuo para indivíduo. O método de destilação da sabedoria das escrituras de diferentes
religiões consiste em tornar cada afirmação de uma verdade, e deter-se mentalmente
sobre ela, até que seja reduzida a seus elementos essenciais. Esses elementos essenciais
são então considerados em profunda meditação, até que todo o seu significado seja
apreendido e seja descoberta a sua aplicação na vida.
Isso requer um esforço mental, um trabalho da mente para se deter, numa
concentração incessante e infatigável, sobre o assunto escolhido, com o intento de atingir o
seu âmago. O sucesso é possível, porque a verdade está representada dentro da
consciência de cada homem, e o neófito, em virtude da presença nele mesmo da verdade
que está buscando, está apto a percebê-la no tema de sua medi tacão, Pelo estudo das
expressões exteriores da verdade, o neófito é levado à descoberta da verdade dentro de si
mesmo.

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CAPITULO II

Cérebro e Corpo.
Sono: Alimento Puro. Vida Diária Ordenada.
Pureza de Corpo Necessária ao Crescimento Espiritual.
Meditação.
As Glândulas Pineal e Pituitária.

Como o cérebro desempenha uma parte muito importante na percepção da verdade,


durante o estado de consciência desperta o neófito precisa entender tanto o mecanismo
como a evolução do mesmo. As meditações mencionadas no capítulo anterior, se
praticadas com perseverança, mudam gradualmente a condição do cérebro. A atividade
celular e a área de resposta vibratória são aumentadas; há uma aceleração dos átomos (2)
constituintes, ao serem compelidos, pela força do pensamento, a transmitir poder, vida e
inteligência desde os níveis supermentais de consciência.
Todo o cérebro é submetido a um grande esforço com a meditação sobre verdades
espirituais e abstratas, e o neófito, em seu entusiasmo, deve tomar muito cuidado para não
causar-lhe danos. Uma dor leve ou um entorpecimento constituem avisos de que se está
chegando a um ponto perigoso de extenuação, no qual podem ocorrer danos permanentes.
A esses sinais, a meditação deve ser interrompida ou mudar de forma. A forma que
produziu dor deve ser examinada e experimentada com muito cuidado; a ausência de dor
constitui um indício de que um exercício é seguro.
O treinamento do cérebro do neófito espiritual deve se tornar praticamente continuo,
durante o estado de consciência desperta. Se o relaxamento do controle é muito grande, se
há uma descida profunda para o pensamento material e grosseiro, o processo de
aceleração do cérebro não só é retardado, e os esforços de meditação tornados quase
abortivos, como também uma influência é exercida no rumo oposto. O campo de resposta
vibratória é diminuído e a evolução atômica torna-se mais lenta.
O cérebro deve ser visto como um instrumento delicado e muito valioso que, devido a
seu contato com o trabalho mundano, torna-se embrutecido, como uma faca sem corte,
necessitando ser constantemente afiado. Isso é conseguido através da meditação, do
controle de pensamento, da fuga deliberada do tipo de pensamento que diminui a
consciência espiritual, de uma vida calma e ordenada e de uma alimentação correta. Todos
os alimentos feitos com carne sujam a corrente sanguínea e entorpecem o cérebro. Eles
também fazem aumentar a tendência para embrutecer pensamentos e sentimentos. Frutas
frescas e vegetais, particularmente os alimentos crus, purificam o sangue e vitalizam o
corpo e o cérebro.
Os aspirantes ocidentais que se dedicam à prática da meditação com regularidade e
serenidade precisam de uma quantidade adequada de sono. Durante as horas de sono, o
cérebro se recupera depois do esforço das atividades do dia e, assim, torna-se capaz de
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responder mais satisfatoriamente aos resultados da meditação. Portanto, nesse processo
de aceleração, é necessário muito repouso, especialmente nos primeiros estágios e é
aconselhável recolher-se cedo para dormir. Estimulantes, usados para permitir que um
sistema nervoso cansado continue seu trabalho, são prejudiciais; o sistema e a ordem na
vida diária tornam seu uso desnecessário.
As atividades diárias devem ter um propósito e devem ser ordenadas de tal forma que
tenham uma relação direta com a meta da autodescoberta e da auto-iluminação. As ações
que não conduzem a esse fim devem ser eliminadas.
No inicio, o ambiente em que vive o iniciante pode impedi-lo de aceitar essas condições
mas, à medida que ele progride, seu ambiente muda ou se adapta às suas necessidades
espirituais. O processo pode parecer lento, mas ele ocorrerá e na exata proporção da
mudança ocorrida no estudante. O ambiente de um indivíduo contém tudo o que sua
educação evolutiva requer. O homem que está despertando espiritualmente e está
entrando em harmonia com a vida perceberá que seu ambiente está mudando
rapidamente; as condições de vida refletirão, com crescente fidelidade, o estado de
mudança que ocorre em sua consciência.
As instruções concernentes ao cérebro aplicam-se também a todo o corpo. Ele também
deve ser mantido limpo, por fora e por dentro, e seu magnetismo deve ser conservado e
purificado mediante banhos frequentes e regulares, por várias trocas de roupa e uma vida
pura e natural, mesmo que num ambiente impuro e não-natural. As mãos e os pés são as
partes do corpo mais suscetíveis à atração de impurezas exteriores. São como orifícios
magnéticos, pontos de entrada e saída do sistema magnético do corpo. Um fluxo de
magnetismo e de bênção pode ser dirigido pela vontade através das mãos, durante o
contato com as mãos de outra pessoa. Os cumprimentos, apertos de mão dados por um
ocultista, devem ser sinceros e expressos com uma intenção positiva. Sinceridade e
positividade são dois dos maiores salvaguardas na vida oculta.
O cérebro pode ser visto como o macrocosmo e o corpo como o microcosmo, pois em
cada célula do corpo a vida mental é representada, a consciência mental é manifestada e a
energia mental é expressada. Transversalmente, todas as funções, ações e experiências do
corpo são refletidas no cérebro por intermédio dos sentidos. A impureza do corpo, seja por
conduta ou pelo fato de a pessoa ter uma influência retardativa no processo de aceleração
do cérebro, entorpece sua agudeza e vivacidade. Além de sua função como órgão
específico da inteligência, o cérebro é o local da consciência egóica; ele é o logos físico do
sistema solar corporal, e entre esses dois ocorre uma contínua interação. Daí a necessidade
de uma escrupulosa atenção quanto à pureza e ao bem-estar corporal.
As práticas ocultistas, e outras, que forçam o corpo no sentido de condições funcionais
anormais, que supersensibilizam ou insensibilizam órgãos ou membros específicos,
produzem efeitos adversos tanto sobre o corpo como sobre o cérebro. Harmonia, ritmo,
tranquilidade, equilíbrio e graça constituem as qualidades nas quais o neófito deve treinar
seu corpo.
Com o cérebro sensibilizado e o corpo treinado, está aberto o caminho para a descida e
a manifestação física da consciência egóica. A luz da compreensão mais alta começa a
iluminar a escuridão do intelecto individual; o corpo mental começa a superar suas
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características de falta de elasticidade, de análise, de critica e de auto-isolamento, que são
substituídas por uma maior capacidade de compreensão e de receptividade, um
julgamento construtivo e uma unificação.
Essa mudança no corpo mental também é importante para o desenvolvimento do
cérebro, pois as condições de ambos são refletidas em cada um. O cérebro e o centro
intelectual do corpo mental podem ser vistos como o foco gêmeo da elipse da consciência
individual, negativo e positivo respectivamente. As mudanças que ocorrem neste aparecem
instantaneamente naquele; a perfeição de um é cérebro por meio da glândula pineal.
Conforme a intuição se desenvolve, o pensamento concreto é gradualmente relegado ao
subconsciente, juntando-se aí com a emoção e chegando ao cérebro através da glândula
pituitária.
O desenvolvimento da consciência é acompanhado por um desenvolvimento orgânico
paralelo do cérebro, incluindo uma ampliação da faixa de respostas vibratórias de ambas as
glândulas. Suas polaridades positiva e negativa tornam-se acentuadas, devido ao aumento
de suas atividades como receptoras e transmissoras, de modo que se estabelece entre elas
uma interação direta - em termos de eletricidade, um campo magnético. O terceiro
ventrículo do cérebro está incluído nesse campo, completando a constituição de um
mecanismo tripartido para a manifestação do tríplice Eu através do cérebro.
Uma abertura embrionária etérica na fontanela anterior, preenchida no homem
normal com matéria etérica, é gradualmente iluminada pelas radiações dessa "máquina"
craniana. Esse canal, quando aberto, torna possível uma relação nova e direta entre o Eu
superior e o cérebro, como uma passagem mais curta entre a consciência e o veiculo. A
passagem normal é feita através dos veículos mental, emocional, etérico e das glândulas
pituitária e pineal, cada uma servindo como uma estação de revezamento, recebendo,
transmitindo e modificando em graus variados as mensagens. O ego do homem desenvolvido
manifesta-se no cérebro, e através dele, via fontanela e terceiro ventrículo.

2. De acordo com a ciência oculta, os átomos evoluem, sendo sua evolução acelerada como
resultado de seu uso pelo homem. Ver Occult Chemistry, de A. Besant e C. W. Leadbeater;
Um Estudo da Consciência, de A. Besant.

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CAPÍTULO III

As Quatro Tríades; Suas Correspondências.


As Sete Notas; Suas Expressões.
O Templo da Natureza.

A partir das conclusões do capitulo anterior, vê-se que o símbolo do triângulo é


formado por centros instalados no cérebro, com o ápice na fontanela anterior e os ângulos
básicos nas glândulas pituitária e pineal. Esse triângulo é uma reprodução, na matéria física
da cabeça, de três tríades suprafísicas, sendo todas reflexões da tríplice natureza do
Supremo. Essas três tríades são: a primeira, os princípios mental, emocional e vital; a
segunda, a inteligência, a intuição e a vontade; a terceira, os aspectos Criador, Preservador e
Transformador do Supremo refletidos na Mônada humana. Essas três tríades, junto com os
centros principais, fazem ao todo quatro triângulos. Cada ângulo dos quatro triângulos
simboliza e é uma manifestação do mesmo aspecto do Supremo, enquanto existe entre
todos, por correspondência ou por harmonia, uma relação íntima. Assim, o superior
manifesta-se no inferior, o imortal no mortal, a vida através da forma, a consciência através
do veículo.
O cérebro é a porta pela qual a consciência precisa passar de sua expressão mais baixa
para a mais alta. Cada um dos três triângulos suprafísicos é também uma porta, uma
passagem. Portanto, todos devem ser estudados; cada princípio do homem precisa ser
compreendido e suas inter-relações, conhecidas.
Esses princípios diferem no homem normal e no desenvolvido. No homem normal,
apenas o mínimo de poder necessário à preservação da saúde e da eficiência do corpo físico
passa entre as quatro manifestações triádicas do Uno. A medida de poder aumenta com o
grau de evolução do indivíduo, assim como da raça, de modo que a própria normalidade
difere em cada época.
No homem desenvolvido, a medida de poder está muito além da normal e a inter-
relação entre seus princípios é mais íntima e, consequentemente, mais manifesta. No
homem normal, a tríade superior, a monádica, raramente se manifesta; a tríade seguinte, a
egóica, manifesta-se levemente; o homem vive no nível mais baixo e conhece muito pouco
da existência do Eu superior. O homem desenvolvido começa a introduzir a inteligência
abstrata e a intuição em sua consciência desperta e desenvolve gradualmente a vontade
espiritual. O novo campo de evolução que agora se abre para a sua consciência expande-se
e inclui essas três funções e, eventualmente, seus poderes monádicos - os poderes que
constituem os Aspectos do Supremo diretamente refletidos - começam a se mostrar, à
medida que seu cérebro desenvolvido começa a responder à força desses poderes.
A expansão da consciência e o desenvolvimento do cérebro são alcançados pela prática
da meditação, já mencionada, e pela arte da contemplação ou da reflexão abstrata sobre as
verdades superiores da Natureza.
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A contemplação consiste, primeiro, em fixar a mente num aspecto da verdade eterna,
num atributo da divindade. Treinada por exercícios de meditação, a mente do homem
desenvolvido torna-se firme e estável, capaz de se fixar sobre uma única ideia e de excluir
todas as outras. Quando a ideia escolhida é uma das verdades eternas, que são forças
inesgotáveis, a consciência é automaticamente elevada e expandida pelo contato com essa
ideia. A partir daí, cessa o esforço mental; a mente torna-se tranquila. O neófito entra
conscientemente num mundo de uma única ideia, num universo unimotivado; ele toca e
ouve uma única nota no acorde da existência. Ele ouve essa nota, e o ouvir torna-se essa
nota, seu tom e ressonância.
O universo é sétuplo; as notas de seu acorde são sete, sendo que cada nota representa
um modo de manifestação do Supremo e uma verdade eterna. À medida que o estudante
contempla cada uma das sete notas, ele se identifica com uma sétima parte do todo, e nela
dissolve a sua consciência. Então, ele toca as sete notas, ouve cada uma em meditação e
deixa-se absorver por cada nota. Finalmente, através de cada uma dessas notas, ele se
torna o todo, o homem sétuplo, conscientemente unido ao universo sétuplo. Essa é a
finalidade da contemplação.
As sete notas são descritas de modo variado. A primeira e a sétima são o Alfa e o
Omega da vida manifestada: são o primeiro e o último, o centro e a circunferência que
contém o todo. A primeira é a fonte primordial, o ponto, o poder positivo do universo.
Dentro dela está a luz do sol cósmico, focalizado através das lentes da mente extra-
universal. No universo, ela é poder; no Logos, onipotência; no homem, vontade.
Através da contemplação, essas três notas são conhecidas como uma. Na
contemplação, até o ponto pode ser conhecido; a partir e através do ponto, podemos
conhecer a mente extra-universal e a fonte cósmica, pois o que está dentro e o que está
além são um. A realização dessa unidade é a meta.
A sétima nota é a primeira em sua expressão suprema. É força em ação, vontade em
movimento, onipotência que se torna manifesta. O centro relativamente estático torna-se a
esfera ativa, embora centro e esfera sejam um. Dentro do universo, o sétimo é físico,
material, é o Sol, os planetas e todas as coisas que se expandem sobre eles. No Logos, ele é
o universo. No homem, é o corpo físico. Na manifestação, o Uno Espiritual torna-se
multiplicidade material. Porque o conhecimento de muitos leva ao conhecimento do Uno, o
homem é colocado entre as diversas expressões do Uno, e através delas poderá encontrar e
conhecer somente o Uno. Do Uno ele segue adiante, inconsciente de qualquer coisa exceto
do Uno, em direção aos muitos. Dos muitos ele retorna autoconscientemente para o Uno.
A segunda e a sexta notas, que representam respectivamente a Vida e sua expressão,
também formam um par. A Vida abrange tudo, é onipresente, é o princípio unificador do
universo; o Sol Espiritual. Sua expressão é localizada como o princípio vital da matéria, o
princípio vitalizador da Natureza, o Sol físico. No universo, a segunda nota é Vida; no Logos,
é onipresença; no homem, é amor; no homem desenvolvido ou espiritual, é sabedoria.
No universo, a sexta nota é forma, configuração, matéria organizada. No Logos, é o Seu
"corpo" do universo com seu coração de fogo - o Sol - cujo princípio doador de vida aparece
como fogo rosado e, na Terra, como um átomo incandescente de luz rósea. No homem, ela
é objetividade; no homem desenvolvido, devoção inspirada.
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A terceira e a quinta notas também representam atributos complementares. A terceira
é a interação entre espírito e matéria, entre vida e forma; os princípios que governam a
manifestação do espírito e da vida através da matéria e das formas; os arquétipos de todas
as formas resultantes; a Verdade e as chaves do conhecimento: tudo isso é conotado pela
terceira nota.
No universo, a terceira nota é a energia dirigida pela mente universal, sendo a energia
a sua expressão exterior e a mente universal a sua expressão interior. No Logos, ela é o
princípio passivo feminino, o útero no qual todas as formas são concebidas e do qual tudo
advém. No homem, é consciência e idealismo, moralidade e verdade; no homem
desenvolvido, aparece como compreensão e Inteligência abstrata.
A quinta nota é a expressão temporal do que é eterno, a forma que se desenvolve
progressivamente de um único arquétipo. No universo, ela é o processo evolutivo, o
crescimento. No Logos, é o Tempo. No homem, é o cérebro e a inteligência analítica; no
homem desenvolvido, torna-se como uma lente de cristal, através da qual os princípios da
terceira nota são projetados como raios e reunidos por ela no cérebro como iluminação,
genialidade, inspiração.
A quarta nota é a unidade intermediária, o pivô, o fulcro, o ponto estável de repouso, o
ponto mais baixo no oscilar do pêndulo da vida entre os três pares primordiais de opostos.
É o estado de relação perfeita, de equilíbrio, da mais alta arte de auto-expressão, de
harmonia entre vida e forma, entre veículo e consciência. É o ponto de repouso no qual o
pêndulo da vida manifestada faz uma pausa aparente em seu eterno oscilar entre o espírito
e a matéria. Nessa "pausa momentânea" de estabilidade suprema, de equilíbrio perfeito, é
revelada a beleza do Supremo.
No universo, ela é a beleza da Natureza. No Logos, é a Beleza do Eu. Na homem, ela se
torna o amor pelo belo; no homem desenvolvido, é a faculdade de perceber e retratar a
beleza do Supremo.
O caráter essencial da quarta nota é a escuridão, a serenidade, o equilíbrio, como uma
noite criativa antes da alvorada criativa. A germinação física, mental ou espiritual requer a
cobertura do manto da escuridão. Assim também, na produção de uma obra de arte, o
artista recolhe sua consciência da luz do dia para a escuridão da noite criativa dentro dele
mesmo, para a quietude equilibrada, onde sua criação é concebida. O artista criador, em
qualquer ramo, deve atingir um equilíbrio. Essa é a lei da criação, seja do universo, do
sistema solar, do planeta, do homem ou da obra de arte humana.
Nessa serenidade, atinge-se a verdadeira visão ou percepção, sem a qual toda arte é
sem vida. Só quando o artista encontra essa serenidade e a penetra é que o fogo da
genialidade desce sobre ele, em toda a sua força pentecostal.
Verdadeiramente sábio é aquele que, pela contemplação, conhece e compreende esse
universo sétuplo - as sete grandes notas, separadas ou como um acorde. Ele as conhece
como as sete chaves da vida que abrem todas as portas para a Verdade - Verdade que é
conservada como relíquia dentro do templo da Natureza.
O homem está no meio do caminho entre a criação bruta e a vontade criativa; ele é um
embaixador do Criador nos reinos subumanos da Natureza. A missão do homem é elevar as
formas mais baixas até o seu próprio nível. O que está oculto no templo da Natureza é
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revelado no homem; os sétuplos atributos da Natureza devem alcançar o seu mais alto
desenvolvimento no homem. Este deve anunciar Sua majestade e poder, Sua unidade, Sua
mente oculta, Sua beleza e estabilidade, Seu saber secreto, Seu impulso irresistível para a
autoperfeição e Sua resposta, através da forma, para o poder do Eu interior. Suas
qualidades devem se tornar as dele, numa perfeição sempre crescente, pois este é o
caminho da evolução, caminho ao longo do qual Ela o está conduzindo.

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CAPÍTULO IV

Vida e Forma.
A Estrada Ascendente.
Irmãos Mais Velhos e Mais Novos.

Desde que na Natureza a forma é subordinada à vida, assim também deve ser no
homem. Ele deve viver buscando dentro de si mesmo a realização da vida em vez da
perpetuação da forma.
A forma é a serva da vida, embora, no mundo onde o aspirante vive, a vida tenha se
tornado subordinada à forma. Contudo, a vida é a grande conquistadora; e a forma, por
mais forte que seja, deverá ser destruída no final. A destruição traz tristeza para os que
depositaram sua confiança apenas na forma. Mas para aquele que aprendeu a confiar na
vida, a tristeza é estranha, pois ele encontrou o segredo da felicidade. Unido à vida e
confiando nela, ele compartilha sua liberdade e conhece a própria bem-aventurança. A dor
pertence à forma; o sofrimento é inevitável para os que se acham sob o seu domínio - pois,
sendo transitória, a forma inevitavelmente deve desaparecer; sendo mortal, deve perecer
um dia. A vida é eterna, imortal; os que nela depositam a sua confiança vencerão a morte e
conquistarão a bem-aventurança eterna.
Na verdade, a vida e a forma não são oponentes; são dois aspectos do 'Uno, de onde
ambas procedem. Através da experiência e da compreensão de ambas, o homem encontra
seu caminho para o Uno. Essa realização é a meta da vida humana.
A vida e a forma são os dois pilares do portão que leva à morada do Uno Supremo.
Entre ambos, ligando-os, está o Caminho, que deve ser visto concretamente como uma
estrada ao longo da qual todos os pés devem passar. Até mesmo os deuses mais altos - as
Sete Inteligências Superiores nas quais as sete notas ou modos estão perfeitamente
manifestadas - trilharam essa estrada. Mesmo o Uno Supremo conheceu suas alegrias e
misérias há muito, muito tempo, em universos agora transformados em poeira.
Bestas-feras, selvagens, homens civilizados e cultos, gênios, profetas, santos, juntam-se
na estrada que conduz à vida eterna, aproximando-se do portão da liberação dos opostos,
que é a meta. Além do portão, na morada do Supremo, habitam "os homens justos e
perfeitos", os Adeptos, os Reis Espirituais. Esses Seres poderosos também podem ser
encontrados na estrada, após terem retornado voluntariamente ao aprisionamento da vida,
de modo a 'ajudar', curar, guiar e inspirar os homens que lutam e se esforçam, Seus irmãos
mais novos.
Embora caminhem entre a multidão que avança lentamente, raramente eles são vistos
pelos homens, pois os olhos humanos, acostumados às diferenças e divisões dos modos de
manifestação do Uno, estão cegos para a luz Daqueles que habitam na unidade. Todavia, os
Grandes são percebidos pelos que começaram a reconhecer a unidade em meio à
diversidade, a vida dentro da forma e a viver de acordo com essa visão. Os Perfeitos sempre
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zelam por aqueles em quem essa visão desperta, aqueles que estão se empenhando para
trilhar o Caminho e, consequentemente, estão prontos para receber a Sua ajuda.
Na época atual, são muitos os homens inclinados à espiritual idade que, tornando-se
servos de suas raças, aproximam-nas dos Irmãos mais Velhos. Nesta época, o véu entre o
mundo exterior da forma e o mundo interior da vida está se tornando mais fino. Homens e
mulheres iluminados começam a romper esse véu e a ingressar no mundo da vida. Os
Perfeitos observam essas incursões, abençoam e inspiram seus irmãos mais novos, à
medida que se aproximam do reino interior no qual habitam.
O privilégio da confraternidade com os Homens Perfeitos sempre pôde ser atingido
pelos que são capazes de perceber a unidade de tudo o que vive, a verdade da Irmandade
Universal e, percebendo-o, vivem suas vidas de acordo com essa verdade.
A todos os que buscam a companhia Deles, que aspiram servir à humanidade sob Eles,
os Irmãos mais Velhos dizem: "Levantem-se! Despertem! E tornem-se os Deuses que vocês
são! Vivam como Deuses, puros, abnegados e fortes.
"O Deus, que no mundo real são vocês, brilha com uma pureza imaculada, irradia um
amor altruísta e começa a manifestar essa força que é promessa de onipotência.”
"Em meio à impureza do mundo, sejam puros; em meio ao egoísmo da humanidade,
sejam servidores; em meio à fraqueza do homem, sejam fortes.”
"Vivendo dessa forma, vocês encontrarão o portão da Vida Eterna. Servindo, acharão
Aqueles que vivem para servir. Sendo fortes, receberão a força Daqueles que se tornaram
Pilares do templo do Deus onipotente.”
"Quer dormindo, quer despertos, Nosso poder fluirá através de vocês para servir o
mundo. Em Nosso Nome e por Nosso Poder vocês se tornarão curadores do mundo,
consoladores de suas tristezas e inspiradores dos que são capazes de serem sensíveis ao
ideal da vida perfeita e à presença dos Homens Perfeitos.”
"Seu mundo é a sua messe; sua espécie são os seus feixes. Cabe a vocês juntá-los para
que o Divino Agricultor que semeou, possa colher em Si mesmo, não homens, mas Deuses.”
"Vivam de tal modo que todos os que virem suas vidas possam aspirar a imitá-los.
Sirvam de tal modo que aqueles que virem os seus serviços possam por sua vez servir. Sejam
fortes, de modo que aqueles que virem a sua força possam transformar o fracasso em
vitória.”
"Essas são as Nossas regras de vida. A obediência a elas trá-los-á para perto de Nós.
Um irmão mais Velho espera cada um de vocês, para transformá-los em Salvadores do
Mundo."

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CAPÍTULO V

O Caminho da Liberdade.
A Condição de Mestre.

O mundo é uma prisão; o coração do homem, uma cela na qual sua alma está
confinada. Através das grades da janela dos sentidos, a alma olha para o pátio da prisão,
buscando um modo de escapar. Para muitos, a hora da liberdade ainda não chegou, pois as
grades precisam ser quebradas, as portas destrancadas, e ainda há guardiães carrancudos
que obstruem o caminho. Desejo, paixão, sensualidade, astúcia, ganância, presunção,
egoísmo, ódio e orgulho - esses são os poderes que aprisionam. Na verdade, eles são
guardiães severos, cuja existência depende do aprisionamento da alma. Por isso, resistem
vigorosamente à destruição. Lutar contra eles aumenta-lhes a força, pois a atenção que lhes
é dada pela alma aprisionada é a fonte de sua vitalidade.
A maneira de escapar não é através do conflito com esses guardas. O caminho para a
liberdade não é para fora, passando-se pelos portões da prisão criados pela submissão às
falhas e vícios do eu inferior. O caminho se afasta do conflito exterior e leva para a paz
interior. O prisioneiro deve escapar para dentro. Deve parar de olhar para fora, através das
grades da janela dos sentidos, para o pátio onde existem apenas obstáculos à sua liberdade;
deve parar de lutar diretamente contra seus vícios. Em vez disso, deve afastar para longe
deles o pensamento e concentrar-se em suas virtudes e poderes. Assim, encontrará o
caminho dentro de si mesmo, passará para um nível mais alto de consciência, tornando-se,
dessa maneira, milagrosamente livre.
Esse caminho é encontrado e trilhado pela prática do domínio de si mesmo, pela
pureza de vida, pela aspiração, pelo idealismo e pelo sacrifício de si mesmo. Na presença da
pureza, o desejo morre. O amor puro destrói a paixão, vence o mal e liberta aqueles nos
quais tenha surgido. Este é o caminho de saída da prisão do mundo material, da tortura da
tentação, da escravização da sensualidade e do aprisionamento do ódio e da cobiça.
Esse caminho está aberto a todos; todas as almas livres o têm trilhado. Ele é chamado
de Caminho do Fio da Navalha, o Caminho da Santidade, o Caminho Reto e Estreito, e
"poucos são os que o encontram". Quase dois mil anos se passaram desde que essas
palavras foram pronunciadas. Durante esse período, a humanidade progrediu. Agora,
muitos percebem o caminho da saída, mas ainda são muitos os que, voluntariamente ou
por força do hábito, continuam aprisionados, submetendo-se à dominação do desejo. Esses
são os cegos que não verão, errando muito mais do que as almas jovens que ainda não
despertaram para o chamado da liberdade.
Embora, atualmente, o descontentamento divino seja sentido por muitas almas, seu
significado e importância ainda não foram compreendidos. O homem confunde essa ânsia
inexprimível de seu interior com prazer sensual, com satisfação física, e procura curar esse
sofrimento corrosivo mergulhando mais profundamente no abuso e no desregramento. Ele
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não a reconhece como o sinal de que está superando os prazeres que antes o escravizaram,
os brinquedos da infância de sua alma.
A adolescência espiritual foi atingida e exige mudanças radicais e positivas. O amor à
boa-vida deve dar lugar a um ascetismo sábio, e a sensualidade deve dar lugar à
austeridade. Motivos egoístas devem ser substituídos por altruísmo e o egoísmo por
filantropia. Assim, é encontrado e trilhado o caminho que leva à maturidade espiritual.
Ao longo desse caminho passaram os Homens Perfeitos que são os Diretores espirituais
do mundo, os verdadeiros Instrutores da raça humana. Eles são perfeitos na vontade, no
amor, no conhecimento, manifestações perfeitas que são desses três atributos do
Supremo.

20
CAPÍTULO VI

A Vontade do Mestre.- Seu Amor.


Seu Conhecimento. - Seu Trabalho.

O poder irresistível da vontade de um Mestre surge da mais recôndita profundeza de


Seu ser, do próprio centro de Sua existência, onde Ele é uma coisa só com a Vontade
Suprema, com o Poder abrangente do universo. Esse poder fundamental, imanente, é
energia em repouso; é a alma da força; não a força em si mesma, mas aquilo pelo qual toda
força existe; um princípio básico, dentro do qual está contido todo o poder manifestado e
fluente. Suas qualidades são a quietude, a sombra, o silêncio. Ela é a base sobre a qual os
mundos materiais estão construídos, o supremo e final agente estabilizador do universo, a
única fonte inesgotável de poder. Unido a ela, o Adepto torna-se vontade encarnada.
Essa mesma fonte existe em cada homem; ela pode ser encontrada através da
meditação. Aquele que encontra e trilha o caminho para a liberdade deve meditar sobre
essa fonte de poder e de força dentro de si mesmo. Contemplando-a, descobrirá poder e
força, não como uma fortuna pessoal, mas como produtores da Fonte universal do poder.
Então, nascerá nele a Vontade, a energia-mestra, o poder-chave de ambos: do universo e
do homem.
O esplendor do amor de um Mestre baseia-se no fato da unidade da vida. É
independente de tempo, não é afetado pelo espaço, nem limitado pela forma. É a
expressão de um princípio eterno, um atributo fundamental da natureza da existência. É
unidade expressa com perfeição.
Esse amor é sem esforço, imutável, embora sempre se aprofunde e cresça. Não é dado
pessoalmente, nem recebido pessoalmente; ele é. Ele flui continuamente da natureza mais
íntima do Mestre, como uma bênção divina sobre tudo o que vive. Esse amor não pede
retorno, que é algo estranho à sua natureza. A luz do Sol não volta para o Sol; o rio não volta
à sua fonte. O coração do Mestre é como um Sol, uma fonte, uma nascente de amor
eterno. É um rio de amor que flui da fonte interior para o oceano da vida manifestada.
Sua afeição evoca no devoto o mesmo amor eterno, ligando esse amante à fonte de vida
e amor e liberando assim, através dele, um fluxo contínuo.
O Mestre é um com a Vida; não é alguém que dá a Vida, pois isso indicaria dualidade.
Ele é a Vida, e cada ato Seu é uma expressão perfeita e natural dessa identidade. Quase se
pode dizer que o Mestre não tem existência própria, que Ele deixou de existir como um ego
e é um núcleo da célula universal, um próton do átomo cósmico. Ele é idêntico à Vida,
essencial à Vida, um princípio em manifestação e não um indivíduo. Portanto, Ele mostra os
atributos da Vida com perfeita espontaneidade. O Amor é a Sua natureza, o Seu instinto, a
Sua essência. Ele é amor e manifesta todo o amor.
A afirmação de que "Deus é Amor" é literalmente verdadeira, pois o amor é a
manifestação da unidade. A unidade é um princípio eterno, uma verdade fundamental e
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essencial. O princípio de unidade manifestado através da inteligência universal torna-se
amor universal. A unidade manifestada através da mente humana é a base do verdadeiro
amor humano. A unidade é uma verdade espiritual e não material, pois, em termos de
matéria, a unidade tornou-se diversidade, seu oposto por reflexo. O amor espiritual
repousa na unidade espiritual e não na união material.
A história da evolução humana pode ser descrita em termos de amor. O homem passa
do estado animal e selvagem de união material e desejo para o estado relativamente
civilizado, no qual a mente ingressa na experiência de amor. Nesse estágio, a necessidade
de união física ainda existe. Além desse estado é que a primeira iluminação espiritual
começa a se manifestar na consciência pessoal, e um amor mais profundo e elevado é
percebido, mas não totalmente expresso. A necessidade de união física diminui, mas a
necessidade de companheirismo permanece. Mais além; situa-se o estado de puro amor
espiritual, baseado no reconhecimento da unidade, no amor pela Vida em si.
Esse estágio final de perfeição do amor é alcançado depois de uma completa
reconciliação com a vida. O indivíduo se torna uma incorporação do princípio de unidade,
ama todas as coisas a partir de dentro delas e vivencia a união espiritual com elas,
continuamente. Isso produz um êxtase espiritual, durante o qual o indivíduo fica
totalmente puro e impessoal; não há necessidade de contato nem de companheirismo, mas
de solidão, para que a existência seja completa.
Essa é a natureza do amor do Mestre: uma condição, não uma ação; um estado de
consciência, não um ato: a contínua experiência de um êxtase ininterrupto, que aumenta
de intensidade enquanto os séculos passam e o estado de absoluta unidade, além do
tempo e do espaço, é alcançado. Nesse estado reside o Logos do Sistema, pois assim é o
amor de Deus, o Segundo Aspecto do Supremo, o Amor Absoluto.
O conhecimento universal do Mestre não é de forma alguma possuído
individualmente. A individualidade tornou-se para Ele uma película tão fina, tão tênue que
permite uma comunhão livre com a Individualidade do universo, tão elástica que inclui o
todo. Nem o conhecimento nem o veículo mental do pensamento são possuídos por Ele,
pois para Ele existe apenas Um Conhecimento, Uma Mente Maior, dos quais Ele participa,
sabendo que Ele próprio é uma parte desse Conhecimento, dessa Mente Maior.
Todo o conhecimento está à Sua disposição por causa de Sua auto-unificação mental
com tudo o que existe. As realizações espirituais e as aquisições ocultas de todos os seres
que se encontram no mesmo nível ou abaixo de Seu nível são totalmente Suas, em virtude
dessa unidade. O conhecimento maior e mais profundo Daqueles que se encontram além
Dele na evolução, também à Sua disposição, na medida em que Ele pode elevar-se ao
estado de consciência Deles, é reproduzir em Si a sintonia mais sutil· e refinada dos
mesmos em relação à Mente Universal.
Pode-se dizer que essa Inteligência Maior consiste em, ou contém níveis de
conhecimento, níveis mais profundos introduzidos pelas mentes individuais, conforme
prossegue a evolução. Quanto mais alto o estágio de evolução do indivíduo, mais profunda
a compreensão.
O conhecimento do Adepto inclui os princípios sobre os quais está fundado o universo
com todos os seus fenômenos variados, assim como as verdades básicas que proporcionam
22
a chave de todo conhecimento. O uso da chave certa revela de imediato o conhecimento
requerido e torna disponível, quase que instantaneamente, a compreensão de qualquer
aspecto da vida universal, seja ela diminuta como·a do átomo, a da célula, a dos infusórios,
ou extensa e ampla, como a dos planetas e a do Sol.
Assim, o Adepto possui a chave do conhecimento completo de cada ramo da ciência e,
nesse sentido, é onisciente. Não que Ele possua todo o conhecimento, todos os fatos em
Sua consciência; mas esse conhecimento lhe é instantaneamente disponível, quer esteja
temporariamente contido na mente de um homem, como uma nova descoberta da ciência,
um novo princípio em política ou arte; quer esteja na Mente maior, na qual todo o
conhecimento, passado, presente e futuro está contido.
As chaves do conhecimento podem ser vistas como equações matemáticas
fundamentais, expressões da lei natural, afirmações abstratas de princípios geométricos
sobre os quais o universo está estabelecido, tais como a relação do diâmetro com a
circunferência do círculo. Na verdade, essas equações não são meramente matemáticas,
algébricas ou fórmulas; elas são equações da vida e são verdadeiras para cada estágio de
crescimento, aplicando-se igualmente à semente, a toda planta, ao fruto, à célula
embrionária e ao organismo como um todo. Trata-se de expressões da verdade eterna,
situando-se, portanto, além de toda mudança, apesar de abrangê-las, revelando não
apenas o princípio, a maturidade e a finalidade, mas a totalidade.
Junto com a posse das chaves e com o poder de usá-las está a realização da
onipresença do Adepto. Isso implica na Sua habilidade para focalizar a atenção em
diferentes partes do sistema solar, à vontade. Assim, Ele está apto a fazer observações
diretas concernentes a qualquer assunto para o qual se requeira um conhecimento
detalhado. Depois, ao atingir a unidade, Ele fica literalmente unido à Fonte da existência e à
vida em todas as coisas, tornando-se também apto a completar o conhecimento adquirido
a partir da observação externa através da compreensão revelada a partir do interior.
O conhecimento do Mestre, portanto, é completo, incluindo a compreensão de todos
os fenômenos externos e a percepção dos processos ocultos da vida, as fontes do
crescimento. Ele é o Mestre Cientista, o exemplo de todos os que buscam a verdade. O que
Ele conseguiu realizar será realizado pelo cientista do futuro pois, embora o progresso dos
maiores cientistas de hoje seja grande, no entanto, eles apenas arranham a superfície da
física e da astronomia, da química e da biologia, da fisiologia e da psicologia, da verdade
como é conhecida pelo Adepto.
O Adepto compartilha Sua realização com todas as coisas vivas da terra, colocando Seu
poder, Seu amor e Seu conhecimento à disposição de todos. Seu trabalho consiste, em
parte, em traduzir o universal para o particular; consiste em trazer o Poder, a Sabedoria e o
Conhecimento do Supremo a uma crescente relação intima com os reinos da Natureza
abaixo Dele no que toca à evolução.
Em termos de energia, cada Adepto é um transformador de força livre e seu distribuidor
para o mundo em determinadas situações. Esse trabalho é feito em níveis de consciência
além da mente. Cada um dos três tipos de energia divina, manifestada como força,
sabedoria e conhecimento, tem seu nível apropriado de consciência, na qual ela é
contatada em seu estado puro, suprindo daí os mundos inferiores.
23
CAPÍTULO VII

A Natureza da Condição de Adepto.

O Adepto vive autoconscientemente num estado de atemporalidade. Ele é


incondicionado e, portanto, livre. Por sua escolha, Ele pode mergulhar no relativo
esquecimento da eternidade, deixando para trás o tempo e as coisas temporais.
Renunciando ao universo no qual Sua liberdade foi conquistada, Ele pode reentrar
conscientemente no incondicionado de onde veio inconscientemente.
Embora o homem perfeito seja livre para escolher tal curso, Sua compaixão pelo
mundo é tão grande, Sua união com tudo o que vive é tão íntima que, no limiar da
eternidade, com a bem-aventurança inimaginável ao seu alcance, Ele se abstém de entrar.
Renunciando aos frutos da vitória, Ele, que aprendeu a viver na eternidade
voluntariamente, submete-se ao aprisionamento do tempo. Ele sabe que com essa
renúncia, compartilhando a prisão da humanidade, mesmo conhecendo o caminho de
saída, Ele é capaz de levar todos os seres para mais perto de suas metas. No Seu
nascimento espiritual, Ele renunciou a todos os poderes e riquezas; agora, na véspera de
Seu nascimento na eternidade, Ele renuncia à Sua entrada imediata na vida eterna.
O Adepto que assim renuncia voluntariamente, partilha dos sofrimentos do mundo e os
alivia. Ele permanece para irradiar luz na escuridão dos mundos do tempo; para despertar
as almas adormecidas dos homens; para dar as boas-vindas aos neófitos espirituais
despertados e para guiá-los no caminho da paz eterna.
Agora que está além do sofrimento, Ele pode aliviá-lo; agora que está além da doença,
Ele pode curá-la; agora que está além da ignorância, Ele pode dissipá-la; agora que está
além do karma (3) pessoal, Ele pode partilhar o karma dos outros e, assim, tornar mais leve
o seu peso. Agora que está além da necessidade de ação, Ele se engaja na atividade de uma
forma impessoal, como um agente autoconsciente da Vontade do Supremo. Ele permanece
condicionado por Sua própria escolha, renunciando à liberdade do estado incondicionado.
Ele é o embrião da vida eterna no corpo da humanidade presa no tempo. E, assim, toma o
Seu lugar, entre os Seus Irmãos emancipados, na Ordem dos Guardiães do Globo.
O fato de o Adepto estar encarnado ou desencarnado depende da natureza de Seu
trabalho. Se for necessário um contato frequente com a Terra e seus habitantes, Ele
manterá um corpo perfeito, escondido em retiro. Se Seu trabalho for extraplanetário ou
especialmente relacionado com as Tríades (4) espirituais, os Princípios imortais que formam
a base de todas as coisas vivas, então Ele não usará um corpo físico, mas um veículo
suprafísico criado especialmente. Com a morte controlada, com a necessidade de
renascimento superada, uma vez alcançado o equilíbrio perfeito, sem karmas, Ele está livre
para viver e trabalhar com ou sem incorporação física.
Caso use um corpo físico, sua forma expressa a Sua estatura espiritual na perfeição.
Perfeito em força, beleza e eficiência, sua encarnação não reduzirá, de forma alguma, Sua
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atividade suprafísica. O corpo é assumido voluntariamente; voluntariamente, ele pode ser
deixado de lado.
O espaço não O limita mais, nem o tempo O aprisiona. Em Seus veículos mais sutis, Ele
está livre para se mover à vontade por todos os campos solares. Vivendo nesse período
pelo qual o tempo se liga à eternidade e, tendo transcendido a ação da lei de causa e efeito,
Sua vida diária está livre de tensão ou de ansiedade. Seu veículo físico, por conseguinte, é
bem pouco marcado pela passagem dos séculos.
O Adepto precisa comer e dormir bem menos do que o homem normal. Seu
conhecimento acerca das leis e princípios que governam a manifestação da vida na forma,
Sua completa compreensão acerca da tríplice expressão da vida através da forma -
absorção, assimilação e descarga, nascimento, maturidade e declínio - torna-O capaz de
manter, por longos períodos, uma perfeita maturidade corporal.
Embora possa realizar diversas tarefas diárias, pessoais ou pertinentes à Irmandade de
Adeptos da qual é Membro, Sua consciência não é, por isso, limitada. Ele está ao mesmo
tempo atento e consciente por todo o quíntuplo Universo, desde o plano físico até o
nirvânico.(5) Assim, Ele reside continuamente no poder nirvânico, que é onipotência, na
bem -aventurança búdica.(6) que é onipresença, e na união mental com A Mente, que é
onisciência. Esses atributos do Supremo são por Ele manifestados mais perfeitamente
através da conduta física, do sentimento e do pensamento, respectivamente, pois nele as
tríades mais elevadas e mais baixas são uma só, como estão representadas simbolicamente
pelos triângulos entrelaçados.
Tal é, em parte, o Adepto; de tais Adeptos é formado o Governo Interno do Mundo
que, por conseguinte, é Onipotente, Onissapiente e Onisciente.

(3). Os resultados da operação da lei de causa e efeito.


(4). Ver A Mônada, de C. W. Leadbeater (Ed. Pensamento); Um estudo sobre a
Consciência, de A. Besant.
(5). O Espiritual. Ver Nirvana, de G. S. Arundale.
(6). O plano da Consciência de Cristo, fonte de sabedoria e intuição.

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CAPÍTULO VIII

A Grande Irmandade Branca.


Seu Sétuplo Trabalho.
O Caminho Para os Mestres.
Sua Vida e Atividade Diárias.

Os tríplices poderes inerentes a toda a criação atingem um alto grau de expressão


autoconsciente no Adepto e através dele. Mais perfeita e mais poderosa ainda é essa
expressão na, e através da, Natureza Una da Grande Irmandade Branca da qual o Adepto é
parte. Em essência, esse grupo é uma unidade, o embrião espiritual de todo o corpo da
humanidade. Nessa gloriosa companhia dos Adeptos, os tríplices atributos se manifestam
através de sete permutações.
Essa Hierarquia Oculta, como o universo e o homem, constitui um setenato. Cada um
dos sete aspectos opera diretamente sobre um nível apropriado de consciência, desde o
mais elevado plano espiritual até o plano físico. Cada um desses aspectos também é
expresso por meio de um tipo de atividade correspondente a uma das sete correntes de
força - os sete Raios - que fluem da Fonte do Poder central, da Vida e da Luz. Mas, mesmo
assim, toda a Irmandade é una, como expressão da Vontade, da Sabedoria e da Inteligência
Unas.
Quando a Mônada (7) humana desce sobre a humanidade física, um grupo subumano
de consciência precede a auto-consciência humana. A inteligência encarnada nos reinos
mineral, vegetal e animal não é individual, mas coletiva. No mundo mineral ocorrem
agrupamentos, cada um dos quais é uma consciência quase individual, na qual muitos tipos
de metais e pedras preciosas são combinados de acordo com suas qualidades. O
agrupamento não está ligado ao local geográfico, pois a encarnação física de um grupo de
consciência pode ocorrer em partes do globo bem distantes entre si.
No reino vegetal, as divisões se tornam mais claramente demarcadas, e ainda mais no
reino animal, de onde está mais próximo o estágio da verdadeira individualidade. Por
associação com a humanidade, os animais domésticos superam o sistema grupal e atingem
a individualidade humana ou o ego. (8) Cada ego humano é uma manifestação de uma
"porção" individualizada da Consciência Espiritual Maior do universo; é um microcosmo
com existência própria.
No reino humano, essa existência própria é levada lentamente à perfeição, até que o
homem se torna um Adepto. Então, Ele entrega seu ego separado, retornando
voluntariamente à consciência grupal. Entretanto, essa entrega não implica na perda da
individualidade pois, paradoxalmente, a fusão com o todo intensifica a existência da parte.
O Adepto é, ao mesmo tempo, Um sozinho e O Sozinho. Ele está unido com toda a vida,
com toda a forma, com o rio e o oceano, com as margens e as praias, com a fonte, com a
meta, mas ainda assim Ele permanece. O adepto é a apoteose da consciência grupal e
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individual.
Da mesma forma, embora cada Adepto em cada planeta seja individual, a Irmandade
de Adeptos constitui uma consciência. A unidade planetária Adepta é uma manifestação da
unidade maior, que é a Irmandade de Adeptos do sistema solar refletida
microcosmicamente na Irmandade terrestre. Na Terra, a Grande Irmandade Branca
também é iluminada por um Sol, o maior de todos os seus Adeptos, Fonte de Poder, de
Vida e Luz, no que diz respeito a Seu grupo ou unidade de existência e atividade. Dentro do
corpo da Irmandade, existem Adeptos de vários graus, assim como no sistema solar existem
planetas em vários estágios de evolução e a diferentes distâncias do Sol.
Cada um dos sete estados de consciência está refletido na Irmandade, não apenas em
cada Adepto individual e através de cada Adepto individual, que entra e domina cada
estado, mas em toda a grande Companhia, através de suas sete divisões e departamentos
de atividade. Cada departamento é presidido por um Adepto, que é o Senhor do tipo de
consciência e Diretor de sua manifestação.
Assim, a Irmandade inclui Senhores da Vontade ou do poder, Agentes diretos da
Vontade. Espiritual do universo, que se manifesta predominantemente através do Supremo
Regente da vida planetária, o REI espiritual. Os Senhores do Poder despertam a Vontade
espiritual dentro de cada forma e combinando e modificando tipos nos quatro reinos,
ajudam a Natureza a produzir a forma perfeita.
Os Senhores da Intuição despertam a sabedoria ou a consciência intuitiva em todas as
coisas vivas e aperfeiçoam sua expressão no homem mediante a aceleração espiritual e
pela inculcação de ideais éticos e espirituais. Essa função atinge sua apoteose no Grande
Instrutor Mundial que, em épocas sucessivas, aparece entre os homens como um Salvador
do Mundo e Fundador de religiões mundiais.
Os Senhores do Intelecto despertam a mente sintética e abstrata no homem,
preparando-a como um cálice (9) para receber o Vinho da Vida Una do Supremo. A medida
que essa preciosa bebida é recebida, o poder de percepção intuitiva é despertado e
desenvolvido. As linhas que fluem para cima, e que formam o cálice, simbolizam a
aspiração da alma e a unificação de todos os aspectos da consciência pessoal, enquanto a
taça propriamente dita representa o produto da fusão desses aspectos. Meditação,
adoração, aspiração, essas são as forças pelas quais o cálice é elevado, simbolizando a
natureza humana oferecida ao Divino.
A resposta é infalível e, gradualmente, mesmo hoje em dia, o cálice do intelecto
humano está sendo preenchido com o Vinho da Vida e, em consequência, o novo poder de
percepção interior, conhecido como intuição, está se desenvolvendo. Externamente, os
Senhores do Intelecto auxiliam no desenvolvimento da mente sintética e inspiram o
homem para um desenvolvimento cultural, para a fraternidade e a paz.
Os Senhores da Beleza ajudam a construir, entre o intelecto e abstrato, a ponte que
liga o homem mortal, material, individual e racialmente, com o imortal Eu Espiritual. O
homem da quinta Raça (10) deve cruzar essa ponte por sua Vontade, em plena consciência,
e aprender a atuar na mente abstrata, sintética.
Dessa forma, os Senhores da Beleza auxiliam a manifestação do espiritual através do
material, combinando os dois. Eles alimentam na alma do homem toda aspiração à beleza,
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inspiram o artista e o artesão, para que a vida humana e a civilização possam se tornar cada
vez mais belas.
Os Senhores da Mente Concreta despertam e expandem a mente do homem,
inspirando o pesquisador a descobrir novos fatos e princípios na ciência e ajudando o
inventor na aplicação dessas descobertas para o avanço da civilização. O cientista, inspirado
pelos Senhores do Conhecimento, é o moldador do pensamento da humanidade nessa
época; em cooperação com o artista, ele será o construtor de civilizações futuras.
Os Senhores do Idealismo acendem e cuidam do fogo do entusiasmo no coração do
reformador. Eles mantêm viva a chama mística, o anseio do devoto por união. Através da
visão e da iluminação, Eles levam o santo à vidência e o vidente à união com Deus.
Os Senhores da Ação preservam, através dos tempos, o poder, a sabedoria, a beleza, o
conhecimento e o idealismo dos Mistérios Antigos: preparam um dia para fazer voltar seus
rituais ao mundo, como representações dramáticas, expressões simbólicas e alegóricas da
verdade eterna. Eles unem a vontade espiritual mais elevada ao seu veículo mais denso, o
corpo físico, e inspiram sua expressão em atividade ordenada, em precisão e graça. Eles
conduzem a humanidade rumo ao desenvolvimento de uma ordem política e social
perfeita.
Cada um dos Senhores da sétupla manifestação do Supremo opera, assim, por meio de
uma atividade interior e de uma atividade exterior. Cada um estimula a vida e também
molda a forma; desperta a consciência e ajuda em sua manifestação. Portanto, a Grande
Irmandade Branca desempenha um papel duplo: está unida com a consciência em cada
forma, auxiliando em seu desdobramento pela inspiração interior, e também molda e em
beleza a própria forma, através de uma ajuda de fora. Desde os primórdios da humanidade,
nos distantes dias dos Lêmures, a Grande Irmandade Branca tem servido ao Divino na
Natureza e no homem. Assim ela continuará a servir por milhares de séculos, até que, no
final dos dias deste mundo, seu trabalho esteja completo.
À humanidade não é negado o privilégio de uma participação consciente em algumas
das múltiplas atividades da Irmandade de Adeptos. Todos os verdadeiros servidores da raça
são co-servidores com Eles, mesmo que não tenham consciência dessa colaboração.
O caminho está, mais do que nunca, aberto para a comunhão com eles - um caminho
que cada homem pode descobrir e trilhar, se quiser. É mais fácil encontrar esse caminho
compartilhando-se o trabalho Deles: servindo como Eles servem, renunciando a si mesmo e
ao egoísmo como Eles têm feito e vivendo para a realização da Vontade como Eles têm
vivido eternamente.
Assim, o homem pode se aproximar dos Mestres; assim, uma pessoa pode chegar aos
pés de seu Mestre.
Na Presença do Mestre, o neófito encontra a ideação de toda a humanidade, o Homem
Perfeito. Na perfeição do Adepto ele percebe os atributos dos sete Senhores, enquanto que
através deles brilharão as qualidades especiais de seu próprio temperamento, cuja posse
aproximará o Mestre do neófito.
Assim, se o Mestre é um Senhor do Amor, o amor divino se encarnará Nele; a
Compaixão divina habitará Nele e será revelada em cada olhar, em cada palavra, em cada
feito. Todavia, sendo um Homem Perfeito, Ele também é um Senhor da Vontade, capaz de
28
tornar manifesta a onipotência divina. Ele é também o mestre filósofo, o cientista, o artista,
o idealista. Mas, como é o Senhor do Amor, esses outros poderes serão iluminados por essa
qualidade especial.
Da mesma forma, um Senhor da Vontade é força personificada; é coragem, dignidade,
majestade. Ao mesmo tempo, os outros atributos - Amor, Compreensão, Beleza,
Conhecimento, Idealismo e Atividade Ordenada - atingem sua mais alta expressão Nele.
A consciência do Adepto habita nos domínios Nirvânicos, onde não existem tempo ou
espaço. Desse ponto elevado, como se fosse do alto de um farol, o Adepto, continuamente,
irradia sua luz sobre o mundo, para guiar Seus irmãos mais novos através do mar
tempestuoso da vida. Essa luz brilha de forma incessante, e seu brilho aumenta com o
passar dos séculos.
O Adepto está assim ativamente engajado em todos os sete planos da consciência,
iluminando e servindo em cada um e liberando o Seu poder onde é mais necessário. Ele é
visitado fisicamente em Seu retiro apenas por alguns escolhidos, que O veem como um
homem culto e espiritual, de grande beleza de rosto e de formas, com uma conduta como a
de Cristo, um porte majestoso e suprema dignidade.
Os Adeptos habitam em fortalezas nas montanhas ou escondem Suas casas dos olhos
humanos por meio de poderes ocultos. Alguns Deles vivem nas cordilheiras do Himalaia.
Outros se abrigam no Monte Líbano, nos picos da Transilvânia e nas Montanhas Nilgiri.
Embora os membros da Grande Irmandade Branca estejam separados fisicamente, em
consciência Eles são Um e agem sempre como uma unidade, em perfeita coordenação e
precisão.
O neófito que se aproxima da casa de um Adepto pode encontrá-Lo ocupado em
alguma atividade física: na Sua correspondência, na administração de Seus negócios
materiais, lendo em Sua biblioteca, falando para grupos de alunos, comendo, dormindo, ou
talvez tocando algum instrumento musical. Ou, ainda, viajando, talvez a cavalo, visitando
outros Adeptos. Ele pode ser encontrado em sono profundo, aparentemente, sentado em
Seu quarto ou em algum canto isolado de Seu jardim, com a consciência livre e distante em
outras partes da Terra, talvez participando de conferências da Irmandade ou realizando as
tarefas suprafísicas de Seu posto dentro da Hierarquia Oculta.
As atividades do Adepto são realizadas com perfeita graça e tranquilidade, com um
mínimo de esforço e máxima eficiência. Tudo o que ele faz é executado com perfeição. A
atenção para com a vida física de forma alguma diminui ou perturba a Sua consciência
supra-física e espiritual, pois Seu corpo físico requer um mínimo de atenção e controle,
treinado como é para uma obediência perfeita e automática.
Tais são, em parte, os Adeptos vivos; tal é, em parte, a natureza de Suas atividades
individuais e coordenadas.
O poder de alcançar esse estado de perfeição espiritual, que é onipotência,
onipresença e onisciência, está dentro de cada homem; como germe, essas faculdades
existem em todos. Elas são as realidades inerentes ao Eu imortal.
Durante a infância espiritual do homem, em comunidades selvagens e semicivilizadas,
ele é normalmente inconsciente da existência de qualidades inatas dentro de si próprio. Na
infância espiritual do homem civilizado, os tríplices poderes começam a se manifestar em
29
sua vida diária. Um senso moral se desenvolve, o dever é reconhecido - pelo menos como
um ideal se não ainda como uma prática - e a voz da consciência começa a ser ouvida. No
período da adolescência espiritual, a luz da beleza, da unidade e da fraternidade começa a
manifestar-se na consciência humana. O homem percebe e admira nos outros as
qualidades de idealismo e de altruísmo, e gradualmente as adota como princípios
orientadores de sua vida.
Nesse estágio, a atenção do Instrutor está dirigida para o individuo que desperta
espiritualmente. Esse Instrutor faz frutificar seus atributos espirituais latentes e inspira-o a
praticá-los na vida. O neófito, geralmente inconsciente dessa assistência, experimenta uma
ampliação de suas simpatias, um aprofundamento de sua cultura. O amor universal
desperta nele, tornando-o inspirado para expressá-lo a serviço dos homens. Gradual, sutil e
quase inconscientemente, motivos pessoais e egoístas dão lugar ao ideal de bem-estar do
mundo, até que, finalmente, servir torna-se a nota predominante de sua vida.
Então, o neófito encontra o "Caminho" e está pronto para se tornar um aprendiz do
Mestre e, mais tarde, um membro das fileiras exteriores da Grande Irmandade Branca.

(7). A unidade espiritual. A centelha divina. O "eu metafísico".


(8). Ver Um estudo da Consciência, de A. Besant.
(9). Misticamente, o corpo causal, veículo da inteligência abstrata, é o Santo Graal. Todos os
Adeptos, especialmente esses Senhores, são Cavalheiros do Graal. Montsalvat é a
consciência mais elevada, na qual Eles habitam.
(10). Os Arianos, com todas as suas ramificações.

30
CAPÍTULO IX

A Vida do Aluno.
Sua Aceitação e Seu Trabalho.
Ocultismo Para o Homem Ocidental.
Negócios, Arte e Educação.

O ingresso até a presença do Instrutor geralmente ocorre durante o sono do corpo


físico. A alma, assim livre, é atraída por afinidade espiritual até a presença do Instrutor.
Então ela se defronta com esse Irmão mais Velho, que a tem observado e esperado até esse
momento, que tem amado essa alma peregrina. Respondendo ao chamado do Mestre para
servir ao Seu lado, ajoelhando-se humildemente diante d’Ele, o aluno recebe a bênção
Daquele que não é apenas o Instrutor perfeito, mas também o perfeito Sacerdote. Ele é
então avisado acerca das provações que virão, aconselhado a respeito da moldagem do seu
caráter e instruído sobre as possibilidades espirituais que surgem dessa primeira
experiência.
Despertando do sono, mesmo que não se lembre dessa ocorrência, ele se torna
consciente de uma nova alegria e de uma nova força em sua vida. Colegas mais experientes
o reconhecerão e, se necessário, um sênior o informará fisicamente do acontecimento
interior e de seu significado. A partir de então, mesmo vivendo no mundo exterior, ele não
lhe pertence mais inteiramente. Os mundos interiores e a vida interior reclamam cada vez
mais seu interesse e atenção.
Agora a influência do Mestre age continuamente sobre ele, tornando espiritualmente
mais vivas muitas pessoas do mundo exterior, com as quais ele entra em contato. À medida
que essa influência age através dele, ela desperta suas próprias potencialidades espirituais
e cria canais mais amplos para o fluxo do poder espiritual.
Muitas provações assaltam o neófito, pois ele precisa ser testado no fogo da vida. Seus
atributos superiores e inferiores se manifestam com força crescente; os superiores, aos
quais ele pode servir eficientemente; os inferiores, que, ao serem encarados e subjugados,
podem purificá-lo. Desde que o fluxo de poder do Mestre estimula tanto as boas quanto as
más qualidades, é necessário que as faltas sejam reduzidas ao mínimo, antes que o Mestre
resolva submeter o aluno a semelhante pressão. A menos que a alma seja forte e pura, o
homem pode fracassar e seu progresso pode ser adiado por muitas vidas.
O sucesso em conquistar a natureza inferior ocorre mais cedo ou mais tarde,
dependendo da força da alma e do progresso feito em vidas passadas. Então ele é chamado
novamente à presença do Mestre, que o observou e guiou durante o período de sua
provação. Se o caráter mais baixo perdeu todo o poder de amarrar e prender o mais alto, se
o eu deu lugar ao serviço, o egoísmo ao amor, se a sensualidade foi substituída pela pureza,
o desejo pela vontade, então o Mestre atrai a alma assim purificada para o Seu próprio
coração perfeito e puro, absorvendo-a temporariamente em união com o Seu Ser mais
31
íntimo.
Nessa união mais elevada e profunda, os que eram dois tornam-se um. O aluno emerge
de tal experiência temporariamente transfigurado. O Adepto que ele em breve pode se
tornar, brilha nele profeticamente. A perfeição espiritual de seu Mestre brilha através dele,
enquanto que as qualidades e características espirituais do discípulo são descobertas e
reveladas pelo Mestre.
União abençoada, amizade íntima, amor profundo, bem-aventurança extraordinária,
tudo isso "o aceito" conhece nessa experiência, quando para ele não há tempo, nem
espaço, nem separação, e ele está unido com a Própria Vida e sabe que Ela é perpétua,
abrangente e indivisível.
A partir de então, o discípulo aceito empenha-se por manter continuamente, dentro de
sua consciência desperta, a experiência de união com o Mestre. Ele aprende a viver cada
vez mais no centro de sua existência do que em sua circunferência. Descobre que a
realização espiritual não pode ser sustentada quando a atenção está sempre concentrada
em coisas mundanas. Os acontecimentos externos da vida, as atividades incansáveis e
inconstantes dos homens representam o oposto da calma interior e do equilíbrio do eterno
a que o discípulo agora aspira atingir. Em consequência, o aluno deve afastar-se
constantemente do temporal, deve formar o hábito de resistir às suas atrações e de reduzir
seu contato com ele ao mínimo necessário para servir ao mundo. A menos que faça isso,
ele será constantemente distraído, sua mente continuará em incessante atividade e ele não
será capaz de manter, com firmeza, sua atenção concentrada nas realidades da vida
interior. Embora deva abstrair-se do transitório e afirmar sua identidade com o eterno, isso
não deve interferir com sua eficiência no mundo exterior, nem reduzi-la. Agora, ele terá de
aprender a viver de dentro para fora, terá de aprender a aperfeiçoar a arte de estar neste
mundo sem pertencer a ele.
O moderno ocultismo ocidental difere nesse aspecto da antiga Yoga oriental. A
possibilidade de um retiro físico é quase impossível no Ocidente e a vida oculta deve ser
vivida em meio às distrações e tentações do mundo exterior. Isso só pode ser feito, com
sucesso, adquirindo-se o hábito de desapego ao ambiente físico, formando-se uma atitude
mental inerente de auto-identificação crescente com as realidades do mundo interior.
Impossibilitado de retirar-se para uma caverna ou cela, o neófito deve ver o mundo como o
seu ashrem (11) e aprender a levar a vida de eremita mentalmente, espiritualmente,
mesmo enquanto habita e trabalha entre os homens.
Nos tempos atuais, o mundo precisa muito da presença e da influência de homens e
mulheres com inclinações espirituais. A tendência para o egoísmo e o materialismo ainda é
forte e, embora talvez tenhamos atingido o nível mais baixo, são muito poucas as pessoas
que estão trilhando conscientemente o caminho ascendente. Esses poucos são necessários
como uma influência estimuladora e, por conseguinte, precisam viver entre os homens.
O aluno deve, então, ver-se como um centro de força espiritual, uma célula
germinativa no corpo da humanidade. Deve mostrar atitudes espirituais em toda a sua vida,
e o motivo altruísta e espiritual de suas ações; deve inculcar um comportamento
semelhante onde quer que seja possível, entre seus associados. Deve ser um agente ativo e
positivo, sempre atento para perceber e não perder as oportunidades quando surgem.
32
Depois, deve procurar aqueles que pelo contato pessoal podem ser conduzidos para a vida
espiritual. Mesmo assim, deve trabalhar de forma impessoal e esforçar-se por deixar a
marca da espiritualidade em tudo o que faz.
A vida oculta não é um sonho, nem uma questão de rotina de meditação. Ela consiste
na contínua aplicação de poder e influência em direção à fraternidade, à filantropia, ao
altruísmo, ao autocontrole e à pureza. De fato, trata-se de uma vida de incessante trabalho.
Mesmo a recreação deve ter um bom propósito, já que o aluno faz um uso contínuo e
positivo de seus poderes espirituais. Quando, por exemplo, ele vai a um concerto, a um
teatro ou a uma reunião social, um poder espiritual fluente pode ser irradiado para
multidões de pessoas, revigorando e despertando seus eus superiores. A vida das pessoas
pode ser mudada pelo contato pessoal com um aluno, enquanto que ele mesmo tornar-se-
á um centro cada vez mais potente de poder espiritual, enquanto vive sua vida de aluno.
Os pensamentos do aluno ocidental devem ser guardados em segredo,
constantemente, já que afetam a consciência de seu Mestre. Isso é especialmente
importante para os homens de negócios, pois sua ocupação exige concentração em
assuntos materiais. Os que não ficam tão preocupados têm uma tarefa ainda mais difícil
pois, exigindo-se menos concentração na vida diária, suas mentes ficam mais suscetíveis às
correntes de pensamento à sua volta e tendem a refletir em suas consciências a atmosfera
de pensamento vulgar e às vezes desagradável de seu meio ambiente. Daí a necessidade da
prática constante do controle do pensamento.
O aluno deve ter apenas um interesse desapegado pelos pequenos negócios do
mundo. O conhecimento dos acontecimentos diários é útil para que ele possa ajudar onde
for necessário, mas ele não deve deixar-se absorver por completo. A parte maior de sua
consciência deve estar fixada no Mestre, no seu trabalho pelo mundo, em seus ideais
espirituais e na tarefa de desenvolvimento do caráter. Ele deve tornar-se capaz de uma
concentração inabalável, protegendo continuamente sua consciência da intrusão de
pensamentos impuros e mundanos. Sua mente deve tornar-se um santuário no templo de
sua personalidade, e assim ele deve mantê-la.
A atividade comercial, devidamente usada, é um excelente treinamento para o
ocultista. O aluno que está metido no mundo dos negócios deve visar à maior eficiência e
precisão em todo o seu trabalho. Para o seu sucesso, a vida espiritual exige tanto a exatidão
mental quando a destreza física. A loja e o escritório constituem os locais ideais de
treinamento onde essas qualidades podem ser desenvolvidas.
As artes oferecem igualmente oportunidades valiosas. O aluno-artista deve procurar
manter regularidade e ordem na vida e no trabalho. O assim chamado "temperamento" de
artista, com o qual muitas vezes são indulgentes os que não aceitaram definitivamente o
ideal do Caminho, deve ser severamente refreado pelo aluno. Ele deve manter-se superior
aos humores e caprichos e procurar tornar-se uma perfeita encarnação do Grande Artista
do universo, que está trabalhando continuamente. O controle mental e moral pode ser
mais difícil para o artista, mas não há desculpas para que o aluno do Mestre relaxe nesse
sentido. Não apenas sua vida deve ser imaculada, sua mente ordenada e prática, mas ele
deve se colocar entre seus colegas artistas como um exemplo de vida pura e de completa
devoção aos mais elevados ideais de sua arte.
33
A espiritualidade na arte é uma das grandes necessidades dos tempos atuais. Uma
ciência espiritualizada já está surgindo e deve ser complementada por uma arte
espiritualizada. A vida em contato com a Natureza, as verdades espirituais e abstratas, as
experiências no plano da consciência, uma visão interior e uma contínua atração por tudo o
que é elevado na humanidade devem encontrar expressão na arte de hoje e de amanhã. O
aluno artista está magnificamente equipado para essa expressão, já que é possuidor de
uma fonte ilimitada de inspiração sempre disponível. O contato com a consciência do
Mestre, fortalecido continuamente pela meditação e pelo trabalho feito em Seu nome,
desperta o fogo do gênio no aluno e abre os canais para a sua expressão através do cérebro
e do corpo.
O aluno que é educador tem esplêndidas oportunidades pois, através de sua relação
com o Mestre, todas as suas responsabilidades e encargos são levados para um contato
direto com Ele. Uma contínua introspecção, mesmo enquanto envolvido pelos detalhes do
trabalho, constitui o fator mais importante para capacitar o professor a ligar sua escola e
seus escolares com a Grande Irmandade Branca. Esta grande Corporação tem seu
departamento educacional, cujos Membros procuram inspirar todas as instituições
educacionais com um idealismo espiritual. Nesse trabalho, o professor-aluno pode
representar um papel importante e efetivo. Adquirindo o hábito de afastar-se mentalmente
da rotina da vida acadêmica e abrindo sua consciência para a consciência de seu Mestre e
da Hierarquia, ele é inspirado a exercer sua influência em determinadas direções. Através
dos canais abertos de sua consciência, a vida do Mestre e da Irmandade flui para a escola e
os escolares.
Em sua vida diária, esse aluno deve colocar-se claramente como um modelo de
educador voltado para o espiritual, como um idealista prático entre seus colegas
professores e como um padrão de vida puro, saudável e viril para os escolares. Ele também
deve procurar entre seus alunos aqueles que têm alguma ligação com a Irmandade e fazer
amizade com eles, para que, mais tarde, eles também possam ser inspirados e ajudados a
trilhar o Caminho. Atualmente, muitos seres deste tipo estão encarnando, e é um dever do
professor-aluno guiá-los na busca pelo Mestre, para o qual mais tarde serão impelidos por
suas experiências passadas.
Do mesmo modo, todos os alunos do Mestre, em qualquer emprego, devem cuidar dos
que demonstram alguma possibilidade de juntar-se a eles e devem ver a si próprios como
os ceifeiros da Irmandade.

(11). Ashram: no Oriente, a cela, caverna, ou lugar de habitação de um santo, eremita ou


Adepto.

34
CAPÍTULO X

Discipulado.
A Vida Mística e Oculta do Discípulo
A Visão do Todo.

O discipulado diz respeito, principalmente, à evolução do ego. Ele marca o início de um


novo ciclo, que atinge seu ponto mais baixo na primeira grande Iniciação, quando ocorre
um novo nascimento espiritual. O intervalo entre a entrada no Caminho probatório e a
primeira Iniciação corresponde ao período de gestação que precede o nascimento físico. No
período de experiência, o Mestre vivifica a "célula" búdica germinal no corpo causal (12)
ligando-a ao veículo búdico (13) que, por sua vez, é suficientemente despertado para
responder à influência do Buda universal. Essa influência flui, ou melhor, brota no veículo
búdico, apressando-lhe a evolução. Ela também vivifica a "célula" ou estrela búdica no
corpo causal, abrindo desse modo o ego para a consciência búdica. O ego, por sua vez,
tenta expressar os resultados desses processos na personalidade, através da qual ele
adquire um maior enriquecimento das experiências educativas da vida pessoal, agora
vividas com intensidade e vivacidade crescentes.
O desenvolvimento e a expressão em atividade da consciência búdica devem, portanto,
ser a nota predominante da vida do discípulo. Ele deve tentar alcançar uma realização cada
vez mais vívida da Vida divina dentro de todas as formas, da unidade ou unicidade dessa
Vida e de sua própria identidade com a mesma. Essa realização se expressa a si mesma
através da mente como intuição, através das emoções como expansão da capacidade para
o amor e a amizade e, fisicamente, como impessoalidade. Desde que a Vida é una,
limitações e expressões pessoais dessa Vida são de pequena importância. Como quase
todas as dificuldades da vida humana surgem da atitude pessoal, a impessoalidade é vista
com crescente clareza como o grande meio de superá-las.
O ego do discípulo torna-se então um centro de crescimento, uma síntese do
desdobramento búdico superior e do desenvolvimento pessoal inferior resultante da
experiência. O corpo causal é como um útero no qual o ser búdico embrionário ou Iniciado
se desenvolve. O novo nascimento depende, em grande parte, da existência de harmonia
entre superior e inferior, entre ideal e conduta, entre visão e ação. O discípulo deve se
esforçar para viver seus ideais, pois, se fracassar, ou o nascimento da "criança" búdica será
adiado, ou seu desenvolvimento ex utero será maculado por imperfeições.
O discípulo deve se esforçar para unificar os aspectos de sua consciência e para manter
a integridade desde o nível búdico até o físico. Ação, sentimento, pensamento, realização e
inspiração devem combinar-se harmoniosamente, formando uma unidade quíntupla, um
todo sintético, capaz de uma ação coordenada. É importante atingir a consciência egóica no
cérebro, e o discípulo deve trabalhar para obter a faculdade de pensar e de agir cada vez
mais como um ego e cada vez menos como uma personalidade. Somente depois de ter-se
35
estabelecido firmemente na consciência egóica é que ele pode esperar atingir a auto-
realização búdica.
Além de Buda está Atma (14) que, por sua vez, deve ser penetrado para que o veículo
átmico seja desenvolvido. Esse é o trabalho do Iniciado no novo ciclo que se abre depois da
primeira Iniciação. (15) O veículo búdico torna-se agora o útero no qual o embrião átmico
se desenvolve e do qual ele "nascerá" mais tarde. Além de Atma está Anupadaka (16) e,
mais além, Ádi; eles se tornam sucessivamente matriz, embrião e ser recém-nascido. A cada
nascimento, a morada da consciência é elevada um estágio e o Adepto aprende a funcionar
conscientemente nesses níveis, de acordo com as novas Iniciações.
Essa é a montanha espiritual em cujo sopé o aluno conquista o seu caminho. Se for
bem-sucedido, e isso depende inteiramente dele, subirá gradualmente até o cume. Seus
Irmãos mais Velhos o inspirarão, guiarão, fortalecerão, mas o esforço real da escalada é só
dele. O Mestre é como um companheiro de viagem que, tendo ido na frente, oferece os
resultados de Sua experiência para os que vêm depois.
Esse oferecimento dos resultados da experiência não é um processo inteiramente
externo. O Mestre atingiu uma união totalmente consciente com a Vida dentro de cada
forma; por conseguinte, sabe que ele é um só com a Vida no aluno. Através da união e da
auto-identificação de Sua consciência mais ampla com a do aluno, Ele é capaz de ajudá-lo a
partir de dentro, permitindo que o aluno compartilhe de Sua consciência e realizações e as
use na medida de sua capacidade.
O relacionamento entre Mestre e aluno é, portanto, dual: consiste numa união e
comunhão interior e numa inspiração e orientação exterior, e mesmo numa moldagem da
personalidade. Esse padrão é contínuo desde o momento de provação, e o aluno, através da
meditação, deve levar a realização disso para sua consciência desperta. Primeiramente, para
que possa experimentar a exaltação e inspiração da união com a consciência do Mestre, e,
em segundo lugar, para que possa expressar mais efetivamente o resultado disso em sua
vida diária.
A inspiração externa do Mestre e o uso do aluno como um canal é também um
processo dual. Um fluxo contínuo da vida do Mestre em termos de influência búdica -
compaixão e amor - é estabelecido no aluno, na medida em que ele está consciente de sua
união com o Mestre e vive em Sua presença. Oportunamente, o Mestre dirige externamente
Seu poder, inspiração e bênção, através do ego e da personalidade do aluno, para o mundo
de fora. O aluno perfeito é aquele que é capaz de um máximo de resposta a essas
influências e no qual a resistência a esse processo dual é reduzida ao mínimo.
Mais tarde, ocorre o auto-estabelecimento gradual do aluno no perpétuo e penetrante
Poder Átmico que é Nirvana, processo que só se completa depois da condição de Adepto.
Para ajudar nisso, o Mestre compartilha Sua própria vida nirvânica na medida em que o
aluno pode penetrá-la. Assim fazendo, Ele harmoniza mais intimamente o ego com a
Mônada, a centelha divina eterna. Depois disso, o aluno medita a partir do centro egóico,
elevando-se continuamente para a Mônada, buscando a união com ela.
Durante essa fase de desenvolvimento, a consciência superior do Mestre serve como
matriz para a do Seu discípulo aceito. Assim como, na vida física pré-natal, a proteção do
útero da mãe e de seus corpos sutis ajudam o ego a entrar e, gradualmente, a tornar-se
36
consciente em seus veículos de crescimento, assim também o Mestre é como um pai ou
mãe espiritual, em cuja consciência e influência a Mônada entra e torna-se consciente nos
corpos búdico e causal em desenvolvimento. Assim, incluindo o aluno em Sua consciência
pela aceitação, o Mestre fecunda o germe de todas as qualidades espirituais, e torna-se
possível a experiência da consciência monádica.
O estágio de aceitação é, portanto, de grande importância na evolução do individuo. A
ocorrência da união de toda a vida e de toda a consciência torna-o também de grande
importância para a raça, pois aquele que trilha o Caminho não está separado de seus
companheiros, mas sim, numa auto-identificação mais próxima com eles. Toda experiência
espiritual dos que estão no Caminho reflete-se em cada ser humano, em diferentes níveis,
de acordo com o poder de resposta de cada um. A cada expansão e iluminação, uma luz
brilha por todo o mundo egóico, iluminando cada ego, como a luz do Sol da manhã sobre o
pico das montanhas.
A maioria dos egos humanos, embora despertos por dentro, ainda não atingiu a
autoconsciência egóica. Suas respostas a essas influências vivificadoras são ainda pouco
definidas; a consecução de autoconsciência egóica surge a seu tempo.
A cada passo no Caminho, o neófito torna-se egoicamente mais poderoso, brilha com
mais luminosidade nos planos superiores e desenvolve um poder maior de estimulação.
Com mais força, poder, luz e amor, o Adepto brilha sobre todas as coisas vivas, humanas,
subumanas e angelicais. O serviço prestado a Seus alunos é um ato no tempo. O serviço
que presta à Vida é perpétuo; nasce de Sua contínua ajuda a tudo o que vive.
Uma vez que todo o ser do aluno foi consagrado ao serviço do mundo e a seu Mestre,
Sua consciência torna-se a base a partir da qual todo o trabalho é feito. O aluno vive e
trabalha na onipresença do Mestre, que pode ser comparado ao Sol, rodeado pelos
planetas dos discípulos, que são mantidos em suas órbitas por Seu poder. O Mestre,
Doador da Vida, da Luz e do Poder; os discípulos, manifestações imperfeitas da mesma
triplicidade, desenvolvendo-se rapidamente sob Sua influência rumo a essa perfeição que
Ele atingiu. O Mestre como o Logos Solar; os discípulos, como o logos planetário; o todo
prenunciando o sistema solar, que o Mestre presidirá com a colaboração de todos, quando
atingir a estatura do Deus Solar.
Como, sob tais condições, o neófito desenvolve seus poderes ocultos e espirituais, a
necessidade da presença e assistência do Mestre em Seu ashram diminui. Mas, mesmo
assim, frequentemente, o Mestre convida Seu discípulo para Sua presença corporal. O
visitante assim privilegiado experimenta uma intensificação de todos os seus poderes,
particularmente o de sua vontade de se realizar. Nesse momento, a sintonia entre Mestre e
discípulo é perfeita, pois os corpos sutis do discípulo estão dentro da aura do Mestre.
Ocorre uma fusão espiritual, uma união das duas individualidades e, na medida do possível,
o aluno pode tornar-se temporariamente um Adepto. Sua consciência espiritual se expande
até limites extremos, sua aura se amplia, faísca, cintila, brilha por um momento, à
semelhança da aura do Mestre. Nessa Intima comunhão e harmonia mútuas, o discípulo
sente que todo o seu ser se expande e experimenta uma intensa felicidade, como se sua
alma estivesse cantando alegremente.
Bem em seu Intimo, reina uma profunda calma, um silêncio total, como do
37
imanifestado. Na presença do Mestre, o discípulo descobre a estabilidade imutável, o
equilíbrio imperturbável, no qual reside seu Eu superior. Ele conhece, mesmo que por um
instante, o Deus microcósmico transcendente que "subsiste" depois que um fragmento de
Si mesmo - como Mônada - permeia o espaço - ego e personalidade - para tornar-se dessa
maneira o Deus Imanente. (17)
Essa expansão da consciência, a felicidade profunda e a calma interior, que muitas
vezes persistem por vários dias depois dessa experiência, constituem para o discípulo sinais
seguros de um evento que pode não ser lembrado em detalhes no estado desperto. A
memória do Mestre, trazida para a consciência desperta, em geral não tem forma, sendo
traduzida como a visão de uma luz brilhante e radiosa como a de um sol espiritual. Na
verdade, por trás dessa lembrança, há o conhecimento de Sua aparência, de Sua
personalidade, da perfeita compreensão que ele tem acerca de cada aspecto da natureza
do discípulo. O sentimento de amizade completa e perfeita é recebido, juntamente com
uma profunda reverência, que é sentida pelo aluno aceito. A experiência mais notável,
contudo, é de luz, de felicidade, de inspiração, de novas ideias e conceitos a respeito de seu
trabalho, de força e de capacidade para resolver todos os problemas, dominar as fraquezas
e de determinação renovada para progredir, tão rapidamente quanto possível, até a
semelhança com o Mestre.
Parte do treinamento do discípulo consiste na abertura de sua consciência mental para
essas experiências através da meditação; consiste no desenvolvimento do poder de lembrar
acuradamente as palavras do Mestre e de interpretar sinceramente Suas sugestões;
consiste no estabelecimento e funcionamento da máquina de inspiração e genialidade, de
modo que possa incorporá-las à sua personalidade.
Nesse estágio, a luz dourada de Buda (18) permeia as experiências do discípulo nos
mundos superiores. Um sentido de onipresença e um poder de autoprojeção em
pensamento para lugares distantes começam a se desenvolver. O próprio Mestre é visto
como a apoteose da consciência búdica, como um Ser resplandecente de luz dourada.
Animado por essa visão, o discípulo expande sua própria consciência, numa tentativa de
compartilhar da realização de união de Seu Mestre com a Vida, de Sua onipresença, de
fundir-se como Ele se funde na Vida toda do sistema solar. Para ele, essa Vida se parece
com um líquido dourado de fogo, que está presente em toda parte e flui por todos os
mundos. Apesar da difusão universal dessa Vida, ela parece correr por canais
determinados, que se assemelham, de alguma forma, ao sistema circulatório das artérias e
veias do corpo humano. Artérias, veias e diminutos vasos capilares transmitem a Vida de
Deus, através de todo o universo material e além dele. Essa rede viva e resplandecente da
Vida Una parece consistir em miniaturas de centros ou sóis, movendo-se tão rapidamente
que produzem o efeito de correntes contínuas. Cada partícula de vida é realmente um sol,
uma parte, mas também o todo, um centro da Vida Una e também essa Vida em toda a sua
totalidade.
Em algum lugar, entre essa miríade de sóis, existe um sol maior, um sol
multidimensional, um sol que inclui todos os sóis, invisível, porém conhecido, o Coração
dos sóis pequenos. Devido a esse fato, a experiência principal é de unidade com uma
essência penetrante, indescritível e além da capacidade da consciência do discípulo. Cada
38
tentativa de compreender essa experiência, na meditação, aproxima o discípulo do Mestre,
que é visto gloriosamente transfigurado no dourado Mar da Vida, unido à Vida em cada
forma, como perfeita manifestação da Divindade onipresente.

(12). A brilhante Augoeide, o corpo imortal do ego do homem no nível da mente


abstrata; o terceiro aspecto do lagos microcósmico.
(13). O corpo da Consciência de Cristo no homem, a fonte de intuição. O segundo
aspecto.
(14). O primeiro aspecto, a vontade espiritual, o ápice do triângulo espiritual, que é uma
reprodução, no homem, dos Três Aspectos da Trindade do Logos.
(15). Ver Os Mestres e a Senda, de C. W. Leadbeater.
(16). Os dois planos mais altos da Natureza.
(17). Cf. Bhagavãd Gitá: "Tendo penetrado nesse universo com um fragmento de Mim
mesmo, permaneço."
(18). No nível causal, as cores do espectro resumem-se, no búdico, principalmente a
um branco-dourado, e no átmico, apenas ao branco - assim fomos informados.

39
CAPÍTULO XI

Perfeição Imperfeita.
O Trabalho do Discípulo.
A Necessidade de Pureza.
Amor Universal.

Os fatos essenciais concernentes à condição de Adepto referem-se menos à perfeição


corporal e pessoal do que ao completo desdobramento da consciência. Toda perfeição é
necessariamente relativa. O corpo e a personalidade exterior, mesmo os do mais elevado
Adepto, embora perfeitos do ponto de vista humano, ainda contêm imperfeições. Isso é
inerente à matéria de que os corpos são feitos e à consciência geral da humanidade nos
níveis mental e emocional. A personalidade do Adepto é ainda condicionada pelo estágio
da evolução do planeta no qual Ele vive. Embora isso seja paradoxal, a qualidade de
perfeição também passa por uma evolução, de modo que, devido à evolução geral do
planeta, o Adepto de hoje é mais "perfeito" do que o Adepto de milhares de anos atrás.
A consciência do Adepto, contudo, sendo extraplanetária, é menos condicionada pela
matéria do planeta do que Seus veículos pessoais. O Adepto está conscientemente unido
com a Inteligência Maior do sistema solar e é, por isso, relativamente livre das limitações de
qualquer planeta. A medida que ele prossegue Sua evolução, Ele entra em união com a Vida
do sistema solar e, eventualmente, com o seu Poder. Unida à Trindade Solar, a consciência
está praticamente livre de limitações individuais. Ao mesmo tempo, a expressão dessa
consciência expandida, através de uma personalidade num planeta, é limitada e torna-se
imperfeita pelas condições existentes nesse planeta, pelo grau de desenvolvimento da
matéria e da consciência planetárias.
O discípulo deve dirigir mais especialmente os seus pensamentos para a consciência do
Mestre mais do que para a Sua personalidade. Unindo-se a essa consciência, ele
compartilha o mais possível da união do Mestre com a Inteligência Maior, com a Vida e
Poder do sistema solar. Ele deve meditar mais sobre a Consciência Una do Supremo do que
sobre qualquer Adepto e crescerá em amor e veneação por Seu Mestre, passando assim da
consciência pessoal para a egóica e da egóica para a universal.
Quando o aluno estava sendo provado, formou-se um elo entre ele e o Mestre,
garantia da possibilidade de comunhão. Com a aceitação, as consciências de ambos se
combinaram e, no estágio de Aprendizado.(19) uma unidade interior extremamente íntima
foi atingida. Embora totalmente consciente disso como um ego, no início, o aluno está
vagamente ciente disso em seu cérebro. Parte de seu trabalho como aluno consiste em
trazer para a consciência mental o conhecimento desse relacionamento e em desenvolver o
poder de penetrar na consciência do Mestre.
Consegue-se isso através da meditação diária e de um modo especial de vida. A
meditação consiste em dirigir a consciência, com o poder total da vontade, em direção ao
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Mestre, com a Intenção de tornar-se um com Ele e, através Dele, com a consciência
universal. O método variará de acordo com o temperamento e caráter do aluno. Em alguns,
a "vontade de vencer" predominará; em outros, o amor e a compaixão; outros ainda usarão
o pensamento e a razão; outros, a veneração e o culto, cada aluno encontrando por si
mesmo seu próprio caminho rumo à consciência do Mestre.
O Mestre, por Sua vez, fica imediatamente ciente dessa meditação assim orientada e
responde aos pensamentos do aluno, inspira-o e orienta-lhe os esforços. O Mestre
raramente fala com o aluno durante a meditação, mas inunda o ego e, através dele, a
personalidade, com poder, luz e bem-aventurança.
Aos poucos, o aluno rompe as limitações de seu cérebro e de seu temperamento,
limitações que impedem essa relação egóica de tornar-se fisicamente consciente de sua
parte, e descobre que é capaz de entrar em contato com a consciência do Mestre, a
qualquer momento. Com isso, estabelece-se uma comunhão de meditação diária entre
Mestre e aluno.
Negligenciando-se essa prática diária ou esse exercício de meditação mais regulares, a
personalidade do aluno permanece divorciada do ego no que respeita à consciência; ele
não sente contato com o Mestre e o relacionamento perde sua realidade. Sob tais
condições, a utilidade do aluno como um canal para a influência do Mestre é grandemente
diminuída.
Em sua vida diária, o aluno pratica um contínuo recolhimento, não permitindo nunca
que nenhuma circunstância externa absorva inteiramente sua atenção. De um modo ideal,
o fato de seu aprendizado ocupa uma posição permanente em sua mente, de modo que
isso influencia e sempre influenciará o seu pensamento, o seu sentimento, o seu modo de
falar e de se conduzir. Através desses dois hábitos - da meditação e do recolhimento na
vida diária - o aluno pode dirigir sua consciência pessoal para um contato permanente com
a do Mestre e viver na realização intacta desse relacionamento. Quando isso for alcançado,
ele ter-se-á tornado o aluno perfeito e estará pronto para entrar na fase seguinte de sua
vida oculta, na qual renascerá espiritualmente.
A consciência do Mestre inclui a de todos os Seus alunos, pois para Ele o conhecimento
desse relacionamento é completo. O Mestre vê tudo como uma parte de Si mesmo,
compartilhando seus fracassos e sucessos. Essas partes são para Ele como planetas para o
Sol, enquanto, para elas, Ele é como o Sol para seus planetas.
A vida do aluno é sagrada pois, embora viva no mundo, não pertence a ele. O aluno
aprende a habitar no santuário inviolável de seu próprio coração purificado e consagrado.
Ele é um templo, onde os poderes de sua natureza espiritual são conservados, onde a
verdade é revelada e de onde é transmitida ao mundo.
A preservação da inviolabilidade desse santuário é da máxima importância para o
aluno. Se ele permite a entrada de pensamentos, sentimentos e ações mundanas e
profanas, sofre uma perda de poder e sua visão da verdade é anuviada.
O aluno não deve atrair para sua morada espiritual as pessoas a quem ajuda, mas fazer
com que elas encontrem dentro de si mesmas o santuário de poder e verdade, orientando-
as para essa descoberta e não para o gozo temporário de sua realização. Poder e verdade
desperdiçados indevidamente podem se tornar um obstáculo para o crescimento, pois cada
41
pessoa deve descobrir sua própria espiritualidade inerente e desenvolver a própria força. O
aluno, portanto, deve ser desapegado interiormente dos homens e das coisas, pois sabe
que cada um tem dentro de si a sua própria Luz.
Sua conduta diante do mundo deve espelhar os ideais a que se dedica. Deve haver um
mínimo de conflito entre sua vida interior e exterior, pois no aluno o conflito leva à
transgressão em qualquer um que nele busque luz e verdade. Vendo a diferença que existe
entre seus ideais e sua conduta, o outro assumirá uma atitude semelhante. Assim, em vez
de ser uma luz na escuridão, o aluno tornará a escuridão ainda mais profunda.
Uma atenção constante, o hábito de se retirar para o santuário interior, uma adesão
destemida à causa da verdade e da retidão, são coisas essenciais na vida do aluno. Ele não
deve dar ouvidos ao que os outros dizem, mesmo que se trate de pessoas importantes, se
eles visam a enfraquecer sua adesão à causa. Sua própria Luz interior é a sua iluminação
segura, o seu guia infalível. Na direção dessa Luz ele viaja cada dia, cada ano, até tornar-se
Luz. Com o passar do tempo, ele deve deixá-la brilhar através de toda a sua vida e de todo o
seu trabalho, tornando-se cada vez mais translúcido a seus raios. Luz é verdade e verdade é
luz; o caminho do aluno é um caminho de luz.
A medida que a sua vida se une com a do Mestre, suas ações devem representar
verdadeiramente essa associação. Nenhum pensamento, sentimento ou atividade que
manche a pureza perfeita da vida e consciência do Mestre deve ser permitido. No
momento em que há impureza na vida do aluno, forma-se uma barreira; instintivamente, a
consciência do Mestre se afasta daquele, com o qual Ele não tem uma vibração simpática.
O Mestre sente esse retraimento quase como um choque, pois, com o fechamento do
canal, que muitas vezes é repentino, a corrente de Sua vida é obstruída. Sua força se retrai,
à procura de saídas mais puras, até que essa impureza seja removida e o canal recuperado.
O aluno deve aspirar à pureza perfeita, que pode ser conseguida pela contemplação da
verdade interior. Sua consciência deve estar tão firmemente estabelecida na verdade que a
impureza, uma inverdade relativa, não possa encontrar lugar ai. A impureza não é superada
pelo conflito com a sua causa - um pensamento, um sentimento ou uma experiência física
impuros - mas pelo recolhimento ao reino do que há de mais puro, à pureza da verdade.
A impureza é a origem da rivalidade continua entre os membros do corpo, e só quando
é superada é que essa disputa chega ao fim. A impureza implica na separação, já que não
pode existir sem divisão. Por conseguinte, ela é uma negação da verdade, pois a divisão é o
oposto da unidade, a verdade final. A impureza destrói a clareza do pensamento, mancha o
amor e profana o corpo, o templo terrestre do Deus que ali habita. Ela implica numa
atitude egoísta em relação à vida, exclusividade nas afeições e divisão na conduta, sendo
assim a antítese da verdade, que é impessoal e inclui o todo. A vida perfeitamente pura
pertence ao eterno.
Parte do treinamento do aluno consiste em viver no mundo exterior, em meio à
impureza e à divisão, e ele deve preservar com muito cuidado e vontade férrea seu modo
de vida, em termos de conduta, de sentimento e de pensamento.
A pureza torna-se um traje brilhante com o qual o aluno se veste, uma joia flamejante
na coroa do Iniciado. Aliada ao amor, ela conduz à libertação, à condição de Adepto, pois
pureza e amor são os dois pilares do portão que leva à paz eterna e à bem-aventurança
42
inefável.
Despido de toda impureza, o amor do discípulo torna-se cada vez mais impessoal. Por
sua contínua expressão, o poder de amar aumenta, até irradiar-se dele como os raios do
Sol, iluminando tudo, sem pensar em retribuição. A afeição correspondida é levada, junto
com seu amor, para o Mestre, o Bem-Amado, o supremo Recipiente de todo amor.
O amor do aluno não é dirigido ao Mestre como um indivíduo, mas como um Exemplo
de vida espiritual, modelo da realização mais alta e manifestação perfeita do Amor do
Supremo. Assim, o aluno realiza e desenvolve esse amor universal, que nunca é maculado
por egoísmo ou desejo. O aluno não deve permitir que a transmissão desse amor elevado
seja arruinada através dele por causa de imperfeições; ao contrário, deve se empenhar para
trazê-la em toda a sua pureza para um mundo carente. Deve despertar o coração dos
homens para a verdadeira natureza do amor, para o auto-sacrifício, para o altruísmo.
através dos quais o amor espiritual é manifestado.
O amor é, na verdade, um fogo. O amor egoísta desperta nos homens a chama da
paixão e do desejo. O amor universal desperta a chama do gênio, do heroísmo; ele brota da
visão do Eu Uno que há em todos nós, visão essa que, uma vez alcançada, inspira o amor
por tudo o que vive.

(19). Ver Os Mestres e a Senda, de C. W. Leadbeater (Ed. Pensamento).

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CAPÍTULO XII

O Valor da Meditação.
O Caminho do Desabrochar Imediato.
Educação Oculta.

O desenvolvimento da vontade é da máxima importância para todos os que trilham o


Caminho. Ele pode ser conseguido, em parte, por meio da meditação da vontade, na qual o
Mestre e, mais tarde, o aluno, é visualizado como um Senhor da Vontade, a encarnação da
Vontade Divina, um Deus onipotente. Através do elo de unidade existente entre eles, a
realização do aspecto Vontade do Mestre fortalece a força de vontade no aluno. Então,
todas as coisas parecerão possíveis para ele: sua fraqueza pessoal parecerá fácil de
dominar, seus problemas no plano físico, simples de solucionar - tornando-se parte do
problema mundial e não mais algo particular. O aluno vê a si próprio como um centro de
vontade no mundo exterior, ajudando a humanidade a dominar sua fraqueza, em virtude
do crescimento de seu próprio autodomínio.
Quando o Mestre ajuda o discípulo, Ele produz a qualidade ou força requerida para se
manifestar fortemente em Si mesmo e, desde que o discípulo possua ao menos o germe da
qualidade, estará capacitado a responder. No ato de responder, a medida da qualidade nele
manifestada é aumentada. Tendo conseguido despertar através da meditação, o discípulo
expande e desenvolve seus próprios poderes inatos.
Nesse método de instrução não existem palavras entre Mestre e aluno, sendo que o
sucesso desse método depende inteiramente da capacidade de resposta do aluno. O
Mestre estimula, o discípulo responde e, depois, continua o processo de
autodesabrochamento, através de sua prática diária.
Na presença do Mestre, o discípulo está, de alguma forma sutil, em contato com o
Adepto que ele vai se tornar. Talvez seja esse o maior serviço prestado pelo Mestre, ao
colocar o Seu devoto ao alcance de sua própria perfeição.
Para o neófito, o caminho do desabrochar imediato consiste em fazer surgir das
profundezas espirituais de sua natureza, onde todas as qualidades e poderes estão
latentes, uma qualidade após a outra, um poder após o outro, forçando-os a se
manifestarem em sua vida diária, trazendo o Adepto do futuro para uma manifestação
presente.
Esse poder de autodesabrochamento, de enriquecimento interior e de iluminação,
onde o próprio tempo é superado até certo ponto, torna-se possível ao discípulo por meio
da oferta graciosa de Sua perfeição pelo Mestre. Uma vez alcançada essa grande
consumação, Ele é capaz, em alguma medida, de determinar o processo de realização em
outro. Isso não significa que o Mestre imponha Seus poderes sobre o discípulo, mas que,
através da afinidade entre eles, capacita ou estimula o discípulo a evocar em si mesmo
idênticas capacidades. Estas estão presentes, como embriões em cada ser humano, e serão
44
despertadas e desenvolvidas normalmente durante o lento processo de evolução.
Desde que o discípulo seja capaz de manter uma sintonia perfeita de sua consciência
com a do Mestre, há um processo de aceleramento contínuo no nível egóico. Quando ele é
recebido na presença do Mestre, seus veículos pessoais são iluminados e expandidos, de
modo que os resultados do desenvolvimento egóico encontrem mais perfeita e
naturalmente uma expressão na personalidade.
Durante a meditação, na total quietude da mente e do cérebro, os frutos desses
processos interiores são recebidos pela consciência que desperta. Fortalecido e iluminado,
o discípulo torna esses processos cada vez mais manifestos em sua vida diária. Assim
fazendo, ele une suas atividades mais altas e mais baixas, conseguindo gradualmente uma
coordenação em toda a sua natureza.
No cérebro, a auto-realização é de imenso valor. Ela não só torna o discípulo forte e
firme em meio aos testes físicos do ocultismo, particularmente o da dúvida, como evita que
o progresso pessoal seja retardado pelo desenvolvimento egóico. Ela também mantém
constante o tom da vida diária na ação, no sentimento e no pensamento, assim como
amplia e mantém abertos os canais entre o Mestre, o ego e a personalidade do discípulo.
O discipulado permite um acesso suprafísico livre à presença do Mestre, de modo que,
além da união mística da consciência, há também uma comunhão oculta, uma colaboração
entre eles. O discípulo é ensinado a usar seus corpos sutis e a dominar as forças dos
mundos suprafísicos. Recebe orientação no trabalho físico que realiza a serviço do mundo,
assim como nas tarefas suprafísicas que constituem a rotina de sua vida durante o sono do
corpo. (20)
Essas últimas tarefas incluem serviços tais como a ajuda aos falecidos recentemente, a
assistência aos necessitados e sofredores, tanto no mundo exterior como no interior, a
assistência nos locais de grandes catástrofes, assim como a transmissão de ensinamentos a
grupos de colegas, dos quais também recebe ensinamentos. Quando necessário, e
especialmente quando os canais são mantidos abertos pela meditação, a memória dessa
atividade no sono é recebida pelo cérebro ao despertar, ou em algum momento durante o
dia.
Ocasionalmente, o discípulo também recebe durante o dia instruções de seu Mestre a
respeito da conduta de seu trabalho. Ele é usado como um canal para as forças espirituais
do Mestre e da Grande Irmandade Branca, tornando-se desse modo um portador de
enormes bênçãos para o mundo. Através de Seus discípulos, o Mestre recebe um aumento
da consciência pessoal, pois, estando em união consciente com eles, participa de todas as
suas atividades.
A ligação de amor entre o Mestre e o aluno é o mais íntimo e mais belo de todos os
relacionamentos. O Mestre compreende perfeitamente o aluno, cinge-o misticamente em
Seu coração; ilumina-o com uma afeição espiritual e, portanto, impessoal; compartilha de
seus triunfos e assiste-o em sua recuperação após algum fracasso. Isso desenvolve um
grande amor, espiritualmente paternal de um lado e profunda e reverentemente filial do
outro, um vínculo mais durável do que o próprio tempo, pois esse amor dura eternamente.
O plano para a evolução da raça humana inclui a formação desses vínculos íntimos.
Posteriormente, os Mestres tornam-se Guias espirituais, Orientadores ou Diretores, de seus
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antigos alunos, agora Adeptos, como Seus tenentes no mesmo campo de atividade. Mais
tarde, garantida a Direção Mundial, os Tenentes tornam-se Senhores da Vontade, da
Sabedoria e da Inteligência, altos Oficiais na Hierarquia Oculta do tempo.
Quando a soberania solar e interplanetária é atingida pelo Mestre, os Senhores
espirituais tornam-se Seus guias Planetários, e assim sucessivamente, através de vidas de
sistemas solares e do Cosmo, permanecendo intactos os laços desse amor por todos os
tempos.

(20). Ver Auxiliares invisíveis, de C. W. Leadbeater (Ed. Pensamento).

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CAPÍTULO XIII

O Aluno Aceito.- O Novo Nascimento.


Iniciação. - A Corrente da Vida.
O Trabalho do Iniciado.

No processo de "aceitação", no qual o aluno é recebido no próprio coração do ser e


consciência do Mestre, o Mestre executa para o indivíduo o serviço que está prestando
continuamente a toda a humanidade.
A aceitação é uma redenção individual; o mistério de uma redenção vicária (21) é
realizado em seu mais alto grau pelo Mestre e pelo discípulo. O processo geral e contínuo
de redenção que o Mestre estende a todo o mundo, é necessariamente menos eficiente, no
que diz respeito a qualquer participante humano, do que é a aceitação para o discípulo.
Contudo, desde que a essência da vida do discípulo esteja unida com a da humanidade,
toda a espécie humana participa. em algum nível, de sua realização e experiência.
O discípulo deve decidir se pode ou não estabelecer em si mesmo um processo similar
de redenção, geral e individual. Se, por exemplo, um ser humano provoca o seu amor
especial, o discípulo pode atraí-lo espiritualmente para o centro de seu ser e transportar-se
conscientemente com ele para o coração do Mestre. Durante essa experiência, o discípulo
compartilha tanto a expansão da consciência e da bênção do Mestre quanto o amigo é
capaz de receber. Por sua vez, essa vontade una surge do coração glorificado do Mestre,
como fez o discípulo quando ali foi recebido.
A medida que seus poderes se desenvolvem, ele pode estender essa atividade para
incluir grupos de pessoas, plateias inteiras, congregações e multidões, tanto vivas quanto
falecidas. Ele também pode trazer para seu coração membros dos reinos dos anjos e das
fadas, pois doravante não há mais barreiras entre ele e qualquer forma de vida. Assim,
gradualmente, ele aprende a tornar manifesta na terra e a compartilhar com todos essa
realização de unidade completa e perfeita na qual o Mestre reside.
Essa ajuda, tanto do Mestre como do discípulo, não é de forma alguma externa, pois a
verdadeira redenção ocorre na consciência búdica, onde não existe nada fora do Eu Uno.
Nesse nível, o Mestre, o discípulo e o mundo são uma coisa só, indivisível. Na consciência
egóica, embora sujeito e objeto possam ser vistos e distinguidos, sua unidade essencial é
conhecida. Aqui, também, a assistência dada pelo Mestre é recebida dentro do discípulo
muito mais do que de fora. O discípulo, por sua vez, repete o mesmo processo para o
mundo, na medida em que seu desenvolvimento o permitir. A cada passo do Caminho, sua
eficiência como agente unificador aumenta, até que, por fim, ele atinge a condição de
Mestre, tornando-se conscientemente unido ao "Pai", unido a tudo o que vive.
Esse estágio de aceitação é, portanto, extremamente importante, tanto para o
indivíduo como para o mundo, pois na união entre Mestre e discípulo está prevista a
suprema união consciente de todos os homens com Deus.
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No momento adequado, a individualidade do discípulo deve desaparecer, e ele deve
renunciar a tudo o que foi conseguido com esforço, a tudo o que foi conquistado durante a
evolução material e mental. Todas as reivindicações pessoais, mesmo quanto à
imortalidade, devem ser afastadas, pois só quando o velho eu se rende é que pode nascer o
novo Eu. Esse é o nascimento do Cristo no coração do homem. O bebê recém-nascido é o
símbolo da rendição absoluta, da renúncia completa.
Nesse estado de "recém-nascido", simbolicamente frágil e inocente num mundo novo,
o discípulo torna-se objeto do cuidado carinhoso do Mestre. Ele é o Pai José da alegoria
cristã, o carpinteiro, o artesão habilidoso que ajudou a formar o bebê recém-nascido. A
Eterna Mãe do universo, Maria, símbolo da maternidade espiritual, também zela por ele,
enquanto as Hostes Celestiais se aproximam, materializando e entoando a melodia, a nota
fundamental do "recém-nascido", sua criativa Palavra de Poder. A alma, renascida, superou
o estado animal e o estado humano normal, simbolizado pelo rebanho e pelos pastores;
segue-se então o parto espiritual na presença dos Mais Velhos e das Hostes Celestiais.
Isto é a Iniciação (22) o nascimento da alma espiritual do homem; uma verdadeira
criação, pois um novo produto resultou da combinação dos atributos humanos e divinos, o
que ocorre quando o portal é ultrapassado. Até agora, o homem tem vivido espiritualmente
in utero; agora ele mostra uma entidade espiritual, autoconsciente, em regiões
relativamente novas para ele.
Os planos intuitivo e espiritual mais elevado abrem-se agora para ele e, à medida que
ele passa da adolescência para a maturidade espiritual, penetra gradualmente cada vez
mais fundo nesses mundos. Ele ainda está in utero no que diz respeito às regiões mais
elevadas, pois toda a criação existe dentro do útero do Aspecto Maternal do Supremo. Na
verdade, a evolução consiste numa série de partos ou nascimentos, em cada um dos quais
o indivíduo nasce num novo mundo.
Nesse primeiro nascimento de iniciação, o homem recebe o poder de autoridade e de
maestria, e consequentemente a liberdade nos três mundos, do pensamento, do
sentimento e da ação física, nos quais até então estivera aprisionado. Esse tríplice poder é
simbolizado na história cristã nos presentes de ouro, incenso e mirra, respectivamente, que
são colocados aos pés do Cristo criança pelos Três Reis Magos. Eles têm seus protótipos
entre os Irmãos mais Velhos, em cuja presença ocorre o nascimento. Eles são os Senhores
do Conhecimento, do Amor e da Vontade, que estão presentes e concedem Suas bênçãos e
poderes especiais para o neófito.
Daqui por diante, pela primeira vez em sua existência terrena, o discípulo é um homem
livre, no sentido de que nenhum indivíduo ou raça tem nenhum direito sobre ele. Sua vida
está entregue ao Uno. Maria, a Mãe de Jesus, teve um exemplo disso na resposta dada a
ela, quando reprovou seu filho por ausentar-se do templo. "Para que me buscáveis? Não
sabíeis que devo me ocupar das coisas de meu Pai?" (S. Lucas 2,49) Esta é a resposta que
todos os Iniciados devem dar a todos os que procuram prendê-los ao passado.
Para o Iniciado, o mundo, e não ele, parece ter mudado, e a essa aparente mudança ele
deve se adaptar gradualmente. Onde, no passado, ele viu divisão, separação e pecado,
agora ele vê unidade, afinidade e experiência. Ele começa, afinal, a ver a vida como um
todo, a perceber e a sentir a Presença penetrante do Supremo, a conhecer sua unidade e
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até mesmo sua identidade com os outros homens, com a Natureza e com as chamadas
coisas inanimadas. Ele se conscientiza de que as formas são caixinhas cheias de vida, de que
os corpos são templos santificados por presenças divinas e santas que ali habitam. Sóis,
estrelas e planetas não são mais remotos; ele ouve e compreende a música das galáxias. Ele
sabe que elas e ele próprio constituem partes da grande composição que o Músico-Divino
executa por todos os tempos. As vidas são compassos, as mortes, pausas, a evolução
acrescenta linhas à pauta, notas à escala, fazendo crescer em riqueza e grandiosidade a
sinfonia da criação.
Quando lhe vem esse conhecimento, ele aprende mais perfeitamente a vibrar o seu
próprio acorde, pois agora ele conhece o Compositor invisível e ele próprio como sendo um
só. A partir·de então, começa a cantar seu caminho pela vida, encarando suas vicissitudes e
sofrimentos como dissonâncias para serem resolvidas mais tarde e essenciais à maior
harmonia. O eu se perde, transformando-se como que numa nota numa melodia.
A corrente da Vida Una flui da eternidade para a eternidade, carregando em seu âmago
universos, sóis, planetas e homens. É a corrente de vida sempre fluente, a corrente
"sanguínea" divina, pulsante, que vivifica todos os mundos. É o centro vital de cada átomo,
de cada célula, o princípio essencial sem o qual nada poderia existir.
O Iniciado entra nessa corrente conscientemente. Seu progresso rumo à "outra
margem" depende de sua maior auto-identificação consciente com a corrente. Até então,
embora continuamente banhado, nascido e renascido na corrente vital sempre fluente, ele
desconhecia sua própria união com ela. Embora seu Eu mais profundo fosse uma coisa só
com a essência da corrente vital, embora todos os seus veículos de consciência se
baseassem nela, embora seu corpo e sua alma tivessem sido impregnados por ela, embora
ele tenha nascido do seu âmago, ele era inconsciente de sua existência e se julgava sozinho
e isolado.
Agora, afinal, a verdade surge em sua consciência interior e ele é informado de que
"entrou na corrente", essa corrente vital que flui da eternidade do incondicionado através
da duração do condicionado, de volta à eternidade: da atemporalidade para o tempo e de
volta novamente à atemporalidade.
Aquilo que é eterno nele, sempre unido com o eterno em toda parte, começa a
modificar a sua consciência, a mudar a sua relação com a sua existência enquanto ela dura.
Ele se aproxima do conhecimento do Eterno Agora. O tempo, que até então o escravizara,
será conquistado por ele. O tempo trouxe o Iniciado até a margem do rio, mas agora é
deixado para trás, conforme a margem vai ficando distante e prossegue a sua sintonização
com a atemporalidade.
O discípulo começa a conhecer a quietude do nãoexistente, o silêncio além do ser, a
escuridão além da luz e o equilíbrio da energia em repouso. A realização completa, a
sintonia final e permanente com a eternidade virá quando a "outra margem" for alcançada
e a condição de Adepto atingida.
O ego, no qual durante a Iniciação a Vida e a Mente abrangente alcançaram uma
autoconsciência desperta, atinge a visão da Imanência do Supremo. A tarefa do Iniciado
consiste em despertar a personalidade para uma realização similar. A Vida divina e a
Consciência na mente nas emoções e no corpo, também devem despertar para a
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autoconsciência. Em cada um desses planos, a divindade que ali habita deve ser realizada e
a visão da Vida abrangente atingida.
A realização interior do Iniciado pode levar muitos anos ou muitas vidas, pois a
velocidade de seu progresso depende enormemente do grau de visão espiritual alcançado
antes de ele "entrar na corrente". Existem muitos nãoiniciados que atingiram uma
capacidade de autoconsciência espiritual desperta, enquanto outros, já adiantados no
Caminho, ainda não desenvolveram uma percepção espiritual. No momento certo, essa
visão do Supremo deve ser atingida por todos, pois essa é a meta para a qual está se
dirigindo a humanidade.
O trabalho externo do Iniciado consiste principalmente em servir de canal para os
poderes e influências da Grande Irmandade Branca. Ele é agora o seu mensageiro e
representante no mundo, vive apenas para a Sua vontade, que é a Vontade do Supremo.
Sem ser reconhecido, exceto por poucos, ele se movimenta entre os homens como uma
influência estimuladora, aceleradora, um centro de poder espiritual.
Enquanto está vivendo e trabalhando no mundo exterior, sua consciência espiritual se
expande continuamente. Ele penetra cada vez mais fundo nos domínios espirituais
interiores, cujo esplendor começa agora a tocá-lo de leve. Sua aura começa a brilhar, seus
pensamentos adquirem força, seus sentimentos adquirem uma profundidade e um vigor
que o tornam um homem de poder aonde quer que vá. Sua voz se torna um veículo para as
forças da vontade espiritual, seus olhos se enchem de luz, seu olhar parece muitas vezes
uma chama, penetrante como o olhar da águia, altivo como o do leão, nobre como o de um
rei, porém suave e compassivo como o de Cristo, claro e límpido como o de uma criança.
Em seu coração, nascem as qualidades de compaixão, de amor e de suavidade. Ele
deixou voluntariamente cair por terra todas as defesas e seu coração está aberto aos
sofrimentos do mundo. Ele abandonou a armadura do egoísmo, tirou o escudo da
separação, tornou-se supremamente vulnerável às feridas infligidas pela ignorância do
mundo.
Mas nenhuma ferida é mortal, nenhum sofrimento perdura, pois ele descobriu sua
imortalidade e se aproxima do limiar da bem-aventurança eterna. Tornou-se a
incorporação do amor eterno; portanto, a crueldade não encontra resposta nele. Com a
pedra filosofai que é amor eterno, ele, dentro do cadinho de seu coração, transmuta a dor,
o sofrimento, a crueldade e o vício em seus opostos. Ele se torna um alquimista espiritual,
transmutando a vulgaridade do mundo em fino "ouro".
Agora ele realmente deve "virar a outra face", amar seus inimigos, dar também sua
capa a quem lhe roubar a bolsa, pois tal é a vida do Iniciado a quem esses ensinamentos de
Cristo se referem. Ele cresce na medida em que vive esses ensinamentos, e seu crescimento
eleva toda a humanidade. Torna-se um Atlas a carregar o peso do mundo sobre os seus
ombros. Embora, como humano, ele se curve com o peso, ainda assim, ele não se quebra.
Como Adepto, ele permanece ereto sob esse jugo.

(21). Ver Cristianismo esotérico, de A. Besant (Ed. Pensamento).


(22). Ver initiation, de A. Besant.

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CAPÍTULO XIV

Atividades Extraplanetárias do Adepto.


A Vida Consagrada.

O Adepto vive além do plano do tempo. Cada ação sua no tempo é repleta de
significado por toda a eternidade. Seus planos no tempo incluem o conceito de
atemporalidade em suas derradeiras realizações. Ele vive no eterno, embora projete Sua
consciência no tempo, estando os dois estados combinados Nele. Ele projeta na eternidade
e age no tempo, pois dissolveu o mistério da relação desses dois estados, sendo Ele próprio
um elo, uma ponte entre atemporalidade e tempo.
A vida do Adepto é, portanto, dual e ele é um ser dual. Sua manifestação no tempo
pode ser compreendida em parte, mas Sua existência na eternidade permanece para
sempre um mistério. No tempo, Ele possui individualidade, é um Ser; na atemporalidade,
não tem individualidade e nem é um Ser; mesmo assim, Ele é também todos os Seres, pois
é Um com o Todo. Ele tem uma existência planetária que, como foi mostrado, é sétupla,
constituindo o tempo de Sua manifestação na terra a Sua individualidade. Também tem
uma existência extraplanetária, na qual está unificado com o tríplice Guia interplanetário,
que se manifesta Nele e através dele, pois Suas individualidades são uma só.
Através dessa identificação com o Poder, com a Vida e com a Consciência
extraplanetários, Ele também está unido à tríplice existência cósmica, aumentando Seu
Poder de manifestação, à medida que prossegue o Seu desenvolvimento. Sua
individualidade terrestre é o menor aspecto de Sua natureza; o maior é o Seu Eu cósmico,
com a consciência interplanetária servindo de elo de ligação entre os dois.
O todo não é múltiplo, mas uno: uma consciência capaz de expressão e de atenção em
todo o campo de atividades. O Adepto é um Ser cósmico, não é um ser terrestre, embora
seja mantida uma individualidade terrestre com um corpo físico. A manutenção desse
corpo é uma questão de escolha, decidida em grande parte pelo modo de ascensão através
da humanidade. Aqueles cuja escolha não inclui uma existência física contínua entram em
Seus estados extraplanetários e cósmicos, cumprindo Seus destinos de Adeptos nesses
planos.
A consciência desses Adeptos, embora normalmente limitada aos campos
extraterrestres de sua escolha, pode a qualquer momento tornar-se manifesta em qualquer
nível, em qualquer planeta, mediante um processo de auto-projeção em veículos
temporários, materializados para esse propósito, ou emprestados a Eles por um habitante
do globo no qual a manifestação deve ocorrer. Isso pode tomar a forma de uma completa
troca de consciência no corpo emprestado, com a saída do dono e a entrada do visitante,
ou de uma cobertura ou inspiração como a de um Avatar.
Das reuniões da Hierarquia governante de Adeptos num planeta, frequentemente,
tomam parte Conselheiros e Embaixadores, representantes da Hierarquia governante de
51
um sistema solar ou planetário. Assim como o Adepto tem Sua consciência e vida
extraplanetária, o mesmo ocorre com a Grande Irmandade Branca de cada planeta onde
existam homens. Juntos, eles formam o corpo governante de um grupo de planetas sob o
Logos Solar. Esse sistema se estende, por sua vez, para maiores grupos sistêmicos e
Cósmicos, estando o todo compreendido e tornando-se manifesto como uma unidade em
termos de consciência cósmica.
Assim, mantém-se um contato externo de direcionamento e proteção contínuas entre
o coração da criação, a vida central do Cosmos e a menor vida individual de um planeta.
Também existe uma união interna entre o mais alto e o mais baixo, entre o centro e a
circunferência da manifestação, pois a Vida que anima é Una em toda parte. Assim, a
dualidade do modo da manifestação, do ministério exterior e autoconsciente, observado
nos reinos mineral, vegetal, animal e humano do planeta, por um lado e, por outro lado, na
vida interior que jorra e desabrocha, tem sua aplicação em todo o Cosmo.
Desde que o princípio de ajuda dos mais evoluídos aos menos evoluídos é de aplicação
universal e é fundamental para a realização do plano mediante o qual o universo progride,
segue-se que aqueles que desejam cooperar inteligentemente com a Vontade Suprema
devem participar da operação desse princípio.
O primeiro passo rumo à união autoconsciente com o Supremo é sempre o mesmo -
uma ação não-egoísta que nasce do amor. Se, no começo, a ajuda é pessoal e o motivo é
individual e isolado, o ato, não obstante, é uma ajuda. Gradualmente, o motivo pessoal dá
lugar ao impessoal, o bem-estar individual ao bem-estar do todo. Dessa forma, o espírito de
filantropia é despertado e o segredo da felicidade descoberto. O espírito altruísta inclui não
apenas ações de utilidade e de ajuda, que não trazem retorno imediato, mas também ações
que podem causar uma perda total de esforços e de sacrifício. Gradualmente, ganha-se o
conhecimento de que perdas temporais trazem ganhos eternos, de que o sacrifício terreno
traz enriquecimento espiritual. A promessa de que "o que ama sua vida perdê-la-á; e quem
aborrece sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna," (S. João, 12,25), é agora
reconhecida como uma verdade profunda.
Tal conhecimento constitui a base sobre a qual se estabelece uma vida de ajuda e de
assistência. Trata-se de uma completa inversão da existência humana normal, pois seus
motivos são opostos aos que governam a vida comum. Tanto o indivíduo como a raça
humana devem completar essa inversão antes que a realização espiritual se torne possível;
devem crescer do pessoal para o impessoal; devem aceitar o altruísmo como o único
motivo válido e desenvolver a benevolência a um tal grau que o sacrifício traga apenas
felicidade. Essas são as qualidades necessárias para os que desejam cooperar
conscientemente com a Hierarquia de Adeptos na realização da Vontade Una.
Inspirados por esses ideais, o indivíduo e a raça humana começam conscientemente a
tomar parte na realização do Grande Plano do Supremo, a trabalhar a favor, e não contra a
evolução - embora inconscientemente trabalhem contra - e a verem a si mesmos como
ministros do Altíssimo. Uma mudança de atitude como essa introduz o elemento da
verdadeira santidade na vida e prepara o aspirante para a visão da divindade inerente a
todas as coisas, para a qualidade sagrada de todos os atos, qualidade que se baseia no fato
da existência da Vida Divina Una dentro de todas as coisas e da existência do Divino Agente,
52
do Supremo, por trás de todas as ações.
A visão esplendorosa do Supremo é conseguida por adesão a essas regras de vida. Ela é
vivenciada primeiramente através de lampejos de inspiração, de percepções intuitivas e do
senso gradual de um destino maior que está sendo realizado. Então vem o conhecimento
da Inteligência Inspiradora atrás do universo, a visão da Mente Una, ordenando todas as
coisas, grandes e pequenas.
Nesta conjuntura, perigos esperam pelo individuo e pela raça, pois, a menos que
prevaleça a atitude de impessoalidade e de humildade, uma interpretação pessoal é
colocada sobre a experiência e o que é de aplicação universal é erroneamente interpretado
como individual. Isso leva a uma perspectiva pessoal e estreita e ao orgulho - dois grandes
perigos contra os quais o aspirante deve estar sempre alerta, a fim de não obscurecer sua
visão nem estragar seu trabalho.
Evitando essas armadilhas, indivíduo e raça finalmente consagram seus seres e suas
vidas ao encorajamento do crescimento, à realização do Plano, à cooperação harmoniosa
com a Vontade Una.
Esse é o caminho - não há outro - para a realização individual e racial, para a felicidade
e a paz. Esse é o Caminho da Vida Divina, o único caminho no qual essa Vida pode
expressar-se perfeitamente. Esse é o caminho trilhado por todo filho livre do homem. O
Adepto, tendo trilhado esse caminho até o fim, permanece na felicidade eterna e na paz
que nada pode perturbar.

53
CAPÍTULO XV

Macrocosmo no Microcosmo. - A Visão do Todo.

O sistema solar é uma unidade individual, no meio das muitas unidades sistêmicas
similares que compõem o sistema sideral. É uma entidade evolutiva, uma consciência
grupal, movendo-se firmemente para a frente, rumo à autoconsciência, à "individualização"
ou entrada autoconsciente numa ordem mais elevada de ser.
Em qualquer ponto do sistema solar, a vida é um epítome do todo. Os processos vitais
que ocorrem em qualquer reino da Natureza são reflexos daqueles que ocorrem por toda a
Natureza. A evolução da consciência grupal do mineral, do vegetal, do animal e dos
espíritos da natureza rumo à individualidade constitui uma manifestação planetária de uma
evolução similar de todo o sistema solar rumo a um estado mais elevado. A individualização
dos espíritos da natureza para um estado angelical (23) e do animal para um estado
humano (24) é o reflexo microcósmico de uma realização macrocósmica. De modo similar,
a libertação atingida pelo Adepto é apenas parte de uma libertação maior a ser atingida
pelo sistema solar em sua totalidade. Segue-se daí que cada realização microcósmica
favorece o progresso de todo o sistema.
Como isso é também apenas uma parte de um todo ainda maior, esse todo maior
também é ajudado, e assim ad infinitum, pois a totalidade dos sistemas siderais é
imensurável, ilimitada e incognoscível. Imensurável, por estar sempre se movendo;
ilimitada, por estar sempre aumentando; incognoscível, por estar sempre mudando.
Embora possua essas três características, ela é compreensível como um todo pois, apesar
de múltipla, ela é Una. Embora um planeta seja infinitamente pequeno quando comparado
a esse todo, mesmo assim é infinitamente valioso para o todo, pois nele o todo se
manifesta em miniatura; o todo está indissoluvelmente ligado a ele; através dele, o todo
evolui. Nos domínios da vida infinita, o todo e a parte constituem uma coisa só.
Assim também o homem que habita na Terra, perfeito em seu próprio estágio,
imperfeito num estágio mais alto, é um epítome do Homem Celestial, do Pensador, do
Logos, que habita dentro do Sol e dos planetas que giram em torno dele. O homem
terrestre e Celestial também são um, e compartilham a mesma vida, progredindo através
das conquistas de cada um, companheiros inseparáveis de peregrinação, diferindo apenas
no grau de habilidade de autoexpressão. Assim, todo o sistema, de que são partes esse
planeta e seus diversos habitantes, move-se como um todo e progride como uma unidade,
sendo que o movimento de sua menor parte afeta o todo.
Desde que, com esse todo, um todo maior está do mesmo modo se movendo rumo a
uma extensão infinita de ser, cada ação da menor parte exerce influência sobre o todo
infinito. Embora descrito como infinito, ele não está de forma alguma distante no tempo ou
no espaço, pois no infinito, tempo e espaço são insignificantes; tudo está aqui e agora. A
estrela mais distante deixa de ser distante do ponto de vista do infinito, pois no infinito a
distância não existe.
Nos confins do tempo e do espaço, o pensamento gerado por um homem emite uma
onda para o plano mental. Quando essa onda encontra as barreiras de pensamento que
54
envolvem a vida mental solar, seu curso é interrompido. Em planos mais elevados, onde
tais barreiras são desconhecidas, a vida por trás do pensamento, do movimento e da
essência espiritual do pensador são instantaneamente refletidas e repetidas pelo todo, por
causa da unidade ou Unicidade que é a sua natureza fundamental. Nela não há tempo,
espaço ou barreira.
A visão que não inclui a concepção do todo é imperfeita; o conhecimento que não se
baseia na concepção da unidade é incompleto. Embora o todo não possa ser visto pelo
homem mortal, nem a unidade possa ser percebida, mesmo assim, o princípio da existência
do todo e da unidade deve ser compreendido por todos os que verão e conhecerão a
verdade. No reflexo do macrocosmo no microcosmo está a chave de todo o conhecimento
pois, através da parte, o todo pode ser percebido; através do individual, o universal pode
ser compreendido.
No estudo do espiritual e do oculto esse princípio deve ser aplicado. Sem ele, todo
conhecimento é como a casca que cobre a semente do fruto da Árvore da Vida. Por essa
razão, o estudante do ocultismo deve meditar a respeito da unidade, até que uma certa
medida de experiência do todo tenha sido alcançada. A partir da experiência do fato
essencial interior, ele pode continuar a estudar com compreensão as partes externas e
relativamente não-essenciais do todo.
A mente tanto obscurece quanto ilumina, de acordo com o desenvolvimento da
evolução do pensador. Na infância e na adolescência mentais, a mente divide; na
maturidade, ela une. Na análise, a verdade é perdida; na síntese, é redescoberta. Mas a
mente infantil e a adolescente precisam analisar para que a síntese seja alcançada de forma
consciente. O perigo surge apenas quando a análise é levada para a maturidade mental,
onde a síntese deve ser a meta. Uma mera coleção de fatos não pode iluminar a mente; o
pensador deve tornar-se o intérprete do fato antes de poder perceber a verdade. A partir
dos fatos, ele deve seguir para os princípios e destes para a verdade subjacente. Uma
interpretação verdadeira requer um pensamento sintético baseado na compreensão do
todo.
Presentemente, a humanidade está passando da adolescência mental para a
maturidade intelectual. Cientistas importantes estão começando a interpretar
espiritualmente fatos materiais, e isso é um sinal dos tempos. Líderes religiosos, políticos e
sociólogos devem seguir esse exemplo, tendo em vista não uma seita ou fé particular, não
uma única nação ou estrutura social, mas o todo.
Nenhuma religião contém toda a verdade com exclusividade: nenhuma raça ou ordem
social apresenta todas as virtudes, mas um conhecimento da relação entre religiões
particulares e a própria religião, entre uma raça ou ordem social e a humanidade como um
todo, revelará os princípios sobre os quais todas as religiões e ordens sociais estão
baseadas. Na luz dessa totalidade de conhecimento, o sistema perfeito de crenças
religiosas e a perfeita ordem social podem ser baseados.

(23). Ver O Reino das Fadas, The Coming of the Angels, e As Hostes Angélicas, do autor.
(24). Ver Um estudo da consciência de A. Besant.

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CAPÍTULO XVI

O Fragmento e o Todo.
A Fonte da Vida.
A Natureza da Beleza.

A relação entre o Absoluto e o condicionado, entre o Infinito e o finito, é um mistério


para a mente condicionada. A mudança do Ser para o vir-a-ser, da Eternidade para o
tempo, apresenta um problema cuja solução escapa à inteligência finita.
A não-manifestação não implica a não-existência; trata-se de uma existência
transmutada, de um poder estático, de uma energia despolarizada, de uma consciência em
repouso, de um espírito imóvel. Simbolicamente, a manifestação é representada por uma
pirâmide. A não-manifestação pode ser representada pelo ponto que permanece quando
os lados da pirâmide são recolhidos para o ápice e a base desaparece.
A não-manifestação é a mais elevada essência da existência e não é, de forma alguma,
separada do manifesto. Na verdade, esses dois estados são contemporâneos, já que há
sempre um aspecto imanifestado da vida manifesta. Isso é verdadeiro para cada expressão
de vida: cada reino da Natureza é representado no aspecto imanifestado da Vida que tudo
permeia.
Um dos aspectos do homem - epítome do todo - é imanifestado. A personalidade
representa apenas um fragmento do ego, este é um fragmento da Mônada, enquanto esta
é uma manifestação no tempo, tanto positiva como negativa, daquilo que é eterno e não-
polarizado. A Mônada está em movimento, o imanifestado é imóvel.
A evolução é uma jornada empreendida por aquilo que não tem evolução, tempo,
movimento e dimensão - o Absoluto - do imanifestado para o manifestado e através do
manifestado e, novamente, para o imanifestado.
No nascimento da manifestação, Aquilo que era Um torna-se Dois. Esses dois são
espírito e matéria, vida e forma. A medida que a evolução prossegue, a relação entre os
dois torna-se mais íntima. Gradualmente, a vida encontra um modo cada vez mais perfeito
de expressão através da forma, enquanto a forma torna-se cada vez mais adaptável como
um veículo para a vida. Em termos de períodos de tempo, a expressão de um impulso vital
através de uma forma torna-se mais rápida, até que finalmente torna-se instantânea,
reduzindo-se ao mínimo a resistência de forma em relação à vida. A vida cresce
constantemente em plenitude e poder de auto-expressão, isso devido, em parte, à
experiência adquirida através da forma, e, em parte, a um aumento real na extensão de
vida manifestada na forma. Isso é verdadeiro tanto para o sistema solar como um todo
quanto para o indivíduo.
O aumento na extensão da vida manifestada é efetuado pelo surgimento, através de
uma dimensão interior, da vida a partir de sua fonte. No coração da existência, que está
além do sistema solar, embora esteja dentro dele, há uma fonte de vida, uma nascente
56
através da qual a vida extra-sistêmica flui para o sistema solar, enquanto ele é capaz de
recebê-la. Quanto maior a facilidade e a perfeição com as quais a vida é expressada através
da forma, menor é a pressão de vida no sistema. A medida que a pressão diminui, a válvula
solar se abre, dando vazão a uma nova vida. Esse afluxo continua até que se alcance o
limite da capacidade da forma de proporcionar expressão para a vida. Visto que esse
princípio é universal, no mais profundo âmago do Eu do homem há uma fonte de vida, uma
válvula, através da qual a vida entra em sua Mônada, em seu ego, em sua personalidade,
que recebem da fonte interior uma extensão de vida que aumenta gradualmente, à medida
que a forma é capaz de recebê-la e de expressá-la.
Modificada internamente pela presença e pressão da vida e, externamente, pela
experiência, a forma torna-se gradualmente um veículo mais perfeito, um canal mais livre,
por meio do qual a vida pode se expressar. Assim se estabelece uma relação cada vez mais
perfeita entre a vida e a forma.
O padrão pelo qual essa relação pode ser medida é o da Beleza. A beleza da forma é o
sinal exterior da harmoniosa expressão da vida que há dentro. Sem essa harmonia interior,
a beleza real não pode existir. Quanto mais perfeita essa relação, maior a beleza. A
resistência da forma à manifestação da vida é gradualmente reduzida, à medida que a
evolução prossegue. Eventualmente, a sincronização é atingida e o impulso vital interior
encontra completa e imediata expressão através da forma. Observadas essas condições,
tanto a forma como a expressão tornam-se supremamente belas. Assim, a beleza é o
padrão pelo qual as realizações da evolução podem ser medidas, o carimbo indicador da
qualidade da forma espiritualizada em qualquer reino da Natureza.
O homem espiritual será marcado pela beleza de sentimento e de pensamento,
expressados espontaneamente como beleza no modo de viver.
A feiura deliberada é uma negação da divindade, uma submissão à regra do Caos.
Ignorar a beleza é ignorar Deus. Quem cai nesses erros nega e, portanto, aprisiona mais
profundamente o Deus que vive em seu interior. Será um desertor que se engajou nas
fileiras do Caos, um traidor no que respeita a orientação da Lei.

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CAPÍTULO XVII

A Guerra no Céu.
A Guerra no Homem.
Vitória.

O Caos é o grande oponente da Ordem, e durante a manifestação há um conflito


incessante entre eles. Eles são os polos positivo e negativo da manifestação, e na Raiz Una
os dois são um. A manifestação é uma guerra incessante entre esses dois grandes
antagonistas.
No alvorecer da criação, senhor dos campos do espaço, o Caos reina. Ao meio-dia, o
conflito está no seu máximo, pois então as forças opostas se igualam em poder. A seguir
vem a derrota gradual do Caos, que é completada ao anoitecer. Então reina a Ordem e,
nela, o Caos - de forma alguma destruído - é absorvido, e suas forças se unem às da lei.
(25) com as quais trabalham harmoniosamente.
A doença é uma vitória temporária do Caos. A guerra, a fome, as pestes são sinais do
avanço de suas armadas. Embora seu ataque sobre a forma seja destrutivo, através do
sábio comando da Ordem, ele é vantajoso para a vida. A batalha incessante entre a Ordem
e o Caos mantém o processo de desenvolvimento e constitui uma forma de crescimento.
A história da guerra no céu entre os Anjos da luz e os das trevas é uma referência
alegórica a esse fato. Nela o céu diz respeito ao estágio da criação do sistema solar, no qual
o Um primeiro torna-se Dois, estágio que é repetido tanto na existência planetária como na
individual. A guerra no céu é uma guerra perpétua, travada continuamente pelos grandes
opositores, espírito e matéria, vida e forma, universalidade e individualidade.
Nessa batalha não pode haver vitória final para nenhum lado, pois as forças opostas
são iguais em poder; contudo, a natureza e o plano do conflito mudam, como o fazem os
das armadas opostas. Em primeiro lugar, a guerra é travada em domínios puramente
espirituais, como na alegoria da guerra no céu. Aos poucos, o campo de batalha muda,
movendo-se "para baixo", através dos planos da Natureza, até atingir-se o físico, chegando
o conflito ao seu auge.
O Grande Juiz observa a luta e, quando aquilo que Ele planejou se realiza, move o
campo de batalha "para cima", através dos sete planos da Natureza, para o Espiritual mais
elevado, até que todo o universo sétuplo tenha sido duas vezes submetido à guerra entre a
Ordem e o Caos.
Esse Armagedon macrocósmico é repetido microcosmicamente no homem.
Sucessivamente, os sete princípios (26) do homem tornam-se campos de batalha nos quais
se trava o grande conflito. O crescimento do microcosmo - isto é, do homem - prossegue
paralelo ao crescimento do macrocosmo; pois o homem é ao mesmo tempo uma unidade
na armada do Logos e também o Logos dos sete princípios ou corpos, que constituem o seu
próprio universo, que também se compõe de muitas "vidas".
58
O Armagedon humano é perpétuo; no homem, uma guerra constante está sendo
travada entre sua natureza espiritual e material. Ele também está em conflito com o mundo
no qual vive, sempre resistindo à sua vontade. Toda auto-expressão, seja através da
vontade, do pensamento, do sentimento, do modo de falar ou de agir, produz conflito. A
vida determina, a forma resiste; a consciência busca a liberdade, a matéria aprisiona. O
artista, mesmo no momento de maior inspiração, está em conflito com os veículos de sua
arte, pois, como sempre, a matéria resiste à impressão do espírito. Como resultado da
batalha, desenvolve-se a vontade, a sabedoria aumenta e a consciência se expande.
Matéria e espírito partilham igualmente a vitória. A matéria parece ganhar no sentido
de que nenhuma impressão permanente do espírito pode ser feita sobre ela; embora
capturada durante um tempo, eventualmente ela escapa." O espírito parece ganhar no
sentido de que, num grau crescente, a matéria torna-se sua serva; mas o espírito perde
continuamente, pois nenhuma vitória final é atingida.
Somente Ele, o Uno, tem a vitória permanente. Ele, que está além do conflito, embora
seja a causa do conflito; Ele, que não é espírito nem matéria, embora seja a essência de
ambos; Ele, do qual emergem a vida e a forma; Ele, para o qual ambas retornam - Ele, que
realiza completamente a meta predeterminada.
O conflito perpétuo atinge seu auge no homem, pois nele está o campo de batalha no
qual o equilíbrio de poder começa a ser atingido. Nos reinos da Natureza abaixo do
humano, a matéria reina e o espírito é prisioneiro. Nos reinos supra-humanos, o espírito
reina enquanto a matéria é dominada. Por conseguinte, a humanidade é a linha de frente
da batalha nesse período da evolução do sistema solar. Como a batalha mais feroz é
travada no homem, nele também é conquistada a maior realização.
Os poderes espiritual, intuitivo e intelectual do tríplice Logos, através de sua
representação na constituição humana, encontram no homem uma expressão consciente,
como ação, sentimento e pensamento respectivamente. Essa expressão, à medida que se
aperfeiçoa, proporciona ordem para os três mundos mais densos. As forças do Caos são
colocadas contra esse estabelecimento da lei. Seu modo de ação consiste em tentar o
homem a viver continuamente uma vida individual em vez de uma vida universal, consiste
em tentá-lo a agir isoladamente por motivos pessoais, em vez de cooperativamente para o
bem-estar do todo.
Com essas tentações incessantes, o homem cai continuamente. Mas como cada queda
produz sofrimento e autolimitação, esse modo de ataque anula seus próprios fins. O
homem raciocina a respeito das causas do sofrimento e da limitação e, raciocinando,
aprende. A medida que aprende, a tentação de viver para si mesmo, em vez de viver como
uma parte do todo, perde poder sobre ele, e a visão da vida universal brota em sua
consciência.
Então, trava-se dentro dele um conflito mais profundo, entre os aspectos pessoal e
universal de sua natureza. O aspecto pessoal, em que a matéria predomina, procura a
autopreservação, o auto-engrandecimento e a auto-iluminação. O aspecto universal, no
qual predomina o espírito, procura preservação, engrandecimento e iluminação para a vida
como um todo. O Eu interior sabe, embora a princípio o eu exterior não o saiba, que
somente nessa consumação é possível atingir a felicidade perfeita e contínua.
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O eu exterior do homem, ainda preso à escravidão da matéria, do tempo e do espaço -
os três atributos do Caos, um reflexo da trindade espiritual - procura nos domínios da ação,
do sentimento e do pensamento, uma satisfação localizada, material, temporária, não-
compartilhada com o todo. O universal, o Eu interior do homem, procura a realização
espiritual, eterna e universal, compartilhada por tudo o que vive. Entre esses ideais não
pode haver concessão, e novamente a razão e a experiência, mestras do homem,
proporcionam a derradeira vitória para o ideal universal.
Aos poucos, o homem aprende que os maiores bens físicos, emocionais e mentais
conseguidos só para ele desaparecem inevitavelmente, deixando atrás de si apenas
descontentamento. Gradualmente, ele aprende a ir em busca de tesouros eternos. Uma vez
iniciada essa busca, a vitória da Ordem sobre o Caos está assegurada. A nova indagação
proporciona maior poder para o Eu impessoal e abre canais para o seu fluxo no Eu pessoal.
Assim, chegam reforços, a influência da matéria é diminuída e o fluxo da batalha vira-se a
favor do espírito.
Em sua constituição, em sua meta, e nos meios pelos quais ela é atingida, o homem é
um epítome do universo. Desde que o eterno conflito é o meio de realização, a
humanidade pode ser vista como o campo de batalha, o local de prova do universo; daí a
dificuldade da vida humana. Embora as dificuldades do homem sejam grandes, o tamanho
de sua recompensa está além da imaginação humana. Vencida a batalha, o conquistador
controla um poder irresistível e permanece em bem-aventurança inefável e em paz eterna.

(25). Uma descrição gráfico-musical desse antagonismo pode ser encontrada no


Prelúdio para O Ouro do Reno, de Wagner.
(26). Físico, etérico, emocional, da mente concreta, constituindo a personalidade moral, e
da mente abstrata, da intuição e da vontade, que constituem o Eu imortal ou ego. Ver O
homem visível e invisível, de C. W. Leadbeater (Ed. Pensamento).
(27). O escultor modela primeiro na argila. Então, quando já tirou o seu molde de
argila, ele a quebra e a usa novamente em outro trabalho.

60
CAPÍTULO XVIII

Geometria Divina.
Símbolos Espirituais nos Reinos Mineral, Vegetal, Animal e Humano.

A simetria é uma expressão da unidade da vida e de sua igual distribuição como uma
essência onipresente que penetra todas as formas. A configuração é uma expressão da
interação entre a vida e a matéria. Todas as formas naturais são configuradas
simetricamente.
A esfera é a mais perfeita expressão dinâmica, em figura, da relação da vida com a
forma. O cubo é a sua expressão estática perfeita; girando sobre um de seus pontos, ele
produz a esfera, símbolo da vida e da forma unidas.
A pirâmide exprime a evolução da primeira dualidade rumo a uma manifestação
perfeita. O vértice é o ponto primordial, a válvula através da qual a vida eterna passa para o
universo. Ao passar por ali, ela se submete ao condicionamento da matéria. Seu fluxo para
fora é quádruplo e é expresso simbolicamente pelos lados expansíveis da pirâmide. A base
representa o mundo físico. O vértice, um ponto, representa a mais alta região manifestada,
a fonte da existência. A simetria perfeita de toda a figura expressa a lei perfeita pela qual a
vida se manifesta na forma. Os lados infinitamente extensíveis indicam as possibilidades
ilimitadas da evolução da vida e da forma.
Vista dessa maneira, a pirâmide simboliza a verdade por trás da manifestação. Ela é um
símbolo do Terceiro Aspecto do Supremo, a interação entre vida e forma, a relação entre
espírito e matéria.
A vida perfeita, em qualquer reino da Natureza, exprime essa relação tão
completamente quanto o faz a pirâmide. O mineral é composto de cristais formados e
dispostos com precisão geométrica. O vegetal cresce de acordo com princípios
geométricos, enquanto as flores são modeladas sobre formas geométricas fundamentais,
tais como a cruz e a estrela. Em seu modo de crescimento, elas apresentam.a espiral e o
cone.
Por meio de símbolos, a vida vegetal retrata à perfeição, em seu estado natural, o
principio de sua própria existência, a lei de seu ser, que é o que governa a relação entre a
vida vegetal e a forma vegetal.
No reino animal, onde há uma consciência coletiva, mas onde ainda não existe uma
completa consciência individuai, a individualidade tem de ser atingida. Aqui, aparecem
modificações e imperfeições na forma; mas, mesmo assim, pode-se observar um
simbolismo completo. A coluna vertebral e as pernas formam os três lados de um quadrado
ou paralelograma, completando-se o quarto lado pela superfície do solo e pelas linhas de
força que ligam as pernas dianteiras e traseiras. O pescoço e a cabeça, proeminentes,
simbolizam o resultado do esforço da vida interior para encontrar novos modos de
expressão através de novos tipos de forma. Esse principio, que na planta era a flor, é
61
expresso como a cabeça do animal; o que eram as raízes, é agora simbolizado pelos pés -
ainda presos à terra, mas móveis. A coluna vertebral e as costelas representam uma cruz
com muitos braços, enquanto o contorno e os cortes transversais de cada osso indicam
símbolos fundamentais.
A cabeça do animal, projetada para diante do corpo, reflete de forma microcósmica a
existência de vida e consciência extra - sistêmica. Ela corresponde ao vértice da pirâmide, à
válvula através da qual a vida que está fora pode alcançar a vida que já está dentro. Assim
como o sistema tenta alcançar a vida que corre para dentro, também o animal projeta sua
cabeça para a frente, tentando alcançar a experiência individual, a sensação, o pensamento
e a vida.
O fato de a matéria estender-se em direção à vida é uma verdade fundamental; apesar
da sua resistência, ela sempre evoca a vida, pois essa é a sua resposta ao impulso evolutivo
- o impulso da vontade criativa rumo à perfeição. No mineral, esse impulso aparece como
afinidade química: no vegetal, como crescimento para cima e como polaridade e atividade
sexual elementar; no animal, como projeção da cabeça, como sexo e como reação à
emoção e ao pensamento.
Nos vertebrados, a medula espinhal é o símbolo físico da Vontade Una, direta, porém
flexível, em sua ação. No homem, a postura ereta e os braços estendidos formam a cruz,
que representa a vida manifestada na forma. Com as pernas afastadas, os braços esticados,
a cabeça e a coluna retas, o homem retrata o pentágono, símbolo da vida libertada. Como
já foi mencionado, este é um símbolo predominante no reino vegetal, no qual a vida atingiu
uma libertação em relação à inércia mineral. O homem, libertado da consciência instintiva
do animal para uma individualidade autoconsciente, também mostra o sinal de vida
libertada. Não inconscientemente, como nas plantas, nem em seu comportamento normal,
mas apenas quando seus braços estão estendidos para ajudar seus irmãos, fazendo desse
modo o símbolo da cruz sacrificial. O símbolo augusto brilha dentro do homem interior,
assim como o símbolo sacrificial aparece no exterior.

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CAPÍTULO XIX

Do Homem ao Super-homem.
O Símbolo do Cone. A Mente Abrangente.

A relação entre a vida e a forma - inconsciente, no mineral; instintiva, no vegetal e no


animal - é manifestada no homem como percepção autoconsciente. Essa inteireza da
triplicidade é o fator que diferencia o homem dos reinos subumanos da Natureza. O
homem é o primeiro logos microcósmico e deve, portanto, aprender essa arte, que o
Macrocosmo mostra tão perfeitamente, de combinar a vida e a forma, de manifestar o
espírito através da matéria. A tarefa do reino humano consiste em aperfeiçoar a técnica de
moldar a matéria à vontade do espírito. Sua realização depende do reconhecimento, pelo
homem, do Supremo como o Artífice e depende também do fato de ele oferecer um
mínimo de resistência e um máximo de adaptação à Sua atividade.
A adaptabilidade perfeita requer ausência de inibição a impulsos interiores, que
surgem na consciência como resultado da atividade do Supremo. Deve haver total rendição
a essa atividade e uma constante atenção e observação de que o propósito do Trabalhador
pode ser compreendido e realizado. A capacidade para um total auto - isolamento do
mundo exterior e para um completo desinteresse e desprendimento são fatores essenciais
no estabelecimento de uma harmonia absoluta entre a Inteligência dirigente e a
consciência individual do homem.
Aquele que deseja ascender do homem para o super-homem deve aprender a
responder de um modo livre e contínuo à iluminação e à intuição, e a dar livre e imediata
expressão às suas inspirações em sua conduta de vida. Ele deve praticar a ciência da auto-
iluminação e a arte da intuição, tornando-se afinal perito em ambas. A origem de toda a sua
ação, o motivo de todo o seu trabalho devem vir exclusivamente desses domínios interiores
de sua consciência, de onde brotam a iluminação e a intuição.
Conseguindo isso, o super-homem manifesta o símbolo do cone, que é a pirâmide, com
tudo o que ela implica, girando com estabilidade giroscópica ao redor de um eixo central.
Conforme ela gira, linhas e ângulos desaparecem; a base reta funde-se no círculo, os dois
tornando-se um. Por isso, o cone é o símbolo da arte aperfeiçoada de relacionar vida e
forma. A origem, o vértice, as linhas fluidas da vida, os lados, e os mundos materiais, a base,
tornaram-se uma coisa só, à medida que a pirâmide se pôs a girar em perfeita resposta à
vida descendente.
O cone, em forma e função, é produzido primeiro pelo impacto do espírito sobre a
matéria. Na verdade, o átomo é um corpo em forma de cone, um redemoinho na matéria
etérica, um funil que transporta energia. Há dois tipos de átomos: um é formado pela
energia que flui para fora; o outro, pelo retorno dessa energia. O funil atômico opera
automaticamente; o funil sobre-humano funciona autoconscientemente, mas com igual
perfeição.
63
O sistema solar pode ser concebido exatamente como um funil. Nas dimensões mais
elevadas, pode-se perceber um vasto cone giratório. Paradoxalmente, as faces se abrem
em todas as direções, enquanto os pontos do eixo se abrem sempre na direção de quem
está vendo. Nas dimensões mais baixas, muitos funis aparecem, aumentando de número
até que, no nível físico, cada átomo é um funil, compondo todos juntos o funil maior, que é
o modo de manifestação da energia do Supremo.
O sistema solar, por sua vez, constitui parte de um grupo mais elevado de funis que,
juntos, abrangem uma grande unidade, formando um cosmo. O cosmo combina-se com
essa unidade final, que é o todo e que inclui o todo.
A forma do funil é uma manifestação de força do Aspecto de Inteligência do Ser, que é
abrangente e está presente em cada átomo de cada mundo. Ele se manifesta
individualmente através de inteligências encarnadas, de diversos graus de
desenvolvimento. Trata-se de um Ser em Si mesmo, embora de uma natureza
incompreensível para o homem. Ele é o Pensador do sistema solar, o Intelecto orientador
que está por trás e dentro de todos os processos naturais.
Esse "Ser" é o Grande Desenhista de todas as formas, o Modelador que constrói os
arquétipos sobre os quais todas as formas são modeladas, pelos quais todas as formas são
configuradas cada vez mais perfeitamente como veículos para a vida. Os arquétipos
sistêmicos não estão de forma alguma separados de seu Criador; eles são manifestações
objetivas de Sua Consciência; também não estão separados de suas expressões materiais,
as formas desenvolvidas. Eles constituem os elos entre a consciência do Desenhista e sua
expressão objetiva em formas variadas; eles constituem a síntese da essência de ambas,
manifestações modificadas que são de intuito criativo, expressas no plano intermediário do
pensamento abstrato.
O Grande Desenhista, Arquiteto, Artista e Modelador, onipresente em cada mundo, é
também o Mestre Matemático. Seus arquétipos são equações, são fórmulas da criação. Ele
é também o Mestre Químico, sendo os elementos químicos, com suas afinidades e
rejeições, o produto de Seu trabalho em Seu laboratório solar.
Ele é a Mente Onipresente, o Intelecto Abrangente, o Administrador da lei pela qual o
propósito da existência é realizado.

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CAPÍTULO XX

O Ministério dos Anjos.


O Ministério dos Adeptos.

Em Seus trabalhos eternos, o Supremo, como Pai, Filho e Espírito Santo, como Criador,
Preservador e Produtor da Forma, é assistido pelas hostes angélicas que desempenham a
dupla tarefa de estimuladores da vida e construtores da forma. Em todas as coisas vivas, os
três Aspectos do Supremo estão representados em diversos graus de consciência
despertada. No reino mineral, Eles estão adormecidos no que toca à atividade externa; no
reino vegetal, estão sonhando; no animal, estão acordados e, no homem, atingem a
autoconsciência mental. No Adepto, Eles estão totalmente desenvolvidos e perfeitamente
manifestos.
Nos reinos mineral e vegetal, as hostes angélicas suprem de modo vicário a
autoconsciência, até então adormecida, dos três Atributos. Os que se encontram nas
fileiras mais elevadas dos "Brilhantes" tornam-se a encarnação perfeita desses Atributos,
que eles transferem, através de suas ordens graduadas, até os espíritos da natureza que
auxiliam a consciência adormecida e assistem à construção das formas do reino mineral da
Natureza. Através das hostes angelicais, o poder acelerador do Supremo age sobre a
consciência adormecida na pedra, no metal, na pedra preciosa, induzindo-os a sonhar e
ajudando seu progresso rumo ao nascimento da autoconsciência. A hierarquia dos anjos
presta esse serviço de tempos em tempos, desde o surgimento da vida solar e da existência
planetária até o seu término, fornecendo indiretamente o elo entre a triplicidade universal
de poder nos planos mais elevados da consciência e o Deus Trino, aprisionado,
inconscientemente adormecido no reino mineral.
No reino vegetal, os resultados desse serviço aparecem mais imediatamente do que no
mineral. A consciência e a forma da planta reagem mais aos estímulos do que no reino
mineral. Neste, a resposta liga-se quase inteiramente ao aspecto de força do Supremo e das
hostes angelicais. Na evolução vegetal, que produz sensibilidade, o aspecto de sabedoria,
tanto o intrínseco quanto o angelical, está implicado. A influência dos anjos do reino
emocional é aplicada e ocorre um despertar emocional.
No reino animal, onde a resposta aos estímulos é ainda maior, a influência da mente é
aplicada através do aspecto de inteligência ou consciência, tanto o intrínseco como o
angelical. Essa influência mais alta age, primariamente, desde o nível causal, sobre o reino
animal, através da consciência coletiva, mas de dentro da corrente vital monádica e através
dos átomos permanentes.(28) Isso inclui o ministério dos anjos no nascimento da
individualidade.
Nesses três reinos, os espíritos da natureza estão especialmente ativos, embora com
resultados amplamente diversos. Os gnomos do elemento terra, juntos com as variadas
subdivisões, raças e tribos de espíritos terrestres, representam o aspecto de força do
65
Supremo e da hierarquia dos anjos. Isso eles transmitem e aplicam instintivamente, através
de suas operações de· construção sob a influência produtora de formas da Mente
Universal. A Inteligência Una ordena e dirige suas várias atividades, enquanto a Vontade
Una estimula-as a uma ação constante.
Devido ao poder criativo da Vontade Una, do qual, em seu reino, essa ordem das
hostes angelicais é uma incorporação, cada ato seu contém uma potência produtora de
formas naturais e libera uma força aceleradora, estando sua influência fora de toda
proporção em relação à sua inteligência e ao seu lugar na evolução. As construções básicas
moleculares e as formações cristalinas do reino mineral constituem, em parte, o resultado
da ação da energia criativa ou força mundial sobre a matéria livre e, em parte, o resultado
da massa de "poder do pensamento" de grupos ou tribos de espíritos da natureza terrestre.
Sua força de pensamento, um "substituto" instintivo da Mente Universal e dos membros
mais altos da sua hierarquia, é altamente formativa, produzindo formas nos mundos
emocional e etérico. Tais formas constituem os modelos dos últimos minerais sólidos. Elas
surgem na consciência coletiva dos espíritos da natureza a partir da Mente Universal, na
qual esses modelos existem como arquétipos. Elas são poderes vivos, forças modeladoras
que estão associadas com uma ordem de anjos, de cuja natureza a nota vibratória ou
acorde é o arquétipo.
A preparação e o aperfeiçoamento desses arquétipos ocupam um vasto período de
tempo na abertura de cada novo esquema de evolução. Durante épocas sucessivas, eles
são projetados para fora, plano após plano, em direção ao mundo material. Essa projeção
consiste na colisão de suas energias, emitidas em ondas de comprimento características
sobre a matéria de planos sucessivamente mais densos. Os anjos construtores absorvem e
transmitem a força mundial ou som criativo que, batendo na matéria dos planos, induzem-
na a assumir formas típicas ou correspondentes. Essa transmissão do Mundo convoca
ordens adequadas de anjos construtores e de espíritos da natureza para a tarefa de dar
assistência na produção e, mais tarde no aperfeiçoamento das formas. No final, o plano
mais denso é alcançado e a sua matéria, que não reage, assume lentamente a forma
desejada.
Temos de admitir que, sem o auxílio das hostes angelicais e dos espíritos da natureza, o
processo de criação seria realizado sob a lenta e automática ação da lei da ressonância; mas
o tempo exigido seria muito maior. Esquemas de evolução podem ser imaginados nos quais
esse auxílio está ausente, e outros nos quais seu desempenho é mais efetivo. Por isso, é
verdade que, quando perfeitamente planejados, os processos da Natureza são perfeitos em
si mesmos. Mas, pelo menos neste planeta e, sem dúvida, neste sistema solar, o ministério
dos anjos ocorre, acelerando a realização do plano divino.
Após o atingimento dessa individualidade, que é a meta da evolução animal e marca o
nascimento do ego humano, o ministério dos anjos no reino humano é amplamente
limitado à construção e à manutenção de corpos e à construção e ajuste do mecanismo da
consciência. O homem tem o poder de continuar sozinho até a próxima fase de sua
evolução; nenhum agente externo não-humano pode dar-lhe assistência interior. A
diferença intrínseca de vibração entre o indivíduo humano e o anjo é normalmente muito
grande para permitir uma sincronização.
66
No nascimento da individualidade, é tocada a inconfundível nota humana. Embora os
anjos ajudem no nascimento e assistam na construção e na afinação do instrumento,
mesmo assim, quando a primeira nota é tocada pela Mônada humana - positivamente
humana por escolha - só então o homem pode vibrar em sincronia com o homem. Assim,
quando o ego humano é formado, o auxílio espiritual torna-se responsabilidade daqueles
que estão mais adiantados no caminho da evolução humana.
Assim como, por toda a eterna evolução de poder, de vida e de consciência, através
dos reinos mineral, vegetal e animal, é dada uma assistência, assim também, no reino
humano, a humanidade criança é orientada e inspirada por seus Irmãos mais Velhos.
Durante sua infância na Terra, grandes Senhores, altos Adeptos, desceram com bandos de
alunos do planeta Vênus (29) para encarregar-se dessa tarefa. O estágio humano foi
atingido através da vida animal, a forma humana bípede foi desenvolvida com a ajuda dos
anjos, mas faltava ainda o elo do intelecto despertado, essencial para o sucesso da auto-
expressão pelo Eu trino recém-nascido.
Os Senhores de Vênus eram super-homens nos quais a evolução mental estava
completa. Por conseguinte, podiam acender em outros o fogo da mente, já totalmente
aceso em Si mesmos. O instrumento mental humano foi construído com a ajuda dos anjos a
partir do modelo do arquétipo; mas nenhuma música proveio da lira de quatro cordas do
veiculo mental, pois o ego recém-nascido não sabia como tocá-la. Os Senhores da Chama
de Vênus desempenharam um duplo ministério: afinaram a lira da mente humana na Terra
e, tocando a primeira nota, despertaram o ego humano para o conhecimento do
instrumento da mente. Daí em diante, Orientadores Adeptos guiaram a raça nascente e
ainda a guiam. Sua Presença visível, não sendo mais necessária, retirou -se há muito tempo
e, desde então, exceto pelas raras visitas do Senhor do Amor.(30) Eles têm guiado a
humanidade invisivelmente.
O progresso humano segue um caminho em espiral, e quando o ciclo do
desenvolvimento material se aproxima de sua realização, o homem entra num novo ciclo
de crescimento espiritual, no qual, espiritualmente, ele é "como uma criança pequena". Em
sua infância espiritual, como antigamente em sua infância racial, material, ele recebe ajuda
exterior, e torna a ver cara a cara o seu Mestre. A orientação externa é renovada no ciclo
do desabrochar espiritual, estabelecendo-se o relacionamento entre discípulo e Mestre.
"Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece."

(28). Átomos isolados dos sete planos ligados a cada Mônada. Ver Um Estudo da
Consciência, de A. Besant.
(29). Ver O homem: donde e como veio e para onde vai? de A. Besant e C. W.
Leadbeater (Ed. Pensamento).
(30). Como Fundadores das grandes religiões mundiais.

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POSFÁCIO

Paz.
Beleza.
O Deus Trino.

Pureza, força, estabilidade - estas são as características da tríplice base sobre a qual a
paz inabalável pode ser estabelecida na alma. A paz, a serenidade e o equilíbrio - são
essenciais para o bem-estar da alma. Sem eles, a vida é vã, a realização é aniquilada, o
sucesso é apenas um sonho. Somente na quietude a alma pode ser alimentada; somente no
silêncio a união pode ser alcançada. A quietude interior proporciona um retiro seguro, um
porto seguro, uma defesa invencível contra o barulho exterior. O ruído externo deve servir
como um estímulo constante para a realização da paz interior.
Na escuridão da noite universal, nasceram os mundos solares. Na escuridão da terra,
ocorre a germinação da semente e o nascimento das plantas. Na escuridão do útero
materno, forma-se o corpo da criança. Da escuridão absoluta, sóis, planetas, plantas e
homens emergem para a luz. Depois disso, cada um produz sua luz própria, que foi acesa na
escuridão da noite criativa. O mesmo ocorreu com a iluminação silenciosa da alma pois, do
ponto de vista espiritual, escuridão e silêncio são a mesma coisa.
No Ocidente, o crescimento da alma é perturbado pelo ruído. No Oriente, onde se
conhece o valor do silêncio e o poder da paz, a vida silenciosa ainda pode ser vivida. No
Ocidente, cada alma deve criar o silêncio para si mesma e aprender a viver no silêncio. O
ruído perturba a harmonia, essencial à beleza da alma. Ele distorce o modelo de todas as
formas em desenvolvimento, destrói-lhes o encanto, estragando a "afinidade" entre o
modelo arquetípico na Mente Universal e a forma a ser desenvolvida na oficina do mundo.
As diversas forças. que o Artista Supremo emprega, os espíritos auxiliares que dirigem seus
cursos - inteligências grandes e pequenas, autoconscientes e instintivas, construtores
cósmicos e atômicos - todos dependem do ritmo e da completa sintonia para a perfeição de
seus trabalhos.
A desarmonia produz a feiura. Não a doce harmonia da vida humana vivida
pacificamente, o som do trabalho humano, a música das vozes, nem o som dos
instrumentos e ferramentas feitos pelo homem, usados pacificamente e dirigidos por uma
mente tranquila em paz com Deus. Isso tudo forma um doce acompanhamento para a
música alegre da alma. Os ruídos artificiais de uma vida artificial, os sons dissonantes de
uma atividade inquieta, febril e não-natural, isso produz a fealdade e destrói a paz. Os que
são forçados a viver nessas condições devem aprender a manter o equilíbrio, desenvolvendo
uma paz interior, firmemente fundada na pureza, na força e na estabilidade.
Não pode haver iluminação espiritual sem silêncio, recolhimento e paz interior. O
aspirante deve ser puro, estável, pois a paz reside na pureza e na estabilidade.
Embora a vida eterna seja a real e a vida diária, atemporal, a irreal, os que desejam
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trilhar o caminho espiritual não estão, de forma alguma, livres da obrigação de tornar a vida
diária e seu mundo imediato extremamente belos. Eles devem ver a vida como uma obra de
arte, e todos os dias fazê-la mais bela.
Cada vida humana é parte de uma grande obra de arte que o Supremo Artista está
criando continuamente. A perfeição de Seu Trabalho depende da perfeição da vida
humana. Quando o homem arruína a vida com a feiura, a vida do Artista Supremo também
é arruinada. Quando o homem se degrada, Ele também é degradado, pois há apenas Uma
Vida, Um Artista e Uma Obra de Arte.
Por conseguinte, a conduta não pode ser ignorada, nem a ética negligenciada. A ética é
de suprema importância, pois não pode haver beleza perfeita sem conduta perfeita,
baseada nos mais nobres ideais éticos. Essa verdade aplica-se a todas as coisas da vida, da
maior à menor, ao trabalho de toda uma vida como à rotina diária, aos sessenta ou setenta
anos que constituem uma vida, como aos dias e às horas de cada dia desses anos todos.
A beleza é essencial à livre expressão da vida; a feiura impede a sua realização. A beleza
deve se manifestar e tornar-se a nota predominante da nova era. Ela é a chave da felicidade,
e sem ela a vida fracassa, as civilizações desintegram-se, as raças morrem e as pessoas
definham.
A beleza é a verdade do dia que está para vir. Para o artista, esse conhecimento não é
novo; para o político, o educador, o cientista e o sacerdote ele ainda é apenas um ideal
distante. Esses modeladores da vida das nações precisam ver a necessidade profunda de se
estabelecer a beleza no centro e na circunferência de toda comunidade civilizada. Assim, as
nações poderão ser levadas do materialismo para o espiritualismo. A beleza deve conduzi-las
pela mão. O Real é essencialmente belo e a procura da beleza deve ser um trampolim para a
procura da Realidade.
A beleza é uma manifestação universal da vida do Supremo, que é onipresente, que é a
Unidade por trás da diversidade, a fonte original da Verdade.

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