Você está na página 1de 387

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.

com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Dados internacionais de catalogação na publicação
Bibliotecário responsável: Cristiano Motta Antunes CRB14/1194

N518b
Neves, Jefferson
Belregard / Jefferson Neves e Rafão Araújo. –
1. ed. – Rio de Janeiro : New Order, 2018.
384 p. : il., color.

ISBN: 978-85-68458-40-2

1. Jogos de fantasia. 2. Jogos de aventura. 3.


“Roleplaying games”. 4. Belregard (jogo). I.
Araújo, Rafão. II. Título.

CDD – 793.93
CDU - 794:792.028

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Créditos
Escritores: Jefferson Neves e Rafão Araújo
Sistema: Pedro Borges
Editor: Jorge Valpaços
Diagramação: Igor Moreno e Diego Bernard
Finalização: Alexandre Straube
Revisão: Alexandre Straube, Cezar Capacle, Gil, Lucas Ollyver, Tâni Falabello (via New Order Editora)
Design de Capa: Dan Ramos
Colaboradores: Dezenas de pessoas ajudaram o projeto ao longo dos anos e seria difícil listar todas aqui.
Correria o risco de ser injusto e esquecer de alguém.

Artistas
Berto Souza, Thiago Motta, Harijan, Bruno Prosaiko, Andrej Braga,
Gustave Doré e The Forge Studios com Maciej Zagorski e Pawel Dobosz,
Alexandre Rabelo.

Publicado pela New Order Editora, de Anésio Vargas Junior e Alexandre “Manjuba” Seba.
Julho de 2018
Todos os direitos desta edição reservados à New Order Editora.

Rua Laureano Rosa, 131, Bairro Alcântara - São Gonçalo - RJ


CEP: 24710-350
Fone: (21) 97045:4764

neworder@newordereditora.com.br
www.newordereditora.com.br

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Sumário
Tomo I ..............................................................................................16
O Conto dos Anos ....................................................................18
Os povos de Belregard ...........................................................43
A Vida em Belregard ..............................................................57
Tomo II ..........................................................................................100
O Mundo Natural ..................................................................103
Belghor .......................................................................................115
Brandevir ...................................................................................123
Dalanor ......................................................................................131
Latza ...........................................................................................141
Parlouma ...................................................................................149
Varning .......................................................................................157
Viha ..............................................................................................165
Virka ............................................................................................173
Vlakir ..........................................................................................181
Principados de Rastov .........................................................187
Tomo III .........................................................................................196
Titereiros e Títeres .................................................................203
Um Mundo de Mentiras .....................................................223
Inominatus ...............................................................................239
Tomo IV ........................................................................................265
Sacrum Codex ........................................................................265
Sistema de Regras .................................................................303
Galeria dos Condenados ....................................................363
Lista de Apoiadores .............................................................379

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
INTRODUÇÃO
“Come on you outlaws, come on with me,
To the greenwoods of Belregard, when men can live free.
Trees, wild animals and the cool of the shade,
Far from the court, where the laws are made.”
The Outlaw’s Song

Se tu abriste este livro, deves ter alguma ideia do do império romano. É um lugar escuro, envolto por
que se trata. Estou certo? Não? Deverias saber que uma era de trevas e ignorância, onde a única salva-
nem sempre a fortuna é reservada às almas curio- ção da humanidade parece residir na fé, no Tribunal
sas, neófito. Em todo caso, tem isto como um aviso do Supremo Ofício, aos homens santos que inter-
claro e direto: fecha este tomo e volta para a segu- pretam as misteriosas parábolas do Criador, o Deus
rança de teu lar. Finje que nunca viste tais caracteres Pai.
e ignora o sussurro da Sombra ao pé de teu ouvido
Neste livro, tu encontrarás todas as informações
nas noites que se seguirem... No entanto, os desca-
que precisas para começar a jogar Belregard RPG.
minhos da glória e da derrota se abrem para aqueles
Apresentaremos nele o ambiente deste mundo som-
que são ousados o bastante para dar o primeiro pas-
brio, povos, culturas, lugares malditos e refúgios
so. Isso, tu já fizeste. Continua, se julgares prudente,
sagrados. Como todo jogo, Belregard RPG também
atreve-te a flertar com a maldade que se esconde no
possui regras, que são simples e de fácil aprendiza-
teu coração, ou te consideras um santo? Não sejas
gem, servindo para simular a abordagem verossímil
tolo, todos nós ouvimos a voz sedutora, sussurrando
deste jogo. O que tu vais precisar, além do livro, é
todas as doces mentiras que desejamos ouvir, es-
de alguns dados simples de seis faces e um grupo
pecialmente quando estamos sozinhos com nossos
de amigos com coragem o bastante para olhar nos
sonhos. Pois esta é a Sombra Viva, dando-nos
olhos da Escuridão e não titubear.
o que desejamos, Ela é aquela que está quando não
existe nada, aquela que tu escutas no silêncio e vê No decorrer desta introdução, iremos te apresen-
no escuro. Permite a ti sorrir e abraça a causa do tar os principais elementos de Belregard RPG: sua
pecado voluntário. atmosfera, proposta e ferramentas utilizadas para
cumprir o papel pretendido. Tem cautela, certifica-te
Belregard é um RPG, um jogo onde os jogadores de não manter nenhum esqueleto em teu armário,
interpretam personagens e vivenciam histórias de limpa a alma e aceita-te como um ser de falhas e
horror em um cenário medieval cru e brutal, à ima- pecados. Não deixes a Sombra te derrotar tão facil-
gem do que foi a idade média europeia após a queda mente.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Entendendo Belregard dela, com seu “chafurdar na escatologia e sadismo”,
Tu certamente percebeste a imagem que abre esta nos ajuda a alimentar a imaginação, e não podemos
introdução. Trata-se de uma obra de Gustave Doré, nos esquecer de Robert E. Howard e, até mesmo, H.
do Idylls of the King. Logo, não é uma obra origi- P. Lovecraft. O horror obsceno de Clive Barker pode
nal, mas serve para ilustrar a introdução. Não é exa- colocar algumas boas ideias ao lidar com o sobrena-
gero dizer que esta obra em particular foi uma das tural de Belregard e a vida cotidiana pode ser senti-
maiores influências visuais para o jogo, então fica o da em livros como Os Pilares da Terra de Ken Follett.
convite para “respirar um pouco de Doré” na com-
preensão do que queremos passar com Belregard. A magia em Belregard é sutil, não vindo na for-
ma do controle dos elementos, mas sim como uma
Este cenário se difere um pouco dos mais tradicio- ritualística sombria e perigosa. Este não é também
nais em sua abordagem. Em Belregard não existem um jogo com apenas um rosto, mas sim multiface-
raças não-humanas ou mesmo uma atmosfera mági- tado, carregando a responsabilidade de lhe permitir
ca exacerbada. Belregard contou com uma pesquisa os mais variados tipos de jogos, sempre carregando
histórica para ter seus meandros determinados e al- essa aura opressiva e sombria que a ambientação
guns livros de autores consagrados ajudaram a dar pede. Livre-se de conceitos pré estabelecidos e per-
coesão à sociedade e ao meio de vida deste povo. mite a ti mesmo explorar este ambiente sinistro e
Nomes como Marc Bloch, Jacques Le Goff, Michel assolador.
Pastoureau, entre outros, emprestaram suas teorias
e ideias para que fosse possível explicar sobre estas Conceitos
pessoas e seus comportamentos da melhor maneira. Magia: Ela não existe da forma como muitos po-
Apesar disso, é preciso advertir que Belregard NÃO dem imaginar. Não existem conjuradores capazes de
É A EUROPA. Por mais que existam evidentes se- controlar forças primordiais e criar incríveis efeitos
melhanças, muitos detalhes, costumes e comporta- destrutivos. A única magia, manipulada por homens,
mentos foram misturados, ignorados ou inventados uma vez conhecida em Belregard vinha da adoração
para que este fosse, de fato, um cenário de fantasia ao Único, e mesmo esta desapareceu. Apesar disso,
medieval e não uma recriação falha da Europa me- ela ainda existe. Belregard é um mundo de magia
dieval histórica. inata, uma magia que existe na própria terra, colo-
cada pelo Criador no início dos tempos para que a
As influências literárias de Belregard podem pare- natureza tomasse ordem e tivesse sentido. Muitos
cer óbvias, mas valem ser citadas para referências de fiéis não querem admitir, mas os cultos primordiais,
outros que queiram se inspirar e pegar um pouco do aqueles que servem à Horda, possuem ritos sangren-
clima deste cenário. Por se tratar de algo um pouco tos, nefandos e maquiavélicos. Com ou sem consen-
mais denso, pesado e maduro, penso que romances timento, esta bruxaria é real e seu poder foi sentido
históricos são um ótimo pedido para mostrar certas ao longo da história, por mais que o Tribunal negue
abordagens ao cenário medieval precário. Bernard isso.
Cornwell certamente emprestaria ótimas ideias,
assim como Conn Iggulden. Literatura de fantasia Verdade: Ela não existe. Belregard foi escrito
também nos alimentaria muito bem a mente, desde com um conjunto de relatos tendenciosos, que não
o clássico dos clássicos Tolkien até o mais recente, e refletem uma resposta definitiva à maior parte das
aparente sucessor, George R. R. Martin. Leonel Cal- perguntas possivelmente apresentadas. A verdade

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


pode variar com inúmeros pontos de vista diferentes campanha. É preciso entender que o cenário car-
e isso deve ser lembrado por aqueles que desejam rega o perfil cru, brutal e maduro da idade média;
criar suas estórias aqui. Não existe apenas um cami- um local que inspira fascínio e terror, com castelos
nho para determinado fim. Isso fica claro, ainda, na imponentes e encantadoras damas desdentadas. O
fé que os homens seguem neste jogo. Existem inter- horror é um elemento importante na narrativa de
pretações oficiais para aquilo que o Único deixou de Belregard, seja no simples combate singular em um
ensinamento para os homens, mas nada impede que torneio de cavaleiros, ou na busca por pistas de Sel-
cada um tenha sua própria verdade particular. vagens habitantes dos ermos. O desconhecido é a
maior arma do narrador aqui, podendo usá-lo para
Maniqueísmo: Ele não existe. Este ponto é muito causar todo o tipo de pressão psicológica e física
importante, os homens de Belregard não possuem aos envolvidos em suas narrativas. Teste-se, arris-
uma única face. Eles não são pretos ou brancos, que-se, inove-se. Saia da sua zona de conforto e veja
mas sim cinzentos. Não existem heróis definitivos o quão bom isso pode ser. Caso não lhe agrade, tu
ou mesmo vilões irrecuperáveis, e se existem, são tens a vida inteira de jogo para escolher outra coisa.
a mais pura exceção do mundo. A lealdade é uma
moeda muito importante nestas terras onde cada Não fiquemos presos a conceitos pré-determina-
um tem seus próprios interesses ao se envolver em dos de guerreiros e sacerdotes; os personagens de
problemas alheios. Não se deixe enganar e não se Belregard são pessoas, simplesmente pessoas. Se
deixe limitar. Quer que teu igslavo seja festivo e bem tu te sentes minimizado ao ser rotulado pela sua
humorado como um dalano? Que assim seja. Ho- profissão, pense da mesma forma para seu persona-
mens são homens, para o bem ou para o mal. Mes- gem. Use de conceitos e abordagens amplas, faça de
mo os Arautos, que deveriam ser porta vozes do seu personagem algo vivo.
Único, são pessoas errantes e dignas de pena como
qualquer outro indigente de Belregard. Narrando e Jogando Belregard
“Sai da casa de teus irmãos,
Ótica: O mundo é diferente a depender de quem o esquece a estrada do lar de teus conhecidos,
olha. Os arautos enxergam a Sombra e a Mentira em segue para o lugar que te direi…
qualquer lugar. Um nobre enxerga o ouro e poder. Sem hesitar”
Um cavaleiro enxerga perigos e dever. Deste modo, - Versículo 3 do Livro dos Caminhos
a narrativa será totalmente diferenciada a depender
dos conceitos escolhidos em jogo. Seu personagem Independente de estar encarnando o papel de
teve contato com pagãos ou presenciou um rito de Narrador ou Jogador, é tua função, teu dever, con-
bruxaria? Ótimo. Costumamos dizer que o mundo tar tuas facetas deste mundo, descrever tuas sensa-
se divide entre espada, fé e ouro. Esses caminhos se ções, repassar aquilo que tua mente imagina... Fazer
cruzam, mas não se mesclam com facilidade. Este a narrativa se tornar viva. Em Belregard tu contas
fator parece simples, mas fará toda a diferença em histórias que usam um elenco não ortodoxo e enges-
seu jogo. sado, tuas histórias podem variar de personagens,
passando de camponeses, cardeais, Arautos ou xa-
Variedade: Ela existe! Belregard não pretende ser mãs. Logo, quanto mais te dedicares para interpre-
um cenário de único lado. A intenção aqui é propor- tar esses diferentes personagens, mais envolvente
cionar o mais variado tipo de ambientação para uma será teu jogo. Ao redor de dois a cinco jogadores, o

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


narrador conta sua história como um anfitrião re- reforça a ideia de que não existe uma “gramática
cebendo visitantes. Ele irá introduzir o mundo aos belregardiana” no mundo.
jogadores, e juntos eles irão dar vida a tudo isso. Es-
tas dicas são apenas linhas gerais, no Livro Quatro Livro Um: Testimus Homini
deste tomo apresentaremos os caminhos de forma Este livro foi organizado pelo abade Tullus, que su-
um pouco mais cuidadosa. pervisionou o trabalho de um jovem copista chama-
do Maltus. Além disso, este copista possui um ami-
O narrador é responsável por: go muito próximo, identificado apenas como “P”,
• Fazer descrições vívidas do mundo. por quem parece nutrir um afeto muito forte. O livro
• Decidir andamento do jogo e agir como um juiz foi organizado por ordem de um nobre de Parlouma,
em situações indecisas. Augusto de Borgosa, que desejava afinar seu pró-
• Envolver os personagens dos jogadores na his- prio saber sobre a história dos homens em louvor ao
tória. Criador. Dessa forma, o trabalho de Maltus foi or-
• Fazê-los tomar decisões e arcar com elas. ganizar conhecimentos antigos, como “Uma Breve
História dos Homens”, escrito por Haskel no século
Os jogadores são responsáveis por: X, no qual traça as linhas da história de Belregard
• Criarem personagens vividos, lógicos e indiví- desde o enaltecimento por Deus no combate contra
duos que tenham sintonia com o mundo do jogo. os bestiais até os dias mais recentes, contando ainda
• Tomarem decisões e estarem prontos para lidar sobre os costumes mais comuns entre os povos. Em
com suas consequências. seguida, utiliza-se da obra de Técio de Villa, um es-
• Fazerem o possível para construir cenas inesque- tudante da Academia do Saber de Varning, contem-
cíveis. porâneo do século XIV, que lançou verbetes sobre a
• Jogarem para contar uma história, seja de vitória vida em Belregard, indo dos sacramentos religiosos
ou fracasso. até questões corriqueiras como alimentação, sexo
e comércio. Por meio das anotações feitas ao longo
Se fôssemos comparar com um carro, o narrador deste livro, é possível perceber a relação entre Mal-
seria o motor e os jogadores seriam o combustível. tus e P, além da linha dura, pulso firme, de Tullus.
Mesmo o melhor motor não serve para nada sem
queima. O combustível sem um motor serve apenas Livro Dois: Tractatus Terrae
para queimar em vão. Os dois juntos impulsionam O Tratado da Terra original está perdido. Tratava-se
uma bela carenagem por lugares lindos, fazendo de um livro contendo os limites de reinos, condados,
nascer uma história. ducados, de todas as posses de casas nobres de Bel-
regard. Estava em posse do imperador quando Vir-
O que Tu Encontrarás? ka caiu. Boa parte dos limites se mantiveram, com
O livro está organizado em tomos que dão a vi- um ou outro rompante de conquista surgindo em
são interna do cenário, como contada por alguém castelanias mais caóticas. O Tribunal do Supremo
que vive lá. Apenas o quarto tomo não segue esse Ofício deseja traçar novamente estas linhas, estes
padrão. O leitor perceberá que algumas palavras po- limites, descobrir como o mundo se encontra nesses
dem sofrer mudanças sutis, como uma capitular ou cinquenta anos depois da queda. Esse foi trabalho
uma letra a mais ou a menos. Isso serve para mos- do Enviado Minus, que por meio de agentes coletou
trar que são mãos distintas escrevendo e também informações sobre a política, cultura e economia

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


das castelanias de Belregard. Tirou dos textos im- res são lançados para uso do narrador. São ferra-
pressões muito pessoais de seus agentes e as com- mentas, plots, tramas que ele pode experimentar
pilou para o conhecimento do Eleito, o líder máximo em Belregard. É onde se conhece a Sombra em sua
da fé. Os comentários no Livro Dois ficam por conta essência, os cultos e práticas pecaminosas.
de oradores, um cargo abaixo do Eleito, que certa-
mente leram o livro antes do próprio. É aqui que são Livro Quatro: Sacrum Codex
tratadas as regiões de Belregard, cidades, formações Por fim, no último livro, temos as regras. É nesse
de destaque, além de pitacos e sugestões dos rumos livro que saímos do on para o off e falamos direta-
que estas áreas estão pra tomar nos próximos anos. mente contigo, leitor. É onde a adaptação das regras
Mostra-se um mundo dinâmico. para o sistema de RPG Crônicas ocorrerá, com novi-
dades, modificações, para adequá-lo melhor ao ce-
Livro Três: Mysterarcanum Mundi
nário, além do resumo que torna possível jogar. Mas
Este livro é o mais obscuro, trata-se do estudo fei-
a cereja do bolo são as dicas. Percebemos, ao longo
to por um grupo secreto de Belghor, o Hakam. Aqui
desses anos, que muitas vezes é difícil para alguém
são discutidas verdades sobre os Puros, que são a
perceber ou se encontrar em Belregard. O mundo é
base do Tribunal do Supremo Ofício, mostrando en-
grande e constantemente se questiona, “mas como
sinamentos destes homens santos que seriam evita-
dos, até mesmo negados, pela igreja. É um livro que eu jogo? Sobre o que são as histórias?”. E é exata-
fala sobre um seguimento mais puro da própria fé no mente pra isso que esse capítulo existe. Bebemos
Criador. É onde tratamos dos Arautos como homens de nossas próprias influências em outros jogos pra
e mulheres despertos, capazes de enxergar o mundo ajudar narradores a encontrar seu próprio caminho
como ele verdadeiramente é, uma terra envolvida na dentro de Belregard. Além, é claro, de falar bastante
Sombra, um mundo derrotado. Além disso, o último sobre o horror, sobre o terror que é parte funda-
capítulo deste livro trata sobre as páginas negras de mental desse cenário. Como utilizar, como envolver
segredos reais; é um momento onde lendas e rumo- seus jogadores nesse clima mais cru e pé no chão.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


b Belregard b

A Continuidade do Sangue
— E como ele é, dona? — perguntou a aia, passando a centésima se-
gunda escovada, não que estivesse contando.
— Pegamos todos os detalhes que podíamos do gestor… o que não
é muito. Escolhemos alguém forte e inteligente. Queremos uma criança
que seja tão inteligente quanto as mães dela — respondeu a noiva, pen-
sando com sorriso no futuro que a aguardava.
— Perdoe-me a ousadia, dona, mas eu certamente iria querer ver o
pretendente por completo antes de deitar com ele! — A garota deu uma
risadinha, sabendo que estava próxima de passar dos limites, mas segura
que a sós com sua ama as coisas eram mais tranquilas.
— Aratta, querida, tenho certeza que sim. Mas ele é uma mera fer-
ramenta para o ritual. Não só não podemos ver o rosto, no máximo a cor
da pele e algumas partes do corpo, como não tenho desejo algum de ver
como ele é. O homem será apenas um meio de eu e Runya termos nos-
so bebê, e a relação com um gestor não funciona como você pensa. —
As mãos da recém-adulta passavam entre as várias joias na penteadei-
ra. Era a única coisa que faltava para a cerimônia, mas ela ainda estava
b 14 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b

tentando decidir entre três peças, cada uma com um significado dife-
rente. Celebraria o sangue da sua família? A união sacramentada? Ou
sua chegada à vida adulta com um casamento nobre?
Aratta parou por alguns segundos na escovada seguinte, tentando
raciocinar como um homem de fora serviria como semente para duas
mulheres gerarem seu próprio bebê. — Mas então como acontece,
dona? É algum tipo de feitiço?
Com uma leve risada, a moça tamborilou os dedos por um carís-
simo colar que fora de sua avó. — Não, Aratta querida. O gestor, ou
gestora, é alguém com preparo ritualístico. A semente escolhida é cole-
tada no ato, para garantir que ela tenha saúde e ninguém mais tente
adulterá-la ou de outra forma trocá-la. — A moça testou o colar no
pescoço, movimentando seu queixo de forma a ver por outros ângulos
sob a quente luz das velas do quarto. — Ouvi dizer que a parceira ou
parceiro pode participar do processo para que exista prazer na ocasião,
e eu certamente desejo Runya comigo … seu corpo no meu, enquanto o
gestor, com a nossa permissão, insere sua semente dentro de mim. Não
sei que aparato ele irá usar, ou se precisará fazer de outra forma, mas
nosso bebê está garantido e eu não podia estar mais feliz.
Aratta sentiu o rosto enrubescer ao pensar nas duas noivas na sua
noite de núpcias... ou de geração, ou… esses costumes nobres de regiões
distantes ainda eram muito estranhos. Não estranhos de forma ruim,
apenas curiosa. E Aratta era certamente muito curiosa.

—…e a garantia de meio ano caso haja falha na gestação. — O


Conselheiro Jugro terminou de resumir o contrato ao duque pela ter-
ceira vez. Contrato uterino, alguns o chamavam. Para ele, era a simples
garantia de que sua linhagem nobre se manteria intacta, e pelo menos
seria com um candidato digno — ele esperava.
— Agradeço, meu caro. Agora nos resta aguardar a chegada dele.
O que o mensageiro disse exatamente? — perguntou o duque, que
andava de um lado para o outro na frente do seu trono.

b 15 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

— “A chegada se dará garantidamente dentro dos últimos sinos do


dia”, de acordo com a mensagem, meu duque. Ainda há tempo de cance-
lar — disse o Conselheiro, um toque de cautela em sua voz.
— Cancelar o quê? O matrimônio de minha filha? O casamento que
tantos convidados — que já estão hospedados aqui, permita-me lembrá-
-lo — de tantas famílias importantes aguardam daqui a dois dias? Ou
você mais uma vez está… — Ele divagou, apertando e abrindo seu punho.
Era uma cólera conhecida por Jugro, e o Conselheiro sabia o que dizer.
— Perdão por trazer-te novamente a estes pensamentos, meu duque.
Mas eu preciso atestar os fatos e as possibilidades perante Vossa Graça, mes-
mo que sejam incômodo lidar com eles mais uma vez, caso contrário não
seria um conselheiro digno. — Jugro enrolou o pergaminho na sua mão e
o guardou em segurança dentro do seu bolso interno - um entre vários. Tal
assunto era absolutamente necessário para se manter em segredo.
— Tens razão, meu caro Jugro. Mas queres mesmo que eu reafir-
me tudo novamente? — disse o duque, apoiando a mão direita sobre o
apoio de braço do trono.
— Uma última vez, meu duque. Assim reafirmamos a tua vontade,
a do Grande Duque Mirtaz de Itryat, e a decisão de sua filha, Dranima
de Itryat. — O Conselheiro parou virado de lado para o duque, e olhou
fundo nos olhos do seu Senhor. — Quero que me diga novamente, meu
duque. Quero que me convença novamente.
— Muito bem — disse o duque, largando-se no seu trono. — Mi-
nha filha, a futura Duquesa Dranima de Itryat, casará com sua noiva
escolhida Runya de Amarat, no Equinócio de Primavera. O casamento
entre duas mulheres pode ser incomum nas nossas terras, mas em tantas
outras não o é. — Ele se ajustou no trono, deixando suas costas eretas.
— A linhagem nobre será assegurada através do serviço extremamente
discreto dos gestores.
Antes que Jugro pudesse interromper, o duque levantou uma mão
para silenciá-lo, e logo usou suas mãos para se empurrar para fora do
trono, permanecendo de pé em uma postura imponente, e prosseguiu:
b 16 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b

— O serviço dos gestores é algo ainda questionável em muitos


cantos, mas em casos similares, ou mesmo de uma possível infertili-
dade, é a garantia da continuidade da linhagem — pronunciou o
duque, com um quê de dúvida no meio da sua frase. — Um candi-
dato ou candidata é escolhido para servir como semente ou barriga
para o casal contratante, através de uma seleção extremamente discre-
ta que envolverá os interessados diretos, incluindo características físi-
cas, psíquicas, talentos ou feitos obtidos durante a vida, tudo no mais
absoluto anonimato — disse o duque, olhando pensativo para cima
nessas últimas palavras.
— Algo o perturba, meu duque? — indagou o Conselheiro.
— Não — respondeu o duque sem forças, mas logo se retificou. —
Não. Minha filha e sua esposa não conhecerão o candidato. Ele nunca
será revelado, e recebe o suficiente para não ter qualquer direito sobre
a criança. Isso protege a todos os envolvidos, e assegura a continuidade
do serviço. — O Conselheiro estava certo; ele estava sentindo cada vez
mais certeza do que estava prestes a acontecer. — Minha filha esco-
lheu sua esposa de acordo com os costumes, elas trocaram promessas
de acordo com a tradição, e ela terá que ser uma duquesa digna e for-
te para sobreviver como soberana desta região — enunciava ele com
uma voz cada vez mais forte.
Escorando-se nos apoios do trono, o duque parecia organizar seus
pensamentos antes de prosseguir:
— Se ela governará dignamente, então ela precisa fazer valer sua
vontade. Se eu serei um pai digno, então saberei quando ela tomou
uma decisão importante em sua vida! — Ele segue até os degraus a
três metros do seu trono, um punho cerrado na frente do rosto. Olhan-
do de soslaio para seu Conselheiro, ele finaliza: — Minha família, meu
sangue, minha dinastia … ela apenas se fortalecerá por esta decisão.
Conforme o duque se volta para os documentos, Jugro sorri com o
canto da boca. Nunca se permitiria servir um Senhor fraco. E a Senhora
estava no caminho para ser tão forte quanto seu pai.

b 17 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO I b

Testimus Homini
Uma Breve História dos Homens
PROOEMIUM
Abadia do Passo Partido, Birman, mil trezentos e cinquenta anos após a ascensão dos homens em louvor ao Criador.
Escrevo estas linhas com meu coração em regozijo. Pensava que devido ao nosso isolamento jamais poderíamos ser
surpreendidos pela vida. Que tolos que somos! Apenas mais uma prova, dentre tantas ao longo de minha vida,
devota de que o Criador reserva o melhor para aqueles que são valorosos.
Aqui no Passo dos dedicados há uma severa rotina de privações e cópias. A torre, que é a abadia, abriga copistas
Entendo o e sacerdotes regulares da ordem Haskelita. Não somos muitos, mas representamos o chão, o alicerce seguro para os
ânimo de pescadores desse singelo vilarejo esquecido no recanto leste de Birman. A vida aqui segue o seu próprio ritmo.
meu jovem Arrastado, moroso, mas bom para o trabalho. Talvez seja pela fama que conseguimos alcançar ao longo dos anos,
pupilo, mas o não por um esforço próprio de renome, já que o orgulho pode ser caminho para as Provações, recentemente recebemos
a visita de um homem da nobreza de Parlouma.
ouro parece
lhe encantar Dom Augusto de Borgosa, um jovem promissor dentro dos escalões de poder, sir Augusto foi recentemente sagrado
mais que as cavaleiro dentro da Ordem dos Pardos, a mais tradicional cavalaria de Belregard. Lorde Augusto confessou ao
abade que seu verdadeiro interesse era pelas artes, pela história, pelo mundo: se a posição de cavaleiro lhe permitisse
cópias. Con- o estudo, ele a aceitaria de bom grado;; e foi o que aconteceu. Com sua soma inicial de riqueza, nos fez uma
versaremos. visita para encomendar um compilado de tomos tradicionais sobre a vida em Belregard.
Além do O encarregado da transcrição é o próprio abade, Tullus, homem extremamente sisudo, severo e competente. A despeito
mais, todo da idade avançada, o abade é o melhor copista desta torre e não poderia ser outro a assumir esta responsabilidade,
este tratado especialmente depois da generosa soma de moedas imperiais deixadas por lorde Augusto! O dinheiro aqui não nos
certamente vale tanto, mas pode comprar algum favor das proximidades, especialmente com o Mosteiro de São Paolo.
passará pelas As obras escolhidas para constar no tomo de Augusto foram os antigos trabalhos de Haskel, notório sacerdote e
mãos de bis- historiador, denominada “Uma Breve História dos Homens”, escrita por volta do século X e XI e “O Ruir dos
pos que nos Castelos”, um tratado mais recente, do século XIV, da autoria de Técio de Villa, estudante da Academia dos
Saberes de Varning. Ambas as obras foram revolucionárias e o próprio abade discorda de muitos pontos apresentados,
visitam.
mas considera a missão de copista como algo sagrado: Ele seria incapaz de alterar a mais herética linha. Ainda
- Abade assim, será possível conferir alguns de seus comentários ao longo do tratado.
Tullus
Uma Breve História dos Homens se dividirá em partes. A primeira, representando a história até o momento, com
parte do que foi deixado por Haskel e depois continuado por seus seguidores, os Haskelitas. A segunda representa
um tratado sobre os principais povos que compartilham desta terra. Por fim, o Ruir dos Castelos, na terceira parte,
mostrando alguns detalhes e comportamentos comuns a todos nós. Esperamos que esta compilação seja suficiente para
alimentar a curiosidade do lorde. Serão versões menores dos tomos originais que talvez o motivem a novamente
solicitar nosso trabalho de copistas.

Estamos esperançosos e agradecidos.


Possa o Criador agraciar a todos.

Prelado Maltus, do Passo Partido, Birman.

b b

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Gravura estilo bertina de
Motazzi, representando Ignazio, da abadia
de São Lazari, em Latza, durante penitência,
quando copia de pé no salão escuro, de costas
para a luz, sob o olhar excruciante de seu velho
mentor, imortalizado no crânio liso.
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Prima Pars
O Conto dos Anos
“Sábio é o homem que de seu povo conhece o passado
De idas e vindas é feita uma história de louvor e pecado
Se diz o homem santo que o erro nos é um presente dado
Me permita escapar do olhar e da chama do prelado!”
- “O Prelado e o Asa Negra”, ou “Como Tiecelin Escapou da Fogueira”

Esta obra foi escrita por volta do século X, intitulada “Uma Breve História dos
Homens”, um imenso tomo que tenta dar coesão aos descaminhos da humanidade
desde que as palavras de Morovan, o Velho, despertaram a centelha divina dos
mortais. Haskel não terminou o tomo, que foi continuado, e ainda é, por seus segui-
dores. Fiz um apanhado dos principais eventos da obra original para
apreciação de lorde Augusto. É de grande valia lembrar que o conhecimento
histórico não é algo valorizado dentro da sociedade, de um modo geral, sendo algo
que faz parte da realidade apenas de estudiosos e sacerdotes e, mesmo com o
surgimento de algumas universidades em Varning e Parlouma, o estudo dos feitos
dos homens ainda é parte da própria teologia, que encabeça os movimentos
intelectuais do mundo. Afinal, o homem sem direcionamento na fé é perigoso para
si mesmo e para os que estão ao seu redor.

alar sobre a condição atual de séculos, ruiu; vítima de sua própria corrupção
Belregard não é fácil. Séculos interna. O poder, que um dia fora central, voltou
atrás, um homem uniu as caste- a ser local. Barões, condes, duques e toda sorte
lanias do mundo civilizado sob de nobres tentaram se tornar reis de suas terras.
seu punho firme e os liderou para retomar o ber- Poucos lugares se mantiveram firmes. Alguns
ço da humanidade corrompido pela Sombra. O ainda passam por turbulências, movimentos
que não sabia é que a Sombra, o Eterno Inimigo, comunais, revoltas de vassalos e de suseranos.
a Antítese do Criador, não habitava numa alcova Aqueles que podem, mantêm suas terras, pro-
terrena, mas escondia-se por trás do coração de curam aliados e prestam juramentos valorosos.
todo mortal. Sendo assim, mesmo que motiva- Mais do que nunca, a palavra de um homem é o
dos por um senso de justiça divino, aqueles ho- seu maior bem e a honra pessoal tem um peso
mens e mulheres estavam cegos e entregaram-se muito maior do que moedas em muitos lugares.
à dualidade em seu âmago durante a empreita-
O comércio, que uma vez cortava todo o im-
da. Todos ali eram, ao mesmo tempo, monstros e
pério, com caravanas vindas do extremo nor-
heróis.
te, dos campos de caçadores vogos até o sul
Há cerca de cinquenta anos o império de Vir- da fronteira dentro do território de Belghor, já
ka, que uniu as castelanias de Belregard por três não existe mais. As estradas foram deixadas e
b 20 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
apenas os loucos abandonam a segurança das simpática às moedas – estas que podem facil-
terras do senhor para se aventurar em carava- mente ser falsificadas e por isso a cunhagem dos
nas mal protegidas. Os desesperados, ou sem tempos do Império é extremamente valorizada,
escolha, tentam ganhar a vida como bandidos, devido à maior confiabilidade de sua origem.
ocupando as velhas fortalezas imperiais e pro- Desta forma, os preços padronizados de alimen-
clamando-se senhores de uma terra de ninguém. tos, hospedagem e bens costumam ser cotados
em peças de cobre. A prata é um luxo e o ouro é
Apesar de toda essa situação, o Tribunal do reservado apenas aos reis em suas próprias tro-
Supremo Ofício ainda se apresenta como uma cas com outros lordes.
instituição, com base na castelania de Birman,
que pretende dar coesão aos anseios e temores Belregard é uma terra que passou por um Sinto-me tão honrado de
humanos. O alicerce da igreja se fundamenta em exaustivo processo de transformações ao longo poder ver esses textos
dos séculos. Nos dias atuais, pouco da história em primeira mão. Não sei
três principais linhas filosóficas e seus seguido-
expressar muito bem o
res religiosos — os padres, prelados, bispos e antiga ainda é preservada ou mesmo estudada sentimento que me causa.
oradores — espalham-se por Belregard, divul- pelos intelectuais e eclesiásticos. Dos tempos Uma mistura de apreensão,
imemoriais, antes dos homens se tornarem se- afinal, eu não deveria estar
gando-a. A despeito das condições precárias
lendo isso com excitação.
das viagens neste mundo tomado pelas trevas, nhores do mundo, pouco ainda existe. O passa- Aproveitando, por que
a ordem eclesiástica faz o possível para manter do primordial de Belregard é envolto pela névoa aceita tantas exigências do
da fábula e do mito. A última tentativa direta de Abade Tullus sendo que ele
uma boa comunicação entre seus membros. Em
é simplesmente insuportável?
regiões isoladas, esta se mostra uma tarefa dig- se organizar e catalogar todos os fatos vividos Você não precisa dele para
na de heróis. pelos homens desta terra sombria aconteceu conseguir seu devido lugar
há séculos e, neste antigo registro, “Uma Breve dentro do Tribunal. Ele
apenas te limita, fecha seus
Poucos locais mantém um mercado ativo e História dos Homens”, escrita pelo prelado Has- olhos e segue o seu voo.
hoje a forma mais comum de comércio é o es- kel, de Virka, o tempo foi dividido em eras e a Você é livre, meu amado,
cambo. Dalanor, Varning e Parlouma, a parte cada era atribuiu-se uma transformação no pa- apenas voe - e quando o
fizer, voe para meus braços.
central de Belregard, ainda pode se considerar norama do mundo, menos física e mais política.
ui
e x p a ndir aq Seu eterno amigo
igno vem P.
Acho d sforço que m
e o
todo o eito. Passa c bre
f a so
sendo masiad
a d e d e ndidos
celerid picos empree
s é fé
os ato h o m ens de
pelo s

Gravura de Fergus representando uma das muitas construções abandonadas de Belregard. De antigas estalagens de estrada
até fortalezas imperiais, abandonadas, arruinadas, ocupadas por toda sorte de horrores,
animais selvagens e bandos de degenerados e criminosos.

b 21 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
A Era da Vergonha filhos do Criador e, sendo incapaz de matá-los
“A Saída da Lama” com suas próprias mãos, o Único se voltou para
um pequeno e tímido vale, onde, sim, fez-se pre-
Segundo Haskel, a primeira era, a Era da Ver- sente aos olhos das Crianças Cinzentas.
gonha, foi um período em que nem mesmo os
homens caminhavam sobre a terra. Pelo menos Como dito, os Selvagens eram muitos, de for-
tro
Não há regis não da forma como hoje. As lendas falam sobre mas e tipos distintos. Apenas dois grupos tive-
do
sobre a data as Crianças Cinzentas que habitavam o vale de ram seus registros preservados até os dias do
da
início da Era Belghor e lá sofriam a opressão dos Selvagens, império. Os belinar eram pequenos e ágeis, as
as seu
Vergonha, m estes sim, senhores do mundo. O termo Selva- gravuras de estudiosos do período os mostram
e com
fim acontec gem é intencionalmente genérico. A variedade com traços felinos muito marcantes em suas fi-
da
o surgimento de seres que habitavam Belregard antes da as- sionomias. Já os dwetar, que habitavam as mon-
Era das
com o censão humana era vasta. Eles ergueram civili- tanhas de Rastov, são semelhantes a bodes e
Revelações,
no 01.
marco do A zações ciclópicas e cultuaram todo o círculo de cabras, com suas longas barbas e corpos atarra-
o no
É um períod aberrações. Este caminho torto envergonhou o cados, firmes. Outros existiram neste período e
qual sabe-se Criador — aquele que ordenou o mundo. Assim não são incomuns os relatos modernos de ativi-
ido
pouco, envolv como cada grão sobressalente de areia que jazia dades selvagens pelos ermos do mundo. Inúme-
em lendas ed
no fundo do mar, os Selvagens também eram ros outros grupos únicos existiram no mundo.
ens,
povos selvag
que
animalescos,
da a
louvaram to
res
Horda de se
nefastos arder até hoje; aliás, será
Por certo eram bestiais pois se relacionavam com feras. Suas almas devem
veja como a animalidade se
que tais homens-besta detinham almas em suas carnes corrompidas? Pois
, ainda que haja até
faz presente também neste povo. O Único não nos fez para violar nossa natureza
todo tipo. Não negarei: tenho
hoje alguns que cismam em amenizar seus impulsos violando rebanhos de
certo asco destes que insistem com o bestialismo da Era da Vergonha.
P.

a
Os Monges Copistas
Lhe enviarei
alguns Este livro é apresentado como um apanhado de relatos e obras de grandes estudiosos de Belregard. Na
rascunho s o
riginais primeira parte temos um resumo da história conhecida do mundo, contada sempre pelo ponto de vista da
que possuo so
bre própria igreja, por mais que existam algumas declarações contraditórias, que logo são rebatidas por Tullus,
a fisionomia
o abade que supervisiona todo o trabalho. Na segunda parte são apresentadas as etnias de Belregard e
destes selvag
ens. seus principais traços marcantes, carregados de algum preconceito que deve ser utilizado para enriquecer
É assustador
, a experiência. Por fim, a terceira parte, a vida em Belregard, é um apanhado de inúmeros verbetes que ser-
como toda o
bra vem para pincelar sobre os pormenores da vida difícil nesse mundo isolado, mas não abandonado de cores
da imundície
. e prazeres. Vale perceber as anotações laterais ao longo do tomo, mostrando um contato entre os copistas
que se confidenciam e criticam, uma prática comum mesmo entre os mais dedicados, mas certamente
condenada pelo estóico Tullus.

b 22 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
A própria corte primitiva de Dalanor apresen- arbítrio de seguir para a luz ou para a treva. Ao Em minhas pesquisas
descobri que os mais
ta seres leoninos, corvinos, lupinos e tantos ou- contrário do Pai de Todos, a Sombra Viva não antigos vestígios de
tros. Existem muito mais mistérios entre os sel- assistiria impassível aos avanços da humanida- adivinhação do futuro
vagens do que podemos imaginar. Neste tempo, de. Ela influenciaria, manipularia e criaria a de- e feitiçaria datam deste
período. Afinal, o povo
zoofilia e sociedades erguidas através da relação sordem para atrair os homens para si e, ao mes- estava sedento por
com animais era o padrão social. mo tempo, serem menos dependentes do Único. qualquer resposta. Dentre
todos os métodos, o mais
antigo e tradicional, tanto
Como dito por Haskel, o tempo dos anos em Belregard é dividido em que persiste até hoje,
consiste na utilização de
dois momentos. Eles são indicadas por PA, Pré-Ascensão, e DA, Depois uma pedra negra e uma
branca em um alforge.
da Ascensão, como referência à Manifestação do Único e do Chamadas de Quidat e
enaltecimento dos homens como seus escolhidos. Marcando o ano 01 do Turpitud suas
interpretações são
calendário na conquista de Virka e na coroação de Bövrar I. diversas, mas para leigos,
eram usadas para
responder a questão
O Criador revelou-se aos homens através de Por muitos anos antes da fundação de Virka, inocente ou culpado, certo
um profeta, Morovan. Este homem santo foi a primeira cidade, os homens de Belghor treina- ou errado. P.
guiado por sonhos até uma antiga caverna, onde ram e aprenderam sobre os caminhos da purifi-
encontrou uma pedra inscrita com os ensina- cação. É certo que muitas cidades foram criadas Canto e Ei de
mentos do Pai. Tal pedra angular do criadoris-
Cantar, porque
dentro do próprio vale, mas nada restou de suas ele
rompeu e triu
mo provavelmente havia sido usada pelos pró- ruínas, salvo aquelas com alicerces em território nfou
em Sua Glóri
prios selvagens quando ainda viviam na graça selvagem. Apesar de todo o poderio apresen- a,
Força, Salvaç
do Altíssimo. Lá, depois de passar por longos tado pelos primeiros sacerdotes criadoristas, ão
e Louvor. Pel
períodos de jejum e contemplação, Morovan capazes de realizar milagres e inspirar o amor
as
honras dos meu
foi capaz de compreender as inscrições da pe-
s
e o terror naqueles com boas e más intenções, antepassados,
dra e assim alcançou a consciência pretendida grupos distintos discordavam dos rumos dos ho- sempre lhe dar
ei
pelo Criador. Naquele momento, Morovan, o mens e muitos partiram do vale para o norte, glória. Ele lhes
grande profeta, fez arder a chama criadora de para a futura Belregard a ser conquistada, e para destruiu pela
força da espa
Deus. Mas tal despertar não se fez presente sem o sul, onde se estende a vasta selva de Áya. É da.
Guiado pela gr
propósito, o Criador precisava dos homens para certo ainda que alguns foram corrompidos na- aça
dos céus
limpar o mundo da vergonha que eram os Selva- quele tempo primitivo, formando os primeiros
gens, incapaz ele próprio de cumprir o objetivo inimigos da fé, nossos próprios irmãos.
de dar fim aos seus filhos, mesmo com estes se-
Ainda que não saberemos sit amet, consecte- da pela
guindo uma trilha torta de seus ensinamentos.
u it o entoa m que
tur adipiscing elit. PARA DE SHOWmEa VAI
u m a
úsicLER m
a m igo s defende m e
ica
echo ind FOIaOgGABRIEL lguns lutasse
Assim, aqueles que foram as Crianças Cin- O LIVRO DIREITO, Este trPORRA! uiava. A s homens que gozo
a n d o M oro v a n
lo Ú n ic o a o
d e p ra zeres e
zentas, despertaram para o papel de executores QUE MANDOU quTU FAZER fISSO, e
eita p NÃO FOI? a vida
marcha p romessa e Morovan: Um da Celeste.
u m a
da vontade do Criador. No entanto, houve um PARA DE ia
havGRAÇA! SEGUIMOSsa d COM A PRO- Abóba
r e s s e m pela cau es festivos na v orosame
nte.
problema com a chegada do Criador ao mundo, GRAMAÇÃOmor NORMAL. e m s a lõ
Vivamus auctor rd e f
antee r
m disco
vindo de seu lar, a Abóboda Celeste. Sua for- ut erat gravida, vitae commodo Há quepurus ultrices.
u pai
u vejo me ãe
ma projetou uma sombra e esta também dividiu Aliquam sagittis vestibulum Mauris “L á etincidunt
u v e jo minha m
tante e In ãos e irmãs
Não distincidunt.
o poder no coração dos homens. As Crianças nibh mi, in volutpat turpis laoretu
lado, irm ovo.
Cinzentas passariam a ter, a partir dali, o livre tempus dictum enim est enim. Ao meu meu p pre”
Este é v ive r para sem
lutar e
a m a d o para
b 23 b O c h
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
A marcha de conquista para fora de Belghor normalmente com vantagem numérica. Foi ape-
teve a liderança de Morovan, chamado de “O nas através do fogo que os homens conseguiram
Velho” nos antigos escritos que não datam des- vencer, eliminando permanentemente sua pre-
ta época, mas que marcaram as tradições orais sença nas florestas ao redor de Virka.
que permaneceram até a Era do Sangue. Alguns
dizem que o tempo de preparo dos homens de Diante da vitória, Bövrar foi oficialmente co-

Belghor para a conquista foi de séculos, que não roado como primeiro rei dos homens, agindo

poderia ser o mesmo Morovan e sim um descen- como juiz, conselheiro e emissário da vontade

dente na ordem das hekklesias primitivas. Ou- divina. A posição de líder agora gera outras ca-
Vale a pena tros ainda dizem que Morovan havia se torna- pacidades e necessidades. É dito que os céus
ressaltar aqui a do um título, como o de Eleito do Tribunal, um se abriram no momento que o rei recebeu sua
completa coroa, como testificação de que este era o ca-
cargo máximo religioso, outros ainda dizem que
negligência minho correto a seguir. Bövrar I havia trans-
ele se tornou imortal a mando do Criador. Seja
quanto à formado a humanidade em uma máquina de
existência de qual for o caso, depois da saída dos homens do
vale de Belghor, através do Passo de Morovan, guerra, na busca pela limpeza do mundo. Como
outro grupo
foi dito, estes primeiros belghos encontraram
selvagem, os a figura do profeta perde participação ativa nos
chamados relatos e fala-se principalmente de Bövrar, que outros povos de origem humana, mas neste pri-
Cabeça-de-Cão. viria a ser chamado de Puro. meiro momento apenas os ignoraram, quando
Nos registros não os queimaram junto aos selvagens. Faz-se
particulares de Bövrar guiou os homens através da selvagem válido destaque especial aos abutus, que viviam
Haskel, ele faz Belregard, encontrando grupos nômades das no extremo norte da região de Virka, na costa
menção a estes antigas Crianças Cinzentas que haviam aban- acidentada. Um povo misterioso e recluso, eles
seres, mas me donado Belghor antes da marcha ter se iniciado cultuavam os selvagens abertamente e não fize-
incomoda o fato
oficialmente. Também direcionado pelo Criador, ram questão de se misturar aos novos vizinhos
de não tê-los
Bövrar abriu caminho com ferro e fogo até o e nem por isso foram poupados.
incluído entre os
caçados coração do continente, num largo vale monta-
nhoso e intocado pela mácula. Neste vale nas-
ceu Virka, a primeira cidade e futura capital do
a
império. A Virka do passado era singela com A Exatidão das Datas

suas estruturas de pedra rústica e madeira es-


É importante dizer que a linha do tempo apre-
cura, paliçadas e torres simples, mas o contato
sentada aqui foi construída por um sacerdote,
com os Selvagens das florestas ao redor da ca- em seu tempo, e posteriormente alterada por
pital foi intenso e hostil. Os belinar viviam nas seus seguidores. Datas exatas podem causar

Gravura de Erasmo mostrando matas, muitas vezes chamados estranheza, mas elas foram simplesmente es-
uma “cerca fantasma”, muito colhidas pela conveniência do autor. Mesmo a
comum entre os selvagens. de espíritos e mesmo crianças
Ainda praticada pelos druidas vinda do Criador, marcada no ano 900, pode
do norte. dos bosques, eram ardilosos
não ter ocorrido precisamente ali, mas devido a
e combatiam apenas
relatos destoantes, o padre precisou fazer uma
em último caso,
escolha por uma data para marcar a transição
do tempo.

b 24 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
A Era das Reve-
b O Conto dos Anos b lações foi do ano
A Era das Revelações 01 ao 900 DA.
“O Tempo da Coroa”
a Nesta, os homens
A Proliferação das Hekklesias receberam a re-
A coroação de Bövrar marcou o início de uma velação do Pai de
nova era. A Era das Revelações veio como um si- Grosso modo, a hekklesia era o culto atra- seu verdadeiro lu-
nal de que a verdade cairia sobre todos os Selva-
vés de ritos e tradições da igreja primitiva, gar na criação, eles
focando-se no seu objetivo inicial que era a seriam os purifi-
gens e que o seu tempo como senhores do mun-
erradicação dos selvagens. Quando este as- cadores. Trata-se
do havia finalmente terminado. A religiosidade sunto foi tornando-se secundário, as ideias de um período no
de Virka foi firmada na hekklesia e seu principal gerais sobre o culto e igreja tornam-se mais qual ergueram-se
fundamento, o cerne da fé criadorista daqueles plurais e dualistas. Desse modo, todo ho- as primeiras for-
tempos antigos, era a busca pelos selvagens e a mem santo que sagrava-se Orador dentro talezas dos ho-
purificação do mundo conhecido, eliminando a das hekklesias poderia criar seu próprio mens, local onde
vergonha sentida pelo pai depois dos caminhos
braço da fé, muitas vezes iniciando um culto grupos bárbaros
completamente novo, apegando-se a algum foram converti-
tortos seguidos por seus primogênitos.
elemento obscuro deixado nas parcas es- dos, culminando na
crituras da época ou mesmo com interpre- vinda do Único
Foi no fim do período do governo de
tações tendenciosas e falhas. Nos tempos
Bövrar I que ocorreu o Levante dos Indefesos.
atuais, estas interpretações seriam heresias.
Desesperados pelas derrotas sofridas, os Sel-
vagens lançaram um ataque suicida que visa- Patriarcado e a Participação
va assassinar o herdeiro do rei, que havia sido das Mulheres em Belregard

isolado com mulheres e crianças nas torres de


É possível perceber que ao longo do registro
Virka. Estes indefesos tiveram que proteger o histórico de Belregard poucas mulheres re-
primogênito e este fato modificou a estrutura ceberam destaque. Isso se explica mais por
patriarcal da sociedade de Belregard daquela costume que por um preconceito declarado.
época. A partir daquele momento, a maiorida- Desde o Levante dos Indefesos, em 51 DA,

de passou a ser aceita aos 13 anos e mulheres as mulheres deixaram de ter um papel se-
cundário e submisso na sociedade. Mas a
puderam fazer parte dos exércitos e ordens ca-
igreja, o Tribunal, costuma resistir um pou-
valeiras no futuro.
co na inclusão de nomes e feitos atribuídos
a mulheres em seus registros. Como são os
A marcha de Bövrar I seguiu firme até 51 DA,
padres os detentores dos saberes e das le-
quando este cai enfermo em idade avançada. tras, essa omissão se justifica dessa forma.
Uns dizem que Bövrar viveu muito menos que No levante, a figura de Angelina tornou-se
Morovan, apesar de ter atingido uma idade ve- conhecida como a mulher que armou-se e
nerável, por afastamento da vontade do Único. liderou os supostamente indefesos na defe-

Outros dizem que era o preço pago por reinar sa do filho do rei. Mais tarde, Angelina seria
reconhecida como santa.
sobre o sangue dos Selvagens. Independente
disso, pode-se perceber que os reis sagrados e
reconhecidos pela igreja alcançam uma idade
muito maior que outros. Algo nos ritos privados muitas vezes levavam suas diferenças para o
de coroação agracia o monarca com este dom campo de batalha, mas o pulso firme de Bövrar
do Criador. Naquele momento, a visão frouxa da conseguiu manter boa parte da ordem. Com a
hekklesia já havia dado conta de criar divisões sua morte, seu filho foi coroado como Bövrar
religiosas, cultos internos e grupos menores que II e deu seguimento ao trabalho de seu pai com

b 25 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Amante do conhecimento grande ímpeto. A diferença mais marcante en- Ele propunha debates elaborados, acalorados,
e das libações. tre pai e filho é que o segundo era movido pela que deixariam inquisitores modernos noites e
P.
curiosidade e não pelo simples desejo de limpar noites sem dormir. Sua língua era afiada e nem
o mundo. Dessa forma, a guerra assumiu rumos mesmo o mais alto representante da Igreja po-
diferentes. Os esforços militares eram ainda o deria enfrentá-lo em um debate sem ter sua fé
cerne da humanidade, mas Bövrar II desejava colocada em jogo, perdido em questionamentos.
conhecer os selvagens, saber sobre suas pró- Bövrar II fez muitos estudiosos parecerem me-
prias histórias e suas escolhas. Um pedaço de ros tolos frente a seu conhecimento. Este grande
tomo selvagem poderia valer mais do que a ca- templo caiu há muito tempo, mas seus alicerces
beça do líder deles. O que fez com que povos serviram para erguer a que posteriormente se-
Por que insiste tão antigos se voltassem contra o Criador? De ria chamada Catedral do Deicídio, maior templo
em enobrecer onde vem a força do Criador? Por que nós fo- religioso existente, mas certamente menor que
tal homem? mos escolhidos acima de todos os outros? Estas o grande templo de outrora. A construção de
Sabemos de e outras muitas perguntas fizeram Bövrar II en- tal local é envolvida em mistério. Muitos relatos
seu destino, furnar-se em mistérios tidos como profanos por antigos falam sobre como o templo foi erguido
queimando na membros da Igreja. da noite para o dia, ou de como sua obra era
Alcova Pro-
completamente silenciosa, de modo que nem
fana, por que Bövrar II cercou-se de um harém particular se viam os trabalhadores. Acredita-se que com
trata-lo como
onde mantinha uma relação íntima, pecaminosa, seu vasto conhecimento dos segredos do mun-
se tivesse sido
com toda uma sorte de selvagens e povos huma- do sobrenatural, dos demônios selvagens e os
um homem
nos desgarrados, como os abutus. Ele tinha pre-
sacro? sigilos aprendidos com feiticeiros destes povos
dileção por fêmeas das espécies, pois sabia que primitivos, Bövrar foi capaz de escravizar mui-
muitas destas culturas eram matriarcais e eram tos destes seres horrendos para trabalharem na
das mulheres o conhecimento sobre os mistérios construção de seu templo. Esta construçao é
da vida, da morte, dos espíritos e da verdadeira tida como profana por muitos Lazlitas moder-
luz e escuridão. O jovem rei empreendeu inúme- nos, pois afirmam que sua estrutura, desenho
ras viagens para além das fronteiras visitadas e forma foram feitos de modo a tocar o reinos
pelos exércitos de Virka em busca de locais tidos dos céus de modo errado, através de caminhos
.
Apenas histórias como sagrados por povos primitivos. Lá, tentou trôpegos transitados por Selvagens, uma mistu-
Atenha-se à ve r- encontrar o que foi deixado de vestígio do Cria- ra intrínseca entre o sagrado e o profano. Uma
dade e não aos dor nestes primeiros dias, quando Ele deu o mes- obra de arte somente possível de uma mente tão
mitos. Isso são mo valor e prestígio aos Selvagens, seus filhos superior quanto a de Bövrar II.
apenas histórias perfeitos neste tempo passado. Bövrar criou as
de homens
chamadas Casas de Luz, refúgios contempla-
avarentos. MIA!
tivos, bibliotecas subterrâneas, locais de puro BLASFÊ á sob
a c r e d it a que est
saber. Com o conhecimento selvagem, inúmeros Você de sua
a s im p le s tarefa não
destes santuários profanos foram erigidos, a des- um e dita que
? A c r
capela andar
peito da desorganizada hekklesia da época.
h o p o d e r para m
ten cela?
-lo numa
arremessá final.
a versão
Bövrar II construiu o Grande Templo do Cria-
e is s o d
dor em Virka, onde tentou reunir as hekkle- Retir ciência es

Minha pa ndo.
se esgota
sias existentes para um acordo comum daqui-
lo que era o cerne da divindade criadorista.

b 26 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b

Fora a ameaça selvagem, é preciso lembrar da Horda. Chamamos assim toda a sorte
de culto macabro que permeava os povos daqueles tempos. Infelizmente, uma praga
que ainda hoje se encontra entranhada em muitos locais, seja em povoados isolados
ou nos grandes centros populacionais. Alguns povos ditos civilizados ainda se voltam
a estas práticas, sejam os belghos com seus sacrifícios animais ou os vihs com suas
previsões em tripas… A corrupção do homem me enoja.

As atitudes de Bövrar II lhe renderam uma e caracteres certos, em momentos e lugares cor-
Há quem diga que o
grande infâmia entre os habitantes de Virka, retos, qualquer pessoa era capaz de fazer o ini- próprio nome daquele que
mas nenhum deles ousava erguer arma ou pa- maginável. Como ele muitas vezes repetiu “Os experimentou toda sorte
de prazeres em busca do
lavra contra o rei. Em pouco tempo, em suas mundos estão conectados e tudo reverbera com
conhecimento nutra afe-
pesquisas e buscas por saber proibido, Bövrar autorização dos universos. Sua mente é o mun- tos ocultos. Emplastros com
se tornou um poderoso feiticeiro. Se naquele do”. Até os dias de hoje, muitos dos estudantes unguentos que propiciam
de
excitação e ferramentas
tempo apenas os homens de verdadeira fé eram das artes místicas se cumprimentam usando pra zer são enc ont ra-
íntimo
capazes de realizar milagres, como poderia um o clássico cumprimente que Brövrar II utiliza- dos com o nome de
homem que se deitava com Selvagens realizar o va: “Sequeri Lux”, algo como “Siga a Luz” em Bövrar II.
Ser isto um fetiche?
ia
mesmos feitos? Acredita-se que em seus estu- belgho arcaico. se
Pura lascívia dos que já
dos, Bövrar tenha conseguido quebrar a barreira encontram perdidos.
entre os mundos. Na sua busca pelas raízes do Li com meus próprios olhos alguns textos antigos P.
poder de Deus no mundo, naquilo que os pró- sobre o assunto e eles falavam sobre Mentalismo,
prios Selvagens viam com reverência, o rei foi Polaridade, Causa e Efeito e muitos outros princípios
capaz de compreender toda a teia que mantém a que me parecem misteriosos. Ainda não pude ter
realidade coesa. Com gestos, palavras, símbolos acesso a nenhum texto contendo informações mais
concretas. Segue um trecho introdutório do Tomo
da Manifestação “Daquilo que Vem de Cima”
a
“Ouve os gritos da Sabedoria. Não esteja surdo a
As Viagens de Bövrar II
eles. Não deixeis ficar rouca. Sai da escuridão e
Acredita-se que o antigo rei tenha conhecido ouve. Segue os passos do Mestre e
muito além do que se tem hoje por Belregard. ouve os gritos da Sabedoria.
Além de ter ciência de povos como os vihs e os Ouve e segue, lembra-te dos Princípios. Sempre!
vogos dos ermos, acredita-se que o famigerado Pois, esta é a chave. Todas as outras são engano.
governante visitou terras além do continente O mundo está vivo. O estático é morte.
e até mesmo além deste plano carnal. Sempre
viajando de forma incógnita, Bövrar tentava Mas não acumules sem usar, pois será como o ouro
aproximar-se dos sábios e aprender com eles. que escurece sem ser gasto. De nada vale.
Se os relatos sobre sua morte forem reais e seu Lembra-te que nós estamos a serviço do Princípio.
corpo estiver mumificado em algum lugar, é Nós concordamos com a Lei, mas a Lei não precisa
muito possível que aquele que o encontrar seja da nossa concordância. Aqueles que seguirem o passo
agraciado com as bençãos do grande senhor da do Mestre e seguirem os Princípios,
mágica da Forma-Pensamento, do homem que estes estarão no Caminho.”
decodificou as intrincadas tramas da realidade,
para torcê-la a seu bel prazer, o homem que P.
conceituou e iniciou a teosofia.

b 27 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
O fim do reinado de Bövrar II é um misté-
rio. Dentro dos anais da história de Virka Gravura estilo bertina de Arj,
representando uma
é dito que o rei morreu aos oitenta anos “prole de Popobawa”, um povo
selvagem temido pelos abutus.
de idade de causas naturais. No en-
tanto, como se pode imaginar, muitas
são as lendas sobre como ele teria des-
coberto uma maneira de vencer a morte.
Alguns creem que o rei escondeu-se em
uma de suas Casas de Luz, onde teve o cor-
po preservado em rituais de mumificação.
Tais Casas são procuradas até os dias
de hoje e é de se imaginar que encon-
trar o corpo preservado do antigo rei
dos homens pode trazer a desgraça
ou o pleno conhecimento dos segredos
do mundo, além de muito ouro. Entretan-
to, depois do fim da regência de Bövrar II,
não existia um descendente legítimo para assu-
mir o trono de Virka. Uma série de bastardos do
rei com suas consortes começaram a brigar pelo
Eu encontrei um homem controle de Virka. Este período ficou conhecido
que diz ter viajado Histórias dizem que a mãe que dera à luz este
como Guerra das Crianças, em 116 DA.
até Rastov e ouviu da bastardo o fez dentro de um destes locais de
boca dos descendentes A despeito do estado de caos dominante em poder, concedendo poderes místicos à sua cria.
do próprio Larsen e Virka, com reinados breves dos filhos do antigo Larsen aprendeu todo o necessário em um am-
seus fantasmas sobre sua biente caótico de conflito civil e instabilidade
rei, a conversão dos povos primitivos reconhe-
história. Ele me disse
cidamente humanos se intensificou, especial- de poder. Ele próprio chegou a guiar Virka por
que se deitou com suas
mente com os parlos, que tiveram suas crianças duas vezes, nas tentativas da construção de um
mulheres, bebeu das suas
bebidas e dançou nas tomadas para aprender sobre os caminhos do triunvirato forte com filhos do antigo rei, mas a
suas festividades. Ele me Criador e logo devolvidas ao convívio com seus ganância de alguns sempre cobrava caro. Cansa-
disse que não posso mor- semelhantes, como completos estranhos no ni- do das disputas, Larsen reuniu os seus e partiu
rer sem sentir-me vivo nho. A miscigenação com o belghos, somada a para o oeste. Sua coluna de desertores explorou
ao menos uma vez em cantos ainda desconhecidos do mundo. Foram os
esta atitude de doutrinação da geração mais jo-
uma festividade desta.
vem, quase fez com que os parlos desapareces- primeiros a encontrar os dalanos com seu pode-
Seria algo incrível em-
sem. Outros grupos étnicos menores também roso legado musical e especialmente os bárbaros
preendermos uma viagem
desta após estes tomos são assimilados pelo criadorismo, recebendo a vihs das estepes. Os clãs não trataram aqueles
estarem acabados. verdadeira luz do esclarecimento, dando-lhes a andarilhos com hostilidade, mas sim com respei-
chance de uma redenção, renegando qualquer to quase divino. Por terem vindo do sul, os vihs
P. acreditaram que aquela coluna havia saído do
tradição compartilhada pelos Selvagens.
svarog, o mundo dos mortos, já que a religiosi-
No ano de 150 DA, um dos bastardos de Bövrar, dade antiga dos clãs coloca o mundano e o so-
que havia nascido depois da morte do rei, liderou brenatural em limites reais. Os vihs chamaram
seu bando e suas famílias para fora de Virka. aquela coluna de Marcha Fantasmagórica.

b 28 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
As histórias que ouvi
b O Conto dos Anos b sobre tal homem são
algo de magnâni-
Para muitos, testificavam-se os poderes so- Encurralados em seus corredores subterrâ-
mo. Incrível imaginar
bre-humanos herdados de seu pai. Existem neos, os dwetar foram aniquilados, deixando alguém tão sensível, tão
livros, músicas e muitas lendas sobre o êxodo Rastov sem governo. Devido à independên- evoluído, mesmo estando
entre brutos, bárbaros.
empreendido por Larsen, histórias horrendas, cia trazida pelos igslavos que se juntaram aos
Sua sabedoria parece
mágicas e diabólicas. Histórias sobre sangue, belghos durante a marcha, não demorou muito ofuscar ou, ao menos,
luta e liderança. Histórias alicerces para as so- para que os descendentes destes grupos vol- fazer frente à glória
das conquistas de Lar-
ciedades que se ergueram a partir deste êxodo. tassem a se dividir, até mesmo abandonando
sen. Veja os lemas que
as fortalezas criadas por Larsen. Reunindo-se Karn usou para guiar
Quando demonstrou interesse em avançar ain-
em grupos menores, os clãs de Rastov come- sua vida. O povo de
da mais ao norte, além da vastidão florestal cha-
Rastov o segue, mesmo
çaram a tomar forma. Karn, o Branco, foi o
mada Taiga Branca, os vihs advertiram Larsen que sem consciência. É
grande herói da guerra contra os selvagens, ter- incrível.
do perigo, pois a Taiga era, para os vihs, também
minada em 345DA. Procurando reestabelecer
um sinônimo de inferno. Alguns clãs seguiram “Então viva sem medo
contato com Virka, já que desejava a presença
os belghos, destacando-se no que viriam a ser os da morte. Ela nunca
da igreja também em Rastov, a fim de teste- pode estar em seu
igslavos. A travessia da Taiga foi verdadeiramen-
munharem a vitória contra os selvagens, Karn coração.
te custosa. Grupos inteiros se perderam e uma es- Não dê explicações
partiu para a primeira cidade.
trada verdadeiramente segura demorou mais que a ninguém sobre sua
o normal para ser aberta. De fato, a Taiga poderia religião.
Em Virka, a Guerra das Crianças acabara em Respeite o próximo.
não ser o próprio Inferno, mas era sim uma severa Ame a vida e trabalhe
220DA graças à instauração de um governo co-
fronteira. Além da floresta, nas vastas planícies que
mandado por Oradores das hekklesias, em um para se aperfeiçoar.
se abriram sob o olhar inclemente dos ermos e da Sua finalidade é o bem
concílio que gerava mais intriga e disputas in- estar do seu povo.
Coluna de Balmung, as suas misteriosas monta- Sempre saúde ao
ternas de sutiliezas do poder do que reais fei-
nhas dos ermos, Rastov nasceu sob a regência de
tos e reformas. Karn se mistura às estruturas encontrar um amigo.
Larsen. Um estranho deve ser
de poder da Virka teocrática e tenta restaurar sempre bem tratado
A relação de Larsen com os Selvagens foi dife- um governo convencional, mas é sufocado pe- também.
rente do que era pregado em Virka. Nas regiões los desejos de sacerdotes. Disposto a mudar a Sempre dê graças ao
levantar, à comida,
montanhosas de Rastov, Larsen conheceu os situação, Karn se alia a Bóccio e lidera o Levan- ao dormir. Se não vê
dwetar, baixos e atarracados. Inicialmente não te dos Alvos, em 370 DA, uma guerra civil que motivo para dar graças,
existiu hostilidade declarada e uma convivência dividiu e sitiou a cidade por dentro, separando não tem alegria de
viver.
pacífica foi estabelecida entre os povos. Isso moradores e tornando todos potenciais comba- Tenha honra ao morrer,
mudou em 160DA, quando Larsen foi envene- tentes; ninguém ficou isento enquanto o sangue pagando àqueles que
deve.
nado em sua corte por um emissário do povo de padre e pecador sujava as ruas. O Levante
Cante sua música de
dwetar. A traição reacendeu antigos ódios e fez culmina com a vitória de Karn e Bóccio. Assim morte quando ela sorrir
com que a velha pregação da hekklesia chegasse o Karnado é instaurado, gerando uma regência para ti”
até os gélidos salões de Rastov. dividida entre um Orador e um Rei.

As hekklesias religiosas eram o pandemônio. Sem a orientação firme de uma espinha


dorsal religiosa, qualquer lunático poderia fazer suas próprias conclusões das parcas
palavras registradas de grandes sábios do passado, como Morovan e Bövrar I. Rapi-
damente, sem qualquer instrução divina ou estudo eclesiástico, uma palavra tornava-se
uma frase e uma frase tornava-se um novo pergaminho para uma nova ideologia.

b 29 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Tal sistema funciona inicialmente, mas gera
conflitos quando aquele que deveria ser o Karn
a
III morre antes de assumir. Na linhagem de su- Patriarcas e Matriarcas
cessão, dois segundos filhos disputam, ambos
De fato muito pouco se sabe sobre tais seres.
Oradores de hekklesias. Cientes de que qualquer
Pelo que restou dos escritos de Dankhila, estas
escolha gerará uma nova disputa, a nobreza se entidades eram os grandes geradores e gerado-
Relatos antigos dizem cala e a Guerra dos Rosários marca Virka de 447
que ras de selvagens. Não eram exatamente femini-
o túmulo da Orante
fora a 451 DA, quando Grimaldi, o Velho, consegue nas ou masculinas, eram além de julgamentos
alvo de peregrinação
de de gêneros ou mesmo moralidade, eram coisas
centenas de milhares provar que seu adversário, Lindon, envenenou o
de
pessoas, todas interessa pequeno que seria o Karn III. O governo de Vi- que não deveriam existir, um testamento do
das
em ter visões do fut erro do Criador, se é que foi Ele quem os criou.
uro e rka acaba voltando para o controle de oradores.
até mesmo, visões daqu A Oradora deixou claro em seus textos que os
ilo
que lhes esperava na
pós seres tinham uma forte ligação com as estrelas
vida. Livros de caixas Em 749 DA, Dankhila, Oradora de Virka, rece-
do e em seus mapas do céu noturno existem inú-
antigo império mostram be visões do Criador. Apontada posteriormente
que meras constelações que não são mais possíveis
a peregrinação enchia
os pelo Tribunal como Santa das Revelações e forte
cofres de Virka, se tor de se avistar nos dias de hoje, constelações es-
-
nando parte importan aliada na luta contra o Inimigo, Dankhila reve- tas que representariam as espécies selvagens
te de
sua economia. lou que a ameaça selvagem nunca seria detida que povoavam o mundo. Dankhila nem mesmo
E imaginar que tudo
isso enquanto os Patriarcas e as Matriarcas conti- fala sobre o aspecto destas entidades, dizendo
se perdeu. Quem será
sempre que seria impossível descrevê-las com
capaz de encontrar seu nuassem existindo. Muitos ignoraram os alertas
túmulo? Estou simplesm precisão e que, se fosse possível, jamais o faria,
ente da Oradora, mas ela conseguiu juntar um sec-
fascinado. já que a mera lembrança, turvada pela mente
to de seguidores e, como era seu direito, criou de fraca compreensão, já lhe roubava o calor
P. sua própria hekklesia para a busca de tais seres. do corpo. A Oradora preocupava-se com a ideia
Alguns dizem que Dankhila encontrou uma das de que poderia haver uma constelação para os
Casas de Luz de Bövrar II anos antes de chegar homens, um patriarca ou uma matriarca para
os mesmos por aí. Ninguém sabe se ela e seu
a tal conclusão. Pouco se sabe sobre a caçada
grupo conseguiram de fato destruir estas aber-
daquele grupo formado por fanáticos, mas é
rações, ou se apenas as aprisionaram nos con-
fato que o número de selvagens só fez diminuir fins sombrios do mundo. A igreja tentou escon-
até ocuparem apenas o imaginário de gerações der essas revelações descobertas por Dankhila,
futuras. principalmente por ela ser uma admiradora do
legado de Bövrar II e sempre assinar seus docu-
A situação de Virka voltou a se estabilizar po- mentos com o clássico cumprimento “Sequeri
liticamente com a coroação de Dante I em 820 Lux”.
DA. Dizendo ser descendente direto do Karn
original, Dante chegou a Virka reivindicando
seu direito como regente. Junto de poderosos Quase um milênio se passou durante a Era
aliados, os Oradores tiveram medo que um novo das Revelações e os outros grupos étnicos que
levante tomasse as ruas da cidade e acataram as foram convertidos ergueram seus próprios do-
exigências do novo monarca. Usando um pou- mínios. Havia a primeira cidade, Virka, recém
co de força, Dante conseguiu dar o seu golpe unificada sob o punho de Dante; Rastov, ao nor-
com relativa tranquilidade. Não mais utilizando te, exercendo extrema influência nos povos do
o karnado como forma oficial de governo, assu- sul; Viha, antigo lar dos inúmeros clãs bárbaros;
miu uma postura mais tradicional. Igslav, terra dos clãs que seguiram os passos

b 30 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
dos belghos; mais ao sul se erguia Dalanor, uma Criador e aprenderam com as parábolas ouvi-
De acordo
terra de fábulas e canções. Sob a sombra das das diretamente de sua boca. Viram o mundo com o
Grande C
montanhas que cercam o vale de Belghor, esten- se desvelar enquanto a boa obra era repassada oncílio,
estas info
dia-se o prado de Parlouma, longo e belo, antiga do Criador para o ouvido mortal dos Puros. Par-
rmações
e teoria f
terra de cavaleiros. te destes diálogos representam o cerne do que
oram
desacredit
ada,
se tornou a Litania do Criador. Alec foi filho de algo mais q
Marcando o fim da Era das Revelações e tra-
ue justo.
nobres que largou tudo para viver apenas do Retire isso
zendo uma verdadeira reforma na maneira de se
do
que o mundo lhe retribuía depois de espalhar texto.
enxergar o mundo e a própria religião em Bel- a palavra de Deus. Lazlo era filho do pecado
regard, está a vinda do Criador. Dessa vez não de um padre e sedento pesquisador, contestador
através de um profeta, mas numa forma carnal, do mundano e do fantástico. Leoric foi filho de
como seus filhos, no ano de 900 DA. Por cerca cavaleiros traídos que buscou vingança e cres-
de vinte anos, mistérios inomináveis em forma ceu conhecendo apenas a violência, aprendendo
de forças naturais indicaram a vinda do Criador. a se disciplinar junto ao Pai. Outro fato marcan-
te do período foi o fim dos milagres. O que era
No momento de sua chegada os céus se abri-
possível para os homens devotos no passado,
ram e o Pai se fez homem para alertar os po-
não era mais com a vinda do Pai. Para alguns
vos de Belregard sobre os novos dogmas que
foi como perder a ligação com Deus, para ou-
seriam seguidos pela futura igreja reformada.
tros era a marca do novo começo, o tempo onde
Em sua chegada, o Criador experimentou as
o rio de graça seca e cada um precisa meditar
Três Marcas, ou Três Chagas. A primeira delas foi
sobre suas ações para ser agraciado. Uns dizem
na alma, quando percebeu que sua vinda trouxe
que antes deste fato, o Criador permitia que ho-
o inimigo, a Sombra Viva, que também estava
mens realizassem milagres por pena, não por
livre para agir no mundo mortal. A segunda
qualquer tipo de merecimento.
marca foi a do ego, quando o Pai se mostrou
Ciclo da
diante de seus filhos, imaginando que sua mera é o qu e eu chamo de
Fato intere ss an te ate entre
presença seria capaz de trazer a clareza total te m a qu e é motivo de deb ríodo
Ausência, um no ssa história sob
re o pe
e pureza de pensamento pleno para todos, mas tu d io so s d e ele alento
os es
ed eu a vi nd a do Criador. Aqu da noite
foi um engano, já que encarar Deus diante de si que prec e existir
o fiel deixou d s mila-
era como estar diante de todos os seus pecados sentido por tod er am ca pazes de breve
s qu e sua
e falhar. No lugar de filhos devotados, o Criador para o dia. O er am cu ra r ou acalmar com e
d
gres não mais pu ra. Foi como se cada homem
o
presença inspirad rd houvesse sido abandonado
encontrou pessoas desesperadas que gritavam
B el re ga e de
e arrancavam os próprios olhos com as mãos, mulher de
un s d iz em qu e este foi um test he
tentando fugir da verdade. A última marca, pelo Pai. Alg
qu e o Ú ni co soubesse quem L o
do corpo, só veio no fim, quando ele partiu… resistência, para d evoção. Alguns
dizem que
ve rd ad ei ra três dias.
prestava in ta anos, outros de
Morrendo. o i d e tr os em
período f
en co nt ra m re latos desesperad ego
Fato é que se te
o que ch
rvalo. A conclusã poucos, em
No entanto, a vinda do Criador não fora com- o d o s ne st e in
perí
e es ta A us ên ci a aconteceu aos te retor-
pletamente angustiante. Ciente da sua necessi- é de qu finalmen
entes. Quando a,
dade de deixar frutos, Ele preparou alguns es- momentos difer e chamo de Ciclo da Presenç
o d o qu am d e
colhidos antes da chegada e estes homens que nou, no perí o s sa ce rd o tes não receber osos
an
por mais trinta ato que torna ainda mais curi
não sofreram diante do pai foram Alec, Leoric . F
volta seus dons sos Milagres
e Lazlo, os Puros. Eles caminharam ao lado do o Livro dos Fal

b 31 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
A Era de Sangue
a “O Peso do Aço”
A Era do Sangue
Acontecidos do Ciclo da Ausência
se iniciou em 901 As andanças do Criador com seus Puros mar-
e durou até o ano Como mostrado no texto, o Ciclo da Ausência cam o fim da Era das Revelações e o início da
1000 DA. Um foi marcado por inúmeros momentos bizarros.
Era de Sangue. Apesar da presença de Deus, foi
período conturba- Por todas as castelanias surgiram relatos de coi-
do e marcado por sas estranhas ocorrendo quando os sacerdotes
um período conturbado para o homem comum.
traições de sangue, deixaram de sentir sua ligação com o Criador.
Por cerca de trinta anos o Criador caminhou
uma verdadeira Exemplos como os de Mikhail de Igslav, Bari-
vergonha para o cos, ou da chamada Catedral Invertida, cons-
pelo mundo mortal e seus feitos são motivo de
Pai, mas também truída por um homem só — não apenas sua
discussão entre clérigos e leigos. Antigos regis-
momento da cria- parte superior é impressionante, mas os infin- tros dão cabo de apontar certos acontecimentos
ção do Tribunal, dáveis túneis de catacumbas abaixo dela. Este envolvendo a figura do Pai, mas é sabido que ele
cercando os ho- é um terreno fértil para eventos estranhos e próprio optou pela discrição depois de sua che-
mens de segurança. atitudes insanas. Na busca por respostas, espe- gada em Virka. Talvez por ter percebido o que a
cialmente do divino, o homem é capaz de coi-
visão de seu semblante puro e perfeito causou
sas terríveis. Lembre-se, os homens santos de
aos seus filhos, muitos indignos de tal benção.
Belregard sentiam de fato a presença do Cria-
dor, era o que lhes dava sustento. Subitamente,
O Único vagou então apenas com os seus es-
esta ligação foi perdida. É um sentimento de colhidos, capazes de absorver sua graça divina.
perda que segue ainda hoje. Alguns relatos são contraditórios, mostrando o
Pai de Todos em lugares distantes, mas em inter-

Gravura de Ferguson representando ruínas da Era de


Sangue, que devastou Belregard colocando irmãos contra
irmãos e pais contra filhos.

b 32 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
valos curtíssimos de tempo. Isso pode-se expli-
car pela natureza de Deus, incompreensível aos
a
homens. Toda castelania, ou mesmo povo isola- Narrando e Jogando: Arautos
do, tem algum relato misterioso sobre esse pe-
Os Arautos representam um elemento diferen-
ríodo, não só dando conta de mostrar a loucura
ciado no jogo. Eles serão mais detalhados ao
que acometeu antigos sacerdotes, mas eventos
longo do livro, mas é importante perceber que
inexplicáveis envolvendo a figura de um homem o momento da morte do Criador marca o início
humilde que caminhava de pés descalços, acon- da existência dessas pessoas iluminadas e es-
selhando a quem Lhe procurava. Nenhum povo colhidas, não por desejo, mas pela necessidade
ou cultura foi deixado de fora. do combate contra a Sombra. Uma última linha
de resistência para combater um inimigo que
Nunca mostrei isso para ninguém. Copiei venceu a guerra e coloca em risco a integrida-
esse trecho de um livro que estava de física e espiritual de todo homem e mulher
sendo transportado por cavaleiros alguns de Belregard.
anos atrás. Fiquei estático ao ler e ainda
abalado por nunca ter esquecido nenhu-
ma das palavras que lhe transcreverei
”É inquietante a resistência de incluir Curioso perceber como relatos recolhidos ao
os Cinco Puros, pelo fato de dois deles longo dos anos dão uma noção de mostrar o
terem tido fins prematuros. Hellish quão importante foi a vinda do Criador para
simplesmente abraçou a loucura de sua todos os povos daquele tempo. Não apenas os
mente débil quando soube da partida tocados pela palavra foram agraciados, senti-
do Pai e o quinto, cujo nome nunca foi
registrado, teria seguido com o Criador,
ram a vinda de seu Pai. Mesmo entre os he-
mas abraçou a causa da Sombra no vale reges, entre os bandos nômades e selvagens, a
de Belghor”. vinda do Único foi sentida e relatada, fosse
por desenhos rústicos em pedra, simbolismos
P. tacanhos ou por histórias passadas geração
após geração, todos O sentiram. A vinda de
Novamente, a vinda do Grande se converteu
um ser de pura luz que transcendia qualquer
crença ou vivência, bastando-se para colocar
em atitudes da Sombra. O mal em sua forma
cada homem aos seus pés, reconhecendo-O
mais pura se manifestou no mundo, mas en- como Senhor absoluto da vontade de cada
quanto o Criador caminhou e abençoou aqueles um de nós. Ouso dizer que o mundo já vivia
que tinham sido convertidos à sua fé, a Sombra em treva antes mesmo disso, por mais que não
concentrou-se em um só lugar... O berço dos ho- soubéssemos, foi o Pai quem trouxe a primei-
mens, o Vale de Belghor. Influenciando direta- ra e verdadeira luz, ainda mais grandiosa que
mente os que ainda viviam em tão pura terra, a
a apresentada a Morovan. Acredito que mui-
to desta história foi abandonada, alterada
semente do mal genuíno tinha sido plantada e
ou esquecida devido ao coração mesquinho do
estava pronta para germinar. Contam as lendas homem, afinal, muitos clérigos foram enver-
da época que o infame Bövrar II, o segundo rei dos gonhados pelo desaparecimento da sua capa-
homens, voltou à vida para reinar na terra negra e cidade de executar milagres. Muitos demons-
que a própria Sombra escolheu seu Eleito corrom- traram sua raiva alterando a história que o
pido, como contrapartida aos Puros do Criador. Criador escrevera. Histórias dizem que aque-
Um verdadeiro antro de podridão e perversidade.
le que assim o fizer, alterar textos sacros,
morrerá com chagas horrendas. Acredito que
Ciente desta ameaça, o Pai tentou remediar a sejam apenas lendas para nos obrigar a fazer
situação. Uma verdade que muitos catedráticos já
aquilo de devemos fazer.

b 33 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
debateram é a questão do quão poderoso é o Cria- Durante o período da presença do Criador
dor. Segundo palavras ditas pelo próprio, através no mundo, o poderio de Virka voltou a crescer.
de suas parábolas, toda atitude desprendida por Dante II havia tido apenas filhas e conseguiu
Ele requer um custo. Algo que não tem mais re- orquestrar casamentos e acordos que o favore-
Criador tolo? torno e ainda, de acordo com interpretações dos ceram no futuro, com seus netos. Em 920 DA, a
Uma criança fan- próprios puros, estava chegando ao fim. Dispos- família Vlakin torna-se importante em Virka e
farrona? Uma to a deixar uma última lição para suas crianças, em Rastov, unindo as duas primeiras grandes ci-
blasfêmia! Cer-
o Altíssimo desprendeu parte de sua essência di- dades dos homens. Desse modo, apesar de não
tamente textos
falsos atribuídos
vina para aquecer ainda mais a centelha que todo ser rei de Rastov, Ilário Vlakin torna-se repre-

aos Puros origi- o homem tem dentro de si, fazendo-a prevalecer, sentante dos interesses da castelania em Virka,
nais. Tanto que na maior parte do tempo, sobre a influência da ao mesmo tempo em que reinou na dita cidade.
foram perdoados Sombra, e assim partiu. Alguns poucos dizem que O Criador não se envolvia em assuntos políticos,
pelo Tribunal. Se a Sombra é criação do próprio Criador, como um mas os regentes do período faziam uma verda-
a mim fosse con- motivador a fazer o homem querer sair do lamaçal deira corte quando boatos da passagem do Cria-
cedido tal poder, e ascender em direção à Abóbada Celeste. dor se espalhavam. Como sempre se apresenta-
expurgaria tais va de forma humilde, acredita-se que muitos
textos dos anais Em 905 DA, o Único, reunido com seus Puros, miseráveis foram tratados como reis, sem que
históricos. fala sobre o perigo que se instalou no mundo com seus anfitriões se dessem conta do engano. Em
a sua chegada. Ele fala sobre como a Sombra se- todo caso, a vontade do Pai era realizada.
guiu seus passos e instalou-se no antigo berço da
humanidade, de onde vieram os primeiros desbra- A ida do Único, em 928 DA, não foi carregada
vadores e o próprio Morovan. O Criador alerta que de brilho ou glória. O Pai partiu como homem
era preciso expurgar o mal dali e a única forma de e sangrou para tanto. Em um último sacrifício,
fazê-lo é ir até o coração desta corrupção. Alguns na direção de Belghor e da Sombra, Ele buscou
Já falamos so- textos menores, até mesmo apócrifos, dos próprios enfraquecer o inimigo, tentando fazer suas gar-
bre essa teoria Puros mostram uma visão extremamente humana ras se afrouxarem contra os mortais. Esta foi
ultrapassada sobre do Criador. Lazlo chegou até mesmo a descrevê-lo a última marca sofrida pelo Criador, a marca
Marcas. Reve-
como uma criança curiosa, uma que tinha o dom da carne, quando ele sofreu das mesmas mo-
ja isso. Mais uma
da criação poderosa, que aprendia com os erros léstias que nós, mortais, sofremos. O Altíssimo
coisa, sei que pode
escolher pala- e tentava melhorar, uma criança que ainda esta- caminhou até Belghor, angariando seguidores
vras melhores e va longe de ser perfeita, mas que merecia todo o até a fronteira do antigo berço dos homens e lá
deixar a partida amor dos homens. Se os homens fossem capazes mostrou como a Sombra corrompeu os que fi-
do Criador mais de perdoar os erros do Pai, o que mais poderia ser caram. Um reino distorcido e depravado havia
interessante. Eu impossível? Alec conta que o Senhor aprendeu sido erguido no vale e a presença inspiradora de
pouco me importo, muito com eles também. Leoric era visto como Deus foi recebida com flechas, aço e maldizer.
mas lembre-se dos um verdadeiro protetor de Deus, seu fiel escudo, Leoric estava ao seu lado, junto de um exército
gostos de quem
em todos os sentidos. Alec dizia que fora ele mes- de soldados fiéis. Em meio ao conflito inicial, o
encomendou
mo quem enxugara as lágrimas do Criador frente Criador partiu, deixando os homens de armas
estes tomos.
ao seu arrependimento. É muito possível que estes revigorados com sua inspiração, com seu sacri-
textos desconsiderados pela igreja tenham ajudado fício divino. Os relatos sobre esse momento, da
na infâmia que resultou na morte dos Puros. partida do Pai, são muitos.

b 34 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
Leoric, naturalmente, se manteve na fronteira
a e lançou os alicerces de seu próprio reino, ain-
O Sacrifício do Criador da chamado Brandevir. Ele pretendeu retomar o
Karnado, acompanhado de um sacerdote para
Deus percebeu, quando apresentou-se diante guiar os homens pelo caminho da retidão, tem- Não é raro encon-
dos muros de Belghor, que não seria capaz de trar algumas marcas de
perados para a guerra do corpo e do espírito. Foi
fazer os homens vencerem a Sombra diretamen- fundação de antigos reinos
o orador Lazarus quem seguiu na regência com e cidades em Belregard.
te e que nem mesmo ele poderia chegar até ela
o Puro. Lazarus foi grande estudioso do oculto Muitas destas ruínas ainda
naquele momento. Percebendo como o Inimigo
possuem algum destaque,
influenciava tudo diretamente daquela forma, o e do proibido. São dele os estudos sobre os Ím-
sendo um ponto de
Criador preferiu deixar o mundo protegido com pios que servem à Sombra. Leoric, desconfiado referência para mui-
a sua partida. No seu sacrifício, o que restou de de que Lazarus poderia acabar se deixando le- tos. Mas aqueles que se
sua centelha de poder foi utilizado para criar var pelos encantos do Inimigo, insistiu para que referem à Era do Sangue
costumam estar afastados
uma defesa, um escudo, uma barreira, forçan- o sacerdote abandonasse seus estudos profanos, das cidades. Há quem
do o poder da Sombra a se limitar. O Inimigo mas ele não o ouviu e iniciou uma cisão no rei- diga que há alguma mal-
sempre foi sutil e com o cerco imposto pelo dição em torno das pe-
no. Nessa divisão, em 967 DA, Brandevir ficou
Criador, é apenas através dos Ventres Negros dras angulares das cidades
enfraquecido, transformando-se em dois reinos,
que ele poderia agir mais diretamente, através formadas neste período.
Braden ao sul, concentrada na Muralha do Leão, Ainda há quem cogite
de rachaduras nesta proteção, locais onde o pe-
onde Leoric manteve sua guerra, e Birman ao que elas foram erigidas
cado é mais intenso. No entanto, corroborando
norte, regida por uma teocracia. seguindo alguma orientação
com a ideia de que Deus não é perfeito e erra,
astral. Vez por outra al-
a partida do Criador deu à Sombra tudo que ela gum cadáver é encontrado
A Era do Sangue viu ainda o surgimento de
poderia desejar, apesar das limitações de espa- nas proximidades. Mas é
muitos outros reinos e castelanias. A guerra en- claro que pode ser apenas
ço. Agora ela tinha tempo de sobra para atuar
nos homens, sem pressa para vencer, ganhando tre os bárbaros iniciada por Rastov tomou novos mais um assassinato feito
caminhos e um conflito armado na fronteira foi por bandoleiros de beira
e consumindo a todos com a sua mais básica e
de estrada.
fundamental aliada, a Mentira. deflagrado. Em 940 DA, os clãs de vihs quebram
sua relações com os barões de Rastov e fundam P.
sua própria regência no reino de Viha, que man-
Criador é tinha tradições antigas, mas que também prati-
A morte, partida, do
rmas di- cava do Criadorismo em hekklesias particulares,
contada de muitas fo
campo de com uma visão conciliatória entre os cultos an-
ferentes. Relatos do
tórias con-
batalha mostram his
tigos. A criação dos demais domínios se dá em
zem que o
traditórias. Alguns di 955 DA, quando Ilário Vlakin, mostrando-se um
i alvejado
corpo do Criador fo governante de pulso frouxo, acaba cedendo mui-
as uma flecha
de flechas, mas apen tas das terras de Virka a nobres que lhe faziam
ferido o
negra parece ter Lhe oposição. No lugar de conseguir novos aliados, o
eu corpo cair
coração, fazendo S monarca viu-se isolado em sua própria reserva,
m glória, uma
sem vida, sem luz, se enfraquecido enquanto outros passaram a gozar
mum. Outros
morte de homem co da prosperidade, como o ducado de Lazari, em
majestoso,
falam sobre um fim 957, que viria a se tornar a castelania de Latza.
l subiu aos
onde Sua alma imorta
lta à vida os Dalanor é fundada nessa época, sob a figura do
céus e trouxe de vo
talha. Outra lendário Lycaon, o justo. Parlouma também er-
homens caídos na ba
desfazendo gue sua própria bandeira, a terra dos cavalos e
fala de Seu corpo se
unca se sabe- berço da cavalaria, dando sinais de melhora, de
em fachos de luz. N
onteceu.
rá como realmente ac
recuperação do antigo orgulho.

b 35 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

Talvez pelos documentos estarem bem guardados naquela época, Haskel não tenha
falado sobre Os Livros dos Falsos Milagres. Durante o período que se seguiu à
partida do Criador, proliferaram-se casos de testemunhos milagrosos. Homens capa-
zes de curar chagas e deficiências com a mera imposição das mãos, outros capazes
de suportar os mais severos ordálios de fogo e ainda aqueles que inspiravam mul-
tidões com seus olhares ou singelas palavras. A igreja daquele período, não ainda o
consolidado Tribunal, investigou estes casos e todos foram catalogados em Livros
dos Falsos Milagres. Em todos os casos representados, a despeito do bem que se
tenha feito, cada um dos milagreiros teve um fim trágico, por execução da igreja
ou traídos por aqueles que se beneficiaram de seu dom. Sabemos que antes da Au-
sência, devotos eram capazes de operar milagres, mas nunca depois disso, o que causa
a estranheza de tantos mundanos e vulgares operando tais feitos.

Foi no período próximo do fim da Era do San- Alec lutou muito para acabar com o caos das
gue que os Puros encontraram um fim trágico. hekklesias, foi o último dos Puros a cair. Durante
Um a um tombaram desacreditados. O primei- o tempo em que seguiu sozinho, não se manifes-
ro foi Lazlo, em 945 DA, que se suicidou ao se tou pelos destinos de seus irmãos, talvez julgan-
lançar de sua torre de estudos dentro de Virka, do que apenas o próprio Criador pudesse julgar
onde seguira com as pesquisas depois da par- seus captores. Em 961 DA, no concílio de Velize,
tida do Criador. Lazlo era muito apoiado pela Alec acabou com as hekklesias e instaurou a Tri-
classe nobre e pelos comerciantes, já que defen- na, onde os ensinamentos eram divididos entre
Desculpe a ausência, sofri dia o progresso. Acusado de estudar o proibido, os que foram deixados por ele próprio, a pro-
um ataque de salteadores
na última viagem. Meu de compactuar com a Sombra, seus inúmeros to- liferação da palavra do Criador e a humildade;
mensageiro morreu no mos, foram quase todos queimados, mas alguns entre as palavra de Lazlo, na busca pelo saber
ataque. Algo me diz que foram recuperados por seus seguidores, que se e do culto racional; e por Leoric, representando
os salteadores sabiam quem
eu era, parecia mais do mantiveram em segredo, passando por ordálios o braço tenaz da fé, o caminho irrepreensível.
que um ataque para me de purificação. Naturalmente, o Puro escondeu tais verdades,
roubar. Quando comecei
de que estava erguendo novas bases sobre o le-
a lhe escrever isso, senti Leoric morreu como viveu, no combate. De-
estar sendo observado, gado de seus irmãos, já que seus irmãos haviam
seguido. Ficarei um tempo pois de anos guiando seus homens na conquista sido mortos e desacreditados. Com a Hekklesia
sem escrever-lhe, o coração de Belghor, o Puro teve um sonho no qual viu Trina, Alec lançou o fundamento do Tribunal do
não aguenta, meus olhos o Leão triunfando sobre a Serpente. Juntando
choram. Supremo Ofício, fundado oficialmente em 988
seus exércitos, marchou para a negra Belghor e DA, o mesmo ano em que Alec foi morto por
Do seu amado lá morreu, em 968 DA. Até ser enaltecido como
P. apedrejamento acusado de traição por deitar-se
santo, acreditava-se que Leoric havia abando- com a mulher do monarca de Virka.
nado seus irmãos no conflito, acorvadando-se,
mas tais acusações foram retiradas. Por fim veio Varning nasceu em 970 DA, diante da fraque-
a morte de Alec, que viveu até 988 DA, com za de Giocomo Vlakin, filho de Ilário, em manter
cento e oito anos de idade. suas terras. Um lugar que pensava no progresso,
seguindo ensinamentos deixados por Lazlo, de

b 36 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
que o perdão pelo pecado dos homens havia sido O prelado morreu no ano de 1001 e seu tra-
dado com a partida do Criador. O progresso não balho teve certa continuidade, mas mesmos os
deveria ser freado. Tal local logo tornou-se um registros destes tempos mais recentes são raros
antro de corrupção embasado nas acusações da e estão guardados em monastérios ou em posse
própria igreja. Esta mesma igreja que acabou da mais alta nobreza.
perdoando os Puros em 990 DA, aceitando-os
como padroeiros de seus três caminhos. A Era da Conquista
“O Punho e o Ouro”
Enquanto alguns se preocupavam com as
oportunidades deixadas por seus vizinhos, na Visando manter o padrão criado por Haskel,

busca por novas terras, títulos e riquezas, pou- aqueles que seguiram com seu trabalho marca-

cos prestavam atenção à verdadeira ameaça, ram o início de uma nova era no momento em

aquela vinda de Belghor. Tirando proveito disso, que Vlakin II começou a ter apoio popular em

Vlakin I de Virka viu a oportunidade de devol- sua Marcha. A Era da Conquista marca o esforço

ver a glória à primeira cidade dos homens. Cla- da monarquia de Virka em reconquistar o berço

mando pela retomada de Belghor, por vias de dos homens e assim consolidar seu poder como

uma marcha, Vlakin I, filho de Giocomo, iniciou principal centro de influência.

uma campanha militar a qual seria fortemente ina


st a se in ic ia em 1001 e term
ui do
A Era da Conq estruturação
religiosa e uniria todos os homens. Do servo ao
ar ca d a pe la
sendo m uma
prelado, do capataz ao cavaleiro, todos seguem
em 1070 DA, e a co nq ui st a de Belghor,
ka
a mesma fé. Os registros da época, que mos- império de Vir a pe lo pr óprio Criador.
tarefa d ei x ad
tram muitos relatos de soldados de Braden, fa-
lam sobre os horrores nas fronteiras, das coisas
que saem das montanhas, das máquinas que são
empreendidas contra as muralhas e do terror
que Belghor causa no coração de todos. Porém,
os registros de Haskel terminam antes de um re-
sultado dessa propaganda.

Gravura de Fergus representando a temível fortaleza de Xerigordon.

b 37 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Você tem recebido Giocomo Vlakin havia deixado Virka limitada Foi na coroação de Vlakin III que o império de
minhas cartas? Se sim, a uma simples reserva que mal servia para ali- Virka nasceu, em 1050. Ainda que nem todas as
porque insiste em não mentar seus limites. Tentando restaurar a glória castelanias do período tivessem se curvado ao
me responder? O que
de Virka e lembrar às demais terras que ele era domínio imperial, a criação do Tractatus Terrae
lhe fiz? Minha pobre
rei da Primeira Cidade, Giocomo exigiu que o delimitou terras e acertou velhas disputas ad-
alma sofre no alento
Tribunal o reconhecesse como Vlakin I em 1001 vindas da Era do Sangue, angariando ainda mais
da solidão.
DA, firmando uma dinastia que restauraria esta poderosos aliados para Vlakin III.
Caso não as tenha glória passada. No entanto, o monarca teve
Convocando todos os homens e mulheres das
recebido, acredito en- pouco tempo para realizar seus sonhos. Ciente
terras civilizadas capazes de erguer uma arma
tão que estamos sendo disso, preparou o terreno para seu filho, reali-
para se juntarem à marcha contra Belghor, re-
vigiados. zando favores e tornando Virka, novamente, um
unidos na velha Muralha do Leão, erguida por
ponto de encontro neutro entre as castelanias.
Tenha cuidado. Leoric, Vlakin III liderou pessoalmente seus
Giocomo não conseguiu corrigir todos os seus
homens até o coração da terra tomada pela
erros do passado, mas passou a lição para seu
P. Sombra. O combate foi arrastado e a Guerra
filho que assume como Vlakin II em 1030 DA e
do Coração Negro durou longos e penosos dez
tenta seguir os sonhos de seu pai.
anos. No decorrer deste período, muitas vidas
se perderam. Homens de todos os cantos de
Vlakin II conseguiu puxar as cordas de in-
Belregard, ricos e pobres, marcharam contra a
fluência deixadas por seu pai e iniciou um ca-
negra Belghor. Concentrando-se em Braden, os
minho para a conquista. Cuidou para passar
ataques foram direcionados ao antigo Passo de
toda sua instrução ao seu filho, pois tinha plena
Morovan, por onde os homens tinham partido
consciência de que não conseguiria encerrar to-
pela primeira vez e, pouco a pouco, a vitória
dos os conflitos latentes do continente. Varning
parecia próxima. Quando deram os primeiros
estava em guerra quase declarada com Birman,
passos para dentro do vale, gerações depois de
já que a segunda acusava a primeira de realizar
terem partido, nem mesmo o mais antigo dos
cultos da Horda em aberto. Rastov tinha inte-
homens poderia reconhecer tal lugar. Uma ci-
resse em dominar Dalanor, em busca de terras
vilização ciclópica havia dominado as terras de
mais férteis e clima mais ameno, com Viha co-
outrora. Homens de coração negro zombavam
locando-se em seu caminho para proteger os
das litanias do Criador e cultuavam a Sombra
dalanos. Dessa forma, Vlakin III cobraria os fa-
abertamente. Imagens blasfemas de criaturas e
vores deixados por seu pai. Os alicerces para a
seres jamais imaginados adornavam as torres e
convocação à guerra estavam lançados em uma
castelos.
propaganda que se espalhou pelos quatro can-
tos do continente. Um chamado geral às armas Lembro-me dos registros de
que seguia de perto a construção de grandes es- Xerigordon, a primeira fortaleza
tradas ligando as principais castelanias de Bel- a ser tomada. Dos homens que
regard, estradas estas que foram fundamentais entraram em seus salões escuros,
para a instauração do poder imperial. Em 1045
poucos voltaram, sendo ainda hoje
considerada como um lugar de
DA, Vlakin II dá um importante passo para sua
pleno mau agouro. Evitado. Nunca
dominância, unindo Viha e parte do Território
pus meus olhos nela, mas as descri-
de Rastov, formando a Grande Viha, juntando ções são de causar pesadelos. Mi-
novamente os povos de raiz bárbara. nha lucidez parece me abandonar
cada vez que leio sobre tal local.
b 38 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
Quando alcançou o chamado Arcem Aeter- III marca também o fim da Era da Conquista e A Era dos Homens
nus, a fortaleza do monarca de Belghor, hoje inicia a Era dos Homens, longo período de rela- se inicia em 1071
completamente modificada para purificá-la da tiva paz e calmaria. e segue até 1301
corrupção, Vlakin III trocou golpes com o rei de DA quando os ho-
coração negro. A batalha entre os dois foi lon- A Era dos Homens mens viveram sob
“A Palavra e o Livro” o jugo imperial,
ga e custosa. Não se sabe muito sobre o rei de
crentes que este
Belghor daquele período - os registros mantidos
Uma vez que a monarquia local fora conquis- era o verdadei-
na castelania foram destruídos e Vlakin III nun- ro desejo do Pai,
tada, a influência da igreja cuidava do resto, e
ca falou publicamente sobre seu encontro com mas o homem é
mesmo rebeliões esporádicas eram combatidas
a treva encarnada — não se sabe se, de fato, era
de imediato, sempre com a alegação da manu-
um ser de pecado,
a linhagem Bövrar que havia retornado em uma de orgulho e pai-
tenção da fé, já que tais grupos praticavam toda
paródia profana. Por fim, Vlakin sai vitorioso, xão. Assim, mesmo
sorte de culto profano, enaltecendo selvagens
mas terrivelmente desfigurado. Despachando o maior gesto em
e desejando trazer a ruína ao glorioso império. louvor ao Senhor
seus soldados para que ocupassem as cidades
Essa era de quietude e plenitude do império foi mostra-se rachado
dominadas, o rei desceu até os níveis inferiores
conhecida como a Era dos Homens, mas não re- e corrompido
do Aeternun e fez uso das forjas de Belghor.
presentou grande oportunidade para eles, que por dentro.
Usando do aço escuro, Vlakin forjou uma co-
foram oprimidos diariamente pela igreja.
roa que seria símbolo do império. Tal ornamento
consistia numa máscara de ferro com pesadas O Tribunal casou perfeitamente com os dese-
ombreiras e coroada à imagem das represen- jos de Vlakin III depois de sua conquista. O po-
tações divinas do Criador. Quando mostrou-se der é instaurado e o Império é reconhecido em
novamente para seu povo, envergando aquela uma coroação em Belghor. O imperador recebeu
coroa, dez anos depois de lançada a Cruzada, a sua coroa por sobre a máscara de ferro, sendo
estaca final para a supremacia dos Vlakin havia anexada permanentemente a ela em seguida, e
sido fincada. foi ovacionado por todos. Dos soldados que in-
vadiram o vale negro até a população oprimida
Aproximando-se da igreja com a vitória, fi-
que vivia sob o domínio do monarca anterior,
cou fácil para Vlakin confirmar seu poder em
todos louvaram Vlakin III como se este fosse
cada uma das castelanias de Belregard e mes-
uma reencarnação viva do primeiro Bövrar. O
mo os irresolutos vihs estavam com seus co-
Eleito ao seu lado foi admirado como o próprio
rações amaciados depois daquela conquista. O
Morovan e a boa nova se espalhou como fogo
poder do império foi sendo firmado e peque-
em palha seca. No entanto, a vitória trouxe ou-
nas revoltas foram logo sufocadas. Vlakin III,
tros problemas.
como grande representante dessa nova ordem,
buscou por relíquias e segredos. Tendo interes- Braden havia se erguido como um reino criado
se especial nos feitos de Bövrar II, o monarca para combater Belghor, e agora que não havia
realizou pequenas buscas pelos terrenos mais mais a ameaça externa, a situação interna da
isolados de Belregard como havia feito em 1061 castelania tornou-se delicada. Servindo ape-
DA, quando massacrou os moradores do ducado nas como um meio caminho, um campo neu-
Lazari, em busca dos tesouros da família. Com tro para as negociações nos períodos em que
a unidade assegurada, todo o ducado Lazari se o imperador passava em Belghor. O intuito
tornou uma grande zona logística, com campos original de Vlakin III era de que o antigo ber-
de treinamento e prisões. O império de Vlakin ço dos homens se tornasse o foco do império,
b 39 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Um viajante me vendeu
b Belregard b
alguns desenhos e rabisco mas é inegável que existe, ou existia, algo de
que valem a pena serem
s
ruim na própria terra, que deixava os homens
a
vistos. Olhe esses crânios,
eles são deformados. Nos perdidos, desesperados, depois de muito tem- Os Degenerados
textos, afirma-se que a po em seus limites. Alguns acreditam que os
degeneração está direta- Sempre se ouviu falar sobre homens solitários
degenerados só surgiram depois que Belghor foi
mente interligada com ess que abandonaram o convívio social e parti-
a recuperada. Histórias sobre homens loucos nos
deformidade. Mandarei os ram para os ermos, para as matas, em busca
textos para que analise, ma limites das cidades e nos ermos sempre foram
s de iluminação. Alguns tornaram-se grandes
é assustador e fascinante.
comuns, mas os registros aumentaram com a sábios, retornando com valiosas lições de hu-

P. tomada de Belghor. mildade, quase sempre inspirados no que foi


deixado pelo Puro Alec. Mas nem todos con-
Nos primeiros anos da Era dos Homens, que seguem alcançar esta luz, muitos tornam-se
se ocuparam basicamente da consolidação do loucos, continuam solitários ou se juntam a
poder, pouca coisa aconteceu em Belregard. outros perdidos em paródias deturpadas de
uma sociedade caótica e profana. Na Belregard
As terras foram novamente divididas, tendo
moderna existem muitos destes desgarrados
uma organização diferente da atual, com novos
que representam um perigo para os viajantes
e grandes ducados marcando o terreno, como incautos. Tocados pelos miasmas do mundo,
os de Vlakir e mesmo Latza recuperada de seu os Degenerados fogem do Imago Dei, a forma
massacre. Os problemas começaram a apare- perfeita dada ao homem pelo Criador, quando
cer após a morte de Vlakin III e a coroação de não na carne deturpada, na mente distorcida
Vlakin IV. A região da Grande Viha mostrava e, por isso, foram considerados portadores de
almas animais. Desse modo, não recai sobre
constantes sinais de fragmentação e o poderio
executores qualquer punição quanto à mor-
militar ainda latente de Braden fazia com que
te de um Degenerado, sendo tratados como
seus vizinhos ficassem constantemente preocu- cabeças de lobo pela sociedade.
pados, cobrando atitudes imperiais.

Gravura de Fergus, de um
crânio degenerado numa mesa
ritualística profana.

b 40 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
Para piorar a instabilidade da dinastia, o go- escondidos e esquecidos é o caminho certo para a
verno dos Vlakin era curto, geralmente termi- ruína, quando feito sem cautela, direcionado ape-
Estranho você falar com
nado em tragédia, em traição e intrigas políticas nas pela curiosidade orgulhosa dos homens. tanta agressividade sobre
palacianas. Apenas o governo do último dos o estudo do oculto. Nós
O golpe final contra o império veio em 1270 dois sabemos da sua paixão
Vlakin, o VIII, durou tempo o bastante para po- sobre artes bovráticas.
DA, quando Vlakin VIII criou o Cruenta Tribu-
der ser comparado com os dos demais grandes
tum, uma execução ritual para punir os traidores Não tente esconder isso
monarcas do passado. Se existiu algo comum de mim, te conheço por
da coroa. Mandou escavar um imenso fosso cir-
em todos os Vlakin, foi sua paixão e afinco em completo. Não deixe Tullus
cular em Virka e adornou suas bordas com placas dominar sua mente.
investigar os mistérios do mundo. Nesta altura,
de mármore exibindo caracteres na Fala Negra
seus arquivos brováticos entupiam salas e salas P.
de Belghor. Dizia o monarca que havia encontra-
em vários lugares do império.
do um caminho para a própria Alcova Profana,
Vlakin VIII foi mais um homem curioso, inte- o lar da Sombra, e que o império de Virka havia
ressado em descobrir sobre as glórias passadas tornado-se tão grandioso que tornou-se capaz de
e o fim do seu reinado é envolto em mistérios dominar até mesmo o reino do inimigo e dessa
profundos. No ano de 1250 DA, a insatisfação forma faria com que a Sombra punisse os infiéis,
de muitas castelanias se fez mais clara. Não curvando-a à sua vontade. Relatos afirmam que o
mais tentando resolver as contendas pelo apelo imperador fora instruído por um visitante trajado
religioso ou meramente político, Vlakin VIII en- em negro durante toda a titânica construção do
viou suas forças, suas tropas, para acabar com fosso, diz-se até que todo o processo de constru-
as revoltas. O que deveria ter sido um ponto fi- ção fora relatado em um diário, completamente
nal nas agressões serviu apenas para fomentar perdido, não existe nenhuma prova real sobre isso.
ainda mais o conflito. Alguns fatores pontuais Todos nós, homens santos, vulgares e nobres, de-
podem ser observados como causadores da ruí- sejaríamos que fosse verdade, que o homem ti-
na do império. Claro que estes fatores são de fá- vesse controle sobre o mal, mas este era um sinal
cil observação agora, depois que tudo terminou. claro da arrogância de Vlakin VIII.

Acredita-se que as divisões políticas dos ter-


ritórios estavam desgastadas e muitos nobres,
duques e condes, desejavam novas alianças e
acordos de terras, e a recusa imperial em mudar
Se não existem provas, por
o tractatus levou a insatisfação a muitos. Além
disso, o Tribunal, que era grande aliado e lega- que alimentar e dar vida a
lizador, estava demonstrando uma imensa into- estas histórias folclóricas?
lerância e paranóia. Hoje em dia é sabido que os
Retire isso do texto.
próprios oradores e mesmo Eleitos do período
acabaram contaminados pela corrupção laten-
te dos Vlakin, possivelmente advinda da busca
do último imperador por segredos antigos. Uma
verdadeira corrida por profanidades. A história
de Belregard testemunha que buscar por segredos

b 41 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
A abertura do grande fosso fez com que o Tri- Em 1290 DA, o surto da Insania foi controla-
bunal daquele período abrisse seus olhos para do. Aldeias inteiras foram cercadas por forças
o pecado latente dos Vlakin. Apesar disso, não imperiais, com seus cidadãos proibidos de sair,
houve uma declaração aberta de conflito. Zokran, tendo suas casas queimadas e derrubadas até
o Eleito do período, sabiamente aproximou-se a pedra. Nos grandes centros, como na própria
das castelanias insatisfeitas e passou a apoiá-las Virka, bairros foram isolados, um estado de sítio
em seus planos para quebrar os grilhões contra que fazia apenas aguardar o definhar de cada
o império. Demorou um pouco de tempo, alguns uma daquelas pessoas. O pavor da doença ainda
anos, para que o cisma contra o Tribunal, como existe, ainda paira no ar em seus miasmas noci-
força dominadora e opressora, fosse apagado e os vos, mas oramos todos os dias para que ela não
cavaleiros sacros pudessem engrossar as fileiras mais tome a todos, como ocorreu. O surto da
de revoltosos. A situação virou de tal modo que doença fez com que os esforços das castelanias
a própria igreja liderou as forças que marcharam se voltassem para sua recuperação e foi só no
contra Virka. Mas a abertura do fosso trouxe ou- verão de 1300 DA que os exércitos organizados
tros problemas para o mundo. invadiram o vale de Virka. A insatisfação era ta-
manha que as fazendas e cidades menores den-
No mundo isolado dos tempos atuais, acre- tro do vale fizeram volume à coluna no ataque.
dita-se que o ar tornou-se venenoso, que exis-
te algo de ruim pairando ao nosso redor e que O conflito contra Virka foi demorado, mas
estes miasmas são capazes de nos corromper, trouxe a vitória. Curiosa é a raridade de relatos
enlouquecer. O que fomentou esta ideia foi a desta conquista. Sabe-se apenas do caminhar da
grande praga que cobriu Belregard depois da coluna libertária, liderada por cavaleiros sacros
Este evento de abertura do fosso em Virka. Ela foi chamada de do Tribunal e, por conta desta filiação, tais cava-
Tíccia, assim como Insania, ou Praga da Loucura, e tomava a no- leiros não são lembrados por seus nomes, já que
os outros doze bres e plebeus sem distinção. Além das terríveis representavam ali apenas a força da fé, o desejo
relatos similares feridas e chagas purulentas que ela abria pelo de se livrar das amarras de um império corrup-
que conhecemos corpo do doente, levava a febres fortíssimas que to. Restaram registros da luta em algumas ci-
bem, foram proi- colocavam as pessoas em estados de loucura in- dades, mas quando o conflito chegou em Virka
bidos de entrarem
tensa, um delírio que muitas vezes acabava sen- propriamente dita, os registros são ausentes. A
neste tomo. Gos-
do compartilhado por aqueles ao redor, como vitória foi alcançada, sabe-se, com a rendição
taria de adicio-
ná-los, afirmando ocorreu na vila de Tíccia, em Virka, onde todos de Vlakin VIII, que foi executado pelas mãos do
ainda mais a pra- os moradores morreram de exaustão depois de próprio Eleito Zokran, já velho e cansado, mas
ga que foram os passarem dias apenas dançando ao som de uma ainda empunhando uma lâmina executora.
Vlakin para nossa melodia que apenas eles ouviam.
terra. Mas devo
seguir essas ordens
e você também. A Insania levou muitos e não poupava ninguém. Acreditamos que tenha
sido algo vindo da Alcova Profana, mas pode ter sido uma punição de
Deus pela arrogância do homem. Foram tempos sombrios, pessoas eram
trancadas em suas casas ou em seus quartos, pela própria família, que não
tinha outra escolha a não ser orar do lado de fora ouvindo a loucura e
a praga roubar até a última centelha de luz de seus entes queridos.

b 42 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
A chamada Era da
b O Conto dos Anos b Luz, uma asneira,
declara independente da arruinada Virka sob a tem seu início em
Realmente me pasma a ideia de simples- 1301 e segue aind
mente não haver relatos reais, documentos liderança de Servia Vibius Severa, uma mulher a
hoje, quando ainda
históricos realmente confiáveis deste período. que fora consorte de Vlakin VIII e provavel-
Se eu pudesse sugerir, diria que tem algo estamos em
mente por esta ligação íntima ainda hoje Vlakir
relacionado com o visitante trajado em negro. 1348 DA, uma
Mas sei que se falar isso para nosso irmãos é uma terra de aspirações imperialistas, dese- época de engano
posso ser apedrejado. jando retomar a glória e o orgulho. Em 1303 a e isolamento.
região de Latza, do antigo ducado Lazari, se
Cheguei a ouvir que escribas deste tempo
foram assassinados aos montes. E ainda mais separa de Birman e Vlakir, sob o governo de
preocupante, dizem entre os copistas que al- Vittus, o Jovem, que já demonstrava os sinais de
guns cavaleiros do Tribunal são incumbidos de loucura que o transformaria no Dementia Rex,
encontrar textos deste tempo e destruí-los.
um eterno lembrete de que a Insania ainda paira
Quando vier até aqui, lhe mostrarei tudo nos ares poluídos do mundo. Rastov recuperou Curiosa esta for-
que consegui reunir sobre referências a este a terra de Igslav e Viha voltou-se para sua visão ma de falar da
visitante estranho que o imperador recebeu.
diferente do criadorismo, aproximando-se mais fé. Preciso veri-
Existem muitos relatos parecidos, em diferentes
épocas e locais. Seria essa a mesma pessoa? de seus cultos antigos. Dalanor tenta se manter ficar que haskelita
orgulhosa, cantando sobre futuro, e Varning
traçou as linhas
Poderia ser um devaneio meu, mas... E se deste texto. Ou-
busca unir novamente os caminhos abandona-
esse visitante for a própria Sombra, ou quem sadia tem limite.
sabe, o quarto Puro? dos do mundo. Parlouma sofre internamente, Fora tu?
Vlakir quer o império, Birman deseja o poder
P.
da igreja para aplacar as aflições dos homens e
Braden é uma colcha de retalhos pronta para ser Simplesmente perfeito. Con-
A Era da Luz anexada. Belghor se isola e Latza… Latza ape- seguiu compilar tudo que
esses incompetentes copiam
“A Ironia” nas bate palmas e vê a dança da loucura tomar a como lesmas adestradas
todos novamente. em um tomo digno da sua
A Era dos Homens teve seu fim com a queda grandeza. Não me confor-
do império. As feridas deixadas pelo império Velhos ódios se reacenderam e muitos volta- mo com seu nome sendo
ram seus olhos para além do antigo vale, em retirado dos registros e
começaram a curar. Com a perda do poder cen- apenas Tullus, esse carcomi-
tral, da figura poderosa que era a própria Virka, busca de novas descobertas na intenção de apa- do e ressequido, receberá
a Primeira Cidade dos Homens, senhores, lor- gar toda a dor causada ao único mundo que co- os devidos créditos.
des, suseranos voltaram-se para seus próprios nhecem. Ainda assim, o que os mantém unidos,
Por que não nos rebela-
problemas. Sem a necessidade de responder a mesmo que distantes, é a fé. A igreja ainda se mos e fugimos com esses
um poder maior, que não o da igreja dentro de ergue como um bastião de segurança, sendo a textos? Tenho um con-
mão que pune e a que acaricia. hecido em Varning que
seu território, muitos novos conflitos surgiram possui o lugar perfeito para
em escala local. O próprio Tribunal manteve-se Por mais que eu fique tentado a alte- nos escondermos enquanto
neutro diante destas contendas menores, aju- rar o fim deste trabalho, desgostoso fazemos mais cópias disso.
dando em momentos em que acordos de paz da forma como nossa amada igreja é
tratada, me mantenho fiel aos meus Estarei sempre a lhe
ou reconhecimentos de lordes eram necessá- princípio s de copi sta. Os hom ens que se- esperar.
rio, mas nunca envolvendo-se diretamente — a guiram os côm puto s de Hask el não eram
igreja só atuava quando o sangue já havia sido tão iluminados quanto o próprio e prova- P.
velmente aind a sent iam- se ama rgur ado s com
derramado. os acontecimentos dos últimos anos. Faz
quase uma geração que o império caiu e eu
imo.
Novas castelanias se firmam no panorama de não vejo dias melhores no horizonte próx
Possa o Criador ter piedade de nossas almas.
Belregard. Em 1301 DA, o ducado de Vlakir se

b 43 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Gravura estilo bertina de Motazzi,
representando uma feira em Varning,
a castelania mais cosmopolita de Belregard.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


b OS POVOS DE BELREGARD b

Secunda Pars
Os Povos de Belregard
“Vou te contar, meu amigo viajante,
Se algum dia te chamarem a Viha
Desconfia por um instante!
Por mais que lá brilhe um lindo sol de dia
Não poderás segurar teu choro na noite fria!”
- “O Feroz que Miou”, Balada Satírica atribuída a Tiecelin

Em seu tratado sobre o mundo de Belregard, Haskel fez um apanhado sobre os


povos que disputavam o território e a graça de Deus. No entanto, por se tratar de
um trabalho antigo, seus escritos não abrangem um panorama do que ocorreu en-
tre o surgimento e a queda do império de Virka. Coube, então, a Gaius, um jovem
estudioso de Rastov, compilar os últimos acontecimentos. Ele utilizou-se da obra
original e alterou o texto a seu bel prazer, como é costume entre copistas menos
comprometidos. A obra tem pouco mais de dez anos, tendo sido escrita em 1340
DA. Algumas cópias do trabalho ainda existem em capelas e bibliotecas pelo mundo,
principalmente em Varning, onde a obra serve como alicerce para aqueles interessa-
dos em entender a conjuntura dos povos de Belregard. Por sorte, lorde Augusto,
serei eu a lhe preparar este compilado, assim corrigirei
os exageros de Gaius sempre que possível.

á dizia o velho ditado proferido O contato entre as muitas etnias de Belregard A mistura dos
nos exemplas dos sacerdotes: aconteceu tardiamente, no sentido de uma ver- povos já foi assun-
“A História é contada pelos dadeira integração. Os vihs e igslavos têm con- to mais delicado
vencedores”. Num primeiro tato com os belghos desde que Larsen levou
no passado. Penso
que deve ser algo
momento, aqueles homens saídos de Belghor, seu exército para o norte. Os dalanos estiveram
importante para
o berço da humanidade, viram todos os povos ao lado dos selvagens belinaren nas lutas pela
aqueles que de-
do mundo recém-descobertos como Selvagens floresta do sul e só foram convertidos em sua sejam constituir
que mereciam nada além do castigo. Demorou totalidade quando o Único veio ao mundo dos família. Eu, caso
muito para que a atitude quanto a estes povos homens para lhes direcionar. não fosse devoto,
bárbaros fosse revista. Para observadores me- teria a preocupa-
nos fanáticos, os homens das florestas tinham Algo semelhante ocorreu com os parlos, que ção de confirmar
sim algum contato com os Selvagens, mas não foram úteis nas guerras promovidas pelos se minha esposa
eram como eles em qualquer aspecto. Tinham belghos, mas só receberam atenção depois que não teria sangue
Deus ressaltou a importância da conversão. Os
selvagem dalano
uma cultura própria e uma forma de ver o mun-
correndo nas veias.
do completamente diferente da dos escolhidos. vogos nunca foram vistos como aliados favorá-
Apesar de assimilados e até mesmo miscigena- veis e até hoje entregam-se às suas selvagerias
dos, estes povos ainda preservam algumas de nas montanhas gélidas.
suas características ancestrais.

b 45 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Apesar de ainda b Belregard b
não me sentir con-
Belregard é uma terra vasta e não poderia Observemos as principais etnias de Belregard:
fortável a sós com
conter apenas tais grupos étnicos entre seus
um dalano, devo BELGHOS
dizer que o comen- habitantes. Inúmeros povos menores comparti-
lham destas histórias de glória e tragédia. Dos Bradando serem os escolhidos do Criador,
tário de Gaius é
os belghos tomaram para si o dever de unir
forçoso. Apesar misteriosos abutus, que ocupam o norte da de-
da conversão não vastada Virka, aos errantes strigori, que vagam a humanidade sob punho firme. Para alguns,
ter sido rápida, em suas cumpanhias comercializando a sorte e comportam-se como verdadeiros ditadores, se-
aquelas terras eram o destino. Uma quantidade tão absurdamente nhores do destino dos homens; para outros, são
dos homens e da grande que chega a assustar. Da mesma forma como irmãos mais velhos, apenas preocupados
igreja assim que os com o direcionamento dos mais jovens. Uma
são as línguas, de dialetos divergentes de uma
selvagens foram
mesma matriz a idiomas completamente dife- coisa é fato: os belghos encarnam tudo aquilo
aniquilados.
rentes utilizados por grupos isolados. Belregard que o ser humano pode ser, seja para o bem ou
é uma terra de povos e culturas surpreendentes. para o mal. Seu ímpeto e sua sede por conquis-
ta já fizeram o mundo tremer mais de uma
vez. O último grande feito destes senhores
dos homens foi a construção do Império de Vir-
ka que, tragicamente, ruiu há algumas décadas.

Físico e Vigor: Os belghos apresentam uma


grande variação de traços físicos e podem
ser distinguidos em três grupos diferentes: os
belghos do oeste são altos, indo de 1,70m até
1,80m para os homens e 1,60m a 1,70m
para as mulheres; a pele varia do moreno cla-
ro ao branco dos vihs, com cabelos seguindo
a mesma lógica na medida em que o sangue
se misturou com o dos antigos bárbaros. Na
área central do território, onde ficava Virka, os
belghos apresentam estatura um pouco mais
baixa, peitos largos e traços um pouco mais
rústicos com tons de pele variando para o es-
curo, além dos cabelos encaracolados. No
leste, especialmente em Belghor, o tom
de pele mais comum é o negro, com
variações levemente mais claras.

Gravura estilo bertina de Motazzi, representando


Badram, um pastor de Belghor.

b 46 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b OS POVOS DE BELREGARD b
Idioma e Dialetos: O belgho original, falado Nomes Típicos - Belgho Atual: Argus,
em Belghor, sofreu inúmeras alterações e hoje Dagom, Macedon, Sandoval, Ulysses, Abella,
se assemelha muito pouco ao seu representan- Fabrice, Lelita, Trista e Valarie. Belgho Antigo:
te mais velho. Hoje carrega basicamente duas Aharon, Doran, Efrat, Haskel, Joshua, Adela,
versões. A versão simples, vulgar, é comumente Deanna, Feigel, Hadassah e Samara.
falada pela população mais pobre que concen-
Observações sobre os Costumes
tra-se em Varning e em Birman. Sempre à som-
bra dos castelos e catedrais, acabaram por acos- †† Belghos são muito competitivos, um traço
tumarem-se a uma forma simplificada da língua que se reflete em todas as instâncias de
falada por reis e sacerdotes. Sua forma culta e suas vidas: da retórica ao combate.
rebuscada é reservada aos líderes, e não só os
de Birman e Virka, o Alto Belgho é falado em †† Devido à forte religiosidade, gostam de
todas as cortes, de Rastov a Belghor. Asseme- decorar passagens da vulgata assim como
feitos de Santos da Igreja. É muito interessante o
lha-se muito ao parlo, mas é visivelmente mais
quanto ditados e provérbios
complexo, mesmo em sua versão simplificada. O dizem sobre um povo.
†† Belghos, por sua rotina belicosa no pas- -P.
belgho original, antigo, existe apenas em alguns
sado, consideram cabelos longos e barba
nomes de cidades e pessoas de Belghor. Existe “A fé sustenta a vontade.”
por fazer um desleixo. Quando muito,
ainda a Fala Negra de Belghor, que é utilizada
usam cavanhaques curtos, sem bigode.
“A luz é mais forte
para fins profanos, acredita-se que tenha sido a
no escuro.”
língua original deixada pelo Criador para unir os †† Apesar da ligação com a fé, evitam pin-
homens sob uma só fala, mas foi corrompida e, turas, ídolos e demais representações de “A fé que não dói é
muito fácil de crer.”
por possuir palavras de poder, é utilizada por Deus. Igrejas interioranas de povoados
cultistas, feiticeiros e hereges. belghos são simples e discretas. No en- “Com fé não há pergunta.
tanto, os mais gananciosos não deixam Sem fé não há resposta.”
Etnias Descendentes: Não é exagero dizer de lucrar com o mercado sacro.
que todas as etnias de Belregard tem um pou-
co do sangue belgho correndo em suas veias. †† Sua história é cheia de profetas, homens
Podemos dizer que o povo belgho se transfor- que falavam, mesmo que erroneamente,
mou muito depois que saiu de sua terra natal, como se fossem porta-vozes do Único.
influenciando e sendo influenciados pelos de- Eles foram os primeiros juízes conhecidos
mais grupos que encontraram em seu caminho. ao longo da Era das Revelações, cujos atos
Os belghos que se mantiveram em Belghor, que são relembrados de forma heróica pelos
passaram pelo domínio da Sombra, vêem-se Belghos.
como verdadeiros, como escolhidos, como pu-
†† Dizem que se o Único voltar, retornará
ros, distinguem-se dos demais por considerá-los
como um Belgho.
sujos, chegando ao ponto de identificarem-se
como verum. Existem ainda os latos, que ocu- †† Dão muita importância ao casamento.
pavam a região de Latza antes da chegada dos
Lazari, hoje são pouquíssimos, já que seu sangue †† Possuem muito respeito ao sacrificar ani-
foi misturado, mas o seu apego à dualidade da mais como oferendas, uma prática antiga
vida e da morte marcaram aquela terra insana. e só realizada em áreas interioranas.

b 47 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
†† Uma tradição antiga diz que todo adulto †† Na adoração, são fúnebres e zelam um
é responsável por toda criança, isso criou eterno luto pela partida do Único com
“Eia, pois, quem vem lá.” cultos austeros e pesarosos. Guardam o
forte união no passado, um senso de co-
Esta é a saudação mais
comum por toda Belregard. munidade. dia do deicídio com pesar e tristeza. Sen-
Dizem os mais antigos tem-se culpados por sentir felicidade pe-
que este costume, criado †† Festividades religiosas são celebradas rante o sacrifício de Deus.
pelos Belghos, remonta
com fervor.
tempos imemoriais, quan-
do era difícil distinguir Dalanos
os selvagens dos humanos. †† Quando combatentes, gostam da espada Os dalanos são um povo apaixonado. Tudo em
Logo, a preocupação ante curta — o gládio belgho — e o punhal, suas vidas é levado de forma extrema e de-
a aproximação de um
carregando ambos no cinto. O punhal é dicada. Para aqueles que observam de longe,
potencial inimigo era muito
comum. Nos dias de hoje dado aos sete anos e a espada aos treze, estes homens e mulheres podem parecer de-
isto pode não fazer mais cada arma agregada a um ritual de passa- masiadamente frívolos e libertinos, mas da mes-
sentido, já que todos são
gem. O pomo da espada indica seu nível ma forma que se entregam às suas conquistas,
um tanto selvagens...
social. Além disso, geralmente portam os dalanos têm uma íntima relação com as flo-
P. um escudo grande ou broquel e, como restas pacatas que cercam seus domínios. Um
vestimenta de combate, a cota de malha, velho ditado diz que “todo dalano nasce à som-
uma vez que valorizam a mobilidade. Afi- bra de sua própria árvore” e carrega, com isso, o
nal, quem protege o homem é o Único e prazer em tudo que há de simples. Uma pessoa
não a armadura que veste. nunca suporta problemas demais; basta olhar
para o lado positivo das coisas e tudo, eventual-
†† Normalmente, visitam sacerdotes e bus-
mente, dará certo. Este é um pensamento que
cam seu aconselhamento. Também uti-
pode irritar os mais enérgicos e pessimistas.
lizam de ritos de dor e privação quando
precisam de uma resposta espiritual. Físico e Vigor: Os dalanos têm uma estatu-
Toda essa necessidade de ser assertivo ra mediana, alcançando uma média de 1,70m de
deve-se ao seu fardo autoimposto de ser altura para os homens e 1,65m para as mulheres.
irrepreensível. Normalmente possuem corpos delgados, esguios.

a
A Face do Imperador

Quando Vlakin III conquistou Belghor, surgiu diante de seus seguidores vestindo uma imponente máscara
de ferro. Este aparato, que inspirava até mesmo o terror, passou a ser conhecido como a Coroa de Virka e foi
então usada por todos os imperadores. Nos momentos em que o poder passava às mãos de um novo regente,
o povo de Virka tinha apenas um dia para contemplar a face do Imperador já que, depois daquele momento,
ele só surgiria vestindo a dantesca armadura. Este comportamento gerou inúmeros boatos e o mais tene-
broso de todos alegava que Vlakin III havia tornado-se imortal, depois de compactuar com a Sombra em
Belghor, e que matava seus filhos e netos sempre que estes fossem assumir o trono de Virka, garantindo
assim o seu controle do império. Verdade ou não, o fato é que desde que Virka caiu, a coroa desapareceu.
Muitos atribuem poderes sobrenaturais ao objeto e mais de um grupo já partiu para as velhas ruínas em bus-
ca do artefato. É certo que, em Vlakir, onde pretende-se retomar o império, a recuperação do objeto seria
de extrema importância para que o simbolismo em torno da união dos povos seja mais uma vez restaurado.

b 48 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b OS POVOS DE BELREGARD b
Possuem a pele suave, seja em seus tons mais
claros ou mais escuros, o que oscila entre os kil-
then e os varnos, respectivamente indo de um
Gravura estilo bertina de
tom alvo como neve ao oliva das amêndoas, Motazzi, representando
Anaïs, armadilheira de Ignar.
que recebe inúmeros elogios daqueles que
se deixam encantar pela graça dos dalanos.
Os cabelos e os olhos costumam seguir um
padrão claro, mas existe um fato curioso
quanto ao tratamento dado às pessoas de
cabelos avermelhados: ruivos são vistos
como perigosos, dados a ataques de lou-
cura e com certa afinidade à sortilégios e
feitiços suspeitos.

Idioma e Dialetos: O dalano é uma


língua romântica que sofreu algumas mu-
danças quando entrou em contato com
o belgho. Ainda mantém diferenças ca-
racterísticas, como algumas consoantes,
além de ser moderadamente flexionada.
É a segunda língua mais popular
dentro da corte, além de ser
a língua mais usada para as
canções dos trovadores e
pequenos manuais de poesia
do amor cortês. Aqueles verda-
deiramente apaixonados e dedica-
dos a suas musas costumam aprender
a língua como um sinal de prova desta
devoção. Muitas das músicas entoadas em
ritos sacros do Tribunal são feitas em dalano,
devido a isso criou-se o ditado: “Sempre fica
mais belo quando dito em dalano”. Além da lín-
gua principal, o dalano sofre diferenças quando Etnias Descendentes: Como dito acima, é
se afasta de seu centro nervoso do território, possível perceber algumas nuances em traços
ficando mais pesado e complexo no norte, onde e características dos dalanos do norte e do sul
se mistura com vihs e um tom menos melodio- de seu território de origem. Aqueles do norte,
so, mas bruto, curto, no sul, quando se mis- conhecidos como kilthen, possuem um por-
turou com o parlo. As diferenças dos dialetos te maior, são grandes escaladores que vivem
não impossibilitam o contato entre os dalanos, na área das terras altas de Dalanor e possuem
mas pode causar confusão e mesmo inflamar forte tradição guerreira que desdenha de arma-
os territorialismos. duras. Dividem-se quase como os vihs, em clãs
que usam pinturas ritualísticas e vestem togas

b 49 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
de um tecido grosso, geralmente coloridas em conselheiro, e protegido por Isegrim, seu
padrões que ajudam a identificar o clã de ori- lobo guardião. Este reino perfeito ruiu de-
gem. O legado musical dos kilthen fica por con- vido às maquinações de Renart, o raposo,
ta de suas flautas e gaitas de fole. Já no sudeste que traiu Isegrim e levou o rei à loucura.
se desenvolveram os varnos, um pouco mais Cantando sobre seus dias de glória, as ba-
“O fim da arte inferior baixos e atarracados que o dalano comum, mas ladas de trovadores foram o que mantive-
é agradar, o fim da arte
média é elevar, o fim da apegados à tradição musical através do canto. ram Dálan vivo. Desta lenda primeva vem
arte superior é libertar.” Habitantes das áreas pantanosas do sul, os var- a importância da música.
nos nunca foram muitos, mas sua descendência
“O talento desenvolve-se no
se proliferou no legado deixado entre parlos, AA Baladas satíricas sobre nobres e reis são
amor que pomos no
que fazemos.” belghos e dalanos que partiram para viver na atribuidas a Tiecelin, o corvo mítico da
castelania de Varning. O típico varno vive por corte de Dálan. Costume que persiste até
“Uma coisa bela persuade
por si mesma, sem conta própria nos pântanos, uma pessoa de vida hoje, tudo é satirizado.
necessidade de um orador.” simples, numa casa simples, dedilhando um vio-
AA Ruivos são associados a Renart, aquele
lão e cantando melancolicamente sobre as ma-
“A nudez dalana é obra que destruiu o reinado de Dálan.
de Deus.” zelas da vida cercada por mosquitos e disputan-
do o pouco com crocodilos.
AA Muitas vezes acusados de covardes, da-

Nomes Típicos: Aaron, Edmond, Jean, Louis, lanos costumam ter calma ao tomar deci-

Tissot, Blanche, Cécile, Heloise, Nicole e Viviane. sões que envolvam confronto físico.

Observações sobre os Costumes AA Quando combatentes, dão muito valor


ao arco longo, que usam para caçar aves.
AA Dalanos adoram tanto o vinho que fazem Utilizam o sabre dalano de pomos ador-
disputas e festivais inspirados no tema. nados com couro, madeira e latão. Dizem
que, devido o amor dos dalanos por suas
AA Bricolage é um costume antigo que envol-
armas, nasceram as bainhas de madeira
ve ser proficiente em várias tarefas cor-
que preservam o fio das lâminas, man-
riqueiras, desde costurar até alvenaria.
tendo-as afiadas e evitando o contato
Desta forma, todo dalano tende a apren-
metal-metal enquanto é embainhada e
der a se virar sozinho.
desembainhada.
AA Dão muito valor a mudanças climáticas e à
AA Grandes torneios de trovas são comuns
movimentação de astros, ventos e mares.
ao longo dos meses quentes do ano. Mui-
AA Ninguém trabalha aos domingos, sendo tas cidades guardam o título de Grande
um dia não dedicado aos cultos, mas sim Trovador para aqueles que vencem as
à família. competições e podem, por um ano, gozar
de um grande regalo nestes locais.
AA Acredita-se que no passado remoto os
povos da região de Dalanor viviam sob o AA O Amor Cortês, marcado pela impossibi-
justo jugo do rei Dálan, pintado como um lidade da relação da nobreza com a vassa-
bravo leão em antigas iluminuras. Dálan lagem, é uma criação dalana muito antiga.
era auxiliado por Tiecelin, seu corvo Ela é vista na música, pintura e poesia.

b 50 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b OS POVOS DE BELREGARD b
AA A superstição dalana coloca pequenos
espíritos, as fadas, em quase toda ques-
a
tão rotineira, de modo que singelas ofe- O Rei Adormecido
rendas nas casas e jardins são comuns
Os dalanos contam que Dálan teve um filho e
para agradar estes guardiões.
que este filho foi levado da floresta logo de-
pois do nascimento. Eles temiam que aqueles
AA Em suas adorações ao Único, são louva-
homens brutos vindos do leste, os belghos, pu-
dores que possuem o segredo da devoção dessem matar a criança. Elise, a mulher que o
através da música. Acreditam serem do- salvou, o teria criado para ser um rei, ensinan-
nos de um dom especial que une os po- do-lhe tudo que precisava saber sobre a corte e
vos e faz com que suas preces atinjam a sobre a guerra. Era preciso que o filho do leão
aguardasse a chance de retornar para reivindi-
Abóbada Celeste.
car seu reinado. Para os que creem na lenda, o

Parlos primogênito de Dálan está em uma ilha ao nor-


te de Belregard, adormecido e protegido por
Antigos senhores das planícies do sul domi-
uma corte de espíritos nobres, talvez pelo pró-
navam suas terras sob os cascos de poderosos prio pai louco. As opiniões sobre a realização
cavalos. Sendo os primeiros a domesticar o ani- desta “profecia” se dividem. Alguns dalanos
mal, os parlos tinham uma antiga tradição guer- pensam que o retorno da linhagem real trará de
reira e poderosa, marcada por rituais tribais volta a glória de Dalanor, já outros pensam que

e vínculos sanguíneos entre cavaleiros e suas esta história serve mais para assustar crianças
com ameaças do rei adormecido que a pegará
montarias. Sabiamente, os belghos trataram de
se não devorar todo o prato de lavagem.
convertê-los e boa parte deste ímpeto e or-
gulho selvagem se perdeu por um longo tempo,
mas desde que o império caiu, os parlos têm de seus cavalos, era comum encontrar homens
buscado seu próprio passado. Ainda represen- com a coloração do cabelo semelhante à de ga-
tam os maiores comerciantes de Belregard, do- ranhões avermelhados e hoje este sinal é sempre
nos das poucas rotas a permanecerem abertas associado à boa sorte, saúde e sucesso para o
nesse mundo sombrio que se revela na nova era. rebento que o porta. Independente destas mar-
Os Cavaleiros Pardos, a mais antiga ordem de cas rubras, os parlos mantêm os cabelos curtos,
cavalaria, têm feito o possível para se manter para os homens, e também apreciam bigodes
unida e coesa, trazendo de volta o orgulho de longos e tratados, muitas vezes ornamentados
“Antes de começar o tra
seu povo. com pequenos anéis. -
balho de mudar o mund
o,
dê três voltas dentro
Físico e Vigor: Os parlos constituem um Idioma e Dialetos: A língua mais falada em de casa.”
povo baixo, para o padrão belgho, de ombros toda Belregard é o parlo. Quando os belghos ini-
“O ladrão tem trabalho
largos e membros fortes. Costumam ter a pele ciaram a conversão dos Senhores dos Cavalos, leve e sonhos ruins.”
bronzeada, podendo variar de um castanho fizeram questão de aprender a sua língua para
claro à oliva e seus cabelos seguem os mesmos tornar a assimilação mais fácil. Os primeiros a “Se quer ir rápido, vá
sozinho. Se quiser ir longe,
padrões, com um ou outro risco rubro, casta- aprender este idioma o chamaram de romântico vá em grupo.”
nho claro, em algumas mechas. Estes riscos, as e, de fato, o Parlo ainda carrega este traço em
‘fagulhas’, são apontadas como sinal de boa suas características. Com consoantes longas, “Primeiro, aos meus; depois,
aos alheios.”
ventura. No passado, quando a vida de um par- ou duplas, e uma acentuação distinta, o Parlo
lo estava relacionada intimamente com o trato muitas vezes parece ser cantado e não falado.
b 51 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Fato que gerou uma lenda, sem qualquer prova, Nomes Comuns: Bacco, Demetrio, Fedro,
de que nos tempos dos Senhores dos Cavalos, os Nazzarro, Patrizio, Amanda, Demetria, Felicia,
parlos comunicavam-se desta maneira, apenas Lelia e Teresa.
com uma plena cantoria carregada de emoções.
Como acabou por tornar-se a língua do comér- Observações sobre os Costumes
cio, sofreu grandes alterações em comparação
com sua norma culta, mas esta ainda é utiliza- AA Uma lenda antiga diz que Parlouma foi a
da em ocasiões formais. A maioria das taxas e primeira terra moldada, berço do primei-
impostos possuem nomes derivados do parlo. ro ventre de onde vieram os Selvagens.
Como o próprio povo, a língua se adapta, sen- Ruínas desta profana capital estariam ao
do usada com nomenclaturas diferenciadas em longo da costa sul de Belregard.
Vlakir, por exemplo, devido ao peso religioso
que a castelania procura invocar, aproximando- AA Palourma possui rica tradição musical,
-se do Alto Belgho. especialmente no canto.

Etnias Descendentes: Apesar de serem


apegados a sua terra, os parlos se adaptaram à
vida nômade com facilidade, fazendo essa
dicotomia lhes parecer natural. Dessa ma-
neira, o sangue parlo se espalhou jun-
to do sangue belgho, mas é possível
perceber uma influência maior entre
etnias menores que se espalham
nas proximidades do território.
Ao norte de Parlouma, nos povoa-
dos que fazem fronteira com Vla-
Um Parlo não costuma kir, os vlakos são um exemplo da
repetir o que fala, nem união dos parlos com os belghos,
regressar por um caminho carregando todo o ímpeto dos se-
já pisado. Isso se deve por
gundos junto a adaptabilidade dos
sua desconfiança ensinada
desde berço. “Deixar rastro primeiros. Os vlakos podem repre-
é ser uma presa” e “Quem sentar uma verdadeira ameaça
muito pergunta quer muito para o Tribunal, devido ao seu fer-
saber” são ditos comuns aos
vor religioso e imperialista. Já no
Parlos, que são extrema-
mente atentos aos seus leste, os brados se mostram
próprios passos e aos dos fruto de uma verdadeira
seus próximos. Por outro mistura étnica, que é mais
lado, ter uma amizade ver-
associada aos parlos por
dadeira de um Parlo pode
ser o que salvará sua vida questões belicosas. As
em situações adversas. grandes cavalarias marca-
ram seu espaço em Braden,
P.
uma terra que, hoje, está
entregue ao caos.

Gravura de Berto representando


Italo, chefe da casa Graziano,
de Rivienza.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


b OS POVOS DE BELREGARD b Houve um boato sobre duas
crianças, uma Parla e uma
AA Dão muito valor à hora da refeição, sendo AA Quando ainda criança, uma trança da cri- Dalana, ambas meninas. A
na do cavalo de seu pai, ou mãe, é colo- boneca da primeira caiu em
este um momento de comunhão familiar.
um poço e a segunda insistiu
cada junto ao seu cabelo. Essa trança o em descer para pegá-la.
AA É comum que pequenas vilas possuam acompanha por toda a vida, sendo troca- Tomada por um espíri-
suas próprias tradições e dialetos locais, da apenas quando se casa, onde o casal to travesso, a menina Parla
assim como um certo orgulho. O chama- empurrou sua amiga no poço
compartilha de uma crina retirada de um e esta caiu, quebrando seu
do campanilismo prega o apego à sua ci- mesmo cavalo, o cavalo que conduz pela braço. Contudo, para além de
dade e às suas tradições, assim cada cam- Marcha de União, selando o casamento. conseguir pegar a boneca,
esta menina Dalana encontrou
ponês luta em defesa de seus valores… Arrancar a trança de um parlo é um ato uma joia de ouro jogada no
Muitas vezes com fervor excessivo. inaceitável, feito apenas por vencedores poço. Desde então o ditado
em duelos sem honra. “empurrão Parlo” é ouvido,
AA Apesar da forte ligação com o comércio, significando algo adverso
os parlos possuem essa paixão pelo lar e que poderá o recompensar.
AA Apaixonados pela equitação e pela arte Sobre a história? Bem, há
sempre anseiam pelo retorno. da esgrima, os parlos são famosos pelo quem diga que a menina
talento em ambas as áreas. Códices já Parla pegou a joia e jogou
AA Para se protegerem de depredações nos a sua amiga novamente no
foram escritos e o último tratado, enco- poço. Mas esta é apenas uma
campos, poderosos dignatários se uni-
mendado pelo marquês de Strarrari du- versão que é contada.
ram para oferecer proteção em troca de
rante a Era dos Homens, é um dos mais
tributo, criando a Camorra. Toda peque- P.
significativos sobre a arte da esgrima e
na, e mesmo grande, cidade é governada
Duello Parlo.
por uma camorra por trás dos panos. Um
“Padrinho” lidera uma rede de favores e AA Como nem todos podem portar e aprender
troca de influências capazes de afetar até a lutar com sabres, em todo lugar é possí-
mesmo o rei. vel encontrar Zuffas, rinhas de briga onde
lutadores treinados em combattimento,
AA O Sciopero, algo como uma greve, é práti-
uma espécie de luta envolvendo apenas
ca comum. Parlos não tem medo de seus
o corpo, são travadas. São duelos brutais
governantes e empregadores, sendo as-
com apostas fartas, quase sempre apadri-
sim, se necessário, lutarão até morrer.
nhadas por alguém da Camorra local.

AA Parlos são reservados, atentos e oportu-


AA Quando combatentes, parlos fazem exí-
nistas. Possuem alguns lemas que nor-
mio uso do florete, assim como da longa
teiam suas vidas, tais como: não fale a
lança parla, para os combates montados.
estranhos o que se pensa; sempre preveja
Desde jovens, as práticas de equitação
os passos dos seus inimigos; se não con-
parecem preparar os mais simples cam-
seguir vencer de modo justo, use golpes
poneses para o combate montado.
baixos ou mande alguém lutar por você;
a oportunidade faz o larápio; nunca faça AA Na adoração, são devotos dos ritos anti-
um inimigo sem necessidade; não caia na gos, não gostam de “invenções” e bus-
bebedeira; respeite a/o esposa/marido, cam seguir ao Tribunal ao extremo em
mesmo que tenha outras mulheres/ho- seus rituais. São devotos de estátuas e
mens; nunca chame as autoridades para imagens de santos e Puros. Seja por ado-
assuntos pessoais. ração, tradição ou à procura de acalento,
todo parlo busca a igreja durante sua vida.

b 53 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
mesma raiz, estes grupos ainda existem, mar-
a cadamente do lado vih, onde algumas tradições
Os Oradores das Estrelas se mantêm e os clãs respeitam uns aos outros,
adotando a unidade de Viha como algo maior
O sorriso Vih é Os céus de Belregard sempre inspiraram fas-
que estas pequenas diferenças. É comum que
sempre sincero, alguns cínio àqueles que permitem-se entregar à ob-
estas divisões sejam relacionadas a alguma
dizem. Ainda que originado servação dos astros e, apesar de boa parte do
com o ceifar da vida de mundo ser completamente leiga e ignorante grande figura do passado, algum herói dos po-
alguém, ninguém ousa dizer quanto ao firmamento, os Oradores das Es- vos do norte, de modo que alguns clamam por
que um Vih finge seu
trelas representam os maiores estudiosos de uma ancestralidade com os mesmos.
prazer. Não é em vão que
muitos destes são contrários Belregard sobre o assunto. A torre dos obser-
às apresentações artísticas vadores fica em Parlouma, próxima à costa sul, Físico e Vigor: Possuem uma compleição
de Dalanos, uma vez que sobre uma alta e escarpada elevação. Ali estu- física robusta e forte na maioria dos casos. A
estes “fabulam mais a vida diosos buscam padrões no céu noturno e con- coloração das mechas vai de claras ao loiro es-
que a vivem”. tam com sacerdotes e eruditos vulgares entre
curo e, até mesmo, a um tom levemente pratea-
os seus. Recentemente uma descoberta feita
P. do. Os vihs têm por costume manter os cabelos
por Antonini de Petugia deixou os ânimos um
pouco alterados. Baseado em leituras de textos longos, tanto homens quanto mulheres. Alguns
da Era das Revelações, o sacerdote alega que fazem longas tranças nas mechas à frente do
existem certos seres, verdadeiras entidades de rosto para, assim, fazer uma volta com a mesma
poder imensurável, adormecidas nos confins do por trás da cabeça, mantendo o cabelo preso.
mundo. Ele as chamou de Patriarcas e corrobo- Os olhos seguem padrões azuis, esverdeados e
ra sua teoria dizendo que os belinaren e dwetar
também com alguma coloração cinzenta. Mu-
só deixaram de existir porque seus Patriarcas
lheres que nascem com olhos de cor cinza são
foram mortos. A despeito da comoção, Anto-
nini acabou desacreditado quando demonstrou apontadas como bruxas em potencial. Já os
sérios lapsos de demência assassina, colocando igslavos costumam ter cabelos de tonalidades
em risco a vida de todos dentro da torre. Hoje, escuras e os olhos seguem o mesmo padrão,
encontra-se trancafiado no porão da mesma, talvez pela miscigenação com os belghos. A cor
aguardando seu destino enquanto canta louvo- castanha e negra predomina neste caso. O uso
res a seres antigos.
da barba é comum entre os adultos, que as man-
tém rasteiras e bem aparadas, normalmente na
forma de cavanhaque. Para aqueles que usam de
Vihs e Igslavos
fios compridos, há sempre tranças, pois o con-
Os bárbaros da planície de Ig ocupavam boa
trário – soltos – é sinal de indisciplina. As mu-
parte do norte de Belregard. Senhores dos lobos
lheres costumam manter penteados elaborados
e donos de uma fortíssima tradição guerreira,
em coques ou tranças ornamentadas.
viram-se divididos sob a influência dos belghos.
Um grupo, os vihs, se manteve fiel às raízes bár- Idioma e Dialetos: O vihs é um idioma for-
baras, resistindo por muitos anos à influência da te e complexo que usa um alfabeto diferente do
própria igreja dentro de seus domínios. E o ou- usado em parlo, belgho ou dalano. Sua princi-
tro, os igslavos, acabou se convertendo de for- pal característica é uma divisão encontrada
ma mais rápida, encantado com o poderio mili- em quase todas as consoantes, que as fazem
tar dos homens civilizados. No passado, quando assumir uma característica suave ou dura.
eram um único povo, dividiam-se em inúmeras Um acento muitas vezes é o que diferencia pala-
tribos diferentes e, mesmo compartilhando uma vras aparentemente idênticas.

b 54 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b OS POVOS DE BELREGARD b
Independente disso, os vihs carregam seu Desde os Isegrundr do sul, com seus cultos
idioma nativo com grande orgulho e, na cor- bestiais e devoção a espíritos lupinos, aos Tjú-
te de Viha, ele é valorizado em detrimento do der do norte, senhores de uma metalurgia len-
Belgho. O contrário só ocorre quando muitos dária, dominadores do aço de Halav, cada clã
estrangeiros fazem-se presentes. possui sua própria história, mas desde o domí-
nio belgho, preferem ver-se como semelhantes
Etnias Descendentes: Seria impossível de- atendendo ao título de vihs, algo que remonta a
marcar todas as divisões menores dentro dos “ira, justa retribuição”.
clãs vihs. O próprio termo “vihs” é um exagero
genérico que estes povos utilizaram para ten- Nomes comuns: Adrik, Mikhail, Nikolai,
tar recuperar o vasto território da Grande Viha. Vladmir, Yurik, Alina, Mila, Natasha, Sonya
Além da notória distinção para com os igslavos, e Ursula.
o restante do povo vihs é completamente frag-
mentado, carregando cada qual sua particulari- a
dade e trejeito.
Os Horrores de Ig

O nome igslavo vem de uma planície que cobre


toda a região sul de Rastov. Quando chegaram
lá a primeira vez, os homens civilizados viram-
-se perdidos e atormentados. Os relatos, apesar
de escassos, dão conta de mostrar fenômenos
misteriosos e inexplicáveis ganhando forma no
vasto território. Homens morriam durante o
sono e os poucos que despertavam, desespera-
dos, estavam mudados para sempre, enlouque-
cidos e falando sobre vermes imensos e uma
cidade de estruturas circulares, serpenteando
umas por dentro das outras em uma configura-
ção incompreensível para qualquer homem são
de Belregard. Os próprios nativos, os igslavos,
corroboravam as lendas, contando histórias so-
bre serpentes gigantescas adormecidas sob a
planície, às quais muitas tribos prestavam hon-
rarias e realizavam sacrifícios para manter estes
deuses peçonhentos em constante descanso.

Gravura de Berto representando


Natasha, tutora de Zamok.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


b Belregard b
Observações sobre os Costumes devem lhes dar algum rumo digno na
vida, não sendo mais sua responsabilida-
** Quase sempre comem com as mãos e de de depois disso.
modo comunitário.
** Adoram tudo que envolva força, violência
** Ficam nus com facilidade e não possuem e hematomas.
vergonha do corpo.
** Procuram motivos para brigar e adiam
** Bebem muito em grupo e beber faz parte motivos para evitar uma rixa.
do cotidiano. Nunca recusam uma bebida,
** Quando combatentes, igslavos prefe-
pois seria imperdoável, um gesto rude.
“A tradição protege a lei.” rem fazer uso de armaduras pesadas,
** Mulheres e homens são vistos como espada e escudo. Além disso, preferem
“À força de batermos ferro iguais em todas as tarefas.
tornamo-nos ferreiros.” focar seus esforços na proteção pró-
** Para os vihs, a Taiga Branca guarda o Sva- pria e de aliados. Já os vihs fazem uso da
“A força dos tiranos está rog, o mundo dos mortos. tradicional montante vih, assim como
toda na paciência
machados e o arco longo.
dos povos.” ** Quando membros de clãs di-
ferentes se encontram, é co-
“Mais vale beber que cuspir!”
mum que troquem histó-
“CHEEKI BREEKI” rias sobre suas viagens
e conquistas. Um com-
Tolice!
bate é certo, mas nun-
ca até a morte, quando
veem-se como irmãos.

** A religiosidade dos
vihs se mesclou com
as pregações de Alec,
criando um cisma no
criadorismo.

** Usam muitas penas de


corvos em seus adornos.

** Filhos bastardos são


criados até os dez anos
pelos pais, que

Gravura de Berto representando


Vigo, responsável pelo campo de
treino de São Ludenov.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


b OS POVOS DE BELREGARD b
** Na adoração, igslavos são tradicionais e caçados e mortos. Apenas o monarca Bövrar
fiéis aos preceitos do Tribunal, já os vihs II, com sua curiosidade extrema, parece ter le-
possuem ritos estranhos aos outros po- vado-os a sério, sendo acusado de ter mantido
vos. A mistura do culto do Único com os consortes deste povo em seu harém particular.
Selvagens gerou ritos que muito alegam Então, centenas de anos depois do genocídio,
serem verdadeiras heresias. Muitos dos ri- os abutus parecem voltar a dar passos vacilan-
tos dedicados ao Único possuem paralelo
tes para fora das sombras de seus ancestrais,
em religiões selvagens da Horda.
habitando a mesma terra de antes, ao norte da
agora arruinada Virka. Além das marcantes ta-
Algumas Etnias Menores de nota tuagens, possuem pele escura e usam cabelos
Abutus: Esta pequena etnia é encontrada ao trançados, geralmente bem longos.
norte da região central de Belregard, demons-
tram uma forte espiritualidade, apesar de suas Strigori: Para os leigos e crentes, o povo stri-
atitudes deicidas. Muito tempo atrás, num perío- gori vaga sem rumo pelas terras de Belregard,
do próximo da fundação da cidade de Virka, a impossibilitados de viver em um só lugar por
primeira cidade dos homens, os abutus tiveram culpa de uma maldição, e os próprios não fazem
seu contato com os belghos, e apesar dos medos qualquer esforço para desmentir os supersticio-
e cuidados destas “crianças mais novas”, ficaram sos. Vivendo em núcleos familiares matriarcais,
felizes em compartilhar de seu saber do mundo a figura comumente mais respeitada é a da an-
natural. Não demorou até que as animosidades ciã, avó, ou bisavó dos mais jovens da carava-
surgissem, em especial quando os belghos co- na. Um traço curioso do povo strigori são suas
mãos. Acreditando que a vida e a morte são um “Sua sorte
meçaram a aprender sobre a visão religiosa deste
Minha sorte
misterioso povo de pele marcada. Era comum, ciclo, no qual se vai de uma pra outra até puri- Nasce, cresce
tanto para homens quanto para mulheres, exibir ficar sua alma, o povo consegue observar este Fode, Fode
tatuagens escuras em linhas da altura do lábio caminho através das mãos, numa leitura que
Sua sorte
inferior até o queixo, podendo ir até o pescoço assombra os leigos. Quando meninas possuem Minha sorte
em alguns casos. Para os abutus, aquelas linhas muitos traços nas palmas das mãos, ou mesmo Chora, Mata
quando estas são enrugadas, quase como mãos Sofre, Sofre
representavam o sangue de seus antepassados,
que já havia escorrido da mandíbula colossal de de velhas, são rapidamente amadrinhadas por Sua sorte
Yon’Sabráh, o seu deus ancestral e faminto, até uma anciã, geralmente da própria família. Divi- Minha sorte
dindo-se em linhagens distintas, que descendem Pesca, planta
o dia em que um herói do povo abutu, chamado Come, Colhe
de Glimlag, algo como “aquele que sorri diante daquela primeira, os strigori se espalham por to-
dos os cantos de Belregard. Vistos com suspei- Sua sorte
da morte”, deu fim à entidade.
Minha sorte
ta pela maioria das pessoas, são temidos pelo
Velho fica
Sem deuses para louvar, os abutus desenvol- seu famoso mau olhado e demais sortilégios. Então Morre”
veram uma forte tradição ligada aos ancestrais, Parecem conhecer os caminhos do mundo. A
celebrando seus rituais em “cemitérios flores- (cantiga strigori)
chegada de uma caravana strigori pode causar
tais”. Quando um abutu morre, ele é enterrado as mais variadas reações. Da hostilidade decla-
com sementes na cabeça, de modo que sua som- rada a uma controlada curiosidade. Apesar das
bra seja local de louvor para seus descendentes. reações negativas, muitos veem bem o negócio
Quando passaram a aconselhar os belghos para com os strigori, que sempre tem o que oferecer
que se livrassem também de seu deus, foram e trocar.

b 57 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Gravura estilo bertina de Motazzi, representando
o culto fálico em Latza. Curiosamente, o artista
lembrou-se apenas do semblante do mendigo
aleijado, por isso desenhou todos de costas.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


b A Vida em Belregard b

Tertia Pars
A Vida em Belregard
“Andar por Varning é como caminhar em um imenso pasto. Você sente odores mistura-
dos de relva, pura natureza, mas também uma murrinha de bosta. Você não se importa,
a paisagem é linda. Além do mais, todo resto de dejeto que você encontra pelo cami-
nho está seco, duro, preto. Até que você chuta ou pisa em um sem querer e vê a casca
se partindo pra revelar aquela merda verde e viva. Os que falam sobre a purificação
daquele antro só estão enganados com as maravilhas da cidade portuária”.
- Verdramino, Bispo de Varning, em correpondência privada com oradores de Birman

os anos que se seguiram à Era mens irmãos e traz toda a universalidade de


do Sangue, Belregard experi- nossa cultura, por mais que existam diferenças
mentou um intenso crescimen- em todos os âmbitos aqui e ali. Desse modo, é
to populacional, uma vez que, fácil compreender como ela se encontra presente
diante da nova paz, mesmo que tênue, campo- nos muitos momentos da vida, especialmente nos
neses, nobres e até mesmo sacerdotes aumen- três que se destacam como Sacramentos: o Nas-
taram o contingente de suas classes. Apesar cimento, o Casamento e a Morte. Estes são ape-
disso, a mobilidade continuou problemática e o nas os três maiores sacramentos, não os únicos.
estrato mais baixo desta sociedade, o campe-
sinato, continuou representando nove décimos Dos Sacramentos
da população, contra o décimo restante dividido O Primeiro Sacramento: Devido aos meios Entendi sua ultima carta.
igualmente entre nobreza e os outros. Cada gru- Entendo o que está pas-
de vida precários, a mortalidade infantil é mui-
po conta com suas próprias maneiras de levar a sando. Não quero continuar
to comum dentro de todas as camadas da so- a ser um empecilho na sua
vida, mas algumas características são comuns a
ciedade. A morte faz parte do dia a dia de um vida. Siga-a como achar
todos, principalmente no âmbito religioso. interessante. Sei que em
homem de Belregard: todos já viram um irmão
uma escolha entre tua vida
Antes de tentar falar sobre nossas diferenças, morrer ou mesmo um filho antes de completar sob as botas de Tullus ou
um mês de vida. Por conta disso, os batismos reinando ao meu lado, Tullus
precisamos compreender o que nos torna iguais. ganharia.
É muito simples apontar o próximo e acusá-lo são realizados cedo, normalmente no dia se-
de todas as incompatibilidades, mas difícil ad- guinte ao nascimento. A forma da cerimônia Na fria madrugada encon-
trará meu corpo congelado
é sempre a mesma, mas a pompa pode variar,
mitir que nós somos assemelhados em tantos pelo peso miserável do inver-
outros aspectos. Proponho aqui uma reflexão dependendo da condição da família ali presen- no. Aí sim, então e por fim
geral de nossos comportamentos e anseios. O te. Padrinhos tendem a ser numerosos, para que saberá que ninguém, nem
aquela que lhe pariu das
elemento comum mais forte dos povos de Bel- exista um grande número de pessoas a lem- entranhas, te amou como eu.
regard é a religião, ela é a argamassa que une brar do fato e ajudar na criação do infante em
Adeus meu amor.
todos nós. A fé no Único é o que torna os ho- tempos calamitosos.
b 59 b P.
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Importante.
Já se registrou A criança costuma ser segurada pelo sacer- Na primeira infância, até a idade dos seis ou
casos de crianças dote e então ouve a Litania do Criador ao pé do sete anos, a criança passa aos cuidados de mu-
nascidas eloquen- ouvido. É lhe sussurrado um trecho dos escritos lheres, dedicando-se a brincadeiras variadas
tes. A Litania como: bola, dados, peões, cavalos de madeira,
deixados pelos homens que conviveram com o
serve para apazi-
Pai e, ao fim, a criança é ungida com água santi- louças e potes em miniatura, esconde-esconde,
guar os espíritos,
ficada e recebe seu nome depois do padre profe- cabra-cega etc. Existe pouco contato entre os
impedindo que
alguma alma perdi- rir: “Ego te baptizo in nomine Patris...”. Apenas outros adultos e as crianças desta idade, que
da, que um flagelo um nome lhe é dado, já que não existe o costu- costumam ser deixadas juntas sob os cuidados
dos Ímpios, tome me dos nomes de família. Os sobrenomes vêm de mulheres dedicadas apenas a isso, podendo
conta do corpo. com o passar dos anos, seja do lugar de origem
variar desde anciãs e jovens moças, em peque-
nas aldeias, a amas de leite dedicadas entre os
ou por alguma característica. Ítalo de Belizza e
mais nobres.
Godofro, o Alto, são bons exemplos disto. Di-
ficilmente um camponês carregará o nome de O Segundo Sacramento: O casamento não
seu reino de origem, como Lars de Virka. Estes é motivado apenas por uma questão familiar,
títulos são convenientes aos monarcas, já deno- mas também financeira e social. Existe um dita-
tando suas posses e terras. Um camponês, ou do bem antigo que diz “nunca case com alguém
mesmo nobre, que ande ostentando o nome de que o ajude a ser mais pobre, ninguém precisa
uma determinada região pode acabar ofenden- de ajuda para isso”. Esta união pode ser usa-
do o seu senhor por direito. Grande parte dos da para muitos fins, unindo duas fortunas, duas
homens livres prefere se identificar pela sua linhagens ou muitas vezes servindo como um
ocupação, tal como Grom, o Ferreiro. caminho para a reconciliação.

a
Técio de Villa

Técio de Villa é um renomado estudante da Academia do Esclarecer de Varning e, recentemente, apresentou


um trabalho que visava condensar os costumes dos povos de Belregard. Segundo o próprio autor, o mun-
do está passando por severas transformações e, logo, muitos dos paradigmas atuais cairão por terra. Ele
criou um movimento de estudo que busca entender e compreender a sociedade de seu tempo. Batizou-a
de “Medievalismo”, alegando que Belregard passa por uma idade média que pode resultar em diversos
caminhos. O estudante não ousa prever quais serão estas mudanças, mas assume o compromisso de ten-
tar traçar da forma mais clara, direta e objetiva possível, os ditames da sociedade atual. Ele e algumas
dúzias de companheiros catalogaram muitas informações dos povos, desde o que comem, até como se
relacionam com o sexo.

O resultado final da pesquisa gerou uma obra conhecida como “O Ruir dos Castelos” e foi recebida com
muita relutância pelos demais acadêmicos de Belregard. A obra foi concluída recentemente, no ano de
1349 DA e ainda não foi largamente copiada, está escrita em parlo e consiste de 34 tomos enormes,
de modo que boa parte dos letrados conseguirá compartilhar do conhecimento. Tendo em vista que os
maiores copistas são padres, é provável que a obra de Técio sofra variadas alterações durante o processo,
principalmente nos tópicos que tratam sobre religiosidade, sexualidade e demais assuntos tidos como
polêmicos pela igreja. É bem possível que o tomo original jamais seja copiado de forma integral. Além
disso, seus textos costumam ter alterações por parte dos copistas, ditadas pelo bairrismo, amor e demais
atitudes tendenciosas.

b 60 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
Outro antigo ditado fala que “somente os po- A cerimônia tende a ser simples. Diante do sa-
bres se unem por amor ou burrice”. Deve-se es- cerdote, os noivos devem fazer suas juras. Neste
colher bem o cônjuge e um senhor nunca casa primeiro momento, apenas estes três estarão
sua prole sem antes pedir conselhos às pessoas dentro da igreja e, nesta privacidade, quebrada
mais próximas de si, sejam estes senhores do apenas pela presença do padre, os noivos podem
próprio ou mesmo servos. Diante de um sacer- externar suas verdadeiras juras, contentamentos
dote, o casal deve trocar promessas e geralmen- ou receios, e até mesmo ódios. Somente depois
te um objeto irá simbolizar esta união, como da troca é que as portas são abertas para que os Há quem diga que sopas
feitas com o umbigo de
um anel, um lenço, um pedaço de rédea, entre relacionados entrem para a missa. Segue-se um recém-nascidos propiciam a
outros. O elemento essencial para o casamen- momento de reflexão, muitas vezes no próprio força de muitos homens a
to é o consentimento do casal e nem sempre cemitério da igreja e, por fim, a festa que sem- quem as consome. Apesar
de ser considerado algo
os pais precisam dar o aval para que ele ocor- pre toma vários dias. Todo o senhorio participa intolerável pelo Tribunal do
ra. Mas é claro que manipulações, de todas as e a quantidade de festejos varia de acordo com Supremo Ofício, esta prática
partes, ocorrem por trás dos panos ou na frente o prestígio e dinheiro daquele casal, mas todos ainda é comum, sobretudo
nos ermos de Belregard.
deles, e com plateia. comemoram, dos reis aos servos. Há inclusive traficantes
de umbigos chamados de
O cônjuge de menor influência, riqueza ou caranguejos que vendem
qualquer outra representatividade de poder, é estes peculiares acepipes

absorvido pela família do outro, não importan- a a cavaleiros próximos a


grandes combates.
do seu sexo. Desse modo, o dote é pago pela As Parteiras
P.
família de menor poder e não precisa ser algo
verdadeiramente valioso, sendo também impor- Parte fundamental do sacramento do nasci-
mento, a parteira costuma ser uma mulher,
tante, e interessante, uma herança de família,
apesar de tempos de necessidade já terem feito
uma relíquia religiosa, algo que tenha um valor
com que homens assumissem o encargo. São
simbólico e que, naturalmente, seja reconhecido figuras extremamente respeitadas, mesmo em
pela outra. castelanias mais “civilizadas”, já que a parteira
não atua apenas no momento do nascimento,
O casamento é quase indissolúvel e os meios mas também durante todo o processo da gra-
para se anulá-lo são poucos, como a não consu- videz e também depois dela, na recuperação
mação na noite de núpcias, infertilidade ou im- da mãe. São grandes conhecedoras de ervas e
potência de um dos cônjuges. Também, no caso preparos de unguentos, daí um possível atrito
com os ditames do Tribunal, já que são vistas
da descoberta de algum grau de parentesco
como curandeiras e benzedeiras em suas comu-
oculto. A igreja pode dar esta anulação e poucas
nidades. Muito comuns nas áreas interioranas,
vezes é flexível com aqueles que desistem de a parteira é um símbolo da sabedoria popular
seus votos. O que pode invalidar um casamento e não raras as que cumprem também um papel
inclui: ser menor de doze anos para mulheres, espiritual, dando aconselhamentos e mostran-
e de catorze para homens; ser membro de uma do caminhos mais brandos. As babas de Viha
das ordens de sacerdotes; terem pais num grau são um ótimo exemplo da importância desse
tipo de personagem, que certamente tem seus
de parentesco considerado proibido, em geral
similares em todas as castelanias de Belregard.
inferior ao sétimo. Em último caso, vale ainda a
palavra de anulação direta de um Orador, sendo
desnecessário dizer que esta medida só é utili-
zada por pessoas de muito poder.

b 61 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
O Terceiro Sacramento: A estimativa de Sendo estes cultistas da Horda adoradores de
vida raramente passa dos quarenta anos em falsos deuses, eles pifiamente conseguiram ape-
Belregard, salvo os sacerdotes que costumam nas criar um pequeno “lar” dentro da Fímbria.
atingir idades veneráveis, possivelmente pela
vida temperada com boa alimentação e ativida- Sacramentos Menores: Dezenas de sacra-

des físicas dos mosteiros. Mesmo com sua am- mentos menores já foram instituídos e derru-

plitude de territórios e culturas, o funeral segue bados ao longo dos anos, seja por necessidade

um padrão quase imutável em todas as terras, local ou por capricho de um clérigo. Existem,

quando estas estão de acordo com a fé regente assim, alguns sacramentos menores, rotineiros,

do Tribunal. O morto é velado por vários dias e parte da cerimônia diária de todo fiel, estando a

é sepultado com as honrarias que lhe cabem. missa e a confissão entre os mais importantes.

Acredita-se que, depois da morte, as almas pas- Pelo menos uma vez por semana, normalmente

sem um longo tempo ainda no mundo, mas não no sétimo dia, é preciso comparecer às missas

coexistindo diretamente com os vivos. As almas do alvorecer e do entardecer. Muito canto e lou-

perambulam por um reflexo sombrio de Belre- vor marcam o dia, quando normalmente se apro-

gard, chamado de Fímbria. Lá elas devem pagar veita o número grande de pessoas para continuar

por seus pecados antes de ascenderem à pre- a obra de responsabilidade da igreja. Já a confis-

sença do Criador, tornando-se um com Ele. As são deve ser feita uma vez por ano, pelo menos.

orações e preces ajudam as almas a encontrar Normalmente a punição para os pecados en-

seus caminhos e não faltam histórias que rela- volve algumas horas de oração e penitência na

tem o encontro de vivos e mortos — algumas companhia do padre, ou serviços maiores, em

macabras, outras gloriosas. Lazlo teorizava que casos mais graves, como uma peregrinação. O

todos os locais de conforto (paraísos) e locais fiel sabe que seu segredo está seguro com o pre-

de danação (infernos) de cada vertente cultista lado, mas é inegável o poder que estes homens

da Horda estariam aqui, em bolsões isolados. exercem devido a esta confiança. É confiando
na inegável pureza e integridade do Tribunal
que este costume se mantém firme e imutável.

Gravura estilo bertina de Fergus,


representando a importância dos
sacramentos. Muitos acreditam que
nem todos os mortos descansam.

b 62 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
no inverno. Nem todos conseguem cumprir este
a longo caminho em tempos iguais, mas eventual-
Os Três Nobres e os Três Mortos mente todos nós passamos por este ciclo. Menor
que o ciclo das estações, existe o da rotina, do
Conta uma lenda que três jovens príncipes va-
dia a dia. O emprego deste tempo diário pode
gavam pela floresta real quando foram abor-
dados por três mortos, seus duplos. Apesar do até variar de acordo com o lugar, o clima e o
horror causado pelo encontro, os três príncipes relevo, mas costuma dividir semelhanças com a
ficaram curiosos e, em sua arrogância típica, maioria das regiões.
exigiram saber o que cadáveres faziam fora
de suas covas. Os mortos disseram que vie- Levanta-se sempre cedo, antes mesmo do al-
ram lhes alertar sobre as futilidades da vida, vorecer, e as atividades se iniciam com a aurora.
lembrá-los que para a terra não se leva nada,
Muito da religiosidade diurna exige que o fiel es-
apenas a carne que alimenta os vermes. Ainda
teja em jejum, por isso, durante as primeiras ati-
desdenhando, os três príncipes foram trespas-
sados e sentiram a vida lhes fugir, exceto um,
vidades que precedem a aurora do trabalho, ra-
que abandonou o que tinha de valor e tomou o ramente se come graças às primeiras orações do
manto do morto, para encontrar um novo cami- dia. As refeições, três, dividem o dia de trabalho.
nho. Alguns dizem que este homem era Alec, o No meio da manhã, toma-se o desjejum, com o
Puro. Mas esta pode ser apenas uma história.
trabalho já iniciado; à tarde, almoçam e descan-
sam com um pouco de leitura, jogos e distrações
variadas; finalmente, se retorna ao trabalho até
Do Tempo
o anoitecer, quando se come pela última vez no
O tempo, tão incontrolável e imparável, pa-
dia, durante a ceia. Dorme-se cedo. Não se pe-
rece fluir de forma diferente entre os povos de
rambula pela noite escura e mesmo as tochas e
Belregard. Para o camponês, o tempo chamado
velas são evitadas nas casas mais humildes, com
longo, do plantio, é mais importante que o cur-
toda sua palha e madeira.
to, o da noite, em que apenas se dorme. Diferen-
Os minutos após o crespús-
te do clérigo que o usa o tempo chamado curto culo são chamados de “a
Esse tempo longo é dividido em doze meses,
para estudar e sabe que pode-se queimar três hora da anta” por muitos
cada qual relacionado a uma atividade em par- habitantes de Belregard.
velas antes do sol nascer, reservando alguma
ticular: em primum, celebra-se o novo ano que Isso se iniciou em um
delas às suas orações. O ritmo da vida é ditado boato de Vlakir no qual
se inicia; em secundus, repousa-se no interior da
pelas estações. Pessoas comuns, fora do clero, um camponês consumia seu
casa, aproveitando o calor do fogo; em tertium, sexo junto a uma anta,
sejam nobres ou servos, não costumam se im-
reiniciam-se os trabalhos no campo; em locus, justamente neste horário.
portar com a passagem dos dias. Para o campo- Muitos vizinhos ouviam os
o mais belo mês do ano, renovam-se todas as
nês, importa saber apenas quando é época de gemidos do animal e do
coisas; em quintus, as campanhas se iniciam, camponês, sempre assustados.
plantar e colher.
em que o lorde se arma e parte pelos campos; Uma noite foram ao seu
encontro e toparam com a
O tempo não se limita apenas à marcação por em sextus, ceifa-se o campo; em septimus, co-
cena libidinosa. O camponês
dias, meses e anos, apesar de sua passagem ser lhe-se; em octavus, prepara-se o grão e debu- foi enforcado, mas o boato
sentida dessa forma mais que de qualquer outra. lha-se o trigo; em nonus e decimus, colhe-se e se espalhou e até violên-
cias sexuais cometidas com
O tempo iguala os homens e os faz passar pelas semeia-se a uva; em undecima, prepara-se para humanos são atribuídas à
quatro estações da vida. Nascemos em nosso o inverno com a madeira e engorda-se o porco; “hora da anta” em diversos
verão, crescemos em nossa primavera, amadu- em duodecimus, reserva-se em casa com a famí- cantos de Belregard.

recemos no outono e nos deitamos para a morte lia e aguarda-se o ano novo para celebrar. P.

b 63 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Um costume moderno que ganha força é a di-
visão do ano apenas em quatro, considerando
a
Aqueles que possuem
deficiência física ou mental apenas a estação. Afinal, a plebe não precisa de O Peso da Palavra
em Belregard, caso sejam
exatidão e acostuma-se em dizer “viajarei para
observadas por membros da Quando se olha para um camponês e para um
Igreja, possuem uma sorte ver minha mãe no fim do verão” ou “meu filho
nobre, é natural imaginar que este primeiro
ímpar. Estes são recolhi- nascerá no começo do outono”. mal tem onde cair morto. Isso é uma verdade.
dos e bem cuidados, pois
já portam as chagas do A diferença de poder e posse entre as classes
passado corrompido. Estas
A Sociedade sociais em Belregard é gritante. Enquanto um
crianças já estariam pa- Um dos pontos mais importantes do compor- nobre pode viver em um castelo de cômodos
gando o preço do deicídio tamento social e político em Belregard baseia-se desconhecidos por ele mesmo, um camponês é
por todos. Contudo, grande obrigado a se enfurnar em uma casa pequena
na relação entre vassalo e senhor. Não importa o
parte delas nasce distante
com toda sua família e os animais. No entanto,
de abadias e por hora é quão grande é o seu poder, todo senhor tem um
descartada por ser apenas senhor mais poderoso que ele. Grande parte dos
o maior bem do homem de Belregard é a sua
um peso morto do leito. palavra. Ainda que o peso da palavra do cam-
vassalos são proprietários de posses menores ponês seja menor que a do nobre, confia-se na
P. que, por alguma razão, vinculam-se a senhores sinceridade das pessoas. Um dos maiores insul-
mais poderosos a fim de ter uma “patronagem”. tos que um homem pode fazer a outro é o de
No momento da filiação, é preciso determinar as marcá-lo como indigno de confiança. A traição
da palavra é a maior vergonha para um homem
obrigações de um para com o outro e, enquanto
carregar, o que pode facilmente transformá-lo
o vassalo torna-se proprietário de um território
em um Cabeça de Lobo.
do senhor, na forma de um feudo, este senhor
pode lhe cobrar participação militar e política,
seja na guerra aberta ou para conselhos buro- de terras, manter determinada área nas mãos
cráticos. O senhor pode ainda favorecer seu vas- da família que já lhe servia e lhe favorecia, que
salo de outras formas, garantindo-lhe um bom tirá-los de lá e encontrar novos proprietários.
casamento ou ordenando seu filho mais velho a Apesar desta disposição, ela não é lei. No caso
alguma ordem de cavaleiros. do proprietário nominal das terras morrer, de-
ve-se realizar novamente a cerimônia de posse
A cerimônia de vassalagem costuma ser sin- e vassalagem, já que nada impediria o próprio
gela, salvo nos casos de senhores realmente po- senhor de dar aquelas terras a outra pessoa ou,
derosos, e quase sempre é acordada oralmente. ainda pior, que um outro líder ganancioso vis-
O vassalo coloca-se à disposição do patrono, se as terras como abandonadas e simplesmente
alegando “tornar-se homem deste” e firma o ju- tomasse posse.
ramento sobre os escritos da fé ou sobre alguma
relíquia sagrada. Um objeto simbólico também As terras de um determinado senhor são di-
pode ser dado ao fim da cerimônia, represen- vididas em dois tipos: as reservas e as conces-
tando a passagem do feudo. Em Birman, este sões. Este segundo refere-se exatamente àquilo
objeto costuma ter conotações religiosas. Já em que ele cede a seus vassalos, em troca da pro-
Varning, um simples contrato é redigido por um dução e do pagamento. As próprias concessões
sacerdote e ambas as partes assinam. têm suas divisões internas, que serão tratadas
mais adiante. As reservas estão limitadas ao
Os feudos tendem a ser concedidos a título próprio castelo do regente, seja ele um rei, ba-
pessoal e vitalício, mas a hereditariedade é ex- rão, duque, conde ou marquês, e seu séquito de
tremamente comum. Vale mais, para um senhor servos domésticos.
b 64 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
A corte também tem seu lugar na reserva. O lorde local, senhor das terras, guarda os
A paisagem de uma reserva é quase sempre a documentos de suas concessões e reservas com
mesma, com um grande castelo de pedra em muito cuidado. Mais que o ouro ou suas joias,
determinada parte alta do relevo, cercado por estes documentos são sua verdadeira fortuna.
construções pomposas, a corte, e envoltos, de Normalmente selados com o emblema real de
todos os lados, pelas terras e pastagens dos sua casa nobre e um reconhecimento do Tribu-
camponeses. As terras dos camponeses, as fai- nal, estas folhas de pergaminho representam o
xas, não são cercadas ou claramente delimita- poder do nobre em questão. O Tractatus Terrae,
das, apesar de todos saberem de quem é o quê. livro do imperador com todas as terras de Bel-
Geralmente todos se unem para lavrar o solo, regard e seus respectivos senhores, está conve-
juntando os bois e os arados pesados para fazer nientemente perdido neste período conturbado
o trabalho de forma mais rápida. Estes lavra- da história em que, apesar do isolamento dos
dores que auxiliam os camponeses são muito senhores feudais, existe o evidente desejo na
respeitados e recebem parte da colheita como terra alheia.
pagamento pelo trabalho pesado.
Chamar Vlakir, Parlouma, e outros, de reino
também não é a melhor forma de se tratar tais
regiões. Na verdade, apesar do termo “reino”
estar convencionado na cultura popular de Bel-
regard, o nome mais correto para estas áreas é
o de castelania, que nada mais é do que um tipo
de senhorio, área de influência de um determi-
nado senhor. Influência e poder que são exerci-
dos das mais variadas formas, como a cobrança
de taxas por todo comércio e toda a troca rea-
lizada em suas terras. Apesar disso, é ele quem
detém os meios de produção que os campone-
ses precisam, como a forja, o moinho, etc.

As terras dadas na forma de concessões po-


dem ter, no caso das classes mais baixas, dois
tipos básicos de ocupantes: os servos e os ho-
mens livres. A diferença básica entres estes dois
tipos é o fato do homem livre gozar de certa
liberdade dentro das terras de um senhor. Ele
pode morar onde desejar e algumas vezes pode
até mudar de senhorio. Estes homens são res-
ponsáveis pela direção da comunidade aldeã,
desempenhando papel importante na vida ru-
ral. Administram a terra e os rebanhos, tam-
bém coletando, quando não por um enviado do
Gravura estilo bertina de Motazzi mostrando o milharal senhor, a talha (imposto) dos camponeses.
de Ygor, rico comerciante igslavo de Varning.

b 65 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Estas aldeias, que aos poucos tornam-se cida- tica de Belregard encontrava-se mergulhada no
des, são aglomerados de ofícios na maior parte caos. Originalmente, o termo “feudo” era utili-
das vezes. Ferreiros, carpinteiros, curtidores e zado como sinal de dívida de sangue, de vingan-
toda sorte de trabalhadores unem-se em peque- ça, de ajuste de contas. Acabou convencionan-
nos grupos para fazer valer um pouco de sua do-se o uso para as terras conquistadas como

“Puxa, estica, amarra, vira, vontade. Está longe de ser algo organizado ou resultado destas contendas.
salta, corre, abaixa. grita, verdadeiramente expressivo, mas em Varning
gira, silencia.” já existem grandes corporações de ofícios que O feudalismo firma-se na máxima de que a

dominam determinadas áreas, juntando os terra pertence a Deus e que os senhores gover-
Essa é uma brincadeira
melhores em uma única filiação, muitas vezes nam por direito divino, possuindo-a e governan-
muito comum entre as
crianças. Uma delas entoa chamada de guilda. Em alguns locais as guildas do como bem entendem, assim como alicerça-se
as ordens e as demais no dever de servir cabido ao homem de simples
devem seguir. A vez é ganharam muito respeito e poder, formando
verdadeiros cartéis e exercem controle sobre um ofício. No entanto, o Eleito é o responsável
passada para as demais,
que embaralham os verbos ofício, manipulando desde a escolha de aprendi- supremo da força humana, sendo o vigário de
e seguem as ordens. Deus em Belregard, possuindo assim o direito de
zes até o preço de venda.
intervir e impor sanções a um nobre injusto. A
Mas é dito que, na ver-
dade, estas são ordens da- O Triângulo Social ele é dado o poder de pronunciar julgamentos, de-
das durante torturas feitas Como apontado pelo iluminado padre Yorek por, retirar terras, substituir ou excomungar um
pelo Tribunal do Supremo
de Kinlar, a divisão natural dos homens foi or- rei que caía em seu desagrado. De maneira se-
Ofício em suas audiências
com aqueles que respondem denada pelo próprio Criador em uma espécie de melhante, o Eleito tem o direito de declarar uma
por pecados cometidos... triângulo, sua interpretação foi totalmente deta- invasão, assalto de guerra ou declarar paz entre
lhada na carta intitulada de “O Poder Regencial dois feudos, mesmo que sua vontade vá contra
P.
Divino e o Dever do Homem Corriqueiro”. A a vontade dos governantes, sua palavra será
mobilidade social, para os sacerdotes, é enges- acatada. O Eleito é a voz máxima sob os céus.
sada por conta desta visão da ordem A grande
A ordem de classificação e precedência no
vantagem do triângulo social é a possibilidade
Sistema Social é a seguinte:
de visualizar claramente a função de cada um
dentro deste sistema. Do mesmo modo, ascen- ♝ Vossa Santidade, O Eleito – O cargo
der nesse triângulo faz parte do objetivo da máximo do Tribunal do Supremo Ofício.
maioria das pessoas de Belregard. Por exemplo, ♚♛ Vossa Majestade, O Rei / A Rainha –
um cavaleiro que tenha provado sua valentia na O maior posto dentre os homens corriqueiros.
batalha ou foi bem sucedido em torneios, po- ♜ Dons e Donas, Os Nobres –
derá tornar-se rico e conseguir pagar por um Seletos senhores que podem ter suas ter-
castelo. Assim, sua importância na terra iria au- ras dentro das terras reais. (eles são divi-
mentar e ele poderia, então, tornar-se um barão, didos em condes, barões, marqueses e du-
conde ou duque. Nobres poderosos aspiram ao ques. Sendo barões os menores e duques os
cargo de rei, e os servos sonham em ser homens mais poderosos).
♞ Dons e Donas, Cavaleiros – Protetores e
livres. Todos sonham com algo melhor do que
possuem.
mantenedores dos escalões acima.
O termo feudalismo foi criado por Haskel para ♟ Camponeses / Servos – O campe-
denominar as terras em constante disputa du- sinato em geral, incluindo homens livres e
rante a Era do Sangue, quando a situação polí- comerciantes.

b 66 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b

Gravura estilo bertina de Fergus, representando


a importância da fé, que não abandona o homem
nem mesmo nas estradas de Belregard.

Mesmo com todo o poder da igreja, estar aci- A Divisão da Sociedade


ma da lei dos homens não é um privilégio de Aqueles que Trabalham “Operantibus”
todos; muitos homens do clero veem-se atados e Seja ele de Latza ou de Rastov, o homem sim-
até mesmo subjugados frente a alguns que con- ples de Belregard leva uma vida semelhante em
seguiram escalar grandes picos de poder. Deste todos os cantos do continente. Fadado a fazer
modo, um orador tem uma influência equivalen- parte da parcela mais baixa da população, seu
te a um duque, um cardeal, equivalente a um papel dentro da sociedade é o de alimentar e
conde e assim por diante. Seguindo a lógica, em calçar o caminho para a nobreza. Sem qualquer
casos de poder equivalente, a palavra final será instrução ou conhecimento teórico, os campo-
do eclesiástico em questão. neses dedicam-se a tarefas práticas de produ-
ção no dia a dia. A criação de animais e o culti-
vo de terras estão entre as principais atividades

b 67 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
destes homens simples e humildes. O homem
nasce fadado a fazer o que se espera dele, nada
a
mais que isso, apenas esperando o fim. Longevidade dos Reis

O campesinato é tão absorto que nem mes- Um fato curioso que salta aos olhos daqueles
observam as histórias dos reis de Belregard é
mo calcula o tempo com grande precisão. Tudo
o quanto a idade venerável que boa parte deles
que lhes interessa é saber qual a estação atual,
consegue alcançar, quando não passam por al-
para que a terra possa ser trabalhada. Um cam- gum atentado que lhes interrompe a vida. Para
ponês tem poucas chances de mudar de vida, um homem simples, e mesmo um nobre, viver
já que sua participação como alicerce das ou- até os cinquenta é motivo de glória e causa
estranheza que alguns reis tenham consegui-
tras castas é muito valorizada. A maior parte
do chegar a mais que o dobro disso. Alguns
da população de Belregard ocupa esta posição,
estudiosos alegam que os registros antigos
trabalhando duro ao longo de suas vidas, relati- estão errados, que muitos filhos assumiram as
vamente breves, para manter a nobreza e o cle- coroas dos pais sem mudar o próprio nome, o
ro em suas condições confortáveis. Lembrando que causaria a confusão. Outros apontam mo-

que é dever do nobre proteger seus campone- tivos mais sagrados, provando a divindade dos
reis pela longevidade, como um sinal claro do
ses dos saqueadores e invasores, assim como
Criador para que aquele reinado seja longo e
é dever do camponês agarrar-se em armas próspero. Para poucos, muitos dos quais já pa-
quando necessário. garam com a vida por espalhar tais histórias, os
anos a mais dos reis em Belregard tem uma ori-
Dentro do título camponês encontram-se al- gem muito mais profana, que parace envolver o
gumas divisões. Existem os servos, os mais bai- próprio Eleito e seu domínio sobre luz e treva.
xos dentre estes, sendo melhores apenas que os
bandidos. Devem suas vidas aos seus senhores,
que têm todo o direito sobre suas parcas pos- As roupas femininas consistem de duas túni-
ses. A produção de um servo vai quase toda cas - as mais pobres usam apenas uma - sen-
para o seu senhor e ele mantém apenas o sufi- do uma maior do que a outra. Além disso, as

ciente para sobreviver. Temos depois os homens mulheres também usam um longo manto so-

livres que, mesmo ainda vivendo em terras de bre seus ombros. Somente nas últimas décadas
tem se tornado normal o adorno de pescoços
senhores, contam com uma certa quantidade
e punhos com enfeites singelos. As campone-
de posses pessoais, algum dinheiro e possibi-
sas costumam usar algodão cru tingido com
lidades dentro da sociedade. Como um braço
açafrão, ou linho barato quando são agraciadas
dos homens livres, tem surgido em Belregard
por sua senhora.
uma divisão distinta de homens dedicados ao
comércio. Eles já são mais comuns em Varning. As atividades dos homens livres variam em
Lembrando que um camponês nunca aprenderá uma vasta gama de possibilidades. Quando li-
a utilizar uma espada, ele não teve tempo de so- vre, não restrito a uma ocupação determinada
bra para isso. O dia a dia de um servo é carrega- por seu senhor, o homem simples consegue al-
do de sofrimento, já que devem cuidar da terra cançar objetivos normalmente impossíveis para
do senhor por dois ou três dias por semana, e alguém de seu status social. Existem os cavalei-
ocupar-se das funções agrícolas como aração, ros mercantes, uma ordem menor de cavalaria,
colheita e principalmente do arroteamento. não necessariamente nobre, que vem se tornan-
b 68 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
do popular nos últimos anos. Surgem como uma aos mais confiáveis súditos. É desta casta que
luz no comércio abandonado desta Belregard surgem os mais proeminentes cavaleiros de Bel-
arruinada. Seja fundando os alicerces de novos regard. As ordens cavaleirescas aceitam mem-
entrepostos comerciais, empórios onde se reú- bros vindos de qualquer estrato social, desde
nem mercadores de vários cantos do mundo du- que tenham uma patronagem digna. É raro que Seria comum imaginar que
rante as épocas quentes, ou como exploradores camponeses consigam apoio o bastante para sa- reis e senhores de maior
poder seriam considerados
que se dedicam a reencontrar caminhos antes grarem-se cavaleiros e certos filhos de duques até mágicos pelos mais
abandonados e torná-los seguros, os homens e já são educados desde jovens para tornarem-se pobres, mas isso não ocorre
mulheres livres de Belregard conseguem forçar escudeiros. É esperado que todos os detentores em Belregard. A ausência
de esperança e a certeza
seu lugar no mundo. desses nobres títulos sejam versados nas mais da degeneração do mundo
comuns armas militares, táticas de combate e impossibilita a projeção na
Aqueles que Lutam “Militantium”
controle de conflitos; afinal, um nobre que não figura de poder como algo
A nobreza está logo acima dos camponeses e taumatúrgico. Pelo contrário,
pode se defender não será um bom líder. Devido há sempre desconfiança aos
também divide-se em certos estratos com parti- que possuem mais pão e
aos tempos de paz, muitos desses nobres deixa-
cularidades próprias. Os pequenos proprietários carne para se alimentar.
ram que suas armas enferrujassem e que suas
de terras muitas vezes não carregam qualquer
barrigas crescessem, colocando sua segurança P.
título de nobreza relevante e têm, aos poucos,
em mãos de outrem.
juntado laços com os homens livres comercian-
tes, dando origem a pequenos centros, os bur- Em territórios onde o conflito é constan-
gos. Lá, promove-se a união de outros homens, te, como em Viha e Braden, os marqueses são
livres ou não, para o comércio interno. Ferreiros, escolhidos entre os barões de maior renome e
carpinteiros e toda a sorte de ofícios juntam-se sucesso militar. A eles são dadas marcas, peda-
em praças largas para gritar alto o preço de seus ços de um território de fronteira, muitas vezes
produtos e serviços. dentro do território de outro nobre, como um
conde ou duque, e estes devem subordinação ao
Os condes figuram como primeiro título nobre marquês, no que diz respeito à guerra. O mar-
de real valor. Suas propriedades não são vastas, quês pode até mesmo tomar terras de seus vi-
mas podem gozar de uma relativa participação zinhos, ocupando os campos e usando de suas
dentro da corte de seus respectivos reinos. En- plantações, se estas forem necessárias em seu
quanto em viagem, os condes podem nomear esforço na fronteira.
um substituto para coordenar seus domínios e
No topo da nobreza está a figura do rei, deten-
estes viscondes têm poderes limitados nestas
tor de todas as terras de uma determinada re-
ocasiões, apesar de sempre serem da confiança
gião e que, mediante auxílio militar e logístico,
do conde. Em seguida vêm os barões, que não
cede certas partes para nobres e camponeses.
diferem muito em poder, mas sua influência
A família regente e seus relacionados costumam
militar é maior. Normalmente estes títulos são
habitar castelos, quase sempre construídos em
dados àqueles que demonstraram coragem no
locais altos, e ao redor destes espalha-se uma
campo de batalha.
pequena comunidade de servos. A corte tem
O maior dos títulos que um homem pode ter, seu lugar ao redor destes bastiões do poder real,
dentro da nobreza, é o de duque. Os ducados são contando com moradias de nobres e pousadas
quase como estados dentro do estado e os mo- especiais para atender a realeza e aos influentes
narcas são sábios em reservar este título apenas quando visitam determinada corte.

b 69 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
O feudalismo é baseado na troca de terra para
o serviço militar. Bövrar I criou esse conceito,
apesar do termo só ter sido cunhado tempos de-
pois, para recompensar seus cavaleiros pela sua
ajuda na vitória contra os Selvagens. A vida dos
senhores e nobres é centrada em torno de seus
castelos ou mansões, ou lutando pelos interes-
ses de seu senhor seja nos salões ou no campo
de guerra.

A maioria dos nobres, em tempos de paz, des-


prende-se de parte de sua riqueza em grandes
festas ou banquetes e, enquanto comem e be-
bem, assistem às brincadeiras de um bobo da
corte ou escutam as canções e músicas de tro-
vadores. Eles vivem daquilo que é tirado de sua
reserva, afinal, a floresta e seus trabalhadores
lhe proporcionaram a madeira para casas e mó-
veis, assim como as quentes roupas de linho, lã
e couro.

Aqueles que Rezam “Orante”


Junto dos nobres, e também subordinados ao
rei, está o clero. Dividido em determinadas or-
Uma típica bula do dens, que interpretam de maneira particular as
Tribunal, contendo
as demandas de ideias deixadas pelos Puros que acompanharam
sacerdotes.
o Único em suas andanças pelo mundo, os sa-
cerdotes influenciam toda a sociedade.

As três principais visões de mundo religioso


são lições passadas pelos homens que caminha-
ram ao lado do Criador:

Alec pregava o total desapego aos bens ma-


teriais e até aos sentimentos mundanos. Este
andarilho foi o responsável pela criação do Tri-
bunal do Supremo Ofício original. É somente no
total desapego que pode-se novamente entrar
em contato com o Pai de Todos. Leoric, encarna-
ção do soldado divino, não chora pelo sacrifício
do Único, mas o aponta como a última direção
que o Criador deu aos homens e que agora eles
devem honrá-lo seguindo o mesmo caminho, lu-
tar eternamente contra a Sombra.

b 70 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
Por fim, o pragmático Lazlo crê na busca pelo Eleito - Sumo Pontífice, Pai das Primei-
conhecimento, seja ele qual for, chamando a to- ras Crianças, Escolhido da Santa Mão, Seta
dos para um culto racional e sem sincretismos Indicadora - Escolhido pelos Conclave dos Ora-
profanos trazidos pelas hekklesias, pregando dores, seu posto é vitalício. É também o chefe
que todo conhecimento é válido, e acreditando de Birman, lar do Tribunal. Sendo um dos cargos
que este é o caminho para reservar seu lugar ao mais antigos e firmes da história de Belregard, o
lado da essência do Criador na Abóbada Celeste. Eleito foi um cargo criado por Alec, quando es-
colhia em uma cidade alguém para guiar os con-
Dentro destas ordens, a divisão é basicamente vertidos deixados após sua visita. Dedica-se a
a mesma. Quando alguém deseja tornar-se sa- unir os povos e firmar o poder do Único, comba-
cerdote, o ideal é que inicie esse caminho desde ter a Sombra e mediar conflitos do homens. Tem
cedo. Os pajens, trazidos pelos seus pais até as plena autoridade dentro do Tribunal, possuindo
igrejas, oferecem também uma espécie de dote, controle de nomear e retirar poder para cargos. Há algumas décadas, os
geralmente em dinheiro, para custear seus estu- ferreiros passaram a batizar
dos. Esta quantidade varia muito e geralmente Orador - Escolhido pelo consenso entre bis- uma espécie de alabarda
é cara demais para que famílias de camponeses pos, arcebispos e população, endossado pelos de “Lâmina da Capelã”,
referindo-se a uma arma
coloquem seus filhos no clero. Pode ocorrer de Acadêmicos Cardinalícios. É tido como o cargo forjada de acordo com
pajens serem aceitos em ocasiões especiais. Os mais puro entre todos os outros, pois sua esco- o desejo de Fernanda
mendicantes são mais propensos a isso. A no- lha envolve uma vida sem máculas e pouca in- Gusmão, responsável pela
capela nas imediações de
breza mantém o costume de mandar o segundo fluência política, mesmo que isso não seja de Rastov. A mesma lâmina
filho para estudar junto à igreja. Enquanto o pri- total verdade. O Corpo Oratório dos Fracos e foi responsável por matar
mogênito irá suceder os negócios e posses dos Necessitados, como foi chamado originalmen- lobos, acabar com ladrões
de peregrinos e abafar 3
pais, o segundo filho está fadado ao aprendizado te, nasceu com o intuito de amparar aqueles revoltas camponesas. Não é
monástico. Lembrando que o clero só aceitará que sofriam com os problemas reais deixados raro, sobretudo aos Leoris-
um futuro aprendiz se este já tiver alfabetizado tas, pegar em armas para
por péssimos governantes. Criaram e instituí-
resolver seus problemas.
e com conhecimento literal sobre a Vulgata, o Li- ram legalmente aquilo que seria de outra forma E estas normalmente são as
vro Sagrado. Aqueles que não passam nesse pri- tratado como fraco e necessitado, dentro das mais letais.
meiro teste são dispensados. Não é preciso dizer normas do Tribunal. Agem como mediadores e
P.
que muitas famílias gastam tudo que possuem conselheiros, levando a vontade do povo e das
pagando instrutores para que seus filhos estejam castelanias até o Eleito.
preparados para isso.
Cardeal - O Corpo Cardinalício. É um dignitá-
Tornando-se prelados depois de alguns anos rio de alto grau e atende aos desígnios do Eleito,
de estudo, então, são mandados para igrejas e servindo como mãos e olhos para este. Existe
capelas em áreas afastadas dos grandes centros um número que varia entre 70 a 120 destes. Tra-
e da corte. É nestes locais que os aspirantes a balham em grandes locais, grandes focos da fé.
sacerdotes aprendem sobre os verdadeiros misté-
rios de Belregard. Lidando com a superstição de Arcebispo - Cuida de um conjunto de Conse-
camponeses e tendo que lhes orientar em suas lhos Distritais. São escolhidos entre os bispos
transgressões, muitos candidatos desistem da pelos cardeais.
vida sacerdotal nesta fase.
Bispo - Cuida de um Conselho Distrital (união
de várias Igrejas). Se existe alguma fagulha de
real bondade, está daqui para baixo.

b 71 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Prelado - Cuida de Igrejas. do que é o amor cortês dos trovadores de Da-
lanor; o desdém da dama almejada, que parece
Prior - Cuida de uma ordem, um Priorado.
acompanhar os passos do gatuno que espreita
Abade - Responsável por Abadia ou Convento. na segurança da noite sem dar atenção ao seu
Capelão - Padre militar ou que dirige capela. apaixonado poeta. Independente de quão encan-
tadora a noite e a lua possam ser, o medo impera
Acólito - Auxiliar de um Sacerdote.
no coração de todo homem que vive nas terras
Mendicantes - A mais baixa na hierarquia, de Belregard quando o sol se põe no horizonte.
são homens e mulheres sem apego material,
grandes viajantes e pregadores. Arquitetura
Traçar todas as variações de construções em
Os Pormenores do Mundo Belregard seria um esforço imenso e desne-
ar cessário para este trabalho. O que precisamos
Não seria prudente ressalt Um mundo de Escuridão
aqui o nosso me do tentar compreender são os padrões de moradia,
do escuro? A vida em Belregard não é branda. Aqueles elementos comuns que fazem o camponês da
-P.
que vivenciam este período são pessoas guerrei- isolada Rastov compartilhar vivências com o
Tolices! Não dê ras que tentam conquistar novas terras ao cus- pastor de Belghor. As estruturas em Belregard
armas ao inimigo. to da vida de seus aliados e inimigos selvagens. possuem estilos particulares que costumam
A mistura dos povos gerou uma recém-nascida
se distinguir pela localidade e pelo povo que
busca por elegância com suas sedas, tapeçarias,
as construiu. Os belghos possuem fama como
pedras preciosas, perfumes, especiarias, péro-
construtores engenhosos, excelentes trabalha-
las e marfim, assim, provocando uma mudança
dores com pedra. Desde muito tempo têm-se
na sociedade em geral. O requinte, o bom gosto
evidências de seus esforços na construção de
e a finesse parecem ser algo novo, algo sendo fi-
pontes, torres e palácios de pedra. Parte desse
namente degustado e apreciado por aqueles ca-
conhecimento foi perdida, mas alguns lugares,
pazes de pagar seu custo. É neste cenário con-
como Vlakir, mantêm viva a tradição.
traditório que se envolve o homem atual; ainda
que existam avanços e melhoras, o isolamento O chamado estilo virkânico se caracteriza pe-
deixou tais benesses e reservadas a grupos e lu-
las construções austeras e robustas, de paredes
gares. O que une a todos, fora a crença do Cria-
grossas e janelas pequenas. Mesmo as igrejas
dor, é a escuridão quase literal.
deste estilo podem ser confundidas com forta-

A noite tem seus encantos e assombros. Da lezas da fé. Ainda é o tipo mais respeitado de

mesma forma que ela fascina o amante trovador arquitetura, por carregar muito da passada gló-

com a inspiradora luz do luar, causa arrepios no ria do império. O estilo mais recente e que tem
campo, quando o uivo faminto irrompe no silên- se tornado popular nas construções do último
cio dos lares. A lua surge como uma salvadora, século é o birmânico, que carrega uma forte
jogando sua luz pálida quando não há sol para e estreita relação com a fé. Caracteriza-se por
aquecer os homens. Um sem número de canções estruturas altas, de torres e arcos impressio-
já foi escrita para a garbosa dama que vaga so- nantes, um espaço interno amplo e um exímio
litária nas noites frias. Melodias falam de um aproveitamento da luz através de janelas, vitrais
amor puro e inalcançável, um reflexo perfeito e rosáceas cativantes.

b 72 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
Menos impressionantes, apesar de mais típi- ce contrário ao que seria natural. Há de se per-
cas, as construções dos camponeses e homens guntar o porquê dessa atitude e como poucos
menos abastados seguem um padrão quase centros populacionais desse porte continuam
igual em todos os cantos do mundo. No campo, ocupados hoje. Nos locais onde o poder conse-
as casas costumam ser grandes salões compri- guiu se manter centralizado no rei, ou na figura
dos que poucas vezes têm divisórias internas do nobre que tomou as rédeas da situação, isto é
com paredes sólidas de terra ou madeira. Cos- notável. Não fosse o abandono das cidades, tal-
tuma-se usar tecido, cobertores, para dividir os vez Belregard não estivesse tão isolada e escura
cômodos das casas. Não é incomum que mais como se encontra.
de uma família viva na mesma casa e é costume “Mas como essas coisas
que todos durmam no mesmo local, comparti- Fenômeno ímpar que tem ocorrido em cer- foram feitas? Grandes
tos lugares, especialmente em Varning, é o dos castelos e fortalezas de
lhando da mesma cama. A ideia de privacidade tempos imemoriais!”
não é tão relevante quanto na cidade e mesmo burgos. A ascendente classe dos comerciantes,
os banhos podem ser comunais. Um espaço da junto de seus cavaleiros mercantes, tem realiza- “Não seja tolo, isso foi
criado quando o Criador
casa pode ser reservado para os animais, a fim do as feiras em grandes encontros de estradas,
ainda estava entre nós.”
de protegê-los do frio, dos lobos e de ladrões. e alguns destes comerciantes acabam por viver “Mas há quem diga que
nestas áreas, sob a proteção de senhores locais. estão de pé há muito
Já na cidade, a organização das residências é tempo atrás.”
Como retribuição ajudam tais senhores na de-
muitas vezes confusa. Varning tenta mudar isso fesa e melhoria estrutural de seus domínios. É “Então diga, meu bom
com políticas severas de padronização, mas só um fenômeno que tem feito surgir as cidades homem, se o Único não
consegue manter-se coesa no grande centro. está mais nestas paragens,
pequenas, em pontos fortes de comércio. Em
porque estes colossos insistem
Normalmente, quando possível, as casas são alguns casos, estas cidades, burgos, conseguem em ficar de pé?”
construídas com o primeiro andar de pedra, po- autonomia junto ao senhor geral daquela área, “Para nos lembrar de nossa
dendo ter anexos superiores de madeira. Como insignificância. Hoje nem
permitindo que a torre, o forte ou mesmo o sabemos mais como fazê-los.”
os ofícios são mais comuns nas cidades, as por- mosteiro, se torne autossuficiente.
tas e janelas ficam abertas durante o dia, exibin- “Eu vejo tudo de outra
do produtos ou oferecendo serviços. Como dito Existem alguns tipos observáveis de cidade, forma, meus caros.”
“E como vê?”
antes, a privacidade é assunto sério na cidade, por mais que estes estilos se misturem com
de modo que as casas costumam ter maiores di- frequência. Existe a cidade que se manteve do “Tudo isso serve apenas
visões internas. período imperial, esta costuma ser mais am- para guardar festins e
oferendas que peregrinos
pla e organizada, ainda que tenha sido também deixam. Sempre visito ruínas
As Cidades e os Castelos vítima de uma histeria generalizada quando para garantir ao menos
conflitos locais deflagaram a queda do poder uma boa refeição.”
Durante o período imperial, grandes cidades
marcaram o mapa de Belregard. Capitais e cen- imperial; elas contam com estruturas de pedra
tros comerciais fervilhantes de vida e cultura. e amplas áreas de socialização, como praças e
Conforme Virka demonstrava seus sinais de banhos. Existe também o burgo, muito comum
fraqueza, tais locais acompanhavam o “sangra- no oeste de Belregard, a partir de Varning, nor-
mento” imperial, sendo abandonados, saquea- malmente iniciado por ajuntamentos de comer-
dos aos poucos. O movimento de êxodo parece ciantes em seus empórios; estes são centros de
até mesmo forçado em alguns locais. Estruturas fervor em determinadas épocas do ano propí-
grandiosas de pedra sendo largadas ao tempo cias ao comércio. As demais são cidades novas
enquanto famílias juntam o que podem para ou espalhadas ao redor de castelos e igrejas, go-
partir aos campos, tomando um rumo que pare- vernadas por nobres e bispos.
b 73 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

Gravura estilo bertina de Ferguson, representando um santuário abandonado em Virka, já reclamado pela natureza.

b 74 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
O caso geral do ambiente urbano é caótico, mais pobres. A área mais próxima ao castelo
mesmo nas cidades que sobreviveram ao êxo- do nobre local é destinada à corte e esta corte
do total. As ruas em sua maioria são de terra pode variar de tamanho, de acordo com o poder
lamacenta; em raros casos, um pequeno peda- aquisitivo daquele senhor em especial. Na mura-
ço pode ser calçado com pedras ou tábuas de lha externa ficam os cidadãos de bem, mas em
madeira barata. A água é retirada de poços ou áreas periféricas da corte, e devem se recolher
lagos e rios próximos. Os excrementos são ar- antes que os portões se fechem no início do cre-
remessado a céu aberto, muitas vezes na rua. púsculo. Entretanto, muitos cidadãos não têm o
A iluminação, quando existe, consiste de tochas direito de residir dentro dos portões e por isso
colocadas à frente das casas, sendo sua manu- aglomeram-se nos arredores dos grandes muros.
tenção responsabilidade do proprietário da resi-
dência. Um indigente encontrado morto pode fi- Na área interna de um castelo existem divi-
car jogado por dias até ser recolhido. As cidades sões de espaço. A estrutura destinada à mo-
representam o progresso puro e simples, mesmo radia do nobre é chamada de torreão e estes
que ainda rústico. costumam ser mobiliados de forma singela, já

A arquitetura dos castelos mudou a partir que o espaço normalmente é amplo demais e
da Era do Sangue, quando as construções de as necessidades pequenas. No primeiro andar
madeira deram espaço à pedra e aos blocos de do torreão costumam-se realizar banquetes e é
barro, assim sendo possível suportar os cercos e também onde o nobre recebe seus súditos e su-
defender-se da melhor forma possível. Ao redor bordinados. Festas que costumam ter a intenção
de um castelo existem fortes muros para as pro- de agradar a população também são realizadas
priedades ricas, ou cercas de madeira em terras ali, assim como saraus.
,
Em Viha e Varning
itetôni-
novos estilos arqu
criados.
cos estão sendo
sca
Enquanto Viha bu
, por
ser uma vanguada
sadas
meio de linhas ou
rning
e geométricas, Va
a encerra o co sm op oli tismo
uma
da castelania em
pre-
O Abandono das Cidades arquitetura que re
várias
senta a fusão de
É de se estranhar este abandono de grandes centros populacionais, que realmente vai contra a lógica da tendências.
união em momento de necessidade. Não fosse este êxodo, Belregard poderia ter se mantido quase que a
mesma, ainda que com suas lutas internas de poder. Talvez as reflexões finais do último imperador ajudem
a jogar uma luz, mesmo que duvidosa, sobre a questão. Tais escritos podem ainda estar em seus aposentos
reais no palácio de Virka, ou talvez na posse de algum saqueador, ou ainda colecionador.

“Que seja condenada a alma que habita esta casca profana. Maldito seja o sagrado e o profano! Do que
vivi e construí pouco me resta para admirar, apenas sigo com o peso da coroa nos ombros e na fronte
carregada de desalento. Se é o que resta àquele que se dedica, ao que busca onde é preciso pela clareza da
Luz e segurança da Sombra, maldito seja eu… Bövrar sabia de pouco, os abutus arranharam uma verdade
incômoda e o uivo dos Celestes apontou uma direção, mas nenhuma destas descobertas parecia fazer sen-
tido sozinha. Foi só quando uni todas, buscando na Alcova Profana pelo cortejo ideal, que compreendi. Foi
me dada uma escolha… O horror da verdade, a loucura da iluminação final, ou a segurança da ignorância?”

b 75 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Tecnologia tão carda e tinge a lã. Já a do cavaleiro utilizará
suas horas vagas para fiar, tecer e bordar. Estes
“Caminho do céu, A guerra é a grande força motriz do progresso
tecidos podem ser lisos (com uma só cor), mis-
caminho do chão. no campo dos inventos em Belregard. Nem tudo
No céu há esquadros per- turados (matizados), variegados (com flores e
está relacionado a ela, mas é inegável a sua con-
feitos, cabeça ornatos de folhagem), salpicados (com esferas)
e mente a seguir. tribuição quando se percebe o uso da armadura
ou listrados de diversas maneiras. Uma verda-
Na terra há imperfeição, e completa entre os cavaleiros mais abastados,
ela que devemos seguir. deira profusão de variedades que se reflete nos
a balestra, o trabuco, a besta de mão e tantos
Fazemos ferramentas, somos moradores de Belregard que, muitas vezes, dedi-
ferramentas. Mas onde as outros legados de longos períodos de conflito
cam-se à elaboração de uma roupa que irá des-
ferramentas estão quando o como a Era do Sangue e o subsequente caos da
mundo precisa delas?” tacá-los na multidão. A moda em si varia muito,
- atribuído a Frida Guilz queda do império. São notórias as vantagens
de castelania para castelania.
trazidas pelos moinhos, tanto de água quanto
de vento, assim como os avanços nas constru- Engana-se quem pensa que camponeses utili-
ções de castelos e igrejas, com seus arcos monu- zam roupas sem cores fortes ou que as cores do
mentais. Por mais que muitos destes progressos mundo são limitadas e cinzentas. As indumentá-
estejam isolados entre a nobreza e o clero, sua rias variam muito, com corantes vegetais e uri-
presença pode ser sentida em maior ou menor na de homem, adicionadas à fervura para que
grau por todo o mundo, dos simples óculos de as cores surjam e se fixem na peça de roupa.
leitura ao arado pesado puxado por bois, pas- Em algumas cidades existem baldes em esqui-
sando pelas caravelas que singram no mar sul nas e pontos discretos onde os homens podem
saídas de Varning. O maior invento de tecnolo- urinar para que o líquido seja usado nas tintu-
gia dos tempos atuais pode ser o gigantesco ob- rarias próximas. Independente de quão cinza o
servatório construído pela ordem dos Oradores mundo pode ser, a fagulha de alegria concedida
das Estrelas, de Parlouma, em um movimento pelo Divino faz com que o homem encontre cor,
encabeçado por Antonini de Petugia. Por fim mesmo na mais profunda treva.
vale citar as pontes elevadiças de Varning.
Alimentação
Vestuário O passado turbulento formou uma sociedade
As roupas e a moda são ritmadas pelo triân- simplista e brutal, com a quase inexistência de
gulo de poder, o sistema que rege a sociedade requinte. Os tipos de alimentos mais consumi-
de Belregard. As leis definem que um cidadão dos são carnes em geral, frutas, peixes, aves de
só deve usar roupas cabíveis à sua classe social, caça, pão e tubérculos. Deste modo, a alimen-
para que assim os membros desta casta sejam fa- tação segue moldes simples, onde o rico terá
cilmente distinguidos por suas roupas. A roupa muito e com preparo ideal, e o pobre comerá o
usada por classes da nobreza é superior e clara- que lhe resta da forma que for possível ser feito.
mente diferente da roupa usada por um plebeu, Assim como amam a comida, os povos de Bel-
sendo assim, as vestimentas podem fornecer in- regard gostam de se entregar à bebida, afinal,
formações sobre o status da pessoa que as usa. devido à má qualidade da água, beber é uma ne-
cessidade. Os pobres bebem cerveja ou cidra e
O trabalho de confecção destes tecidos usa- os ricos deliciam-se com muitos tipos diferentes
dos nas roupas costuma caber apenas às mu- de vinhos. Não é rara a fermentação de frutas e
lheres, cada uma à sua moda. A mulher do cereais para o fabrico de bebidas e há também
camponês colhe o linho, tosquia a ovelha, en- técnicas de destilação de toda sorte. Há aldeias
b 76 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
conhecidas pelos licores de jabuticada ou pela sua polpa até sua castanha, que é torrada. Mui-
aguardente de cana, por exemplo. Em ambas as tas castanhas são apreciadas não apenas como
cozinhas, dos ricos e dos pobres, os temperos aperitivos, como também para a feitura de pra-
são populares, junto com os molhos, normal- tos quentes e doces. Como já dito, vale ressaltar
mente à base de miolo de pão, vinagre, cebola, a diversidade de bebidas, mostos fermentados
noz, pimenta e até canela. e destilados que são feitos com base de frutas
e cereais. A carne de porco é a mais consumida
A alimentação dos camponeses fica concen- entre os camponeses, normalmente morto no
trada nos cereais ou tubérculos, cada qual rela- fim do ano, mas tendo seus produtos salgados
tivo à geografia mais propícia. Dentre os cereais e consumidos por um longo tempo depois de
temos como os mais populares a cevada, o arroz, armazenados. Mas não se engane, tudo isso é
o centeio e o trigo, normalmente semeados e co- tirado da terra e usado com sensatez. Um ditado
lhidos juntos para fornecer uma mistura de que antigo deixa o cuidado bem claro: “O regalo de
é feito um pão escuro, mas também podem ser- hoje é o roncar da barriga de amanhã”.
vir para ensopados e mingaus. Em áreas monta-
nhosas, cultiva-se a espelta e nas áreas meridio- Para a nobreza, “o primeiro dos luxos é levado
nais, diferentes espécies de milho. A aveia e o a sério”. Os cereais dos camponeses são prati-
sorgo entram principalmente na composição de camente abandonados por uma variedade maior
sopas acompanhadas de sementes de cânhamo, de carnes: veados, gamos, cabras, antas, javalis,
legumes (favas, ervilhas, couves, lentilha, feijão, lebres, perdizes, codornas, faisões e tantos ou-
tomate, cebolas, alho, rabanete, etc) ou de cas- tros são populares nas mesas da nobreza, junto
tanhas. Áreas mais úmidas possuem diferentes das enguias criadas em lagos particulares. Os
espécies de raízes e tubérculos, como batatas, banquetes são uma peça central da influência
mandiocas, inhames e carás. Nota-se que os tu- de um nobre em seu território. Realizados para
bérculos são versáteis e de grande importância promover grandes eventos como casamentos,
para o fabrico de farinhas e demais derivados. coroações, visitas ilustres, torneios e feriados
Não é raro, por exemplo, ter acesso a massas santos, é no banquete aberto ao povo que se
feitas a base de batata-doce (tuberosa) como pode medir a popularidade de um monarca en-
principal repasto de uma família pobre. tre os seus súditos. Comer até se entupir é um
costume apreciado entre os nobres; em festas
Sempre que possível, uma família terá uma pe- eles comem tanto que irão procurar locais para
quena, mas notória criação de aves domésticas vomitar, liberando espaço para poder comer
para ovos e carnes. Queijos, fortes e suaves com mais e mais. Em tempos mais antigos e som-
ervas também são comuns, junto dos peixes em brios, como resultado das revoltas da Era do
áreas onde a pesca é possível. Frutos dos bos- Sangue o termo boccaculo nasceu. Pela escassez
ques também figuram com grande importância, de comida em muitos locais, comia-se tudo dos
como maçãs, pitangas, pêras, tamarindos, amo- animais, da boca até o ânus, sem deixar nada
ras, ameixas, nêsperas, sorvas, nozes, avelã, etc. de fora. Nos tempos atuais, com o isolamento
Entretanto, frutas cítricas são apreciadas, bem de certos lugares, não é difícil imaginar este
como produtos tropicais, com destaque para a cenário se repetindo.
canela e cana-de-açúcar, itens raros e caros. Os
frutos são utilizados de distintas formas, como Da necessidade nasce a inovação e muitos
podemos ver no caso do caju, utilizado desde pratos típicos desses povos nasceram da falta de
b 77 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
boa ou alguma comida. Desde compotas feitas
com cascas e frutas, até defumação de vísceras
a
não comestíveis de outro modo. É impossível Morrendo pela Boca
negar que a necessidade deixa uma marca na
Nobres costumam utilizar pratos de estanho e,
história da culinária de Belregard muito mais
com o passar do tempo, a oxidação do material
profunda que o regalo. Outra curiosidade fica
pode torná-los venenosos. Copos para tomar
por conta dos cozinheiros, uma classe quase se- cerveja e vinho podem ser feitos do mesmo
parada dos demais homens livres. Como a comi- material e a mistura do álcool com óxido de es-
da é assunto sério, bons cozinheiros podem go- tanho pode gerar desmaios semelhantes a nar-
zar de relevantes regalias dentro da casa nobre colepsia, em que o enfermo parece estar morto
ou mesmo em uma comunidade mais humilde. e pode acabar sendo enterrado vivo.

Música
Os tempos violentos que antecederam os dias conhecidas como baladas românticas. Eles são
de hoje obrigaram os habitantes de Belregard a muito bem vistos por nobres e reis de toda Bel-
viver em uma sociedade primitiva com extrema regard, mas não foram poucos que encontraram
falta de elegância ou requinte. Porém, com os o fim na guilhotina após ridicularizar um nobre
atuais tempos de paz, ainda que isolada, a si- em uma de suas canções. Seguindo a mesma li-
tuação deu sinais de mudar. O mundo foi criado nha, os menestréis ganham a vida por meio da
enquanto o Único cantava e os astros dançavam poesia, da música e da recitação de versos, sen-
em gozo. Seja entre os filhos do Único ou entre do acompanhados sempre do alaúde, harpa, ou
os selvagens da Horda, a música e a dança estão outros instrumentos de cordas. Eles são famosos
impregnadas na cultura dos povos de forma in- por sua retórica emocionada e muito requisita-
trínseca. A música sempre foi parte importante dos para imortalizar um determinado momento
das atividades religiosas da igreja e, além disso, em música ou poesia. Muitos poetas escrevem
muitos rituais pagãos também utilizam a música pela inspiração vinda originalmente do coração,
em seus cultos. Os ideais do amor cortês foram contando as histórias sem aumentar um pon-
recentemente introduzidos e têm tomado todos to, apenas embelezando-as. Muitos outros são
os salões e praças destas terras. Por mais que financiados, isso quando não são obrigados, a
o Tribunal tente erradicar danças antigas e tra- imortalizar atos nem sempre tão verdadeiros,
dicionais embrenhadas na cultura popular, ale- nem sempre tão grandiosos.
gando seu paganismo enrustido, é uma tarefa
impossível: o povo simplesmente ama dançar ao Acompanhando os menestréis e os trovadores,
som dos tambores. existem os saltimbancos, que nada mais são do
que artistas itinerantes sem muito sucesso que,
Os trovadores são originalmente músicos devido às suas habilidades na dança, mágica,
viajantes e sua presença serve tanto como en- acrobacias e malabarismo, auxiliam os menestréis
tretenimento como meio de se atualizar sobre e os trovadores em suas apresentações ou tentam
novidades de outras terras. Os temas das mú- trilhar seus caminhos sozinhos. Em razão de sua
sicas cantadas pelos trovadores tratam princi- arte pouco valorizada, eles são em sua maioria
palmente do cavalheirismo e o amor cortês – considerados vagabundos e indignos de confiança.

b 78 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
Arte
a
A arte de Belregard é restrita à produção de
O Óleo de Linun
pintura pietista (arte sacra) na forma de manus-
critos iluminados, mosaicos e afrescos em igre- A arte de Berto de Linun é assombrosa. Seus quadros, quase sempre
jas. Não existem muitas pinturas de retrato na imensos retratando pessoas em seus tamanhos naturais, são de um de-
arte. As cores ocupam uma segunda importân- talhamento que fascina e assusta. Apesar do talento, o pintor não faz
cia. Apesar disso, alguns entusiastas dalanos, sucesso entre os nobres, que preferem o trabalho de mãos menos deta-
dedicados a gravuras, têm desenvolvido as cha- lhistas, que sabiamente encobrem seus defeitos e deformidades. Berto
usa uma técnica secreta de pintura a óleo tão fenomenal que suas obras
madas xilogravuras que, aos poucos, tornam-
parecem vivas. Este fato gerou caos em uma exibição nos salões de uma
-se populares até para a ilustração de Litanias.
nobre família de Parlouma, os Orchiri. Não se sabe como tudo come-
Apenas recentemente um novo tipo de arte tem çou, mas uma histeria generalizada tomou conta dos convidados para a
fascinado os entendidos no assunto, trata-se das exibição, quando um antepassado Orchiri, morto há séculos, apareceu
gravuras livres, obras que usam de uma pers- caminhando pelo salão, supostamente saído de um quadro. Atualmen-
pectiva jamais imaginada dentro da história te a situação de Berto é preocupante. Ele está sob a proteção sigilosa
da arte em Belregard. Esse estilo foi criado e dos Orchiri, sendo que eles o têm emprestado para amigos próximos e
interessados que têm cruzado Belregard para lhe pedir uma pintura de
continua sendo encabeçado por Berto de Linun.
um antepassado. O Tribunal mandou caçar cada uma de suas artes e o
Os novos artistas são seguidores do Puro Lazlo,
inferno que aguarda Berto parece estar só começando.
estes poucos revolucionários estão dispostos
a sair desse ditame pietista e seguir por cami-
nhos mais ousados, caminhos guiados pela sua
própria vontade. Alguns estão encontrando a
notoriedade e já chamaram a atenção do Tribu-
nal, que adjetiva tal demonstração de arte como
profana, abusiva e diabólica. Independente de
como o Tribunal rotule, muitos homens de
Belregard têm gostado de tal ousadia.
Dessa forma, até mesmo pela infâ-
mia, a arte bertina se espalha.

Gravura estilo bertina, representando a


elegância do artesanato dalano ao seguir
as formas naturais do chifre do
cervo campestre.

b 79 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Entretenimento, Festivais e Feriados • O Dia da Ascensão: Ocorre no início do
ano. As festividades duram vários dias,
A monotonia e o tédio da vida corriqueira são
normalmente arrastando-se pela primei-
aliviados por vários tipos de entretenimento,
ra semana do ano. Festas são acompa-
festas e feriados. Os camponeses compartilha-
nhadas de procissões religiosas, lembran-
vam uma vida em comum no trabalho dos cam-
do os grandes feitos que trouxeram a luz
pos, nos deveres da aldeia e nos serviços da igre-
aos homens. Crianças batizadas nessas
ja, e por isso, costumam estar unidos em datas
datas tendem a ser importantes para a
comemorativas. As festividades em sua maioria
história do mundo. Grandes líderes reli-
são financiadas pelo senhor local, pelo clero ou,
em raros casos, são feitas do esforço comum giosos costumam reafirmar seus votos de

dos camponeses. Um costume que ainda é man- batismo nesta data.

tido em Belregard é o da hospitalidade. Poucas • A Vitória Sobre os Selvagens: Come-


pessoas fecham as portas de suas casas para morado ao longo do ano, em pequenas
viajantes, eles costumam ser bem recebidos e festividades que lembram a derrota dos
bem tratados. Viajantes sempre têm histórias belinaren e dwetar contra o avanço hu-
para contar e isso pode garantir o entretenimen- mano. É um feriado “flutuante”, que
to por si só, tirando camponeses e senhores de muitos monarcas realizam para ganhar o
uma rotina possivelmente entediante. Por isso prestígio de seus súditos com um dia de
mesmo que o crime contra o anfitrião é tratado
comemorações. Em épocas especialmen-
de forma muito severa em todos os cantos do
te críticas, ocorrem comemorações de vi-
mundo. Aquele que rouba ou prejudica a pessoa
tória em todo mês. Áreas remotas ficam
que lhe recebeu e tratou bem torna-se um pá-
agitadas nessa data, fazendo com que
ria, assim como aquele que rouba a casa de um
os pagãos também se reúnam, mas para
anfitrião.
lamber suas feridas e afiar as suas garras.
Costumes diferentes sobre recepção de hós-
• A Divina Encarnação: Comemorado no
pedes mudam de um canto ao outro. Um vih irá
dia 08 de tertium, é um feriado “univer-
oferecer sua mulher para o hóspedes. Um parlo
sal” em Belregard. Não é raro que dure
irá exibir seus cavalos ao viajante e um dalano
mais de um dia, apesar de não se estender
possivelmente irá beber até cair.
como o Dia da Ascensão. Lembra-se da
Muitos dos feriados são herança dos Selva- presença do Único e tem um cunho mais
gens. Mesmo que o Tribunal tenha alterado mui- religioso, contando com o jejum dos de-
to dos seus ritos originais e sacramentado muito votos e prática de litanias. É o momento
Não tenho apreço de seus símbolos pagãos, em sua essência, as para pagar promessas e criar novas me-
aos jogos. Homens festas possuem cunho selvagem. Foi sobre coi- tas. Normalmente nessa data é celebrado
são tomados por o aniversário do grande rei, independente
sas desse tipo que Lazlo lutou sua vida intei-
uma fúria animal e
da data do seu real nascimento, marcan-
mais parecem bes- ra para mostrar à igreja, mas esta parece estar

tas que gente quan- mais preocupada em não assustar e confrontar do sua autoridade devida e facilitando
do lutam entre si. sua massa adoradora. a assimilação dos homens ao longo das
E ainda chamam eras.
Dentre os feriados e festividades mais po-
isto de Lazer.
pulares de Belregard, grande parte de cunho • O Luto pelos Caídos: Celebração que
religioso, podemos citar: ocorre em finais de decimus, dia 31,
b 80 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
para celebrar os mortos. Um dia de res- Viagens e Comércio
guardo e jejum, quando se fica com a fa-
Como já foi citado, o costume da hospitalida-
mília e se contam boas histórias daqueles
de ainda é muito forte em Belregard, mas esse
que partiram. A reclusão não é apenas mo-
parece ser um dos poucos confortos que uma
tivada pelo louvor, mas também pelo medo.
pessoa poderá ter, se decidir encarar uma via-
Existe a crença de que neste dia o véu entre
gem sozinha. Os caminhos do mundo encon-
o mundo dos vivos e dos mortos está mais
tram-se obscurecidos e aqueles que buscam
fino. A Fímbria se torna uma com o mundo
desbravá-los muitas vezes encontram a tênue
dos vivos. Viajantes de todos os cantos rela-
linha que separa o mundano do sobrenatural. Os
tam coisas abomináveis ao homem crente e
relatos de viajantes sobre os assombros da es-
temeroso às forças da Sombra.
trada inundam tabernas e salões. Claro que boa
• O Deicídio: Independente do ramo da fé parte destas histórias não passam de resultado
que siga, todo devoto do Único celebra o do medo dos homens perante o desconhecido Festas locais são comuns
momento da morte de Deus. É simbolica- na próxima curva de uma estrada abandonada. e por vezes remontam ao
Carnis Valis em menor es-
mente comemorado no dia 08 de duode-
Belregard, desde os dias idos do império, é cala. Em Varning há corte-
cimus, mas o dia exato da morte do Cria- jos liderados pelo símbolo
dor é um segredo guardado pela igreja de
pontilhada por torres e postos avançados. Pelo da família do patrono-bur-
os
menos a cada um dia de cavalgada, o viajan- guês, já em Belghor tem
Alec. Parece que é um fato ignorado para nia
te pode encontrar uma velha ruína. O grande uma grande cerimô
os outros segmentos da fé e deve carregar religiosa inflamada..
alguma importância, para ser ocultado
problema é que boa parte delas contém mora- Estas festas menores
dores recentes e não muito amistosos. Bandos costumam ser vistas com
desta maneira. Textos de Lazlo e Bövrar
de famintos, ladrões, penitentes e mesmo feras desconfiança pela Igreja.
II sobre o Deicídio foram encontrados em
dos ermos tomam as estruturas como moradia.
confins de Belregard; a igreja executou
Quando vazias, a praga é sua residente, o que
verdadeiras cruzadas para tomar posse
exige cautela daqueles que buscam abrigo em
de tais escritos e guardá-los de modo tão
sigiloso que ninguém abaixo dos Orado- tais locais.

res saberia sua localização.


Por conta desse sentimento de isolamento, o
• Carnis Valis: Festival que costuma ter trabalho de mensageiros é extremamente apre-
início no fim de primum e segue até o ciado por todos, assim como o dos comerciantes
início de secundus, durando uma semana que tentam levar seus produtos para outras cas-
facilmente. Esta festividade sofreu sérias telanias e senhorios. Varning é exemplo disso,
transformações ao longo dos séculos. tentando consolidar-se como a principal inves-
Alguns apontam sua origem como uma tidora na revitalização do comércio em Belre-
tradicional celebração pagã de culto à gard, rivalizando suas intenções com Vlakir,
carne, mas a igreja do Único a transfor- tanto que tem pago boa quantia em dinheiro por
mou num louvor à vida, no qual se bebe mapas e catalogadores dispostos a enfrentar o
e se come sem barreiras, exacerbando o desconhecido. Como o comércio caiu em um es-
que é básico para qualquer um sobreviver. tado de abandono nos cantos mais afastados do
Crianças nascidas entre os meses dez e mundo, o escambo surgiu como uma alternativa
onze costumam receber resistência para viável para os camponeses e moradores de ci-
serem batizadas; os clérigos dizem que dades menores, centradas em apenas um único
são imundas, são filhos do Carnis Valis. senhor e suas terras.
b 81 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Aqueles que falsificam moedas, misturando outros
a metais baratos na composição, costumam respon-
Comércio de Almas der severamente às autoridades locais — humilha-
ções e pagamento de multas são punições comuns.
Os strigori, uma etnia menor que parece ter
se ramificado dos parlos a muitos séculos, for- Interessante perceber que o lorde de um do-
mam grupos familiares de mercadores que se
mínio também viaja. É comum para senhores
unem nas chamadas cumpanias e vendem o que
poderosos passar boa parte do ano em carava-
podem em todos os cantos de Belregard. Pos-
suidores de certo misticismo em sua leitura de nas visitando seus vassalos. A corte de um rei é
mãos e jogos de sorte e azar, os strigori não uma corte viajante e receber a figura central de
são bem vindos em qualquer lugar, mas a hipo- uma castelania é motivo de orgulho para qual-
crisia dessa relutância fica clara quando todos, quer lorde. Durante o inverno é comum que o rei
do camponês ao lorde, buscam pelos conselhos permaneça em sua própria morada, mas pode
destes misteriosos senhores do destino. Dizem
acontecer deste decidir residir nas terras de um
que os strigori nem sempre aceitam dinheiro,
de seus nobres, o que certamente trará grande
moedas de ouro, pelos serviços que são requisi-
tados. Muitas vezes o preço é maior, envolven- reverência ao escolhido, assim como uma extre-
do almas de culpados e inocentes. Diz-se que ma responsabilidade em atender às necessida-
Domínico de Verezza, simplório camponês, vi- des do rei e sua corte pessoal, e receber outros
veu cento e sete anos depois de ter dado o olho senhores que desejem partilhar do contato du-
de um ganancioso a uma velha strigori cega.
rante os meses frios. É como diz o velho ditado:
Apenas rumores sem sentido.
“O rei é como o fogo. Perto de mais você se
queima e longe demais você congela”.

As rotas de comércio que não se encontram Saúde


abandonadas são poucas, pode-se destacar ain- A vida de todos em Belregard está sujeita a
da o uso da Via Regis, que liga Belregard de Ras- doenças e enfermidades. A morte não é uma
tov a Belghor. Um caminho largo e pavimentado fantasia e sim uma realidade pela qual todos
de pedras, hoje danificado em muitos de seus já passaram. É muito provável que um campo-
trechos e desviado na área central, onde chega- nês ou nobre já tenham perdido entes queridos,
Dizem que há alguns
viventes que guardam va a Virka. Os rios também são muito usados principalmente crianças. Os cuidados em ge-
pequenos tesouros em suas para o comércio em cidades portuárias de mé- ral com a higiene existem, mas é verdade que
bocas, substituindo dentes
dio porte. Os empórios ainda existem, concen- boa parte da população não se preocupa tanto
por metais preciosos. Não
é raro, por isso, que nobres tração de mercadores em uma determinada área quanto deveria. Sabão barato, usado para rou-
e comerciantes tenham pas, costuma ser feito de sebo de carneiro, mis-
em determinada época do ano. Normalmente
seus dentes arrancados por
bandidos. Por isso que em são pequenos domínios, mas também podem se turado a urina velha, que ajuda a tirar manchas.
Belregard os latrocínios são armar próximos de grandes cidades. Nos que são usados pelas pessoas, é comum co-
chamados de ações de locar rosas ou calêndulas, para atribuir também
bandidos tiradentes.
Todas as castelanias ainda praticam o comér- um aroma que seja agradável. Para os dentes
cio com moedas, principalmente os resquícios utilizam-se palitos de avelã, alcaçuz ou raiz de
do império, mas apenas em seus grandes cen- alteia. São hastes fibrosas que podem ser usa-
tros. A economia concentra-se no uso de moe- das para limpar a boca e os dentes. Junto com o
das de cobre, que costumam ser pesadas por sal e a sálvia, esfregados em um pano entre os
mercadores no momento da venda e da compra. dentes, tiram as impurezas e perfumam.
b 82 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
Além dos cuidados básicos, existe também a É proibido, dentro dos ditames do Tribunal, uti-
questão da beleza. Homens e mulheres procu- lizar-se de seres humanos para estudo da medici-
ram parecer mais atraentes para seus possíveis na. Muitos médicos e curandeiros recorrem a por-
parceiros de romance. Enquanto a literatura cos para aperfeiçoar suas técnicas. Contrariando
cortês desenha homens e mulheres perfeitos na a vontade do Tribunal, monges mendicantes e
imaginação do camponês e do nobre, são os cui- estudiosos uniram-se para destrinchar a vida
dados singelos do dia a dia que chegam para to- humana, doando-se em vida para que seu corpo
dos. Alguns truques, para estes toques, são bem fosse estudado após a morte, um ato condená-
conhecidos: para colorir os lábios, costuma-se vel, praticado em segredo. O tratamento mais
comum utilizado pelos médicos e apotecários é Emplastro para dores nas
utilizar açafrão; para escurecer os cílios, utiliza-
pernas: tome folhas de
-se o negro da fuligem; para embranquecer os o da sangria. Acredita-se que o corpo é contro- louro, broto de goiabeira e
dentes, utiliza-se a sálvia; e para aveludar a pele, lado por quatro fluidos corporais chamados hu- caroços de uva.
basta um regular uso de clara de ovo e vinagre. mores. Eles são a Bile Negra, Bile Amarela, Fleu-
Ferva em urina fres-
ma e o Sangue. O tratamento com sanguessugas ca da manhã e ate em
A principal causa subjacente das doenças se equilibra os humores, prevenindo doenças. panos virgens nas coxas ou
deve à falta de higiene. Os remédios são pre- canelas doloridas.
cários, sendo em sua maioria receitas caseiras O Papel das Mulheres
Repelente de insetos: curta
que, na melhor das hipóteses, atrasam a morte É importante abordar o assunto em particular, dejetos em sol a pino por
por algum tempo. As crenças dos médicos sobre três dias, até secar.
devido à mudança do paradigma sofrido pela so-
as causas das doenças são baseadas em antigos ciedade no seu início, da fundação de Virka, até Moa as fezes e as fixe
ensinamentos que datam da Era das Revelações, os tempos atuais. Até o ano de 51 DA, o papel em varas finas de bambu
sendo que muito desses médicos tratam os hu- com banha de porco.
das mulheres na nascente sociedade de Belregard
manos e animais de maneira semelhante. era secundário. Elas estavam fadadas a passar Acenda as varetas com lume
suas vidas zelando pela rotina diária do cuidar baixo. A fumaça feita por
Existe uma crença comum de que as doenças tal artifício afastará insetos
da casa, do marido e da prole. A religiosidade, e pequenos infortúnios.
se espalham pelos ares. Os camponeses temem
também ainda muito nova para aqueles recém
os miasmas nocivos a sua saúde, de modo que
saídos de Belghor, pregava a submissão das mu-
alguns usam pequenas bolotas de ervas e espe-
lheres como um preceito claro em seus ditames.
ciarias como cordões, para que possam recorrer
Morovan, o Velho, primeiro profeta do Criador,
a elas em caso de encontrar uma nuvem de fu-
alertava sobre os perigos contidos na mulher, que
maça ou qualquer odor suspeito no ar, fechando
o homem sábio manteria a sua como posse, não
as mãos em forma de concha, com as bolotas no
permitindo grandes liberdades, para que fosse
centro para respirar um ar supostamente puro.
uma cumpridora dos anseios de seu marido. Ele é
Nos períodos de peste, quando cidades inteiras
muito claro nos primeiros versículos, quando um
encontram-se contaminadas, corajosos médicos
de seus seguidores pergunta sobre Lohanna, a jo-
vestem-se de forma nada usual para combater
vem que acompanhava, e cuidava, do velho sábio:
epidemias, vestindo longas e pesadas casacas
que cobrem todo o corpo e cobrindo o rosto com “A mulher envenena. Não sabe do mal que tem
uma máscara que lembra a forma de um pássaro, dentro de si, por isso sangra. Nem todo rubro
de modo que possam colocar essências purifi- poderia limpá-la. Mantém firme a mão em sua
cadoras na ponta do “bico”, preservando seu ar conduta e não caias no encanto, não vaciles no
puro. Costumam manter distância dos seus pa- feitiço inocente.”
cientes, atendendo-os com longas colheres. - Das palavras de Morovan, o Velho.
b 83 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Essa situação demorou muito a mudar, sendo Naquela torre não estavam apenas mulheres e
reconhecido o papel de igualdade das mulheres crianças, mas também o bem valioso do rei, seu
apenas em 51 DA, quando Virka foi atacada por filho, aquele que viria a ser Bövrar II. O jovem
uma força conjunta de Selvagens. De maneira também lutou ao lado das mulheres e foi certa-
covarde, as hordas atacaram uma torre, por trás mente esta experiência que o fez decretar, as-
do exército, onde estavam escondidas as mulhe- sim que coroado, a igualdade entre os gêneros,
res e crianças. Encurraladas, não tiveram outra permitindo que mulheres também adentrassem
escolha. Sob a liderança de Angelina, uma sim- ordens de cavalaria e fossem mais ativas em
ples moradora da primeira cidade, o Levante dos hekklesias religiosas, tornando-se até mesmo
Indefesos teve início. Armando-se com o que fi- Oradoras. Com este édito também passou a se
cou na reserva dos soldados, rechaçaram as for- considerar os 14 anos como maioridade.
ças Selvagens, deixando poucos sobreviventes.
Daquele ponto em diante, a figura de Angelina
sempre foi reverenciada e respeitada. Enquan-
to viva, serviu pessoalmente como Escudo da
Casa de Bövrar II, mas voltou-se contra o rei
alguns anos depois. Os motivos que levaram à
deserção de Angelina são misteriosos, mas ela
nunca foi acusada como traidora. A atitude ser-
ve para mostrar a sabedoria da guerreira, que
percebeu a loucura cada vez mais latente no mo-
narca. A morte da santa é envolta em mistério,
mas muitos creem que ela ascendeu aos céus.
Sua canonização ocorreu apenas em 991 DA,
após a dos três Puros.

Gravura estilo bertina, representando


Minnie curtindo ervas no azeite de palma,
demonstrando a dedicação de quem os
pregoará nas feiras em Varning.

b 84 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
Essa igualdade de gênero trazida por Ange- seu amor seria dividido entre a prole e o Criador.
Tenho certeza,
lina permitiu que as mulheres assumissem lu- A atitude gerou revolta em Virka, mas o Tribunal porém, que o que
gares de destaque da sociedade, colocando-as não recuou, aumentando a pressão contra a no- grafo e o que
em todas as suas camadas, da vassala presa à meação da Oradora que, por sua vez, angariava sempre grafei
terra até a senhora de um domínio real. Antes fiéis entre os humildes. representam a
do édito (que nunca foi contestado, a despeito verdade e apenas
de ter sido decretado por Bövrar II), as mulheres Não é comum que camponeses, servos, ergam a verdade, pois
armas para lutar por algo que seu senhor não sigo os ritos dos
estavam sempre em uma desvantagem política
mandou diretamente e essa mobilização chamou copistas. A oração
com relação aos casamentos, sendo utilizadas
a atenção. Vlakin I, governante do período, não pela iluminação de
como uma moeda de troca por seus familiares;
nossas mentes nos
não que esta lógica tenha sido abandonada, mas podia perder apoio do Tribunal e condenou Telma
mantém distantes
por traição e heresia. A Oradora foi queimada em
hoje o cônjuge de menor influência é que se sub- do flerte com a
mete ao de maior, independente do sexo. praça pública. O filho, Túlio, tornou-se Orador e deturpação daqui-
lutou a vida toda para canonizar a mãe, o que foi lo do que é e que
Apesar desta aceitação, a igreja, o Tribunal, feito em 1053 DA. precisa sê-lo.
nunca aceitou plenamente a participação das
mulheres dentro de seus círculos mais internos.
Na época das hekklesias, as mulheres podiam
alcançar o cargo de Oradoras e eventualmente
a
fundar seu próprio séquito. A história é pontua- Verdade dos Livros, Mentira dos Homens
da de algumas que marcaram momentos e lo-
Alguns estudiosos da vulgata, e mesmo de
cais, como a hekklesia de Doráh, formada pela
textos mais antigos do criadorismo, percebem
Oradora Natalia que, próxima dos parlos, iniciou
sutis alterações na medida em que o material
a conversão para o criadorismo; apesar das re-
é copiado e recopiado. Uma dupla de estudio-
lações tensas entre as etnias naquele começo de
sos do mosteiro de São Paolo, em Birman, está
contato, a hekklesia de Doráh (palavra de ori- levantando questões perigosas. Juno começou
gem no parlo arcaico que significa “coração”) a questionar certas mudanças de um texto pra
foi grande responsável na educação dos jovens outro, apontando uma variação no sexo de
para a aceitação da fé. O cargo máximo das grandes pensadores do passado. Logo ela cha-
igreja, de Eleito, nunca foi assumido por uma mou a atenção de Octávio para o fato e ambos
mulher. É sabido que são os Oradores e Cardeais se debruçaram sobre os mais antigos tomos.
que escolhem o Eleito, quando o atual morre, Eles suspeitam de uma forte campanha do Tri-
e esse controle ainda é exercido por muitos bunal para o controle de informação e os ques-

homens. Desse modo, é muito comum ver mu- tionamentos chegam ao ponto de cogitar uma
verdade que abalaria a resistência da igreja para
lheres como freiras em irmandades isoladas, fe-
com as mulheres: a ideia de que um dos Puros,
chadas, como a Congregação de Frika, em Viha,
possivelmente Alec, era mulher! O Criador ter
com sua devoção exacerbada e mortificação em
escolhido uma companheira Pura é absoluta-
ritual de flagelação.
mente plausível, mas abalaria o criadorismo e
sua resistência na aceitação das mulheres.
Em 1013 DA, a Oradora Telma por pouco não
tornou-se a primeira Eleita. Os Cardeais e Ora-
dores presentes na votação alegaram que Telma
não poderia assumir, já que tinha um filho —

b 85 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Sexo primeira noite, na qual a lua de mel de recém
casados era passada na companhia do monarca.
A sexualidade é tabu na maior parte da socie-
Isso mostra a importância do sexo no selamento
dade, mas nem por isso ela deixa de ser pratica-
de acordos tão importantes como o matrimônio.
da. Existem documentos de padres e sacerdotes,
A abstinência sexual é utilizados como um padrão de questionário para
fruto de muitos desdobra-
mentos culturais em Belre-
mulheres e homens em seus momentos de con-
fissão, que podem passar bem a ideia do quão
a
gard. Bufões cantam troças
variada é a vida sexual das pessoas simples, Sexualidade
acerca de casais que não
fazem sexo, há interditos ou mesmo abastadas. Questões como zoofilia,
Não existem justificativas em Belregard para
aos vihs ainda praticantes masturbação com auxílio de instrumentos cria-
que se repita uma visão preconceituosa no que
dos cultos antigos que
dos para este propósito, incesto e adultério fa- diz respeito às sexualidades individuais. Por
envolvem prática sexual em
certas configurações dos zem parte do questionário de confissão, o que isso ela não é tratada no verbete sobre sexo,
astros e fases do floreio mostra um sinal de tais práticas. Independente já que se tem por normal o envolvimento en-
das árvores. Aos criadoris- do quanto os sacerdotes tentem fazer homens e tre homens e mulheres. Não podemos nos valer
tas, não se pratica sexo na mulheres sentirem-se culpados por seus desejos do discurso de “jogo verossímil” para replicar
data do Deicídio, na data comportamentos condenatórios quando este
e impulsos, o sexo é um elemento fundamental
da morte de cada um mesmo mundo supostamente baseado na rea-
dos 3 Puros, por 3 meses da vida humana.
lidade brinca com reinos imaginários e forças
após o parto e quando profanas inventadas. Em Belregard, as relações
se contrai alguma doença A excitação, o prazer do gozo, é tão importante
homoafetivas e bissexuais são tidas como nor-
que ataque as pernas ou para o homem quanto para a mulher. Acredita-se mais e a única ressalva que precisa ser feita
o peito.
que um filho sadio só irá nascer quando ambos quanto ao resultado destes relacionamentos é
A esta prática se atribui a
atingirem o seu ápice na relação. Isso gera um com relação à nobreza. A nobreza presa pelo
relação entre o prazer e o
sopro da vida, associado ao costume de taxar pessoas desequilibradas, ou sangue, presa pela herança, presa pela conti-
gemido de prazer do gozo. mesmo com alguma deficiência, como resultado nuidade do nome. Dessa forma, fica fácil ima-
Sem os ares de plenos de um coito mal realizado. No caso das famílias
ginar que nobres irão preferir casar seus filhos
pulmões, o sexo não seria e filhas (afinal o casamento arranjado ainda é
mais pobres, que compartilham do mesmo quar-
bem praticado. o mais comum) com pessoas que poderão car-
to, da própria cama, não existe a preocupação da regar o nome adiante. Mas e quando isso não
privacidade para os momentos da relação entre for possível ou mesmo desejado? Você deve
Penso os casais e, em um mundo onde ter muitos filhos evitar? De forma alguma. Tome o “problema” e
que
um típ irmão Tullus é sinal de boa venturança, os casos de incesto o transforme em história. Um casal do mesmo
ico res seja
foda ultado gênero poderia adotar uma criança para herdar
mal d de entre irmãos e irmãs é muito mais comum do que
ada... o seu nome e os seus bens; poderia ser uma
os prelados gostariam de admitir.
criança de origem humilde, um órfão, ou ainda
algum filho da nobreza menor. Um dos cônjuges
Nos cultos antigos, voltados à Horda e aos
poderia ainda ser parte do processo, como no
Selvagens, o sexo era um elemento quase que
conto que abre o Tomo I. Pense nos desdobra-
central. É comum às heresias colocarem a se-
mentos, na “ciranda” que você criaria com as
xualidade como tema primordial de seus cultos casas nobres tentando elencar seus filhos para
e louvores. É como se o estado pleno do prazer, serem escolhidos como herdeiros. Não se limite
do gozo sem constrangimentos, fizesse sua liga- por moralismos tolos.
ção com o além, o outro lado, mais forte. Quan-
do dos primeiros reinados humanos, em que os
cultos antigos ainda estavam entranhados no
pensamento de todos, era comum a prática da

b 86 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
Crime e Castigo medindo apenas 8 metros quadrados, nos quais
cerca de 10 a 20 prisioneiros poderiam ser en- Aqueles que sujam as mãos
Punição e Tortura - Não há carrascos fixados
carcerados ao mesmo tempo.
a um Patrono ou qualquer
O período violento e sedento de sangue que
cargo em torno da tortura
Belregard atravessa é motivo de barbárie e sen- Grosso modo, todo homem tem seu preço.
ou da violência legal. Estes
timentalismo cruel e impiedoso, induzindo os Normalmente este preço não é pesado em ouro, indivíduos sempre portam
mas o suserano sabe bem quanto valem seus sú- capuzes e mantos para não
legisladores a utilizar os horrores das torturas
serem identificados pelos de-
ditos e, quando um homem comete um crime
e castigos para manter a lei e endireitar os pri- mais, sendo seu trabalho de
sioneiros. Câmaras de tortura e masmorras são contra seu semelhante, especialmente o assassi- executor ou torturador parte
nato, ele precisa pagar por este preço. Normal- da corveia paga ao senhor
partes importantes da arquitetura de muitos
de terras. Não é raro, porém,
mente traduzido na prisão, ou na humilhação
castelos. Definitivamente, a utilização da tor- que alguns sejam tão eficien-
tura como forma de punição é um meio total- pública amarrado ao tronco e vestindo a más- tes neste nefasto papel, que
cara de ferro pesado do burro, ou na berlinda agradam aos olhos daqueles
mente legítimo para fazer a justiça, para extrair
que testemunham o espetáculo
confissões ou obter informações sobre um de- levando golpes de vegetais podres, a vida de um cruento.
terminado crime. homem tem seu valor. Só existe uma maneira de
fazer com que um pária perca esta condição: é
Outro meio de punição muito utilizado nos quando ele se torna um Cabeça de Lobo. Um
tempos atuais é o vexame público, em que o Cabeça de Lobo pode ser morto por qualquer
alvo poderá ser colocado em praça pública ou outro homem sem que existam consequências
ser amarrado para ser alvo de tomates podres e para isso, da mesma forma que um caçador
até mesmo pedras. pode matar um lobo, mesmo em floresta real,
sem ser punido pelo crime. É o título máximo
As câmaras de tortura são localizadas nas
do ostracismo.
partes mais baixas dos castelos e suas entra-
das costumam ser sinuosas, projetadas para O próprio Puro Alec pregava a abolição da
abafar os gritos de agonia de suas vítimas. tortura dentro da igreja, afirmando que tal bar-
Elas são frequentemente muito pequenas, bárie, além de não ser mais cabível, era herança
imunda, deixada pelos Selvagens. Torturadores
eram adeptos de infligir dor a outrem, arrancan-
do tiras de couro das costas ou mutilando meti-
culosamente membros de prisioneiros. Alec foi
além e escreveu vários éditos sobre questões de
guerra envolvendo a igreja, entre as principais
notas falava sobre tratamento decente, permis-
são de cultode falsos deuses, proibição de ex-
ploração enquanto “escudos humanos” dentre
outras.
Gravura estilo bertina de Fergus,
representando o costume de
enforcar longe das cidades para
não macular o ambiente com
miasmas nocivos.

b 87 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Esses éditos foram ignorados desde o Eleito do uma litania sacerdotal, na qual os acusados
Octavio, que afirmou que “tais ações são lou- são advertidos sobre o castigo divino por terem
váveis, mas o tempo deste tipo de ação benevo- jurado falsamente. O Orador de Vlakir, Krigor,
lente ainda não chegou”. Existe uma profunda tem levantando uma reforma total neste siste-
discussão sobre o assunto entre ordens militares ma judicial absurdamente ultrapassado. Em suas
e as ordens mendicantes. próprias palavras é afirmado “os papéis que re-
gem nossas leis não acompanham a roda que
Justiça Feudal e a gira nossas vidas”.
Administração Judicial
O poder legal foi dado ao Tribunal como uma Os Ordálios
herança quase divina e estabelecida por Bövrar As consequências de um falso juramento não
I; ele é a maior base legal conhecida, sendo que ocorreram apenas uma vez. Assim, aos susera-
cada suserano tem a palavra final sobre suas ter- nos foi dado o direito de impor provações aos
ras. Este por sua vez não tem o intuito de aten- culpados na esperança de apelar ao Único, que
der às exigências públicas, mas sim ser respon- espiaria e perdoaria os erros cometidos. Os mé-
sável pela manutenção do poder. Porém, existe todos mais usados eram: obrigar o acusado a an-
um fato importante: assim que o Tribunal é dar descalço sobre brasa ardente, enfiar a mão
iniciado, tanto o acusador quanto o acusado em uma chama, carregar um pedaço de ferro
recebem o mesmo tratamento, ou seja, am- até uma dada distância, enfrentar uma besta
bos são presos; e o requerente, caso venha portando uma arma pífia ou apenas os punhos.
A Querência - Há um a perder a causa, sofrerá a mesma pena que O mais cruel, porém, era banhar o acusado com
antigo costume em torno
o réu sofreria se esse tivesse sido condenado. água fervente: caso o alvo cicatrizasse suas fe-
dos julgamentos. O con-
denado pode clamar pela ridas em três dias após os ordálios, ele era ino-
Querência. Seis crianças O Juramento
cente; caso não o fizesse, era culpado. Um mé-
são chamadas a emitir o
parecer sobre o criminoso. Mostrando sua brutalidade, o Tribunal não todo arcaico de julgamento consistia em lançar
Caso a maioria o absolva, um homem que jurou a inocência em água fria,
exige que o acusador prove sua acusação, o ônus
é entendido que a pureza
da prova está sobre o acusado, que deve livrar-se com a ideia de que a mais pura água fria rejeita-
do Único se revelou, mas
em qualquer outro caso, da acusação, se ele puder fazê-lo. Um juramen- ria o criminoso. Portanto, se o alvo flutuar ele
inclusive empate, a pena é é culpado, se ele afundar é inocente e deve ser
to normalmente é a forma mais utilizada para
aumentada. Quase sempre
ela se transforma em pena provar a inocência, porém além do acusado, al- resgatado. Apesar desses métodos, em alguns
capital, ainda que Lazlitas gumas testemunhas farão o “juramento de au- casos os suseranos ordenam que seus capatazes
insistam que isso é uma averiguem pistas sobre a evidência do possível
xílio”, sendo feito em sua maioria por parentes
sandice. Há quem diga que
este costume vem desde ou amigos que juram acreditar na inocência do crime; dentro desse período, muitos acusados
os tempos das Crianças réu. A quantidade desses “juramentos de auxí- preferem se confessar, evitando assim que seu
Cinzentas, e outros associam senhor incorresse à ira de Deus, submetendo-
lio” varia de acordo com a gravidade do crime e
isto aos cultos antigos.
ao posto do acusado. Este método é totalmente -o a provações físicas. Existe também a exco-
ineficaz caso o acusado não tenha uma quan- munhão, quando alguém comete sérios crimes
tidade satisfatória de pessoas que possam lhe contra a igreja. Esta pessoa passa a ser um ho-
auxiliar. Caso seja confirmada a culpa em um mem morto que caminha. Criadoristas não po-
período futuro, todos aqueles que juraram serão dem lhe dirigir a palavra, ele se torna um pária
acusados de cometer perjúrio ao tribunal. O ju- abandonado. Muitos cometem o suicídio nestas
ramento é um processo muito solene, envolven- condições, outros se isolam. Com o apoio de um

b 88 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
estudioso do Círculo de Lazlo, o Orador Krigor Origem da Cavalaria
de Vlakir escreveu um tomo intitulado “Sobre a
Em 120 DA, enquanto a marcha dos belghos
derrubada dos métodos arcaicos de leis e refor-
ainda dava cabo de erradicar a presença selva-
mulação cível”. Neste tomo ele abomina todos
gem do mundo, mas com o gosto da vitória so-
esses métodos arcaicos deixados pela Primeira
bre os belinaren, a ordem dos Cavaleiros Pardos
Lei escrita por Bövrar I e pelos Selvagens, dando
é criada. Pouco tempo antes da sagração destes
espaço para uma lei racional capaz de julgar com
soldados, os belghos haviam aprendido que nem
eficácia e justiça. Mas ele está bem longe de ser Seria lindo e até
todos os povos em seu caminho eram selvagens, ingênuo crer que esse
aceito pela maioria. e isso incluía os parlos dos campos ao sul. Ini- processo foi
ciando um processo forte de conversão destes, sempre puro. Registros
O Duelo Judicial mostram traições, men-
tomando filhos e filhas para um processo de acul- tira, suborno e toda
A forma arcaica de julgamento que atraiu turamento, usando especialmente a religião, em sorte de pecado. Os
especialmente os nobres guerreiros foi o duelo pouco tempo os belghos mudaram completamen- cavaleiros são, afinal de
judicial — um julgamento por combate. O acu- contas, meros homens.
te a mentalidade daqueles senhores dos cavalos,
sador e o acusado lutam um contra o outro, e orgulhosos e belicosos. Conflitos existiram, mas
o vencedor ganha o caso. Acredita-se que, pela o grupo que aceitou a superioridade dos grandes
graça imerecida do Criador, o inocente tem van- propagadores do criadorismo foram sagrados na
tagens sobrenaturais e assim é capaz de vencer hekklesia de Virka e Arturo recebeu o título de
a perjura em seu nome. Quando um dos adver- primeiro grão-mestre dos Cavaleiros Pardos, or-
sários não pode lutar, é permitido que outro dem criada por estes parlos convertidos.
campeão assuma o seu lugar. Embora o duelo
judicial tenha caído em desuso em boa parte Com o passar do tempo, ao longo das eras,
dos tribunais de Belregard, ele ainda continua muitas outras ordens de cavalaria surgiram. O
a ser empregado, em particular, como meio de mais comum é que fossem firmadas sob a ban-
solução de controvérsias que envolvem a honra deira de um rei, quase sempre como uma espécie
de um homem. de guarda real, a mais bem treinada e equipada
daquelas terras. Também poderiam ser forma-
A Cavalaria de Belregard das por vias de algum acontecimento de rele-
A cavalaria é uma força de importância dentro vância, como o nascimento de um primogênito,
deste cenário atual no qual se encontra o mundo um casamento que selara a paz e até mesmo a
isolado. Com senhores menores cercando suas vitória sobre um antigo inimigo. Foi durante a
terras e, muitas vezes, deixando de responder Era do Sangue, período no qual o mundo se viu
ao poder real, homens armados e juramentados numa situação muito semelhante a de hoje, di-
surgem como uma necessidade para manter a vidido entre senhores gananciosos, com irmão
ordem em castelanias fragmentadas. Existem apunhalando irmão, que a cavalaria ganhou for-
dicotomias dentro da cavalaria: ao mesmo tem- ça, já que lordes, duques, barões e condes pas-
po que podem representar o máximo em capa- saram a sagrar os seus subalternos com o título
cidade guerreira, em força bruta de lordes e se- de nobreza para conseguir vantagens sobre os
nhores de terras, os cavaleiros também podem vizinhos gananciosos. A Belregard dos dias de
ser assim chamados por uma mera conveniên- hoje prepara terreno para algo semelhante ocor-
cia de títulos, sem qualquer reflexo com seus rer, com ordens surgindo diante da necessidade
objetivos originais. de proteção de nobres casas influentes.

b 89 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
O Tribunal do Supremo Ofício se aproximou cada um dos gestos acompanhado dos dizeres
cedo da cavalaria. Como formavam uma força dos deveres, dos quatro votos da cavalaria. A
de elite, era preciso atrelar o poder dado aos ca- obediência e a humildade sempre pesando nos
valeiros com o poder secular da fé, não de modo ombros, a castidade na consciência e a excelên-
a torná-los ainda mais poderosos e sim de colo- cia como obrigação ardida na face.
car sobre eles um limite além daquele estabele-
cido pelos seus senhores. Se os deveres de um Organização
cavaleiro eram a obediência cega diante dos di- Depois do concílio de Lenora, as ordens de
tames de seu suserano, passavam a ser também cavalaria passaram a seguir uma mesma estru-
o de proteger o clero, a igreja, a fé. Tais práticas tura que imita, simula, o mundo ideal imaginado
se difundiram rapidamente, de modo que hoje pelos homens. As ordens sociais estão incluídas
em dia é impossível uma ordem de cavaleiros em toda a escala de poder, com representantes
ser reconhecida sem que exista algum patrono de reis, nobres, sacerdotes e trabalhadores que
religioso. Isso foi firmado no concílio de Lenora, fazem funcionar toda a ordem, de modo que
ocorrido em 992 DA, para determinar todo o não são apenas filhos abastados da nobreza que
processo mínimo necessário para se consagrar formam um grupo de cavaleiros.
uma ordem.
No topo da hierarquia interna está o Grão-
Sagração -mestre/Grã-mestra, geralmente a figura mais
Tornar-se cavaleiro é sonho para muitos. É velha e respeitada dentro da cavalaria local. Não
senso comum que qualquer nobre, incluindo ou- precisa nem mesmo ser ainda atuante nas con-
Um dos escribas que tendas, desde que possa guiar a cavalaria com
tros cavaleiros, pode sagrar um homem como
conheci me disse que
viu um édito sobre os parte de uma ordem. Esta honraria tornaria pudor, moral e firmeza. Junto desta figura está
povos e seus cavaleiros. o candidato ligado ao suserano daquele que o o Patriarca, geralmente bispo ou orador do Tri-
De acordo com ele, a bunal, que garante as bençãos dos santos para
sagra. Para homens livres, pode ser uma digna
intenção era descobrir
quais grupos, locais e atribuição, mas para os que são vassalos de ou- todas as espadas juramentadas daquela ordem.
tragédias formariam trem, pode significar guerra. É comum que o Abaixo, na ordem, ficam os artesãos, campo-
os melhores cavaleiros. neses que normalmente convivem com os cava-
futuro cavaleiro passe alguns anos sob a tutela
Não creio que esse
trabalho tivesse de um superior, como escudeiro, até receber o leiros em suas fortalezas centrais da organiza-
boas intenções. título interino. Mas não basta apenas uma tro- ção. Nenhum destes grupos chega a mudar sua
ca de juramentos para se fazer cavaleiro: aquele posição dentro da sociedade de Belregard, mas
que sagra deve ser capaz de armar seu novo sol- internamente muitas variações podem ocorrer,
dado com armadura, armas, cavalo e as esporas como camponeses que se tornam grandes escu-
de ouro, algo elevado demais até mesmo para deiros. A história é repleta de jovens pobres que
nobres menores. vestiram armas de seus suseranos para lutar em
seu lugar, provando que o aço não desdenha dos
As esporas de ouro são o símbolo máximo do menos favorecidos.
cavaleiro, aquilo que o coloca em seu devido lu-
gar dentro da estrutura social. O ritual de inicia- Assim, funcionando quase como um paralelo
ção pode ser simples ou elaborado, a depender da sociedade, as ordens de cavalaria fazem va-
da riqueza de quem sagra. A visão mais comum ler seus juramentos. Tais juras devem ser feitas
é do futuro cavaleiro ajoelhado para receber a es- tanto aos suseranos quanto aos líderes da or-
pada nos ombros, na cabeça e um tapa no rosto, dem, com base em quatro fundamentos:
b 90 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
• Obedientia: o mais importante, o de obe- A Arte da Guerra
diência aos ditames de seus superiores. De todas as disputas possíveis, a que mais
marca o território e o povo que lá vive é a guer-
• Egestatem: o de pobreza. Por mais que
ra. Belregard já experimentou momentos de
sejam nobres, cavaleiros não devem ser
conflito aberto entre senhores nobres e mesmo
reconhecidos por sua riqueza, devendo
entre o alto escalão da igreja. Passou por con-
ser capazes de viver com o básico, ainda
flitos internos, que colocaram grandes cidades
que possuindo terras.
em xeque, e contendas que separaram reinos no

• Castitati Coniugale: a castidade conjugal, passado. Na atual situação das castelanias, os

permitindo que os cavaleiros se casem, pre- ruídos ainda baixos da guerra voltam a ser ou-

ferencialmente dentro da própria ordem. vidos. A pele dos tambores de guerra começa a
ser esticada e o pó é retirado das trombetas, ar-
• Suma Perfectio: herança do pensamen- mas são afiadas calmamente e as forjas podem
to belicoso de Leoric, pelo qual o cavalei- se aquecer a qualquer momento para voltar ao
ro deve atingir excelência em sua arte de incessante retinir dos martelos no aço. O mundo
guerra. parece saber que o conflito bate à porta.

b 91 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
A Mobilização das Forças Muitos destes lordes que tiveram de segurar as
rédeas de seus domínios já estão mortos e é dever
Existe um tipo especial Não só os nobres em seus garbosos cavalos
de copista especializa- de seus filhos manter o legado, ou vingarem-se.
fazem parte do conflito. A própria cavalaria,
do em relatar períodos
como visto em raros momentos, armada toda
de guerra. Eles têm a As Armas
capacidade de ameni- em aço reluzente, de espada, escudo e lança,
zar defeitos e acentuar sobre o poderoso corcel, ainda é uma visão rara Para os belghos, a arma dos homens, por ex-
qualidades daqueles que celência, é a espada. Apesar de nunca terem se
e boa parte das ordens de Belregard conta com
travam tais embates.
poucos desses exímios lutadores. Fora os nobres importado com a beleza de suas ferramentas
A terra esconde os erros, que se armam de cotas de malha e armas de quando forjadas, os belghos são famosos por te-
o tempo esquece as dores rem conseguido garantir uma boa durabilidade
qualidade, o contingente de infantaria de um
e a vida segue.
nobre é composto por seus vassalos. Campone- a suas armas feitas de aço, isso nos tempos da
ses, homens da terra, podem ser convocados a fundação de Virka, quando a atenção da huma-
“Em uma guerra espe-
qualquer momento, compondo grupos pouco, nidade estava voltada para a floresta, no comba-
ra-se que seus incita-
dores sejam homens de ou nada, treinados no uso de lanças e espadas te contra os belinaren. As lâminas destas espa-
boa índole e centrados das costumam ser curtas e largas, com um bom
simples, ou da funda e arco e flecha.
em suas tarefas. Mas
peso redondo na ponta do punho. Num combate
essa não é a realidade.
Uma guerra normalmente Existem muitas formas de se convocar o exér- próximo, usam o cabo contra a face de seus ad-
ocorre da seguinte forma: cito de camponeses. Normalmente recebem versários, esfacelando-lhes o nariz.
líderes sem amor ao povo
algum treinamento prévio e costumam com-
se ufanam e caem em
por as linhas de frente na batalha. Em Virka, a Os parlos já foram famosos pelo seu uso da
devaneios e luxuria, alme-
jando algo que não têm, convocação costuma ser feita por um enviado lança, enquanto montados sobre seus corcéis
envolvendo-se em con- poderosos. O arremesso era muito comum como
do rei, que percorre os territórios e convoca os
tendas desnecessárias. Eles
incitam uma guerra onde estandartes exibindo um amarrado de flechas modalidade de combate — eles não conheciam
os miseráveis morrerão. negras; já em Parlouma, a convocação ocorre o arco e a flecha — mas seus braços treinados
Homens sensatos lutam eram capazes de fazer pequenas lanças prepa-
com presentes de bons cavalos, que devem ser
essa guerra por seus
suseranos na esperança de montados pelos campeões das famílias. radas atravessarem o peito de um inimigo des-
salvar alguns, inclusive a protegido. Esta prática foi abandonada e parece
si mesmos. Esses homens Tropas regulares, especialmente treinadas querer voltar de forma ainda tímida, mas o uso
sensatos são esquecidos
para a defesa e avanço de um determinado se- da lança continua comum, principalmente entre
pelo tempo.”
nhor poderoso, também existem e podem ser os cavaleiros de todas as ordens. Os Cavaleiros
mantidas por longos períodos de tempo. Al- Pardos, de Parlouma, são conhecidos por sua ex-
guns bons exemplos de exércitos permanentes trema perícia no uso das armas de haste.
nas castelanias de Belregard são os Zayin de
Belghor, ordem existente desde os tempos em Preferindo lâminas leves e delgadas, os dala-
que a castelania vivia sob a vigília da linhagem nos investem na beleza de suas armas. Conhe-
profana, talvez ainda detentores de segredos cidos por terem incorporado certos adornos e
obscuros desse tempo maldito. Devido ao con- detalhes que valorizam as espadas, alguns as
texto atual das relações entre nobres, a primeira acusam de servirem apenas como enfeite, mas
coisa que um senhor se preocupou em fazer, a lâmina afiada de um sabre dalano é capaz de
quando da queda do império, foi cercar-se de fazer o acusador mudar de ideia. Dalanos pre-
forças capazes de defendê-lo de seus vizinhos zam espadas, adagas e punhais, jamais usando
que, certamente, desejavam suas terras tanto armas que consideram “bárbaras”, como man-
quanto ele desejava a de outros. guais, machados e clavas. Apesar disso, guar-
b 92 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
dam essa opinião para si mesmos, quando tem por fora e rígida por dentro, suportando a for-
os vihs lutando ao seu lado. ça e a tensão da corda ao ser puxada. As fle-
chas também variam de tamanho e formato, as
Os homens do norte, vihs em particular, pre- mais usadas em confrontos são pontudas, com
ferem armas longas. Quando o ferro, e depois o uma pequena cabeça de ferro delgada e afiada.
aço, lhes foram apresentados, não tardou para As flechas de caça têm um formato triangular,
que imensos guerreiros portassem espadas dig- precisamente afiado nas três pontas e, por fim,
nas de seu porte. Empunhadas com ambas as existe a flecha de caça daqueles que vagam
mãos, estas montantes já fizeram carne e ossos pelos bosques reais e não
se partirem com a força de seu impacto. Apesar podem abater um animal
disso, as espadas são uma preferência dos igslavos, grande como um cervo.
como fruto do contato e da influência dos belghos.
Os vihs preferem o uso do machado, seja de uma
lâmina, duas ou qualquer variação possível.
O machado representa não só a força dos ho-
mens, como também remete a suas raízes, sim-
ples e humildes. O machado não é só uma arma,
como também é uma ferramenta.

De uma maneira geral, os


arcos são usados por todos os
grupos, em especial aqueles
homens livres que vagam pelas
áreas fora da jurisdição de deter-
minadas castelanias. Estes homens cos-
tumam ter mais força em Viha, onde com-
põem parte do exército, sendo soldados muito
bem pagos. A variedade dos arcos dentro de
Belregard fica por conta do material do qual ele
é feito. Um arco é uma arma prática, não servin-
do apenas para o combate, mas também para a
caça. Este última utilização pode ser perigosa,
já que caçar numa floresta, quando denominada
território real, é garantir seu lugar entre os fora
da lei mais procurados.

A construção de um arco é uma ciência que Gravura estilo bertina de


Fergus, representando Louis,
exige cuidado e preparação. A escolha da ma- arqueiro de Lenora.
deira é fundamental e as mais populares em
Belregard são carvalho, freixo, olmo e, espe-
cialmente, teixo. Este último tem uma compo-
sição que favorece seu uso na fabricação do
arco. É uma madeira de duas camadas, flexível

b 93 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Estas flechas têm uma cabeça robusta e ape- mesmo que não se saiba usá-la, mas esta prática
nas uma ponta pequena de ferro, o bastante deve ser temperada com bom senso.
para abater coelhos, por exemplo.
O ápice desta corrida armamentista dentro de
A armadura mais usada entre os que podem Belregard é o cavaleiro. Seja de qualquer ordem
pagar é a malha. O objetivo da malha, feita da que ele venha, um cavaleiro encarna o máximo
união de dezenas de anéis rebitados individual- de aparatos bélicos em sua imagem. Montado
mente, é amortecer o impacto dos golpes. Ape- em um cavalo poderoso, uma verdadeira mura-
nas ela não é o bastante para isso, então é co- lha de músculos, estes homens vestem suas ma-
mum que cavaleiros vistam uma grossa camada lhas finamente construídas e ajustadas, além do
de tecido por baixo da malha, reduzindo a dor imponente escudo de madeira e a lança balan-
sentida pelo choque da arma. Espadas não são ceada para o seu uso sobre o corcel. É o tipo de
capazes de cortar a malha, mas o impacto pode investimento que chega a ser hereditário, com
partir ossos. Flechas finas podem atravessar os cavaleiros usando túnicas de malha que perten-
anéis e é por conta dessa valorização do impacto ceram a seus avôs.
que as clavas, maças, manguais e martelos são
Dizem que um antigo também importantes no combate singular. Ape- O Conflito
barão do sul de Da- nas recentemente o uso de armaduras de placas
lanor mandou que uma A guerra não é rápida. Ela é lenta e custa
pesadas tem sido percebido no “teatro de guer-
armadura perfeita fosse caro. Seja no cerco ou na luta campal, o con-
feita para ele. Por cento ra” em Belregard. Estas armaduras são muito ca-
flito aberto e declarado leva muito mais do que
e noventa e três dias o ras, mas certamente trazem mais proteção. As
ferreiro trabalhou sem vidas. Mesmo vitoriosos, senhores e lordes po-
flechas costumam ser desviadas de peitorais de
cessar. Ela deveria ser tão dem ver-se falidos quando termina uma guerra,
bela quanto as gravuras aço maciço e a única arma que parece ser capaz
que ilustram as armas de penetrar tais peitorais é a besta. diante de todo o gasto que tiveram. Não é fácil
de Leoric. Depois de iniciar todo o processo do conflito. Normalmen-
terminada, antes mes- Adquirir um equipamento não é simples te se inicia com uma declaração, que não ocorre
mo de vesti-la, o barão
mandou que quebrassem como conseguir alimento. Espadas, machados e antes de conversas com conselheiros. Geralmen-
as falanges dos dedos do escudos não ficam pendurados em oficinas e te membros da igreja podem tentar resolver a
ferreiro para que ele não ferrarias — são objetos feitos sob encomenda.
pudesse fazer uma obra situação entre si, mas nobres costumam ter a ca-
que superasse aquela. Por Uma túnica completa de malha precisa ser feita
beça dura e por isso muitos ignoram o conselho
fim, o barão não tinha com as medidas do homem que irá usá-la, para
dos homens santos, lançando-se no conflito por
nada do porte físico de que os braços fiquem com bom movimento. São
Leoric. A armadura não tolos motivos. As convocações dos vassalos são
serviu em sua forma equipamentos caros, não é qualquer um que
então feitas e todos devem apresentar-se com
bufônica, terminando como será visto com a mais simples das espadas pelas
fruto de saque. seus cavaleiros e homens de armas dispostos
ruas. Existe ainda o fator social envolvido: se o
para o combate. O clima é importante quando
portador das armas não é um soldado reconhe-
se fala de guerra. Ninguém batalha no inverno.
cido, um guarda, um nobre, ou qualquer um que
tenha o aval de portar tais objetos, este homem Normalmente as guerras são declaradas nos

se tornaria alvo de evidente suspeita. Andar meses mais frios do ano, para que a mobiliza-
por uma aldeia ou corte vestindo armadura e ção ocorra ainda na primavera e a marcha esteja
portando armas é o mesmo que dizer que está iniciada até o verão. Quando existe proximidade
lá para causar problemas. Carregar uma espa- entre as partes em desacordo, esse tempo pode
da junto à cintura é elegante dentro da corte, ser curto, naturalmente.

b 94 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
A logística da guerra é fundamental para o O Além (O Não Natural) Eu poderia afirmar que
seu funcionamento. Um senhor não pode mar- Uma das poucas cer tezas que os homens nove entre dez ritos
char com seus cavaleiros e soldados contando modernos que envolvem
podem ter é o caminhar inexorável rumo à
nascimento, casamento,
com caça e coleta para sobreviver. Desse modo, mor te. Para muitos, principalmente para os velhice e morte estão
tolo o homem que pensa na ida para a batalha atrelados ao tempo da
que compar tilham a fé dos cultos antigos, a
como algo glorioso. Uma coluna de agregados, selvageria. Possuímos mais
mor te nada mais é que um retorno para um relação com as crianças
trabalhadores, servos ligados a seus senhores,
todo, para a natureza. Os povos pagãos costu- cinzentas e com os sel-
escudeiros e mesmo familiares segue as tropas, vagens do que gostaría-
mam celebrar seus funerais de forma discre-
fazendo parte do acampamento, cuidando da mos de admitir. Isso só
ta, com cerimônias que não lembram o luto faz afirmar ainda mais
cozinha e participando da ordem geral no ce-
dos religiosos, mas que comemoram a par ti- a minha fé que não
nário de guerra. Existe uma etiqueta entre os sei sobre as coisas que
da daquele que caiu para a próxima vida jun-
grandes cavaleiros que é a do não ataque aos estão sobre a terra e
to de seus ancestrais, sendo novamente um sob o céu.
“agregados”, mas acidentes já aconteceram ao
com a terra. Muitos tipos de ritos diferentes
longo da história. De um modo geral, é sabido
são praticados, como no caso de alguns clãs
que o mundo vive sob a “Paz de Deus” e que
conflitos abertos entre as casas nobres preci- vihs, que colocam seus mor tos em barcos

sam ser aprovados pelo Tribunal, mas os con- simples de madeira e os deixam correr pelo
flitos entre a igreja e suas representantes em rio ou pelo mar aber to, rumo ao outro mun-
outras castelanias parecem ir minando o poder do. Ou os parlos que cremam itens de apreço,
centralizado de Birman. ou até mesmo a própria vítima, e guardam
as cinzas em um lugar de destaque dentro da
Prisioneiros casa.
Um costume extremamente comum, e res-
A vida segue um ritmo difícil para a maior par-
peitado, é o dos prisioneiros de guerra. Quan-
te das pessoas e as lutas diárias não existem ape-
to maior o cargo de um homem dentro da
nas no sentido do trabalho, mas também do espí-
hierarquia local, mais valioso ele é para a cap-
rito. O homem simples tem por aliados o Criador,
tura. Seus captores podem pedir resgate pelo
nobre, pelo cavaleiro, até mesmo sacerdote, seus Angellus e a Igreja, mas também tem seus
enriquecendo facilmente. O que impede que os inimigos, a Sombra, os Ímpios e as Provações.
combates massivos se desenvolvam sem que
Quando o Pai acendeu a chama divina den-
todos desejem garantir prisioneiros é a presen-
tro de cada homem e mulher, a Sombra colocou
ça das auriflamas nos exércitos. Enquanto uma
também sua escuridão. Por isso existe um temor
determinada bandeira estiver erguida, os prisio-
absurdo da morte repentina, que vem rápida
neiros são proibidos. Grandes soldados as man-
e certeira, não dando tempo para o acerto de
tém de pé durante todo o início da batalha, para
garantir a efetividade de seus exércitos. Quando contas. Afinal, quando o fim vem calmo, pela

são baixadas, a captura é permitida. O costume idade avançada ou mesmo por uma doença que
dos prisioneiros de guerra ajuda a salvaguardar acompanha o enfermo por muito tempo, o ho-
a vida nobre, já que muitos se rendem, preferin- mem pode debitar suas falhas para com Deus e
do a prisão que a possibilidade da morte. O cati- seus próximos. Mas o plano da Sombra é ceifar a
veiro para estes homens e mulheres costuma ser vida dos homens, antes que este se aproxime do
brando, a depender das posses de seus capto- Único, e é tarefa dos Angellus proteger os igno-
res. Grupos de mercenários costumam capturar rantes, dando oportunidade para que a verdade
para enriquecer rapidamente. os alcance antes do suspiro final.
b 95 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Desde que o criadorismo tomou conta do A Abóbada Celeste
mundo, as relações dos homens com a morte se À Abóbada Celeste estão destinadas as almas
modificaram. Hoje existe um sentimento muito daqueles que viveram nas virtudes do Criador,
maior de perda por aqueles que partem. A deso- que buscaram pelas boas obras e ganharam o
lação só aumenta quando os sacerdotes dizem mundo com ações corretas. Não é preciso dizer
que os bons e os maus são separados no além, que a idealização dos homens santos para aque-
cada um indo para o lugar onde merece estar. les que merecem o paraíso parece limitar a um
Os homens, dessa maneira, vivem com medo. número muito pequeno os candidatos. As repre-
Vigiados por olhos invisíveis, oscilando sempre sentações da Abóbada Celeste sempre mostram
entre a virtude e o pecado. agrados aos cinco sentidos dos bons filhos de
Deus, doces frutas para a boca, o canto dos pás-
saros para os ouvidos, a delicada seda para os
dedos, os agradáveis campos para os olhos e o
Gravura estilo bertina de aroma das flores para o nariz.
Fergus, representando uma
estátua de Lazlo repleta de
oferendas com desejos de O paraíso é partilhado por todos aqueles que
boa sorte.
cuidaram das boas obras em vida, mas mesmo
assim parece existir uma divisão. Como foi es-
crito por São Rastramus em 423 DA, existem
três céus diferentes. Este homem santo foi ar-
rebatado e conheceu a Abóbada Celeste, tendo
escrito sobre a experiência em seguida. Seus re-
latos são extremamente confusos e até mesmo
contraditórios. Ele alegava lembrar-se de pouco
em detalhes, as imagens surgiam na memória
envolvidas por uma névoa de confusão. A única
coisa que permanecia idêntica depois da saída
do paraíso era a paz de espírito e corpo. O fim
das dores e dos tormentos. Rastramus morreu
em paz, deitado em sua cela de monge e com
um tranquilo sorriso nos lábios, depois de es-
crever suas memórias. Pouco do que ele relatou
entrou no cânone da igreja, mas as bulas de sua
não condenação da visão são o suficiente para
lhe dar credibilidade.

Um dos mais sábios seguidores de Lazlo acre-


dita que os 3 céus que Rastramus visitou foram:
A grande Abóbada Celeste, lar do Único e dos
Angellus, e os dois céus menores, criados pelos
dwetar e belinar. A força do culto dessas duas
raças selvagens ecoou no mundo espiritual e “ar-
rastou” seus paraísos celestes da Fímbria para o
plano superior, o plano supremo.

b 96 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
A Alcova Profana dito que um humano vil, entregue às artimanhas
da Sombra, não é condenado a sofrer na Alco-
À Alcova Profana vão todos aqueles que vive- va — ao contrário, lá será recebido com honras
ram no pecado, praticando abertamente as Pro- para servir em seu exército. Tais textos são tidos
vações e compactuando com a Sombra ou lou-
como profanos e sua consulta é veementemente
vando deuses falsos. O que existe neste mundo
proibida.
de sombras é discutível. Sacerdotes falam sobre
punições dantescas de dor e sofrimento eterno, A Fímbria
mas as heresias clamam pelo oposto. Punições
O que realmente fascina nesta trindade de
trazem a ideia de que a Sombra está submissa
destinos do pós vida é a Fímbria. A Fímbria é
ao Criador, recebendo os pecadores em seu rei-
destinada ao homem comum, que viveu uma
no, mas isso é dito à boca miúda. Muitos acre-
vida oscilando entre bem e mal, sendo aquilo
ditam que a Alcova é uma terra de fogo e enxo- que o Criador esperava que ele fosse, dono de
fre, onde a eternidade é sua única companheira si mesmo. Dessa forma, a Fímbria surge como
além da dor. Outros narram paisagens gélidas um mundo cinzento, à imagem e semelhança do
de pensamentos e sonhos congelados; e existem nosso, onde todos têm a chance de purgarem-se
ainda os que falam dos tormentos particulares, de suas falhas, ou abraçar as causas profanas, e
afirmando que na Alcova Profana você encara decidir seu destino. Nesse caminho de purifica-
seus próprios erros e medos — uma experiência ção, o falecido conta com os vivos, através de
que não pode ser compartilhada. suas orações.

Visões de inferno são comuns dentro do Tribu- Um forte exemplo da relevância da Fímbria
nal. Normalmente as pinturas de tormentos são no imaginário é o túmulo de São Pierre. No ano
relacionados a um dos Ímpios da Sombra. Aos 1000 DA, durante a Era de Sangue, um cavalei-
gulosos é reservada a eterna ceia onde se come ro marcou seu nome entre os povos de Dalanor.
a carne e o dejeto. Aos irados o ódio rasga por Pierre le Noir fez frente às tentativas de Igslav
dentro da pele. Aos invejosos fica a agonia des- de invadir seu território. Quando teve ajuda ofe-
A Fímbria e as orlas são
contente de querer mais, de boca sangrenta pelo recida por aliados vihs, não aceitou, chegando a
assuntos de discussão
rilhar dos dentes. Aos luxuriosos fica o êxtase devolver a cabeça do mensageiro ao rei de Viha, entre sábios. Parece que
do gozo nunca alcançado, mas sempre próximo. com um bilhete deixando claro o desprezo pela tais temas lançam uma
oferta. Uma figura contraditória, mas que espa- infinidade de tons de
Por fim, aos avarentos fica o peso do que se jun-
cinza sobre algo que era
tou e não partilhou, a arrebentar os joelhos. lhou fervor entre os combatentes que resistiram claramente preto e branco.
a um cerco na cidade. Foi condenado pela igreja, A existência de uma
Anos após a morte de São Rastramus, textos mas absolvido quando em seu sacrifício final membrana conjunta ligando
estranhos foram encontrados próximos de sua tudo aquilo que cremos
selou a passagem por onde as forças de Igslav sobre o mundo espiritual
velha morada em Virka. Relatos dizem que os invadiriam Dalanor. Enterrado como herói, mas soa confuso e nos coloca
pergaminhos estavam enrolados em couro ne- ainda condenado pelas atrocidades da guerra, no devido lugar:
gro umedecido de piche e cheiravam a enxofre. seu corpo se encontra em uma singela capela,
“Apenas meros grãos nessa
A pouca informação que se tem relata que o sob a escultura em pedra negra de sua imagem. infinidade de poder e
texto retratava uma viagem à Alcova, descre- Os Oradores da época disseram que a alma de conhecimento.”
vendo seus anéis de danação, a visão dos Ím- Pierre era pesada e só com muita oração ele
pios e o encontro com a Sombra. Sob sussurros, alcançaria a Abóbada Celeste. Há séculos seu
comenta-se que em um dos trechos do relato é corpo é velado.

b 97 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
A Magia e o Misticismo
a
Os Selvagens deixaram seu misticismo enrai-
O Cão de Tarrasses
zado na cultura dos homens civilizados de modo

O cachorro é companheiro do homem há muito tão profundo e intrínseco que é impossível dis-
tempo. Antes mesmo da revelação de Morovan, cernir onde começa e onde acabam tais credos.
as Crianças Cinzentas contavam com o apoio O próprio Tribunal desistiu de tentar separar
de cães na caça e na proteção de suas famílias. estes ritos do meio do povo, provando ser uma
Curiosa é a relação destes animais com o ser- tarefa miticamente impossível. Assim sendo, a
viço da morte. É crença antiga que os agentes
feitiçaria selvagem é sutil, misturada com cren-
do ciclo de vida e morte são os cães de Tar-
ças eclesiásticas, sendo vistas quase como ino-
rasses. Este nome surge em culturas diferentes,
com uma sonoridade ligeiramente alterada pelo fensivas.
idioma local, mas sempre fazendo referência a
Na outra face da moeda existe a magia Bövrá-
uma cidade, fortaleza, fora de paraísos e in-
fernos, onde vivem os seres que observam os tica, idealizada, categorizada e transcrita pelo
caminhos do mundo. Quando uma alma deve homem mais sábio que já andou por Belregard,
ser colhida, são os cães de Tarrasses que vem Bövrar II. Este homem goza de notória infâmia
buscá-la. Por mais que não seja um detalha- nos dias de hoje, mas seu legado é perpétuo nos
mento compartilhado, é algo tão enraizado
estudos mais aprofundados do que pode ser
que inúmeros cemitérios possuem estátuas de
compreendido pelo que nos foi deixado através
cães vigilantes. Curiosamente, muitos relatos
do Criador. Bövrar II não estava mais vivo quan-
de morte, assistida por sacerdotes, pontuam
sobre o som de rosnados, uivos, ou o farejar pe- do o Único desceu da Abóbada. Alguns lazlitas
las frestas da porta quando um moribundo se mais corajosos chegam a conjecturar um encon-
entrega à morte. tro de ambos, no qual o Pai não trataria este
filho com desgosto, mas com alívio, por ter sido
o que chegou mais próximo da verdade. Bövrar
Assim como há a Abóbada e a Alcova, a Fím-
II não tinha pudores quanto ao que usava para
bria é um plano espiritual paralelo ao terreno.
atingir seus objetivos, misturando-se nas here-
Enquanto um está acima e o outro abaixo, a
sias selvagens sem qualquer medo e, através
Fímbria age como uma liga que une todos esses
destes estudos, disse ter compreendido a verda-
locais de residência do espírito. Crê-se que den-
deira natureza do Criador.
tro da Fímbria existem as Orlas, locais com ca-
racterísticas e seres nativos próprios. Possivel- Bövrar viu o Único de três formas:
mente eles foram formados ao longo da criação
do mundo, devido à crença multifacetada dos • Único Histórico - seguindo o fio da his-
vários povos que caminharam sobre Belregard. tórias e os acontecimentos táteis.
O pouco que se conhece sobre as Orlas é basea-
• Único Mítico - seguindo o fio legendário.
do em livros primordiais, arcaicos e com base
não religiosa, mas quase científica.
• Único Místico - seguindo o fio do
caminho interno.

As três formas agem para a compreensão to-


tal da figura grandiosa do Criador, mas a ter-
ceira em especial foi ao que Bövrar II dedicou

b 98 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b A Vida em Belregard b
sua vida. Alguns discípulos de Lazlo intitularam
este tipo de conhecimento como Adoração Eso-
a
térica. Os cultos que seguem os ensinamentos O Bando Arlequim
de Bövrar II são divididos em Fraternitatis e es-
Durante a celebração do Luto pelos Caídos,
tão em todos os locais.
quando famílias se reúnem na segurança de
suas casas para celebrar a memória dos que
A Adoração Esotérica é um conjunto de en-
já partiram, o que separa o mundo dos vivos
sinamentos conhecidos como a parte mais pro-
e dos mortos se enfraquecesse. É quando o
fundamente mística da adoração ao Único. His- Bando Arlequim vaga pelas estradas de Belre-
toricamente eles são baseados não nos textos gard. Famosos por suas festividades macabras,
sacros da Vulgata, mas nos textos que Bövrar II o bando liderado pelo bobo da corte inicia
detalhou em seus inúmeros tomos. o cortejo que segue por toda a madrugada,
sendo seguido por toda sorte de condenados
Tal prática firma seu alicerce na crença da ainda confinados à Fímbria. A visão do bando
reencarnação e no evolucionismo das almas. poderia levar qualquer homem são à loucura.

Não há proselitismo religioso dentro da adora- Esta lenda gerou procissões semelhantes em
algumas cidades, nas quais bandos saem pelas
ção esotérica. Os mestres ensinam aos novos
madrugadas, geralmente guiados por alguém
que todas as religiões são provenientes de Deus,
fantasiado de bobo e seguido por condenados,
que as teria apresentado conforme as necessi- parando nas casas para pedir por orações ou o
dades espirituais e o nível de evolução de cada que quer que seja possível. Muitos dizem que o
povo. Também não há impedimentos àqueles Bando Arlequim consegue fazer um homem vi-
que desejarem estudar sua doutrina, desde que sitar a Fímbria nessa data, permitindo a um ser

o façam por livre e espontânea vontade. vivo ver através dos véus da vida e da morte.
Em tempos passados, aqueles escolhidos para
Seria necessário muito espaço para destrin- encenar a procissão do bando eram bandidos
e criminosos, sendo que estes seriam mortos
char a forma como tal filosofia pensa e age, mas
pela população ao amanhecer, como sinal de
o que é preciso afirmar é que o Tribunal repudia
repúdio do homem à morte.
e abomina qualquer ação desta facção pseudo
religiosa.

ve-
fo i inso len te, bu rro e res seq uido muitas vezes. Muito mais
Você ra
smo assim, chegou ao fim da ob
zes do que poderia suportar. Me
i um bom trabalho.
e sou obrigado a admitir que fo
da
hou ve mu ito s err os, con tra diç ões e principalmente, influência
Sim, ades
elho que se retire de suas ativid
Sombra sobre sua razão. Acons Nu-
ique-se a enobrecer o espírito.
por pelo menos seis meses e ded
de bom alimento.
tra sua alma, pois está faminta

ido e lhe recomendar ao nobre


Gostaria de atender-lhe o ped
em Birman, mas não posso
trabalho de copista do Tribunal
fazê-lo. Não está apto.

Tullus

b 99 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

O Verdadeiro Alicerce
Na sala pequena de uma casa singela, um trabalhador é inquirido por
um homem de negro. O ar é quente e o cheiro de carne assada entra pela
janela aberta. Um homem de frente para o outro. Um homem apreensivo,
um homem relaxado. Um chapéu de palha apertado em dedos grossos,
um sorriso tranquilo, sardônico, no canto de uma boca.

Minha família não poderia estar mais feliz. Chegamos a Vlakir depois
de ouvir as histórias sobre o Demiurgo e suas obras, seus milagres. Como
mestre pedreiro, consegui prestar meus serviços ao próprio Templo, ini-
ciando as obras de uma nova capela no extremo leste da castelania. O
tempo aqui é ótimo, vivemos em uma casa grande, que também serve de
oficina para o nosso trabalho do dia a dia. A esposa e as crianças também
parecem gostar, especialmente Lelia. A pequena tomou um gosto estra-
nho pelas romãs que nascem aqui. Ela diz que são pequenos vermes gor-
dos, por causa da extremidade do fruto, como uma “boquinha dentada”,
do jeito que ela faz, imitando a coisa de um jeito adorável.
b 100 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
Mas o meu dia aqui é bem simples. Acordo cedo, preparo um bom
desjejum com o leite de cabra e espero os outros serventes chegarem.
Como mestre pedreiro, meu trabalho é supervisionar toda a obra, desde
o corte da madeira até o encaixe das pedras. Gosto de cinzelar os blocos
pessoalmente, quase não sinto o revide da rocha quando bato com os
pregos, tão grossas são minhas palmas. Por volta do meio do dia, faze-
mos uma pausa para comer e Lelia sempre me traz uma romã. Come-
mos juntos, cuspindo as sementes em Maltus, um dos serventes. Um
dia desses ela me disse “Papai, não engula o caroço, é um vermezinho
que vai nascer dentro do senhor…” Achei graça, claro, bagunçando seu
cabelo enquanto descascava a coisa dentro da boca.
De fato, nosso trabalho seguia por todo o dia, normalmente, mas a
noite eu sabia que algumas pessoas vinham inspecionar. Eram homens
da igreja, tenho certeza, vestidos em negro, carregando tochas. Certa
noite peguei meu Mitia espiando pela janela, mas o censurei, claro. O
garoto é impressionável, falou em ter visto uma cabra e um porco. Um
absurdo. Animais são barulhentos e nós sempre dormimos numa paz
silenciosa aqui.
Não vou negar que, pensando agora, já encontrei montes de terra re-
mexidas no campo de trabalho, manchas escuras, claro, mas não faço
caso disso, cuido do meu trabalho, senhor.

De um lado, muita fala apressada, sorrisos nervosos e dedos aperta-


dos de nós brancos. Do outro uma frieza calma, analítica que só se fez
pronunciar depois de um tempo que pareceu maior do que realmente
fora. Quando a boca abriu, foi com um estalo seco. Veio o inspirar pro-
fundo e a instrução.
“O teu alicerce é bom, Basko. Mas como casa de nosso Senhor, o De-
miurgo demanda outros preparos. Faz muito bem em deixar Aqueles
que Vem com o Escuro trabalharem sozinhos. Amanhã fará tua peque-
na Lelia engolir os caroços de romã e à noite, quando Mitia denunciar
a vinda Deles, deixe a menina sair. Tua noite de sono continuará sendo
licenciosa e tua vida próspera. Pela graça do Demiurgo”.

b 101 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO II b

TRACTATUS TERRAE
DAS TERRAS DE DEUS
PROOEMIUM
10 de Primum de 1350 anos Depois da Ascenção dos Homens em Louvor ao Criador
Que possam estas palavras encontrar a ti, ó Eleito, em boa saúde.
Os esforços para constatar a atual situação das castelanias de Belregard continua
custando muito de nossa ordem. Não entenda isso como um voto de desistência, Amado
Senhor, mas como uma prova da tenacidade daqueles que o servem. Nas proximidades
de Birman o clima segue como já foi constatado, com seu poder ordenado e centrado
na sacra mão de vossa santidade.
Blasfemadores! Vlakir ousa erguer-se contra vossa graça, alegando ter encontrado uma verdade dis-
tinta de todos nós, com um suposto terceiro céu ao alcance dos homens que lhe convém.
O rei Demiurgo se coloca como um deus na terra, além do desejo de restaurar o
império de Virka.

É sempre prudente Parlouma dá sinais de alianças aos traidores, o rei está velho e demonstra fraqueza,
mas a rainha é sua verdadeira força. Seus leais soldados mantêm amor pelo orgulho
desconfiar de da cavalaria parla que vem ressurgindo. A atual situação daquelas terras a coloca
povos distantes. muito próxima de Vlakir, com um casamento arranjado que pode nos dar problemas.
Belghor se inflama com um orgulho pecaminoso de uma paixão que só pode arrasá-los
Ainda se julgam
novamente à Sombra. A linhagem Malik ainda sonha com o poder e com a retri-
como os eleitos
pelo único. buição de Belghor. Possuem muito metal, mas não entregarão facilmente. Os Cães de
Belghor estão se fortalecendo e se tornando uma força notavelmente obscura.
Seriam os insanos Latza se mantém uma incógnita com seu governante demente. Um Rei louco que ar-
inocentes? remessa parte do seu reino num tremedal de lama. Um lugar nojento com arenas de
gladiadores de crianças como soldados. A arbitrariedade é chocante.
Avarentos! No oeste, a corrupta Varning, onde comerciantes se fecham numa sociedade secreta,
onde troca de favores e enriquecimento é normal. A usura é praticada sem qualquer
espécie de proibição. Estão se armando e ligando os pontos isolados do mundo, Varning
pode se tornar uma força perigosa no futuro, contra a glória do Brandevir.

b b

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


b TOMO II b
Dalanor começa a mostrar hostilidade para com Parlouma. Seu rei deita-se com Fornicadores!
animais e compactua com forças místicas da floresta. Seu povo é fraco e se perde nos
encantos do mundo selvagem.
Na ruína de Virka a podridão se espalha. Este local é mal, corrupto, um lar para a
Não tenho mais
Sombra. Não vale a pena, senhor. esperanças sobre estas
terras corrompidas.
Já Viha parece ter saudades da união de seu povo. As desavenças entre pai e filho
jogaram a castelania numa pré guerra civil, dividindo o povo, pois ambos se dizem reis. União? Eles já foram
O local está frágil, estão em transição de tradições e costumes. unidos alguma vez?
Rastov tenta manter a colcha de retalhos presa em linhas frágeis. Outrora um exemplo A guerra fratricida é uma
da vivência ordenada sem um poder controlador, um grupo menor ameaça colocar fim questão de tempo.
à paz ao dragar o povo para mudanças conflituosas no equilibrio politico. Teremos
problemas com os vogos, meu senhor.
Pouco preciso falar sobre Brandevir, afinal, o senhor a conhece intimamente.
Como líder de teus enviados, tenho conseguido relatos variados sobre a situação atual das
terras de Belregard. A reconstrução do Tractatus será trabalhosa. Infelizmente não posso
contar com a mesma tenacidade que tenho nos corações de outros. Meu maior esforço, no
momento, é o de retirar impressões pessoais, tanto apaixonadas quanto horrorizadas, dos
relatos de outros membros de nossa ordem. De modo que vossa santidade recebe apenas o
que é importante, sem qualquer tolice dos homens que o servem, meu senhor.
O Tractatus Terrae original, pertencente ao imperador, pode ter desaparecido nas
guerras. As terras de hoje não estão seguindo os mesmos limites determinados pela
dinastia dos caídos e enquanto um punho firme não se erguer para colocar ordem e
cercas, uma nova Era de Sangue pode surgir. Que seja então tu, grandioso, a guiar
estes tolos em direção à luz do Criador.
Dessa maneira, o novo Tractatus Terrae, o Acordo da Terra, está dividido em duas
partes. Na primeira, apresentamos a composição de nosso continente quanto às suas
principais caractertísticas geográficas mais marcantes. Da selva de Áya aos ermos
do norte. No segundo livro mostramos como estão as organizações sociais, políticas e
econômicas de Belregard; reis, lordes, senhores de cidades, vilas e mosteiros. O senhor
saberá de tudo.
São tempos sombrios, amado Eleito, e é apenas com a força do glorioso Tribunal que os
homens poderão caminhar para fora desta treva com as cabeças erguidas. Estou ciente
de que este tomo passará pelas mãos de Oradores antes de chegar aos teus cuidados,
senhor, mas espero que estes respeitem meu trabalho.
Que a paz do Criador esteja contigo.
Enviado Minus
b b

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DO MUNDO NATURAL b
Prima Pars
Do Mundo Natural
elregard é uma terra vasta de A relação do homem com a natureza sempre
terrenos e formas variadas. foi dicotômica. Apesar de ser usada para seus
É possível que um homem se- fins, seja como recurso para erguer uma morada,
guindo a Via Régia, a principal ou como arma nas queimadas de caça aos sel-
rota que liga Virka para o leste e oeste, mon- vagens, a natureza também causa espanto, as-
tado sobre um hestur, demore cerca de um sombro, medo. É muito comum que camponeses
ano para ir de Gidar, em Belghor, até Ekatria, nasçam, cresçam e morram sem conhecer o que
em Rastov, passando pela margem das de- existe além da montanha ou bosque mais próxi-
mais castelanias em seu caminho, podendo ter mo. Não por preguiça, não simplesmente pela fi-
uma mostra breve dos encantos e assombros delidade a um suserano, mas por medo. O mundo
desta terra. A mão do Criador se faz presente selvagem intimida a maioria dos homens, o iso-
em cada monumento natural. Em cada resquí- lamento imposto pela própria terra é muito mais
cio deixado pela sua sabedoria infinita, e por antigo que os dos miasmas nocivos que, hoje,
mais que o homem tenha deturpado e feito a corrompem nosso ar.
natureza se curvar em certos locais, ele não é
capaz de ser maior que a criação mais antiga a
do Pai; porque antes dos homens, antes dos O Tractatus Terrae original
selvagens, Belregard é e sempre será a jóia
mais valiosa do Criador. O primeiro Acordo da Terra foi escrito durante
a vigência do Império de Virka, no que é con-
É sabido que durante a Era de Sangue muito siderado cada vez mais como um passado glo-

da geografia central de Belregard foi alterada. rioso de Belregard. Não há certeza sobre como
ele se perdeu. Ele estaria na decadente Virka?
Na corrida pela proteção de senhores que te-
Teria se perdido mesmo ou está nas mãos de
miam traições e ataques de todos os lados, o
alguém? Há muitos segredos, como as Casas
relevo foi transformado na exploração de pe- de Luz que podem ter sido reveladas em anota-
dreiras para a construção de castelos, fortes e ções deste importante tratado. Não é incomum
torres. Um cenário semelhante, de guerra e in- haver campanhas para a busca desta relíquia
segurança, avizinha-se novamente sobre todos ou algum enganador que vende trechos deste

nós. É preciso ter cautela, pois os inimigos não texto antigo. A questão é que o antigo Trac-
tatus serviria para atestar ou contestar atuais
estão apenas nos campos de batalha ou salões
divisões de terras e, como o Tribunal vem ten-
da corte, o inimigo é antigo e muito poderoso.
tando abraçar seus vizinhos na campanha de
A Sombra se estende dentro do coração dos homens
dominância, fica claro seu interesse em fomen-
nestes tempos sinistros, tomando o pouco que resta tar um novo tratado para evitar futuras brigas
da luz do Pai dentro de corações pecaminosos. territoriais.

b 105 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
a
A Tecnologia do Passado

Não se sabe ao certo como era possível criar obras tão majestosas, estradas tão imponentes, edificações
tão estáveis. Apesar de menos de um século ter se passado desde a queda de Virka enquanto um império,
muito do que se fazia não é replicável. Uns dizem que os mestres construtores do passado não transmitiram
aos mais jovens, outros afirmam que não é mais necessária tanta imponência e aquilo caiu no esquecimen-
to. Alguns ao observar as construções do Império, e até mais antigas, do tempo de Bövrar II, afirmam que
não foi uma mente humana capaz de tamanhas obras. Independente da versão sobre o ocorrido, não se
consegue reproduzir com primazia todas as técnicas das antigas construções e os padrões arquitetônicos e
tecnológicos até das castelanias mais avançadas, como Varning, não se aproximam do requinte e potência
do passado, inclusive algumas plantas antigas são simplesmente incompreensíveis, com notas que parecem
de uma língua perdida. Lendas dizem que há determinadas pedras das estradas pavimentadas e construções
antigas que possuem inscrições, fendas e mistérios que já tragaram a vida de muitos curiosos. Por esta razão
o ditado “sigo em frente como em cabresto de mulas” é considerado um conselho sábio.

O Céu gard, famoso trovador dos dias atuais, também


Segundo a Litania tradicional, sem muitas escreveu sua própria versão da história, chama-
mudanças dentre os três segmentos da fé, quan- da “Opposto dell’Amore”, na qual um homem,
do o Único desprendeu parte de sua essência todas as manhãs, prepara-se para escalar uma
criadora e divina na própria terra de Belregard, imensa montanha, numa tentativa de lá chegar
fez os ciclos de passagem do Sol e da Lua terem ao anoitecer e poder encarar sua amada de per-
um pleno sentido. Trouxe, desta maneira, as es- to. São apenas exemplos para tantas outras.
tações do ano e fez surgir o próprio tempo.
Estas canções poderiam ter sido vistas como
A Lua com seu brilho cinzento ilumina as noi- heréticas, mas suas incompatibilidades lógicas
tes do mundo com toda a sorte de ideias e su- fazem com que os sacerdotes de Birman as ig-
perstições. Para aqueles que não têm uma fide- norem e as tenham como meras distrações cam-
lidade muito grande para com o Único, não por pesinas. Apesar disso, servem muito bem para
maldade ou falta de lealdade, a Lua exerce certo demonstrar a relação que os homens têm com
fascínio. Seu brilho grandioso encanta e inspira a Lua. Para outros ela também significa o ter-
as mais belas canções que tratam de amores e ror. A noite traz a insegurança e por isso a Lua
tragédias, em uma comparação de amor cortês, também cumpre um papel amedontrador den-
da distância entre paixão e apaixonado. A Lua tro da cultura popular. Manifestações da Sombra
é vista, mas não alcançada, sempre presente, surgem ao anoitecer, quando não podem ser dife-
mas sempre distante. A mais famosa das bala- renciadas em plena escuridão. Para estes mesmos
das é, sem sombra de dúvidas, “La Ballade de crentes, a Lua pode servir como um farol, trazen-
l’Amour Impossible”. Escrita por Henry em 998 do um pouco de luz ao mundo envolto em trevas,
DA, a canção fala sobre o amor de um homem enquanto o Sol recupera-se de sua última viagem.
por sua mulher, ainda nos dias da Era da Ver-
gonha. Quando o Único coordenou a criação, o Como já se deveria imaginar, o Sol também
protagonista perdeu sua amada, já que ela foi exerce uma imensa influência dentro da cultu-
escolhida para tornar-se a Lua. Benito de Belre- ra popular de Belregard. Visto como o grande
b 106 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DO MUNDO NATURAL b
culpado pela vida existir no mundo, graças à sa-
bedoria do Único, o Sol encarna um perfil mas-
a
culino daquele que tudo provê. Para alguns ele é Antigos Festejos
a encarnação do Criador e aquele que caminhou
A relação dos indivíduos em Belregard com as
entre os homens não era nada além que um filho
estações do ano é muito forte e não é raro que
da vontade do Sol, do Pai. Esta teoria vem sen-
os diferentes povos desta terra possuam festi-
do aceita cada vez com mais facilidade, mesmo vidades relacionadas às colheitas, bem como às
entre os círculos da fé que seguem os preceitos fases da lua. Equinócios e solstícios são rele-
de Alec. Em regiões mais frias, como Viha, Igs- vantes em festivais de colheita de cereais e o
lav e Rastov, o Sol tem uma grande importância Tribunal do Supremo Ofício não conseguiu de
entre os nativos. Para os vogos e vihs pratican- forma alguma afetar este antigo costume. O
que ocorre é a transformação de tais festivida-
tes de heresias, existe uma relação muito íntima
des, com a inserção da litania do Único em seus
entre o Sol e a Lua, algo que realmente remete
ritos, como pregações que Alecistas fazem no
aos relacionamentos das baladas dos trovadores, lume de grandes fogueiras que se acendem nos
de maneira que eles formam um casal de equi- festivais de colheita do milho. Muitas destas
líbrio. festividades são importantes como símbolos
da fartura e da hospitalidade, sendo um mo-
Eclipses Solares e lunares têm um lugar muito mento para a acolhida de um novo aldeão em
especial dentro da cultura geral. O fenômeno é uma comunidade, algo muito incomum em um
carregado de imensa superstição. Existem rela- mundo permeado pelo isolamento. Os povos
arraigados à terra consideram este um momen-
tos antiquíssimos de verdadeiras guerras civis
to importante para acolher um estrangeiro, já
ocorrendo no momento em que o dia tornou-
que o solo precisará ser arado para um novo
-se noite, trazendo o caos às comunidades que plantio. Ocorre que vez por outra aproveita-se
acreditavam no fim do mundo. Estes fatos isola- dessa “renovação dos solos” e das fogueiras ri-
dos servem para fomentar as teorias do secto tuais para a promoção de penas capitais, ainda
de Lazlo de que os homens são tão selvagens que não sejam legitimadas pelas castelanias.
quantos os próprios Selvagens, quando se veem Muitos são os relatos de pessoas e por vezes fa-
mílias inteiras que simplesmente desaparecem
confrontados com uma verdade aterradora e
durante estes festejos...
um destino do qual não podem fugir. Algumas
vezes surgem profetas que tentam convencer
o povo de que um destes momentos se aproxi-
se tornado um pouco mais cuidadoso, coorde-
ma, mas normalmente eles são tomados pela
nado e meticuloso. Em alto mar, o céu é o único
igreja e trancafiados para que sua loucura não
bom guia que um marinheiro pode ter e certos
contagie os inocentes.
pontos brilhantes ajudam-nos a encontrar o ca-
O Brilho do Céu Noturno minho para o seu destino. Seguem abaixo as
Depois de muitos anos em observação cala- principais constelações a trazer significado para
da, os homens de Belregard puderam perceber a população, além de certos fenômenos inexpli-
certas permanências no céu noturno. Estrelas e cáveis que trazem mais medo que conforto:
constelações foram recebendo nomes na medi-
da em que se tornavam frequentes no imaginá-
O Círculo
rio da população. Recentemente, com os avan- Brilhando sobre as cabeças dos habitantes de
ços marítimos de Varning, o estudo do céu tem Belregard, existe um círculo formado por seis

b 107 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
so do Criador para que os homens parem de ten-
a tar ser aquilo que não são. Apesar da ascensão
Ela Se Move da humanidade, nenhum homem jamais será a
estrela mais brilhante, o próprio Pai.
Aqueles que se dedicam a olhar os céus de Bel-
regard já notaram: a sombra se movimenta pe- A Sombra
los céus. Alguns já tentaram identificar o que
Seria estranho afirmar que as pessoas po-
isto significa. Dizem que os strigori conseguem
dem ver uma sombra durante a noite, mas o que
prever os acontecimentos analisando o movi-
acontece é um fenômeno extremamente estra-
mento desta sombra no céu, este manto negro
nho, que traz o medo àqueles que acreditam nos
que está sempre em movimento. Mas o que
sinais do céu. Algumas vezes as mais populares
poucos sabem é que há alguns dias nos quais
constelações e estrelas isoladas simplesmente
a sombra não é vista nas noite de Belregard.
desaparecem do firmamento. Elas não brilham
Nestes dias, a noite apresenta todas as estrelas
por dias e dias, até que finalmente retornam.
no céu, mas a alvorada possui manchas escuras
Alguns curiosos já perceberam um “rastro”
bloqueando a luz do sol, como se a sombra ten-
de estrelas que vão sumindo e desaparecendo,
tasse adentrar o dia. Este fenômeno é chama-
como se um imenso manto negro as cobrisse.
do de aurora negra e costumava ser bem raro.
Ninguém pode afirmar o que é aquilo, mas o
Alguns consideravam-no auspícios de maus
medo fica presente nos corações de campone-
tempos, colheitas ruins. Porém, os sábios La-
ses e nobres, quando percebem a ausência da-
zlitas e observadores dos céus notaram que a
quele brilho no céu.
frequência das auroras negras tem aumentado
a cada ano. O que isto significa? Os incultos já Neschek
consideram isto um sinal do fim dos tempos…
Esta constelação foi nomeada por Helish, o
Puro, que simplesmente deixou de existir quando
a encarnação viva do Criador partiu, é apontada
estrelas brilhantes. Este cinturão é visto como como um sinal de pleno mau presságio. Tendo
um bom presságio, já que representa a união a forma de uma serpente peçonhenta, Neschek
dos homens na solidariedade para compartilhar habita o imaginário dos homens de Belregard
suas vitórias e derrotas. Nos tempos em que se como uma força que envenena e sufoca aqueles
vive hoje, com a guerra batendo à porta de to- que vacilam na fé. Muitas vezes relacionada aos
das as castelanias, aqueles mais temerosos re- Selvagens, esta serpente já serviu para acusar
zam para que as lideranças olhem para o céu grupos hereges de adoração ao mal encarnado
e aprendam a lição de humildade que o Único da Sombra e assim motivar verdadeiras caçadas
deixou naquele imenso tapete escuro. aos pecadores. Verdade ou não, nos dias em
que Neschek brilha forte no céu, os homens de
A Coroa bem trancam suas portas.
Uma clara referência ao símbolo máximo do
O Clima
Criador, este conjunto de estrelas não se fecha,
como o círculo, mas brilha em quatro pontos Belregard é uma terra que conta com estações
encimados por um único maior entre eles. Para do ano bem delimitadas, que costumam ocorrer
aqueles que temem o futuro, este é um novo avi- em ciclos constantes, ditando os ritmos da vida.

b 108 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DO MUNDO NATURAL b
No norte de Belregard, que vai dos ermos até o seus pântanos.
encontro de Rastov com Viha, o clima é severo
durante boa parte do ano, com nevascas fortes A parte central do continente, formada por

nos meses frios e verões curtos, quando a vida Virka, Parlouma, Vlakir, Latza e Birman, possui

luta para florescer. Em Viha e na porção mais um clima seco, com verões quentes. Por fim, o

sul de Rastov, o tempo é úmido e chuvas são pedaço sudoeste, com Braden e Belghor, é tam-

constantes em boa parte do ano, mantendo os bém seco, mais agreste, com chuvas ocasionais

pântanos e charnecas alimentados. O território e tempestades de raios. O esquema, rabiscado

centro-oeste, que engloba Dalanor e Varning, por meus dedos débeis, dará cabo de demonstrar

possui estações bem distintas, com raros inver- estas variações:

nos frios em que a neve cai, mas verões caloren-


tos. Varnind, em sua porção leste, apresenta um
clima mais abafado, com chuvas frequentes em

b 109 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Podemos traçar um perfil da fauna e flora Região Noroeste
destas regiões, segundo tudo que foi colhido (Viha e Antiga Igslav)
pelos vassalos deste Enviado.
Ainda compartilhando grande similaridade
com a área norte, o clima que engloba Viha e
Região Norte (Rastov e os Ermos)
a antiga Igslav é de verões mais quentes, mas
Ao norte, desde o paredão montanhoso dos invernos com a mesma neve de Rastov. É uma
Ermos até as planícies abaixo destes, na área cen- região de névoa, charcos e pântanos. As árvo-
tral de Rastov especialmente, temos a taiga com
res são sorveira, carvalho e coníferas (abetos,
extensos bosques de pinhos, abetos, larício, frei-
pinheiros e araucárias também). O território é
xos, álamos tembladores e bétulas. Apresentando
pontilhado de bosques e florestas. As florestas
uma fauna rica e variada com o urso, o lince, o
são mais marcantes nas Terras Altas do leste.
lobo, a marta, a raposa comum e a cibelina como
Em outros lugares, a vegetação é a típica de
máximos representantes, junto a um inacreditá-
charnecas e pântanos, composta de urze, sa-
vel leque de espécies de aves. Mais ao norte, na
mambaias, musgos e gramíneas. Há formações
zona ocupada pelos Ermos, a taiga dá lugar à tun-
de mangues mais ao sul e sudeste, mas são raros
dra com seus permanentes gelos, nos quais o solo
em comparação com toda a região. A fauna é
pode crescer, quando o verão está em seu apo-
muito rica com cervos, veados, lontras, armi-
geu, em forma de musgos, líquens e árvores anãs,
nhos, martas e pumas, além dos lobos comuns
como as bétulas. Nas margens são vistos leões
por toda Belregard. Caranguejos e siris abundam
marinhos e pinguins, para além das temíveis ba-
nas costas e mangues. Nas charnecas há aves de
leias. Toda a costa oeste possui atividades de caça
rapina de grande porte como águias-pescadoras
à baleia para obtenção de óleo e peles. A carne
e condores. Os lagos são abundantes de salmão,
de bestas do gelo como morsas é por demais
atum e truta.
rançosa, mas apreciada pelos povos do norte. No
inverno as temperaturas extremas tornam muito
Região Centro-Oeste
difícil a sobrevivência que, sem dúvida, conse-
(Dalanor e Varning)
guem resistir alguns roedores como o lêmingue,
a lebre polar, a raposa cibelina, o glotão, algumas Contando com um clima temperado, de chuvas

aves e animais domesticáveis como a rena. Como e possibilidade de neve no inverno, e verões que
animais de tração, para o abate e também para podem ser verdadeiramente quentes, apresenta
fornecer lenha, são utilizadas lhamas e guanacos, uma flora muito semelhante a de Viha em sua
comuns em todo território montanhoso. Ao sul porção oeste, mas com grupos de árvores muito
da taiga encontramos as terras negras. É a zona maiores em suas vastas florestas — além dos
mais fértil, pois embora os invernos continuem carvalhos, as sequoias gigantes e mangueiras fi-
sendo duros, os verões são mais quentes, com guram lado a lado em seus tamanhos estontean-
frequentes precipitações. É uma zona de cereais tes. Existem ainda os impressionantes cajueiros
e de espécies herbáceas e halófilas. Apesar de ser que facilmente enganam o viajante, que é levado
uma de difícil cultivo, as araucárias das franjas a crer que se tratam de inúmeras árvores quan-
mais quentes proveem pinhas que são utilizadas do, na verdade, é apenas uma que pode cobrir
para toda sorte de pratos e bebidas. Os dias são quilômetros de distância. A regiãoPossui uma
longos no verão e curtos no inverno. Nestas ter- fauna variada com muitos animais que figuram
ras, ter as roupas molhadas é saber que o vento nas mesas de banquetes reais, como os patos
frio causará uma dor cortante. selvagens, a queixada, a lebre, o faisão, o perdiz,

b 110 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DO MUNDO NATURAL b
as codornas, o venison dos veados e cervos, sas. Na porção sul pode-se encontrar também a
além, claro, de alguns predadores como os lobos lótus e o papiro, este muito utilizado para regis-
e felinos espreitadores das sombras das árvores, trar os mais antigos textos dos homens em seu
como as temidas onças. Na porção que corres- processo de secura. Ao sul, dentro de Belghor,
ponde a Varning, as árvores são mais baixas e, o solo fica menos pedregoso, já que o rio Nurit
pelo longo rio, toda a área torna-se mais panta- corta todo o território, trazendo uma terra mais
nosa, com brejos e mangues. A fauna mantém- fértil. A variedade da fauna fica por conta das
-se semelhante, com predadores dos charcos, manadas de búfalos, urubus e gazelas nas sa-
como crocodilos, jacarés e as temidas serpentes vanas comuns entre Braden e Belghor. Existem
de muitos metros de comprimento. ainda os pequenos fenecos, as hienas, os chacais,
os javalis e os mangustos. O rio Nurit também é
Região Centro-Leste ocupado por crocodilos, enguias e peixes-boi e
(Virka, Parlouma, Latza, Vlakir e Birman) fala-se de feras ainda maiores nos recantos mais
Com seus invernos frios e úmidos e verões escondidos da castelania.
quentes e secos, toda a região demarcada por
esse tipo de clima apresenta uma grande di-
versidade de vida. Além da enorme quantidade a
de insetos, há diversas espécies de vertebrados
O Clima de Belregard
como pacas e cotias, corvos, corujas, falcões,
águias, coelhos, lebres, lobos, raposas, linces, É importante perceber o esquema da divisão
veados, javalis, lagartos, cobras, além da imensa climática em todo o continente. Apesar de ser
variedade de peixes dos grandes lagos gêmeos. um território vasto, Belregard compartilha das
Nas florestas, que são mais comuns na área de estações dos ermos do norte ao fim de Belghor.
Latza e Virka, sob as sombras das montanhas Por mais que existam noções de norte e sul,
que cercam Belregard, encontram-se sobreiro, Belregard funciona com uma estranha divisão
jambeiro, medronheiro, ipê-amarelo, cedro, car- climática. Territórios próximos não comparti-
valho, cipreste, amendoeira, azinheira, oliveira- lham o tempo, podendo ser inclusive opostos.
-brava, pinheiros, cactus, loureiro, urze, rosma- Enquanto Viha, por exemplo, é marcada por
ninho, alecrim, timo, zimbro, alfazema, piteira, estepes frias e neve em parte do ano, Dala-
giesta espinhosa, dentre outras. Nas demais nor, ao lado, experimenta uma brisa fresca e
regiões, os bosques são esparsos e pontilhados praticamente perpétua. Para os habitantes de
pelas planícies longínquas de Parlouma ou pelos Belregard, esse comportamento climático não
pântanos que separam Birman de Latza. é estranho, pelo simples fato de não conhece-
rem outro lugar para comparar. O motivo desta
Região Sudeste (Braden e Belghor)
divisão pode estar relacionado à organização
O terreno de Braden é quente e seco, apresen- que o próprio Criador deu ao mundo. Assim
tando invernos chuvosos que costumam arruinar sendo, o narrador pode optar por nuances cli-
as estradas de pavimento irregular deixadas pelo máticas nos limites destes bolsões, como um
império. O terreno da porção norte desta área cli- clima quente e úmido entre Parlouma e Braden.
mática é rochoso, com poucos bosques de árvo-
res de tronco fino e alto como o eucalipto, além
do olmo, acácias, pequizeiros, cajazeiros e mimo-

b 111 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
a
Fauna e Flora Fantásticas

O narrador deve ter em mente que Belregard ainda é um mundo de fantasia, por mais que tenham o dei-
xado com esse toque de uma verossimilhança palpável. Isso significa que você, contador de histórias, tem
a liberdade para criar elementos novos. Você DEVE fazer isso! Então não se acanhe em fazer árvores,
plantas, ervas e animais diferentes, com um toque de fantasia maior. Não é preciso ir muito longe, se te
faltam ideias, apresentamos alguns exemplos disso nas castelanias, mas você pode se inspirar em animais
pré-históricos para criar essa fauna bizarra, como mamutes nos Ermos do Norte e algum Kaprosuchus
saharicus em pântanos e na beira de lagos por Belregard — afinal, um “crocodilo galopante” colocaria
muito terror em qualquer personagem.

Das Áreas Livres Grandes felinos, como tigres brancos e linces,


disputam território com os lobos, na busca pela
Existem áreas em Belregard que não fazem
caça. Algumas montanhas dos Ermos são re-
parte direta de um ou outro território: são lo-
conhecidas pelos homens de Rastov como os
cais de limite, zonas de transição, por isso são
Dedos dos Deuses, acidentados com um pinácu-
apresentados antes neste tratado. As áreas mon-
lo pontiagudo como um dedo apontando para o
tanhosas, florestais, que fazem parte de terri-
céu. Os vogos, nativos dos ermos em sua plura-
tórios serão apresentados posteriormente, com
lidade de clãs, contam que no passado remoto
focos locais.
a região era uma vasta planície e foi escolhida
pelos gigantes como local de seu descanso.
As montanhas representam dualidade para
Como eram seres colossais de forte ligação com
o homem. Elas são barreiras — protegem, mas
a terra, deitaram-se para morrer e seus corpos
também oprimem. São o palco de histórias ter-
se tornaram as montanhas. Acredita-se que o
ríveis, lar de bestas inomináveis, mas também
grande paredão rochoso que separa os Ermos
são reduto de grandes sábios, que se isolam em
de Rastov, conhecido como Coluna de Balmung,
cavernas e picos para retornar ao convívio com
seja a espinha dorsal do maior dos gigantes, se-
a sabedoria de Deus, ou com a loucura dos he- nhor de todos estes e último a cair. Como um
reges. Belregard é uma terra marcada por gran- braço, um tributo da Coluna de Balmung, esten-
des cadeias montanhosas em todo seu perfil dendo-se por todo o norte de Belregard, cercan-
norte, dos ermos extremos até o abraço sombrio do a antiga Igslav, passando por Virka, Latza e
do véu em torno de Belghor. começando a se fragmentar em Birman, existe
a Muralha Norte. A porção central de Belregard
Ao norte de Belregard se estendem quilôme-
é ocupada apenas pelo Vale de Virka, no que
tros de picos nevados dos Ermos do Norte. Ainda diz respeito a grandes formações montanhosas.
hoje aquela região não foi completamente ma- Os paredões que cercam o vale deram a certeza
peada, mas sabe-se ser marcada por vales pro- de se tratar de um lugar abençoado quando os
fundos, florestas, bosques e lagos que ficam con- primeiros homens saíram de Belghor e encontra-
gelados durante a maior parte do ano. Habitada ram refúgio em seu interior verdejante e fresco.
por uma fauna selvagem de grandes predadores, Estas montanhas já foram a principal fonte de
é um ambiente hostil, feroz, que mantém sob pedras para as fortalezas do império e acredita-
suas sombras apenas os mais atrozes dos seres. -se que ainda sejam férteis de metais preciosos.
b 112 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DO MUNDO NATURAL b
Como última área de destaque do norte po-
a demos citar a vastidão da Planície de Ig, antigo
A Fonte do Medo lar dos igslavos. Ocupando as sombras das mon-
tanhas de Virka e da Muralha Norte, a planície
Não, eles não vão normalmente aos ermos. As de Ig é uma vastidão de campos planos ainda
zonas de transição, os espaços de circulação e, mais longos que os prados de Parlouma. Um lo-
sobretudo, as terras mais afastadas nutrem to- cal pontilhado por clãs de vihs e igslavos com
das as supertições que arrepiam as mais puras fortalezas abandonadas do império. É a área de-
almas dos castos habitantes de Belregard. Mas sejada por Viha, mas também lugar de assom-
não pense que na mata ou em fendas nas mon- bro, onde contam-se histórias sobre as imensas
tanhas não se abrigam grupos isolados, bando- serpentes que fazem seus caminhos debaixo da
leiros ou até bestas quase nunca vistas. Alguns terra, formando trilhas que passam umas por
dirão que isso é apenas fruto das mentes de- dentro das outras, numa configuração impossí-
bilitadas pelas parcas rações que um campo- vel para a nossa compreensão.
nês dispõe. Mas não é incomum topar com
ossadas nas estradas…

a
O Veio Sangrento dos Gigantes
Da mesma forma que as montanhas, as flores-
tas de Belregard representam perigo e seguran- Por mais que os homens santos queiram des-
ça. São lugares que inspiram o medo enquanto
mentir as lendas vogas sobre gigantes mortos,
são o refúgio dos excluídos, lar de bandidos e
encarar um bárbaro com mais de dois metros
dos degenerados que infestam matas, bosques,
e meio de altura faz com que a certeza vaci-
vivendo suas vidas desesperadas longe do alen-
le. Muitos clãs vogos alegam ter o sangue
to da fé. As florestas de destaque dentro dos
dos gigantes correndo em suas veias, mas al-
territórios costumam receber seus nomes por
guns relatos apresentam uma ideia diferente.
algum acontecimento ou característica marcan-
te, mas sem sombra de dúvidas são as florestas Dizem que no interior de certas montanhas

dalanas que mais ocupam o imaginário, com existem veios de sangue ainda correntes e

suas árvores altivas e impressionantes. Ainda crianças vogas com idade entre os sete e dez

assim, é ao norte que fica a área mais assom- anos devem adentrar cavernas e salões escu-
brosa, a Taiga Branca entre Viha e Rastov. Uma ros em busca destes veios, superar suas ad-
barreira natural que tira a vida de mercadores e versidades e beber do sangue. Relatam que
viajantes até os dias de hoje, por mais que es- as crianças que sobrevivem ao rito de passa-
tradas tenham sido construídas. O frio no inte- gem apresentam um crescimento muito mais
rior da floresta pode fazer o sangue congelar acelerado que as demais.
e, ainda assim, algumas delas ainda dão frutos
azulados durante todo o ano. É um lugar de len-
das sombrias, lar de Baba Golod, a Mãe Famin-
ta que devora as crianças que caminham para
longe de suas casas.

b 113 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Lagarto Escaldado A vida só consegue fluir onde correm rios
2 partes de óleo de coco e nascem os lagos. Belregard conta com gran-
7 cebolas grandes
Açúcar mascavo
des porções de água doce, mas apenas três dos
a
maiores lagos são mostrados nos mapas dis-
Coentro fresco poníveis. O lago Narash entre Viha, Rastov e o Ruína nos Mares
Pimenta Belgha antigo território de Igslav, e os Lagos Gêmeos
Barriga de lagarto-que-cavalga de Vlakir. Existe um número imenso de outros
Muitos exploradores tentaram seguir os passos
de Varis para explorar o arquipélago, mas não
lagos e rios espalhados por Belregard, mas seu
Modo de Fazer uso se destaca em Varning, que aprendeu desde
tiveram sucesso. Não é improvável que os es-
Frite a cebola no óleo, adicione cedo a correr por suas águas para fazer valer
critos do explorador sejam falsos, forjados por
a barriga de lagarto inteira e o comércio. O mar também mostra seus misté-
homens que supostamente os encontraram, ou
cubra com uma camada grossa de rios, especialmente no norte de Belregard, no
que tenham sido alterados para parecer mais
coentro picado. Escalde e sirva Arquipélago de Varis. Como a costa norte do
agradáveis quando, na verdade, as ilhas são
acompanhado de inhame. continente é de falésias e penhascos, fica im-
abandonadas e desinteressantes. Para outros, a
verdade escondida é a de que o filho de Dálan,
possível a fundação de um porto para mandar
Há quem diga que barcos até o conjunto de ilhas. Ele figurou nos
primeiro rei de Dalanor, dorme lá com seus
lagartos-que-cavalgam estão mapas mais antigos no ano 980 DA, quando o
espíritos guardiões, embalado pelas gloriosas
sendo criados em cativeiro. navegador Varis, de Varning, correu toda a costa
canções do passado.
Porém, é um engano pensar isso, de Belregard, mostrando os contornos do conti-
tamanha a bravura desta besta. nente pelos ermos e finalmente o arquipélago.
Há quem diga, inclusive, que um Varis nunca retornou de sua viagem, mas seus
Lagarto de Varning cativo causa escritos, milagrosamente preservados, chega-
impotência e frigidez se ingerido. ram até a costa e o pouco que contam falam de
ilhas de maravilhas, um paraíso na terra.

Gravura estilo bertina de


Motazzi mostrando caçadores
(ou iscas) de Varning cercando
um lagarto-que-cavalga.

b 114 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DO MUNDO NATURAL b
Existem ainda os mistérios do extremo sul.
a Depois do Vale de Nessir em Belghor, com seus
Os Sorridentes Senhores Selvagens paredões rochosos, encontra-se uma passagem
que sobe para sair do vale, abrindo-se em um
A verdade é que os belghos ficaram apavorados terreno quente, de verde exuberante. Ladeando
com os áyas. Os guerreiros selvagens desde- a passagem estão estátuas colossais de criatu-
nham das armaduras e se lançam ao combate ras humanoides com faces animais, ou de cor-
com lanças de madeira e pontas de sílex, escu- pos selvagens e eloquentes rostos misteriosos.
dos ovais de corpo inteiro feitos de couro duro Para a maioria, trata-se de uma prova da presen-
curtido. Seus corpos altos e esguios escondem ça selvagem daquele lado e por isso o espaço é
músculos poderosos, mas o verdadeiro terror evitado. Ainda assim, alguns grupos de Cães de

vem na face. Todo guerreiro passa por um ritual Belghor já atravessaram o caminho e passaram
pelo jugo daqueles olhares petrificados para ex-
de mortificação da carne em sua boca, quando
plorar. É sabido que existem povos nas selvas,
o lábio superior é cortado e alguns dentes são
mas estes são extremamente reclusos e hostis.
serrilhados, o que lhes dá um eterno aspecto
Os belghos chamaram aquela área de Selva de
zombeteiro e risonho. Os Cães de Belghor que
Áya, referindo-se aos nativos por este nome.
exploraram o sul e sobreviveram contaram com
Como eles não migram para o norte, Belghor
terror o pesadelo que foi combater aqueles ho-
prefere deixá-los em paz.
mens que riam como hienas num total regozijo
em meio à matança. O que segue, meu bom Eleito, é um apanhado
das castelanias, focado em questões políticas,
mas ressaltando também aquilo que tais terras
podem ter de relevante para o teu conhecimento,
pela glória do filho mais querido do Criador.

Vossa Santidade não deve se enganar com a suposta organização


tomo. Ele foi escrito para apresentar apenas as principais estrutu apresentada neste
econômicas de cada castelania. Mesmo o comércio aqui apresentado, ras sociais, políticas e
tão organizado, é uma
mera projeção ideal da possibilidade.
O isolamento é real. Nosso povo sente o abandono e esse é mais
luz da fé envolva a todos e remova a treva desse tempoumsommotbriivoo. para que a

b 115 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b

Belghor
“Vinde ao Pai”

Capital Apenas um belgho puro, um verum, preferen-


Melechit, “A Morada do Rei”. cialmente descendente que quem já viveu no
vale no período de domínio sombrio pode as-
Poder sumir altos cargos, como o de Orador.
Malik II, O Filho do Rei, Senhor da Terra dos Ho-
mens, Protetor da Memória do Criador, Rei População
de Belghor e Duque de Melechit. Malik é Majoritariamente formada por belghos, com
nosso
um homem austero e taciturno. É casado com um grande número de parlos. Apesar de possuí-
Percebo aqui um amor de ghor.
Abella, uma filha da nobreza local, com ligações rem seus próprios traços, costumes e caracterís-
enviado pelo rei de Bel r-
ce
diretas nas ricas minas de Charon. Malik teve ticas, as etnias sofrem uma certa influência
Talvez o Eleito devesse ores.
pouco contato com o pai e foi criado quase que do lugar onde vivem, da cultura compartilhada
car-se de homens melh
integralmente pelo orador Priscus, que guiou o em uma determinada castelania. Em Belghor, os
rapaz numa doutrina religiosa severa, criando belghos representam o modelo exemplar de ado-
uma mente extremamente devotada e penitente. ração melancólica e fanática, com seus cultos de
Apesar da riqueza, Malik sempre se apresenta mortificação da carne e condenação do riso em
em trajes simples e gosta de caminhar descalço praticamente todas as instâncias da vida. Desse
pelas ruas da cidade. modo, as demais etnias que vivem em Belghor
costumam ter o lado religioso mais exacerbado,
Adoração especialmente nessa visão pessimista e pesada
Só existe um Deus, o Único. Os belghos da fé, na qual os homens devem viver em luto,
são ligados a textos antigos que muitos do culpados pelo sacrifício do Pai para mostrar aos
Tribunal têm como apócrifos, sendo alguns povos livres onde se escondia o inimigo, a Som-
deles escritos na Fala Negra de Belghor. Na bra Viva.
castelania, os belghos são ligados às antigas
leis que impunham dor, sofrimento e priva-
ção aos adoradores do Único. Aceita-se a au- Não, não é correto falar sobre palavras que
toridade do Tribunal do Supremo Ofício, mas
defende-se a ideia de que a sede da igreja seja
alimentam a corrupção da alma
em Belghor, não em Birman. As atividades de dos mais puros.
pessoas de fora do vale são limitadas.

b 117 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Símbolo/Cor concordam com o isolacionismo de Belghor,
Plumas acinzentadas adornam as bordas do mas outros desejam participar de uma política
escudo vinho escuro listrado em negro. Ao cen- maior e, assim, têm tentado influenciar o rei
tro do estandarte, encontra-se o punho negro de quanto aos acordos comerciais que poderiam
aço belgho, com quatro espinhos marcando as ser abertos.
quatro gerações dos Bövrar que reinaram sobre
Belghor. Atualmente, os espinhos fazem referên-
cia aos calvários do Criador. Sabe-se dentro dos a
dogmas que o criador passou por três marcas, Fauna e Flora Fantásticas
da alma, do ego e da carne, mas os verum de
Aquilo que se destaca na natureza
Belghor alegam a existência de uma última mar-
particular de Belghor
ca, a do renascimento.

A Lótus Negra: Esta rara flor de beleza espe-


O Passado
tacular, que se abre apenas em noites sem lua,
Belghor foi terra de início e de fim. Berço das
Crianças Cinzentas, dos belghos que espalha- emitindo um brilho sutil arroxeado, encerra um

ram a palavra do Criador, mas também terra dos mais poderosos venenos do mundo. Geral-

do julgo profano, onde a Sombra colocou o mente brota apenas em locais de natureza mor-
sangue dos Bövrar para reinar. No período de ta, onde nem os animais carniceiros perambu-
governo desta dinastia bövrariana, os povos lam. O chá feito a partir desta flor é capaz de
livres do vale foram escravizados e usados matar quem o bebe, e mesmo seu aroma, doce
como mão de obra ou transformados em solda- num primeiro momento, pode causar enjoos
dos de mente ocupada pelo desejo da Sombra. depois de algum tempo.
Os registros deste período foram perdidos na
conquista de Belghor. Durante o período impe- Lâminis: Um felino de corpo grande e pesado,
rial, Belghor foi governada por um arquiduque com imensa força nas patas dianteiras e om-
e serviu de moradia ao imperador durante o bros largos capazes de carregar um homem.
inverno até ser substituída por Dalanor. O últi- Sua pelagem cor de ouro sujo lhe permite es-
mo arquiduque, Malik, tornou-se rei de Belghor conder-se nos campos queimados de Belghor
com a queda do império. e atocaiar suas presas com grande eficiência.
Mas o que chama a atenção em seu aspecto
O Presente
são as imensas presas superiores que brotam
Devido ao isolamento natural de Belghor
de sua boca, como duas lâminas de sabre. O
com o restante do continente, Malik II, filho
couro desta besta é muito valorizado para a
do primeiro rei, não tem grande interesse
confecção de roupas pela sua cor incomum.
em manter relações com os demais reinados de
Além do mais, as presas do Lâminis são verda-
Belregard. O monarca julga que sua castelania
deiramente mortais, e podem ser usadas como
é autossuficiente e, com o povo sendo respeita-
punhais eficientes.
do e vivendo para produzir, ele não precisa te-
mer problemas imediatos. O que preocupa Ma-
lik II é a nobreza de sua terra. Alguns nobres

b 118 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Relações e Comércio Charon
A metalurgia é forte em Belghor e seu me- (Aprox. 5.000 habitantes)
tal negro adorna boa parte das fortalezas que Este é o antro do poder militar de Belghor.
se mantiveram de pé depois da Conquista. A
Para cada camponês existe também um soldado.
arte sacra feita em pedra e bronze é valoriza-
Aqui estão as minas de metal, fonte da principal
da e popular. Pelo apego arraigado dos belghos
renda da castelania. Os soldados de Cha-
em sua fé, a arte sacra de Belghor costuma ser
ron estão sempre atentos, seus olhos protegem
vista com grande reverência em todos os can-
o paredão de pedra, sempre vigilantes nas in-
tos de Belregard, mesmo que costume invocar
contáveis montanhas, lar dos pagãos. Patrono
imagens da dor e do sofrimento experimenta-
dos pelo Criador. Os belghos condenam o uso Local: Duque Mordecai, O Imparável, iniciou

destas imagens, mas se aproveitam do apego sua vida na nobreza como um barão que reuniu
das demais etnias. O comércio interno ainda soldados para fortalecer o Forte das Testemu-
faz uso de moedas imperiais e pouco a pouco nhas três décadas atrás. Hoje, ele guia centenas
a cunhagem tem sido modificada para exibir os de soldados protegendo o coração de Belghor.
símbolos do rei, sendo o cajado de cobre a mais
comum, seguido pelo báculo de prata e o punho a
de ouro, extremamente raro e normalmente usa-
O Rio das Almas
do em negociações entre casas nobres. As rela-
ções de Belghor estão limitadas a Braden, num As escavações em Charon são antigas e mui-
primeiro momento. tos dos velhos túneis estão abandonados, iso-
lados ou desmoronaram com o tempo. É dito
Devido ao caos dominante na castelania nor-
que o povo de Charon já cavou mais fundo do
te, alguns barões e cavaleiros independentes
que deveria, encontrando um misterioso rio
tentam se aliar ao rei Malik II, acreditando que
subterrâneo que pode fazer parte do rio Nurit,
ele é uma melhor escolha que Birman, que tam-
mas que é assombrado pelas almas de garim-
bém tenta uma aproximação de Belghor, mas
peiros abandonados no interior da terra. Nin-
questões de orgulho religioso atrapalham uma
guém sabe exatamente o caminho para o rio,
maior aproximação. Malik II procura se apro-
mas ao longo da história foram registrados
ximar de Parlouma para evitar os conflitos ao
momentos em que tal local foi encontrado e
norte, mas ainda é preciso encontrar uma passa-
os relatos falam sobre um estranho barqueiro
gem, ou criar uma. Belghor não espera ser desa-
que por lá vaga em seu pequeno barco, ilumi-
fiada em uma guerra, já que conta com uma boa
nando o caminho com um lampião de cobre
fonte mineral e um bom número de fortalezas.
e vela na proa. Ele cobre todo o seu corpo e
É uma castelania que conseguiu manter união e
usa uma longa vara para navegar. Aqueles que
parece apontar para o futuro.
viajaram com o barqueiro dizem que ele cobra
duas moedas, de qualquer valor, para arranjar
Assentamentos
um encontro com os mortos. Um dos relatos,
Belghor se divide em 4 regiões principais, os
ainda em algum livro da igreja em Melechit,
ducados conquistados pelos Juízes desde a con-
identifica a misteriosa figura como Charon, o
solidação do reino.
mesmo nome da cidade.

b 119 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Melechit
a (Aprox. 15.000 habitantes)
O Isolamento em Belghor A gigantesca capital é tão grande e tão forte-
mente guarnecida que seria preciso uma nova
O antigo berço dos homens conseguiu man-
marcha de conquista sob a união de todos os
ter-se coeso depois da queda de Virka. Belghor homens para tomá-la. O local possui enormes
continua com o poder centralizado nas mãos de prédios de basalto negro que demonstram
Malik II e seus duques. No entanto, a ordem que seu explendor antes da queda do império. Ao
se percebe nas principais cidades da castelania lado da colossal acrópole, reúnem-se milhares
não deve servir de engano para os recantos mais de construções de pedra e madeira que abri-
gam a população de camponeses. Melechit
isolados deste território. Em aldeias, vilas, po-
consegue forçar a civilidade através de um lo-
voados e mesmo assentamentos maiores de
cal tomado por trevas. Possui ainda fornalhas
barões e condes, o isolamento se faz sentir no
subterrâneas na Fortaleza do Conquistador,
assédio constante daqueles que discordam da onde o primeiro imperador forjou sua coroa.
atual postura religiosa dentro de Belghor. Para Patrono Local: Malik II, O Filho do Rei.
muitos, o verdadeiro caminho era o da Sombra, Rege com punho de ferro, mantendo um con-
era o da dinastia em poder antes da chegada trole rígido de seus duques.
dos Vlakin, a dos Bövrar. Existe ainda o culto
Orlit
dos adoradores de Kupala, o demônio que vive
(Aprox. 1.000 habitantes)
adormecido sob as montanhas do Véu Noturno.
Fora esta questão interna, existe o isolamento Há alguns dias à cavalo das minas de ferro
de Charon, encontra-se o assentamento que é
externo. A única saída conhecida de Belghor leva
destino das caravanas de metal para venda ou
para o território de Braden, que tem passado por
troca. Sua principal função é tirar os olhos de
sérios problemas e conflitos internos, tornando
comerciantes e invasores da capital e das mi-
uma viagem de passagem, ou comercial, extre- nas, negociando em um campo mais neutro.
mamente perigosa. Não descrevemos aqui a mo- Patrono Local: Duque Miron, descendente de
rada dos “selvagens” nas montanhas, deixando uma linhagem de escravagistas e torturadores
esse perigo imprevisível de uso do narrador. de selvagens. Seus métodos são frios e ele man-
tém o local sob pulso firme.

Gidar Forças Militares


Organizados em Falanges, os Belghos divi-
(Aprox. 2.000 habitantes)
dem seus homens assim como o Único um dia
Nascida sobre as ruínas de uma antiga cida-
organizou seus seres de luz nos exércitos divinos.
de que, dizem, já era arruinada no tempo das
Crianças Cinzentas, os pescadores e agriculto- Zayin, “A Espada”
res retiram da terra o que precisam. Gidar nunca (250 lanceiros e 80 cavaleiros)
viu uma guerra e pretende continuar assim.
Patrono Local: Duquesa Nessa, A Milagrosa, as- Assentada na capital, a Espada age com pres-
sumiu o ducado após anos de muita luta, provação teza. São disciplinados e instruídos nos escritos
e dificuldades. À mulher são creditados alguns mi- sacros, sendo cavaleiros-sacerdotes que seguem
lagres, o principal deles, sarar a grande praga que Belghor ao longo da história, tanto em seus tem-
se abateu sobre o Rio Nurit no último ano. pos de luz quanto de trevas.
b 120 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Gravura estilo bertina de
Motazzi mostrando a paisagem
agreste de Belghor.

Meginnag, “O Escudo” O Óbolo Negro


(430 lanceiros e 120 cavaleiros) (150 lanceiros e 50 cavaleiros)
Estão em Charon protegendo as monta- Homens que agem especialmente para a
nhas, mantendo o homem livre tranquilo en- proteção de Orlit, todos escolhidos a dedo
quanto os lobos uivam clamando a bestialidade pelo Duque Miron, que recebem uma moeda
dos selvagens. de metal enegrecido com a heráldica pessoal
do duque, mostrando que estão acima da lei e
Kidon, “A Lança” podem, sim, iniciar um processo inquisitório
(120 Lanceiros e 35 cavaleiros) sobre qualquer um.
Um cisma divide essa facção originalmente
Construções e Formações
com a função de proteger Gidar. Alguns acre-
ditam no milagre executado e veem a duquesa Montanhas do Véu Noturno
Nessa como uma santa, outros acreditam que é
Belghor fica no vale cercado por estas altas
obra negra e a veem igualmente enegrecida. A montanhas e, a despeito do clima quente local,
coisa tomou tamanha proporção que o Tribunal seus picos altíssimos ficam congelados durante
mandou seus cavaleiros para a cidade. o inverno, que traz fartura ao rio Nurit durante
os meses quentes, tornando as terras ao redor
Naal, “A Sandália”
de suas margens extremamente férteis. Recebe-
(60 cavaleiros)
ram esse nome nos tempos de Morovan, quan-
Estes soldados mendicantes viajam por do o profeta falou que os homens viviam numa
Belghor como verdadeiros paladinos e médicos eterna noite até encontrar o amanhecer glorioso
do povo. da fé no Criador.
b 121 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
fizeram para ele uma sepultura entre as monta-
a nhas ao norte da castelania. Esta tumba ainda é
Terror do Óbolo Negro procurada nos dias de hoje.

Há determinadas áreas de Belghor que possuem Rio Nurit


quase que uma legislação própria. O Óbolo Ne-
Trata-se de um rio de grande importância re-
gro funciona como um Estado paralelo, cobran-
ligiosa. Aqui ocorrem todos os batismos e sua
do taxas próprias às guildas de artesãos e talhas
água é milagrosa. As pinturas e textos dizem
e corveias aos produtores rurais. Há muitos que
que Alec, em sua visita à antiga Belghor, secou
ascendem socialmente por adentrarem no Óbo-
as águas do rio para encontrar um bebê que
lo, uma vez que a “escolha” do Duque Miron
fora jogado para morrer, fazendo encher nova-
possui critérios bem particulares: a valentia e
mente em seguida.
até a crueldade de mulheres e homens que não
hesitarão ao fazer escolhas duras. Basta ver as Forte das Testemunhas
iniciais “O.N.” grafadas nas paredes com cinzéis
O local é uma fortaleza natural, com penhas-
e armas improvisadas para saber que aquele
cos íngremes e terreno acidentado. Na parte
perímetro é controlado de forma tirânica pelo
leste, a face do penhasco se eleva 400 metros
Óbolo Negro. Há alguns boatos de que há inte-
acima da planície circundante. O acesso só é
resses próprios e conflitos internos nesta facção,
uma vez que não é incomum que algum membro
possível através de uma difícil trilha que serpen-

morra subitamente envenenado ou esquartejado


teia pela montanha. Quando o local foi toma-

enquanto dormia… do pela Sombra, este foi o único local que se


manteve puro de acordo com os vestígios. Os
grandes homens devotos sobem até o Forte em
jejum para buscar claridade de ideias.
Uma passagem estranha e A Pedra Angular
A Passagem
enigmática rondam esse lugar. Tido como local onde Morovan mostrou aos
Quando a Sombra avançou, homens as leis do Criador e iniciou o caminho Antes da Era da Conquista, uma passagem
forças humanas vieram aqui para fora do vale de Belghor. Localizada numa entre as montanhas a oeste de Belghor dava
para matar, pilhar e destruir. depressão entre rochas, próxima à entrada de caminho para que homens de coração negro
Dizem que os todos estavam uma profunda caverna, a pedra ainda se man- atacassem Parlouma. Esta passagem sempre
dispostos a morrer antes tém erguida, mas não tão reta quanto o nome fora protegida pelos servos da Sombra, mas
de se renderem às garras da sugere. Possui cerca de dois metros de altura e, acabou derrubada pelos esforços de um santo
Sombra. Então, os sacerdotes pelo menos, um metro de circunferência. Ao lon- do povo parlo, Ercole de Borgosa, que rompeu
mataram a todos, suicidando- go de sua superfície, estão antigos entalhes de o caminho ao derrubar os pilares que sustenta-
-se em seguida, carregando para significado perdido. A caverna tem suas paredes vam uma das cavernas. Malik II tem interesse
si todo o pego do homicídio e de entrada cobertas de pintura rupestre. em reencontrar este caminho, oficializando-o
danação de ceifar sua própria como rota comercial.
vida. Dizem que seus corpos A Tumba de Leoric
nunca foram encontrados, O Puro Leoric morreu sozinho na passagem
A Fortaleza de Xerigordon
foram levados para a morada do entre Braden e Belghor, mas acredita-se que os Foi a primeira fortaleza a ser tomada quando
Único para o descanso eterno. homens de coração negro, impressionados com Belghor foi invadida. Apesar de reconquistada,
a pureza, coragem e força daquele guerreiro, nunca se soube o que ocorreu com os homens
b 122 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
que adentraram seus salões mais profundos e
a A construção possui uma
não mais retornaram. Diversas vezes, tentou- maldade além do compreendido.
-se utilizá-la para fins de defesa, mas a tragédia Cavaleiros Mercantes em Belghor Suas entranhas emanam um
está relacionada a este local amaldiçoado.
Além das forças oficiais a serviço da nobreza,
veneno maligno que faz com
O Vale Nessir existem aqueles contratados por ricos comer-
minha alma queira danar-se
ciantes para lutar. A cavalaria mercante não
para não precisar encará-la.
No extremo sul de Belghor, conforme as mon-
é forte em Belghor, como o é em Varning e
Se a Sombra um dia fez
tanhas vão fechando o seu abraço ao redor do
isso se explica pela relação das casas mer-
morada na terra, ela com
vale, é possível ver estranhas construções. O
cantes com a aristocracia. Ricos mercadores de
certeza escolheu esse antro
que um dia pode ter sido um imenso portão de
Belghor ainda precisam ter relações com a
como seu refúgio em algum
pedra escurecida, agora jaz tombado, revelando momento.
nobreza para atuar livremente pela castelania
um declive acentuado do terreno até terras mais
e isso limita os poderes expansivos das casas
quentes, onde uma mata verde e viva se contras-
mercantes, situação que só parece capaz de mu-
ta com o cinza de Belghor. Ladeando esta monu-
dar quando uma rota para Parlouma for aberta.
mental passagem, estão estátuas ciclópicas de
Desse modo, é a própria guarda oficial da cidade
seres antropomorfizados, selvagens, de corpos
que faz a proteção das casas, mas alguns casos
humanos e cabeças de animais desconhecidos,
pontuais mostram que existem exceções, como
de longas presas e trombas, dentes rotundos e
a Casa Macer, que faz o transporte perigo-
olhar contemplativo.
so dos metais de Belghor para alguns domí-
eu
Não posso falar mais sobre, meu senhor. Minha vida corrvale.
nios aliados e se protege com seus cavaleiros

perigo pela simples menção ao interesse em desbravar o ição


mercantes, os Cães de Belghor.

O local é guardado não somente pelo medo, mas superstir.


e aço. Muito da nossa história está ali, posso sent

a
O Orgulho Belgho

Todo belgho é orgulhoso de seu pioneirismo na adoração ao Criador — os que ficaram em Belghor veem
visitantes como tolos iludidos. Para os belghos de Belghor, autoproclamados Verdadeiros, o período que vi-
veram sob influência da Sombra foi nada mais que um tempo de provação. Todo homem livre da castelania
consegue traçar sua ancestralidade até alguém que foi explorado durante o governo corrupto, escravizado
ou morto. Por isso, a necessidade da adoração vem forte e poderosa nos dias de hoje. Malik II aceita a autori-
dade do Tribunal, mas apenas até certo ponto, reunindo-se com belghos verdadeiros para acertar detalhes do
interesse do Eleito. Além disso, existe ainda a resistência daqueles que os verdadeiros continuam chamando
de selvagens, pagãos e hereges. Com o fim do império, muitos se voltaram contra o novo rei e seu sucessor,
acreditando que os cultos sombrios eram a escolha certa para o mundo. Tais pecadores se escondem nas
montanhas que cercam Belghor. Além dos hereges, as montanhas de Belghor, chamadas Véu Noturno, guar-
dam um segredo muito mais antigo e profano. Acredita-se que Morovan foi tentado por um demônio quando
tentou espalhar a palavra do Criador para as Crianças Cinzentas. Tal demônio é chamado nas escrituras de
Kupala e apresentava-se na forma de uma linda mulher que desejava o culto dos povos pelo seu poder sobre
a fertilidade e fartura. Kupala foi associado aos Ímpios como uma prole da mistura das vontades de Amon
e Arshma. Este demônio adormece sob as montanhas.

b 123 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b

Brandevir
“Diante do Tribunal,
até os reis devem se ajoelhar.”

É possível perceber uma cer-


As castelanias de Birman e Braden passam por uma situação tensa. Enquanto Birman é ta acidez em seu comentário
uma terra marcadamente religiosa, berço e centro do Tribunal do Supremo Ofício, Braden quanto às atitudes do Tr
ibunal
é uma terra arruinada e está prestes a ser anexada. Adiantando-se aos conflitos de outras que, decerto, não querem mais
castelanias, como Parlouma e Vlakir, Birman já convoca antigas noções de fidelidade para que a glória ao Criador. Nesse
anexar o território, a começar pelo próprio brasão, que invoca o antigo dever ponto, discordo dos Haske-
de proteção à muralha sob os auspícios do Criador. listas. Tolices devem ser
Dessa forma, as informações aqui apresentadas serão referentes a união das castelanias, já que apagadas das linhas.
a maior parte da porção norte de Braden já se encontra sob o controle de Birman e apenas
alguns barões do sul, junto da meretriz que se diz filha do antigo rei, fazem resistência. Em
tempo esta discórdia terá fim e nenhum dos abutres que almejam a carcaça do antigo reino de
Leoric terão seu quinhão, aquela terra boa de homens bons deve retornar ao seio do
Criador, como foi no passado. Assim sendo, o Brandevir refere-se
tanto a um lugar quanto a uma nova castelania.

Capital pedintes, miseráveis e doentes realizando pro-


Ravison. Lenora foi antiga capital de Braden e cissões para sua morada. No sul, tentando riva-
ainda se ergue como local de conflito, já que a lizar o poder com o Eleito, está a corte suja e
meretriz mantém lá a sua corte fiel de pecado- imunda de pecadores liderados por Anastásia,
res, junto do falso herdeiro. filha do antigo rei de Braden. A meretriz possui
um filho, de nome Norik, e alega que este é o
Poder verdadeiro senhor de Braden. Alguns poucos ba-
Teocrático. O Eleito governa Birman e este rões abraçaram a causa da concubina do diabo.
homem é Vincenzo de Ravison, A Voz do Cria-
dor, Bispo de Ravison, Eleito pela Vontade Adoração
Dele, Guia de Todos os Homens, Porto Seguro O criadorismo é o foco central do louvor
dos Desalentados, Alento dos Desesperados, o em Brandevir. É o que dita os ritmos de toda
único capaz de levar os homens pelo caminho a vida. Aqui os ritos são levados a sério e todo
da pureza nestes tempos sombrios. Vincenzo é cidadão seria capaz de pregar em vilarejos
um homem velho, que prova a benevolência do distantes, tão acostumado está em ouvir a la-
Pai para consigo ao alcançar mais de 80 anos dainha de seus sacerdotes. Toda cidade prós-
com o vigor de um soldado. A este homem são pera de Brandevir, e mesmo os mais isolados
atribuídos muitos milagres de cura e por isso vilarejos, nasceu ao redor de uma igreja. Mes-
seus dias em Ravison são ocupados, com muitos mo entre os pecadores do sul, onde o povo

b 125 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
inocente não tem opção a não ser seguir os
ditames daquela que traiu o Pai, sabemos que
a
resiste a fé. Aquelas almas atormentadas es- Anastásia de Lenora
peram apenas pela salvação do Tribunal que,
cer tamente, chegará logo. É notável o repúdio que os homens da igreja
têm para com Anastásia. A verdade é que a
População baronesa é uma guerreira com todos os méri-
Majoritariamente formada por belghos que tos. Foi casada com Norik, filho de Norvik, o

Hei de confessar que admiro se distanciaram um pouco de seus modos mais antigo rei de Braden e deu ao seu filho o nome

alguma das mudanças de antigos. Em Brandevir existe um apego religioso do pai que faleceu num dos muitos ataques dos

comportamento, haja vista que forte que se traduz em imagens, pinturas, vitrais homens de Birman. Ela conseguiu reunir um

antigos costumes não condi- e esculturas. A vida dos moradores de Brandevir secto de barões desgostosos com os planos da

zem mais com o que vivemos é ditada pelos sinos das igrejas de cada cidade, igreja, de torná-los todos submetidos a algum
nesta aurora. de cada vilarejo. Tudo gira em torno do religio- bispo, mas as opções eram poucas. As forças
so e assim rituais diários mostram esta devo- de Anastásia são ínfimas e talvez ela acabe
ção com orações prévias para cada ação do dia. aceitando alianças com Belghor e até mesmo
Desde o carpinteiro ao soldado, todos possuem Vlakir. O que mais motiva os aliados da baro-
suas próprias preces para pedir por proteção e nesa é o fato de seu filho ter nascido contra
sucesso no dia do trabalho — um costume que todas as expectativas, num campo de batalha,
continua nas outras instâncias da vida, com onde ela mesma portava uma lança contra ca-
pedidos antes de comer, de dormir e ao acor- valeiros sacros do Tribunal. A criança motiva os
dar. O povo de Birman é puro, é grato. Existem homens como um verdadeiro messias, que mal
também os brados do sul, fruto da mistura das completou um ano de idade. Ao longo da des-
muitas etnias que responderam ao chamado crição, será notável a depreciação de tudo que
de Leoric no passado. gira em torno da figura desta mulher, de suas
forças ao local onde fixa sua resistência. É pre-
Símbolo/Cor ciso lembrar que, a despeito do distanciamento
O símbolo de Birman, em enaltecimento do
pretendido pelo enviado Minus, ele ainda é um
Criador, representava sua coroa dourada sobre
homem do Tribunal que responde ao Eleito.
um campo branco, nem mesmo utilizando-se
da cruz do próprio Tribunal, dos caminhos do
homem em louvor. Com o Brandevir tomando o rei e seu conselheiro, Lázarus, o reino fora di-
forma e recuperando a glória dos tempos dos
vidido entre Birman e Braden. Assim seguiu por
puros, a muralha cinzenta foi acrescentada
muito tempo. Birman tornou-se o seio seguro do
ao campo, já que esta era a bandeira de Bra-
criadorismo, mesmo durante a existência de Vi-
den. E assim Brandevir procura voltar a ser o
rka e do império, enquanto Braden era a frontei-
bastião verdadeiro da fé, aquele sonhado pelo
ra segura do mundo civilizado, onde erguia-se a
forte Leoric em outros tempos.
Muralha do Leão, protegendo o mundo dos hor-
O Passado rores. Quando Belghor caiu e, posteriormente, o
O Brandevir já havia existido, chamado de rei- império de Virka, Braden tornou-se uma colcha
no de Birmanen na época, quando foi criado por de retalhos sem grande organização. Seus barões
Leoric, a fim de combater as forças da Sombra, belicosos voltaram-se uns contra os outros, en-
vindas de Belghor. Por desentendimentos entre quanto Birman se mantinha pura e firme.
b 126 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
O Presente
a O interesse de recuperar o Brandevir surgiu
Praeterita Dementia depois de peregrinações realizadas pelo próprio
Eleito na terra castigada de Braden. Em conversa
Brandevir é uma utopia. No seio dos mais
com os barões do norte daquela castelania, con-
nostálgicos reside o desejo de reunir Braden
quistou para a união. O presente do Brandevir já
a Birman, a ponto de que os cordéis que são
é glorioso, mas uma pequena mancha se escon-
escritos nesta castelania remetem de forma
de no sul, na forma de Anastasia de Lenora. É
heroica feitos considerados impossíveis. Muitos
uma mera questão de tempo até que as forças
consideram isto loucura ou obras da bufonaria,
de Birman se recuperem das últimas conquistas
mas entretém jovens e desesperançosos. Não é
e coloquem ordem no caos. É possível que a mu-
incomum que o fanatismo supere a nostalgia
ralha do leão seja novamente utilizada, já que
e feitos imprudentes sejam realizados, como
Belghor parece novamente se isolar e o orgulho
atentados àqueles que desejam manter a se-
que brota daquela terra é, decerto, pecaminoso.
paração entre os territórios. Vez por outra os
mais fervorosos cultuadores do passado saem Relações e Comércio
em procissões noturnas com tochas acesas, O Brandevir tem relações comerciais contur-
portando túnicas e capuzes roxos, entoando badas com seus vizinhos. A parte ainda resis-
cânticos que narram o passado virtuoso de tente de Braden prefere realizar comércio com
Brandevir. Estranhamente este séquito não Belghor ou Parlouma, além, de realizar saques
é aplacado pelas forças da lei, ainda que haja contra as caravanas que partem para o sul. O
destruições e até assassinatos promovidos por comércio com Latza ocorre de forma muito tí-
estes sombrios membros da seita chamada de mida com os comerciantes que têm coragem de
Praeterita Dementia. atravessar o charco norte, e Vlakir mostra-se
resistente quanto à aproximação, já que se julga
detentora da verdadeira fé, com seu rei demiur-
go. Brandevir está cercado de inimigos, hereges.
Traidores no sul, fanáticos no leste e loucos no
norte. Parlouma ainda se mantém neutra, realizan-
do um comércio tímido pelos barcos do Lago das
Lágrimas, mas a promessa de aliança com Vlakir
parece preceder alguma hostilidade vindoura.

Gravura estilo bertina de


Motazzi mostrando a antiga
Muralha do Leão em Braden.

b 127 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Assentamentos
O Brandevir é dividido em bispados e qua-
a
tro são os principais. O bispado de Lenora, ao Fauna e Flora Fantásticas
sul, ainda não está formado, já que depende da
Aquilo que se destaca na natureza
queda da traidora.
do Brandevir

Ravison
Suplicante: Estas árvores comuns no sul do
(Aprox. 10.000 habitantes)
território não possuem folhas. São apenas ga-
O centro poderoso da fé do Criador é resplan- lhos retorcidos em dois ramos que se erguem
decente. Uma cidade que cresceu muito durante alto, de modo que pareçam mãos de suplican-
o governo dos imperadores, talvez como um si- tes. Foi com o galho de uma destas árvores
nal dos céus de que a ruína se aproximava e, as-
que o Criador fez o seu cajado para caminhar.
sim, a fé precisava se fortalecer. É uma gloriosa
O Esteio do Criador é um objeto que denota
cidade de muralhas altas e brancas, encimadas
a importância de uma pessoa na sociedade, é
pelas torres dos sempre vigilantes e destacada
o sinal de sua unção com o Criador. O esteio é
pelos pináculos de igrejas, capelas e catedrais
o báculo do bispo, a vara do mendicante. Esta
prósperas. Suas ruas são largas e pavimenta-
árvore consegue viver com poucas quantidades
das. Não existem mendigos e miseráveis, pois
a glória dos homens em louvor ao Pai é plena de água, que ficam reservadas em suas raízes

em seus salões e os campos são fartos à som- durante longos períodos.

bra das muralhas. É onde se encontra o novo


Besta Lisa: As lendas sobre serpentes são
Virkarium, sede do criadorismo, erguido em
comuns no oeste de Belregard, mas conta-se
resposta à ruína iminente do império corrupto.
que o norte de Belghor também era tomado
Patrono Local: Vincenzo de Ravison, o Eleito.
por elas. Um dos homens que seguia Morovan
Odara encantou as serpentes e partiu com elas para
(Aprox. 11.000 habitantes) o norte, deixando o caminho livre. Hoje, este
Odara fica ao sul da antiga Birman e fazia fron- homem é louvado como São Ignázio. Esta len-
teira com a castelania irmã de Braden. Foi um lo- da explica as imensas serpentes que vivem no
cal terrivelmente marcado pela guerra, quando
pântano Brago, na fronteira com Latza. São
os barões cavaleiros se rebelaram diante da jun-
cobras negras que se embrenham pelas raízes
ção. É um bispado fortificado, onde se encontra
das árvores e alcançam até 15 metros de com-
o grande cemitério dos homens santos do pas-
primento. São constritoras em sua maioria, mas
sado. Lugar de oração, para onde viajam muitos
existem relatos sobre grupos menores, famílias
peregrinos que engrossam as fileiras dos valentes
derivadas, capazes de espirrar um veneno po-
Humildes. Hoje é um local de paz, que conta com
deroso que faz o sangue ferver. São cobiçadas
a força de muitos. Patrono Local: Bispo Hilário,
o Jovem. Um homem que alcançou alta posição pelo seu couro e pelo veneno, mas ainda não se

dentro do Tribunal, a despeito da pouca idade. conhece qualquer produto criado com ele.

Foi um soldado de Braden durante muitos anos e


viu a corrupção se espalhar entre os seguidores
de Anastásia, convertendo-se cedo ao abandonar
a espada para portar o báculo.
b 128 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Tarsanis Cavaleiros Sacros
(Aprox. 10.000 habitantes, porém o (200 cavaleiros)
número pode ter dobrado dada a
chegada de refugiados) A principal força do Tribunal, também chama-
dos de cavaleiros alvos, tiveram suas fileiras en-
Tarsanis é uma joia vermelha encravada no
grossadas quando foi prometido aos homens de
terreno cruel de Braden. Suas muralhas de terra
e barro deixam clara a vida bruta mesmo tão Braden a aceitação na ordem caso se rendessem

distante da Muralha. Tornou-se bispado há pou- pacificamente. Estes paladinos são ungidos na
co tempo, como prova da entrega dos barões graça do Criador. Existem espalhados por Belre-
do norte para com a causa do Brandevir. Uma gard, onde a igreja precisa demonstrar seu braço
cidade belicosa, que hoje é usada para sediar as forte e, caso convocados de todos os recantos,
forças do Eleito que anseiam pela conquista do somariam mais de mil.
sul. Patrono Local: O bispo Bérnico, o Calmo,
compartilha poder com o barão Ireus Tarsus, Cavaleiros Rubros
que fora antigo senhor de Tarsanis e lidera os
(120 cavaleiros)
soldados nos conflitos com o sul. A ordem original formado em Braden. Hoje,
boa parte destes soldados servem aos barões
Lenora
que aceitaram a ocupação do Tribunal, mas este
(Ínfimo)
mantém olhos atentos sobre a ordem, já que sua
A cidade fundada por Leoric guarda pouco de antiga fidelidade aos Leões é preocupante.
sua glória pregressa. Não apenas pela corrup-
ção que se abriga por trás de suas muralhas de Os Humildes
pedra, mas pelo castigo constante do qual foi (200 lanceiros)
acometida ao longo dos anos. É uma cidade suja,
Formado por qualquer homem e mulher que
de ruas estreitas que se espremem por casas de
deseje servir ao criador. Formam a base da pro-
barro, onde os dejetos correm livres a céu aberto
teção de Tarsanis e o convite para ingressar nas
e os miseráveis povoam as ruas como as pulgas
fileiras dos humildes fez com que muitos ho-
Se são tão poucos, por que
nas costas de um cão vadio. A pouca riqueza
mens livres, e mesmo servos, abandonassem as
ainda não tomamos Lenora?
local fica no forte vermelho, virado para o sul,
terras do sul para jurar lealdade ao bispo. Existe
Ouvi dizer que um dito Marius
onde a corte de Anastásia se banqueteia sem os lidera. Um arqueiro! De fato,
a promessa de terras quando Lenora cair.
limites com o pouco que aquele povo sofrido o desespero deve ser grande.
produz. Patrono Local: Anastásia, a Pecadora.
Leões de Braden Conta-se que a Sombra lhe
O bispado de Lenora está prometido ao bispo
(Ínfimo) arrancou um olho para que não
Jano, da abadia de São Paolo, que assumirá as- precisasse mais fechá-lo na hora
sim que a conquista for completa. As forças contrárias ao Tribunal contam com de fazer mira.
alguns cavaleiros desertores, assim como lan-
Forças Militares ceiros e até mesmo arqueiros, tamanho é o seu
Organizados em ordens sacramentadas que desespero em fazer alguma frente com as forças
respondem diretamente ao Eleito. O único gru- corretas e abençoadas por Deus.
po de soldados ainda fiel aos pecadores são os
Leões de Braden.

b 129 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Construções e Formações
a
Rio Rubro Cavaleiros Mercantes em Brandevir

O rio Rubro é um dos principais para o conta-


Os cavaleiros mercantes do Brandevir são os
to entre Braden e Parlouma e carrega esse nome
homens corajosos e imbuídos com aquela mis-
devido aos grandes depósitos de barro em sua
são sonhada por São Genaro, o Imbatível. Ge-
margem sul, que deixam as águas com uma to-
naro foi um sacerdote do Tribunal que viveu no
nalidade avermelhada.
período da queda do Império. Ele viu as caste-

Rio Sacro lanias ruírem e entregarem-se ao caos. Enquan-


to todos procuraram a segurança de suseranos,
O rio Sacro é um marco para a história de Bra-
Genaro convocou aqueles capazes e, sem dese-
den pois foi onde Morovan, o primeiro profeta,
jar nada em troca, prestou serviços a senhores
demonstrou mais um de seus milagres, freando
e vassalos, atravessando territórios em disputa
a corrente brutal deste rio caudaloso e cheio de
para levar o que os necessitados precisaram.
pedras traiçoeiras. Morovan não apenas cami-
Quando era confrontado tentava apelar para
nhou pelo rio, como fez todos os seus segui-
o amor ao Criador. Quando o amor era nega-
dores passarem em segurança. É o local onde
do, fazia valer a força conquistada nos treina-
ainda são feitos batizados e suas águas, apesar
mentos diários da abadia de Leoric e trazia o
de continuarem perigosas, são consideradas sa-
arrependimento aos que se colocavam em seu
gradas.
caminho. Assim, os cavaleiros mercantes repre-
sentam uma ponte de contato entre o Brandevir
Lago das Lágrimas
e seus muitos inimigos, trazendo informações,
Diz-se que, quando percebeu a traição dos mas também levando.
selvagens, o Criador chorou e suas lágrimas
formaram o grande lago que isolou as Crianças
Cinzentas do restante do mundo por muito tem-
Terras Acidentadas
po. O lago não carrega qualquer outro sinal de
tristeza, já que é fértil em peixes e suas águas Toda a área central de Braden é de terras aci-
calmas permitem o deslocamento com facilida- dentadas. Morros, colinas, serras ao sul — uma
de. É o que mantém os rebeldes de Lenora ainda área pedregosa, seca e perigosa.
em condições de lutar.
Muralha do Leão
Círculo do Pregador
Erguida por Leoric para fazer fronteira com
Quando Leoric firmou a pedra fundamental
Belghor, a antiga muralha de pedra ainda se
de seu reino, Lázarus pregou por dias neste cír-
ergue, mesmo que praticamente abandonada.
culo de pedras. O local foi usado novamente
É formada por pesados blocos de granito e en-
quando o imperador desejou fazer o seu cha-
mado para retomar Belghor. É um lugar de po- cimada por ameias largas, com corredores que

der, de pureza, certamente utilizado antes pelos podem suportar uma fila de três homens com
Selvagens, mas devidamente purificado destes bom espaço. O portal, com o formato de uma
pecados bestiais. grande cabeça de leão de bronze, pode voltar

b 130 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
a sentir o sangue inimigo. A guarnição local é
mínima, formada especialmente por Leões de
a
Braden, que mantém uma aliança sutil com Orlit
Aquilo que passa pela muralha
de Belghor, especialmente para o comércio do
metal que apoia os revoltosos. Ninguém sabe ao certo, mas tropeiros repas-
sam tonéis e caixas pela Muralha do Leão. Se-
O Virkarium,
riam armas? Belghor é conhecida como uma
Salão de Todos os Santos
castelania ímpar na forja do metal negro, mas
Encravado em Ravison está o coração do porque há tanta atividade comercial nesta re-
criadorismo. O Virkarium é novo, erguido gião? Aliás, é mesmo uma atividade comercial?
quando o Tribunal percebeu a corrupção la- Nas tavernas são ouvidas histórias sobre tráfi-
tente de Virka. Pensou-se em mudar o nome co de crianças e até sacrifícios obscuros. Se-

da sede da fé, mas os oradores julgaram que riam apenas boatos?

era algo enraizado para os fiéis. O Virkarium


O Isolamento no Brandevir
fica em um complexo dentro da cidade, com a
catedral dos santos em seu centro, morada e O isolamento em Brandevir se explica de for-
tribunal do Eleito. É Protegido pelos melhores ma geográfica no norte, com o pântano Brago

cavaleiros sacros, a elite igslava que formou impedindo o avanço. No oeste, esta limitação

as fileiras da ordem no começo de tudo. se faz de forma política, com fronteiras bru-
tas com Vlakir, que disputa uma supremacia
religiosa com o Tribunal. Dentro do território
ainda existem conflitos. É preciso lembrar que
o material apresentado aqui é do ponto de vista

res a o não detalha- s do Tribunal, que já considera a região de Braden

Causadasurerpgião chamada desTsoertraão como conquista. As Terras Acidentadas ainda

mentontadas. Penso que nocapacidade


são nutridas com o sangue em meio à guerra

Acidee Enviado não teve s encantes


civil dos barões do norte de Braden que ainda

ilustrlorar a região e seurma e de


resistem. Uma situação que se repete no sul,

de exporrores. Uma área ede vivem os


com barões jurando lealdades em um dia, para
no outro destilarem traições severas. Anastasia
e h ões precárias, on s filhos
habitaçerados e sobrevivem ounidades não está tão mal quanto julga o texto escrito

degen os do Criador. Coms dia para por um enviado do Eleito. Ela conta com os

dign rias lutam dia apó isputando Leões, cavaleiros, lanceiros e arqueiros que

simplófinharem sob o sol qdue a darão suas vidas pela baronesa.

não deos poucos recursos e.


natureza oferec

b 131 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b

Dalanor
“Orgulhosamente bela.”

Cuidado com o que fala sobre


esse homem. Investigadores
do Tribunal relatam que o rei
Capital Adoração
tem relações sexuais com
Galliard. Criadorismo. Não se pode chamar o povo de
animais e criaturas feéricas
Dalanor de pagão; o criadorismo é forte den-
que residem na floresta. Não é
Poder tro da castelania, como religião principal e fun-
possível confiar nem mesmo
Galdrich, o Belo, A Voz de Dálan, Punho de damental, contando com a presença de bispos
na Oradora de Dalanor, pois
Isegrin, Tendão de Urshol, Inimigo do Raposo e conselheiros religiosos na corte de inúmeros
esta já desfruta dos prazeres
e Senhor do Amanhecer, Aquele que Deita em de sua cama.
duques e condes. A despeito disso, Dalanor é
Relva Branda, O que Reina do Lago, Portador uma terra de forte misticismo, onde as lendas
do Alaúde de Ouro e Duque de Galliard. Tido da antiga corte do rei Dálan povoam o imaginá- Nunca coma um alimento vindo
como o homem mais bonito já visto nesta era, rio rotineiro de homens e mulheres. Este apego de terras dalanas ou vendida
seus olhos são penetrantes, azulados como o às tradições antigas é tolerado pela igreja, desde por um dalano sem orar e con-
céu da primavera, físico magro e elegante, com que não entre em conflito com seus ditames. sagrá-la ao Único. Seus ritos
cabelos caindo em cascatas cor de oliva so- pagãos ainda são presentes e
bre ombros perfeitos. Sua imagem é o reflexo População os grãos são banhados com
da beleza de Dalanor e o rei ama-se acima de Majoritariamente formada por dalanos, mas imundície pagã desde o plantar
qualquer outra coisa. Seu corpo é tão delicado com um significativo número de parlos e mesmo até o colher do fruto. Tudo
e belo que poderia ser confundido com uma vihs. A vida em Dalanor segue uma melodia que ritmado por canto blasfemo e
mulher se assim o desejasse. Sua prepotên- apenas os mais atentos podem escutar. É co- danças rituais envolvendo
cia é devida, afinal, todos que o conhecem se mum que se cante sobre os afazeres e todo tra- fogo e sexo.
rendem aos seus encantos, fascinados por sua balhador conhece alguma canção que põe ritmo
beleza, fineza e eloquência ao pronunciar cada em seu serviço. A música está entranhada na
palavra. Por sempre ter todos aos seus pés, o mente dos povos desta terra verdejante. Mesmo
rei não costuma lidar bem com a perda. Seus os selvagens kilthens das terras altas possuem
olhos demonstram desprezo e preconceito aos uma tradição, com suas vozes graves que ten-
estrangeiros, ao mesmo tempo que demonstra tam vencer a força do vento, e com os varnos do
extrema possessão por toda Dalanor e cada pes- leste, que dedilham seus lamentos em violões.
soa que nela vive. Sua corte deve estar sempre O dalano exemplar é um apaixonado pelo que
pronta e disponível, seus servos sempre belos e faz e este traço de excelência pode ser absorvi-
arrumados, cada coisa perfeitamente arranjada. do por aqueles que vivem tempo o bastante na
O rei ainda não é casado. castelania. Como o trovadorismo, o amor cor-
tês e inúmeras outras expressões nasceram em

b 133 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Dalanor, é muito comum que o amor pela arte,
pela música, pela tradição de fábulas e lendas
a
Aqui podemos ver como seja absorvida por outros povos que lá vivem. A Música do Corpo
misticismo e mágica rondam a
vida de um dalano desde seu Símbolo/Cor Um dos mais antigos braços da fé do Criador
nascimento, com essa pequena Em um estandarte dourado, um leão cor de das regiões dalanas afirma que o ser humano
canção de ninar fica mel demonstra toda a imponência do rei do é uma harpa com dez cordas, cada uma delas
realmente claro.. mundo, afinal, o sangue do rei dos animais representando um nível do corpo. Se estiverem
corre nas veias desse povo. Duas plumas mes- desafinadas, não existe equilíbrio físico, mental
Rabo de Tiecelin cladas em cinza e preto representam a cor do e espiritual, impossibilitando alcançar o estado
Traga mais sorte pra mim! corvo e do lobo, homenagem de Tiecelin e Ise- sagrado. Para que haja harmonia, precisamos
Rabo de Tiecelin grin. A harpa de dez cordas, item tão famoso e ajustar a tensão em cada corda. A prática de
Traga mais sorte pra mim! emblemático, faz-se presente. A harpa superior controle de humores por meio da sangria jun-
demonstra tanto o Único quando o rei Dálan. As to à música é uma das principais técnicas es-
Barriga de Renart três harpas inferiores representam as três faces pirituais e médicas para cuidar de alguém em
Leva esse azar pra lá! do homem — carne, alma e ego -, representam Dalanor. Se pudéssemos definir de um modo
Barriga de Renart também os Puros e os míticos conselheiros, Tie- simples, a igreja faz vistas grossas para o mis-
Leva esse azar pra lá! celin, Isegin e Renart. ticismo de Dalanor com medo de perder um
aliado importante, entregando este povo defi-
Cabeça de Isegrin O Passado nitivamente para os cultos selvagens.
Traga mais sorte pra mim! O povo de Dalanor sustenta uma mítica mui-
to poderosa. Segundo contam as lendas, este
Cabeça de Isegrin
reino foi o lar do mais valoroso dos homens,
Traga mais sorte pra mim!
o Rei Dálan. Dálan é pintado nas tapeçarias O Presente
à forma de um leão e encarna assim os valores Devido a ter tido contato com grande pre-
da honra, coragem e liderança. Para alguns, isso sença imperial nos idos da Era da Conquista,
pode ser sinal de que a antiga Dalanor foi lar
a presença da igreja também é muito forte nos
de Selvagens, mas a maior parte dos dalanos
dias de hoje, sendo que ela divide poder com o
caçoam destes boatos e alegam a mera inveja
rei – por vezes o superando em certas ocasiões.
Onde estão as informações dos difamadores. Na época do domínio im-
Galdrich, o Belo, é rei de Dalanor e faz o possí-
sobre o antigo castelo de verão perial, Dalanor tornou-se um dos principais
vel para manter o controle de seus súditos. Não
do Imperador? O grupo de focos da corte. Em seus momentos de descanso,
os imperadores ocupavam os mais belos salões é um monarca cruel ou ditatorial, motivo pelo
cavaleiros retornou com as qual tem entrado em conflito com os represen-
informações que pedi? Conse- e se entregavam aos mais variados festejos. Em
certas épocas, Dalanor tornava-se a capital do tantes do Tribunal do Supremo Ofício em seus
guiu fazer um mapa decente
império, já que assuntos importantes precisa- domínios. Diante do punho frouxo do monarca,
da região? Os boatos sobre a igreja sente-se no direito de agir e assim em-
vam ser tratados e uma viagem para Virka
fantasmas e seres das trevas estava fora de questão. Dessa forma, quando prega o seu pequeno, mas bem treinado, contin-
que habitam nele parecem ter voltou a ter sua independência, este reino foi gente de cavaleiros sacros para cuidar dos as-
algo de verdade? Sobre os uma das poucas castelanias a manter uma suntos que fogem ao seu controle. Dalanor foi
tesouros dos Vlakin, unidade forte e um rei no poder. um dos poucos reinos a dar continuidade a
alguma pista? uma unidade coesa com o fim do Império.
do rei e já se deita
Ouvi dizer que Amelí caiu nos encantos tolerado. A maior representante do Tribunal é a Oradora
com ele. Isso não deveria ser Amelí, que procura ser boa aliada do rei.

b 134 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
a ganância dessa terra é tão grande que os tem É digno de nota informar sobre
a assustado. No fim das contas, O Rei Galdrich as inúmeras variedades de vinho
Fauna e Flora Fantásticas está mais disposto a ficar no seu lugar, bebendo e queijo encontrados em Dala-
vinho e deixando seus inimigos lutarem. Muitos nor? Falo sobre a briga comer-
Aquilo que se destaca na natureza particular
estudiosos vêm até a castelania para aprender, cial entre Dalanor e Varning
de Dalanor
viver sob o modo de vida dalano. Este é o maior sob o domínio comercial? Não
Theodrora: ou Fruto dos Deuses, frutos escu- tesouro que Dalanor pode oferecer no fim das sei se seria relevante citar
ros que nascem em árvores de 4 a 8 metros. Sua
contas. Um povo que não se orgulha da guerra, tal fato em um livro de
mas do amor que pregam ao mundo. Não que tamanha importância.
semente pode ser secada ao sol, ou em forno,
eles estejam fazendo esforço de esconder, mas
para ser usada na fabricação de um doce mar-
dificilmente você aprenderá tudo de um dalano.
rom escuro, levemente amargo e extremamen-
Existe um ditado nestas terras que definem bem
te saboroso, sendo utilizado das mais variadas
isso: “os livros guardam pouco conhecimentos
formas, desde endurecido em pequenas bar-
daquilo que é necessário aqui”. É preciso viver
ras até derretido em calda para acompanhar
em Dalanor para aprender sobre esse povo.
pratos salgados.
Assentamentos
Quimera: nas histórias antigas, é dito que Dalanor age de modo um pouco diferente das
todos os animais cruzavam entre si. Ademais, outras castelanias, sendo dividida em quatro
existem lendas que falam sobre homens e ani- grandes regiões, cada uma chamada de Corte.
mais se deitando em uma grande e blasfema or- Essas divisões falam sobre uma tradição muito
gia. Isso possivelmente é a origem de estranhas antiga, como quase tudo em Dalanor, na qual o
criaturas chamadas vulgarmente de quimeras, Leão, o Corvo, o Lobo e o Raposo discutiram
uma mistura confusa entre dois ou mais ani- por dias sobre como dividiriam o reino. Por esse
mais e, em alguns casos, com uma similaridade motivo, precisarei apresentar esse domínio de
profana com partes humanas. forma diferente dos outros.

Corte do Leão
A mais nobre das Cortes, morada do rei e da
Relações e Comércio maioria dos membros reais. Aqui se encontram
Mantendo um comércio interno com as moe-
a capital Galliard e as chamadas Terras Nobres,
das do império, Dalanor tem interesse em au- a Floresta Altiva e a Fonte Tangite. É admirável e assustador ver
mentar suas relações com o norte, mas tem como os dalanos mantem o
medo das movimentações que ocorrem entre Galliard mesmo amor pela caçada que
Rastov e Viha. Eles preferem ficar longe de Var- (aprox. 15.000 habitantes) seus antecedentes, centenas
ning, têm medo de amarras mais firmes do Tri- A cidade só não se tornou uma cidade gigan- de anos atrás. Seria belo
bunal aqui, mantendo apenas o contato minima- tesca porque possui um espaço limitado. Gal- se tivessem evoluído à luz
mente necessário. Mesmo tendo uma visão da liard é uma fortaleza no grande lago Le’nore. da civilização, mas não, ainda
religião bem parecida com as demais, Dalanor Uma aldeia se espalha pelas margens do lago, caçam como os primitivos
possui muitos costumes peculiares, principal- mas o centro principal da corte dalana ocorre homens, pisando descalços e
mente envolvendo toda a mistica folclórica de atrás de suas altas muralhas. Sempre existem pedindo licença para cada árvore
seu povo, e não querem abandonar isso. Eles pessoas saindo e pessoas chegando. Galliard e animal que matam, como
têm tentado contato por mar com Parlouma, mas possui uma corte tão pomposa, bela, luxuosa e se eles fossem mais do que
b 135 b coisas a nos servir.
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
ensaiada que é um espetáculo por si só. As ruas pretende que permaneça assim. Muitos que mo-
da cidade são limpas e suas casas são extrema- ram aqui nunca trabalharam para se manter —
mente bem cuidadas. Essa é uma ordem real, in- vivem para pensar, criar, divagar e produzir be-
dependente dos custos disso. Tudo de mais belo leza, vivendo daquilo que é coletado dos Grande
e puro produzido no reino é trazido para a Corte Campos. Nasccio é uma cidade apertada, ruas
do Leão por determinação do rei. Patrono Lo- estreitas pavimentadas com pedra que serpen-
cal: Galdrich, o Leão, A Voz de Dálan. teiam de modo confuso. Nasccio cresceu de
uma vila de pensadores para uma cidade grande.
São tantas festividades Terras Nobres Patrono Local: Yeliana, A Vidente. Esta jo-
pagãs, tanto sincretismo, São o extremo nordeste, banhadas pelo rio vem fora encontrada na região da Fonte Tangite
tanta mistura e blasfêmia que Melisarde, pelo delta do Lac Le’Nore e pelo rio por um soldado e entregue para o Rei. Ele deci-
seria impossível descrever mui- Loyal. Uma região bela, farta e selvagem. Aqui diu trazê-la para sua corte depois de ouvir sua
to sobre elas sem manchar a está a região da Floresta Altiva, local onde está história. A jovem afirma ter sido raptada quando
pureza de tal tomo. Mas lhe construída a Real Morada Outonal do Rei, e criança por criaturas da Floresta Altiva muitos
prometo enviar uma epístola também é onde são celebradas muitas das fes- anos antes e, após conhecer a sociedade dos se-
especial sobre tais comemo- tividades folclóricas de Dalanor e, de acordo as res de lá, ela foi arremessada de volta ao mundo.
rações. Me preparei espiritual- lendas, é morada de dríades, faunos e espíritos O Rei adorou a história e possui enorme estima
mente para adentrar no fogo feéricos. A Fonte Tangite é um lugar entre pe- pela jovem. Alguns dizem que ela está esperan-
e dança pagãos e relatar nada dras ancestrais e extremamente bem cuidado e do um filho dele.
além do que vi e ouvi. sempre vigiado. Daqui são retiradas as sangues-
sugas usadas no tratamento dos humores dos Casa dos Oficios
Eu já quis visitar o lugar e nobres de Dalanor, e para os mais poderosos de Uma enorme casa, outrora uma fortificação
relatar cada detalhe do proces- Varning, Viha e Parlouma. Sua água é tão pura militar, onde os jovens são ensinados sobre
so de coleta das sanguessu- que existe um acordo com Birman pelo qual ofícios e artesanatos úteis para a vida do povo
gas, mas fui impedido. Dalanor deve ceder barris desta água tirada na dalano. Você precisa pagar para ser aceito, mas
Guardas reais protegem o fonte para a realização de celebrações sacras, não muito, além de precisar comprar seu próprio
lugar dia e noite. Peço que sendo o batismo e a lavagem da escadaria as material e sua estadia aqui. Juntando tudo isso,
mova seus aliados para que principais dentre todas. os pobres só podem contar com a generosidade
me consigam uma carta branca
de um padrinho, caso seu filho seja um prodígio.
para relatar o que ocorre em Corte do Corvo Os jovens são testados e então enviados para
tal lugar, o Tribunal
Engloba a região centro-leste, seguindo pela mestres. A ligação de um pupilo com um mes-
precisa saber.
margem do rio Loyal. Aqui se encontram a ci- tre é quase tão forte quando a relação de pai e
dade de Nasccio, lar da Casa dos Ofícios, e a filho, uma relação para a vida toda. Seu mestre
cidade de Tangrare, lar da Orquestra Sinfônica e lhe ensinará tudo que sabe sobre sua especiali-
das Bravas Escolas Musicais do Nosso Senhor, dade, que pode ser a olaria, forja, pinturas de
todas sendo cercadas pelos Grandes Campos. vitrais, curtição de couro e afins. Dentro da sua
especialidade um jovem aprenderá sobre a pra-
Nasccio ticidade, usando-a para facilitar sua vida corri-
(aprox. 8.000 habitantes) queira, mas aprenderá também sobre a arte e a
Esta cidade sempre foi casa de grandes pen- espiritualidade existente em cada uma das suas
sadores, um lugar intocado pela guerra, e o Rei criações.

b 136 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Tangrare Corte do Lobo
(aprox. 5.000 habitantes)
Fazendo a vigia da fronteira marítima, esta
Cidade irmã de Nasccio que vive sob as cor- região engloba parte do sudoeste e extremo sul,
das da harpa. O Rei Dálan mandou construir por toda a costa. As principais cidades são Su-
Tangrare após ter um banquete arruinado por vraire, lar dos bancos e principalmente dos Vil-
uma trupe de músicos péssimos. Tangrare foi leres, os cobradores de imposto, e Couppaccio,
construída para parecer com uma harpa de dez sede das forças militares de Dalanor.
cordas e por isso é muito fácil caminhar por ela.
Tangrare respira e vive música, essa é sua única Suvraire
função. Moradores da cidade incluem familiares (aprox. 6.000 habitantes)
de alunos que foram aceitos na Orquestra Sin- Tudo que é produzido por Dalanor passa por
fônica e nas Bravas Escolas, músicos, poetas e Suvraire, seja em corpo presente ou em modo
todo tipo de artistas que vivem de embalar a de dinheiro. Toda a riqueza do reino passa por
vida dos dalanos. O comércio de Tangrare deve- aqui de algum modo. Além de escoar a produ-
-se quase que totalmente à arte. Monarca Lo- ção do reino para Viha, Varning e Parlouma pelo
cal: Oberon, O Prateado. O mais velho homem rio e oceano, a cidade é importante por ser a sede
de Tangrare possui o melhor ouvido de todo o dos Villeres, os homens do rei, cobradores de im-
reino, tanto para a música como para tramoias postos. Patrono Local: Erico Três-Pontas, Mes-
da corte. Todos os nobres vêm para Tangrare e tre das Moedas. Este jovem homem ambicioso
seus ouvidos garantem que nada passe desper- e sagaz enriqueceu com seu método de contas
cebido, somente para depois ser repassado para baseado em segredos numéricos raptados de
o Rei. Além de tudo isso, ele é o maestro da Or- um viajante de Parlouma. Ele foi agraciado pelo
questra. Rei após criar um sistema de recompensas para
cada fraude encontrada por um Villere, assim
Orquestra Sinfônica e garantindo total afinco de seus homens. Como
Bravas Escolas Musicais não poderia ser diferente, Erico é o Mestre das
A maior e mais bela orquestra de Belregard, o Moedas e chefe dos Villeres de todo o reino.
Assim como na Fonte
local possui uma das arquiteturas mais incríveis
Tangite, tentei ter acesso
Couppaccio a algumas catacumbas e fui
de todo o mundo conhecido, com colunas de
(aprox. 10.000 habitantes) desencorajado, quase impedido.
mármore Belgho trazidas por mar no ápice do
Temi por minha vida e resolvi
império e veludo vermelho da melhor qualidade. Aqui está o coração militar de Dalanor. Lar de
retroceder, mas não antes de
O lugar é um enorme complexo, envolvendo sa- bravos cavaleiros das três forças militares que
conseguir mercenários dispos-
las de estudo e locais para apresentação. Exis- mantém o reino sob os trilhos desejados pelo
tos a investigar um mausoléu
tem pessoas de todo o canto do mundo aqui. rei. A menor das grandes cidades de Dalanor
e me trazer informações.
Apenas os melhores um dia sairão das escolas foi erguida sobre as construções selvagens des-
Eles ainda não retornaram.
e irão para o grupo de músicos oficiais. Esse truídas na Era das Revelações. Os subsolos de
Será que foram aprisionados
processo é longo, pois cada músico tem que Couppaccio possuem centenas de catacumbas,
pela guarda ou encontraram
provar sua capacidade por no mínimo três anos, caminhos e labirintos desta antiga fortaleza
somente então será avaliado por uma bancada
um fim pior?
selvagem, o que veio a calhar. Couppaccio vive
extremamente exigente. O Rei costuma descer basicamente do comércio movimentado pelas
até Tangrare para ver apresentações e dar ins- forças militares, como couro para arreios, ma-
piração aos jovens ao presenciarem sua beleza. deira, aço e outros. As catacumbas, masmorras e

b 137 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
locais subterrâneos são usados pelas forças mi-
litares para esconder coisas que o rei não quer
a
ver andando por seu reino, coisas que ele julga A Nefastária
indignas. Patrono Local: Lüdvig, O Lobo. Sen-
Apesar de certas amenidades que podem ser
do o homem mais jovem a receber o título de
sentidas pelos visitantes da castelania, Dalanor
Lobo, Lüdvig possui rivalidade ferrenha com
guarda em sua história recorrentes surtos de
Erico Três-Pontas pela atenção do rei. Lüdvig
uma moléstia cruel e letal: a nefastária. Adqui-
está disposto a fazer o que o rei quiser, tudo
rida nos pântanos de Spergestus, esta doença
que ele desejar será realizado com a mais veloz
inicialmente desenvolve fortes dores no corpo
presteza. Seu coração acelera ao ver vossa ma- e febres naqueles que são contaminados. Não é
jestade destilando sua beleza divina. incomum a cremação de corpos vivos e de toda
uma casa na qual havia um doente, tamanho o
Corte da Raposa temor desta doença se alastrar. Todos sabem

Doenças desconhecidas, chagas Situado na região centro-oeste do reino às que se trata dos ares pútridos do pântano, daí
margens do Ventre Selvagem. Apenas um aglo- o nome nefastária; esta doença que faz com
que corroem a carne, quebram
merado de vilas e cidadelas que recebem o que as gerações vindouras de contaminados
os ossos e liquefazem seus
nome de Spergestus, sendo que sua população nasçam como tolos. Não é incomum descobrir
olhos. Este lugar deveria ser
ultrapassa mil pessoas. Aqui são arremessados que alguém da família foi contaminado: basta
expurgado da terra. Ainda sinto ver as crianças falando sandices, que muitos
seu cheiro e só de lembrar, os mais pobres e bandidos. A cidade é quase
consideram verdades do passado ou premo-
minha pele coça. uma prisão. O que sobra da colheita é enviado
nições. Há alguns que também profetizam ou
para cá, assim como o resto de tudo o que é
revelam segredos durante os delírios febris.
produzido. Para se manter um reino tão belo, a
Boatos afirmam que o governo da castelania
feiura deve ser afastada à força. As forças mili-
executa os contaminados para que nada secre-
tares arrastam pessoas para esse lugar, fazendo to saia das bocas dos doentes. Mas há quem
uma limpeza elitista ao gosto do seu rei. Os mais diga que a corte de Dalanor usa alguns doentes
loucos e irremediáveis, seja de doença na mente ainda vivos e presos em masmorras para reve-
ou na carne, algo que ofende a visão, são arre- lar desígnios nefastos sobre Belregard, fazen-
messados na Ilha dos Invisíveis. A única imagem do-os viver uma vida em febre e alucinações até
de poder de toda essa região fica por conta do morrerem vomitando suas próprias entranhas.
condado de Lefevre, que pode ser considerado Mas estes são apenas contos nefastos para uma
o centro de Spergestus, atualmente sob domínio castelania tão alegre e cortês.

de Alain, um ditador louco.

Forças Militares
nias. Seus soldados vagam por toda Dalanor em
Situadas em Couppaccio e guiadas por Lüd-
comitivas prontas para o combate a qualquer
vig, O Lobo, as forças de Dalanor se divi-
momento. Eles criaram um sistema de mensa-
dem em três facções que possuem funções
gens que permite alertar perigos com grande
bem distintas.
velocidade, usando desde flechas sinalizadoras
Crinare a falcões mensageiros treinados.
(240 lanceiros e 100 cavaleiros)
Eles são os soldados responsáveis pela fron-
teira costeira e a fronteira com outras castela-

b 138 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Arret Grandes Campos
(150 lanceiros e 50 cavaleiros) Histórias dizem que a fauna e a flora de Da-
Estes homens de armas agem na camada mé- lanor possuem vida mística, algo que reverbera
dia: sua tarefa é cuidar dos problemas internos, na Fímbria de modo especial. Por isso mantém
entre cidades, focando-se principalmente nas muitos dos ritos, festividades e celebrações en-
estradas do reino. Existe uma briga intensa en- volvendo o preparo, plantio, aguardo e seara.
tre os soldados do Arret e os Villeres, pois existe Os Grandes Campos são uma enorme região
um abismo de poderio financeiro entre ambos, responsável pelo grosso da produção de alimen-
e os últimos gostam de esfregar isso na cara tos da castelania, focada em sua área central. Os
destes homens de armas. anais da história contam que antes do atual rei,
o Tribunal proibiu partes destes ritos — o resul-
Griffu tado foi fome e calamidade. Quando o rei Gal-
(300 lanceiros e 30 cavaleiros) drich assumiu, ele mandou executar uma grande
Se o Crinare age nas fronteiras do reino e o celebração e convidou seres da floresta. Aqueles
Arret age nas fronteiras das cidades, o Griffu que se lembram, falam de modo confuso sobre Abominação!
trabalha nas ruas das cidades, resolvendo pro- bebidas, comilança, ervas alucinógenas e visita
blemas internos causados pelos cidadãos. De de diversas criaturas que dançaram e copula-
uma briga de taverna a um acordo não resolvi- ram com os humanos. Desde lá, os seleiros de
do entre comerciantes, tudo será resolvido pelo Dalanor nunca estiveram tão cheios de grãos.
Griffu, eles são uma organização feita para lidar
com o cidadão diretamente. Mais do que o rei
Rio Melisarde
gostaria de admitir, membros do Griffu estão O rio se alimenta do que desce pelo lago Na-
propícios a corrupção e suborno, o que os colo- rash de Rastov e sua fartura em peixes é len-
ca em rivalidade com soldados do Arret. dária. Esta fartura é justificada pelos milagres
de um mulher dalana, Melisarde, que fez o rio
Marcos Geográficos correr novamente muitos séculos atrás, quando
Ilha dos Invisíveis os igslavos o bloquearam para enfraquecer Da-
lanor antes de um ataque.
As construções desta ilha foram originalmen-
te criadas para monges que precisavam de isola- Lac Le’Nore
mento para ter contato com o divino. Este lugar Há quem diga que amarram os
caiu em desuso há séculos após ser inundado
O lago que cerca a ilha onde está encravada
desertores da corte em pedras
várias vezes. Hoje, o local serve como uma pri-
Galliard. Suas águas de um azul intenso dão a
e lançam no lago. Seriam os
entender que o lago é muito mais profundo do
são para pessoas horrendas, mutiladas de modo amáveis dalanos tão cruéis
que parece ser. Outros, mais espiritualizados,
grotesco, aberrações nascidas com deformida- com opositores?
alegam que o lago pertence à noite e por isso se
des, além de loucos. Devido a uma ordem di-
inunda de um azul profundo durante o dia, para
reta do rei, as forças militares, principalmente
lembrar aos homens que a noite é dos poetas
o Griffu, têm liberdade total para arremessar
e dos trovadores. O próprio rei Dálan apreciava
alguém aqui. Eles são jogados lá para morrer,
ouvir suas melodias no lago, ao anoitecer.
mas, como os malditos tendem a se ajudar, os
moradores de Spergestus levam em canoas o
resto do resto que possuem para que estes es-
quecidos possam sobreviver.
b 139 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

Este local é muito antigo. Acredito que exista desde a Era da Verg
onha e sendo
assim deve ter sido habitado por selvagens, o que explicaria a corrupçã
o tão laten-
te no sangue dalano. Precisamos manter vigilância sobre este domíni
o.

Gravura estilo bertina de


Motazzi mostrando Lac Le’Nore
ao redor do castelo Galliard.

b 140 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Rio Loyal colocados naquela posição é de tirar o sono
dos mais criativos. Não existem grandes mon-
O rio Loyal apresenta uma coloração verme-
tanhas em Dalanor, e nenhuma rocha parecida
lha intensa em suas águas barrentas. Enquanto
com as da formação. Acredita-se que aquele
alguns alegam que é o próprio barro dos bancos
seja um Ventre Selvagem, um local de ado-
ao sul do Lac Le’Nore, outros alegam que suas
ração dos povos primitivos, para o louvor de
águas rubras servem como alerta do que foi fei-
Patriarcas e Matriarcas.
to ao povo dalano com a chegada dos belghos e
sua verdade sobre o mundo: o quanto do san-
Floresta Altiva
gue inocente foi derramado quando estes não
foram diferenciados dos selvagens. O nome serve para mostrar toda a área de
floresta de Dalanor, que engloba praticamen-
te toda a castelania. Para os dalanos existem
nuances, certas áreas onde a vegetação se
Alguns chama este rio de Deloyal, mostra diferenciada, apelidadas com nomes

algo que denota a desonestidade das próprios, mas para o visitante é difícil discer-

atividades que ocorrem em alguns pontos nir tais elementos. As florestas de Dalanor são
assombradas por beleza e espanto. Não só por
em sua margem. Bandidos e assassinos suas imensas árvores, mas pelas lendas e fá-
negociam vidas e ouro com o mesmo bulas de estranhas luzes dançantes ao anoi-
descaso por aqui. Dizem que o rio fica tecer e das cortes de fadas que ocorrem em
vermelho na lua nova, refletindo o sangue clareiras abençoadas.
de todos que já morreram pela desleal-
dade que cerca o local. a
O Isolamento em Dalanor

Terras Altas Num primeiro momento é fácil imaginar que


Dalanor é o melhor lugar para se viver. Talvez
No noroeste de Dalanor, junto à fronteira
seja, se você for belo, perfeito, aos olhos do
com Viha, existem as terras altas escarpadas.
rei. Além dos perigos comuns a qualquer lu-
Um terreno livre de grandes florestas, mas pon-
gar, como bandidos de estrada, caminhos ruins
tilhado por bosques e lar dos kilthen. Os clãs
por dentro das florestas, e as bestas quiméri-
dalanos ocupam esta área, dividindo-a entre si.
cas que nada mais são que um reflexo de tudo
Suas reuniões, em terrenos neutros das terras al-
aquilo que o monarca abomina, Dalanor vive
tas, são marcadas por libações que duram dias, sobre uma tênue linha de perturbação. O glo-
festividades que geram prazer, sangue, o fim e rioso reino de Galdrich deve ser sempre belo
o início de contendas. e bandos de viajantes maltrapilhos certamen-
te não se encaixam nesse contexto. Em um
Ventre Selvagem mundo onde é raro chegar à maioridade com
Junto da corte da Raposa existe uma anti- todos os dentes na boca, é muito simples atrair
ga formação de pedras circulares que intriga atenção indesejada das muitas patrulhas do

viajantes. Muitos já tentaram explicá-la, mas rei. O que faz o perigo de Dalanor é a loucura
disfarçada de pureza de seu rei.
a mera ideia de blocos tão grandes de pe-
dra sendo transportados para aquela região e

b 141 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b

Latza
“A alegria é, muitas vezes,
mãe de inúmeras loucuras.”

Capital População
Lazari. Majoritariamente formada por belghos, mas
com algum número de parlos. Latza tem uma
Poder relação íntima, desde os dias de sua fundação,
Vittus II, Dementia Rex. Um louco feroz e com dois elementos comuns na vida de todo ho-
lunático, essa é a descrição para Vittus. Doze mem, mas que normalmente são negados por
duques passaram por Latza, e a dinastia La- motivos corriqueiros, como o medo e a doutri-
zari foi toda enterrada no Mausoléu das Eras. na. Estes elementos são a Morte e a Loucura.
Ele mandou desenterrar seus antigos ancestrais, Originalmente, os Lazari lideraram um culto
parentes e amigos mais próximos, mumifica-los à morte dentro de Latza. E por mais que este
e colocá-los em sua corte, para que nunca se estivesse escondido, recentemente Vittus fez
sinta sozinho, sempre acompanhado da Amici- aflorar a loucura de sua linhagem e esta parece
tia Mortuus. Ele busca seus aconselhamentos, contaminar todos ao seu redor, espalhando-se
festeja ao lado deles. Ele tem proferido verda- pela castelania como uma onda. A loucura não
deiras sandices, como dizer que o Eleito bebe é tão bem expressada individualmente como
sangue de Angellus, ou ainda afirmar que existe traços característicos pessoais, mas serve como
uma capela invertida que leva à Alcova Profana lembrete para aqueles que precisam se relacio- Como é crença na região, o
ou mesmo que existe um Puro que se tornou nar com habitantes de Latza. Já a relação com choro e a dor ajudam na
corrompido e é imortal. Essas, dentre outras a morte vem de maneira mais palpável, fruto passagem do morto. Assim,
loucuras, tomam formas ainda maiores quando dos latos, um povo recluso que compartilhou as famílias que podem
a lua cheia toma os céus. de seus saberes com os Lazari. Em Latza não pagar contratam bardos
se tem o mesmo repúdio e medo da não-vida. para emocionar as pessoas
fonte é O que existe lá é um respeito quase exacerba- fazendo-as chorar e sofrer
Tem certeza sobre isso que afirma? A sandice do para com os mortos que se traduz em cultos por tal perda. Além disso,
realmente confiável? Isso me parece co. fervorosos a relíquias sacras de partes dos cor- mulheres devotas à santa
exagerada até mesmo para um rei lou pos de homens santos e a velação de corpos por igreja vizinham famílias
vários dias, enquanto estes decompõem diante em luto para chorar pelo
dos olhos de todos. falecido, empurrando-o para
o mundo dos mortos.

b 143 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Adoração crescer. Apesar deste nunca ter se tornado uma
Adoração independente. O Tribunal não tem castelania independente, pela obediência aos
grande força na castelania, mas todo homem Vlakin, os duques Lazari conseguiram uma boa
ainda é temente a Deus e assim faz seus pró- reputação como gestores e, no advento do im-
prios ritos e honrarias. Sacerdotes ainda são pério, suas terras foram conquistadas. Este ato
encontrados, mas não se colocam tanto como foi considerado uma traição. Ciente da riqueza
líderes comunitários. O próprio rei Vittus insti- dos Lazari, os imperiais buscaram as tumbas de
seus antepassados, o que criou o costume no

IA
tuiu os dias de cultos fálicos, exaltando o poder
dominatório do pênis, normalmente em orgias ducado de se enterrar os mortos cada vez mais

ÊM
de proporções assustadoras. Tais orgias são nor-
F
malmente realizadas entre nobres e o clero, mas
fundo. Desse modo, criou-se uma verdadeira
cidade subterrânea sob a estrutura original da

AS
camponeses bem dispostos também são bem mansão Lazari. Além desta exploração, Lazari

BL
vindos ao culto. Eles depositam muito poder ao
destino e acreditam que a morte é apenas uma
foi utilizada como campo logístico para o impé-
rio, abrigando soldados e mesmo prisioneiros. O
parte do ciclo, por isso não carregam profun- Cárcere dos Condenados foi construído na ve-
Por falar em morte, do pesar por ela. A fixação pela morte se faz lha mansão, que ainda hoje é sede do governo.
existem muitas histórias presente em algumas igrejas que utilizam como Lazari conseguiu sua independência, tornan-
de trapaceiros e mentiro- ornamento de ossos de seus ilustres caídos lá do-se Latza, quando
Vittus recusou o
sos usando o processo de sepultados.
apoio do Tribunal,
semi morte causado pelos enviando de volta
frutos dos Arbusteiros Símbolo/Cor
Circundada por plumas de cor mostarda, a aos oradores apenas
Mori, descritos abaixo, para quimera está erguida, com as garras afiadas, a cabeça de seu arauto.
se safarem de dívidas e mas sob controle, enjaulada por grades de cor
acusações, escondendo-se cinzenta. Interessante perceber o uso da quime- Gravura estilo bertina
entre os mortos. Acha ra como símbolo do reino, certamente uma op- de Motazzi represen-
tando Vittus II, rei de
digno adicionar tais rumores ção que apenas confirma a loucura latente dos Latza recebendo um
requerente em seus
ao tomo, meu senhor? monarcas desta terra jovem, além de comprovar salões.
a necessidade de urgência em dar fim a esta in-
sanidade toda. Além da lenda da quimera de Ba-
ricus, um ídolo de ouro criado para ser louvado,
a própria imagem da coisa é um reflexo distor-
cido de tudo que existe neste reino maculado.
A quimera é o amálgama, a mistura do que não
deve ser feito, assim como a vida e a morte se
encontram em Latza.

O Passado
Antes da ocupação imperial,
Latza foi o orgulhoso ducado
de Lazari, uma força in-
dependente dada como
presente a um grande
aliado de Giocomo
Vlakin. Não demorou
para que o bom ge-
renciamento das ter-
ras fizesse o ducado

b 144 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
O Presente
a Latza é maior do que fora o ducado de
Existe até mesmo um
A Música do Corpo Lazari e vive momentos tensos, já que seu louco
feriado para tal ato, cha-
governante não parece disposto a aliar-se a Vla-
mado de Dementia Oculli,
Aquilo que se destaca na natureza
kir ou Birman, os lados da balança de poder no
quando o rei caminha entre
particular de Latza
leste de Belregard. Apesar disso, o povo parece
os mendigos e maltrapilhos
Arbusteiros de Mori: Estes pequenos arbus- amar seu governante. Vittus, um descendente
e se um deles lhe agradar,
tos crescem em certos locais de Latza e podem da dinastia Lazari, presa pela paz e pelo sosse-
receberá a honra de se
facilmente ser confundidos com qualquer outra go, apenas interrompendo-o quando é atingido
tornar um homem livre e
coisa, já que seus frutos, pequenos e escuros, por um de seus surtos de paranoia, quando julga
talvez até um nobre. De
brotam próximo da terra, nos galhos centrais criminosos para lutarem em seu amado coliseu
forma controversa, ele
da planta. O fruto é extremamente venenoso de Baricos, ou quando fala da quimera de ouro
também usa o dia para
e pode matar quem come um ou dois deles. que lhe aconselha. Mesmo com seus surtos e
arremessar nobres
Os antigos latzos usam essas frutas para atin- atos no mínimos excêntricos, Vittus não é só
imprestáveis na pobreza.
gir uma experiência de quase morte. Um chá apreciado pelo seu povo, como amado pelos
é feito com as frutas, diluído com água, sob a mais humildes. O regente já colocou mendigos
supervisão de um sacerdote experiente, que de- como conselheiros e obrigou nobres a viverem
verá tomar na sequência. O sacerdote deve ser nas ruas. Muitos dos nobres de Latza comparti-
forte, já que sentirá dores terríveis por um dia lham das loucuras de seu senhor.
inteiro, será acometido por delírios, podendo
vir a óbito. A urina do sacerdote, ainda carrega-
Relações e Comércio
Como mostrado acima, as relações de Latza
da com o poder das frutas, é oferecida aqueles
com seus vizinhos é tensa, para dizer o mínimo.
que desejam experimentar o caminhar para a
O comércio acontece com cidades mais próxi-
porta da morte.
mas nas fronteiras entre Vlakir e Birman, mas
Ímpio Porcino: Estas bestas vagam pelos a maior parte da produção local é destinada à
campos de Latza e não costumam ser caçadas manutenção da castelania e, pela infâmia que
de forma leviana. Os homens espertos evitam segue os moradores de Latza, a maioria dos
as varas porcinas sempre que podem. Chegan- mercadores prefere evitar tal contato ou limitá-
do à altura de um homem, com um couro cin- -lo ao máximo. Entre suas principais produções,
zento e enrugado, exibindo uma crina de pelos podemos citar beterraba, batata e cevada; a pe-
duros na cabeça e nas costas, com suas patas cuária é desenvolvida através de rebanhos bovi-
finas, em comparação com seu corpo largo, nos, suínos e caprinos.
mas ágeis e de cascos fendidos, uma face bi-
cuda que termina em presas ferozes, são tam-
Assentamentos
Diferente das demais castelanias, Latza não
bém chamados de porcos do inferno. Sua carne
tem ducados, apenas cidades governadas por
é muito apreciada, assim como as presas para
patronos submetidos aos anseios de Vittus, que
ornamentação. Sabe-se que alguns bandos de
controla Lazari, a capital. Ilkar é controlada por
degenerados enlouquecidos de Latza os tentou
um bufão, Bajnok. Petugia é controlada por um
domesticar… Sem sucesso.
homem com real sagacidade.

b 145 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Lazari e Antal Petugia
(aprox. 20.000 habitantes) (aprox. 8.000 habitantes)
A antiga cidade de Aneska se tornou aperta- Encostado nas montanhas a oeste de Latza
da, confusa e caótica. Pela necessidade de mais encontra-se o grande domínio de Petugia. De-
espaço e, principalmente, pelo modo de dividir pois de Lazari, esta é a comunidade mais antiga
os ricos dos miseráreis, Aneska foi dividida em do reino. Aqui é treinada a Legião das Crianças.
duas. Lazari é onde se encontra boa parte da Nos arredores da cidade existe o registro de for-
Como podemos buscar história de Latza, sede do castelo real e dos for- te atividade herética do passado, desde totens a
a luz do Criador apoia- tes militares. Lá se localiza o núcleo da cidade, antigos templos. O Tribunal mandou Latza der-
dos nas bases da nossa e a morada do Rei. Antal circunda toda Lazari rubar cada um deles, mas a linhagem dos Laza-
civilização se alguns reis como uma região periférica espremida por mu- ri parece ignorar tais ordenanças. Aqui mora a
insistem em arremessar ros e construções disformes, um local perigoso maioria dos fazendeiros e comerciantes do rei-
seus domínios em lamaçais e sem leis, literalmente. A guarda praticamente no, sendo que as famílias vivem bem distantes
de horror e caos? Antal é abandonou Antal, sendo que seu controle é fei- umas das outras. Uma lenda local diz que “viver
lar de dezenas de grupos to pela intimidação pessoal de cada um. A des- em comunidade lhe deixa insano”, e parece ha-
criminosos, incluindo peito disso, Vittus é respeitado em Antal e seus ver alguma verdade nisso, já que Petugia parece
sequestradores, falsifica- passeios pelas praças imundas sempre juntam estar livre dos caprichos lunáticos do Rei Vittus,
dores de moeda, assassinos multidões ansiosas pelos favores arbitrários do por enquanto. Patrono Local: Asztrik, O Cin-
e toda sorte de malditos. rei. Nobres só saem de Lazari quando vão até o zento. O homem recebeu esse nome por ter so-
Um lugar a ser ignorado. Coliseu ou quando precisam viajar para fora da ci- brevivido às fogueiras dos pagãos que habitam
dade. Patrono Local: Lazari é controlada pelo Rei as montanhas de Latza. As cinzas nunca saíram
Vittus, Antal não possui poder controlador central. completamente da sua pele e cabelos. Dizem
que a experiência de quase morte o deixou mais
Ilkar sábio do que nunca.
(aprox. 12.000 habitantes)
O local poderia ser um grande centro político,
religioso e militar, entretanto a turba confusa O povo daqui parece ter se esquecido do quão sério
impede o avanço. As leis alteradas sem prévio é o paganismo. Falam de tal blasfêmia com natu-
aviso e as sandices do Rei Vittus deixam Ilkar ralidade ímpar, algo que me incomoda. Não bastando,
sem saber como se controlar. Mesmo os nobres riem enquanto assustam suas crianças com cantigas
são obrigados a se adaptar rapidamente. Uma aterradoras. Veja apenas um pequeno trecho..
longa lista de Patronos já esteve na liderança de
Ilkar, mas simplesmente a abandonaram ou fo- “Grande, Parrudo, Peludo e Destemido
ram presos, por discordar da palavra real. Dois Arrasta esse menino pra floresta
anos atrás, um bobo da corte encontrou-se com Ele não come, não respeita e está sempre fedido
o rei e compartilharam suas loucuras. Rei Vit- Bate com o machado bem no meio da sua testa”.
tus retirou o antigo patrono e colocou o bobo
em seu lugar. Por mais incrível que possa soar, a
loucura do bufão parece entender a mente insa-
na do rei e, pela primeira vez em décadas, Ilkar
anda sobre trilhos. Patrono Local: Bajnok, Fi-
lho da Lua.

b 146 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Forças Militares
É expressamente proibido criar exércitos pes-
a
soais em Latza, logo, aqueles que o fazem ten- Cavaleiros Mercantes em Latza
tarão esconder suas ações.
Não existe qualquer estrutura formal para os
Legere Rex cavaleiros mercantes de Latza, de modo que
(200 Espadachins) são investimentos independentes e, muitas
vezes, extremamente perigosos. Ocorre de al-
Os melhores soldados de Latza são aqueles
gumas pessoas livres se juntarem para montar
treinados no Coliseu. Para adentrar as fileiras
uma caravana composta de apenas uma car-
destes soldados de elite, os candidatos visitam o
roça que pode vender de tudo: de panelas su-
subterrâneo da estrutura na companhia de Vit-
cateadas até orelha de diabos encontrados nas
tus e quando retornam à superfície estão muda-
estradas. Seria fácil confundir um grupo de ca-
dos para sempre. Alguns atribuem esta bizarra
valeiros mercantes de Latza com uma cumpa-
iniciação à mantícora de ouro de Baricos.
nhia strigori, mas este não é o caso. Costumam
Legião dos Loucos (Variável) ser bem pobres, já que a posição não significa
nada dentro da castelania. Realizam um comér-
Homens lunáticos, instáveis, e agitadores são
cio tímido com Vlakir, visto que o mais comum
comuns na maioria das cidades de Belregard.
de acontecer é que sejam expulsos dos lugares
Normalmente são párias da sociedade. Pensan-
onde tentam parar. Existem comerciantes em
do nisso, o rei Vittus recebe todos os loucos en-
Latza, especialmente no sul, e estes homens
viados para Latza. Esses homens recebem um
podem empregar alguns cavaleiros mercantes
tratamento especial e secreto na casa de repou-
mais tradicionais, equipando-os com pouco pe-
so, que faz com que os pacientes percam parte
rante o juramento de fidelidade.
da sua reatividade emocional. Depois disso, eles
são usados como verdadeiras bestas carniceiras
pelos soldados da Legere Rex.

Santíssimo seja o Senhor. Blasfêmia, podridão, ritos Construções e Formações


profanos. Tudo isso misturado com uma medicina estranha De tudo visto aqui, aquilo que se destaca:

e malévola. Cavaleiros deveriam visitar tais terras e Coliseu de Baricos


desmantelar isso tudo.
Antigo coliseu onde ocorriam os jogos do impé-
rio. Foi Vittus quem renomeou o Coliseu, ale-
Legião das Múmias (Variável)
gando ter encontrado uma velha estátua de ouro
Muitos dos soldados famosos foram mumifi- no subsolo da estrutura. Segundo Vittus relatou a
cados e aguardam em um lugar de prestígio no um sacerdote enviado de Birman, a estátua falou a
Mausoléu das Eras. Eles são contabilizados no ele e ensinou segredos antigos.
total de guerreiros do reino: o rei Vittus afirma
que se Latza for atacada severamente, eles irão Labirinto das Ossadas
levantar e lutar para proteger o reino. Quando O rei encontrou as ossadas dos mortos em va-
necessário, ele manda buscar algum general mu- las comunais que datavam da ocupação imperial,
mificado para auxiliar em decisões de defesa real. um episódio que ficou conhecido como Massacre

b 147 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
da Conquista (1061 DA), quando os Lazari se re-
Sobre a pesquisa de cas- a
tigos e torturas que fora cusaram a aceitar o domínio dos Vlakin, de quem
tinham sido fortes aliados, e acabaram massacra-
enconmendada por vossa Isolamento em Latza
dos. Disposto a invocar essa ancestralidade, Vittus
santidade, acredito que é O isolamento em Latza se explica principal-
digno de nota visitar esse mandou que os ossos fossem recuperados e usados
mente pelos degenerados. Estes perturbados
para decorar túneis sob sua morada, onde ele gos-
lugar. Com devida autori- existem em toda Belregard, mas seu número
zação, seria de grande valia ta de soltar prisioneiros que atraíram seu interesse
em Latza é assombroso. São homens e mulhe-
para o Tribunal. particular. Os poucos que saem do labirinto de tor-
mento estão mudados para sempre. res dementes que fazem comunidades indepen-
dentes nas florestas, pântanos e montanhas,
Casa de Mumificação com seus próprios reis de coroas de ossos e
casamentos reais consanguíneos. Vittus não
Os costumes dos Lazari eram macabros e envol-
faz qualquer esforço para acabar com a pre-
viam a prática da necromancia e vivissecção de
sença destes bandos independentes. Alguns
Infusão de bile, ervas animais e humanos, daí o interesse pela mumifica-
dizem que, todo ano, o rei faz uma grande as-
daninhas e coisas ainda ção. Acreditando que devidamente preservado um
mais estranhas em mortos. sembleia com os reis degenerados, na qual eles
cadáver pode voltar a vida, Vittus reconstituiu tal
Há relatos de espasmos reafirmam seus votos, e foi dessa forma que o
morada e colocou homens para estudar este anti-
de vida mesmo após dias rei conseguiu seu título de Dementia Rex, que
go costume, que havia sido proibido. Seu interesse
de falecimento. Além disso, ele carrega sobre todos os outros possíveis. Os
surgiu após receber uma revelação vinda de textos
alguns alegam conseguir degenerados são tão comuns nos campos que
sacros antigos onde lia-se “Morre primeiro para
vislumbrar o futuro lendo mesmo viajantes comuns, comerciantes que
depois ser vivificado por mim”. O local é aterra-
entranhas intestinais de de- sejam, são tratados com hostilidade inicial, até
dor e profano aos olhos do Tribunal. É um costume
funtos em decomposição à que se perceba não se tratar de degenerados.
moderno trazer as crianças aqui, mostrando para
luz das estrelas. Bruxaria estas que a morte é parte de vida e que nada de-
Existem muitas lendas envolvendo os degene-
qualificada. vem temer.
rados aqui em Latza. Uns dizem que eles já fo-
ram humanos sãos e que muitos querem ajuda.
Casa de Repouso São Pazzo
Outros afirmam que eles possuem ódio e procu-
Criada por volta de 1063, durante a ocupação
ram alvos relacionados às suas antigas vidas. A
imperial, a casa de repouso visava tratar as ma-
verdade está longe de ser revelada, mas se um
zelas mentais pelas quais passavam soldados e
dia for descoberta, será com ajuda de Latza.
prisioneiros mandados para Latza. Utilizando-se
de métodos sinistros, os médicos de São Pazzo
Ainda hoje enviarei uma desenvolveram uma técnica para acalmar o mais
carta diretamente ao histérico dos homens, com incisões na altura das Colina das Espadas
Eleito, pedindo-lhe têmporas, testa e por dentro dos olhos para alcan- Quando assumiu a liderança de Latza, Vittus
uma ação enérgica com çar o cérebro. Tais técnicas são usadas ainda hoje, decretou que as espadas deveriam ser aban-
relação a tal blasfêmia. mas com avanços sombrios, pelos quais é possível donadas em seus domínios. Antes da loucura
Isso é inaceitável. despertar a selvageria destes loucos com coman- tomar conta de sua mente, o monarca buscou
Sobre a tal doença dos simples; o resultado exemplar dessa técnica é a meios pacíficos para dar ordem ao seu povo e
Insânia, que tipo de Legião dos Loucos. ordenou que todas as espadas fossem deixadas
informações adquiriu? na colina próxima a Lazari. Hoje este monte é
horrendo, com centenas de espadas enferruja-

b 148 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
das e é onde as Crianças da Legião vem jogar
suas armas quando se iniciam na ordem, como
a
gesto simbólico. Vittus gravou a seguinte men- A Loucura de Baricos
sagem na colina: “Trago a paz e não a espada”.
Conta uma lenda antiga que antes da vinda do
Gruta de Irbelle Criador ao mundo dos homens, alguns sa-
cerdotes eram capazes de realizar pequenos ri-
Dizem que o rei se apaixonou por uma mulher
tuais e feitiços. Eles conseguiam curar doenças
chamada Irbelle e, para encantá-la, ele cons-
e até mesmo reviver os mortos. Poucos dias an-
truiu uma gruta para ela. A gruta é totalmente
tes de sua vinda, a ligação espiritual que estes
artificial e foi erigida com pedras de todos os
homens tinham com o Pai caiu por terra e seus
tipos. O sol quando nasce passa por prismas de
dons foram perdidos. Muitos enlouqueceram,
cristal que fazem o lugar brilhar em inúmeras
como o infame Baricos. Baricos, o Sereno, foi
cores. Como Irbelle não gostou do lugar, o rei a
um homem que se desvairou diante da perda do
matou afogada e usa seu crânio como carranca
contato com o Criador. Sentindo-se abandona-
na gôndola que utiliza para passear pela gru-
do, mandou que se construísse uma estátua de
ta. Os casamentos reais de Latza são realizados
ouro de um ser que lhe falou através de um so-
obrigatoriamente aqui, sob a benção do rei, to-
nho. Tratava-se de uma aberração com corpo
dos embarcados em gôndolas.
de leão, cabeça de homem e asas de morcego
Rio Brago — uma verdadeira mantícora. Prestando ho-
menagens ao ídolo profano, Baricos e seus
O rio Brago também dá nome à área pantano-
adoradores nem puderam responder à forte re-
sa ao seu redor, lar de uma fauna extremamente
presália da mão armada dos religiosos. Dizem
diversificada. O terreno acidentado é uma das
que a figura de ouro ficou por muito tempo es-
linhas de defesa da castelania contra as ambi-
condida, já que não viram maneira de destruí-
ções de Birman. Até hoje uma das punições por
-la. Esta estátua supostamente foi encontrada
crimes é ser arremessado no brejo, acorrentado
por Vittus, que agora a utiliza como um trunfo,
em pesadas bolas de metal, por dias, meses ou
talvez sendo até mesmo o que mantém tropas
até o fim da vida.
invasoras afastadas de suas terras. Ainda pior,
a estátua pode ser o que mantém a castelania
unida, fazendo com que pessoas aceitem as

“É terrível a cacofon ia que se ouve a loucuras de Vittus, desde que passem tempo o

todo momento nos arirosredores dos pâ ntanos . suficiente em suas terras.


m depoi
Muitos dos prisione s sesegusoemltavivendo nas
de algum tempo, ma formando comunidades
lama, na decadência, mpartilham de tudo. Por vezes, eles mesmos
de degenerados que cocativos, mas já se ouviu sobre prisioneiros que foram
libertam os novos s mesmos homens, depois de não passarem por algum
devorados vivos por esmetento feito pelos mesmos. Independentemente de qual
tipo de torpe julga istência destes enlouquecidos já é uma punição forte o
seja a questão, a exficiente para os que são lançados lá. “
su
b 149 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b

Parlouma
“Prados e trovões.”

Capital belgho a ser convertido no criadorismo, o san-


Parméquia. gue parlo acabou sendo diluído em um longo
processo de aculturação. A igreja daqueles tem-
Poder pos temia uma revolta por parte dos senhores
Rei Absolon Del Aqueline e rainha Adalene dos cavalos e assim tomou suas crianças para
Del Aqueline. Possui apenas uma filha, Alissa. transformar a próxima geração. Este orgulho
O primogênito, Absolon II, faleceu em 1342, lu- tem retornado hoje, mas a mistura gerou uma
tando na revolta de Rikard. Alissa, com 16 anos, série de outras etnias menores que possuem um
seguiu os passos do irmão, adentrando a ordem toque parlo em seu sangue, como os varnos dos
dos Cavaleiros Pardos, como escudeira. pântanos, que cantam seus lamentos; os guer-
reiros brados do leste, envolvidos na guerra dos
Adoração traidores; e os vlakos do norte, que refletem um
Seguem os ditames do Tribunal à risca, usan- apego religioso exagerado. Além disso, devido
do como base os textos originais em parlo e não à camorra, uma espécie de oligarquia local das
a versão “empobrecida” chamada de Vulgata. cidades e fazendas, os parlos acabam marcados
As ordens cavaleirescas são presentes, seguidas por um sentimento de ufanismo que, quando
pelas ordem mendicantes extremistas; entretan- não direcionado a estrangeiros de Parlouma, faz
to, os Lazlitas não podem considerar Parlouma com que eles mesmos troquem ofensas e hosti-
como sua casa. O criadorismo é forte dentro de lidades entre si.
Parlouma e são raros os momentos em que se vê
algum tipo de adoração antiga surgindo entre Símbolo/Cor
os homens, mesmo aqueles que tem desejado Cavalo corcoveado sobre um manto marrom
recuperar o orgulho das ordens dos cavaleiros e verde musgo encimado por um elmo que re-
Pardos, a primeira cavalaria de Belregard. presenta os cavaleiros pardos. A simbologia
do cavalo é muito forte para os parlos. Retro-
População cedendo a tempos bárbaros, quando os parlos
Majoritariamente formada por parlos, com começaram a ser convertidos, temos o cavalo
um considerável número de belghos. Em Parlou- como filho da noite e do mistério; destruidor e
ma vive-se sob o ritmo dos parlos, que é focado triunfante, nutriente e asfixiante. O cavalo está
no trabalho durante a maior parte do dia, com a associado às trevas do mundo ctoniano, e pode
tarde reservada para o lazer e prazer com famí- surgir galopando das entranhas da terra ou dos
lia e amigos. Como foram o primeiro povo não abismos do mar. Os parlos creem que o primei-
b 151 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
ro cavalo veio do oceano, saído das entranhas rões e duques têm buscado o poder das alianças.
do mundo para cavalgar os campos e, quando O já velho Absolon não exerce mais a mesma
morreu, teve seu coração enterrado naquela ter- influência em seu território e a ausência de um
ra que tomou como lar. Este coração, ainda hoje, herdeiro legítimo para o trono preocupa muitos
pulsa e atrai os raios que castigam a planície. nobres e inclusive a família real. No caso da mor-
te do rei, a filha dele irá assumir. Isso não seria
O Passado um problema, se a mão de Alissa não estivesse
Antes de tornar-se um reino, o território vas- prometida a um jovem príncipe de Vlakir.
to de planícies era pontilhado de vilarejos que
viviam sob o jugo da camorra local. Parlouma
surgiu do descuido de Vlakin I em ceder con- a
cessões de terra a nobres aliados. O oportunista
Fauna e Flora Fantásticas
Fabrizio de Parlouma, que tomou o território e
tornou-o seu reino particular, reestruturou toda Aquilo que se destaca na natureza
a organização local, nomeando duques e con- particular de Parlouma
des em 970 DA. Não foi um rei popular, mas
abriu caminho para o resgate do orgulho par- Dragona: árvore comum dos campos de Par-

lo. Durante a ocupação imperial, Parlouma não louma, possui um caule fino que se alarga na

passou de um grande campo de treinamento copa. A parte inferior da copa apresenta ape-

para as ordens de cavaleiros sacros. Para aqueles nas galhos, que se entrelaçam como raízes, e

poucos que se lembravam das tradições da cava- por cima estão as folhas, finas e muitas, como

laria de seu próprio povo, foi difícil ver o Cam- um morro coberto de capim. A seiva vermelha

po Trovejante ser manchado e castigado pelos da dragona é utilizada como corante, verniz e

cascos de cavaleiros que visavam apenas servir até mesmo como parte do tratamento para inú-

ao império que lhes oprimia. No momento em meras doenças. Dizem que o que escorre dela,

que a chance da liberdade surgiu, alguns parlos na verdade, é o sangue dos dragões, mas tais

foram contra toda a fama de passivos especta- criaturas ocupam apenas as lendas de Belregard.

dores e pegaram em armas para restaurar sua


Argentavis: estes pássaros são mais comuns
supremacia local. Absolon, o Alto, surgiu como
no norte de Parlouma, nas redondezas dos
líder dos parlos e, montado em seu corcel negro,
montes sacros e outras áreas ao sul de Virka.
correu os campos de Parlouma convocando a
São aves imensas de plumas negras e cabeça
todos para a guerra.
pelada, com bicos longos feitos para rasgar. A

O Presente envergadura destes terrores alados pode chegar

Da queda do império em diante, muito da tra- a oito metros, e se engana quem pensa que são

dição de Parlouma tem voltado à tona. Os cava- pássaros de pouca força, já que podem erguer

leiros Pardos, a mais antiga das ordens, tem feito até mesmo uma pessoa no ar. Suas plumas são

o possível para recuperar seus valores perdidos valorizadas como decoração de roupa, assim

e ofuscados ao longo do tempo. Os parlos vêm como o bico, que pode figurar como cabeça de

investindo em uma campanha de militarização clava em armas toscas.

de sua castelania e, por mais que a desunião


marque o terreno político na região, alguns ba-

b 152 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Relações e Comércio Aquirrare
Parlouma sempre inovou em questões comer- (aprox. 5.000 habitantes) Lembrando, majestade, que
ciais e meios de produção. Foi a primeira cas- Estando na região mais a oeste da capital, a
toda essa região fora uma
telania a fazer uso dos moinhos de água e de cidade é o eixo que liga toda Parlouma. A Ca-
imensidão alagada de brejos e
canais para alimentar plantações distantes dos morra está impregnada aqui, o sistema de briga
lagos. A utilização de diques
principais rios. Souberam usar dos avanços tra- familiar e apadrinhagem está tomando propor-
e moinhos drenou toda a
zidos pelo império, em seus impressionantes ções catastróficas e muitos inocentes morrem
água desta região. Com uma
aquedutos, para trazer a água das montanhas. A em meio da guerra comercial que as famílias
pequena gôndola é possível
despeito de tais avanços, a situação atual não é travam. Como local de passagem para o outro
viajar rapidamente entre as
propícia nem mesmo para estes grandes comer- lado do rio, Aquirrare pode entrar em confli-
fazendas. Acha válido uma
ciantes. A desconfiança que se instaura entre os tos entre barqueiros de Varning, que fazem o
pesquisa aprofundada sobre tal
condes torna o comércio um assunto menor. Seus mesmo serviço em Tiepole. Patrono Local:
engenhosidade?
principais produtos são: trigo, batata-doce, mi- Duque Warrane de Zuria, O Mentiroso. Ninguém
lho, cevada, uva, batata, frutas, tabacos, vinhos, gosta de Warrane, ele tenta agradar a todos,
suínos, ovinos, caprinos, bacalhau, carvão e fer- mas no fim, usa o que sabe para se favorecer.
ro. Seus produtos são desaguados para Varning, Inclusive tem lucrado muito com a guerra que
Vlakir e Branden na medida do possível. Sua ri- se abate sobre Aquirrare — dizem que ele é o
validade com Dalanor pelo controle dos vilarejos “Grande Padrinho” desta contenda.
ao redor de Virka faz o clima ser tenso.
Normarom
Assentamentos (aprox. 1.000 habitantes)
Parlouma é dividida em 6 regiões principais, A estrada que leva até os Montes Sacros pas- Encontrei um diário de um
ducados concedidos às respectivas famílias há sa por Normarom. Impossível um real adorador homem que morreu enforcado em
duas ou mais gerações, além da fortificação do do Único não ir até a cidade ao menos uma vez uma árvore após assaltar um
Castelo Royal. na vida. Aqui fica a grande catedral do Tribu- viajante. O diário relata toda sua
nal. Um verdadeiro antro de fé. Patrono Local: caminhada até os monte sacros,
Torquato ele passou por experiências
Duquesa Odeletta de Olivier, que sofre profun-
(aprox. 8.000 habitantes) desumanas e inacreditáveis.
da investigação após seu marido trair o rei e
Uma grande cidade que se estende ao longo iniciar uma revolta contra ele, além da suspeita Impossível o homem que escre-
do vale banhado pelo Rio Mesnile, onde a corte de que ela esteja envolvida na morte do próprio veu tal diário ter assaltado e
real costuma ir quando o inverno se abate em filho. O Tribunal pretende, assim que possível, matado um viajante. Este homem
Parméquia. A comunidade prospera graças aos convencer o rei a colocar outra pessoa no co- viu o Criador face a face. Irei
acordos comerciais feitos com os vizinhos. Jun- mando. pesquisar sobre sua vida.
to com o progresso, aumentaram a pobreza e a Enviarei-lhe tal tomo assim que
criminalidade. Patrono Local: Duque Madelon Borgosa restaurá-lo.
II, O Emissário. Homem de confiança do Rei, (aprox. 8.000 habitantes)
Madelon viaja Belregard como grande emissário A maior cidade produtora de alimento. Sede
real e é tido como o homem mais sábio da corte. dos fazendeiros e das grandes guildas. O cam-
Seus olhos afiados não costumam deixar nada panilismo, o bairrismo, aqui é tão grande que
passar e é conhecido por ouvir muito e falar cada baronato parece um ducado diferente,
pouco. Desaprova o acordo do rei com Vlakir, com costumes e jeitos ímpares. As mudanças na
mas não era seu conselheiro na época. corte de Borgosa têm gerado sérios conflitos e

b 153 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
muita mortes já ocorreram. O ducado é onde
existe a maior concentração de barões de Par-
a
louma. Patrono Local: Duque Gutierre III Isolamento em Parlouma
com apenas 10 anos, supervisionado pelo tutor
Gaetano, o Rubro, que reformulou a política de O isolamento em Parlouma se dá pelas longas

Borgosa, subdividindo o ducado em baronatos estradas. Os caminhos são muitos e a camorra

menores. A reforma tem causado muito descon- cuida para que nem mesmo as cidades sejam

forto, mas o rei parece não se importar, afinal, o completamente seguras. O bairrismo é forte

recolhimento de impostos de Borgosa nunca foi dentro de Parlouma e, muitas vezes, visitantes

tão farto. Gaetano tem contratado homens para precisam conhecer os verdadeiros chefes das

fazer sua segurança, formando um pequeno cidades, que não o lorde local, para manter a

exército de lanceiros. segurança dos seus. Além desse problema in-


terno, sair das fronteiras da castelania pode ser
Parméquia problemático. Para o leste, os rios e montanhas
(aprox. 10.000 habitantes) impedem uma viagem diretamente para Bra-
den ou para Belghor; ao norte a febre religiosa
Em um grande platô e cercado por imponentes
de Vlakir pode causar problemas; ao oeste fica
muros de pedra está o grande Castelo Parme-
Varning, a única mão amiga, mas cheia de se-
quiano. Construída sob marco da vitória sobre
gundas intenções, que pode vir a se erguer.
os selvagens, a capital é um sítio da história dos
pagãos, erguida sobre ruínas de antigos cultistas
adoradores da Horda. Sussurra-se que lâminas e
garras são afiadas nas sombras, alertando que
os pecadores querem seu lar ancestral de vol-
ta. Parméquia é um exemplo de infraestrutura e
avanço, suas ruas de pedra e casas de dois pisos
são uma imagem marcante para todo visitante.
Patrono Local: Rei Absolon Dell Aqueline.

b 154 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Forças Militares Campeões Alvos
Com exceção das milícias submetidas aos pa- (150 lanceiros e 130 cavaleiros)
tronos locais, a armada de Parlourma se divide
Liberti Linteum
Estes cavaleiros errantes possuem a árdua e
em seis exércitos distintos.
“Aqui se faz presente um
ingrata tarefa de vigiar a Floresta Alva. Esta
homem livre que não pode ser
Cavaleiros Pardos (300 cavaleiros) vigília já foi responsável por inúmeros comba-
detido, colocado em prisão sem
tes contra os pagãos. Muitos de seus cavaleiros
O maior orgulho de Absolon foi a reestrutura- motivos: não pode ter seus bens
ruíram, suas mentes pareceram entrar em um confiscados, colocado como fora
ção da cavalaria oficial de Parlouma. Na busca
rodopio insano sem fim, tornando-se apenas re- da lei, exilado e não pode ser
pelas raízes de seu povo, os velhos costumes e
flexos esquálidos do que um dia foram. morto sem devido julgamento,
tradições de cavalaria dos parlos foram utiliza-
dos para trazer de volta estes altamente treina- Ratos Vermelhos
que deve ocorrer em harmonia às
dos cavaleiros de elite. São liderados por Benito,
(100 lanceiros e 20 cavaleiros)
leis de sua castelania e sob o
chamado “enferrujado” pelas sardas que co- olhar do Criador.
Com um sem número de soldados menores, É de seu direito portar uma
brem seu corpo e o cabelo ruivo.
os Ratos foram inicialmente formados por Gae- arma, ter servos, animais,
Guarda Real Parmequiana tano, o Rubro, mas seu contingente tomou pro- comprar e vender coisas, sempre
(220 lanceiros e 80 cavaleiros) porções nunca antes vistas. Muitos são os guer- vigilante aos impostos. Assim
Estes homens são selecionados entre os melho- reiros oficiais e mais ainda são os simpatizantes. como os benesses, está sob
res e todos passam por uma entrevista real com Estes homens possuem a árdua tarefa de manter novas leis de obrigações, como
a rainha Adelene. Estes homens recebem o título os barões de Borgosa sob vigilância. cidadão de bem.”
de homens livres após cinco anos de serviço e
uma promessa de possível ingressão dos seus fi- Construções e Formações
lhos quando completarem a idade necessária. De tudo visto aqui, aquilo que se destaca:
O local é um caos. As estra-
Fúria Adelana Florestas Alvas das caem em desuso na mesma
(160 lanceiros e 50 cavaleiros) Uma floresta densa, quase primitiva. Dife-
velocidade que outras nascem.
rente de Dalanor, existem poucas lendas so-
Isso é capaz de deixar qual-
É inegável que a família da rainha Adelene
bre criaturas amistosas compactuando com
quer um louco, talvez seja por
foi uma das mais justas ao longo da história de
os homens. Aqui há apenas muito respeito e
isso da lenda do labirinto. Dizem
Parlouma. Seus servos fieis choraram quando a
uma ponta de temor à sua grandiosidade e es-
que no meio da floresta está o
descendência real se desfez e sobraram apenas
Labirinto das Brumas, uma região
mulheres a serem casadas. A ordem foi criada curidão. É quase sempre tomada de neblina e
mística, uma espécie de pedaço
durante a revolta de Rikard, quando um ataque poucos têm coragem de se afastar das estradas
da Fímbria na terra, e aquele
surpresa foi realizado à carruagem da rainha principais.
que conseguir atravessar o
e parte do bando se recusou a matar Adelene,
Rio Sieburgo labirinto irá rejuvenescer. Acredito
agindo contra seus antigos aliados. que isso seja o motivo por que
Estando conectado ao Rio Mesnile, este rio
Filhos de Aqueline (300+ lanceiros)
muitos idosos sejam deixados às
cumpre a importante missão de permitir que
margens das Florestas Alvas
Formados principalmente de condenados e toda produção do Circuito dos Campos chegue quando o peso de suportá-los
soldados indisciplinados, os Filhos de Aqueline até Latza, Birman e Virka. Com uma extensão é demasiadamente alto.
formam o maior contingente de lanceiros do modesta, a maior parte desse deságue é feita
reino. Todo aquele que lutar uma guerra vitorio- por balsas e barcos menores, somente depois
sa poderá se tornar um homem livre, é o que encontrando embarcações maiores para seguir
promete o rei. para destinos mais longínquos.
b 155 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
As fortificações contam b Belregard b
com uma invenção genial. Uma Triângulo das Torres feiras e festivais acontecem a cada estação na
espécie de globo misturado região. Devido à mistura de vilas, diferentes pa-
Três torres de vigília construídas durante a
com uma luneta, usando es- tronos, o local é confuso e somente quem é de
Era do Homens estão lá até hoje sobre o monte
pelhos, vidro polido e cristais, lá parece entender como toda região funciona.
Benay. As torres foram construídas de maneira
apontadas diretamente entre
estratégica, cobrindo uma área extensa e per-
elas, triangulando a região. A Passagem
mitindo que todos os locais fossem vigiados
Através de códigos sigilosos, Antes da Era da Conquista, uma passagem
com a mesma qualidade. Uma torre está voltada
conseguem trocar mensagens entre as montanhas ao leste de Parlouma davam
estoicamente para o mar - remontando o medo
usando o reflexo projetado. caminho para que homens de coração negro ata-
da lenda sobre bestas selvagens que sairiam das
Tentei buscar mais sobre tal cassem a castelania. Esta passagem sempre foi
águas - outra torre está virada para Belghor e a
invento, mas fui impedido. protegida pelos servos da Sombra, mas acabou
terceira torre aponta em direção a toda região
Preciso de uma autorização derrubada pelos esforços de um santo do povo
oeste.
e homens caso seja de seu parlo, Ercole de Borgosa, que rompeu o cami-
interesse saber mais sobre Montes Sacros nho ao derrubar os pilares que sustentavam uma
isso, meu senhor. das cavernas. A única pista para a passagem são
Lar do corpo de santos e local de procissão.
Senhor, há necessidade de os dizeres gravados em parlo numa placa de me-
A lenda diz que foi aqui que o primeiro homem
proteção aos modestos que tal: “Abandonai toda a esperança, aquele que
recebeu seu cavalo como presente dos céus pelo
peregrinam. São fortes de ousar por estes umbrais passar”.
Único. Os mais antigos pregam que todo batiza-
alma, mas fracos de carne. do deve ao menos uma vez na vida participar da
Ponte da Feira
Os saqueadores e bandidos peregrinação até estes montes. A jornada come-
riem de sua audácia, da sua ça no limites de Virka cerca de 15 dias antes da A grande feira de Parlouma que atrai o mundo
coragem em atravessar tais comemoração do Dia da Ascensão, que será fes- todo acontece sobre o Rio Mesnile em Torqua-
terras, e flagelam seu corpo. tejado com a chegada dos peregrinos ao local. to. O comércio é livre e qualquer um pode mon-
Como se a peregrinação não tar uma barraca no local e vender seus produ-
fosse sofrida o suficiente, os Castelo Royal tos. A feira tomou proporções tão grandes que
massacres e mazelas que en- (aprox. 4.000 habitantes) extrapolou o espaço da ponte e se estendeu ao
frentam têm afastados fieis. Uma poderosa fortaleza se encontra no topo
longo de todo o aqueduto do rio Mesnile. Todos
Por esses devotos intercedo. da do Pico dos Parlos Livres, de onde é possível
os catorze piers são lotados de comerciantes
tentando vender suas mercadorias.
ver todo o mar do sul. Para chegar até o castelo
é preciso subir uma imensa estrada de pedra es-
corregadia. Patrono Local: Duque Amaranto,
tio da Rainha Adelene, um cavaleiro veterano bem assim. Abaixo
que tenta seguir os passos de Leoric, o Puro, Na prática todos sabem que não é orra mantém rígido
mas se vê preso nos afazeres militares, deixan- da política de livre comércio a camvender. De acordo
do sua vida espiritual de lado. controle sobre quem pode ou não dias após nossa
com um informante, que morreu poder vender e
ra
Circuito dos Campos conversa, todos precisam pagar paorra.
por proteção à cam
Uma região localizada na área central de Par-
louma que conecta Aquirrare, Borgosa e Torqua-
to. A região é a principal produtora de tudo que
Parlouma come, veste, bebe e vende. Grandes

b 156 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b

Gravura estilo bertina de Fergus


mostrando a Ponte da Feira onde
ocorre o comércio local.

a
O Acordo do Rei

No longo período de governo de Absolon, o


amado rei teve de provar seu valor inúmeras
vezes contra revoltas internas de nobres insa-
tisfeitos. Em um período curto da Era da Luz,
Campo Trovejante
no ano de 1342, uma revolta liderada pelo du-
Esta vasta planície próxima da costa sul de Parlouma é que de Normanon, Rikard, deixou complicada a
constantemente castigada pelo vento frio vindo do mar e situação de Absolon. O rei, tendo menos apoio
as tempestades são comuns na área. Alguns acreditam que do que julgou que teria, viu-se obrigado a acei-
o coração do primeiro cavalo, dado aos homens nos Montes tar ajuda de Vlakir, vinda de Gaedus, um lorde

Sacros, está enterrado no centro da planície e é sua força local. Em troca, depois que a revolta foi contro-

primitiva e intensa que faz gerar o tempo severo. É um cam- lada e a esposa de Rikard colocada para gover-
nar o ducado, Absolon prometeu a mão de sua
po de cavalgada, de treinamento para a recém formada ca-
filha, Alissa, ao primogênito de Gaedus, ainda
valaria dos Pardos. É sempre possível ver tropas de cavalos
recém nascido naquela época. Pouco a pouco
selvagens correndo por essa região, assim como sempre foi
o momento da cobrança se aproxima e muitos
e como sempre será.
dos nobres de Parlouma veem com maus olhos
a entrega da filha do rei dessa forma. Não é di-
fícil imaginar um cenário de desastre seguido
da morte do rei, no qual um levante dividirá o
reino, não aceitando o rei estrangeiro.

b 157 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
O poder desses juízes excede

Varning tudo que vi em outro lugares.


Eles são os donos das casas,
das ruas, dos animais e até
“Fraternidade.” dos homens. Desculpe ser
fatalista, senhor, mas o nível
de poder deles está tão es-
truturado que a população se
cegou e aceita sua autoridade,
quase acima do Tribunal. São
tomados pela cegueira do ouro.
Capital Dividam com seus semelhantes a recompensa do
Tiepole. suor”. Os cofres do Tribunal estão gordos com
as doações feitas pelo conselho de Varning. Em
Poder contrapartida, o Conselho odeia a avareza e ten-
Conselho Comercial. Um conselho de ricos ta controlar o poder monetário dos seus afilia-
mercadores governa Varning, sendo que a iden- dos. Eles aceitam o Tribunal até o ponto onde
Semelhantes para esta socie-
tidade destes homens é mantida em segredo, suas ideias retrógradas não tentam impedir o
dade possui outro significado.
apesar de certos juízes apresentarem uma face avanço de sua nação.
Eles não creem em igualdade
pública para a população, cuidando de boa
para todos; perante as suas
parte dos assuntos mundanos que permeiam População próprias leis e julgamento,
a castelania. O corpo conhecido como Fâmulo Formada principalmente por belghos e parlos, seus semelhantes são seus
Incógnito serve aos Conselheiros, levando suas mas um sem número de outras etnias também irmãos desta sociedade secreta.
vontades aos homens do reino. Dizem que todos marca sua presença em Varning. Como terra de Existem centenas de histórias
os comerciantes, Fâmulos e conselheiros, fazem misturas, temos os vanos dos pântanos, que já de claro favorecimento de um
parte de uma sociedade secreta de ajuda mú- viviam na região e possuem um costume natu- dos lados, apenas por partic-
tua. Eles possuem segredos sobre a matemáti- ralmente rude para com estrangeiros. Varning ipar desse seleto e sigiloso
ca e contabilidade que não querem dividir com não é uma terra de gente belicosa, mas certa- grupo.
ninguém e por isso se fecham de modo sigilo- mente a ganância corre em suas veias e pode
so. O homem chamado de Klauss, O Rico, deu fazer com que eles assumam qualquer risco pelo
origem ao primeiro banco de Belregard, A Casa lucro. O desejo pelo dinheiro está estampado
de Fortunas, Pedras e Títulos, e criou a possível nos olhos destes homens e mulheres e, como as Colocação acertada. Nunca
sociedade secreta. Pessoas dizem que os mem- oportunidades para o lucro não se abrem para ande em Varning de forma
bros da fraternidade estão divididos em graus, todos, não é difícil de acreditar que o crime e o tranquila, especialmente com
e cada grau subdividido em etapas. Os Conse- roubo estejam também entranhados nas almas objetos de valor.
lheiros se encontram no topo, na última etapa daqueles que vivem em Varning.
do sexto grau.
Símbolo/Cor
Adoração Sob um fundo verde que representa o fundo
São homens crentes, acreditam na prosperi- do mar, uma truta marrom mostra sua impo-
dade que o Único é capaz de lhes proporcionar. nência. A truta é um peixe dócil, mas carnívoro,
Amparam-se na parte da Vulgata que diz: “Vão, alimentando-se de outros peixes. Este peixe é
conquistem e voltem para seus lares com bens um símbolo do poder do Conselho Comercial de
de ouro e prata, juntem rebanhos e puro linho. Varning pois tem a coragem de migrar para os
b 159 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Neste período iniciou-se oceanos por boa parte de sua vida, retornando
o que hoje chama-se à água doce apenas para a desova. Assim como
de perscrutação. O que deve ser no mundo comercial, nadar entre tuba-
antes era uma questão rões para dar conforto aos seus filhos. a
de sobrevivência, agora é Fauna e Flora Fantásticas
O Passado
utilizado para enriqueci-
Varning surgiu durante a Era de Sangue,
mento e ganho de poder. Aquilo que se destaca na natureza
quando os burgueses da ainda imponente Virka
Com algum sigilo, particular de Varning
passaram a enriquecer com o comércio e com
mas de conhecimento
a guerra. Sendo censurados pela própria igreja Quiesca: Esta árvore dos pântanos do sul pos-
da maioria, existem
e acusados de cometer o pecado da ganância sui uma característica muito perigosa. Suas raí-
escola de infiltradores
através da usura, muitos destes mesmos nobres zes são altas e costumam ser usadas como lar
e espreitadores (o que
migraram para o sul de Virka. Lá, junto inclusive de predadores, especialmente jacarés. À noite,
o povo chama de “olhar
de um dos Puros, um dos homens ilumina- as folhas desta planta emitem um brilho ponti-
de vilão”), até mesmo de
dos pelo próprio Criador, estes comerciantes lhado e pequeno, como se fosse um céu estrela-
assassinos, quase todos
iniciaram uma nova forma de governo. Com o do, e a menor das vibrações faz com que essas
servindo aos interesses
caos ocupando a capital, proclamar uma inde- estrelas caiam. Uma breve respiração próxima
comerciais de Varning.
pendência não foi difícil, e assim nascia o rei- delas faz com que a pessoa sinta sonolência e
É dito que conhecendo
nado de Varning. Quando o império se ergueu, acabe dormindo. Alguns predadores desenvol-
a pessoa certa e com
Varning sabiamente recuou, oferecendo um veram a tática de bater na árvore por baixo,
bom dinheiro, pode-se
apoio tímido na esperança de ser poupada. No quando sentem a aproximação de uma possível
até comprar um esprei-
entanto, os agentes de Virka, sabendo do gran- presa, mantendo-se sob a água para não serem
tador ou assassino para
de conhecimento dos comerciantes sobre as afetados. Alguns alquimistas alegam que o pó
lhe servir com lealdade
rotas, caminhos e perigos do mundo, tomaram pode ser usado para a criação de poções.
por toda a vida.
Varning num dos primeiros atos de consolidação
Megatherium: Esta besta gigante, com o cor-
do poder imperial. No período em que as revol-
po maior que o de um urso, pelagem farta de
tas começaram a estourar em toda Belregard,
cor de cobre e um rosto comprido, vaga pelas
foi papel de Varning encontrar os velhos mapas
terras de Varning em seu passo lento. Seria um
e registros para que se pudesse minar o poder
animal inofensivo, não fossem as imensas gar-
do império por dentro.
ras em suas mãos. Mesmo com golpes lentos,
O Presente a besta é capaz de matar homens que subesti-
Apesar da vitória, os longos anos de con- mam sua aparente calmaria. As garras longas
trole cobraram seu preço no enfraquecimento são valorizadas como adorno e os religiosos
do domínio de Varning e nas rotas de comércio. dizem que o comportamento destas criaturas é
Muito foi alterado e abandonado, e hoje poucos um reflexo, uma paródia, da ganância do povo
dos caminhos ligam os grandes centros à cidade de Varning, que se torna lento, ainda que peri-
portuária. A grande influência do Tribunal ain- goso, com as riquezas que acumula.
da torna difícil uma liberdade como que se tinha
no passado e as chances de Varning parecem es-
tar melhores no mar. Estrangeiros que realmente
quiserem entrar têm suas melhores chances ser-
vindo como soldados no Secundus.

b 160 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Relações e Comércio gada e junto com a ela a liberdade; o autorita- Juro que tentei, senhor, juro que
rismo cresce ao ponto que falar contra o Conse- fiz tudo que pude, mas nada
As relações de Varning costumam ser neutras lho em Tiepole é correr risco de receber a visita consegui descobrir sobre essa
e amistosas com seus vizinhos. Dalanor realiza inconveniente de seus Fâmulos. Atualmente é o sociedade secreta. Eles parecem
trocas com frequência, assim como Parlouma, local de passagem pelo rio e pelo lago. Os bar- ter descoberto livros de Bovär
apesar dessa segunda se sentir dividida por sua queiros de Tiepole trabalham o dia inteiro para II que relatam sobre o poder
relação com Vlakir. Como Dalanor e Parlouma levar pessoas de um lado para o outro. Patrono dos números e dos astros, mas
tem tido atrito ao ocupar aldeias pertencentes Local: Agapito, O Amado. Ele é um seguidor encerra-se por aí.
a Virka no passado, Varning se mantém neutra ferrenho de Leoric, e prega que o Caminho Ir- Se quisermos saber mesmo quem
neste assunto, disposta a comercializar com repreensível deixado pelo Puro é a solução de são estes homens e mulheres,
ambos os lados. Peixes, grãos, vinhos, carnes todos os problemas do mundo. Ele é dedicado a precisaremos nos infiltrar, usar
de corte, artesanato e até mesmo uma limitada aumentar o poder da representação popular não as armas que eles usam tão bem.
mão de obra, composta de tutores estudados na somente do conselho, mas também de todos Para isso, preciso que o senhor me
Academia do Saber, podem ser exportados de os comerciantes do reino. Dizem que ele é tido dê poder para recrutar pessoas de
Varning. como Grão Mestre dentro da sociedade secreta confiança. Aguardo uma resposta.
de que participa.
Assentamentos
Varning se divide em três províncias distintas. a
Tiepole ocupa boa parte central do território,
Cavaleiros Mercantes em Varning
no lago Fortuna e a região a oeste deste. Traglia-
mento ocupa a parte sul e segue em direção à Os cavaleiros em Varning seguem muito bem
Costa Dalana. Rivienza ocupa a região norte do o padrão estabelecido por São Genaro, talvez
rio Fortorino e segue em direção à Costa Parla. sem todo o apego religioso visto em Birman,
mas o votos de pobreza e dedicação total a
Tiepole casa se fazem valer. Em uma terra onde con-
(aprox. 8.000 habitantes) fiança, votos de juramento e honestidade se
Uma grande cidade que só cresce. Os melho- mostram moedas mais valiosas que as de me-
res engenheiros de cidades foram convocados tal, as casas mercantes buscam estas pessoas
até onde é possível convocar. Eles redesenharam para os seus serviços de entrega, escolta e ex-
as novas ruas da cidade e criaram um meio de ploração. Se existe um lugar onde os cavaleiros
ordem impressionante. O domínio se estende de mercantes gozam de alguma possibilidade de
modo confortável ao longo da margem do Rio futuro melhor, é aqui.
Fortorino, onde o Conselho mantém suas sedes
Como já alertei acima, apenas
e casas. A cidade se espalha por ilhotas em meio
Tragliamento como escravo fiel e discreto.
ao rio e os terrenos circunvizinhos, onde ficam
(aprox. 9.000 habitantes) Estes homens de poder
fazendas e aldeias simples, são alagados. Para querem se tornar imbatíveis.
entrar em Tiepole é preciso um passe, que pode Devido a anos de estudo e à instalação do Tiepole é uma cidade impos-
ser conseguido por meio do favor de nobres, porto num lugar perfeitamente planejado, onde sível de invadir com grande
para caso de visita — para moradia é preciso o mar é convidativo, a cidade se tornou o maior contingente, tudo isso foi
cumprir seu tempo na Secundus. Com um sis- ponto comercial da costa sul de Belregard. A pensado. O homem chamado de
tema justo de impostos, o povo prospera graças prosperidade do local faz as pessoas dizerem Agapito é adorado e a mente
aos acordos comerciais feitos com Parlouma e que se Tiepole é a cabeça, Tragliamento é o co- por trás disso tudo.
Dalanor. A criminalidade é pesadamente esma- ração. Tudo que é produzido, principalmente em
b 161 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Rivienza, é escoado para cá, onde seguirá de e diz estar trabalhando para resolver o proble-
Viha até Branden. Como a região mais a leste ma, mas nada faz sobre isso. Apesar de se lo-
de Varning, Tragliamento, por ser este grande calizar numa área pantanosa, a cidade prospera
porto, atrai a atenção de Aquirrare de Parlouma. sem a dificuldade de Tiepole. Patrono Local:
Toda a situação comercial está em risco, pois a Eleutério, O Igualitário. O homem foca-se em
Camorra tem estendido suas garras até aqui e ser justo e comandar com igualdade. Seu siste-
isso não tem agradado o Conselho. A Camorra ma de impostos é claro, coeso e tido por muitos
não arrisca tentar influenciar Tiepoli e por isso como perfeito. Ele não está feliz com o contra-
ruma ao sul. O Duque Warrane já foi alertado, tempo lamentável que está travando com o du-
que Warrane de Aquirrare. Como não tem tido
respostas sobre suas solicitações, ele pretende
falar diretamente com o Rei Absolon muito em
breve. Dizem que ele é tido como Juiz dentro da
sociedade secreta de que participa.

Rivienza
(aprox. 12.000 habitantes)
Estando no ponto mais a oeste, Rivienza
é um aglomerado de povoados e aldeias
que se mantêm da agricultura, pescaria e
pecuária. O rio Fortorino é generoso com
toda a região. O aumento do comércio e
a maior necessidade de terras obrigaram
a região a expandir seu território; nesse
processo entraram em região selvagem,
gerando um conflito inesperado entre os
camponeses de Rivienza. Patrono Lo-
cal: Durant, O Inteiro. Seguidor convic-
to dos ensinamentos de Lazlo, Durant é
um amante da razão e trabalha para o
progresso. Sua mente consegue enten-
der perfeitamente o lamaçal em que
os pagãos vivem e acredita que tem
autorização, por estar mais evoluído
e preparado, para esmagá-los e to-
mar suas terras. Dizem que ele é tido
como Cavaleiro do Leste dentro da
sociedade secreta de que participa.

Gravura estilo bertina de


Fergus mostrando o caos das
construções em Tiepole.

b 162 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Não é pelo seu tamanho,
Forças Militares Ordem dos Bem Nascidos
nem pela sua dedicação, mas
(160 Lanceiros e 80 Cavaleiros)
Retirando os pouco guardas pessoais e auxi- pela disciplina e fanatismo
liadores militares, Varning proíbe exércitos pes- Formado por filhos de comerciantes que vi- que as forças de Varning me
soais, sendo que o poderio militar se encontra ram a prosperidade lhes alcançar, estes jovens impressionam. Os soldados
somente nas mãos do Conselho. esperam a oportunidade de retribuir um pouco são tomados de uma crença
do que receberam. Os recrutas são indicados na retidão que assusta.
Cavaleiros Umbráteis pelos Perfectus e somente depois da análise A possibilidade de crescer e
(180 lanceiros e 200 cavaleiros) de seu caráter adentram à Ordem — isto ser- mudar a sua posição social é
Estes soldados seguem ritos de pobreza, vi- ve até mesmo para os filhos dos membros do atraente, mas todos sabemos
vendo por conta do Conselho. São inclinados conselho. Normalmente recebem ordens dos que nada é dado levianamente,
aos caminhos mendicantes deixados por Alec, Cavaleiros Umbráteis. existe um pesado custo. Todo
sendo que foram conhecidos por muito tem- o misticismo, sigilo e organi-
po como Pobres Cavaleiros do Criador, sem-
Secundus (300+ lanceiros) zação desta sociedade secreta
pre enaltecendo o nome do reino e não o seu Estes homens são formados por sobreviventes podem-se notar espelhados
próprio. Os cavaleiros são instruídos à razão e inimigos de uma guerra, traidores da nação, la- na forma como os soldados
adentram os primeiros graus da primeira etapa drões ou qualquer homem que queira ter Varning são arranjados. Novamente
da sua sociedade secreta. Protegem todos os como casa. Qualquer pessoa que não tenha nas- lhe digo, meu senhor, Varning
Fâmulos Incógnitos por toda Varning e devem cido aqui e queira receber sua cidadania poderá aponta como a maior força
receber prontamente qualquer ordem vinda adentrar o Secundus e consegui-la após alguns de Belregard.
dos Perfectus. Estes homens enfatizam o auto anos de trabalho. Além disso, o Secundus serve
sacrifício e poder em troca de submissão. São como sistema penitenciário, já que não existem
seguidores da hekklesia Alecista e dedicam-se prisões em Varning. Eles são comandados por
a preparar o homem corriqueiro de hoje no rei e soldados dos Bem Nascidos.
sacerdote de amanhã.
Verdugos (número desconhecido)
Cavaleiros da Perfeição Estes homens não possuem nome ou muito
(50 cavaleiros e 30 lanceiros) menos face. Ninguém tem acesso a eles. Quan-
Os Perfectus são membros de um grupo se- do o peso da justiça recai em demasia sob um
leto retirado dentre os Cavaleiros Umbráteis, a inimigo, estes homens se vestem de negro e
elite dentro da elite dos homens de armas de se amparam nos textos da Vulgata: “Com tais
Varning. Estes continuam a viver sob às custas povos [inimigos] não fará pacto algum e nem
do Conselho, mas são agraciados com maior terá piedade deles”. Eles derramarão o sangue
conforto e bens. Seu grau de entendimento so- inimigo e em seguida desaparecerão. Alguns di-
bre o funcionamento do mercado, dos números zem que somente os Conselheiros sabem quem
e da influência, os permite ir além. Seguem o são, sendo que seus nomes estão escondidos em
Caminho Irrepreensível à risca e qualquer ato um livro de sigilo extremo pela ordem. Eles são
vexatório pode ser motivo para serem retirados a roda firme da carroça que trilha o caminho do
desse seleto grupo. São selecionados e empode- progresso, não podendo ser descarrilhada inde-
rados um a um pelo próprio Agapito de Tiepole. pendente do custo.

b 163 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Construções e Formações
Varning passa por uma constante reforma,
a
novas construções nascem a cada ano e muitas O Isolamento em Varning
antigas estão sumindo do mapa. Além disso,
O crime nas estradas de Varning é uma coisa
muitos locais não são de conhecimento de es-
real que ocorre a todo momento. Bandos vivem
trangeiros — o Conselho se agrada do sigilo. De
em bosques e pântanos esperando a oportuni-
tudo visto aqui, aquilo que se destaca:
dade para o roubo. Além disso, existem os peri-
Costa Parla e Dalana gos selvagens, já que Varning possui um terre-
no aberto para o norte, onde ficam as planícies
O lado leste, chamado de Costa Parla é uma
de Ig, lar de clãs ainda rústicos dos homens
região calma e, devido às formações rochosas e
bárbaros. Não é incomum que ocorram saques
ilhotas, o mar é tranquilo. As cidades são aloca-
a algumas fazendas ao norte do território, nos
das em um grande platô sobre falésias de cerca
períodos de colheita. As fronteiras de Varning
de trinta metros. O local é perfeito para anco-
são relativamente bem protegidas, o único pe-
ramento de grandes barcos. Toda a região até
rigo real que elas podem representar é o de re-
Aquirrare é extremamente disputada por comer-
fugiados e fugitivos da Corte da Raposa vindos
ciantes gananciosos. O lado oeste, chamado de
de Dalanor. O Conselho parece não se importar
Costa Dalana, já é caracterizado pela forte on-
tanto, como se estivesse tudo sobre controle ou
dulação e pela presença de correntes de água e
como se fosse algo esperado.
ventos muito fortes. O local atrai observadores
e estudiosos da marés e dos mares. Muitas cons-
truções são abandonadas enquanto a fúria do
mar parece adentrar cada vez mais sob a terra. Sede do Conselho
Existem passagens e portas nos
Um imponente prédio de forma circular, com
lugares mais inusitados. Abaixo Túneis de Luz
de uma passarela, no fundo de um domo arredondado e colunas largas, localizado
Obra de Bövrar II, estes túneis são menciona- nas terras mais secas a oeste de Tiepole. Aqui se
beco, atrás de um chiqueiro. A ci-
dos em alguns trechos da Vulgata, tidos como reúnem todos os mercadores membros do conse-
dade foi construída e as entradas
grandes proezas de engenharia da antiguidade. lho da capital, local que eles chamam de “Salão”.
foram mantidas. Isso aumenta
Acredita-se que os túneis tenham mais de seis- Dentro deste prédio realizam seus rituais e reu-
ainda mais o clima de superstição
centos metros de comprimento e corte boa par- niões que chamam de “modus”. Abaixo de sua
e poder causado pelos Verdugos.
te do centro de Tiepole, sendo conectados por decoração requintada, é possível observar regras
Dizem que durante a constru- túneis menores. Os túneis são equipados com simbólicas precisas, muito equivalentes à arquite-
ção, um enviado do Orante de placas de bronze polidas que refletem com per- tura geomântica deixada por Bövrar II e profun-
Varning da época veio até aqui feição, criando assim ilusões. Dizem que apenas damente estudada por Lazlo. A grande sala de
para supervisionar a obra. Ao aqueles abertos realmente ao conhecimento dei- entrada batizada de “Meio” é o único lugar onde
ver sua planta ele identificou xado por Bövrar podem encontrar salas secretas um não comerciante pode entrar. As salas são dis-
geomancia e bruxaria bovratica em existentes lá embaixo. Os curiosos entram e atra- postas de modo a respeitar posições astrológicas
suas linhas. Comuniquei pessoal vessam sem nada encontrar. Escritos ancestrais e seu acesso dependerá do seu status na socieda-
em Birman e nenhum registro estão talhados na entrada: “Luz para uns, trevas de. O Tribunal, mesmo entrando e saindo do lugar
sobre isso foi encontrado. Se para outros”. O acesso é proibido: é dito que ape- que desejar, nunca tomou nenhum ação inquisi-
for verdade, creio que este nas Verdugos possuem chaves para as entradas, dora e investigativa sobre tal local. Eles possuem
enviado foi assassinado. que estão espalhadas por vários locais da cidade. “Capítulos” em Tragliamento e Rivienza.

b 164 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Rio Fortorino Lago Fortuna
Se Tiepole é a cabeça, Tragliamento o cora- O grande lago que é o tributário do rio For-
ção, Fortorino é o sangue. Sem ele, Varning per- torino é farto em peixes e suas águas calmas
de seu significado. O rio nasce nas montanhas estimulam a navegação. A antiga ponte que li-
de Virka, atravessa Tiepole e Rivienza ao longo gava leste e oeste de Belregard foi derrubada e
de mais de duzentos quilômetros, forma o lago barqueiros costumam cobrar para fazer o trans-
do Castelo dos Sábios e deságua no mar. O rio porte, de ambos os lados do lago ou do rio.
é realmente largo em Tiepole e já alagou a capital
três vezes. Grandes paredões de pedra estão sen-
do construídos na margem metropolitana do rio,
tentando impedir sua fúria em situação futura. a
Este rio é rico de grande variedade de peixes e
Um Oponente à Altura
muitos tipos de trutas diferentes. Na margem do
rio é possível comer o melhor peixe de toda região. O Conselho aumenta seu poder e a cada dia
fica impossível negar que existe uma socieda-
Castelo dos Sábios de secreta por trás dos interesses comerciais
Este local serviu com mausoléu para homens de Varning. Esta sociedade discreta tem ações
profanos durante a Era de Sangue. Depois serviu reservadas que interessa apenas àqueles que
como edifício militar na Era da Conquista, épo- dela participam. Seus membros dizem culti-
ca em que foi usado como refúgio por muitos var o aclassismo, os princípios da liberdade,
homens que praticavam atos profanos. Durante democracia, igualdade, fraternidade e aper-
a Era dos Homens o lugar caiu em desuso, até feiçoamento intelectual. Eles estão ligados a
Meus enviados foram impedidos de
o Conselho tomar sua posse após negociação uma doutrina que não lhes coloca cabrestos
entrar, então eu tentei. Por fim,
com o Tribunal. Hoje o local é usado novamen- ou limites, criando assim uma forma ímpar de
nem minha reputação nem meus
te como mausoléu para os sábios cavaleiros e culto, unindo os três caminhos que os Puros
documentos me deram entrada até
membros da sociedade secreta de Varning, mas deixaram em apenas um. Esse aumento de po-
aqui. Fui abertamente afrontado e
dizem à boca pequena que eles usam o lugar der do Conselho tem preocupado o Tribunal. O
humilhado por tais homens.
para coisas muito mais ocultas. Conselho tem guiado os sacerdotes de Varning
a agirem de acordo com sua ótica de adoração,
Academia do Saber criando assim uma inimizade velada com o Tri-
A primeira e única universidade de Belregard. bunal. Homens foram enviados a Varning com
Aqui são formados os melhores tutores que um a função de se misturar, adentrar esta possível
nobre pode pagar. Versados em teologia, direito, sociedade sigilosa e descobrir os seus segre-
matemática, história e filosofia, têm representado dos. O Conselho está agitado, afinal, com tan-
quebras de paradigmas sociais, ainda que a presen- ta liberdade de ideias, é sabido que alguns dos
ça do Tribunal em seus salões limite um pouco as membros estão trilhando caminhos perigosos,
teorias que rompem completamente com o pensa- caminhos que não deviam ser ultrapassados.
mento vigente. Localiza-se em um amplo terreno,
murado e protegido, próximo à Rivienza, contando
com suas próprias terras para subsistência. O dire-
tor geral da instituição chama-se Vitorio de Rivien-
za, um homem severo e Juiz de Varning.

b 165 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b

Viha
“Honrai os ancestrais.”
Eles estão fracos, senhor. O
velho não tem coragem de enfren-
tar e matar seu filho, como era
esperado pelo seu povo. O novo
não quer enfrentar seu pai, pois
sabe que pode perder. Há muito
Capital em um jovem vil. O novo rei é sagaz e quer sair em jogo aqui e o poder está
Dividido entre Zamok e Tarlag. do tradicionalismo e evoluir Viha. desequilibrado.
Poder Adoração Não sei se nos alertamos
Dividido entre Radu Ignasov e Fëdor Ignasov. Viha comporta grupos de adoração criadorista com a forma sincrética perfei-
O controle de Viha está segmentado em um e também dos cultos antigos. O criadorismo de tamente equilibrada da adoração
feudo familiar. De um lado o tradicionalismo de
Viha é resultado de uma cisão com os ditames de Viha. Eles conseguiram
mais tradicionais do Tribunal. Ao contrário do que encontrar um equilíbrio exato
Radu Ignasov, o rei por direito, conhecido pelo
se podia esperar, por serem belicosos, os vihs en- entre suas antigas crenças
seu pulso firme quando os assuntos chegam ao
contraram na visão de Alec, o mendicante, uma e os ditames do Tribunal.
seu cuidado, mas também zeloso pela liberdade
lógica muito mais coesa para com suas tradições Abandonaram seus atos
do espírito de Viha, pela liberdade dos ducados
ancestrais. No desapego do material o homem se mais danosos, agarram-se ao
sob seu domínio, ao mesmo tempo que favorece
aproxima da natureza, e comungando com ela con- tradicionalismo. Não sei dizer,
o status estabelecido e o poder em mãos tradi- em minha vã sabedoria, se
segue as respostas, orientações e paz. Dessa ma-
cionalmente escolhidas. Há alguns anos, Radu seria interessante mexer com
neira, o poder do Tribunal dentro de Viha é muito
partiu em uma busca solitária, visitando a Taiga suas crenças, pois no fim de
pequeno, já que os sacerdotes lá presentes, mes-
Branca para encontrar a cura para Mika, seu fi- tudo, são devotos do Único
mo bispos, mais parecem os druidas dos clãs, ho-
lho mais novo. Deixou Ivan, seu filho mais velho, com grande fervor.
mens simples de pés descalços que interpretam os
no comando do reino e quando retornou desco-
sinais e os augúrios da natureza. Estes homens são
briu, para seu terror, que o filho do meio, Fëdor,
verdadeiros oradores e controladores de muitas
O Tribunal deveria mostrar
havia matado o irmão e assumido o seu lugar
massas. Os cultos antigos são tão plurais quanto
apoio ao jovem. Uma comi-
com o apoio de muito jovens, todos cansados de se pode imaginar. Cada clã segue uma linha muito
tiva, com sacerdotes, bispos,
participarem da vida sem nunca influenciarem o específica, adorando espíritos de ancestrais, ou de
que proponha sua conversão
resultado final das coisas. Agora, Radu está iso- animais e seres protetores. Existe a ideia geral de
ao conhecimento de todos.
lado na porção norte de Viha, tentando acertar que o mundo dos mortos, chamado Svarog, seja
Tenho certeza de que ele não
as contas com seu filho. Apesar de todo o ódio um lugar sempre próximo, acessado por certos
recusaria as lanças e espadas
que pode sentir pela traição, o velho rei ainda portais, passagens e caminhos escondidos; logo,
dos cavaleiro sacros.
sonha com a Grande Viha e espera resolver a eles possuem muito contato com seus ancestrais.
situação da melhor forma possível. Já Fëdor não Os cultos não creem numa Alcova Profana criado-
Possivelmente, um correspon-
acredita na teia frouxa onde Viha está amarrada rista, um lugar separado para o mal, já que o Sva-
dente da Fímbria criadorista.
e dedica-se à conquista, fazendo cada clã cur- rog comporta toda essa dualidade que é, segundo
var-se a sua vontade. Mas engana-se quem crê eles, o próprio homem.
b 167 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
População O Passado
Majoritariamente formada pelos clãs de Viha. Viha nasceu como uma resposta dos bárbaros
Como solicitado, informo à minha A presença de igslavos também é relevante, da planície contra a exploração vinda de Ras-
senhoria que esses homens dominam especialmente em áreas onde os belghos po- tov. Viha fora, por muito tempo, uma terra
o controle do arco. E não são dem ser encontrados, no nordeste. Muitos dos dominada pelo Tribunal, mas interpretações di-
homens fracos, como de costume, costumes antigos estão preservados em Viha, ferenciadas da fé sempre foram toleradas en-
são fortes com troncos milenares. especialmente as questões religiosas. Além de tre suas fronteiras. Aparentemente teria sido
Treinados nas armas pesadas, de seguirem com sua própria visão criadorista, em esta a única maneira de manter os bárbaros sob
balanço e no arco. Atiram em arco e Viha os cultos antigos são tolerados pelos clãs. controle. Viha foi uma das maiores opositoras
em linha reta com a mesma precisão. Além disso, existe a questão da mobilidade mi- ao poder do Império e o combate aberto domi-
Usam flechas grossas, três vezes litar. Os homens livres de Viha costumam compor nou os campos do reino durante os primeiros
mais grossas que aquelas que usa- as fileiras de arqueiros das forças convocadas pela anos da ocupação. Demorou muito para que os
mos na região leste. nobreza e o valor destas tropas de artilharia faz vihs fossem acalmados e isso veio em uma nova
com que a mobilidade social, a mudança de uma conversão forçada. Muitos filhos foram tomados
Lembro-me de ler sobre as situação de homem simples, ainda que livre, dos pais, levados para a igreja. Coube pratica-
conversões. Os vihs sempre de- possa ser alterada para a de nobre menor, ou mente a toda uma nova geração o papel de acal-
monstraram uma vontade de ferro mesmo barão. mar os homens do norte. Ainda assim, ao
que só poderia ser dobrada com a longo de toda a existência do império de Vi-
força da fé e, principalmente, do Símbolo/Cor rka, uma ou outra revolta estourava em Viha.
fogo. Transformar estes lobos Sobre o escudo da casa Ignasov, partilhados A criação da Grande Viha pareceu acalmar os
em cães nunca foi tarefa fácil. nos campos negros e brancos, estão a figura do nobres, quando o território de Igslav foi incor-
lobo e do nó. O lobo carrega um forte signifi- porado ao de Viha, situação que mudou depois.
cado em Viha, por isso é apresentado em duas
formas: em guarda e em ataque. Como guar- O Presente
dião, o lobo representa Garmír, a besta que Durante a queda do império, os vihs foram os
defende a passagem do Svarog, que mantém a primeiros a pegar em armas a fim de lutar con-
separação entre os vivos e os mortos. O lobo tra o poder absurdo que começava a destruí-los.
em sua postura de ataque apresenta o anseio de Com a reconsolidação do domínio em Viha, mui-
recuperar aquilo que um dia pertenceu ao povo tos tentaram retornar para sua antiga terra,
vihs, a Grande Viha. Os nós fazem relação di- mas a instabilidade geral trazida com a queda
reta com a visão dos cultos antigos. É comum do império tornou esta uma tarefa muito difícil
que os guerreiros, antes da batalha, façam laços para a maioria dos homens que foram afasta-
e nós nos cabelos e barbas, isso mostra como dos de seus lares. Com tanta gana por liberdade,
seu destino está entrelaçado com o que quer não é estranho esperar que o infante tenha reais
que ocorra naquele momento. Apenas os deu- motivos para se erguer contra seu genitor. A re-
ses, apenas os espíritos podem desatar os nós, beldia está tão atrelada a este povo que muitos,
que são ao mesmo tempo uma ligação direta mesmo não concordando, respeitam e apoiam a
com os ancestrais. É uma ideia antiga, a de que decisão audaciosa do jovem em desafiar o seu
a vida de cada homem seja traçada por um fio pai. O que é dito por muitos é que o velho já
de tecido na grande trama da existência. Muito deveria tê-lo desafiado e banhado o solo com o
provável que, com a vitória de Fëdor, o brasão sangue do seu filho. Mas, mesmo que a tradição
passe por mudanças. assim ordene, seu coração paterno tem evitado
o encontro fatal que se dará em breve.

b 168 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Assentamentos
a Inevitavelmente, as cidades estão sendo dra-
Fauna e Flora Fantásticas gadas para uma guerra civil. O Círculo Alvo,
uma área ancestral de adoração dos povos anti-
Aquilo que se destaca na natureza
particular de Viha
gos, onde os clãs vihs sempre se reuniram para
debates neutros sobre a escolha de seus reis e
Lança de Dazbog: este cogumelo escuro e outras grandes decisões, tem servido como um
pontudo brota em muitos lugares de Viha. Tem marco geográfico entre os dois domínios. A
seu nome como referência a um deus antigo Viha de hoje representa dois reinos em um só. A
que representa o sol para os povos vihs. O co- guerra aqui é fria como os alpes do litoral norte.
gumelo é utilizado em muitos rituais de bata- O velho escolheu um campo neutro para nego-
lha e mesmo antes destas, já que é capaz de ciações, o jovem escolheu outro. Mesmo os mais
levar os homens a um estado de transe insano próximos dos reis não sabem como agir e têm
e assassino, em que desdenham das proteções medo de tomar uma ação errada. O conflito é
e se lançam ao conflito de peito aberto, como diferente do esperado, tomado por covardia de
pontas de lança. escaramuças e perscrutação.

Arctodus: este imenso urso vaga em peque- Existem seis grandes cidades ancestrais que
nos grupos familiares pelas terras de Viha. É juntas recebem o apelido de Cabeças de Scylla,
um animal magnífico e assustador. Muito maior em referência a uma divindade cultuada no pas-
que qualquer urso de Belregard, são ainda mais sado, como uma besta dos mares. Pelo que as
magros, de modo que suas cargas são acelera- lendas antigos relatam, Scylla seria uma ninfa de
das com as pernas longas. A pele destes animais rara beleza, mas da cintura para baixo ela estava
é valorizada, mas possuem uma aura quase sa- ligada a inúmeros tentáculos que terminavam com
grada para os clãs de Viha, que caçam estes ani- a cabeça de lobo que uivava e rosnava sem parar. Este seria o momento perfeito
mais apenas como parte de elaborados rituais. para firmar uma boa alian-
Cada cidade que compõe a Scylla é escolhida
ça. Nosso espiões possuem
pelo Rei. Caso um novo rei assuma, ele poderá informações privilegiadas caso
Relações e Comércio
destituir ou erguer novas cidades. Estas cidades o Tribunal tenha interesse.
Os vizinhos estão com medo de fazer negó-
possuem regalias vantajosas, como menos im- Tanto o pai quanto o filho
cios, estão com medo de escolherem o lado er-
postos, mais soldados, melhores sementes e vi- estão atrás de ajuda, e podem
gilância acirrada. Isso apenas fortalece o status a qualquer momento dar um
rado. Caso façam negócios com o velho, terão quo tão odiado pelo jovem rei. passo vacilante em direção ao
sérios problemas comerciais com o novo. Caso
Zamok
fracasso.. A hora perfeita para
escolham o novo, podem sentir o peso da fú-
(aprox. 10.000 habitantes)
encontrarem a mão do Tribunal.
ria do velho. O lugar vive sob tensão, pois não
há uma guerra declarada, apenas movimenta- É a capital oficial de Viha, localizada ao sul do
ções. O velho não deixa claras suas intenções, Círculo Alvo, de modo que atualmente encon-
o jovem tem movido suas peças com audácia. tra-se ocupada por Fëdor e seus partidários. É
Os vizinhos têm medo disso e estão estocando uma cidade grande, murada e repleta de salões
comida e armas. Alguns pretendem lucrar com de madeira, onde os festejos são constantes.
uma possível futura guerra. Todos os ânimos A despeito da postura belicosa atual ocupada
estão inflamados. aqui, os clãs não deixam de celebrar. O clima ge-
b 169 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
ral é de vitória, todos consideram que o reinado
de Radu terminou e é só uma questão de tem-
po até que o crânio do velho esteja enfeitando
a
as paliçadas. Patrono Local: Fëdor Ignasov, o Cavaleiros Mercantes em Viha
filho do rei. O príncipe é jovem e visionário, bei-
rando o fanatismo em seu sonho de conquista. Devido à atual situação política de Viha, os ca-

A coisa é tão séria, meu valeiros mercantes da castelania estão em forte


Borghatya
senhor, que nem mesmo os desuso. Alguns grupos continuam atuando nas
(aprox. 2.000 habitantes)
tradicionais e sagrados ritos cidades fronteiriças, fazendo o serviço para as
de inverno foram respeitados. Fica ao sul, às margens do lago Vorga. Prati- casas mercantes da forma tradicional, juran-
Os reis não foram vistos, cam a caça e realizam festividades esportivas de
do fidelidade e se valendo com a honestidade
preferiram ficar isolados em inverno. O local é conhecido pela ótima madeira
e dedicação. Como servem aos comerciantes,
seus quartéis de guerra, evi- cortada das florestas a leste que fazem sua fron-
sua lealdade não se encontra dividida num nível
tando se expor. O povo está teira com Dalanor, pelo lago. Uma área que ainda
triste e os sábios dizem que carrega o misticismo dos vizinhos. Patrono lo- imediato, mas seus senhores, os ricos negocia-

isso há de irar os ventos do cal: Gornek, o Curto. Homem baixo e atarracado, dores, podem colocá-los em posições opostas

inverno. Parece que um grande feroz seguidor de Fëdor, por ser seu amigo desde nos conflitos nascentes. Isso seria belo se não
inverno está chegando.. a infância. Dizem que foi Gornek quem segurou trágico, pois tais cavaleiros têm sido pegos na
Ivan para que o amigo pudesse matá-lo. Gornek guerra trocada — entre os disparos de ataques,
fala pouco, preferindo a linguagem do aço.
sendo os primeiros a morrer. Como mensagens

Borgrovinik de alerta, alertas de terror, saque e assassinato,

(aprox. 5.000 habitantes) esses cavaleiros são usados como peças no tris-
Fontes seguras, meu senhor, Uma cidade que vive da pesca do mar, desen-
te tabuleiro que os dois reis indecisos coloca-
nos garantem que a bruxa está volvida com a tecnologia de barcos que supor- ram na mesa. Se não fosse pelos pesados votos
agindo para os dois lados. Tem tam as marés traiçoeiras. Possui águas termais de lealdade, todos debandariam. Aqueles que o
se encontrado com o pai, mesmo que foram transformadas em banhos na época fizeram, encontraram tristes fins.
jurando lealdade ao filho. Alguns do império e ainda hoje são populares como fon-
dizem que ela quer cumprir tes curativas para algumas doenças. Um dos lo-
planos malévolos, outros alegam cais que juram total fidelidade a Fëdor. Patrono
que ela tenta apenas remediar Local: Baba Vikina, a velha bruxa, é a principal pedra — boa parte das pessoas vive em largas
a situação. Independente disto, conselheira de Fëdor. O jovem príncipe leva os tendas de couro com postes centrais. A caça é
tomando por verdade, essa enig- conselhos da sábia em muita conta. Acreditam a principal atividade local e torna Tarlag uma
mática criatura tem seus próprios que ele mesmo não forçou um encontro com o cidade famosa pela troca de peles e demais de-
interesses nesta guerra. pai porque Vinika lhe disse sobre dias auspicio- rivados. Alguns senhores de clãs do norte tem
sos para o combate, coisa que o rapaz espera. ocupado áreas de Tarlag com seus homens para
mostrar apoio ao rei, fato que, mesmo entre alia-
Tarlag dos vihs, faz estourar uma ou outra briga volta e
(aprox. 8.000 habitantes) meia. Patrono local: Radu Ignasov, rei de Viha.
Cidade ao norte do Círculo Alvo, atual refúgio O velho alfa dos lobos bárbaros vive em um es-
de Radu Ignasov. Trata-se um lugar caótico, com tado de latende depressão, incapaz de acreditar
poucas construções permanentes de madeira e nos últimos acontecimentos.

b 170 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Dizem que infiltradores do
Gravura estilo bertina de Mottazzi jovem príncipe estão procu-
representando as cidades Ignar e Röv.
rando uma brecha para raptar
Mika. Ele não quer que esse
casamento seja firmado, possui
outros planos para a irmã.
Mas será difícil passar pela
proteção de Lerith e toda
sua sagacidade. Além disso,
a Alta conta com ajuda dos
melhores homens do velho rei.

Tudo indica que os druidas não


estão felizes com a atual
situação de Viha e que, se pai
e filho não se resolverem, irão
invocar antigos ritos sangren-
tos, que obrigarão os dois a se
enfrentarem ou darão a coroa
para uma nova linhagem.

milenares concedem poderes mágicos aos druidas que aqui vivem e por
isso é o local onde os mais antigos ritos são realizados. O tribunal nunca
Röv (aprox. 5.000 habitantes)
conseguiu entrar em Borgata e nem mesmo a religiosidade mesclada do
Esta cidade na margem do rio Stöv é a prin- criadorismo tem força nos salões dos druidas. Patrono local: Tebrus, o
cipal aliada de Radu. A cidade é irmã de Ignar, seco. Este velho druida vê com alegria os conflitos de Viha, entendendo
no território de Rastov, do outro lado do rio e, que o caos é o que os deuses desejam.
seguindo conselheiros, o rei pretende casar sua
filha com o filho de Bron, senhor daquelas ter- Forças Militares
ras. Talvez seja o primeiro passo para que Radu Como sempre foi formada por clãs quase independentes, as forças de
demonstre que deseja formar a Grande Viha no- Viha são livres, servindo apenas ao senhor do clã ou ao rei em tempos
vamente. A cidade fica em um porto pesqueiro de guerra e, agora, encontram-se divididas em duas frentes.
próspero que, apesar de manter um povo beli-
coso por trás de suas parcas muralhas, sempre Ratos de Fëdor
experimentou tranquilidade. Patrono local: (número desconhecido)
Lerith, a Alta. Forte aliada de Radu, Lerith está Agem como espiões, captando informações e, principalmente, denun-
com a guarda de Mika, a filha mais nova do rei. ciando qualquer um que não apoie o novo rei. Possuem uma série de
A menina se recuperou da saúde debilitada, mas gestos e sinais que os identificam como parte do grupo. Usam métodos
deve ser poupada dos horrores da guerra, da
de guerrilha completamente novos para o povo de Viha.
luta entre os de seu sangue.
Mandíbula de Garmír (150 lanceiros)
Borgata (aprox. 2.000 habitantes) As forças principais de Fëdor que aumentam dia após dia. Todo jo-
A cidade dos sábios possui os mais anti- vem poderá portar uma arma e mudar o futuro e, por isso, mais e mais
gos sítios. Dizem que ossadas de criaturas recruta se aprontam.

b 171 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Serpentes de Anulag (150 lanceiros)
a
Descendentes de um culto primitivo, esses
Holspä, os jogos da virtude
guerreiros são escolhidos em seu nascimento.
Sem sentimentos, eles servem como assassinos,
Sedia-se anualmente em Borghatya o Holspä,
capatazes e carrascos para o rei. Atualmente
uma sequência de atividades esportivas que
encontram-se divididos, mas ainda tendem a
tomam vários dias de toda a castelania. São
servir Radu, pelo menos até que Fëdor consiga
enviadas equipes de todas as cidades e todo e
matá-lo.
qualquer conflito ou situação de instabilidade
política é parada durante os jogos. Porém, di-
Vigília Imortal (200 lanceiros)
ferentemente da caça, torneios de arquearia ou
Contingente maior responsável por julgar e
justas dalanas, por exemplo, a Holspä se adéqua
servir. Como andarilhos, estes soldados cami-
à austeridade e simplicidade de Viha. Disputas
nham com a função de proteger os mais fracos.
como arremesso de toras de madeira, resistên-
Tentam ignorar o conflito e concentrar-se na
cia em submergir no lago Vorga, parcialmente
segurança dos clãs.
congelado, e disputas pelo maior consumo de
porcos assados são apenas algumas das moda-
Lobos de Radu
lidades do festival, que possui grande consumo
(100 lanceiros e 100 arqueiros)
de bebidas alcoólicas e festividades em todas
as noites. Vez por outra o Tribunal envia seus A guarda pessoal do rei respondeu ao seu

homens para tentar fiscalizar a festa, mas nada chamado assim que ele se estabeleceu no norte.

surte efeito. Seus arqueiros são lendários como matadores


profissionais, fazendo uso do arco de teixo, tão
Para além de ser um ritual que instaura por famoso entre os vihs. Seus número tem aumen-
muitas vezes a paz em meio à tensão da caste- tado, até mesmo aqueles que estavam velhos
lania, verdadeiramente decide laços de aliança têm desenferrujado suas armas para servir seu
e exalta honra e prestígio aos participantes. rei verdadeiro.
Há alguns que afirmam que as facções políti-
cas e os acordos são verdadeiramente selados Construções e Formações
não nos bastidores do Holspä, mas durante as Dos locais mais importantes, estes são os que

competições. Vencer um torneio pode signifi- se destacam.


Neste rito, duas pessoas
car uma vitória em uma circunstância na qual
são obrigadas a lutar, com seria muito improvável sair vivo em um comba-
Hadzihel “Círculo Alvo”
armas cegas e pouca proteção, te armado. Contudo, apenas vihs e igslavos são Dizem que a primeira grande assembleia dos
fazendo com que o combate autorizados inicialmente a participar dos tor- clãs ocorreu com a chegada dos belghos na mar-
dure muito. O derramamento neios, ainda que nomes de estrangeiros estejam cha de Larsen. Eles se reuniram num antigo tem-
de sangue deve durar horas grafados na grande pedra que registra o nome plo a céu aberto, um círculo de pedras, para deci-
em um combate até a morte, dos antigos vencedores. Como eles consegui- dir o destino dos estrangeiros. Ainda hoje o local
causando muita dor antes que ram participar do Holspä? Há quem diga que é é respeitado como terreno neutro, especialmente
o derrotado seja levado dessa necessário efetuar um ritual iniciático. Talvez para as questões do conflito entre pai e filho. É
vida para os braços da morte. seja por isso que apenas ao lado dos nomes dos muito possível que o ritual da monomancia tome
estrangeiros há uma marca de sangue… palco entre estas pedras antigas, que já viram
muitos reis serem coroados e depois tombar.

b 172 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b O local está confuso até
Küstefeld “Alpes do Litoral” realidade são antigas tumbas dos senhores de em sua linguagem. Antigos
A fronteira física de Viha com Rastov é a Tai-
clãs do passado, assim como de seus homens e tradicionais nomes estão
ga Branca, porque a costa norte, outro caminho
sábios, seus druidas, feiticeiros e sacerdotes. sendo abandonados pelos
possível, é marcada por paredões rochosos pe-
Um terreno tomado por superstições e medo, equivalentes da linguagem
mas que atrai os loucos e corajosos com a pro- comum. Isso tem irado druidas,
rigosíssimos, onde imensas aves fazem ninhos.
messa do ouro enterrado junto destes homens principalmente por ser adotado
Além disso, por seus vales profundos existem
importantes do passado. pelos incultos e apoiado pelo
buracos chamados “Ira da Terra”, por onde jatos
de água fervente jorram de tempos em tempos.
jovem príncipe.
Caminhar por esses corredores é muito perigo- a
so, já que os buracos expelem fumaça a todo
O Isolamento em Viha Em sigilo, relata-se que o
momento. jovem, tomado de ganância,
Além dos perigos naturais de uma terra indô- tem aceitado entre os seus
Hassjäger “Campos de Caça” toda sorte de bandidos e
mita, Viha sempre foi arriscada para viajantes.
Este termo se refere a todo território selva- Antes mesmo do conflito de sangue familiar, saqueadores. Até mesmo o
gem de Viha. É uma prática comum entre os os clãs já eram uma ameaça para viajantes crime mortal de saquear as
clãs realizar rituais de passagem entre os jovens desavisados. Quem não conhece as terras não Planícies Ondulantes tem
que se tornam adultos. O mais popular é o da imagina que está passando de um território sido perdoado, tudo em troca
caçada, no qual os jovens candidatos são man- para outro, de modo que podem ser abordados, de mais e mais lanças para
dados para os campos próximos do clã e devem ou atacados diretamente, por grupos divergen- travar sua guerra.
sobreviver durante uma semana, enquanto são tes a qualquer momento. Existem clãs que são Se isso for verdade, ele está
caçados pelos seus companheiros. Dificilmente até mesmo nômades e vivem apenas do saque alimentando a fera que poderá
alguém morre no processo, mas aqueles que são de viajantes ou nas colheitas. Atualmente a si-
lhe devorar por inteiro.
capturados devem passar mais um ano como
tuação se tornou ainda pior, já que a divisão
crianças até terem uma nova oportunidade.
interna em dois blocos deixou as hostilidades,
que eram apenas por baixo dos panos, declara-
Waldklänge “Floresta dos Sussurros”
das. Viha nunca esteve tão perigosa.
Este ramo da grande floresta de Dalanor, nas
Terras Altas, carrega muitas características se- Ouro de Reis, Ruína de Tolos
melhantes ao terreno vizinho, mas as árvores
É de conhecimento geral para os moradores
seguem uma mescla, tornando-se coníferas na
de Viha que muitos tesouros e artefatos len-
margem oeste. É uma área exuberante e fresca,
dários estão enterrados junto de seus antigos
convidativa, com uma fauna farta. Local tam-
donos nas Planícies Ondulantes. Apenas um
bém de lendas, já que os povos feéricos de Dalanor
tolo tentaria roubar as posses de antigos reis
certamente perambulam por lá também. Os kil-
e druidas, mas uma busca pode ser motivada
then das Terras Altas fazem a floresta de morada.
pelo desespero, especialmente com Viha vi-
Faldwell “Planícies Ondulantes” vendo sua divisão ao mesmo tempo que em
que observa a possibilidade de recuperar seu
Uma série de morros baixos que podem fa-
território de Igslav.
cilmente confundir o viajante, mas que na

b 173 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b

Virka
“A torre que nos levará ao céu.”

Eu tentei, meu senhor, mas falhei. Me esforcei ao máximo, mas falhei. Virka se tornou
uma terra fechada, uma
casca bruta impenetrável. O caminho para entrar no vale, o passo da glória, ainda está
sendo ladeado pelas
figuras silenciosas de antigos imperadores cravados nas rochas escuras, mas tudo lá
dentro mudou. As cidades
de mármore estão arruinadas e a natureza reclama o terreno de volta para si. O vento
que sopra no vale é
abafado, carregado de miasmas enlouquecedores, prova disso é que alguns insistem em
viver naquela terra mal-
quista. O que pude fazer, de melhor, foi juntar relatos de alguns viajantes, ou fugitiv
os, tentando dessa forma
compreender o que existe lá. Enviei algumas pessoas eu mesmo, mas o resultado não foi
melhor. Alguns não
retornaram, outros vieram loucos e um deles ousou dizer que viveria no vale para sempre
, pois é supostamente
uma terra de liberdade — certamente os devaneios de um homem demente. Transcrevi
o material, já que muitos
se encontravam em situação lamentável. Espero encontrar teu perdão pela falta de compet
ência.

Mensagem do batedor Enrico, para o seu senhor


“Ainda existe vida no vale, meu senhor! Vir- A palidez da pedra é hoje manchada pelo
ka já recebeu muitos nomes. Já foi a primeira verde da natureza, que parece encobrir o
cidade dos homens, o centro do mundo, a ca- vale. É como se o próprio tempo fizesse o pos-
pital de um império, mas hoje jaz em ruínas sível para esquecer-se de tudo que ali acon-
– abandonada à própria sorte. Evitada por teceu. Os testemunhos de sábios sobreviventes
todo e qualquer homem de bem, os boatos e da queda do império alegam que nenhum
rumores sobre as condições vergonhosas do exército seria capaz de destruir a cidade da
antigo orgulho imperial se espalham pelo forma como foi, e eu sou capaz de atestar isso
mundo civilizado. Apenas relatos posteriores com meus olhos. As construções megalíticas
à queda dos Vlakin, e algumas notas de via- de Virka resistiram a investidas de aríetes e
jantes corajosos, loucos ou perdidos, dão cabo catapultas. Algo fez esta terra tremer. Não
de pintar uma visão da cidade. Sabe-se que caminhei pelo centro do vale, circundei as
as antigas estruturas de mármore, com seus montanhas e encontrei os abutus vivendo no
pilares circulares e estatuetas de perfeitas fei- norte. Um povo tímido, receoso de qualquer
ções estão arruinadas, mas ainda de pé. um de fora. Não sei se são pecadores por na-
tureza, como alega o Tribunal, mas até mesmo
eles enxergam a maldade em Virka.”

b 175 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
a
Não é tão Ruim Assim?

O vale de Virka é grande o bastante para conter um punhado de cidades e vilarejos. Quando a guerra civil
se espalhou como fogo dentro do vale, boa parte destes lugares se tornou perigosa, por conter algumas
riquezas que logo seriam saqueadas, mas e depois? Não haveria soldados, cavaleiros, que participaram das
guerras e desejavam tomar pra si um pouco daquela terra? Não havia filhos muito abaixo da linha sucessória
que teriam melhores chances firmando um ducado, ou um condado dentro do vale de Virka? Por que isso
não aconteceu? Primeiro, por não existir mais um poder centralizador que desse a confirmação desse novo
controle. Mas nada impede que estes homens tenham, sim, tentado se firmar a força. E se existem duques e
condes em cidades arruinadas, fazendo o possível para manter sua própria hegemonia no vale?

Relato de Benegário de Tiepole


“Meu senhor, perceba, sou apenas um comerciante. O que eu faço é um serviço para nobres saudosistas ou curiosos.
Minha casa conseguiu fazer algum nome nos últimos anos e com meus cavaleiros mercantes conseguimos entrar no
vale para recuperar alguns objetos. O senhor sabe que o artesanato de Virka é valorizado, assim como seu traba-
lho em pedra, e dessa forma recupero estes artefatos mundanos para vender. Não pense que roubo ou que saqueio,
muitas das vezes é apenas outro mercado. A menos de um dia de cavalgada, depois da passagem pelas montanhas,
uma antiga vila é utilizada como ponto de troca. Quem cuida dela são pessoas que continuam vivendo lá. Eu não
questiono, não pergunto sobre seus senhores, nem mesmo sobre seus interesses com o que eu troco, mas eles sempre
me desejam a segurança do Criador, e isso me basta.”

a
Ruínas e Relíquias

Virka está cheia de tesouros do passado, os mais importantes são a Coroa do Imperador, a pesada máscara
de ferro negro que o conquistador forjou em Belghor; A Litania do Criador, o tomo máximo, imenso e pe-
sado do criadorismo, perdido desde a queda, contendo os caracteres de poder ditados pelo Pai; o Esteio do
Eleito, o báculo divino daquele que guia a alma dos homens; e o Primeiro Livro dos Grandes Milagres, um
livro catalogando os atos supremos realizados pelos homens de fé desde o início dos tempos. Essas e muitas
outras relíquias podem ainda estar nas ruínas de Virka, ou na posse de pessoas de outras castelanias que
já enviaram seus saqueadores. Esse interesse por relíquias sempre existiu, mas agora é fomentado, já que a
capital do império caiu, fazendo com que armas de soldados, formas de brasões, elmos de crista, estátuas
de homens importantes, tudo seja ainda mais procurado. E algumas casas nobres acrescentam estes objetos
às suas galerias de artes.

b 176 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Das confissões de Vougan Velhaco
“Nossos inquisidores questionaram a decrépita figu- Lá, percebendo que no interior do poço havia o que
ra de Vougan até ele nos contar sua verdadeira parecia ser sangue, coletou algumas sanguessugas
história. Verdade ou não, confirma a perturbação que estavam agarradas nas paredes e em massas
de sua mente e justifica o uso do fogo para acabar de carne disformes. Vougan detalha de forma de-
com seu tormento. O velho alega ter mais de cem pravada o apetite que sentiu enquanto observava
anos e que recebeu a benção da vida quando fez o pequeno animal se contorcendo entre seus dedos
parte do grupo de mercenários de Dalanor, “Riso e chegou a babar durante o depoimento, lembran-
de Tiecelin”. É uma figura respeitada neste vilarejo do-se de como foi delicioso colocar aquilo na boca
e o povo ignorante o chama de milagreiro. Pouco e morder até estourar, com o sangue fresco alimen-
depois da queda do império, o bando de Vougan foi tando-o. O velho disse que sentiu-se mais vivo que
enviado a Virka para saquear e depois de se separar nunca, dono de uma saúde de ferro. Uma blasfêmia,
do grupo, encontrou um poço fétido dentro dos anti- naturalmente. O fogo lhe trará paz.”
gos salões desmoronados da capital.

a
Sangue Fresco

O sangue é um elemento importante na cultura geral de Belregard. É através do trabalho nele, com as san-
grias, que um homem doente pode ter seus humores equilibrados e encontrar a cura. É de conhecimento
geral que o sangue dos reis é diferente do sangue dos meros mortais. O que dirá então, o sangue de um
imperador? Dizem que era costume em Virka, na capital, guardar as sanguessugas do tratamento da família.
Elas eram mantidas em poços úmidos e bem alimentadas. Esse cuidado era motivado por esta crença de que
o sangue da nobreza é diferente do da plebe e, quando caindo em mãos erradas, poderia ser utilizado para
feitiços e pragas. Talvez Vougan tenha tido a sorte de abocanhar a sanguessuga que carregava a essência dos
Vlakin, ou o motivo de sua longevidade seja outro, completamente diferente.

Devaneios de um fugitivo de Virka

“Este homem foi encontrado em Rivienza, Varning, com os pés sangrando. Ele tinha um sorriso demente nos
lábios quando viu as pessoas saindo de suas casas pela manhã. Foi detido, considerado um degenerado. Es-
tava nu e desnutrido. A igreja foi chamada e um sacerdote conseguiu tirar dele algumas verdades. Chama-
va-se Erasmus e vivia em Virka. Segundo ele, tinha família e fugiu de lá porque seria condenado à morte.
Falou que Virka não tem um rei, mas a antiga capital é ocupada por um poderoso culto, o Vermis Vocis.
Eles fazem uso do grande fosso escavado pelos imperadores, onde está uma ligação para a Alcova Profana
da Sombra Viva. Lá, os imperadores arremessavam os condenados por traição e Erasmus disse que havia
traído o culto e por isso fora condenado, mas fugiu, porque não queria ouvir o rugido da besta. Um louco.
Mas é preciso ter cautela, já que é possível que toda sorte de cultos se proliferem nas ruínas abandonadas.”

b 177 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
a
O Vermis Vocis

O culto é um exemplo do tipo de deturpação que pode ocorrer dentro de Virka. Como os imperadores ha-
viam, em sua arrogância, escavado um fosso profundo no meio da cidade, para jogar lá seus condenados
como um testemunho de que Virka era maior que a Sombra, não é difícil de imaginar um uso disso para
cultistas e fanáticos. O Vermis Vocis é liderado pela misteriosa figura que atende pelo nome de Voz e todo
seu conhecimento é baseado na leitura de um livro chamado Laudare ad Vermem, escrito na Fala Negra de
Belghor. O culto controla alguma parte das antigas ruínas, cobrando tributo dos moradores que ainda vivem
lá. Na maior parte do tempo não incomodam, mas ocasionalmente surgem com demandas, como exigências
de sacrifícios, além dos tributos de plantio. No fundo, talvez, o Vermis Vocis represente um monarca como
qualquer outro homem cruel de Belregard.

Canção do Fora da Lei

Uma pequena estrofe da música que tem sido ouvida, não nos salões da nobreza,
mas nas praças sujas de cidades e vilas pobres...

“Venha você, bandido, caminhe comigo

Até a verdejante Virka, onde todo homem tem abrigo!

Árvores, caça e o frescor da sombra do vale

Longe da corte e do prelado, onde só a traição cabe!

a
Corte Criminosa

É de se imaginar que os boatos também causem desejos exploratórios, especialmente quando as lendas
falam sobre uma terra sem reis, onde todos os homens vivem livres, respeitando-se uns aos outros. Párias,
bandidos, criminosos, veem Virka como uma terra prometida, um lugar seguro, onde podem viver sem as
cobranças da vida juramentada, onde podem caçar e viver uma vida simples, feliz. A situação pode até ser
essa, em algum lugar do vale, mas tratá-lo por inteiro como um paraíso pode tirar boa parte do tempero que
o torna interessante para uma história, como a sombra sempre presente da corrupção que vaza do fosso no
meio da antiga capital. E todos nós sabemos: Virka pode até mesmo ser um paraíso, mas basta o número
certo de seres humanos para que tudo se torne ruína e o abuso de poder ocorra.

b 178 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Das palavras do louco Inácio, trancafiado em Vlakir
Inácio fora capturado depois de enlouquecer. Vivera como nobre em Vlakir, aceitando os ditames detur-
pados da religiosidade local e como viera de uma família apegada aos preceitos do império, Inácio viveu
bem até abraçar a loucura. Ele disse, em seus devaneios, que havia encontrado diários de seu avô, que fora
camareiro do último imperador e que, supostamente, esteve com o Vlakin em seu último momento. Seu avô
viveu em Vlakir por pouco tempo e o jovem Inácio tinha apenas uma única lembrança dele, do dia em
que o encontraram em sua casa, nu e imundo, tendo deixado mensagens nas paredes e em folhas, com di-
zeres estranhos, mapas do céu noturno e orações apócrifas. O velho escondeu as anotações entregando ao
neto, dizendo-lhe que um dia ele entenderia tudo aquilo. Inácio alega que compreendeu, mas não tem os
papéis. Para absorver todo o conhecimento, devorou as páginas. E agora murmura que espera a chegada
deles, porque as estrelas se alinham e logo um grande olho se abrirá no céu. Ele gargalha e se refestela
na própria imundície, alegando já ouvir o rufar demente das trombetas da destruição. Não foi purificado
no fogo, pois alguns homens de Vlakir acreditam que a loucura de Inácio é um toque de Deus e que,
apesar de perturbado, o que ele prevê é o alcance do terceiro céu.

a
O Fim do Mundo

Preocupações sobre o fim do mundo sempre existiram em Belregard. Dificilmente um homem comum
pensa no mundo muito distante do momento em que ele vive. Projeções daqui a 100, 200 anos são com-
pletamente absurdas mesmo para os reis que podem, no máximo, esperar que seu sangue ainda esteja
correndo entre a nobreza. Eventos marcantes, como eclipses, sempre são acompanhados de uma pesada
carga de crendice escatológica. E mesmo a situação atual do mundo, em sua política isolacionista, faz
com que o fantasma de um apocalipse paire no ar. Os de cabeça fraca se agarram a cultos inomináveis,
que alegam reconhecer aquele punhado de escolhidos. Outros lutam por uma nova união, dizendo que
esse afastamento dos povos envergonha o Criador. O fim do mundo pode muito bem já estar no isolamen-
to, ou talvez ele venha dos céus, das entranhas da terra, com o despertar de coisas antigas. Mesmo que a
teoria seja tratada com certo desdém em outros lugares, por pessoas esclarecidas, em Virka parece que
as pessoas realmente creem que o mundo está para acabar.

Relato do mercador Décio:


Em certa feita, numa grande feira, conheci um rapaz que veio de Virka. Seu nome era Túlio e disse que
era “nascido no touro”. Não entendi na hora, mas depois que dividi a tenda com ele pelos dias da feira,
acabou se abrindo comigo. Túlio disse que, apesar de Virka ter sido o berço da maior civilização que já
marcou Belregard, a mistura gerada lá e o abandono do Tribunal fizeram com que ritos antigos, mistu-
rados entre si, voltassem a aparecer. Ele disse que se chamava tauromaquia, nunca tinha ouvido esse nome
em minha vida. Aparentemente, a pessoa ao ser batizada lá, era banhada no sangue de um touro, grandes
touros, atiçados pelos participantes, que depois se entregavam aos festins e libações. Ao que entendi, não
era apenas um batismo daqueles que nascem, mas também para aqueles que se tornam guerreiros. Saiba
apenas, vossa santidade, que não mais me deitei com Túlio, ou o permiti em minha tenda, depois de desco-
brir isso. Eu juro pelo Criador nos céus.

b 179 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
a
Velhos Inimigos

Um medo perene que ainda assombra os pensamentos dos moradores de Belregard é o retorno dos Selva-
gens. Muitos ainda tocam nestes nomes, alertando filhos, vizinhos, sobre os perigos de se caminhar pelos
ermos, onde eles ainda viveriam. É fato que não se vê um selvagem há mais de mil anos, mas as práticas
deles ainda podem ser encontradas em comunidades isoladas do mundo. Com Virka não foi diferente.
Poderiam os homens do vale ter encontrado algum sobrevivente? Talvez aprisionado de forma misteriosa,
com o uso de algum sortilégio brovático, dentro de salões profundos? Poderia algum tipo de selvagem
voltar a caminhar sob o sol? Ou mesmo algum dos patriarcas e matriarcas que pariram estes seres? Po-
deriam ser eles homens? Afinal de contas, não seria a selvageria inerente a todos nós?

Localidades e Marcos
É possível deduzir algumas coisas que ainda
existem em Virka, algumas características que
se mantiveram mesmo com a queda do império.
De tudo visto aqui, aquilo que se destaca:

Virka, Cidade das Torres


A capital, primeira cidade dos homens, sempre
foi grande, espaçosa e protegida. De certo que
suas muralhas, hoje, estão arruinadas e suas tor-
res tombadas, mas é nesta ruína que encontram
o Castelo Real do Imperador, a Catedral do Dei-
cídio e tantos outros locais de extrema impor-
tância na história dos homens, como o grande
fosso que liberou os miasmas que envenenam o
mundo. Decerto que foi um local saqueado, mas
sabe-se lá o que ainda pode existir de valioso em
seus corredores e salões abandonados.

Sapienta
Gravura estilo
bertina de Mottazzi Um complexo de torres e salões de estudo,
representando ruínas
comumente vistas local onde o imperador passou a maior par-
em Virka.
te de seus últimos dias. Estudava com afinco
textos antigos e proibidos. Dizem que morreu
na mais alta das torres do complexo, tran-
cando-se em uma das salas, onde ateou fogo.
Fica ao nor te de Virka e perdeu boa par te de
seu valor nas chamas.

b 180 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Obelisco de Morovan
Assim como existe a pedra angular e funda- Alguns alegam já terem-na visto flutuar em certas
mental em Belghor, que marca o ponto onde noites. Outros falam que ela aumenta de tamanho, como
as primeiras lições do Criador foram deixadas,
Virka exibe o Obelisco de Morovan com o mes- se saísse da terra, outro já dizem o contrário, que ela era
mo significado. Com altura de mais de cinco bem maior. A única verdade é que existe algo de estra-
homens, acredita-se que essa imensa pedra ne-
gra e lisa, angulosa, já estava erguida quando
nho com o Obelisco, sendo essa estranheza algo muito
os homens chegaram ao vale. Era um local de particular do observador.
orações e pedidos, onde os primeiros oradores
faziam suas celebrações fundamentais.

As Fendas
Uma formação mais recente, as fendas não
têm apenas um lugar como referência. Elas são Tudo está morto, senhor. Um campo enorme, como um baronato,
rachaduras, buracos na própria terra, por onde todo queimado. Sem vida. Mas não foi fogo, mas sim o calor da
se exala calor e fumaça. Acredita-se que sejam
terra que não permite que haja vida. É assombroso.
reverberações do grande fosso escavado no
meio da cidade, uma resposta da Alcova Pro-
fana, que agora faz os seus próprios caminhos
para Belregard. Evita-se ao máximo passar per-
to das correntes de ar quente que exalam destes
buracos.

As Fossas
Isso serve como proteção natural ao local, meu senhor. Um
O antigo local onde fora tirada toda pedra uti-
lizada para a construção do império se tornou
grande contingente teria muitas dificuldades para adentrar a
um conjunto de fossos horrendos, deformes, es- cidade sem ser surpreendido pelos enormes buracos, que aparecem
quálidos, nas montanhas que circundam Virka. sem aviso. Parecem verdadeiras alcovas profanas em escala menor.
Buracos enormes feitos pelos homens, tomados
de águas sujas pelos antigos resíduos da escava-
E há quem diga que brotam bestas nunca antes vistas de tais
ção e cercados por uma vegetação hostil. orifícios. Obviamente crendices.

b 181 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b

Vlakir
“O que você teme?”
Senhor, desde já peço
desculpas se lhe ofendo com
as palavras que escreverei, mas
meus olhos apenas relatam
aquilo que vi e li. Não aumentei
Capital Adoração um único fato, mesmo quando
Chryssos (Cidadela de Prata). Braço apócrifo do Criadorismo. Durante a minha alma foi acometida pela
queda do império, quando tudo começou a ruir imensa surpresa e descrédito.
População frente aos olhos dos homens, muita coisa mu- Não creio nas sandices que
Maioria Belghos seguido de Parlos e uma dou sua ordem. Antigos caíram e novos se reer- ouvi, mas não sou eu que devo
mistura de várias etnias que se juntaram na for- gueram. O atual Rei Demiurgo foi iluminado julgar, mas antes de tudo,
mação da cidade desde a época do império. É por um profeta misterioso e todos agora creem deixo claro pela minha alma
estranho, não segue uma lógica esperada. Uma em Demiurgo, um dos nomes do Único. Ocorre como testemunha: O Único
mistura disforme e impossível em qualquer ou- em Vlakir uma heresia declarada, um culto à fi- não reside aqui.
tro lugar. Aqui encontramos uma amostra do gura do rei. As orações são feitas em seu nome,
que seria Belregard em sua totalidade. Dos mais direcionadas a sua figura. Uma anomalia. Dizem que este emissário tem
distantes, reclusos, passando pelos mais popu- servido como conselheiro do Rei
losos, todos os povos estão representados aqui, Símbolo/Cor Demiurgo em sigilo, ensinan-
seja ao menos por um único cidadão. É como se Adornando um fundo de cor vermelho escuro, do-lhe rituais espirituais para
tivessem preparando uma arca, com uma amos- assim como a cor das bandeiras do antigo impé- ser um líder perfeito, dobrando
tra de cada um dos povos, para o caso de tudo rio, estão duas plumas de cores marrom e bran- a vontade de seus seguidores.
isso um dia ser engolfado pelas águas. co mescladas, como as cores da águia e as cores Ele lhe tem ensinado sobre
do leão. Ao centro, temos um grifo estampado, conhecimentos tão profundos
PODER uma criatura monógama, símbolo do casamento que até mesmo Bövrar II
Rei Demiurgo, O Sem Nome, Aquele que e pacto. Ela representa as ideologias do antigo poderia se surpreender.
Morrera, O que se Fez Novo, O Encarnado, O império somando duas naturezas e qualidades
Escolhido das Estrelas, O Portador da Stémma. distintas, a da águia e a do leão. As três coroas
O Rei foi visitado dias antes do fim culminante representam as três grandes dinastias, os Bö- Em suas pregações, o Demiur-
do império, um emissário, um ser de luz, um vrar, os Vlakin e a que está por vir, aquela que go alega que o Criador está
enviado das sombras, alguém impossível de se irá guiar os justos para uma nova terra, um novo morto. Que não simplesmente
definir, lhe trouxe muito conhecimento e lhe céu. Um segundo significado para as coroas é tombou retornando para a
guiou para as terras onde hoje está Vlakir. O a representação dos três céus. O primeiro céu Abóbada, mas que de fato está
homem por trás do falso título de Deus é um foi quebrado na primeira vinda do Único, o se- morto, que ninguém mais olha
velho de boa compleição, olhar calmo e sorriso gundo céu se rompeu com a morte do Único, o pelos homens. Um absurdo!
fácil, uma típica manifestação sombria, que ca- terceiro céu será a morada dos escolhidos quan-
tiva os mais fracos. do o Único renascer. O grifo é simbolo de sabe-
doria, justiça, e foi conhecido por botar ovos de
pedra ágata, uma pedra com grande simbologia

b 183 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
para o culto a Demiurgo, sendo utilizada como bra enquanto dizem adorar o Único em uma das
anéis e adornos pelos sacerdotes e nobres, de- suas muitas faces. Uma guerra que acabará em
monstrando sua importância e status. sangue mais cedo ou mais tarde.

O Passado
As terras que hoje formam a castelania de
Vlakir já pertenceram a muitos lugares diferen-
a
tes. Já foram parte de Parlouma, de Brandevir Fauna e Flora Fantásticas
e mesmo de Virka. No ano 1102 DA, o duca-
Aquilo que se destaca na natureza
Há quem diga que esta mulher do de Vlakir foi criado em honra a Severo, um
particular de Vlakir
foi a causa da queda do poderoso aliado dos Vlakin. Funciona de forma
Império, mas consigo enxergar semelhante às terras dos Lazari, mas sem sofrer Dhevora: estas plantas carnívoras são as
inteligência e estratégia ao a pressão de ter sido um território concedido maiores já encontradas em toda Belregard;
preservar esta castelania da antes do domínio imperial. Quando a dinastia nascendo nos arredores de outras árvores, são
decadência inevitável de Virka. Vlakin começou a dar seus sinais de fraqueza, um chamariz para animais com sede. Em forma
Muitos estudam as decisões quem estava no comando do ducado era Servia de copo, com uma borda redonda, as Dhevora
firmes e corretas de Servia. Víbius Severa, uma consorte do imperador. Di- geralmente estão cheias de água armazenada
Claro que há quem a condene zem que Servia cortou relações com o império a e exalam um odor inebriante, que convida os
pelo fato de ser consorte contragosto pois, por seu desejo, teria feito sua mais desatentos. Ela é capaz de devorar até
do imperador. Mas Alec nos terra tombar junto de Virka se fosse preciso. No pequenos roedores, como ratos, e pode causar
ensinou a não julgar as almas entanto, esta retirada, aliando-se a igreja, fez algum dano em mãos e pés desavisados. Além
precipitadamente. com que Vlakir fosse poupada. Antes que Virka disso, os pequenos “dentes” da planta injetam
caísse por completo, verdades espirituais foram uma substância que acelera o apodrecimento
reveladas ao Rei Demiurgo: verdades sobre o do corpo, necrosando as áreas atingidas.

Sangue, que seja, mas a glória real poder do criador, sobre o cosmos, sobre um Ossuda: os lagos gêmeos de Vlakir são imen-
é apenas uma. Vlakir será mais deus indiferente ao bem e ao mal, um ser mais sos e a vida é farta em ambos, mas o que se
uma pedra na grande muralha evoluído que o apresentado às crianças cinzen- destaca são as ossudas. Peixes imensos, que
protetora do Senhor, Vlakir tas por Morovan. podem chegar a dez metros de comprimento.
fará parte do Brandevir. O Presente Além da fartura de alimento que representam,
Hoje Vlakir recuperou seu ímpeto inicial, vol- suas cabeças são duras, formadas por placas
tando a ser uma terra, uma monarquia que não de ossos muito valorizadas como ferramentas,
só apoiaria o império como deseja fortemente já que são extremamente resistentes, servindo
seu retorno, mantendo inclusive o nome que até mesmo como escudos. A pesca destes ani-
fora dado pelo imperador nos gloriosos tempos mais é perigosa, pois suas bocarras possuem
idos. Vlakir se mostra como uma das forças do- força o bastante para arrebentar cascos de
minantes no leste de Belregard, disputando os barcos. Existem dezenas de espécies, desde a
territórios de Parlouma, Latza e Braden, dire- ossuda preta até a ossuda cascavel, cada uma
tamente contra do Tribunal do Supremo Ofício com seu devido valor na cultura e culinária.
em Birman. Tal rivalidade é ainda mais inten-
sa pelas diferenças de crença: o Tribunal acusa
Vlakir de heresia, deturpação e práticas nocivas
ao homem, acusam de compactuar com a Som-

b 184 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Relações e Comércio
Mesmo estando em uma situação privilegia-
a É de se admirar tamanha
riqueza com tão pouco
da, Vlakir sofre. Por mais que tente, a castelania Cavaleiros Mercantes em Vlakir
comércio. Sei que não é meu
não consegue fazer comércio com Parlouma de
Os cavaleiros mercantes de Vlakir assumem papel, mas acredito ser digna
modo significativo. Parlouma se fecha e parece
uma postura de nobreza dentro da castelania. uma investigação maior sobre
que, pelo mais que Vlakir se empenhe, nunca
Eles são escolhidos como verdadeiros pala- as finanças de Vlakir. Ou eles
consegue alcançar o alto escalão da castelania
dinos da vontade do Demiurgo. São poucos e herdaram muitos dos tesouros
dos parlos. As melhores chances para mudar
lideram grupos menores de caçadores e merca- do império ou realmente
isso estão com um possível casamento entre a
dores. Com a situação isolada de Vlakir, os ca- encontraram uma terra que
nobreza. Latza não quer apoiá-la nem no comér-
valeiros são verdadeiros salteadores imbuídos jorra leite e ouro.
cio e muito menos na guerra. Sem aliados, resta
de uma justificativa divina. Eles atacam regiões
apenas se fortalecer com o fraco comércio e à
de fronteiras, tomando aquilo que é preciso
base do ouro que mantiveram com a queda do
quando o comércio simples não funciona. As
império. Mas, no fim, o Rei Demiurgo pouco se
negociações são simples, geralmente desfavo-
importa em fazer firmes laços com estes povos
recendo os negócios locais, o que normalmente
— ele sabe que os dias finais estão chegando e,
gera recusa, que termina em sangue. Os abusos
quando chegarem, ele será aquele que guiará os
dos cavaleiros de Vlakir são famosos, mas eles
homens mundanos ao terceiro céu.
mantém uma aura de pureza, já que fazem a Finalmente um pouco de ordem
Assentamentos mando do único e verdadeiro senhor dos ho- para esta mistura caótica.
A castelania se divide em três zonas geográ- mens. Tantos povos, tantas coisas
ficas importantes: o Planalto Superior, morada distintas, é necessário colocar
do Rei Demiurgo e do Tribunal Reformado e a cada qual em seu lugar, con-
Casa dos Observadores Estelares. No Planalto local serve como antro para a realeza e o cle- forme o Único nos revelou. Não
Central moram os nobres. O Planalto Inferior é ro de Vlakir. Três são as camadas de portões vejo possibilidade de ordem se
a morada dos soldados e camponeses. dividindo a cidade em área externa, central e não houvesse essa organização
núcleo. No externo moram os acólitos e fami- da castelania, por certo
As três cidades, Chryssos, Chákry e Láspini,
foram construídas juntas ao longo de três dé-
liares, no central moram o Rei Demiurgo e lide- se matariam.
res da fé. No núcleo está apenas a Catedral da
cadas, estando prontas somente há cinco anos.
Santa Igreja Reformada, feita em alinhamento
Elas receberam nomes estranhos, sem signifi-
cado para nenhuma das línguas conhecidas, e
com as estrelas, em especial com os Três Mar- Ainda estamos tentando
cada uma possui exata distância, angulação,
cos, três constelações importantes para essa entender as diferenças, meu
tamanho e função no grande plano de abrir o
nova vertente eclesiástica. Acredita-se que, senhor, mas tudo aponta ainda
terceiro céu. quando o terceiro céu se abrir, ele se abrirá a mais e mais heresias.
partir destas constelações, e serão os líderes
Chryssos (Domus) “Cidadela de Prata” de Vlakir os escolhidos para seguirem para
(aprox. 10.000 habitantes) viver ao lado do Criador. Os muros da cidade
A cidade foi construída ao longo de vinte anos seguem um padrão radial dentro de estruturas
e somente há cinco concluiu suas obras. Cerca- poligonais. O local foi apelidada de Cidade Es-
da com uma muralha em forma de uma estre- telar pelos visitantes, que são poucos. Nenhum
la de doze pontas, com um portal e uma pira estrangeiro entrou nos muros de tal cidade.
de incenso sempre acesa e cada uma delas, o Patrono Local: Rei Demiurgo.

b 185 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Seria infantil acredi-
Chákry “Escadaria de Cobre” Forças Militares
tar que a população
(aprox. 8.000 habitantes) Quando o conselheiro mandou que o Rei De-
iria aceitar tudo de boa
vontade. Já foram relatadas Situada no Planalto Central, nesta cidade resi- miurgo construísse as três cidades, nos devidos

resistências populares e dem os homens livres e camponeses que viram moldes, ele ordenou também uma sequência de

grupos criminosos que a verdadeira fé de Demiurgo, banharam-se em outras informações e exigências que deveriam

tenta burlar a lei lutando água e beberam do cálice. A cada ano, pessoas ser seguidas. Uma destas é a organização dos

com eficiência com armas são expulsas da cidade, indo morar no Tredema, soldados de Vlakir, que deveriam seguir os mo-

improvisadas. É sabido o nome pejorativo dado aos Planaltos Inferio- delos adotados por Demiurgo para seu exército

também que muitos têm celeste. A população é proibida de portar armas


res. Aqueles que foram observados pelo clero
resgatado um estilo de e resolver problemas de forma física, apenas as
e foram aceitos pela verdade, serão ascendidos
luta que selvagens usavam forças militares podem fazê-lo.
de status. Aqueles que se perderam em cami-
séculos atrás, baseado em nhos pecaminosos, serão arremessados para
Thryonus
agarramento, arremessos, o mais baixo degrau da sociedade. Patrono (120 lanceiros divididos em 3 grupos)
quedas, estrangulamentos Local: Os Escravos de Cobre, uma ordem cleri-
e torções de membros. cal que responde diretamente ao Rei Demiurgo.
Estes soldados nunca podem pisar fora dos
Os selvagens lutavam Eles governam e pesam a alma dos homens em
domínios do Planalto Alto, faz parte do seu ju-
como animais. A antiga balanças celestiais.
ramento. Eles são responsáveis por cuidar das
luta foi batizada de lenis muralhas, manter as piras de incenso acesas e
ars, buscando mais agilida- Láspini “O Tredema” manter vigia aos portões.
de, sagacidade e inteligência (aprox. 20.000 habitantes)
Kyrurtus
para fazer com que um Situada em toda a área que compreende o (120 lanceiros divididos em 4 grupos)
homem desarmado possa Planalto Inferior, aqui se encontram os servos
enfrentar um soldado e trabalhadores que mantêm Vlakir funcionan-
Assim como os Thryonus, o Kyrurtus nunca
paramentado. do. Aqui estão os comerciantes e os homens de
devem se afastar do Planalto Central, protegen-
do os homens que são, de acordo com o Rei De-
pouca fé. Os homens vivem suas vidas enquan-
miurgo, o maior tesouro de Vlakir.
to sonham em serem escolhidos para subirem
pelas escadarias de cobre e morar em Chákry, Archimus
ficando mais próximo do Rei Demiurgo. Muitos (120 lanceiros divididos em 40 trios)
já desistiram de ascender na fé e vivem suas
Estes homens funcionam como os olhos de
vidas apenas esperando o dia de amanhã. O
Pascholo por todo o Planalto Baixo, organiza-
Rei Demiurgo nunca desceu até o Planalto In-
dos em pequenos grupos que tem a função de
ferior desde a primeira vez que colocou os pés
tentar ser a balança dos céus na vida atribulada
no Planalto Superior — o Tredema é sinônimo
destes homens simples.
de podridão espiritual. Patrono Local: Monge
Pascholo, o homem que subiu até a cidade de Construções e Formações
ouro e por livre vontade aceitou fazer-se servo, De tudo visto aqui, aquilo que se destaca:
descendo até o Tredema para então ajudar os
homens simples a enobrecerem seus espíritos.
A Via Celeste
Pascholo é um líder admirável e pretende fazer Caminho de Pedras que se inicia no Planalto
com que todos alcancem o terceiro céu. Inferior e vai até o núcleo de Chryssos. Ape-
nas umas vez por ano as pessoas podem subir
as escadas até a Cidadela Dourada, entrando
b 186 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
e saindo por todos os portões, em procissão e Lýkos é a besta que vive no coração do ho-
meditação. Este dia é chamado de Procissão da mem, representa a segunda era onde homens Estes homens perderam a
Deidade e todos esperam tal dia com ansiedade se mataram e mataram os selvagens, o império sanidade e a vergonha na
durante todo o ano. dos Vlakir, o Segundo Céu e a morte do Único cara. Eles utilizam ervas
quando a Sombra firma-se na terra. proibidas, se embebedam de
Casa dos Observadores Celestes
veneno e afundam suas mentes
Um secto do culto que nasceu em Parlouma, Stémma é a jóia divina colocada sobre a ca- destruídas em viagens até
mas tornou-se ainda maior em Vlakir. Eles têm beça daqueles que encontraram a mente deífica a Alcova Profana. Quando
observado os céus e acreditam ter encontrado
Demiurgo entre as estrelas; elas brilham e cami-
e representa a última era dos homens, o último voltam, estão tão perdidos
nham pelos céus, toda noite. Demiurgo fala atra-
grande império, a abertura do Terceiro Céu. que mal sabem o que falam,
vés do brilho das estrelas e eles têm transcri-
Desta constelação o Único cavalgará em meio proclamando imundice de suas
to essas mensagens que falam sobre segredos ao cosmo em um grifo que os guiará para uma bocas enquanto juram que são
mantidos pelo Rei Demiurgo e seu conselheiro terra divina, celestial, suprema, que fica no nor- palavras de sabedoria.
secreto. te muito distante. Um lugar perfeito onde o sol
brilha por todo o dia e não há pranto nem dor,
Três Marcos nem choro e nem angústia: O Terceiro Céu. Eu prometi que não iria mais
São três constelações importantes para a ver- me irar, mas tem sido um
tente do Criadorismo em que Vlakir é erigida. Lagos Gêmeos
trabalho extenuante reunir
Stavrós é a grande cruz que flagela a carne dos Os dois grandes lagos que cercam
homens, representa a primeira era dos homens
tudo que nossos informantes
Vlakir certamente explicam o suces- trouxeram e conseguir fazer
guiados por Morovan, o primeiro império dos
so da loucura do Demiurgo. Pela isso de modo imparcial. É um
Bövrar, o Primeiro Céu e a primeira vinda do
fartura de peixes nos lagos desfile de sandices e heresias.
Único.
gêmeos, a castelania ainda
não passou por um perío-
a do de pesada fome.

Isolamento em Vlakir

Vlakir é uma terra de paranoia, um lugar onde


as pessoas são julgadas a todo momento. A
sociedade é claustrofóbica, com sacerdotes de
juízes sempre atentos para sinais de heresia.
Por mais que o Tribunal condene as atitudes do
Demiurgo, esta sociedade funcionando dessa
maneira, sob o jugo constante de uma figura
divina, que julga os merecedores e indignos, Gravura estilo bertina
de Mottazzi, mostran-
é tudo que o próprio Tribunal pode desejar. do um sacerdote de
Vlakir punindo peca-
Vlakir não tem aliados próximos, nem mesmo dores em meio às ruas
da Cidadela de Prata.
a louca Latza os abraça com amor. A melhor
chance de Vlakir mudar este quadro é com a
conquista do sul, que pode vir a acontecer com
o casamento da filha do rei de Parlouma.

b 187 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b

Principados de Rastov
“Não nos curvamos a rei algum.”

Capital viviam visando ao bem estar dos seus e da sua


Fantome. região. É uma forma totalmente descentraliza-
da de poder. O papel principal dos príncipes é
População intermediar situações de conflito e tensão en-
Um número dividido entre belghos em sua tre clãs ou relações exteriores. Existem duas ou
maioria, igslavos e, em menor grau, vihs. Ras- três dúzias de príncipes, mas dentre eles, apenas
tov é uma terra indômita. Apenas dois homens treze são tidos como honoráveis, com linhagem
foram capazes de tomar este povo forte e inde- testificada. Qualquer decisão ou julgamento,
pendente como líderes verdadeiros. O primeiro, sobre qualquer assunto que envolva os princi-
Larsen, foi o que comandou a Marcha Fantas- pados, só acontecerá se os treze aceitarem una-
magórica e levou os insatisfeitos ao extremo nimemente. Uma das coisas mais notáveis é que
norte, onde lançou os alicerces deste principa- os príncipes não são ricos, não possuem terras,
do. O segundo foi Vlakin II, que firmou o Impé- apenas recebem primícias de produção. Eles são
rio de Virka sob seu punho. Este traço de escas- funcionários dos clãs e por isso devem viver com
so domínio central marcou o povo de Rastov, aquilo que os clãs geram da terra. No momento,
transformando-os em pessoas autossuficientes o governo de Rastov passa por uma situação deli-
e belicosas quando a força bruta é necessária cada: três dos treze príncipes se destacaram e se
O que me impressionou sobre
para proteger seus lares. Aqueles que vivem nos uniram, sendo chamados de O Tridente. Sua in-
os relatos dos descendentes
Principados recorrem aos governantes apenas fluência tem causado inquietação nos líderes de
de príncipes foi o ato de que
em momentos de impasses verdadeiramente clã. São eles: Dimitri “Mitia” Bogarov, Aleksan-
são eles que dão as sentenças,
relevantes, seguindo com suas vidas e atos de der “Aliosha” Popescu e Ivana “Vânya” Vladova.
como juízes que devem ser,
forma independente na maior parte do tempo.
mas são também eles que
Adoração portam o peso do carrasco.
Poder Por muitos anos eles foram contra a adoração Isso não é condizente com a
Com uma estrutura totalmente inco- do Único, mas não por descrer das obras do posição digna de um príncipe.
mum, Rastov é governado por um Conselho criador dos homens, mas pela total desaprova-
de Príncipes, descendentes daqueles que for- ção aos preceitos e ordenanças do Tribunal do
mavam a lendária Marcha Fantasmagórica li- Supremo Ofício. Eles não aceitam que ninguém
derada pelo bastardo Larsen. Estes príncipes, tenha posses da terra, que dirá aceitar que al-
sendo cada um representante de determinado guém tenha posse de suas almas. Entretanto, foi
número de clãs, são tanto os que aplicam as por meio de alguns cavaleiros mendicantes das
leis quanto os que as julgam. O governo real de Sacras Ordens de Alec que muitos desses ho-
Rastov deve-se aos clãs, grupos de famílias que mens entenderam o chamado à simplicidade e

b 189 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
fizeram as pazes com o culto ao Único, muitos
se converteram e templos foram construídos.
a
Estes templos são singelos em comparação Fauna e Flora Fantásticas
com o de outras terras; são construções de
Aquilo que se destaca na natureza
madeira por vezes até impressionantes, mas de
particular de Rastov
interiores espaçosos, onde o povo pode se abri-
gar em momentos de necessidade. A presença Bitürd “Raiz Ruim”: conta uma lenda vinda
do Tribunal se faz sentir nas ordens, principal- do oeste de Rastov, que sementes originais da
mente, já que sendo o território que abrange a Taiga Branca foram plantadas em Rastov, mas
antiga região de Igslav; foi aqui que nasceu a o mal daquela mata congelada foi recusado pela
ordem dos cavaleiros sacros, que representam terra, de modo que a raiz das árvores planta-
o punho firme da igreja. das crescia para cima, tomando tudo em seu
caminho. As primeiras moradas dos homens fo-
Símbolo/Cor
ram perdidas para as árvores e ainda é possível
Sob plumas marrons e verdes, para represen-
encontrar estas ruínas de largos salões, onde
tar a paisagem da região, encontra-se um escu-
a madeira foi tomada pelos troncos grossos
do forrado de penas de falcão, representando
das raízes que sobem aos céus. Devido ao mau
as inúmeras gerações que viveram nessas terras.
agouro ligado a estas plantas, muitos godi utili-
Em destaque, encontra-se o grande rei dos céus,
zam sua seiva, ou mesmo lascas, para fazer ri-
o falcão, escolhido por sua capacidade de voar
tuais sombrios. Uma prática antiga deste povo
entre o mundo dos vivos e dos mortos, e ver
era cremar um criminoso com raízes e troncos
aquilo que os homens, cegos em sua vaidade,
de Bitürd, amaldiçoando não somente a carne,
não conseguem enxergar.
mas a alma da pessoa, impedindo que ela se-

O Passado guisse para a Abóbada Celeste. É tido como

Existe uma lenda muito antiga, que data um ato de extrema perversidade e sua prática

da Era das Revelações, sobre a Legião Fan- parece ter caído em desuso.
Esses tomos são um grupo tasmagórica. Segundo ela, durante a Guerra das
de sagas escritas durante a Ursus Cani: estes grandes cães selvagens pos-
Crianças, um dos filhos bastardos do rei morto
viagem e chegada de Larsen e partiu com um grupo de seguidores e suas famí-
suem corpos largos, pesados, e cabeças com-

sua comitiva. Quase tudo foi lias, para conhecer novas terras e fugir das dis-
pactas com orelhas curtas e um focinho largo.

escrito em prosa, com poemas putas covardes em Virka. Chegando ao extremo


Seus corpos são cobertos por pelos curtos em

intercalados. Simples e direto. norte, depois do contato com os bárbaros vihs,


diferentes tonalidades terrosas. Vivem em ma-

Os textos tratam sobre a tilhas e são caçadores exímeos. Seu nome se dá


estes homens e mulheres fundaram um povoado
diáspora, disputas e linhagem. sob as sombras das montanhas que dominam
ao fato de parecerem uma mistura de cães com

Um aglutinado que mistura ursos e pouquíssimos clãs podem se orgulhar


o norte de Belregard. Assim nasceu a irresolu-
história com velhas de ter conseguido domesticar estas bestas. São
ta Rastov — esse período foi contado ao longo
tradições orais. um pouco maiores que lobos e bem mais fortes
dos intitulados Tomos da Diáspora. Por longos
que estes.
anos foi terra de valentes soldados e lendários
cavaleiros, os mais bem treinados homens de
toda a Belregard – os Cavaleiros Alvos. Com
a queda do grande líder que fundou o reino, bri-
gas internas dividiram o território e visando a

b 190 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
não fragmentação, surgiu o Baronato de Rastov. Relações e Comércio
Um conselho de barões cuidou dos negócios do Sem muitos aliados comerciais, Rastov não
domínio por um longo tempo e só viu sua uni- tem feito investidas para mudar isso. Com um
dade restaurada nos idos do Império de Virka. sistema de autossustentação, os clãs suprem
Sendo os maiores influenciadores dos bárbaros suas próprias necessidades, negociando entre
do sul, especialmente os igslavos, os homens de si. Quando preciso, cavaleiros mercantes esco- Esse homem é de tamanha im-
poder em Rastov guardaram uma importante lhidos pelos príncipes servirão como emissá- portância para essas pessoas,
lição em sua história. rios para negociações externas. Eles compram e a guerra que se inicia envol-
apenas aquilo que sua terra não produz, como vendo seu nome é tão surpreen-
O Presente dente, que precisarei fazer uma
por exemplo, o bom aço. São reconhecidamente
Quando o império deu indícios de que iria
bons no artesanato em couro e madeira. São os epístola apenas sobre sua vida
fraquejar, esses homens rapidamente se vol-
melhores nas artes rústicas, como salgamento e sobre sua morada. Mas lhe
taram aos seus antigos aliados e, mesmo com
de carnes e embutidos. adianto, meu senhor, algo muito
toda a divisão que existe hoje, no sentido de ruim acontecerá aqui.
muitos senhores numa única terra, o Principa-
do de Rastov anexou definitivamente a terra de a
Igslav. Assim voltou a sua antiga forma de go- Cavaleiros Mercantes em Rastov
verno, onde um conselho de senhores de terras
toma boa parte das decisões em conjunto. Esta Os Hussardos são os cavaleiros mercantes de
Rastov. A situação da castelania é completa-
medida foi tomada para que os igslavos tam-
mente particular e seus cavaleiros sentem
bém tivessem direito neste novo domínio e as- esse reflexo. Rastov experimenta uma liber-
sim ocupassem as cadeiras da nobreza ao lado dade que não é caótica. Os lordes, os prínci-
de seus antigos companheiros. Tudo estava em pes de Rastov, voltam-se ao seu povo apenas
em momentos de crise, deixando-os seguirem
paz até que o líder de clã Yago Dobrev perdeu
suas vidas como bem entendem em boa parte
parte de seu território para a eterna guerra que do tempo. O comércio com metais preciosos
Draclau Reznikov trava com os vogos. Tendo em Rastov é praticamente inexistente e muitos
muita influência, principalmente com um mem- nunca viram moedas, que não são cunhadas
em cidade alguma. Isso forma um grupo de
bro do Tridente que está apaixonado por sua
pessoas que não sabe lidar com o comércio
irmã mais nova, Dobrev exigiu retratação. Para que não seja na base da troca ou da força.
não cair em vergonha pela desmarcação do ca- Quando estes grupos são formados, geral-
samento, o príncipe influenciou o Tridente na mente por vassalos pouco treinados, e manda-
tentativa de trazer de volta a infâmia de Rezni- dos para o sul em busca de alguma mercadoria
em particular, o resultado pode ser desastro-
kov, para que ele perdesse poder e influência.
so. Sem saber lidar com as nuances comer-
Draclau Reznikov - o Marquês de Ferro - foi ciais, os Hussardos acabam vestindo o capuz
escolhido unanimemente pelos príncipes há de saqueadores e por muitas vezes as castela-
duas décadas e desde então sua lealdade é para nias de Viha e Dalanor já sofreram nas mãos
destes homens e mulheres. Aos Hussardos são
com o povo de Rastov. Da fortaleza de Yastreb
dadas missões simples, eles devem obter algo
Poiska ele defende Rastov dos Vogos. O homem e nem sempre estes mandantes enviam outros
que defende esse povo está sendo acusado e sua produtos para serem trocados. Costumam ser
imagem está sendo denegrida pelo Tridente. despreparados, mas para eles é uma missão
sagrada. Assim sendo, ela será realizada, cus-
te o que custar, leve o tempo que levar.

b 191 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

Gravura estilo bertina de Mottazzi, mos-


trando a passagem entre as montanhas
de Rastov e o portão de Yastreb Poiska.

Assentamentos
Ekatria Fantome
(aprox. 15.000 habitantes) (aprox. 10.000 habitantes)
Região mais populosa de Rastov, aqui estão Saindo do marco zero da Estrada Vitsten, há
os clãs mais fortes e mais bem situados. Eles a Estrada Branca, o lendário caminho feito com
possuem número e, principalmente, a valoriza- pedras brancas. Essas pedras são misteriosas,
da liberdade. Eles têm percebido a movimenta- pois não existem na região e estão aqui há mui-
ção e o acúmulo de poder do Tridente. Notaram tos séculos. A lenda mais famosa conta que cada
principalmente o que está acontecendo no nor- membro da Legião Fantasmagórica carregou
te e o conflito criado com Draclau por motivos uma dessas pedras por anos, para lembrar o peso
egoístas. Já anunciaram que não aceitarão qual- que tinham sobre os ombros. Até hoje é incerta a
quer autoridade sobre suas terras e muito menos origem da sua construção, bem como da sua fun-
sobre suas vidas, e não querem lutar uma guerra ção, mas mitos falam sobre um rei que caminha-
contra aquele que os protegeu por tantos anos. rá sobre ela até a Marca da Fronteira para botar
Ekatria tem recrutado cavaleiros mercantes fim à guerra com os vihs. Cercada com uma alta
para negociar aço, pois querem se armar contra muralha de madeira e pedra, o local serve de
os que atentam contra a paz. Patrono Local: casa para o Tridente e outros príncipes menores.
os principais clãs são os Engberg, Ljugman e Patrono Local: O Tridente.
Löfgren. Juntos eles representam quase metade
dos homens de Ekatria.

b 192 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
Árborag bou enfraquecida depois da nova divisão de Essas assembleias são presidi-
(aprox. 8.000 habitantes) terras. Como fica próxima da fronteira com das pelos mais antigos Godis
Viha, existe uma troca comercial um pouco que esfumaçam os príncipes
É um enorme aglomerado de pescadores so-
mais efervescente. Recentemente, um casa- com baforadas, entoam cantigas
bre uma planície verde sem fim. Um dos locais
mento entre a filha de Bron e o filho de Lars, ao som de tambores e fazem
mais belos de Rastov. Em nenhum outro lugar
da aldeia vizinha do outro lado do rio e territó- sacrifício de animais e até
na castelania é possível encontrar mais tradi-
rio de Viha, fomentou alguma preocupação dos humanos em honra aos
cionalismo. As pessoas de Árborag fugiram in-
príncipes, receosos de uma perda de território. espíritos naturais.
cessantemente de qualquer ideia de autoridade
Patrono Local: Bron, o Calmo. É um verdadeiro desfile de
centralizada. Até hoje quem fala pelo povo não
são os líderes de clã e sim os Godi, uma mistura
Forças Militares
imundice e blasfêmia.
de sacerdotes e xamãs. Estes Godis, aconselha-
Todos aqueles que aceitam um líder de clã lhe
dos pelos líderes de clãs, se encontram em nível
devem serviço militar. As forças armadas de
Estes homens parecem não
regional com os príncipes em assembleias dis-
Rastov são dividas em forças expedicionárias
ter ritos muito firmes, se
tritais a cada primavera para resolver problemas
chamadas de Leihags. Basicamente, grupos
reúnem mais por vocação do que
locais. O maior problema no momento é esta
organizados para vigiar as fronteiras contra
por organização militar. Suas
agitação em Rastov. Eles querem a paz e estão
possíveis invasores sazonais. Além disso, exis-
orações não seguem um padrão,
preocupados com tudo que está acontecendo.
tem Dolkögs, homens que aceitam o dever de
mas sempre encerram com
Patrono Local: Conselho irregular de Godis.
proteger os seus, agindo como “mercenários”. estes dizeres:
Eles não sabem plantar ou cuidar de uma famí-
Eskif e Naskapt (Clã Östberg) “Vista-me de Saúde, Vigor,
lia, mas sabem empunhar armas. Trocam seus
(aprox. 12.000 habitantes) Lealdade, Prudência, Paciência,
serviços por cuidados. Os Leihags são formados
As cidades gêmeas são lar da mais antiga unindo homens de vários clãs e respondem ao
Humildade, Gratidão, Bondade,
fortificação de Rastov, o Forte do Fantasma, conselho de príncipes. Já os Dolkögs, que exis-
Generosidade. De todo o
local construído por Larsen e onde hoje re- tem às centenas, respondem ao Godi ou líder de resto, dispa-me”.
pousa sua espada e ossadas. As cidades ficam clã, ou a qualquer um que possa lhes suprir.
uma na parte inferior e outra na parte supe-
rior do Monte Stövart, o maior na costa leste Leihag de Solstício
de Rastov. As cidades são cercadas por monta- (6 mil expedicionários)
nhas, das quais a mais alta é o monte Stövart,
Responsável por cuidar das fronteiras ao longo
com quase mil metros. Embora o clima seja
do Verão e do Inverno, eles se focam em evitar
particularmente chuvoso e nevoento, em dias
o roubo de plantações e de animais, mantendo
claros de verão o local alcança as temperatu-
os olhos nas fronteiras de Viha, Dalanor e Virka,
ras altas da castelania. Quase todo líder de clã
evitando que invasores e bestas famintas após
vem aqui para visitar o Forte pelo menos uma
o inverno causem estragos em vilas de Rastov.
vez em sua vida. Muito guerreiros rumam até
Seus homens são divididos e assentados em um
aqui para lavar ou provar sua honra e bravura.
local, devendo viver ali, mas sempre lembrando
Patrono Local: Olag Östbergson, O Cego Maldito. da sua real função. Normalmente formado por
homens mais velhos.
Ignar (Clã Isegrundr)
(aprox. 5.000 habitantes)
A antiga aldeia de Ignar já foi palco de acor-
dos ancestrais entres vihs e igslavos, mas aca-

b 193 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Sim, meu senhor, há exceções Leihag de Equinócio Construções e Formações
à regra. Nem todo príncipe (3 mil expedicionários) Rastov não é farta de grandes construções
é dado ao peso da espada e e monumentos, em contrapartida; seus locais
Responsável por cuidar das fronteiras ao longo
geográficos são marcos de importância e beleza
por isso em certas ocasiões da primavera e do outono. Seu foco é cuidar da
ímpar. De tudo visto aqui, aquilo que se destaca:
precisará de um Vulkovi para população e do tumulto que ocorre nas grandes
executar a sentença dada. vilas durante as grandes feiras e festivais. São

Mas sempre ele deverá estar responsáveis por evitar que os estoques para o
inverno sejam roubados e, principalmente, pro-
a
presente e observar o sangue teger os campos de invasores. Seus homens são Isolamento em Rastov
verter daquele que recebe o quase sempre vistos nas cidades e nas principais
peso da justiça. estradas. Normalmente é um contingente for- O isolamento em Rastov pode se dar de mui-
mado por jovens. tas formas. Apesar da fronteira com os vogos

Na epístola que mandarei à ser defendida, existem passagens menores e os


Snijeg Vukovi (200 homens)
vossa senhoria, explicarei sobre saques são comuns em todas as épocas. Por
Um dos mais antigos Dolkögs de Rastov. For- conta da variedade de povos, clãs e mesmo in-
a tradição dos Vukovi e do seu mados por um líder ancestral que matou um
atual “campeão”, chamado de teresses, não é difícil que viajantes encontrem
urso faminto apenas com as mãos e se tornou
Emilianencko Bjork. Dizem que problemas passando por territórios em disputa.
líder de uma matilha de lobos, os Vukovi são ho-
ele foi o maior e melhor Vukovi Com a atual ascenção do Tridente, alguns godi
mens e mulheres que aceitaram a árdua tarefa
que já pisou nessa terra. Pelo de empunhar a espada para aquele que dá a sen- e senhores não se mostram muito empolgados

que tudo indica, querem que ele tença. Evitando que homens de pouco estômago com essa união forçosa. Mesmo os membros
tenham que se sujar com sangue, os Vukovi são do Tridente podem manter as alianças como
lidere as forças do Tridente
caso precisem travar uma guer- os juízes mais presentes em vários povoados. uma fachada, prontos para destilar traições a

ra contra Draclau, o Marquês qualquer momento. Rastov é uma terra de ho-


Vred Haj (80 homens) mens endurecidos e aqueles que dominam as
de Ferro. Será uma guerra
Esses Dolkögs são intimamente ligados às sutilezas dos assassinatos costumam estar um
entre irmãos e compatriotas.
águas e possuem uma espécie de código secreto passo à frente. O próprio Marquês de Ferro é
Um desfile de desgraças. dos mares. Viajam em barcos pelos rios de Ras-
um problema para o Tridente, já que seu poder
tov e sentem saudades das antigas pilhagens so-
e popularidade podem ficar divididos pelos que
bre terras inimigas. Estão sedentos por sangue,
seguem o guardião da fronteira.
e tempos de paz não lhes trazem nada de bom.

Krydse Fyr (120 homens)


Vigilantes das estradas e florestas, esse
Monte Stövart
Dolkög é conhecido por usar lanças enormes, Um dos mais altos de Rastov, o monte foi mui-
utilizadas há séculos contra a cavalaria vih. Es- to importante na mítica enchente que limpou as
tes homens vivem em sua maioria no norte. em terras do norte, um castigo divino para muitos
geral são homens sem família, sem laços, acei- Godi. Povos antigos vinham para cá, entorpe-
tam as estradas como amantes e as matas como ciam-se com bebidas e ervas, uniam-se em amor
irmãs. e eram possuídos dos espíritos animistas, fir-
mando o pacto de comunhão com a terra. Este
Cavaleiros Alvos (100 Cavaleiros) costume vem se acabando década após década.
A ordem formada originalmente pelos igs-
lavos convertidos ao criadorismo ainda é uma
Templo do Criador
força relevante em Rastov, ocupando-se, princi- Erguido para firmar aliança e fazer as pazes
palmente, de servir ao Tridente. com a religião do Único. O local foi construí-

b 194 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b DAS CASTELANIAS b
do e dado de presente aos pobres missionários Um dia, se o gelo se desfizer, o caminho para
Pela santa graça de destra do
devotos de Alec. Estes pobres andarilhos trou- dentro do templo estará aberto e então o misté-
xeram conhecimentos básicos sobre a escrita rio se encerrará ao saberem o que existe dentro
santo Tribunal e pela
e matemática, além de muito conhecimento deste local. O frio ao redor do templo é cortan- graças dos Puros.
sobre a medicina. Aquele que se converte aos te e mortal em seu pico.
ensinamentos do Único deve vir até o Templo
onde irá se banhar em águas cristalinas, na es- Taiga Branca Relatos afirmam que animais
perança de rumar à Abobada Celeste após a A Taiga Branca se espalha entre as fronteiras gigantes com chifres e garras
sua morte. de Viha e Rastov. Uma mata de coníferas e abe- brutais podem ser encontra-
tos largos. É uma região de mistérios. Acredi- dos congelados nas partes
Monte Människa-Gud ta-se que Baba Golod, a Mãe Faminta, viva no superiores de tais picos.
interior da floresta, pronta para atrair crianças
A montanha dos Deuses e Homens, com mais Que tipo de criatura é essa?
de cinco mil metros de altura, é para o povo de e deleitar-se em sua carne.
Rastov, o pico do mundo. Histórias dizem que
Crias do Único ou bestas
aquele que escalar o monte se tornará imortal. Yastreb Poiska regurgitadas da Alcova?
Localizada na fronteira com o território vogo, A Marca da Fronteira, o Ninho do Falcão, é a
o local é morada de muitas criaturas estranhas. linha de defesa entre Rastov e o território dos Sinto-me incompetente, mas
vogos. Comandada por Draclau Reznikov, o
Monte Halav Marquês de Ferro, os valentes se erguem contra
são muitas nuances que en-
Situado nos ermos do norte, em território a barbárie e impedem as invasões vogas pelo
volvem esse povo, meu senhor.
vogo, este vulcão inativo possui o melhor metal principal vale de acesso às terras de Rastov. Precisarei fazer uma epístola
já encontrado em Belregard, o aço halavano. Na Duas muralhas de pedra enegrecida são aterra- também sobre tal mítica cria-
época da fundação de Rastov, tal aço foi larga- doras, um lugar para a todos fazer temer. tura. Estranha e aterradora.
mente explorado, mas perdeu-se o controle da
região para os bárbaros. Hoje em dia, tais armas Forte do Fantasma
são verdadeiras relíquias e o Marquês de Ferro Criado para servir de lar para o grande con-
tem desejado recuperar esta posição estratégica. quistador do norte, o líder da diáspora, o topo
de toda árvore, Capitão da Legião Fantasmagó-
Vales de Hivalzar rica, Larsen. Parte de suas ossadas e sua espada
As primeiras estruturas de Rastov foram er- de aço negro de Belghor se encontram aqui. O
guidas usando gordura de baleia e barro. A caça local é totalmente forrado com ossos, a maioria
destes mamíferos era parte da cultura de Ras- deles de seguidores fiéis ao capitão. O princi-
tov. Nos campos a oeste, existe um vale, apeli- pal motivo de todos esses ossos é lembrar que
dado de Praia das Ossadas. Neste local existem a vida é curta, lembrar que é preciso mudar en-
centenas de ossadas gigantes de baleias, todas quanto vivo, assim como está na entrada, uma
calcificadas e cobertas com relva. A imagem frase muito dita por Larsen: “Faça-o antes do
do lugar é aterrorizante à luz do luar. Bárbaros último suspiro”.
primitivos, moradores originais de Rastov, ainda
visitam o sítio para cultuar seus antigos deuses. Lago Narash Seria impossível relatar a
O imenso e gélido lago Narash ajuda na so- quantidade de lendas e cantigas
Templo de Skärning Kyla que rondam tal feito. Mas as
brevivência da população de Árborag e durante
Uma das mais antigas formações humanas os meses quentes do ano, que são mais longos mais famosas relatam sobre
de Rastov, a construção mais a noroeste da que nas demais regiões de Rastov, é comum peixes do tamanho de homens
castelania, é o local mais frio de todo o nor- observar embarcações sobre as águas plácidas que arrastam crianças para o
te. Lendas dizem que um inverno aterrorizan- do lago. Acredita-se que uma imensa serpente
te se abateu sobre a região, todos se fecharam esteja adormecida nos confins profundos de seu
mundo das águas, até o cântico
no templo e foram congelados. O templo jaz leito e esta serpente, uma espécie de Matriarca
de mulheres que enlouquecem
sob o gelo cristalino e, em dias claros, é possí- selvagem, de tempos em tempos pare toda sorte mulheres e homens.
vel ver as pessoas congeladas em seu interior. de peixes para usufruto dos povos.
b 195 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

O Meu Espantalho
A traição é uma praga. É como veneno no corpo doente, como ferrugem
no aço velho. A pessoa que trai dificilmente faz uma vez só. Ela experi-
menta. Consegue. Sente o gosto da impunidade e o agridoce de qualquer
vergonha desaparece. Quando ela surge, e ela sempre surge, fere muita
gente. É como quando tivemos nosso primo doente em casa: ninguém
entrava no quarto fedorento, o miasma começou a vazar pelo seu corpo
e o pai o botou pra descansar, como fizemos com o cão daquela outra
vez. Esse miasma da traição envenena outros, faz com que um justo, um
singelo, um simples, sinta como foi usado, como foi enganado e iludido,
gerando nele o mesmo desejo. Quando esse trair se faz por aqueles com
quem você escolheu compartilhar sua vida, isso se torna ainda pior.
Não existe um dia na vida em que o traído não pense no que aconteceu.
Não repita, não reviva cada uma das mentiras que foram contadas, que
se lembre de olhar nos olhos do outro, tentando buscar um sinal pra se
agarrar, de quantas vezes ele mentiu pra si mesmo, incapaz de acreditar.
É como se o véu da vida perfeita começasse a apresentar buracos, descos-
b 196 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
turas rudes, sujeira. Você percebe como foi feito de tolo, como
brincaram com a sua doce ilusão. Ilusão que era algo real, pal-
pável, dentro do teu acreditar, dentro do teu viver.
A esperança é de que você, traído, não se contamine. Quando
se descobre sobre o pecado dos outros, você se culpa. Pensa no
que fez de errado, sabe que o fez, sabe que falhou inúmeras
vezes, mas se lembra que também foi tentado, mas não cedeu.
Sabe que nunca forçou a união, mesmo isso sendo difícil em
nosso mundo de amarras morais, mas mesmo assim foi traído.
É importante segurar na pequena vitória de não ter descido
até o mesmo fosso. É importante manter-se firme na certeza de
que fez sua parte da melhor forma que poderia ter feito e de
que precisarão lavar a boca pra falar do teu nome.
Curioso perceber que não citei o Criador, nem mesmo a Som-
bra. Não culpei o Inimigo, nem odiei o Pai pelo que me aconte-
ceu. O que eu vivi é uma coisa humana e não reservarei a culpa
a ninguém além de quem o fez. Por isso deixo este aviso aos que
vierem depois de mim. Agarrem-se à certeza de que fizeram o
melhor. Eu vivi uma vida privilegiada. Domino as letras e o ara-
do, mas o veneno me tomou. Não siga pelo mesmo caminho.
Eu transformei a ferrugem em ódio, rilhei os dentes e matei.
Eu não sou mais ninguém, sou apenas um homem traído que
cuida do campo.
Pelo menos agora, no meu plantio, balançam os cabelos ver-
melhos de meu doce espantalho.

b 197 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO III b

MYSTERARCANUM MUNDI
Dos mistérios do céu e da terra
PROOEMIUM

Como foi escrito por Abimaleque, que aguarda em seu trono


abençoado pelos céus, senhor de todo Hakam, o que segue é o
colhido do inimigo. Palavras cruéis escorrem destas páginas
e a sedução do Escuro se faz presente em cada linha. É acon-
selhado, mesmo para ti, supremo no saber, que te atente. Que
pare por um momento. É preciso ter cuidado, as artimanhas
são muitas e nosso coração falho, mortal, pode cair nas redes
e só perceber quando é tarde demais. Aquele que vislumbra este
tomo precisa comungar com o Grande Pai. O jejum é esperado
dos que se embrenham no saber dos de fora do vale, mantenha
o corpo livre das impurezas antes de prosseguir. Quanto mais
leve estiver o corpo, melhor a mente estará protegida dos peri-
gos descritos nas próximas páginas. Por isso fecha tuas mãos,
vira a face para o céu, como se encarasse o próprio sol gran-
dioso, pois esta é a força do Altíssimo pra teus olhos falhos.
Suplica pela proteção, ora e louva por sete vezes:

“Baruch ata creaton eloheinu melech haolam.


Asher bachar banu micol haamim.
Venatan lanu et torato.
Baruch ata creaton noten hatorah”

b b

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


b TOMO III b
O que apresento aqui foi coletado por Aima a frente, Aio acima,
Aira atrás, Airão à direita e Aimote à esquerda,
em busca do Ainas final.

Os que vivem fora do vale estão sujos, carregados do pecado que lhes
seguiu. O mundo se contorce em resposta à corrupção dos homens
e Belghor também o sente. Por vontade do Abimeleque estudamos e
entendemos o que organiza e coloca os de fora do vale em seus devidos
lugares. Os Cães de Belghor foram mandados para tirar verdades dos
que as escondem e primeiro apresento aqueles que são os titeriteiros
do grande teatro de Belregard, os que puxam as cordas de cavaleiros e
padres. O Tribunal do Supremo Ofício, vergonhosa torre de
tijolos mentirosos e falhos.

O conhecimento profano da Sombra Viva segue no mundo das men-


tiras, mapeando o saber coletado ao longo dos anos, tanto por nós
quanto por aqueles de fora do vale. Dessa forma, nas duas partes que
seguem, podemos mostrar ao Abimeleque tudo aquilo que se espera
de Belregard, dos que controlam os homens pela fé, pela espada e de
quem os detêm pela vontade e pelo espírito, na corrupção sombria.

O verdadeiro saber chega ao nosso tratado quando tivemos em nos-


sas mãos um forasteiro. O homem, de nome César, disse-se devoto do
Leão, de Leoric, o que tombou tentando livrar-nos da Sombra no vale.
Um pagador de promessas, César alegou ter partido de Rastov para
encontrar o túmulo de Leoric, já que sua família havia sido salva
de uma praga quando ele rogou ao santo. Verdade ou não, um pecador.
Foi tomado pelos Cães, que o fizeram contar sobre o que ele viu em
suas andanças, o que saltou aos olhos mortais nos descaminhos de
Belregard. Dessa forma retiramos de uma vez o véu que cobre o mundo
sujo e vemos a plena escuridão que nos cercam.

b b

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


b TOMO III b

É preciso, ao fim, lembrar das palavras:

“Baruch ata creaton eloheinu melech haolam


Asher natan lanu torat emet
v’chayei olam nata b’tocheinu
Baruch ata creaton noten hatorah”

Por sete vezes é preciso preservar o corpo, mesmo depois da


leitura, de modo que fechem todos os caminhos abertos nas
linhas sagradas e profanas. É assim que deve-se despedir o
desbravador. Novamente com Aima a frente, Aio acima, Aira
atrás, Airão à direita e Aimote à esquerda,
em busca do Ainas final.

Assim é escrito por Baal’Tsar’Kodun, Aquele Nascido Arão


entre os Homens, da Linhagem dos Cinzentos, que teve seu
sangue cativo pelos que retornaram da tumba e
hoje se ajoelha perante Abimaleque.

b b

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
a
O Hakam

Esta ordem secreta de Belghor se dedica a coletar informações do mundo, especialmente do que ocorre
fora das montanhas da castelania. Formada majoritariamente por belghos que se entitulam como verum,
os verdadeiros, formam uma sociedade reclusa de assassinos, infiltradores e espiões. São comandados
pela misteriosa figura que atende pelo título de Abimaleque e seus seguidores adotam novos nomes
quando são iniciados, de modo que não tenham suas vidas anteriores atreladas aos deveres da sociedade.
Numa numa disputa de fidelidades, devem dar mais importância ao Hakam, que repete a sabedoria em
belgho arcaico. Todos atrelam o cilício, uma fita de metal e couro com espinhos, em suas coxas profunda-
mente no momento da aceitação à seita, mortificando a carne por toda sua vida.

De modo que este livro, em sua primeira parte, apresenta a estrutura da igreja com todas as suas hipo-
crisias. No livro dois é apresentado o outro lado: os agentes da Sombra, os Ímpios, os cultos e demais
inimigos da alma do homem, já que os verum não são adoradores da Sombra, mas acusam o Tribunal e
todos fora do vale, de modo geral, como devotos fracos e falhos. Por fim, nessa terceira parte estão os
verdadeiros segredos do mundo, são páginas negras apenas para os olhos do próprio Abimaleque, que
devem ser lidas apenas depois da devida prece e dos ritos de proteção.

Por ser um livro de segredos, este capítulo não contará com legendas e anotações.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b
Prima Pars
Titereiros e Títeres
ora a organização das caste- dos Puros ainda vivo nestes dias era Alec, que
lanias arruinadas, com seus havia perdido seus irmãos de fé em momentos
duques, condes e barões deses- diferentes. Lazlo, com sua busca pelos saberes
perados pela atenção de reis fa- plenos, havia morrido em 945 DA acusado de
lhos, uma verdadeira espinha dorsal se mostra heresia e Leoric, o soldado exemplar, tombou
por trás dessa sociedade, a fé. Todos os homens em 968 DA, acusado de covardia, de ter abando-
devem se curvar perante Deus e por isso o pre- nado seus homens na batalha. Alec viveu muitos
sente tratado fala acerca desta força. O Tribunal anos e em seu isolamento, onde passava a maior
tem, pelo menos, duas faces; aquela que mostra parte do tempo peregrinando, a despeito da ida-
ao povo, sempre isenta e bela, que sorri diante de avançada, percebeu o pecado nas Hekklesias
dos problemas do mundo e finge ser uma mão e decidiu dar um basta. Depois de formar a Tri-
amiga para os desesperados. Ao mesmo tempo, na Hekklesia, fundou o Tribunal, mas não exigiu
existe uma face oculta, uma face que esconde os para si o título de Eleito. Naquele mesmo ano da
verdadeiros ensinamentos deixados pelos Puros, fundação, Alec seria morto por apedrejamento.
que condena os homens mais santos que já ca-
minharam por este mundo escuro. O Tribunal é Dois anos depois da morte de Alec, em 990

um inimigo real, que manipula, que deturpa, um DA, os Puros foram perdoados e reconhecidos

verdadeiro mestre de fantoches puxando suas como patronos do Tribunal. Uma medida con-

cordas ligadas aos humildes e aos poderosos. veniente, já que ia de encontro aos interesses

Este tratado apresenta a verdade encontrada daquela época, onde se procurava uma unidade

pelo Hakam, para a glória de Abimaleque. maior entre os homens, a despeito do período
turbulento pelo qual passavam. Cerca de dez
O Tribunal do Supremo Ofício anos depois, o movimento da conquista seria
O Tribunal do Supremo Ofício nasceu em 988 lançado pelos Vlakir e o império de Virka se
DA, criado por um dos Puros que caminhou ergueria para envergonhar o mundo uma vez
com o Criador, Alec. Até então a religiosidade mais. A Belghor desta época era uma terra to-
de Belregard era praticada pelas Hekklesias, cul- mada pela Sombra. Poucos registros permane-
tos independente que ainda carregavam o ele- ceram desse período, mas é crença geral que a
mento central da religião primitiva, a caça aos dinastia dos Bövrar, grandes desbravadores de
selvagens. Com a vinda do Criador, os Puros segredo antigos, retornou da sepultura para re-
compreenderam que este não era mais o ponto ger, escravizando aqueles que não aceitassem o
central, apesar da vigência ser sempre necessá- abraço sombrio do Inimigo. Como o Tribunal era
ria, assim Ele deixou lições para que todos pu- centrado em Virka, as lições dos Puros demora-
dessem encontrar caminhos para se libertarem ram muito tempo para chegar ao vale e, quando
das amarras do espírito mortal e ascenderem chegaram, já estavam contaminadas, como se-
para o Seu lado no momento da morte. O único guem até os dias de hoje.

b 205 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
O símbolo do Tribunal incorpora a marca
máxima do criadorismo, que é a Coroa, reco-
nhecendo o governo do Criador sobre todos os
homens. O Tribunal incluiu por trás da
Coroa uma cruz. Sua base longa re-
presenta o caminho do fiel na busca
pelo Criador, que é representado
pela coroa no centro da cruz, de
onde partem três caminhos: o de
Lazlo a esquerda, do saber; de
Leoric a direita, do guerreiro e de
Alec acima, numa forma de reco-
nhecer, mesmo que sutilmente, a
superioridade do desprendimento
do Puro, ainda que o próprio Tribu-
nal não a pratique tanto quanto deve-
ria. Ainda veremos, neste tratado, um
estudo sobre as vidas e lições deixadas por
eles, especialmente o que é conveniente-
mente evitado pela Igreja.

A Estrutura
O Tribunal se baseia em um tripé, chamado
de Herança dos Puros, de modo que cada uma
das lições, numa visão superficial, foi incorpora-
da nas práticas da igreja e carrega uma espécie
de vertente dentro do criadorismo. O criado-
São mendicantes e andarilhos, normalmente
rismo básico, puro e simples, prega a união dos
avolumando-se nas áreas mais pobres de cidades,
homens em um bem maior e comum, prega obe-
ou mesmo fora das muralhas, junto aos párias.
diência à ordem natural das coisas, firmando a
O alecistas são grandes pregadores, levando o
pedra fundamental de suseranias e vassalagens.
conhecimento do Criador, Suas palavras e ensi-
Além disso, o criadorismo é vigilante quanto aos
namentos para os quatro cantos do mundo. Um
selvagens e todos aquele que, através de seus
alecista costuma ser humilde e prestativo, dis-
atos, envergonhem o Pai. Os votos fundamen-
posto a curar as feridas da carne e da alma. Uma
tais do criadorismo envolvem celibato, mas não
vertente da ordem são os Angulares, sacerdo-
necessariamente pobreza, salvo os alecistas. Al-
tes dedicados aos julgamentos. Por carregarem
guns locais, devido ao cisma atual, podem apre-
essa aura incorruptível, por serem pessoas sem
sentar nuances maiores em um ou outro.
preço, os alecistas Angulares atuam como juízes
O Criadorismo Alecista, primeira vertente em tribunais da igreja ou da nobreza. Costumam
criada logo depois do reconhecimento dos Pu- ser procurados para aconselhamento. São pedin-
ros, é a alma do Tribunal. Assim como Alec, tes e simplórios, testando sua fé diariamente.
os alecistas fazem voto de pobreza e celibato. Os alecistas creem que os homens estão mais

b 206 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b
próximos do Criador quando sua carne e nem vamente nos campos de batalha, servem como
sua alma são tentadas por desejos simplórios. treinadores para os mais jovens. Os leoristas não
fazem voto de pobreza e nem de celibato, mas
O Criadorismo Lazlita, o caminho esquer- uniões só são permitidas entre membros da pró-
do do Tribunal, é aquele dedicado ao estudo e pria ordem, de modo que não se perca contro-
a reflexão. Num primeiro momento, fora mal in- le de posses. Dentro dos leoristas surgiram os
terpretado devido as palavras de Lazlo sobre a Cavaleiros Sacros, o braço militar do Tribunal,
acumulação de bens. Apesar de não serem adep- são a maior representação do orgulho cavaleiro
tos ao voto da pobreza, os lazlitas não são ricos, de Belregard, verdadeiros paladinos da fé mili-
já que o desejo de acúmulo de saber costuma ser tante. Os cavaleiros não possuem uma sede de
superior ao de riquezas materiais, e o voto do poder, que poderia ser o Brandevir, mas estão
celibato é feito também entre eles. Afirmam que espalhados por todos os cantos de Belregard,
laços matrimoniais e sexo por prazer turvam o defendendo membros importantes do Tribunal.
discernimento. Os lazlitas são grandes copistas
e catalogadores do conhecimento acumulado ao Existem outras ordens internas dentro dos
longo dos anos. Foi graças a eles que pedaços três segmentos principais. Os segmentos em
da Litania foram traduzidos para o parlo, tor- si, os três principais, representam mais a forma
nando as palavras sagradas conhecidas por ou- pela qual os sacerdotes abordam a religiosida-
tros que não os próprios sacerdotes. Ainda que de, como uma escola de pensamento. É muito
o domínio das letras não seja de todos, os lazli- comum que a partir do cargo de bispo o apego
tas fazem o possível para que os registros sejam aos ditames mais arraigados de cada ordem se-
difundidos e sua neutralidade ao observar cos- jam deixados de lado para uma dedicação maior
tumes e mesmo ritos é famosa. Devido a vida ao serviço dentro do Tribunal. Dessa maneira,
dedicada ao trabalho constante e permanente, alecistas e leoristas puros raramente atingem
os lazlitas vivem nos clautros e scriptoriuns em cargos altos, apesar de alguns já terem sido
constante trabalho. Os Ocultos no Claustro Eleitos. Lazlitas comumente assumem car-
representam um grupo influente da fé lazlita, gos de logística e administração, como bispos
dedicados ao estudo do conhecimento proibido, e cardeais. Nada, na escolha da ordem, impe-
são aqueles que copiam e preservam heresias, de a ascenção interna de um sacerdote, mas é
mantendo-o como arma. Seus nomes são ocul- reconhecida a resistência em aceitar-se mulhe-
tos e estão dispostos a dissecar e usar o profano res Eleitas, limitando-as a se ocuparem como
em busca do que é sacro. oradoras; apesar disso, muitos afirmam que já
houve Eleitas no passado de Belregard, sendo
O Criadorismo Leorista representa o braço isto ocultado pelos que guardam a memória do
armado da igreja, é composto por pessoas que mundo.
temperaram suas vidas na forjas que constroem
o caráter inspirado no santo guerreiro. Os leo- Outras ordens religiosas que podem ser cita-
ristas são padres, sacerdotes, como todos os ou- das são os Paecal, um grupo de alecistas de-
tros, mas parte de seus ensinamentos é baseada dicado ao combate espiritual contra os Ímpios
no treinamento com armas. É muito comum que e demais manifestações da Sombra. Além das
velhos soldados, guerreiros e mesmo nobres devoções comuns aos alecistas, os Paecal acre-
busquem a ordem no desejo de apaziguar o es- ditam que é preciso estar no limiar da vida e da
pírito perturbado. Por mais que não lutem no- morte para encontrar o Inimigo frente a frente,

b 207 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
por isso seus cultos são compostos por longas ticular e suas vidas são um testemunho de que
sessões de autoflagelação, algo muito comum não existe história certa ou errada para aqueles
em Latza. Talvez esta seja uma explicação para que acabam sendo convocados para o serviço
a tolerância de todas as profanações ante à igre- maior em nome do Criador.
ja que se perpetuam nesta castelania: os Paecal
lá residem e obtém as forças para o enfrenta- O Desprendimento de Alec
mento definitivo. Muitos vestígios afirmam que o Puro chama-
do de Alec era o filho mais velho de um senhor
Os Haskelitas, um braço da fé lazlita, foram
de muitas posses, porém, em tenra idade, des-
criados em homenagem a Haskel, o homem san-
prendeu-se de tudo e seguiu à risca os ensina-
to que tentou ter um olhar mais brando sobre a
mentos deixados pelo Único. Alec defendia que
história e a cultura dos povos. Assim, o papel
somente com o total desprendimento do mun-
dos Haskelitas é catalogar os acontecimentos e,
do material seria possível alcançar e realizar
principalmente, dar continuidade a obra “Uma
os desejos do seio do Criador. O homem que
Breve História dos Homens”. Por certo os haske-
decidisse peregrinar pelo caminho desbravado
litas não são bem vistos por aqueles que guar-
por Alec estaria entrando no campo das infi-
dam os segredos do mundo.
nitas possibilidades e, consequentemente, na

Já a fé guerreira de Leoric deu inúmeros frutos esfera do espírito criativo universal, ou seja, o
poder de execução de milagres através da graça
pelo mundo ao longo da história e os Tubal são
divina. O Puro escreveu poucos textos direta-
apenas um exemplo. Ordem formada por solda-
dos dedicados ao treinamento e temperança de mente, a maior parte do conhecimento escrito
deixado por ele foi transliterado por seus segui-
corpo e mente, os ditos Forjados são dedicados
dores. Nestes textos é afirmado que o homem
e podem ser considerados contemplativos, frios
está em constante luta entre duas forças: o ape-
e distantes, não se envolvendo emocionalmente
go e o desprendimento. O primeiro é motivado
em questões mundanas.
pelo ego, pela alma, e o segundo é a pura inspi-
Os Puros ração d’O Perfeito, a centelha da criação supe-
Diversos foram os homens santos, mas nenhu- rior onde está guardada toda a potencialidade
ma alma encarnada em Belregard foi como es- existente no mundo. Porém, ele alertava que o
tes. A teologia dos Puros é extremamente par- desprendimento não deveria agir nos campos

a
Verdades Cruéis

Você perceberá que os ensinamentos deixados pelos Puros podem ir contra o que a Igreja faz no pre-
sente. Não há nada de equivocado nisto. Lembre-se que você lê o tratado preparado por um grupo
secreto de uma terra fanática, que condena o Tribunal. Talvez estas linhas também sejam grafadas
com a mais vil mentira. Não é difícil crer que os ensinamentos simples deixados foram distorcidos
até agradar aqueles que comandam. Além disso, muito foi romanceado. Por outro lado, não tenha
tudo por mentira. Muitos foram aqueles que trabalharam com todo fer vor para trazer a verdade à
tona, tentando por fim santificar o legado deixado pelos Puros.

b 208 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b
das grandes obras. O desprendimento deve-
ria ocorrer principalmente no campo material,
a
pois os desejos da carne são o chamado à trilha Os Cinco Puros
dos espinhos. Sua plena convicção no despren-
Alguns registros antigos falam sobre cinco
dimento se baseia em algo essencial existente
homens seguindo os passos do Criador, cinco
somente naqueles possuidores da fé inquestio- Puros que receberam suas lições, mas apenas
nável: a certeza de que o mundo nos trará aquilo três entram na história oficial. É atribuído o
que precisamos e desejamos, pois nossas vonta- nome Helish a um destes Puros excluídos. Sa-
bemos que a história nunca permitiu que mu-
des estão em consonância com as leis divinas.
lheres ocupassem cargos de importância. Nem
dentro ou fora da igreja. Esse preconceito não
Por volta de 930 DA, após muito meditar so-
perdoou nem mesmo os Puros. Muito dizem
bre esses pilares onde ergueria a fé de Belregard, que Alec poderia ter sido mulher. Mas existem
Alec idealizou o que futuramente seria conhe- certezas de que Helish tenha sido. Dedicou sua
cido como o Tribunal do Supremo Ofício, sua vida a mudar a posição da mulher na sociedade
e descobriu em vários textos antigos, selvagens,
Hekklesia Alecista. Escritos relatam que após
sobre a importância da mulher no grande plano
noventa dias de jejum, o Criador repousou sobre celeste. Ignorados até mesmo por Lazlo, estes
o corpo enfraquecido de Alec. O diálogo entre textos colocavam a mulher no centro de todo
os dois foi registrado pelos seguidores. Estes poder vindo dos céus. Esses textos são tidos
como ultrajantes… Existem entusiastas que
textos eram confusos e muitas vezes contraditó-
buscam os textos de Helish, mesmo sendo acu-
rios, porém, em quase todos existia a afirmação sados de apócrifos e hereges. Talvez um dia o
da máxima: “O novo e estranho ensino que fora Tribunal beatifique Helish assim como fez com
dado por Mim, Teu Pai, Criador e Rei, será cau- os outros. Fato é que Helish morreu em deses-
sador de confusão entre os homens escravos do pero, tendo carne, ossos, tudo desmanchado
diante de uma multidão horrorizada no exato
ouro, pois em verdade declaro, todos vocês são
momento em que o Criador tombou diante
filhos de um só Pai, e eu tenho todos vocês como de Belghor. O quinto Puro não teve seu nome
meus filhos”. Este trecho nunca foi aceito como registrado, mas os textos apócrifos falam que
parte interina da Litania do Único, pois choca- seguiu com o Criador até Belghor e que pas-
sou pelas muralhas. Este Puro teria se tornado
va-se com o principal texto d’A Litania, utili-
o Eleito Negro, uma figura sinistra, sombria e
zado em coroações reais: “A vós lhe prometo, misteriosa, detentora de saberes inimagináveis,
serão feitos Reis e Rainhas, e governarão minhas que guiou o povo de Belghor durante o período
terras até o dia do fim, porque assim escolhi para sob o controle da Sombra.

que reinem acima de todos [os povos] da terra”,


Puro, para quem?
e o clero não sentia-se confortável em dividir os
direitos e amor divino com o campesinato. Os Puros foram separados, verdadeiros santos
andando na terra. Erraram, aprenderam, se
Após derramar pura sabedoria sobre seus dis- arrependeram e mudaram seus rumos. Foram
mártires ímpares. Mas todos, sem exceção,
cípulos, Alec vagou erroneamente por todas as
sofreram como ninguém, morrendo desacredi-
terras de Belregard pregando o que o Criador tados. O mundo os queria mortos. E mais do
havia-lhe revelado em segredo. Enquanto isso, que o mundo, a Sombra que abraçou o cora-
seus discípulos interpretavam e moldavam a ção dos algozes dos Puros. Tudo ficará mais
claro após a leitura do capítulo 3, que trata os
Hekklesia ao seu bel entendimento, modifican-
Arautos e a Bravura.
do - e porque não, deturpando - muitos dos en-

b 209 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
sinamentos originais deixados pelo Puro. Como A difamação tomou conta das ruas noturnas
um pai que observa a ignorância de seus filhos, de Virka e rapidamente uma torrente de segui-
Alec deixou que a Hekklesia tomasse rumos dores revoltados atentou contra a vida do Puro.
estranhos, fragmentando-se em diversas filoso-
fias, que em suma, eram adequadas para aten- De maneira vã, Alec tentou fugir para as flo-

der as necessidades dos governantes locais. restas regionais e em clamor implorou ao Cria-
dor, “tende piedade de mim”, e assim, o senhor
Três décadas após a formação de sua própria lhe foi companheiro naquele momento e em se-
Hekklesia Alecista (ainda não Tribunal), por gredo lhe revelou, “Assim como eu morri por
volta de 960 DA, apenas meia dúzia de verda- amor, você, meu filho, morrerá pelo o amor e
deiras organizações haviam sobrevivido como temor ao que lhe ensinei”. Ouvindo isso direta-
uma ordem puramente eclesiástica. Assim mente do seu criador, Alec permaneceu imóvel,
como aprendera com Leoric, o puro Alec sabia aguardando seus captores. O dia amanheceu
que era o momento de guerrear e declarou aos nebuloso e turvo nos céus de Virka, e o que era
quatro ventos que não existia nenhuma fagulha festa tornou-se luto de pranto, dor e vergonha.
de entendimento divino nas organizações ainda Seus mais fiéis seguidores pranteavam e tenta-
existentes. Em consequência, os devotos torna- vam lutar ferozmente pela liberdade de seu guia
ram-se arredios e a manipulação tornou-se qua- espiritual. Porém, o Puro lhes advertiu... “Está
se impossível. Como medida de sobrevivência, Feito”.
as Hekklesias resolveram se unir declararando
que estariam submissas aos seus planos e co- Mais rápido que o julgamento de um bandido
mando divino. Como um grande evento, a Trina ou estuprador, Alec foi condenado à morte por
Hekklesia, como ficou conhecida, mudou defini- injúria e distorção das palavras do Divino. Sua
tivamente seu nome para Tribunal do Supremo punição seria o apedrejamento. Cada revoltoso
Ofício em 988 DA. Os membros desta criaram lançou uma pedra na frágil carne do homem
degraus e hierarquias, dividindo-se em vários tí- causando-lhe grande dor. Contudo, em nenhum
tulos, porém deixaram a poltrona mor para Alec, momento Alec relutou em resistir a sua punição,
que receberia o título de Supremo Guia dos Gen- recusando-se a ser amarrado ao tronco. Algo
tis. Sua chegada à Virka, antiga sede religiosa, nunca visto em toda a história. Quando o cre-
era aguardada com grande expectativa e louvor. púsculo se aproximou, Alec, O Puro, deixou o
mundo dos homens para ser levado aos reinos
Como prova de devoção ao Puro, Giocomo, superiores. Após sua morte constatada, o Tribu-
o governante de Virka, cedeu seu castelo e ser- nal do Supremo Ofício não se declarou. Apesar
vos para cuidar tanto de Alec como de seus se- de ter sido criado com base nos preceitos do
guidores. Entretanto, na noite que antecedia as homem que acabara de ser apedrejado, concor-
festividades, a mulher de Giocomo procurou os dou com o clamor social e político do momento:
aposentos do Puro no intuito de lhe manchar a Alec deveria morrer.
santidade conquistada. O caráter irrepreensível
forjado há anos permitiu que o Puro permane- Este foi o legado do homem que aprendeu a
cesse inocente e recusou a mulher. Como o de- amar O Único acima de todas as coisas e morreu
sencadear de uma cachoeira, a mulher luxuriosa na vã esperança de dar ao mortal o dom de ser
difamou a imagem do homem, acusando-lhe de amigo do Criador.
tentar tomar-lhe à força.

b 210 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b
As Vocações de Alec
a
Um homem sonhou com homens e mulheres
Arrebatamento de Alec
de muita fé, inspirados no ideal divino de que,
ao se desprenderem dos bens deste mundo, se-
Na época do acontecido não se falava sobre o
riam capazes de dirigir-se aos humildes com as
arrebatamento de Alec aos céus, depois que
mãos abertas, para lhes dizer outra vez palavras seu corpo foi recolhido da praça da cidade e
de amor e verdade. E a Santa Providência iria levado para ser queimado. Atualmente, depois
lhes suprir todas suas necessidades e anseios. do perdão, é aceita a ideia de que o espírito do
Este homem foi Alec, e após a sua morte, de- Puro partiu para a Abóbada Celeste e que seu
zenas de Vocações, ordens mendicantes, surgi- corpo queimou sozinho, chocando os soldados
ram. O ensinamento do Puro formou vertentes responsáveis. Estes, tocados pela verdade ele-
diferentes e obrigou o clero secular a tornar-se mentar da pureza daquele homem, abandona-
mais fiel às suas obrigações sacerdotais. Devido ram suas armas para peregrinar, tornando-se
ao conhecimento levado aos incultos (graças aos grandes mendicantes, formando a Ordem das
esforços de Lazlo), os Mendicantes estimularam Cinzas, carregando o pó de Alec para abençoar
o desenvolvimento e florecimento de novas con- os desvalidos. Tal ordem não existe nos tempos
gregações e enriquecimento humano. atuais. Até onde se sabe.

Ao longo dos anos, muitas outras expressões


de vida religiosa surgiram na Grande Obra, “A entrada para os Reinos é como um grande
nome dado por Alec para descrever seu traba- portal de pedra. A Hekklesia é o que sustenta a
lho. Obviamente, estas ordens não concordam guerra entre o mundo material e o mundo espiri-
em tudo, tendo algumas que se baseiam em tual, a direita e a esquerda do portal. Sem o mais
conceitos não ortodoxos, como Abolição do puro culto ao Criador, tudo ruirá, desmoronará e
Governo Humano, Livre Arbítrio Controlado, o portal se fechará.”
Poder Pluriforme ao Povo de Deus, e outros. Por
esse motivo, muitas dessas ordens preferem se A Lógica de Lazlo
manter isoladas pelo seu comportamento radial, “É como ordem que O Único fala através
sendo ainda proibidas em muitas cidades. de mim, Ele tornou-se sacrifício vivo, para
que você O louve com vosso culto racional.”
O símbolo universal dos mendicantes, a Pedra
- A Verdade sobre a Mentira, de Lazlo
Angular, nada mais é que um triângulo inverti-
do. A Pedra angular é a uma pequena peça de Lazlo foi o mais lógico dentre todos os Puros.
material rochoso cortada em triângulo, sendo Para muitos, podendo ser mais sábio que Mo-
utilizada no ponto mais alto de um arco para rovan; para outros, um antro de prepotência e
sustentá-lo. Esta pedra não faz a mínima força, arrogância, capaz de questionar até o próprio
porém se for retirada, a estrutura virá ao solo. Criador. Antes de se converter aos caminhos do
Trata-se da primeira peça a ser idealizada e pre- Único, conta-se que era um comerciante aman-
parada na construção de um arco. Alec foi a pe- te do dinheiro e dos prazeres. A história relata
dra angular sob a qual a Igreja foi firmada. Em que ele gastou tudo que tinha para pesquisar e
seus ensinamentos, a Pedra Angular e portais desvendar os mistérios do Senhor, mistérios que
eram usadas constantemente: permaneciam escondidos por toda Belregard.

b 211 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Fazia isso não por fé, mas por descrença, ten-
tando provar que tudo aquilo era mentira e ma-
a
nipulação dos indefesos. A Caverna do Sangue Vertido

Este Puro foi responsável por entender e des- Conta-se que muitos anos após a morte de
mascarar vários dos ritos sincréticos da igreja do Alec, uma mulher infértil estava condenada a
Único, assim como por lutar para a translitera- morte por ser culpada pelo fim de uma impo-
ção da Litania do Único para o jargão popular. nente linhagem de governantes. Na esperança
Foi também responsável por mudar vários dos
de esconder-se de seus captores, ela refugiou-se
procedimentos habituais dos cultos e obriga-
nas cavernas fluviais na costa norte de Virka.
ções do clero, sendo até mesmo responsável
Lá, clamou de maneira desesperada por um
por demolir e alterar construções eclesiástias,
milagre e este se fez. Os relatos afirmam que
ao perceber o envolvimento com magia geo-
a mulher viu a imagem de Alec formada na ro-
mânticas em seu projeto. Com o objetivo de
cha da caverna e jurou que a água que vertia
realizar uma tradução de qualidade e fiel aos
originais, Lazlo foi à Virka, onde viveu durante das paredes estavam cheia do sangue que fora

20 anos. Estudou belgho primitivo com os es- derramado do Puro. Ela fartou-se desta água

cribas locais famosos e examinou todos os ma- e secretamente vagou pela noite sombria de

nuscritos que conseguiu localizar. Sua tradução Virka rumando para o quarto de seu marido.
da Litania do Único tornou-se conhecida como Como se os véus de mistérios do Criador tiras-
“Vulgata”, ou seja, escrita na língua de pes- sem a lucidez do homem, sem maiores come-
soas comuns, o parlo. Dizem que no processo dimentos, o homem tomou-a intensamente por
aprendeu a Fala Negra de Belghor, junto de seus quinze dias. Após ser dada como desapareci-
segredos e poderes. da, ela saiu do quarto nupcial e decretou que
estava cheia do amor de seu marido: a mulher
Lazlo foi perseguido por vários puristas do
estava esperando uma criança. Até a presen-
clero que acreditaram que a massa não deveria
ter acesso à estes documentos. Foi ameaçado te data, mulheres de toda Belregard enviam

e caçado, e seu sangue foi clamado inúmeras bravos homens para recolher água desta fonte

vezes nesse processo. Vários documentos se para lhes dar a esperança de profunda fertili-

perderam, porém a providência do Único agiu dade. O Tribunal do Supremo Ofício tentou por
discretamente para que sua obra fosse conhe- muito tempo desincentivar tal prática, porém
cida. Lazlo era um homem de fé, era inegável, percebeu que as ofertas de júbilo enviadas pe-
mesmo não sendo compreendido por nenhum los felizardos futuros pais era deveras gorda
dos homens santos. É atribuido a ele o feito para ser ignorada. Além disso, muitos afirmam
que fora mais tarde chamado de Culto Racio- que a água límpida do lugar possui capacidades
nal, onde o homem devia desligar-se das cas- de cura. Contudo, nenhum fato fora confirma-
tas, materialismo, sentimentalismo e adorar o do pelo Tribunal. Ainda é possível ver o rosto
Único de todo seu coração, de maneira lógica,
de Alec formado na parede rochosa do local,
assim como o aprendizado de qualquer outra
como uma marca eterna da sua passagem pela
coisa. Ele afirmava que um guerreiro santifi-
terra dos homens.
cado deveria viver com os olhos no mundo e o
coração nas Escrituras.

b 212 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b

Diferente do que muitos afirmavam, ele não É verdade que ele descobriu muito segredos
acreditava que a pobreza seria o caminho para sobre Bövrar II, principalmente sobre a infusão
alcançar os céus e por isso continuou com seus maligna que este fez ao Culto d’O Único. Mas
negócios por muitos e muito anos, utilizando- Lazlo estava ciente que muita coisa fora deixada
-se disso como financiador da sua grande obra. a ser interpretada, e através destes fragmentos
Muitos usaram seus argumentos para desme- conseguiu definir conceitos únicos para os ho-
recer a pobreza pregada por Alec, mas logo mens de seu tempo. Para ele, existia mais ver-
tais argumentos eram destruídos. A riqueza de dade escondida entre a bruxaria e feitiçaria do
Lazlo era um caminho para seu método, não o que em muitos textos tidos como sacros, e isso
cerne da realização. Aqueles que usaram suas causou guerras sociais por onde passava. Ele
palavras para justificar o enriquecimento puro descobriu que A Verdade é cristalina, criando

e simples, são manipuladores. Definitivamente, idealismos formosos e panoramas únicos que

Lazlo estava à frente do seu tempo, e talvez es- oferecem alimento espiritual e instrução prática
para toda classe de pessoas, do rude ao educa-
tará por muitos e muitos anos, pois sua Doutri-
do, do cientista ao devoto. Ele criou o conceito
na da Deum Sapientia não foi compreendida
de Anéis do Aprimoramento, onde descreve
nem mesmo pelos maiores sábios de Virka. Ele
que um servo devoto deve aprimorar técnicas
criou termos como Seta da Existência, onde
de refinamento físico, moral e espiritual, des-
disserta sobre as consequências futuras dos
vendando assim novos horizontes e novas pos-
atos presentes, sendo seguido pela Roda da
sibilidades para a humanidade a cada novo con-
Existência, um caminho onde tudo que existe
ceito apreendido e posto em prática, em direção
irá seguir um fluxo e Vórtice Atemporal, esta-
à materialização do poder Único na terra.
do onde o ser encontra-se fora da Roda e ruma
por um “atalho” até o Único. Termos compreen- Através desse aprimoramento o homem
didos apenas pelos seus firmes seguidores. irá dominar: O Homem Físico, a carne; O Ho-

b 213 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
mem Superior, seu reflexo nos planos divinos;
O Homem Interior, sua mente; A Centelha Es-
a
piritual, parte perfeita existente em cada um; Arrebatamento de Alec
e o Controle Divino, o poder de deixar o livre
arbítrio por puro consentimento e colocar sua Existe uma crença popular não muito antiga, na

vida nas mãos das Provisões Divinas. São con- qual dizem que a cada sorriso de uma criança,

ceitos abstratos e práticos ao mesmo tempo. Sua o Pai está ali. Em vários outros momentos tidos

sabedoria e conhecimento era tão surpreenden- como bons, ali estaria o Criador. Mas seria essa

te que alguns brincam com a possibilidade de presença apenas algo metafórico? De acordo

um debate entre Bövrar II e Lazlo… Seria algo com estudo lazlitas pouco difundidos, o Úni-

magnânimo e desesperador. Seus textos são dá- co esteve na terra mais de uma vez. Às vezes

divas pungentes e exaltadas do íngreme, o mais como andarilho, outra como nobre. Cada um

glorioso Caminho que leva à santidade. daqueles que fizeram grandes obras enquan-
to vivos, possuiram de algum modo a chama
O próprio Puro dizia que sua maior descoberta divina. Mas algo além da pura centelha estava
foi a Teoria Divino-Numérica. Entretanto, lá, um toque verdadeiro do divino, a presença
pouco se conseguiu decifrar desses escritos, do Pai. Se há verdade nisso, não se é capaz de
pois além de serem muito antigos, eles foram afirmar, entretanto, o Tribunal tem profundo
inspirados pelo Único diretamente, e aparen- interesse naqueles que se dizem santos ou mes-
temente não está escrito em nenhuma língua mo nobres de boa índole. Talvez apenas para
humana. A teoria explana sobre camadas dos evitar tumultos ou para conseguir colocar as
planos divinos, e informa que o homem alcança mão numa verdadeira encarnação do Criador.
essas camadas durante sua jornada, podendo
assim fazer contato com personificações evoluí-
das d’O Único. Dentro destes estudos, ele apa-
renta demonstrar que dentro de um ciclo pura- É fatídico na melhor das hipóteses pensar
mente lógico e numérico, essas personificações que o conhecimento seria o motivo da loucura
evoluídas descem ao plano terrestre para trazer de Lazlo. Como já ensinara Alec, O Puro: “O
ensinamentos de paz e altruísmo, sendo chama- comedimento é o caminho para todas as coi-
dos de Grandes Arautos. sas”; entretanto, foi na sua busca de encontrar
O Caminho que Lazlo se perdeu. Os últimos
Seus discípulos acreditam que O Único veio à vestígios de sua vida relatam que ele foi visitado
terra inúmeras vezes, sempre deixando grandes pelo Único em sigilo. O trecho é parte da sua
ensinamentos e diretrizes aos homens, estan- carta de óbito:
do presente nas inúmeras passagens das eras.
Essa filosofia não é tida como uma religião, “Apenas um único puro de coração é o que lhe
sendo que a doutrina não possui igreja especí- pedi, Ó Senhor, e mesmo assim, não foi encon-
fica, sendo objeto de ensino oral. Normalmente trado. Um único puro é o que preciso para que
este assunto é tido como sigiloso e envolto em este herde e dê continuidade ao que brevemente
mistérios. Afinal, muitos acreditam que estas iniciei, e mesmo assim, não foi encontrado. Ar-
encarnações d’O Único devem ser mantidas e remessarei tudo isso ao vento das Eras, para que
seu conhecimento propagado, pois sem elas, os somente os teus filhos tenham acesso aos teus co-
homens estariam fadados ao sofrimento. nhecimentos sigilosos”.

b 214 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b
O escriba de Lazlo, que lhe ajudara devido sua
a visão enfraquecida, relata... “Meu senhor anda en-
Em Cada Esquina, uma Verdade sandecido, agarrou em seus fracos braços tomos e
mais tomos de papel e os arremessou em caixotes de
Seria impossível dizer para onde foram e qual diversos tamanhos. Sem preocupar-se com o quão
a importância dos textos enviados por Lazlo havia sido difícil conquistá-los e como se alguém es-
para os inúmeros e diferentes lugares. O que tive para tomar-nos de assalto, ele ordenou-me que
de tão importante estava sendo pesquisado enviasse as caixas para o porto, onde seriam despa-
que o levou à “loucura”? O que fora perdido chadas para lugares sem destino. Assim o fiz e quan-
para sempre? Muitos já tentaram recuperar to retornei, meu senhor não estava mais em sua torre
o que Lazlo lançou aos quatro cantos, mas é de meditação”.
impossível. Entretanto, é bem capaz de um ca- Pouco sabem que dias antes do desaparecimento
valeiro encontre um pedaço dos seus escritos de Lazlo, uma caçada iniciava-se. Após meses de
num poema em Rastov, ou nos pergaminhos estudo, a Hekklesia de Virka declarou que os es-
de um andarilho em Viha, quem sabe, até critos do Puro eram pura obra de magia e heresia.
mesmo sendo usado como base para um culto Alegaram que ele mantinha contato com espíritos
mortuário em Latza. Estes textos estão por aí, profanos, demônios ardilosos e seres da Horda.
contendo muitas verdades e ainda mais, ques- Deste modo, cavaleiros executores estavam à beira
tionamentos. O que farão os cavaleiros mercan- de sua morada, pouco antes de sua ascensão aos
tes ao colocar as mãos e saber da importância céus, comprovando a santificação de seu corpo.
da sua nova posse? Ainda assim a igreja não aceitou Lazlo como um
Puro de imediato, mesmo com testemunhas ten-
Culto a Lazlo do visto o corpo do homem ascender aos céus.
Seu reconhecimento veio somente quando os três
Lazlo morreu em 945 DA e só seria perdoado
Puros foram perdoados.
em 990 DA. Até o dia da aceitação dos Puros no
Assim como o Único é capaz de expressar sua
Tribunal, como um dos pilares que sustentam a
vontade através dos sons dos mares, foi através
igreja, os estudiosos de Lazlo foram caçados e
de um menestrel cego de Belghor que o Cria-
formaram inúmeras sociedades secretas. Mes-
dor inspirou o bardo a cantar sobre os últimos
mo sem ter posse os documentos mais impor- momentos da vida de Lazlo na terra. A música
tantes do Puro, esses homens e mulheres fize- é conhecida como “L’ombra in Me”, e até hoje
ram o possível para preservar seus santuários esta canção é reproduzida na maioria dos rituais
e bibliotecas sobre os mais variados assuntos. fúnebres de Belregard.
Quando veio o perdão, o Tribunal convidou es-
ses antigos devotos a entregar estas coleções
“Por que fugirei se sei que ele me quer?
Por que fugir se ouço Tua voz através do vento?
para que fossem preservadas. Algumas foram
As âncoras da minha vida estão a se despedaçar,
entregues, quando não confiscadas, roubadas,
E o que sobrará é o frio do relento.
mas é certo que um sem número de outras ain-
No silêncio da noite, é Contigo que minha alma sonha
da aguardam ocultas. Muitas até prometerem
Revelando Teus profundos segredos e esmeros
retribuição e vingança contra o Tribunal.
Vejo a maldita face sombria e medonha
E entendo o quão Teu caminho é severo”.

b 215 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Círculo Secreto de Lazlo
Poucos dentre os discípulos de Lazlo segui-
ram seus ensinamentos à risca. Aqueles que o
fizeram, são normalmente homens e mulhe-
res da mais profunda cultura e conhecimento,
acreditando estarem perdidos em meio à ig-
norância humana. Eles são ativos na política
e comércio local, apesar de manterem poucas
relações pessoais, talvez um estigma anti-social
deixado pelo seu mestre. Eles normalmente for-
mam grandes fundos financeiros para auxiliá-
-los na fuga de captores ou compra de grandes
escritos históricos.

O símbolo do círculo é uma estrela de cinco


pontas (ou vértices) dentro de um pentágono.
A divisão exata formando triângulos mostra a
perfeição da criação, e as cinco pontas demons-
tram os elementos e o divino.

A maioria dos ensinamentos deve ser manti-


do em segredo total, caso contrário, o “traidor”
será expulso da seita. Afinal, muitas das coisas
ensinadas pelo círculo poderiam enlouquecer
os homens ignorantes de Belregard. O círcu-
lo tem crescido rapidamente, pelo menos sua
ideologia, e com isso, tem causado problemas
ao Tribunal do Supremo Oficio. Os membros do
círculo costumam ser caprichosos, mantendo re-
lações pessoais frias e puramente lógicas.

A Intrepidez de Leoric
Os meandres da história afirmam que Leo-
ric nasceu tão fraco e pequeno, que seus pais
foram aconselhados a sacrificar a criança para
não manchar a linhagem de bravos homens a
quem pertencia. Foi com medo de dar início a
uma linhagem fraca a partir da criança que o su-
serano Bartolomeu Brostovich, senhor dos seus
pais, resolveu ordenar que seus homens obri-
gassem o pai de Leoric a sacrificar o neófito.
Incapacitado de tomar esta atitude, Leoric fora
abandonado em meio à floresta da Taiga Branca,

b 216 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b
então encontrado por camponeses locais momen- o seio e a dor do arrependimento foi sua com-
tos antes de seu pai ser assassinado por seu patrono. panheira até que seus captores o levassem para
De acordo com relatos que vieram da boca do pró- a prisão, local onde permaneceu até a vinda do
prio Puro para seus seguidores, em sua infância Único à terra. Não se sabe exatamente a locali-
acompanhou seu pai adotivo, sentado em sua cela, zação do Monte da Aliança, ou mesmo Zidorah;
em todas as suas atividades campestres e diaria- seus nomes até são clamados por alguns lordes,
mente era alimentado de leite de cabras. Meses desejosos de motivar peregrinações até estes
depois, Leoric era um garoto sadio e forte como campos santos. Talvez sejam montanhas ao nor-
um filhote de touro. Durante o início de sua maturi- te de Belghor, ou mesmo em Birman e Latza.
dade, desenvolveu-se com um homem forte e irre-
soluto de músculos firmes como rochas. Sua força Durante sua reclusão, Leoric forjou seu cor-
era capaz de tombar bestas e seus cabelos eram po para aquilo que seria mais tarde conhecido
cheios como a juba de um leão. como O Caminho Irrepreensível. Inspirando-se
nas palavras que o Senhor sussurrava em seus
A dura vida de camponês e as capacidades hu- ouvidos - afinal ele era de pouca cultura e as
manas surpreendentes fizeram com que Leoric se letras não lhe eram familiares - Leoric tempe-
tornasse um homem de caráter deformado, usan- rou força e vontade. Seu Caminho iniciava-se na
do seus dons para apoderar-se daquilo que não lhe forja do corpo sadio e livre das impurezas da
pertencia. Caçado por muitos, sua fama malévola terra, passando pelo campo da pureza mental e
amedrontou muitos homens em toda Belregard.
finalizando com retidão do caráter. Leoric aca-
O ápice de sua impureza aos olhos do divino se
bou liberto no período em que o Criador cami-
deu quando utilizou de toda sua força para abrir
nhou entre os homens e assim deparou-se com
caminho até o trono de Bartolomeu Brostovich, o
a multidão que circundava o Pai. O Criador fala
já velho assassino de seu pai, para lhe tirar a vida
para todos, mas assim que os olhos se cruza-
com as próprias mãos ao empurrar seus dedos rijos
ram, o Pai sorriu e recebeu-o com um abraço,
sobre os olhos do velho homem. Foi neste momen-
“Como é bom revê-lo, meu Filho”.
to que Leoric viu o crepúsculo de mais um dia e o
Único falou ao seu ouvido: Quando o Senhor sacrificou-se para salvar
os homens, Leoric tornou-se arredio e a ira de
“Suba até as Montanhas da Aliança, até o mon-
outrora lhe aflorava a pele. Porém, os ensina-
te de Zidorah e contemple as terras de Belregard,
mentos do Único lhe mantiveram em retidão.
terras dos meus filhos, também sua propriedade.
Em vários textos, Lazlo e Alec parecem sentir
Observe ao sul, as terras de Belghor. Seus residen-
algum tipo de inveja da amizade de Leoric com
tes não ouviram minhas palavras e por isso meu
O Único, e definitivamente, nenhum dos Puros
coração sofre silenciosamente. Lá, neste mesmo
sofreu tanto quanto ele quando o Pai morreu.
monte, formaremos uma aliança em breve, e tu
Anos depois, Leoric era o bravo que criou o con-
serás o responsável de ensinar a estes filhos do
ceito de Cavaleiro Errante do Criador, sendo um
rebento aquilo que é correto aos meus olhos. Lá
herói honrado, lutador exímio e guerreiro intré-
será o lugar onde você nascerá novamente para a
pido, além de possuir o caráter inquestionável,
minha grande obra, e lá será o leito de sua morte”.
seguindo sempre o caminho da verdade, bonda-
Ouvindo essas palavras Leoric caiu de joelhos, de, lei e ordem, sempre disposto a proteger as
enojado daquilo que fizera. O pranto tomou-lhe palavras d’O Único.

b 217 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Inúmeras lendas o relatam como um gigante
capaz de lançar grandes pedras, possuir cabe-
a
los de fogo e músculos de pedra. Seu legado es- A Crueldade de Leoric
tendeu-se por toda Belregard e seus atos foram
responsáveis por auxiliar a Igreja a manter-se Como parte da propaganda do Tribunal que

firme ao ser afrontada pelos servos da Sombra. negou a santidade dos Puros por muitos anos,

Seus milagres foram tantos e tão poderosos que algumas histórias brutais são atribuídas a Leo-

sua veracidade era questionada até pelos mais ric nos seus anos de andanças pro Belregard,

altos sacerdotes da terra. Histórias relatam que purificando e caçando o pecado. Contam que

ele foi capaz de destruir templos com seus pró- o Puro não poupava nem mesmo crianças, se

prios punhos, matar feras famintas com mãos percebesse nelas alguma semente da Sombra,

nuas e desafiar tantos homens quanto fossem cortando o mal pela raiz. Em algumas castela-

colocados como oponentes. Sua justiça era tão nias talvez seja possível acompanhar relatos an-

firme que muitas vezes excedia o entendimento tigos de puro horror, quando Leoric e seus ho-

dos pobres de espírito e por isso, sua rigidez era mens entravam em conventos, mosteiros, para

confundida com tirania sacerdotal. Entretanto, enforcar os religiosos sob o pretexto da corrup-

mesmo assim, ele possuiu grandes companhei- ção. Seus métodos eram brutais e rápidos, o

ros, formando a primeira grande Ordem dos que ajudou a igreja no fim, com a propaganda
de covardia que fora feita para contra o Puro.
Cavaleiros Errantes, homens e mulheres dis-
postos a livrar o mundo da influência do profa-
no com as próprias mãos.
A primeira visão fora cumprida durante a
Nos seus últimos dias como rei de Braden,
Batalha do Passo em 968 e seus eventos foram
Leoric murmurava sobre visitas do Criador,
transliterados pela famosa Balada do Leão. A
sobre visões confusas que precisavam ser dei-
morte de Leoric foi por muito tempo mentirosa,
xadas aos seus seguidores e algumas destas
já que o Tribunal acusou o Puro de levar seus
foram preservadas:
soldados para a Belghor corrompida e abando-
ná-los no meio da batalha, mas é sabido que é
“A mim o Senhor revelou visões perturbadoras.
mentira: o Puro foi separado dos seus e confron-
Pedi a verdade e essa me foi dada, permitindo ver certas coisas:
tado pelos homens de coração negro, tombando
Três serão as grandes missões do meu povo, porém Tu será mais sozinho contra milhares. Acredita-se que sua
forte e permitirá que Meus filhos reinem por todo o sempre. pureza era tamanha, que os homens ainda sãos
Eis que a Primeira fera era a Serpente, asquerosa e peçonhenta, daquela Belghos o enterraram em um santuário
suas presas de aço e veneno, amaldiçoará secreto, procurado até hoje.
a carne do Meu povo e seu escudo lhes protegerá.
Muito da história permanece em mistério,
Por sua vez, a Segunda fera era como um Urso, cujas unhas eram
pois de acordo com os versos acima, que fazem
de bronze, e sua bocarra devorava os pequenos, parte da Litania, Leoric estaria presente no
Tu retornará e seu escudo protegerá Meu povo. Segundo Confronto da Fera. Muitos acreditam
E assim a Terceira fera sairá dos mares como um Lagarto, sua que O Puro retornará a terra dos homens assim
língua de fogo queimará meus filhos, e neste momento filho meu, como O Único o fez. Sobre o Terceiro Confronto
Tu não os protegerá, pois estará comigo em espírito”. da Fera, os Oradores acreditam que será o mo-

b 218 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b
mento da destruição terrestre, onde as ondas Somente após dominar todos estes campos, o
engolirão os mais altos montes assim como des- Guerreiro estaria pronto para entender a verda-
crito na parte final da Litania. deira fé prometida aos filhos d’O Único, e essa
fé seria representada através da Bravura para
Definitivamente, Leoric é o maior símbolo da enfrentar o imundo, injusto e profano, o mais
fé guerreira do Único e sua imagem para sempre importante sentimento na concepção de Leoric,
será lembrada pelos homens de Belregard. o Leão de Braden.

O Caminho Irrepreensível Somente após sua morte, discípulos de


Diferente dos seus irmãos Lazlo e Alec, Leoric Lazlo fomentaram o que seria conhecido
não criou ordens propriamente ditas. Ao contrá- como Anel da Tríplice Aliança, um anagra-
rio disso, ele fomentou através do exemplo vivo ma que representaria o conceito de caráter
a personificação do Caráter Irrepreensível, idealizado pelo Puro.
O Caminho do Guerreiro.

Esta filosofia é estudada pelo Círculo Secreto


de Lazlo, até a presente data e essa doutrina, a
tão simples em teoria, fomenta tudo aquilo que
A Peregrinação do Leão
Lazlo decifrou no campo da lógica e da razão.
O modo de vida criado por Leoric seria respon- O corpo de Leoric nunca foi encontrado, após
sável por criar guerreiros sacerdotais, peregri- os eventos da Batalha do Passo; a única coisa
nos errantes e grandes líderes por toda terra. que restou fora a espada do Puro cravada no
Até hoje o ditado permanece na boca do povo
chão, afirmando ainda mais seu possível retor-
“Assim como O Leão Faria” para expressar uma
no dos céus neste mesmo local, onde retiraria
obra executada com retidão.
sua espada para lutar contra novos inimigos.

Sua filosofia pregava que o homem é reflexo Como homenagem, todos os soldados que lhe

d’O Divino e deve primeiramente manter seu acompanhavam doaram seus escudos para for-
corpo livre de impurezas, mantendo-o sadio. mar uma espécie de mausoléu para o Leão de
Após este processo, ele deve ter a manutenção Braden. Com o passar dos anos, vários guer-
da serenidade, mantendo-se calmo em qualquer reiros rumaram para o lugar na esperança de
situação. Tudo isso será em vão se sua imagem conectar-se mais intimamente com o Criador,
pública for repleta de manchas, por isso, o ter- inspirando-se com os grandes feitos do Puro.
ceiro e não menos importante campo é a repre- Ano após ano, mais e mais peregrinos ruma-
sentação social sem máculas. Todos estes con-
ram de todos os lugares de Belregard até o
ceitos eram chamados de Retidão Terrestre
nada amistoso local na esperança de prestar
pelo Puro. Em consequência disso, o Guerreiro
homenagens ao maior guerreiro santo que
deverá se aprofundar nos dois conceitos que da-
a história já relatou.
riam forma ao Enobrecimento Divino, onde
o homem conquistaria a vitória da mente sobre
o corpo, dando consequência ao domínio dos
pensamentos pelo espírito.

b 219 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
A Litania do Único Cópias de certas passagens, páginas, capítu-
A base de todo saber religioso de Belregard, o los e versos eram feitas para que sacerdotes em
livro que encerra os primeiros ensinamentos de comunidades afastadas pudessem ter acesso a
Deus. O tomo é dividido em 7 livros: A Fagulha, palavra do Criador.
contanto o início das eras e o chamado de Mo-
O cerne da Litania só foi escrito durante a
rovan. A Chama, contando sobre os primeiros
Era do Sangue, depois da partida do Único, que
donos da terra e a luta. A Fumaça, sobre os pri-
desceu ao mundo dos homens para que eles
meiros atos selvagens. A Cinza, sobre os relatos
compreendessem o verdadeiro objetivo de suas
dos tempos futuros. A Palavra de Amor, sobre
vidas. Ainda assim, como aconteceu no passa-
os ensinamentos do Único na Terra quando aqui
do, poucos foram capazes de aprender verdadei-
pisou. A Palavra de Guerra, as profecias deixa-
ramente tudo aquilo que fora dito e proclamado
das pelo Único sobre o mundo futuro. A Palavra
pelo Pai, que caminhou como um deles. As pa-
de Morte, sobre o fim dos tempos. Cada um dos
rábolas que resultaram de sua visita ainda são
livros são divididos em novos livros menores e
estudadas, mesmo séculos depois, em busca de
esses divididos em capítulos e versetos.
revelações e auxílio.
Quando Morovan, o Velho, primeiro Profeta
do Criador, teve seu encontro com o Pai, ele tra-
tou de registrar tudo o que ouviu da voz retum-
a
bante, impositora, mesmo que bela, do Único. Nada Escrito em Pedra

Naqueles tempos não havia ainda um alfabeto


O Conselho dos Filhos de Morovan foi o even-
organizado dos homens civilizados e coube a
to ocorrido em 989 DA quando o Tribunal
Morovan e um grupo de sacerdotes, a criação
decidiu por organizar os livros da Litania, se-
de símbolos e caracteres que pudessem trans-
parando, elevando e censurando alguns. Seja
mitir, da forma mais fiel possível, o poder da
por acreditar que eram impuros, ou por crerem
palavra do Criador. Morovan morreu desapon-
que alguns ensinamentos não deveriam ter sua
tado, alegando que o registro não chegava per-
língua original alterada ou pior, criam que não
to do que deveria transmitir. Assim iniciou-se a
deveriam cair em mãos incultas. Independente
Litania do Criador, o tomo sagrado que deveria
do que fora dito pelo Tribunal, a verdade é que
registrar todos os grandes fatos da vida dos ho-
mais uma vez as palavras foram alteradas. Para
mens, fossem eles mundanos ou espirituais.
atender os interesses dos homens da época e

Ao longo do tempo, durante a expansão, a Li- visando a manutenção do poder sacro do Tribu-

tania cresceu. Nela estão registrados os feitos nal, muita coisa foi incluída, excluída e alterada.

de reis e sacerdotes, com capítulos tendo sido


acrescidos por grupos de cardeais, ou por Elei-
tos, depois de toda conquista de relevância. Po- A Litania foi ampliada por muitas vezes, como
rém, o texto não conta apenas com registros his- quando os Puros tiveram o perdão do Tribunal,
tóricos. Existem muitas fábulas registradas em séculos depois de suas mortes injustas, e assim
suas antigas páginas e assim, serve como uma tiveram suas vidas registradas nas últimas pá-
fonte de saber. Sempre escrita na língua culta ginas do livro. Acredita-se que essa foi a última
dos homens santos, o Alto Belgho, a Litania vez em que o tomo fora ampliado, e possivel-
nunca ficou a disposição de qualquer fiel. mente visto. Sempre trancado no relicário do

b 220 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b
Virkarium, antigo centro da fé do Império de Vi-
rka, a Litania do Único perdeu-se no tempo com a
a queda do poder imperial. Com a capital aban- Os Santos e sua Adoração
donada, possivelmente ocupada por hereges do
Uivo Celeste, os homens santos da Era da Luz Os santos também são figuras recorrentes den-
sentem-se ludibriados pelo destino. O tomo que
tro do criadorismo. Sendo canonizados desde a
carrega as palavras do Pai não pode ser abando-
aceitação dos Puros, que são os maiores santos,
nado desta forma.
tantos outros seguiram seus passos. Morovan é
Fisicamente, a Litania do Único é um livro de patrono de toda a igreja, Angelina representa
tamanho assombroso. Tendo noventa centímetros a cavalaria e a proteção da casa nobre. Toda
de comprimento e pesando cerca de setenta qui- cidade, pequena e grande, possui alguma his-
los, tem uma capa de couro branco, com adornos
tória relacionada a algum santo, seja um que
simples, reforçada nas pontas superior e inferior
nasceu lá, ou que passou pelo local em algum
por placas de bronze polidas e bem trabalhadas.
O centro se destaca com uma esfera de muitas momento da história. Da mesma forma são as
pontas, que alguns dizem se tratar da grandeza suas atribuições, existem santos das batalhas e
sempre expansiva da centelha gloriosa deixada dos deveres domésticos. É comum que pessoas
pelo criador, no coração de cada homem. As pri- se devotem a um santo, ou a um grupo deles,
meiras páginas contam com os registro de Moro- entendendo que estes santos sãos mais próxi-
van, caracteres que raríssimos sacerdotes pode-
mos por já terem sido pessoas comuns, fazendo
riam traduzir, mas acredita-se que a compreensão
uma ligação mais fácil com o Criador. As histó-
de um deles é o bastante para dar ao mortal a
experimentação de encarar os olhos de Deus por rias são sempre marcadas por sofrimento, com
um segundo, deixando puro, ou louco. Os regis- homens e mulheres que rumaram contra toda
tros históricos seguem depois, em duas colunas a sorte para serem enaltecidos pelo Criador, o
ordenadas por páginas. Iluminuras detalhadíssi- que torna popular o dito: “O Criador não esco-
mas adornam o início de cada folha que, a despei- lher os preparados, mas prepara os escolhidos”.
to da idade, ainda são perfeitamente maleáveis.

b 221 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
O Libertari casamento, morte, acordar, refeições, dormir e
“Os homens de poucos bens não possuem tem- trabalhos, cada uma das grandes obras da vida
po, aqueles que muito leem, possuem sempre a dos homens.
mesa farta.” - Lazlo, O Puro
Mesmo aqueles não sabem ler recebem o Li-
A vida é difícil e as amarguras do plano ter- bertari, pois aprendem com o tempo, decoram
reno impedem que o homem carnal rasgue o na base das repetições de seus pais e o entre-
céu e alcance o Único. Pensando nisso, os puros laço destas preces com o âmago mortal é tão
compilaram sete orações que permitiriam, atra- grande que elas costumam ser utilizadas como
vés da repetição, mudar o homem. Elas são o su- um parâmetro de tempo. É comum, em receitas
pra sumo daquilo que os Puros ensinaram, pre- simples e completas, a fala “aqueça e mexa o
ces que eles mesmos sempre tulizaram, como se caldeirão por trinta casamentos”, por exemplo,
inspirados pelo Único. aproximando o tempo de trabalho na cozinha,
ou até mesmo na forja, quando é preciso marte-
A meditação sobre essas orações é capaz de
lar o ferro durante dez ou quinze mortes.
mudar a vida do homem e ajudá-lo a alcançar o
reino de Deus.
Este costume nos serve para compreender um
O Libertati é um livro com 7 orações que todo pouco da mentalidade dos povos de Belregard,
homem e mulher batizado de Belregard conhe- pelo menos dos tolos que vivem fora do vale,
ce, esses livros são um dos primeiros presentes mas admito que alguns daqui ainda perdem tem-
dados pela igreja para os pequeninos. Elas retra- po com orações em língua vulgar, que jamais al-
tam etapas da vida e atos diários. Nascimento, cançariam o Criador.

Oração do Tempo da Natalidade Trabalho


Quando uma criança nasce deve-se orar logos Antes de iniciar qualquer atividade:
nos primeiros suspiros de vida ao longo dos seus
Sem ti nada podemos, me envolve com fé
primeiros sete dias.
Prostro-me perante a Tua bondade;
Ampare este pecador,
Angellus abençoado, santo guardião, guarda esta vida do terror dá-me força para concluir este trabalho
Cobre com tuas asas; fortalece a sua carne e que vou iniciar,
guia sua mente para o caminho para sua honra e Glória.

Enche sua alma com amor celeste a fim de que guardado por
ti ela tenha grande misericórdia. Trabalho
Ó Altíssimo, Único entre os celestes, Tu Após terminar qualquer trabalho:
destes à luz da criação, Envia Teus Servos,
Seu poder é pleno
teu anjo guardião, enchendo-o de bondade e salvando Declaro júbilo e alegria por servir a Ti
sua alma possuída por paixões e pecados dos terrores da alcova. Me permitiu chegar até aqui
Hoje e sempre. livre-nos da impureza e salva as nossas almas,
(1x para cada dia de nascido até o sétimo) Pois Tu és bom.

b 222 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b
Após as Refeições
Acordar
Deu a chuva, Deu saúde e deu a força
Ao despertar do sono, antes de fazer qual-
Seamos no tempo apropriado. Plantamos e colemos.
quer coisa, reverencia o senhor teu Deus.
Vivemos por tua graça.
Santo Criador, misericórdia para com meus erros
Santo Criador, faz um dia novo
Senhor dos Céus, Poderoso, Altivo e Guerreiro
Casamento
Da-me o tesouro, sopra-me a vida,
Livra-me da impureza e brilha minha alma Quando um casal se une, após a união do

Tem piedade de nós! (3x) sacerdote e os votos, os três, marido,


mulher e padre, devem orar juntos.

Aqui fazemos santa trindade, pelo poder dos seus filhos de luz e pelo
poder do seu sacrifício, cuida e eleva o amor que vive em nós
Morte Sele o laço que apresentamos a Ti como oferenda diante de Vós a con-
Quando em um velório, deve-se orar da lua sumação deste Sacramento.
alta até o cantar do galo. Erguidos pelo poder da graça, somo ricos do teu amor. (Sacerdote diz)
Guia-me abaixo de Vossas santas Leis, (Noivos falam)
Santo Senhor de Luz, tem compaixão de nós,
Vossos Ensinamentos para caminhar em Vossos passos. (Sacerdote diz)
Grande é Tua Misericórdia (3x)
Despertai em nós teu amor. (Noivos falam)
O mundo se quebra a nossa volta
Derrama piedade em nossa tristeza,
Mostra-nos, ó Criador, a força do Teu Amor! (3x)
Tira-nos o desespero, a dor e a angústia,
Traz-nos a Paz, que vai além da compreensão,
Antes de Dormir
O canto da meia noite afasta o pecado
Ouve meu coração que está arrependido (3x) Traz tua luz e faz morada em nossa porta. Queima a impureza e
Leva a alma e me traz o conforto Guia as nossas almas, nos faça ser bons.
Sem pecado quero viver, para tua honra. Perdoa-nos as nossas iniqüidades.
Traz tua luz e faz morada em nossa porta. Queima a impureza e
Guia as nossas almas, nos faça ser bons.
Livra-nos da espada inimiga e da adaga do ladrão,
Antes do Café da Manhã, Traz tua luz e faz morada em nossa porta. Queima a impureza e
Almoço e Jantar Guia as nossas almas, nos faça ser bons.
Dá às andorinhas, dá aos peixes e dê a nós Cuida de nosso sono e nos dê a luz para mais um dia.
Seara no apropriado. Esticamos a mão e recebemos Traz tua luz e faz morada em nossa porta. Queima a impureza e
Vivemos por tua graça. Guia as nossas almas, nos faça ser bons.

b 223 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Titereiros e Títeres b
Secunda Pars
Um Mundo de Mentiras
Saiba, ó Abimaleque, que os inimigos do homem espreitam dentro do
vale. Não apenas nas cavernas da terra, também se escondem nas ca-
vernas dos homens; a luta pela luz ocorre dentro de cada um de nós e tu,
iluminado pelo saber dos que vieram antes, fundamentará nossos próxi-
mos passos. Aqui segue o que se sabe sobre os horrores que não são vistos,
apenas sentidos, aqueles que se revelam diariamente nos detalhes e por-
menores da vida banal. São saberes que estão nos livros de padres, mas
também na boca de camponeses que, em sua vivência simples,
confrontam o pecado a todo momento, de sol a sol.

SOMBRA plural, um erro normal incentivado pelo baixo


conhecimento do jargão arcaico empregado na
época em que O Único veio a terra.
“Só há um Inimigo”.

- Capítulo 1, Verso 1, O Livro do Tomando a premissa de um inimigo, partire-

Fim, Litania do Único, tradução mos nosso estudo sobre A Sombra e A Horda.

de Lazlo de 982 DA
Quando o Único veio ao mundo, seu esplen-

É com essa frase que se inicia o Livro do Fim, dor de poder gerou uma Sombra, o reflexo som-

o último livro da Litania. E é com base nele que brio de sua magnificência que ganhou vida. Seu

Lazlo definiu os princípios da Guerra Oculta poder, equivalente ao d’O Único, era distorcido

entre a Abóbada Celeste, morada do Único, e a e esquálido, gerando assim uma vida quase que

Alcova Profana, reduto da Sombra. divina. Durante as andanças do Criador, a Som-


bra o acompanhou e impregnou no homem sua
Antes de tudo, precisamos definir o que se- semente, assim, ampliando a sede e tendência
ria esse Inimigo. Na tradução oficial divulgada do homem ao erro. Somente o Único, em sua
pelo Tribunal do Santo Ofício, o verso seria “Só escala de compreensão divina, foi capaz de per-
existem inimigos”, de acordo Lazlo, um erro ceber que aquilo que salvaria a humanidade,
inadmissível na tradução das escrituras. Em também seria o motivo do fim, e que somen-
profundos estudos, o Puro encontrou a escrita te partir, ir embora, não daria cabo àquilo que
arcaica que seria “unum hostem”, que significa- havia piorado. Nesse momento, para frustrar os
ria definitivamente, “Só há um Inimigo” e não planos da Sombra, ele se fez humano e morreu
“tantum hostium” que seria “Só existem inimi- na esperança de estilhaçar o poder do seu rival.
gos”, aqui, o gênero um, seria alterado para o Mas isso não ocorreu.

b 225 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
É sabido, até mesmo pelo Tribunal, que a homens. Assim, devemos tornar a nossa sombra
Sombra escondeu-se no vale de Belghor, antigo mais clara possível, e para Lazlo, isso viria so-
berço dos homens, e fez voltar a vida a dinastia mente através do conhecimento.
dos Bövrar, que haviam arranhado a superfície
Muitos se enganam acreditando que o culto à
dos segredos mais profundos do mundo. Apesar
Sombra é regado de sangue e prazeres da carne.
de todo pecado enraizado nesse sangue, foi seu
Essa imagem mal formada e errônea deve-se a
legado que permitiu ao Abimaleque o conheci-
muitos desses cultistas que se infiltraram nos
mento pleno sobre o mundo. Vale lembrar ainda
asseclas da Horda na esperança de fugirem da
que a mentira, de modo generalizado, não foi
atenção dos servos da verdadeira fé ao longo
trazida pela Sombra. Homens mentiam e traíam
dos séculos. O verdadeiro culto à Sombra está
muito antes do Único encarnar; o que a Sombra
muito além desses padrões bestiais e puramente
fez foi deixar esta marca mais evidente naqueles
visuais, ele se entende como o infinito mental e
pré-dispostos a isso.
seu campo de ação é tão próximo que é capaz
De acordo com os profundos estudos e medi- de enlouquecer os homens de pouca fé.
tação d’A Palavra, Lazlo definiu que não exis-
Os servos da Sombra pregam que Ela é a di-
tem outros deuses. Aqueles muitos seres divinos
vindade dentro de nós e o caminho à Verdade,
adorados pelos Selvagens, grupo nomeado de
verdade esta que seria responsável por nos tor-
A Horda, eram nada mais que forças derivadas
nar verdadeiros Deuses, tomando conhecimen-
da criação do divino que utilizavam da centelha
to sobre tudo, principalmente sobre as tramas
desse poder para operar milagres no campo ce-
divinas que regem o livre arbítrio, enobrecendo
lestial. Isso vale, evidentemente, para os Patriar-
virtudes como iluminação, sabedoria, orgulho,
cas, que eram os responsáveis pela manutenção
independência e liberdade das amarras da ig-
das populações de selvagens pelo mundo. Acre-
norância dos homens. Conceito muito parecido
ditamos que muitos ainda existam, adormecidos
com os estudo de Lazlo, o Puro.
em recantos do mundo. Entretanto, quando
Deus separou aquilo que era bom para si, seus O culto a Sombra pode ser categorizado como
seguidores operaram milagres apenas pelo co- práticas Internas e as práticas Externas. As prá-
nhecimento empírico e incompreendido da ar- ticas internas agem diretamente na personalida-
caica Forma Pensamento, ideologia categoriza- de, caráter e psiquê do indivíduo, treinando e
da séculos antes por Bövrar II. capacitando-o a abrir os portões da sua mente
outrora fechados pelos conceitos consensuais
Lazlo escreveu por inspiração divina:
divinos e humanos. As práticas externas são
“Vinde, meus filhos, ajuntai-vos à Luz do Meu uma parte muito mais complexa, sendo exerci-
conhecimento, pois a Escuridão lhes cegará os das somente por poucos, exigindo inúmeros fa-

olhos”. tores naturais e físicos para expressar o poder


aprendido. Isso inclui lugares adequados, símbo-
Obviamente, uma ordenança deixada pelo Único. los sagrados, indumentárias e vestimentas cabí-
veis. O maior praticante e estudioso das práticas
Para o Puro, a Sombra era o arquétipo do externas foi Bövrar II.
nosso ego mais sombrio, a monstruosa perso-
nalidade humana. Fica claro dessa maneira que Desta maneira, o conceito interno pode ser
a briga no plano espiritual está na mente dos praticado individualmente, agindo apenas do

b 226 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b UM MUNDO DE MENTIRAS b
seu singular, ou em grupo no âmbito externo, entre as negras florestas de Belghor ou retum-
agindo no material e nas leis mundanas, sendo bando tambores nas montanhas de Viha. Eles -
que o sucesso de uma não depende da outra. nossos inimigos - estão debaixo de nossos olhos,
bebendo e comendo conosco em nossas mesas,
Nos anais da história, quando esses cultistas
talvez dormindo conosco em nossas camas, e
se encontravam, para o que chamavam de Mis-
somente o santo poder divino será capaz de re-
sa Sombria, aqueles praticantes do conceito velar a mentira que nos é pregada.
interno deviam cumprimentar seus companhei-
ros com a mão direita, deixando claras suas in- E nosso Inimigo, ainda mais próximo, reside
tenções, e os adeptos do conceito externo, de- em nosso peito, nossa carne, nosso ser. E so-
veriam cumprimentar seus irmãos com a mão mente as Boas Obras, os atos divinos refletidos
esquerda, afirmando que estava dispostos a ver através do fortalecimento da Pedra Angular, do
a materialização dos seus estudos. Assim, os ca- Bom Conhecimento e do Caminho Irrepreen-
minhos ficaram conhecidos como da Mão Direi- sível, poderão repudiá-lo e vencer essa guerra
ta ou Intus e da Mão Esquerda ou Ex. natural travada à séculos.

O principal conceito da Mão Direita era que Mentira


“Somente a Vontade poderia geri-lo”, ou seja, “Não me lembro mais dos dias brilhantes, dias
somente fazendo aquilo que se quer e apren- antecessores à Escuridão que veio e roubou mi-
dendo com isso, poderia sintonizar-se com a nha mente e amarrou minha alma às correntes
Verdadeira Vontade, ou, a Vontade do Universo. da cegueira”
Em contrapartida, a Mão Esquerda norteava-se
no princípio de “Usa tuas Mãos para fazer de ti - dos escritos apócrifos do Louco
um templo”, pregando que o ensino sem atitude
Quando a Sombra veio ao mundo, Ela ca-
material era nula. Indo contra o que se esperava,
minhou ao lado do Único, e assim como Ele,
ambas as filosofias são co-irmãs e caminham de
utilizou os poderes inerentes aos sentimentos
mãos dadas, afinal, de maneira consequente, os
humanos para firmar Sua essência de maneira
praticantes do conceito Interno irão praticar o
material. O Criador buscou no temor, fé e amor
Externo mais cedo ou mais tarde, seja em con-
as bases do firmamento do Seu poder; a Som-
junto, ou separado.
bra, por Sua vez, sondou os corações humanos
Independente do conceito adotado, o grupo e viu que todos, independente do credo, classe
em si prega a “mentalidade do rebanho”, onde social ou idade, são criaturas imperfeitas e para
somente com a união do “Seja feita a Minha mascarar tal imperfeição, nos amparamos na
vontade” e com “Seja feita a Tua vontade”, se- Mentira. Assim, utilizou essa sequela do nosso
rão alcançados os Grandes Feitos, ou como La- caráter para firmar seu poder terreno.
zlo intitulou, de Obras Profanas.
Definitivamente, o mundo de Belregard é do-
Indo totalmente contra o que é pregado pelos minado pela Mentira. Seja ela a Grande Mentira,
beatos e incultos do Tribunal do Supremo Ofi- que tange as reais intenções do divino que são
cio, os verdadeiros inimigos, praticantes de co- deturpadas pelo homem, ou as verdades corri-
nhecimentos profanos, são pessoas do mais alto queiras do nosso dia natural. As razões morais
escalão intelectual, o que irá gerar alto escalão para a mentira são motivo de discussões acalo-
social e financeiro. Eles não estão escondidos radas entre os estudiosos. Mas, definitivamente,
b 227 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
a Mentira é tida como um desvio no código ético E quais as consequências da Mentira?
estabelecido durante as eras. Os homens estão
Para Alec, o principal desgaste moral causa-
propensos, senão obrigados, a ceder às tenta-
do pela mentira é o menosprezo da Realidade
ções da enganação, e com o passar nos anos, Universal. Esta realidade são as verdades imu-
aceitamos a “mentira social”, tornando-se um táveis deixados pelo Criador, nosso Pai, Guer-
fator inofensivo e parte do nosso estilo de vida reiro e Confidente. Para provar tal revelação,
pífio. Nosso entendimento do que é totalmente ele visitou a abadia de Latza, onde teve contato
honesto tornou-se envergado e pragmático. com indivíduos que foram categorizadas como
pessoas anômalas com pensamentos anormais
Uma clara razão para que a mentira persis-
para a sociedade, ou popularmente, loucas.
ta em existir em nosso meio é a noção da sua
Lá, ao levar a palavra do Criador a várias des-
inofensiva ameaça perante os olhos do Criador,
tas almas, Alec identificou que eles viviam em
e nos tempos atuais, a mentira assume sua pior
uma realidade falseada, distorcida, recriada ou
face, a Traição. Assim como a Sombra traiu o
substituída. Em menor escala, as pessoas que
Criador ao inserir no homem a semente pútrida
dão brecha a mentira, vivem em uma realidade
da mentira, o homem planta em seu seio men-
anormal, onde suas atitudes em nada afetarão
tiras tidas como verdade, que a curto ou longo
a ordem natural das coisas e principalmente,
prazo, serão motivo de danação, tanto terrena
onde a Lei Divina não se aplique.
quanto espiritual.
O Cortejo Sombrio
Para Alec, um dos precursores deste estudo
No dias que precederam a vinda do Único ao
moral, a mentira está impregnada no caráter
mundo dos homens ocorreu um estranho evento
humano. Testificou isso quando comparou duas chamado de “A Ausência”. Os sacerdotes de Belre-
crianças que cresciam entre seus seguidores gard, até aquele momento, eram capazes de operar
peregrinos. Uma das crianças fora deixada para pequenos milagres como curar doenças e purificar
ser educada por seus pais e outra fora criada alimentos, além de um leve controle do clima, mas
pelo próprio Puro. Antes mesmo de completar três dias antes do Único fazer-se mortal, essa liga-
o terceiro ano, ambas as crianças deram seus ção, esta fonte de poder divino, terminou. Muitos
primeiros passos na Mentira. Assim, idealizou o sacerdotes sentiram-se abandonados, com uma de-
que até hoje é conhecido como a Grande Men- solação em seu âmago que não poderia se explica-
tira, uma triste afirmação que comprova que o da de nenhuma forma. Hoje sabemos que esse foi
homem, independe do caminho que siga, sem- o teste, para o Criador saber quais seriam aqueles
pre conviverá com a semente da enganação lhe que continuariam ao seu lado, mesmo sem ele lhes
perseguindo. presentear com estes dons.

Os asseclas da Sombra determinam que “não Alguns homens santos enlouqueceram nesse
há mentira, apesar do que se diz, sem intenção, período, entregando-se a atos terríveis numa es-
desejo ou vontade de enganar”, deixando claro perança de entender o que estava acontecendo.
que a mentira só será categorizada como a mes- Não foram poucos os que buscaram ajuda em seus
ma, quando essa for dita com a clara intenção antigos tomos, onde eles mesmos criticavam e ca-
de cegar os olhos do observador sobre um dado çavam os Selvagens por adorar sua corja de deuses
fato distinto. inferiores. Os sacerdotes enlouquecidos voltaram-
-se para a Horda e para os Patriarcas.

b 228 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b UM MUNDO DE MENTIRAS b
a
A Mentira no Mundo Espiritual

Assim como a Fé fortalece nosso Senhor, a mentira é o alimento que nutre os desejos da Sombra. Afinal,
seu claro intuito é pregar que o homem não precisa da figura Divina e que esse é apenas um dos estados
possivelmente alcançados pelo homem natural. A Mentira age como uma fera, uma praga, uma mácula ou
uma doença, espalhando-se pelo mundo tomando conta de cada centelha de vida, subjugando a tudo e a
todos. Diferente do Criador, que chamou a poucos para portarem sua Bravura, a Mentira chamou a muitos
para portar sua calúnia e ela irá testar os homens constantemente, tentando a cada momento obrigá-lo a se
dobrar perante a mentira consensual, tão facilmente aceita e sedutora a todos. Ela agirá como uma besta fa-
minta que têm sobre sua posse toda a reserva de carne possível, e graças ao poder do Único, alguns poucos
bravos, os Arautos, resolvem minar suas reservas. Ela irá usar tudo que puder para evitar isso.

A força da mentira não pode ser medida de maneira humana, entretanto seu poder é supremo, muito mais
forte do que qualquer outra fonte de poder. Seus servos são agradecidos e seus sonhos são realizados, em
contrapartida, aqueles que lutam contra essa farsa, sofrem, penam, morrem e são levados ao júri, sem a
mínima chance de defesa. Quanto maior a Bravura concedida e gerada por sua Fé, mais a Mentira irá lhe
caçar para destroçar suas esperanças.

Um local dominado pela mentira irá repudiar, ou talvez caçar, os Arautos. As tentativas de lutar contra ela
em nada surtirão efeito se não for através das obras do espírito. Definitivamente, a posição do Senhor é clara
com relação à mentira em vários versos da Litania: “Afaste-se de Mim, ó mentiroso”, “A mentira é como
algemas, levante suas mãos aos céus, pois eu possuo as chaves” “A mentira lhe roubará a mente”, e muitos
outros. Assim sendo, Deus nos tirou da mentira para sermos Portadores da Sua Verdade, pois ela não pende,
enverga ou quebra, é firme como rocha para todo o sempre.

A Horda é um termo genérico usado pelos ho- que o sacerdócio passou a observá-los com mais
mens quando se referem aos seres que imenso cuidado, dentro de suas próprias fileiras. Os
poder que os Selvagens louvavam. Um nome Cortejos Sombrios, como passaram a ser cha-
mados, são uma das maiores preocupações do
mais acurado para este grupo de seres é o de
Tribunal do Supremo Ofício, pelo menos em seu
Patriarcas, ou Matriarcas. No passado, duran-
discurso, já que a corrupção financeira abun-
te a luta contra os Belinaren e Dwerthären, os da naqueles corredores. Não só homens santos
homens só conseguiram dar fim as duas espé- compactuam com a Sombra, pessoas simples
cies quando encontraram seus Patriarcas nos também. Oferecendo a vida de seus primogêni-
confins da florestas e da montanhas. São bes- tos, homens e mulheres conseguem erguer suas
tas absolutamente inumanas e indiferentes ao vidas de forma assombrosa. Os meios para se
realizar os pactos são muitos, desde o encontro
mundo a sua volta. Existem apenas para, de
numa encruzilhada até o sacrifício ritual de al-
tempos em tempos, parir suas proles defor-
gum animal em homenagem a um dos Ímpios.
madas e é por isso que é impossível dar fim
aos Selvagens de qualquer espécie, sem antes
encontrar seus genitores.

Não que os pactos e acordos profanos fossem


novidade naquela época, mas foi daquele ponto

b 229 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
As Cinco Provações
As Cinco Provações representam as fraquezas
a
humanas mais perigosas, capazes de corromper O Diabo
a alma e entregar o fiel à Sombra. As Cinco Pro-
Demônios e Diabos fazem parte do imaginá-
vações não aparecem na Litania do Único. Elas
foram escritas originalmente por Ivárius, um rio do mundo de Belregard, são imagens que as

sacerdote que se isolou do mundo por volta de pessoas desenham e idealizam quando se fala

800 DA. Suas reflexões o levaram a conhecer a sobre o pecado, o mal. São termos genéricos

si mesmo e assim pôde apontar e catalogar tudo que fazem referência a criaturas sombrias, aos

aquilo que tornava os homens perigosos para o próprios Ímpios e até mesmo a própria Sombra;
mundo e para si mesmos. Ele estudou sobre a No entanto, é possível perceber que o Desejo,
Era da Vergonha nos raros tomos existentes em como cerne do que pode levar o homem a pe-
sua época e pôde constatar que boa parte do car, é personificado na figura do Diabo, uma
que ele julgava pecaminoso era praticado aber- besta de três faces que devora os pecadores. Tal
tamente pelos Selvagens e pelos homens ainda entidade é apontada como amante da Sombra,
sem direcionamento na Fé. e algumas vezes é dito que foi o primeiro ho-
mem a cair no pecado e por isso foi aceito por
Sucumbir às Provações é o primeiro passo
ela como um igual, para reinar na Alcova ao seu
rumo à perdição do espírito. É quando o homem
lado. Fala-se pouco sobre o Diabo, como enti-
abre as portas de seu coração para a corrupção
dade individual. Talvez como uma forma de não
da Sombra Viva. A chave para o entendimento
perder o foco para o verdadeiro e fundamental
desta falha nos homens está no Desejo, que é
inimigo, que é a Sombra.
regido pelo Diabo, consorte da Sombra. O de-
sejo é relacionado a soberba, ao orgulho, mas é
também a marca deixada pelo próprio Criador
quando depositou no homem a centelha divina. Luxúria
É graças a esse Desejo, que queima e arde, que
É o desejo desmensurado pelo prazer carnal.
os homens de Belregard são capazes de feitos
Aquilo que torna o homem escravo de seus de-
incríveis, para o bem ou para o mal. O Desejo,
sejos mais primitivos e animalescos, o simples
por si só, não é pecado, mas sim as consequên-
prazer pela fornicação é capaz de corromper até
cias desse desejo sem controle.
o mais puro dos homens. Um perfeito exemplo
disso é Bövrar II, que, mesmo sendo um dos ho-
O pecado pode possuir uma pessoa, habi-
mens mais sábios de todo o tempo, era famoso
tando seu corpo e comandando sua vontade. O
por entregar-se a toda a sorte de libações e or-
Eleito Lázarus, que foi o mesmo a oficializar os
gias.
pecados quando tornou-se a liderança dentro do
Tribunal, idealizou cada um dos pecados como Para aqueles que já cultuaram a Horda, sejam
uma entidade à serviço da Sombra, chamadas de homens ou Selvagens, as celebrações carnais
Ímpios, vindos da Alcova Profana sempre que nada mais são do que um reflexo das atividades
um homem de fé titubeava em suas crenças e de seus próprios deuses naturais, que pratica-
entregava-se a provação. Estando possuído por vam a fornicação entre si. Já para o mundo ci-
uma entidade das Provações, a única maneira de vilizado, a terra, a natureza, não são entidades,
estar livre novamente é passando por ritual de mas sim coisas.
exorcismo dirigido por um bispo ou cardeal.

b 230 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b UM MUNDO DE MENTIRAS b
O celibato dos sacerdotes de Belregard não O grande problema ocorre quando o invejo-
veio só como uma forma de dar o exemplo quan- so não se foca em conseguir aquilo que dese-
to ao pecado da luxúria, mas principalmente ja, mas sim em destruir o que seu semelhante
pelo interesse da igreja em não correr o risco de possui, valendo-se da máxima “se eu não tenho,
perder suas terras a possíveis descendentes que ninguém tem”. A inveja é uma serpente velha e
desejassem reivindicar alguma posse. Isso aca- obesa, que se arrasta pelo mundo espalhando
bou tornando os padres e sacerdotes militantes seu veneno e matando tudo ao seu redor. Ela
quanto a atitude contra a luxúria. O que antes fomenta a traição e corrompe com os olhos, já
era uma questão que cabia apenas aos homens que é pelos olhos que a inveja começa. Da in-
santos, é também vigiada e se estende a toda a veja nasce o rancor, a alegria na má sorte do
sociedade. Boa parte das confissões feitas pe- próximo e o pesar por sua prosperidade. Dentro
los fiéis consistem em detalhes sobre suas vidas do culto de Lazlo, que mostra uma faceta mais
particulares, dentro das relações no casamento. branda da inveja, nós vemos a inveja dos erudi-
tos, onde a única maneira de se saber mais que
A entidade relacionada à Provação da Luxú- o outro é através do estudo.
ria atende pelo nome de Arshma, segundo o
que foi escrito por Lazarus, este ser a serviço Como a visão distorcida é comum aqueles que

da Sombra era assim chamado pelos Homens de se deixam levar pelas provações, o invejoso que

Coração Negro, habitantes da antiga Belghor. chega ao limite de destruir o foco de sua inveja
pode se ver, na verdade, como um justiceiro e
É representado por uma figura meio homem e
meio bode. Seus chifres são imensos, remetendo é exatamente esta a ideia de Invídia, a perso-
nificação do pecado. Representada como uma
a ideia herdada pela heresia dos selvagens, onde
serpente obesa com feições de uma senhora ve-
os chifres representam a virilidade dos relacio-
lha, olhos amarelos e dentes quebrados cheios
nados aos tais animais. Representações deste
de sangue, de tando apertá-los uns nos outros
ser já foram encontradas em Belregard, feitas
e ranger, pela angústia em ver as posses de ou-
em cerâmica e até em bronze, deixando claro
trem. Seu olhar é capaz de tornar pessoas e ob-
que em tais locais ocorriam cultos a Arshma.
jetos em pó, desde que ela deseje.
Independente de seu aspecto bestial, é atribuí-
do a Arshma o poder da plena sedução. Gula
Inveja O pecado da gula é levado muito a sério
dentro do culto de Leoric. O maior presente
A inveja é uma Provação que tem duas faces.
do Criador para os homens foi seu corpo per-
Por um lado, ela pode servir para trazer bons
feito, capaz de feitos incríveis desde que bem
resultados, quando mostra-se capaz de motivar
condicionado. O guloso desdenha do presente
um homem a conquistar aquilo que seu seme-
de Deus, deformando a criação do Pai quan-
lhante possui, de maneira honesta. Esta compe- do vivem para comer e não comer para viver.
titividade na sociedade não pode ser vista com A gula afasta o homem do caminho da retidão,
maus olhos, já que traz algo próximo ao progres- um pecado contra o próprio corpo. Comer em
so. É claro que Varning está mais disposta a ver a excesso também ofende aqueles que praticam a
inveja de forma branda, enquanto o Tribunal con- mendicância, já que devorando com o apetite de
tinua suspeitando antes de dar o braço a torcer. muitos, o pecador priva pessoas necessitadas
de se alimentarem.

b 231 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
O guloso vive na sujeira, dentro e fora de seu quanto ao avanço comercial da humanidade. A
corpo. Ele é acompanhado por um coro perpé- acumulação de bens não é vista com bons olhos
tuo que segue seus passos, a Orgia das Moscas, pelo Tribunal do Supremo Ofício, apesar deles
como Lázarus chamou. Chafurdando no próprio mesmos contarem com uma boa quantia de
vício, incapaz de tirar de sua mente a ideia do ouro em suas reservas e em seus salões, ador-
alimento e da libação, o faminto não se importa nando símbolos e altares. Por ser uma prática
com as moscas que rodopiam ao seu redor, ban- que vai contra o que Alec pregava, sobre o total
queteando-se de seus restos e depositando seus desapego aos bens materiais, a riqueza é uma
ovos da ceia fresca. Novamente esta prática era faca de dois gumes. Da mesma forma que a in-
comum nos tempos da Era da Vergonha, entre veja, ela pode ter duas faces, uma grave e uma
selvagens e hereges. E vale ressaltar, a gula não branda.
se limita a comida, mas toda atividade de con-
Quando um homem acumula muito mais do
sumo que seja praticada de forma desmedida
que precisa para sobreviver, ele pode ser visto
e assim deve ser
observada tam-
bém na bebida
e nos demais
vícios.
até mesmo como um
É por essa relação aos insetos
assassino, já que priva
que a figura relacionada a
outros que pode-
gula atende pelo nome de
riam beneficia-
Zaalzebub. Lázarus disse
rem-se de seus
que ouviu este nome ao pé
lucros. E ele ape-
do ouvido enquanto refletia
nas os junta, guar-
sobre os pecados. Quando
dando para si mesmo.
deu um tapa no rosto, pro-
O Tribunal tenta motivar
vocado pela irritação de
estes homens a doar parte
algo pequeno, pôde confe-
de suas rendas para os neces-
rir que se tratava de uma
sitados, ou para a própria
mosca gorda e vermelha.
igreja, ajudando-a na ma-
O senhor das pestes, Zaal-
nutenção da corrup-
zebub, aguarda aqueles
ção pelo mundo. Al-
inchados pela própria inca-
guns ajudam, mas
pacidade num poço de po-
outros só buscam
dridão, à eterna cantoria
benefício pró-
da Orgia das Moscas.
prio. Investin-
do naquilo que
Avareza
os agrada, seja na arte ou
A avareza só teve uma no combate, alguns homens beneficiam-se des-
grande representação quando a castelania de tes comerciantes e nobres ricos, quando vêem-
Varning ergueu-se sob a proposta de Lazlo -se patrocinados pelos mesmos.

b 232 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b UM MUNDO DE MENTIRAS b
O desejo pelas coisas pode estar relacionado a se transformado e, irado, buscou os homens
inveja, a gula, a ira e à luxúria. Por isso a Avareza para limpar o mundo. Esta é uma ideia que pode
é apontada como a raiz de todo o mal. O Ímpio preocupar aqueles que passam muito tempo
relacionado a esta prática recebeu o nome de refletindo sobre a existência. Estaria o Criador
Mammom, uma figura representada com um satisfeito com os rumos da humanidade? Seria
corpo imenso e coberto de ouro. Mammom é o ele capaz de propor uma nova limpeza usando
pai da usura e este sim é o lado mais perigoso filhos ainda mais jovens e preparados?
da avareza. O usurário, praticante da usura, é
visto como um ladrão do próprio tempo, já que Ao contrário do que se poderia imaginar, as

ele consegue seu dinheiro na cobrança de juros ordens de cavaleiros de Belregard não se valem

e assim cobra por algo que não lhe pertence. O da ira em seus combates. Um conhecimento,

usuário é anti-natural, ele faz o dinheiro dar cria uma prática, que o próprio Leoric deixou para
e é também por isso que, apesar de ser repre- os homens. Segundo o Puro, aquele que inicia
sentado como uma figura masculina, Mammom um combate irado está fadado à derrota. Um
sempre aparece com uma barriga imensa e os verdadeiro guerreiro deve deixar sua mente
seios vazando leite. Algo que simplesmente não leve antes de um embate, assim ele pode dire-
deveria existir. cionar sua força onde é verdadeiramente preci-
so. Sentir raiva não é errado, você só não deve
Ira
se deixar levar por ela.
A ira é um dos pecados mais perigosos, já
Amom é o Ímpio que representa a ira, uma
que pode facilmente levar a morte. Apesar de
paródia de cavaleiro. Uma criatura de traços he-
sua importância no imaginário popular, como
uma sombra que paira sobre todos os homens, diondos e desproporcionais. Orelhas pontudas,

a ira é mais comumente vista como uma con- nariz alongado e cabeça achatada, um corpo de

sequência de outros pecados. Ficamos irados braços e pernas longos, magros, mas poderosos.

por não conseguirmos aplacar nossos desejos Monta em seu cavalo tão deformado quanto ele

de consumo, seja na luxúria, na gula, na ava- e porta uma lança de ossos. Sempre nu, desde-

reza ou na inveja. A ira é como um resultado nha das proteções dos homens e é capaz de falar

disso, que pode nos levar ao assassinato e a com qualquer pessoa diretamente em sua men-
danação do corpo e da alma. A ira já foi vista te, induzindo pensamentos que motivam a fúria
até mesmo no Único. A vergonha o tomou quan- e o ódio, levando o alvo a perder o controle de
do viu no que suas primeiras crianças haviam si mesmo.

b 233 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

Abra teus Olhos!


Bem, você deve estar se perguntando por que te chamei aqui, não é?
É hora de você saber a verdade, criança, é hora de abrir teus olhos para
a rede de mentiras que atrofiam sua alma. Eu, você, todos que você co-
nhece, todos nós estamos presos numa trama de intrigas, politicagem e
corrupção, mas não podemos enxergá-la por perdermos tempo demais
pensando apenas em nós mesmos. Ei, não me olhe com essa cara, já fui
tido por louco muitas vezes, mas quando você conseguir enxergar o que
eu enxergo, você vai me dar a razão... Mas, preciso saber se você está pron-
to para a verdade. Já se sentiu sozinho alguma vez? Sim, aquela solidão
avassaladora e sufocante, o coração apertado de angústia e controlando
seus pensamentos para não se afundar nas próprias mágoas... Ah, você
sabe do que falo, não sabe? Seus olhos mostram sua indecisão, transbor-
dam com a melancolia de alguém que não consegue encontrar compa-
nhia nem no meio de uma multidão, tampouco em si mesmo na solidão
de seu quarto... Você sentiu tudo isso, seu espírito foi quebrado e molda-
do, seu semblante transparece todo esse abandono do qual você sempre
tentou fugir. Venho te observando, e minhas suspeitas só ganharam mais
b 234 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
e mais força: você não é como os outros, de jeito algum! Mas sem um
direcionamento, sem a mão guia, sem a minha mão, você rumou cego,
desesperado, em silêncio, e voltou ao rebanho. Bem... esse lugar não é se-
guro para conversarmos. Mas, no final, nenhum lugar é verdadeiramente
seguro, então, contentemo-nos com o que podemos fazer agora.
Como você bem sabe, há muitas e muitas gerações, na distante época
conhecida como Era das Revelações, a humanidade se ergueu contra os
Selvagens que habitavam o mundo. Nossos sacerdotes, os homens mais
sábios e mais puros que jamais existiram, nos guiaram nessa cruzada.
Pelos lugares mais longínquos, sobre as planícies mais distantes e intoca-
das, nas profundezas dos vales mais escuros e nos cumes das mais oníri-
cas montanhas, nós caçamos, nós marchamos, nós levamos nosso ferro
e nosso fogo, e com a fúria histérica de nossas lâminas, caçamos os mal-
ditos Selvagens até os limites do mundo conhecido. Foi sob os auspícios
destes santos homens, os primeiros sacerdotes, que as parábolas do su-
premo Criador foram interpretadas e transmitidas. Vivemos uma época
difícil, mas iluminada pelos santos ensinamentos. Porém, o coração dos
homens é misterioso e impenetrável... Findas as grandes campanhas, algo
passou despercebido até mesmo pela inquebrantável atenção dos maio-
res sábios: uma corrupta e avassaladora sombra cresceu em segredo nos
corações de alguns. Assim como nenhum pedaço de terra permanece sem
seu rei – muitas vezes autoproclamado, febris e proibidos sonhos de poder
e conquista se apossaram do coração de alguns homens. Sim, pelo seu olhar,
posso ver que se lembrou das histórias que ouviu de sua ama de leite em sua
conturbada infância. Talvez, uma das melhores figuras para ilustrar esse
período é do Rei Feiticeiro, o filho do primeiro rei de Virka, Bövrar II.
b 235 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Nem nos sonhos mais loucos e deturpados, Bövrar I, o benevolente, ima-
ginaria que seu filho seria capaz dos horrores que perpetrou. Sim, pois
alguns dos maiores males não acontecem quando um inocente é execu-
tado em praça pública, mas quando pequenos e precisos atos vis são exe-
cutados e distantes da visão do homem comum. Pois é quando o coração
do nobre de espírito se enche de dúvida e aflição, que esse irá desviar seu
olhar... E, em pouco tempo, as leis e virtudes que transbordavam em seu
íntimo são corrompidas, e as ações que sempre julgou duvidosas passam
a fazer parte de seu cotidiano – um cotidiano secreto, onde cada peque-
na ação é repleta de mal, repleta de uma força invisível que lhe guia cada
vez mais para as sombras. Foi assim que muitos dos feitos de Bövrar II
modificaram lentamente a filosofia tão bela, tão pura, tão santa, que os
nossos primeiros sacerdotes descobriram nas palavras do Criador ao lon-
go de tantos e tantos anos de estudos e sacrifícios. Foi assim que a maioria
desses atos se perdeu no tempo e na história: o coração aflito do bom ho-
mem, somado ao desvio de seu olhar, fez com que muitas sandices fossem
cometidas. Já as perdemos nas curvas do tempo, já não sabemos até que
ponto Bövrar II foi responsável pela deturpação dos ensinamentos do seu
pai, além de não sabermos o quanto suas primeiras ações arruinaram os
corações de homens de fraca vontade, que perpetuaram práticas tão vis.
Os poucos fragmentos que sobreviveram dessa época foram escritos em
línguas perdidas e que nossos sábios já não sabem mais como traduzir
corretamente. As poucas histórias – sim, aquelas histórias horripilantes
que sua ama de leite te contava para evitar que fizesse algazarra – se
transformaram em fábulas infantis e fantasiosas. Mas o olhar cuidadoso,
o estudo das escrituras, e os sentidos atentos para as nuances do mun-
do permite que se extraiam preciosas informações. Algumas dizem que
Bövrar II cometeu o impensável: compactuou com poderosos Selvagens
b 236 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
em troca de poder. Esses sobreviventes que escaparam das nossas santas
campanhas se esconderam nas sombras do mundo, e vez por outra, uti-
lizando de perspicácia, feitiçaria, ou sabe-se lá o que dominavam, passa-
ram despercebidos pela vigília altiva de nossos melhores homens. Como
Bövrar II entrou em contato com esses Selvagens, não se sabe, mas as
consequências desse encontro você logo ficará sabendo. Bövrar II se tor-
nou o dono dos conhecimentos proibidos e desconhecidos dos Selvagens,
realizando cultos e rituais ancestrais nas mais profundas catacumbas.
Algum tempo depois, alguns dos mais próximos de Bövrar II passaram
a participar desses malditos rituais, compactuando com seus horrores
indizíveis... E, num intervalo de tempo já desconhecido, as maldades rea-
lizadas começaram a se espalhar pelos porões e adegas da cidade. Logo,
como uma peste maldita, disseminou-se pelos assentamentos e vilarejos de
bons homens e mulheres – os mesmos construídos com tanto sangue e sa-
crifício pelos santos guerreiros que tombaram durante a era da Revelação.
E, aconteceu assim: as pessoas que tiveram contato com aqueles rituais
e libações macabras não sabiam do poder, não sabiam da sutileza das
artes dos Selvagens. Logo, as coisas saíram de controle e adquiriram um
ar sombrio, porém perturbador: enquanto Bövrar II detinha o conheci-
mento proibido para extrair poder dos rituais, seus seguidores não com-
preendiam aquelas atividades malditas. Era como uma doença, uma pra-
ga febril e histérica que possuiu e consumiu a mente dessas pessoas: logo,
cada uma se julgou como dona das capacidades para decifrar os ritos, e,
tal como fogo se espalha na palha seca, seus pensamentos se tornaram
irracionais e bestiais, e a prática desses ritos proibidos perdeu seu nefasto
significado – qualquer que tenha sido – e saiu dos abismos de Bövrar
II. Talvez ele nunca tenha conhecido até que distâncias essa maldade se
espalhou... Mas todos os assentamentos foram tocados por essa sombra.
b 237 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
A histeria de cada um que se julgava conhecedor dos verdadeiros pode-
res negros os impelia para cada vez mais longe, de forma que pudessem
realizar suas ações fora do alcance das mãos sórdidas de Bövrar II – e
também fora do alcance uns dos outros.
Você... Você se lembra de quando o Pai desceu ao mundo dos homens
para nos guiar? Talvez tenha ouvido isso daquela sua mesma ama de lei-
te, talvez tenha ouvido por infindáveis noites sobre a satisfação e amor do
Criador, e como ele se orgulha do que fizemos e nos tornamos. Pois essa
é uma bela de uma mentira! Você quer saber o por quê dele ter vindo até
nós? O Único veio até nós com medo! Sim, medo! Não desvie o seu olhar...
Ele veio com medo, o medo de alguém desesperado para evitar que seu
erro se repetisse... O mesmo erro que ele cometeu ao criar os Selvagens!
Estávamos prestes a nos tornar aquilo que deveríamos destruir, aquilo
que deveríamos ter destruído... Mas, foi sob a direção do Pai que pude-
mos retornar ao caminho dos Puros. Sob a direção dos Três Eleitos por
Ele, pudemos encontrar os rastros de corrupção original e acabar com
ela. Porém, como fomos tolos! Como nos desviamos, como não percebe-
mos as sementes que Bövrar II plantou no solo abaixo de nós! O solo que
conquistamos com tanto esforço, pelo qual lutamos tanto e tantos mor-
reram! Essa semente de horror demorou muito tempo para germinar, ela
se alimentou de nossa ignorância, se fortaleceu de nossos medos, e logo
floresceu. Os frutos que se originaram são fartos, estão tão espalhados
quanto encrustados na nossa sociedade... São sombrios e venenosos, car-
regando ainda resquícios dos selvagens dos primeiros tempos.
Enquanto os homens se voltam para o Portão do Leão, na vã luta contra
os Negros de Belghor, ninguém percebe a guerra que travamos aqui. Seja
nos amplos salões da corte, nos vastos campos de batalha repletos de aves
b 238 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
carniceiras, ou mesmo nos corredores de capelas como esta onde estamos,
nós somos os responsáveis por dormir sempre com um dos olhos abertos!
É muito arriscado confiar nos outros, poucos são aqueles em que pode-
mos descansar nossos cansados corações... Dizem que a terceira vinda
do Criador está próxima; ora, eu mesmo interpretei os sinais e as antigas
parábolas, e posso lhe assegurar com todas as forças que tenho, criança:
ninguém, escute bem, ninguém virá. Nós estamos completamente sozi-
nhos! Selvagens ainda dormem nas sombras dos ermos, sendo louvados
em segredo, sob a escuridão avassaladora das noites sem lua; a guerra
bate à porta das castelanias, e ela pode estourar a qualquer momento.
Não adianta dirigir os olhos para os céus em prece, criança! Ninguém irá
lhe escutar... O Criador está morto!
- Palavras de Ratramnus, Bispo de Virka, ao Neófito Haskel,
na Capela do Deicídio.

b 239 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

b 240 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Innominatus
b O Conto dos Anos b

Aqui estão as páginas negras que pe rte ncem


ape-
nas aos olhos daquele tocado pela Luz. Os ca
rac-
teres que se seguem foram trazidos da pura Tr
eva.
Aqui se encontra o limiar do pecado e da purif
ica-
ção. Aqui se encontra a beira do abismo.
go,
Tal qual o espelho reflete o teu olhar torpe e va
o fosso da Alcova reflete o que existe de pior, ou
ve
mais verdadeiro, na carcaça ter rena. O selo de
o
se r quebrado apenas pelo portador do limiar,
be
que caminhou com o sol e a lua e mesmo ele sa
es-
do caminho tortuoso que se seguirá. Adiante
tão os seg redos escondidos por gerações.
Homens dedicaram suas vidas a descob rir uma fagulha
do que aqui é aprese ntado, seus nomes estão citados
e saiba tu, ó Iluminado, que foram postos ao descanso
para que jamais tal conhecimento pudesse escapar de
teus olhos. Toda prudência ainda seria pouca.

Queb ra o selo e desvenda aquilo que só tu, ó Abimaleque,


pode encarar. Todos aqueles que reuniram tais sabe res
foram postos para o descanso junto ao Criador, estas pá-
ginas tortas e proibidas estão aqui apenas para ti.

b 241 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
A Verdade sob re a
Mentira do Mundo
Como levantado por Nahik

Quando, em 905 DA, é acreditado que a Sombra


trouxe de volta o sangue dos Bövrar para reinar
em Belghor, o que temos é uma meia verdade. Ne-
nhum corpo ergueu-se da tumba, nenhum cadáver
caminhou e regeu o povo. A Belghor daquele tempo
era um lugar singelo, de campos e sem senhores,
um lugar que foi dominado com facilidade ao ser
visitado pelo homem santo que caminhou ao lado
do Criador. Um dos Puros, aquele que teve o seu
nome apagado das escrituras, não entrou no vale
quando veio o Pai; ele veio antes, veio armado do
conhecimento de treva e luz e aqui fez seu local de
culto. Ele, que receberia tantos nomes, mas nunca
o seu verdadeiro, nós chamamos de Eleito Negro,
num período ante rior a existência do próp rio Tri-
bunal. Portando a sabedoria de Bövrar II e os en-
sinamentos que ouviu do próp rio Criador,
o Escurecido tomou o vale para si, usando-o como
um grande caldeirão para remexer seu
próp rio feitiço de dominação.
b 242 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b

a
A Língua de Bövrar II

Sempre é dito que Bövrar tinha uma língua de prata, capaz de convencer qualquer pessoa a apoiar o seu lado
em qualquer contenda. Não se comenta sobre livros e tomos trazidos pelo Eleito Negro, mas que ele carre-
gava a mesma capacidade de convencer e argumentar que o antigo rei possuía. Dessa maneira, é acreditado
que o Eleito Negro possuía a língua de Bövrar, encontrada no antigo túmulo do rei e arrancada do corpo
esquelético, subtituindo pela sua própria. Se essa língua sobreviveu antes, por que não sobreviveria agora?

Ele identificou a presença da Somb ra e com ela se deitou.


Desse modo o coração daqueles primeiros foi tornado negro e a cor-
rupção se espalhou pelo vale. O restante da história é de conheci-
mentos dos incultos, quando, muitos anos depois, o Criador apon-
tou a direção para o inimigo e então seus escolhidos marcharam
contra o vale, iniciando a busca que demoraria anos para se con-
cretizar. Mas a primeira vitória, a própria morte do Criador, veio
logo cedo. Foi uma vitória, pois em seu sacrifício, o Pai de Todos
lançou uma verdadeira proteção por sobre o mundo, impedindo a
Somb ra de agir livremente, diretamente, contra os mortais. O
fragmento abaixo foi encontrado em uma velha biblioteca abando-
nada entre as cidades arruinadas de Braden e foi escrito por um
homem vacilante, perto da morte, chamado César. É possível per-
ceber sua loucura permeando as páginas,
mas ele fala sobre verdades.
b 243 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
O Manuscrito de César b Belregard b

Penso eu que vivemos em um mundo fadado ao abandono.


Posso ser queimado vivo por escrever tais palavras, mas o que se pode esperar
de um homem da minha idade? Estou cansado e sinto uma pontada de vergonha
a cada vez em que digo as palavras Criador, Pai, Altíssimo, Deus, Senhor,
Único ou qualquer outro título que os homens deem a maior ilusão já contada.
Do que valem nossas vidas se não existirá qualquer compensação no além, no que
vem depois? Se, como eu penso, nosso Pai jaz morto, do que nos vale preservar
uma civilidade construída em torno de um cadáver? Mesmo agora, descrente e
confuso de tudo aquilo em que passei a vida acreditando, sinto como se os olhos
do Criador estivessem sobre os meus ombros, vigiando em silêncio, esperando que
eu me vire para fitá-Lo de volta. Eu já encontrei estes olhos antes e é apenas por
isso que ainda não dei cabo de minha vida, eu mesmo. Não me lembro quando foi,
ou sequer onde eu estava, mas eu tive a revelação e agora a transmito para este
pedaço de papel, tão caro para os vulgares, tal qual suas almas devem ser para
a Sombra Viva que a todos consumirá.

Os Arautos...

A referência mais antiga ao termo Arauto vem das primeiras escrituras que
sucederam os escritos de Morovan, o Velho, dentro da Litania. Algumas vezes
chamados de Guardiões, outras vezes de Angelorum, os Arautos auxiliaram o
Criador na ordenação de todas as coisas. Seus nomes costumam ser citados den-
tro de louvores e orações. Grandes homens de Belregard diziam-se iluminados
pelos Angelorum, como foi o caso de Leoric, o Puro do caminho guerreiro que
tinha como seu patrono pessoal Belik, o segundo em comando,
o Mão Direita do Criador.

b 244 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b

Tais Guardiões formam um grupo de 26 figuras distintas, cada qual com sua devida
atribuição, de Alik à Zhomik. Os Arautos surgem no imaginário de todos os mortais,
do rei ao criminoso, aos quais todos pedem ajuda e auxílio, como se tais figuras fossem
intermediárias dos vulgares, dos leigos, entre estes e o Criador.

É nos ensinado, pelas sagradas escrituras, que o Criador depositou em todos nós a cha-
ma celeste, que nos tornou senhores do mundo. Esta essência não veio apenas do Pai, mas
de todos os seus Angelorum. Cada um deles emprestou a força motriz da criação para
que o Único pudesse nos tirar das sombras da ignorância, como as Crianças Cinzentas
que éramos, e nos fizesse abrir os olhos para as glórias e para as tragédias. Sim, porque
o Pai não nos fez perfeitos, ou pelo menos não conseguiu que fôssemos. Possam os sacer-
dotes acima de mim jamais lerem tais palavras, mas Deus nunca foi perfeito.
Ele errou antes e errou depois, com os Selvagens e conosco. Sei que nem mesmo nos seus
Angelorum ele pode confiar plenamente. Prova do que eu digo pode ser confirmada
quando é impossível encontrar o nome do vigésimo quarto Arauto. Por quê?

A única coisa que sabemos sobre este proscrito, é que sua posição entre as hostes divinas
era a de Mão Esquerda do Criador. Sou levado a crer que o vigésimo quarto fora um
traidor. A sombra Viva, o Inimigo a que todos nós aprendemos a temer e odiar, foi um
dos filhos pródigos do Criador, um ser que existe antes do tempo, cria da pura von-
tade de Deus. Foi ela quem colocou a semente da dúvida no coração mortal. Ela quem
preparou o caminho, que foi longo, para a vitória. Sim, sua vitória. O mundo de hoje,
esta Belregard, nada mais é do que o símbolo da vitória da Sombra. E por isso que
me coloco com toda esta descrença perante o que pode vir quando meu coração parar de
bater. O que será de mim? O que foi dos que vieram antes? Sinto em meus ossos que não
demorarei a descobrir.

b 245 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
Veio então a morte do Criador. Ou pelo menos o abandono de seu corpo mortal. Acredi-
tamos que estávamos livres dos pecados mundanos e espirituais, mas a vinda do Cria-
dor, durante a Era do Sangue, fez com que o Inimigo seguisse seus passos. Todos nós
conhecemos essa história. A verdade, porém, é outra. Por mais de uma vez deparei-me
com textos que relatavam encontros saídos de sonhos e pesadelos. Homens simples e pode-
rosos diziam-se capazes de enxergar dois mundos distintos, o mundano e o Outro. Com
a vinda da Sombra, tais mundos pareciam entrar em colisão e foi, no intuito de impedir
esta catástrofe, que o Criador se sacrificou, formando um firmamento, um bloqueio, um
verdadeiro escudo para que todos pudéssemos viver longe das malícias da Sombra. Ele
errou novamente. O Inimigo não tem pressa, ele aguardou e venceu.

Pego-me rindo do destino...

Ao longo de nossa história, muitos homens e mulheres se destacaram. Foram verda-


deiros campeões em suas causas. O observador atento irá perceber que a grande maioria
destes iluminados recebeu um fim trágico. Não é preciso procurar muito. Tome o exemplo
dos Puros Alec, Leoric e Lazlo, todos mortos de forma terrível, desacreditados e
caçados. Anos depois, seus nomes tornaram a ser enaltecidos, mas nada pode mudar
o passado. A isso, eu atribuo a vigilância do Inimigo. Tais figuras conseguiram, de
alguma forma, fazer arder e queimar a chama deixada pelo Pai e, assim, tornaram-se
capazes de enxergar a verdade. Passam a compreender a quem o mundo pertence e, caso
não enlouqueçam com a ideia, veem-se cercados pela Sombra, tendo a escolha de lutar, a
vida toda, uma luta covarde, ou se entregarem a perdição.

Agora eu percebo que minha própria vida está marcada por tal escolha. Não sou nobre
ou forte o bastante para mudar a vida de muitos, mas sinto que este escrito - é a minha
espada erguida contra a escuridão. Posso eu próprio, um simples prelado, ser um
Arauto? Mesmo velho e carcomido, a ideia me faz sorrir e aquece o peito junto do vinho.

b 246 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
Talvez seja apenas o meu ego, a Provação da Luxúria
me tentando. Não posso me
deixar levar por Arshma e seus encantos da carne e do
saber. Em pensar que a pró-
pria figura do Ímpio, com seus chifres de bode, está rela
cionada ao momento em que eu
abri meus olhos. Exatamente quando presenciei a possessã
o do irmão Ítalo e fui lançado
contra a parede como um reles boneco de pano perante
a força daqueles que tem a vontade
roubada pela Sombra.

Talvez esta seja a chave...

Da mesma forma que tive meu corpo, minha alma e min


ha vontade esmagadas naque-
le dia, o Criador experimentou o mesmo no momento em
que deu seus primeiros passos
junto aos homens e viu como sua presença os machucava
, culminando em seu sacrifício.
Posso ter dito antes que Deus não é perfeito, mas não
existem dúvidas quanto a sua
benevolência. Talvez ele seja como uma criança ingênua
. Sejam verdadeiras ou não estas
minhas reflexões, sinto-me aliviado. Não descarto a idei
a de que sejam apenas devaneios
de minha mente cansada que, mesmo agarrando-se ao
ceticismo melancólico tenta manter
uma centelha de luz, mesmo que distante, me fazendo
acreditar
em heróis neste mundo de trevas.

Sinto que devo registrar estes pensamentos e reflexões.


Sinto-me compelido a apresentar
tal ideia desta maneira. Se este for o meu legado, pelo
qual serei lembrado, reverenciado
ou queimado, não sei dizer e pouco me importo. Sinto-m
e em paz, como se tivesse conden-
sado aqui a síntese de minha vida de reflexões, vendo o
mundo com os olhos que não são
apenas meus, mas também de toda a hoste sacra deixada
dentro
de mim pelo nosso Pai, nosso Deus morto.

b 247 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
a
César Está Certo?

O texto, apesar de confuso, dá cabo de explicar bem o que são os Arautos dentro de Belregard. Original-
mente foram os seres celestes que auxiliaram o Único, talvez suas primeiras criações. Estes Arautos, Guar-
diões ou Angelorum ainda tentam ajudar a humanidade. A Sombra de fato venceu. Ela realmente ganhou
Belregard para si, mas o sacrifício final do Criador cuidou para que ela jamais pudesse agir diretamente,
forçando-a a ser sutil e discreta, na forma deste escudo, essa película que separa o mundano do outro lado,
do sobrenatural. Em alguns lugares esta película é mais fina, frágil. Estes são os Ventres Negros, locais onde
a influência da Sombra é mais poderosa, normalmente relacionados a locais de assassinato, tragédia ou pac-
tos declarados. Para ter mais informações sobre os Arautos, leia o livro IV, sobre a narrativa em Belregard.

É com base no manuscrito de César que podemos


refletir sobre muitas das verdades desse mundo.
É com base nele que entendemos o papel dos Arau-
tos na história de gênese de Belregard e sua rela-
ção com a Fala Negra. O Deicídio e a vitória da
Sombra, o isolamento sofrido pelo mundo e mes-
mo os miasmas que corrompem os ares. Tudo está
relacionado. Se este homem falou sobre enganos, é
coincidência demais.

Os Grandes Arautos
Adendo ao manuscrito de César
revelado por Zavidh

É sabido que, no início de tudo, o Criador elegeu


Arautos para ajudar na criação e ordenação do
mundo. Estes Angelorum foram 26 no total:
b 248 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
ALIK, b
BEL IK, CALIK, D’ROLIK,
O Conto dos Anos b

ElIK, FOLIK, GALIK, HOLIK, I’AIK,


JOLIK, KOLIK, LIMIK, MIMIK,
NIMIK, O’IK, PALIK, QANIK,
RORIK, SAIK, T’OIK, ULIK,
VOLRIK, WAIMIK,
Y’MIK e ZHOMIK.

Apesar de seu número, um deles foi perdido e es-


quecido; não se recorda de como se chamava e
acredita-se que seu nome seja um tom de pode r.
Esses foram os nomes sagrados corrompidos para
criar a Fala Negra de Belghor. Utilizando-se dos
nomes desses seres antigos, que são palavras de
pode r, os corruptos criaram uma língua capaz de
distorcer o mundo. Mesmo essas páginas, que
abrigam todos os nomes, salvo um, pode conter
algum resquício deste pode r. Todo cuidado é ne-
cessário. Acreditamos, porém, que a ativação do
pode r nessas linhas necessita do nome do Arauto
que foi apagado, uma seme nte do mal, que faz re-
velar a magia dentro de todas as coisas, que tor-
na possível distorcer o que o Criador ordenou.

b 249 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
a
O Arauto Esquecido

É possível perceber que cada nome de Arauto inicia com uma letra do alfabeto, que corresponde ao alfabeto
da própria Fala Negra. A letra que falta é o X, de Xül. Xül é a Sombra. A Sombra Viva foi um Arauto que
atuou contra o Criador, mas por quê? Não sabemos. Perceba que os Arautos foram escolhidos pelo Criador,
isso pode significar que haviam outros. Mas que seres primevos eram estes, que compartilhavam um mo-
mento tão antigo da própria criação de tudo? Nosso trabalho, nesse momento, é dar mais perguntas que
respostas. O nome Xül é de conhecimento apenas dos cultistas mais poderosos e envolvidos nos segredos
do mundo. São pessoas que aprenderam a manipular a própria realidade, que são capazes de romper as
barreiras impostas por Deus, para limitar o poder da Sombra. Pronunciar seu nome é abrir um convite, abrir
uma rachadura no tecido da realidade. Um conhecimento que causa ciúmes naqueles que o possuem.

As Mulheres e a Magia

É sabido que desde os tempos de Morovan, o Velho, e antes, as mulheres eram deixadas em um papel de
segundo lugar dentro da sociedade. Quando as crianças cinzentas saíram do vale de Belghor, as mulheres
foram colocadas na posição de coletoras, de cuidadoras de crianças e serviçais das necessidades do homem.
O seu sangrar era visto como algo perigoso, que atraía os predadores das matas virgens. Isso tudo se explica
por uma simples emoção: o medo. Morovan sabia do poder das mulheres e sua ligação com as linhas de lei
do mundo. O primeiro profeta do criadorismo não queria ver o seu poder sendo contestado e somente no
reinado de Bövrar II é que elas assumiram de novo um papel de protagonistas dos rumos da história. Bövrar
não demorou a perceber essa ligação das mulheres com o mundo mais tênue do irreal e, dessa forma, apro-
ximou-se delas para descobrir os seus segredos. Essa relação das mulheres com o poder pode ser observada
nas sociedades que mantém seus cultos antigos, mesmo que em um sincretismo com o criadorismo, como
dos vihs, onde mulheres assumem o papel de babas, sábias conselheiras, feiticeiras e líderes. Às mulheres foi
reservado o poder do Único. Essa é uma verdade, mesmo que nenhum homem queira admitir. O Eleito lutará
a todo custo para que nenhuma mulher ocupe cadeiras do alto escalão do Tribunal, ele sabe o que isso repre-
sentaria. Brovar II só conseguiu seu espantoso poder ao observar e entender as mulheres. Muitos afirmam
que Alec, o Puro, teria sido uma mulher, mas teve seu sexo escondido para evitar mais alarde.

A Cated ral Inve rtida


Das anotações da pesquisa de Xantus

O Ciclo da Ausência é comentado com dúvida e


questioname nto entre os círculos eclesiásticos.
Ninguém sabe, nem mesmo o mais devoto lazlita,
quanto tempo ele durou.
b 250 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b

Fala-se sobre três meses, sobre três anos, até


mesmo sobre 30 anos, período de abandono an-
tes de vinda do Criador. A verdade incômoda,
no entanto, é a de que esse período nunca ter-
minou, depois de sua vinda ao mundo dos ho-
mens, o Criador jamais fez-se sentir através
de preces e louvores, nenhum sace rdote realizou
milagres, curou doenças ou purificou os mias-
mas do mundo. Não faltam exemplos na histó-
ria de homens que enlouqueceram nesse período.
Muitos acreditaram que esse era um pedido do
Criador, para que fizessem algo pra provar o seu
amor e devoção. Não existe, dentro da obra hu-
mana, maior prova do labor devoto que a cons-
trução de uma catedral. Um homem tentou
agradar ao Pai ergue ndo uma obra inigualável
e não a construiu para cima e sim para baixo.
Pensando em provar ao Criador que não temia
a próp ria Alcova Profana, a Catedral Inve rti-
da acessou lugares onde o homem jamais deve-
ria pisar e liber tou males que ainda infestam
os ares. Os miasmas tão nocivos, carregados de
pecado, não saíram apenas do fosso do

b 251 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

Cruenta Tributum de Virka. Não se sabe exata-


me nte onde está a Cated ral, mas existem os que
sussur ram sob re os seg redos enterrados em seus
salões profundos. Vlakin, o último imperador de
Virka, deixou escrito em seus diários, do pou-
co que sob rou da queda de sua tor re incendia-
da, que os salões estão, na verdade, espalhados
por Belregard, de modo que o grande trabalho da
vida do miste rioso constr utor da Cated ral, foi
fazer toda a ter ra de sua ofe renda.
Os registros sob re esse miste rioso constr utor
são encontrados em muitos
manuscritos apócrifos:

“Sem nome, pouca carne e ossos. O trabalhador fadado à loucura arrasta pedras, ergue toras
de madeira e molda o barro. Sozinho. Mantido por forças desconhecidas. Menos de um metro e
meio. Menos de cinquenta quilos. Mais de mil toneladas de pedras amontoadas e esculpidas há
mais de quinze quilômetros de qualquer montanha.
[...]Em sua entrada, uma pedra de onze toneladas move-se sutilmente. Em seu centro, um
obelisco com oito metros de altura e trinta e duas toneladas brota do solo, como uma estalactite.
Com a força da certeza do louvor, ele sempre afirmava: Esse local será palco de um grande
evento. Aqueles que possuem ligação com o mundo além do mundo, [...]Fímbria podem ser al-
cançados através dos seus corredores e salas.
Cada anel, cada medida, parecem contém magia e instruções supernas. Era sobre esse tipo de
magia geométrica que Lazlo tanto falou[...]
Seja como local de morada quando o Único voltar. Seja quando Leoric reunir os exércitos.
Seja quando a Sombra vir em sua forma carnal para a terra [...]A Catedral Invertida
será peça inseparável e indivisível”.

b 252 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b

O Terceiro Céu, os Textos de


Demiurgo e a
Queda do Império
Como colhido por Talamek, que viveu
entre os incultos

Muito se discute sobre o mundo além, sobre o


que existe na Abóbada Celeste e é notória a vi-
são distorcida que se prolifera em Vlakir, com os
ditames do Demiurgo, o rei que não se vê apenas
como profeta, mas como uma forma de Deus em
transcendência. As realidades são apenas parte
da verdade. Existe muito, muito mais. Tudo em
oculto.O primeiro céu foi rompido por Bövrar II.
O segundo céu por Vlakin VII e quem
romperá o terceiro céu?

O Único criou leis, forças espirituais que regem


o universo, tudo aquilo que existe nesse mundo e
nos outros. Essas leis são tão fortes que impõem
limites até em seu grande poder. Essas leis são
de conhecimento superno e carregam uma força de
gênese e de fim. Quando o primeiro céu foi rompi-
do, nas descobertas do segundo rei dos homens,
b 253 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

o Único começou a sang rar. Quando o segundo céu


foi rompido, no conhecimento adquirido pelo úl-
timo impe rador, o mundo se destruiu.

Quais serão as consequências da aber tura do


terceiro céu? Por bene volência e inge nuidade, o
Criador de tudo dividiu com Bövrar II a arqui-
tetura do mundo, apenas para se arrepende r ao
perce ber que a sede de conhecimento de tal homem
pode ria rasgar aquilo que fora tão
arduamente erigido.

Esses textos falam sobre conceitos que envolvem


estrelas, realidades, mundos e criaturas inomi-
náveis. Bövrar II cruzou conhecimento obtido
com o Pai com aquilo que a Horda sabia e viu
que o Criador não lhe contará tudo. Por um pla-
no ambicioso da Sombra, Bövrar II teve acesso a
mais do que lhe seria devido. Assim o primeiro
céu foi rompido. O Único começou a morrer, tendo
sua força esvaída aos poucos. Desde a aber tura
do primeiro céu até a vinda do Único ao mundo
dos homens, ele sang rou e se enfraqueceu.

b 254 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b

O mundo muda, mas os homens não. Vlakin foi


o grande impe rador e quis buscar segredos, queria
o pode r, sabedoria e prestígio conquistados por
Bövrar II. Reuniu o máximo de conhecimento,
sendo menos místico que Bövrar II e muito me-
nos respeitador para com as leis supremas, Vla-
kin queria desvelar os segredos. O segundo céu foi
rompido. O mundo se despedaçou. A próp ria queda
do império de Virka está relacionada a esse rom-
pime nto, acredita-se que Vlakin VII teve em suas
mãos o segredo da próp ria existência divina do
Criador, mas optou por entregar o mundo ao caos,
a uma nova Era de Sangue, por não suportar
essa verdade.
Vlakir fora erguida, sob a tutela de um ser miste-
rioso. Rei Demiurgo pode ria estar sendo coorde-
nado pelo quar to Puro? O Eleito Negro? Ou a reen-
carnação de Vlakin? Ou mesmo a reencarnação do
Único? Agentes do Rei foram enviados e muito
do conhecimento fora trazido. Textos nunca an-
tes vistos por Bövrar II ou Vlakin.

b 255 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
a
Futuro Incerto

Se Deus realmente morreu, talvez não haja esperança. Possivelmente é uma guerra perdida contra a Sombra,
mas quanto ainda existe de segredos? Quão talhado em pedra está o futuro? Que tipo de acontecimentos
aguardam para ser desvelados com os planos do Demiurgo tomando forma? Assim como o Abimaleque do
Hakan é um ser que busca os segredos do mundo, o Demiurgo domina sua própria forma de ver o oculto.
Quem está certo?

Textos sobre a construção da cidade que traria o po-


der divino e romperia definitivamente o véu que di-
vide o mortal do supe rno. A carne do espírito. O Co-
meço do Fim. Estes textos falam sobre um báculo de
ouro, cercado de 142 báculos de prata, enrolados en-
tão por 142 serpe ntes de bronze e tantas outras coi-
sas que só pode riam ser ente ndidas por alguém des-
prendido do mortal e instruído por um ser supe rno.

As Encar nações do Único


Da busca pelo menino do pé torto de Doru

A morte do Criador não é acreditada da mesma forma


dentro dos círculos místicos do mundo. Enquanto o
Tribunal defende a ideia de que Deus sacrificou ape-
nas a sua casca mortal, a verdade é muito mais cruel.

b 256 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b

O Criador se foi diante dos muros de Belghor, morto


pelos homens e coração corrompido pela Sombra. Em
seu sacrifício final lançou uma proteção ao mun-
do, mas talvez também tenha tentado garantir uma
continuidade para si nos ciclos da existência.
Quando a vulgata foi criada, os textos foram passa-
dos para o parlo simples e o conhecimento do que es-
tava registrado na Litania passou para os vulgares,
ainda que nobres, e discutiu-se sobre algumas tra-
duções de termos e passagens. Algumas dessas falam
sobre reencarnação e não só das almas puras dos
homens, mas também a do Pai.

Na famosa frase: “Pois Eu lhe guardo hoje, seja for-


te” defende-se que o correto seria “Pois Eu lhe guar-
dei ontem, guardo hoje e guardo amanhã, seja forte”.
Neste tempo, quando traduzido, a temporalidade
sobre ontem, hoje e amanhã não era clara e não ti-
nham palavras distintas. De acordo um grupo de
copistas Lazlitas, isso indica uma temporalidade
no poder do Criador. Defende-se que a fala “cíclica”
dessa abordagem faz uma referência com a possibili-
dade da reencarnação. Quando o Criador fala sobre
“levantar-se” ou “colocar-se de pé mais uma vez”, não
b 257 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b
a
A Volta do Criador?

Como já dito, as leis existem e todos, inclusive o Único, precisam respeitá-las. Mas isso não impede que ele
não possa encontrar meios de contorná-las. Para enfraquecer a Sombra, concedendo poder aos Arautos, o
Único se desfez de seu corpo físico, parando de gerar uma sombra física, confinando a Sombra ao mover de
títeres. Abrindo mão do poder centralizado e abraçando o poder germinado às centenas, Arautos possuem
poder do Único e alguns deles são, inevitavelmente, o próprio Criador reencarnado. Essa reencarnação não
possui plena consciência de onde veio e o que fará, mas sua trajetória mudará definitivamente o rumo do
mundo e das coisas. Dizem que algumas pessoas sabem sobre isso e caçam a encarnação derradeira do
Único. Seja para beber de sua sabedoria, para aprisioná-la ou para matá-la.

está falando em um sentido literal, mas sim no


de uma nova vida, depois da alma ter partido e re-
tornado em um novo corpo. Para esses estudiosos, o

tema está presente em mais de 348 passagens da Vul-


gada. Outra passagem de extrema discussão é quando
o Único fala no livro I: “Eu sou Árvore da Vida”. No-
vamente, por erro de tradução, concordância de nú-
mero, Ele diz ser árvore de vidas, indicando que ele
viveu várias eras e possui muitas vidas. Ou ainda
que Ele, por si, é a árvore que gera todas as vidas como
seus frutos? Ou talvez cada um de seus ramos seja
uma nova vida sendo vivida por uma alma antiga.
De fato, caso a suposição seja verdadeira, a casca que
carrega a alma do própria Criador poderia ser a fonte
mais pura do poder.

b 258 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
Anéis de Aprimoramento
e Teosofia
Do tratado dos mistérios das formas de Tarik

É assustador saber que haja uma guerra, uma ba-


talha sigilosa, espiritual, que coloca em aposta as
nossas vidas e a regência sobre as leis universais
supernas. Contextualizada como Guerra Oculta pelo
puro Lazlo, a Abóbada Celeste e a Alcova Profana lu-
tam pela regência divina, lutam por nossas vidas,
lutam pelo controle das leis que mantém tudo aquilo
que conhecemos e aquilo que nem sequer
sabemos de sua existência.

Como sabemos, o culto à Sombra é sigiloso, discreto


e envolve praticantes e não praticantes de magia.
Como também é sabido, as práticas externas
foram estudadas severamente por Bövrar II e este
conseguiu manipular parte do poder superior
através de suas mãos.

b 259 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Como também é sabb idoBelregard b
, as prátic as exte rnas
foram estudadas seve ramente por Bövrar II e este
conseguiu manipular par te do poder superior
através de suas mãos.

Que ríamos não usar os textos profanos da magia e


nos focar ape nas nos textos deixados por Lazlo, mas
vemos que para saber da verdade, é preciso nos apro-
fundar em ambos.

Primeiro vamos falar sob re a Me ntira. Lazlo desco-


briu sob re o fluxo das coisas, a Lei da Cor respondên-
cia e Primórdio. Com isso ele aprendeu que o poder,
a fé, a crença, desprendida pelos humanos segue em
fluxos incomp reensíveis até o Único. Ele desvendou
a Teoria Divino-Numérica, a forma como o mundo
fora construído e como as coisas funcionam. Mas
por infusão de ensinamentos sombrios, esse fluxo
alimenta a Sombra e seus Ímpios, esse é o poder da
Me ntira. E por isso ele aler ta sob re o sincretismo
nocivo e a infusão da profanidade naquilo que deve-
ria ser sacro. Logo, parece ser uma gue rra perdida, é
impossível separar aquilo que fora maculado daqui-
lo que ainda é puro. Alimentamos a Sombra, mesmo
que não seja a nossa vontade genuína.

b 260 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Agora falemos sob re os milagres e magias. Para o
b O Conto dos Anos b

Puro, o modo correto para alcançar o poder Sup remo,


sem causar danos à car ne e ao espírito, seria o de-
senvolvime nto dos Anéis do Aprimoramento. Com
eles seria possível ao devoto executar milagres, mes-
mo que sem consciência, pela fé e não pelo ego. Os
Anéis conseguem ser o extrato prático e racional do
caminho deixado por Leoric e o amor ensinado por
Alec. A soma de todos esse fatores faria do devoto
um Puro, alguém maior até dos que os Puros origi-
nais, alguém que ope raria milagres como os Grandes
Arautos, os seres de luz do Angelor um. Mas, como
o próp rio Lazlo queixa-se ao Único antes de par tir,
ele não encontrou um único seguidor que conseguisse
compree nde r plenamente os Anéis.

Do outro lado da moeda temos a teosofia, chamada


vulgarmente de Conhecime nto Bovratico, ou ape nas
Magia Bovratica, que consegue, através de esforços
psíquicos, concentração, meditação, geomancia,
numerologia, astrologia e outros, alcançar também
os conceitos da Teoria Divino-Numérica, entender
as escalas do mundo e seus algoritmos, manipulan-
do-os. Engana-se quem acredita que um é fácil e o
outro é tortuoso. Em ambos os lados é preciso
b 261 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

instrução racional, anos de dedicação e desp rendi-


mento, tortura da próp ria carne, negação da vida
corriqueira, foco absoluto e debr uço sobre as obras
escritas. A dife rença entre um e outro é basicamente
sua postura e a forma como os fins serão justificados.

Sendo simples, aquele que o faz pela fé, depe nde ainda
do Único para lhe conceder a realização de um ato so-
bre humano e milagroso. Aquele que o faz pela teosofia,
não depe nde disso. Mas, para isso, precisa de ajuda
de nomes, astros, ferramentas e alegorias, dragando ou
usurpando o devido lugar do Criador, se tornando seu
próp rio Deus, sendo tomado pelo ego para decidir por
si próp rio a realização ou não de um ato sobre huma-
no. Mas, assim como a adoração genuína é mistura-
da com mentiras, alegorias e obras da carne, a teosofia
também. Muitos dos tambores, sangue e rituais, são
alegorias sem sentido, sem pode r. São obras daqueles
que não possuem o real conhecimento, ou estão presos
em dogmas selvagens. E não saem impunes com seus
erros, atraindo também a Sombra.
b 262 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
Ambos são faces da mesma moeda, ambos enfre n-
tam os mesmos problemas. Como já dito, a real
dife rença é o aceitar ser ou não subjugado pela
vontade de uma força supe rior para lhe dar aqui-
lo que Ele crê como devido. Assim sendo, devotos
da teosofia creem, na sua maioria, na Sombra e
no Único como forças equivalentes. No fim, tudo
isso engloba o alcançar, comp reender e move r os
planos do espírito, tocando as leis universais e
através disso, realizar milagres ou feitiçaria, em
escalas assustadoras.

O Relato do Fim e Lazlo


Como colhido e debatido por Anerek

Um dos pupilos de Lazlo achou cinco longos textos


espalhados, viu que existia algo escondido e con-
seguiu extrair cinco passagens que se conectam.
Parece ter sido escrito pelo Puro, guiado pelo fata-
lismo do Criador, a previsão do fim próximo. Ele,
junto com outros, tentaram inte rpretar o que está
sendo falado. Conseguimos capturar um deles e ter
acesso à parte da inte rpretação.

b 263 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b Belregard b

Fugit et mortem erit in atria


semitis tutus non est
et incendia ubivis chaosium
omnis peregrinus sub oculum
Funem voluntatis in patibulo usque
manus ductor tuus omen dolore
manus tollere odium et laminis
in quo pater filio occidere
Regni novem reversus ut caligo oculis tuis,
sed non in infinitum itinere
Praelatus manu aut putridum
Et ad hoc bellum a sanguinis
Vacare fortitudo Domini in tenebris,
partium exteriorum animalium uti
cum filiis suis
et liberabit a feris convivium
Perpetrata et vero cruciaris ab tyrannus

b 264 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b O Conto dos Anos b
Natalis primogenitus mortuorum metuenda
puer ut nigri plus vulnerum
in excitatio non est finis
in solemnitate fera liberis non deerrare
Nigra et arva decadent
tenebris domini erubescere
sub tenebris rubrum caeli impetum
nisi quam electi fuerit forte repetendis

r- se d o te m po em qu e vivemos, mas
Penso trata Execuções?
em se ri a o ob se rva d or?
qu
Nove?
Precisamos ficar ate ntos aos sinais.
o
O E le i t o e
g ro?
A única coisa infinita neste mundo é E le i t o N e
o
desalento. A que se refere essa marcha?

O deme nte de Latza?


A volta dos selvage ns?

Um rei nascido mor to?

No fim, um recomeço?

b 265 b
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b

Tomo IV
Sacrum Codex

em vindo ao quarto tomo de Sendo assim, o narrador deve possuir uma postura bastante pe-
Belregard, caro leitor. Se che- culiar em Belregard. No lugar de grandes encenações, modulações
gou até aqui, imaginamos que de voz potentes e gestos expansivos, recomenda-se o oposto. Ges-
já tenha lido o ensejo e contexto tos comedidos, descrições profundas, cautela e uma fala pausada,
desse RPG, estamos certos? Não? Veio direto baixa, por vezes sussurrada. O objetivo é fazer com que a atmosfe-
ra isolacionista do pensamento das castelanias não seja apenas um
para as palavras finais por que pretender assu-
componente acessório ao jogo. A aparente monotonia emulada por
mir o manto de narrador? Está certo. Aqui você
meio da técnica narrativa expressa acima - possui por finalidade
encontrará considerações sobre como guiar um
fazer com que se vivencie um “tempo que não passa” e que uma
jogo em Belregard, o que ele precisa ter, o que
suposta ordem aparente é mantida.
não pode ter, que tipo de abordagens seriam
interessantes de colocar, quais evitar. No final Sobre o conceito de aparente monotonia é que o narra-
você conhecerá as regras pra colocar tudo isso dor temperará os cenários de Belregard. É justamente aí que
a Mentira, o elemento estruturante da Corrupção, o alimen-
em prática. Mas relaxe! Aceite esse rompante
to dos Ímpios e a antítese dos Puros, se apresenta. Não há or-
de bondade de nossa parte, caro leitor. Belre-
dem ou paz em Belregard, e é a Mentira que sustenta a aparente
gard é um lugar cruel, que não vai esperar quem
monotonia dos cenários.
não puder acompanhar.
Isso significa que toda sessão de jogo deve ser pensada como
O Flerte com o Medo é uma história de terror que vai lentamente apresentando os frag-
um Bailar Sutil mentos da grande trama que sustenta o enredo que se desenrola.
Ao narrar Belregard, tenha em mente que os E isto, caro leitor, deve ser administrado como um gradual envene-
jogadores e talvez você mesmo precisem ficar namento.
atentos aos mais vis detalhes que transformarão
paulatinamente aquilo que parecia hodierno e Pontas soltas, dúvidas, pistas dispersas e “coincidências” são
costumeiro em cruel e insuportável. Atente ao apresentadas durante as sessões de jogo, em cenas que podem ser
conceito paulatinamente, pois ele é fundamental. tomadas como costumeiras. Ainda que um choque, uma revelação
cruel seja tentadora, fazer como que cada jogador fabule em suas
O atravessar dos distintos livros que compõem mentes o que seria aquele mistério, que torna o simples abrir de
Belregard atesta que nada é evidente nesse mun- uma porta em virtude do som repetitivo que é emitido de dentro
do decadente. Ainda que todos respirem o mias- do recinto, são experiências mais acuradas ao clima que se pre-
ma pútrido da corrupção e os ventres negros es- tende emular. Afinal, busca-se inserir o jogador em um território
tejam por toda parte, a vida se faz sentir da roça narrativo denso, nublado, inseguro e desesperançoso. Apenas por
campesina à ostentação palaciana. meio disso teremos uma sessão imersiva de Belregard.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


b TOMO IV b
Logo, trabalhe com a sutileza. isto sempre que possível e trabalhe no sentido
de não tornar esse procedimento banal, já que o
A maldade não tem pressa e por vezes é caprichosa.
detalhe, as descrições, podem revelar segredos

O diabo está nos detalhes. soturnos.

A Descrição Minuciosa A Narrativa Lacunar


O narrador de Belregard possui um papel bas-
Jogadores e, sobretudo, narradores, possuem um desafio em
tante interessante. Ao mesmo tempo que preci-
Belregard: expor detalhes e minúcias das ações, do cenário e das
sa ser minucioso ao descrever o cenário, a nar-
experiências de forma geral, ainda que sejam meras reações a
rativa em si deve ser interrompida vez por outra
um determinado estímulo de cena. Chamamos isto de descrição
por meio de lacunas e lapsos que se prestam a
minuciosa.
gerar dúvida aos jogadores. E é essa dúvida que
Mas afinal, qual a razão desta advertência? Espera-se a descri- os aprisionará na jaula de medo de Belregard.
ção em um jogo narrativo, não é mesmo? Entenda, há algumas
justificativas que o farão compreender a importância da descri- Ensaie isto: imagine uma escaramuça, um
ção minuciosa em Belregard. combate que se vê ao longe entre um salteador
de estradas e um jovem camponês que carrega
O jogo emula em grande parte de seu cenário, a experiência seu ancinho e uma bolsa. O saqueador ameaça
da vida breve, comum e cotidiana dos personagens. Isso significa o camponês, xingamentos são ouvidos, então o
que a narrativa de Belregard gira em torno do que há nesse mun- camponês diz… O que ele diz mesmo? Bem, o
do, tal qual a literatura histórica ficcional tradicionalmente versa. que se sabe é que o ladrão correu de medo após
Bernard Cornwell, por exemplo, não se furta ao apresentar as ouvir aquelas palavras. O jovem camponês fica
agruras de uma viagem em um charco alagado, com botas pesa- os protagonistas e… O que houve? Eles acor-
das e furadas e insetos incomodando cada um dos personagens. dam com o orvalho do amanhecer seguinte.
Elementos como clima, temperatura e demais traços descritivos
não são meramente acessórios. E por quê? Experimente narrar qualquer cena em sua
mente visando omitir algo. Isso não precisa ser
Uma descrição minuciosa faz com que um jogador de Belregard fundamental à história, inclusive. Trabalhe com
compreenda que a experiência de vida de um humano em um ce- isso e atente à reação de cada um dos jogadores.
nário sem os confortos e benefícios da vida moderna tornam a Use suas conjecturas em jogo. Aquilo que mais
vida dos personagens um pouco fácil. E mais, ao descrever pelo temem é o que real por ali. Isto não é apenas um
ponto de vista dos viventes do cenário - como todo Belregard foi ato de concessão narrativa, mas uma meta clara
escrito, aliás - a imersão ocorrerá com muito mais fluidez. de design de Belregard. Afinal, o mundo deca-
dente se alimenta de mentira e de medo.
Mas como não tornar isso enfadonho? O primeiro passo é se
recordar que aqui não estamos em um livro, porém em um jogo A técnica da narrativa lacunar não deve ser
no qual a narrativa é compartilhada. Isto significa que a descri- banalizada, porém. Ela é um trunfo, um con-
ção minuciosa não é apenas algo que o narrador deve efetivar. traponto ao esperado, uma surpresa em um
Coloque cada jogador, ao interpretar seu personagem, no papel cenário. Logo, destine tal técnica a pontos de
de um escritor como Cornwell, trazendo a vida e a visão de mun- grande tensão, próximos ao clímax ou logo no
do de seu protagonista à tona por meio de sua interpretação. Faça princípio da sessão de jogo, a fim de que tudo

268
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
se torne turvo e confuso de começo. Faça com Gostamos de dividir Terror de Horror com uma definição sim-
que a mesma seja apenas compreendida durante ples: O Horror trava, paralisa, arranca sua sanidade e persona-
a campanha. lidade. O Terror te inspira, te impulsiona, te faz querer enfiar o
nariz onde não é chamado, atravessar a toca do coelho.
Uma possibilidade atraente ao narrador é con-
Observe, temos uma desestruturação de um Império consi-
dicionar a narrativa lacunar ao cumprimento de
requisitos do cenário de jogo. Este gatilho po- derado como glorioso e um passado turvo e cruel, baseado em

derá acionar ou não este modelo de narrativa submissão por violência de outros povos por uma justificativa

em uma cena específica. E não considere o “não política expansionista e religiosa. Temos vários exemplos em nos-

ver” como algo ruim, caro leitor. Não se esqueça sa história sobre processos assim, e esta foi uma das referências

que Belregard é um jogo de terror. Logo, narra- para que pensemos o jogo, ainda que o horizonte de Belregard

tivas lacunais podem até salvar personagens… não seja a Europa. Não apenas referências geográficas, mas as-
pectos étnico-culturais prestam-se a particularizar o cenário.

A narrativa lacunar pode ajudar a criar um


Mas afinal, por quê apresentar uma estrutura que pode ser par
ambiente errado, um ambiente onde existe um
à desestruturação do Império Persa ou Romano, por exemplo? O
clima perpétuo de que algo está fora do comum.
primeiro ponto que queremos tratar é a nostalgia. Houve um tem-
O terror não precisa ser colocado em foco, ele
po que foi construído como bom, ainda que necessariamente não
pode ser a aura do jogo. Pense em filmes como
o seja. Para além disso, a fragmentação territorial cria o conceito
o Bebê de Rosemary (1968) ou o mais recente
de isolamento e temor ante viagens, contato com outros. E por
A Bruxa (2015); são filmes que não exploram o
fim, uma vez que a escatologia é premente, não há expectativas
medo de forma descarada, focada em monstros
sobre o futuro. Daí, temos as cinzas deste mundo derrotado. Se
horrorosos, mas sim no clima, na aura que per-
facilitar, pense em Belregard como um mundo envolvido em um
petua toda a película, mostrando que existe algo
pós-apocalipse medieval, lambendo as próprias feridas e tentan-
de muito errado acontecendo naquele lugar, por
do se reestruturar, e nesse processo, o mais ambicioso, ou aquele
mais que todos forcem uma vida cotidiana co-
com maior conhecimento, pode tirar vantagens.
mum.
Belregard não é um jogo de exploração, neste sentido. É um
• Sobre o que é este jogo? jogo de terror, normalmente voltado à uma escala pequena, uma
Como criar personagens e his- vila, uma família, uma circunstância. É claro que explorar uma
tórias em Belregard Casa de Luz, abrir uma nova rota comercial, decifrar um tomo
Belregard é um jogo de terror, antes de mais antigo ou eventualmente matar um cultista podem ser objetivos
nada. Não, ele não é um jogo de fantasia medie- dos cenários. Entretanto, o narrador deve ter em mente que o
val. Durante todos os Tomos tratamos de deixar objetivo daquela narrativa não é algo heróico, quiçá para adquirir
claro que os elementos sobrenaturais são dúbios honra, tesouros ou glória. Por vezes aquilo é dado de forma de-
e subjetivos, sendo o flerte com o desconheci- sesperançosa, sem outra escolha, por puro acaso ou pior, a fim de
do e a incerteza sobre o outro o fio condutor aumentar a corrupção do mundo. O cerne de todas as experiên-
para que entendamos a experiência central de cias de jogo é algo triste. Este é um jogo sobre tragédia e terror
Belregard. medieval. Simples assim.

269
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Estes são os conceitos que devem estar mente de todos joga- história é algo importante para que o narrador
dores, e não apenas do narrador de Belregard: tristeza, cruelda- tenha em mente.
de humana, escolhas difíceis, fetiches, doença, fé, melancolia,
sujeira, sofrimento, violência, deturpação, corrupção, loucura, De porte desse procedimento, o narrador deve

sangue, traição, umidade, insegurança, etiqueta, prazer, brutali- se questionar: “qual é ou quais são as provas da

dade, sombras, névoa, pecado, podridão, dúvida, mentira, sobre- ação da Sombra Viva nesse cenário?” Depois de

vivência, dor, excrementos, sexo, pompa, ocultismo e melancolia. responder isso, agora a questão deve ser: “qual

Sempre tenha em mente estas palavras ao jogar Belregard, elas é a Mentira que suporta esta manifestação?”.

guiaram toda a escrita deste jogo e recomendamos a todos que Isso mesmo, o narrador deve se recordar que a
desejam narrar que escolham ao menos 3 e não mais que 5 destes Sombra Viva não é manifesta, ela é sutil, age
conceitos para construírem seus cenários. Os demais jogadores, por debaixo do tablado, sob o tecido narrativo.
ao criarem os seus personagens, devem também ter em mente E é uma grande mentira, um véu jogado sobre
estes conceitos para tratarem seus históricos. Como sugestão, os a verdade, que permite que a ação da Sombra e
jogadores podem anotar estes conceitos em pequenos bilhetes e, o arrefecimento da sociedade, nutrindo os Ven-
antes de decidirem qualquer elemento do jogo, podem sortear 2 tres Negros. Por exemplo, podemos pensar que
ou 3 conceitos, sendo eles a base para a criação dos protagonistas camponeses estão erguendo suas armas contra
do jogo. Um dos jogadores poderá ter os conceitos excrementos os donos das terras e com isso há uma sucessão
e sexo, podendo indicar que é responsável pela limpeza das latri- de massacres feitos pelos mais nobres em uma
nas de um prostíbulo, enquanto outro jogador sorteará umidade dada castelania. Os camponeses são fechados e
e podridão, revelando seu estranho hábito de observar com certo desconfiados e os personagens trabalham para
prazer os corpos de animais e de alguns homens assassinados que o nobre. Então o narrador considera-o sádico e
apodrecem no pântano da castelania. Esse é o tipo de persona- insano, promovendo estes massacres de forma
gem que Belregard abriga. cruel, normalmente praticando sequestros de
crianças e como catalisadores da revolta dos
O objetivo do jogo é prosaico: viver de forma hodierna em um camponeses. Mas os jogadores não sabem disso
mundo decadente. Sim, exatamente isto. Não se buscam gran- no início do cenário. Eles, ao trabalharem para
des viagens, grandes relações inter-castelanias, guerras mundiais, o nobre, estarão vendo o cenário sob o véu da
missões de salvamento. Grande parte da sociedade já assumiu o Mentira e alimentando o Ventre Negro.
fim dos tempos como algo inevitável, cabendo a cada um não re-
sistir a isto, mas resignar-se e ocupar seu lugar nessa espiral até o Uma simples ação de aplicação de taxas e
fim de tudo. E é aqui que o narrador entra. Cabe a ele mostrar que ação de repressão às revoltas campesinas - algo
não há nada cotidiano em um mundo já maculado com o miasma comum - está alicerçado em algo que dialoga
da Sombra Viva inalado por cada vivente em Belregard. com os conceitos: crueldade, violência e ocultis-
mo. E acima de tudo: A MENTIRA. Mas aí está
Assim sendo, o comportamento brutal dos coadjuvantes, seitas um dos trunfos de Belregard: não há moralidade
que se proliferam, superstições que fazem com que mães sacri- esperada às sessões de jogo.
fiquem seus filhos, intrigas entre nobres e até aumento de brigas
em tavernas alimentam os Ventres Negros, uma espécie de ponto Não é esperado aos cenários que haja uma
de convergência para a Corrupção. Ainda que o Ventre Negro necessidade em haver um enfoque investigati-
seja puramente subjetivo - ele não precisa aparecer no cenário -, vo. Os jogadores podem compreender a Mentira
pensar nele como o ponto inicial para o desenvolvimento de uma no meio do cenário e, mesmo assim, seguir em

270
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
frente. Ou ainda, apenas terão acesso a ela ao criados traumas em uma mesa de jogo. Logo, caso a crueldade e
término do cenário, recebendo todas as con- a violência sejam temas sensíveis e um jogador indicar que não
sequências relativas à Corrupção de uma vez, deseja ter acesso a descrições detalhadas de torturas, todos os
tal qual o desfecho trágico de uma história de jogadores deverão utilizar figuras de linguagem para tratar estes
terror. Não cabe ao narrador recompensar ações pontos. Cabe sempre àquele que indicou o limite apontar quando
ordeiras. As escolhas serão sempre difíceis e ele está sendo tocado, e todos os demais jogadores devem respei-
não há necessidade alguma de concluir um ce- tar isso, cabendo até a interrupção de uma sessão de jogo pela
nário de forma fabulesca, com uma suposta mo- recorrência do tema.
ral da história.
Dessa conversa inicial teremos um acordo prévio entre os parti-
No caso acima, um grupo de jogo pode se cipantes. Como se trata de um acordo, por aqui todos serão igual-
aproveitar do massacre para ganhar mais prestí- mente tratados. Ainda que possa haver uma certa prioridade nar-
gio junto à castelania, pressionar a população e rativa ao narrador durante as sessões de jogo, isso não se aplica
adquirir vantagens de ambos os lados. E eles po- neste momento. Todos devem ser francos ao expor seus limites e
dem se sublevar ante ao que se apresenta e exe- expectativas ao jogar Belregard. Sim, o RPG é um entretenimen-
cutar o nobre insano, a fim de que eles próprios to, mas isso não significa que deva ser conduzido de qualquer
assumam a posição tirana. Ambas são opções jeito. Por isso escrevemos as palavras a seguir.
alinhadas à experiência proposta por Belregard,
mas é necessário falar um pouco sobre matu- Não use Belregard para afetar, pressionar, oprimir ou violentar

ridade e segurança, conceitos igualmente fun- outros jogadores. Infelizmente sabemos que em mesas de RPG

damentais para o desenvolvimento de qualquer pode-se utilizar o cenário e a ficção partilhada como um vetor

sessão de jogo em Belregard. para atacar outros jogadores. E esse procedimento é mais comum
pelos narradores. Logo, tenha em mente que esta ficção não foi
• Mantendo a segurança produzida no intuito de ser um veículo para uma ação torpe dos
O Lampião Game Studio preconiza a seguran- jogadores. Não é porque um personagem é agressivo que isto sig-
ça em todos os jogos, e essa é pedra angular de nifica que deve ter uma interpretação agressiva e que deva in-
nossas produções. A despeito de já termos tra- timidar outro jogador. E não use desculpas narrativas inerentes
tado desse tema em outros RPGs, em Belregard ao cenário para justificar uma atitude violenta e descabida aos
isso é fundamental. Assim sendo, não considere demais. Belregard é um mundo cruel, mas o jogo não o é. E o jogo
esta seção um acessório, algo a ser ignorado. é um momento de partilha ficcional que apenas se realiza quando
Ela apenas se encontra nesta parte do livro em os participantes são partícipes ativos do que é produzido coleti-
virtude da organização por Tomos ingame pre- vamente. Caso contrário temos violência e tortura psicológica, e
tendida pelos autores. Contudo, tratar a segu- não é isso que o Lampião Game Studio defende.
rança em um jogo de terror como este é algo por
demais importante. Belregard é um mundo muito complicado, no qual há violência
simbólica e física e que por vezes isso se legitima pela Fé do
Antes de qualquer procedimento de jogo, con- Único. Mas isso não justifica qualquer agressão à gênero, etnia
verse sobre os conceitos estruturantes de Belre- ou crença dos jogadores. Use Belregard para tratar a diversidade
gard com todos os jogadores. Caso haja em al- - lembre-se que há mulheres, etnias diversas, orientações sexuais
gum deles um limite pessoal, exclua-o ou trate-o amplas a serem tratadas - em um mundo no qual as margens de
de forma metafórica, a fim de que não sejam ação fora do que é considerado normal são pequenas. Aliás, não

271
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
vivemos em um mundo muito distinto disso, não é mesmo? Bel- Um dos motivos para isso é óbvio: o isola-
regard não é um jogo sobre denúncia ante a crueldade de nosso mento. Será difícil emular a suspeição ao alheio
mundo, mas, no lugar de ser usado como algo a legitimar as cli- em uma proposta de grandes contatos, viagens
vagens sociais, deve ser visto como um ponto de inflexão sobre e intersecções. Nem mesmo Varning, o enclave
este problema, servindo como reflexão aos jogadores. Novamen- cosmopolita em Belregard é um ponto realmen-
te, não use o cenário para justificar desmedidas de sua parte ou te de difusão de grandes jornadas. Mas ao lado
dos demais jogadores. do isolamento social que se apresenta enquanto
ponto central para a compreensão da mentali-
Durante os jogos, fique atento a reação de cada jogador. Co- dade da população, temos outros motivos para
mentaremos mais sobre isso quando falarmos sobre o narrador, tratar a experiência de Belregard como algo ini-
mas fique atento aos sinais de desconforto ou de prazer sádico cialmente, e talvez sempre, pequeno.
que podem aparecer durante as sessões. Ao conhecermos nossos
amigos, podemos saber quando eles não se encontram confortá- Tratar da vida comum, das terras cultivadas
veis ao ouvirem algo. Não confunda isso com o medo esperado pelos camponeses, do cotidiano de uma comu-
durante a narrativa, mas atente a alguns sinais quando algo des- nidade ribeirinha ou da forja de uma ferreiro é
medido é comentado. Por vezes a pessoa que está desconfortável fazer com que a imersão à proposta seja mais
ou oprimida ante uma ação de outro jogador, não revela isso com precisamente vivenciada por todos na mesa de
clareza e se contrai. Cabe aos demais jogadores ficarem vigilantes jogo. Ainda que estejamos falando de cortes, a
a isso e garantirem que todos terão uma experiência de terror ideia em Belregard não é apresentar fenômenos
intensa, porém não traumatizante. que interrompam a vida comum dos persona-
gens. Pelo contrário, é indicar que o cotidiano
E por fim, sempre converse com todos jogadores ao término é sustentado por vezes por uma rede de ações
da sessão de jogo. Essa conversa serve a “sair do espaço lúdico” corrompidas. Mas isso também pode ser ape-
e é fundamental para que o jogo termine. Temas sensíveis são nas um blefe do narrador: a Sombra pode não
tratados em Belregard e eles devem ser fechados por ali, naquele ter sido manifestada naquele local, e realmente
assunto. Não leve as sessões de jogo para seu dia a dia e rume o que pode estar acontecendo é apenas fruto
para outras conversas mais leves e descontraídas ao término des- de histeria coletiva nutrida por superstições e
se bate papo. Belregard é um mundo derrotado e em cinzas, e boatos.
não a relação entre vocês, jogadores. A integridade de cada um
e o convívio durante os jogos é fundamental, inclusive para o O impacto do terror e do horror, no pequeno,
prosseguimento das sessões de jogo, ou seja, para a criação de acaba sendo muito maior. Reverbera com mais

campanhas. força a revelação final de um Ventre Negro cor-


rompendo as crianças de um vilarejo, ou o re-
• Comece Pequeno torno de uma bruxa que foi queimada pelos avós
Tudo começa em uma casa, em uma praça, em torno de uma dos que estão vivos. Quando se usa o grande, o
singela vida, em torno de um poço, às margens de um ribeirão. macro, esses pontos perdem força. Lembre-se
Uma típica campanha de Belregard se inicia em um perímetro de fugir de Star Wars. Não precisamos de um
pequeno. Será um tanto raro pensar em um cenário que jogue planeta de floresta, um de deserto e um de mar,
os protagonistas face a face com algo maior, mesmo quando há isso tudo cabe no mesmo mundo, muito disso
nobres envolvidos. pode caber na mesma região.

272
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Mesmo que os jogadores sejam cavaleiros descritas para começar e lance seus personagens lá, veja como
mercantes e estejam acostumados a atravessar eles entrelaçam seus próprios conceitos aos locais. Coloque o
as sempre temidas estradas em ruínas do outro- guerreiro como membro da guarda, o sábio como bibliotecário
ra forte Império de Virka, apresentar um cená- local, deixe-os fazer parte deste cenários, deixe-os contribuir com
rio que trate de uma entrega curta, um cortejo essa criação. O mesmo vale se preferir utilizar um local criado
simples ou a passagem de alguns dias em uma para o jogo. Existem outras vilas, cidades, que não foram pon-
determinada aldeia é preferível à grandes jorna- tuadas e esta é outra oportunidade de criação. Crie em conjunto.
das. O que estamos querendo tratar aqui é que Quem é o lorde local? Ele é severo? Cruel? Bondoso? Quem co-
essa restrição espacial - e até temporal - serve a manda a guarda, ou a milícia? Quem é o padre responsável? Ele
particularizar e intensificar o medo. é um homem de fé ou um corrupto que se aproveita dos segredos
contados no confessionário?
Ao pensarmos em particularizar estamos
afirmando que há certo pertencimento àquele • O Isolamento por si só:
ambiente. Logo, de alguma forma o flerte com a Belregard é uma terra que compartilha apenas a religião, a fé
Mentira é dado. Cada jogador detém uma razão do Criador, como argamassa para unir seus povos. Desde a queda
particular para estar ali e compreender aquele do império, o isolamento faz-se sentir por todos os cantos des-
palmo de mundo por meio de seus olhos, ouvi- tas terras, pouco a pouco menos civilizadas. Esse sentimento de
dos, mente e instinto. Já ao tratarmos da intensi- abandono é causado por inúmeros motivos diferentes, que muitas
ficação do medo, tratamos de nos ater a descri- vezes podem até mesmo se contradizer para colocar os homens
ções que passem da estranheza ao ouvir o som impotentes em seus lugares, sem fazerem o esforço mínimo para
do brandir do metal até tão tarde, revelando a comungar com seus vizinhos. A maior parte das pessoas passa
obstinação do ferreiro que emite um grito de dor suas vidas inteiras no lugar onde nasceram. Nascem, crescem
ao término da jornada todos os dias. Caso haja e morrem sem ter colocado o pé na estrada, sem ter a menor
uma grande cidade ou interesses maiores, essa ideia do que pode existir do outro lado do lago, da floresta ou
que seria uma cena fundamental a um cenário da montanha. Mesmo os mercadores, que se esforçam para fazer
passaria despercebida por todos os jogadores. suas trocas, ou ganhar algumas moedas, não costumam ir muito
longe, sempre acompanhados de outros, corajosos ou loucos, por
Como metáfora, orientamos o narrador a ma- proteção.
nipular a agulha da narrativa do terror, por hora
tocando a pele frágil da certeza de cada um O Isolamento de Belregard pode ser sentido por motivos na-
dos protagonistas. Eles se debaterão, rasgarão turais, de tempo, de clima, também motivos políticos, guerras
a própria carne ao não suportar, e aumentarão declaradas ou inimizades e também pela superstição nos agentes
mais e mais a ferida. Com isso, o medo sangra- do Inimigo, que percorrem o mundo e aguardam nas sombras

rá, alimentando a besta da mentira que apenas por uma oportunidade para fisgar a alma do inocente. Em termos

aguarda as primeiras gotas quentes tornarem-se gerais, é esse último fator que prende as pessoas em casa, o medo

o aluvião do desespero. do desconhecido, do que pode existir depois de onde os olhos


enxergam. Junte o medo natural com os sermões dos padres, fa-
Você já percebeu, nesta altura, que as descri- lando sobre os perigos existentes no mundo, dos degenerados que
ções dadas nas castelanias são leves, curtas, ob- largaram o louvor ao Pai, das bocas do inferno que se abrem para
jetivas. Você, narrador, deve ver isso como uma expelir o mal ou dos desmortos que perambulam sem rumo, an-
oportunidade de criar. Escolha uma das cidades siosos por roubar a vida dos incautos.

273
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
• A natureza do Isolamento e pequenas fortalezas abandonadas, que po-
O próprio tempo pode fazer com que as viagens sejam desen- dem servir de morada ideal para malfeitores
corajadas. O clima de Belregard se comporta de maneira parti- ou mesmo para aqueles que desejam denomi-
cular. Como os habitantes desta terra não tem um outro local narem-se senhores de novas terras.
para comparar, para eles tudo é normal, mas Belregard conta
Dentre os fatores de isolamento dentro da
com bolsões climáticos distintos, com uma delimitação natural
política podemos ressaltar:
que foge um pouco da percepção dos homens. Este fenômeno
faz com que castelanias vizinhas, que muitas vezes deveriam
Criminosos: O tipo mais comum de proble-
compartilhar de estações do ano num mesmo ritmo sejam com-
ma que um viajante pode encontrar em Bel-
pletamente distintas, talvez até contraditórias. Dalanor e suas
regard. Estes bandidos podem ser grupos au-
florestas podem até passar por invernos rigorosos, mas nunca
tônomos que preferiram levar uma vida mais
poderão ser comparados aos tormentos de neve que despencam
fácil nas poucas rotas de comércio dentro de
em Viha ou a umidade abafada de Varning. Como dito antes, os
castelanias ou párias e exilados que não tem
habitantes de Belregard não percebem estas nuances, mas elas
outra escolha para sobreviver.
existem e podem representar um elemento desmotivador para
Senhorios: Como é sabido, disputas por
se cruzar as tais fronteiras climáticas. Além disso, a própria
territórios começaram a ocorrer depois da
vida selvagem pode representar um problema.
queda do império e, mesmo depois de uma

Dentre os fatores de isolamento dentro da natureza podemos geração do acontecido, muitas delas não dão

ressaltar: sinais de acabar ou ainda mostram-se moti-


vadas por vingança. Estas disputas podem
Bolsões Climáticos: As mudanças de tempo podem ser trazer problemas a mercadores que acabam
abruptas durante as viagens e certamente que alguns comer- sendo pegos de surpresa pela situação ines-
ciantes experientes, ou mesmo cavaleiros, sabem que elas po- perada.
dem ocorrer. Burocracia: Algumas castelanias, como
Fauna e Flora Selvagem: Em alguns lugares ocorreu um Parlouma, Varning e Dalanor conseguiram se
explosão populacional na vida selvagem, isso quer dizer que fi- manter relativamente coesas internamente,
cou mais comum o encontro com ursos em bosques e cavernas mas isso não significa que estejam completa-
no caminho de viajantes, ou bandos de lobos esfomeados pelas mente livres de problemas no que diz respeito
estradas abandonadas. Além do perigo apresentado pelas plan- ao “ir e vir”. As burocracias de lordes locais
tas de Belregard: enquanto alguns brotos e sementes podem ainda podem atrapalhar viajantes ansiosos,
significar a cura de doenças, outros representam a morte certa. com exigências de pedágios, demanda de ofe-
rendas, tributos ou o simples e prático entre-
• A Política do Isolamento tenimento.
Entre os fatores políticos que acabam trazendo o clima de
isolamento em Belregard podemos apontar a própria queda do • O Sobrenatural do Isolamento
Império. Nos dias de Virka, as estradas eram protegidas e es- As estradas de Belregard são locais perigo-
talagens de parada eram comuns a cada dia de cavalgada da sos, todos sabem disso. Cada morador de vila-
capital. Mas, com o caos advindo da descentralização de poder, rejo ou cidade teve um parente ou amigo que
estas patrulhas terminaram e estas estalagens caíram, saquea- partiu pelas vias abandonadas e nunca mais
das ou tomadas por grupos criminosos. Existem ainda torres voltou ou, se voltou, retornou muito diferen-

274
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
te do que era. Existe algo de podre no ar, ou é dado o devido respeito. São comerciantes de almas e podem
na própria terra, que bagunça com as noções dar e tirar a fortuna dos que passam por seus caminhos.
básicas de todos que vagam pelas estradas, Cultos: Muitos locais isolados, ou abandonados, são consi-
trilhas e caminhos de Belregard. Alguns re- derados campos de poder por determinados grupos. Sejam eles
sistem, geralmente os que andam em bandos, druidas que desejam captar a energia do sol através de suas
tendo uns aos outros para segurá-los à reali- pedras monolíticas misteriosamente posicionadas, ou adorado-
dade; já outros, como os peregrinos, dificil- res da Sombra diante de uma Fenda do Inferno, ansiosos por
mente retornam a civilização com a sanidade conseguir o favor do Inimigo através de seus sacrifícios.
intocada. Não só a mente se torna rota, mas
Desmortos: Muitos campos de batalha nutriram a terra du-
também o corpo, que parece absorver as im-
rante o período de caos e boa parte destes locais ficou aban-
purezas do mundo e se modificar, se corrom-
donado, sem o devido cuidado de sacerdotes para purificar os
per ou simplesmente fazer verter os pecados
corpos caídos e dar-lhes o devido funeral. Dessa forma, dizem
latentes dentro de cada um. Além disso, uma
os mesmos prelados, tais soldados podem se erguer, nutridos
miríade de lendas e superstições propagadas
pelo miasma do mundo, e vagar tropegamente, em busca da
pelos sacerdotes faz com que exista o medo
vida que perderam.
da estrada.

Dentre os fatores de isolamento dentro do • Desenhando o ambiente e contornando


sobrenatural podemos ressaltar: sobrenatural
Em Belregard as manifestações da Sombra Viva são sempre su-
Degenerados: Acredita-se que o ar conta-
tis. Não se busca algo espetacular ao se apresentar algo sombrio
minado do mundo corrompe o homem e torna-
neste jogo. Neste sentido, o abraço à degeneração deve ser sutil
-o um degenerado. Tais degenerados tornam-
como um afago doce da morte.
-se inumanos, considerados Cabeças de Lobo,
podendo ser mortos sem qualquer julgamento
Utilize os 5 sentidos ao descrever um ambiente e nunca dei-
moral e, dessa forma, não reservam qualquer
xe este tipo de descrição passar, sobretudo quando quiser tra-
cuidado aos que cruzam seu caminho.
tar com veracidade a atmosfera de medo e de suspense que se
Fendas do Inferno – O livro apócrifo en- instaura nos pontos de alta tensão de um cenário. Assim sendo,
contrado nas catacumbas de Latza, chamado dizer que a manta que os veste está pesada da chuva e que sua
de Credo de Decebal, relata que, do momento aspereza fere as partes nuas dos ombros é algo tão imersivo quan-
em que o Único decidiu partir e se desfazer, to o cheiro de chorume nauseante que toma o fôlego de todos
ele lutou por sete dias do outro lado, no mun- ao atravessar vielas de uma zona vermelha de uma castelania.
do espiritual, tentando enfraquecer a Som- E, para além de tratar tato, olfato, paladar, audição e visão em
bra. Este embate reverberou no mundo físico, sua narrativa, questione cada jogador a respeito da reação ante
abrindo rachaduras na terra que podem levar aquilo. O narrador não precisa criar tudo, as lacunas deixadas a
até a Alcova Profana, por onde emanam cha- serem preenchidas pelos jogadores nutrem a narrativa de forma
mas destruidoras. igualmente eficiente: “As tumbas foram violadas e é possível ver
Strigori: Os misteriosos andarilhos merca- carne decomposta e pus ladeando os seixos que ornamentam as
dores que parecem não temer os mistérios do lápides. Como você define o cheiro disto? O que observa, fixa o
mundo podem ser perigosos quando não lhes olhar em qual ponto?” Traga isto para o jogo.

275
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Ao pensarmos no sobrenatural temos de partir deste procedi- Lembre-se que um dia de viagem é um dia de
mento sutil e inserir a bestialidade e o indizível. Some a isto a dú- viagem. Se hoje em dia nos cansamos de ficar
vida em saber se aquilo era realmente um monstro ou uma visão. em um ônibus por oito horas, imagine em mar-
Por exemplo, o som ouvido das matas é uma mistura de grunido cha, ou no lombo de um cavalo. Com sorte, cla-
de queixada com latido de lobo. Não se sabe ao certo o que seria ro, você terá um cavalo. A maior parte das pes-
aquilo, mas um rastro de sangue indica que ou está ferido ou soas viaja em carroças puxadas por bois, lentas,
acabou de abater uma presa… por estradas não mais pavimentadas. Outro de-
talhe é lembrar que o mundo não é um horizonte
Veja que a descrição de monstros deve ser tomada sempre com a sem fim. Quando se observa um mapa de RPG,
referência à fauna e flora conhecidas. Inclusive, em alguns casos, é muito fácil imaginar o mundo perfeitamente
não há monstros. Tratam-se apenas de animais desconhecidos ou plano, mas existem morros, barrancos, trilhas
supostamente mais fortes e cruéis, em virtude de miséria que de mato alto. Cabe a você tornar esse cenário
acomete a maior parte dos camponeses. Pense comigo, um lobo mais vertical.
é apenas um lobo. Mas um lobo que mata 3 ovelhas e 1 criança
em uma semana é um monstro. Sua descrição será muito mais Trazer as agruras da marcha e não conside-
pesada que a de um canino comum. E este lobo pode, e até deve, rar o deslocamento, mesmo que de dezenas de
ter se tornado diferente por conta disso. Se a Mentira alimenta a quilômetros, algo simples e comum é uma das
Sombra, pense que essa magia inata do mundo, corrompida pelo formas de fazer com que todos partilhem da
inimigo, pode vir a dar um complemento a este animal comum. mesma visão crua e pesada do mundo. E nem
Talvez agora esse lobo saiba que é temido e em seus olhos brilhe falamos de perigos que não são naturais deste
uma fagulha de inteligência cruel e assassina. caminho.

Isso significa que toda a superstição da população deve ser por- As estradas são temidas por ocultarem la-
tada às descrições, fazendo com que a visão de mundo de um per- drões de toda sorte, assassinos e outros que não
sonagem seja contaminada pela ignorância, medo e temor ante podem circular livremente pelas castelanias. E
o desconhecido. Assim sendo, encarar o perigo nunca é feito de é claro que as mais diferentes monstruosidades
forma simples e direta. Evidencie as minúcias fazendo com que o da Sombra encontram suas presas enquanto via-
simples seguir em frente seja um desafio aos jogadores. jam. Se a dúvida e o medo estão ao lado de to-
dos em uma castelania, fora dos limites de uma
• Não banalize uma viagem temos a cada passo uma chance de ser atingido
Em um mundo no qual o isolamento é uma marca e que a me- pelos maus agouros profetizados por aquela ve-
dicina é precária, um simples corte na perna causado por uma ur- lha insana que dizia sandices de você ter saído.
tiga deve ser bastante incômodo, não é mesmo? Agora pense em Seria ela um Arauto?
um bota encharcada de lama, com vermes por entre seus dedos.
A pele molhada é frágil e os bichos começam a entrar por debaixo • Princípios para o narrador
de suas unhas. A febre por ter sido picado por um mosquito en- de Belregard
quanto passava pela charneca não o abandona, e trazendo dores Há alguns princípios simples a seguir para que
de cabeça e alucinações, sendo as últimas talvez fruto da carne a proposta de jogo seja vivenciada em seu nível
podre que comeu, último vestígio do farnel da viagem. máximo:

276
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
1. Medite, Crie, Digira… Volte a Meditar - Deuses o agraciem com armas mágicas, pode ser simplesmente o
Não comece a criar antes de meditar. O que é aparecimento de um bom companheiro, pães frescos feitos com
meditar? Bem, é visualizar que tipo de história esmero, ou mesmo um convite para um noivado. Vá calçando a
você gostaria de contar, que tipo de sensação estrada por onde eles passam com as facetas que fazem, prepa-
gostaria de inspirar, quais objetivos gostaria rando-os para coisas maiores, conquistas supremas ou inimigos
de alcançar. Durante o processo, você deve en- nefastos.
contrar o núcleo, a amálgama, a essência da sua
história. Após encontrá-la, todo o processo será 5. Menos é Mais - Lidar com o grande é fácil. É muito fácil
mais fácil. chamar “aventureiros” para missões grandiosas, épicas, quase
titânicas, isso é realmente fácil; difícil é lidar com o pequeno.
2. Crie, mas não Tudo - Assim como mos- Pense pequeno, dê vida ao pequeno. Cada pessoa no mundo tem
trado acima, no lugar de colocar um “REI” que uma vida, tem planos e frustrações, aproveite isso e dê utilidade a
impõe um significado e significante bem esta- isso. No lugar de dragões, pense num cobrador de imposto men-
belecido, pense talvez em “Líder”. Você conse- tindo para o rei, no lugar de grandes guerras, pense em rebeliões
guirá o mesmo efeito, mas sem impor demais. inesperadas. Pense pequeno e deixe a proporção ser medida pelo
Idealize o mundo, dê detalhes, mas deixe espa- andamento do jogo.
ços em branco, o mundo de Belregard não foi
pesadamente detalhado intencionalmente. O 6. Transforme o Sobrenatural em Natural - Desvende mi-
processo de descoberta deve acontecer em sua tos, faça com que os jogadores nunca tenham certeza se aquilo
mesa de jogo. era ou não obra da natureza ou de forças da Sombra. Isso é uma
arma poderosa, pois os jogadores nunca terão plena certeza do
3. Seja Justo - Os jogadores dependem da que estão à lidar. Faça com que o padre nefasto, ensandecido,
sua lealdade para com a história, para com as seja apenas alguém com doenças mentais incompreendidas. Ou
regras, para com o conjunto. A partir do mo- pior, coloque o mal onde menos se espera. Talvez a praga da
mento que uma verdade é criada no campo ima- vida fosse o Abade que trazia consigo a força da Sombra e não
ginativo, para você quebrá-la, demanda esforço. os ciganos que pareciam ferir os princípios da moral e dos bons
Logo, se você diz que o líder local está com sua costumes.
linhagem definhando, colocar um descendente
de uma hora para outra com intuito de frustrar 7. Ligue os Pontos sem que eles percebam - Não deixe que
planos dos jogadores não será algo justo com a eles percebam tudo aquilo que você faz em seu caderno de ano-
atmosfera a ser partilhada. É claro que isto pode tação. Vá criando o seu arco de eventos, mas não deixe que eles
ser uma reviravolta (um bastardo apareceu), notem. Talvez o rei dos ladrões que vão enfrentar agora seja o
mas não banalize este processo. Eles precisam filho do bandido que executaram anos atrás. E o mesmo é aquele
que você seja justo, então seja. É Belregard que garoto que negaram comida meses após a execução do bandido.
é um mundo sujo e vil, não o narrador. Interligue eventos, mas não deixe de maneira exposta. Faça de
modo sutil, afinal, a vida é uma sucessão brutal de “coincidên-
4. Tenha em Mente que sua História é cias” sutis. Mas não se prendam só ao mal. Talvez ao desmascarar
Única - Seja fã dos seus jogadores e dos seus um cobrador de impostos nojento, o povo prospere e um bom
personagens. Dê retorno às suas ações. Esse casamento seja arranjado.
retorno não precisa ser épico, não precisa que

277
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
suas ideias e seu ritmo de modo acelerado, em
8. Dê vida e pecados às pessoas - As pessoas possuem fa- pouco tempo sua história estará andando sob
lhas de caráter e isso é inerente a todos. Não faça com que todos trilhos pré-definidos e isso não é bom. Pensando
sejam marionetes inconsequentes, faça com que seus pecados os nisso, use o método 3x1. Para cada 3 sessões
consuma de modo verossímil. Um assassino em série não precisa que você vá levando programação, seguindo
ser um monstro sádico ou mesmo alguém metódico e cruel. Ele uma aventura pronta ou algo do tipo, jogue 1
pode ser alguém normal, simples, menos provável. O pecado não sessão sem NENHUMA programação. Pode
escolhe a morada, apenas um coração onde possa se alojar. estar no meio da aventura, ali mesmo: se pos-
sível, dê um momento mais calmo a si mesmo
9. Os Ímpios não descansam - Não há paz para os Ímpios,
e deixe o jogo seguir o ritmo que os jogadores
lembre-se disso. NUNCA haverá momentos de amor e paz eterna.
quiserem. Você verá que muitas coisas, e coisas
Mantenha a ideia de que os Ímpios, os escravos fiéis da Sombra,
inesperadas irão sair disso.
sempre estão trabalhando. Mesmo no momento mais sublime, du-
rante a partilha da recompensa, alguém poderá cobiçar uma par- 13. Verossimilhança - A vida é mais do que
te maior do que aquela que lhe é devida. Os homens são podres e viagens, igreja e comércio. Existe muito mais do
suscetíveis às forças do mal. que isso. Faça-os sentir o peso de não ter dinhei-
ro quando o filho de um dos personagens não
10. Nenhum bem dura para sempre - Se alguém está feliz,
tiver leite pela manhã, ou faça sua esposa de
alguém está sofrendo por isso. Se houve sucesso em uma emprei-
um deles querer um presente caro que viu nas
tada, uma desgraça se aproxima. Isso é mais do que uma suges-
ruas da capital. Faça com que coisas pequenas
tão, isso é uma verdade. Lembre-se, não deixe os jogadores perce-
tenham valor, faça com que suas vidas sejam
berem isso, senão eles nunca ficarão felizes em conquistar algo,
reais.
com medo do choque de retorno. Mostre que o mundo é ruim, é
perverso. Faça-os perceber que o Rei vencesse seus inimigos e
14. Faça perguntas e devolva-as - Quando
mantivesse mais alguns anos no trono, muitas plebeus ficaram
quiser saber de algo, pergunte. Quando os joga-
na miséria e que os bárbaros invasores morrerão no inverno que
dores lhe fizerem perguntas, devolva a pergun-
se aproxima. Seus personagens não precisam ter piedade, tendo
ta. Se eles lhe perguntam “O Rei tem medo que
ciência basta.
o vizinho o ataque agora que não possui filhos e
11. Nenhuma caridade é de graça - Entenda que as pessoas está velho?”, devolva a pergunta e aproveite as
são mesquinhas, elas possuem mais da Sombra do que do Criador respostas. Isso é uma ferramenta incrível para
em seus seios imundos. Logo, mesmo que indiretamente, sempre auxiliar no processo de criar uma história de
que colocar um PdM envolvendo-se com os jogadores, tenha em modo mais colaborativo.
mente o que ele quer, o que está atrás, o que está disposto a fazer
para ter o que quer. Se os personagens dos jogadores são bem 15. Valorize as Conquistas - Como falado

quistos pelo nobre local, deixem subentendido que ele gosta do na parte de ser leal, respeitar uma conquista

grupo por algum motivo, sempre há algo que motiva o seu gostar. faz parte do seus deveres. Se eles fizeram um
plano para matar o senescal corrupto e tiveram
12. Mantenha a Ideia 3x1 - Abstenha-se de tomar decisões. sucesso, deixe que o senescal morra. Mesmo
É normal narradores irem para a mesa de jogo com muitas ano- que exista uma carta em sua manga, deixe que
tações, com muitas ideias na cabeça. Se você continuar a impor tenham glória de sua vitória momentânea.

278
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
• Repensando o conceito de compreendamos o conceito de bestialidade em Belregard. Com-
bestiário preende-se os animais comuns com a referência humana. Caso
Você deve se questionar sobre a ausência de haja algum monstro, ele se relaciona a um vício humano também.
um item tradicional em manuais de RPG. Em Vamos ver isso com cautela.
Belregard não há um guia de monstros e não se
pretende fazê-lo, uma vez que os conceitos de Ainda que não haja qualquer atributo sobrenatual, qualquer
monstruosidade ou bestialidade são elementos antagonista e/ou perigo em Belregard devem ser mensurados de
cobertos sob a incerteza e o medo, tornando-se acordo com os atributos de um ser humano. A força deste jacaré
subjetivos à ignorância e nutridos pelo sobrena- é de três pessoas? Esta lebre corre na velocidade igual duas vezes
tural corrupto do ambiente. à corrida de um humano? Pense nisso ao apresentar as fontes de
perigo, uma vez que Belregard se estrutura sob a perspectiva dos
Um simples bode pode ser uma representa- personagens sobre o mundo. As pensarmos que um lobo tem o
ção do medo de uma população. Mas isso faria vigor de 4 pessoas, não apenas definimos suas características,
com que ele mesmo fosse um monstro? Ele teria mas aproximamos a percepção de todos ao risco de se deparar
algum poder sobrenatural? Estas perguntas de- com a besta.
vem ser respondidas com cautela.
Isso se alinha a outro elemento fundamental à Belregard: o so-
Um animal ou até um grupo humano desco- brenatural manifesta sempre a corrupção humana. Ao termos isso
nhecido é considerado um ser bestial. Basta em mente, podemos criar nossos próprios monstros alinhados à
também que um ser conhecido manifeste qual- experiência que este jogo apresenta aos jogadores. Assim sendo,
quer característica distinta da conhecida, como se os atributos de um antagonista já foram referidos às humanos,
um bode que fala, para ser também um monstro será mais fácil pensar em algum de seus possíveis desígnios que
também. Entenda que “besta” é tudo aquilo que manifestem o miasma concentrado em dado Ventre Negro. Aliás,
não for como um humano, logo os próprios ani- uma fera pode ser em si mesma a materialização de um Ventre
mais são bestas. Porém, as bestas sobre atmos- Negro em um cenário.
fera monstruosa não são usuais.
Se há um bode inteligente e o mesmo gera intrigas e violên-
Pensar neste tipo de besta em Belregard é cia trata-se da Ira, uma das faces dos Ímpios que age por meio
algo bem diferente de fantasias épicas ou herói- daquele ser nutrido pela corrupção humana. Se há uma suposta
cas, uma vez que este jogo não possui essas re- divindade em forma de morcego que se alimenta da violência e
ferências. Os monstros não são usuais, comuns da lascívia em cultos profanos, é a Luxúria que se manifesta é dá
e possuem uma grande prole. Todas as bestas poderes àquela besta temida.
místicas são únicas, temerosas e se relacionam
diretamente com um contexto local, com um Em outras palavras, a presença de qualquer característica so-
Ventre Negro e com a Sombra Viva. brenatural a uma fera deve ser pensar por meio da corrupção, das
máculas dos ímpios, manifestações da Sombra Viva. Logo, uma
Mais que isto, o sobrenatural, sempre sutil, real representação da superstição popular, são os próprios huma-
ainda que confira características fora do co- nos em sua torpe existência que, nutrindo os Ventres Negros que
mum à fauna e à flora, deve ter como referên- a constroem ou “emprestam os poderes” àquele ser. O mesmo
cia sempre o humano, e esta é a chave para que pode ocorrer aos antagonistas, o que veremos a seguir, inclusive.

279
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Logo, no lugar de pensar no sobrenatural como algo fantástico • Antagonistas: a vilania em
e descolado da realidade social, relacione o que seriam os mons- jogo
tros aos processos humanos em todas as cores que a corrupção e Antagonistas em Belregard não são vilões ar-
a vilania apresentam. Nesse sentido, não há como pensar em um quetípicos de histórias heróicas. As cinzas do
Bestiário fechado, haja vista que cada monstruosidade será úni- mundo derrotado também são metáforas para
ca, nutrida por algo perverso que nutre as mais obscuras almas a compreensão do comportamento das pessoas
humanas. neste mundo decadente: não há uma clara dis-
tinção entre extremos, o próprio ser humano é
Com isso, dizemos que em Belregard o pensar sobre o sobre-
cinza.
natural deve sempre sair da rotina, da vida comum, de um crime,
de um pecado. Os animais e vegetais já estão lá, mas a própria Ao afirmarmos isto, definimos que não há
ignorância sobre o mundo em virtude do isolamento pode gerar uma suposta assunção de alicerces morais pelos
boas ideias para que se pense em um monstro, mas que na ver- próprios protagonistas das histórias. Um grupo
dade é apenas uma besta desconhecida. Mas caso haja realmente não precisa agir de forma justa, Belregard não
um flerte com um Ventre Negro e com a Sombra Viva, essa besta é uma fábula com moral da história ao final. É
deve ser relacionada à mácula que a própria humanidade risca em claro que o narrador imputará sanções aos com-
sua pele. portamentos das personagens, mas se houver a
assunção dos princípios do jogo, não há proble-
Ainda assim, se você quiser utilizar um ser sobrenatural, uma ma algum nisso. Por outro lado, os antagonistas
besta, um monstro, você pode. Lembre-se apenas de fazer com não precisam ser vistos como seres tirânicos e
que os seus monstros sejam monstruosos e particulares. Mons- cruéis. Por vezes eles são o ponto de sanidade e
tros não devem ser tratados como fichas de crédito que você tem justiça em um cenário e os protagonistas serão
contra os jogadores. Em nenhum momento nós dissemos que eles a convergência da corrupção que passa por uma
são reais e você pode seguir com este raciocínio, mantendo a castelania. E cabe observar que isto também
superstição dos jogadores sempre na ativa, cumprindo o trabalho não “quebra o jogo”. Mas afinal, se é possível
de deixá-los preocupados quando ouvem aquele som na mata du- ser bonzinho e, por vezes malévolo em Belre-
rante a noite. gard, o que determina as relações entre prota-
gonistas e antagonistas?
Se deseja torná-los reais, lembre-se de fazê-los serem únicos.
Invente lendas sobre, exemplos de histórias que avós podem ter O conceito vilania define o que é esperado à
contado e mesmo apelidos, nomes diferentes. Não tenha medo de interpretação dos personagens em Belregard.
inventar e nem se preocupe em fazer tudo sério demais. No caso Se não há heroísmo claro, todas as personagens
de um combate, cuide para que seja trabalhoso e, de preferência, flertam com a vilania. Mas afinal, o que é a vi-
crie alguma “válvula” de derrota, um meio que deve ser percebi- lania?
do, aprendido ou estudado pelos personagens, o grande segredo
de derrotar aquele monstro. E dê um nome para ele também, e Vilania é definida como algo mesquinho, bai-
nem precisa ser um nome próprio. Dê um nome que foi criado xo, um ultraje. Porém, ao pensarmos em um
pelos homens que o temem. Como uma criança chamaria o baúk mundo corrupto, este é o alimento das ações de
que a visita? De amiguinho? Ótimo! Vai ser maravilhoso ver a ordem prática àqueles que habitam Belregard.
cara dos jogadores quando a criança disser que o seu amiguinho Isso significa que não importa se trata-se de um
levou sua irmã mais nova pro bosque e nunca mais voltou. sacerdote da fé do Único ou uma mãe dedicada:

280
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
o mundo cru e violento faz com que as duras es- • O tripé do medo, da desesperança e da
colhas na vida sejam possíveis apenas por meio loucura: a peste, a fome e a guerra
da vilania. Ao lado das sementes de conflito cotidianos que podem nutrir
o narrador para criar os cenários de Belregard, enumeram-se três
Isso ajuda o narrador a criar um antagonista. fontes de tramas de maior magnitude e que se prestam tanto ao
Observe as possíveis expressões da vilania em desenvolvimento de personagens quanto de histórias. Falamos da
um bairro de uma cidade, em uma aldeia, em um fome, da guerra e da peste.
assentamento qualquer. Essas expressões cria-
rão pontos de conflito entre os prováveis anta- A fome é uma das mais antigas fontes do medo. Ela é uma das
gonistas locais, sendo os personagens dos joga- catalisadoras da vilania em uma sociedade. A simples ausência
dores livres para se aliar a um ou outro, ignorar de chuvas pode causar um impacto brutal em uma aldeia, ou até
o que se passa por ali ou até se aproveitar do em uma castelania. Tomar a fome como uma semente de uma
conflito. Veja que as opções dos jogadores tam- história é estar atento aos motivos pelos quais ela se instaura, se
bém tratam de ações que flertam com a vilania. há alguém que lucra com isso e como a população reage. Será
que antigas ervas que eram consideradas daninhas passaram a
Assim sendo, ao criar um antagonista em Bel- ser consumidas? Quais as reações que isso pode trazer aos habi-
regard, desejamos que ele seja criado pensando tantes da vila?
em três camadas. A primeira é a relação entre
A guerra é, por seu turno, algo ímpar no cenário. Não pense
suas ações e o contexto social local. A segunda
que o esforço de guerra é algo banal e que campanhas militares
são as possíveis relações com outras fontes de
são comuns em Belregard. Ainda que a tensão intra e intercas-
conflito do cenário. E a terceira são as possíveis
telanias seja algo claro e que todas elas tenham ordens militares
escolhas que os protagonistas terão ao se rela-
organizadas, isso não significa que a guerra seja uma opção co-
cionarem como ele. Observe que as três cama-
mumente feita pelos líderes locais. A guerra é cara, pesada, lenta,
das são igualmente manifestações da vilania,
ceifa vidas e fragiliza o controle interno das castelanias. Pensar
por vezes representada no cenário, por vezes
na guerra é imaginar a mudança da rotina de uma simples família,
apresentando duras escolhas aos jogadores.
a maior pressão sobre as minas de ferro e forja e o impacto na
geopolítica de Belregard.
Por fim, pense que um antagonista não é al-
guém elevado, diferente dos demais. É humano, A peste é tomada não apenas como um flagelo da carne, mas
do mesmo nível que qualquer personagem. Pen- como flagelo da alma, podendo ser uma peste que arrasa colhei-
se no mesmo como um mortal, como alguém tas ou uma doença epidêmica. As mentes tomadas pela supers-
que está vivendo em Belregard. Caso flerte com tição, fé e medo por certo considerarão as pestes como sinais da
a Sombra ou seja um Arauto, pense em todos os decadência do mundo. Qual é o vetor para a doença? Como ela
desdobramentos que isso possa levar ao jogo. se manifesta? Qual a reação da população ao contágio? Como é
Após criá-lo, imagine-o vivendo por um dia. feito o tratamento? E ele é eficiente? Essas são algumas questões
Como seria sua rotina, como falaria, o que co- que o narrador deve ter em mente ao trazer a peste aos seus ce-
meria? Somente após experenciar sua criação nários de Belregard.
“viva” no cenário, coloque-o em jogo.
Fome, guerra e peste são irmãs da danação social e por inú-
meras vezes se relacionam, se influenciam, são causas ou conse-

281
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
quências recíprocas. Uma castelania pode ter declarado guerra Trabalhar os intervalos temporais entre os
a outra em virtude da primeira estar sob uma penúria alimentar cenários, desenvolvendo personagens e dina-
gerada pela geada extensa nos campos. Ou ainda o peso de uma mizando o mundo de jogo é algo que todos
doença em uma vila foi maior em virtude da fome que assola os nós que escrevemos Belregard desejamos para
camponeses, sendo essa oriunda do aumento do imposto sobre as os grupos de jogos. Caso um próximo cenário
colheitas cobrado por um senhor local. se desenvolva 7 semanas após o último even-
to significativo, cada jogador deve trabalhar o
Ainda é possível relacionar fome, peste e guerra ao sobrenatu- que seu personagem fez neste ínterim. E mais, o
ral. Um suposto líder messiânico local pode relacionar a peste a narrador deve relacionar o micro ao macro, veri-
um suposto demônio, um conde conquistador iniciou uma guerra ficar o que mudou dentro da vila, da cidade, da
sendo tocado pela Sombra Viva ou ainda a fome pode criar aluci- castelania. Novas faces apareceram na história?
nações à população de um determinado local, fazendo com que Esse tipo de questionamento ajudará a todos a
os mesmos passem a ouvir ordens de animais, por exemplo. compreender a vida em Belregard. Para ajudar,
faça perguntas!
Entretanto, tudo que dissemos até agora em muito pouco acres-
centa ao panorama conhecido durante períodos de crise em dis- Nesse sentido, explore as minúcias de cada cas-
tintos contextos. Estes pontos são visíveis no imaginário medieval telania e de cada etnia e faça com que cada ação,
europeu ou durante a desestruração de sociedades pré-colombia- com que cada elemento realmente importante
nas, por exemplo. Essa reflexão sobre fome, guerra e peste é ape- seja sentido e mova o mundo de jogo. Assim, o
nas o início do trabalho dos jogadores e dos narradores. É preciso término de um cenário deve ser sentido pelos
transpor tudo isso à Belregard. jogadores e pelo narrador, fazendo com que os
tomos prévios de Belregard sejam tomados como
O impacto de uma doença que afeta equinos não será o mesmo um material de constante consulta e de referên-
em diferentes castelanias. Pense em Palourma, por exemplo. Como cia para dinamizar o mundo de jogo, sendo cada
seria a marcha de batalha dos soldados insanos de Latza? Os sábios campanha algo único, particular e imersivo.
astrólogos de Vlakir interpretariam as secas no campo da mesma
forma que a cúria religiosa de Birman? Um abade leorista aconse- Ainda sobre o reflexo da passagem do tem-
lharia seu patrono dalano sobre a guerra da mesma forma que um po na vida dos personagens, não se esqueça de
monge alecista? O que Virka e seus campos corrompidos podem responder aos distintos níveis de estímulo dados
ter a ver com a peste? O que Varning e sua ambição mercantil pode aos protagonistas. O que ele treinou para ser
lucrar com o teatro da guerra? Essas sim são algumas das questões melhor em combate? Qual a reação que alguém
que fazem com que a guerra, a fome e a peste deixem de ser fontes possui ao entrar pela primeira vez em uma Casa
genéricas e se unam à atmosfera de Belregard. de Luz? Por sua vez, o narrador deve ficar atento
ao descrever as artes marciais locais e a forma
• Respire, vivencie Belregard pela qual se treinava, bem como para eviden-
Uma sessão de jogo de Belregard é chamada de cenário, e uma ciar o maravilhamento e o temor ao descer por
sequência de cenários configura uma campanha de jogo. Uma uma estrutura tão imersa em boatos e lendas.
campanha significa, em poucas palavras, a continuidade de his- Inclusive trazer essas lendas à tona durante a
tórias partilhadas por um grupo de jogo. E como há continuidade descrição do ambiente é um excelente recurso,
de histórias, não é difícil imaginar que a passagem de tempo seja a fim de que, para o personagem, aquele evento
algo significativo para as campanhas. seja inesquecível.

282
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Logo, é esperado aos jogadores sempre rea- to em um determinado ponto, sendo os jogadores desafiados a
gir indicando a forma pela qual o personagem criar personagens que se relacionem a este evento inicial. Este
vivenciou a experiência na curta, média e longa é um caminho simples para que os jogos se iniciem, lembrando
duração. Em um mundo quase inercial, ter con- do que dissemos quando falamos em começar pequeno. Em todo
tato com um demônio ou ter a morte ao seu lado caso, se o narrador optar por iniciar uma campanha já flertando
é algo impactante. Ter perdido sanidade ao ser com o sobrenatural e sobre os mistérios do mundo, a leitura do
abraçado pela corrupção não é algo que deva tomo 3 é fundamental.
ser ignorado. Observe que quão maior for o en-
volvimento da personagem com os eventos em Observe que apresentamos dois procedimentos para iniciar
Belregard, mais envolvido nas brumas que aque- uma campanha de Belregard. No primeiro caso, os jogadores efe-
le mundo se encontra, fazendo com que o medo tuam criações mais livres e o narrador é desafiado a pesquisar
infle seus pulmões a cada arfada de ar tomada. pontos em comum a eles e ganchos que possam os relacionar. No
segundo caso temos uma criação de personagens centrada em
• Como usar os tomos de Bel- um evento, em uma circunstância específica. Aqui temos o desa-
regard fio aos jogadores. Mas isso pode ser pensado em conjunto, por
Belregard é um RPG com muito conteúdo meio do procedimento inicial de sorteio de temas que já apresen-
ficcional. Isso pode afastar, em certa medida, tamos, fazendo com que os conceitos façam parte das escolhas
aqueles que buscam uma forma ágil de jogar. A tanto do narrador quanto dos personagens.
própria opção de dedicar o último tomo a uma
escrita diretamente voltada aos jogadores e todo Assim, a consulta aos tomos não será enfadonha inicialmente,
o resto do livro para conteúdo ingame é algo um sendo recorrente ao término de cada cenário, fazendo com que
tanto incomum às estruturas mais recorrentes o próprio conceito de se iniciar pequeno e explorar o mundo seja
de RPGs. Logo, acreditamos que seja necessá- portado à forma de jogar. Belregard trata um mundo lento, de
rio indicar alguns procedimentos simples para descobertas dadas por indícios sutis, nos quais há apenas frag-
auxiliar iniciantes e iniciados a jogar Belregard. mentos sobre tudo o que ocorre. E mais, as próprias páginas dos
tomos são visões de pessoas, com seus preconceitos, limites e
De forma objetiva, os jogadores precisarão ter equívocos. Não se trata de cânone por ali, logo, perverter afirma-
ciência do tomo 2, especificamente das seções ções e evidenciar que um cronista está equivocado é algo passível
que apresentam as castelanias mais relevantes de ocorrer em uma campanha de Belregard.
para o seu personagem, para além de sua etnia,
o que é apresentado na segunda parte do tomo Uma campanha inteira pode se passar apenas em uma caste-
1. Apenas esta informação ficcional é necessá- lania, por meio do adensamento de intrigas bem como demais
ria aos jogadores. processos sociais locais. Lembre-se sempre da baixa expectativa
de vida e do conceito de isolamento ao pensar em campanhas e
O narrador já possui uma tarefa um tanto até ao planejar os cenários de jogo.
mais árdua, uma vez que deve ter acesso aos
elementos básicos das castelanias e povos es- Observe que o tomo 1 ainda não foi mencionado por aqui.
colhidos pelos jogadores. Porém, um caminho Como ele apresenta o passado, acreditamos que o narrador deva
alternativo pode ser seguido. O narrador pode ter acesso a ele, mas lendo-o calmamente e inserindo os inúmeros
apresentar uma temática para o cenário ou para ganchos espalhados na campanha de acordo com o desenvolvi-
a campanha, indicando um problema ou confli- mento da mesma. Não planeje todos os pontos e faça com que a

283
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
campanha também o surpreenda. Imagine que você, narrador, Um golpe de lâmina arrancará um antebraço,
está descobrindo o mundo e o passado durante a própria trajetó- um joelho é esmigalhado por uma maça e um
ria de vida dos jogadores. Ainda que recomendemos a leitura de pé de cabra é uma arma improvisada letal. Um
todo o livro a todos, sobretudo aos narradores, a releitura e o en- rápido corte daquela faca de queijo fará um pes-
foque ao que é experenciado pelo grupo de jogo é fundamental. coço esguichar sangue a metros de distância. Se
falamos de violência, falamos destes tipos de
Assim, a consulta feita pelo narrador deve ser feita apenas às imagem por aqui.
seções a fim de construir ganchos que desenvolverão os cenários.
Sabemos que a literatura de RPG é algo interessante e agradável, Assim sendo, o rolar de dados para um com-
mas inflar de informações uma campanha com elementos que bate jamais será banal. Por cenário talvez tenha-
estejam para além do alcance dos protagonistas é algo que dis- mos uma ou duas instâncias de combate e por
persará todos, reduzindo a imersão pretendida. Sempre recorra várias vezes não lutar é a melhor alternativa. A
a algo discreto, particular, algo voltado ao que foi desenvolvido fuga e a rendição são atitudes inteligentes por
pelo grupo de jogo. E ouça as questões dos jogadores para pen- aqueles que não querem perder suas vidas, ain-
sar como trazê-las à ficção. Houve impacto nas rotas comerciais? da que miseráveis, em vão. A violência velada,
Será que nenhum mensageiro da outra castelania foi enviado de- com armas em suas bainhas, é a melhor forma
pois desse massacre? Essas perguntas farão com que o narrador de garantir que sua vida continuará a seguir.
alimente as histórias a todo momento com o que foi deixado em
Não pense porém que no teatro da morte há
aberto nos jogos.
convenções de guerra, piedade e negociações.
Por fim, no lugar de se perder com um grande volume de in- Duas pessoas com espadas desembainhadas
formações possíveis, comece pequeno e desenvolva aquilo que são oponentes e provavelmente lutarão com to-
for mais significativo ao grupo de jogo. Jogue e descubra o que das suas forças. Chegar às vias de fato é algo
poderá alimentar mais e mais as histórias, e alimente isto com o que deve ser pensado com muita cautela.
material disponível em todos os tomos de Belregard.
Interprete o dano aplicado ou recebido sem-
• O que é um combate pre de forma subjetiva. Não sangre ao receber
O combate em Belregard é rápido, violento e cru. Um ferimento uma baixa quantia de dano. Traga isso à ficção.
causa a morte instantânea ou sofrimento lento até que ela abrace Você está mais cansado, apara um golpe com a
o personagem por hemorragia, moscas e pus nas feridas ou até espada e sente uma profunda dor nos ombros,
tétano. A natureza do combate é quase sempre brutal, exceto em se joga ao chão para se defender e arranha seu
competições ou exibições, como no caso das que ocorrem em rosto. Tudo isso faz parte de um combate de
Dalanor, por exemplo. Belregard. Comece a sangrar ao notar que sua
vitalidade caiu à metade ou menos, e sempre de
Não há trilha sonora, atmosfera positiva e/ou heróica. Apenas forma sutil. O narrador é aconselhado a apenas
ruído de metal, chão revirado com passos acelerados e o incômo- descrever um golpe letal quando realmente hou-
do daqueles que observam. O odor é intenso. A visão é atrapa- ver a morte de um personagem. Tudo o que está
lhada por gotas de suor. As mãos estão trêmulas. Poucos sabem ao redor proporcionou aquele momento, fazen-
manusear armas neste mundo. Não há armaduras completas fa- do com que a velocidade e crueldade do brandir
cilmente disponíveis e os escudos são feitos em sua maioria de lâminas seja compreendida de sua forma mais
madeira. A forja é cara, amigo leitor, não se esqueça disso. violenta e tempestuosa.

284
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
• A magia como ferramenta o que mantêm os homens em suas casas durante a noite, quando
narrativa os uivos dos lobos se transformam no agouro de bestas nefastas
Como foi possível verificar, a magia é tomada ou é o que faz este mesmo homem armar-se com o que tem e
não de forma vulgar, mas subjetiva em Belre- partir para a contenta, acreditando estar alimentado pela benção
gard. Assim sendo, efeitos mágicos e rituais não de um bom augúrio. É o que mantêm os pássaros no ar e os peixes
necessariamente são tomados como manifesta- dentro d’água. É além do que podemos ver, pode até mesmo ser
ções do sobrenatural, mas como algo subjetivo, só o que está dentro de nossas cabeças, mas não é por isso que
normalmente dialogando com as expectativas vai deixar de ser real!”
daqueles que acreditam no detentor daquele po-
O homem comum de Belregard acredita e convive com o fantás-
der. Uma vidente strigori ou um curandeiro vih
tico, com o assombroso e com o sobrenatural. Ele faz rezas, sim-
não detém, em sua maioria, qualquer poder so-
patias e promessas para conseguir aquilo que quer, utilizando-se
brenatural, mas suas práticas estão envoltas em
unicamente de sua fé para tanto. A relação que este homem vul-
uma atmosfera mágica, uma vez que são acredi-
gar tem com a magia é respeitosa, temerosa. Quando não envolve
tadas por uma comunidade. É ela que legitima e
a fé direta ao Tribunal do Supremo Ofício, a mágica é feita às es-
até potencializa a sua magia. Tenha em mente
condidas, especialmente entre as simpatias herdadas de tempos
que quase tudo é obra da carne, há pouco espí-
antigos, ainda aplicadas por velhas anciãs que se recordam dos
rito envolvido nisso.
caminhos. Nem tudo é lenda, crendice ou mero placebo, a magia
Considere xamãs e até líderes religiosos como existe e basta esbarrar nos componentes certos, no momento cer-
possíveis detentores desta aura mística, e use to para vê-la se manifestar.
isto para trabalhar as superstições e demais
A magia de Belregard é latente, inata. Quando o Criador co-
desdobramentos enquanto ganchos narrativos
locou ordem ao mundo, ele imbuiu parte de sua essência divina
às sessões de jogo. Brinque com a possibilidade
na terra, dando sentido ao ciclo natural das coisas, mas também
daquilo ser realmente sobrenatural e, faz com
tornando possível o surgimento do incrível. Essa mágica latente,
que aquele que todos pensam ser apenas um
quando estudada, pode ser traduzida em gestos, palavras, símbo-
charlatão seja realmente um arauto em jogo.
los, cores e tantos outros detalhes para torcer um pouco do tecido
Não se esqueça que a Mentira sempre acompa-
da realidade e realizar o impossível.
nha os cenários de Belregard. E é claro, vez por
outra ofereça a oportunidade para que os per- Existem também os favores, tanto da luz do Criador quanto da
sonagens dos jogadores adquiram algum poder treva da Sombra.
mágico “real”. Claro que com isso eles estarão
barganhando com a Sombra Viva, pactuando
• A Magia Latente
com seres ctônicos e sacrificando algo com isso. A magia natural, que paira no ar ao redor de todos pode

Deixe a corrupção fluir… explicar alguns fenômenos de Belregard como:

Em linhas gerais, caso você queira utilizar a Os Miasmas: Acredita-se que o mundo é contaminado, que
magia como algo real e palpável dentro de seu o ar é capaz de enlouquecer e deturpar as pessoas, transfor-
jogo, lembre-se das palavras de Tiboau: “Aquele mando-as em Degenerados.
que não crê no fantástico vive mais cego que O Clima: O clima incomum (para observadores de fora) de
toupeira. Tudo ao nosso redor denuncia um to- Belregard pode ser explicado por este toque de magia deixado
que de magia, de assombro e do sobrenatural. É pelo Criador quando ordenou sua obra.

285
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Rituais: Compreendendo símbolos, cores, ervas e outros Igreja se armam da certeza de que suas pa-
elementos, estudiosos ritualistas são capazes de realizar feitos lavras e atos tem poder e assim conseguem
surpreendentes. Normalmente estes rituais fazem uso de mé- exercer uma influência maior que a dos mun-
todos cruéis para romper com a película que mantém o mundo danos.
coeso. Essa abertura pode ser vista como o rasgar de mais um
Ventre Negro para o mundo, tornando mais fácil a aproxima- Ordem dos Paecal: Dentro de Belregard,
ção da Sombra. a Ordem dos Paecal, que serve ao Tribunal, é
capaz de expurgar o pecado através de elabo-
Exemplo: Técio descobriu, nos velhos tomos embolorados da rados e comprovadamente funcionais rituais
torre dos Oradores das Estrelas, sinistras e precisas instruções de exorcismo. Tornar-se membro da ordem
para que qualquer pessoa tivesse seu próprio ajudante. O nome demanda imenso esforço dos candidatos,
da coisa variava entre “daemon” e “homunculus” e era desenha- além da demonstração de uma fé verdadeira
da como uma pequena criança deformada, de asas atrofiadas e e auto sacrifício em nome do Pai.
com um rosto digno de pena, distorcido em um sorriso servil, que
parece misturar dor e prazer. Segundo os estudos do tomo, o • A Magia da Treva
ritual para se criar um homúnculo deveria ser feito numa noite de O outro lado da moeda “divina” também
lua cheia, em um quarto vazio. Dentro de um recipiente feito com existe, é claro. Como Belregard é um mundo
o barro do rio Nirut, deveria ser colocado o feto de um natimorto vencido pela Sombra, o acesso ao inimigo é
expelido durante o inverno. Cinco velas vermelhas representariam mais simples que ao Criador. A Sombra está
os cinco sentidos dados ao pequeno ser, deveriam ser acesas ao disposta a favorecer aqueles que lhe buscam,
redor do recipiente e na cera das velas deveria ser misturada o mas ela não é tão livre quanto se pode imagi-
sangue de cinco animais diferentes, cada um vinculado a um sen- nar e conseguir seus favores pode demandar
tido. Por fim, o ritualista precisaria entoar o canto correto, mas elaborados rituais que enfraqueçam a tia da
esse trecho do livro continha palavras ilegíveis. Técio não desani- realidade, abrindo um novo Ventre Negro.
mou, na tentativa e erro teria o seu serviçal e, pelo menos uma
vez na vida, mandaria em alguém. Cortejo Sombrio: O cortejo existe desde
que o homem teve noção da existência de
• A Magia da Luz uma força antagônica ao Criador disposta a
A magia divina, vinda do Criador, perdeu seu poder de in- dar a ele as respostas de uma forma mais rá-
fluência desde o Ciclo da Ausência, mas ainda pode ser sentida pida e prática.
em determinados momentos dentro da ambientação, quando
existe o Despertar ou quando a Fé consegue traduzir a trama
da realidade. Ordens e Cultos: Muitas vezes sem saber,
pessoas se envolvem em cultos distorcidos
Arautos: Passando pelas Três Marcas do Criador, qualquer que atendem as demandas da Sombra, no lu-
pessoa de Belregard pode despertar para a verdade do mundo gar de qualquer outro interesse supostamen-
e assim tornar-se capaz de realizar pequenos feitos, por mais te propagado.
que não tenha uma plena consciência disso.
Corrupção: Aqueles que vivem fora da li-
O Subjetivo: A magia subjetiva se explica pela religiosidade nha da retidão e da vigília contra o Inimigo
de Belregard. É quando o cavaleiro sacro, ou o alto prelado da acabam se enveredando pelas trilhas tortas

286
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
do pecado e assim são agraciados pela Som- teatro da guerra, se envolvendo com o fornecimento de víveres
bra, desde que continuem com o “bom tra- ou armas aos lados do conflito.
balho”.
Jogando em crônicas militares não pense que todas as sessões
• Como eu começo? de jogo narrarão combates entre as frentes. Por vezes uma cam-
Ainda que procedimentos prévios tenham panha inteira pode relacionar ao cerco de uma cidade. Atacar ou
sido bem objetivos para que pensemos em como resistir e desenvolver cada desdobramento dos diferentes grupos
começar um cenário ou até uma campanha em envolvidos gerará jogos bem interessantes. Pense em uma missão
Belregard, indicaremos cinco modalidades ar- de entrega de mensagens fugindo dos olhares do exército rival.
quetípicas que são plausíveis para deflagrarem Porém, no caminho tranquilo, ao lado de uma fogueira aconche-
as histórias nesse mundo derrotado. Elas não as gante, a manifestação bestial da Sombra Viva que fora nutrida
únicas, mas o faremos justamente a fim de auxi- pelas mortes de inocentes irromperá, surpreendendo os mensa-
liar os iniciantes. geiros. Mas não se surpreenda se algum deles sorrir. Há quem já
se sentirá acalentado pela corrupção.
I. Braço da igreja
Neste tipo de campanha, os jogadores se rela- III. Cavaleiros mercantes
cionam com a Igreja do Único de alguma forma. Apesar de Varning ser o único centro comercial declarado, to-
Alguns podem ser como cavaleiros, bastiões da das as castelanias possuem cavaleiros mercantes. Cenários que
fé. Outros pesquisadores, seguindo o Lazlo, o envolvam a proteção, escolta ou a resolução de algum problema
Puro. Há comerciantes que vendem suas quin- que afeta os interesses de um patrono são bem comuns e facil-
quilharias e que têm seus interesses diretamente mente conduzidas pelos narradores de Belregard.
afetados. Cozinheiros, tementes à fé e até sacer-
dotes são personagens comuns. Lembre-se que a viagem não é algo simples e apresente as difi-
culdades da marcha, bem como lembre a todos que o estrangeiro
Sendo um braço da igreja, os cenários se en- é uma figura por demais desconfiada em um mundo repleto pelo
volverão com a tensão entre poderes locais e a isolamento. Apresentar cultos bizarros e rituais profanos incrus-
fé propagada por Birman. Sincretismos locais, tados nas mais pacatas vilas pode ser algo interessante enquanto
exorcismos, questões voltadas ao mistério, sal- um cenário inserido em uma campanha de cavaleiros mercantes.
vação da alma e até intrigas políticas farão par-
te das sementes para os cenários. Não há neces- IV. Jogos de corte
sidade de relacionar os jogadores ao Tribunal do Por aqui os jogadores terão intrigas, jogos políticos e flerte com
Supremo Ofício. Inclusive o não cumprimento assuntos notadamente próprios à nobreza ou demais grupos diri-
de determinadas missões fará com que esse se gentes de castelanias. Não pense que será um jogo simples,
volte contra os personagens. uma vez que as traições e manipu-
lações políticas são recorrentes,
II. Crônicas militares como apresentado nos tomos
Barreira de escudos, sangue, urina e rancor. de Belregard.
Os personagens farão parte de algum desta-
camento de uma força militar ou ainda serão Uma vez que temos uma so-
sobreviventes em um conflito deflagrado. Ou ciedade com grande clivagem
ainda, eles poderão se relacionar às margens do social, espera-se que todos jogadores te-

287
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
a
QUE SÃO OS CAVALEIROS MERCANTES?
“Semper Fidelis!” – Lema dos Cavaleiros Mercantes.
A despeito do nome que recebeu por sacerdotes em suas torres intocadas, a Era da Luz mostra-se como um tempo de escuridão das
relações em Belregard. O mundo encontra-se isolado em si mesmo, castelanias ainda atendendo pelo mesmo nome por uma mera
conveniência e costume passado pelas gerações. Reis tentando puxar as cordas de suas cortes, mas sentindo-as se partirem quando
cada homem passa a se considerar mais senhor de si. Tendo apenas a igreja para se voltar, só atendendo aos apelos de união quando
a promessa de uma danação na Alcova Profana, ao invés do regalo da Abóbada Celeste, se faz ouvir da boca lépida de um prelado.

Nesse mundo de caminhos abandonados, até mesmo o comércio luta para manter-se vivo. Antigas casas mercantes encerraram suas
atividades há muito tempo, outras tentaram meios duvidosos para manter o lucro e hoje, contra todas as expectativas, os chamados
Cavaleiros Mercantes se erguem como uma grata visão para os que vivem isolados. Um movimento que iniciou-se na castelania de
Varning, já famosa por sua dedicação ao comércio, tem se espalhado na medida em que os cascos dos cavalos se fazem ouvir em
cantos afastados do mundo civilizado.

Não são nobres, apesar de um ou outro aspirante a cavaleiro real já ter vestido o manto de Mercante, mas gozam de uma certa fama
nas comunidades em que agem. Destemidos, os Cavaleiros Mercantes costumam ser homens livres que, seja por falta de opção ou
aspiração genuína, juntam o que podem para ganhar as estradas e novamente conectar cidades, vilas e reinos. Alguns vagam com
pouco, sozinhos, carregando apenas o que precisam para sobreviver, ou ainda menos, outros andam em bandos, bem equipados e
carregando estandartes.

Não são mercenários, não são simples andarilhos de estrada. Os Cavaleiros Mercantes normalmente trabalham para casas influentes,
ou para monarcas interessados em saber o que pode existir além daquela floresta, ou daquela montanha, a dois, três, quatro dias de
viagem de suas terras. Seriam caçadores de recompensa, caso o termo lhes coubesse.

Existem muitas formas de se tornar um Cavaleiro Mercante, alguns homens livres podem ser contratados por casas que dedicam-se
ao comércio e desejam ampliar sua área de influência. Até mesmo nobres, como algum segundo ou terceiro filho que não herdaria
muito dos pais, pode decidir essa vida quase autônoma no lugar da clausura dos monastérios. Nem todo caso é brando, existem os que
contraem sérias dívidas e acabam sendo forçados a aceitar contratos que mais se assemelham a aceitação da escravidão, coisa que
costuma ser repudiada nas castelanias. O que parece ligar todos estes homens, e mulheres, é o espírito livre, incapaz de se adequar no
mundo monótono e fechado em si por esta era de trevas.

Acredita-se que os cavaleiros mercantes tenham sido inspirados pelas obras de S. Genaro, o Imbatível. Genaro foi um sacerdote do
Tribunal que viveu no período da queda do Império. Ele viu as castelanias ruírem e entregarem-se ao caos. Enquanto todos procuraram
a segurança de suseranos, Genaro convocou aqueles capazes e sem desejar nada em troca prestou serviços a senhores e vassalos,
atravessando territórios em disputa para levar o que os necessitados precisaram. Quando era confrontado, tentava apelar para o amor
ao Criador; quanto este era negado, fazia valer a força conquistada nos treinamentos diários da abadia de Leoric e logo trazia o arre-
pendimento aos que se colocavam em seu caminho.

Genaro inspirou muitos e foi canonizado logo após sua morte. As casas mercantes de Varning fizeram uso de sua imagem, clamando
por aqueles corajosos e benevolentes, conseguindo candidatos aos primeiros cavaleiros mercantes que, depois de um voto de pobreza
para lembrar a humildade de Genaro, passaram a servir às casas que continham pelo menos um membro da igreja em seu grupo in-
terno. Uma forma de se ajudarem. A igreja não condena o comércio daqueles que aceitam um dos seus por perto.

Logo a ideia se espalhou e muitas outras castelanias surgiram com um ideal semelhante, como os Cães de Belghor ou os Hussardos de
Rastov. Com uma diferença ou outra em seu recrutamento, mas sempre com o desejo de fazer a diferença no mundo lançado à treva
e com a total dedicação às suas casas mercantes.

288
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
nham justificativas para circular em cortes de piores formas possíveis. E após tudo isso, se sobreviverem, quem
inverno, banquetes e apresentações artísticas. acreditará?
Torneios como justas e caças esportivas são ati-
Loucura é o caminho mais esperado, mas nem sempre o úni-
vidades igualmente possíveis de ocorrer neste
co. Qual será o destino do jogo após um confronto direto, uma
tipo de jogo. Mas não se esqueça que junto aos
audiência carnal contra as forças da Sombra? O que fará o bravo
banquetes refinados podemos presenciar orgias
cavaleiro leorista após ter sido amaldiçoado por um Ímpio? Como
que nutrem cultos macabros, envenenamentos
será continuar após visitar uma Casa de Luz e saber que as ver-
e assassinatos frios motivados por vingança ou
dade que conhecia, nada mais são do que manipulações humanas
apenas crueldade. Afinal, trata-se de Belregard.
para encobrirem a verdade? Como lidarão com suas vidas após

V. Histórias do cotidiano descobrirem que Deus está realmente morto?

Vive-se tranquilamente em uma pequena ci-


• E os Arautos?
dade. Um é um pároco da pequena capela ale-
Entre os tipos de jogos em Belregard, o de Arautos configu-
cista. Uma verdureira expõe seus produtos em
ra uma categoria especial. Abaixo estão os ditames básicos para
uma barraca móvel. A produção é praticamente
compreender o papel de um personagem que assume o manto
apenas para a subsistência e todos se conhecem
de Arauto dentro do mundo de Belregard. É preciso lembrar: A
pelo nome. Aliás, todos se conhecem até de-
Sombra realmente venceu, o Arauto é o sinal claro de que o dom
mais. Há muitos segredos guardados por aqui.
do Criador se manteve e, por isso, eles serão caçados.

Em histórias do cotidiano teremos cenários 1. Os Arautos Originais


que partirão da rotina de uma pequena vila ou Como apontado no manuscrito de César, originalmente os
até de Rivienza, a capital cosmopolita de Var- Arautos formavam um grupo de 26 seres. Muitos deles são co-
ning. nhecidos pelo povo, seus nomes são invocados em momentos
particulares. São os santos celestes, seres de luz que protegem
Mas o que importa é que o tecido narrativo
os humanos.
terá a vida de cada protagonista em sua roti-
na como gancho para as histórias. O filho de 2. O que São os Arautos no Jogo?
alguém teve o pé perfurado por um prego e é Arautos são pessoas que despertaram para a verdade do mun-
necessário estancar o sangue ou há lobos que do. Homens e mulheres que podem ter vindo de qualquer lugar, de
matam as ovelhas são algumas sementes sim- qualquer condição social e que, depois de sofrerem as três marcas
ples para iniciar um cenário. Parta do local e semelhantes a do próprio Criador, abriram seus olhos e passaram
insira lentamente camadas de complexidade às a entender que, de fato, Deus está morto. Ninguém olha pelos
histórias. povos de Belregard. A Sombra venceu e lutar contra ela é como
enfrentar a queda de uma colossal catarata.
VI. Sobrenatural
Tudo parece um desfile de horror, um cortejo 3. Como Acontece?
sombrio guiado pelos acordes das forças inuma- Qualquer pessoa do mundo pode despertar, mas é fato que os
nas. Os personagens presenciarão o mal, nu e Arautos são raros. O principal ingrediente desta transformação é
cru, em carne, osso e além, bem na sua fren- que passem pelas três chagas do Criador. Uma marca no Corpo,
te. Verão bestas, monstros, aparições e coisas uma no Ego e outra no Espírito. A Marca do Corpo geralmente
piores. Presenciarão pessoas serem mortas das está relacionada a alguma severa moléstia da carne. A Marca do

289
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Ego pode estar relacionada à vida social do mortal, como quando ao mundo mortal. No entanto, essa não é uma
um nobre perde seu título, um humilde caçador recebe o título de luta justa. A Sombra venceu e o que os Arautos
Cabeça de Lobo, ou quando um honrado cavaleiro torna-se um podem fazer é erguerem-se como uma última
pária por um crime que não cometeu. Por fim, a Marca do Espírito resistência contra os males do pecado. Estes
costuma estar ligada a alguma revelação, descoberta ou mesmo homens e mulheres são capazes de sentir a pre-
trauma psicológico relacionado a uma das outras duas Marcas.} sença da Sombra e assim podem combatê-la
diretamente. Seus discursos inflamados, sejam
Exemplos de Marcas: eles religiosos ou não, costumam ser capazes de
• Da Carne: espancamento, tortura extrema, estupro, aborto acender a chama do desejo pelo bem e pela luta
forçado, deformações, acidentes, ou seja, vislumbre da morte contra o Inimigo. Não faltam lendas de Arautos
através da falência do físico. O sofrimento na carne, nos ossos e
que cumpriram tarefas impossíveis para qual-
no sangue.
quer outro filho do Pai.
• Do Ego: Humilhação extrema, perda de algo conquistado, in-
justiça, loucura, isolamento, depressão, rebaixamento, afronta, 6. Qual o Lado Ruim?

vexame, degradação. O sofrimento no ego, na sociedade e no De imediato, nenhum. Mas o uso constante da
mundo. Bravura faz com que a Sombra passe a prestar
mais atenção no Arauto e, como ela venceu, co-
• Do Espírito: Perda de esperança, fatalidade, o triste fim das
meça a esticar seus tentáculos sutis para fazer
coisas, a injustiça do mundo, o carrasco da fé, a testificação do
com que o próprio mundo passe a agir contra
mal, o fortalecimento do ceticismo. O sofrimento no espírito, na
ele. A Sombra jamais atacaria diretamente. Nem
essência pura, na centelha perfeita e divina.
mesmo é possível conceber uma forma física
para a mesma, ela não está em lugar algum, ela
4. O que Muda?
simplesmente é. Sendo assim, o Inimigo é capaz
Não muita coisa, mas o Arauto passa a ver o mundo com outros
de influenciar os outros seres do mundo para
olhos. É preciso lembrar que não existe uma ordem, ou grupo
apenas de Arautos. Eles estão sozinhos, largados em um mundo que atuem contra o Arauto de forma discreta,

escurecido pela Sombra, iluminando a imensidão com uma luz naturalmente. Guardas suspeitam deles, são

esperançosa. Nem todos estão dispostos a lutar mas, os que ten- réus de crimes que não cometeram, criminosos

tam, percebem logo o peso da derrota. Arautos costumam atrair os consideram presas fáceis, sacerdotes cheiram
pessoas honestas para perto de si. Como a Mentira é uma face a heresia ao seu redor. Como dito, não é uma
da Sombra, mesmo os mais inocentes enganos são como flertes luta justa.
para a Sombra. Talvez essa inspiração para a honestidade seja
7. Então ele é um devoto do Único?
capaz de unir Arautos de uma forma inconsciente. Uma coisa é
Não. Muitos Arautos nem sequer tinham al-
certa: quanto mais um Arauto se aproxima da sua origem, mais a
gum tipo de adoração, ou pior, louvaram adora-
Sombra irá caçá-lo.
ções antagônicas ao Único. Um Arauto é movi-
5. Pra que Serve? do pela Bravura, a força impetuosa que o lança
Os Arautos são capazes de se utilizarem de sua Bravura para contra o paredão petrificado que é a Mentira.
combater a Sombra. Tornam-se verdadeiros faróis de luz no mun- Não é preciso ter fé, crença ou devoção, é pre-
do sombrio. Alguns deles podem ser capazes de operar pequenos ciso ser bravo, duro, resiliente e corajoso para
milagres, coisas que só eram possíveis antes da vinda do Criador enfrentar a Sombra e seus Ímpios.

290
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
8. E as Regras? contra o Arauto. Não é um efeito escrachado, mas sutil. Pessoas
Tornar-se um Arauto é apresentado em regras começam a suspeitar do Arauto ou simplesmente recebê-lo de
no nosso capítulo seguinte. O personagem pre- forma rude. Mesmo um amigo, ou amante, irritar-se-ia mais facil-
cisa passar pelas três marcas e sobreviver a elas. mente com o usuário da Bravura. Um local onde a Sombra se faz
A marca do corpo não pode matá-lo, a da alma mais poderosa é chamado de Ventre Negro e é por ele que toda
não pode enlouquecê-lo e a do ego não pode sorte de corrupção e desgraça nasce para corromper o coração
transformá-lo em alguém absolutamente alheio humano.
ao mundo ao seu redor. Passada esta experiên-
cia, que pode ocorrer toda no mesmo momento O Ventre Negro
ou ao longo da vida, o personagem ganha um O Ventre Negro não precisa ser um local físico, mas normal-
ponto em Bravura, que o permite realizar certos mente se mostra em algum lugar onde grandes heresias ocor-
feitos, que serão descritos no próximo capítulo, reram. Quanto mais profano, maior o poder da Sombra. Caso
juntamente com a Bravura. um Arauto se utilize de seus dons nestes lugares, ele certamente
sentirá uma repreensão quase que imediata. Lembrando que a
• A Bravura dos Homens e dos Sombra não age de forma descarada, mas faz com que o próprio
Arautos mundo, dominado por ela, faça o Arauto sentir as consequências
A Bravura mede a relação do personagem de seus atos. O Ventre Negro é como uma rachadura na defesa
com a essência deixada pelo Criador no âmago do mundo colocada pelo sacrifício do Criador, são locais onde
de cada mortal. Quanto maior sua sintonia com a atuação do inimigo é tão intenso que ela quase se manifesta
o Único, mais o Arauto se sentirá deslocado no fisicamente.
mundo, isso porque ele vê as coisas como real-
mente são. Bravura representa uma visão am- • Arquitetura de um cenário
pliada do mundo, tornando o Arauto capaz da Aconselhamos que os cenários sejam montados de uma forma
realização de pequenas façanhas, mas expon- simples, propiciando a exploração não-linear do mesmo. Para tan-
do-o aos poderes sombrios. A utilização requer to, ele deve apresentar uma breve ficção, o que se sabe, os pontos
cuidado, os efeitos negativos dependem da in- de interesse para o grupo de jogo, a verdade por trás dos panos,
tensidade da Sombra em um determinado local. os movimentos, o xeque e as peças em jogo. A metáfora por aqui
é a de um jogo de xadrez, sendo os diferentes personagens as pe-
A Bravura é a principal arma contra a Som- ças e as ações e cenas possíveis os movimentos do jogo.
bra, de modo que em um mundo dominado pelo
Inimigo, escurecido por seu manto de Mentira e Inicialmente crie uma pequena ficção que apresente, sob o pon-
discórdia, um Arauto que se utilize da Bravura to de vista de um partícipe da história, a trama central. Um poe-
mostra-se como um imenso farol iluminando a ma, um sermão de um sacerdote, a fala de uma sábia anciã. Isto
escuridão e a Sombra não gosta de ser incomo- deve abrir o cenário, já sendo uma forma de inserir os jogadores
dada. Quanto maior for a influência do Inimigo no enredo deste cenário.
em um determinado local, mais severa será sua
reação contra aqueles que tentarem acabar com Em o que se sabe, o narrador listará tópicos indicando boatos,
seu poder. O narrador deve deixar claro que, repercussões sobre o conflito central do cenário e o que cada
quanto mais se usa Bravura em um determinado facção em jogo tem conhecimento sobre aquele evento. A partir
local, tendo sucesso ou não, mas a própria natu- disso, ele desenvolverá também em tópicos curtos os pontos de
reza do mundo e das pessoas parecem se voltar interesse, ou seja, as prováveis motivações para que os jogado-

291
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
res estejam lá. É claro que ele pode trabalhar junto aos jogado- • Como eu termino?
res para que isto seja orgânico, sobretudo quando estão em uma Normalmente as campanhas de RPG pos-
campanha. suem um telos, um fim. Mas aqui não temos a
libertação de um reino, a aquisição de honra e
A seguir, há uma informação que só ele detém. Em a verdade
glória ou o salvamento de uma donzela. Ok, isso
por trás dos panos a mentira é retirada de cena e o grande misté-
pode ocorrer, mas não é a meta do jogo.
rio, o motor da corrupção se apresenta. Os jogadores não terão
acesso a isto, obviamente, mas poderão (ou não) descobrir duran-
A forma mais comum para o término de uma
te o desenvolvimento do cenário.
campanha é a velhice e a morte dos personagens.
Isso mesmo, algo realmente hodierno. Não é in-
Logo a seguir, o narrador lista os movimentos do cenário. Não
comum pensar no final da campanha narrando os
menos de 3 e não mais de 7 movimentos são suficientes para uma
últimos dias de um protagonista, que toma sopa
boa sessão de Belregard. Por movimento entende-se mais do que
em seu leito sem qualquer lembrança de ter den-
uma cena, mas uma situação que é acionada por meio de um gati-
tes em sua boca. Converse com os jogadores. As-
lho narrativo. Por exemplo, o movimento O córrego bravio é acio-
sim que eles desejarem fazê-lo, conduza sessões
nado caso eles tentem chegar à casa da aldeã que estranhamen-
que tratem da passagem de tempo até o fatídico
te decidiu morar sozinha no meio da mata. O movimento indica
dia da morte da cada um. A sugestão é que uma
realmente o movimento da história, algo que a faz seguir adiante.
sessão seja exclusiva para tratar disto, inclusive
Logo, é necessário haver um conflito narrativo, um obstáculo ou
indicando a reação de familiares, amigos e dos
pista em cada movimento. Fora deles, a narrativa é livre e a inter-
demais personagens que ainda não morreram.
pretação deve ser estimulada a todo custo. O narrador não deverá
indicar quando um movimento é acionado, e não há necessidade
É possível estabelecer marcos e uma meta
de acionar todos o movimento em um cenário.
final para campanha. Caso sejam cavaleiros
A forma pela qual se desenrolam os movimentos e seus desfe- mercantes, não é incomum pensar que eles tra-
chos possibilitará o acionamento do xeque de um cenário, que é balharão até que não tenham mais disposição
o movimento conclusivo. Por exemplo, em um cenário no qual há física para marchar e não tenham como seguir
um Ventre Negro em crescimento e que durante os movimentos em frente.
não houve a interrupção da fonte da corrupção que o nutre, o
xeque será a manifestação da Sombra Viva ante os personagens, O que queremos dizer com isso? Se Belregard

por exemplo. Ao criar um cenário, construa condições para dife- é um jogo sobre vidas comuns em um mundo

rentes xeques, fazendo com que as todas as escolhas tensas dos decadente, o final de uma campanha não será

jogadores sejam significativas. Salvar a criança que está sendo épico, porém particular, prosaico e singelo. E a

afogada pela mãe e interromper o sermão macabro do sacerdote miserável vida de cada um provavelmente não

reduzirão o poder que o Ventre Negro possui, fazendo com que terá peso nenhum sobre o mundo todo. Exata-

o xeque seja bem distinto do apresentado no exemplo anterior. mente isso, você é apenas mais um apunhado
de carne e ossos que apodrecerá como qualquer
Não se preocupe com exemplos de cenários. O Lampião Game um, e seu nome será esquecido, talvez será até
Studio fornecerá vários cenários gratuitos aos jogadores de Bel- escarnecido pelos seus desafetos.
regard.
Em outros termos, o final da campanha é sem-
pre um final individual, o fim da jornada, a mor-

292
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
te de cada um. Encare isso como algo costumei- como algo que realmente ocorreu no cenário, mas como uma ver-
ro, como um elemento que não afetará o mundo, são sobre algo. Há outras? Sim. Durante o próprio texto há inúme-
salvo se realmente algo grande tenha sido feito ras contradições propositalmente criadas a fim de que o conceito
pelo protagonista que se recolheu. de cânone inexista nesta obra.

A recomendação inicial é ouvir os jogadores. Queremos que você e seu grupo de jogo encontrem a sua forma
Quando eles acharem que é uma boa hora para de vivenciar o podre, o sujo, o perverso, o cruel. Ou seja, a vida
se recolherem, avance o tempo e narre junto a humana. Não acreditamos em esperança. Não queremos nada
eles a sessão derradeira, representando o enve- além da miséria vivenciada em suas entranhas por meio desta
lhecimento e morte. Ou ainda, eles podem mor- obra, mas sabemos que vocês poderão particularizar isto tudo,
rer em combate, por doenças, etc. Faça com que fazendo com que nosso livro seja apenas fonte de inspiração para
o término de uma história seja importante para mente corrompida que vocês possuem. Então pervertam o que
cada jogador. está aqui, façam a sua própria Belregard. Usem os boatos, criem
os próprios para as suas histórias, façam o mundo ser vivo para o
Outra forma de fazê-lo é imaginar a campa-
seu grupo de jogo.
nha com marcos e um tecido narrativo pré-con-
figurado. Por exemplo, uma campanha se pas-
Adiante, no próximo capítulo, você conhecerá as regras de
sará em 10 anos, ou durante 2 monarquias em
Belregard, como criar seus personagens e iniciar um jogo imerso
Latza. Use esses marcos para estabelecer os sal-
nesse mundo sombrio e brutal.
tos temporais e conduzir o término da história
criada coletivamente. Por fim, preste atenção às últimas palavras deste capítulo. Elas
serão necessárias para a condução de seus jogos.
Pode parecer estranho este método àqueles
que têm experiência em jogos estruturados ou
com uma grande verdade por detrás dos panos. TUDO QUE
Porém, este é um jogo hodierno, desesperanço- DISSEMOS
so e sobre um mundo já fadado ao fracasso. Si- É UMA GRAN ATÉ AGORA
mula-se a degeneração e a sobrevivência huma- DE MENTIR
A.
na em suas formas singelas e particulares. Não AGORA É A H
há grandes arcos, motivos para viver ou vilões. ORA DE VOC
Descobre-se o obstáculo a viver a cada dia e o Ê CRIAR
dobrar uma esquina pode ser o encontro com
A SUA.
a morte. E ela é o verdadeiro fim da história de
seu personagem, provavelmente em uma cova
rasa e sem honrarias. Afinal, deus está morto
Mas como eu Começo a Mentir?
em Belregard.

Calma, vamos te ajudar…


• Verdades
Não há verdade em Belregard. Cada tomo foi “Padre, eu pequei...”
escrito sobre a perspectiva de um personagem Aqui falaremos sobre uma espécie de criação orgânica de per-
fictício. Você, narrador, deverá tomar aquilo não sonagem em Belregard, utilizando um cenário base, padrão, coti-

293
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
diano da vida nesse medievo precário, para lançar a orientações Tabela 1 - Provação
gerais na direção que esse personagem deve ser construído. Ba- 1 - Ira
sicamente é um método que não necessita de regras específicas 2 - Luxúria
voltadas para qualquer sistema, firmando-se principalmente em 3 - Avareza
perguntas e respostas. Apesar disso, como parte do desenvol- 4 - Inveja
vimento do Belregard, vou utilizar o Crônicas RPG como base 5 - Gula
quando precisar fazer algum apontamento de regras como exem- 6 - Role de novo
plo.
Deixe o jogador escolher, ou role na sorte,
qual das Provações o tentou e, desse modo, o
Começando
padre deve pedir para que ele conte como foi o
Tudo começa de forma bem simples. Junte seus jogadores na
acontecido. Aqui nós assumimos um flashback.
mesa e deixe que cada um escolha apenas o básico, uma etnia,
Nesse flashback, o jogador irá narrar o que
um nome (importante ter algumas opções disponíveis. Os nomes
ocorreu com ele no momento em que pecou. Es-
de Belregard possuem referências fáceis de italiano, latim, fran-
timule a participação de outros jogadores, como
cês, russo e etc), talvez uma ocupação, um trabalho, algo com o
coadjuvantes envolvidos na cena. Dê algum tipo
que ganha a vida, ou sobrevive, além da idade. A castelania não é
de recompensa, como um ponto de experiência
importante nesse momento, se tudo der certo vocês conseguirão
pela participação colaborativa na criação do
criar um cenário base, inicial, depois dessa sessão prévia de jogo.
drama daquela cena em questão, acrescentando
Desse modo, podemos fechar a preparação da seguinte forma: elementos, participando do momento.

Um nome Talvez ela seja um jovem guloso que não guar-


Uma etnia dou a lavagem para os irmãos mais novos, que
Uma ocupação/ofício estão péssimos de saúde, ou ela tenha quebrado
Idade a espada de treino na cabeça de outra escudeira
Um ficha de personagem num ataque de ira, ou ainda seja uma parteira
que deixou um bebê morrer, invejosa da ferti-
Confissão lidade da mãe, já que ela mesma não pode ter
O processo se inicia com a fala que da nome ao artigo. Esco- filhos. Ideias pesadas? Imorais? É pra ser mes-
lha um dos jogadores, tire na sorte, mo. Mas não se esqueça, só você, enquanto nar-
e inicie com ele no confessionário, radora, conhece o seu grupo e com isso deve
revelando seus pecados para o padre saber dosar as ideias, dizer até onde vai o limite.
local. Esse jogador será o JOGADOR O jogo pesado, denso, ainda deve ser agradável
FOCO do momento, e este processo para todos.
se repetirá com cada um deles. A Pro-
Tome nota de todas as contribuições, afinal de
vação (como chamamos os pecados
contas, de forma orgânica, locais e personagens
em Belregard) pode ser representada
serão criados nesse momento. Se seus jogadores
por um dos cinco pecados:
estiverem com dificuldade para imaginar uma
cena envolvendo um pecado, você pode tentar
usar alguma geração aleatória, rolando um dado
para decidir o ambiente da cena, algo como:

294
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Tabela 2 - Local da Cena 29 - Podridão
1 - A própria casa com a família 30 - Dúvida
2 - Casa de outros como visita/invasor 31 - Mentira
3 - Trabalho 32 - Sobrevivência
4 - Lazer 33 - Dor
5 - Igreja 34 - Excrementos
6 - Local público (uma feira, um pronuncia- 35 - Sexo
mento, um julgamento, uma execução, etc) 36 - Melancolia

Ainda está ruim de ter ideias? Bom, pense em Exemplo: Digamos que aquela escudeira que teve um ataque
palavras chave que transmitem o sentimento de ira no meio do treino rolou e caiu: Sangue, Insegurança e
de Belregard, vamos te ajudar nisso. Role 6d6 Brutalidade. Fica fácil de associar. O personagem FOCO, em seu
três vezes, anotando as palavras que foram sor- treinamento, inseguro de suas próprias capacidades, frustrado,
teadas, utilize-as como um norte para orientar se deixou levar pela raiva e eliminou um concorrente para o car-
aquela cena. go de cavaleiro, matando seu parceiro de treino com pauladas,
rachando-lhe a cabeça.
Tabela 3 - Palavra-chave para a constru-
ção da Cena
Perceba que, na descrição do pecado, é provável que algumas
6 - Tristeza
possíveis habilidades de seu personagem sejam citadas, como a
7 - Crueldade humana
luta do exemplo acima. É interessante, então, que esse persona-
8 - Escolhas difíceis
gem tenha alguma habilidade com manejo de armas, talvez até
9 - Fetiches
uma Fraqueza que reflita essa entrega ao ódio e sanguinolência.
10 - Doença
Estes traços devem ser marcados na ficha, ajudando o jogador a
11 - Fé
perceber quais serão os pontos fortes e fracos de seu persona-
12 - Melancolia
gem.
13 - Sujeira
14 - Sofrimento
É importante lembrar que a cena deve acontecer de modo rá-
15 - Violência
pido, sucinto e direto. Conte como se conta um sonho, sem muito
16 - Deturpação
detalhes, focando-se no que é importante. É importante que o
17 - Corrupção
processo não seja enfadonho. Outro ponto importante é motivar
18 - Loucura
que os jogadores cruzem suas cenas, colocando personagens não
19 - Sangue
jogadores criados antes nas cenas de outros, de modo a já criar
20 - Traição
uma interação, mesmo que indireta, entre eles.
21 - Umidade
22 - Insegurança As cenas de foco terminam quando o pecado é explicado e o
23 - Etiqueta padre pode ponderar sobre a punição, sobre a forma como este
24 - Prazer pecador deve expiar sua corrupção, o que geralmente pode vir na
25 - Brutalidade forma de orações e algum tipo de pagamento, seja em moedas
26 - Sombras ou bens, para ajudar a paróquia e garantir um lugar na Abóbada
27 - Névoa Celeste. Mas quem é esse padre?
28 - Ocultismo

295
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Confissão atento aos funerais e roube sepulturas frescas,
O padre deste exercício é um reflexo da vida em Belregard. Por quando percebe algo de valor sendo enterrado
mais que as pessoas venham de povos e castelanias diferentes, a com o defunto.
religião é a argamassa que une a todos. Dessa forma, é o padre
Inveja: Através das confissões, o padre se tor-
desta criação de personagens que vai unir os mesmos, ele é o cen-
na ciente das posses e dos feitos de outras pes-
tro da comunidade, que conhece os segredos de todas as pessoas.
soas, isso o torna um verdadeiro destruidor de
Dessa forma, é importante descobrir quem é esse homem. Ele é
vidas. Motivado pela inveja, pelo ciúme da aten-
um padre bom? Uma pessoa boa que realmente se preocupa com
ção dada aos outros, ele pode iniciar as fofocas
os demais? Ele fofoca sobre o que lhe contam? Ou guarda segre-
para arruinar a vida de alguém, quem sabe até
dos? Não precisamos definir tudo isso, o importante aqui é que
de um dos personagens.
o padre da cidadezinha dos personagens é um homem falho. Ele
tem seus próprios pecados e é com as falhas deste homem que
Gula: O padre é egoísta, ele quer sempre mais.
iniciamos uma história baseada nessa criação de personagem.
Seja a gula direta, da comida ou da bebida, seja
A única coisa que precisamos saber é: Qual o pecado do padre? da carência por atenção. Ele pode exigir entre-
gas mensais de alimento em seus depósitos, para
Você pode rolar novamente na Tabela 1, como fez para os per- que as bênçãos sobre a vila continuem. Ele pode
sonagens e com base no pecado, criar uma cena inicial em que promover banquetes aos miseráveis, onde serve
algo coloca este homem em risco, ou ele mesmo é o risco, e não apenas pão e água, enquanto ele mesmo come
deixe de utilizar o que já foi apresentado, seja com as localidades carnes e bebe vinhos. Prefere deixar os grãos
(Tabela 2) ou com as palavras (Tabela 3) que transmitem o senti- mofarem em seu depósito, para depois servir.
mento. Aqui, na cena do padre, nós teremos uma criação conjunta
de todos os personagens elaborando o problema em questão. O problema com o padre servirá como pon-
tapé para o jogo, criando uma primeira cena,
Abaixo alguns exemplos, utilizando apenas a Provação (o pilar
seja ela de fuga, de caçada ou de combate, co-
central dessa cena) como base:
locando os personagens juntos e, normalmente,
Ira: Durante uma pregação fervorosa o sacerdote pode ter incu- prontos para antagonizar o padre. Os desdobra-
tido ira e revolta nos moradores, talvez contando sobre o segredo mentos disso podem ser muitos e desse ponto
de algum morador (quiçá personagem) e a turba deseja punição. em diante foge ao nosso controle de previsão.
Ou ele mesmo, num ritual de purificação, um exorcismo caseiro,
Nessa altura, deixe que os jogadores termi-
tenha gerado a morte de um morador.
nem as fichas e com base no que foi apresenta-
Luxúria: O padre pode ter descoberto sobre as orgias que os do em todas as cenas, vocês podem escolher em
nobres fazem, ou pode ter sido ele mesmo flagrado enquanto que castelania se localiza este lugar.
realizava algumas bênçãos especiais na juventude local. Os pra-
ticantes, em ambos os exemplos, podem estar relacionados aos
CADA VILA É UM MUNDO
personagens.
Onde houver dois ou mais, ali há uma histó-
Avareza: Pode-se descobrir que a igreja guarda algumas rique- ria de Belregard. Cremos que na maior parte do
zas, presentes de nobres que eventualmente visitam o local. Ri- tempo, não se faz necessário mais do que uma
quezas que poderiam ajudar a população. Ou, ainda, o padre fique vila para se contar uma grande história. Tramas

296
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
gigantescas são incríveis, sabemos disso, mas Desenhe um rascunho simples de um vila, uma igreja, uma pra-
cremos que a melhor isca para fisgar àqueles ça, e assim por diante. Aqui é hora de fazer algumas perguntas
que querem entender o clima de Belregard, seja provocativas e construir o mundo com base nas respostas. Esco-
o jogo interiorano e íntimo. lha um dos jogadores e pergunte “Onde você mora nessa vila?”
Escreva seu nome a lápis no local apropriado. Então, próximo a
A vida é o palco da desgraça e o ser huma- ele, escreva um nome inventado e faça uma pergunta instigante, a
no é a estrela principal. Pensando nisso, apre- pergunta irá desencadear novas possibilidades, pense bem sobre
sentamos um modo de jogo focado no micro, ela: “O que você fez ao ouvir o vizinho espancando sua esposa
na desgraça da vida cotidiana de um pequeno semana passada?”, essa é uma pergunta que impõe um fato sobre
assentamento, aquele tipo de lugar onde todos o jogo. O Mestre disse que ele o fez, não há como voltar atrás,
se conhecem e seus segredos não ficam escon- apenas adicionar mais informações, mas não negá-la.
didos. Um lugar onde viagens são menos impor-
tantes, onde a graça do jogo é viver os dilemas “O que seu vizinho faz que lhe irrita?”, do mesmo modo, existe
dos relacionamentos humanos. algo que irrita o personagem, mas o que é?

Então, na primeira sessão vocês devem ras- “Me fale sobre algo interessante do seu vizinho”, aqui podemos

cunhar um MAPA DE ASSENTAMENTO, algo deixar a coisa leve ou “me fale algo podre sobre o passado do

simples, apenas pra dizer onde ficam as princi- seu vizinho”, aqui já dizemos novamente um fato imposto, mas
o que será?
pais residências. A casa da autoridade (burgo-
mestre, barão e etc), a casa da justica (delega-
“Como você lida com o fato do seu pai ter matado o filho do
cia, casa de guarda e etc), armazém, ferreiro,
vizinho numa briga de taverna” aqui, mais uma vez, impomos um
taverna e assim por diante. A função de cons-
fato e é dever do jogador continuar a criação a partir daí
truir esse mapa é permitir que colaborativamen-
te os jogadores construam o lugar onde vivem, Tão importante quanto, mas com uso mais comedido, estão a
afinal, seus personagens vivem ali e conhecem perguntas que impõe algo sobre a atitude ou pensamento do per-
muito dos pobres locais. Não se intimide e deixe sonagem do jogador… “Porque você tem medo do açougueiro?”,
seus jogadores assumirem lugares de destaque “que evento trágico envolve sua infância e a paróquia local?”,
dentro da vila, dentro da morada, deixe que eles “Qual o nome do amigo que morreu por sua culpa de modo aci-
sejam o mestre pedreiro local, ou até mesmo dental?” Essas perguntas servem principalmente para um início
o herdeiro do duque, veja estas questões como de trama, pois guiam para um determinado local.
motores para criar intrigas internas e pequenas,
que vão fazer aquele microcosmo se tornar ver- Digamos que um jogo irá iniciar sobre o mistério do desapare-
dadeiramente vivo. Para facilitar, talvez seja in- cimento de uma jovem garota, perguntas como “O que você fez
teressante acordar com todos que eles poderão quando ouviu seus gritos?”, “porque você costumava segui-la?”,
vir apenas da mesma casta social, sendo todos “por quais motivos você poderia ser um suspeito?” podem ser
da igreja, da nobreza ou da plebe. Misturar são perfeitas. Mas cuidado, uma pergunta abre mil novas respostas
interessantes, mas não se intimide nem se sinta e a forma de perguntar lhe ajudará a guiar para um determinado
forçado. caminho ou não.

297
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Mesmo sendo tentado a tal, nem todas as perguntas devem ser Sobre amor e sexo (Você gosta de alguém,
sombrias e macabras, existe muito mais da Sombra no corriqueiro quem aqui perdeu a virgindade com você e você
do que nos tambores nas entranhas selvagens. Olhe a ficha dos não quis assumir um namoro...)
jogadores, caso algum deles saiba forjar armas, pergunte “Onde Sobre fofocas e reputação (Por que seu vizi-
fica o ferreiro que lhe ensinou? Ainda é o mesmo mestre? Qual nho se acovardou e evitou brigar por sua honra?
foi o preço disso?” É verdade que seu pai deve muito aos ciganos?)
Sobre eventos (Por que você não foi convidado
Siga com as perguntas… para o baile na casa do nobre? O que você viu mi-
nutos antes do seu amigo morrer afogado no lago?)
Por que Isaack não tem ajudado sua família na colheita?
O que fez Burlog ser preso semana passada? Sobre sobrenatural (Por que seu pai não lhe

Os rumores que falam de Ilga são verdadeiros? O que seu perso- deixou ver o feto morto de seu irmão? Fale-me

nagem ouviu? sobre quando você ficou dias perdido na flores-


ta, mas para todos parecia apenas umas horas).
Lembrando que as perguntas misturam o processo entre perso-
nagem e jogador. Algumas respostas seu personagem pode saber, Com estas questões sua vila terá muito mais
outras são apenas obra da mente maquiavélica do seu jogador. vida e uma própria lógica interna. Vale lembrar
Não quer dizer que o jogador criou que sua vizinha é uma bruxa que isso não vale apenas para vilarejos. Você
em redenção após ter raptado e devorado bebês, que seu perso- pode aplicar essa técnica em fortalezas, guildas
nagem sabe sobre esse detalhes. Essa criação de jogo compar- de mercadores, de ladrões, seitas secretas e cul-
tilhada faz com que o seu grupo de jogo seja tão dono daquela tos obscuros, mesmo dentro de uma paróquia,
vila quanto você. Sabemos que isso pode ser intimidador, sair da um monastério isolado.
zona de conforto tradicional como narrador e abrir a sua “caixa
Como dissemos, onde dois ou mais estiverem
de ferramentas” desse jeito, mas saiba que é muito gratificante
reunidos, ali estarão as origens de Belregard.
ver que, durante o andamento da sessão, seus jogadores estarão
muito mais interessados nos personagens do narrador que numa
sessão comum. Eles conhecem aquelas pessoas de verdade, eles O Método mais Rápido
criaram aquelas pessoas. Existem muitos modos de se preparar para co-
meçar a jogar. Quando vamos iniciar uma cam-
Uma dica de outros jogos que usam perguntas como força mo- panha principalmente, pensamos mil vezes sobre
triz: quando receber perguntas, abstenha do poder de respondê- os detalhes, queremos fazer dessa história algo
-las e devolva-as. memorável. Entretanto, não é o preparo um fator
determinante de qualidade e imersão, às vezes
Se jogador lhe pergunta “O governante da vila é um homem
queremos simplesmente começar um jogo. Sim-
corrupto?”, devolva a pergunta para o mesmo jogador, ou para
plesmente colocar as coisas para acontecer, pen-
outro, e deixem que eles decidam a resposta.
sando nisso, apresentamos o Método mais Rápido.
Para facilitar, vamos pensar em categoria de perguntas
Pensando em colocar as coisas para ferver,
Sobre sua moradia (Onde fica sua casa, quais lembranças você apresentaremos o modelo chamado de O Even-
possui daqui, quando se mudaram...) to, A Luta e A Sombra.

298
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Para isso, inicie seu jogo com um evento so- Por último, encerre isso com um evento sobrenatural. Seria
cial. Seja uma festa de estação, festas religiosas, possível ver a Sombra dominando a mente de tais vis homens?
celebração de casamento ou nascimento, qual- Tomado pela loucura e vergonha o anfitrião manda que a mulher
quer tipo de evento onde se reúnem duas dúzias seja retirada da festa e ela amaldiçoa-o enquanto é arrastada?
de pessoas já é algo válido. O sangue do morto escorre pelo chão e forma um caractere na
Fala Negra de Belghor? O rival pode manifestar uma possessão,
Crie três ou quatro rostos dentro desse even- revelando um segredo obscuro de cada pessoa presente naquele
to. Pode ser o anfitrião, um rival invejoso, um local, o que provoca uma fúria geral de todos os presentes?
assassino e uma amante… Ou seja, criamos
Pronto. Já temos um belo início para seu jogo. Somente depois
um personagem central e três antagonistas a
disso, junte tudo que ouviu e aconteceu, então prepare-se para
ele, Apenas um simples exemplo. Deixem os
mais histórias.
personagens participarem do evento, interagi-
rem com os personagens criados previamente.
Foque suas interações neles, afinal, queremos o Impressões
Método Mais Rápido. Você pode utilizar a lógi- Uma outra ferramenta para início de campanha é a das Im-
pressões. Idealizada por Pedro Borges, incluímos aqui para ajudar
ca das perguntas apresentadas no “Cada Vila é
no começo de uma sessão, quando você pretende fazer com que
um Mundo” para atrelar os personagens direta-
todos os personagens já tenham alguma relação. O que faz todo
mente com estes rostos que estarão em desta-
sentido em um ambiente isolado de pequenas vilas.
que na cena.

No começo da crônica, o narrador pode realizar a seguinte


“Porque o anfitrião manda comida para vocês dinâmica: cada jogador pede a cada um dos outros jogadores que
quando as coisas ficam difíceis desde que seu façam um Teste de Destino (role 1d6) para definir como anda a
pai morreu?” relação entre os seus personagens naquele período. Caso os he-
róis ainda não se conheçam, estas serão as primeiras impressões
Caso ache interessante, use a tabela do mé- que terão um do outro no primeiro contato (neste caso, rerrole
todo “Padre, Eu Pequei” para criar o evento, os resultados 1 e 6). Como não é comum que as pessoas se en-
determinando o local, qual a provação em evi- tendam o tempo todo, dessa forma os relacionamentos poderão
dência e qual a palavra que poderá se interligar ser explorados com mais profundidade. A Impressão deve nortear
à Sombra. o ânimo da relação naquele momento no começo da crônica e
não de modo geral, criando assuntos a serem desenvolvidos pelos
Então, em um determinado momento algo
jogadores. A Impressão difere das outras regras de Vínculo pois
irá acontecer. Não tenha isso escrito em pedra.
sempre trata de algo recente e que pode mudar com o tempo,
Deixe que o jogo lhe dite quais dos personagens
podendo inclusive ter um valor baixo em grandes amizades ou
criados será o estopim. Talvez a amante faça
alto em antigos desafetos.
um escândalo social, falando de sua gravidez.
Quem sabe seu rival ofenda-o a níveis ridículos, Como neste sistema um maior resultado no dado sempre fa-
deixando todos desconcertados, exigindo retra- vorece quem faz o rolamento, esse teste é feito pelo dono do
tação. O assassino faz uma nova vítima, gritos personagem que o jogador irá escrever sobre a relação, podendo
e sangue no meio do salão, uma punhalada ou os dois inclusive se ajudarem a definir a relação. O narrador deve
veneno, o que será feito? lembrar aos jogadores que, por pior que seja a Impressão, a noção

299
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
da importância da Aliança na Ficha de Crônica devem se sobre- especialmente porque este esforço não costuma
por aos seus desentendimentos. ser pequeno. Por essa razão, existe uma dispo-
sição em ser prestativo com este personagem
Testes de Impressão: Rolando 1d6, o resultado poder ser
além do habitual, mesmo que não seja o sufi-
Rancor/1, Antipatia/2, Distanciamento/3, Simpatia/4, Admira-
ciente para enterrar todas as indisposições do
ção/5 ou Gratidão/6. No entanto, se desejar, o narrador pode
passado quando se trata de alguém menos pró-
pedir que se rerrole os resultados 1 e 6 num primeiro encontro
ximo.
entre heróis. Apenas esta indicação pode ser suficiente como
Gratidão/6: Uma ação em especial foi ex-
referência de interpretação aos jogadores, bastando apenas que
tremamente significativa e pode mudar a forma
eles definam entre si as razões de suas impressões.
como o personagem é visto. No geral, essa ação
Rancor/1: O personagem culpa o outro por algo que tenha
do personagem pode parecer menor do que
feito (ou que acredita que tenha feito) e terminou por prejudicá-lo
uma série de outras intervenções recentes, mas
ou a terceiros que não mereciam as consequências. Não deve ser
essa em especial cativou como poucas vezes e
algo simples de ser admitido ou resolvido e ao menos irá render
não pode ser esquecida. É o suficiente para se
uma discussão séria entre os dois.
relevar uma série de outros feitos que de outra
Antipatia/2: Existe algo em seu comportamento que incomo-
forma não seriam esquecidos assim tão rapida-
da bastante, mesmo que finja que consegue relevar com certa
mente.
facilidade. Pode ser uma desculpa para esconder alguma indis-
posição mais séria, mas que pode ser revertida caso consigam
se entender. Aplicação das Impressões no
Distanciamento/3: Não há nada em especial que esteja inco- Sistema
modando além do que seria o habitual, mas nesse período os dois Uma vez esclarecidas as opiniões que os per-
estão um pouco mais afastados. Acontece. As explicações para sonagens nutrem entre si, os jogadores devem
essa impressão são mais parecidas com desculpas deslavadas para interpretá-las da melhor forma possível. Ao final
um afastamento que não têm uma razão específica de ser. da sessão, o narrador deverá oferecer 1 a 3 pon-
Simpatia/4: Alguns interesses comuns ou certas ajudas mú- tos adicionais de Experiência (XP) a partir do
tuas têm colocado os dois mais próximos. Se são amigos, esta comprometimento de cada um às suas impres-
seria uma proximidade corriqueira, mas se existe um antagonis- sões. Adicionalmente, caso um jogador interpre-
mo em suas visões de mundo, ele anda um pouco diminuído por te a ponto de prejudicar o próprio personagem,
conta de pequenas alianças necessárias. o narrador deve permitir que o personagem re-
Admiração/5: Aliado ou rival, o personagem está comprome- cupere um ponto de Elã gasto até aquele mo-
tido com uma causa ou demanda que desperta o seu respeito, mento.

300
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b

301
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b

302
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b

O sistema
de Regras
este capítulo apresentaremos as tenta, por exemplo, passar despercebido por um guarda, é uma
adaptações de Belregard para ação que envolve outro personagem, um elemento de reação, por
o sistema Crônicas RPG. Com isso um teste se faz necessário.
base no que for apresentado
neste capítulo será possível criar personagens Fazendo Testes: Os testes funcionam de forma muito simples,
e jogar boas partidas sem a necessidade do li- eles assumem por base a soma de um Atributo e uma Espe-
vro básico de Crônicas, mas é inegável que ele cialização. No caso, possivelmente utilizaríamos Furtividade
acrescentará muito à sua experiência de jogo. (Atributo) + Esgueirar (Especialização). Suponhamos que, no
exemplo, o personagem em questão tenha Furtividade 2 e Es-
Crônicas RPG é um jogo de interpretação
gueirar 2, nesse caso, ele possui então 4 dados para lançar na sua
onde você ou um amigo assume o papel de
jogada para tentar passar pelo guarda.
narrador para contar uma história de fantasia
medieval. Nele, cada jogador participa interpre- Passei no Teste?: O sistema Crônicas utiliza a lógica dos Su-
tando um dos heróis dessa trama, reagindo em cessos para determinar se seu personagem conseguiu ou não
nome de seu personagem ao que lhe for descrito atingir o objetivo. Quanto maior o número de sucessos em um
em jogo e tomando a iniciativa em nome dele, teste, melhor você executou aquela tarefa. O que determina cada
para que o narrador possa dizer o que acontece sucesso, é o valor dos dados. Para cada dado que resultou em um
em seguida, às vezes pedindo testes com o rola-
valor de 4, 5 ou 6, é considerado um sucesso. No nosso exemplo
mento de um ou mais dados. Desta forma, todo
acima, com nosso personagem tentando se esgueirar com seus 4
o grupo de jogo participará no desenvolvimento
dados, ele os lança e, suponhamos, consegue 4, 5, 3 e 1. Nessa
das aventuras que acontecerão a cada sessão.
rolagem, dois dos valores foram acima de 3, logo, ele teve dois
Entendendo o Básico: sucessos. Como este é um teste que depende da reação de outro
Antes de falarmos sobre a criação de histó- personagem, o guarda (possivelmente controlado pelo narrador),
rias e personagens, vamos entender o básico do rolaria o seu próprio teste de Percepção (Atributo) + Ouvir (Es-
sistema Crônicas. A lógica aqui é muito simples. pecialização); caso ele tenha um número de sucessos maior que
Testes são pedidos pelo narrador sempre que al- 2 (os sucessos do nosso esgueirador), o guarda o escuta e a cena
guma coisa estiver em jogo. Se um personagem desenrola no flagrante.

303
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Esse é o básico. Existem algumas regras avançadas, quando A Ficha de Crônica:
falamos sobre Combate, a Escaramuça, os Trunfos nos dados, O primeiro passo para embarcar no sistema
mas tudo isso será explicado abaixo, acima você pegou a espinha Crônicas em Belregard é o narrador cumprir
dorsal do sistema. Some Atributo com Especialização e faça a o seu papel na Ficha de Crônica. A ficha ser-
rolagem, cada resultado acima de 3, é um sucesso. Simples! ve como orientação aos jogadores daquilo que
encaixa ou não na história a ser contada. Ela
Existem, basicamente, três tipos de “pessoas” em uma aven-
facilita o início do jogo, quando o narrador já
tura de Crônicas:
apresenta a todos o enredo base, o ponto de
• Protagonistas: Personagens jogadores partida, de modo que cada um pode relacio-
• Coadjuvantes: Personagens menores controlados pelo narra- nar seu personagem a este contexto, evitando
dor (guardas de cidade, mercadores simples, camponeses singe- uniões forçadas. Como Belregard é um cenário
los etc). aberto, que embarca uma pluralidade imensa de
• Antagonistas: Personagens controlados pelo narrador que histórias, é fácil se perder nas criações de perso-
podem se equiparar aos personagens protagonistas em poder e nagens. Falaremos sobre maneiras de criar jogos
influência. conjuntamente com os jogadores, mas um modo
tradicional de jogo utilizaria uma proposta
trazida pelo narrador; desse modo, a ficha
de Crônica ajuda o grupo a saber, mais ou
menos, o que esperar. Por exemplo, talvez
o narrador esteja disposto a criar uma Crô-
nica que gira em torno da corrupção da
igreja, com personagens envolvidos com o
clero. Se ele não compartilha isso com seus
jogadores, é capaz dele ter um mercador,
um soldado, um ferreiro e um mendigo pra
encaixar nesse contexto. Pode até funcio-
nar, mas a ficha ajuda a mostrar a proposta!
A seguir veremos como a construção da fi-
cha deve ser feita em Belregard.

Passo 1: Estrutura
Deixe para pensar no nome da Crônica
mais tarde, ele é muito importante para ser
decidido assim tão rápido.

Mundo: Belregard

Formato: Linguagem (Conto, Filme, Sé-


rie, Livro ou Saga. A linguagem serve como
planejamento do narrador. Ele pretende um

304
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
jogo de uma só sessão, um conto, ou algo mais dos os jogadores devem prestar atenção a eles durante a criação
longo como uma saga?) + Nível de Poder (Para de seus heróis.
Belregard costumamos considerar apenas o ní-
vel Dramático, que dá a todos os personagens Desafios Secundários: Os jogadores devem distribuir a aten-

um bônus de 30 em XP na criação do persona- ção para estes desafios entre si (veja abaixo), para que seus heróis

gem). possam se destacar em momentos distintos da narrativa.

Estilo: Idade das Trevas. Tipos de Desafios: Batalha, Escaramuça, Exorcismo, Explo-
ração, Infiltração, Investigação, Jogo, Jornada, Navegação, Ne-
Magia: Subjetiva (No caso de preferir utilizar gociação, Perseguição, Politicagem, Regência, Ritual e Torneio.
apenas os Poderes que dependem mais da cren- Estes desafios serão explicados abaixo, em regras resumidas, com
ça que de uma real magia) ou Incomum (Quan- o desafio Escaramuça recebendo uma maior atenção; os demais
do se pretende uma campanha com Arautos, podem ser explorados de forma simplificada ou, se for do intento
deixando a magia real, ainda que sutil). do narrador, pode consultar o livro básico do Crônicas RPG para
maiores detalhes sobre eles. Ressaltando que o apresentado aqui
Passo 2: Perigos é o bastante. Alguns desafios foram deixados propositalmente de
Essas três informações são extremamente va- fora dos resumos, pois esses eram insuficientes para uma boa ex-
liosas, pois vão orientar os jogadores a construí- plicação. Dessa forma, foi melhor retirar para que não gerassem
rem seus personagens para aquela história em dúvidas.
particular.
Passo 3: Aliados e Inimigos
Trama Inicial: Resumo em uma frase sobre
Por mais que seja possível fragmentar e esmiuçar as facções
a tensão que introduz os jogadores à narrativa e
de qualquer disputa política, normalmente se começa separando
amarra inicialmente a história.
simplesmente “nós” e “eles”.

Desafios: Os Desafios representam um con-


Aliança: A causa comum que une os heróis na busca dos mes-
ceito dentro de Crônicas, são possíveis temas
mos objetivos. Pode ser um nome dado ao grupo, uma organiza-
de conflito que serão enfrentados em seu jogo.
ção ou facção influente, uma demanda profetizada por um líder
A função deles é evitar que você prepare uma
respeitado, um objetivo que compartilham ou qualquer outra coi-
aventura de navegação e acabe com persona-
sa que esclareça porque os heróis estão juntos.
gens jogadores que não sabem nem nadar. Cada
um dos Desafios pode ser trabalhado de forma Ameaças: Resumo em uma frase com as fontes de perigo que
detalhada, e nesse livro apresentaremos resu- a Aliança pode enfrentar na história, muitas vezes listando dife-
mos para soluções rápidas envolvendo-os, assim rentes grupos que podem oferecer risco à Aliança.
como os Desafios de Combate Mental (Jogo) e
Social (Negociação) serão resumidos. Se quiser
aprofundar, você pode consultar o livro de Crô-
Passo 4: Cultura
São as forças mais influentes na região onde a Crônica se passa.
nicas RPG.
Elas ditam o comportamento típico de diversos grupos. A cultura
Desafios Primários: São os desafios (veja ajuda a explicar o cenário macro da história e as grandes causas
abaixo) que mais recorrentes na narrativa. To- que a moldaram nos últimos séculos.

305
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Instituições: São os pilares culturais que sustentam a socie- Passo 9: Particularidades
dade. Grupos tão gigantescos que diversas facções menores di- O narrador pode definir alguns detalhes es-
vergem entre si (mesmo que jamais diante dos outros) sobre os pecíficos importantes para delinear o seu jogo,
rumos tomados. mas nem todas elas precisam aparecer na Ficha
de Crônica.
Povos: São as culturas que os jogadores podem escolher para
seus personagens, mesmo que possam existir várias outras na- Bônus: Em algumas crônicas o narrador pode
quele cenário ou restrições, algo bem específico. oferecer vantagens adicionais para os protago-
nistas. Qualquer que seja o Bônus, deve ser o
Passo 5: Protagonistas mesmo para todos os heróis.
Os tipos de personagens que os jogadores poderão escolher
Período: Definição sobre o período histórico
para criar seus heróis. Cada jogador deve escolher um arquétipo
ou equivalente da Crônica.
e construir seu protagonista em cima dessa ideia.
Poderes: Habilidades sobrenaturais permiti-
Passo 6: Coadjuvantes e Antagonistas das na história na forma das Virtudes, Dádivas,
Para evitar o acúmulo desnecessário de nomes, serão desta- Poderes e Ritualista.
cados apenas os coadjuvantes e antagonistas mais importantes,
Regra: Caso queira modificar ou acrescentar
especialmente os que servem de referência para uma instituição
algo específico.
ou organização importante na crônica. Uma linha apenas é sufi-
ciente para cada personagem listado. Restrições: Impedimentos esclarecidos que
os jogadores devem obedecer na criação de seus
Passo 7: Organizações heróis.
Toda sociedade é governada por grupos de influência. Para aju-
Reputação: Restrição de protagonistas com
dar os jogadores a se lembrarem quais são, o narrador apresenta
um certo valor de Reputação (Status e Recursos
as organizações mais relevantes no início da história, mesmo que
iniciais).
elas percam importância ao longo da Crônica e sejam substituí-
das por outras.
A seguir você pode conferir uma ficha de Crô-
nica do cenário de Belregard, utilizando o Riso
Passo 8: Passado Recente sob Asas Ancestrais como exemplo.
O narrador precisa anotar os acontecimentos recentes mais
Este cenário, presente no nosso site (catarse.
relevantes para a Crônica. Por aqui os jogadores vão se inteirar
me/belregard), pode ser baixada gratuitamente.
mais rapidamente sobre o que é preciso saber no começo do jogo,
geralmente com uma explicação um pouco mais elaborada sobre
a Trama Inicial e outros elementos presentes na Ficha de Crônica.
Não existe uma forma única de definir o passado recente, pois ele
pode ser apresentado num único texto ou na listagem de diversos
acontecimentos distintos.

306
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b

307
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Criação de Personagem ou penalidades aos jogadores. Algumas, como
Aqui você acompanhará o procedimento para a criação de per- o sacerdócio, terão requisitos. Linhas gerais de
sonagem. Ocupações são apresentadas abaixo, na Posição
Social, junto de seu Recurso inicial.
Nome: O nome do personagem deve estar de acordo com a
etnia escolhida pelo jogador. Alguns exemplos de nomes estão Aparência: adjetivo que melhor descreve o
disponíveis no segundo capítulo do primeiro livro de Belregard, personagem.
junto de uma descrição de cada um dos povos mais comuns desse
Posição Social: Definida pelo narrador a
mundo.
partir da Ocupação. Miserável 0, Artista 1, Vas-
Etnia: Dentro do segundo capítulo do primeiro livro você salo 2, Comerciante 2, Guerreiro 2, Sacerdote 3,
encontrará informações sobre os povos de Belregard, e poderá Comandante 3, Nobre 4, Lorde 5 e Monarca 6
escolher aquele que mais atende ao que você procura em um (ver Reputação).
personagem. As regras para cada um destes povos estão apre-
sentadas aqui. O que seu personagem recebe por escolher algu- Morada: Comunidade ou região onde vive

ma etnia é uma lista de comportamentos que ele deve selecionar atualmente, onde os locais o conhecem e exis-

para colocar em sua ficha. Dos cinco comportamentos que um tem laços que o prendem ali.

personagem deve ter, você deve escolher um das listas abaixo,


Patrono: Personagem que governa a Morada,
completando os outros com algo de sua criação. No caso de esco-
a quem se deve respeito e obediência. Definido
lher uma etnia menor, também apontada no capítulo supracitado,
pelo narrador.
esse jogador pode misturar comportamentos de uma ou mais
etnia, como o próprio texto original aponta. Lealdade: Indivíduo, organização ou institui-
ção a quem tem um compromisso de confiança.
ETNIA COMPORTAMENTO (ESCOLHER 1)
Belghos Moralista, Autoritário, Tradicionalista, Devoção: Divindade, instituição ou organiza-
Pessimista ou Versátil ção religiosa ao qual o personagem está alinha-
Dalanos Criativo, Apaixonado, Vaidoso, Per feccionista do no começo da Crônica.
ou Manipulador.
Igslavos Rude, Moralista, Justiceiro, Confiante ou Idade: Faixa etária do personagem no come-
Fraternal. ço da crônica. Define XP, Elã e algumas Fraque-

Parlos Calmo, Otimista, Avarento, Teimoso ou Gentil. zas iniciais.


• Criança (até 10 anos): 50 XP + Elã 6 + Fede-
Vihs Grosseiro, Sobrevivente, Independente,
lho e Infantil.
Rancoroso ou Desapegado.
• Adolescente (11 a 14 anos): 150 XP + Elã 5
Ocupação: Hora de escolher a ocupação, o trabalho, o con- + Fedelho.
ceito do personagem. Normalmente as ocupações disponíveis • Jovem (15 a 20 anos): 250 XP + Elã 4.
para aquela sessão de jogo ou campanha estarão apresentadas • Adulto (21 a 30 anos): 300 XP + Elã 3.
na Ficha de Crônicas, tornando mais fácil a escolha de algo den- • Meia Idade (31 a 40 anos): 350 XP + Elã 2 +
tro do contexto direto para o jogo. É importante lembrar que as Decrepitude 2.
ocupações servem apenas como um “norte” a ser seguido, não • Velho (41 a 60 anos): 400 XP + Elã 1 + De-
exatamente um conjunto de regras restritas que concedem bônus crepitude 4.

308
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
• Venerável (61+ anos): 450 XP + Elã 0 + De- Daqui você deve ter escolhidos três deles vindos de sua etnia e as-
crepitude 8 e Matusalém. sim criar os outros dois restantes. O Comportamento deve servir
como um norte para o seu personagem, o narrador pode cobrar
Investimentos em XP: O jogador deve se- uma certa reação com base nos comportamentos do persona-
parar os pontos que já foram investidos dos que gem, recompensá-lo com XP quando fizer bom uso dos mesmos.
ainda não foram gastos.
Histórico: Define sua identidade, passado e personalidade.
XP Inicial: Criança 100, Adolescente 150, Uma frase para cada Nível de Idade.
Jovem 250, Adulto 300, Meia Idade 350, Velho
400 e Venerável 450. Combate: Os valores (In/Def/Ab/Vi) seguem abaixo. O comba-
te em si será explicado mais adiante:
Bônus de Crônica: Dramática +30XP.
Físico (Escaramuça)
• Iniciativa Física: Agilidade
Gastando XP: Os custos abaixo são para a
• Defesa Física: [Agilidade + Manejo] / 3*
criação e o desenvolvimento de personagens,
• Absorção Física: Armadura
inclusive no meio de uma sessão.
• Vigor Físico: Resistência
Atributos: O valor inicial de todo Atributo é * Esses valores são sempre arredondados para baixo, com míni-
2, e cada +1 num Atributo custa 30 XP. mo de 1 (um).

Especializações: O valor inicial de toda Es- Reputação: Os pontos iniciais de Elã são definidos pela Idade e
pecialização é zero, e cada +1 custa 10 XP, sem os de Recursos e Reputação pela Posição Social.
jamais ultrapassar +2 por 20 XP.
Virtudes: Cada uma pode ser comprada por um ponto quei-

Restrições: O narrador pode proibir os joga- mado de Elã, mas ainda será preciso que o narrador aprove. Das

dores de investir XP em certos atributos/espe- Virtudes Únicas, cada protagonista só pode ter uma dessas e ne-

cializações com pouca ou nenhuma relação com nhum outro herói pode ter a mesma. Contudo, é possível que a

a ocupação ou origem do personagem; para isso Virtude Arauto esteja de porte de vários personagens, se isso for

será preciso encontrar um mentor ou tutor que o estabelecido na Ficha de Crônica.


ensine no jogo. Os atributos (e especializações)
Fraquezas: O jogador pode escolher até duas Fraquezas, sem-
mais restritos: Conhecimento (Arcano, Estudo,
pre ganhando um ponto de Elã para cada defeito, mas o narrador
[Profissão] e [Religião]), Cura (Diagnose e Tratar
pode sugerir outras além deste limite. As Fraquezas Exclusivas só
Males), Força ([Ofício]), Inteligência (Adminis-
podem ser adquiridas se oferecidas pelo narrador.
tração) e Ladinagem (Arrombamento e Operar
Mecanismos). Corrupção: Belregard utiliza o sistema de Corrupção para

Armadura: Se há Penalidade (indicar em exemplificar a sedução da Sombra Viva no mundo de jogo. Nor-

Combate ou Posses), marque um asterisco (*) malmente, os personagens iniciam a Corrupção no nível Tocado,

em Agilidade, Força e Furtividade. representando que ninguém está isento da Sombra, mas algumas
regras, como Fraquezas e Virtudes específicas, podem alterar
Comportamento: Cinco traços de persona- isso. Basta consultar ao longo da criação de personagem. A Pro-
lidade escolhidos pelo jogador, mas ao menos vação de maior afinidade com o personagem é rolada aleatoria-
dois deles devem ser considerados negativos. mente. Consulte o tópico referente abaixo.

309
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Sanidade: Belregard utiliza o sistema de Sanidade para exem- • Evasão: Recuar e fugir de um ataque antes
plificar o choque de realidade pelo qual um personagem pode que possa ser atingido, sem pretensão de bater
passar ao longo de sua vida quando confrontado com as verda- de volta.
des elementares. Normalmente o personagem começa o jogo no • Montaria: Controle e manobras sobre ani-
nível São de Sanidade, mas algumas regras, como Fraquezas e mal.
Virtudes específicas, podem alterar isso. Basta consultar ao lon-
go da criação de personagem.
Blefe: Capacidade de agir dissimuladamente
para alcançar seus objetivos. Modificadores:
Equipamento: Com base no Recurso (uma medida simbólica
confiança do alvo, lugar e momento apropriado.
para as posses do personagem) de sua ocupação, basta escolher
• Enganação: Fazer os outros acreditarem nas
os equipamentos iniciais do personagem. Os equipamentos bási-
mentiras com suas palavras, gestos e, principal-
cos são apresentados neste capítulo.
mente, o olhar. Oposição: Empatia (Percepção)
O processo apresentado acima segue o padrão para a constru- • Charme: Seduzir ou inspirar a atenção e
ção de um personagem de Crônicas. Belregard RPG apresenta simpatia de outros. Oposição: Raciocínio (Inte-
alguns elementos novos, que precisam ser acrescentados ao final ligência).
do processo, acompanhe: • Confundir: Criar distrações ou nublar o
pensamento alheio. Oposição: Atenção (Percep-
ção).
Explicando os Atributos e Especializações:
• Disfarce: Fingir que é outro indivíduo para
Serão apresentados abaixo com os Atributos em destaque as
se misturar com os locais ou obter benefícios de
Especializações listadas abaixo. Os modificadores são sugestões
uma certa ocupação. Oposição: Observar (Per-
que o narrador pode manter em mente para dar bônus ou pena-
cepção).
lidades em alguns testes. Algumas Especializações apresentarão
suas Oposições, indicando que tipo de teste um personagem de
jogador ou do narrador precisa fazer para resistir ao lance, como Conhecimento: Diz respeito ao que o per-
o exemplo acima, da Furtividade contra Percepção. sonagem sabe sobre o mundo e tudo o que vive
nele. Modificadores: habitualidade com o assun-
Atributo:
to e possibilidade de consultar livros ou conse-
• Especialização:
lheiros.
• Avaliação: Saber o valor e qualidade de ob-
Agilidade: Representa destreza e mobilidade. Modificadores: jetos e estruturas ou perceber falhas e defeitos
ambiente, obstáculos e peso. neles.
• Acrobacia: Saltos elaborados e movimentos no ar para ali- • Apócrifo: Mistérios, símbolos e tradições
viar estragos ou impressionar. antigas e códigos de cultos da Sombra e da Hor-
• Contorção: Entrar por um buraco, mover numa multidão ou da. .
livrar-se de cordas, redes, algemas ou grilhões. Modificador: ta- • Estudo: Representa tudo o que lhe foi ensi-
manho da brecha. nado por um tutor nas aulas que teve.
• Equilíbrio: Mover sobre uma superfície precária ou manter • Mundo Conhecido: O “conhecimento das
o equilíbrio num terreno complicado. Teste quando o fracasso estradas” trata sobre geografia e um pouco de
tiver consequências. história.

310
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
• Nobreza: Famílias, linhagens, heráldicas, deiro, fazedor de arcos, fazendeiro, ferreiro, lenhador, marujo,
citações e as histórias que amarram esses ele- mineiro, entre outros. Cada ofício deve ser desenvolvido separa-
mentos. damente por tipo de trabalho.
• [Profissão]: Conhecimento do trabalho de
um administrador, cozinheiro, engenheiro, es-
criba, herborista, sapateiro, entre outros. Cada
Furtividade: A arte de passar, acompanhar ou manter-se des-
percebido. Modificadores: distrações, obstáculos próximos, visi-
ocupação deve ser desenvolvida separadamente
bilidade e a quantidade de pessoas que se está evitando.
por profissão.
• Camuflagem: Utilizar objetos ou acidentes na localidade
• Criadorismo: Conhecimento sobre os cos-
para ocultar praticamente qualquer coisa.
tumes, tradições e dogmas do criadorismo de
Belregard. • Esconder: Desaparecer da vista dos outros aproveitando os
obstáculos à sua volta. Oposição: Observar e Ouvir (Percepção).
• Esgueirar: Mover em silêncio sem chamar a atenção dos de-
Cura: Identificação e tratamento de ferimen- savisados. Oposição: Ouvir (Percepção).
tos e males. Modificadores: equipamento apro- • Seguir: Acompanhar algo ou alguém num determinado per-
priado e habitualidade. curso sem ser notado, desaparecendo de vista quando preciso.
• Diagnose: Determina a causa da enfermi- Oposição: Atenção (Percepção).
dade ou ferimento e as possíveis consequências.
• Tratar Males: Tratamento de doenças e
neutralização de venenos e toxinas. Inteligência: Envolve a capacidade intelectual, mas também
• Tratar Ferimentos: Primeiros Socorros, esperteza, cuidado e lembrança. Modificadores: habitualidade
cirurgias e remoção cuidadosa de ferimentos com o assunto e possibilidade de consultar livros ou conselheiros.
pontiagudos. • Administração: Perícia para gerenciar números, serviços, es-
toque e trabalho braçal.
• [Jogo]: Disputa mental envolvendo um tipo de jogo que pre-
Força: Capacidade de superar obstáculos fí- cisa ser especificado. Estratégias militares contam como jogos.
sicos. Modificadores: ambiente, obstáculos e
• Memória: Para lembrar acontecimentos antigos, detalhados
peso.
ou difíceis de serem recordados.
• Correr: Para escapar de perseguidores ou
• Raciocínio: Essencial para pensar rápido, tirar certas con-
percorrer distâncias dentro de um limite de tem-
clusões, resolver desafios lógicos e resistir à seduções. O narrador
po.
pode solicitar esse teste caso o jogador não tenha captado algo
• Escalar: Subir, descer ou atravessar lateral-
que seu personagem teria feito mais facilmente. Oposição: Char-
mente inclinações, muros, cordas, entre outros.
me (Blefe)
Modificador: equipamento de escalada e bre-
chas que ajudam.
• Nadar: Mergulhar e movimentar-se na água. Lábia: Convencer com suas próprias palavras e simpatia ou im-
• Saltar: Impulso para superar buracos e obs- ponência. Modificadores: confiança, lugar e oportunidade.
táculos ou alcançar objetos ou pontos para se • Persuasão: Alterar com sua conversa a forma como os outros
segurar. interpretam algo. Oposição: Determinação (Vontade).
• [Ofício]: Perícia no trabalho de um ajudan- • Barganha: Beneficiar-se numa negociação sobre o valor de
te, barqueiro, carpinteiro, carregador, estalaja- um bem ou serviço.

311
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
• Diplomacia: Utilização dos bons modos para causar boa im- Liderança: Aparência e confiança capazes
pressão ou aliviar más impressões. de inspirar e conquistar os outros. Modificado-
• Intimidação: Pressionar os outros a agir ou não agir de certa res: hierarquia, lealdade, lugar e momento.
maneira, deixando-os Abalados (Condição). É possível pedir For- • Carisma: Magnetismo pessoal para chamar
ça + Intimidação. Oposição: Coragem (Vontade). a atenção e fazer-se parecer mais confiável.
• Obter Rumores: Capacidade de adquirir certas informações • Comando: Emprestar confiança com suas
com os locais. ordens para coordenar as ações de seus coman-
dados.
Ladinagem: Abrir fechaduras, bater carteiras, acionar arma- • Estratégia: Gerar sinergia em qualquer gru-
dilhas e outras atividades ladinas. po sob seu comando para colocar um plano em
• Arrombamento: Destravar fechaduras, trancas e afins. Mo- prática.
dificadores: equipamento apropriado. • Imposição: Autoconfiança e firmeza para
• Furtar: Subtrair posses dos outros sem ser notado ou jogos e impor a sua vontade em disputas sociais. Oposi-
apresentações com mãos rápidas. ção: Determinação (Vontade).
• Operar Mecanismos: Geralmente serve para desarmar ou
armar armadilhas. Manejo: Habilidade em combate com armas
brancas ou com o próprio corpo.
• Briga: Socos, chutes, cabeçadas, joelhadas,
cotoveladas e outros ataques corporais.
• Uma Mão: Espadas, adagas, maças, pu-
nhais, manguais, machados e outras armas de
uma mão.
• Duas Mãos: Montantes, tridentes, macha-
dos pesados, lanças longas e outras armas de
suas mãos.
• Escudo: Qualquer que seja o escudo, cos-
tuma ser mais usado para bloquear do que para
atacar.

Percepção: Sensibilidade para apontar mu-


danças físicas, mentais ou emocionais à sua
volta. Modificadores: Distância, obstáculos e
visibilidade.
• Atenção: Usar os sentidos para procurar
algo específico. Oposição: Confundir (Blefe) e
Seguir (Furtividade).
• Empatia: Vencer a máscara social e identi-
ficar a natureza de outros indivíduos. Oposição:
Enganação (Blefe) e Atuação (Performance).

312
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
• Observar: Visualizar detalhes. Oposição: Resistência: Capacidade de resistir a qualquer estrago e se
Disfarce (Blefe) e Esconder (Furtividade) recuperar dele.
• Olfato: Captar cheiros e odores. • Recuperação: Encurta o período de recuperação de ferimen-
• Ouvir: Escutar ruídos ou conversas mais tos, envenenamentos e doenças.
difíceis de serem ouvidas. Oposição: Esgueirar • Fortitude: Superar doenças ou venenos que possam atingi-lo.
(Furtividade).

Sobrevivência: Conhecimentos adquiridos para se mover


apropriadamente, alimentar-se e avaliar regiões selvagens.
Performance: Atuação ou interpretação de
• Forragem: Encontrar água e alimento para o seu grupo, in-
diferentes formas de arte ou entretenimento.
cluindo as montarias.
Modificadores: habitualidade e equipamento.
• Orientação: Evitar se perder em terrenos mais traiçoeiros
• Atuação: Passar-se por alguém específico,
para encontrar o caminho certo, ambiente ou geografia e visibi-
seja real ou fictício. Oposição: Empatia (Percep-
lidade.
ção).
• Rastrear: Seguir trilhas e rastros, às vezes tirando informa-
• Canto: Uso da voz para interpretar canções.
ções sobre quem passou ali. Modificadores: número de alvos, ter-
• Dança: Movimentos guiados pela música.
reno e visibilidade.
• Malabarismo: Habilidade com malabares.
• Oratória: Discursos inspiradores em públi-
co. Trato com Animais: Impelir vários tipos de animais a se
dobrarem aos seus interesses. Modificadores: teimosia e treina-
• Tocar [Instrumento]: Habilidade para to-
mento do animal.
car flauta, harpa, alaúde, tambor, entre outros.
• Cativar: Seduzir a criatura para que ela não o ataque ou ain-
Cada instrumento deve ser desenvolvido sepa-
da lhe seja dócil se houver inclinação. Modificadores: ambiente e
radamente.
lugar apropriado.
• Condução: Para guiar os animais amarrados a um veículo e
Pontaria: Perícia em ataque à distância com evitar acidentes pelo caminho.
armas. Modificadores: distância, obstáculos e • Montaria: Locomoção sobre o animal.
visibilidade. • Treinamento: Ensiná-los a realizar manobras e truques, dos
• Arco: Arcos longos, curtos, compostos, en- mais simples aos mais complexos.
tre outros.
• Arma de Guerra: Catapultas, mangonéis, Vontade: Força mental para resistir os mais diferentes tipos de
escorpiões, trabucos, entre outras. tentações, boas e ruins.
• Arremesso: Objetos arremessados com fun- • Concentração: Manter o foco contra influências. Modifica-
da, estilingue ou as mãos, como machados, lan- dor: intensidade da distração.
ças, adagas, dardos, pedras, cadeiras e outros • Coragem: Manter-se inabalável contra sustos e os mais dife-
objetos possíveis. rentes tipos de horror.
• Besta: Bestas leves ou pesadas, indepen- • Determinação: Autocontrole para resistir influências que
dente do tempo de recarga necessário. possam demovê-los de seus objetivos.

313
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Ocupações, Posição Social, Reputação e Recursos
As ocupações em Crônicas servem para destacar o papel social do personagem no mundo de jogo. São termos
gerais, linhas que ajudam a visualizar a função do personagem, sem limitar suas escolhas. Algumas delas demandam
certas Virtudes, porque acarretam em um reconhecimento social, podendo ser usadas para impor alguma autoridade.
Abaixo iremos ver uma tabela com as Posições Sociais, Reputação, Recursos e exemplos de ocupações.

Posição Reputação/ Ocupações


Social Recurso
Miserável 0 Assassino, Bruxo, Chefe Tribal, Espião, Fugitivo, Herege, Ladrão, Salteador, Selvagem,
etc.
Artista 1 Arauto, Bobo, Contorcionista, Domador de feras, Mágico, Malabarista, Menestrel,
Músico, Saltimbanco, Trovador, etc.
Vassalo 2 Administrador, Aprendiz, Caçador, Carcereiro, Castelão, Cavaleiro Mercante, Cocheiro,
Coletor de Impostos, Conselheiro, Costureira, Criança, Cozinheiro, Curandeiro, Curtidor,
Dama, Guarda-caça, Guia, Engenheiro, Entalhador, Estalajadeiro, Fazendeiro, Herba-
lista, Lenhador, Mensageiro, Pajem, Parteira, Pastor, Peregrino, Pescador, Prostituta,
Provador de venenos, Rezadeira, Sábio, Senescal, Serviçal, Tecelão, Torturador, Tratador
de Animais, Tutor, Vidraceiro, etc
Comerciante 2 Artesão, Carpinteiro, Charlatão, Comerciante, Escravagista, Fazedor de Flechas, Faze-
dor de Velas, Ferreiro, Líder de Caravana, Líder de Guilda, Oleiro, Sapateiro, etc.
Guerreiro 2 Arqueiro, Batedor, Cavalariano, Cavaleiro Mercante, Duelista, Escudeiro, Guarda, Guar-
dião, Lanceiro, Mercenário, Rastreador, Vigia, etc.
Sacerdote* 3 Ancião, Bispo, Escriba, Iniciado, Padre, Sacerdotisa, Santo, Oráculo, Leorista, Alecista,
Lazlita, etc
Comandante* 3 Bailio, Campeão, Capitão, General, Magistrado, Oficial, etc.
Nobre* 4 Herdeiro, Cavaleiro, Protegido, etc
Lorde* 5 Chefe, Baronete, Senhor, Barão, Visconde, Conde, Marquês, Duque, Grão Duque,
Arquiduque, Príncipe, Regente, etc
Monarca* 6 Imperador, Regente, Rei, Teocrata, etc
* A escolha de Virtudes é livre, mas para exemplificar melhor o benefício da Reputação dentro do jogo, personagens
que façam parte destas Posições Sociais, podem precisar de Virtudes como Ungido e Autoridade, para fazer valer a Posi-
ção escolhida. Da mesma forma, caso o narrador deseje fazer um grupo que faz parte de alguma força militar específica
de alguma castelania, pode colocar certas Virtudes e Fraquezas como automáticas para os membros destas.

Lembre-se que estas ocupações são meros exemplos e não devem ser limitadoras. Talvez você queira criar um per-
sonagem comerciante, de Varning, que se destacou na sua venda de velas aromáticas para os rituais de Vlakir, e tenha
tudo pra ser um Nobre; enquanto Posição Social, não deixe de colocá-lo dessa forma. Talvez você queira temperar as
coisas com seu grupo, permitindo uma rolagem aleatória de Posições Sociais iniciais, só lembre de articular junto com
os jogadores, pra ninguém ficar de fora.

314
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Algumas ocupações podem ser mais explora- Quando o seu requerimento deixar de ser atendido ou a virtude
das dentro do contexto de Belregard, como os perder sentido por alguma mudança na história do personagem,
Sacerdotes, por exemplo, que podem possuir o narrador pode mandar apagá-la da ficha e devolver o ponto de
conceitos diferentes, dependendo de que linha Elã investido. Todo jogador recupera seu Elã quando perde uma
religiosa dentro do criadorismo eles seguem, um Virtude sem que tenha sido culpa sua. Os bônus mecânicos não
Leorista é bem diferente de um Alecista. se acumulam entre as Virtudes, a não ser que a exceção seja men-
cionada.
Virtudes e Fraquezas
Aqui estão os traços mais marcantes dos per- Certas Virtudes exigem especificações a serem anotadas na
sonagens, suas qualidades e seus defeitos. Cada Ficha de Personagem quando adquiridas, geralmente entre parên-
personagem pode adquirir Virtudes gastando teses. Se o narrador aprovar, especificações podem ser trocadas
permanentemente seus pontos de Elã inicial, se a narrativa assim permitir ou no início de uma nova Crônica.
ou adquirir estes pontos através das Fraquezas,
sempre um por um. As Virtudes e Fraquezas Acuidade
aqui estão separadas entre as comuns e únicas. Requisito: Agilidade 4+.
Vale notar que algumas delas podem utilizar o Você usa mais a habilidade das mãos que o peso dos braços
conceito da Bravura, que se refere aos Pontos de para ferir seus adversários. A acuidade costuma ser utilizada por
Poder, no Crônicas. Estas Virtudes serão sepa- aqueles que são peritos em lutas com facas, punhais ou mesmo
radas das demais, a fim de organizar melhor a com o sabre dalano. Armas de característica Leve causam dano
noção de Crônicas que utilizam, ou não, o so- com Agilidade ao invés de Força.
brenatural.
Admirado
Algumas Virtudes e Fraquezas apresentadas Requisito: Especificar Posição Social.
no livro básico do Crônicas RPG foram retira- Sua fama e prestígio entre os membros de uma posição social é
das desta lista, pelo motivo de não combinarem enorme. Seja famoso entre os ferreiros do bairro, os mercadores
com a proposta do jogo, especialmente as que da guilda ou mesmos os cavaleiros da ordem, sua fama o precede
permitem efeitos de Potência (tratada como e pode, dessa forma, favorecer seus testes sociais quando se rela-
Bravura aqui) por personagens sem esta carga cionando com membros da mesma Posição Social.
dramática.
Afinidade com Animais
Lembrete: Muitas Virtudes são apresentadas Requisito: -
com seu uso limitado a apenas uma vez por dia, Sua ligação com os animais torna mais fácil compreender seus
vale lembrar que o uso temporário de Elã emula sentimentos e mesmo a melhor forma de fazer com que reali-
a “recompra” da Virtude, permitindo um novo zem tarefas de seu intento. Muitos chamarão esse traço de uma
uso. “Benção de Alec”, o puro desprendido, sempre acompanhado de
animais. Você recebe +2D ou refaz um rolamento de Cativar ou
VIRTUDES Treinamento (Trato com Animais) por dia.
Estas vantagens podem ser compradas desde
que o personagem atenda os seus respectivos Afortunado
requisitos, lembrando que ele jamais poderá ser Requisito: -
traído por qualquer elemento da Crônica que te- Por algum motivo, que deve ser definido em seu histórico, seu
nha sido comprada pelo jogador como Virtude. personagem é um pouco mais abastado do que seria comum para

315
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
uma pessoa de sua Posição Social; talvez ele tenha herdado uma triz, de um alto nível de Corrupção que manifes-
parcela de riqueza de alguém inesperado, ou pode ter consegui- ta traços dos Ímpios em seu corpo ou simples-
do como fruto de um saque em uma campanha militar. O perso- mente pela selvageria natural em seus olhos.
nagem recebe +1 em Recursos. Oponentes num raio de 10m ganham -1D em
Coragem (Vontade).
Ajudante Valioso
Requisito: Especificar a Ocupação. Ataque Súbito
Você possui um aprendiz de ofício, de trabalho. Ele pode ser Requisito: Agilidade e Manejo 3+.
um escudeiro ou um catador de urina para tingir tecidos; este Sua maestria no combate permite que saque
Coadjuvante adolescente possuirá a Virtude Obediente para com uma arma da bainha mais rapidamente que os
o seu personagem, mostrando-se sempre solícito quanto a suas demais combatentes em uma peleja. A ação Sa-
demandas. car Arma funciona como Ação Livre e sem a
respectiva penalidade de -1S.
Alfabetizado
Requisito: Estudo (Conhecimento) ou Memória (Inteligência) 3+. Atraente
Ler e escrever é um luxo das classes religiosas de Belregard, Requisito: -
nem mesmo os reis e rainhas possuem o costume da leitura, Pode ser culpa dos seus olhos, do seu cabe-
uma vez que seus decretos são “assinados” com elaborados e lo, do semblante inspirador ou simplesmente
intricados selos e cera quente. Não seria exagero dizer, porém, porque você tem todos os dentes na boca, mas
que alguns comerciantes, especialmente de Varning, entendem a você recebe +2D em Charme (Lábia) contra in-
importância das letras e da matemática, dedicando-se ao apren- divíduos que tenham atração pelo seu gênero.
dizado. Você sabe ler e escrever sem que precise nenhum teste.
[Atributo] Aprimorado
Ambidestro Requisito: Atributo 3+; Especificar Atributo.
Requisito: - Você possui certas reservas de força que
As tradições de duelo falam sobre combatentes que utilizam as pode chamar de pura força de vontade ou al-
duas mãos no combate, mas o benefício não se limita a isso, já gum tipo de benção e poder oculto dado por
que ter habilidade com ambas as mãos pode ajudar em variadas seus santos, concedendo um bônus de +2D
situações. Você possui a mesma habilidade com ambas as mãos num teste envolvendo um atributo específico
(não ganha o -2S com a mão inábil). uma vez por dia.

Aparência Comum
Requisito: Não possuir nenhuma Virtude, Fraqueza ou descrição Autoridade
que afete a aparência. Requisito: Especificar título de autoridade.

Você se passa como mais um em meio às multidões, recebendo Um marquês nos limites entre Birman e Vla-

+2D num teste de Seguir (Furtividade) uma vez por dia. kir, um comerciante com rotas que ligam Par-
louma à Belghor, um príncipe que mantém sua
Assustador cidade incólume das intrigas de Rastov ou um
Requisito: Ameaçador (Fraqueza). caçador dalano que sobreviveu aos kilthens de
Sua aparência naturalmente ameaçadora pode incutir medo Viha são exemplos de pessoas com Autoridade
nos corações de seus inimigos. Talvez isso seja fruto de uma cica- dentro de seus ciclos. Autoridade essa que traz

316
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
benefícios, mas também a responsabilidade de Contatos
mantê-la. Você possui um título de autoridade Requisito: Especificar ocupação.
em sua Morada que lhe confere posses e pro- Você pode contar com uma rede de comerciantes que faz a via-
priedades. gem entre algumas cidades, ou entre as pessoas mais pobres, já
que sempre os ajuda levando comida entre os mendicantes. Com
Corajoso um teste de Obter Rumores (Lábia), modificado pelo tempo dis-
Requisito: Coragem (Vontade) 4+. ponível e a dificuldade da informação, pode conseguir levantar
A temeridade de Leoric ecoa em você, colo- dados sobre uma pessoa ou um acontecimento.
cando em situações que a maior parte das pes-
soas não seria capaz de suportar, tornando-o
Criação Privilegiada
Requisito: Conhecimento, Inteligência e Vontade 3+.
bravo como o Leão de Braden, deixando-o imu-
Como segundo filho de uma casa nobre, seu destino não era o
ne aos medos naturais do mundo e dando +1D
de lutar nos campos de batalha, mas isso te deixou tempo para
de bônus para resistir aos medos sobrenaturais,
estudar e as benécies da nobreza tornam possível essa dedica-
como aqueles engendrados pela Sombra e seus
ção. Você pode ser um membro da classe mercante em ascensão
agentes.
que já se vê como herdeiro de um legado prévio, que garantiu
uma juventude abastada, segura e recheada de oportunidades de
Carismático
aprendizado. Você recebe +30XP em especializações de Conhe-
Requisito: Liderança 3+.
cimento.
Sua fala inspira os demais, fazendo com que
suas atenções naturalmente se voltem para você
Empatia com Animais
quando delibera sobre algo. Você costuma cau-
Requisito: Cativar (Trato com Animais) 3+.
sar uma boa primeira impressão.
Você compreende mais facilmente as reações e desejos dos ani-
mais. Com o êxito em um teste de Empatia (Percepção), você
Casca Grossa
compreende mais do que o animal tem a dizer do que os outros
Requisito: -
conseguem. Com Cativar (Trato com Animais) é possível fazer
Pode até não parecer, mas você suporta um
entender comandos básicos.
pouco mais das intempéries da violência que os
demais. Recebe +1 no Vigor físico. Esquiva Acrobática
Requisito: Acrobacia (Agilidade) 5+.
Companheiro Animal Seus reflexos rápidos permitem uma maior mobilidade na hora
Requisito: Especificar animal. de evitar golpes. A ação Evasão se torna Reação Menor ao invés
Por algum motivo você possui um vínculo es- de Reação Maior.
pecial, incomum, com um animal. Talvez você
seja um parlo de cabelo rajado ou um dalano Espalhar Boatos
que se aproximou das raposas com seu cabelo Requisito: Influência, Negócio, Rede de Informantes ou Rota de
vermelho, ou ainda um belgho que sempre ou- Comércio (Virtudes).
viu o grasnar dos corvos como um sinal de bem Você conhece as pessoas certas para plantar a semente de um
aventurança. Escolha um animal e amplie a fi- boato e deixar que a própria curiosidade humana faça o resto.
cha do mesmo com um bônus de 60 XP. Rumores que sejam minimamente críveis podem ser espalhados
com rapidez em sua Morada.

317
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
[Espec.] Aprimorada com dois gládios. Nas suas mãos, uma des-
Requisito: Teste de Especialização 4+; Especificar especializa- sas espadas ganha a característica de arma
ção. Defensivo +1. Além disso, a cada rodada é
Você sempre pode dar um pouco mais de si, talvez seja um possível fazer um segundo Ataque Simples
pouco de falta de atenção, distração ou mero charme para fazer (Ação Menor) com a outra espada curta (-2S
com os outros reconheçam que você é uma pessoa cheia de sur- na mão inábil); Requisito: Uma Mão (Mane-
presas. Você recebe +2D no teste de uma especialização uma vez jo) 3+.
por dia (Reação Livre). • Espada Curta e Escudo: A essência dos
belghos em combate, o conjunto tradicional
Especialização com [Arma] de batalha do império de Virka. Se tiver êxi-
Requisito: Força 3+ para armas de Manejo ou Percepção 3+ para to com o escudo na ação Bloquear Ataque,
armas de Pontaria; Especificar arma. a Absorção do oponente bloqueado sofre -1
Sua dedicação para o uso de uma arma específica o torna flui- (mínimo de zero) contra a espada curta até
do com a mesma, reconhecendo o peso e o balanço de modo que o final da rodada. Requisitos: Uma Mão ou
aquela mesma espada ou machado não seja tão mortal na mão Escudo (Manejo) 3+.
de qualquer um, quanto é na sua. +1 no dano com o tipo de arma • Espada e Adaga: As espadas mais longas,
específica. como o as lâminas dalanas, são um meio ca-
minho de habilidade para aqueles que não
Estilo de Combate desejam perder a destreza em nome da força
Os povos de Belregard desenvolveram estilos de luta ao longo
e o estilo de luta dalano, dentro dos duelos
das eras, por uma questão de sobrevivência e do próprio isola- com duas armas, é notório. A adaga manu-
mento, muitos destes costumes estão arraigados em noções ét- seada com a espada na outra mão ganha a
nicas, mas pela união dos povos durante o período do império característica Defensivo +1. Além disso, a
de Virka, estes costumes foram espalhados, absorvidos e com- cada rodada é possível fazer um segundo
partilhados. Cada estilo carrega um requisito distinto, apontado Ataque Simples (Ação Menor) com a outra
abaixo: arma (-2s na mão inábil). Requisitos: Uma
• Arco e Flecha: Muito comum entre os vihs, famosos por Mão (Manejo) 3+.
seus mortais arcos longos. Dobra a distância do arco graças a • Espada e Escudo: A lâmina dalana, mais
um talento natural ou um bom tempo de prática. Requisitos: longa que o gládio belgho, foi incorporada
Arco (Pontaria) e Força 3+. nas forças do império. Apesar de não ter
• Duas Adagas: Um estilo antigo que data dos primeiros ocupado espaço como principal arma dos
contatos dos belghos com os belinar das matas. Possui três soldados, o estilo da espada e escudo figu-
benefícios: 1) Em suas mãos uma adaga ganha a caracterís- ra entre os mais populares entre os guer-
tica de arma Defensivo+1; 2) A cada rodada é possível fazer reiros singulares de ordens de cavalaria. Se
um segundo ataque Simples (Ação Menor) com a outra adaga tiver êxito com o escudo na ação Bloquear
(-2S se estiver na mão inábil); 3) Se tiver uma mão livre é pos- Ataque, a espada ganha +1D em um ataque
sível sacar uma nova adaga como se tivesse a virtude Ataque contra o oponente bloqueado até o final da
Súbito. Requisito: Uma Mão (Manejo) 3+. rodada. Requisito: Uma Mão ou Escudo (Ma-
• Duas Espadas Curtas: O gládio belgho sempre foi uma nejo) 3+.
arma tradicional e apesar da preferência do uso com escu- • Lança e Escudo: Modalidade popular en-
do, os mais audaciosos desenvolveram um método de luta tre as legiões imperiais, mas que ainda vigo-

318
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
ra em castelanias como Vlakir. Se tiver êxito nente bloqueado se tentar impedi-lo. Requisito: Uma Mão
com o escudo na ação Bloquear Ataque, ven- (Manejo) 3+.
ça uma disputa de Escudo (Manejo) contra o • Montante: A espada vihs é pesada e larga, carregada nas
Equilíbrio (Agilidade) ou Força do oponente costas e é compreensível que estes selvagens guerreiros te-
bloqueado (a escolha dele, que ainda ganha nham desenvolvido uma técnica especial para o seu uso, que
em caso de empate) para obrigá-lo a recuar também pode se aplicar ao machado de duas mãos. Ao dei-
1m. Requisito: Uma Mão ou Escudo (Mane- xar um oponente vencido em combate (com seu Vigor zerado)
jo) 3+. será possível fazer outro Ataque Simples (Ação Menor) contra
• Maça e Escudo: Dentro das ordens reli- outro oponente dentro do seu Alcance se estiver empunhando
giosas, do braço leorista do Tribunal, uso uma arma de duas mãos. Requisito: Duas Mãos (Manejo) 3+.
de armas contundentes é o costume, a tra- • Zuffa: As contendas desarmadas são comuns entre os par-
dição. Se tiver êxito com o escudo na ação los, que desenvolveram um estilo de luta com as mãos nuas
Bloquear Ataque, seu ataque nesta rodada que envolve balanço do corpo e poderosos socos que podem
ganha +1D com qualquer tipo de maça ou nocautear. Além das variações, seus ataques desarmados dão
mangual contra o oponente bloqueado. Re- dano de Força. Você pode utilizar de duas formas, tendo que
quisito: Uma Mão ou Escudo (Manejo) 3+. anunciar o uso naquele turno. Desde que lutando desarmado,
• Maça e Espada Curta: Uma variação do você pode: 1) Receber +1 na Defesa; 2) Desferir a ação No-
que é aplicado entre as ordens militares do caute (Escaramuça) em um combate. Requisito: Briga (Mane-
Tribunal. Ao acertar um oponente com a es- jo) 3+.
pada curta, será possível fazer outro Ataque
Estimado
Simples (Ação Menor) com a maça ou man-
Requisito: -
gual, desta vez com +1 no dano. Requisito:
Seu personagem é extremamente querido por muitas das pes-
Uma Mão (Manejo) 3+.
soas que vivem em sua Morada. O motivo dessa adoração deve
• Machado e Escudo: Os vihs e igslavos
ser discriminado no seu histórico: talvez você tenha a sorte de ter
sempre utilizaram armas que pudessem ser
sido filha da pessoa certa ou pode ter feito algo pela Morada que
ferramentas de sobrevivência, e o machado
realmente mudou sua sorte, como defender de salteadores de es-
é um grande companheiro. Se tiver êxito
trada ou impedindo que o cobrador de impostos colocasse penas
com o escudo na ação Bloquear Ataque, o
severas sobre os humildes em uma colheita ruim. Coadjuvantes
oponente bloqueado fica com -1S no Teste
e figurantes locais terão predisposição favorável, mesmo se não
de Bloqueio caso tente parar o ataque feito
o conhecem pessoalmente, mudando a dificuldade em seu favor
com qualquer tipo de machado até o final
numa série de testes sociais.
da rodada. Requisito: Uma Mão ou Escudo
(Manejo) 3+. Estudar Oponente
• Machado e Espada Curta: Popular entre Requisito: -
os igslavos que, pelo convívio, desenvolve- Seu olhar pode até não captar os sentimentos e intenções de
ram boa habilidade como gládio belgho. Ao uma pessoa durante uma conversa, mas quando é hora de fa-
acertar o oponente com a espada curta, será zer o aço cantar sua canção de morte, sua percepção se amplia,
possível fazer outro Ataque Simples (Ação mapeando os movimentos do adversário. Desde que consiga ob-
Menor) com o machado (de qualquer tipo), servar um alvo em combate por pelo menos três turnos (Ações
com -1S no Teste de Bloqueio para o opo- Livres) é possível aprender o seu jeito de lutar por uma quantida-

319
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
de de dias igual ao número de sucessos no teste de Memória
(Inteligência), período em que ganhará +1D no ataque ou
+1 na Defesa contra ele, a ser escolhido
sempre no início de cada rodada.

Fanático
Requisito: -
Sua crença nos preceitos do criadorismo são forte e poderosos,
de modo que a maior parte dos argumentos utilizados por você
possuem uma base religiosa, permitindo sustentar os maiores ab-
surdos mesmo diante da verdade mais evidente. É possível utilizar
testes de Lábia ao invés de Blefe para defendê-los.

Farejar • Biblioteca: Muito comum para persona-


Requisito: Atenção (Percepção) 4+ gens que possuam envolvimento com o Tribu-
Olfato aguçado que permite fazer testes de Rastrear (Sobrevi- nal, podendo ser a coleção de uma igreja, de um
vência) com Atenção (Percepção), obtendo informações referen- monastério, mas também pode aparecer como
tes aos aromas quando interpretar rastros. a coleção de um nobre excêntrico. Vasta coleção
de tomos, livros e pergaminhos com respostas
Finalização Espetacular
para vários testes, especialmente de Conheci-
Requisito: Teste de Ataque 5+
mento, Cura, Inteligência e Sobrevivência, com
Os dalanos são famosos por sua maestria e dedicação a todas
êxito automático (quando se procura apenas in-
as coisas que fazem, isso não seria diferente com aqueles que se
formação) ou +1D no teste (se só a informação
dedicam ao estudo do combate. Apesar de não estar limitado ao
não resolve; jamais aplicável em combate). Para
uso pelos povos de Dalanor, as lutas e combates com derrotas hu-
obter esse benefício é preciso que a resposta
milhantes são contadas nas baladas como um traço de Renart. Se
esteja em algum lugar do acervo, que se pas-
vencer um oponente com apenas um golpe preciso (independente
se certo tempo procurando por ela, e que tenha
dele estar ferido antes disso), todos à volta ficarão impressiona-
êxito num teste de Estudo (Conhecimento) com
dos com o ataque. Figurantes e coadjuvantes não poderão atacá-
dificuldade de acordo com a pergunta e o seu
-lo até o fim do turno e antagonistas e protagonistas só poderão
acervo. A biblioteca pode ser alvo de ataques e
fazê-lo se não houver algum outro alvo para ser atacado em seu
lugar. precisa de proteção e cuidado.
• Conselho de Anciões: Muito comum em
Fonte de Conhecimento regiões interioranas e entre povos que dão va-
Requisito: - lor ao saber dos antigos. Vihs e igslavos certa-
Acesso fácil e quase exclusivo a um invejável banco de informa- mente procurariam pela sabedoria dos anciões,
ções. Ao comprar essa virtude, o personagem se torna responsá- dalanos podem questionar antigos trovadores
vel por esta fonte de conhecimento. O narrador deve especificar que já cruzaram as estradas do mundo. Desde
o tipo de conhecimento, caso permita esta virtude em sua crôni- que possa se reportar num encontro de sábios,
ca. Cada fonte possui um tipo de requisito diferente, apresentado o personagem terá acesso a informações que ele
abaixo. nem mesmo percebeu que precisaria. Mas para

320
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
ter o favor do conselho é preciso a sua bênção, Idioma(s) Adicional(ais)
que custa de eventuais serviços a serem presta- Requisito: Especificar cada idioma conhecido.
dos um ou mais deles. Todo conselho tem reu- Muito comum e valioso entre os comerciantes. Apesar do parlo
niões periódicas e o acesso ao seu potencial é ser a conhecida língua do comércio, muitos textos e registros estão
apenas possível durante estes encontros. em variadas línguas, e enquanto as cortes falarem dalano, todo
idioma é valioso. Conhece um idioma adicional e pode comprar ou-
Fúria Religiosa tros a 15 XP cada, desde que tenha a oportunidade de aprendê-la.
Requisito: -
Sua dedicação aos ditames do Tribunal, a igre- Incansável
ja do Demiurgo ou mesmo aos cultos sombrios Requisito: Fortitude (Resistência) 4+.
é tão intensa que sua ira pode ser tomada como Os povos de Belregad compartilham uma característica que vai
pura força divina ou profana, aumentando a for- além da mera argamassa religiosa que os une: os povos de Bel-
ça de golpes pelo desejo puro e simples de erra- regard possuem tenacidade, fibra para se manterem erguidos em
dicar os hereges. +2D num ataque físico (Ação um mundo derrotado. Condicionamento físico que não o deixa
Livre) contra alvos repudiados pela sua Devo- Cansado ou Exausto (Condições), ou melhor, o torna muito mais
ção. Pode ser usada uma vez por dia. difícil de ficar assim que outros indivíduos.

Grito de Guerra Inimigo Favorito


Requisito: Comando (Liderança) 4+. Requisito: Especificar povo, ocupação, classe social ou organi-
Enquanto for possível que os sob seu coman- zação.
do o escutem, você garantirá a eles uma boa luta Você pode ser um exemplar típico do povo, que carrega consi-
e alimentará a fome pela vitória. Seja clamando go as impressões tendenciosas sobre outros grupos sociais de sua
“pelo Criador” ou “o que você teme”, seu brado morada, falando contra organizações ou classes sociais, seja como
fortalece a luta daqueles sob seu comando. Uma um nobre vlako que despreza os camponeses ou como um fazen-
vez por dia é possível soltar um forte urro (Ação deiro parlo que deseja ver a morada dos senhores em chamas. +1D
Menor) capaz de inspirar os aliados até 20m e con- nos ataques físicos e sociais contra oponentes que pertençam ao
ferir a eles +1D nos ataques até o final do turno. grupo que odeia, sem poder sequer esconder o desprezo.

Identidade Alternativa Inofensivo


Requisito: Especificar personagem. Requisito: Precisa parecer inofensivo ou pouco perigoso.
Você provavelmente é um espião, um agen- Algo na sua aparência diz que você não é um perigo, que pode
te infiltrado dos cultos profanos nos salões da ser facilmente ignorado em uma confusão, tornando-o aquela
igreja, ou o contrário. Talvez seja um agente dos pessoa que consegue uma briga no bar e ainda sai dela sorratei-
príncipes de Rastov espiando terras inimigas ramente. -2S em Intimidação (Lábia). Porém, o personagem em
e aguardando a melhor oportunidade para o combate só não será colocado em último lugar na lista de vítimas
ataque. Desde que devidamente parecido com a serem atacadas pelos oponentes se ele for o principal alvo.
o personagem especificado, não será preciso
fazer testes de Disfarce (Blefe) para ser reco- Investida Furiosa
nhecido como ele, mesmo que ainda possa ser Requisito: -
desmascarado por alguém que tenha o conheci- Até hoje histórias são contadas sobre a fúria evidente dos povos
mento desta virtude. vihs ao encontrar as paredes de escudos dos belghos, a maneira

321
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
como partiam para a morte na intenção de quebrar as defesas e Motivar Aliado
permitir que seus irmãos de armas terminassem o serviço. +1D Requisito: Comando (Liderança), Enganação
nos Ataque Simples decorrentes da ação Ataque em Carga (ver (Blefe), Oratória (Performance) ou Persuasão
Escaramuça). (Lábia) 5+ .
Seja através de um discurso verdadeiro ou
Memória Infalível
pela pura e simples manipulação de sentimen-
Requisito: Memória (Inteligência) 5+.
tos, você consegue imputar urgência e ímpeto
Êxito automático em testes de Memória (Inteligência), conse-
nas ações de seus aliados. Desde que gaste um
guindo sempre pelo menos um Sucesso (1S). Requisitos: Memória
turno inteiro (Ação Maior) para estimular um
(Inteligência) 5+.
aliado adjacente a tomar uma ação especifica,

Memória Olfativa se o aliado executá-la até o final da cena ele irá

Requisito: Farejar (Virtude). ganhar +2D. Esta virtude pode ser utilizada uma

Quando tiver êxito em testes de Atenção (Percepção) com a vez por dia.
virtude Farejar, será possível com um teste simples com êxito de
Negócio Próprio
Memória (Inteligência) associar o que captou com outros aromas
Requisito: Especificar negócio.
captados no passado.
Talvez você tenha uma venda na cidade gran-
Mentor de, ou preste serviços como ferreiro para a al-
Requisito: Especificar ocupação do mentor. deia local, ou ainda seja o dono dos bois que os
No mundo de Belregard o trabalho dos tutores e mentores é fazendeiros utilizem para arrastar o arado pelos
muito comum. Seu personagem não aprendeu o básico, como con- seus campos. +1 em Recursos em razão do es-
tinua em contato e convivência com seu antigo mentor, podendo tabelecimento que possui, onde se vendem bens
contar com um aliado. Coadjuvante poderoso (+150 XP) que lhe ou serviços com a ajuda de alguns funcionários.
oferece conselhos e orientações. No entanto, como ele possui Este bônus é cumulativo com o da virtude Afor-
suas próprias preocupações e urgências, não se deve contar que tunado.
possa ajudá-lo o tempo todo.
Obediente
Mestre dos Atalhos Requisito: Especificar personagem.
Requisito: Especificar comunidade ou região. Existem dois tipos de pessoas no mundo: as
Você pode ser um comerciante que já viajou pelas estradas que mandam e as que obedecem, e não existe
próximas, um cavaleiro mercante que defendeu caravanas, ou vergonha em fazer parte do segundo grupo, es-
simplesmente um pastor de ovelhas que sabe quais os melhores pecialmente se você é um executor capaz. Bas-
lugares para se caminhar. Dentro de uma comunidade ou região ta uma breve troca de olhares com seu superior
especificada, a trajetória conhecida entre dois pontos pode ser re- (personagem especificado) para entender que
duzida em até um terço do tempo, se possível em condições mais está autorizado a fazer algo que tenha sido com-
seguras, mas respeitando sempre o limite do possível. O perso- binado anteriormente. Perceber esse contato só
nagem ainda tem um bom conhecimento sobre as migrações que será possível se tiver êxito num Teste Resistido
ocorrem por lá. de Empatia (Percepção) no mínimo Insano/-4S
contra a sua Enganação (Blefe).

322
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Ouvidos de Mercador Proteção Divina
Requisito: - Requisito: -
+2D em Ouvir (Percepção) para escutar con- Você se imbui de sua posição dentro de uma devoção em co-
versas em lugares próximos e +1D em Engana- mum com os demais para garantir a própria segurança entre os
ção (Blefe) para que não percebam esta tenta- seus pares. Mesmo como um bispo corrupto, suas ações costu-
tiva. mam ser ignoradas. Reconhecido como representante divino,
oponentes da mesma Devoção precisam vencer um teste de De-
Protetor terminação (Vontade) ao menos Muito Difícil/-2S para atacá-lo.
Requisito: Especificar personagem. Se falhar no teste, o oponente não poderá tentar atacá-lo nova-
Você pode ser uma pessoa importante que mente até o final da cena.
está visitando terras outras, ou ainda um refém
fruto de uma troca entre organizações para se-
Puro
lar uma paz, ou ainda alguém valioso pelo sim-
Requisito: Apenas personagens iniciais que não tenham nenhuma
ples fato de existir, como um herdeiro. Algum
Virtude ou Fraqueza que contradiga seu estado de pureza.
indivíduo rico ou importante preza pela sua se-
Sua alma é intocada pela corrupção da Sombra. Você começa
gurança a ponto de mantê-lo como seu anftrião,
o jogo no nível Puro de Corrupção e não no Tocado, como os
comendo da sua comida e protegido por seus
demais.
guardas.

Presença Inspiradora Rede de Informantes


Requisito: Autoridade, Influência, Negócio Próprio ou Rota de
Requisito: -
Comércio (Virtudes).
Sua presença traz segurança e conforto, tor-
Por ser reconhecido em sua Morada, devido a influência ou po-
nando mais difícil que seus aliados entrem em
der, é comum que as notícias cheguem até você com facilidade.
desespero diante de perigos e dificuldades. Os
Sempre que personagens ou acontecimentos viram alvos de boa-
aliados num raio de 10m ganham +1D em Cora-
tos na sua Morada, seus informantes irão procurá-lo na primeira
gem (Vontade) enquanto o personagem parecer
oportunidade para mantê-lo a par das novidades.
intocado pelo medo. Este bônus é ativado pelo
personagem sem maior dificuldade (Reação Li-
vre). Rota de Comércio
Requisito: Lacaios ou Séquito (Virtude); Especificar as comunida-
Prontidão des nas extremidades de sua rota de comércio.
Requisito: - Com o comércio precário de Belregard, uma pessoa que con-
+2D em Atenção (Percepção) uma vez por dia segue manter uma rota ativa é muito bem quista em sua mora-
(Reação Livre). Este benefício pode ser declarado da, atraindo maior riqueza para si, mas também se tornando o
após o rolamento, mas antes do término da ro- centro das atenções. +1 em Recursos em razão de uma caravana
dada. Opcionalmente, o jogador pode refazer o que possui em uma importante rota de comércio. Esse bônus é
teste de Atenção (Percepção), substituindo o re- cumulativo com as virtudes Afortunado e Negócio Próprio. +1 no
sultado anterior se este for melhor que o primeiro. Status dentro da caravana.

323
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Sensitivo para tirar alguma vantagem. +1D em Furtivida-
Requisito: - de, Percepção (exceto Empatia) e Sobrevivência
Seja por sonhos, visões ou outro tipo de premonição, aconte- dentro do terreno especificado (bosque, colina,
cimentos distantes ou em outro tempo chegam ao seu conheci- floresta, costa, pântano, etc.).
mento através de charadas que, se desvendadas, serão úteis num
futuro próximo. Falar abertamente sobre esse dom, sobre as vi- Ungido
sões e mensagens, pode colocar o personagem em apuros, uma Requisito: -

vez que o Tribunal pode interpretar tais sentidos como um sinal As muitas ordens religiosas de Belregard aca-

claro da presença da Sombra Viva. Ao mesmo tempo, pode ser bam possuindo dogmas diferentes: enquanto

o que abrirá caminho para o personagem galgar sua chegada ao leoristas dedicam-se ao tempero de corpo e

estado de Arauto (Bravura, Virtude Única). mente, valorizando o combate, alecistam se de-
dicam em espalhar a litania enquanto lazlitas são
Senso Comum comuns no clautros, enterrados no estudo das
Requisito: - escrituras. Reconhecido como sacerdote de sua
Se estiver prestes a tomar uma decisão insensata, o narrador Devoção, pode facilmente ser reconhecido por
deverá confirmar primeiro se realmente deseja aquilo antes de outros sacerdotes por saber responder com facili-
ditar suas consequências. Ideal para novos jogadores. dade as perguntas sobre seus segredos sagrados.

Senso de Dever Veloz


Requisito: Especificar juramento. Requisito: Agilidade 4+.
Comum entre cavaleiros mercantes e demais cavaleiros de or- +2D em Correr (Força) uma vez por dia e +1m
dens específicas, que costumam tomar um juramento de proteger no Movimento, desde que não esteja carregan-
determinadas áreas ou mesmo símbolos. +2D em todos os testes do uma arma ou armadura com a característica
contra qualquer tentativa de distrai-lo ou demovê-lo de seu jura- Fardo.
mento, até mesmo com poderes sobrenaturais.
Versatilidade
Senso de Direção Requisito: Uma Mão (Manejo) 4+.
Requisito: Especificar Terreno. Muitos soldados se acomodam com a prática
Você se orienta facilmente em áreas selvagens, garantindo uma de armas básicas, não se empenhando muito em
maior segurança para aqueles que viagam com você. +1D Orien- melhorar as próprias capacidades, mas você não
tação (Sobrevivência) dentro de um tipo de terreno específico é assim. Seu treinamento com diferentes armas
(bosque, colina, costa, floresta, costa, montanha, pântano, etc.). cancela a penalidade da característica Compli-
Além disso, será possível regressar pelo caminho em que che- cada.
gou, desde que isso tenha ocorrido recentemente.
Visão Noturna
Terreno Favorito Requisito: Observar (Percepção) 4+.
Requisito: Especificar terreno. Salvo na escuridão total, que ainda o deixa
Sua familiaridade com um tipo específico de terreno selvagem cego, você reduz em dois Sucessos a penalidade
o torna mais apto ao combate nestas áreas, ciente dos perigos de dificuldade pela escuridão em qualquer teste
possíveis de se encontrar e conseguindo antecipar movimentos em que a visão seja importante.

324
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Virtudes Únicas Calejado
Virtudes Únicas são compradas com pontos Requisito: -
de Elã e aconselha-se que o narrador permita Seja como um jovem que teve de se virar desde sempre nas ruas
que apenas um personagem possua uma Virtu- ou os campos, ou ainda como um veterano de guerra afastado
de Única no grupo. A exceção dessa regra é a dos exércitos, você se destaca pelos anos difíceis que viveu e lhe
Virtude Única Bravura, que coloca o persona- conferem +50XP.
gem na posição de Arauto.
Destino
Adaptável Requisito: Especificar destino.
Requisito: Atuação (Performance) 4+. Você nasceu sob augúrios especiais, talvez as estrelas na noi-
Você se vira bem em lugares novos, facilmen- te de seu nascimento estivessem dizendo que seu destino seria
te captando formas de comportamento, e isso grandioso dentro dos salões da nobreza, por mais que o sua ori-
pode ser algo consciente ou não, de modo que gem humilde diga o contrário. Trabalhe em conjunto com o narra-
nem mesmo você perceba quando está mudan-
dor para criar um bom gancho para a crônica com isso. Uma vez
do de sotaque para ficar mais parecido com o
por dia é possível refazer um rolamento diretamente associado ao
que ouve ao seu redor. Em dois dias de conta-
seu destino e cujo resultado tenha sido insatisfatório. Este resulta-
to com a nova cultura se aprende a ficar com a
do só substituirá o anterior for melhor.
voz e o comportamento quase idêntico ao de
um morador local comum, sem a necessidade de Duro de Matar
testes para evitar qualquer suspeita. Requisito: Resistência 3+.

Ataque Furtivo Não importa o quão pesado eles batam, você pode até cair,

Requisito: Agilidade, Furtividade e Manejo 3+. mas não é tão fácil te matar. Se vencido numa escaramuça, o per-

Você é perito em iniciar brigas de surpresa, ou sonagem pode uma vez por dia converter um resultado de Morte

entrar em uma quando menos se espera. +1D em Inconsciência. Inimigos enganados uma vez no passado po-

no ataque ou +2 no dano a cada ataque contra dem anular esse efeito numa segunda vitória, garantindo que des-
a Retaguarda ou Flanco, ou durante a Rodada sa vez não volte a incomodá-lo.
Surpresa.
Esmagador
Bravura Requisito: Manejo 4+.
Requisito: Ter passado pelas Três Marcas do Você se sai melhor com armas grandes, como martelos ou ma-
Criador e assim adquirir, pelo menos, uma Fra- ças pesadas. +1 no Dano com armas de Manejo com a caracte-
queza que transmita isso. rística Esmagadora. Além disso, +2D num ataque com uma arma
Você despertou como Arauto e agora é capaz assim (Reação Livre) uma vez por dia.
de realizar certos feitos discretos que o ajudam
a tomar ciência da presença da Sombra Viva em Estocada Cruel
todas as coisas, mas também o torna um alvo de Requisito: Manejo 4+.
seus agentes. Esta Virtude pode ser comprada Punhais, adagas, lâminas, perfuradores são mais letais quando
mais de uma vez, e a cada compra o personagem em seus dedos habilidosos. +1 no Dano com armas de Manejo
adquire um Ponto de Poder (chamado de Bravura com a característica Perfuradora. Além disso, +2D uma vez por
aqui) para utilização dos dons divinos. A cada dia (Reação Livre) num ataque com uma arma assim.
compra, pode-se escolher um dom diferente.

325
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Fúria Dano com armas de Manejo com a característi-
Requisito: Força e Resistência 4+. ca Cortante. Além disso, +2D uma vez por dia
Talvez seja pura ira divina, ou um caso de possessão, mas você (Reação Livre) num ataque com uma arma com
é capaz de canalizar uma força primitiva dentro de si e fazê-la es- essa mesma característica.
tourar na forma de uma fúria que o torna um verdadeiro monstro
em batalha. Ativada uma vez por dia (Ação Maior), o personagem Preces Respondidas
ganha +1D em Manejo, +1 no dano, +1 no Vigor físico, +1D em Requisito: -
testes para resistir poderes, -1S em Testes de Bloqueio, -1 na De- A crença é um elemento forte para superar
fesa e -2S em ações desassociadas ao combate físico. Esse estado problemas e você, reconhecidamente como al-
dura até o final da cena ou até vencer um teste de Determinação guém de fé forte, pode auxiliar seus aliados. Ao
(Vontade) Difícil/-1S para que consiga se conter (Ação Maior), focalizar suas preces num aliado dentro do seu
passando a ficar com -1S em todos os testes até o final da cena. campo de visão (Ação Maior), uma vez por dia
será possível conceder +2D a ele numa ação que
Gigantesco não seja contra a sua devoção.
Requisito: 2,2+m de altura, Força e Resistência 4+.
Talvez você tenha um pouco do sangue de gigantes que corre Precisão Impressionante
nas veias dos vogos. Sua força e tamanho impressionantes permi- Requisito: Pontaria 4+.
tem que uma arma de duas mãos possa ser manuseada com uma Sua mira é boa o bastante para conseguir atin-
apenas, rolando Uma Mão (Manejo) em seus ataques, mas sem a gir entre os olhos de um inimigo em movimento
vantagem da característica de arma Duas Mãos. com muito mais facilidade que outros atiradores.
+1 no Dano com armas de Pontaria. Além disso,
Influência
+2D uma vez por dia (Reação Livre) num ataque
Requisito: Especificar organização.
com uma arma assim.
Boas relações com as pessoas certas e alguns favores lhe conce-
dem voz entre os líderes de uma organização especificada (consul-
Refúgio
te a crônica), mesmo que nem sempre seja possível manipulá-los.
Requisito: Especificar local.
Um lugar reservado e seguro, podendo ser
Inspirar Aliados
Requisito: Oratória (Performance) ou Carisma (Liderança) 5+. uma velha adega nos porões de um antigo bar,

Seja num discurso de comandante diante de tropas desmorali- as criptas de uma igreja ou ainda os salões se-

zadas ou como um pregador fiel ao secto desesperado, suas pala- cretos em um grande castelo. Esconderijo à dis-
vras incutem moral e ânimo nos corações enfraquecidos. Se tiver posição do personagem, que se bem cuidado só
êxito num teste de Oratória (Performance), algo em seu discurso será conhecido por seus aliados. Varia de acordo
(feito nesta mesma cena) deixará os aliados dentro de um raio com a ocupação e precisa ser bem definido jun-
de 10m com +1D num determinado teste associado ao discurso, to com o narrador.
num único turno especificado pelo jogador (Ação Livre) até o
final da cena. Esta virtude só pode ser usada uma vez por dia.
Reflexos Afiados
Requisito: Agilidade 4+.
Lâmina Mortal Uma Reação Menor adicional por rodada, que
Requisito: Manejo 4+. não só pode ser investida para tentar de novo
Sua habilidade com armas cortantes é superior, permitindo que uma reação malsucedida.
você cause muito mais ferimento aos inimigos desavisados. +1 no

326
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Sorte • Amanita Virosa: Cogumelo que surge no verão e no outono,
Requisito: - que quando imaturo se parece com algumas espécies comestí-
Os povos de Belregard costumam ver a ques- veis. É comum no oeste de Dalanor e por toda a Viha. Com essa
tão da sorte de sua própria maneira, a verdade virtude se aprende que se ingerida será preciso vencer um teste
é que a sorte de, por exemplo, sobreviver a feri- de Fortitude (Resistência) Difícil/-1S para não entrar em sofri-
mentos mortais pode levantar suspeitas sobre a mento e morrer em horas com o fígado e os rins estragados. As
origem dessa “benção”. Uma vez por dia, refaça dores permitem identificar o envenenamento com êxito num tes-
um rolamento à sua escolha. O novo resultado te de Diagnose (Tratar Ferimentos) Muito Difícil/-2S, podendo ser
irá substituí-lo se assim preferir. ministrado um antídoto que deixa a vítima com apenas um Nível
de Ferimento adicional. Pode ser identificado no cadáver da víti-
Veneno
ma com êxito num teste de Diagnose (Tratar Ferimentos) Muito
Requisito: Especificar veneno.
Difícil/-2S.
O conhecimento sobre venenos pode ser estu-
• Acônito: Planta de folha verde-escura e flor azul (às vezes
dado por qualquer indivíduo com um mínimo de
branca), muitas vezes utilizada para matar lobos. Se ingerir um
inteligência, mas o acesso a essas informações é
pouco da raiz (o gosto é péssimo) será necessário fazer um teste
extremamente difícil de conseguir. Com esta vir-
de Fortitude (Resistência) Radical/-3S, do contrário sofrerá sali-
tude, o personagem tem o hábito de utilizar um
vação excessiva (levando às vezes a espumar pela boca), falta de
veneno sugerido ou autorizado pelo narrador de
ar, tremores e depois a morte em algumas horas. Esta virtude
acordo com o cenário, sabendo que ele deve ser
permite extrair um concentrado que pode ser usado para envene-
utilizado com parcimônia para evitar chamar a
nar flechas e pontas de espadas. Basta causar 2+ pontos de dano
atenção de outros conhecedores de venenos.
com uma arma envenenada assim para obrigar o alvo a fazer o
• Arsênico: Um par de gotas de arsênico
teste acima. Como todo veneno concentrado, ele perde o efeito
pode deixar a pele rosada, o que o torna relati-
em dois dias desde a filtragem. Pode ser identificado no cadáver
vamente popular entre alguns círculos da nobre-
de uma vítima com êxito num teste de Diagnose(Tratar Ferimen-
za, mas sabe-se que seu uso em demasia pode
tos) Simples/0.
levar a morte. Pode ser misturado na comida ou
bebida, e quando ingerida obriga a passar em • Lótus Negra: Uma única folha ingerida desta planta pode

um teste de Fortitude (Resistência) Difícil/-1S obrigar um teste de Fortitude (Resistência) Radical/-3S para evitar

para não sofrer com vômitos, diarréia, desidra- que a respiração se torne cada vez mais pesada, levando à morte
tação e dores no estômago, levando a morte em em até uma hora. O sintoma permite identificar o envenenamento
horas. Por se parecer com a difteria, precisa de com êxito num teste de Diagnose (Tratar Ferimentos) Dificil/-1S,
êxito num teste de Diagnose (Tratar Ferimentos) podendo ser ministrado um antídoto que o interrompa, deixando
Insano/-4S para ser identificado, podendo ser a vítima com um Nível de Ferimento adicional. Pode ser identi-
ministrado um antídoto que deixa a vítima com ficado no cadáver da vítima com êxito num teste de Diagnose
um ou dois Níveis de Ferimento adicionais. Pode (Tratar Ferimentos) Radical/-3S.
ser identificado no cadáver da vítima com êxito • Cicuta: Outra planta fatal. Basta ingerir oito folhas que será
num teste de Diagnose (Tratar Ferimentos) Insa- preciso fazer um teste de Fortitude (Resistência) Radical/-3S para
no/-4S. Com essa virtude é possível extrair um não ter uma morte lenta e dolorosa, paralisando o corpo apesar
concentrado após um processo que leva ao me- de manter a mente lúcida até o final, levando à morte em poucas
nos cinco dias. Como todo veneno concentrado, horas. Tem um gosto péssimo que pode tornar o teste mais fácil
ele perde o efeito em dois dias. com uma ingestão menor, mas esta virtude permite criar uma in-

327
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
fusão concentrada que tira o gosto ruim, desde
que tenha a planta consigo. Pode causar compli-
cações para quem a colhe, pois é uma planta que
sabidamente traz mau agouro e mexer com ela
é tabu. Pode ser identificado no cadáver de uma
vítima com êxito apenas num teste de Diagnose
(Tratar Ferimentos) Insano/-4S.
• Outras Toxinas: Certas plantas e animais
(nem sempre fáceis de serem encontradas) se-
cretam substâncias venenosas. Com esta virtu-
de se aprende como extrair um concentrado que
pode ser usado para envenenar flechas e pontas
de espadas. Basta causar 2+ pontos de dano
com uma arma envenenada assim para obrigar
o alvo a fazer um teste de Fortitude (Resistên-
cia) Muito Difícil/-2S, do contrário entrará em
sofrimento para morrer em uma questão de ho-
ras. Como todo veneno concentrado, ele perde
o efeito em dois dias desde a filtragem. Pode
ser identificado no cadáver de uma vítima com
êxito num teste de Diagnose (Tratar Ferimentos)
Muito Difícil/-2S.

FRAQUEZAS
O jogador pode escolher até duas Fraquezas
na criação de seu personagem. Lembrando
que certos traços, como idade, podem incutir
Fraquezas, como Decrepitude. É preciso cum-
prir, também, algum requisitos para algumas
Fraquezas específicas. Se os requisitos para as
Fraquezas for superado, ou se elas perderem o
sentido para o personagem, podem ser retiradas
do jogo. Ao retirar, deve-se decidir se o ponto
de Elã também será removido ou se uma nova
Fraqueza substituirá a antiga.

Ameaçador
Requisito: -
Você causa desconforto com sua presença.
-2S em Charme (Blefe) pela sua aparência as-

328
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
sustadora, uma vez que ninguém consegue ficar Por algum motivo você perdeu a visão e, desse modo, os testes
completamente à vontade na sua presença. envolvendo a visão falham automaticamente, além de uma série
de outras limitações que o narrador deve explorar em jogo.
Arrogância
Requisito: Reputação 2+ e Percepção (Empatia) 3-. Chantageado
Em sua arrogância é impensável que alguém Requisito: Segredo (Fraqueza).
de posição inferior possa sequer sonhar em agir Seus crimes do passado são conhecidos por algumas pessoas
contra você, ou pelas suas costas. -2S em Em- que podem iniciar um processo de cobrança de favores para
patia (Percepção) contra aqueles que o perso- se manterem de bico calado. Algum antagonista ou coadjuvan-
nagem acredita pertencer a um Status inferior. te conhece um ou mais segredos do personagem e aos poucos
ameaçará revelá-lo(s) caso não seja feita uma série de favores.
Atormentado A identidade desse chantagista não precisa ser revelada inicial-
Requisito: - mente.
Formas fantasmagóricas ocupam seus pen-
samentos em momentos aleatórios. Podem ser Compulsão
coisas do passado retornando para assombrar e Requisito: Especificar atividade.
cobrar por um pecado antigo ou simplesmente Todo dia um ritual ou atividade não muito demorada deve ser
aquelas vozes dentro de sua cabeça que sem- realizada, seja aquela oração ao Criador logo pela manhã, ou o
pre estiveram lá, garantindo que não estivesse ritual do soldado de amolar e chegar seu equipamento sempre
sozinho em qualquer lugar que fosse. -2S em que a marcha dá uma pausa. Se esta rotina não for respeitada,
Atenção (Percepção), pois fantasmas costumam o personagem ficará com -1S em todos os testes até que volte a
assombrar suas lembranças a todo o momento, realizá-la.
mesmo quando não pensa neles.
Contratante
Bom Coração Requisito: Especificar contratante.
Requisito: Determinação (Vontade) 3-. Comum entre os cavaleiros mercantes que não estão filiados a
Injustiças o fazem torcer os nervos para se uma única casa poderosa, mas estão sempre prestando serviços
controlar, seu coração demanda retratação por em troca do auxílio básico para sua sobrevivência. Uma figura
parte dos vilões ou, no mínimo, alento para as rica e/ou influente cobra serviços com certa frequência, geral-
vitimas. Sua necessidade em seguir o caminho mente por tê-lo beneficiado no passado. Ele pode ajudar nas si-
do bem o impede de fazer maldades, obrigando- tuações que o interessam, mas se demorar a ser atendido pode se
-o a vencer um teste de Determinação (Vontade) transformar num Nêmesis. Especificar contratante.
para fazer algo que considere errado, como não
atender um pedido de ajuda que não coloque Covarde
sua vida em perigo. Requisito: Coragem (Vontade) 3-.
Você evita de encarar conflitos onde sabe que não possui qual-
Cego quer vantagem. -1S nos ataques se estiver envolvido num comba-
Requisito: Visão Comprometida (Fraqueza), que te físico equilibrado ou quando estiver em desvantagem.
pode ser apagada da ficha.

329
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Curiosidade • Deficiência: Sente os sintomas de uma de-
Requisito: Determinação (Vontade) 3-. ficiência (como cegueira, paralisia, mutilação,
Você simplesmente considera que segredos podem ser coisas surdez, etc.) sem que o defeito físico exista.
perigosas, especialmente quando você não sabe deles. Nas opor- Mesmo assim, o personagem sofre as respecti-
tunidades que atiçam seu interesse (mas não o colocam em pe- vas penalidades. Especificar deficiência.
rigo) o narrador deve pedir um teste de Determinação (Vontade) • Lua: Os delírios Euforia e Melancolia se in-
para evitar o ímpeto de satisfazer esta sua curiosidade. tercalam com uma frequência que varia a cada
personagem. A cada dia role 1d6: 1-3 Melanco-
Decrepitude
lia e 4-6 Euforia.
Requisito: Especificar atributo(s) e a(s) respectiva(s) penalidade(s).
• Melancolia: Só a decadência e a ruína são
-1 num Atributo escolhido pelo jogador para cada ponto de De-
reparadas à sua volta, junto com a certeza de
crepitude (modificador aplicado na Ficha de Personagem). Esta
que nada pode ser feito para aplacar os horro-
desvantagem também pode ser causada pela Idade sem compen-
res desse mundo. Cria um sentimento reverso ao
sação em Elã (Meia Idade: 2 pontos, Velho: 4 pontos, Venerá-
delírio Euforia, mas com a mesma fadiga pela
vel: 8 pontos), onde cada ponto deve ser convertido em -1 em
falta de sono.
Agilidade, Força, Furtividade, Ladinagem, Manejo, Pontaria ou
• Messiânico: Certeza de estar destinado a
Resistência. Não pode ser escolhido um atributo cuja penalidade
realizar algo importante ou se tornar valioso
o leve a menos que Fraco/1.
dentro da sua Devoção. Vive constantemente
Delírio atrás de alguma demanda que ninguém mais
Requisito: Especificar delírio. pode realizar.
Alguma perturbação acomete a mente do personagem e ele • Onirismo: Sonho e realidade eventualmen-
passa a ter dificuldade de discernir o real do imaginário. Ele pode te se confundem, criando alucinações que po-
ter nascido com o delírio ou adquirido ao longo da vida, depois dem ser bem detalhadas. As percepções distor-
de algum episódio particularmente traumático. cidas (ativadas a critério do narrador) surgem
• Ciúme: A obsessão sobre um indivíduo faz com que imagine num estado alterado de consciência que deixa
que todos com quem ele interage tenham uma relação mais ínti- qualquer teste com -2S.
ma às escondidas, talvez até para zombar do personagem. Espe- • Perseguição: Convicção de que algo muito
cificar personagem. ruim está para acontecer e/ou que alguém está
• Euforia: Excesso de ânimo e agitação que simplesmente não atrás do personagem para fazer alguma perver-
permite dormir, deixando-o na condição Cansado após uma noi- sidade. O narrador pode oferecer informações
te sem sono e Exausto depois de duas noites. Geralmente na ter- falsas para o jogador mesmo em testes de Per-
ceira noite o personagem desmaia de cansaço, dormindo muitas cepção com êxito.
horas para compensar.
• Grandeza: O personagem se considera superior aos outros Devoção Excessiva
em vários aspectos, com frequência colocando em si mesmo tí- Requisito: Determinação (Vontade) 3- ; Especi-
tulos de nobreza ou apresentando-se como dono de coisas ab- ficar devoção.
surdas. Destinados devotos fervorosos de símbolos
• Influência: Crença de que seu corpo e pensamento são in- sagrados, mas também aos servos mais depen-
fluenciados ou controlados por forças sobrenaturais. Especificar dentes do domínio de seus senhores. Adoração
origem do poder como algo divino ou profano. ansiosa que, na presença de seu objeto de de-

330
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
voção, pode fazer o narrador pedir um teste de Enraizado
Determinação (Vontade) para evitar que o per- Requisito: -
sonagem largue tudo para bajulá-lo, a não ser Seu apego ao local onde nasceu e viveu a vida toda é forte
nos momentos em que isso o coloque em perigo. demais para simplesmente virar as costas em busca de outras
oportunidades, ou mesmo por necessidade. Parte de sua existên-
Dívida cia está atrelada a um lugar ou região. Sempre que estiver fora
Requisito: Recursos iniciais entre 1 e 4; Especi- de sua Morada, o personagem fica com -1S em todas as ações
ficar credor(es). físicas. Esta penalidade pode ser anulada por uma cena se gastar
Alguém te ajudou no passado, emprestando um ponto de Elã.
algumas moedas ou mesmo material para um
trabalho. A cobrança chega para todos. -1 em Esquecido
Recursos e algumas visitas eventuais de cobra- Requisito: Memória (Inteligência) 3-.
dores inoportunos para cobrar parte do que se Sua memória não é como a dos outros, você se esquece de
deve, às vezes oferecendo (ou forçando) servi- trivialidades e assuntos importantes com grande facilidade. -1S
ços ou favores para diminuir esse débito. em Memória (Inteligência), e o narrador pode solicitar este teste
quando outros não precisariam.
Dívida de Sangue
Requisito: Especificar personagem. Eunuco
Tiraram algo seu no passado, algo importante. Requisito:-
Por mais que você tente negar ou superar, o de- Em um mundo onde a proliferação, a fertilidade de homens e
sejo da vingança, de equilibrar as coisas, é mais mulheres é celebrada (mesmo que timidamente na igreja), ser in-
forte. Um antagonista esteve por trás de uma capaz de cumprir esse papel pode gerar consequências sociais,
chacina que lhe arrancou familiares e/ou entes especialmente entre os membros da nobreza. Sua condição não
queridos. Sempre que encontrar uma oportuni- apenas o impede de ter filhos, como também causa estranhamen-
dade de cobrar essa dívida sem colocar sua vida to, desprezo e piadas quando conhecida pelos outros.
em risco, terá de gastar um ponto de Elã para
tomar outro caminho voluntariamente. Fedelho
Requisito: -
Dores no Corpo Independente da sua posição social, sua pouca idade impõe
Requisito: - certas limitações: -1 em Recursos e Status, além de poder com-
Seja pela idade, por uma má formação ou prar no máximo duas virtudes, e apenas as aprovadas pelo narra-
qualquer outro motivo, você não consegue co- dor, que deve proibir se achar que é cedo demais. Se esta fraqueza
brar tanto de seus músculos quanto os demais, e for causada pela idade Criança ou Adolescente, ela não pode ser
mesmo as caminhadas mais breves para levar as cancelada queimando Elã, mas irá desaparecer sozinha assim que
ovelhas aos pastos é tortuosa. Suas juntas estão o personagem chegar à idade Jovem.
sempre doloridas, tornando qualquer movimen-
to prolongado um nível mais difícil (-1S). Falhas Feudo
críticas em testes físicos levam a uma crise que Requisito: Especificar organização rival.
aumenta a dificuldade para -2S por 1d6 dias. As contendas entre senhores de terras são comuns em todos
os cantos de Belregard, famílias rivais nos campos e nas cidades
disputam influência e território desde que o mundo existe, sejam

331
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
nas estepes de Rastov ou nos vales profundos de Belghor. Uma Laço Afetivo
rivalidade antiga entre os membros de duas famílias (ou quais- Requisito: Especificar um dos tipos.
quer outros tipos de organizações) move uma série de confrontos Forte vínculo com um ou mais indivíduos pró-
inevitáveis motivados por vingança. ximos do personagem, que pode se dar de di-
ferentes formas. Um distanciamento definitivo
Frágil (desentendimento, morte, banimento, etc.) irá
Requisito: Resistência 2-. queimar um ponto de Elã do personagem ou fa-
Independente da sua idade, seu corpo frágil o coloca em situa- zê-lo ganhar uma nova fraqueza estipulada pelo
ções perigosas. Consegue acumular só um nível de Ferimento (ao narrador de acordo com a situação.
invés dos dois níveis normais) antes de ser vencido numa Escara- • Alma Entrelaçada: Ente querido ao qual
muça. Requisito: Resistência 2 ou menor. foram trocados momentos afetivos, promessas
e expectativas, cuja falta de uma atenção mí-
Infantil nima pode levar ao ressentimento ou a oportu-
Requisito: - nidade para um antagonista se aproximar dele
-1 em todos os atributos, deixando-os no mínimo Fraco/1. Além para tirar informações valiosas ou coisas ainda
disso, pontos de Elã podem ser queimados normalmente, mas só piores. Especificar personagem no Histórico.
podem ser gastos para refazer rolamentos. Esta fraqueza é ex- • Controlador: Excesso de zelo em relação
clusiva da idade Criança e não pode ser removida com Elã, mas a um ou mais indivíduos, geralmente filhos ou
desaparece sozinha (incluindo as penalidades) quando se entra protegidos, que se contestarem sua autoridade
na idade Adolescente. e/ou proteção deixarão o personagem na condi-
ção Abalado (-1S em todos os testes até o final
Inocente da cena) a cada vez que for desautorizado. Espe-
Requisito: Empatia (Percepção) 3-. cificar personagem no Histórico.
Você acredita facilmente no que te contam, sendo incapaz de • Dependente(s): Um ou mais indivíduos
ver a maldade nos outros na maior parte das vezes. -2S nos testes frágeis (seja por idade, enfermidade ou outra
resistidos de Empatia (Percepção) contra Blefe. condição) que necessitam da sua proteção, além
do cuidado de alguns ajudantes quando não es-
Justiceiro tiver presente. Nos tempos difíceis será preciso
Requisito: Concentração (Vontade) 3-. que coordene sua mudança para algum refúgio.
Seja por um apego aos dogmas da igreja ou aos juramentos ao Especificar personagem no Histórico.
código de cavalaria, você se revolta facilmente quando percebe
injustiças, não aceitando essa quebra na harmonia do mundo, Lascivo
que demanda uma reação imediata - e geralmente violenta - de Requisito:-
sua parte. Senso de justiça que o atormenta e pode deixá-lo an- O olhar de Arshma pesa mais em você. É
gustiado, violento ou descontrolado. Sempre que testemunhar simplesmente forte demais, para onde quer que
algum abuso que possa fazer algo a respeito, o narrador pode você olhe, são possíveis parceiros de prazer que
solicitar um teste de Concentração (Vontade) para não ficar com você enxerga. -2S nos testes de Lábia contra
-1S em todas as ações até tentar fazer justiça ao seu modo. Esta personagens que o fazem se sentir minimamen-
penalidade só irá desaparecer ao final da cena. te atraído. Sua sedução é inadequada, invasiva,
exagerada e/ou ofensiva.

332
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Lentidão Pode ser motivo de caráter ou pura e simples incapacidade de
Requisito: - mentir, mas você recebe -2S em Enganação (Blefe) quando tentar
Seja por algum problema nas pernas, falta de convencer os outros de algo que não é justo ou verdadeiro.
fôlego ou outra coisa qualquer, você recebe -2S
em Correr (Força) e -1m no Movimento.
Medroso
Requisito: Coragem (Vontade) 3-.-1S nos testes de Coragem (Von-
Má Fama tade) para resistir a qualquer tipo de medo. Além disso, ainda há
Requisito: - certa dificuldade para barrar abusos e enfrentar obstáculos ou
Alguma mancha do seu passado ainda o indivíduos que o contestem. Ao enfrentar essas situações será
persegue, deixando seu nome relacionado a preciso vencer um teste de Coragem (Vontade) para que possa
eventos, comportamentos, indignos, que cau- se manifestar, do contrário sua passividade o impedirá de abrir
sam desconfiança ou hostilidade daqueles que a boca.
conhecem a história. -2S Persuasão (Lábia) e
Enganação (Blefe) contra aqueles que sabem da Mudo
falta de escrúpulos que lhe é atribuída, mesmo Requisito: -
que não seja verdade. Talvez você tenha perdido a língua, ou nasceu sem a capacida-
de de fala, podendo ainda ser um recluso monge dos ermos que
Marcado jurou nunca mais levantar a voz. Sua incapacidade de falar o faz
Requisito: Especificar marca. falhar sempre em qualquer teste que dependa da sua fala. Além
Alguns locais tratam de forma severa os seus disso, os outros têm -1S em Empatia (Percepção) em testes que o
criminosos, especialmente os que carregam o tenham como alvo.
epíteto de “cabeça de lobo”. Não é incomum
que áreas do interior, longe do poder centrali- Mundo Imaginário
zador de um rei ou sacerdotes, a própria popu- Requisito: -
lação marque na punição de seus criminosos. O personagem vive em contato com um mundo que só ele vê,
Uma tatuagem ou marca indelével numa parte muitas vezes sob uma perspectiva mítica ou divina, interagindo
bem visível do corpo aponta um antecedente com indivíduos e situações que os outros não são capazes de ver.
reconhecido em sua cultura associado a algo Se confrontado com o mundo real, ele simplesmente irá ignorá-lo.
vergonhoso ou repudiado (criminoso, escravo, O jogador não pode questionar suas alucinações e deve tomá-las
traidor, exilado, etc.) por verdade. Não aparece como Delírio uma vez que pode estar
ligado a algo realmente sobrenatural. Em Belregard essa Fraqueza
Matusalém poderia ser utilizada para representar a nova visão de mundo de
Requisito: - um Arauto, vendo as mentiras das pessoas de forma mais decla-
-1 em todos os atributos depois de aproxima- rada.
damente dez anos da aquisição desta fraqueza,
deixando cada um pelo menos Fraco/1. Esta fra- Mutilado
queza pertence à idade Venerável e não pode Requisito: Especificar mutilação.

ser removida com Elã. Algo dificulta sua destreza com uma determinada parte de seu
corpo, talvez sejam alguns dedos faltando ou mesmo um pé intei-
Mau Mentiroso ro. Varia com a parte comprometida, mas a deficiência deixa -2D
Requisito: - nos testes diretamente associados e/ou -2m no Movimento.

333
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Nanismo Odiado pelos Animais
Requisito: Baixa estatura; Agilidade e Força 2- Requisito: -
Você não passa do 1,45m de altura. -1S em Agilidade e Força Algo no seu cheiro, ou no seu olhar (quem
(deixando ao menos Fraco/1), -1m no Movimento e +1D em Fur- sabe na sua aura?), torna os animais hostis a
tividade devido à sua altura debilitada. sua presença. Basta entrar no mesmo recinto
que os animais presentes se mostrarão agitados
Nêmesis e o atacarão se tentar tocá-los ou aproximar-se
Requisito: Especificar personagem. demais.
Por algum motivo você possui um nêmesis, um indivíduo que
persegue seu personagem e tenta frustrar seus planos e arruinar Ouvido Ruim
sua vida. Nem sempre o nêmesis quer matá-lo, talvez isso seja Requisito: -

fácil demais e tornar sua vida um inferno é mais interessante. -2S em Ouvir (Percepção), que não pode mais
ser desenvolvida com XP em razão da audição
Antagonista devotado em atormentá-lo até que possa finalmente
fraca, entre outras penalidades que o narrador
confrontá-lo para alcançar seu objetivo individual. A ficha dele
pode aplicar em razão desta fraqueza.
será construída com a mesma quantidade de pontos de experiên-
cia que a sua.
Passado Sombrio
Requisito: -
Obsessão
Em sua Morada sua figura está associada a um
Requisito: Determinação (Vontade) 3-; Especificar objeto de ob-
erro terrível do passado, que até hoje ecoa na
sessão.
forma como é tratado pelos outros, modifican-
Você é obcecado por algo, talvez seja um objeto de fato, como
do em -2S uma vez por dia (critério do narra-
uma mania de colecionar símbolos sagrados ou pregos de caixão.
dor) um teste social. Decida junto do narrador
Se confrontado com o objeto de obsessão, o narrador deve pedir
o motivo desse comportamento. Talvez seu per-
um teste de Determinação (Vontade) para evitar que deixe tudo
sonagem nem mesmo saiba, mas a vizinhança o
de lado para satisfazer esta obsessão, mas sempre dentro do li-
culpa por alguma tragédia do passado.
mite do razoável.
Perturbado
Odiado Requisito: -
Requisito: Especificar povo/castelania Por uma razão aparentemente divina, o per-
Todos os povos de Belregard possuem alguma espinha dorsal sonagem vive em constante conflito com uma
que ajuda a identificar membros que compartilham do mesmo personalidade oposta, na qual cada traço do seu
sangue, por algum motivo um desses traços é mais característico Comportamento é o oposto ao seu. Uma vez por
em você, tornando-o um incômodo em círculos que veem seu dia o narrador pode declarar a troca de perso-
povo com certo preconceito. Talvez você seja um ruivo entre os nalidade, geralmente em momentos de tensão
dalanos ou um criadorista fervoroso entre os vlakos. Os indiví- ou alívio súbito. Esta Fraqueza pode refletir
duos do povo (aqui valendo ressaltar diferenças entre castela- de maneiras muito perigosas dentro do jogo, já
nias) especificado tendem a lhe fazer oposição por nada, e caso que seu personagem pode acreditar que ouve
entrem em combate só não tentarão matá-lo se proibido pelos mensagens divinas em sua mente. Talvez alguns
superiores. religiosos acreditem nisso, talvez até escutem o
que seu personagem tem a dizer, acreditando

334
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
que ele carrega algum tipo de iluminação, mas Uma organização (a ser decidida em conjunto com o narrador,
não seria difícil que mensagens de Deus se tor- como deve ser mostrado na ficha da crônica em questão) exige a
nem do Diabo ao prazer do ouvinte. sua captura por um crime grave que lhe foi atribuído. Pelo menos
uma vez por arco de história alguém deve aparecer na narrativa
Péssima Reputação à sua procura. Talvez você não tenha cometido o crime, mas não
Requisito: Reputação inicial entre 1 e 4. possua os meios para provar sua inocência.
Algum ato infame de sua parte sujou sua re-
putação dentro de sua Morada. -1 na Reputação Repudiado
graças ao descrédito que possui em sua Morada. Requisito: Especificar tipo de pária.
-2S em Enganação (Blefe) quando for reconhecido como indiví-
Piedoso duo de segunda classe, seja por pertencer a uma casta inferior ou
Requisito: - por ter cometido um crime grave. Dificilmente será bem tratado
Seja por um coração mole ou pela culpa de um quando reconhecido. Talvez você seja visto como um degenera-
erro passado que o corrói, sempre que estiver do dos ermos, correndo até mesmo riscos em se relacionar com
diante da possibilidade de tirar uma vida com pessoas de poder que podem não querer perder tempo contigo.
suas próprias mãos, o personagem terá de gas-
tar um ponto de Elã para fazê-lo.

Pobreza
Requisito: Recursos 1+
Seja por ter perdido tudo no jogo ou numa dis-
puta de terras, o personagem recebe -1 em Re-
cursos. O jogador pode anotar ‘Voto de Pobre-
za’ se este juramento foi feito pelo personagem.

Preso a um Juramento
Requisito: Especificar Juramento.
Não necessariamente voltado apenas para ca-
valeiros que juraram sua fidelidade a ordens ou
senhores, mas a qualquer tipo de pessoa presa
por uma jura que verdadeira a toma como ver-
dade única e absoluta. Nada pode demovê-lo de
seu juramento (proteger os padres criadoristas,
ajudar os rebeldes que tentarem destronar o rei,
etc.), pois caso venha a conscientemente que-
brá-lo irá perder um ponto de Elã (como se tives-
se queimado) ou esta Fraqueza será substituída
por outra pelo narrador.

Procurado
Requisito: Especificar organização.

335
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Terror suas vítimas desta forma será preciso vencer um
Requisito: Coragem (Vontade) 3-; Especificar objeto de medo. teste de Determinação (Vontade) pelo menos
Um medo avassalador toma o personagem diante de seu objeto Difícil/-1S. Requisito: Determinação (Vontade)
de medo, obrigando-o a vencer um teste de Coragem (Vontade) 3 ou menor.
ou ficar na condição Amedrontado até que possa fugir dali. O ob-
jeto de medo pode ser escolhido pelo jogador ou pelo narrador, Segredo(s)
desde que seja algo mundano e relativamente comum. Requisito: -
Caso um ou mais terríveis acontecimentos
Vingativo em seu passado sejam revelados publicamen-
Requisito: Determinação (Vontade) 3-. te, além de perder um ponto de Reputação, seu
Você é bom em guardar rancores e não hesita em se vingar nome irá se tornar causa de vergonha, rejeição
de inimigos ou mesmo amigos que tenham feito algo que te pre- e talvez vingança, obrigando-o a tomar certos
judicou. Sua facilidade em guardar rancores pode exigir que o cuidados.
narrador peça um teste de Determinação (Vontade) para evitar
uma oportunidade de tentar se vingar de alguém que tenha feito Servo
algum mal a si ou um ente querido. Requisito: -
Total subordinação ao seu(s) senhor(es). Ne-
Vício nhuma ordem será ignorada, mesmo que tenha
Requisito: Determinação (Vontade) 3-; Especificar vício. de passar por cima de seus próprios desejos
Dependência a uma substância ou ação intoxicante (como fur- para garantir que ela seja executada. Para de-
tar vítimas desavisados, fazer amor, etc.) que lhe serve como sobedecer seu superior será preciso gastar um
grande fonte de prazer. Sete dias após a última “dose”, o perso- ponto de Elã.
nagem ficará com -1S em todos os testes até que possa saciar seu
vício novamente. Quando houver fartura do elemento viciante, o Surdo
personagem precisa vencer um teste de Determinação (Vontade) Requisito: Ouvido Ruim (fraqueza), que pode
ao menos Difícil/-1S para não exagerar e ficar entorpecido (-2S ser apagada da ficha.
em todas as ações) até que consiga descansar por uma noite in- Testes ligados à audição falham automatica-
teira. mente, além de uma série de outras limitações
que o narrador deve explorar em jogo.
Visão Comprometida
Requisito: - Territorialista
-2S em Atenção e Observar (Percepção) em razão da vista Requisito: Especificar espaço físico, mental ou
comprometida, entre outras penalidades que o narrador pode emocional
aplicar em razão desta limitação. A simples presença de um ou mais estranhos
sem autorização dentro de um espaço que con-
Sanguinário sidera seu (físico, mental ou emocional) o faz
Requisito: Determinação (Vontade) 3-. se sentir receoso das intenções deste(s) estra-
O signo de Amon é forte no seu espírito. Frequentemente mata nho(s), deixando-o como se tivesse a fraqueza
oponentes vencidos, e mesmo os poucos sortudos feitos prisio- Delírio (Perseguição) se a intrusão continuar.
neiros costumam ser severamente torturados. Para não destroçar

336
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
CORRUPÇÃO Níveis de Corrupção
A Corrupção é um elemento permanen- Com algumas exceções, todos nascem puros (Corrupção zero),
te dentro do mundo de Belregard. Quando se e ao longo da vida ganham +1 para cada crime praticado em seu
compreende, no grande plano das coisas, que a Nível de Corrupção atual ou outro nível acima (veja Crimes abai-
Sombra venceu e que Deus está morto, é só uma xo). Mas este é um mundo derrotado. Assim, todo personagem de
questão de tempo para que cada coração huma- Belregard começa com corrupção no nível 2, Malicioso, refletin-
no seja engolfado pela treva do inimigo. Desse do a aliança da Mentira com a Sombra.
modo, a moralidade de todo homem e mulher Sempre que um jogador escolher voluntariamente uma ação
de Belregard vive em uma balança permanente. que leve ao aumento do Nível de Corrupção, o narrador deve pe-
Falando de modo geral, sempre que um perso- dir um teste de Vontade (Determinação), este teste pode rece-
nagem toma uma atitude maligna, ele chama a ber penalidades, pode ser difícil ou muito difícil, de acordo com
atenção da Sombra, que se aproxima e o envolve agravantes da situação. Roubar de um rico seria um teste normal,
mais um pouco. Este “ato maligno” pode osci- roubar de uma família miserável poderia cobrar um teste muito
lar em uma área cinza; outrossim, matar para difícil para não se deixar corromper. Abaixo, os degraus da cor-
sobreviver pode ser perdoado, mas matar com rupção:
requintes de crueldade pode implicar em um
passo adiante na corrupção. Puro/0: Ainda não foi tocado pelas forças sombrias.
A corrupção em Belregard é cuidada pelos Ím- Exemplo: Crianças.
pios, os agentes da Sombra e por seu consorte, o Crimes: Mentir ou Roubar para ganho mesquinho, trair um
Diabo. Desse modo, cada jogador deve rolar 1d6 comprometimento sincero e prejudicar inocente.
para saber sob o auspício de qual Ímpio ele se
Tocado/1: Apesar de maculado, ainda pode estar sincera-
encontra. Mais informações sobre estas entida-
mente interessado no bem comum. Exemplo: Aldeões.
des podem ser encontradas no livro III. São eles:
Crimes: Machucar inocente, quebrar uma promessa para ganho
1 - Amom, a Ira mesquinho e matar semelhante, mesmo que para defesa.
2 - Arshma, a Luxúria
Malicioso/2: Entende que é possível se beneficiar pela
3 - Invídia, a Inveja
maldade, mas ainda se mantém fiel às tradições. Exemplo:
4 - Mammom, a Avareza
Soldados.
5 - Zaalzhebub, a Gula
Crimes: Lidar com forças corrompidas para ganho mesquinho,
6 - Diabo, o Desejo
torturar inocente e prejudicar semelhantes pelo prazer de fazê-lo.
Inicialmente, a relação com os Ímpios não
Corrompido/3: Incapaz de perceber o mundo sem um
implicam em nada, eles começam a se mani-
viés perverso e entediado com os menos corrompidos.
festar na medida em que o personagem segue
Exemplo: Ladrões.
sua caminhada rumo ao abismo da corrupção.
Crimes: Ultrapassar os limites de uma vingança justa, matar
Por isso, esta estrada é dividida em 6 passos.
inocente pelo súbito ímpeto de fazê-lo e quebrar promessa im-
Eles são apresentados abaixo e a cada degrau
portante para mostrar poder.
é possível ver uma série de crimes e pecados
que podem fazer relação com aquele nível de Maldito/4: A maldade o domina, o que o torna cada vez
corrupção, que o narrador deve tomar como mais ávido para espalhá-la pelo mundo. Exemplo: Merce-
orientação. nários.

337
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Crimes: Caçar vítimas inocentes, tripudiar dos corpos de seus Nível de Consequência
inimigos e espalhafatosamente desrespeitar as tradições alheias. Corrupção
Corrompido Comportamento da Provação
Nefasto/5: A euforia que nutre pela perversidade começa
(Invejoso, Cabeça Quente,
a ser nublada pela eterna desconfiança de todos à sua vol-
Guloso, etc)
ta, vinda da certeza que todos podem chegar ao estágio em
Maldito Manifestação física sutil do Ím-
que ele mesmo chegou. Exemplos: A partir daqui os casos
pio (Gengivas Sensíveis, Visão
se tornam mais específicos, de cultistas infernais a selva-
Turva, Excitação Inoportuna,
gens sanguinários. Degenerados, pela manifestação física
etc)
em seus corpos distorcidos, se incluem neste grupo.
Nefasto Manifestação Física Notável
Crime: Envolver-se direta e abertamente com cultos da Sombra.
(Recebe a Fraqueza Ameaça-
Abominável/6: Estágio evolutivo encontrado apenas en- dor)

tre os miseráveis ou aqueles que governam sozinhos pelo Abominável Como recompensa, a Som-
medo. bra dá aos seus Abomináveis
Não existem horrores que limitem o personagem. um ponto fixo de Elã. Caso o
personagem cometa mais um
Uma vez obtidos, os Níveis de Corrupção são difíceis de serem ato corrupto, especialmente re-
revertidos e jamais diminuem sem grande arrependimento e uma lacionado aos cultos e louvores
busca por perdão proporcional ao mal praticado (a critério do sombrios, perde-se o persona-
narrador). Isso também ajuda o personagem a praticar a carida- gem.
de e a compaixão, mas especialmente a se sacrificar por causas
justas.
INSANIDADE
O que acontece? Se não for morto pelo aço, pela fome, pela
Quando se atinge o nível 3 de Corrupção - Corrompido - seu peste, ou ainda tragado pela espiral de corrup-
personagem começa a manifestar os traços da Sombra. Esse tra- ção, um personagem em Belregard pode ser en-
ço é discreto, sutil, e não precisa acontecer na mesma hora em golido pela loucura. Eventos traumáticos podem
que o ato maligno ocorreu. É interessante brincar com a ideia de fazer com que uma pessoa inicie seu caminho
que o personagem está sendo tomado pelo mal. Faça-o de forma por esta espiral sem volta. Em um mundo onde
subjetiva. Talvez um sonho onde todos os orifícios de seu cor- a loucura pode ser comparada com uma espécie
po são penetrados por uma escuridão rastejante. Inspire-se nas de possessão, de definhar da alma, não existe
descrições dos Ímpios apresentadas no Livro III para criar estes muita esperança para aqueles que confrontam
traços, relacionando-os. Quando atinge o nível Nefasto, fica difícil os horrores do mundo. O isolamento pode en-
esconder os mesmos e talvez o personagem seja identificado por louquecer, assim como ter diante de si a traição
membros da igreja ou fanáticos leigos (possivelmente tão corrup- da pessoa amada. O nível da insanidade é me-
tos quanto o próprio) e precise encontrar meios de esconder seu dido através das Fraquezas que o personagem
problema, ou arcar com a consequências. A partir deste nível 3 o possui, desde sua criação, até eventuais ganhos
personagem será afetado pelo Ímpio que o observa, acompanhe durante os jogos. Os níveis e as fraquezas rela-
alguns exemplos: cionadas são apresentados abaixo:

338
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Níveis de Insanidade: São/0, Afetado/1, sem poder durar mais do que até o término da sessão de jogo. É
Instável/2, Desequilibrado/3, Agoniado/4, En- interessante perceber que a aplicação de um teste de insanidade
louquecido/5 e Perdido/6. Todo personagem pode, muitas vezes, se relacionar ao teste de corrupção, como os
ganha um nível para cada uma das seguintes exemplos abaixo mostram.
Fraquezas: Ameaçador, Atormentado, Compul-
são, Delírio, Esquecido, Limitado, Mundo Ima- Seguem alguns exemplos de Testes de Sanidade que o narrador

ginário, Perturbado, Terror, Sanguinário e Sede pode pedir aos jogadores:

de Sangue.
Concentração (Vontade): Realizar uma atividade numa situa-
Exemplo: Lazarus, o Louco, é um mendigo
ção assustadora que dure alguns segundos ou minutos, como tirar
que possui as seguintes fraquezas: Ameaçador,
uma chave do estômago de um cadáver, cruzar uma sala repleta
Delírio (Messiânico), Mundo Imaginário e Per-
de monstros incapazes de vê-lo, ser obrigado a se auto mutilar
turbado. Ele começa a crônica como Agonia-
para evitar um destino pior, segurar uma vítima de um crime ter-
do/4.
rível com o qual não concorda plenamente que seja cometido, etc.

Quando o Nível de Insanidade ultrapassa o


Coragem (Vontade): Lidar com um encontro aterrorizante, de
valor de Vontade do personagem, ele passa a fi-
aproximadamente uma cena, que inspire a uma reação fisiológica
car permanentemente na condição Abalado (-1S
de fuga ou luta, como ficar frente a frente de um monstro abo-
em todos os testes) pelos danos aparentemente
minável com jamais se imaginou existir, procurar o corpo de um
irreversíveis causados na sua mente e espírito. O
ente querido entre os mortos num campo de batalha, ajudar numa
narrador pode inclusive chamar essa Fraqueza
operação de torso aberto pela primeira vez, etc.
de ‘Abalado’ para que a penalidade não passe
despercebida na Ficha de Personagem. Determinação (Vontade): Enfrentar por dias ou meses uma
Exemplo: Lazarus possui Vontade 4, portan- situação estressante e que faça o personagem questionar crenças
to, caso mude de Agoniado/4 para Enlouqueci- até então inabaláveis, como conviver com loucos durante um lon-
do/5, ele ganhará a fraqueza Abalado, que irá go período, superar uma mutilação recém obtida, procurar numa
lhe render -1S em todos os testes até que de biblioteca de horrores incompartilháveis para obter uma informa-
alguma forma consiga reverter a insanidade e ção específica, etc.
depois cancelar esta desvantagem.
Recuperando Sanidade: Em Belregard não existem trata-
Ganhando Insanidade: Durante a Crônica mentos reconhecidos para a loucura. Muitas pessoas que atingem
podem surgir situações de enorme ansiedade altos níveis de insanidade são exiladas de cidades e vilas, tornan-
na qual o narrador pode solicitar um Teste de do-se degenerados dos ermos. A igreja pode até mesmo tentar
Sanidade a todos os personagens envolvidos, exorcizar uma pessoa louca, acreditando que aquele estado é cul-
feito com uma das especializações do atributo pa da possessão de algum Ímpio. Mas essa possibilidade pode
Vontade e uma Dificuldade definidas antes do estar aberta ao narrador que quiser utilizar um caminho de re-
rolamento (veja abaixo). Os personagens que cuperação, talvez depois de uma penitência onde o personagem
falharem nesse teste ganham um ponto de In- se torne mais focado em sua fé, ou como forma de recompensar
sanidade, mas não ganham uma Fraqueza per- uma vida tranquila que ele tem tentado manter. Em todo o caso,
manente por causa disso. O narrador pode es- deve ser raro e incomum, baixando no máximo um ponto por mês
colher uma desvantagem entre as onze listadas e sem jamais deixar num valor abaixo do número de Fraquezas,
acima, mas aplicá-la apenas temporariamente, mencionadas acima, possuídas pelo personagem. Essas reduções

339
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
do Nível de Insanidade não apenas devem ser incomuns, como Detectar a Sombra, Imponência, Profecia, Pro-
difíceis de conseguir para a grande maioria, mas se levarem a um teção e Sentidos Aguçados.
nível igual ou inferior à Vontade do personagem, o mesmo deixa
de carregar a fraqueza ‘Abalado’ mencionada acima. Complicações: Utilizar a Bravura chama a
atenção da Sombra Viva. O Arauto deve utilizar
Desdobramentos da Loucura seus dons com cuidado. Quando utilizar os dons
Não é possível dizer exatamente que existe qualquer benefício da Bravura por mais vezes que seu nível de Cor-
que se possa tirar da insanidade, mas existem algumas perspecti- rupção, o jogador deve rolar um Dado do Des-
vas que podem dar a impressão do contrário. Em algumas cultu- tino para verificar se a atenção da Sombra não
ras, especialmente nas mais primitivas, os loucos são vistos como se volta para o personagem. Quanto mais puro
se tivessem sido tocados pelos Deuses, e desta forma podem ser o personagem é, mais atenção a Sombra dá pra
bem cuidados por sacerdotes que tentariam ler os sinais divinos ele. A forma como a Sombra reage fica no en-
manifestados por eles. Essa percepção fora da normalidade pode cargo do narrador, mas lembre-se que ela atua
permitir que os loucos tenham contato com universos impercep- de maneira sutil; talvez as pessoas comuns ao
tíveis ao resto da humanidade. Esse tipo de fenômeno é comum redor do personagem comecem a tratá-lo mal,
nas histórias com elementos de terror, quando os dementes con- com uma hostilidade de impaciência. Talvez,
seguem prever os horrores que estão por vir ou de alguma forma em um julgamento, ele seja condenado à morte,
servem como mensageiros de criaturas de outros mundos. enquanto o ladrão ao seu lado é aclamado pelo
povo. Ele pode ser um alvo preferido de ban-
didos, de criminosos. A Sombra pode, talvez,
A MAGIA ciente da Provação daquele personagem, colo-
Como já foi tratado no capítulo anterior, sobre os modos de car coisas em seu caminho que o deixarão ten-
tratar a magia em Belregard, em um primeiro momento aconse- tado ao pecado. Quanto mais Bravura um perso-
lhamos uso de apenas duas maneiras dos jogadores presenciarem nagem adquire, mais difícil fica pra ele viver em
a mesma, através da Bravura ou da Sombra. O modo de alcançar a meio aos pecadores que se deixaram levar pela
magia sutil do mundo pelo Criador é acessando a essência divina sombra. A critério do narrador, níveis de Bravu-
deixada por ele dentro de cada ser humano. A Virtude Bravura ra podem impor uma maior dificuldade em rela-
serve para traduzir esse despertar, esse poder. A Bravura aqui, ções com outros personagens que tenham níveis
que se torna a “pontuação” de magia que o jogador pode gastar altos de corrupção, com penalidades em testes
ao longo da sessão, é um paralelo dos Pontos de Potência do sis- sociais. Para comparação:
tema Crônicas. Não aconselhamos que o narrador permita que jo-
Bravura 1 - Você começa a notar, sutilmente,
gadores utilizem poderes tendo por fonte a Sombra Viva, o mero
as reais intenções das pessoas, com relação às
uso desses poderes por intermédio do Inimigo já o colocaria em
suas Provações.
situação de decair nos degraus da corrupção.
Bravura 2 - Você vislumbra uma manifesta-
Para cada ponto comprado da Virtude Bravura (com pontos ção das Provações nas pessoas, nada muito gri-
de Elã), o personagem possui um ponto de Potência e um Poder tante, algo que se percebe pelo canto dos olhos.
diferente. Cada uso de Potência custa um ponto de Bravura. A Bravura 3 - A Sombra também te observa e é
fonte de poder disponível para os personagens jogadores é a do fácil desenvolver alguma paranóia, quando todo
Criador, Divina, que permite acesso (mediante o gasto da Virtu- canto sombrio parece guardar um par de olhos
de) aos seguintes Poderes: Acalmar, Benção, Cura pelas Mãos, te observando.

340
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Bravura 4 - É extremamente difícil, para camente, enquanto coadjuvantes, protagonistas e antagonistas
você, conviver em um ambiente de mentirosos. precisam fazer individualmente testes de Imposição (Liderança),
Bravura 5 - O mundo começa a se voltar con- com uma penalidade em sucessos igual à Bravura do conjurador,
tra vocês, as suspeitas e implicações de aconte- para não ficar imediatamente na condição Pasmo. Ativação: Ação
cimentos ruins quase sempre recaem sobre os Menor + 1 PP.
seus ombros.
Bravura 6 - O exílio é sua única esperança. Bênção
Um mero desejo de boa sorte, ou um consolador “vai dar tudo
Recuperando Bravura: No nascer do sol certo” pode fazer toda a diferença em uma batalha ou outra ci-
o personagem recupera os pontos de Potência
tuação crítica. Suas palavras quase sempre encorajam aqueles ao
gastos, mas o narrador pode permitir que algu-
seu redor.
ma atitude relevante do personagem permitiu a
ele recuperar algum ponto para utilização dos Regra: Um aliado/PP investido até 10m ganha +2D para uma
dons. única ação naquele turno ou +1D em todos os testes por [Potên-
cia] turnos (escolha do conjurador). Este bônus não é aplicável ao
Dons da Bravura: Abaixo estão os dons
conjurador e não se acumula com o uso repetido deste mesmo
disponíveis para os arautos, e o narrador vai
poder, mas tem efeito inverso com criaturas de qualquer Devoção
perceber que são dons sutis. Como falamos ao
oposta à sua, transformando este bônus em penalidade. Ativação:
longo de todo o livro, Belregard não faz uso de
Ação Menor + 1 PP/alvo.
poderes grandiosos e a luta dos arautos é uma
luta perdida. No que diz respeito aos adeptos
Cura Pelas Mãos
da Sombra Viva, use seu sadismo e crueldade
Não há nenhuma luz mágica que atenua ferimentos e cura as
como for mais proveitoso. É interessante perce-
chagas; pelo contrário, você simplesmente é bom com as mãos
ber e ressaltar que nem todo Arauto sabe que é
para tratar mazelas do corpo. Talvez você nem mesmo veja isso
um, por isso o uso dos dons pode surgir como
como um toque de cura e sim como um empurrão, aquele tapinha
algo não programado. É claro que o jogador vai
nas costas do guerreiro cansado que rejuvenesce sua vontade.
utilizar quando quiser, mas o personagem pode
não saber exatamente que tipo de habilidade ele Regra: Desde que possa tocar o alvo, este poder reduz um
mesmo tem, o que abre margem para Arautos Nível de Ferimento dele. Contra mortos vivos, esse toque causa
de todo e qualquer lugar. dano igual à Potência do conjurador.

Acalmar Ativação: Ação Maior + 1 PP.


Seu olhar, sua aura, seu toque e sua voz são
capazes de acalmar as emoções mais turbulen- Detectar a Sombra
tas de uma pessoa, especialmente daqueles dis- Você possui um sexto sentido para encontrar sinais mais in-
postos à violência. Quando você fala, a voz do tensos da presença da Sombra Viva em um local. Este sentido
Criador ressoa por sua boca e traz alento assim não traz um cheiro ou gosto particular, mas uma sensação. Uma
como Ele fez ao caminhar entre os incultos. Re- mistura que pode significar desde a sensação de teias de aranha
gra: Numa área até 10m em volta do conjurador, suavemente recaindo sobre a pele, um gosto amargo na boca, um
até [Potência] alvos à sua escolha podem ser arrepio na nuca, uma visão de sombras mais intensas num local,
afetados. Figurantes são subjugados automati- um cheiro de podre ou o som de um arrastar.

341
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Regra: Gastando 1 PP, o personagem é capaz de sentir se exis- os jogadores podem cobrar explicações sobre o
te a presença da Sombra em uma área próxima de si, sem um que as visões tratavam. Este poder só poder uti-
alcance preciso, mas geralmente voltado para um cômodo ou lizado uma vez por sessão de jogo.
mesmo área de visão. Um teste de Empatia (Percepção), pode ser
realizado para ter mais informações. O narrador deve se lembrar Ativação: Ação Maior + 1 PP. Pode também
que a Sombra está em todos os lugares, de modo que o uso deste ocorrer de forma espontânea, a critério do nar-
poder sempre resultará em uma nuance de sentidos que revelam rador, sem custo para o jogador.
essa presença em todos, inclusive, possivelmente, no próprio per-
sonagem que utilizou o poder. Pessoas Puras seriam percebidas Proteção
facilmente, assim como locais imaculados. Com o uso do poder, Seja por uma oração ou mera força de vontade
o personagem poderia constatar qual a pessoa mais corrompida e fibra, você consegue se proteger de ataques e
dentro de um salão da nobreza, por exemplo. acidentes que normalmente poderiam ceifar a
vida de uma pessoa ou, no mínimo, ferir gra-
Ativação: Ação Maior +1 PP. vemente.

Imponência Regra: Cria uma Absorção Física igual ao seu


Alguma aura invisível o cerca, tornando-o uma figura intimida- nível de Potência até o final da cena. Este bônus
dora, esteja em postura de ameaça ou não. Você demanda respei- não é cumulativo com armaduras de metal ou o
to e admiração sem que uma só palavra precise ser dita. uso repetido deste poder.

Regra: Todos até 10m à volta do conjurador são alcançados.


Ativação: Ação Livre + 1 PP.
Figurantes são subjugados imediatamente, mas alvos importan-
tes (coadjuvantes, antagonistas ou protagonistas) precisam fazer
Sentidos Aguçados
testes individuais de Carisma (Liderança), com uma penalidade
Com o devido esforço, você consegue expan-
em sucessos igual à Potência do conjurador, para não ficar na
dir um de seus sentidos para perceber melhor o
condição Pasmo.
mundo à sua volta. A cada vez que este poder é
utilizado, um dos sentidos.
Ativação: Ação Menor + 1 PP

Profecia Regra: O conjurador deixa um dos cinco sen-


Este dom pode se manifestar de forma involuntária, com o per- tidos com seu alcance triplicado e +2D nos res-
sonagem tendo visões e presságios através de sonhos ou, como pectivos testes de Percepção até o final da cena
é mais comum, funcionando como um “dejá vu” para o mesmo. (este bônus não é cumulativo com o uso repeti-
Dessa forma, o narrador pode utilizar esse dom como uma fer- do deste poder). A visão aguçada pode identifi-
ramenta narrativa, para dar pistas para os jogadores em momen- car um indivíduo ou objeto invisível, assim como
tos oportunos, seja para mostrar que estão no caminho certo ou a audição aguçada pode identificar áreas dentro
para deixar uma dica de uma investigação. do poder Silêncio; faça um Teste Resistido de
[Potência] dados entre os conjuradores para sa-
Regra: O narrador deve descrever a profecia utilizando elemen- ber qual poder irá prevalecer.
tos simbólicos e mantendo-se enigmático, inserindo detalhes que
só farão sentido mais tarde na crônica; se desejar, ele pode pedir Ativação: Ação Menor + 1 PP.
testes de Percepção para ser mais específico. Ao final da crônica,

342
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Posses machado de batalha, manto pesado, martelo de guerra, mula, pi-
Como já foi abordado ao longo de todo livro, careta, porco, rede, símbolo sagrado e veste de couro.
a questão do comércio em Belregard é delica- Conforto dos Abastados (Valor 3): Alabarda, arco besta,
da. Poucos locais mantém rotas de comércio ou besta pesada composto, cavalo (regular), cota de malha, escudo
mesmo uma lógica financeira com as moedas pesado, espada, espada estreita, lança montada, fechadura boa
ainda sendo utilizadas de forma rotineira. O ouro (-2S), foice de mão, maça estrela, maça pesada, machado pesado,
ainda é ouro, ainda é valioso, assim como a pra- mangual, mangual pesado, manopla, manto de peles, martelo pe-
ta, mas no dia a dia das pessoas, especialmente sado, montante, pônei, roupa elegante, tridente, veste acolchoa-
do interior, a troca é muito mais importante e do, veste sacerdotal e vestimenta de mago.
fundamental. Por isso, os valores de Recursos Luxos da Nobreza (Valor 4): Cavalo (palafrém), cota de ma-
em Crônicas são aproximações e valorações lha pesada, cota de escamas, embarcação, espada bastarda, fe-
subjetivas, para orientação. Como exemplo do chadura complexa (-3S), joia, loriga segmentada, manopla com
Recurso de personagem, siga os exemplos: cravos e peitoral de metal.
Raridades da Realeza (Valor 5): Armadura de batalha, cava-
Farrapos e Velharia (Valor 0): Arma im- lo (único), joia excepcional e navio.
provisada, bordão, cajado, clava, corda, clava
pesada, funda, veste humilde, símbolo sagrado Certos objetos têm característica Superior (Valor +1) ou Obra-
improvisado e porrete. -Prima (Valor +2) e são bastante difíceis de serem encontrados. A
Utilidades dos Viajantes (Valor 1): Adaga, primeira é apenas muito bem construída, com detalhes excepcio-
arco, barra de metal, dardo, faca, flechas (5), nais, mas a segunda característica oferece +1 no dano (armas),
lança, lança longa, machado, martelo, punhal e diminui em um a Penalidade (armadura) ou +1D num teste dire-
veste simples. tamente associado (outros objetos). Por outro lado, existem obje-
Bens da Vassalagem (Valor 2): Arco longo, tos com características Defeituoso (Valor -1) e Podre (Valor -2).
escudo, escudo pequeno, espada curta, cavalo Ambas conferem -1S nos testes em que são utilizados e a mesma
(pangaré), facão, fechadura simples (-1S), foice penalidade no dano, mas a segunda tem uma chance em seis de
longa, flechas (20), galinha, maça, machadinha, quebrar cada vez que é utilizado (role um dado).

O lamp
ião traz
acaba r a luz, m
eveland
o o que as com ela,
escuridã se esconde na
o...

343
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b

344
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b

345
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
A rmas Dano Particularidades
Adaga/Faca/Punhal Agilidade ou Força -2 Cortante, Perfuradora, Leve e Ruim de Bloqueio.
Adaga/Punhal, Agilidade -2 Distância 5m e Perfuradora.
/Arremesso
Arco Agilidade +0 Distância 20m, Recarregável (Ação Menor) e Perfuradora.
Arco Longo Agilidade +2 Distância 30m, Recarregável (Ação Menor) e Perfuradora.
Arma Improvisada Força -1 Frágil, Não Letal e Ruim de Bloqueio.
Besta Agilidade +1 Distância 30m, Recarregável (Ação Maior) e Perfuradora.
Bordão/Cajado Força +0 Defensiva +1, Duas Mãos, Esmagadora e Haste.
Clava/Porrete Força +0 Dinâmica e Esmagadora.
Clava Pesada Força +2 Duas Mãos, Fardo, Esmagadora, Mortal e Ruim de Bloqueio.
Escudo Força +0 Defensiva +1 e Esmagadora.
Escudo Pequeno Força -2 Defensiva +0.
Escudo Pesado Força +1 Complicada, Defensiva +2, Esmagadora e Fardo.
Espada Igslava Força +2 Cortante ou Perfuradora, e Dinâmica.
Gládio Belgho Força +1 Cortante ou Perfuradora, Defensiva +1 e Leve.
Espada Força +2 Cortante ou Perfuradora.
Montante Vihs Força +4 Cortante ou Esmagadora, Duas Mãos, Fardo, Mortal e Ruim de Bloqueio.
Funda Agilidade -2 Distância 15m e Esmagadora.
Lança Força +2 Dinâmica, Haste e Perfuradora.
Lança Parla Agilidade -1 Distância 5m e Perfuradora.
Lança Longa Força +2 Duas Mãos e Perfuradora.
Lança Montada Força +4 Montada e Peruradora.
Maça Força +2 Dinânica e Esmagadora.
Maça Estrela Força +2 Dinânica e Perfuradora.
Machadinha Força +0 Cortante ou Esmagadora, Defensiva +1 e Leve.
Machadinha, Arre- Arremesso -1 Cortante e Distância 3m.
messo
Machado Força +2 Cortante ou Esmagadora.
Machado, Arremesso Agilidade +0 Cortante ou Esmagadora, e Distância 3m.
Machado de Batalha Força +2 Cortante ou Esmagadora, Dinâmica e Ruim de Bloqueio.
Machado Vihs Força +4 Cortante ou Esmagadora, Duas Mãos, Fardo, Mortal e Ruim de Bloqueio.
Mangual Força +2 Complicada, Desastrosa, Dinâmica, Esmagadora e Ruim de Bloqueio.
Manopla Força-1 Esmagadora.
Martelo Força +2 Esmagadora.
Martelo de Guerra Força +3 Dinâmica e Esmagadora.
Martelo Pesado Força +4 Duas Mãos, Esmagadora, Fardo, Mortal e Ruim de Bloqueio.
Soco/Chute/Cabeçada Força -2 Não Letal

346
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Particularidades das Armas • Fardo: O peso da arma torna mais lento, reduzindo seu Mo-
• Ruim de Bloqueio: Testes de Bloqueio são vimento em -1m/rodada para cada equipamento com esta par-
penalizados em -1S. ticularidade.
• Complicada: -1D nos ataques com essa • Frágil: A arma quebra quando houver três ou mais suces-
arma pela complexidade com que deve ser sos num ataque bem sucedido, causando 1 ponto adicional de
manuseada. dano, mas tornando-a inútil.
• Cortante: As descrições de estrago com a • Gancho/Haste: A ação Derrubar pode ser realizada sem a
arma são de efeitos cortantes. Algumas vir- penalidade de -2S, desde que não esteja montado ou num lugar
tudes afetam apenas as armas com esta Par- mais alto que o alvo.
ticularidade. • Leve: Personagens com a virtude Acuidade podem causar
• Desastrosa: Falhas Críticas causam no ata- dano com Agilidade ao invés de Força.
cante ou num aliado próximo o dano que seria • Montada: +2 no dano se estiver em carga numa montaria,
inflingido em seu alvo. mas não pode fazer desta forma nenhum teste de Bloqueio. -2S
• Defensiva: Soma o bônus na Defesa Física no ataque se não estiver montado.
contra ataques corpo a corpo frontais caso • Mortal: O Teste de Sobrevivência com esta arma passa a ser:
essa arma não foi utilizada para atacar ainda 1-3) Morte ou 4-6) Mutilação.
na rodada. Além disso, nos Testes de Bloqueio • Não Letal: O Teste de Sobrevivência com esta arma passa a
armas defensivas não sofrem a penalidade de ser: 1) Mutilado ou 2-6) Desacordado.
-2S com a mão inábil. Atenção: bônus defensi- • Perfuradora: As descrições de estrago com a arma são de
vos de armas diferentes não são cumulativos. efeitos perfurantes. Certas virtudes afetam apenas as armas
Escudos somam o bônus especificado na De- com esta Particularidade.
fesa Física contra ataques à distância frontais • Recarregável: Se não estiver pronta para atirar precisa ser
ou pelo flanco das mãos que o seguram. carregada com a ação especificada.
• Dinâmica: Pode ser manejada com uma ou
as duas mãos, no segundo caso valendo-se da Armaduras
característica de arma Duas Mãos. As armaduras possuem um valor de Absorção, o quanto de
• Distância: Usa Pontaria no ataque ao invés dano você ignora do ataque inimigo, e um valor de Penalidade,
de Manejo, podendo atingir alvos até a distân- que deve ser aplicado como modificador de Agilidade e Força.
cia especificada sem penalidade, depois com Algumas podem ainda ter a característica Fardo (como as armas)
-1S e +1 no dano até o dobro desta distância, e são apontadas com um asterisco. Por fim, o quanto de Recurso
depois -3S e +2 no dano do dobro até o triplo. é preciso para se possuir uma destas peças.
+1D contra alvos até 1m.
Armadura Absorção Penalidade Recurso
• Duas Mãos: Ao usar a especialização Duas
Trapos 0 0 0
Mãos em Manejo, cada trunfo investido no
dano causará +2 ao invés de +1. Veste Simples 0 0 1

• Esmagadora: As descrições de estrago Roupa Elegante 0 0 3+

com a arma são de efeitos contundentes. Al- Veste de Couro 1 0 2


gumas virtudes afetam apenas as armas com Manto Pesado 1 -1S 3
esta Particularidade. Veste Acolchoada 1 0 3
Manto de Peles 2 -1S 3

347
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b

Cota de Malha 3 0 3 Níveis de Dificuldade: Calcule todos os in-


fluenciadores do teste até chegar no modifica-
Cota de Malha Pesada 4 -1S 4
dor final: Muito Fácil/+2D, Fácil/+1D, Desafia-
Cota de Escamas 4 -1S 4
dor/0, Difícil/-1S, Muito Difícil/-2S, Radical/-3S,
Peitoral de Metal 4 -1S* 4
Insano/-4S, Absurdo/-5S.
Loriga Segmentada 5 -2S* 4
Armadura de Batalha 5 -2S* 5 Níveis de Sucessos: Fracasso/0, Simples/1S,
Completo/2S, Excepcional/3S, Impressionan-
REGRAS BÁSICAS te/4S, Fenomenal/5S e Inacreditável/6+S.
Até este ponto tudo que foi visto serve como orientação para a
criação do personagem e já lança luz sobre outras questões que TESTES
aparecerão no jogo. Abaixo seguem outros pormenores do siste- Teste Simples: Geralmente dura apenas um
ma de regras, como suas rolagens, Elã e Desafios. turno, sendo rolado na rodada do personagem.
Teste Conjunto: Teste realizado por dois ou
Elã Inicial: Criança 6, Adolescente 5, Jovem 4, Adulto 3, Meia mais participantes, acumulando Sucessos para
Idade 2, Velho 1 e Venerável 0. alcançar um mínimo apontado pelo narrador de
acordo com a situação.
Recursos e Status inicial: Pária 0, Miserável 0, Escravo 0,
Teste Estendido: Atividades mais complexas
Artista 1, Vassalo 2, Comerciante 2, Guerreiro 2, Sacerdote 3,
podem ser realizadas através de uma sucessão
Comandante 3, Nobre 4, Lorde 5 e Monarca 6. de Testes Simples.
Teste Resistido: Competição de um teste
O valor de Recursos pode ser reduzido ao teto da maior comu-
idêntico ou oposto entre um personagem e seu
nidade em sua Morada: Acampamento 2, Povoado 3, Aldeia 4,
oponente. Vence quem obtiver o maior número
Vila 4, Cidade 5 e Metrópole 6.
de sucessos.
Posses: Farrapos e Velharia 0, Utilidades dos Viajantes 1, Bens Teste Resumido: Para resumir um número
da Vassalagem 2, Conforto dos Abastados 3, Luxos da Nobreza 4 excessivo de rolamentos, o narrador pode pedir

e Raridades da Realeza 5+. um único teste com os modificadores de dificul-


dade revistos.
Turnos: Unidade de tempo em que cada personagem pode Reteste: Se um teste não tem êxito, às vezes
agir com a sua Rodada, seguindo a ordem de Iniciativa. é possível fazer uma nova tentativa na rodada
seguinte, talvez com -1S, mas a decisão se isto é
Rodada: Cada rodada oferece uma Ação Maior ou duas Ações cabível fica a critério do narrador.
Menores. Reações são ações com gatilhos específicos que podem
ser tomadas fora da rodada e gastam as ações de tamanho equi- Testes de Destino
valente (Maior ou Menor). Vez ou outra surge um momento em jogo
em que nenhum teste de atributo parece apro-
Testes: Rola-se o número de dados iguais a: Atributo + Es- priado; trata-se de algo que pode contar como
pecialização + Modificadores. Um sucesso é considerado, por uma jogada de sorte. Nesses casos, o narrador
padrão, os resultados 4, 5 e 6. Entretanto, o narrador pode au- pede um teste de Destino. Neste teste um dado
mentar a dificuldade do teste, fazendo a margem de sucesso ser apenas é lançado e o resultado pode favorecer
restrita a 5 e 6 ou apenas 6. O inverso pode ocorrer também. ou prejudicar o jogador em questão. O teste de

348
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Destino abre a possibilidade para o improviso, Gastando Elã: A cada gasto de Elã (Reação Livre), uma opção
para o inesperado. Com base no resultado o nar- abaixo deve ser escolhida pelo jogador.
rador descreve o que ocorreu. Pode ser uma boa • +3D em qualquer uma ação sua, mesmo depois do rolamento,
opção para inserir um pouco de ação naquela mas ainda antes do final da rodada;
monótona noite de vigília. Ou ainda para fazer • Refaça uma rolagem de resultado indesejado, mesmo de ou-
pesar o isolamento das castelanias de Belre- tros personagens se isto o influencia;
gard, gerando rolagens durante viagens curtas, • Ataque Simples ou Ação Menor extra na mesma rodada;
mostrando dificuldade de terrenos, ataque de • Ganha uma Virtude ou cancela uma Fraqueza autorizada pelo
oportunistas, o encontro com degenerados ou narrador (desde que faça sentido) até o final da cena.
simplesmente o clima péssimo para viagem.
Queimando Elã: Uma vez queimado (Reação Livre), o ponto

1 - Catastrófico: O pior desdobramento pos- investido não volta mais. O uso permite uma opção abaixo.

sível, com outros efeitos negativos logo em • +3S ou mais três Trunfos no resultado de um teste mesmo

seguida. depois do rolamento, mas antes da próxima ação;

2 - Infeliz: As consequências são ruins ou • Comprar uma Virtude ou remover uma Fraqueza, se o narra-

não tão boas. dor permitir naquele momento na crônica;


• Alterar um acontecimento significativo na narrativa desde
3 - Desfavorável: Previsto ocorre com deta-
que o narrador aprove a alteração (como evitar a morte).
lhe ruim.
4 - Favorável: Conclusão esperada com de-
Combate
talhe bom.
O combate é mortal em Belregard, graças ao sistema Crônicas.
5 - Afortunado: Desdobramento satisfatório
Antes de compreender o Desafio da Escaramuça, que esmiúça os
ou menos pior.
detalhes da contenda, entenderemos a organização desse comba-
6 - Maravilhoso: Melhor resultado possível, te, à começar pela estrutura de Iniciativa, Absorção, etc. Além
com outras consequências positivas. dos Níveis de Desgaste.

Investimentos de Elã • Iniciativa: Agilidade


O Elã representa o destino. Se refere ao ím- • Defesa: [Agilidade + Manejo)/3*
peto do personagem em cumprir sua função • Absorção: Armadura
e marcar seu nome na história. Personagens • Vigor: Resistência
jovens possuem mais Elã, por terem toda uma *Esses valores são sempre arredondados para baixo.
vida pela frente. O Elã pode ser investido na
compra de Virtudes ou conseguido através de Ataques
Fraquezas (especialmente na criação de perso- Cada ataque possui dois valores: a quantidade de dados rolados
nagens), mas o seu uso mais significativo dentro no Teste de Ataque e o dano.
do jogo é apresentado abaixo. Dano: O valor de todo dano físico é fixo (não é rolado) mesmo
que possa ser aumentado com Trunfos.
Heróis podem gastar até um ponto e queimar Modificadores: Os valores em Atributos e Especializações po-
um ponto por rodada. Pontos gastos ainda po- dem ser alterados na ficha se o(s) bônus ou penalidade(s) forem
dem ser queimados. aplicados em qualquer situação.

349
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Níveis de Desgaste guinte com a mesma dificuldade. Se falhar nova-
Quando atingido com êxito por um ataque não bloqueado, todo mente entrará na condição Cansado ou Exausto
personagem perde um ou mais pontos de Vigor físico, cujo valor (se já estiver Cansado), e fará no terceiro turno
cheio é respectivamente igual ao atributo Resistência. um terceiro teste com a mesma dificuldade. Se
perder mais uma vez, o personagem começará
Perda de Vigor: A partir do valor de Vigor cheio, cada vez a afundar até que fique Inconsciente, morrendo
que o personagem perde uma quantidade de pontos igual a esse após (Resistência) turnos sem que seja resgata-
mesmo valor ele ganha um Nível de Ferimento. do.

Note que o primeiro Nível de Desgaste é sempre obtido com


Doença
zero ponto ou menos.
Sempre que estiver exposto a uma doença, o
jogador deve fazer um teste de Saúde (Resistên-
No controle de perda de Vigor dos personagens, o narrador
cia) para seu personagem não terminar infecta-
deve marcar um asterisco (*) a cada Nível de Desgaste obtido,
do. Este teste será modificado pelo tamanho da
pois assim será mais fácil ter o controle de ambos (Vigor e Des-
exposição, virulência e a resistência natural de
gaste). Personagens derrotados são marcados uma exclamação (!)
sua Raça/Povo à aflição. Assim que estiver in-
para marcar que este indivíduo foi vencido.
fectado, o personagem deve refazer esse teste,
De maneira mais clara, é como se todo personagem tivesse 3 com os mesmos modificadores, em ciclos que
caixas de vigor, cada caixa contendo um número de pontos de variam a cada doença. A aflição só será plena-
vigor igual a sua Resistência. mente curada quando o número de êxitos nes-
tes testes for superior aos fracassos; em cada
Todo personagem geralmente é derrotado quando ganharia
ciclo é possível acrescentar aos êxitos de Saúde
o terceiro Nível de Desgaste, mas existem casos em que já no
(Resistência) um teste bem sucedido de Tratar
segundo Nível de Desgaste o personagem pode chegar a esse
Males (Cura).
mesmo final.
• Desinteria: Infecção nas entranhas que
Níveis de Ferimento: Cada Nível de Desgaste físico confere
causa dores no abdômen, ulceração das muco-
-1 nos testes de Iniciativa e -1D em todas as ações (mentais e
sas e diarreia. Com ciclos diários, enquanto con-
sociais também) até que possa se recuperar (ver Escaramuça). O
tinuar doente o personagem fica com um Nível
personagem toma até dois Níveis de Desgaste, pois quando tomar
de Ferimento irrecuperável até que se livre da
o terceiro ele será derrotado. Seu jogador deve fazer um Teste de
aflição, ou ganhará um segundo Nível de Feri-
Destino para saber como isso acontecerá.
mento depois de continuar mal por um núme-
ro de dias igual à Resistência, morrendo numa
Isso resume o combate de Crônicas, mas complicações para
isso, com manobras e pormenores, serão vistos mais adiante, no questão de horas depois disso. A causa deste

desafio da Escaramuça. mal geralmente ocorre com a ingestão de água


contaminada.

Perigos Mortais • Gangrena: Uma parte do corpo com um


Afogamento Nível de Ferimento pode ficar infectado, e sem
O fracasso em um teste de Nadar (Força) em águas turbulentas cuidados começa a apodrecer lentamente. A
obriga o personagem a fazer o teste mais uma vez no turno se- partir de ciclos diários, enquanto continuar mal

350
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
o ferimento irá começar a feder e ficar com uma modo o narrador deve se sentir livre para explorar esta paranoia,
aparência ainda pior. A partir do terceiro dia especialmente associando as demais doenças apresentadas aqui,
vem o segundo Nível de Ferimento, e esta par- ou outras, ainda mais bizarras e novas, quando um personagem
te do corpo precisará ser amputada para que o entrar em contato com um destes gases. Vale lembrar que tais
personagem não morra em horas. gases estão associados a muitas das doenças acima.

• Lepra: Infecção que afeta os nervos e a Fogo


pele, provocando severo estrago. Com ciclos O estrago causado pelo fogo varia com a exposição às chamas:
anuais, os primeiros sintomas só aparecem en- tochas usadas como arma causam dois pontos de dano, fogueiras
tre dois e cinco anos, causando incapacidade e causam quatro pontos de dano para quem cair ou for jogado, e
deformidade se não for devidamente tratada. incêndios causam seis ou mais pontos de dano. Armaduras absor-
Como a degeneração varia a cada caso, o narra- vem este dano como se fosse num ataque de Escaramuça.
dor deve estipular os sintomas para cada vítima.
Frio Extremo
• Resfriado: Infecção no pulmão que causa
Sem estar devidamente agasalhado, nos ambientes de frio ex-
febre, tosse, espirros, garganta inflamada, dores
tremo todo personagem deve fazer um teste de Resistência a cada
de cabeça e perda de apetite, que geralmente
hora para não perder um ponto de Vigor físico. O teste deve ser
desaparecem ao fim de sete a dez dias, mas al-
modificado pela intensidade do frio e a quantidade e qualidade
guns sintomas podem continuar por semanas.
de camadas que o protegem do frio. Quem obter dois Níveis de
Com ciclos de dois dias, se em dez a aflição não
Ferimento assim terá uma ou mais de suas extremidades congela-
passar o personagem ficará na condição Cansa-
das (critério do narrador), que terá de ser amputada para evitar a
do, e depois Exausto se não melhorar depois de
morte numa questão de horas.
vinte dias de infecção. A doença pode regredir
sozinha, mesmo sem tratamento, mas há quem
Queda Livre
possa não aguentar e falecer cerca de um mês
Cada três metros de queda causam um Nível de Ferimento, mas
após a infecção.
quando o narrador permitir que o jogador faça um teste de Acro-

• Varíola: Primeiro bem febre e mal estar, bacia (Agilidade) para aliviar o estrago, cada Sucesso irá anular

depois dores musculares, gástricas e vômitos três metros de queda. O narrador também pode aliviar a altura se

violentos. Com ciclos de doze dias, num número o indivíduo cair sobre algo que absorva parte da queda.
de ciclos igual à Resistência surgem as pústulas
típicas, primeiro na boca, depois nos membros e
Sufocamento
então no resto do corpo. Após o terceiro ciclo os De modo geral, um personagem pode segurar o fôlego por (30

sintomas se tornam irreversíveis e só podem ser x Resistência) segundos. Ao final deste tempo sem recuperar o

amainados. Como a degeneração varia a cada fôlego, o personagem fica na condição Cansado ou Exausto (se

caso, o narrador deve estipular os sintomas para já estiver Cansado). Se não recuperar o fôlego nos próximos 30

cada vítima. segundos, ele fica Exausto ou Inconsciente (se já estiver Exaus-
to), morrendo após (Resistência) turnos sem que volte a respirar.
• Miasmas: A crença de que os miasmas ron- Para recuperar o fôlego (Ação Maior) é preciso conseguir respirar
dam o mundo de Belregard é bem forte entre a normalmente.
população de qualquer meio ou religião, desse

351
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Condições • Inconsciente: O indivíduo fica na condição
Estas condições servem como orientação para a aplicação do Caído e desacordado por 3d6 minutos.
efeito de certas habilidades e mesmo armas.
• Morrendo: O personagem fica caído, de-
• Abalado: -1S em todas as ações até que a fonte causadora sacordado e morrerá em 1d6 horas se ninguém
dessa condição seja superada, saia do seu campo de percepção intervier com um teste bem sucedido de Tratar
ou até o término da cena (o que acontecer primeiro). Ferimentos (Cura), com uma penalidade em su-
cessos igual ao número de horas completas nes-
• Amedrontado: -1S em todas as ações até que a fonte causa- ta condição.
dora dessa condição seja superada, saia do campo de percepção
ou até o término da cena (o que acontecer primeiro). Enquanto es- • Morto: O personagem cai sem vida.
tiver Amedrontado, o personagem irá tentar fugir da fonte causa-
dora, mudando para a condição Aterrorizado se não houver como. • Pasmo: Enfeitiçado por um lugar, objeto ou
personagem, o alvo pasmo é incapaz de iniciar
• Aterrorizado: A fonte de medo o deixa paralisado, sem po- qualquer combate, podendo apenas tomar ações
der tomar ações (nem mesmo usar poderes) até que a fonte de defensivas para bloquear ou fugir de eventuais
medo se afaste ou vire para outra direção (no caso, muda para ataques.
Amedrontado com -2S ao invés de -1S).
• Rendido: Derrotado e subjugado pelo te-
• Caído: Derrubado no chão, o personagem perde todas as
mor da morte, o alvo se entrega para o opo-
ações a que teria direito no turno e ficará com -2S nos ataques até
nente, ficando incapaz de fazer outros ataques
que se levante (Ação Menor). Enquanto continuar caído, qualquer
ou mesmo tentar fugir até o final da cena. Um
ataque de Manejo contra ele terá +2D e ataques de Pontaria terão
indivíduo é Rendido quando derrotado numa Es-
-2S.
caramuça.
• Cansado: -1S em todas as ações físicas pela exaustão. Este
cansaço desaparece ao final da cena se o personagem conseguir
Desafios
descansar um pouco, a não ser que ele tenha estado Exausto nes-
Os Desafios funcionam como uma lupa, uma
te mesmo dia. Nesse caso, a condição desaparece após quatro
lente de aumento, para um momento específico
horas de descanso.
durante o jogo. Você pode resolver um combate
com uma simples rolagem de dados, mas muitos
• Exausto: -2S em todas as ações físicas pela fadiga. Enquanto
grupos preferem explorar minúcias deste com-
não descansar, terá de vencer um teste de Fortitude (Resistên-
bate, manobras, debilidades, competências, e os
cia) por hora para não cair Inconsciente por 3d6 minutos e ainda
acordar Exausto. Após uma hora de descanso esta condição muda Desafios servem para isso. O sistema de Crôni-

para Cansado. cas apresenta uma enormidade deles, que serão


apresentados aqui de forma resumida (de modo
• Imobilizado: O alvo fica incapaz de se mover e com -2S que, se tiver o livro do sistema, pode explorar
nas ações físicas. Para se libertar, ele precisa tentar fugir (Ação como achar melhor) contando apenas com o de-
Menor) e vencer um Teste Resistido de Agilidade ou Força (o que talhamento da Escaramuça, que seria o comba-
for maior para cada um) contra o oponente, que pode soltá-lo te propriamente dito.
quando quiser (Ação Menor).

352
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Escaramuça do personagem. O jogador só precisa acumular um número de Su-
cessos igual ou maior à Defesa do seu alvo para atingi-lo e causar
Iniciativa ao menos um ponto de dano.
1d6 + Iniciativa para saber a ordem de atua-
ção dos personagens envolvidos no combate. Trunfo

Em caso de empate, aqueles que possuem um Cada num teste de ação pode virar +1D no teste realizado ou

valor básico superior de Iniciativa ganham. +1 na Defesa ou no Dano se o teste foi um ataque (critério do
• Iniciativa: Agilidade jogador). Todo dano adicional por Trunfo será aplicado após o
modificador de Absorção que leva ao mínimo de um.
Defesa A cada três Sucessos (3S) obtidos num ataque além dos neces-
Número-alvo de Sucessos para atingir o per- sários para atingir a Defesa do alvo, o dano ganha +1 como se
sonagem. Caso seja atingido, o personagem às investido por Trunfo, ou seja, não pode ser diminuído pela Absor-
vezes pode se valer de um Teste de Bloqueio ção do seu alvo.
para evitar que o Ataque tenha êxito.
• Defesa [Agilidade + Manejo] / 3* Dano
*Esses valores são sempre arredondados para O valor de todo dano é fixo (não é rolado), mesmo que possa ser
baixo, num mínimo de 1 (um). aumentado com Trunfos.

Absorção Níveis de Desgaste


Diminui o dano tomado até o mínimo de 1, As regras desta página devem estar à disposição de todos os
mas não absorve pontos adicionais de dano ob- jogadores, especialmente os novatos.
tidos por Trunfo.
• Absorção: Armadura Cada nível causa -1D em todos os rolamentos nas ações do res-
pectivo combate, além de -1 neste mesmo tipo de Iniciativa.
Vigor • Desgaste Físico: Níveis de Ferimento. Todo personagem é der-
Quantidade de dano que o personagem rotado quando chega ao terceiro nível de desgaste.
aguenta antes de tomar um Nível de Ferimento.
• Vigor Físico: Resistência A cada três dias depois dos ferimentos serem adquiridos, é pos-
sível anular um Nível de Ferimento se vencer um teste de Re-
Perda de Vigor: A partir do valor de Vigor cuperação (Resistência) modificado por: Ferimentos (-1D para
cheio, cada vez que o personagem perde uma cada Nível de Ferimento), Descanso nestes últimos três dias (to-
quantidade acumulada de pontos de dano igual tal/+2D, parcial/+0 ou nenhum/-1S), e Tratamento (+2D se houver
a esse mesmo valor (Vigor cheio), ele ganha um um teste bem sucedido de Tratar Ferimentos)
Nível de Ferimento. Note que o primeiro Nível
de Desgaste é sempre obtido com zero ponto ou Todo personagem tem direito a tomar uma Ação Maior ou duas
menos. Recuperação: Todos os pontos de Vigor Ações Menores por rodada, além de poder fazer quantas Rea-
são recuperados ao final da cena. ções e quantas Ações Livres o narrador assim permitir. Atenção:
Bônus de ações não são cumulativos entre si.
Ataque
O Teste de Ataque é uma ação realizada com o Adiar (Livre): Postergar uma Ação Maior ou Menor para de-
mesmo número de dados que o valor de Ataque pois do último combatente na ordem de iniciativa.

353
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Agarrar (Maior): Se tiver Força igual ou maior que o opo- Correr (Maior): Permite mover até 3x sua
nente e dentro do Alcance, vença um Teste Resistido de Briga Movimentação (4x se tiver executado a mesma
(Manejo) contra o Ataque do alvo. Caso vença por 2+ Sucessos ação no turno anterior), parando se tomar 1+
de diferença, o alvo ficará na condição Imobilizado. de dano no percurso. Oponentes sofrem -2S nos
ataques contra si enquanto continuar correndo.
Ajudar (Maior): +1D na próxima ação física de um aliado até
o fnal do turno. Este bônus só pode acumular com o Ajudar de Desarmar (Maior): Com Força igual ou
mais um personagem, tornando o bônus no máximo +2D. maior que o alvo, faça um Teste Resistido de
Ataque contra ele. Se vencer por 2+ Sucessos, a
Ataque Simples (Menor): Faça um Teste de Ataque contra arma do alvo será jogada a 1d6m dali.
um alvo em seu Alcance. Cada personagem normalmente só
pode fazer um Ataque por rodada, com algumas exceções. Um Derrubar (Menor): Com Força igual ou
ataque pode ser Cuidadoso, Ousado, Normal, Localizado ou Re- maior que o alvo, faça um Teste Resistido de
ceoso (Regras Essenciais). Ataque contra ele (-2S para atacantes sem arma
de Gancho/Haste), que pode usar Equilíbrio
Ataques Múltiplos (Maior): O personagem pode fazer dois (Agilidade) no lugar. Caso o oponente perca por
Ataques Simples Normais com -2D numa rodada contra alvos dis- 2+ Sucessos, ele fica na condição Caído.
tintos, jamais contra um mesmo oponente.
Desistir (Maior): Entrar na condição Rendi-
Ataque Total (Maior): Ataque Simples com +2D. do.

Ataque em Carga (Menor): Se o personagem tomou a ação Distração (Menor): Vença um Teste Resisti-
Cavalgar/Guiar ou Correr na rodada e mover por 4+ metros, ele do de Confundir (Blefe) contra o Teste de Ata-
pode fazer um Ataque Simples Normal com +2 no dano. que do alvo por 2+ Sucessos, deixando-o com
-1D no próximo ataque até o final do turno.
Atividade Física (Menor): O narrador pode solicitar algum
teste para certas atividades e situações. Evasão (Reação Maior): Faça um Teste de
Evasão contra um ataque bem sucedido para
Atropelar (Menor): Se houver êxito na ação Cavalgar/Guiar evitar ser acertado.
na rodada, o alvo pode ser atropelado com um Ataque Simples
Normal utilizando o mesmo número de Sucessos do teste da Finta (Menor): Vença um Teste Resistido de
ação Cavalgar/Guiar, com -2S se a montaria não tiver treinamen- Confundir (Blefe) contra o Ataque ou Atenção
to para combate. O dano do atropelamento será igual à Força da (Percepção) do alvo por 2+ Sucessos para ga-
montaria, +2 se estiver correndo. nhar +1D num ataque contra ele até o final do
turno.
Bloquear Ataque (Reação Menor ou Maior): Faça um Teste
de Bloqueio contra um ataque bem sucedido. Esta reação gasta Forçar o Fôlego (Reação Livre): +2m em
uma Ação Menor, ou uma Ação Maior para ganhar +2D. Correr até o final da rodada ou +1D numa ação
física após o rolamento estiver faltando um Su-
Cavalgar/Guiar (Menor ou Maior): O narrador pode soli- cesso para ter êxito. O personagem fca na con-
citar algum teste para certas situações. Se executar como Ação dição Cansado, ou seja, -1S nas ações até o final
Maior será preciso fazer o respectivo teste com -2S. da cena.

354
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Manobra (Menor): Vença um Teste Resisti- Modifcadores de Manejo:
do de Ataque contra um alvo para movê-lo 1m +1D Terreno elevado: Montado num cavalo, posição elevada
na direção que desejar. ou alvo caído no chão.
+1D Alvo distraído: ver Rodada Surpresa.
Mirar (Menor): +1D no ataque realizado até +1D Flanco: Voltado para um dos lados do alvo.
o fim do turno. +2D Retaguarda: Voltado para as costas do alvo.
+2D Alvo Imobilizado: Oponente é ou está incapaz de se
Mover (Menor): Permite mover até uma
movimentar.
quantidade de metros igual à Movimentação,
-1D por Nível de Ferimento: Essa penalidade será aplicada
parando imediatamente se for atacado no per-
em qualquer Ação ou Reação.
curso (com um Ataque de Oportunidade) e to-
-1S Contrataque: Se a arma utilizada para atacar foi usada
mar pelo menor um ponto de dano.
num Teste de Bloqueio neste turno.
-1S a -5S Alvo obstruído: Apenas uma parte do corpo do
Preparar (Maior): Aguardar até a sua roda-
alvo está exposta.
da no próximo turno para receber +2D numa
-2S Costas: Atacante de costas para o alvo.
ação pré-declarada.
-5S Cego: Sem poder ver o alvo.
Recarregar (Menor ou Maior): Deixa uma Alcance: Cada arma possui uma envergadura própria.
arma com a característica Recarregável pronta Num jogo utilizando mapas, onde cada quadrado possui 1m,
para um novo ataque. para fazer um ataque sem penalidades é preciso que o oponente
esteja na distância apropriada. Qualquer ataque 1m mais próximo
Sacar Arma (Menor): Pega uma arma para ou mais distante é feito com -1D, e além disso estará fora do
empunhá-la, mas o ataque com ela até o final da alcance.
rodada terá -1S. Curto: 0m (punhos, facas, espadas curtas, etc.)
Médio: 1m (espadas, machados, maças, etc.)
Usar Elã (Ação ou Reação Livre): Interven-
Longo: 2m (lanças, montantes, tridentes, etc.)
ção especial que drena o entusiasmo do perso-
nagem. Modifcadores de Pontaria:
+1D Alvo próximo: Até 1 metro do alvo.
Usar Poder (Ação ou Reação Mental): In-
+1D Alvo imóvel: Completamente parado.
tervenção sobrenatural que varia de acordo com
-1D por Nível de Ferimento do atacante: A penalidade será
a sua Origem de Poder. Utiliza o atributo Inte-
aplicada em qualquer ação ou reação.
ligência para a iniciativa no lugar da Agilidade
-1S Alvo em movimento: Se o alvo tomou a ação Mover (pág.
pois se trata de uma ação ou reação mental.
189) neste turno ou no anterior. Não se acumula com ele mesmo
ou Alvo correndo.
Modificadores de Escaramuça -1S Alvo nas sombras: Mas visível.
De acordo com as circunstâncias de cada ata- -1S a -5S Alvo obstruído: Apenas uma parte do corpo do
que, existem influências que podem alterar os alvo está exposta.
parâmetros do rolamento para melhor ou pior. -2S Alvo correndo: Se o alvo tomou a ação Correr neste tur-
Os bônus abaixo não são cumulativos entre si, no ou no anterior. Não se acumula com ele mesmo ou Alvo em
mas as penalidades são. movimento.

355
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
-2S Alvo distante: Entre a distância e o dobro da Distância diferença na quantidade de Sucessos no Teste
básica (pág. 91) da arma utilizada. Resistido, maior o êxito do exército vencedor no
-4S Alvo muito distante: Entre o dobro e o triplo da distância campo de batalha.
básica da arma utilizada.
Exploração
Testes de Ataque O narrador pede um Teste de Destino para ve-
A cada Ataque Simples o jogador pode escolher um dos tipos rificar a sorte dos exploradores e um Teste Resu-
abaixo, caso contrário será um Ataque Simples Normal. Os mo- mido como Mundo Conhecido (Conhecimento),
dificadores abaixo não são cumulativos com os de outras ações, Observar (Percepção) ou Orientação (Sobrevi-
mas se acumulam com outros modifcadores. vência), para verifcar se os exploradores toma-
• Cuidadoso: -1S no Ataque e +1 na Defesa contra um opo- ram o melhor caminho.
nente até o final do turno.
• Ousado: +1D no Ataque, -1 na Defesa e -1D na ação Blo- Infiltração
quear Ataque até o final do turno. A cada encontro com um obstáculo que pre-
• Normal: Sem modificadores. cisa ser contornado é preciso fazer um Teste de

• Localizado: -1S no Ataque e +1 no Dano. Infiltração com Agilidade, Blefe (Disfarce), For-

• Receoso: -1S no Ataque e -2 no Dano. ça Furtividade ou Ladinagem (Arrombamento).


Contra vigias deve haver algum Teste Resistido
Limitação: Por via de regra, todo personagem só pode fazer contra a Percepção (Atenção, Observar, Olfato
um Ataque por rodada, que inclui as seguintes opções: Ataque ou Ouvir) de quem puder denunciar os infiltra-
Simples, Ataque Total, Ataque em Carga e Atropelar. dores.

Exceções: Existem três casos em que um personagem pode Investigação


fazer mais de um ataque no turno. Pistas podem ser encontradas com Testes
Simples de Conhecimento, Cura (Diagnose),
• Se gastar Elã para ganhar um Ataque Simples adicional. Inteligência, Percepção ou Sobrevivência (Ras-
• Executando a ação Ataques Múltiplos. trear). Blefe, Lábia e Liderança serão úteis para
• Tendo a virtude Estilo de Combate com duas armas. extrair informações, assim como alguns outros
atributos mais.
Neste caso, o segundo Ataque Simples da rodada deverá ser
feito sempre com a arma da outra mão, lembrando que com a mão Jornada
inábil é Muito Difícil/-2S.
O narrador pede um Teste de Destino para
verificar a sorte dos viajantes e um Teste Resu-
Outros desafios mido como Mundo Conhecido (Conhecimento),
De forma simplificada, você pode considerar: Observar (Percepção) ou Orientação (Sobrevi-
vência), para verificar se os viajantes tomaram
Batalha o melhor caminho.
Faça um Teste Resistido de Jogo (Inteligência), Estratégia ou
Comando (Liderança), o atributo mais definitivo para cada lado Navegação
em relação ao desfecho do confronto, lembrando de aplicar uma O narrador pede um Teste de Destino a cada
dificuldade maior para o lado menos favorecido. Quanto maior a partida, mas na viagem o narrador pode pedir

356
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
testes de acordo com a função do personagem Anfíbio
para descobrir detalhes sobre a viagem da em- Consegue respirar normalmente tanto a céu aberto como de-
barcação. baixo d’água.

Perseguição Armadura Natural


Faça um Teste Resumido de Rastrear (Sobre- Bônus permanente na Absorção Física, sem aplicar a Penalida-
vivência) na primeira fase, Teste Resistido de de em Agilidade, Força e Furtividade.
Observar (Percepção) na segunda fase – con-
tra Furtividade se o oponente estiver oculto – e Ataque Rasante
Correr (Força) na terceira fase. Capacidade de dar um mergulho com a virtude Vôo, fazer um
Ataque Simples e subir para uma distância segura (Ação Maior).
Torneio
O Combate Singular funciona como a Escara- Movimento
muça Simplificada em cada confronto, mas toda A Movimentação não é 4m, mas um outro valor superior. Se o
competição pode ser simplificada com um mes- valor apresentado for inferior a 4m, a Movimentação irá aparecer
mo Teste Resistido entre todos os participantes, como fraqueza ao invés de virtude. Especificar Movimentação.
ganhando quem tiver o maior número de Suces-
Vôo
sos obtidos e desempatando pelo valor do teste
original. Os Testes Resistidos variam de acordo Movimentação livre em céu aberto em qualquer direção. Espe-

com o tipo de competição. cificar Movimentação.

Veneno Natural
Adversários
Um ou mais ataques podem injetar veneno no alvo (especifi-
O mundo de Belregard é um mundo de peri-
cado pelo narrador) se causar pelo menos dois pontos de dano.
gos, não só naturais, mas também da violência
do cotidiano ao lidar com outros seres huma- Imunidade a [Fonte]
nos e mesmo o sobrenatural, quando se puxa Êxito automático em testes de Resistência contra uma fonte,
a cortina que esconde a verdade lamentável como eletricidade, fogo, frio ou veneno. Além disso, nenhum
do mundo derrotado. O que segue abaixo são dano desta fonte reduz o seu Vigor. Especificar fonte.
alguns exemplos da fauna de Belregard, assim
como criaturas que poderiam ser utilizadas em Animais
seu jogo, além de antagonistas comuns, como Cavalo
guardas e bandidos. Lembre-se que um material Atributos: Agilidade 3, Força 6 (+2 Correr), Manejo 2, Percep-
básico pra isso está disponível gratuitamente ção 3, Resistência 5, Sobrevivência 3 (+2 Orientação), Outros 0.
em www.cronicasrpg.com.br, de modo que não Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/1/0/6.
repetiremos demasiadamente sobre estas coisas Ataque: Coice 2/6f.
por aqui. Virtudes: Grande (Tamanho), Movimento 6m e Orientação
Aprimorada.
Virtudes Restritas
Alfa Falcão
+1D em todos os Ataques, +1 na Defesa, Da- Atributos: Agilidade 4, Força 1, Manejo 3, Percepção 3 (+2 Ob-
nos e Vigor. Só pode haver um alfa num bando. servar), Resistência 3, Sobrevivência 3 (+2 Orientação), Outros 0.

357
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 4/2/0/2. Fauna e Flora Fantástica de
Ataques: Bicada ou Garras 3/4f. Belregard
Virtudes: Ataque Rasante, Investida Furiosa, Observar Apri- Caso o narrador decida utilizar a fauna e flora
morado, Visão Aguçada e Vôo 7m. fantástica de Belregard, presente nas castela-
nias, as regras seguem abaixo:
Gamo
Atributos: Agilidade 3, Força 4, Percepção 3 (+2 Ouvir), Mane-
Fauna
jo 2, Resistência 4, Sobrevivência 3, Outros 0.
Arctodus (Viha):
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/1/2/4.
Atributos: Agilidade 2, Força 7, Manejo 4,
Ataque: Chifrada 2/3f.
Percepção 3, Resistência 6, Sobrevivência 3 e
Virtude: Armadura Natural, Investida Furiosa e Movimento
Outros 0.
6m.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/1/3/6.
Ataque: Mordida ou Garra 5/7f.
Javali
Virtudes: Armadura Natural, Farejar, Grande
Atributos: Agilidade 2, Força 1 (+2 Correr), Furtividade 2, Ma-
(Tamanho) e Movimento 5m.
nejo 2, Percepção 3, Resistência 3, Sobrevivência 3 (+1 Forra-
Estratégia: O arctodus geralmente vive sozi-
gem), Outros 0.
nho, salvo em seus períodos de acasalamento e
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/2/1/2.
quando está cuidando de um filhote.
Ataque: Presas 2/2f.
Virtudes: Armadura Natural, Farejar, Investida Furiosa e Pe-
Argentavis (Parlouma):
queno (Tamanho).
Atributos: Agilidade 4, Força 3, Manejo 3,
Percepção 4, Resistência 3, Sobrevivência 3 e
Lobo
Outros 0.
Atributos: Agilidade 3, Força 1 (+2 Correr, +2 Saltar), Furtivi-
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 4/2/1/3.
dade 4, Manejo 3, Percepção 3 (+2 Ouvir), Resistência 3, Sobre-
Ataque: Bicada ou garras 5/4f.
vivência 3, Outros 0.
Virtudes: Armadura Natural, Ataque Rasante,
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/3/1/2.
Investida Furiosa, Observar Aprimorado, Visão
Ataque: Mordida 3/3f.
Aguçada e Vôo 14m.
Virtudes: Armadura Natural, Farejar, Movimento 5m e Peque-
Estratégia: Procura atacar os alvos distraídos
no (Tamanho).
e, quando pode, tenta suspender os mais leves
Urso no ar e lançar ao chão de uma boa altura.
Atributos: Agilidade 2, Força 6, Furtividade 2, Manejo 4, Per-
Besta Lisa (Birman):
cepção 2 (+2 Atenção), Resistência 5, Sobrevivência 4, Outros 0.
Atributos: Agilidade 2 (na água 4), Força 4,
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/1/2/6.
Furtividade 5, Manejo 3, Percepção 2, Resistên-
Ataques: Mordida ou Garra 4/6f.
cia 3, Sobrevivência 4 e Outros 0.
Virtude: Armadura Natural, Farejar, Grande (Tamanho) e Mo-
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2-4/1-
vimento 5m.
3(Água)/2/3.
Ataque: Mordida venenosa ou Constrição.
Mordida 2f + Veneno (quando atingido pela
mordida da besta, o personagem deve fazer um

358
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
teste de Fortitude (Resistência) Difícil -1S ou e de forma furtiva, saltando do mato alto e amarelado da beira
tomará 3 de ano sem absorção). Constrição 6f. das estradas. Suas presas rendem punhais obra-prima.
Virtudes: Armadura Natural e Prontidão.
Estratégia: A besta não tem pressa e aguarda Megatherium (Varning):
a hora certa de atacar. Atributos: Agilidade 2, Força 5, Manejo 2, Percepção 3, Resis-
tência 5 e Outros 0.
Ímpio Porcino (Latza): Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/1/3/5.
Atributos: Agilidade 3, Força 5, Manejo 3, Ataque: Garras 6f.
Percepção 2, Resistência 4, Sobrevivência 2 e Virtudes: Armadura Natural, Esmagador e Tamanho.
Outros 0. Fraquezas: Movimento 3m.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/2/2/4. Estratégia: A grande besta é pacífica e herbívora, evita conflito
Virtudes: Virtudes: Armadura Natural, Fare- na maior parte das vezes.
jar e Investida Furiosa.
Ataque: Presas 6f. Ossuda (Vlakir):

Estratégia: Os porcinos costumam caminhar Atributos: Agilidade 5, Força 4, Manejo 3, Percepção 4, Resis-

em bandos e sua tática costuma ser concentrar tência 3 e Outros 0.

os ataques, cabeçadas, em um único alvo. Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 5/2/2/3.


Ataque: Cabeçada 6f.
Lagarto que Cavalga (Varning): Virtudes: Armadura Natural (o valor corresponde ao corpo,
Atributos: Agilidade 3, Força 6, Furtividade 3, considere 5 para a cabeça), Investida Furiosa e Reflexos Afiados.
Manejo 4, Percepção 2, Resistência 6, Sobrevi- Estratégia: A ossuda procura tontear suas presas com cabeça-
vência 2 e Outros 0. das e, quando encontra barcos nos lagos, atinge os cascos para
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/1/5/6. afogar pescadores. Costumam viver em cardumes pequenos.
Ataque: Mordida 8f.
Virtudes: Armadura Natural e Movimento 6m. Quimera (Dalanor):
Estratégia: O lagarto costuma escondeu seu De todas as criaturas apresentadas na fauna fantástica, as qui-
real tamanho sob as águas do pântano, sur- meras são as que talvez tenham a natureza mais mágica de todos.
preendendo caçadores e predadores com sua ve- Desse modo, não existe uma quimera igual a outra. O narrador
locidade quando precisa correr. O lagarto pode deve soltar sua criatividade aqui. Pense em misturas ou em refle-
ser mais facilmente ferido em sua barriga, por xos degenerados de animais comuns.
isso prefere lutar na espreita.
Ursus Cani (Rastov):
Lâminis (Belghor): Atributos: Agilidade 4, Força 4, Inteligência 2, Manejo 3, Per-
Atributos: Agilidade 4, Força 4, Furtividade 2, cepção 3, Resistência 4, Sobrevivência 4 e Outros 0.
Manejo 3, Percepção 4, Resistência 4, Sobrevi- Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 4/2/2/4.
vência 3 e Outros 0. Ataque: Mordida 5f.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 4/1/3/4. Virtudes: Armadura Natural, Farejar, Fúria, Memória Olfativa,
Ataque: Presas 6f. Sentido Aguçado (Olfato).
Virtudes: Armadura Natural, Ataque Furtivo Fraquezas: Territorialista.
e Reflexos Rápidos. Estratégia: Os ursus canis vivem em matilhas pequenas, de
Estratégia: O lâminis costuma atacar sozinho cinco até dez indivíduos. Sua organização não é muito clara, já

359
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
que eles parecem dividir funções, inclusive a liderança, como que Quiesca (Varning): A utilização alquímica
utilizando o que cada um tem de melhor para o bem de todos. da quiesca ainda é algo experimental, mas al-
Quando atacam, utilizam táticas engenhosas e sofisticadas, com guns estudiosos, geralmente sigilosos com seus
emboscadas, ataques em conjuntos, ferimentos sobre ferimentos trabalhos (por receio de despertar a paranóia
e mesmo estratégias de fuga, com o sacrifício de um dos mem- religiosa), desenvolveram uma pasta que, ao ser
bros da alcatéia. esquentada, ativa os pontos luminosos, permi-
tindo uma luz tênue e fantasmagórica que ilu-
Flora mina pouco (raio de dois metros), mas evita os
Arbusteiros de Mori (Latza): No caso da ingestão das frutas, perigos do fogo.
pode-se utilizar as mesmas regras da Lótus Negra, mas no caso
do preparo do chá, o narrador pode considerar que aquele que Suplicante (Birman): A suplicante não gera
ingerir o preparo poderá emular o uso do dom Profecia por uma grandes regras especiais, mas encontrar uma é
cena. quase sempre sinônimo de encontrar água em
suas reservas nas raízes.

Bitürd (Rastov): A Bitürd não possui regras especiais, mas de-


vido a sua associação com o mal, poderia causar modificadores Theodora (Dalanor): Nenhuma regra em es-

sociais para intimidação. pecial, mas o doce da Theodora poderia facili-


tar relações sociais a critério do narrador.

Dhevora (Vlakir): Uma pessoa mordida pela planta deve fa-


zer um teste de Fortitude (Resistência) Difícil -1S. Em caso de Coadjuvantes:

sucesso, nada acontece; em caso de falha, o personagem vai sen- Apunhalador/Ladrão

tir coceiras naquela região ao longo do próximo dia e, depois de Reputação (Pária Adulto): Elã 3, Recursos 0,
Status 0.
24hrs, a área estará um pouco mais escura, denotando a necrose.
Atributos: Agilidade 3, Blefe 3 (+1 Disfarce),
Se não for tratada rapidamente, com um Tratar Ferimentos (Cura)
Força 3, Furtividade 4 (+1 Esgueirar), Ladina-
Difícil -1S em até um número de dias igual a Resistência do perso-
gem 3 (+1 Arrombamento), Manejo 3 (+1 Uma
nagem, ele pode precisar amputar aquele membro para impedir
mão) e Percepção 3 (+2 Observar).
que a necrose se espalhe.
Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/2/1*/2 *Ves-
te de couro.
Dragona (Parlouma): A seiva da dragona pode ser utilizada
Ataques: Punhal 4/2f.
para melhorar testes de Tratar Males (Cura), com bônus de me-
lhoria em +1D.
Caçador/Arqueiro
Lança de Dazbog(Viha): Ingerir o chá feito com os insumos Reputação (Guerreiro Adulto): Elã 3, Recursos
do cogumelo (segredo bem guardado das babas de Viha) leva a 2, Status 2.
pessoa a um estado de fúria, emulando a virtude Fúria por uma Atributos: Agilidade 3, Blefe 3, Conhecimento
cena, mas deixando-a exausta ao final da cena subsequente. 2 (+1 Arquearia), Força 3, Manejo 3, Percepção
2 (+1 Observar), Pontaria 4 (+1 Arco) e Sobrevi-
Lótus Negra (Belghor): Já descrita entre os venenos da Vir- vência 3 (+1 Orientação).
tude Veneno. Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/2/1*/2 *Ves-
te de couro.
Ataques: Arco longo 5/5f, Espada curta 3/4f.

360
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
b TOMO IV b
Guarda/Soldado Atributos: Blefe 3, Conhecimento 3 (+1 Religião), Cura 3 (+1
Reputação (Guerreiro Adulto): Elã 3, Recursos Tratar Males), Inteligência 3, Lábia 3, Liderança 3, Percepção 3
2, Status 2. (+1 Observar), Performance 2 (+2 Oratória) e Vontade 3 (+1 Con-
Atributos: Agilidade 3, Blefe 3, Cura 3, Força centração).
3, Lábia 3 (+1 Obter Rumores), Manejo 4, Per- Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 2/1/0*/2 *Veste sacerdotal.
cepção 3, Resistência 3 e Sobrevivência 3. Ataques: -

Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/2/1*/2 *Ves- Virtude: Ungido (Druida, Feiticeiro ou Padre).

te de couro.
Bárbaro/Selvagem
Ataques: Espada ou Lança 4/5f, Escudo 4/3f
Reputação (Pária Adulto): Elã 3, Recursos 0, Status 0.
(Def +1).
Atributos: Agilidade 3, Força 4, Furtividade 3 (+1 Esgueirar),
Manejo 3 (+1 Uma Mão), Percepção 3 (+1 Atenção), Pontaria 2
Sacerdote/Religioso (+1 Arremesso), Resistência 3 (+1 Fortitude) e Sobrevivência 3
Reputação (Sacerdote Adulto): Elã 2, Recur- (+1 Forragem).
sos 3, Status 3. Combate (In/Def/Ab/Vi): Físico 3/2/1*/3 *Veste de couro.
Ataque: Machado 4/6f.

361
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Galeria dos
Condenados

baixo estão os personagens criados pelos apoiadores do financiamento coletivo de


Belregard. Estes personagens são apresentados com um breve histórico e sugestões
de usos dentro de campanhas, com algumas ideias de ganchos e contextos. Agra-
decimentos aos apoiadores: Anônimo, Cesar Questor, Daniel Camara, Daniel Mendes, Felipe
José, Helio Rodrigues, Israel Vieira, Jhonatan Hirão, João Luiz, Leandro Santos, Nikolas Jorge,
Ofídio Nogueira, Ramon Mineiro, Rodrigo Heringer e Theo Ribeiro. Além disso, um agrade-
cimento especial ao pessoal do QCFAZ, que nos deu uma baita moral durante esse processo
de finalização material.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Fedro
Etnia: Pa rlo
Idade: 15 ano
s
Ocupação: A
judante
Provação: Lu
xúria
Histórico: Fe
dro fa z pa rte d
merciantes qu e uma fam ília
e trafegam p o de co-
tantes. Dess a r rota s qua se
maneira ele co co ns-
cidades, vária nhe ce alg uma
s v ila s e um g s
p essoa s. É um rande número
a cr ianç a de ap de
te e p ouco cha a rência ino cen
mat iva, norma -
não sab e o p o lmente. Porém
rque, at rai a at ,
homens e mulh enç ão de alg un
eres. Ajuda na s
vers a s do g ru s at iv id ades di-
p o, va riando d
de est ábulos à e sd e a limp ez a
comercializ aç ão
fáceis quando d e pro dutos. Seu
Fe dro est á p o pai, Pat riz zio,
p elo corp o hu r p er to .” Fe dro na sc diz que “a s ve
mano. Ele age eu com uma nda s fic am m
e p a re ce c a ra c te ais
Porém, na c ala ser uma cr ianç rí st ic a p e culia r:
da da s noites, a normal, ao men o desejo
alto, Fe dro sati nos luga res de os a maior pa rt
sfa z seu desejo sertos, nos ap e d o te mp o.
c a rnal. Fe dro sa osentos va zios,
idosos, to dos. tisfa z o desejo quando a se de
Sua luxúria pa c a rnal de outr fa la mais
adentrou em se re ce, muit a s ve os. Homens, m
u qua rto e se zes, ser insaci u lheres,
p ôs debaixo d ável. Desde aq
Pa ra mais uma e sua s cob er ta uela noite em
c ama. s. Ele anseia ir q u e su a tia
pa ra mais um
Ganchos: Fe d a ci dade.
ro p o de ter v is
ç ão que não p to o encontro d
o der ia v ir a pú e dua s p essoa
blico. Um c a so s imp ort antes
v iç al. Entre um amoroso entre da cidade em u
“prefeito” e um a mulher de um ma situa-
mais rico da s padre. Fe dro p h o m em
re dondez a s. O o de até mesm rico e um ser-
fam ília de com u do próprio. F o ser o amante
erciantes que le e d ro p o de ainda se d a m u lh er do homem
Fe dro teria um va, se cret amen r ap ena s um m
a (ou vária s) in te , mensagens en er o m em bro de uma
formações com tre uma v ila e
promete dora s outra. Em to do
pa ra outros e c a so,
talvez pa ra ele
mesmo.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Cesar
Etnia: Belgho
Idade: 45 anos
Impostos de Vlak ir
Ocupação: Cobrador de
Provação: Luxúria
a
notório va ss alo da sacr
Histórico: Cesa r é um r
mem acima de qualque
coroa de Vlak ir. Um ho
us papéis como cobra-
susp eit a que cumpre se
m iurgo. A populaç ão
dor de impostos do De
cobrador e sabe que
tem medo da fig ura do
o de inspe ção e
sua presença é sinônim
ap enas cobra os
julgamento. Cesa r não
sos que chegam
impostos, mas julga ca
espe cialmente os ma coisa. O
ao seu conhecimento, re sia , o qu e em Vl ak ir é quase sempre a mes
com traições e he em Ca rne,
que po dem ter relaç ão s e mu lhe re s qu e se rv iram ao verdadeiro Deus
hagem de homen A verdade é que Cesa r m
anipula
cobrador vem de uma lin de se us an tep as sa do s.
a fibra, ou loucura, e era imaginado. Conside
ra que
mas não possui a mesm o mu ito m en os do qu
relatórios e mandand dos céus, não precisa ria
do
os impostos, falsific ando e m es m o um en via do
e que o Dem iurgo foss eles que demonstram bo
ns
a cobrança é um roub o ro no be ne fíc io da qu
sim, Cesa r ut iliz a seu ou
ouro pa ra se justifica r. As
ide ais.
de co ns pir ad or de nt ro de Vlak ir, sendo o líder
ser us ado como um gran
Ganchos: Cesa r po de
nt ra o Deus Rei.
se creto de um levante co

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Ermitão
Etnia: Belgho
Idade: Adulto, ap es ar de
sua aparência
ar ruinada.
Ocupação: Bibliotec ário
(antigamente).
Provação: Ira

Histórico: Ra ramente o
Er mitão fala
sobre seu pa ssado, ma s aq
ueles que con-
seguiram alg uma int im ida
de já ouviram
de sua bo ca que ele na sc
eu em uma fa-
mília simples, de fazende
iros e ter ia sido
batiz ado com o estranho
nome de Noult
Qudte é. Diz que aprendeu
a ler e escrever
sozinho, ap enas observan
do o cobrador
de impostos e seus de cre
tos. O Er mitão às
vezes fala sobre o quanto
deve a uma mu-
lher da nobreza de Melec
hit - ele a chama
ap enas de “duquesa”- e
de como ela abriu pa ra ele
que o velho diz, po de ac ab as porta s do saber. Se vo cê
ar convencido de que ele acredita r em tudo
do Tribunal do Supremo Of realmente já foi professor
ício. Não esconde de ningu e filósofo a serv iço
também treva. Alguns me ém que foi o saber que lhe
mbros do Tribunal po dem trouxe luz, ma s
este jovem promissor está falar sobre um estudioso,
morto, enter rado. Essa es ma s pa ra todos eles
tido a vida de Noult po de tranha fig ura que vaga pe
ser outra coisa qualquer. Ce los ermos e diz ter
rtamente alg uém que deve
ser ev itado.
Gancho: Alde ões, fazende
iros e caçadores têm relata
luz constante e fantasmagó do nos últ imos anos o av ist
ric a nos lim ites da ter ra civ amento de uma
relatados em bárbaros cri iliz ada. Av ist amentos seme
mes envolvendo expe diçõe lhantes têm sido
de liv ros antigos têm sid s a loc ais da antig uidade.
o encontrados mortos, se Alguns mercadores
br uxule ante na s noites ma mpre na noite que o lam
is enevoada s. Um antigo liv pião br ilha de for ma
seguinte, o bibliotec ário se ro sumiu da bibliotec a de
jogou de uma da s tor res do Malik II, e na noite
os própr ios olhos antes de ca stelo. Dizem que o biblio
cometer o suicídio, ma s iss tec ário ar rancou
de estudiosos, patro cinad o obviamente deve ser bo
os por alg uns nobres de ata ria. Um gr up o
lim ites dos ermos de Belgh Melechit, encontrou antiq
or. Eles envia ram um mens uíssimas ruína s nos
patronos, ma s, quando um ageiro pa ra cont ar a desco
a comitiva chegou ao loc berta pa ra seus
de comp osição dos estudios al da s ruína s, encontraram
os e seus ajudantes. To dos as ca rcaça s já em
atada s. Isso com certeza pendurados pelos tor noze
deve ser histór ia pa ra am los e com as mãos
mora naqueles ermos. edrontar nossa s criança s,
ninguém com juízo

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


“Victor”
ut u
Etnia: Ab ida
esconhe c
Idade: D ho
o: A nda r il
Ocupaçã
: Ava rez a
Provação if ic a como Vic
-
se id e n t
r i c o : O abut u que p elos seus
pais
Histó m e a d o
foi no um
r c e r t a m ente não n h a p a s s ado p or
to z ele t e u-
e s s a f o r ma; t alve o s d it a m es do Tr ib
d t ro d -
t a rdio den nome cr ia
bat iz ado um id o u m
tenha a ss s p o dem
nal e a ssim a lg u n s s usp eitoso ue
u, como homem q
dor ist a, o op r im e ir o
v ila s
o nome d r rega com
o cidades e
ap ont a r, é a in d a c a i v is to e m -
it o a b u t u matou e ic to r é u ma fi- d e B e lr e g a rd. Já fo f lo r e s t a s de Dala
o mald r ia. V t rais b ela s
a n ç a , c o mo memó a p e la s ter ra s cen r n in g e m esmo na s c ô m o d o s, descon-
lembr am inh de Va a s, in
m is t e r io s a que c a n t e s e pânt anos m a c a u s a r problem a s p essoa s d
evem
g ura s m e r c a c o s t u r e q u e
casa resenç Cr iado
ma, ent re que sua p sinais do
de Pa rlou m p o , já v is õ e s e o.
u n c a f ic a muito te A le g a q u e re ceb e
ju d a v ir á do pa raís s
nor. N id a des lo c ais
.
u e n enhuma a v il a s e aldeia
a u to r p o r q a n a s
for tos da s re dor esenç m
r a o m u n do ao seu r d e t e n s ão. Sua pr d o m u n do e p o de
atent a r pa erado dades plesmente
u s a d o c omo um g f a la r s o bre a s ver ie d a d e s im
o de ser do ele com
eça a v isto p ela
so c
p er igo v in
-
n c h o s : Vic tor p r to q u a n u it o b e m a le r t a d e
G a confo não é m o um lo c al.
t a m e n t e c aus a des a a o a b u t u, que já r p o d e s urgir com t r ig a p olít ic a
cer a c a ç a d ar te . V ic to
ro de u m a in
o gera r um qual fa z p ores dent
até mesm a ro p o v o d o o s p e c a d
er ioso e r rdadeir
p elo m ist t e a c u s a ndo os ve
en
simplesm
douro ou

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


u r a e C i c l o p e,
Filipa, a P
a Escuridão.
Etnia: Pa rlo
os
Idade: 18 an
nda rilha
Ocupação: A
xúria
Provação: Lu
e mau
N a sc id o so b aug úrios d
Histórico: e oriun-
ja d o p o r su a deform idad
re ome foi
agouro, ap e d a sc imento: Seu n
a d e d o n
da da dificuld a m ap ena s de C
iclop e.
ch a m av
esque cido, o ro s do condado d
e L e-
el o s im p u
Odiado até p se u ódio p or tudo
que
c re sc ia e
fev re, sua ira q u e conhe ceu F
ilipa,
ta v a . A té
é v ivo aumen a g av a p ela s mata s
de
rl a q u e v
uma linda Pa im p ortou com a
pre-
anava
u e n ã o se lu z div ina em
Dalanor, e q n to u a ss u st á -l a,
sua apa rê n ci a . U m a
p e. De início te p ort ava com uma encomen
da em
senç a de Ciclo g a e n ã o se im
ada na p o rt a co m o
que ela era ce sp eit ado. Deix aura que a blo
queia
ma s p erceb eu a v e z el e fo i re ip a te m u m a
e p ela primeir s fiéis, Fil ue p ou-
daquela jovem le c, m a s b e m quista p elo re g a rd co m a esp eranç a q
g uidores de A ajudou a en xe
rga r Bel
convento de se fa lt a d e v is ã o
o mundo. Sua
dos p e c ados d to dos.
v ia m . m co ra ç ã o , tenta ajuda r a
cos seu b o s. Ma s
a ch e g a e m um luga r, p or s co ra çõ e s dos descrente
ip o
da vez que Fil o Criador e ac
almando
mp o na prese
nç a de
Ganchos: To o a p a la v ra d is d e c e rt o te
rmos, pregan
d m. Dep o puro é o
Curando enfe in co m o d a o s que a ro deia v e m m o st ra sse o quão im
e z a da jo expul-
tão g rande qu como se a pure eit a r e ac abam
sua purez a é v e m à to n a . É ri a m co m o a c
rios p e c ados os não te ando seu
Filipa, os próp n tr a st e q u e os mais afetad lo c a l p el a m ata, só observ
essoa s. Um co ronda o e Ciclop e
coraç ão da s p e v ê tu d o d a s sombra s. Ele n o lo c a l, m a ior é a fúria d
o lo c al. Ciclop é mal quista e
ag re dida
c a olha pra trá
s e nunc a
sando Filipa d m a is F il ip a a . F il ip a n u n
nç ão. Quanto puder até saci
a r sua ir ta b em e
objeto de re de a ta o q u a n to lg u m lu g a r, p or isso o tra
do o luga r e m a sai de a chamados de
“A lu z e
que dest rói to C ic lo p e fa z dep ois que el m . A ss im sã o
o cidades que m a jove m de a rrep en
dimento
soub e da s atr o el e e st á d e mau humor co iv e n te s e m to
mesmo quand os sobrev
com resp eito a ç a d a s d it a s p elos lábios d
A lma s entrel
a E scuridão”. a jo v e m tão ilum inada
.
to à q u el
p elo tratamen

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Machad
us
Etnia:
L ato
Idade:
35 anos
Ocupa
ção: P r
Provaç ofess an
ão: Gu te (orad
la (verd or profa
ade) no)
Histór
ico: M
t a cur i achadu
osidade s na sc
ce do se e vo c a eu com
enc anto ç ão rel mui-
cor to d u p elos igios a,
a s a s li r it uais desde
m ília n t ania s. e s abia
ão t inh Infeliz m de
env iá-lo a dinhe ente su
iro sufi a fa-
como e ciente
ent ão q st udant p a ra
ue Dr is e do Tr
resolve t an, o ibunal.
u ensin padre d F oi
queno. a r a s pr o v ila re
A facili imeira s jo,
impress dade co let ra s a
ionou o m que o p e-
apresen s acerdo ele apr
t a r o jo te, que e ndeu
padre e vem no env iou
veio a s t ável. S uma c a
e apai x ua t raje r t a ao b
Böv ra r o n t ó r i a r e isp o no
II. Com a r p or L o ligios a int uito
ig reja e e l a apren u ise, um f o i rápida e de ma rc
fez da r deu alé a D a l a b e m a r uma
membr a z ão a m do am na que suce did ent rev is
os da c sua nov or c ana f r e quent a até que ta e
a s a a f é . Ju l , a s e m av a u m f o i o r denado
incer to da lu z e ntos p e ente de a casa d
. A s últ reunind reg r ina to do b e a lu z, h
ima s no o tomos d r a m p or mu m , a dúv i e r a nç a de
t ícia s in e to da s it a s cid da. Aba
Ganch dic am q a s esp écie a d e s de Be n d onou a
os: Ma ue seg u s. O qu lrega rd
mado d chadus em v iag e , v
e “o a r é conhe e m sepa el es prete i s it ando
nome e diloso” cido p o rados. ndem c
st á ma r . I sto já t r s ua c apa o m isso é
mantém c ado co rouxe m cidade
um disf m o profa u i t o s proble d e p er suad
pa r te d a rce de no t raid ma s pa ir, e en
a obra. mendic o r na list a r a ele e aq t re seus
Dizem ante lu neg ra d ueles q am igos
r ima e que a p nát ico o t r ibun ue o dã é cha-
mét r ic a a r e n q u a l d o o u
em brev . Ning ué t e de L ou a nto re c o s anto o v idos. Se
e irão s m s ab e ise est á olhe in f ício. D u
como: “ e re encon a o cer to q f i naliz ad f o r m a ç ev i d o
t ra r e p ue disfa a, re ceb õ es pa ra a isto
Os olho ublic a r rce ela endo ap finaliz a
s de Bö est a ob u t iliz a em ena s ac r a sua
v ra r II” ra a dua abamen
ou “A v s sua s v ia t o
is ão de m ãos. Ru g ens, ma s em
Deus”. mores i s é s abi
ndic am do que
que ser
á bat iz a
do

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Vigo
Etnia: Brado
Idade: 35 anos
Pert ur bado
Ocupação: Vigia
a
Provação: Avarez
l den-
: V ig o ve io de fam ília tradiciona
Históri co que
ad en , m as é im port ante pens ar no
tro de Br eé
tr ad ic io na l de nt ro de um povo qu
po de ser -
o de m is tu ra de to dos os outros, de
o result ad -
a pr ot eç ão da fr onteira cont ra a an
dicados igo não
ghor? O próprio V
tes corrompida Bel tuaç ão
Diante da at ual si
sabe a resp osta. ar ra
Braden, Vigo se ag
de guer ra civil de er reiro
de de se u le ga do fam iliar. Seus
ha do Le ão , te rr as esta s que o gu
ao que po e da Mural je aban-
uí am al gu m as te rras na pa rte nort de vigi ar di a e no ite a muralha - ho
pais poss fa z questão rás. Vigo
cu id a co m un ha s e dentes. A inda ra B el gh or te rm inou há séculos at
herdou e a guer ra cont ente des-
e se m um us o espe cífico - já que u pa i pa ra nó ic o que o fez plenam
donada cerebral de se povo dito escolhid
o guarda
ai s é qu e o re su lt ado da lavagem ac re di ta qu e es te
nada m verum. Ele
de be lg ho s e, es pe cialmente, dos
confiado de si.
ão sombr ia dent ro eles que
ainda uma po dr id de es ta r no cam inho daqu
rr as e po
e de suas te lidar com
os : V ig o é um vigilante constant e ve ru ns te rã o m aior dificuldade de
Ganch en. Belghos ss alagem
pa ss ar pa ra B elghor ou pa ra Brad s ba rõ es , m as ce rt amente deve va
deseja m na guer ra do o soldado
re iro ve te ra do . El e não se m istura . Ta lv ez a pr óp ri a Sombra alimente
o guer er momento
qu e po de cobrar a qualqu anos.
a algu m de le s,
lia ce ga se m an tenha por longos
que sua vigí
pert ur bado, pa ra

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Hirao
Etnia: Dalano
Idade: Adulto,
21 anos
Ocupação: Co
nselheiro de um
Provação: Inve a nobre fam ília
ja Dalana.

Histórico: Hir
ao não gost a d
passado, mas e fala r sobre o
é sabido que ve seu
lia p obre que m de uma fam
conseg uiu, p o í-
at rás, um ca rg uca s gerações
o de confiança
lões da nobreza dentro dos sa-
. Hirao seg uiu
pai, como conse os passos do
lheiro dos Blan
firme como um ches e seg ue
das p essoas de
fiança dentro maior con-
da fam ília. Poss
conhe cimento ui um b om
das leis e do co
do aquele que m ércio, sen-
cuida até mesm
um p ouco de ve o das nego ciações
rgonha de suas mercantis com
o cerc am dentr origens hum ild p etentes da ca
o da riquez a. C es e isso ac aba sa nobre. Guar
omo sab e que gerando inveja da
conde, duque, nu n ca p o derá assum ir d a v id a d aq u el es que
volt a e meia sa
momento de in b ota seus próp ele mesmo o p
st abilidade quan ri o s p la nos para tra zer ap el d e barão,
do se regozija se uma ruína para
ndo o único ca a fam ília, um
Ganchos: Hirao pa z de tirá-los
p o de ser um co dali.
ve, em longo p ntrat ante com
ra zo, a ruína d um b om serv iç
nobre ou mesm a fam ília Blanch o que pre cisa d
o de um g rup o e. Po de se colo e discr iç ão e en
d ca r co n tr vol-
em questão. E e comércio p or n a os esforços de
se as maquinaç ão atender aos seu o u tr a ca sa
manter seus pri ões de Hirao fo s interesses naq
v ilégios? Talvez re m d es masca radas? A u el e m o mento
do o agente p o ele já faça a fam té que p onto el
r trás dos pano íl ia d e refém, mante e p o d e ir para
s ap enas para aq ndo ameaça s co
ueles que obse nst antes, sen-
rvam de fora.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Cecile
Etnia: Varna
Idade: 28 anos
Ocupação: Artista Profana
Provação: Gula (Bebida)

Histórico: Cecile fez cert a vaga junto de companh


ias de artis-
tas pelo leste de Belregard, mas em um destes show
s para a nobre-
za local de Braden, na morada de um dos barõ
es envolvidos
na guer ra civil, a poetisa de dramas e desg raça
s desco-
briu que o chefe de sua caravana a havia vendido
para o
lorde local; uma noite de prazer por algumas
moe das.
Sofr ida a moléstia, Cecile inchou o corp o do cont
ratan-
te com vinho e abandonou a vida itinerante, pass
ando a
viver numa pequena vila de Braden, mas onde
não teve
muit a paz. Com a chegada de alguns refugiados,
fugidos de um monastério atac ado pelo próprio
Tribunal, Cecile se viu envolvida em uma tram
a profana e um acordo direto com a própria Som
Viva. Hoje ela vaga com alguns miseráveis, em bra
posse do Evangelho do Cão, disp osta a espalhar
palavra do pecado e da corr upção como uma a
plena salvação para as alma s dos homens.
Ganchos: Cecile carrega consigo um antigo
manuscr ito capa z de invo car um Lupus Umb
uma manifest ação da própria Sombra Viva. Uma ra,
imensa best a lupina, um cão negro de pura tre-
va e olhos ama relos que encanta e enfeitiça aque
les que o enca ram, dando a chance de aceitar
pecado ou perder a vida na mandíbula da fera. o
Cecile espalha o louvor da Sombra com um sorr
sardônico em seu belo rosto. iso

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Santosis
Etnia: Vih
Idade: 33 anos
sacre dit ado
Ocupação: Cavaleiro de
Provação: Ira
a
ór ic o: A inf ân cia do vihs foi marcada por um
Hist -
a, já qu e er a fil ho de um relacionamento inces
manch sta r-
ento, tornando-o um ba
tuoso e fora do ca sam ão
es ar do amor e de dic aç
do em sua morada. Ap a
na s tradições antigas,
do pai, que ensinou-o
adra sta fez com que
sombra rancoros a da m
o um cam inho seu.
Santosis procurasse log
nsou ter encont ra-
Cam inho este que ele pe
alg uns cavaleiros
do quando juntou-se a
por deixa r o jo- mbra Viva tinha
merc antes que ac abaram um tem po , tre ina ram, lut aram, mas a So
Viaja ram po r alg sobrev ivente,
vem se junta r ao bando. om ete u a co m pa nh ia e Santosis, como único
nha praga ac r
outros planos. Uma estra dit an do qu e o m elh or cam inho seria se volta
re
o alg uma maldição. Ac as nos salões da
foi acus ado de ter tra zid ra s, o so lda do pa ssou pelas demais Chag
dic ar às bo as ob e
pa ra Deus e assim se de Es pír ito ao ve r o po de r da Sombra na do ença
do
experimentado a Chaga pulso cumpr in-
igreja. Santosis já havia s ho rre nd os e a Ch aga do Ego quando foi ex
rp o em serv iço homem ainda
na mor te, a Chaga do Co ain da nã o en ten de , mas ele é um Arauto. Um
nado. Sant os is , desterrado.
do aquilo que lhe foi orde m o; no va m en te o jovem perdido sem ca sa
encont ra r o ru
perdido, ainda tentando
as co nv icç õe s an ter ior es, ofere cendo seus ser-
vive desacre dit ado de su os cavaleiros mer-
Ganchos: Santosis hoje e po de bu sc ar ainda um cont ato com
aio r. El s
viços a caus as que vis am
o bem m
e ac on te cid o. E a su a fam ília? Talvez os irmão
dem ainda culpá-lo do qu dizer suas últ imas palav
ra s
cantes de outrora que po z a m ad ra sta qu eir a
sse em encont rá-lo. Talve que era de fato uma irm
ã,
de Santosis tenham intere ? Qu em ela er a? Se rá
quanto a mãe do soldado s tenha prefer ido assum
ir
antes a do ença a leve. E se ja pio r e o pa i do vih
osis? Ou talvez a história
pr ima, tia, do pai de Sant
tro?
um filho ba sta rdo de ou

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Aedan
Etnia: Belgho
Idade: 36 anos
Ocupação: Nobre opressor
, perseguido por crimes do
sado. pa s-
Provação: Luxúria, não no
sentido físico, ma s no
sentido de gosta r de ex ibir tud
o que ele conquistou
vindo do nada.

Histórico: Quando criança,


Ae dan viv ia
ma rginaliz ado nos arredore
s de Pa rméquia,
a fam ília religiosa não era “c
ega” e, por ve-
zes, levantava quest ionamen
tos em relação
a igreja. Na adolescência, Ae
dan veio a sab er
que sua fam ília detinha um art
efato desejado
pelo Tribunal, e o jovem de
latou seus pa res
sem imagina r que eles ser iam
exe cutados como traidores/br
remorso remoendo por dentr uxos. Sem escolha, mesmo
o, come çou a trabalha r pa ra com o
Ae dan é ma rcada pelo treina os agentes do Tribunal. A juv
mento como guerreiro e rel entude de
ainda for tes dentro dele. Seu igioso, os quest ionamentos
papel se concret iza como um da fam ília
Ha skelita s, buscando artefa a esp écie de batedor pa ra a
tos ou pessoas de interesse Ordem dos
quando surge a op ort unidade pa ra a fé. Sua verdadeira fun
de coloc ar o agora homem de ção se mostra
com uma fam ília de baixa no 36 anos em um ca samento arr
breza de Pa rlouma, o que de anjado
ter ras, próximas de Pa rméq sfavorece um desafeto da igr
uia, Ae dan mostra-se um sen eja. Em sua s
hor cruel e caprichoso.
Ganchos: Ae dan po de ter pre
ser vado um tomo ou outro art
Ae dan e seus homens elim ina efato da igreja. A igreja po de
r um bando de degenerados mandar
esses degenerados, na verda em loc alidade próximas de
de, são ap enas pessoas que sua s ter ras,
dade dos que vivem nos domí ver baliz aram contra a igreja
nios de Ae dan é crescente, . A infelici-
da s ter ras est ar guardando isso faz com que boatos sob
artefatos profanos sejam cre re o senhor
cultista da Sombra? A esp osa scentes. Estar ia o conde tor
de Ae dan, via ca samento arr nando-se um
da propriedade do nobre. Há anjado, é mantida prisioneira
boatos de que um antigo pre dentro
pe queno grupo armado, mo tendente da jovem, acompan
nta ram acampamento na div hado de um
isa da cidadela mais próxima.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Ofídico
Etnia: Igslavo
Idade: 45 anos Na ra sh
vo da s margens do lago
Ocupação: Sábio do po
Provação: Inveja
que hoje se int itula
Histórico: O homem
b augúrios m ister io-
como Of ídico na sceu so
, a cr iança na sceu
sos. Numa noite sem lua
e desesp ero. O
no silêncio, sem choro
ãe foi calmo, mas
trabalho de pa rto da m
e a cr iança inspi-
ceifou sua vida assim qu
rna curta colo cou
rou o pr imeiro ar. Sua pe
os guer reiros da-
fora do treinamento entre
perm itiu que se de- to ao cair num fosso de
serp entes
quela tribo igslava, mas co re ce be u se u ep íte
s dos sábios. Of ídi ão com as cobras marco
u sua vida
dic asse aos ensinamento to sa iu ile so e su a rel aç
inver no: o ga ro que alega
que desp er tava depois do rp en te s so b a Pa níc ie de Ig fa scinam o sábio
da s gigantesc as se
desde então. As lenda s
.
re ceber mensagens delas os de Belre-
ex to de um jog o qu e abrace os povos bárbar
ito út il no cont ídico po de
Ganchos: Of ídico é mu os lut an do pe la so br ev ivência na s planícies. Of
clã s vihs e igslav . O sábio alega ser capa
z de ler o
ga rd, com membros dos as vis õe s e pr es sá gi os
incluem m ister ios sobre segredos do pa ss
ado, uma
re aliza r demanda s que le ve lha , de tro ca , fa la
s cobras. Uma pe pelo sábio po de ser ca
pa z de da r
futuro at ravés da pele da as es ca m as se nt ida s
to cada e tenha su caliz aç ão da pele de um
a da s imen-
serp ente viva que seja ba , em um a vis ão , a lo
lvez Of ídico re ce Uma pele que certamen
te contém
sinais sobre o futuro. Ta su pe rfí cie da pla níc ie.
avam abaixo da
sa s serp entes que espreit
.
segredos muito antigos

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Faraj
Etnia: Ver um
Idade: 60 ano
s
Ocupação: M
endic ante Desg
Provação: Lu a rrado
xúria
Histórico: Fa
raj é um fanát
originalmente ico religioso q
, da s fileira s d ue veio,
ale cismo do Tr os mendic ante
ibunal. Em su s do
radic al, lidero a v is ão devota
u uma coluna da e
saiu do contro de p enitentes
le, transforma que
dores e est up ndo fiéis em sa
radores, onde q ue a-
se dei xou leva o próprio relig
r. P ro curando ioso
dep ois do acon uma purific aç ão
te cido, isolou-s anos
Braden, onde e numa p e quen
um p e queno p a v ila de
Fa raj ab ordou alco de horrore
um g rup o de s se a rmou.
est avam fugin refugiados na
do de um most e st rada, que ac
eiro em cham ab ou se revela
Sombra, o Eva a s e junto dela s, ndo serem p e
ngelho do Cão h av ia ssoa s que
b est a que ac ab . U m a conhe cida do u m tex to herét ico em
ou sendo tra zi padre, Ce cile, louvor à
Fa raj, quando da ao v ila rejo dei xou-se leva
enc a rou os olh p ela leit ura do r p ela se duç ão d
raiz de seu p e os ama relos do manuscrito, en a
c ado, c a st rand c ão neg ro, de ci q u a n to q u e o
o-se com uma diu não entreg p róprio
fac a. a r serv idão a el
Ganchos: Fa ra e, ma s a
j vaga p elos er
ra st ro de Ce ci mos de Braden
le e do tex to h , de ba ronato em
pa ssou p or to erét ico. Talvez ba ronato, talvez
da s a s ma rc a s ag o ra ex ista algo pro curando alg
do Criador. A in de div ino no h um
ainda p o de dei da que sua co omem, que ve
xa r um legado rr up ç ão seja g rd ad eira
puro pa ra a s b rande, interna
oa s obra s do P m en te , ele
ai.

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Nikolai
Etnia: Igslavo
Idade: Adulto, 30 anos
Ocupação: Ferreiro
Provação: Ira
sta rdo, cr iado
Histórico: Um filho ba
de idade, encon-
ap enas até os dez anos
o ao se tornar
trou seu rumo no mund
cal, um velho sá-
aprendiz do ferreiro lo
Nikolai, não negando
bio da s tradições do aço. en-
sa ng ue an ce str al, de dicou boa pa rte da juv
seu deira,
ao s es po rte s fís ico s, disputa s, br iga s e bebe
tude sozi-
er a de dic ad o ao tra ba lho e forjou uma espada
mas sim como
ain da mu ito no vo , pa ra treina r escondido. As a ira , sempre sendo repre endid
o
nho ia ta m bé m a su
crescia com o aço, cresc ado do jovem. O ápice de
a habilidade de Nikolai en to im pe tu os o e ex ag er
saprovava o comportam i repre endido pelo mes
tre
pelo seu mestre, que de fe rro pa ra o tra ba lho , fo
ando, esquentando um vista s vermelhas e, com
o
sua raiva se formou qu . Ni ko lai fic ou co m as
de um serv iço at ra sado nte e Nikolai certamen
te se
ferreiro que o cobrava i tra ta do co m o ac ide
u o ferreiro. O cr ime fo ndo a culpa consciente
de
espeto fumegante, mato da s as liç õe s e ca rre ga
nc a tendo aprendido to
remói do aconte cido, nu
dent ro de si.
que vive com um inim igo mo
te s pa ra dis sip ar a ira . Ele tem habilidade co
s que ele mat a viajan
Ganchos: Ex istem boato urado por diver sa s pess
oa s.
z co m qu e ele seja pr oc
ferreiro, o que fa

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Nicole
Etnia: Dalana
Idade: Adult a, 22 anos
eira
Ocupação: Ourives/Joalh
Provação: Inveja
deu o of ício da ourive-
Histórico: Nicole apren
is de ter pa ss ado por um
sa ria com seu avô depo
u seu rosto. A menina
acidente que desfiguro
rmado em uma fig u-
alegre havia se transfo
a, desconfiada. Pa ra
ra int rovertida, re ce os
menina, Nicole tinha
piora r o psicológico da
a um espelho e um
uma irmã gêmea, que er
que ela nunc a mais cuidados. Numa
eterno lembrete daquilo m en to , ap en as su a irmã re cebia atenç ão e
r um bom ca sa pa rte do rosto,
po deria ser. Na busc a po pa ra si um a m ás ca ra dourada, que cobr ia
a chaga, forjo u o of ício, fa zendo
tentativa de m itigar su or te do av ô, fo i Ni cole quem seguiu com
. Depois da m sta da posiç ão
escondendo as cic at rizes ate r so br e a fa m ília . Hoje em dia Nicole go
r a ruína se ab de ress alt ar sua
o possível pa ra não deixa m ãe e su a irm ã, se mpre fa zendo questão
a oprim ir su a
que alc ançou, chegando m es mo cont ra riando to da s
as expe ct at iva s.
ad e dia nt e delas ,
posiç ão de superiorid
la irm ã, m as um am or que ela dificilmente en-
pe
cole esconde um amor pressionante com o ouro
,
Ganchos: A inveja de Ni to ve rd ad eir am en te im
em ourives tem um talen mom.
tenderá ou aceit ará. A jov m alg um pa cto ou benç ão profana, de Mam
manifesta r co
o que po de facilmente se

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Lista de
Apoiadores
Aaron Yuri Bruno Della Ripa Rodrigues Assis
Abidjan Areaba Corrêa Bruno Salim Chaluppe Soares
Adalberto Marinho da Silva Júnior Bruno Vassalo da Silva
Albert Moia Caíke Gama Machado
Alberto Massoco Ticianelli Caio Fittipaldi Kenup
Alex luis ferrari Carlos Victor Gonçalves Moura
Alexander Ischaber Xavier Carlos Vloet
Alexander Ischaber Xavier Cesar Questor
Alexandre Campos Cezar Capacle
Alexandre Straube Claudio Duarte
Alexsandro Teixeira Cuenca Cristiano Alexandre Moretti
Ana Karolina Novaes Cristiano Cristo
Anderson da Silva Souza Daniel Camara
Angélica Neves de Souza Daniel Marcos Martins
Anna Carolina Beja Daniel Mendes Corrêa Victor
Antônio Schmidt Fiorot Danilo Campos
Azecos Davi Bretas
Bernardo Vianna Davi Campino
Berto Souza Davi Nascimento
Bruna Nora Davi Pontes da Silva
Brunna Fernanda F. B. da Cruz Délio Monteiro de Souza

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Demian Machado Walendorff Flávio Martins de Araújo
Diego Bassinello Flavio Nigro Rodrigues
Diego Bernard Francis Diego Duarte Almeida
Diogo Nogueira Frederico Luciano B C Mota
Douglas Almeida Frederico Meyer Fardo
Douglas Edson Fernandes Gabriel Amaral Passos
Douglas Estevez Gabriel Cebrián
Douglas Figueiredo Gabriel Dudena de Faria
Dungeonist Gabriel Fonseca Ribeiro
Edney ‘InterNey’ Souza Gabriel Soares
Eduardo Avelino da Silva Gabriel Velloso
Eduardo Barreto Gene Cavalcante
Eduardo Delabari Maracci Gentle Ogre
Eduardo Henrique Fernandes Rosa Geovane Passos Ribeiro
Eduardo Vieira Gil Me Desenha!
Enzo Vignati Gilberto M. F. Jhunior
Evaldo Figueredo da Silva Gilvan José Gouvea
Fábio Bordini Goodend
Fabio Cesar de Carvalho Guilherme Endler
Felipe Barreto Gustavo Barcelos Plá
Felipe Carim Caldas Gustavo Bocardi
Felipe dos Santos Gustavo da Rocha Pereira
Felipe Gomes Rosa da Silva Gustavo de Souza Matoso
Felipe José Rodrigues da Silva Gustavo Oliveira Lemos
Felipe Malandrin Gustavo Sales
Felipe Norberto Gustavo Tironi Malek
Fellipe Denser leite da Silva Heitor De Almeida Francisco
Fernanda de Assis Maria Heitor Santos
Fernando Spina Tensini Helio Horacio G. de Alcantara
Filipe Gomes Sena Helio Ricardo de S. Brandão Junior

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Helio Rodrigues Machado Neto Lucas Danez
Ícaro Argenta Malheiros Lucas Ollyver Gonçalves Barbosa
Igor Henrique Moura Lucas Takeo Riuzim
Igor Vieira Chacon Lucas Ximenes Araújo
Ilca Stelmokas Luciano Paulo Giehl
Israel vieira da Silva Luis Fernando dos Santos
Italo Henrique Silvestre Luis Oliveira
Iuri Gelbi Silva Londe Luiz Claudio de Oliveira Gonçalves
Jhonatan Hirão de Godoy Luiz Eduardo Ricon de Freitas
João Batista Lopes da Silva Luiz Fernando R. Dias Macedo
João Luiz S. B. Luiz Henrique Oliveira
João Paulo Marinho S. de Almeida Luiz Paulo Tavares Monteiro
João Pedro Marques Marcelo Lacerda de Góes Telles
João Victor Burgos Fernandes Marcio Gama
João Zeigler Marcio Moreira Guimarães
Jonas Matheus Sardena Peres Marcus Andrade
Jorge dos Santos Valpaços Marcus Vinicius M. do Nascimento
José Rafael Capella da Silva Mateus Eustáquio de Oliveira
Jovaine Varella de Freitas Matheus de Avila Pereira
Kherian Gracher Matheus Fernandes
Kleverson Carvalho Matheus Ulisses Xenofonte
Leandro dos Santos Pedroso Mauricio Alexandre
Leandro Santos Felix Michael Cebalos R. dos Santos
Leandro Souza Mickael Borges Pereira Gomes
Leandro Zerbinatti de Oliveira Murilo Timoteo
Leonardo Machado Almeida Nicolas Bohnenberger
Leonardo Malheiro Nikolas Jorge Santiago Carneiro
Livia von Sucro Octavio Cesar Antezana Morales
Lucas André Borges Hlavac Ofidio Nogueira
Lucas Chrisostimo Farah Pablo Machado de Azeredo

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Pablo Rodrigues Lopes Renato Yugiro Saiki
Paulo Henrique Reynaldo Cruz Barochelo Junior
Paulo Henrique Vieira da Paixão Rita de Cássia Freitas Portugal
Paulo Ramon Nogueira de Freitas Rodolfo Vieira Maximiano
PC Suarez Rodrigo Carlos Silva de Lima
Pedro Henrique Chaves Maia Rodrigo Heringer Carmo
Pedro Henrique Pires F. Coimbra Rodrigo Lopes Azeredo
Pedro Lyra Matoso
Rodrigo Martins de A. Fernandes
Pedro Medeiros
Rogério Rodrigues Vilas Boas
Pedro Oliveira Obliziner
Romário Oliveira de Vasconcelos
Pedro Xavier Borges
Romullo Assis dos Santos
Perdiga
Ronald Oliveira
Pietro Barboza Von Doellinger Bvd
Rubens Mateus Padoveze
Rafael Alexander
Salomão dos Santos Soares
Rafael Andrade Cavalaro
Stéfano Fara
Rafael Brandão
Stefano Pelletti
Rafael Delgado Sanches
Theo Ribeiro de Barros
Rafael Diego Martins dos Santos
Thiago de Bittencourt Buss
Rafael Félix
Thiago Gomes Santiago
Rafael Gustavo Neves da Silva
Rafael Henriques dos Santos Thyago C. Nogueira

Rafael Rocha Tiago Alencar Braga

Rafael Santos Torre de Marfim

Rafael Silveira Victor Alexsandro Kichler Ferreira

Rafael Tokarski Ribas Victor Franco

Rafael Ujimori Vitor Frazão Dias

Ramon Mineiro Viviane Lopes da Costa


Reginaldo Alves de Souza Junior William Santana
Renan Gomes Barcellos Willian Vieira Resende
Renato Gomes de Almeida Kalil Yan Ferreira Paulucci
Renato Leal da Silva Yancaê Lucas Boell

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


MUITO OBRIGADO, CÃES!

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com


Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com
Sexo e violência.

www.newordereditora.com.br

Licenciado para Arthur dos Santos Soares - arthurrebolsos@gmail.com

Você também pode gostar