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Curso 80

Aula 15 – data 16/09/80


Parábola da Multiplicação dos Pães
Huberto Rohden

Nós temos que abordar hoje uma passagem ultramisteriosa do Evangelho. Portanto,
não esperem que compreendam. É um trecho da era atômica. Poderia ser quase compreendido
no século XX – na era atômica... Mas foi escrito no 1o século. Eu creio que nem na era
atômica se vai compreender isto. Porque é ultra-atômico: a história da Multiplicação dos Pães.
Todo mundo lê isto, há 2000 anos, acham que está tudo certo, mas não compreendem nada,
nada, nada. Está escrito nos quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Três deles
assistiram ao fato, não se esqueçam. Mateus, Marcos e João assistiram ao fato da
multiplicação dos pães. Lucas não assistiu, escreveu depois, mas disse que se informou com
todas as testemunhas presenciais dos fatos e o que ele vai contar está rigorosamente certo –
diz Lucas, o médico. Quer dizer, quatro historiadores do 1o século falam disso.
O fato é seguinte. Estava Jesus no lado oriental do lago de Genesaré, que é o lago da
Galiléia (onde ele morava quase sempre) – num enorme descampado, numa estepe e era
seguido de milhares e milhares de pessoas. Porque ele falava de um modo como nunca
ninguém tinha falado, todos estavam encantados com que o Profeta de Nazaré dizia. E
principalmente porque curava todos os doentes. Curou todos os doentes que lhes trouxeram à
presença dele, sem medicina, sem nada, às vezes só com uma palavra; às vezes colocava a
mão sobre ele e curava. Não é que todo o mundo estava encantado com esse taumaturgo, com
este mago, com este homem de outro mundo... E foram atrás dele três dias consecutivos, diz o
Evangelho. Alguns tinham trazido consigo algumas provisões de boca, mas no terceiro dia
acabou tudo. E não largaram o homem, apesar de não ter mais nada que comer - tão
entusiasmados que estavam.
Finalmente no fim do terceiro dia os discípulos de Jesus foram ter com o Mestre e
disseram: - Mestre - despede o pessoal. Há três dias que estão contigo, muitos não têm nada
que comer. Despede o pessoal e que vão comprar alguma coisa para comer. Que dizer, não
havia nada.
Então dizia o Mestre: “dai-los vós de comer”. Meu Deus, diz o texto que eram 5000
homens sem contar mulheres e crianças. E dizer o Mestre: “Dai-lhes vós de comer...” todos
ficaram desapontados. De que o Mestre está dizendo aqui? -onde é que se havia de comprar
pão num deserto deste? Não há nenhuma padaria por aqui para comprar nada. Aliás, diz outro
discípulo, não há dinheiro para comprar mantimento para tanta gente. Temos apenas 200
denários em caixa. 200 denários são mais ou menos 200 cruzeiros. Ora, 200 cruzeiros para
comprar pão para 5000 homens, não dá. Estavam esfaimados de três dias... Esta era a
situação.
Então Jesus pergunta: “quantos pães tendes?”. Eles disseram: - não temos nada, mas
vamos ver se alguém tem alguma coisa. Correram pela multidão e disseram: encontramos um
menino que tem numa cestinha cinco pães e dois peixes. E Jesus mandou dizer: mande
chamar esse menino. O menino apareceu com a cestinha de cinco pãezinhos e dois peixes
fritos. Naturalmente era com medo que lhes tirasse tudo, não é? Apresentou-se timidamente a
ele – e agora vem a coisa inexplicável que aconteceu logo depois. Não é compreensível nem
na era atômica, só numa era ultra-atômica. Transformação de luz em matéria, onde é que se
viu isso?
Nós sabemos na era atômica que isto é teoricamente possível. Einstein sabia, outros
também sabiam, escreveram nos livros... Que a matéria prima de todas as coisas materiais do
mundo é luz cósmica, não luz solar... Luz cósmica, invisível - não é visível. Que a substância
primitiva de todas as coisas materiais que existem no universo veio da luz. Isto é Einstein. Isto

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são todos os corifeus atômicos que afirmam isto e é cientificamente certo. Luz cósmica pode
ser condensada em energia e energia pode ser congelada – ele usa esses termos, “congeal for
energy” - é matéria. Matéria é energia congelada e energia é luz condensada. Termos
clássicos dos cientistas atômicos.
Bem isso nós sabemos em teoria que matéria é um congelamento de energia e a
energia é uma condensação de luz. A última fronteira da realidade é luz. Nós sabemos hoje
pela ciência que a última fronteira da realidade do universo é luz. Tudo veio da luz. Não da
luz solar, mas da luz cósmica que é difusa por todo universo sem foco. A luz cósmica é
universalmente espalhada – não tem nem foco. Mais tarde formaram focos: sol, estrelas, etc -,
mas a ciência não fala de focos, fala da luz cósmica, universal. Quer dizer que tudo veio
originariamente da condensação da luz e do congelamento da energia que deu matéria. Isto
diz a ciência atômica do século XX.
Eu abro o livro do Gênesis, capítulo 1o e encontro a mesma coisa lá. Que coisa
estranha! Moisés sabia disto. Moisés, não Einstein, mas Moisés. Moisés viveu 3500 anos
antes do nosso tempo. 1500 anos AC + 2000 = 3 500. E Moisés descreve logo no princípio do
Gênesis: no primeiro dia Deus creou a luz. Não tinha ainda a matéria. E no quarto dia ele
creou o sol, a lua e as estrelas. Que é isto? Creou a luz, mas que luz? Moisés faz uma nítida
distinção entre luz cósmica e luz solar. Ele diz que no primeiro período Deus creou a luz – a
luz cósmica. E depois no quarto período o sol, a lua e as estrelas. Quer dizer que Moisés já
sabia por intuição o que nós sabemos agora por análise cientifica. Que no princípio havia luz
invisível, não condensada em nenhum foco.
Bem. Quer dizer, Moisés e Einstein afirmam no fundo a mesma coisa. Agora, de luz se
pode fazer matéria, mas de que modo? Nós nunca fizemos isto. Nós sabemos que em teoria
está certo. E a prática? Seria ótimo se nós pudéssemos fazer matéria - qualquer matéria da luz
cósmica. Pois no Evangelho aconteceu isto. Aquele homem de Nazaré, aquele profeta de
Nazaré, de cinco pãezinhos e dois peixes ele fez 5000 e tantos pães e mais de 5000 peixes.
Está lá no Evangelho, escrito por quatro historiadores do primeiro século.
Ele narra o fato assim: quando Jesus chamou aquele menino que tinha cinco pãezinhos
e dois peixinhos - mandou vir aquele menino. Veio. Então Jesus procede ao processo de
materialização da luz cósmica. Materialização da luz cósmica do espaço. A luz cósmica está
em todo espaço, invisível. Como é que ele materializou? O Evangelho dá duas palavras
misteriosas que ninguém compreende. É claro que ele não multiplicou. Nós dizemos a
multiplicação dos pães. Bobagem, vocês não podem multiplicar cinco para dar 5000. Eu
quero ver onde é que está a vossa matemática. Se vocês têm cinco, vocês podem fazer 5000
disto? Bem, podem dividir, mas isto não é multiplicação. Se dividíssemos cinco pãezinhos em
5000 pedacinhos daria uma migalha para cada um. Mas não dava para fartar famintos de três
dias. Mas o texto diz que Jesus ofereceu pão e peixe a mais de 5000 homens sem contar
mulheres e crianças.
E que depois que estavam todos fartos... (Ficaram fartos, realmente de barriga cheia)...
E Jesus disse: agora recolhei os pedaços que eles jogaram no chão (porque quando o pessoal
come joga sempre fora uma porção de pedaços) para que não sejam pisados aos pés - porque
não convém pisar aos pés a comida. Então os discípulos de Jesus saíram e encheram 12
cestos. Doze! Só com os pedaços que sobraram. Está tudo lá.
Eu quero saber; como é que vocês podem multiplicar cinco pãezinhos para 5000
homens comerem e depois ainda sobrarem mais do que havia antes. Sobrou mais do que havia
antes. Sobraram 12 cestos só de pedaços. Só que está diante de um mistério. Nós passamos
por cima daquilo, ele multiplicou. Mas eu quero saber, segundo que matemática se pode
multiplicar cinco em 5000? Não existe nenhuma possibilidade. - Bem ele fez um milagre..
Milagres, não existem, nós dizemos.

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Nós pensamos que o milagre é uma coisa fora das leis da natureza. Não existe nada
fora das leis da natureza. Nunca existiu um fato que não estivesse dentro das leis da natureza.
Cristo nunca fez um milagre no sentido de ter feito uma coisa que não seja natural - fora das
leis não existe nada. Deus também faz parte da natureza. Deus é a alma da natureza. E a nossa
natureza visível é o corpo da natureza.
Bem, quer dizer, então o chamado milagre não existe. Seria contra a lógica, contra a
matemática e contra a natureza. Ele não procedeu nada contra as leis da natureza. Ele não fez
nada contra as leis da natureza! Fez de acordo com as leis da natureza. Agora, aí começa o
nosso mistério. Mas, por que é que nós não podemos fazer estas coisas que é de acordo, em
harmonia com as leis da natureza? Porque nós não sabemos nem 10% das leis da natureza.
Nós julgamos conhecer a natureza, é pura ilusão! Nós não conhecemos 10% da natureza. O
resto para nós é sobrenatural. Aquele resto que passa dos 10% nós chamamos: sobrenatural.
Vou fazer um círculo:

Imaginem que isso seja as leis da natureza. Vamos dar o número 100. E aqui tem um
segmento igual a 10. Isto é que nós conhecemos da natureza. Esse 10, nem tanto, se eu digo
que nós conhecemos 10% das leis da natureza, é muito otimismo. Eu não creio muito. Vamos
pôr aqui 10 por nós que são as leis conhecidas - por nós na natureza. E aqui tem 90. Entre 10 e
100 ainda sobra 90. Este 90 nós chamamos sobrenatural. Não existe nenhum sobrenatural.
Existe só o natural, mas existe o natural conhecido por nós e o sobrenatural desconhecido por
nós. É claro! Se nós conhecêssemos toda ordem natural com todas as suas leis, nós podíamos
fazer muito mais do que fazemos, mas nós não sabemos quase nada. Nós estamos soletrando
o primeiro ano de escola elementar, as leis da natureza. E na era atômica!
Porque nós sabemos teoricamente que luz é a base de todas as matérias. Isso nós
sabemos em teoria. Mas se alguém nos desafia e diz que luz é a base de todos elementos
físicos, dos 49 elementos da química, por exemplo, de que são feitos todas as coisas, então
porque é que nós não transformamos luz cósmica em matéria?
Bem, aí nós estamos diante de um impasse. Nós sabemos em teoria que está certo.
Mas não sabemos na prática. Porque nós apenas conhecemos a teoria, inteligimos, mas não
sabemos. Saber é muito mais do que inteligir. Inteligir é um ato mental que chamamos
conhecer. Mas se nós pudéssemos aplicar a prática de cada dia, o nosso inteligir, o nosso
conhecer, e se nós soubéssemos... (saber em latim quer dizer saborear – “sapere” - de que
fizemos saber em português, quer dizer, quando a gente saboreia uma coisa, então a gente
sabe. Mas quem não saboreia não sabe). Uma teoria não é saborear, uma teoria não é saber.
Uma teoria é uma coisa muito longínqua, muito vaga. Mas se nós pudéssemos pôr em prática
o nosso inteligir teórico, então nós podíamos dizer: eu sei. Saber é saborear, quer dizer, tomar
na boca e tomar o gosto e nutrir-se daquilo. Isso é saber.
Esse homem de Nazaré certamente sabia, ele não inteligia apenas como nós, ele sabia
qual é a relação entre a luz cósmica e a matéria do pão e do peixe. São matérias. E ele pôs em
prática o seu saber. Pôs em prática o seu saber. Isto é o que está lá. Quer dizer que houve
alguém que realizou praticamente a teoria atômica de que nós estamos soletrando o ABC no
século XX. Isso aconteceu 20 séculos antes. E o que é que ele fez? Os discípulos dele narram
muito fielmente, todos a mesma coisa – quatro: Três que estiveram presentes e um que colheu
o ensinamento com outros. Todos dizem o seguinte: quando um menino se apresentou ao

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Mestre com a sua cestinha de pão e de peixe... O que é que Jesus fez para materializar em pão
e peixe a luz cósmica do espaço e dar de fartar a cinco mil homens?
O que é que ele fez? Em duas palavras, como o Evangelho - nós temos em grego do 1o
século, alguns escritos em aramaico, mas traduzidos para o grego em meados do 1o século.
Vamos tomar o texto grego, o texto latim apareceu muito mais tarde, três séculos depois, mas
o texto grego é muito fiel, diz exatamente como foi escrito no 1 o século. Então no texto grego
estão duas palavras que eu vou traduzir: Jesus ergueu os olhos ao céu – 1a vez. Início da
multiplicação dos pães. Ergueu os olhos ao céu. Segunda palavra: benzeu o pão e depois
mandou distribuir. Duas palavras: ergueu os olhos ao céu – benzeu ou abençoou o pão.
Depois ele disse, agora distribua ao povo.
Então vieram os discípulos dele, cada um levou pão – primeiro disse Jesus, cuidado
para que todos recebam bastante. Mande que o povo se sente na relva em grupos de 50 e 50.
Imaginem, um bom organizador, porque se mandassem distribuir assim, muitos recebiam
demais e outros não recebiam nada. E disse: faça o favor, não distribua já. Mande o povo
sentar-se na relva, no chão. 50 e 50 pessoas em cada grupo. E os discípulos mandavam fazer.
Fizeram muitos grupos, 5000 homens. 50 e 50 – é muito grupo. E depois distribuíram
cuidadosamente para 50, 50, e 50... Assim deu para todos. Ninguém ficou sem nada.
Bem, ergueu os olhos ao céu - que quer dizer isso? Vai pedir uma chuva de pão lá das
nuvens? Ergueu os olhos para o céu... As nuvens geralmente estão lá em cima. Será que ele
vai mandar chover pão e peixe? Não, não é nada disso. Não choveu coisa nenhuma. Ergueu os
olhos ao céu. É claro que ele não ergueu os olhos físicos do corpo. Isso é que se fala, isto é
modo de dizer. Não ergueu os olhos ao céu lá em cima. Ele ergueu os olhos da alma ao céu do
seu interior. Isso é que está lá. Ele ergueu os olhos do espírito ao seu céu, não ao céu lá em
cima.
O que é isto? Pois ele não tinha dito: o reino dos céus está dentro de vós... Uma vez
queriam saber onde é que estava o céu. Todo mundo quer saber, todo o mundo pensa que é lá
em cima, e lá em baixo é o inferno. Mas ele não concorda com esta estória de que o céu está
lá em cima. Porque não há nenhum em cima. Os japoneses apontam para lá (↓) – pois lá é em
cima. Os outros antípodas apontam exatamente o contrário... Exatamente em sentido
contrário. E em baixo é lá para eles (↑). Quer dizer, não há nenhum em cima, e não existe
nenhum em baixo. Tudo isto é coisa muito relativa.
Bem, para Jesus o céu não estava lá em cima. Eles quiseram saber onde é que estava o
céu. Disse: o céu não vem com aparato exterior. Nem se pode dizer, aqui e acolá está o céu.
Imagina se aqui ou acolá está o céu. Os japoneses têm que apontar em sentido contrário. Não
isso não é nenhum céu. Isso é outras coisas. Nem se pode dizer, está aqui ou acolá está o céu.
O reino dos céus está dentro de cada um de vós. Hum! Agora vem outra linguagem. O reino
dos céus está dentro de cada homem. De que é que ele fala? Não fala de nenhum lugar
chamado céu.
Nós sempre entendemos que o céu deve ser um lugar, uma grande sala com entrada e
alguém está lá cuidando da entrada e manda entrar ou não manda entrar. Não tem nada disto.
Céu não é nenhum lugar. Não existe nenhum lugar do universo chamado céu. Os defuntos que
já foram para o outro lado nunca entraram no céu nem no inferno, não sabem nada de céu nem
de inferno. Nunca viram Deus nem viram o diabo. Nenhum defunto viu Deus ou o diabo.
Parte II

Porque não há nenhum céu e não há nenhum inferno. E não há nenhum Deus-pessoa e
não há nenhum diabo-pessoa. “O reino dos céus está dentro de vós”, diz o Mestre. Então ele
olhou para este reino dos céus dentro de si mesmo, ergueu os olhos aos céus. Conscientizou o
seu centro espiritual. Conscientizou o reino dos céus dentro dele. E o reino dos céus é luz, não
luz física, mas luz invisível, luz cósmica. Então ele conscientizou a luz cósmica do céu dentro

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dele. Conscientizou, pôs-se em contato consciente com a luz que está dentro de cada um de
nós. Não é luz solar nem luz física. É luz em sentido espiritual. Conscientizou o centro
luminoso dentro dele, isso se chama: ergueu os olhos aos céus. Não um céu de fora dele, o céu
dentro dele. Apelou para o seu Eu divino, como nós dizemos na nossa linguagem. Ele estava
no seu ego humano na periferia. O seu Jesus estava no seu ego humano na periferia. Ele se
dirigiu para o seu centro divino, para o seu Cristo interno, para o seu Deus. “Eu e o pai somos
um – o Pai está em mim e eu estou no Pai” – na linguagem dele.
Então ele se dirigiu conscientemente para a fonte de todas as coisas; a fonte de todas
as coisas é luz. E as coisas aparecem em forma de matéria. A matéria é um produto da luz.
Mas a fonte da matéria é a luz, então ele se dirigiu à fonte. À fonte dentro dele. Ergueu os
olhos ao seu céu interno. Deu ordem a esta luz interna dele que se materializasse em forma de
pão e de peixe e foi obedecido imediatamente. Apelou para a fonte de toda matéria que é luz.
Não luz física, mas luz cósmica – no 1o dia Deus fez a luz, diz Moisés. No século XX Einstein
diz: a substância primitiva de todas as matérias é luz, mas nós não temos o poder de
transformar a luz cósmica em matéria. Aí a nossa fraqueza, nós estamos apenas começando a
soletrar as leis da natureza. Isto não é fora da natureza. Vocês nunca devem pensar que existe
uma coisa fora da natureza. Não existe nada. A natureza é infinita. Não tem nenhum fim a
natureza. A natureza não quer dizer coisa física. A energia e a luz são da natureza. A natureza
é tanto física e finita como também metafísica e infinita. A natureza é infinitamente grande.
Mas nós conhecemos só o ABC da natureza. Nem 10%. Mas aquele homem de Nazaré
conhecia muito mais da natureza do que nós conhecemos. Ele não fez nada fora da natureza.
Aliás, nunca existiu um acontecimento que ultrapassasse as leis da natureza. Nós usamos a
palavra milagre derivada do latim miraculum – miraculum em latim quer dizer objeto de
admiração. Miraculum – aquilo que se admira. O que nós admiramos? Quando conhecemos a
causa de um efeito nós não admiramos mais, achamos natural.
Imagine, ainda há pouco tempo um avião seria um milagre. Uma coisa pesada que voa
lá no ar – muito mais pesado que o ar, como é que ele pode voar? Ah isso é um milagre. No
século passado seria um milagre. Ver alguém que não está presente seria um milagre. Nós
estamos vendo pela televisão. Ouvir a voz de alguém que não está presente. Está do outro
lado do mundo, está em Washington – com um toque e nós ouvimos a voz dele. Era um
milagre ainda há pouco. Agora não. Por quê? Porque nós sabemos a engrenagem como se
fabrica rádio e televisão. Nós sabemos que é possível, dentro das leis da natureza. Não é
contra as leis da natureza. Podemos ouvir uma pessoa que está na lua, 400.000 km daqui,
podemos ouvir!... Podemos ver uma pessoa em plena noite que está do outro lado do globo.
Nós estamos fazendo isto.
Quer dizer, aviões, rádio e televisão já deixaram de serem milagres para nós. Ninguém
acha que isso é um milagre. Não é natural. Tudo é natural. Mas se eu agora, de repente me
tornasse invisível diante de vocês, vocês diriam que eu tinha feito um milagre. Eu não me
posso me fazer invisível diante de vocês, de repente. Isso ainda é um milagre para nós.
Quando um homem pode transformar a sua visibilidade física numa invisibilidade metafísica.
Isto para nós ainda é um milagre, ainda por muito tempo.
E se eu agora me erguesse aos ares e perdesse todo o meu peso, e flutuasse pelos ares,
me desponderasse... - eu inventei esta palavra, desponderar – aniquilar o seu pondus, o seu
peso. Pode dizer levitar se quiser, mas eu acho melhor desponderar-se do que levitar. Se eu
me desponderasse, se eu neutralizasse o meu peso neste momento, flutuasse no ar. Iam dizer,
isso é um milagre. Porque a gente não pode fazer isso. Vocês podem ter certeza, dentro em
breve nós vamos fazer tudo isso. A ciência vai fazer isso. A ciência vai achar meio de se
tornar invisível. Isso é ficção cientifica por enquanto, mas isso vai ser realidade.

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A ciência vai descobrir um modo de alguém neutralizar todo o seu peso. Não ter mais
peso nenhum, nem uma grama. Isto por enquanto nós ainda não podemos fazer, porque ainda
estamos no ABC da ciência.
Quer dizer, milagre contra as leis da natureza não existe. Só existem fatos dentro das
leis da natureza. Mas a natureza não é aquela que nós conhecemos. Isto não é 10% da
natureza. Então vamos chegar a essa conclusão: o que o Nazareno fez era rigorosamente
dentro das leis da natureza. Ele materializou a luz cósmica em forma de pão e em forma de
peixe. Isto não era milagre contra a natureza, isto é um fato dentro das leis da natureza. Mas
ele conhecia um pouco mais da natureza do que nós. Não por estudos, ele nunca fez um curso
de faculdade, nunca. Nem frequentou escola primária – dizem os discípulos dele. Mas ele
sabia por intuição, que é um caminho muito diferente da análise, nós só conhecemos um
pouco por análise intelectual... Mas ele conhecia por intuição cósmica. Então ele operava por
essa intuição cósmica que ele tinha. E conhecia uma vasta área das leis da natureza. Ele sabia
que da luz se pode fazer qualquer matéria.
Alguns outros também já fizeram. Ele não é o único, parece. Moisés no Antigo
Testamento foi o grande predecessor de Jesus. Fez coisas que estão lá na Bíblia, nós dizemos,
puros milagres. Moisés não fez nenhum milagre, mas Moisés tinha conhecimento intuitivo de
certas leis da natureza que outros não conheciam. E os que não conheciam essas leis da
natureza que ele conhecia, entendem por milagres: transformar uma bengala em cobra viva - e
os magos do Egito também fizeram, não é só ele. Quando ele fez aquela estória de
transformar uma bengala, bastão em cobra, os magos do Egito também fizeram a mesma
coisa. Quer dizer ele tinha colegas que também sabiam fazer o mesmo.
Os egípcios sabiam de muitas coisas que nós nada sabemos hoje. Perdemos a noção da
sabedoria dos egípcios. Ninguém sabe como é que eles levantaram as pirâmides com blocos
desse tamanho que hoje os guindastes não podem nem levantar nos ares. Não tinha guindaste
nenhum naquele tempo. Como é que eles fizeram? Fizeram com as mãos. As pirâmides que
estão lá de blocos gigantescos que nem os nossos guindastes levantam... Escrevem livros para
saber de onde vieram esses blocos. Não há nada disso. E como é que eles puderam levantar e
colocar exatamente os blocos enormes em cima dos outros. É claro que os egípcios já
conheciam a lei da desponderação, mas nós perdemos essa noção... A lei de neutralizar o peso
de qualquer matéria. Nós não sabemos como neutralizar o peso de um bloco de pedra. É claro
que eles faziam. Eles levantaram aquilo com as mãos, não tinham guindastes. E depois
desistiram da desponderação e a matéria voltou ao seu peso natural. Isso já sabiam os
egípcios.
Provavelmente os atlantes que eram os remanescentes da Atlântida – provavelmente
eles vieram de uma outra humanidade muito superior à nossa que já tinha conhecimento da
natureza que nós estamos soletrando o ABC. Sempre houve magos e místicos e taumaturgos
que conheciam coisas da natureza que nós não conhecemos.
Mesmo em nosso tempo ainda há. Se vocês leem algumas coisas de “Autobiografia de
um Iogue de Paramahansa Yogananda”, sobre coisas da Índia, vocês ficam estupefatos. Como
é que eles podiam materializar um palácio? Materializava um palácio. Yogananda conta isso.
Bem, na Índia, já há muitos séculos e milênios há pessoas que sabem materializar a luz em
forma de matéria. Não é novidade. Materializar a luz em forma de matéria é dentro das leis da
natureza, mas duma natureza muito mais conhecida do que a nossa.
Existe um livro que eu tenho sobre o Conde de Saint Germain. O Conde de Saint
Germain viveu no século XVIII na França, época da revolução francesa. O Conde de Saint
Germain fez coisas – no século XVIII - perto de nós... Para nós é puro milagre. E tudo
autêntico, certo, muitos viram o que ele fazia. Ele por exemplo fazia ouro sem nenhuma
substância, só por força mental. Fazia ouro puro sem ter nenhuma matéria. Fazia pedras
preciosas de toda espécie: safiras, rubis e esmeraldas, topázios e diamantes, só com força

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mental. Materializava a luz em forma de matéria. Saint Germain fazia isso – ele era um
homem que gostava de coisas preciosas. Gostava muito de ouro e de pedras preciosas. Mas
não era ganancioso. Fazia isto para si e para os outros. Dava liberalmente tudo que ele fazia a
quem quisesse. Até pedras preciosas verdadeiras.
Ele viveu muito nas cortes dos reis da França no tempo da revolução francesa quando
todo o mundo era guilhotinado. A célebre rainha Maria Antonieta, que foi guilhotinada
também durante revolução, se dava muito com Saint Germain, porque Saint Germain visitava
muito a corte. E preveniu esta rainha austríaca, mas casada com um francês: que mudasse de
política na França porque todos acabariam na guilhotina. E acabaram mesmo, inclusive ela.
Depois ela perguntou a Saint Germain quando é que nos visitará da próxima vez. Saint
Germain disse: é melhor não dizer porque vai ser um tempo muito triste. Ele se referiu à
morte dela na guilhotina.
Então Saint Germain desapareceu depois da revolução francesa, depois de ter vivido
muito tempo na França. Muito conhecido em muitos paises da Europa. No tempo de Napoleão
Bonaparte ele desapareceu. Perguntaram para onde ia. Disse que se retirava por enquanto para
o Himalaia, mas que no fim dos tempos ele voltaria ao ocidente quando a humanidade
estivesse nos seus piores dias. Mas não voltou ainda, parece que ainda não estamos nos piores
dias. Ele já era um desses magos que conheciam praticamente as leis atômicas. Como é que se
pode transformar luz em qualquer matéria? Em ouro e pedras preciosas?
Sempre houve desses magos, porque pela análise intelectual nós não vamos muito
longe. Nas faculdades só ensinam análise intelectual, mas isso é o ABC da ciência. Muitos
que nunca fizeram faculdade nenhuma sabiam de intuição espiritual. Sabiam de intuição das
leis da natureza. Estão muito além da inteligência e usaram essas leis. Moisés fazia, Saint
Germain fazia, Jesus fez.
Na Índia tem o célebre Bábaji, aquele grande mestre da Índia que há dois séculos
aparece e desaparece no Himalaia. Aparece visivelmente e desaparece. Ele aparece
materializado com o corpo visível. Reúne os seus discípulos numa esplanada d Himalaia, fica
com eles um mês, dois meses, depois ele se desmaterializa outra vez.
Isto é mais do que ciência, isto é sapiência. Isto é intuição. Intuição das leis cósmicas.
E alguns já conhecem essas leis. Não aprenderam nas faculdades porque lá não se aprende
isto, mas aprenderam por uma longa experiência de silêncio e meditação. Os que vivem num
período de silêncio e meditação profunda facilmente chegam à intuição cósmica. E podem
fazer coisas que os intelectualistas não podem fazer.
Bem, quer dizer, nada disto é sobrenatural. É uma evolução natural muito avançada.
Uma evolução de dentro para fora, não de fora para dentro. Não uma evolução pela
inteligência, mas uma evolução pelo espírito, ou pela razão espiritual. E Jesus certamente era
o mais avançado de todos eles. Fazia coisas que nos Evangelhos são narrados e nós
interpretamos como milagres. Mas ele nunca disse que era milagre. Nenhuma vez ele disse
que ia fazer um milagre e nunca fez nenhum milagre. Se milagre é uma coisa contra as leis da
natureza, então ele não fez. Se milagre é uma coisa de acordo com as leis da natureza, então
ele fez.
Não há nada contra a natureza. Há muita coisa que está além do nosso alcance mental.
A natureza não é o nosso alcance mental. O nosso alcance mental é um pedacinho das leis da
natureza. Nós não alcançamos as leis da natureza na sua integridade. Nós alcançamos uma
pequena periferia, um segmento, nem tanto como está aqui. Isto nós alcançamos. Os milagres
estão além do nosso alcance mental, mas não estão além das leis da natureza.
Não me confundam estas duas coisas. Os milagres estão além do nosso alcance
mental, mas os milagres não estão além das leis da natureza. Porque a natureza é
infinitamente grande. Isto que Jesus fez lá do outro lado do lago de Genesaré distribuindo a

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5000 homens e tanto, alimento que veio de apenas cinco pães e dois peixes é uma das coisas
mais estupendas que ocorreu naquele tempo. Ele fez diversas vezes coisas semelhantes.
Quer dizer, conhecer uma área maior das leis da natureza, uma área muito maior das
leis da natureza por intuição, não por análise... Conhecer uma área muito grande das leis da
natureza nos dá a possibilidade de transformar alguma coisa à outra. De transformar luz em
matéria. Isto seria magnífico se nós já pudéssemos fazer, mas parece que ainda não podemos.
Dizem os livros sacros – futuramente haverá um novo céu e uma nova terra. Quer
dizer, um novo céu no interior e uma nova terra no exterior. Isto ele chama novo céu e nova
terra. Quando o nosso reino dos céus progredir mais, dentro de nós - o reino dos céus está
dentro de vós - então nós também poderemos fazer uma nova terra. Está no Apocalipse. O
Apocalipse já previu, se o nosso céu melhorar – o nosso céu é nossa consciência, o nosso Eu –
se o nosso céu melhorar, se nós tivermos uma intuição espiritual maior do que temos agora,
então nós também faremos uma nova terra. Essa terra em que nós vivemos não é a terra ideal,
porque é feita apenas pela nossa pobre inteligência. A inteligência não pode fazer muita coisa.
A nossa intuição superior poderia transformar toda a terra não no inferno como está agora,
mas num verdadeiro céu terrestre.
Mas por enquanto não chegamos a este novo céu e por isso ainda não podemos
fabricar esta nova terra. Mas o Apocalipse diz: chegará um tempo em que haverá um novo céu
e uma nova terra. Porque o reino dos céus será proclamado sobre a face da terra. Até agora
não foi. Foi proclamado o reino do inferno, mas não reino do céu. Porque nós ainda não
chegamos a uma evolução suficiente. Tudo depende do homem. Se o homem progredir na sua
evolução para além do ABC em que ele está agora, e descobrir o seu céu interno, o seu Eu
como nós fizemos... O céu está dentro de nós como diz o Mestre, então ele pode transformar a
terra numa coisa completamente diferente do que nós temos agora.
Querem fazer alguma pergunta?
- Alma e Deus é a mesma coisa?
- Só existe uma realidade. O infinito, o absoluto, o eterno que pode chamar
divindade se quiser. Esta única realidade infinita se revela de muitos modos finitos.
A essência é uma só - as existências são muitas. Mas a essência infinita está
presente em todas as existências finitas. Não se esqueçam disto! A essência infinita
está presente em todas as existências finitas. Também no homem. No homem ela
está conscientemente. Na natureza ela está inconscientemente, mas está presente.
Existe uma única essência infinita que se manifesta em numerosas existências
finitas: no mundo mineral, no mundo vegetal, no mundo animal e, sobretudo no
mundo hominal. Conosco começa a essência consciente. Nos outros seres a
essência é mais ou menos inconsciente ou semiconsciente ou inconsciente.

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