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mistérios da narrativa, que ¢
equenas estérias que exemy
cextraordinérias ou avisos do destino, guiavam-me para
a descoberta de um caminho novo para 0 conhe-
cimento.
Ja tinha lido antes muitos livros de folclore,
centre eles os de narrativa populares, mas nenhum
me oferecia 0 que procurava saber: que mundo é
este representado por Guimaries Rosa no sé no
romance, mas na maioria de suas narr
as estorias de Sagarana. Pouco depois,
Grande sertdo: Veredas, li dois livros sob
popular e cultura popular ~ Narrativas pias
ares ¢ Semana santa cabocla, de Oswaldo Elias
Xidieh, socidloy
narrativas sobre Jesus e Séo Pedro quando andavam
pelo mundo e outras estérias de santos da devogaio
catélica popular. Essas estérias estavam integradas
0 cotidiano das pessoas € representavam um mundo
de gente, sempre. A sociedade € a cultura caboclas
do estado de Sio Paulo e suas relagdes com as reas
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pela urbanizago, bem como as formas de resisténcia
desta cultura, davam-me os argumentos para come-
car a entender as representagdes sociais na criagio
de Joao Guimarties Rosa.
Semana santa cabocla, publicada em 1972,
trazia um conjunto de artigos, antes publicados pelo
Jomal O Estado de Sao Paulo entre 1943 e 1949,
sobre as manifestagdes migico-religiosas do interior
€ litoral paulistas, em que Xidich ressalta a preo-
cupagio com o contexto social e com-as concepgses
de mundo, usos ¢ costumes veiculados por esas
prticas culturais. Varios dos estudos apresentavam
analises de dados colhidos em pesquisas de campo
em Mogi das Cruzes, cidade onde morei antes de ir
estudar em Sao Paulo, e cidades vizinhas.
comecei a estudar, fora das
inas de minh jo em Letras, de forma
regular € metédica a literatura de corde! nor-
destina, que me fascinava por sua beleza, variedade
temitica e por se tratar de um sistema literdrio popular
em constante transformagao, desde que se iniciou,
no Nordeste, nas primeiras décadas do século XX.
mol