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Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos ‘As comunidades rurais atingidas pela mineragao como agentes do planejamento e desenvolvimento turistico ViviANe GUIMARAES PEREIRA Samanta Borces PEREIRA Carts ALBERTO MAxiMo PiMENta Introdugao! turismo direcionado ao desenvolvimento sustenté- vel das comunidades rurais em regiao atingida pela mine- rago 0 tema deste texto, tendo em vista que 0 procs de desestruturagao inerente & implantagao da exige estratégias de minimizagio dos desmantelamentos sociais, econémicos, culturais e ambientais resultantes. Parte-se dos prinefpios do Desenvolvimento Local edo Turismo de Base Comunitéria (TBC), que consistem na organizacao do grupo e dos modos de produgao locais, na forma de atrativos turisticos, alicergados preservagao das culturas tradicionais € conservagao ambiental, emer- gindo como alternativa de geragao de renda para as co- munidades. Além disso, contrapde-se a idealizagao de uma indtistria do turismo, na condi¢do de mercado corporativo gerador de emprego, evidenciando a valorizagao de outras reflexes sobre o papel do turismo no desenvolvimento, da perspectiva da preservacao das relagdes socioculturais € ambientais, dos aspectos genuinos do ambiente rural, 0 mineradoras 1 Este texto foi elaborado a partir do artigo "Turismo como estratégia de (des) envolvimento rural em regio atingida pela minerag8o”, publicado na Revista Brasileira de Gestio e Desenvolvimento Regional (RBGDR) maio-agosto de 2017. Para referéneias completas, ver Pereira, Pimenta e Pereira (2017) Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) da autonomia e independéncia do (da) agricultor (a) ¢ do fortalecimento do saber local. Antes de seu planejamento ¢ desenvolvimento, 0 tu- rismo de base comunitéria demanda a participagao ativa da comunidade receptora, explicitando suas demandas e seus receios, representando a equanimidade entre o turista, 0 po- der piiblico, 0 mercado ¢ a comunidade. Essas evidéncias colocam no centro das preocupa~ g6es a seguinte pergunta: ha consenso entre os agentes de desenvolvimento local e as comunidades rurais, sobre 0 potencial de desenvolvimento do turismo nesta regio? A pergunta se desmembra na seguinte problematizagio: o tu- rismo nas comunidades rurais da regio pode se configurar como mais uma forma de geragio auténoma e sustentavel de renda para as comunidades rurais? Dentro desse quadro, este texto objetiva-se compreen- der a concepgio de turismo, a partir da percepgao dos agentes de desenvolvimento local e dos (das) agricultores (as) ¢ seu po- tencial de geragio de renda para as comunidades rurais como alternativa a0 modelo imposto pelo extrativismo mineral. A pesquisat foi executada na regifio de Alvorada de Mi- quim, atingida pela mineragio apés incurso pela empresa Anglo American em 2008. A regio procura formas de se reorganizar, na tentativa de minimizar os impactos da devastagio sofrida pela pratica da atividade minerdria. As entrevistas foram realizadas com nas, Conceigo do Mato Dentro e Dom k os agentes de desenvolvimento local e com as familias agri- cultoras, fazendo uso de questiondrio semiestruturado, com questdes abertas, que levantaram informagGes sobre os aspec- tos culturais como a presenea de festas tipicas, grupos cultu- 2 Projeto de pesquisa n° 250801 1772201544 realizado pelo Nicleo Tra vessia - Niicleo de Pesquisa, Extensio Apoio a Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal de Itajubé (UNIFEI) ‘com o apoio da Caritas Brasileira Regional Minas Gerais ¢ 0 Ministério Piblico de Minas Gerais. 45 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos rais, artistas ¢ artesaos ¢ outros potenciais turisticos, tais como atrativos naturais e arquitetdnicos, sem perder a centralidade da proposta ~ a potencialidade da regio para o desenvolvi- mento do turismo como forma de geragdo de renda para as iflias agricultoras e como processo de desenvolvimento local. @ Wins -Angio American C3 regsoenessn Figura 1: Mapa da regio estudada Fonte: Pereira et al (2016) Foram entrevistados os sccretérios municipais de agricultura, bem como téenicos da Empresa de Assistén- cia Técnica e Extensfo Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER), representantes dos Sindicatos de Trabalhado- 49 Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) res Rurais (STRs) ¢ do Consclho de Desenvolvimento Ru- ral Sustentével (CMDRS) dos trés muniefpios. As comunidades escolhidas foram selecionadas em re- unio realizada em Conceigdo do Mato Dentro, com a pre- senga dos agentes de desenvolvimento local que indicaram aquelas que se enquadravam nas seguintes caracterfsticas: 1. Integragdo produtiva ~ agricultores que possuem canais de venda com o comércio e os diversos mer- cados existentes; 2. Produtividade~umidades familiares de agriculto- res com maior produsao; Unidades familiares ~ concentragio de agriculto- res familiares em atividade; 4, Impacto com a presenga da minerasio — comuni dades que sofrem com os efeitos da exploragio da atividade mineraria Foram definidas $1 comunidades rurais*, divididas em 19 regides e contempladas com 55 entrevistas, realizada entre 0 periodo de dezembro de 2015 e fevereiro de 2016.0 universo dos pesquisados teve a abrangéncia territorial dos trés municfpios. 4 Em Conceigao do Mato Dentro foram entrevistadas $1 familias om 18 comunidades diferentes: Agua Quente, Brejauba, Capitao Felizardo, Cor- regos, Costa Sena, Cabas, Goiabeiras,Ftacolomi, Ouro Fino, Paraoninhas, Passa Sete, Rio Preto, Santo Anténio do Cruzeiro, Sapo, Socorro, Tab Icio, Tapera e ‘Trés Barras. Em Alvorada de Minas foram entrevistadas 11 familias em 07 comunidades diferentes: Descoberto, Fazenda da Pont, Lapinha, Maria, Morro dos Monteiros, Ribeirao Santana e Ribeirao de Tréa. Em Dom Joaquim foram entrevistadas 13 falas em 06 comunida- des diferentes: Machado, Quilombo Cachoeir, Sao Joao, So Joao da Tha, Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos Utilizou-se como critério de andlise dos dados 0 en- trecruzamento das falas extraidas das entrevistas com a teoria privilegiada, o que corroborou para a identificagao dos pontos ¢ contrapontos das informagées levantadas em campo. A proposta tedrica do texto, com didlogos no campo do turismo de base comunitéria, caminha para pensar o de- senvolvimento local e a sustentabilidade como ferramentas de participagao dos (das) agricultores (as) familiares e das comunidades na condugao dos seus préprios destinos, no sentido politico de formatagao de modos de geragao de ren- da, de experiéncia com atividade turfstica e de autonomia dos (das) agricultores (as) e comunidades Este texto esté dividido, além desta introduga0, na discussdo tebrica sobre o turismo de base comunitéria como fonte de geragao de renda para agricultores familiares em bases justas e sustentaveis, através de organizagao social e nfo com imposig#o de modelos mercadolégicos de turis- mo, tio comumente visto. Traz também a discussio dos resultados da pesquisa de campo com relagio a percepsio do turismo pelos agentes de desenvolvimento, que se mos- trou alinhado mais fortemente a perspectiva das demandas de mercado para o turismo; bem como a discussao sobre a percepsio do turismo pelas comunidades rurais que, de alguma forma, sio antagénicas a percepsio dos agentes de desenvolvimento. Por fim, foram feitas as consideragdes fi- nais que se propuseram a indicar alguns caminhos a partir dos resultados encontrados no campo. Turismo de base comunitéria: preservacao cultural ¢ geragdo de renda Da perspectiva de Ruschmann (2001), pode-se dizer que ha espagos, principalmente em regides de menor porte, a Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) de efetivagao de modos de preservagio do lugar pela via do turismo. Esse movimento efetivo deve promover formas de superagdo das contradigdes que facilmente acontece entre © turismo no sustentdvel ¢ a protegao do ambiente e do lugar turistico. 0 turismo dentro do conceito da indiistria convencio- nal 6 incompativel com o seu desenvolvimento. A preserva- do socioambiental é inerente 4 sua manutengao: Enquanto a indfstria destr6i para produzir, o turis- mo deve preservar para produzir. A harmonizagao do turismo com 0 ambiente é uma mudanga na form de pensar, uma inovacao conceitual para superar uma contradigdo que facilmente acontece entre o turismo destrutivo © a protesao de um turismo que deve ser preservado (RUSCHMANN, 2001, p. 69). Na dimensdo regional, para Sousa, Oliveira & Car- niello (2008) 0 desenvolvimento local ganha aderéncia ¢ 0 turismo passa a ser um elemento importante para a geragdo de ocupagio ¢ renda. As produgdes locais apresentam-se como alternativas de sobrevivéncia a determinados seto- res da sociedade enquanto processos de geragio de renda, podendo constituir-se como formalidade na informalidade, principalmente no campo das produgdes associadas ao tu- rismo (PIMENTA & MELLO, 2014). Para Souza (2005), a produg&o tem que estar interli gada, indissociavelmente & nogao de desenvolvimento, en- quanto estratégia social de sobrevivéncia e de geragio de renda, uma vex. que 0 crescimento econdmico, oriundo do processo de industrializagao tecnolégico ¢ informacional, acarretou consequéncias sociais. zm sintese, 0 turismo atrelado ao desenvolvimento, sem perder de horizonte as dimensées da cultura loc 52 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos torna importante também para que seja possivel registrar as memérias, as identidades, os saberes e as produgdes de sentidos de determinados setores da sociedade. Soares (2011, p. 70) alerta para o risco de considerar apenas os fatores econdmicos, cuidando apenas do produto e do inte- resse dos turistas ¢ esquecendo as populagdes locais: Ao analisar a atividade sob a ética do mercado, nao se pode esquecer de que este assume as localidades como produtos turfsticos, formados de atrativos naturais ¢ culturais. Na ponta dessa cadeia produtiva, esto as ages de marketing, que suscitam e orientam a deman- da por viagens, capitalizando 0 desejo e a disposigao do consumidor em visitar determinado destino. relagdo mercantilista da atividade turistica, quando entregue A sua légica propria de maximizagio incon dicional dos lueros, pode provocar danos ambientais, culturais e sociais irreversiveis aos niicleos receptor e suas comunidades. Os argumentos de Soares (2011) colocam em evidén- a légica das leis do mercado. Em torno do turismo ou da formagio de processos de geragio de renda associados ao turismo alerta-se para os riscos socioambientais e culturais provocados pela presenca do turista face a concepeao de ga- nhos financeiros a qualquer custo. Esse risco pode ser mini- mizado na medida em que a ordem natural e sociocultural e a estrutura local sejam preservadas, Somente no inicio da década de 1990 é que se comega a avaliar os impactos dessa globalizagao ¢ © papel desem- penhado pelo turismo enquanto estratégia de promogao e desenvolvimento dos territérios, principalmente no que concerne a degradagdo ambiental e homogeneizagio cul- tural. Passa-se a perceber que o crescimento desordenado 58 Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) da atividade pode ser nocivo as populagdes locais: agressao a0 meio ambiente (poluicdo sonora, da Agua e visual, inva~ so de areas protegidas), destruigao de culturas e do patri- ménio histérico (crescimento da violéncia, perda da iden- tidade e cultura local, alteragdes de padrao de consumo), especulagao imobiliéria, entre outras perversidades, trazem a reboque a destruicao do potencial da atividade turfstica, visto que a sua origem e a sua manutencao dependem da preservacao desses recursos (CUNHA & CUNHA, 2008). O Turismo de Base Comunitéria (TBC) é um tipo de turismo desenvolvido pela comunidade local, sendo ela a grande beneficiada com os resultados da atividade. O TBC pode ser entendido como aquele [J desenvolvido pelos préprios moradores de um Iu- gar que passaram a ser os articuladores e os construto- res da cadeia produtiva, onde a renda ¢ o luero fieam na comunidade ¢ contribuem para melhorar a qualidade de vida (CORIOLANO, 2008 p. #1), De gestio participativa, o TBC prima pelo envolvimento dos atores soc is nas atividades desenvolvidas no local tendo sempre em vista a melhoria da comunidade, levando em conta seus desejos necessidades, a cultura local e a valorizacio do patriménio natural e cultural (CORIOLANO 2007). A associago entre a agricultura familiar e o turismo de base comunitéria se constitui em uma fonte eficaz de ge- ragao de renda, principalmente para € os assentamentos, jé que a renda originada por esta ativi- dade poderd ser revertida para a manutengao das familias, para investimentos na propria atividade da agricultura e/ ou no fomento e aprimoramento do turismo comunitirio, f importante destacar que da década de 1990 em dian- te, rompeu-se com a ideia de que a fungio principal do mundo. comunidades rurais 54 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos rural tem que ser necessariamente a produgo de alimentos e que a atividade predominante seria a produgo agricola. Ocorreu uma espécie de disjungao entre o mundo rural ea agricultura (SILVA; BALSADI; DEL GROSSI, 1997). A concepsio da ideia da figura do agricultor sofreu profundas transformagées ¢ a pluriatividade, que o estimula a ocupar novos espagos néo agricolas que se expandem no meio rural, contribuiu para a construgo de novas identida- des, Houve crescimento de pessoas ocupadas em atividades nao agricolas nos territérios rurais brasileiros desde os anos de 1980 € assim, o rural foi tomado como um espago, com uma nitida dilatagao funcional, ¢ diferenciando-se da abor- dagem que o identifica somente como setor agropecudrio (CARNEIRO, 1998; ORTEGA, 2008). Isso ajuda a pensar em caminhos para os agricultores da regio em estudo, mas é importante nao se deixar levar ingenua- mente com as questdes que envolvem o turismo. A explor da atividade turfstica pode promover melhoria das condigdes de vida das familias rurais, diversificacdo da economia, conserva¢ao dos recursos naturais, diminuigdo do éxodo rural e valorizagao das tradigdes rurais, mas deve atender as demandas da comuni- dade envolvida e gerar renda aos agricultores, sem provos nos socioambientais e apagamento de culturas na comunidade. A forma como as pessoas moram, comem, bebem, di- vertem-se, rezam compée um cendrio completo para o tu- rismo (VARGAS & CASTILHO, 2008). Reconhecer as qua- lidades do produto local é uma forma de contribuir para tornar vis(vel a sociedade a histéria por tras do produto, comunicando seus elementos culturais € sociais, possibili- tando ao consumidor avalié-lo e aprecié-lo devidamente, desenvolvendo uma imagem favordvel do territério em que © produto se origina (KRUCKEN, 2009) Ao se pensar na interagio entre turismo e agricultura familiar é importante lembrar que além daqueles produtos Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) tradicionalmente cultivados nas propriedades rurais, sto cultivados aqueles que retratam as peculiaridades regio- nais, tanto nos cultivos quanto na produgio de artefatos, A produgao artesanal tem forte potencial turfstico j4 que tem a capacidade de retratar as caracteristicas e tradigbes do lugar, sua identidade hist6rica e cultural, sendo a materiali- zaso da experi¢ncia vivida pelo turista. Lanzarini (2009, p. 9) afirma que a atividade turistica 6 “amb{gua, pois ao mesmo tempo em que promove rique- zas, empregos, melhoria de vida [..) também produz. po- breza, exclusio social e fragmentagao do espago”. Para que se diminuam as chances da segunda opso, a participasio da comunidade é condigo sine qua non para que a atividade aconteca, desde a sua idealizagdo e implantago, bem como na gestio dos planos de turismo para que se promova gera~ Gao de renda e consequente melhoria de vida para as popu- lagdes locais envolvidas. A. promosio da autonomia das comunidades, proces so motivador para que a populagio se organize para gerir a atividade turistica de forma participativa, cria um ambiente favordvel A manutengao das caracterfsticas rurais da regiao, utilizando os recursos locais e os conhecimentos derivados do saber das populagdes, valorizando-os em prol de um desen- volvimento em bases justas e sustentaveis. Para isso, uma das condigées necessarias é o conhecimento sobre as culturas ¢ os ecossistemas, e também os conhecimentos de como as diferen- tes culturas aprenderam sobre os seus ecossistemas. Por esta via, o turismo passa a ser encarado dentro do espectro do de- senvolvimento como um processo de aprendizagem, ligado & autoconfianga ¢ a criatividade, orientado para a “identificagao e satisfago das necessidades humanas, materiais e ndo matcriais, social e culturalmente determinadas” (SACHS, 1986, p. 54) Ta que se ter cuidado para que melhorias adquiridas com o desenvolvimento do turismo nas comunidades rurais, 56 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos como possiveis ganhos de renda, melhorias de infraestrutu: ra e geragdo de ocupagdes, possam causar a falsa ilusio de melhoria ampla das condigées de vida, criando uma espécie de dependéncia do turista para garantir a renda das famflias (BRASIL, 2010). A manutengio das atividades produtivas tradicionais, da propriedade ¢/ou das praticas e costumes relacionados a essas atividades garante 0 ndo abandono destas em virtude do sucesso conseguido com o turismo. A preservacio dos mananciais, do solo, preservagdo ou recupera e da fauna nativas, inclusive dos aspectos paisagisticos, as- seguram a protesio ambiental. O respeito aos elementos ¢ estruturas tradicionais, as manifestagSes culturais, culind- ria, produgdo artesanal, técnicas construtivas, celebragdes, valores, modos de vida e ideais das comunidades rurais o da flora além de elementos que referendem a histéria da regio e das fam‘lias, fortalecem a identidade local ¢ a autoestima das comunidades (BRASIL, 2010). A possibilidade de geracao de renda adicional para as comunidades locais faz do turismo de base comunitéria um caminho para a revitalizagdo econémica e social das regiées, a valorizagaio dos patriménios e produtos locais ‘io do meio ambiente, a atragio de investimentos piiblicos & privados em infraestrutura para os locais onde se desenvolve. Quem deve se beneficiar com a atividade 6, em primei- ro plano, as comunidades locais, ndo se tornando proletario numa nova atividade, mas construindo, implementando e gerindo 0 turismo nos seus territérios. Segundo Oliveira (2001), Turismo Sustentivel é 0 [uJ turismo praticado de forma que promova @ qua- lidade de vida das populagies residentes na localidade de destino, respeite a sécio-diversidade da comunidade receptora, por meio da conservagao da heranga cultu- Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) ral das populagdes e conserve os recursos naturais € paisagisticos deste local Trata-se, portanto, de pensar o turismo rural dentro dos pardmetros do desenvolvimento local sustentavel, bem como contribuir para que os agricultores familiares possam ter melhores condigdes de vida. Dessas perspectivas insi- nuam Zuin & Zuin (2008) e Hanai (2012) levando-se em consideragdo os alimentos tradicionais, mesmo este diltimo reconhecendo que o turismo alternativo ao mercado nao al- cangou a devida maturidade. O desenvolvimento do turismo com vistas a atender apenas aos interesses do mercado e do capital, sem a parti- cipagio da comunidade, provoca a exclusio, a descaracteri- zagao e 0 sentimento de que o turista néo é um parceiro e sim um invasor, ¢ as relagées por consequéncia nao sao de hospitalidade, mas sim de conflito, sendo a populagao local a primeira a arcar com o énus da atividade. Percepgées sobre o turismo pelos agentes de desenvolvimento Ha uniformidade sobre potencial turfstico da regio da perspectiva dos agentes institucionais de desenvolvimento rural. ‘Todos os entrevistados acreditam no desenvolvimen- to do turismo enquanto estratégia de geracto de emprego ¢ renda ndo a presen juntos arquitetdnicos histéricos ¢ manifestagdes populares seculares. Como indicativos do potencial turfstico ja existen- te, foram citadas a Estrada Real’ (figura 2), a pratica de Ci- cloturismo em Concei¢a’o do Mato Dentro (Morro do Pilar, destaca ca de natureza exuberante, con- 40 Instituto Estrada Real foi eriado em 1999 zar, fomentar € gerenciar o produto turistico Estrada Real com a pretensio de organi- Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos Tapera, Itaponhacanga), projetos culturais desenvolvidos pelo ‘Polos de Cidadania® em Conceigao do Mato Dentro © um movimento da igreja de preservagio do Demitério do Peixe (figura 3), contra a invasio do local pela mineradora, Alvorada de Minas e Conceigdo do Mato Dentro fazem, parte do ‘Caminho dos Diamantes’, um dos caminhos da Es- trada Real — maior rota turistica do pafs, com mais de 1.630 quilémetros de extensao, passando por Minas Gerais, Rio de Janeiro e Sao Paulo. Dom Joaquim possui Plano Turtstico Municipal, produgdes associadas ao turismo, produgio diver- sificada e agroecolégica (figura 4) com potencial de comer- cializagao para o turista. A percepeao do turismo pelos agentes de desenvolvimen- to abrange a formagao de uma indtistria do turismo a partir da apreciacao e desfrute dos recursos historicos e naturais presen- .,na forma de produtos turfsticos — por exemplo, os roteiros turisticos. Para os agentes, seu desenvolvimento depen- de da capacitagao profissional e estruturasao das atividades de servigos de turismo ~ por exemplo, alimentagdo e hospedagem para a recepedo dos turistas, sem abordar padrdes alternativos de uso de recursos, indo ao encontro da perspectiva de mercado. A estruturagao citada pelos agentes de desenvolvimento no mencionou melhorias nas estradas de acesso 3s comunida- des, com legislagdes e regulamentagdes espectficas (CAMPA- NHOLA & GRAZIANO, 2000) ou 4 organizagao do trafego da 4rea urbana, o desenvolvimento de sistemas médico-hospitala- res, de seguranga paiblica e de outros servigos e equipamentos de apoio que consigam suportar os perfodos de alta presenga do tu- rista, sem prejudicar a vida cotidiana dos moradores da regio. tes na rej 5 Também conhecido como “Polos’, é um programa interdisciplinar e in terinstitucional de ensino, pesquisa ¢ extensto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), voltado para a efetivacio dos direitos humanos para a constru¢do de conhecimento a partir do didlogo entre os diferentes saberes. O Polos’ atua desenvolvimento projetos na regio urbana de Con- eeiggo do Mato Dentro juntamente com o Ministério Pablico, Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) Figura 2: Mapa da Estrada Real Fonte: site “Segredos de Viagem” 6 htp://segredosdeviagem.com br/site/2014/04/sv-na-estrada-real-co- heca-os-caminhos-das-primeiras-estradas-brasileiras/ 60 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos Figura 3: Evento realizado no Cemitério do Peixe em 2015 Fonte: pagina oficial da Prefeitura de Conceigio do Mato Dentro? Os municipios-sede podem sofrer impactos negati- vos com desenvolvimento do turismo pensado a partir da perspectiva “panacéica” e mercadolégica da atividade. Conceigio do Mato Dentro, por exemplo, j4 sofre com o aumento da circulagao de pessoas devido a presenga da mi- neradora e do empreendimento de construgio da mina, J4 tendo tradigio no turismo, também sofre nos feriados com © fluxo de turistas. Ou seja, os problemas jé evidentes do municipio seriam agravados pelo aumento de pessoas na cidade, sobrecarregando o trifego de carros, de pessoas, 0 acesso aos equipamentos de apoio ao turismo como bancos, hospitais, agéncias postais ete Ressalta-se que pelo Brasil, ha registros de uma série de casos em que o poder polftico local, na ansia de aumen- 7 _http://emd.mg.govbr/cultura-e-patrimonio-historica/cemiterio-do- ;peixe-patrimonio-historia-e-fe 61 Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) tar a arrecadagio ou de resolver demandas pontuais, tem permitido projetos turisticos sem os necessarios estudos de impacto ¢ sem a imprescindivel participagdo da comunida- de, fazendo com que 0 lugar torne-se propfcio para que 0 capital “travestido de turismo rapidamente descaracterize 0 tipo de trabalho e de vida, cause a desestruturagao cultural, a agressio ambiental e uma paisagem degradada distante do imaginario do turista” (ALMEIDA, 2004, p. 2) Figura 4: produgdo agroecolégica em Dom Joaquim Fonte: pagina do Facebook a ASCAXAR ~ Associagao Quilombola de Dom Joaquim Neste sentido, tem-se que 0 poder ptiblico deve atuar para tornar possivel o fortalecimento das comunidades lo- cais, a fim de que, estas, assumam o papel de agentes de seu proprio desenvolvimento socioeconémico, daf a importancia da participagio efetiva destas nesses processos. A participa- 62 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos go esté organicamente integrada ao desenvolvimento em bases sustentaveis, mas s6 6 apreendida através da experién- cia, O planejamento turfstico sustentavel configura-se aquele em que “a comunidade deixa de ser a parte consultada pelos técnicos € passa a ser o agente de seu proprio planejamento, ou seja, esté descobrindo suas potencialidades e colocando-as a favor de seu proprio destino” (MERIGUE, 2007, p. 9) Percepgées sobre o turismo pelas comunidades rurais Da perspectiva das familias agricultoras, hé diferen- tes vis6es sobre o desenvolvimento da atividade na regio. ‘As percepgdes foram categorizadas em 4 tipos (1) agricultores que se encontram desestruturados, tendo como prioridade a sobrevivéncia, na busca de condigdes nimas de dignidade e, portanto, nao se relacionam em ne- nhum aspecto com o turismo; (2) agricultores que prestigiam a natureza ea cultura, mas nao compreendem esses fatores como valor turfstico. Sua preocupagio e interesse so com o uso da terra, da égua € com a produgéo agropecuaria, nao reconhecendo outras praticas de geragdo de renda, Sabem da existéncia e da pré- tica do turismo na sua regiao ou em regides préximas a sua comunidade, mas entendem que ele é feito pelo outro e para os outros € nao pelas pessoas da comunidade nem para as pessoas da comunidade; (3) agricultores que reconhecem as potencialidades natu- rais e culturais da regio, com possibilidades de gerago de renda para suas familias, mas de forma indireta, nfl se re- conhecendo como atores principais nesse proceso; ¢, 63 Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) (4) agricultores que reconhecem seus valores ¢ esto mo- tivados a participar da estruturago do turismo na regio, pensando até em projetos para geragéo de renda para suas comunidades, A maioria dos entrevistados deram respostas dentro dos argumentos sistematizados nos tipos (2) ¢ (8). Reconhe- cem as belezas naturais e os aspectos histdrico-culturais da regio, mas nio se colocam como protagonistas para o desen- volvimento da atividade do turismo ou nao identificam os as- pectos naturais e histéricos com potencial de aproveitamento pela via do turismo, Concordam que o desenvolvimento da atividade envolve a realizagio de melhorias nas estradas de acesso 3s comunidades, com legislagdes e regulamentagées especfficas (CAMPANHOLA & GRAZIANO, 2000). Da perspectiva dos agricultores ¢ agricultoras que naio se interessam pelo desenvolvimento do turismo, vale ressal- tar que apesar do municipio de Alvorada de Minas perten- cer a rota turistica do ‘Caminho dos Diamantes’, da Estrada Real, a pesquisa nao identificou entre os grupos pesquisados nenhuma familia agricultora que reconhecesse © potencial para o turismo, mesmo entre aquelas que se lembraram de festas e celebragdes religiosas ainda existentes Nestas comunidades, registrou-se a inexisténcia de direitos basicos de manutengao das familias agricultoras, 0 que trouxe desconforto na abordagem do tema, em face da distancia quanto as prioridades demandadas pelas familias. Na luta pela sobrevivéncia, a prética do turismo é atividade alheia & realidade dos agricultores visitados. Em Conceigao do Mato Dentro, na regio de Brejatiba ¢ Socorro, comunidades localizadas na extremidade sul do municipio, h4 outros interesses a serem atendidos que sio prioritérios para a comunidade. Um agricultor entrevis do reivindica: nao preciso de dinheiro, eu nao preciso a 6 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos de prefeito, eu nao preciso de nada, Eu preciso é de estrada” A regio carece de melhorias estruturais como a reparagao das estradas e 0 controle da violéncia que vem crescendo exponencialmente apés a chegada da mineradora. Jina regio do Tabuleiro onde se encontra a cachoeira do Tabuleiro —a maior do estado de Minas Gerais e a tercei- ra maior do Brasil’ ~ a expectativa era de identificar maior envolvimento com o turismo pela comunidade ja que regio 6 conhecida nacionalmente como um lugar turfstico. Contu- do, o que se constatou é que sao as pessoas vindas de fora da comunidade que estio envolvidas com a atividade turfstica, Hi que se ter cuidado sobre o desenvolvimento do tu- rismo de forma nao participativa, feito pelos outros, de fora, ¢ para os outros. Em Rio Preto, comunidade vizinha de Ta- buleiro, a familia entrevistada fez uma observago sobre 0 turismo na regitio: “Na Serra, dizem que o pessoal tomou conta, pessoal de fora tomou forga, mas isso é 14 pra cima, nao tem nada com a gente” Necessério questionar quem sao os atores envolvidos no processo de desenvolvimento do turismo. A concepcao do turismo sustentvel requer, acima de tudo, o desejo da comunidade. Esta deve participar da sua construgio e se beneficiar diretamente de seus resultados, Vale lembrar que esta pesquisa tem as comunidades rurais de agricultura fa- miliar como foco, planejamento do turismo no espago rural deve per- correr caminhos que venham, portanto, a beneficiar essas comunidades ¢, nessa perspectiva, a participagio é condigao essencial para o processo. Por isso a importincia de se pen- sar em instrumentos de politica publica adequados, com a participagao dos atores ¢ instdncias locais na definigdo das estratégias a serem assumidas por todos os agentes. Extraldo do site http://guiaviajarmelhor:com br/cachoeira-do-tabulel- ro-a-maior-queda-dagua-de-mg/. Acesso em LOde janeiro de 2017, Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) Considerando a perspectiva das familias agricultoras que demonstraram interesse no desenvolvimento do tu- rismo, esta pode valer-se das préticas culturais (culindria, festas, dangas etc.) e o desfrute das belezas naturais como, atrativo a ser fomentado, Reitera-se o alerta para a necessi- dade de avaliar as politicas pitblicas de turismo locais e sua relagdo com o aproveitamento do ambiente rural enquanto espago de trocas culturais com as comunidades. Figura 5: Cachoeira do Tabuleiro — Conceigéo do Mato Dentro (MG) Fonte: Guia Viajar Melhor* Aatividade turfstica deve ser promovida a partir dos interesses de seus moradores, principais ocupantes, uti- lizadores e preservadores desse espago. E. fundamental o didlogo entre os diversos atores para que as politicas pt blicas nesse espago estejam aliadas ao interesse e partici- 9 http://guiaviajarmelhor.com br/wp-conte “Egrejajpg t/uploads/2016/09/Andre- 66 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos pacdo das comunidades rurais ¢ que os projetos se voltem para estes interesses. Destaca-se as comunidades quilombolas de Conceigao do Mato Dentro e Dom Joaquim que ja recebem turistas interessados em conhecer suas priticas culturais. Percebe- -se nessas comunidades um sentimento de orgulho das suas tradigdes e da riqueza cultural e do interesse em resgatar saberes que esto desaparecendo, como o da Danga do Um- bigo ¢ a retomada da Fogueira-Viola e/ou fomentar e pro- mover as festas populares ¢ tradicionais como a Marujada € 0 Caboclo, as coroagdes de Maio e as noites de reza no més de dezembro, Foi enfatizada a existéncia de doces, qui tutes, quitandas, rapaduras, bem como uma diversidade de elementos da culinaria da regido, evidenciando sentimento de orgulho de pertencimento & comunidade. Figura 6: Forno de barro para assar quitandas Fonte: Pagina do Facebook da ASCAXAR. Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) Figura 7: Biscoito de goma (polvilho) feito no forno de boro aquecido a lenha Fonte: Pagina do Facebook da ASCAXAR. Figura 8: Comunidade Quilombola em Conceigo do Mato Dentro. nn Fonte: Imagem extrafda do documentério “Memérias™” 10 Disponivel em wwwyoutube.com/wateh?v=l2MlyNwuULU. 68 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos Figura 9: Fogao de lenha e comida tfpica em comunidade Quilombola em Conceigao do Mato Dentro ne S. Fonte: imagem extrafda do documentirio “Memérias” Figura 10: Manifestasio popular em Comunidade Quilom- bola em Conceigao do Mato Dentro Fonte: imagem extrafda do documentirio “Memérias” Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) A atividade do turismo ganha relevancia da perspec~ tiva de que o turista possa vivenciar novas experiéncias, as quais se caracterizam na forma de vida simples do campo e do lugar, ao mesmo tempo em que desfruta das cachoeiras, das riquezas naturais, da culinéria, das festas, das manifes- tagdes culturais e da experiéncia histérica. A regido possui atrativos naturais, como as montanhas e as cachoeiras, que sao usualmente explorados pelo turismo no, atividades realizadas no espaco rural, mas alheias a realidade de seus moradores. E neces- sa de aventura ou ecoturis 0 potencializar outros elementos que fomentem as ativi- dades culturais, culinarias, artesanais, simbélicas, inserindo 0s agricultores ¢ agricultoras no planejamento ¢ desenvolv mento do turismo e que caminhe na diregZo do fortalecimen- to identitério do lugar, das pessoas ¢ das coisas. Consideragées finais Pensar as questées ligadas ao tema do turismo impoe explicitar vertentes conceituais, as quais vo desde o en- volvimento do receptor enquanto agente primeiro de seu desenvolvimento e 0 envolvimento do turista na vivencia do cotidiano visitado até a sua caracterizagio enquanto ¢: tratégia de desenvolvimento econémico, Esta abrangéncia coloca em evidéncia a diversidade cultural e as idealizagdes de sustentabilidade e de desenvolvimento. Neste sentido, 0 presente texto se propés compreender a concepgao de tu- rismo a partir da percepsio dos agentes de desenvolvimen- to local ¢ dos agricultores ¢ agricultoras da regio ¢ seu potencial de gerago de renda para as comunidades rurais. Da proposigao buscou-se identificar a existéncia ou nao de consenso entre os agentes de desenvolvimento local e as comunidades rurais, sobre o potencial de desenvolvimento: 70 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos do turismo nesta regiao e sua capacidade de geracdo auténo- ma e sustentivel de renda para as comunidades rurais. Os (as) agricultores (as) entendem os riscos e os bene- ficios que a atividade do turismo pode promover: os entraves ficam por conta da falta de estrutura e da auséncia de apoio do poder piblico local ou do total desinteresse ja que a so- brevivéncia ¢ a prioridade; os beneficios esto no reconheci- mento do potencial da regiao, em face da presenga de festas populares, das diversas manifestagdes culturais, do patrimé- nio histérico, das riquezas naturais e da culindria regional As propostas de desenvolvimento do turismo no es pago rural devem abranger os interesses das comunidades rurais dos municfpios pesquisados, pois sao nas comunida- des que estdo os sujeitos deste estudo ~ os agricultores e agricultoras familiares. Quaisquer iniciativas nesse sentido devem pautar-se na valorizagao dos aspectos naturai cultura e da atividade produtiva das comunidades rurais, gerando complementagao da renda familiar. Dentro dos preceitos do desenvolvimento do tu- rismo como atividade sustentavel, a participagao da co- munidade local em todas as etapas do desenvolvimento turistico é indispensdvel: da estruturagao do produto ao controle dos resultados advindos da atividade. Portanto, © investimento no turismo nas regides estudadas precisa, antes de tudo, envolver as comunidades em todo o proces- so de planejamento, organizacao e controle dos resultados ¢ impactos da atividade. A pratica do turismo sustentavel refere- iso e valorizagao da cultura e saberes locais, que repre- sentem a sta identidade e se relacionem com as caractert ticas do local visitado, possibilitando a vivéncia de novas experiéncias. A farta presenca das festas populares, grupos culturais ¢ artesanato mostra que o fomento as produgdes locais através de projetos de apoio a esses eventos e grupos da e a identifi- n Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) pode ser uma possibilidade de geracao de renda e manuten- gio desses saberes. As festas podem se caracterizar como produtos turfsticos que permitirao a vivéncia de experién- cias singulares pelo turista e 0 desenvolvimento do senti- mento de orgulho nas comunidades. Como o turismo esté diretamente ligado a valorizagio cultural do mundo rural, sugere-se que quaisquer projetos de desenvolvimento turistico se pautem inicialmente na valori- zacio da identidade e autenticidade cultural, desencadeando um resgate de valore ‘ddigos e costumes que venham a for- talecer a agricultura familiar, aumentando a autoestima des- tas populagdes. Por esta via, as ages de fomento ao turismo podem ser pensadas de modo a aumentar a renda, através da comercializagao de produtos aos consumidores/turistas, da vivencia do turista, de atividades recreativas, sendo muitas as formas de se desenvolver o turismo rural. Por meio deste enfoque defende-se a ideia de que as politicas ptiblicas de desenvolvimento do turismo devam buscar estimular processos endégenos, que fortalegam a gestio social e as redes sociais locais de cooperagio, di- namizando a sociedade e a economia locais e melhorando a qualidade de vida destas populagdes. Ha de se ter ob- jetivos miltiplos e integrais, estabelecendo mecanismos institucionais que busquem a participagao e a formulagio de solugdes a partir da base Independente do posicionamento dos agricultores tor- na-se imprescindfvel que os grupos interessados participem como agentes de primeira ordem no desenvolvimento e na preservagao da regio onde vivem. Para o incremento do tu- rismo nestas bases, sustentaveis e participativas, é fundamen- tal que liderancas comunitarias e agentes de desenvolvimen- to possam conhecer experiéncias concretas em que o turismo se dew em comunidades receptoras, sendo elas as gestoras ¢ mantenedoras a atividade e de seus resultados. 7 Turismo e Desenvolvimento: outros caminhos A literatura aponta perspectivas de que a pratica do turismo sustentavel pode trazer preservaco de éreas natu- rais, de locais histéricos, melhorias na infraestrutura ¢ no meio ambiente e valorizagéo da cultura. Também nao des- conhece movimento inverso para essas afirmagées, com 0 risco de o desenvolvimento desordenado do turismo provo~ car destruigéo ambiental ¢ cultural e a desestruturagao dos locais receptores, Agradecimentos A Caritas Brasileira Regional Minas Gi nanciamento desta pesquisa ais, pelo fi- Carlos Alberto Méximo Pimenta e Samanta Borges Pereira (Orgs) Referéncias ALMEIDA, M. G. 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