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Rio de Janeiro - RJ – 20 e 21 de maio de 2021

Trabalho Completo

“No meio da pandemia tinha uma tese”: experiências de pesquisas sensíveis em tempos
de isolamento social

Samanta Borges Pereira


José Kennedy Lopes Silva
Flávia Naves

RESUMO ESTRUTURADO
A produção de uma tese é um processo exaustivo, intensificado em um contexto de pandemia
e isolamento social. O avanço da doença, o medo da morte, as consequências econômicas e
sociais podem nos levar à exaustão. Essa já é uma condição reconhecida entre os pesquisadores
que trabalham com temas sensíveis. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é narrar a
experiência de pesquisa de dois doutorandos que estão desenvolvendo suas teses durante o
isolamento. A forma sensível com que os pesquisadores se propuseram a realizar suas pesquisas
provocou uma série de tensionamentos sobre o caminho percorrido até o momento. Utilizou-se
da autoetnografia para a produção de informações e como recurso que pode ajudar a enfrentar
os desafios de nossas pesquisas. Espera-se contribuir para que pesquisadores possam pensar
sobre suas trajetórias, expectativas e frustrações, (re)conhecendo-os não como externalidades,
mas parte da experiência de pesquisar.
Palavras-Chave: Experiência de Pesquisa; Pandemia; Temas sensíveis; Condição sensível;
Autoetnografia.

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1. Introdução
A produção de uma tese é um processo exaustivo, independente do contexto em que se esteja.
As escolhas de pesquisa – tema, objeto, métodos - e as opções dos caminhos que desejamos
seguir são “extremamente demandantes quando realizadas de forma rigorosa” (ALCADIPANI,
2011, p. 346). No contexto de uma pandemia, nos sentimos com uma sobrecarga física, mental,
emocional que dificulta ainda mais a concentração (JARRETT, 2020) e dedicação a essa
atividade significativamente complexa.
Em março de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a COVID-19 como uma
doença pandêmica e determinou o isolamento social como uma das principais medidas de
contenção das contaminações (OPAS, 2020). Todos estão sobrecarregados mentalmente,
resultado da necessidade de nos adaptarmos a essa nova vida (JARRETT, 2020), com o
bombardeio de informações, que nos confunde e cria obstáculos para a contenção do surto
(HERNÁNDEZ, 2020), com o medo da morte, do desemprego, do avanço da mortalidade nas
regiões periféricas, com a instabilidade política (SILVA; BARBOSA, 2020). A pandemia
trouxe repercussões de ordem econômica, social e mental que afetam a vida de todas as pessoas.
Se a produção de pesquisa, por si, pode levar o pesquisador ao seu limite (ALCADIPANI,
2011), em um contexto de pandemia, essa experiência se intensifica. Nesse sentido, o objetivo
deste artigo é narrar a experiência de pesquisa de dois doutorandos que estão desenvolvendo
suas teses durante o isolamento. A forma sensível com que os pesquisadores se propuseram a
realizar suas pesquisas provocou uma série de questionamentos, tensões e emoções no caminho
percorrido até o presente momento. Os relatos dessas experiências contam as expectativas e as
implicações com a realização da pesquisa, o desgaste, a sensação de culpa, a frustração, a
solidão e os esforços para (re)conhecer novos sentidos para a pesquisa.
Fez-se uso da autoetnografia como recurso de escrita expressiva, autorreveladora, que pode
ajudar a enfrentar os desafios da vida (NEWMAN, 2016). Reconhece-se que, ainda que
elementos autobiográficos estejam presentes no método autoetnográfico (SANTOS;
BIANCALANA, 2017), as histórias pessoais devem ser lidas não como relatos autocentrados,
mas como um “trampolim para uma compreensão maior” (FORTIN, 2009, p. 38) das infinitas
experiências de pesquisa.
O conhecimento é criação, resultado de um movimento em que o saber se entranha com o agente
da ação do conhecer (CHAVES; PAULON, 2015). O ato criativo do cientista “tem de se
conhecer intimamente” antes que conheça o que com ele se conhece do real (SOUSA-SANTOS,
2001, p. 52). A ciência é também autobiográfica e seu caráter autorreferenciável deve ser
assumido (SOUSA-SANTOS, 2001). Nesse sentido, a intenção dessa proposta foi fazer da
autoescrita um processo de reflexão sobre a pesquisa, os dilemas, as dificuldades, os caminhos
e a potencialidade de se (trans)formar profundamente.

2. Pesquisa Científica e Temas Sensíveis


O desenho de um projeto de pesquisa com temáticas sensíveis nos exige tomar consciência da
magnitude do que investigações dessa natureza implicam, respondendo a um conjunto de
desafios, que vão desde o acesso e a relação com os sujeitos no campo, até os aspectos afetivos
e emocionais que irão emergir desse processo, revelando sua complexidade.

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Lee e Renzetti (1993) entendem que os temas sensíveis são aqueles que podem acarretar
consequências psicológicas decorrentes do desenvolvimento da pesquisa e que apresentem
desafios que podem colocar em risco a relação investigador-investigado. Os autores nomeiam
algumas áreas que podem ser mais ameaçadoras, tais como estudos que abordem: (i) a esfera
privada e a experiência pessoal de forma mais aprofundada; (ii) questões relacionadas com
desvio e controle social; (iii) questões de poder que podem envolver dinâmicas de coerção e
dominação; (iv) algo que é considerado sagrado pelos investigados e que não pode ser
profanado (LEE; RENZETI, 1993). Sayre (2006) ressalta que tópicos e atividades vistos como
privados podem variar em diferentes culturas e diferentes situações.
Sieber e Stanley (1988) também consideram como sensíveis as pesquisas cujos resultados
podem provocar consequências para os participantes da pesquisa, incluindo aqueles indivíduos
que não participaram da pesquisa, mas que podem ter suas vidas afetadas por essas descobertas.
Para Díaz Fernándes et al. (2012), uma temática sensível pode ser definida pela delicadeza do
tipo de informação ou, ainda, pelo incômodo provocado no entrevistado, pelas perguntas
formuladas. Pérez-Tarres et al. (2019) relataram as circunstâncias no trabalho de campo que
produziram essa sensibilização: dificuldades de acesso aos participantes, os silêncios, as
evasivas ou reticências de falar sobre determinados temas, a dor, o medo das represálias ou
grande necessidade de anonimato, os impactos emocionais durante e depois das entrevistas e
os reflexos dessas situações nos resultados do trabalho.
Díaz Fernándes et al. (2012) argumentam ainda que o caráter sensível de qualquer pesquisa nas
ciências sociais deve considerar que serão extraídas informações que antes não eram visíveis e
parte da vida privada e pessoal de uma pessoa será revelada. Diante dessas ponderações,
podemos considerar que a sensibilidade da pesquisa pode ter menos relação com determinados
temas e mais relação com a forma como o pesquisador constrói o objeto, sua relação com os
sujeitos e os caminhos para realizar sua investigação, diante de um contexto que penetra a
consciência ética de quem pesquisa, independente de se abordar teoricamente o conceito de
“tema sensível”.
Condomines e Hennequin (2014) identificaram algumas pesquisas sobre temas sensíveis no
campo da Administração, incluindo trabalhos sobre etnicidade em marketing, fracasso na
empresa, comportamento desviante em negociações, conflitos no trabalho, riscos psicossociais,
suicídio no trabalho, assédio psicológico, tabus no marketing, delinquência empresarial,
corrupção, entre outros. No Brasil, encontramos a pesquisa de Alcadipani e Cepellos (2017),
que analisaram suas experiências com temas sensíveis a respeito de pesquisas realizadas com
uma força policial militar e com executivas e envelhecimento, respectivamente. Os autores
apontaram a raridade das discussões a respeito de pesquisas sensíveis no campo da
Administração no Brasil.
As pesquisas sobre temas sensíveis aqui mencionadas apresentam caminhos metodológicos ou
sugestões que visam orientar e proteger a pesquisa e os pesquisadores na sua realização, tais
como: senso de propósito, foco onde se quer chegar e visão do final, condições que ajudam a
enfrentar as questões sensíveis que vão emergir durante a pesquisa (ALCADIPANI;
CEPELLOS, 2017); forma, conteúdo, estrutura dos roteiros de pesquisa, incluindo a disposição
adequada das perguntas e de termos, além do desenvolvimento da relação de confiança e
empatia (COSTA, 2013); utilização de métodos mistos simultâneos baseados no conceito de
“dessensibilização” com o intuito de conduzir a maior franqueza do entrevistado
(SAUNDERS; THORNHILL, 2017); apresentação de responsabilidades, orçamento, avaliação
de riscos e elaboração de estratégias nas diretrizes de pesquisa de projetos dessa natureza e a

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inclusão de estratégias para ajudar a lidar com essas questões nas políticas que regem a prática
de pesquisa nas universidades (DICKSON-SWIFT et al., 2007).
Essas orientações não se diferem significativamente das teorias e práticas de pesquisa
qualitativa, tais como as apresentadas na obra Handbook of Qualitative Research de Denzin e
Lincoln (1994). Alertas sobre o fato de que pesquisas sobre temas sensíveis podem gerar
transtornos para pesquisadores e pesquisados (ALCADIPANI; CEPELLOS, 2017) caberiam
em qualquer pesquisa qualitativa, partindo do pressuposto de que uma pesquisa sempre provoca
turbulências, independente de como o pesquisador lida ou não com elas, se relata ou não relata
essas inquietações, se elas são consideradas como parte do processo de pesquisa ou ignoradas
como externalidades.
Ao propor combinar métodos para realizar pesquisas com temas sensíveis sem sensibilizar os
participantes (SAUNDERS; THORNHILL, 2017), visando a compreensão exata do tópico de
pesquisa (CONDOMINES, HENNEQUIN, 2014) transforma-se uma experiência de pesquisa
em um experimento (BONDÍA, 2002), desumanizando as relações. No campo da
Administração, esse modelo de ciência é predominante. As formas de organização tais como as
conhecemos atualmente nasceram associadas ao paradigma científico representado pelo
Discurso do Método de Descartes (DUSSEL, 2006).
A administração se concentra demasiadamente no cálculo e na matematização da reflexão, até
mesmo nas disciplinas que abordam o fator humano. A predominância desse pensamento
matemático, positivista e impessoal é perigosa, porque tende a privilegiar um modo de
raciocínio formal, centrado na resolução rápida de problemas, raciocínio que não favorece o
desenvolvimento da sensibilidade e se mostram indiferentes ao sofrimento humano (AKTOUF,
2005), inclusive o do próprio pesquisador-humano.
Barbour (2001) ressalta o equívoco de considerar que a utilização de procedimentos puramente
técnicos conferiria rigor na pesquisa qualitativa. Esses procedimentos podem fortalecer o rigor
somente quando alinhados à compreensão ampla do desenho da pesquisa e da análise das
informações. Vasconcelos et al. (2021) apontam que a atual discussão sobre rigor científico e
integridade em pesquisa é marcada pelo relato científico honesto e transparente.
A pretensão de eliminar a eventualidade de uma hesitação ou dúvida é consequência da ausência
do tempo da reflexão e do exercício da consciência na sociedade contemporânea, que nos impõe
o instantâneo, o imediato, que afasta a possibilidade de perceber, olhar e ouvir distintamente
(HAROCHE, 2008) e que tem pautado a concepção hegemônica de fazer pesquisa. O foco na
técnica está provocando a incapacidade de imaginar, de ver e de sentir (CORNILLE;
IVERNELL, 1999).
Dickson-Swift, James e Liamputtong (2008) apontaram que as discussões sobre pesquisa
sensível têm se concentrado em dimensões éticas, tais como consentimento informado e
controle do dano, mas que o foco restrito nessas dimensões pode acabar desconsiderando outras
questões fundamentais inerentes a essa pesquisa. Para Ramírez-Pereira (2017), ainda que se use
o método científico rigorosamente, é preciso enfrentar a imprecisão de ser humano (grifo
nosso), fazendo emergir as dificuldades que apresentam esses estudos. Castellano (1998) afirma
que não é possível falar de relações pré-determinadas, como a que acontece entre o pesquisador
e os sujeitos da pesquisa, sem que o impreciso esteja presente.
Partindo das considerações desses autores, compreendemos que a ética é tratada como um
elemento protocolar e instrumental em muitas investigações, em detrimento de uma ética
voltada para o cuidado e como condição fundamental da existência humana. Para Haroche

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(2008), o esvaziamento da capacidade de atenção, indissociável da reflexão, provocado pela


imposição do instantâneo, do imediato da sociedade contemporânea, leva ao empobrecimento
da interioridade, podendo retirar da pessoa seus atributos mais fundamentais (HAROCHE,
2008), tais como a nossa capacidade de cuidar uns dos outros.
Se não se passa imune a uma experiência de pesquisa desse gênero (ALCADIPANI;
CEPELLOS, 2017), o relato de aspectos mais subjetivos da pesquisa, como os desafios e as
reformulações realizadas no transcurso, pode levar ao amadurecimento da pesquisa (COSTA,
2013). Outros saberes e aprendizados emergirão ao explorar as experiências desse tipo de
pesquisa (ALCADIPANI, CEPELLOS, 2017).
Para Bondía (2002, grifo nosso), experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos
toca e não o que se passa, pois nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada vez
mais rara. Nesse sentido, sugerimos compreender a pesquisa como experiência que nos
transpassa, não nos deixa imune, nos sensibiliza, nos indigna. Ou seja, nos propomos a
compreender a condição sensível das experiências de pesquisa.

3. Dos Temas Sensíveis à Condição Sensível da Experiência de Pesquisa


Em “A condição sensível: formas e maneiras de sentir no ocidente”, Claudine Haroche examina
as transformações das maneiras de sentir, questionando as condições e a própria capacidade de
sentir das sociedades contemporâneas (HAROCHE, 2008). De uma perspectiva mais estrutural
e abstrata, condição se refere às formas pelas quais os processos se atualizam no interior das
pessoas e na vida em sociedade. Nesse sentido, a condição sensível de Haroche se refere ao que
os sentidos, a sensibilidade e os sentimentos geram de ético e de estético em nossas escolhas
públicas e privadas (HAROCHE, 2008).
Para a discussão pautada nesse artigo, em diálogo com Haroche, condição sensível se refere às
formas e escolhas estabelecidas no processo de pesquisa e de produção de conhecimento, dos
princípios que regem essas escolhas, à medida que nos permitimos (ou não) sermos
transpassados por essa experiência. Inspirados na proposta de pensar a educação a partir do par
“experiência/sentido” de Bondía (2002), propomos pensar o processo de pesquisa e de produção
de conhecimento a partir da articulação “experiência/sentido”.
Para o autor, a experiência demanda um momento de interrupção: parar para pensar, para olhar,
para escutar, para sentir, sentir mais devagar, suspender o automatismo da ação, falar sobre o
que nos acontece, cultivar a arte do encontro, ter paciência, dar-se tempo e espaço (BONDÍA,
2002). Essas mesmas condições também são necessárias no exercício do pensamento. Haroche
(2008) aponta que é impossível pensar quando não há duração, profundidade, ausência de
pausas, o que faz o pensamento se perder no fluxo das sensações.
A ciência não tem mais tempo de aprofundar as questões para além dos acontecimentos,
produzindo conhecimentos efêmeros que tendem à superficialidade (HAROCHE, 2008).
Bondía (2002) chamou esses acontecimentos de informações e o excesso de informação impede
a experiência. O sujeito da informação é obsessivo pela informação, mas o que ele consegue é
que nada lhe aconteça. O autor faz uma diferenciação fundamental entre o “saber de
experiência”, separando-o de saber coisas - de quando se está informando - e apresenta um
exemplo:
Depois de assistir a uma aula ou a uma conferência, depois de ter lido um livro ou
uma informação, depois de ter feito uma viagem ou de ter visitado uma escola,
podemos dizer que sabemos coisas que antes não sabíamos, que temos mais
informação sobre alguma coisa; mas, ao mesmo tempo, podemos dizer também que

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nada nos aconteceu, que nada nos tocou, que com tudo o que aprendemos nada nos
sucedeu ou nos aconteceu (BONDÍA, 2002, p. 22).
O sujeito da experiência não se define por sua atividade (BONDÍA, 2002), entendida como agir
de modo incessante, sempre tentando se adaptar ao movimento contínuo, se submetendo a ele
(HAROCHE, 2008). O sujeito da experiência se delineia pela sua “passividade, anterior à
oposição entre ativo e passivo, mas a passividade advinda da paixão, de padecimento, de
paciência, de atenção” (BONDÍA, 2002, p. 24). Ele também é um sujeito “ex-posto”, assumindo
a vulnerabilidade e o risco que essa exposição impõe. O sujeito que nada lhe toca, nada lhe
afeta é incapaz da experiência (BONDÍA, 2002).
Para Jay (2009), para ser digno do uso do termo “experiência”, algo precisa ser modificado,
seja um novo conhecimento, um enriquecimento de vida ou uma lição amarga. Uma experiência
não pode nos deixar onde começamos. Bondía (2002) afirma que o saber da experiência não
existe fora de nós e só tem sentido no modo como configura uma maneira de estar no mundo,
que é tanto ética (modo de conduzir-se) quanto estética (um estilo).
Para Bondía (2002, p. 27), o saber da experiência não pode ser aprendido da experiência do
outro, a menos que essa experiência possa ser “revivida e tornada própria”. Para essa limitação,
Jay (2009) nos apresenta um caminho: a experiência pode ser acessível através do relato post
facto, um processo de conversão da experiência em uma narrativa dotada de sentido.
Narrativas de experiências de pesquisa - ou seja, de pesquisadores que assumiram a
subjetividade que a pesquisa qualitativa demanda, que se permitiram serem transpassados na
relação com os sujeitos da pesquisa, que assumiram suas vulnerabilidades, os imprevistos, suas
dúvidas – revelam muito sobre o fazer pesquisa. Destaco a narração de Fahie (2014) sobre sua
experiência de pesquisa:
A [...] injustiça de suas experiências me perturbou profundamente, assim como minha
própria incapacidade de "torná-la melhor". Essa impotência fez com que eu me
sentisse frustrado e desamparado, como se, de alguma forma, eu a tivesse
decepcionado. [...]. Eu sabia que não tinha feito nada de errado e que eu havia agido
de maneira apropriada durante e depois da minha entrevista. [...]. Eu sabia de tudo
isso, mas isso não me fazia sentir melhor. Senti uma espécie de desconexão entre o
que eu sabia e o que eu sentia. (FAHIN, 2014, tradução nossa).
O trabalho de campo nos coloca diante de situações que provocam uma tomada de consciência
(PÉREZ-TARRES et al., 2019), quando nos permitirmos nos expor, reconhecer nossas
vulnerabilidades, nossas incapacidades. Ao nos comprometermos a estudar vidas humanas, é
condição fundamental nos dispormos a enfrentar os sentimentos humanos (ELY et al., 1991).
Fahie (2014) relata que nenhum treinamento ou orientação foi capaz de antecipar todas as
eventualidades e prepará-lo para processar os sentimentos posteriores à realização da pesquisa.
Sua necessidade de “fazê-la melhor” vincula-se à nossa capacidade de cuidar uns dos outros, o
que para alguns teóricos é parte da natureza humana (DICKSON-SWIFT et al., 2007).
Entretanto, Haroche (2008) ressalta que as maneiras de sentir refletem um determinado estado
das condições sensoriais e que passamos por transformações profundas nas maneiras de sentir
das sociedades contemporâneas.
Diante disso, a questão central parece ser, portanto, a necessidade de re-situar a perspectiva
ética e o lugar político do pesquisador (ROMERO, 2008). Articulando as reflexões de Haroche
(2008) sobre a urgência de estabelecermos novas maneiras de ser e sentir, com o significado
que Bondía (2002) atribuiu à experiência e ao saber da experiência, defendemos que condição
sensível da experiência de pesquisa, com ênfase na necessidade da reflexão constante, na

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abertura para lidar com os imprevistos e na nossa capacidade de cuidarmos uns dos outros
(incluindo cuidar de nós mesmos, não como ato individualista, mas de respeito à vida).

4. Percurso Metodológico
Esta pesquisa se caracteriza como qualitativa, que teve como fonte de informações o diálogo
entre os dois pesquisadores e o relato autoetnográfico produzido por cada um deles. O diálogo
inicial foi realizada pelo whatsapp no dia 12 de janeiro de 2021 e foi transcrita textualmente,
na íntegra, totalizando três páginas. Os relatos autoetnográficos foram produzidos entre os dias
13 e 28 de janeiro de 2021, a partir de anotações diversas que realizaram durante as leituras e a
produção da tese, além das lembranças e do esforço de reflexão sobre esse momento. Para
assegurar a integridade da revisão por pares cega, foram utilizados “Autor1” e “Autor2” para
identificar os relatos dos autores.
Uma terceira autoria está presente nesse texto. Uma aproximação decorrente da própria
pesquisa, alguém de compartilhou - de outro lugar (como docente e como orientadora) - parte
dos processos de atravessamento dos pesquisadores pela experiência de pesquisa. Essa
proximidade trouxe uma interpretação mais profunda para as narrativas que em muitas ocasiões
transbordavam ou se desviavam do foco proposto nesse trabalho.
Nesse sentido, a Introdução foi apresentada na forma impessoal. A abertura das análises foi
narrada na primeira pessoa do singular, pois se refere às reflexões individuais de “Autor1” que
levaram ao convite e à produção dos relatos e deste texto. Nas análises foram utilizadas a
primeira pessoa do plural quando se referir às reflexões dos pesquisadores e o impessoal quando
se referir às análises dos três autores.
A análise das narrativas se apoiou nas conexões frequentes entre os vários elementos das
narrativas, construindo uma trama, que se inicia com uma situação estável – a produção da tese
-, é perturbada por uma força que causa desequilíbrio – a pandemia – e se restabelece por uma
nova força – os novos sentidos da pesquisa (CZARNIAWSKA, 2000), reconstruindo a
experiência de pesquisar temas sensíveis no contexto da pandemia.
As categorias que orientaram as análises emergiram das próprias narrativas e foram organizadas
em quatro eixos: a) Expectativas para a realização de uma pesquisa comprometida; b)
Frustração e perda de Sentido; c) Ausência de interlocução e apoio; d) Recomeços de uma
experiência que não se encerra.

5. Análises e discussões
As pesquisas desenvolvidas por dois dos autores desse trabalho podem ser consideradas como
sensíveis. Ambos se dispuseram a estudar vidas humanas e enfrentar os sentimentos humanos
que envolvem tal processo (ELY et al., 1991). Eles viveram a experiência de ser perpassados e
sensibilizados pelos fenômenos sociais (BONDÍA, 2002) e pessoas com as quais pretendiam
estabelecer diálogos e sentiram sua maneira de estar no mundo ser modificada (BONDÍA, 2002)
em suas experiências de pesquisa. No entanto, a pandemia passa a compor o cenário dessa
experiência de pesquisa sensível, trazendo, com o isolamento, com paradas, com mudanças
obrigatórias, novos sentidos e até mesmo a possibilidade de olhar para essas experiências de
um outro ângulo.

5.1 Experiências de pesquisas no contexto da pandemia


Era início de 2021 e eu ainda estava tentando entender o que foi 2020. Depois de uma pequena
pausa para visitar minha mãe no Natal, eu tinha retornado para a tese fazia uma semana, quando

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recebi a mensagem: “Viva por aí? Tudo bem?”. Era meu amigo e parceiro do doutorado,
“Autor2”.
Durante a pandemia, eu decidi fazer isolamento virtual também. Nossa última conversa mais
longa tinha sido em novembro de 2020. Eu respondi “retomei a tese na semana passada e vida
que segue. Sem muita novidade”. Mergulhada na tese e em isolamento, parecia que a vida
estava limitada àquilo. Perguntei: “E você, o que você conta?”, no que “Autor2” respondeu:
“Mais refletindo sobre a tese do que trabalhando efetivamente nela”.
Essa resposta chegou até mim e ficou. Nela havia algo daquilo que eu estava lendo, escrevendo,
analisando, articulando nos últimos quatro meses, quando tive que abandonar meu projeto de
tese anterior - por causa da pandemia – e recomeçar. Retornei: “Refletir sobre a tese é trabalho
de tese, faz parte dela, é inerente a qualquer pesquisa que tenha o caráter da sua pesquisa, das
suas implicações, faz parte da natureza da produção de conhecimento, que demanda o
pensamento reflexivo. Senão não é conhecimento, é linha de produção”.
Continuamos conversando e encerramos depois de mais de uma hora. Mas não consegui sair
dessa conversa. Aquela troca de experiências foi muito significativa para mim e as palavras
ficaram rodando na minha cabeça. Foi então que fiz o convite para escrevermos juntos sobre
essa experiência, tanto com o objetivo do registro científico, quanto como prática reflexiva que
poderia nos ajudar a lidar com o que estávamos vivendo, “não só como uma ferramenta analítica
[...], uma lente para olhar [nossas pesquisas], mas também para compreender o que acontecia
de singular e contingente durante o [...] próprio processo de pesquisa (FERNANDES, 2011, p.
121).
Expectativas para a realização de uma pesquisa comprometida
As histórias pessoais das narrativas aqui apresentadas sobre as experiências de pesquisa durante
a pandemia se iniciam antes do período de isolamento. Definimos um marco o início do
doutorado, em março de 2018. Mas são anteriores a ele, provavelmente quando começamos a
refletir sobre nossas implicações e nosso envolvimento com o objeto e os sujeitos da pesquisa.
A ideia de realizar uma pesquisa na Amazônia sempre foi meu desejo, desde quando
decidi fazer o doutorado. Essa vontade se deu por diversos fatores: nasci na Amazônia
e sou professor em uma universidade pública. As diversas “amazônias” sempre
estiveram presentes na minha formação. Escrever e estudar sobre a Amazônia seria
um modo de contribuir social e politicamente com a região e retribuir as oportunidades
que tive e que foram subsidiadas por ela (Autor2, 2021).
Quando entrei no programa, eu achava que eu sabia exatamente o que eu queria
pesquisar. Eu me dediquei ao projeto que foi submetido, depois mantive os sujeitos
de pesquisa, mas alterei o campo teórico. Depois mudei de projeto, tema, sujeitos,
teoria. Dada às dificuldades de entrada no campo, tive que abandonar a proposta. Um
novo projeto, novas leituras, no contexto. Três projetos entre março de 2018 e
setembro de 2020. Mas uma coisa permanece: eu acredito na realização de uma
pesquisa que faça sentido para quem é investigada/o e para quem investiga e na
possibilidade de fazer da pesquisa mais um elemento de transformação (Autor1,
2021).
É uma preocupação nossa - os pesquisadores - a responsabilidade com a realização da pesquisa
e o desejo de que ela possa contribuir com a vida dos sujeitos envolvidos. Existem dois aspectos
com relação à responsabilidade do pesquisador para serem considerados. O primeiro se refere
a um princípio ético do pesquisador que supera os protocolos éticos exigidos. Vincula-se mais
ao compromisso do pesquisador em assumir um percurso metodologicamente honesto (FAHIE,
2014). Nesse sentido, o senso de responsabilidade é princípio de partida, que existe antes da

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pesquisa e que se deve manter em vigilância durante o processo. O segundo se refere ao


privilégio de ter a oportunidade de realizar uma pesquisa construída com os sujeitos, com
potencial de transformação e da responsabilidade de conseguir tornar aquela realidade melhor
(DICKSON-SWIFT et al., 2007).
Havia muita expectativa com a aproximação e a entrada no campo e a possibilidade de começar
a enxergar possibilidades de construção da pesquisa junto com as comunidades envolvidas e da
contribuição com a melhoria de suas vidas. A realização de um trabalho de campo era essencial
para nós e refletia, em certo sentido, a percepção de uma pesquisa que se articula com o mundo,
com pessoas, não uma pesquisa sobre essas pessoas, mas com elas.

Em dezembro de 2019 tive a última reunião do ano com o orientador, que eu


considerava muito importante pois eu passaria os próximos meses construindo a tese.
Saí de lá animado com a possibilidade de, finalmente, colocar o pé numa parte das
várias “amazônias” que compõe a Amazônia brasileira. No início de 2020, por
intermédio de uma colega pesquisadora, consegui conversar com o coordenador do
Movimentos dos Trabalhos Rurais Sem Terra (MST), que se mostrou muito receptivo
e me apresentou a possibilidade de realizar a pesquisa em dois assentamentos rurais
(Autor2, 2021).
Em setembro de 2019 iniciei um novo projeto, sobre a participação das mulheres em
uma manifestação cultural de Minas Gerais. Eu mergulhei nesse projeto e em outubro
do mesmo ano, eu já tinha feito uma visita de campo e conseguido outros três nomes
de mulheres para entrevistar. Eu estava ansiosa para construir essa relação e cheia de
ideias para trocar com elas (Autor1, 2021).

A experiência é uma relação com algo que se experimenta, que se prova, do latim experiri
(BONDÍA, 2002). Nós queríamos experimentar aquele encontro, aquelas relações. Para
Haroche (2008) é necessário o aprofundamento dos acontecimentos para conferir sentido a eles.
Nossa intenção era a de aprofundar essas relações, nos envolvermos com as comunidades,
contribuir com elas. Isso dava sentido ao nosso projeto de pesquisa.

Frustração e perda de sentido


Em março de 2020 a OMS declarou a COVID-19 como uma doença pandêmica e nossas vidas
foram alteradas em todas as dimensões. Para conter a proliferação do vírus e o avanço da
doença, tivemos que restringir ao máximo nosso contato físico com outras pessoas. Tivemos
que nos isolar e nos adaptar a novas formas de viver.
Nos primeiros dias da pandemia eu estava tranquila e me dediquei às leituras. Eu
passei o segundo semestre de 2019 sozinha e pensei que não seria muito diferente. De
repente, eu paralisei. As pessoas estavam morrendo de COVID, de fome, de
negligência. Eu tinha casa, comida e água limpa e sentia vergonha disso. Tinha
vergonha de minha maior preocupação ser uma tese de doutorado. Eu tinha
taquicardia e passei muitas noites sem dormi. Quando tive que abandonar o projeto
mais uma vez, além da pressão do tempo, eu me preocupava em não atrapalhar uma
relação que tinha acabado de começar. Ela tinha me recebido na sua casa e eu não
poderia mais contar sua história. Eu senti o peso de criar alguma expectativa nela e
decepcioná-la. Nada estava fazendo sentido (Autor1, 2021).
Uma inquietude moral me assolava (e assola): eu estava protegido, mas pessoas que
dão sentido à minha pesquisa estavam e estão lutando pela vida em comunidades
desassistidas pelo Estado. Como prosseguir com a pesquisa? Mas como abrir mão do
contato e do aprendizado com essas populações? Eu não deveria estar na linha de
frente, auxiliando essas populações nos diversos problemas sociais e econômicos
gerados pela pandemia e que os expuseram desumanamente? Concentrar-me para as

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leituras e escrita da tese tornou-se um fardo. Cada amazônida que morre coloca em
dúvida o sentido da pesquisa (Autor2, 2020).
A pesquisa sensível pode ser uma experiência muito intensa e levar à exaustão física e
emocional, durante e depois da pesquisa, uma exaustão decorrente de um sentimento de culpa
(DICKSON-SWIFT et al., 2007) do privilégio de poder viver com dignidade durante a
pandemia, culpa por desejar fazer a pesquisa de campo, por ter como prioridade uma tese,
enquanto vidas se perdem. Uma crise ética, como se fosse uma traição às pessoas (LOFLAND;
LOFLAND, 1995), usando pessoas para fins de pesquisa (ETHERINGTON, 1996). As
pesquisas mostram uma exaustão durante e depois da pesquisa. Na nossa experiência, nós nem
chegamos a ir a campo profundamente e já estávamos exaustos com as inquietudes que
emergiram do contexto da pandemia.
A culpa também se relaciona com o receio de “dessensibilizar-se”, de se tornar insensível,
imune (DICKSON-SWIFT et al., 2007), de naturalizar a catástrofe à medida que vidas perdidas
iam se tornando estatísticas, que uma situação extrema, como explica Scott (1998) possa se
tornar “bizarramente comum”. Quiceno (2008) destaca a complexidade de escutar, sentir,
dimensionar a dor do outro. Aisha Ahmad, pesquisadora canadense experiente em situações de
guerra e conflitos, acha importante que não estejamos em negação, porque nenhuma pessoa sã
consegue se sentir bem em uma situação de catástrofe. “Agradeça pelo desconforto que sente”
(AHMAD, 2020).
Essa culpa, essa dor pelo sofrimento do outro remete-nos à nossa capacidade de cuidarmos uns
dos outros, o que parte da natureza humana (DICKSON-SWIFT et al., 2007). Haroche (2008)
explica que para que a dor ocorra é preciso um sujeito capaz de sentir. Sensível é nossa
capacidade de também sofrer e de imaginar, perceber o sofrimento do outro (HAROCHE,
2008). Bondía (2002) entende que o sujeito da experiência é um sujeito sofredor, do contrário,
seria um sujeito inatingível (BONDÍA, 2002). A dor sem sujeito, é impensável. Na experiência
de pesquisa, se pesquisador e pesquisado são sujeitos, então os sujeitos de pesquisa sentem dor,
a experiência de pesquisa também tem dor.

Nossa expectativa da experiência com a pesquisa de campo e com a possibilidade de


contribuição foi interrompida, o que nos levou a um sentimento de frustração, impotência e
perda de sentido. Sentíamos uma incapacidade duplicada: de não poder ajudar e de não poder
realizar a pesquisa. A pesquisa era a possibilidade de contribuição social. Se a pesquisa foi
inviabilizada, a contribuição também.

Ausência de interlocução e apoio


O isolamento pode provocar efeitos desoladores. Ahmad (2020) explica que o primeiro estágio
de uma catástrofe é tentar garantir a segurança e nela está incluída a manutenção de uma rede de
conexões sociais para não ficar sozinho. A autora aponta que a ausência dessa estrutura
emocional pode se tornar um desafio esmagador (AHMAD, 2020). A dinâmica da reflexão e do
pensamento demandam diálogos e trocas, que são fundamentais para a ampliação do olhar, para
conseguir definir e redefinir caminhos, para conseguir ver o que não estamos conseguindo ver.
Eu sabia que estava difícil pra todo mundo e eu não queria incomodar ninguém. Eu lia
muita coisa, tinha muitas ideias, parecia que fazia sentido. Mas quando eu sentava na
frente do computador, não saía nada. Virava a madrugada no computador, mas não
conseguia sair do lugar. Eu tive crises de ansiedade intensas no início da pandemia e
achei que me isolar era a melhor saída. Fiquei uns seis meses sem falar com uma grande
amiga, alguém que eu falava todo dia, que era uma grande parceira de ideias. Eu me
sentia sufocada, com muita vontade de conversar com alguém, de compartilhar as

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ideias que passavam pela minha cabeça. Mas eu não conseguia abrir espaço para
ninguém. Eu precisei primeiro de ajuda profissional, pra depois retomar minhas
relações sociais (Autor1, 2021).
O isolamento social interferiu nas possiblidades de diálogo sobre a pesquisa. Sinto
falta de falar sobre a pesquisa, de conversar com os colegas do programa sobre o
trabalho. A interlocução é muito importante no meu processo de reflexão da tese e a
ausência dela impactou diretamente na escrita do projeto. Participei de uma reunião
do grupo de pesquisa e pude conversar com os colegas, ouvi-los sobre suas pesquisas,
falar sobre a minha, seus progressos e dificuldades. Essa conversa me deixou mais
animado para continuar e finalizar o projeto de qualificação (Autor2, 2021).

O processo de conhecimento demanda trocas, diálogos. Sousa-Santos (1995) explica que a


possibilidade do diálogo decorre do princípio de incompletude de todos os saberes. “Todo saber
é a superação de uma ignorância”. O que cada saber acrescenta para o diálogo é a forma como
orienta na superação de uma certa ignorância (SOUSA-SANTOS, 1995, p. 25). Para aprender
é preciso que sejamos capazes de aprender o que não sabemos (HAROCHE, 2008), nos
diálogos, nas trocas, nas interações sociais.
Dada a natureza emocional dessas pesquisas, redes de apoio informais, com possibilidades de
diálogos e aconselhamentos com colegas, amigos de confiança (DICKSON-SWIFT et al.,
2007) e reuniões dos grupos de pesquisa para dialogar e sentir o tema estudado são
fundamentais (RAMÍREZ-PEREIRA, 2017).
Entretanto, o isolamento dificulta o acesso aos grupos de pesquisa e a tratamentos profissionais.
Para quem já fazia esse tipo de tratamento, sessões de terapia virtuais, ainda que não sejam as
condições ideais, podem ser uma possibilidade. Mas iniciar um tratamento terapêutico
virtualmente é um processo mais complexo. De qualquer forma, atendimentos
psicoterapêuticos foram oferecidos de forma gratuita, para amparar psicologicamente a
população1.
Seguindo as recomendações de Ahmad (2020) é importante tomar alguma iniciativa para não
ficar sozinho, seja durante a pandemia, seja em experiências de pesquisa que ocorrem em outros
contextos. Essa rede de conexão e apoio é essencial para nos sentirmos protegidos. “Não
importa o que vier depois: juntos, estaremos preparados e fortalecidos”. (AHMAD, 2020).
Recomeços de uma experiência que não se encerra
Ao mesmo tempo que a pesquisa e a possibilidade de contribuição com os sujeitos e o contexto
investigado foram inviabilizados, a contribuição possível da própria pesquisa é ressignificada no
contexto da pandemia. Garantidas as condições de segurança, a vida cotidiana começa a ficar
mais estável e o trabalho vai fazendo mais sentido (AHMAD, 2020).
O apoio profissional, de minha orientadora e de meu companheiro foram o meu esteio.
Passei a reconhecer que não dava pra transformar o mundo, mas era possível fazer uma
pesquisa digna, dentro dos limites de transformação que cabe a uma tese, dentro dos
meus limites. A medida que isso ia se assentando em mim, passei a conversar com
colegas e amigos pesquisadores sobre minhas novas ideias. Decidi pesquisar a própria
experiência de pesquisadores que lidaram com suas pesquisas de maneira sensível.
Quando eles me contavam fragmentos dessa experiência, começava a fazer sentido pra
mim. As novas leituras também foram me ensinando, me formando, me ajudando a me
conhecer e isso foi expandindo o meu senso de propósito. Eu voltei a ter prazer com a
tese. Senti profunda gratidão e reconheci – agora com menos culpa – o privilégio de
poder viver uma experiência como essa. Eu dei ao tempo o respeito que ele merecia.
Eu tinha muita vida e energia pra fazer parte de outros projetos no futuro. Mas eu queria

1 Um desses serviços pode ser acessado através deste link: https://www.institutogaio.com.br/clinicasocial/

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viver melhor aquele (este) momento presente, de viver minha experiência de pesquisa,
com as alegrias e as dores que ela nos apresenta (Autor1, 2021).
As sugestões da banca de qualificação, juntamente com diálogos com o orientador
ajudaram na decisão sobre os novos rumos do projeto. Irei entrevistar líderes das
comunidades amazônidas por meio digital e realizar análise documental das mídias e
organizações ambientalistas. Meu desejo de pesquisar a Amazônia junto aos
amazônidas é adiado. Mas há uma vida a ser vivida como cientista e cidadão
amazônida. É muito relevante durante o processo de construção da tese criar laços,
aprender com os sujeitos, reencontrar a minha história de amazônida2 com os povos
amazônidas. Esse (re) encontro foi o que alimentou a minha escolha de pesquisa e não
faz sentido para mim pesquisar outro campo. A reaproximação com essa Amazônia é
que nutre a minha vida como professor universitário, é o que dá sentido às minhas
atividades acadêmicas (Autor2, 2021).
O tempo, a reflexão e a acomodação dos sentimentos e emoções foram nos deixando mais
confortáveis até para desfazer ou refazer o que estávamos fazendo e novas ideias foram surgindo
(AHMAD, 2020). Para Bondía (2002), o sujeito da experiência se define por sua receptividade,
disponibilidade, abertura, aceitação. Aquele que alcança exatamente o que se propõe, não é um
sujeito da experiência. Com os devidos apoios, abrimo-nos para outras possibilidades de
pesquisar, sem deixar de lado os princípios que davam sentido à nossa experiência de pesquisa.
Aceitamos os nossos limites, os limites dos sujeitos, os limites do tempo, os limites da tese e
com isso ampliamos nossa própria experiência de pesquisa. Ela não se encerra com a conclusão
da tese.
O processo de conhecimento nas ciências sociais que envolvem relação com outras pessoas
também é um processo de autoconhecimento (SOUSA-SANTOS, 2001) e autorrevelação
(DICKSON-SWIFT et al., 2007), que podem nos mudar como ser humano, na relação com o
outro e na relação consigo mesmo (ROSENBLATT, 2001). Essas pesquisas requerem uma
amálgama de conhecimentos, emoções conscientes, sentimentos, compromisso, honestidade,
sensibilidade com o outro e compaixão consigo mesmo (RAMÍREZ-PEREIRA, 2017).
A compreensão de que a tese é apenas um fragmento de uma experiência muito mais ampla que
é a experiência de pesquisa, a experiência de produção de conhecimento, ajudou a (re) conhecer
qual era o senso de propósito (ALCADIPANI; CEPELLOS, 2017) dos pesquisadores. O
adiamento das expectativas é a possibilidade de que a pesquisa que se projetou no presente
possa ser realizada no futuro, na construção de dessa trajetória. Permitiu ter a visão do final
(ALCADIPANI; CEPELLOS, 2017) da tese como a possibilidade do início de uma outra fase
da experiência de pesquisa, que é o resultado tanto de experiências anteriores quanto de novas
experiências e novos conhecimentos.
Se a experiência nos transpassa, a experiência de pesquisa e a experiência da pandemia, nos
atravessa e nos transforma. Ahmad (2020) acredita que as transformações humanas serão
sinceras, cruas, feias, esperançosas, frustrantes e mais lentas do que estamos acostumados. Ela
nos aconselha a deixarmos que essa tragédia nos permita demolir falsas suposições e coragem
para construir algo novo

2
O termo é pouco utilizado nos estudos acadêmicos, principalmente em pesquisas realizadas por cientistas externos
ao território amazônico. Os moradores o utilizam como adjetivo gentílico para designar o povo da região
amazônica, que com ela se identifica, numa referência regional, simbólica, poética e política. Amazônida carrega
o sentido de identidade e pertencimento à cultura e aos hábitos existentes na Amazônia

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6. Considerações finais
A produção de uma tese tende a levar o pesquisador ao limite. Em um contexto de pandemia e
isolamento social, sentimentos e emoções se intensificam. Quando o caminho de pesquisa
escolhido pelo pesquisador se ancora em uma abordagem que busca envolver-se com o tema,
com o campo, os sujeitos de pesquisa, de maneira sensível, se permitindo ser transpassado por
ela, essa experiência se torna mais complexa.
A experiência de pesquisa é dotada de sentido. Aquele que se permite ser atravessado pelo
processo de pesquisa, vive a experiência de pesquisa. O “sensível” está muito mais naquele que
realiza a pesquisa e nas bases sensíveis que ele escolhe para desenvolver sua pesquisa, do que
na escolha do tema em si. Um experimento em uma pesquisa realizada em laboratório pode se
tornar uma experiência de pesquisa, se deixarmos nos atravessar.
O objetivo deste artigo foi narrar nossa experiência de pesquisa e de desenvolvimento de nossas
teses durante o isolamento. Tivemos que modificar significativamente nossos projetos de
pesquisa. O processo de produção do relato foi também um movimento autorrevelador e nos
ajudou a repensar novos caminhos para as pesquisas. O relato e a reflexão sobre ele nos
ajudaram a reconhecer que nossas culpas, nossa improdutividade, nossas angústias, nossa
preocupação com os sujeitos de pesquisa, com suas dores e suas lutas não nos faziam
pesquisadores menos competentes. Elas nos tornavam mais humanos.
Não é possível tocarmos nossas vidas e nossas pesquisas como se nada estivesse acontecendo.
Ahmad (2020) afirma que a resposta emocional mais saudável é nos prepararmos para sermos
mudados para sempre. Narrar essas histórias e compartilhá-las pode mostrar a outros
pesquisadores que estão vivendo experiências semelhantes que eles não estão sozinhos. Nossa
intenção foi contribuir para que outros pesquisadores possam refletir sobre suas trajetórias, suas
expectativas, frustrações, equívocos, (re)conhecendo-os não como externalidades da pesquisa,
mas parte da experiência de pesquisar. Enquanto pesquisadores, o mundo é o nosso trabalho
(AHMAD,2020), então que possamos construir novos caminhos de pesquisa não somente com
temas sensíveis, mas reconhecendo a condição sensível da experiência de pesquisar o mundo.

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