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Resumo
O objetivo desta pesquisa foi identificar aproximações entre a microrregião de Itajubá (BR) e
o Distrito de Braga (PT) no âmbito do desenvolvimento econômico, social e sustentável, a
partir da Economia da Cultura e do Turismo Criativo. A produção dos dados foi realizada em
duas frentes: bases censitárias do Instituto Nacional de Estatística (INE) e Fundação Francisco
Manuel dos Santos (PorData.pt), Portugal; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e entrevistas com gestores públicos responsáveis pelo desenvolvimento da cultura e do
turismo dos municípios envolvidos. A pesquisa de campo evidenciou os distanciamentos entre
o instituído e o praticado, o que não inibe exemplos promissores do protagonismo político da
comunidade à frente desses processos. Em ambos, se faz importante superar: baixa participação
da comunidade; práticas individualizantes; verticalização das iniciativas de desenvolvimento;
organização empresarial dos movimentos sociais de geração de renda e emprego.
Palavras-chave: desenvolvimento local; economia da cultura; turismo criativo.
Abstract
The objective of this research was to identify approximations between the microregion of
Itajubá (BR) and the District of Braga (PT) in the scope of economic, social and sustainable
development, from the Economy of Culture and Creative Tourism. Data production was carried
out on two fronts: census bases of the National Statistics Institute (INE) and Francisco Manuel
dos Santos Foundation (PorData.pt), Portugal; the Brazilian Institute of Geography and
Statistics (IBGE) and interviews with responsible public managers for the development of
culture and tourism in the municipalities involved. The field research showed the distances
between the instituted and the practiced, which does not inhibit promising examples of the
political protagonism of the community at the head of these processes. In both, it is important
to overcome: low community participation; individualizing practices; verticalization of
development initiatives; business organization of social movements for income and
employment generation.
Keywords: local development; culture economics; creative tourism.
1 Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Doutor e mestre em Ciências Sociais pela PUC/SP. Brasil. E-mail:
carlospimenta@unifei.edu.br.
2 Universidade do Minho (UMinho). Braga, Portugal. E-mail: premoaldo@geografia.uminho.pt
3 Universidade do Minho (UMinho). Braga, Portugal. E-mail: jcadima@eeg.uminho.pt
4 Universidade Federal de Lavras (UFLA). E-mail: samantaborges81@gmail.com
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Gestão & Regionalidade | São Caetano do Sul, SP | v. 38 | n. 115 | p. 337-355 | set./dez. | 2022 | ISSN 2176-5308
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Desenvolvimento, Economia e Turismo: diálogos entre o Sul de Minas Gerais (Brasil) e o Minho (Portugal)
Development, Economy and Tourism: dialogues between the South of Minas Gerais (Brazil) and Minho (Portugal)
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com vistas ao bem viver e à preservação da MELLO; ZAMBONI, 2013). Daí porque a
natureza em toda a sua complexidade. A EC ainda é um campo aberto e em
cultura também é (re)elaboração e constituição. Como tal, carece de vigilância
(re)produção das coisas comuns da vida epistemológica, reflexão crítica constante,
(WILLIAMS, 1992), recurso de produção visto que a economia e o mercado não são
de bem cultural (YÚDICE, 2006). Nesse domínios exclusivos do capitalismo e, na
sentido, o local está sendo levado a propor disputa, a cultura se apresenta como
outros significados-ordenações-sentidos variável consistente.
para a produção, o consumo e a estrutura Para Godelier (2001), o segredo está
social. no dom caritativo – dar, receber e restituir -
Desenvolvimento, Cultura e no sentido da solidariedade e efetivo
Economia devem ser imbricados, em exercício do direito, sem restrições pautadas
oposição às concorrências, competições, pelo mercado ou pela exclusão por gênero,
individualização, lutas de todos contra raça ou classe. O dom não ficou retido nas
todos. Nos moldes em que têm sido sociedades chamadas de pré-modernas, ele
constituídas dentro da ordem sociopolítica e “[...]está presente em todos os campos da
socioeconômica vigente, inviabilizam vida social nos quais as relações pessoais
mecanismos de solidariedade e cooperação, continuam a desempenhar um papel
uma vez que potencializam processos de dominante” (GODELIER, 2001, p. 25),
exclusão por meio de “[...] um sistema condição ainda muito presente em
econômico que, para permanecer dinâmico municípios de pequeno porte, zonas rurais e
e competitivo, deve ‘enxugar’ as empresas, comunidades.
reproduzir os custos, aumentar a Da perspectiva posta, nada nos
produtividade do trabalho” (GODELIER, impede de imaginar outras formas de
2001, p. 7). desenvolvimento partindo do local–
A EC instiga a produção de regional, em concepções que apontem os
conhecimentos que não estão na ordem da princípios, valores e ditames da EC, stricto
vigência científica hegemônica e, em sensu, enquanto lugar de disseminação da
disputa, se predispõe forjar as estratégias de biodiversidade cultural, saberes-fazeres
enfrentamento da realidade imposta ao tradicionais em igualdade com o
local, às comunidades e às pessoas em conhecimento científico e a promoção de
situação de vulnerabilidade, especialmente equidade política e socioeconômica.
em municípios de pequeno porte e em zonas Nas interconexões entre
rurais. Investigações nesse sentido já desenvolvimento, economia, turismo e
apontaram a necessidade de facilitar a cultura, o projeto de Portugal se baseia nas
inversão do papel da economia para que seja definições e conceituações do Turismo
posta à serviço de distribuição igualitária de Criativo (TC) (TAN; KUNG; LUH, 2013;
renda e riqueza, promotora de acesso a RICHARDS, 2016; ZADEL; RUDAN,
todos e cooperação entre pessoas– 2019), caracterizado por experiências de
comunidades–grupos–organizações turismo em coparticipação e cocriação entre
(ALMEIDA, 2009; REIS, 2009; SILVA; comunidade e turista, com fundamento na
ARAÚJO, 2010). coletividade, sustentabilidade, cooperação,
Na EC vemos a criatividade, a confiança, segurança, troca, tradição e
solidariedade e a justiça social como pertencimento.
habilitações para a elaboração de outra Investigações efetivadas sobre a
plataforma econômica de desenvolvimento, realidade de municípios de pequeno porte e
a partir de movimentos locais e a partir da zonas rurais do norte de Portugal, analisada
base. Os caminhos alternativos serão sob a ótica da criatividade-território,
constituídos no campo das disputas da apresentaram questões pertinentes neste
cultura pelas forças em ação (PIMENTA; campo, as quais se destacam: (i) caminhos e
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Taxa de Desempregado
Distrito de Braga / PT
População em Idade
– Hab./km² (2018)
Ano de Criação
(nº e %) (2018)
Municípios do
População
(2018)
(Km²)
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Taxa de Desempregado
Distrito de Braga / PT
População em Idade
– Hab./km² (2018)
Ano de Criação
(nº e %) (2018)
Municípios do
População
(2018)
(Km²)
Póvoa de
21.455 134,7 159,3 68,7 886 (6) 840,0 1292
Lanhoso
Terras de
6.448 277,5 23,2 62,7 278 (7) 870,0 1514
Bouro
Vieira do
11.598 216,4 55,2 65,7 631 (8) 806,0 1514
Minho
Vila Nova de
131.824 201,6 653,9 69,3 3.767 (4) 1.037,0 1205
Famalicão
Vila Verde 46.909 228,7 205,1 67,4 1.303 (4) 851,0 1855
Vizela 23.800 24,7 963,6 72,0 828 (5) 843,0 1361
331,6 5,5 882,07
Total 829.717 2.706,4 68,2 ----
(média) (média) (média)
Fonte: Dados de pesquisa (INE, 2018; PorData.pt, 2018)
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Ano de Criação
Municípios
1.523
Brazópolis 14.459 367,688 39,87 7.168 2.813,72 1911
(10,2)
Consolação 1.783 89,122 19,67 872 179 (9,9) 3.406,30 1963
Cristina 10.242 311,330 32,79 5.035 1.469 (14) 4.368,46 1850
Delfim
8.025 408,473 19,51 862 (10,5) 2.922,71
Moreira 3.860 1868
Dom Viçoso 3.001 113,921 241,2 1.273 278 (9,0) 2.496,00 1953
28.135
Itajubá 96.869 294,835 307,49 44.901 7.824,01 1819
(29,0)
1.498
Maria da Fé 14.095 202,898 70,06 6.693 2.742,75 1912
(10,3)
Marmelópolis 2.755 107,902 27,51 1.202 317 (10.9) 2.690,31 1962
4.964
Paraisópolis 21.083 331,238 58,5 9.830 6.968,49 1873
(23,7)
Piranguçu 5.472 203,619 25,62 2.542 569 (10,3) 2.431,54 1963
1.057
Piranguinho 8.596 124,803 64,23 3.924 2.980,55 1962
(12,3)
1.343
Virgínia 8.674 326,515 26,41 3.956 3.021,10 1911
(15,1)
Wenceslau
2.552 102,487 24,91 245 (9,7) 2.510,03
Braz 1.033 1962
73,67 42.441 3.627,36
Total 197.606 2.984,8 92.289 ----
(Média) (13,4) (Média)
Fonte: Dados de pesquisa (IBGE, 2017; IBGE, 2019).
Explicita-se que a renda per capita com o valor mais baixo (278 ou 9,0%). Vale
da microrregião resultou em 3.627,36 € a pena considerar que o salário-mínimo no
(2017), com números mais elevados nos Brasil era de R$ 937,00, ou seja, de 236,18
municípios de Itajubá (7.824,01 €) e € (dezembro de 2017).
Paraisópolis (6.968,49 €), tendo Piranguçu As questões sociais não são as
a menor média (2.431,54 €). Os mesmas nos dois territórios em estudo, nem
trabalhadores em posição de ocupar posto na forma e constituição, uma vez que as
de trabalho representam o equivalente a realidades territoriais são distintas,
92.289 pessoas, entre a população ocupada fundamentalmente, nas desigualdades de
e desocupada. Quando se consideram os classes e nos problemas sociais. Andrade e
ocupados, os índices de desemprego Ferreira (2013) levantaram questões sobre a
correspondem a 42.441 pessoas, isso é, em microrregião de Itajubá no que concerne à
torno de 13,4% da média da microrregião. linha de pobreza, à população
As diferenças mais assinaláveis aparecem economicamente ativa, ao desemprego e à
nos municípios de Itajubá (28.135 ou ruralidade dos municípios.
29,0%) e de Paraisópolis (4.964 ou 23,7%), No tocante à pobreza e ao
com maiores índices, e em Dom Viçoso, desemprego, ocorreu o agravamento desses
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i Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Doutor e mestre em Ciências Sociais pela PUC/SP. Professor do Instituto de
Engenharia e Gestão de Produção (IEPG). Av. B.P.S., 1303, Pinheirinho, 37500-903, Itajubá, Minas Gerais, Brasil.
Universidade do Minho (UMinho). Doutora em Geografia Humana. Professora do Departamento de Geografia (ICS) e
ii
Universidade do Minho (UMinho). Doutor em Ciências Humanas e Empresariais. Professor do Departamento de Economia
iii
da Escola de Economia e Gestão (EEG) e NPE. Campus de Gualtar, 4710-057, Braga, Portugal.
iv Universidade Federal de Lavras (UFLA). Doutora em Administração. Pesquisadora do Núcleo de Estudos Transdisciplinares
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