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PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU
ESCOLA DE ARQUITETURA E DESIGN
Resumo: Este artigo tem como objetivo entender o que é chamado de arquitetura afetiva e
quais tendências fundamentam o surgimento deste movimento. A metodologia usada foi de
pesquisa bibliográfica dentro do tema, além da aplicação do conceito de Golden Circle
desenvolvido por Simon Sinek para explicação. São abordados temas como crescimento
populacional, desenvolvimento das cidades, avanços tecnológicos, pertencimento, geração
y (millennials), memórias, respeito e bem-estar, para concluir que o movimento fala sobre a
necessidade de respeitar o passado e utilizar o ambiente afetivo como refúgio.
Palavras-chave: Arquitetura afetiva, design emocional, tendências, pertencimento,
millennials;
Abstract: This article aims to understand what is called affective architecture and which
trends underlie the emergence of this movement. The methodology used was bibliographic
research within the theme, besides the application of the Golden Circle concept developed
by Simon Sinek for explanation. Topics such as population growth, city development,
technological advances, belonging, generation y (millennials), memories, respect and well-
being are discussed, to conclude that the movement talks about the need to respect the past
and use the affective environment as a refuge.
Keywords: Affective architecture, emotional design, trends, belonging, millennials;
INTRODUÇÃO
URBANIZAÇÃO E EXPECTATIVAS
Segundo relatório de 2014 da Organização das Nações Unidas (ONU) cerca de 54%
da população mundial vive em centros urbanos e nos próximos 30 anos a estimativa
é de que este número chegue a aproximadamente 66%. Como resultado temos o
aumento das megacidades – centros urbanos com mais de 10 milhões de habitantes
– que atualmente estimam ser 28 no mundo, com previsão de chegar a 41 até 2030.
Na América Latina encontram-se 4 dessas megacidades, sendo São Paulo (20
milhões de habitantes), Cidade do México (19 milhões de habitantes), Buenos Aires
(13 milhões de habitantes) e Rio de Janeiro (12 milhões de habitantes), tornando a
urbanização uma megatendência – realidade. A partir disso vemos novas formas de
organização dos aglomerados para viver, colaborar, cooperar, planejar (e coexistir)
em sociedade no ambiente urbano (SCHATTDECOR, 2019).
2Minimalismo – este conceito está ligado a um estilo de vida, baseado em uma vida sem excessos e
acabou sendo refletivo a um tipo de decoração confortável e simples.
3 Escandinavo – marcado pelo aconchego e conforto, tira partido de uma paleta de cores neutras e
simplicidade.
4Industrial – identificado pela ressignificação de espaço através da mudança de uso, marcado por
cores fortes e sóbrias em composição com tijolos e tubulações aparentes.
5 Urban Jungle – caracterizado pela intensa presença de vegetações na decoração, trabalhado como
Em geral, o estilo de vida urbano possuí muitas expectativas sobre como as pessoas
querem viver e trabalhar. No entanto em cidades que não possuem um
planejamento social e/ou ecológico, situações como aumento da poluição
(atmosférica, visual, sonora, auditiva) e problemas de saúde, crescem,
surpreendendo e gerando um choque de realidade (BRASIL ESCOLA, 2018). E com
isto, novos estilos de vida surgem, novos modelos arquitetônicos coerentes com as
mudanças, novos meios de transportes e locomoção, e novas formas de
comunicação (SCHATTDECOR, 2019). É necessário ressaltar que estas
transformações também são resultado de tendências locais e mundiais, de âmbito
social, econômico e ambiental (WGSN, 2018).
Quando falamos exclusivamente da forma de morar dos centros urbanos
destacamos movimentos arquitetônicos que tem surgido a partir dessas mudanças
de lifestyle6 da sociedade, como a verticalização, prédios com maior número de
unidades unifamiliares com menos metros quadrados e surgimentos de ambientes
de uso compartilhado para otimização dos espaços privados (ISTO É, 2016). E em
resposta aos problemas gerados pela rotina das grandes cidades, com estilos de
vidas caóticos constantemente expostos ao excesso de informações e relações
fluidas, surge um movimento chamado de arquitetura afetiva com o intuito de
transformar ambientes reunindo sensações de pertencimento, bem-estar e
segurança em um só lugar. A partir disso repensar a casa (e outros locais) como um
estado de espírito, além do espaço físico, abre um caminho de novas possibilidades
para pensar a forma de morar (SUA CASA, 2019).
Interligência emocional
Também chamado de gestão da felicidade e soft skills, o conceito vem da Psicologia
e é descrito como a capacidade de avaliar e reconhecer os próprios sentimentos
melhorando a capacidade de lidar com eles. Explica que pessoas felizes são mais
produtivas, criativas e atingem resultados melhores quando comparados a pessoas
com estado de espírito neutro ou negativo. E para isso, garantir um ambiente
saudável equilibra as performances comportamentais, de gestão e técnicas,
reforçando a necessidade de espaços projetados para estas características (INOVA
CONSULTING, p.74, 2018).
Pertencimento
É possível resumir a tendência em uma frase: ser parte de um local, comunidade ou
grupo. Após a expansão da cidade e desenvolvimento de novos grupos sociais,
sentir que faz parte de algo e se identificar gera efeitos psicológicos e
comportamentais de cuidado e segurança, impactando e preservando o equilíbrio
dos ambientes que fazem parte da rotina da pessoa. No entanto, se sentir parte da
cidade vem sendo cada vez mais difícil com os avanços tecnológicos e
desenvolvimento urbano, onde tribos se misturam e relações passam a ser mais
fluidas (MARICONI, 2014, p.14).
Bem-estar
Muito além de fatores estéticos, o bem-estar está relacionado a fatores psicológicos
e ambientais como: saúde e felicidade. “Mens sana in corpore sano” é uma citação
latina que traduzida ao português diz: “mente sã em corpo são” e transmite a
essência do estado também chamado de wellness, que combate os malefícios do
zeitgeist12 dos tempos modernos. Com o excesso de fontes que servem como
gatilho para estresses diários, é necessário possuir formas e meios de combater os
ruídos e neste momento os lugares em que as pessoas mais passam tempo devem
Nostalgia
Resgatar o passado para escapar de um presente caótico e incerto, é uma forma de
reviver referências estéticas e memórias que impactam no valor que damos às
experiencias atuais. É a sensação causada pela lembrança de símbolos, imagens e
histórias que geraram identificação, envolvimento e entusiasmo. Reforça a
necessidade de nos ligarmos ao nosso imaginário e resgatar histórias do passado e
momentos marcantes. Afinal, o passado pode nos dar força para enfrentar o
presente e ter confiança no futuro (INOVA CONSULTING, p.57, 2018).
13Wellthy – conceito em inglês que une wellness (bem-estar) e healthy (saudável) para descrever um
estado de espiríto.
14 Ressignificação – atribuir novo significado a alguma coisa, lugar ou situação.
15 Decorações Pinterest e Instagramáveis – lugares que se popularizaram por serem diferentes,
criativos e inovadores onde as pessoas passaram a tirar fotos para publicar nas redes sociais.
16Política dos 3 r’s da sustentabilidade – reduzir, reutilizar e reciclar: ações práticas para minimizar o
desperdício.
Imagem 01, 02 e 03 – O Barba Hamburgueria, Botanique Café Bar Plantas e Kimi Café,
respectivamente, em Curitiba PR. Fonte: Google Imagens, 2019.
Outra forma de explicar é buscando o significado das palavras que formam o termo,
onde arquitetura pode ser entendida como: “a arte e técnica de projetar uma
edificação ou um ambiente de uma construção” (SIGNIFICADOS, 2019) e afeto: “a
demonstração de emoções ou sentimentos de alguém por alguma coisa, seja
positivo ou negativo” (SIGNIFICADOS, 2017). A partir disso, compreender que é
possível projetar e decorar com base nas emoções e relações que existem no
espaço torna o afeto uma diretriz de projeto, além de todas as convencionais
(elementos naturais, construídos, contexto de inserção e etc), resultando em
ambientes pensados para serem funcionais, convidativos e acolhedores, além de um
projeto único, com identidade e que reforce a necessidade de nos reconhecer no
ambiente (FÍRMÌNO, 2018).
De fato, não existe regra na hora de projetar visto que é expresso o estilo do cliente
e que varia com o gosto pessoal e referências de cada um. Não se trata apenas de
ambientes comerciais, mas também corporativos e residenciais onde o projeto
preserva a memória do que havia antes (seja no lugar em si ou nas peças que irão
compor o projeto). Limita-se quem pensa ser sobre brinquedos de infância ou
móveis que passaram de gerações em geração (diga-se vintage17) dentro de uma
família, quando podem ser caracterizados por lembranças de viagens e momentos
marcantes, itens colecionáveis, revestimentos, acabamentos e peças que despertem
memórias afetivas. O desafio dos arquitetos e designers está no projetar uma
CONCLUSÃO
Com base nos conceitos e teorias apresentados neste artigos, pode-se concluir que
arquitetura afetiva é uma metodologia de trabalho que vem sendo utilizada por
profissionais do ramo de arquitetura e design, para promover mudanças e melhorias
nos espaços, considerando as necessidades e expectativas do cliente sobre o que
ele quer ser, fazer e viver. Muito relacionado com as demandas da geração y, o
movimento do design afetivo não é sobre consumir e sim sobre respeitar o passado,
compreender o presente e conservar pelo futuro. Tem como objetivo criar um
ambiente afetivo que acolha as pessoas, respeite a história do lugar e gere
identificação, tornando um lugar agradável para ser usado e permanecer. Junta
elementos que possuem significado e trazem memórias, proporcionando um refúgio
confortável e seguro. Pode ser considerada como uma forma de resgatar quem
somos para compor o que desejamos, através da transformação dos ambientes
atribuindo significado. Espera-se que este artigo incentive o debate sobre o tema no
ambiente acadêmico e dissemine as diretrizes do conceito trabalhado.
REFERÊNCIAS
SINEK, SIMON. How great Leaders Inspire Actions. In: TED TALKS, 2014.
Disponível em: < https://www.ted.com/talks/simon_sinek_how_great_leaders_inspire
_action?language=pt-br> Acesso em: 29 dez. 2019.