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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

O PAPEL DO DESIGN NO FORTALECIMENTO DE COMUNIDADES LOCAIS

João Felipe Wasem Neto

Graduando em Design de Produto, UFRGS

Thales Feldman Maestri

Graduando em Design Visual, UFRGS

Porto Alegre, Rio Grande do Sul

2024
RESUMO:

PALAVRAS-CHAVE:

1. INTRODUÇÃO:

A interseção entre o design e a dinâmica das comunidades locais é um terreno


fértil para a inovação social e o fortalecimento das conexões humanas. Este
artigo se propõe a explorar meticulosamente o papel crucial que o design
desempenha nesse contexto, uma investigação fundamentada nas
experiências vividas durante o projeto na Vila Cruzeiro. Ao centrarmos nossa
abordagem no design como um instrumento de integração comunitária,
almejamos explorar não apenas os aspectos funcionais, mas também os
impactos positivos e libertadores que surgem da metamorfose entre o design e
os projetos locais. A experiência enriquecedora na Vila Cruzeiro revelou que o
design transcende as fronteiras estéticas, desempenhando um papel de
protagonismo na promoção da integração e desencadeando reflexos positivos
nas comunidades locais. Conhecemos dois projetos emblemáticos na Vila: a
Organização das Mulheres Solidárias e a União das Vilas. Estas iniciativas
exemplificam de maneira concreta como a confluência entre o design e práticas
locais, como os brechós, a confecção de roupas e acessórios, e a costura,
pode gerar inclusão e estimular o desenvolvimento sustentável.

Neste cenário, a parceria mútua entre o design e as práticas comunitárias


transcende a mera estética, ressaltando não só a importância da expressão
artística e da criatividade, mas também oferecendo uma plataforma que
propicia autonomia e autoexpressão. Projetos como a modelagem de roupas
não apenas aprimoram habilidades técnicas, mas também cultivam um senso
de identidade cultural e pertencimento. Ao revelar profundas tramas entre o
design e o tecido social das comunidades, este artigo busca contribuir para
uma compreensão mais profunda e holística de como o design pode ser um
impulsionador para o fortalecimento das comunidades locais. Em um mundo
em constante evolução, a busca por soluções inovadoras e inclusivas é mais
urgente do que nunca, e é no design que encontramos uma poderosa
ferramenta para trilhar esse caminho.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 - O papel do Designer como agente cultural.

Como escreveu Norberto Chaves (2001, p. 83) sobre o papel do designer como
agente cultural “(...) o designer gráfico é precisamente o elemento chave,
aquele cuja idoneidade não é a de configurar a mensagem ‘à sua maneira’ mas
sim a de interpretar o especial ‘cruzamento de códigos’ do caso e de lhe dar
uma solução equilibrada que permita satisfazer as expectativas e
possibilidades de todos os demais atores para que a comunicação alcance o
seu mais alto nível de eficácia”.

A criação de um objeto de design deve buscar simplificar sua interpretação e


utilização, visando torná-lo acessível a toda a sociedade. Apesar da idealização
do design universal, na prática, a verdadeira acessibilidade demanda
adaptações quase personalizadas, levando em consideração valores culturais
e morais. Nessa perspectiva, o design transcende a mera estética,
consolidando-se como um elo entre a resolução de problemas práticos e o
enriquecimento das práticas comunitárias. Longe de ser apenas a criação de
objetos, o design emerge como uma poderosa ferramenta de integração,
entendendo as nuances das necessidades, desejos e valores dos usuários.

2.2 O Design como expressão da cultura local.

O papel do design como expressão da cultura local é amplo e dinâmico,


envolvendo a interação entre prática criativa e contexto social. Portanto, o
trabalho do designer vai além da estética e adentra a cultura, onde cada
produto ou serviço é uma narrativa expressiva e funcional, refletindo valores,
comportamentos e o "zeitgeist" da sua comunidade. A mundialmente
reconhecida contribuição do artista brasileiro Maxwell Alexandre oferece um
estudo de caso pertinente. O artista, de 31 anos, que é uma das vozes mais
ativas pela igualdade racial na cena artística nacional, retrata em sua obra uma
poesia urbana que passa pela construção de narrativas e cenas estruturadas a
partir de sua vivência cotidiana pela cidade e na Rocinha, onde nasceu,
trabalha e reside. Em obras como "Pardo é Papel" (2018) (figura 1.), Maxwell
realça a identidade carioca e afro-brasileira através de uma projeto visual forte
que emerge de sua vivência na Rocinha, uma das maiores favelas do Brasil.
Seu uso de materiais e símbolos locais no contexto da arte visual é paralelo à
prática dos designers ao criar itens que reverberam a cultura local.

Figura 1. - "Pardo é Papel" de Maxwell Alexandre

Fonte: Museu de Arte do Rio (2018)

Por conseguinte, é imprescindível reconhecer o trabalho do designer como


uma prática que impacta profundamente as estruturas sociais e culturais. No
cruzamento entre sustentabilidade e cultura, o design transforma-se em um
instrumento poderoso para o fortalecimento das comunidades locais e para a
promoção de um futuro responsável. Assim, retomando a influência cultural do
trabalho de Maxwell Alexandre e na Vila Cruzeiro, fica claro que o designer é,
essencialmente, um agente de mudança cultural e um arquiteto do potencial
humano.
2.3 - Sustentabilidade na Economia Local

A sustentabilidade, como expõe Manzini (2017) no seu trabalho "Design,


Quando Todos Fazem Design", é relevante na economia local, mas seu
alcance é ampliado significativamente quando o design é sensível ao contexto
cultural e ecológico. Exemplos desta conexão são evidentes em comunidades
como a Vila Cruzeiro em Porto Alegre, onde iniciativas de design integrado à
comunidade promovem não apenas uma economia circular, mas também um
sentido de pertencimento e identidade. Iniciativas tais como a União das
Mulheres Solidárias não apenas provêem empoderamento econômico através
do design de serviços, mas também formam um meio de sustentabilidade
cultural e social.

Neste contexto, o design de produtos atua como um catalisador de inovação e


mudança, direcionando o desenvolvimento local para um futuro mais
sustentável e autossuficiente. Isso se traduz na concepção de itens identitários,
carregados de significado e feitos de materiais reciclados, minimizando o
desperdício. Na Vila Cruzeiro, a adoção deste enfoque pode ser vista na
reutilização criativa de materiais na confecção de roupas e acessórios, onde
residem tanto a preservação ambiental quanto um estímulo econômico.

O design de serviços na comunidade também é um pilar para práticas


sustentáveis. Por exemplo, projetos como a União das Mulheres Solidárias,
desenvolve novas perspectivas para jovens da Vila, proporciona novas formas
de expressão e fortalece laços comunitários, além de capacitar
profissionalmente. Tais iniciativas são baseadas em confiança e reciprocidade
e são muitas vezes uma forma de iluminar um novo caminho para
adolescentes, alavancando a consciência e ao mesmo tempo em que
promovem uma economia de partilha. Além disso, o design poder impulsionar a
criação de plataformas digitais para o mercado local, expandindo o alcance das
produções e externalizando as vivências da comunidade, assim, conectando
produtores à novos consumidores, embora deva-se considerar que em muitos
casos as tecnologias digitais encontram obstáculos para adentrarem
comunidades carentes, muito pela precariedade e pela falta de instrução, mas
também pela falta de conexões de internet.
A inclusão de práticas de design sustentável na economia local eleva o valor
percebido de produtos e serviços e estabelece uma cadeia de valor que nutre o
bem-estar social, apoia a autossuficiência econômica e preserva o meio
ambiente local. Quando aplicado com a sensibilidade cultural adequada, o
designer torna-se um elo vital entre a comunidade e seu futuro
autossustentável. Desse modo, o design não apenas fortalece economias
locais, mas também atua como protetor das tradições e impulsionador de uma
cultura de inovação.
BIBLIOGRAFIA:

CHAVES, Norberto, El oficio de diseñar – Propuestas a la conciencia crítica de


los que comienzan, Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2001.

MANZINI, Ezio. Design Quando Todos Fazem Design. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2017.

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