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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN

MANUELA BEATRIZ PEDROSA CORREIA

O PAPEL DO DESIGNER EM PROJETOS DE INOVAÇÃO SOCIAL VOLTADOS À


PRODUÇÃO ARTESANAL EM PERNAMBUCO
Resumo expandido do projeto de dissertação de mestrado, na linha
de pesquisa Design de Tecnologia e Cultura do Programa de Pós-
Graduação em Design sob a orientação da Professora Virgínia
Pereira Cavalcanti

RECIFE

2019

INTRODUÇÃO
O designer se encontra hoje instigado a repensar seu papel enquanto profissional na sociedade, pois o
mundo contemporâneo, em transição rumo à sustentabilidade, traz novos desafios pautados pelos
contextos social, cultural, econômico e político. A criatividade é uma capacidade inerente ao ser humano, e
foi sempre assim que conseguimos confrontar novos desafios e resolver problemas: sendo criativos e
inovando.No mundo contemporâneo, onde qualquer pessoa pode desenvolver uma nova solução para certo
problema, em que qualquer um pode usar de sua criatividade para criar algo novo, surge um novo
questionamento: qual o papel do designer? Alguns anos atrás, responder essa pergunta era algo
relativamente fácil. O designer era visto como criador, ou até mesmo inventor.

Porém, a realidade é que vivemos hoje num mundo dea natureza desses problemas muito mais
complexostende a se tornar mais complexa e o mundo tem passado por transformações cada vez mais
rápidas, impulsionadas pelos avanços na tecnologia e pela necessidade crescente de se pensar no futuro
do planeta e da vida em sociedade.

Para o designer profissional da contemporaneidade,H habilidades tais como se sentir confortável com o
desconhecido, sintetizar informações complexas e trabalhar de forma transdisciplinar são esperadas de um
designer profissional e requeridas pelos desafios da sustentabilidade (FLETCHER, 2011). As habilidades do
expert em design deixampassam de ser aproveitadas apenas na cadeia de fornecimentoprodutiva e operam
também no centro das mudanças, lançando um novo olhar sobre elas, projetando caminhos e permitindo
que algo a inovação aconteça e gere frutos.

Nesse contexto, abre-se espaço para que o designer tem um terreno possa contribuir parafértil dentro de
um campo significativo na esfera cultural, social e econômica do estado de Pernambuco: o artesanato. Aqui,
entende-se artesanato como a atividade produtiva realizada pelo artesão, que resulta em artefatos feitos
manualmente, por meio de sua habilidade criativa e seu saber tradicional. Geralmente esse artesão está
inserido em um grupoa agremiação social, como uma cooperativa, associação ou tribo indígena, mas pode
também trabalhar individualmente como microempreendedor autônomo. Essa atividade, muitas vezes, é
também a principal fonte de renda para o artesão e sua família.

A aliança que surge entre designer e artesão é um ponto crucial devidoé capaz gerar um ao grande
impacto socioeconômico. gerado. O design vem não para agregar valor, mas sim para resgatar e
potencializar o valor embutido intrínsecon ao artesanato. Ambos os lados se beneficiam desse intercâmbio.
Segundo Lana, Santos e Krucken (2015), a produção artesanal pode ser vista como um instrumento
viabilizador de propostas sociais, comerciais e que, muitas vezes, se configuram sustentáveis. E, com a
interferência de profissionais de design, a produção artesanal une tecnologias sociais, além de gerar
emprego, renda e produtos de baixo impacto ambiental. Designers podem atuar em diversas frentes com
relação ao artesanato: seja com foco na qualidade do produto, no despertar da consciência do consumidor,
na otimização da produção, na comunicação com a mídia e os compradores etc.

Essa relação pode ser observada sob a perspectiva do design para a inovação social, que tem como
objetivo abordar questões sociais e econômicas e promover o desenvolvimento sustentável. Mulgan (2006)
define inovação social como:

[...] atividades e serviços inovadores que são motivados pelo objetivo de atender uma
necessidade social e que são predominantemente desenvolvidos e difundidos por meio de
organizações cujos principais fins são sociais.

Nessa nova abordagem, o processo de design torna-se um meio para permitir colaboração e
interdisciplinaridade, coloca o indivíduo no centro das novas soluções e cria a capacidade de inovar em
organizações e instituições, além de aplicar o processo de criação de produtos e serviços a praticamente
qualquer problema (BURNS, 2006). O designer deixa de ser apenas um criador e passa a enfrentar os
desafios de uma realidade na qual novos negócios surgem com o propósito não apenas de inovar, mas
também promover transformações sociais de impacto positivo. Para promover a inovação social, experts em
design devem usar suas habilidades e competências para reconhecer casos promissores quando e onde
eles aparecem e reforçá-los. Ou seja, ajudá-los a serem mais acessíveis, efetivos, duradouros e replicáveis
(MANZINI, 2015).
O desafio do designer, nesse caso, é sair de sua zona de conforto e entender as necessidades das pessoas
envolvidas no trabalho. É desenvolver uma ação significativa e relevante para o artesão e sua comunidade,
e que possa ser continuada. Para isso, é fundamental compreender quais são os fatores que tornam essas
ações contínuas, o que faz com que um grupo produtivo seja tão impactado a ponto de perpetuar os
conhecimentos adquiridos, aplicá-los e, assim, progredir, mesmo bem depois da ação do designer.

OBJETIVOS

Analisar o potencial de inovação social em intervenções de design na produção artesanal do estado de


Pernambuco, considerando seus impactos para o desenvolvimento local.

Investigar o papel que o profissional de design exerce em projetos de desenvolvimento da produção


artesanal no estado de Pernambuco, bem como o impacto desse trabalho na sociedade.

Específicos

1. Estudar a evolução do fazer artesanal;

2. Entender o conceito de inovação social e como ele se aplica ao fazer artesanal;

3. Observar a participação do designer no cenário atual de projetos de artesanato;

4. Propor referências metodológicas para o processo colaborativo entre designer e artesão.

METODOLOGIA

O projeto foi pensado para seguir uma metodologia de pesquisa exploratória e imersão, segundo o Design
Thinking (VIANNA, 2012). Esse método serve para propiciar a familiarização com as realidades do objeto de
estudo. Porém, é crucial que se faça primeiro um levantamento bibliográfico sobre os argumentos acerca
das relações entre design e artesanato, gestão do design, sustentabilidade e inovação social. Pretende-se
usar como método de procedimento o estudo de caso, pois este permite a realização de pesquisas
aplicadas a casos concretos, para que se possa compreender processos organizacionais dentro de um
determinado contexto e entender os motivos pelos quais certas decisões são tomadas. Para a coleta de
dados, pretende-se usar observação participante e entrevista, para saber a opinião dos atores sobre pontos
específicos e, assim, entender suas questões e necessidades.

RESULTADOS ESPERADOS

O campo do design voltado ao artesanato e à sustentabilidade é bastante amplo e, embora venha sendo
cada vez mais explorado, ainda permite espaço para muito estudo. Principalmente quando visto sob a ótica
da inovação social, cujas iniciativas e negócios vêm se multiplicando como resposta a uma crise mundial e a
uma necessidade de mudança urgente. A pesquisa sobre a atuação do designer em projetos de
desenvolvimento da atividade artesanal pernambucana é significativa para que se possa entender como
ocorrem os processos de cocriação e também de gestão. Mapear e melhorar esses processos podem servir
de contribuição para o setor do artesanato, atividade econômica que é tão importante para o estado de
Pernambuco.

REFERÊNCIAS

BURNS, Colin et al. RED Paper 02: Transformation Design. 2006. Disponível em:
<https://www.designcouncil.org.uk/sites/default/files/asset/document/red-paper-transformation-design.pdf>.
Acesso em: 14 mar. 2019.

FLETCHER, Kate; GRASE, Lynda. Moda & Sustentabilidade, Design Para Mudança. São Paulo: Editora
Senac, 2011.

LANA, S. B.; SANTOS, I. M.; KRUCKEN, L. Design e produção artesanal. Uma reflexão sobre a contribuição
do design promover a sustentabilidade de empreendimentos de base artesanal. Actas de Diseño, Vol. 18,
234-239. 2015.

MANZINI, Ezio. Making Things Happen: Social Innovation and Design. Design Issue, 30, 57-66. 2014.

MULGAN, G. The Process of Social Innovation. Innovations, Spring, MIT Press, 145-162. 2006.

VIANNA, Maurício et al. Design Thinking: inovação em negócios. Rio de Janeiro: MJV Press. 2012.

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