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Cultura(s) de Design
Lembrar que o que caracteriza o design emergente são os métodos e
ferramentas utilizados. Nele, o papel dos especialistas em design é cultivar
esses métodos e ferramentas, aplicá-los de forma eficaz e tornar visível sua
utilidade. Entretanto, o design não é apenas a soma de suas estratégias e
ferramentas metodológicas. O papel dos especialistas em design também
não é redutor apenas a esta equação. Antes de ser uma técnica, o design é
uma capacidade de análise crítica e reflexão, com a qual os especialistas
em design produzem conhecimento, visões e critérios de qualidade que
podem ser concretizados em propostas viáveis. E este entendimento se
aplica a todos os níveis: desde a solução local única até a evolução de todo
o sistema sócio-técnico. Portanto, quem quer que avance como um
especialista em design também deve ser - e ser reconhecido como portador
desta cultura específica: a cultura do design. A cultura do design abrange
os conhecimentos, valores, visões e criações de qualidade que surgem do
emaranhado de conversas que ocorrem durante as atividades de design (as
que são abertas à interação com uma variedade de atores e culturas) e as
conversas que acontecem em várias arenas de design. Tais arenas incluem
a multiplicidade de lugares físicos e virtuais - de conferências a encontros
informais, livros, universidades, revistas especializadas, blogs e grupos de
Face-book - nos quais são discutidos o design, seu significado e a qualidade
de seus resultados.
5 Guy Julier, "From Visual Culture to Design
Culture", Design Issues 22, no. 1 (Inverno
de 2006), 70-71. Ver também Guy Julier,
Esta definição é próxima à dada por Guy Julier: Ao falar da cultura
"The Culture of Design" (Londres: Sage,
2000); Victor Margolin, "The Prod-uct
do design como uma prática informada do contexto, ele a descreve como
Milieu and Social Action", em Discov-ery "normas de prática coletivamente compartilhadas dentro ou através de
Design: Exploration in Design Studies, contextos.... A cultura do design torna-se assim um fórum...
Richard Buchanan e Victor Margolin, eds. No entanto, enquanto para Julier a cultura do design é principalmente uma
(Chicago: University of Chicago Press,
disciplina de estudo específica que produz seus especialistas específicos,
1955); Ezio Manzini, "New Design
Knowledge", Design Studies 30, no. 1
para mim é principalmente a cultura dos próprios designers e das
(janeiro de 2009): 4-9. comunidades nas quais eles operam: a cultura na qual o design em si é
6 Roberto Verganti, Design-Driven baseado e graças à qual significados inovadores também podem ser
Innovation (Boston: Harvard Business
propostos. Precisamente esta cultura do design é a fonte das contribuições
School Press, 2009); Ezio Manzini e
mais originais que os especialistas em design podem oferecer como
Virginia Tassinari, "Sustainable Qualities":
Motoristas Poderosos da Mudança
inovação porque, ao apresentar idéias, pró-posições e visões, eles podem
Social", em Motivando a Mudança: desencadear mudanças significativas na própria idéia de bem-estar e nas
Sustainable Design and Behaviour in the qualidades que a caracterizam. A busca por essas qualidades é o que motiva
Built Environment, Robert Crocker e as escolhas das pessoas em todos os níveis: desde soluções únicas até a
Steffen Lehmann (ed.) (Londres:
reorientação dos modos de vida individuais e coletivos. 6
Earthscan, 2013), 217-32.
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Deste ponto de vista, que tem suas raízes na idéia de "cultura del
progetto" [cultura do design] da tradição do design italiano,7 a cultura do
design pode ser definida como o "contexto significativo" no qual um novo
projeto é concebido e desenvolvido e no qual novos significados são
produzidos - significados que, em alguns casos, podem influenciar a
própria cultura a partir da qual eles cresceram. Em referência a este
contexto significativo, quando Julier fala sobre a cultura do design como
agência, ele diz que "... toma o contexto como circunstância, mas não como
um dado adquirido: o mundo pode ser mudado através de um novo tipo de
cultura do design"8.
Solution-ism e Participation-ism
Se a discussão sobre design emergente se concentra principalmente em seu
func-cionamento, é evidente que as dimensões tecnológica, econômica e
gerencial devem ter um papel central e que as contribuições culturais
necessárias também são orientadas nesse sentido. Por outro lado, como
dissemos que nenhuma ação humana pode estar livre do sistema de
sentidos em que ela existe, estas ações técnicas e culturais orientadas para
a solução também têm um significado, elas emergem e propõem uma
cultura do design. Em nosso caso, a cultura do design emergente de hoje
surge como um emaranhado de solução-ismo e participação-ismo.
11 Josephine Green, Beyond20:21st Century Portanto, se o primeiro limite do Solution-ism está em não levar em
Stories, http://www.growthintransition.
conta todas essas possibilidades, seu segundo limite está em propor
eu/wp-content/uploads/Green-A-new-
narrative.pdf (acessado em dezembro de
soluções concentradas apenas na forma como elas funcionam, em suas
2014). economias e em seus resultados práticos, deixando na sombra a discussão
12 Ezio Manzini e Francesca Rizzo, "Pequenos crítica de seu significado e das qualidades buscadas e produzidas. Esta falta
projetos/grandes mudanças: Design
de um discurso cultural profundo pode ser encontrada em todas as escalas:
Participativo como Processo Participativo
Aberto", CoDesign 7, 3-4 (2011): 199-215;
desde motivar a participação dos diversos atores em soluções locais, até
Lou Yongqi, Francesca Valsecchi, e Clarisa alimentar as mais amplas conversas sociais sobre o futuro. 13
Diaz, Design Harvest: An Acupunctural
(Gothenburg, Suécia: Mistra Urban Futures Participação-ismo. O participacionismo é uma espécie de afonia cultural
Publication, 2013), 202; Che Tarn Biggs, que induz os especialistas em design a se absterem de se expressar. Neste
Chris Ryan, e John Wisman, "Distributed
caso, também, o ponto de partida é uma idéia extremamente importante: o
Systems": A Design Model for Sustainable
reconhecimento de que todo processo de design é co-design e que,
and Resilient Infrastructures-ture", VEIL
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DesignIssues: Volume 32, Número 1 Inverno 2016