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RESUMO
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Mestranda em Ciência da Religião – PPCIR UFJF, especialista em Gestão de Negócios e
Empreendimentos e em Ciência da Religião, graduada em Administração de Empresas. Professora do
Instituto Vianna Júnior. Contato pelo e-mail: patmaia@terra.com.br
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ETNOGRAFIA ORGANIZACIONAL:
UM MÉTODO PARA ANÁLISE DA CULTURA NAS EMPRESAS.
Observo que o ponto de partida para o estudo da cultura organizacional2 deve ser
embasado na origem da etnografia, quando a pesquisa antropológica incidia sobre as
sociedades “primitivas”. A antropologia sempre pregou a necessidade do pesquisador se
abrir para apreender o outro, o diferente. Um outro que nas empresas não se reduz à
ideologia gerencial ou colonizadora; como nos lembra Évans-Pritchard (1978), ele não
estava interessado em bruxarias e feitiçarias quando se dirigiu à observação da cultura
do povo Zande; porém, os Azande sim, o que o fez dar atenção especial para elas.
Portanto, para começar a entender o que é o trabalho etnográfico é fundamental
afinar a percepção e o entendimento para melhor olhar e ouvir (Cardoso de Oliveira,
1998).
A etnografia exprime a tentativa de compreender as representações próprias ao
campo, para tanto exige que o observador vá além dos discursos e observe os ritos
públicos e costumes. Parafraseando Malinowski (1984), pai fundador do método
etnográfico, idéias e crenças não existem apenas nas opiniões conscientes mas estão
incorporadas nas instituições e condutas, devendo ser extraídas, por assim dizer de
ambas as fontes. Em outras palavras, é preciso estar ciente de que discurso e prática não
são realidades que se opõem, um operando para distorção com respeito à outra: são
antes pistas diferentes e complementares para a compreensão do significado (Magnani,
1986).
Assim, a metodologia de Malinowski deve orientar a investigação da realidade
organizacional; porém, de uma forma transformada para atender às novas exigências de
estudo impostas pelas “tribos” locais. Ou seja, é possível ainda ao pesquisador
empresarial possuir objetivos genuinamente científicos e conhecer os valores e critérios
da etnografia para desenvolver um bom trabalho, evitando o erro de banalizá-la como
“uma simples técnica de pesquisa, descolada do contexto disciplinar no qual surgiu e
onde vem sendo exaustivamente debatida” (Jaime Jr., 2001, p. 436).
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Entendendo organizacional como um campo macro para a pesquisa etnográfica na administração e as
empresas como o campo micro para seu estudo. Ver mais detalhes in: BARBOSA, Lívia. Igualdade e
meritocracia: a ética do desempenho nas sociedades modernas.
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Conceito de Wellerstein (apud MONTERO, Paula, 1993, p. 163) proveniente da expansão do
capitalismo após a 2ª guerra mundial. Segundo o autor o desenvolvimento de uma “economia-mundo”
levará a uma aproximação das culturas e suprimirá as distâncias culturais existentes entre os povos.
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A observação não-participante foi usada pela primeira vez na administração durante a Experiência de
Hawthorne, esta pesquisa realizada durante o período de 1924-1932, definiu a importância das relações
humanas no ambiente de trabalho. Décadas mais tarde a observação participante foi utilizada por
pesquisadores em Manchester (1950-60), Tom Lupton, um dos líderes deste trabalho defendia a
observação participante como a maneira para se analisar em profundidade situações sociais para a
compreensão e teorização de aspectos mais amplos da organização social, a empresa (apud Mascarenhas,
2002, p. 92).
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Para maiores detalhes sobre esta compreensão de cultura dentro do campo da administração, vide
JAIME, Pedro Jr. Um texto, múltiplas interpretações: antropologia hermenêutica e cultura organizacional.
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antes parâmetros consensuais para defini-la, medi-la, estudá-la e aplicá-la ao mundo real
das organizações” (1991, p. 243). Além desta perspectiva positivista do autor sobre
cultura, há uma outra grande diferença que tem a ver com o fato dele a perceber sempre
pela possibilidade de consenso, para Shein, a cultura organizacional é formada por
ideais compartilhados, o que permite distingui-la entre forte (coesa) ou fraca (porosa).
Um terceiro ponto de desacordo, é quando toma a cultura nas organizações como
própria de um grupo específico, auto-contido e duradouro, o que define uma outra
classificação frente às mudanças atuais; dessa forma, ele a avalia quanto a sua
flexibilidade ou não. Portanto, se percebe por estes três pontos divergentes que a cultura
no meio administrativo pode ser tomada como algo que as organizações têm e não como
o contexto aonde elas estão imersas. Assim, a cultura organizacional é tida como
substantiva e passível de controle.
Como conseqüência há um outro entendimento de cultura significativo à teoria
administrativa, que é subdividi-la em cultura corporativa concebida pelos diretores,
fundadores, executivos quando pensaram a organização e a cultura organizacional
quando a anterior é disseminada entre todos os trabalhadores da organização por meio
de valores, missão, visão, rituais etc. Em ambos os casos, verifica-se uma grande
confusão entre cultura e identidade, a primeira é tomada pela segunda e aparece como
determinação que um grupo usa para se auto-definir ou se representar. A cultura
organizacional, vista dessa forma, torna-se estratégica porque oferece singularidade às
empresas (Barbosa, 1996).
Para realizar uma etnografia organizacional enquanto exercício antropológico
interpretativo é preciso iniciar relativizando estes conceitos que fazem parte da
ideologia gerencial, já que como dizemos ela é dominante. Neste momento, parece-me
apropriado recordar Lívia Barbosa (1996, p. 16) quando diz que
cultura não é algo que se produz no interior de uma empresa ou se carrega para
dentro dela. É um sistema de símbolos e significados de domínio público, no
contexto do qual as tarefas e práticas administrativas podem ser descritas de
forma inteligível para as pessoas que dela participam ou não. Do ponto de vista
mais pragmático pode ser entendida como regras de interpretação da realidade,
que necessariamente não são interpretadas univocamente por todos, de forma a
permanentemente estarem associados seja a homogeneidade ou ao consenso.
Essas regras podem e são reinterpretadas, negociadas e modificadas a partir da
relação entre a estrutura e o acontecimento, entre a história e a sincronia.
RAE. Rio de Janeiro: Ed. FGV, v. 42, n. 4, 2002, p. 72-83. BARBOSA, Lívia. Cultura e empresas. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar ed. 2002.
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Todas essas mudanças têm implicações éticas, sociais e culturais complexas para a
nossa sociedade e não podem passar desapercebidas entre administradores e
antropólogos.
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FONSECA, Claúdia. Quando cada caso NÃO é um caso: pesquisa etnográfica e educação. Revista
Brasileira de Educação. São Paulo, n. 10, 1999, p. 1- 35 (mimeo).
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Conclusão
Bibliografia