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Nós, Comunidade da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, declaramos que as


“cidades inteligentes” que queremos são:

Reconhecem os conflitos territoriais e buscam soluções, respeitando a diversidade e


atuando para reduzir os vários aspectos das desigualdades socioespaciais.

Colocam as pessoas no centro do desenvolvimento e proporcionam (melhoria da)


qualidade de vida a todas e a todos;

São agradáveis para viver e facilitam o convívio entre as pessoas. Respeitam a autonomia
e as escolhas individuais, ao mesmo tempo que respeitam o interesse público, os direitos
coletivos e difusos (aqueles que se referem à coletividade, a várias pessoas ao mesmo
tempo).

Equilibram natureza, ambiente construído e ambiente digital. Para isso, usam a tecnologia
de forma ética, a serviço do bem comum e das pessoas, respeitando a dignidade humana
e a privacidade.

Buscam várias formas de aumentar a eficiência das ações feitas no seu território. Usam
TICs (tecnologias de comunicação e informação) e soluções inovadoras integradas, com
uma visão ampla. Ou seja, por um lado, percebem que a tecnologia deve ser usada para
oferecer governo e serviços públicos eficientes, respeitando costumes e tradições. Mas ao
mesmo tempo, entendem que há outras formas de conectar e inovar além da tecnologia
digital, especialmente nas áreas urbanas pouco densas.
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Possuem governança ampla, aberta e transparente. Com isso, estimulam o engajamento


das pessoas e geram inclusão digital e inovação social, por meio de processos
participativos e colaborativos;

Sua sociedade é organizada, autônoma e justa e participa amplamente na decisão de seu


próprio futuro, por meio de coletivos representativos;

Acolhem e são acessíveis a todas as pessoas, respeitando as diversidades.

Usam tecnologias que levem em conta a sua realidade e que atendam à solução de
conflitos e problemas urbanos, ambientais e sociais concretos.

Planejam, preparam-se e respondem prontamente a desafios climáticos, demográficos,


sanitários, políticos e econômicos. Isso é feito com garantia da segurança social, ambiental
e urbana e com garantia do acesso aos serviços essenciais em todas as circunstâncias.

Promovem o desenvolvimento econômico e social de forma sustentável, de acordo com o


seu estágio tecnológico.

Impulsionam a economia local, promovem a conservação e o uso sustentável da


biodiversidade (variedade e variabilidade da vida existente no planeta, inclui a diversidade
dentro de espécies, a diversidade entre espécies e a diversidade de ecossistemas).
Garantem alternativas de geração de renda para as comunidades, estruturam e fortalecem
os mercados para os produtos da sociobiodiversidade (relação entre a diversidade
biológica e a diversidade de sistemas sociais, culturais e econômicos de populações rurais
e povos tradicionais) local. Fortalecem a organização social e participam da dinamização
de regiões no seu entorno. Incentivam a economia criativa, circular e compartilhada.

Usam a tecnologia para melhorar o bem-estar da sociedade, sem exceções. Ampliam o


acesso às oportunidades econômicas com equilíbrio e respeito às relações de pessoas de
todas as idades, classes sociais, gêneros e raça com o meio ambiente.

Possibilitam o aumento da consciência e do interesse por manter a biodiversidade


(Variedade e variabilidade da vida existente no planeta. Inclui a diversidade genética dentro
de espécies, a diversidade entre espécies e a diversidade de ecossistemas) e os serviços
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ecossistêmicos (benefícios que as pessoas obtêm da natureza). Compreendem


“biodiversidade” e “serviços ecossistêmicos” como um meio de reduzir os riscos
econômicos pois garantem o fornecimento continuado de recursos essenciais,
principalmente para as cidades.

Praticam padrões sustentáveis de produção e consumo. Têm consciência dos serviços


providos pelos ecossistemas (complexo dinâmico de comunidades de vegetais, animais e
microorganismos e seu ambiente não vivo, interagindo como uma unidade funcional)
locais. Fazem uso eficiente dos recursos naturais, visando a conservação ambiental, a
saúde e o bem-estar das pessoas.

Planejam ações em seu território integrando a abordagem de serviços ecossistêmicos


(benefícios que a natureza traz para o bem-estar das pessoas e para as atividades
econômicas). Encorajam soluções que sejam adequadas às características locais e
encorajam o uso de soluções baseadas na natureza - SbN (soluções ou instalações
inspiradas em processos naturais para melhorar o bem-estar humano e a economia
socialmente inclusiva).

Buscam ampliar a resistência e a resiliência (capacidade de resistir e de se recuperar de


uma situação difícil) dos sistemas socioecológicos (interação entre ecossistemas e
pessoas, em que os ecossistemas e as pessoas dependem um do outro, se apoiam e
evoluem juntos) em relação à mudança climática (alterações do clima em todo o planeta)
e a eventos extremos (exemplos: deslizamentos, inundações, secas, erosões etc.), usando
soluções e tecnologias adequadas ao seu contexto.

Antecipam, monitoram e avaliam os impactos ambientais das inovações tecnológicas para


equilibrar a relação entre meio ambiente, tecnologia e sociedade.

Entendem e levam em conta o ritmo da transformação digital que seja mais adequado para
cada pessoa, realidade e localidade.

Transformam-se, adequam-se e evoluem, preservando e promovendo seu patrimônio


histórico e cultural, material e imaterial, bem como considerando as necessidades das
gerações atuais e futuras. Inovam mantendo-se vinculadas às identidades, às raízes e às
conexões existentes entre as diferentes gerações que formam a cultura.
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Respeitam o tempo para o ócio e a aprendizagem lúdica. Promovem o encontro e os


convívios social e comunitário.

Compreendem seu território, são integradas localmente e, ao mesmo tempo, são


multiescalares (conectam-se em diferentes níveis: com cada área interna à cidade, com
outras cidades, com outras regiões e com outros países). Suas estratégias consideram o
urbano, o intraurbano (dentro da mancha urbana), o rural, o natural e o regional.
Consideram também as várias relações existentes entre cada um desses territórios.

Usam conhecimento local. Aprendem com sua população, independentemente da idade,


classe social, gênero e raça, mas também educam e se abrem para o conhecimento
externo.

Promovem o desenvolvimento local integrado e usam dados digitais adequados à sua


realidade e ao seu estágio tecnológico para novas formas de cooperação e coordenação.

Reconhecem o seu papel como parte de um sistema complexo e dinâmico, que atua em
rede com outras cidades.

Planejam, organizam-se e agem com uso responsável e integrado de dados e informações


produzidos e geridos conforme o contexto e as capacidades locais.

Constroem indicadores, pesquisas, diagnósticos, capacitação, monitoramento e avaliação


baseados em evidências. Essas ações incluem os aspectos sociocultural, urbano-
ambiental, econômico-financeiro e político-institucional.

Entendem que a inteligência também se manifesta na forma como se faz a gestão do


desenvolvimento urbano e ambiental.

Instituem processos dinâmicos de gestão e de governança da cidade. Usam circuitos


colaborativos de experimentação. Exemplos: abordagens de avaliação e aprendizagem;
promoção de mudanças organizaciona
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1. CONTEXTO BRASILEIRO: POR QUE UMA CARTA BRASILEIRA PARA


CIDADES INTELIGENTES? 9

2. PARA QUEM É ESTA CARTA? 14

3. PARA QUE ESTA CARTA FOI FEITA? 16

4. AGENDA BRASILEIRA PARA CIDADES INTELIGENTES 20

4.1. CONCEITO BRASILEIRO PARA “CIDADES INTELIGENTES” 22

4.2. PRINCÍPIOS BALIZADORES PARA CIDADES INTELIGENTES 25

4.3. DIRETRIZES NORTEADORAS PARA CIDADES INTELIGENTES 26

4.4. INTRODUÇÃO AOS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS PARA CIDADES


INTELIGENTES 27

4.5. OBJETIVOS ESTRATÉGICOS E RECOMENDAÇÕES PARA CIDADES


INTELIGENTES 31

5. CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS Erro! Indicador não definido.


Compartilhamos uma visão de cidades para todos e todas,
aludindo ao uso e ao gozo igualitários de cidades e
assentamentos humanos, com vistas a promover a inclusão e a
assegurar que todos os habitantes, das gerações presentes e
futuras, sem discriminação de qualquer ordem, possam habitar e
produzir cidades e assentamentos humanos justos, seguros,
saudáveis, acessíveis física e economicamente, resilientes e
sustentáveis para fomentar a prosperidade e a qualidade de vida
para todos e todas. Registramos os esforços empenhados por
alguns governos nacionais e locais no sentido de integrar esta
visão, conhecida como “direito à cidade”, em suas legislações,
declarações políticas e estatutos. (Nova Agenda Urbana, ONU-
HABITAT)
9

A Carta Brasileira para Cidades Inteligentes foi feita coletivamente por gente de vários setores
da sociedade. O objetivo é ajudar o Brasil a dar um passo firme rumo a cidades melhores para
as pessoas.

As cidades são polos de desenvolvimento econômico e têm grande responsabilidade com o bem-
estar da população. Concentram grande parte das ofertas de trabalho, educação, equipamentos
culturais, serviços públicos e privados.

Essas características fazem com que o “O éo


mundo de hoje enfrente o desafio de
desenvolvimento que encontra as necessidades
gerar e distribuir os benefícios e as atuais sem comprometer a habilidade das futuras
oportunidades que vêm com a gerações de atender suas próprias
urbanização. Só assim será possível necessidades.” ONU/Comissão Brundtland,
garantir qualidade de vida a todas as Relatório “Nosso Futuro Comum”.
pessoas que vivem e precisam do meio
urbano. Nesse contexto, entende-se que
as cidades e os governos locais têm um papel decisivo na mobilização global pelo
desenvolvimento sustentável, que alcance toda a humanidade.

“Não deixar ninguém para


A foi aprovada em 2015 pela Assembleia Geral trás” é o lema da Agenda
da Nações Unidas (ONU). Estrutura-se em 17 Objetivos de 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Entre eles, está o Objetivo Desenvolvimento
11 – “Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, Sustentável. A Nova
seguros, resilientes e sustentáveis”. Agenda Urbana (NAU)
A – Declaração de Quito assumiu o mesmo lema
sobre Cidades e Assentamentos Urbanos para Todos foi para ações em cidades e
aprovada em 2016 na Conferência das Nações Unidas para assentamentos urbanos.
Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável (Habitat III). Ambas são acordos
Além da Agenda 2030, a NAU incorpora outros acordos internacionais.
internacionais, tais como: Acordo de Paris no âmbito da
Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima Os países que assinam
(UNFCCC) e Agenda de Ação de Adis Abeba da Terceira acordos se comprometem
Conferência Internacional sobre o Financiamento para o a implementar as decisões,
Desenvolvimento. respeitando as realidades
nacionais. Quando o Brasil
10

assinou a NAU1, prometeu que adotaria uma abordagem de cidade inteligente. Esta Carta é uma
ação concreta nesse sentido.

Cerca de 85% da população brasileira mora em áreas urbanas, e cada uma dessas áreas possui
características próprias. Além da grande diversidade territorial, as nossas cidades são marcadas
por desigualdades socioeconômicas e espaciais (bairros ocupados por pessoas mais pobres
geralmente têm piores condições de vida do que outros) de origem histórica2.

O termo “diversidade territorial” inclui tudo o que faz uma cidade ser diferente de outra. Por
exemplo:

• Porte populacional (quantidade de pessoas que moram na cidade);


• Relações com outras cidades (oferta de serviços, emprego e mão-de-obra);
• Localização;
• Clima;
• Patrimônio cultural;
• Patrimônio natural;
• Biomas (conjuntos de ecossistemas);

1
“Comprometemo-nos a adotar uma abordagem de cidade inteligente, que faça uso de oportunidades de
digitalização, energia e tecnologias limpas, assim como tecnologias de transporte inovadoras,
consequentemente proporcionando alternativas para os habitantes fazerem escolhas mais adequadas ao meio
ambiente e impulsionarem o crescimento econômico sustentável e permitindo que as cidades melhorem sua
prestação de serviços” (Nova Agenda Urbana, item 66)

2
Diversidade e desigualdade territorial no Brasil – O Brasil possui 5.570 municípios. Cerca de 70% têm
até 20 mil habitantes. Menos de 1% tem população superior a 500 mil habitantes e pode ser classificado como
grande cidade. Entre os extremos, há um grupo que cidades com tamanhos variados de população que
representam menos de 3% do total de municípios. Elas têm um papel parecido nas diferentes regiões urbanas:
são referência e fonte de oportunidades, bens e serviços para cidades menos estruturadas ao seu redor. Por
causa desse papel, são chamadas de “cidades intermediárias”. (Dados do IBGE, CENSO 2010). Os municípios
brasileiros também são muito diversos quanto a serem remotos ou de fácil acesso. Há 8% de municípios
remotos ou muito remotos ocupando 42% da área total do país. A diversidade também se reflete nos níveis de
ruralidade e urbanidade. Cerca de 60% dos municípios são predominantemente rurais e abrigam 16% da
população. Por outro lado, 26% são predominantemente urbanos e abrigam 77% da população. E há 13% de
municípios considerados intermediários (em que não há predominância rural nem urbana) abrigando 7% da
população. (Dados do IBGE. Classificação Rural-Urbano, 2017). Existe ainda uma variação de aspectos
culturais, étnicos, ambientais, climáticos e econômicos, entre outros, que contribuem para a grande diversidade
do país. Quanto à desigualdade, quase 40% dos municípios tinham índice de vulnerabilidade social alto ou
muito alto em 2010 – essas são as duas piores situações. A maior parte desses municípios, quase 70%, fica
no Nordeste (Dados do IPEA, IVS 2010).
11

• Matriz produtiva (estrutura da produção econômica e relações entre diferentes


setores, por exemplo, alguns municípios têm a economia movimentada pelo turismo; outros,
pelo comércio; outros, por negócios financeiros);
• Relações sociopolíticas;
• Capacidades administrativas.

Já as desigualdades socioeconômicas e espaciais são frutos estruturais da forma como o país


se desenvolveu e foi ocupado. Ou seja, resultam de ações que ocorreram há décadas e séculos.
Aparecem de muitas formas e em muitos níveis no território. Aparecem no desequilíbrio da rede
urbana (municípios muito distantes e outros muito próximos ou concentrando oportunidades,
bens e serviços especializados), nas pequenas localidades isoladas e nos municípios brasileiros
de difícil acesso. Mas também aparecem nos bairros periféricos e nos núcleos urbanos informais
das grandes cidades.

Em maior ou menor grau, todas as


: Reduzir as desigualdades entre nossas cidades sofrem com
regiões e dentro das regiões é o foco da Política desigualdades no acesso a
Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR, oportunidades, bens e serviços. Isso
Decreto 9.810/2019). Já a Política Nacional de afeta especialmente a vida de
Desenvolvimento Urbano (PNDU) tem como foco a pessoas e grupos sociais que são
redução de desigualdades intermunicipais (entre
vulneráveis: pessoas com
municípios), intramunicipais (entre áreas dentro dos
deficiência, pessoas de baixa renda,
municípios) e intraurbanas (dentro da mancha urbana).
Ambas assumem o compromisso de fortalecer a rede pessoas LGBTQIA+, mulheres,
urbana brasileira (conjunto de relações hierárquicas e pessoas pretas, pessoas idosas,
funcionais entre as cidades brasileira), para promover jovens e crianças.
uma melhor distribuição de oportunidade, bens e
serviços e incentivar processos de desenvolvimento As desigualdades impedem que
que sejam inclusivos e sustentáveis. essas pessoas e grupos sociais
exerçam o seu pleno direito a
cidades sustentáveis. A legislação
brasileira define o termo assim: “o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à
infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as
presentes e futuras gerações” (Estatuto da Cidade).

Na política urbana brasileira, “não deixar ninguém para trás” é o mesmo que dizer “garantir o
direito a cidades sustentáveis para todas as pessoas”. Isso significa: (1) comprometer-se a
reduzir desigualdades históricas que prejudicam o acesso de pessoas e grupos sociais
vulneráveis a oportunidades, bens e serviços; (2) estruturar ações adequadas à ampla
diversidade territorial do país, de forma a “não deixar nenhum município para trás”.
12

As iniciativas brasileiras de “cidades inteligentes”3 são ações de política urbana. Então, devem
adotar a mesma visão.

As discussões e iniciativas de “cidades inteligentes” surgem em plena época de transformação


digital. Tudo está mudando: vida cotidiana, negócios, organizações públicas e privadas,
dinâmicas e territórios das cidades. A ação política (formulação de políticas públicas, processos
participativos, formas de tomada de decisão etc) também mudou. A porta de entrada desse novo
mundo é a conectividade digital, ou seja, acesso à internet com qualidade.

Muitos fatores prejudicam o


pleno direito à conectividade é o fenômeno histórico de
digital. Por exemplo: distribuição mudança cultural provocada pelo uso disseminado das
da infraestrutura para inclusão tecnologias de informação e comunicação (TICs) nas
digital, custos, diferentes práticas sociais, ambientais, políticas e econômicas. A
capacidades de acesso e transformação digital provoca uma grande mudança
interação com dispositivos cultural, inédita, rápida e difícil de entender na sua
digitais e diferentes capacidades totalidade. Afeta mentalidades e comportamentos nas
para compreender como a organizações, governos, empresas e na sociedade de
forma geral. (O conceito da transformação digital
internet funciona. Esses fatores
sustentável leia na pag. 24)
impactam cada vez mais as
desigualdades socioeconômicas
e espaciais.

Na era digital, o direito a cidades sustentáveis (Estatuto da Cidade) também está condicionado
ao direito de acesso à internet (Marco Civil da Internet no Brasil). Essa é a visão que esta Carta
assume para apresentar ao país uma agenda brasileira para “cidades inteligentes”.

A Carta também assume uma perspectiva ampla da transformação digital nas cidades. Nessa
perspectiva, é preciso compreender quais são as mudanças impostas ao espaço urbano pela
digitalização e de que formas o espaço urbano responde a essas mudanças. É preciso entender

3
“Cidades inteligentes” são cidades comprometidas com o desenvolvimento urbano e a transformação digital
sustentáveis, em seus aspectos econômico, ambiental e sociocultural, que atuam de forma planejada,
inovadora, inclusiva e em rede, promovem o letramento digital, a governança e a gestão colaborativas e utilizam
tecnologias para solucionar problemas concretos, criar oportunidades, oferecer serviços com eficiência, reduzir
desigualdades, aumentar a resiliência e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, garantindo o uso
seguro e responsável de dados e das tecnologias da informação e comunicação.
13

como as novas relações vêm confundindo os próprios conceitos e fronteiras do urbano. E,


principalmente, é preciso entender os diferentes aspectos da exclusão digital4.

A transformação digital
: Em 2019, havia 28% de domicílios pode gerar impactos
brasileiros sem conexão à internet. Metade deles tinha renda de positivos ou negativos,
até 1 salário mínimo. Os dados por território mostram como a dependendo do contexto. A
desigualdade socioespacial também resulta em exclusão digital,
realidade de cada lugar
em várias escalas. A região Nordeste tinha proporcionalmente
também influencia no
menos domicílios com acesso à internet (35% sem acesso à
internet) e a região Sudeste era a mais conectada (25% sem
potencial de uso das
acesso à internet). Mesmo sendo a mais conectada, a maior tecnologias da
parte (80%) dos domicílios sem conexão da região Sudeste informação e
eram predominantemente sem renda (3%) ou de baixa renda comunicação. É preciso,
(77%). Quase metade (48%) dos domicílios rurais não tinham portanto, considerar a
conexão, comparados com 25% dos domicílios situados em ampla diversidade e as
áreas urbanas. Quanto ao tipo de conexão, na região Norte profundas desigualdades
predomina a conexão móvel via modem ou chip 3G/4G. Lá, 74% históricas que marcam
dos domicílios com renda acima de 10 salários mínimos tinham
nosso território ao agir e
conexão por banda larga fixa. Por outro lado, 54% dos domicílios
refletir sobre a
com renda até 3 salários mínimos acessavam a internet por
conexão móvel que, em geral, podem apresentar problemas de
transformação digital. Só
instabilidade, franquias e limites de navegação. (Dados do assim será possível que a
Cetic.br, TIC Domicílios, 2019). transformação digital nas
cidades brasileiras seja
positiva e sustentável.

Nós, Comunidade da Carta Brasileira para


Cidades Inteligentes, acreditamos no
é o conjunto de ferramentas
potencial das tecnologias da informação e
e recursos tecnológicos (hardware, software,
comunicação para transformar
rede) que permite às pessoas acessar,
positivamente as cidades brasileiras. Mas,
armazenar, transmitir e manipular informações
para isso ocorrer, é preciso considerar a (Baseado no conceito da Unesco).
diversidade territorial do país.

4
exclusão digital Em 2019, havia 28% de domicílios brasileiros sem conexão à internet. Metade deles tinha
renda de até 1 salário mínimo. Os dados por território mostram como a desigualdade socioespacial também
resulta em exclusão digital, em várias escalas. A região Nordeste tinha proporcionalmente menos domicílios
com acesso à internet (35% sem acesso à internet) e a região Sudeste era a mais conectada (25% sem acesso
à internet). Mesmo sendo a mais conectada, a maior parte (80%) dos domicílios sem conexão da região
Sudeste eram predominantemente sem renda (3%) ou de baixa renda (77%). Quase metade (48%) dos
domicílios rurais não tinham conexão, comparados com 25% dos domicílios situados em áreas urbanas.
Quanto ao tipo de conexão, na região Norte predomina a conexão móvel via modem ou chip 3G/4G. Lá, 74%
dos domicílios com renda acima de 10 salários mínimos tinham conexão por banda larga fixa. Por outro lado,
54% dos domicílios com renda até 3 salários mínimos acessavam a internet por conexão móvel que, em geral,
podem apresentar problemas de instabilidade, franquias e limites de navegação. (Dados do Cetic.br, TIC
Domicílios, 2019).
14

A Carta Brasileira para Cidades Inteligentes é um documento político que expressa uma agenda
pública brasileira.

A meta é alcançar um público abrangente, que trabalha com desenvolvimento urbano e


transformação digital ou tem interesse nesses temas. Pessoas que atuam dentro ou fora do setor
público. Inclui quem vive em cidades e se preocupa com os impactos das tecnologias no dia a
dia e no meio ambiente urbano.

De forma mais direcionada, a Carta dirige-se aos seguintes públicos e segmentos:

● Pessoas responsáveis por tomar decisões nos municípios brasileiros (e no Distrito


Federal): prefeitas e prefeitos, agentes técnicos e políticos. São aquelas a quem cabe
implementar estratégias e projetos para “cidades inteligentes” em nível local;

● Agentes técnicos e políticos de órgãos públicos nacionais e estaduais. São aqueles


encarregados de articular e integrar iniciativas de cidades inteligentes, dando suporte
técnico e financeiro aos municípios;

● Poderes legislativos nos três níveis de governo e poder judiciário (quando lhe couber
atuar). Cabe a essas instâncias articular e compatibilizar normas gerais que viabilizem
e deem segurança jurídica às ações de desenvolvimento urbano e de transformação
digital sustentáveis;

● Órgãos de controle da estrutura de Estado. São aqueles que zelam pela boa execução
de políticas públicas, incluindo as relações de custo-benefício e a continuidade das
ações;

● Profissionais do meio técnico e científico em instituições de ensino e de pesquisa. A


essas pessoas, cabe gerar e disseminar conhecimento, além de apoiar agentes locais
por meio de atividades acadêmicas de extensão;

● Setor privado, em suas múltiplas formas de organização. Tem o papel de oferecer


soluções criativas e inovadoras para as cidades enfrentarem problemas públicos
relevantes, indicados e reconhecidos pela população local e socialmente legitimados;

● Organizações da sociedade civil. Cabe a elas: implementar projetos inovadores, exercer


controle social sobre políticas públicas, participar e assegurar a qualidade do debate
público, lutar por direitos civis e contra toda forma de discriminação.
15

Esses públicos e segmentos são indispensáveis para a implementação e para os


desdobramentos desta Carta. Por isso, os Objetivos Estratégicos e as Recomendações da
Agenda pública comum apresentada neste documento (leia na pág. 32) dirigem-se a eles. Cada
recomendação agrupa, subdivide ou articula os públicos e segmentos. São onze os segmentos
de público-alvo. Eles aparecem indicados por suas siglas ao fim de cada recomendação:

● Agências reguladoras (AR);


● Cooperação intergovernamental vertical (CIV);
● Cooperação intergovernamental horizontal (CIH);
● Empresas concessionárias de serviços públicos (EC);
● Empresas de telecomunicações (ET);
● Governo Estadual (GE);
● Governo Federal (GF);
● Governo Municipal (GM);
● Instituições de ensino e pesquisa (IEP);
● Instituições financeiras e de fomento (IFF);
● Organizações da sociedade civil (OSC)
● Setor privado (SP).

Nós, Comunidade Brasileira para Cidades Inteligentes, acreditamos no trabalho em rede,


cooperativo, colaborativo e solidário para construir projetos de cidades resilientes, inovadoras e
inclusivas. Um trabalho para que o país se desenvolva com redução das desigualdades em todos
os níveis, formas e dimensões.
16

A finalidade central desta Carta é apoiar a promoção de padrões de desenvolvimento urbano


sustentável, que levam em conta o contexto brasileiro da transformação digital nas cidades.

Para isso, assume o desafio de integrar as agendas do desenvolvimento urbano e da


transformação digital. Mas não só. A integração deve se orientar pelas perspectivas da
sustentabilidade ambiental, urbana, social, cultural, econômica, financeira e digital.

A Carta traz a transformação digital para dentro do ambiente urbano e amplia o que se entende
por “cidades inteligentes”. É comum associar o termo apenas às tecnologias da informação e
comunicação, sem fazer conexão com os problemas concretos das cidades brasileiras. É comum
também associá-lo a soluções tecnológicas para problemas urbanos, mas soluções que não
buscam resolver as reais causas históricas desses problemas.

A Carta Brasileira para Cidades Inteligentes integra as agendas do desenvolvimento urbano e da


transformação digital. Ela foi feita para:

O debate sobre “cidades inteligentes” existe há muito tempo, mas nunca chegou a definir
um conceito brasileiro definido para essa expressão. A indefinição foi percebida como um
fator que prejudica a transformação digital sustentável nas cidades.

Então, optou-se por construir uma definição própria, em vez de seguir uma das várias linhas
conceituais existentes no país e no mundo. Uma definição convergente e adaptada à
realidade, à diversidade e à complexidade das cidades brasileiras.

A transformação digital é tão importante para o futuro das cidades que determinou a
estruturação de uma agenda comum e abrangente.

Para essa tarefa, reunimos vários pontos de vista sobre a diversidade das cidades
brasileiras e sobre as iniciativas já existentes. Articulamos abordagens e frentes de atuação
ligadas a “cidades inteligentes”. Isso facilitará que as ações dos diferentes níveis de
governo e dos diferentes setores aconteçam de forma coordenada e convergente no
território.
17

Organizamos a agenda pública em Objetivos Estratégicos e Recomendações. O trabalho


foi orientado pela definição nacional de “cidade inteligentes” proposta por esta Carta (leia
na pag. 23).

Há muitos saberes sobre “cidades inteligentes” no Brasil e no mundo. Daí ser útil e
necessário sistematizar as iniciativas, num processo contínuo e incremental.

A Carta dá o passo inicial para essa sistematização. Ela contextualiza as ações e


discussões no cenário brasileiro. É um primeiro documento aglutinador de iniciativas. Deve
ser vista como um “produto-mãe” que vai gerar “produtos-filho” a partir de ações da rede
de pessoas e de instituições ligadas ao tema.

Os “produtos-filho” podem ter muitos formatos e atender diversos propósitos. São


exemplos de “produtos-filhos”: cartilhas explicativas, documentos técnicos, projetos,
modelos de parceria entre os setores público e privado, produções acadêmicas, estudos
de caso, boas práticas, metodologias, legislações e normas técnicas.

É importante reunir os “produtos-filhos” e deixá-los fáceis de acessar. Para tal, eles devem
ser indexados (relacionados) aos Objetivos Estratégicos e Recomendações da agenda
comum. Isso vai otimizar a consulta, a integração e o uso dos saberes existentes. As
principais iniciativas que existem no Governo Federal já estão indexadas no documento.

A qualidade de vida das pessoas só mudará para melhor se essa agenda pública para
“cidades inteligentes” e os saberes aqui reunidos gerarem ações concretas. Este “produto-
mãe” e seus “produtos-filhos” são ferramentas para implementar essas ações.

As Recomendações de cada Objetivo Estratégico da Carta foram direcionadas aos


públicos a que se destinam, por meio de siglas. Fizemos assim para facilitar que cada um
reconheça a sua parte no esforço de garantir uma transformação digital nas cidades que
seja sustentável. O objetivo é deixar claro o que municípios, instituições e pessoas
precisam fazer e onde podem contribuir.
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Essa Carta foi elaborada por um grupo grande de pessoas e instituições. Elas doaram
tempo e saberes para contribuir com o desenvolvimento do país.

No processo, foram usados mecanismos inovadores de criação coletiva para engajar o


grupo no tema da transformação digital nas cidades. Esse processo gerou uma rede de
colaboração chamada Comunidade da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes. É uma
rede aberta, formada por pessoas e instituições com conhecimento técnico especializado
em diversas áreas, bem como por organizações da sociedade civil.

A partir de agora, a Comunidade deve sustentar e retroalimentar a Carta.


19
20

A Agenda Brasileira para Cidades Inteligentes é um instrumento de orientação, para ser


adaptado caso a caso. Ela ajuda a compreender os impactos e as potencialidades da
transformação digital em cada cidade. Também ajuda a decidir caminhos, levando em conta a
visão de futuro definida em cada localidade.

COMO LER A AGENDA

A Agenda tem cinco seções, que se interligam:

Apresenta os valores essenciais de uma cidade inteligente a partir da realidade brasileira


e divulga a definição curta para o conceito no Brasil. Essa definição curta sintetiza as ideias
que a Comunidade da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes expressará na mensagem
de abertura “As ‘cidades inteligentes’ que queremos” (leia nas págs. 2-5).

Apresenta um conjunto de princípios que ancoram o conceito brasileiro de cidade


inteligente.

Apresenta um conjunto de diretrizes que orientam a ação, para que ela ocorra de forma
vinculada aos princípios.

Apresenta os temas centrais da transformação digital nas cidades e a explica a visão desta
Carta para um processo sistêmico e sustentável. A intenção é mostrar como os Objetivos
funcionam em conjunto e como as recomendações são interdependentes e ligadas ao
contexto geral. Além disso, essa seção ajuda a compreender o contexto que motiva cada
Objetivo Estratégico.
21

Apresenta cada Objetivo Estratégico e suas recomendações, que podem ser mais
estratégicas (por exemplo: mudança de visão) ou operacionais (por exemplo: cartilha para
orientar ações). Espera-se que “produtos-filho” sejam vinculados a uma ou mais
recomendações. (leia mais sobre produtos-filho na página 17).

As recomendações são numeradas e têm títulos que indicam o tema que abordam. No fim
de cada uma, siglas identificam o público-alvo que pode ou deve estar envolvido na sua
implementação. Há onze segmentos de público-alvo: Agências reguladoras (AR);
Cooperação intergovernamental vertical (CIV); Cooperação intergovernamental horizontal
(CIH); Empresas concessionárias de serviços públicos (EC); Empresas de
telecomunicações (ET); Governo Estadual (GE); Governo Federal (GF); Governo
Municipal (GM); Instituições de ensino e pesquisa (IEP); Instituições financeiras e de
fomento (IFF); Organizações da sociedade civil (OSC) e Setor privado (SP). Entre os onze
segmentos, dois indicam a necessidade de integração entre entes da federação (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios): Cooperação intergovernamental vertical (CIV) e
Cooperação intergovernamental horizontal (CIH).

Numerações, títulos e siglas organizam a Agenda e orientam a consulta. Assim, pode-se


localizar pontos de interesse buscando por temas ou público-alvo das recomendações.

O coração da Carta é a seção Oito Objetivos Estratégicos e suas Recomendações. Mas deve-
se evitar ler essa seção literalmente, como uma fórmula. Convidamos pessoas e instituições
locais de vários segmentos a ajustarem objetivos e recomendações conforme a realidade de
cada município. Só as ações concretas nas cidades melhoram a vida das pessoas.

A transformação digital nas cidades é uma responsabilidade de vários setores. Mas é muito
importante que o poder público lidere a condução política do tema, especialmente no nível local.
Prefeitas, prefeitos, suas equipes e o poder legislativo devem trabalhar juntos e com o apoio da
União e dos Estados para estimular a participação da sociedade e fazer a diferença.

Nós, Comunidade Brasileira para Cidades Inteligentes, acreditamos que uma agenda pública
assumida pelo Estado é capaz de enfrentar desafios históricos e contemporâneos das cidades e
do país. Essa agenda deve ser coerente, contínua, incremental, responsável e transparente.
Deve ser construída e implantada engajando diferentes níveis de governo, organizações da
sociedade civil e segmentos sociais.
22

O termo “cidades inteligentes” (“smart cities”) nasceu há cerca de vinte anos. Na época, o setor
de TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) começou a perceber as cidades como um
grande mercado a ser explorado. Foi quando surgiu a oferta de soluções para melhorar a
prestação de serviços urbanos.

O termo foi se popularizando. Passou a ser usado com diferentes sentidos em várias partes do
mundo, inclusive no Brasil. Mostrou-se útil para melhorar a visibilidade de alguns projetos e
organizações. O tempo passou e o termo evoluiu.

Cidades inteligentes viraram “inteligentes e humanas”, “inteligentes e sustentáveis”, “inteligentes,


sustentáveis e humanas” e assim por diante. A escolha de palavras indicava uma disputa nos
bastidores. Algumas vezes, “cidades inteligentes” ficava subordinada à agenda mais ampla do
desenvolvimento urbano, dando menos espaço às tecnologias de informação e comunicação.
Outras vezes, ocorria o contrário.

O campo disciplinar do desenvolvimento urbano no Brasil (a parte “cidades”) muitas vezes


rejeitou a discussão ou se ausentou, apesar da força do movimento. A desconexão ocorreu
porque o setor não via a agenda histórica de reforma urbana representada no termo e nos
debates. Tal cenário acabou deixando o termo mais perto das TICs (a parte “inteligentes”). Isso
ocorreu no setor privado e nos diversos níveis de governo.

Assim, a desconexão entre as partes “cidades” e “inteligentes” abriu espaço para as discussões
ligadas às TICs crescerem. E a agenda mais ampla de transformação digital nas cidades acabou
se limitando aos setores de mobilidade e transportes urbanos, segurança urbana, governo digital,
gestão de emergências e desastres.

A agenda de Internet das Coisas (IoT)


delimitou áreas (chamadas “verticais”) é a infraestrutura
consideradas promissoras para o que interconecta objetos de diferentes usos
avanço das suas soluções. Isso ocorreu (coisas) à rede digital para prestar serviços na vida
com as áreas da saúde, educação, cotidiana, na indústria, nos setores urbanos, etc.
agricultura e também com as cidades. Os objetos usam sensores e softwares eletrônicos
Acabou por associar o termo e a agenda para coletar e transmitir dados pela internet (Plano
Nacional de Internet das Coisas).
de “cidades inteligentes” a ambientes
altamente conectados.

A vertical de “cidades inteligentes” foi impulsionada por iniciativas de iluminação pública urbana.
Esse tema ganhou espaço após a Contribuição para o Custeio dos Serviços de Iluminação
23

Pública – COSIP5 entrar na Constituição. Prestar serviço de iluminação pública passou a


significar implementar e operar uma rede de postes e cabos que também pode receber sensores.
Forma-se uma malha “inteligente” (“smart grid”) com potencial de atender toda a cidade.

Tantas perspectivas e visões dificultaram um debate sobre “cidades inteligentes” que fosse
amplo, para além de cada nicho de atuação. Conceitos, linguagem e vocabulário de diferentes
campos disciplinares formaram barreiras para o entendimento mútuo e, consequentemente, de
interação frutífera.

Órgãos públicos em todos os níveis de governo vêm trabalhando no tema a partir de concepções
particulares, derivadas das inúmeras iniciativas classificadas como “projetos de cidades
inteligentes”. O ambiente governamental também é afetado pelo caráter variável do termo
“cidades inteligentes”. É comum o termo ser questionado, ressignificado ou super adjetivado.

As pessoas e instituições que contribuíram para a construção da Carta levaram em conta todas
essas questões. Elas também reconheceram a importância de existir um conceito unificador para
estruturar as atuações. Um conceito que seja capaz de lidar com a complexidade da
transformação digital nas cidades.

Assim, o grupo propôs uma visão ampliada e uma definição curta para o conceito “cidades
inteligentes”. A visão ampliada dialoga com a complexidade e a particularidade dos diferentes
territórios – está no texto que abre esta Carta (leia na págs 2-5). Aqui, apresentamos a definição
curta. Ela expressa de forma compactada os valores essenciais de uma “cidade inteligente” no
contexto brasileiro.

são cidades comprometidas com o desenvolvimento urbano e a transformação


digital sustentáveis, em seus aspectos econômico, ambiental e sociocultural, que
atuam de forma planejada, inovadora, inclusiva e em rede, promovem o
letramento digital, a governança e a gestão colaborativas e utilizam tecnologias
para solucionar problemas concretos, criar oportunidades, oferecer serviços com
eficiência, reduzir desigualdades, aumentar a resiliência e melhorar a qualidade
de vida de todas as pessoas, garantindo o uso seguro e responsável de dados e
das tecnologias da informação e comunicação.

5
A Contribuição para o Custeio dos Serviços de Iluminação Pública - COSIP foi introduzida na Constituição
Federal (Art. 149-A) pela Emenda nº 39/02. Estabelece a possibilidade que os municípios cobrem de seus
contribuintes uma taxa para o custeio do serviço de iluminação pública. Sua implementação é cercada de
controvérsias, ligadas à natureza do tributo, fato gerador e entendimentos sobre o que estaria incluído nos
“serviços de iluminação pública”.
24

O conceito brasileiro de “cidades inteligentes” pode ser complementado pelos conceitos


auxiliares de “transformação digital sustentável” e “desenvolvimento urbano sustentável”:

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL SUSTENTÁVEL é o processo de uso responsável de tecnologias


da informação e comunicação no contexto dessa grande mudança cultural (a definição do
conceito da transformação digital leia na pag.12). Esse uso responsável deve se basear na ética
digital e orientado para o bem comum. Inclui:

● Segurança cibernética,
● Transparência ao usar dados, informações, algoritmos e dispositivos,
● Dados e códigos abertos, acessíveis a todas as pessoas,
● Proteção geral de dados pessoais,
● Letramento digital,
● Inclusão digital.

Todas essas ações devem ser realizadas de forma adequada e com respeito às características
socioculturais, econômicas, urbanas, ambientais e político-institucionais específicas de cada
território. E também devem conservar os recursos naturais e preservar as condições de saúde
das pessoas.

DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL é o processo de ocupação urbana orientada


para o bem comum e para a redução de desigualdades. Este processo equilibra as necessidades
sociais, dinamiza a cultura, valoriza e fortalece identidades. Usa os recursos naturais,
tecnológicos, urbanos e financeiros de forma responsável. Promove o desenvolvimento
econômico local. Impulsiona a criação de oportunidades na diversidade. Impulsiona a inclusão
social, produtiva e espacial de todas as pessoas, de gerações presente e futuras. Promove a
distribuição equitativa de infraestrutura, espaços públicos, bens e serviços urbanos. Promove o
adequado ordenamento do uso e da ocupação do solo em diferentes contextos e escalas
territoriais. Respeita pactos sociopolíticos estabelecidos em arenas democráticas de governança
colaborativa.

.
25

O processo de transformação digital precisa ser adequado às realidades locais.


Essa adequação deve levar em conta as áreas remotas e as diferenças entre
áreas rurais e urbanas dos municípios. Deve seguir as tipologias da Política
Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU).

A transformação digital também é uma transformação urbana. A cidade é um


sistema complexo, dinâmico e vivo, que reflete, reage e materializa questões
culturais, sociais, ambientais e econômicas.

A articulação entre setores e disciplinas científicas combina tecnologias digitais


e sociais, inclusive de forma experimental. O objetivo é desenvolver novos
processos para melhorar a qualidade de vida nas cidades.

Inclui: uso sustentável dos recursos naturais; combate e reversão de práticas


de degradação do meio ambiente; reconhecimento e adoção de soluções
baseadas na natureza; reconhecimento e adoção de outras abordagens
ambientais inovadoras nas matrizes de desenvolvimento.

As ações de cidades inteligentes devem respeitar os princípios que a


Constituição Federal define para a Administração Pública e para a política
urbana. No caso da Administração Pública: legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência. No caso da política urbana: a cidade e a
propriedade devem atender ao bem coletivo e cumprir sua função social.
26

Agir conforme a perspectiva de desenvolvimento urbano sustentável que está


na legislação, nas políticas brasileiras e em acordos internacionais.

Avaliar e promover ações levando em conta o potencial que elas têm de


responder aos desafios locais, adequando-as ao estágio tecnológico do
município.

Impulsionar e promover ações que estimulem a formação cidadã e o letramento


digital, de forma contínua. As ações devem atender pessoas de todas as
idades, gêneros, raças e classes sociais, fortalecendo a sua autonomia.

Estimular e garantir o envolvimento de pessoas de todas as idades, gêneros,


raças e classes sociais e dos coletivos locais, inclusive povos e comunidades
tradicionais.

Realizar ações de cooperação entre setores público, privado, organizações da


sociedade civil e instituições de ensino e pesquisa.

Usar dados e sistemas de forma responsável, transparente e compartilhada.


27

Nós, Comunidade da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, apresentamos aqui uma agenda
pública para a transformação digital sustentável nas cidades.

Organizamos oito Objetivos Estratégicos, cada qual associado a uma série de Recomendações.

A agenda está ligada ao conceito brasileiro de cidades inteligentes, está ancorada nos princípios
e deve ser guiada pelas diretrizes já apresentados neste documento.

A agenda vincula-se à Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) e à Política


Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU). O objetivo dessas políticas é reduzir
desigualdades socioespaciais (relação entre desigualdades associadas a aspectos sociais -
idade, gênero, renda, educação - e espaciais - onde alguém mora, onde alguém trabalha, etc.)
entre regiões, dentro das regiões, entre cidades e dentro das cidades. Ambas são formuladas,
monitoradas e avaliadas pelo Ministério do Desenvolvimento Regional.

Este texto introdutório mostra como os Objetivos Estratégicos estão relacionados entre si e como
as recomendações são interdependentes. O texto situa cada objetivo no contexto mais amplo da
transformação digital sustentável nas cidades brasileiras.

Contexto – Para reduzir desigualdades socioespaciais, é preciso considerar o desenvolvimento


territorial a partir de uma visão ampla. Essa visão deve levar em conta vários aspectos,
especialmente a localização, a disponibilização e o acesso a recursos, infraestruturas, bens e
serviços essenciais, educação, cultura e informação.

A transformação digital traz oportunidades para compreender melhor e enfrentar os problemas


urbanos brasileiros, que são históricos. Mas ações de tecnologia sem direcionamento podem até
aumentar desigualdades antigas, como a falta ou deficiência no acesso a serviços urbanos
básicos.

Governos e sociedade precisam agir para que a tecnologia atenda as necessidades reais das
cidades. Iniciativas e soluções digitais devem estar alinhadas com uma visão estratégica de
28

desenvolvimento urbano sustentável e de qualidade de vida. E também devem estar sintonizadas


com a grande diversidade brasileira.

Esse processo requer que a sociedade e as instituições locais se fortaleçam para assumir o
protagonismo na adaptação da transformação digital às suas realidades. Para isso, elas devem
adequar políticas, programas e ações de desenvolvimento urbano ao novo contexto da
transformação digital. Devem aperfeiçoar infraestruturas, ferramentas e sistemas digitais para a
prestação de serviços públicos de qualidade.

Contexto – Integrar o urbano e o digital nas políticas públicas e nos instrumentos de


ordenamento territorial é importante, mas essa ação deve vir acompanhada de conectividade. O
desenvolvimento sustentável depende de todas as pessoas acessarem internet e ferramentas
digitais de qualidade. Uma boa conectividade digital determina a inclusão social e produtiva e a
justa distribuição de oportunidades. Em função disso, governos e iniciativa privada devem
conhecer os territórios onde o acesso é precário e corrigir essa distorção.

Contexto – Políticas públicas e conectividade são elementos básicos, mas insuficientes para
equidade (distribuição justa, capaz de atender necessidades diferentes de todas as pessoas) de
oportunidades no contexto da transformação digital. É preciso estruturar sistemas de governança
de dados e de TICs (tecnologias de informação e comunicação) adequados a cada realidade.
Somente a partir desses sistemas será possível integrar infraestrutura, sistemas, ferramentas e
soluções digitais no desenvolvimento urbano de todas as cidades.

Diferentes governos e setores da sociedade devem cooperar para os sistemas funcionarem de


forma integrada, responsável e inovadora. Com segurança cibernética e garantia de privacidade
pessoal. Devem cooperar para oferecer um ambiente de ética digital que assegure dados
compartilhados e abertos sempre que possível e que garanta proteção jurídica às pessoas.
29

Contexto – A governança de informação tratada no objetivo anterior faz parte de uma


governança urbana mais ampla, que estimula a colaboração e cria inteligência territorial
(baseada em sistemas e informações que orientam decisões estratégicas baseadas em
evidências para planejar, executar, gerenciar e monitorar ações no território). Pessoas e
instituições precisam conversar, discutir os problemas e construir soluções que atendam a
coletividade.

Nesse sentido, a transformação digital pode melhorar os tradicionais modelos de participação,


tornando-os mais inovadores e inclusivos. Pode-se criar ambientes que aproximem e
reconfigurem a relação entre Estado, setores da sociedade. Ou que aproximem e reconfigurem
a relação entre setores urbanos (como habitação, saneamento e mobilidade) e entre os entes da
federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Uma governança inovadora e inclusiva
estimula a colaboração, pois esta é uma forma de identificar problemas urbanos reais com base
em evidências e desenvolver soluções.

O poder público municipal é protagonista da execução da política urbana e guardião do interesse


coletivo. Daí o seu papel estratégico para promover e facilitar as ações de governança urbana.
É ele que deve coordenar os processos que decidem sobre promoção, regulamentação ou
desestímulo de instrumentos surgidos com a transformação digital, tais como dados, sistemas
de informação e modelos de negócios.

Contexto – Uma governança bem estruturada, colaborativa e inclusiva torna as cidades mais
habitáveis e fortalece a economia local. O mesmo ocorre quando as decisões são tomadas com
base em dados e evidências científicas.

A transformação digital pode gerar valor, emprego e renda para as pessoas das cidades. A
economia do compartilhamento, a economia criativa e a economia circular podem potencializar
essas oportunidades. Mas é indispensável que diferentes setores e pessoas se articulem para
evitar que uma transformação digital mal conduzida cause mais desigualdade social.

Contexto – Recursos financeiros viabilizam, aceleram e potencializam os processos de


desenvolvimento econômico e urbano sustentáveis. Os recursos são necessários para
implementar ambientes de estímulo à inovação, à pesquisa e à implantação de infraestruturas.
30

Estado e sociedade devem trabalhar juntos, seguindo na mesma direção. A ação conjunta deve
incluir bancos públicos, investidores privados, instituições financeiras e de fomento, agências de
apoio à pesquisa e inovação. O trabalho em colaboração irá identificar, sistematizar, criar e
disponibilizar instrumentos, linhas diversificadas de financiamento e soluções de
autofinanciamento da transformação digital. Todas as ações devem estar associadas ao
desenvolvimento urbano sustentável.

Contexto – Por outro lado, pessoas, coletivos e organizações devem fazer a transição de
usuários passivos para agentes da transformação. Devem ser agentes conscientes e criadores
das próprias realidades. Isso requer novas capacidades, habilidades e atitudes.

Trata-se de uma tarefa coletiva e desafiadora. Logo, ela deve ser apoiada por um movimento
educativo massivo sobre a transformação digital nas cidades. Essa tarefa também requer um
processo de comunicação qualificado para engajar, sincronizar, coordenar e articular distintos
agentes públicos e privados em torno dos objetivos da Carta. Entre os agentes, devem constar
organizações da sociedade civil, veículos de comunicação, instituições de ensino e pesquisa.

Contexto – Finalmente, precisamos assimilar e aprender com as transformações enquanto elas


acontecem, pois são fatos novos, dinâmicos, inéditos e ainda pouco estudados. É necessário
compreender e avaliar os impactos sistêmicos (impactos no nosso sistema social, ambiental,
econômico, político) que o processo de transformação digital causa nas cidades. Isso deve ser
feito de forma contínua e estruturada, a partir de uma abordagem complexa e sistêmica.

A avaliação dos impactos é uma tarefa essencial para identificar novos desafios e corrigir os
rumos desta agenda ao longo da sua implementação. Tamanha tarefa só será possível com a
união de diferentes pessoas e com a valorização dos saberes locais e comunitários.
31

Objetivo Estratégico 1 - a transformação digital nas políticas, programas


e ações de desenvolvimento urbano sustentável, respeitando as
diversidades e considerando as desigualdades presentes nas cidades
brasileiras

Recomendações:

Usar o acesso à internet de qualidade como


um indicador de desigualdade socioespacial na política urbana. Reconhecer pelo indicador que
há um déficit de conectividade que deve ser enfrentado em políticas, programas, projetos e ações
de desenvolvimento urbano sustentável e de telecomunicações. Essas iniciativas devem estar
alinhadas com o Plano Estratégico da Anatel 2015-2024 e com a Estratégia Brasileira para a
Transformação Digital E-digital.

1.1.1. Infraestrutura digital como infraestrutura urbana básica: Planejar e


implementar a infraestrutura digital como parte da infraestrutura básica da cidade. Essas
ações devem ser facilitadas inclusive por meio de alteração à lei do parcelamento do solo
urbano (Lei nº 6.766/1979) e de outras normas gerais de política urbana. A integração da
infraestrutura digital na infraestrutura urbana básica contribuirá para alcançar os objetivos
da Estratégia Brasileira para a Transformação Digital (Decreto nº 9.319/2018 - E-Digital).
32

1.1.2. Informações sobre exclusão digital: Entender melhor os fatores associados à exclusão
digital, tais como quais são as condições de conectividade dos grupos vulneráveis e quais
são as condições de conexão em cada localização. Para isso, usar dados
georreferenciados (com localização geográfica) separados por renda, raça, gênero,
escolaridade, idade. Incluir análises específicas para as pessoas com deficiência.

1.2.1. Tipologias urbanas: Estabelecer tipologias (categorias) de território que apoiem


a compreensão do urbano no Brasil. Esse trabalho deve ser feito no processo de
formulação da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU). Deve compreender
o território a partir de diferentes níveis: municipal, supramunicipal (agrupamento de
municípios) e regional. As tipologias também devem se adequar à diversidade territorial do
país. O objetivo é orientar agendas, programas e iniciativas para o desenvolvimento urbano
sustentável, inclusive de cidades inteligentes, nos três níveis municipal, supramunicipal e
regional.

1.2.2. Instrumentos e metodologias para a diversidade territorial: Desenvolver e


adaptar instrumentos e metodologias de informação, planejamento, gestão e governança
para o desenvolvimento urbano sustentável, considerando diferentes graus de
complexidade. Esses instrumentos e metodologias devem ser adequados às tipologias
(categorias de territórios) da Política Nacional de Desenvolvimento (PNDU). Devem
considerar a diversidade territorial das cidades brasileiras. Devem ser fáceis de
implementar no nível local.

1.2.3. Visão de contexto: Estimular a atuação local com visão de contexto,


disponibilizando ferramentas para facilitar que os municípios percebam seus próprios
contextos e inserções regionais. O objetivo é qualificar o planejamento e a gestão integrada
de suas áreas urbanas, rurais e naturais. Deve haver articulação com outros municípios e
demais entes federados (União, Estados, Municípios e Distrito Federal). Essas ações
devem estar em linha com a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) e com
a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU).
33

1.2.4. Visão de futuro da cidade: Construir a visão de futuro da cidade de forma


participativa e inclusiva. Estabelecer essa visão no plano diretor ou em outro instrumento
de planejamento municipal. Na construção da visão de futuro, considerar a perspectiva e
os impactos específicos da transformação digital no território da cidade. Considerar
também o contexto regional e as características locais nos aspectos econômico-financeiro,
sociocultural, urbano-ambiental e político-institucional.

1.2.5. Articulação setorial no território: Desenvolver estratégias para que as políticas,


planos e programas de desenvolvimento urbano e de setores afins sejam integradas no
território, em todos os níveis de governo. As estratégias devem enfatizar as áreas de
urbanismo, habitação, saneamento básico, resíduos sólidos, mobilidade urbana,
segurança hídrica, redução de desastres, meio ambiente e transformação digital.

Desenvolver metodologia para


mapear necessidades específicas das políticas setoriais urbanas que possam ser
apoiadas por soluções digitais. As ações devem incluir infraestrutura e dispositivos
digitais, bem como dados e informações georreferenciadas (com localização geográfica).
Também devem estar em linha com a diversidade territorial e com as tipologias
municipais e supramunicipais (agrupamentos de municípios) da Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano (PNDU). O objetivo é possibilitar o planejamento e a
implementação de projetos e ações locais integradas.

Desenvolver e usar metodologias,


dados e indicadores que respondam ao novo normal climático (aumento da temperatura
média global com aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos –
deslizamentos, inundações, secas, erosões etc.). Com o mesmo objetivo, integrar as
perspectivas de serviços ecossistêmicos e de soluções baseadas na natureza nos
instrumentos de política urbana. Estimular o uso de metodologias, dados e indicadores,
digitais ou não, para monitorar e avaliar os impactos ambientais causados por
infraestruturas e dispositivos digitais nos ambientes urbanos.
34

Desenvolver, usar e compartilhar


soluções digitais que ajudem a implementar localmente instrumentos de informação,
planejamento, gestão e governança voltados ao desenvolvimento urbano sustentável. As
soluções digitais devem aumentar a eficácia e a efetividade desses instrumentos.
Também devem estar alinhadas com a diversidade territorial e com as tipologias
municipais e supramunicipais (agrupamentos de municípios) da Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano (PNDU).

1.5.1. Dados e informações para o desenvolvimento urbano sustentável: Formular,


implementar, monitorar e avaliar políticas, programas, projetos e ações de
desenvolvimento urbano que sejam baseados em dados e informações públicas e
auditáveis (que podem ser verificadas em uma auditoria).

1.5.1.1 TICs para o diagnóstico e a gestão urbana: Usar ferramentas de


geoprocessamento (processamento de dados com localização geográfica)
para entender melhor os fenômenos urbanos e para aperfeiçoar a capacidade
de gestão dos governos locais. Incorporar nessas ações mecanismos
inovadores da ciência de dados, como a análise de grandes quantidades de
dados anonimizados (sem elementos que identifiquem as pessoas),
conhecidos como Big Data.

1.5.1.2 Sistema nacional de informações para o desenvolvimento urbano:


Identificar, sistematizar e disponibilizar dados e informações públicas que
sejam relevantes para o desenvolvimento urbano sustentável. Esses dados e
informações devem ser elaborados para formular, implementar e monitorar a
Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU). Essas ações têm duas
finalidades: (1) apoiar a implementação de iniciativas locais pelos entes
federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e órgãos
interfederativos (que representam mais de um ente federado); e (2) atender
ao Art. 16-A do Estatuto da Metrópole.
35

1.5.1.3 Integração de dados para a política urbana: Promover a constante


integração de setores e instituições para o intercâmbio de dados, como os
fiscais, de energia elétrica, de saneamento e de registros imobiliários. Essa
integração permitirá entender melhor o uso e a ocupação do solo urbano.
Essas ações irão viabilizar a aplicação de instrumentos de política urbana,
como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo no tempo e o
Parcelamento, Edificação e Utilização Compulsório (PEUC).

1.5.1.4 Mapeamento de áreas verdes urbanas e serviços ecossistêmicos:


Apoiar os municípios e órgãos interfederativos (que representam mais de um
ente federado - União, Estados, Distrito Federal e Municípios) a mapear as
suas áreas verdes urbanas. Essa ação contribuirá com a meta 11.7 do
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 da Agenda 2030 da ONU. Além
das áreas verdes urbanas, apoiar municípios e órgãos interfederativos a
mapear, atribuir valor financeiro e gerir de forma responsável seus recursos
naturais e serviços ecossistêmicos. Para isso, disponibilizar sistema e
metodologia de cadastro que sejam unificados em âmbito nacional.

1.5.1.5 Cadastros territoriais integrados: Apoiar municípios e órgãos


interfederativos (que representam mais de um ente federativo - União,
Estados, Distrito Federal e Municípios) a elaborar, revisar e integrar as suas
bases territoriais. Essas bases podem ser bases cartográficas, cadastros
imobiliários ou Cadastros Técnicos Multifinalitários (de diversas finalidades) –
CTM. Além disso, apoiar a integração dessas bases com os sistemas de
informações geográficas locais. Essas ações devem se basear em
metodologias e recursos adequados às diferentes realidades e às tipologias
municipais e supramunicipais (agrupamentos de municípios) da Política
Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU).
36

1.5.1.6 Mapeamentos colaborativos: Ampliar o uso de ferramentas de


mapeamento colaborativo na gestão pública como estratégia para mobilizar
saberes e engajamento comunitários. Essas ferramentas também são
estratégicas no controle social das políticas públicas, especialmente para
levantar bens comuns, ativos urbanos, ambientais e culturais de interesse
coletivo. Além disso, contribuem para identificar e gerir conflitos urbanos.
Essas ferramentas devem incluir tecnologias assistivas, de forma a possibilitar
a participação da pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida.

1.5.2. Planejamento do desenvolvimento urbano sustentável:


1.5.2.1. Medidas para o alcance da visão de futuro: Elaborar ou revisar normas,
políticas, programas e estratégias para adequá-los à visão de futuro da cidade,
conforme estabelecido no plano diretor ou em outros instrumentos de
planejamento municipal. Essa adequação irá garantir que os projetos urbanos,
inclusive iniciativas de cidades inteligentes, contribuam para realizar a visão de
futuro.

1.5.2.2. Intersetorialidade no planejamento urbano: Construir e consolidar uma


visão integrada do planejamento municipal com base nos instrumentos de
planejamento setorial. Enfatizar as áreas de urbanismo, habitação,
saneamento básico, resíduos sólidos, mobilidade urbana, segurança hídrica,
redução de desastres, meio ambiente e tecnologias de informação e
comunicação (TICs). Exemplo de instrumentos de tecnologias de informação e
comunicação nas cidades: Plano Diretor de Cidades Inteligentes e Plano
Diretor de TICs. O objetivo é possibilitar que as iniciativas sejam
implementadas de forma coordenada no território, usando mecanismos locais
de gestão e governança, inclusive de dados e informações.

1.5.2.3. Planejamento urbano interfederativo: Apoiar processos de


planejamento urbano integrado e intersetorial (com cooperação entre as
diferentes áreas de política pública) nas seguintes realidades: (1) regiões
metropolitanas, (2) municípios conurbados (municípios com zonas urbanas
unidas) e (3) municípios que apresentem relações de interdependência porque
37

compartilham funções públicas de interesse comum. Esses processos de


planejamento devem ser integrados de duas formas: pela elaboração de Planos
de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUIs) ou pela elaboração conjunta e
simultânea de Planos Diretores municipais (PDs). Ao elaborar os planos, é
necessário articular dados, ferramentas, estratégias e as abordagens setoriais
que façam parte dos planos municipais específicos.

1.5.2.4. Planejamento na escala de projetos urbanos: Desenvolver, consolidar


e disseminar metodologias para elaborar projetos na escala intermediária da
cidade (regiões, conjuntos de bairros ou outro agrupamento de áreas que seja
menor que o território municipal). O objetivo é implementar processos de
renovação urbana, de estruturação urbana ou de expansão urbana. Usar os
projetos como oportunidades para distribuir infraestruturas para inclusão digital
no espaço urbano. Na elaboração desses projetos, observar os princípios de
desenho universal (que viabiliza o uso por todas as pessoas) e as normas de
acessibilidade (Estatuto da Pessoa com Deficiência, Art. 55).

1.5.3. Gestão e governança para o desenvolvimento urbano sustentável: [ver


OBJETIVOS ESTRATÉGICOS 3 e 4].

Objetivo Estratégico 2 - Prover acesso equitativo à internet de qualidade


para todas as pessoas

Recomendações:
38

Reconhecer e tornar efetivo o direito de acesso à internet por


todas as pessoas (Marco Civil da Internet no Brasil, Art. 4º). Para isso, desenvolver e implantar
políticas, programas e projetos de infraestrutura e outros aspectos relacionados à inclusão digital.

: Viabilizar a instalação e a manutenção


da infraestrutura para inclusão digital em regiões do país que carecem dessa infraestrutura e em
áreas municipais com baixa conectividade. Nessas ações, enfatizar os núcleos urbanos informais
e as localidades afastadas, respeitando as prioridades definidas nas políticas nacionais de
desenvolvimento regional, de desenvolvimento urbano e de telecomunicações.

: Incentivar e apoiar o estabelecimento de


redes compartilhadas e comunitárias e outros meios alternativos de conexão e acesso à internet.
Para este fim, estabelecer parcerias com o setor privado, comunidades e organizações da
sociedade civil.

: Promover soluções para os diferentes fatores de


exclusão digital nas estratégias de universalização e democratização do acesso à internet e a
tecnologias digitais. Essas ações devem estar alinhadas com e irão contribuir para a Estratégia
Brasileira de Transformação Digital.

2.4.1. Inclusão digital de pessoas com deficiência: Criar e usar soluções, elaborar e
difundir normas e procedimentos para ampliar a acessibilidade da pessoa com
deficiência à computação e à internet. Realizar essas ações também na oferta de
serviços públicos digitais e outras iniciativas de governo digital (Estatuto da Pessoa
com Deficiência, Art. 78).
39

2.4.2. Inclusão digital na perspectiva de gênero: Cumprir as metas nacionais para


garantir a igualdade de gênero nas seguintes situações: (1) no acesso, nas
habilidades de uso e na produção de tecnologias da informação e comunicação; (2)
no acesso e na produção do conhecimento científico; e (3) no acesso e na produção
de informação, conteúdos de comunicação e mídias (Agenda 2030, ODS 5, 5.b).

2.4.3. Letramento digital: [ver OBJETIVO ESTRATÉGICO 7]

Planejar e implementar as ações municipais de


transformação digital de forma articulada com o planejamento territorial local. Para isso, observar
as necessidades e a visão de futuro da cidade estabelecida no plano diretor ou em outros
instrumentos de planejamento territorial. Se for necessário, adequar normas, políticas,
programas, planos e estratégias.

2.5.1. Desenvolvimento urbano sustentável nas estratégias nacionais de TICs:


Integrar o desenvolvimento urbano sustentável e os desafios da transformação digital
nas cidades na Estratégia Nacional de Ciência e Tecnologia e na Estratégia Brasileira
para a Transformação Digital (E-Digital).

2.5.2. Transparência nos dados de conectividade digital: Disponibilizar dados de


conectividade digital (tais como banda larga, dispositivos móveis e internet por
satélite) nas escalas intramunicipal (dentro dos limites municipais) e intraurbana
(dentro da mancha urbana). Garantir que esses dados possam ser georreferenciados
(ter a localização geográfica). Apresentar e disponibilizar os dados em linguagem
inclusiva, de forma transparente e fácil de usar. Além disso, disponibilizar dados e
estatísticas sobre acessos e atendimentos completos à população relacionados a
serviços públicos digitais. Com essas atividades, será possível planejar ações de
transformação digital na escala municipal.

2.5.3. Tipologias para “cidades inteligentes”: Reconhecer as diferentes


características das cidades brasileiras. A partir desse reconhecimento, tratar os
40

municípios de forma diferenciada nas iniciativas de “cidades inteligentes”. Para isso,


usar as tipologias (categorias de território) da Política Nacional de Desenvolvimento
Urbano (PNDU). Com essas ações, será possível agir de modo a reduzir
desigualdades de acesso à internet nas escalas intramunicipal (dentro dos limites
municipais) e intraurbana (dentro da mancha urbana).

2.5.4. Planejamento para “cidades inteligentes”: Considerar as determinações do


Plano Diretor (Estatuto da Cidade) ao elaborar estratégias e planos municipais para
a transformação digital. Da mesma forma, considerar as determinações do Plano de
Desenvolvimento Urbano Integrado (Estatuto da Metrópole), caso exista. Exemplos
de planos municipais para a transformação digital: Plano Diretor de Cidades
Inteligentes e Plano Diretor de Tecnologias de Informação e Comunicação–TICs.

2.5.5. Conectividade digital e integração de equipamentos públicos: Fortalecer


iniciativas que integrem instituições e equipamentos públicos de ensino e pesquisa.
Para isso, formar parcerias entre instituições de modo a prover redes de infraestrutura
digital. Ampliar o modelo de Redes Comunitárias de Ensino e Pesquisa para
instituições e equipamentos públicos que atendam outras finalidades.

2.5.6. Wi-Fi livre: Providenciar redes de Wi-Fi livre, seguro e de qualidade em


equipamentos e espaços públicos, especialmente em áreas remotas e de baixa renda.
Garantir segurança cibernética e proteção geral de dados pessoais nesses acessos.

s:
Estabelecer normas e padrões para o planejamento, a utilização e a gestão do subsolo, do solo
e do espaço aéreo nos municípios. Estabelecer normas e padrões também para a localização e
o compartilhamento de infraestrutura para inclusão digital nas cidades, incluindo postes, antenas
e dispositivos de Wi-Fi. Para garantir que as ações aconteçam de forma integrada no território,
estabelecer acordos interinstitucionais (entre instituições) e interfederativos (entre os entes da
federação - União, Estados, Municípios e Distrito Federal) para regulação conjunta, quando for
o caso.
41

: prever e implementar infraestrutura para inclusão


digital nos projetos específicos de expansão urbana (Estatuto da Cidade, Art. 42-A).

: Priorizar áreas urbanas inseguras, com índices de


violência urbana acima da média da cidade, nos projetos que modernizam e expandem redes de
iluminação pública. Usar a oportunidade de modernização da infraestrutura em malha para
planejar a oferta de serviços digitais. Nessa modernização, observar os limites constitucionais e
legais de aplicação dos recursos que vêm da Contribuição para o Custeio dos Serviços de
Iluminação Pública (COSIP). Preservar o interesse público nos casos de parcerias público-
privadas.

Garantir padrões de segurança cibernética e


de proteção de dados pessoais em todos os componentes de projetos de Internet das Coisas em
áreas urbanas. Enfatizar a garantia de transparência, controle e alternativa em processos de
automação e a garantia do direito à privacidade, principalmente quando houver atividades de
videomonitoramento.

: Oferecer soluções para implantar


e manter infraestrutura para inclusão digital, por meio de apoio técnico e financeiro ou outros
mecanismos de prestação de serviços públicos essenciais. Considerar as capacidades
governativas dos municípios brasileiros, bem como as condições socioeconômicas e a
localização da moradia da população beneficiária.
42

Objetivo Estratégico 3: Estabelecer sistemas de governança de dados e


de tecnologias, com transparência, segurança e privacidade

Recomendações:

Garantir a segurança cibernética em infraestrutura, dispositivos,


sistemas, dados e informações digitais. Estabelecer diretrizes, normas e procedimentos que
avaliem, melhorem e validem a confiabilidade de hardwares, sistemas operacionais e
ferramentas individuais (aplicativos).

Garantir a proteção de dados pessoais, aderindo


completamente à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Respeitar a titularidade da
pessoa natural sobre os seus próprios dados pessoais, garantindo, ao mesmo tempo, os direitos
fundamentais de liberdade, intimidade e privacidade. Para possibilitar essas ações, estabelecer
normas e procedimentos que viabilizem o desenvolvimento seguro e ético de negócios
inovadores baseado em dados.

Incentivar que empresas de


tecnologia de informação e comunicação digital tenham padrões elevados de transparência
sobre os critérios e pressupostos que usam nos seus algoritmos. Essas ações contribuem e
devem estar alinhadas com o Sistema Nacional para a Transformação Digital.
43

Garantir a interoperabilidade (capacidade de sistemas trabalharem


em conjunto para a troca eficaz de informações) ao implementar soluções de TICs (Tecnologias
de Comunicação e Informação) em governos. Garantir a interoperabilidade também em
iniciativas interinstitucionais, inclusive público-privadas. Em todos os casos, respeitar e usar
normas, padrões e protocolos públicos oficiais (Programa de Interoperabilidade do Governo
Eletrônico - e-PING).

: Implementar políticas de dados abertos em todos os níveis


de governo. Usar experiências e recursos já disponíveis e em operação, tais como: Portal
Brasileiro de Dados Abertos, Infraestrutura Nacional de Dados Abertos (INDA) e Infraestrutura
Nacional de Dados Espaciais (INDE). Usar as políticas de dados abertos para cumprir o princípio
da transparência na administração pública e a Lei de Acesso à Informação (LAI).

3.5.1. Registros administrativos: Coletar, sistematizar, digitalizar, georreferenciar


(inserir localização geográfica) e disponibilizar dados e informações gerados ao
executar políticas públicas e ao prestar serviços públicos, em todos os níveis de
governo. Os dados e informações devem ser disponibilizados em linguagem inclusiva.
Todas as etapas devem cumprir as políticas de dados abertos e os padrões de
interoperabilidade (capacidade de sistemas trabalharem em conjunto para a troca
eficaz de informações) do nível de governo que as executa. Também devem respeitar
a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e a Lei de Acesso à Informação
(LAI).

3.5.2. Dados geoespaciais: Fortalecer a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais


(INDE) como plataforma que facilita o intercâmbio de dados geoespaciais (dados
espaciais com localização geográfica). Estabelecer a Política Nacional de
Geoinformação (PNGeo) e consolidar um vocabulário uniforme e específico em
sistemas de informação geográfica urbana.

3.5.3. Padronização para elaboração de cadastros territoriais: Articular iniciativas


governamentais que elaboram ou contribuem para elaborar cadastros imobiliários.
44

Essa articulação deve ter como foco uniformizar conceitos, nomenclaturas, métodos
e meios de implementação. Isso irá otimizar esforços e garantir a interoperabilidade
(capacidade de sistemas trabalharem em conjunto para a troca eficaz de informações)
de dados.

Formular e implementar estratégias estaduais e municipais de governo


digital que sejam adequadas a cada realidade. O objetivo é tornar a Administração Pública mais
acessível e mais eficiente ao prover serviços, como indica a Estratégia de Governo Digital
(Estratégia Brasileira para a Transformação Digital).

3.6.1. Ampliação do acesso a serviços públicos e direitos sociais por meio de TICs:
Usar tecnologias de informação e comunicação (TICs) para promover o direito à
cidade e para ampliar os direitos sociais. Focar em áreas urbanas com carências de
serviços públicos e em pessoas e grupos sociais vulneráveis. Para realizar esses
direitos, as TICs devem colaborar na simplificação o acesso a serviços de saúde,
educação, moradia, transporte, saneamento básico, telecomunicações (inclusive
serviços de internet), lazer e cultura.

3.6.2. Otimização e melhoria de processos administrativos: Estabelecer sistema de


processo administrativo eletrônico. Aderir preferencialmente à infraestrutura pública
colaborativa do Processo Eletrônico Nacional (PEN) e suas ações, como o Sistema
Eletrônico de Informações – SEI. O objetivo é diminuir custos e tornar a tramitação
(andamento) de documentos públicos mais rápida, transparente e acessível.

3.6.3. Serviços analógicos e medidas de transição para o digital: Ao ofertar serviços


públicos digitais, manter procedimentos analógicos e implementar medidas de
transição, especialmente quando for um serviço essencial. Considerar a grande
quantidade de fatores de exclusão digital.
45

3.6.4. Identidade digital: Adotar e apoiar a implementação da “identidade digital ao


cidadão”, conforme consta da Estratégia de Governo Digital .

: Promover parcerias entre os setores público e privado para revisar


e adequar os processos de compras públicas, inclusive as compras que envolvam soluções
inovadoras. Para isso, buscar o apoio do Ministério Público e dos Tribunais de Contas, atualizar
a legislação e adaptar procedimentos administrativos.

3.7.1. Contratações governamentais de TICs: Instituir, testar e normatizar novos


modelos de governos contratarem TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação).
Essas ações devem ser feitas de forma conjunta, em cooperação intergovernamental.
Os novos modelos de contratação devem ter como base o uso de softwares livres e
códigos abertos. Usar mecanismos de colaboração para compartilhar experiências e
boas práticas, tal como acontece na Comunidade de TICs da Plataforma GestGov.

3.7.2. Regulação da propriedade de dados: Definir com precisão os direitos sobre a


propriedade e as condições para usar dados em contratos públicos e na atuação
pública de caráter regulatório. O mesmo deve ocorrer em iniciativas interinstitucionais
que impliquem na geração e no compartilhamento de dados, incluindo as iniciativas
público-privadas. Priorizar a abertura e uso dos dados em políticas públicas. Em todos
os casos mencionados, respeitar o princípio da função social da propriedade
conforme consta do artigo constitucional sobre ordem econômica. (Art. 170 da
Constituição Federal).

: Usar sistemas de planejamento integrado e de gestão


territorial integrada, com base em plataformas interoperáveis de dados georreferenciados
(plataformas que possibilitem a troca eficaz de dados com localização geográfica), em todos os
níveis de governo. Os sistemas devem ser adequados às diferentes escalas das políticas
públicas. Também devem atender às especificidades, demandas e capacidades locais, nos
casos de sistemas municipais.
46

3.8.1. Governança intermunicipal de dados: Estabelecer formas institucionalizadas


de cooperação intermunicipal para implantar, gerir e operar bases de dados, sistemas
digitais e soluções compartilhadas de tecnologia de informação e comunicação. O
objetivo deve ser otimizar recursos e ampliar a sustentabilidade dessas ações.
Exemplo de institucionalização de cooperação intermunicipal: consórcios públicos.

3.8.2. Centros de gestão integrada: Implantar centros de informações integradas e


protocolos públicos para apoiar a tomada de decisões em tempo real. Priorizar a
gestão de emergências e a resposta a desastres.

Disponibilizar dados abertos


e informações públicas em linguagem inclusiva, de forma organizada, compreensível e, sempre
que possível, georreferenciados (com localização geográfica). As plataformas de visualização de
dados e informações devem ser fáceis de usar por pessoas não-especialistas. Deste modo, as
plataformas devem ser programadas em código aberto e com base em softwares livres. O
objetivo é possibilitar o uso dos dados e das informações pelo ecossistema de inovação local,
além de produzir conhecimento e soluções de interesse público.
47

Objetivo Estratégico 4: Adotar modelos inovadores e inclusivos de


governança urbana e fortalecer o papel do poder público como gestor de
impactos da transformação digital nas cidades

Recomendações:

: Fortalecer a articulação entre governos para consolidar a


governança urbana multinível (que atua em vários níveis - nacional, regional, estadual e local),
interfederativa (com cooperação entre diferentes entes da federação - União, Estados,
Municípios e Distrito Federal) e intersetorial (com cooperação entre as diferentes áreas de
política pública). Firmar o papel dos governos estadual e federal no apoio à adaptação de
recomendações e políticas para os contextos locais, em conjunto com os municípios.

4.1.1. Câmara interministerial: Fortalecer espaço de governança institucional de


âmbito federal para cidades inteligentes, com participação aberta aos setores
interessados. Os objetivos são: (1) construir condições para implementar esta Agenda
compartilhada para cidades inteligentes; e (2) criar condições para a continuidade da
plataforma colaborativa da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes.

4.1.2. Cooperação interfederativa em governo digital: Promover o intercâmbio de


informações em governo digital. Implementar medidas conjuntas em arranjos de
cooperação entre governos, de natureza colaborativa. Exemplo: adesão voluntária à
Rede Nacional de Governo Digital – Rede Gov.br (Decreto 10.332/20, Art. 7º). O
objetivo é otimizar recursos e tempo.
48

: Mobilizar
saberes de diferentes segmentos da sociedade, pessoas e instituições, para construir soluções
criativas para problemas urbanos contemporâneos com mais agilidade.

4.2.1. Rede digital para colaboração urbana: Estimular a formação de uma rede para
o desenvolvimento urbano sustentável. A rede deve ser multinível (atuar nos níveis
nacionais, regionais, estaduais e locais), interinstitucional (cooperação entre
diferentes instituições) e intersetorial (com cooperação entre as diferentes áreas de
política pública). A rede deve oferecer recursos digitais e inclusivos para realizar
trabalhos colaborativos, incluindo a implementação e a retroalimentação desta Carta
Brasileira para Cidades Inteligentes.

4.2.2. Rede de assistência técnica remota para ações no território: Expandir e


adaptar o modelo da assistência técnica remota baseada em recursos digitais que foi
implementado de forma pioneira pela Rede Universitária de Telemedicina. Essa rede
de assistência técnica remota deve apoiar órgãos oficiais interfederativos (que
agrupam diferentes entes da federação com interesse compartilhado - União,
Estados, Municípios e Distrito Federal) e municípios para implementar políticas,
projetos e ações de desenvolvimento urbano sustentável, incluindo iniciativas de
cidades inteligentes. Apoiar principalmente os municípios de menor capacidade
institucional.

Promover processos de governança e


gestão urbana que sejam interinstitucionais (com cooperação entre diferentes instituições) e
colaborativos. O objetivo é construir ambientes político-jurídico-institucionais que sejam: (1)
favoráveis à inovação; e (2) adaptados ao contexto territorial e ao nível de atuação das
instituições.

4.3.1. Políticas de inovação: Estimular e integrar fóruns de inovação no setor público


que sejam interfederativos (agrupando diferentes entes da federação com interesse
compartilhado - União, Estados, Municípios e Distrito Federal) e abertos à
49

participação ampla de pessoas, instituições e setores interessados. O objetivo é trocar


experiências, construir estratégias, políticas e programas, e formular propostas de
aperfeiçoamento legislativo e de mecanismos jurídicos. Essas propostas devem
reduzir os obstáculos burocráticos à inovação no setor público, incluindo as relações
dos governos com a sociedade e a realização de negócios e contratos com empresas
de inovação.

4.3.2. Colaboração em processos legislativos: Estimular o uso de processos


participativos para elaborar leis e normas infralegais (de nível regulamentar,
subordinadas às leis - decretos, portarias, resoluções, instruções normativas etc.),
diretrizes, parâmetros e formas de atuação pública. Estimular especialmente nos
casos de tecnologias disruptivas (que causam ruptura com padrões e modelos
existentes) e temas inovadores ainda não regulados. Usar ferramentas de TICs
(tecnologias de comunicação e informação) e tecnologias assistivas (com
funcionalidade para garantir autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão
social da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida). O uso dessas
tecnologias deve ampliar o engajamento de pessoas e instituições interessadas.

4.3.3. Diálogo com órgãos de controle: Estabelecer fóruns regulares de diálogo entre
(1) instituições públicas que formulam e implementam políticas públicas; (2) órgãos
de controle dos poderes executivo, legislativo e judiciário; e (3) Ministério Público.
Esses fóruns devem ter caráter estratégico na tarefa de construir conjuntamente
caminhos e suporte à tomada de decisões sobre a transformação digital nas cidades.
O objetivo é assegurar a boa condução das políticas sobre o tema da transformação
digital nas cidades, em todos os níveis de governo.

4.3.4. Agências reguladoras: Estimular espaços de governança com agências


reguladoras nacionais para alinhar normas, técnicas e operações em temas da
transformação digital que afetam o espaço urbano. Exemplo: o uso do espaço urbano
por infraestrutura e serviços digitais. O objetivo é viabilizar e facilitar a relação dos
governos locais com as concessionárias dos serviços regulados.
50

:
Desenvolver capacidades e competências na Administração Pública que sejam voltadas à
atuação no contexto da transformação digital e seus desdobramentos territoriais. Implementar e
fortalecer programas de desenvolvimento institucional em todos os níveis de governo.

4.4.1. Apoio técnico para municípios: Desenvolver e implementar ações de


capacitação e assistência técnica federais e estaduais para municípios. Essas ações
devem estar de acordo com as respectivas capacidades governativas (capacidades
de gestão e de sustentabilidade institucional) locais. Também devem estar de acordo
com as tipologias (categorias de território) definidas na Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano (PNDU). O objetivo é apoiar a administração municipal na
direção da transformação digital e do desenvolvimento urbano sustentáveis.

4.4.2. Competências governamentais em TICs: Desenvolver habilidades


governamentais em tecnologias de informação e comunicação para servidores
públicos de diversas áreas do conhecimento. Isso deve ser feito em todos os níveis
de governo e por meio de cooperações interfederativas (entre União, Estados,
Municípios e Distrito Federal). Os objetivos são: (1) possibilitar o diálogo e o trabalho
conjunto entre áreas meio e fim; e (2) estimular a plena capacidade de usar
conhecimentos avançados de tecnologias disruptivas (que causam ruptura com
padrões e modelos existentes) e ciência de dados, para gerir grandes volumes de
dados (Big Data).

4.4.3. Metodologias inovadoras para desenho de soluções: Usar metodologias e


mecanismos inovadores para elaborar e implementar políticas de desenvolvimento
urbano sustentável e soluções para problemas urbanos. Exemplos de mecanismos
inovadores: jogos (“gamificação”) e maratonas de programação (hackathons).

4.4.4. Valorização de servidores públicos inovadores: Estabelecer mecanismos para


identificar servidores públicos inovadores em todos os níveis de governo. Oferecer
51

incentivos e oportunidades para o desenvolvimento e uso das potencialidades dos


servidores em trabalhos institucionais e no aprimoramento de políticas públicas.

4.5.1. Gestão democrática das cidades: Estimular o engajamento e a participação


pública inclusiva: (1) na elaboração e na revisão do Plano Diretor; (2) na elaboração
e na revisão de outros instrumentos de planejamento municipal; (3) em aspectos
cotidianos de zeladoria e gestão urbana; e (4) na interação governo-pessoas. Esse
estímulo deve se dar por meio de mecanismos inovadores e soluções digitais, e com
o uso de tecnologias assistivas (com funcionalidade para garantir autonomia,
independência, qualidade de vida e inclusão social da pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida). As ações devem estar de acordo com as demandas e
necessidades locais e devem ser adequadas às características organizacionais e
institucionais do município. Buscar alinhamento com a Estratégia de Governo Digital
(Decreto 10.332/2020, objetivo 14.2) e com a gestão democrática da cidade (Estatuto
da Cidade, Capítulo IV).

4.5.2. Intersetorialidade no nível local: Estabelecer espaços institucionais para


cooperação e atuação intersetorial (cooperação entre as diferentes áreas de política
pública), inclusive entre órgãos de municípios diferentes. O objetivo é facilitar que as
políticas, planos e programas de desenvolvimento urbano e de setores relacionados
sejam implementados de forma integrada no território. Enfatizar essas ações nas
áreas de habitação, saneamento básico, resíduos sólidos, mobilidade urbana,
segurança hídrica, redução de desastres e meio ambiente.

4.5.3. Soluções inovadoras para problemas locais: Mapear demandas locais


concretas e a oferta de soluções inovadoras para os problemas levantados. Para esse
mapeamento, mobilizar o ecossistema (conjunto e relações de pessoas e instituições
que desenvolvem tecnologia e inovam) e estabelecer cooperação local. Essas
atividades devem buscar coordenar as ações entre os setores interessados na
Administração Pública, no desenvolvimento urbano e na transformação digital
sustentáveis.
52

4.5.4. Laboratórios de experimentação urbana: Incentivar o surgimento de soluções


urbanas inovadoras, criando espaços colaborativos transdisciplinares (que
possibilitam a cooperação entre diferentes disciplinas e saberes) de planejamento
territorial. Para garantir que as soluções sejam realizáveis, deve-se focar em pesquisa
e experimentação em ambientes reais. Para isso, articular instituições de ensino e
pesquisa e outros setores envolvidos na produção de conhecimento, com apoio
institucional e jurídico da Administração Pública Municipal.

4.5.5. Serviços urbanos disruptivos: Estruturar espaços de gestão e governança e


usar metodologias ágeis para garantir: (1) a tomada de decisão baseada em
evidências; e (2) a regulação de soluções urbanas em momento adequado. Exemplos
de soluções que demandam essas ações: soluções que usam mecanismos ou
tecnologias disruptivas (que causam ruptura com padrões e modelos existentes);
soluções que geram bases de dados com informações pessoais ou de interesse
público; e soluções que usam ou interferem em espaços públicos urbanos (calçadas,
praças, sistema viário, soluções de transporte motorizado ou não motorizado,
serviços de entrega etc.

Objetivo Estratégico 5: Fomentar o desenvolvimento econômico local no


contexto da transformação digital

Recomendações:

: Apoiar o desenvolvimento de
modelos econômicos locais justos e inovadores. Incluir iniciativas de economias solidária,
compartilhada, criativa, circular e colaborativa. Usar essas iniciativas para criar soluções de modo
a atender as diferentes realidades locais e gerar oportunidades a todas as pessoas,
especialmente para incluir pessoas e grupos sociais vulneráveis.
53

: Promover incentivos econômicos


ambientais, tais como modelos de pagamento por serviços ambientais, compras públicas
sustentáveis e programas de aquisição da produção agrícola sustentável. Também promover
esquemas econômicos autogeridos (quando membros têm autonomia para planejar e executar
as tarefas), de base comunitária e avaliar a possibilidade do seu escalonamento (produção em
grande escala) com base em tecnologias de registro distribuído (sistemas digitais para registrar
transações de forma descentralizada, em vários lugares ao mesmo tempo) (Agenda 2030, ODS
12 - Meta 12.7).

Usar mecanismos da economia de plataforma (atividade


econômica e social facilitada por plataformas) para aproximar produtores e consumidores locais.
O objetivo é fortalecer vínculos comunitários e territoriais, tais como relações de vizinhança,
relações urbano-rurais e relações com microempreendedores individuais.

: Implementar políticas, leis, regulamentos e outros


instrumentos para estabelecer um mercado de dados ético e inclusivo. Devem ser considerados
os efeitos sistêmicos desse mercado, assim como as características e as necessidades
específicas de diferentes setores produtivos. O objetivo é aumentar a inovação, a competição, a
transparência e a segurança jurídica na economia de dados.

: Facilitar o uso de meios de pagamentos


digitais para serviços públicos, desenvolvendo e compartilhando ferramentas que estejam
alinhadas com a Plataforma de Cidadania Digital. As ações devem ocorrer em todos os níveis de
governo e em cooperação interfederativa (entre União, Estados, Municípios e Distrito Federal).

: Buscar formas de garantir


competitividade aos ecossistemas (conjunto e relações de pessoas e instituições que
54

desenvolvem tecnologia e inovam) de serviços digitais urbanos. Para isso, devem-se usar
práticas que evitem monopólios e promovam a escolha livre dos usuários. As ações devem estar
alinhadas com a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica.

5.6.1. Crédito para pequenas empresas de TICs: Facilitar o acesso a condições


especiais de crédito por pessoas microempreendedoras individuais e por pequenas
empresas de TICs (tecnologias de informação e comunicação).

5.6.2. Apoio à inclusão produtiva e digital: Criar subsídios e outros mecanismos para
a inclusão produtiva e digital de micro e pequenas empresas, pessoas
empreendedoras ou pessoas que trabalham informalmente. Esses mecanismos
devem viabilizar economicamente o acesso dessas pessoas e empresas: (1) à
internet; (2) a dispositivos digitais de qualidade, tais como smartphones, tablets e
notebooks; e (3) a plataformas para comércio eletrônico. As ações também devem
apoiar a legalização das pessoas que trabalham informalmente.

: Usar as tecnologias de informação e


comunicação para reduzir a pobreza urbana, contribuindo para a Meta 1.4 do Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável 1 (Agenda 2030).

5.7.1. Acesso a serviços financeiros e microfinanças: Promover a inclusão financeira


de pessoas e grupos sociais vulneráveis. Para isso, deve-se possibilitar o acesso
dessas pessoas e grupos a serviços financeiros, microfinanças e outras formas de
participação econômica. Essas ações devem ser feitas com o apoio de produtos e
serviços digitais. O objetivo deve ser reduzir desigualdades de acesso a recursos
econômicos.
55

5.7.2. Acesso à terra urbana regular: Usar tecnologias de informação e comunicação


para facilitar a regularização fundiária de núcleos urbanos informais de baixa renda
(REURB-S). A regularização fundiária deve acontecer com o apoio de programas de
assistência técnica às comunidades. Essas ações têm como objetivo reconhecer
direitos sociais e patrimoniais. GM, GE, GF, CIV, OSC, IFF, SP.

5.7.3. Negócios sociais para a ampliação de serviços e direitos: Estimular parcerias


e negócios sociais que ampliem o acesso a serviços essenciais e assegurem direitos,
inclusive para motoristas e entregadores por aplicativos. Estimular também parcerias
e negócios que promovam a inclusão social e produtiva de pessoas e grupos sociais
vulneráveis, gerando renda e emprego. As ações de inclusão devem ser apoiadas por
processos de formação continuada e inclusão digital.

: Apoiar cadeias produtivas e


ecossistemas de inovação (conjunto e relações de pessoas e instituições que desenvolvem
tecnologia e inovam) nos territórios, de modo a reduzir desigualdades socioeconômicas e
espaciais. Fortalecer arranjos produtivos locais, ofertar incentivos econômicos e implementar
infraestruturas e tecnologias sociais de suporte, tais como parques tecnológicos, laboratórios
especializados e incubadoras. Essas ações devem estar alinhadas com a Política Nacional de
Desenvolvimento Regional (PNDR) e com a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano
(PNDU). Também devem estar alinhadas com os planos regionais de desenvolvimento: Plano
Regional de Desenvolvimento da Amazônia (PRDA), Plano Regional de Desenvolvimento do
Nordeste (PRDNE) e Plano de Desenvolvimento do Centro-Oeste (PRDCO).

5.8.1. Arranjos Produtivos Locais: Desenvolver, usar e compartilhar soluções digitais


para identificar e fortalecer Arranjos Produtivos Locais. Disseminar metodologias e
ampliar iniciativas de ativação e articulação produtiva no território. Essas ações
devem ser facilitadas pelo uso de recursos e métodos da economia de plataforma
(atividades econômicas facilitadas por plataformas digitais). As ações buscam
fortalecer e ampliar os elos da cadeia produtiva do país, indo além da base produtiva
e agregando segmentos à produção brasileira.
56

5.8.2. Cadeia produtiva de resíduos eletrônicos: Estimular projetos de Pesquisa &


Desenvolvimento (P&D) voltados ao aproveitamento econômico de resíduos
eletrônicos. Esses projetos devem estimular que a indústria nacional adote princípios
da economia circular. As ações devem contribuir para reduzir os impactos negativos
da transformação digital nas cidades (Agenda 2030 ODS 11 - Meta 11.6; ODS 12 -
Metas 12.4 e 12.5).

5.8.3. Compatibilizar soluções digitais às demandas urbanas: Fazer seleções e


consultas públicas para identificar e sistematizar necessidades dos municípios
relacionadas à melhoria das informações, do planejamento, da gestão e da
governança urbanas. O objetivo é facilitar o desenvolvimento de soluções digitais pelo
setor privado, especialmente por empresas de base tecnológica. Essas soluções
digitais devem ser adequadas à diversidade territorial brasileira e estar alinhadas com
as tipologias (categorias de território) municipal e supramunicipal (agrupamento de
municípios) da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU).

5.8.4. Startups e transformação digital nas cidades: Aproximar o ecossistema


(conjunto e relações de pessoas e instituições que desenvolvem tecnologia e inovam)
de startups (Lei das Startups) das necessidades municipais relacionadas a melhorar
as informações, a gestão, a governança e o planejamento urbanos. Para esse fim,
deve-se divulgar esta Carta e os seus desdobramentos em eventos do setor. Também
deve-se articular linhas de financiamento para startups de natureza incremental
(aumentam e melhoram gradualmente algo que já existe) ou de natureza disruptiva
(rompem com padrões e modelos existentes). Aproveitar o ambiente do Comitê
Nacional de Iniciativas de Apoio a Start-ups.

: Aperfeiçoar, compatibilizar e dar ampla


publicidade a normas e procedimentos municipais. Padronizar os processos burocráticos,
tornando-os mais claros e eficientes. O objetivo é estimular o desenvolvimento econômico local.
Os estados e a União devem atuar da mesma forma nos assuntos que forem de sua
competência.
57

5.9.1. Classificação das atividades econômicas: Usar os códigos da Classificação


Nacional de Atividades Econômicas–Fiscal (CNAE–Fiscal) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) nos registros administrativos de todos os níveis de
governo. O objetivo é criar uma medida unificadora de caráter nacional. No âmbito
local, definir os níveis de risco das atividades econômicas conforme as características
específicas do município. REDESIM (Rede Nacional para a Simplificação do Registro
e da Legalização de Empresas e Negócios).

5.9.2. Liberação da atividade econômica: Facilitar a realização de negócios nas


cidades. Para isso, simplificar os processos e atos públicos de liberação da atividade
econômica (atos exigidos como condição para exercer uma atividade econômica).
Quando a atividade econômica for de baixo risco, permitir a dispensa desses atos.
Declaração de Direitos de Liberdade Econômica.

5.9.3. Normas urbanísticas municipais: Compatibilizar normas urbanísticas


municipais, simplificar procedimentos e instituir serviço digital de licenciamento
urbanístico e edilício (de edificações). Estabelecer prazos razoáveis para analisar e
emitir os atos públicos necessários. Tornar os regramentos e os processos de
licenciamento acessíveis às pessoas, organizar e disponibilizar as informações de
forma clara e em linguagem inclusiva. Buscar disponibilizar essas informações em
portal público de dados georreferenciados (com localização geográfica) relativos ao
ordenamento territorial do município. O portal deve ser fácil de usar pelo público não
especializado.
58

Objetivo Estratégico 6: Estimular modelos e instrumentos de


financiamento do desenvolvimento urbano sustentável no contexto da
transformação digital

Recomendações:

: Incluir a transformação digital no orçamento público em todos os


níveis de governo. O orçamento deve ser usado para realizar investimentos nas seguintes áreas:
(1) modernização tecnológica; (2) digitalização de dados; (3) digitalização de serviços públicos;
e (4) infraestrutura para inclusão digital. Os investimentos devem ser viabilizados inclusive com
transferências de recursos. As ações do Governos Federal devem se adequar às tipologias
(categorias de território) da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU).

: Reformular a legislação do Fundo de


Universalização das Telecomunicações (FUST) para permitir que seja aplicado em expansão do
acesso à banda larga. A reformulação também deve ampliar o uso do FUST em ambientes
urbanos e em áreas rurais e remotas. Estas ações estão previstas na Estratégia Brasileira para
a Transformação Digital (E-digital).

:
Incentivar os governos estaduais a implantarem políticas de redução de carga tributária. O
objetivo é interiorizar (levar a cobertura das redes para o interior do país) a cobertura das redes
do Serviço Móvel Pessoal (Estratégia Brasileira para a Transformação Digital E-digital) e os
serviços de oferta de banda larga. Além disso, incentivar os governos estaduais a
disponibilizarem recursos onerosos (com encargos financeiros) e não onerosos (sem encargos
59

financeiros) para fornecer e ampliar a conectividade digital. Esses recursos devem apoiar a
elaboração de projetos e a implementação de plataformas digitais.

6.4.1. Cadastros municipais: Disponibilizar recursos financeiros onerosos (com


encargos financeiros) ou não onerosos (sem encargos financeiros) aos municípios
para elaborar e atualizar cadastros municipais, tais como: (1) bases cartográficas
georreferenciadas (com localização geográfica); (2) cadastros territoriais municipais;
e (3) plantas genéricas de valores (cadastro do valor do metro quadrado em cada
área da cidade; usado como base para o cálculo do IPTU e do ITBI). Os cadastros
devem ser adequados aos diferentes tipos de municípios. Os municípios serão
classificados em tipos na Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU).
Essas ações são estratégicas para aprimorar a gestão urbana e melhorar a
arrecadação de tributos municipais.

6.4.2. TICs e mecanismos extrafiscais de arrecadação: Usar tecnologias de


informação e comunicação para viabilizar ou melhorar a implementação de
instrumentos para capturar e recuperar mais-valias urbanas (valorização do terreno
por causa de ações públicas). Alguns desses instrumentos estão previstos no
Estatuto da Cidade.

: Estabelecer parcerias com


instituições financeiras e de fomento para desenvolver linhas de financiamento para cidades
inteligentes que estejam associadas às recomendações desta Carta. As parcerias devem incluir
instituições brasileiras e internacionais. Nas linhas de financiamento, priorizar projetos de
abordagem sistêmica (que considera que cada elemento ou ação em uma cidade tem efeitos
que se entrelaçam e se afetam entre si, impactando de maneira complexa a vida na cidade) e
intersetorial (com cooperação entre as diferentes áreas de política pública). As ações devem se
adequar às tipologias (categorias de território) da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano
(PNDU).
60

: Dar apoio técnico


para municípios captarem recursos onerosos (com encargos financeiros) e não onerosos (sem
encargos financeiros) junto a instituições financeiras e de fomento. Para esse apoio, deve-se: (1)
disponibilizar informações sobre linhas de financiamento e repasses de recursos disponíveis; e
(2) dar suporte à elaboração de projetos de cidades inteligentes. As ações devem se adequar às
tipologias (categorias de território) da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU).

: Desenvolver estudos de
viabilidade para modelar novos negócios considerando as possibilidades de monetização de
dados (uso de dados para benefícios econômicos). Considerar a inclusão de novas linhas para
atender esse tipo de negócio no Fundo de Apoio à Estruturação de Concessão e Parcerias
Público-Privadas (FEP).

Estimular mecanismos para


estabelecer contrapartida e cobrar de empresas de inovação e TICs (tecnologias de informação
e comunicação) que usam infraestrutura urbana, espaços públicos e mobiliários urbanos. Esses
mecanismos devem financiar o desenvolvimento urbano sustentável.

: Mapear e reunir a indústria e os setores de


tecnologia de informação e comunicação em torno de ações que estimulem a inovação em prol
do desenvolvimento urbano sustentável.

: Realizar estudos exploratórios para


identificar possibilidades de tributar serviços digitais privados. Os estudos também devem
identificar as possibilidades de usar tecnologias de registro distribuído (sistemas digitais para
registrar transações em vários lugares ao mesmo tempo) para valorar (atribuir valor financeiro)
ativos públicos ou comuns. Os ativos a serem valorados devem ter potencial para gerar receitas
e devem poder ser usados para compor novos modelos de negócios no contexto do
desenvolvimento urbano sustentável.
61

Objetivo Estratégico 7: Fomentar um movimento massivo e inovador de


educação e comunicação públicas para maior engajamento da sociedade
no processo de transformação digital e de desenvolvimento urbano
sustentáveis.

Recomendações:

: Realizar ações de comunicação educacional para estimular


padrões sustentáveis de uso de internet. Essas ações devem usar linguagem simples.

: Usar linguagem simples, inclusiva, sem


marcador de gênero e com recursos de acessibilidade na comunicação pública e na divulgação
desta Carta. As mensagens devem ser claras, respeitando a diversidade de gênero e étnico-
racial. Essas ações de comunicação devem garantir o direito da pessoa com deficiência acessar
leitura, informação e comunicação (Estatuto da Pessoa com Deficiência, Art. 68). Exemplos de
recursos de acessibilidade: Libras, Braille, arquivos digitais reconhecidos e acessados por
leitores de tela, audiodescrição, Comunicação Alternativa etc.

: Promover ações de comunicação


pública inclusiva e acessível que sejam voltadas ao desenvolvimento urbano e à transformação
62

digital sustentáveis. O objetivo dessas ações é sensibilizar e ampliar a consciência da sociedade


sobre os impactos desses processos.

7.3.1. Cidade educadora: Usar a cidade como suporte para a educação urbana. Para
isso, deve-se incentivar que as pessoas e instituições deem valor aos recursos
naturais e ao sistema de áreas verdes e aos espaços públicos, equipamentos e
mobiliários urbano. Também deve-se informar o público sobre a história e o
significado dos lugares. Essas ações devem ser associadas ao uso de ferramentas
de mapeamento colaborativo que levantem e registrem aspectos subjetivos
relacionados a espaços urbanos.

7.3.2. Campanha de comunicação pública: Realizar campanha de comunicação


pública para promover e informar sobre o desenvolvimento urbano sustentável. A
campanha deve usar diferentes mídias, formatos e métodos digitais. O objetivo é
alcançar crianças, pessoas jovens e adultas de diferentes raças, etnias, graus de
instrução e papéis sociais.

: Desenvolver e
implementar estratégia de comunicação pública da Carta em linguagem simples, com a
participação de segmentos adeptos da cultura digital. O objetivo é alcançar a sociedade de forma
ampla e sensibilizá-la, particularmente quanto a duas questões: (1) as relações existentes entre
as cidades e as TICs (tecnologias de informação e comunicação); e (2) os direitos digitais das
pessoas.

7.4.1. Guia prático da Carta: Desenvolver e disponibilizar um Guia Prático para


implementar a Carta voltado para técnicos e gestores municipais, escrito em
linguagem simples. O Guia deve comunicar, disseminar e apoiar a efetivação dos
objetivos e recomendações da Carta.
63

7.4.2. Vinculação de iniciativas de cidades inteligentes à Carta: Fortalecer esta


Carta como instrumento político para articular uma agenda nacional para a
transformação digital nas cidades. Para isso, deve-se estabelecer vínculos entre
Objetivos Estratégicos e Recomendações desta Carta, de um lado, e as iniciativas
correspondentes de cidades inteligentes existentes ou futuras, de outro (indexação
de produtos-filho). Como resultado desse processo, haverá o registro de um conjunto
de saberes sobre cidades inteligentes e sua evolução.

: Observar, cumprir e ampliar as


propostas contidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para integrar a cultura digital
nos currículos escolares. Dessa forma, será possível promover o letramento digital e aumentar
o número de pessoas que participam da transformação digital. Os objetivos são aumentar as
capacidades de inovação da sociedade brasileira e reduzir a vulnerabilidade da população a
crimes cibernéticos.

: Articular ações de comunicação integrada (com


campanhas planejadas e elaboradas em cooperação entre setores e instituições e que passam
uma mensagem unificada) em linguagem simples. O objetivo é aumentar o engajamento social
em plataformas que mobilizam e desenvolvem práticas comunitárias urbanas sustentáveis no
contexto da transformação digital.
64

Objetivo Estratégico 8: Construir meios para compreender e avaliar, de


forma contínua e sistêmica, os impactos da transformação digital nas
cidades

Recomendações:

: Reduzir os impactos negativos da transformação digital, criando


tecnologias e processos centrados nos direitos humanos e no uso sustentável de recursos
naturais. O foco nos direitos humanos deve incluir as perspectivas do direito digital.

: Integrar o tema das


cidades inteligentes ao Observatório para a Transformação Digital (OTD), considerando cidades
inteligentes na perspectiva ampla de transformação digital nas cidades. Estimular que esse
Observatório e outros fóruns oficiais relacionados à transformação digital busquem: (1)
compreender e avaliar os impactos da transformação digital nas cidades; e (2) incentivar a
implementação desta Carta.

Desenvolver e disponibilizar um Sistema


Brasileiro de Maturidade para Cidades Inteligentes em uma plataforma digital própria a ser criada
e mantida pelo governo federal. O Sistema deve usar metodologia e indicadores adequados à
realidade brasileira e às tipologias municipais da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano
(PNDU). O objetivo é apoiar ações municipais voltadas ao desenvolvimento urbano e à
transformação digital sustentáveis, além de monitorar nacionalmente o progresso dessas ações.
65

: Estimular que os
temas do desenvolvimento urbano e da transformação digital sejam discutidos a partir de uma
perspectiva local integrada. Para isso, deve-se estimular a articulação institucional de conselhos
ou fóruns que debatem sobre esses temas e que atuem no controle social de políticas públicas.
Essas instituições devem acompanhar, avaliar e dar suporte à atuação do município sobre os
impactos da transformação digital no território. As ações junto aos municípios devem considerar
as condições político-institucionais específicas de cada cidade.

: Mobilizar diferentes setores da sociedade para


ampliar a compreensão sobre os impactos da transformação digital nas cidades. Devem ser
considerados os impactos sobre os aspectos econômico-financeiro, sociocultural, urbano-
ambiental e político-institucional.

8.5.1. Linhas de pesquisa: Incentivar linhas de pesquisa e bolsas de fomento que


favoreçam projetos transdisciplinares. O objetivo é produzir conhecimento científico
de ponta e de forma contínua sobre a transformação digital nas cidades e seus
impactos.

8.5.2. “Ciberinfraestrutura” para geração de conhecimento sobre


desenvolvimento urbano sustentável: Apoiar projetos de pesquisa,
desenvolvimento e inovação que precisem de “ciberinfraestrutura” (infraestrutura de
sistemas operacionais, gestão e processamento de dados, instrumentos avançados
e ambientes de visualização) de grande porte. Para tal apoio, devem-se realizar
investimentos de longo prazo e articular iniciativas desse tipo de infraestrutura.

8.5.3. IIntegração de campos disciplinares: Promover eventos técnicos e científicos e


linhas de pesquisa que reúnam pessoas e instituições das áreas de desenvolvimento
urbano e tecnologias da informação e comunicação. Esses eventos e linhas de
pesquisa devem avançar na compreensão do fenômeno da transformação digital e
das relações que esse fenômeno tem com diferentes disciplinas. O objetivo é
consolidar uma abordagem transdisciplinar de pesquisa e ação.
66

8.5.4. Compreensão e atuação sobre impactos negativos: Entender e quantificar os


impactos negativos de produtos, serviços e processos inovadores ligados a TICs
(tecnologias de comunicação e informação) nas cidades brasileiras. Esse
levantamento deve considerar a diversidade territorial das cidades. O objetivo é
propor mecanismos para prevenir, reduzir e, quando forem inevitáveis, compensar os
impactos negativos, bem como acompanhar a sua evolução.

8.5.5. Tecnologias assistivas: Estimular a pesquisa, o desenvolvimento, a inovação e


a difusão de tecnologias assistivas (recursos que ampliam o acesso e a participação
da pessoa com deficiência) que tenham como objetivo: (1) ampliar o acesso da
pessoa com deficiência às tecnologias da informação e comunicação; (2) ampliar o
acesso da pessoa com deficiência às tecnologias sociais; (3) aumentar a autonomia
da pessoa com deficiência nas cidades; e (4) aumentar o engajamento da pessoa
com deficiência nas questões urbanas relacionadas à transformação digital (Estatuto
da Pessoa com Deficiência, Art. 78; Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com
Deficiência, Art. 3º, VIII; Comitê Interministerial de Tecnologia Assistiva).

: Acelerar e dar transparência à


estruturação e à implementação de sistemas de logística reversa (coletar e devolver resíduos
sólidos ao setor empresarial ou descartá-los corretamente). Esses sistemas devem incluir
fábricas, importadoras, distribuidoras e comércios de produtos eletroeletrônicos e seus
componentes. As empresas devem oferecer às pessoas consumidoras dos itens a possibilidade
de devolver os resíduos, sem usar serviços públicos de limpeza urbana ou manejo de resíduos
sólidos (Política Nacional de Resíduos Sólidos, Art. 33).
67
68

O futuro das cidades brasileiras depende de entender que a transformação digital é um processo
dinâmico, inédito e capaz de ser gerido. E também entender os impactos que essa transformação
causa nas cidades e nas pessoas.

É importante compreender que esse processo deve ser sustentável. Isso exige buscar o
desenvolvimento urbano sustentável, incluindo velhos e novos desafios. Deve-se assumir a visão
de que a transformação digital e o desenvolvimento urbano são processos que se
retroalimentam.

Construir esta Carta levou mais de um ano. Autoras e autores vieram de diferentes áreas do
conhecimento e setores de atuação, tais como tecnologia da informação e comunicação,
desenvolvimento urbano e políticas públicas. Foi desafiador reunir tantas perspectivas,
conceitos, políticas e orientações.

Foi um profundo aprendizado para todas e todos. Construímos propostas a partir de visões
comum a todas e todos e encontramos formas de compartilhar princípios e diretrizes em meio à
diversidade.

Esperamos que o olhar abrangente proposto pela Carta gere impactos positivos e contínuos nas
cidades brasileiras e na vida das pessoas. Esperamos que as recomendações sejam
implementadas e que a rede de colaboração constituída durante a elaboração se fortaleça
(Comunidade da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes – leia mais nas págs. 2-5).

O lançamento desta Carta (“produto-mãe”) é um convite para outras instituições e pessoas


aderirem à rede, para implementar as recomendações. E também para identificar, elaborar e
indexar “produtos-filhos” que concretizem as recomendações. Por exemplo: cartilhas, políticas,
programas, projetos e documentos técnicos, entre outros.

O primeiro passo é identificar e elaborar os materiais e instrumentos de forma compartilhada. E,


principalmente, organizar um plano de implementação, indicando prioridades e responsáveis.

Assumimos a visão conciliadora que a transformação digital pode impulsionar o desenvolvimento


sustentável das cidades. E pode melhorar a qualidade de vida das pessoas, dinamizando e
capilarizando as relações.

Esta Carta se apresenta como um documento de agenda política para enfrentar os reais e
imensos desafios das cidades brasileiras. A Carta olha para o presente e para o futuro. Entende
que cada indivíduo pode e deve assumir um papel importante no caminho para uma ampla,
positiva e efetiva transformação.

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