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São agradáveis para viver e facilitam o convívio entre as pessoas. Respeitam a autonomia
e as escolhas individuais, ao mesmo tempo que respeitam o interesse público, os direitos
coletivos e difusos (aqueles que se referem à coletividade, a várias pessoas ao mesmo
tempo).
Equilibram natureza, ambiente construído e ambiente digital. Para isso, usam a tecnologia
de forma ética, a serviço do bem comum e das pessoas, respeitando a dignidade humana
e a privacidade.
Buscam várias formas de aumentar a eficiência das ações feitas no seu território. Usam
TICs (tecnologias de comunicação e informação) e soluções inovadoras integradas, com
uma visão ampla. Ou seja, por um lado, percebem que a tecnologia deve ser usada para
oferecer governo e serviços públicos eficientes, respeitando costumes e tradições. Mas ao
mesmo tempo, entendem que há outras formas de conectar e inovar além da tecnologia
digital, especialmente nas áreas urbanas pouco densas.
3
Usam tecnologias que levem em conta a sua realidade e que atendam à solução de
conflitos e problemas urbanos, ambientais e sociais concretos.
Entendem e levam em conta o ritmo da transformação digital que seja mais adequado para
cada pessoa, realidade e localidade.
Reconhecem o seu papel como parte de um sistema complexo e dinâmico, que atua em
rede com outras cidades.
A Carta Brasileira para Cidades Inteligentes foi feita coletivamente por gente de vários setores
da sociedade. O objetivo é ajudar o Brasil a dar um passo firme rumo a cidades melhores para
as pessoas.
As cidades são polos de desenvolvimento econômico e têm grande responsabilidade com o bem-
estar da população. Concentram grande parte das ofertas de trabalho, educação, equipamentos
culturais, serviços públicos e privados.
assinou a NAU1, prometeu que adotaria uma abordagem de cidade inteligente. Esta Carta é uma
ação concreta nesse sentido.
Cerca de 85% da população brasileira mora em áreas urbanas, e cada uma dessas áreas possui
características próprias. Além da grande diversidade territorial, as nossas cidades são marcadas
por desigualdades socioeconômicas e espaciais (bairros ocupados por pessoas mais pobres
geralmente têm piores condições de vida do que outros) de origem histórica2.
O termo “diversidade territorial” inclui tudo o que faz uma cidade ser diferente de outra. Por
exemplo:
1
“Comprometemo-nos a adotar uma abordagem de cidade inteligente, que faça uso de oportunidades de
digitalização, energia e tecnologias limpas, assim como tecnologias de transporte inovadoras,
consequentemente proporcionando alternativas para os habitantes fazerem escolhas mais adequadas ao meio
ambiente e impulsionarem o crescimento econômico sustentável e permitindo que as cidades melhorem sua
prestação de serviços” (Nova Agenda Urbana, item 66)
2
Diversidade e desigualdade territorial no Brasil – O Brasil possui 5.570 municípios. Cerca de 70% têm
até 20 mil habitantes. Menos de 1% tem população superior a 500 mil habitantes e pode ser classificado como
grande cidade. Entre os extremos, há um grupo que cidades com tamanhos variados de população que
representam menos de 3% do total de municípios. Elas têm um papel parecido nas diferentes regiões urbanas:
são referência e fonte de oportunidades, bens e serviços para cidades menos estruturadas ao seu redor. Por
causa desse papel, são chamadas de “cidades intermediárias”. (Dados do IBGE, CENSO 2010). Os municípios
brasileiros também são muito diversos quanto a serem remotos ou de fácil acesso. Há 8% de municípios
remotos ou muito remotos ocupando 42% da área total do país. A diversidade também se reflete nos níveis de
ruralidade e urbanidade. Cerca de 60% dos municípios são predominantemente rurais e abrigam 16% da
população. Por outro lado, 26% são predominantemente urbanos e abrigam 77% da população. E há 13% de
municípios considerados intermediários (em que não há predominância rural nem urbana) abrigando 7% da
população. (Dados do IBGE. Classificação Rural-Urbano, 2017). Existe ainda uma variação de aspectos
culturais, étnicos, ambientais, climáticos e econômicos, entre outros, que contribuem para a grande diversidade
do país. Quanto à desigualdade, quase 40% dos municípios tinham índice de vulnerabilidade social alto ou
muito alto em 2010 – essas são as duas piores situações. A maior parte desses municípios, quase 70%, fica
no Nordeste (Dados do IPEA, IVS 2010).
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Na política urbana brasileira, “não deixar ninguém para trás” é o mesmo que dizer “garantir o
direito a cidades sustentáveis para todas as pessoas”. Isso significa: (1) comprometer-se a
reduzir desigualdades históricas que prejudicam o acesso de pessoas e grupos sociais
vulneráveis a oportunidades, bens e serviços; (2) estruturar ações adequadas à ampla
diversidade territorial do país, de forma a “não deixar nenhum município para trás”.
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As iniciativas brasileiras de “cidades inteligentes”3 são ações de política urbana. Então, devem
adotar a mesma visão.
Na era digital, o direito a cidades sustentáveis (Estatuto da Cidade) também está condicionado
ao direito de acesso à internet (Marco Civil da Internet no Brasil). Essa é a visão que esta Carta
assume para apresentar ao país uma agenda brasileira para “cidades inteligentes”.
A Carta também assume uma perspectiva ampla da transformação digital nas cidades. Nessa
perspectiva, é preciso compreender quais são as mudanças impostas ao espaço urbano pela
digitalização e de que formas o espaço urbano responde a essas mudanças. É preciso entender
3
“Cidades inteligentes” são cidades comprometidas com o desenvolvimento urbano e a transformação digital
sustentáveis, em seus aspectos econômico, ambiental e sociocultural, que atuam de forma planejada,
inovadora, inclusiva e em rede, promovem o letramento digital, a governança e a gestão colaborativas e utilizam
tecnologias para solucionar problemas concretos, criar oportunidades, oferecer serviços com eficiência, reduzir
desigualdades, aumentar a resiliência e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, garantindo o uso
seguro e responsável de dados e das tecnologias da informação e comunicação.
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A transformação digital
: Em 2019, havia 28% de domicílios pode gerar impactos
brasileiros sem conexão à internet. Metade deles tinha renda de positivos ou negativos,
até 1 salário mínimo. Os dados por território mostram como a dependendo do contexto. A
desigualdade socioespacial também resulta em exclusão digital,
realidade de cada lugar
em várias escalas. A região Nordeste tinha proporcionalmente
também influencia no
menos domicílios com acesso à internet (35% sem acesso à
internet) e a região Sudeste era a mais conectada (25% sem
potencial de uso das
acesso à internet). Mesmo sendo a mais conectada, a maior tecnologias da
parte (80%) dos domicílios sem conexão da região Sudeste informação e
eram predominantemente sem renda (3%) ou de baixa renda comunicação. É preciso,
(77%). Quase metade (48%) dos domicílios rurais não tinham portanto, considerar a
conexão, comparados com 25% dos domicílios situados em ampla diversidade e as
áreas urbanas. Quanto ao tipo de conexão, na região Norte profundas desigualdades
predomina a conexão móvel via modem ou chip 3G/4G. Lá, 74% históricas que marcam
dos domicílios com renda acima de 10 salários mínimos tinham
nosso território ao agir e
conexão por banda larga fixa. Por outro lado, 54% dos domicílios
refletir sobre a
com renda até 3 salários mínimos acessavam a internet por
conexão móvel que, em geral, podem apresentar problemas de
transformação digital. Só
instabilidade, franquias e limites de navegação. (Dados do assim será possível que a
Cetic.br, TIC Domicílios, 2019). transformação digital nas
cidades brasileiras seja
positiva e sustentável.
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exclusão digital Em 2019, havia 28% de domicílios brasileiros sem conexão à internet. Metade deles tinha
renda de até 1 salário mínimo. Os dados por território mostram como a desigualdade socioespacial também
resulta em exclusão digital, em várias escalas. A região Nordeste tinha proporcionalmente menos domicílios
com acesso à internet (35% sem acesso à internet) e a região Sudeste era a mais conectada (25% sem acesso
à internet). Mesmo sendo a mais conectada, a maior parte (80%) dos domicílios sem conexão da região
Sudeste eram predominantemente sem renda (3%) ou de baixa renda (77%). Quase metade (48%) dos
domicílios rurais não tinham conexão, comparados com 25% dos domicílios situados em áreas urbanas.
Quanto ao tipo de conexão, na região Norte predomina a conexão móvel via modem ou chip 3G/4G. Lá, 74%
dos domicílios com renda acima de 10 salários mínimos tinham conexão por banda larga fixa. Por outro lado,
54% dos domicílios com renda até 3 salários mínimos acessavam a internet por conexão móvel que, em geral,
podem apresentar problemas de instabilidade, franquias e limites de navegação. (Dados do Cetic.br, TIC
Domicílios, 2019).
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A Carta Brasileira para Cidades Inteligentes é um documento político que expressa uma agenda
pública brasileira.
● Poderes legislativos nos três níveis de governo e poder judiciário (quando lhe couber
atuar). Cabe a essas instâncias articular e compatibilizar normas gerais que viabilizem
e deem segurança jurídica às ações de desenvolvimento urbano e de transformação
digital sustentáveis;
● Órgãos de controle da estrutura de Estado. São aqueles que zelam pela boa execução
de políticas públicas, incluindo as relações de custo-benefício e a continuidade das
ações;
A Carta traz a transformação digital para dentro do ambiente urbano e amplia o que se entende
por “cidades inteligentes”. É comum associar o termo apenas às tecnologias da informação e
comunicação, sem fazer conexão com os problemas concretos das cidades brasileiras. É comum
também associá-lo a soluções tecnológicas para problemas urbanos, mas soluções que não
buscam resolver as reais causas históricas desses problemas.
O debate sobre “cidades inteligentes” existe há muito tempo, mas nunca chegou a definir
um conceito brasileiro definido para essa expressão. A indefinição foi percebida como um
fator que prejudica a transformação digital sustentável nas cidades.
Então, optou-se por construir uma definição própria, em vez de seguir uma das várias linhas
conceituais existentes no país e no mundo. Uma definição convergente e adaptada à
realidade, à diversidade e à complexidade das cidades brasileiras.
A transformação digital é tão importante para o futuro das cidades que determinou a
estruturação de uma agenda comum e abrangente.
Para essa tarefa, reunimos vários pontos de vista sobre a diversidade das cidades
brasileiras e sobre as iniciativas já existentes. Articulamos abordagens e frentes de atuação
ligadas a “cidades inteligentes”. Isso facilitará que as ações dos diferentes níveis de
governo e dos diferentes setores aconteçam de forma coordenada e convergente no
território.
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Há muitos saberes sobre “cidades inteligentes” no Brasil e no mundo. Daí ser útil e
necessário sistematizar as iniciativas, num processo contínuo e incremental.
É importante reunir os “produtos-filhos” e deixá-los fáceis de acessar. Para tal, eles devem
ser indexados (relacionados) aos Objetivos Estratégicos e Recomendações da agenda
comum. Isso vai otimizar a consulta, a integração e o uso dos saberes existentes. As
principais iniciativas que existem no Governo Federal já estão indexadas no documento.
A qualidade de vida das pessoas só mudará para melhor se essa agenda pública para
“cidades inteligentes” e os saberes aqui reunidos gerarem ações concretas. Este “produto-
mãe” e seus “produtos-filhos” são ferramentas para implementar essas ações.
Essa Carta foi elaborada por um grupo grande de pessoas e instituições. Elas doaram
tempo e saberes para contribuir com o desenvolvimento do país.
Apresenta um conjunto de diretrizes que orientam a ação, para que ela ocorra de forma
vinculada aos princípios.
Apresenta os temas centrais da transformação digital nas cidades e a explica a visão desta
Carta para um processo sistêmico e sustentável. A intenção é mostrar como os Objetivos
funcionam em conjunto e como as recomendações são interdependentes e ligadas ao
contexto geral. Além disso, essa seção ajuda a compreender o contexto que motiva cada
Objetivo Estratégico.
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Apresenta cada Objetivo Estratégico e suas recomendações, que podem ser mais
estratégicas (por exemplo: mudança de visão) ou operacionais (por exemplo: cartilha para
orientar ações). Espera-se que “produtos-filho” sejam vinculados a uma ou mais
recomendações. (leia mais sobre produtos-filho na página 17).
As recomendações são numeradas e têm títulos que indicam o tema que abordam. No fim
de cada uma, siglas identificam o público-alvo que pode ou deve estar envolvido na sua
implementação. Há onze segmentos de público-alvo: Agências reguladoras (AR);
Cooperação intergovernamental vertical (CIV); Cooperação intergovernamental horizontal
(CIH); Empresas concessionárias de serviços públicos (EC); Empresas de
telecomunicações (ET); Governo Estadual (GE); Governo Federal (GF); Governo
Municipal (GM); Instituições de ensino e pesquisa (IEP); Instituições financeiras e de
fomento (IFF); Organizações da sociedade civil (OSC) e Setor privado (SP). Entre os onze
segmentos, dois indicam a necessidade de integração entre entes da federação (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios): Cooperação intergovernamental vertical (CIV) e
Cooperação intergovernamental horizontal (CIH).
O coração da Carta é a seção Oito Objetivos Estratégicos e suas Recomendações. Mas deve-
se evitar ler essa seção literalmente, como uma fórmula. Convidamos pessoas e instituições
locais de vários segmentos a ajustarem objetivos e recomendações conforme a realidade de
cada município. Só as ações concretas nas cidades melhoram a vida das pessoas.
A transformação digital nas cidades é uma responsabilidade de vários setores. Mas é muito
importante que o poder público lidere a condução política do tema, especialmente no nível local.
Prefeitas, prefeitos, suas equipes e o poder legislativo devem trabalhar juntos e com o apoio da
União e dos Estados para estimular a participação da sociedade e fazer a diferença.
Nós, Comunidade Brasileira para Cidades Inteligentes, acreditamos que uma agenda pública
assumida pelo Estado é capaz de enfrentar desafios históricos e contemporâneos das cidades e
do país. Essa agenda deve ser coerente, contínua, incremental, responsável e transparente.
Deve ser construída e implantada engajando diferentes níveis de governo, organizações da
sociedade civil e segmentos sociais.
22
O termo “cidades inteligentes” (“smart cities”) nasceu há cerca de vinte anos. Na época, o setor
de TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) começou a perceber as cidades como um
grande mercado a ser explorado. Foi quando surgiu a oferta de soluções para melhorar a
prestação de serviços urbanos.
O termo foi se popularizando. Passou a ser usado com diferentes sentidos em várias partes do
mundo, inclusive no Brasil. Mostrou-se útil para melhorar a visibilidade de alguns projetos e
organizações. O tempo passou e o termo evoluiu.
Assim, a desconexão entre as partes “cidades” e “inteligentes” abriu espaço para as discussões
ligadas às TICs crescerem. E a agenda mais ampla de transformação digital nas cidades acabou
se limitando aos setores de mobilidade e transportes urbanos, segurança urbana, governo digital,
gestão de emergências e desastres.
A vertical de “cidades inteligentes” foi impulsionada por iniciativas de iluminação pública urbana.
Esse tema ganhou espaço após a Contribuição para o Custeio dos Serviços de Iluminação
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Tantas perspectivas e visões dificultaram um debate sobre “cidades inteligentes” que fosse
amplo, para além de cada nicho de atuação. Conceitos, linguagem e vocabulário de diferentes
campos disciplinares formaram barreiras para o entendimento mútuo e, consequentemente, de
interação frutífera.
Órgãos públicos em todos os níveis de governo vêm trabalhando no tema a partir de concepções
particulares, derivadas das inúmeras iniciativas classificadas como “projetos de cidades
inteligentes”. O ambiente governamental também é afetado pelo caráter variável do termo
“cidades inteligentes”. É comum o termo ser questionado, ressignificado ou super adjetivado.
As pessoas e instituições que contribuíram para a construção da Carta levaram em conta todas
essas questões. Elas também reconheceram a importância de existir um conceito unificador para
estruturar as atuações. Um conceito que seja capaz de lidar com a complexidade da
transformação digital nas cidades.
Assim, o grupo propôs uma visão ampliada e uma definição curta para o conceito “cidades
inteligentes”. A visão ampliada dialoga com a complexidade e a particularidade dos diferentes
territórios – está no texto que abre esta Carta (leia na págs 2-5). Aqui, apresentamos a definição
curta. Ela expressa de forma compactada os valores essenciais de uma “cidade inteligente” no
contexto brasileiro.
5
A Contribuição para o Custeio dos Serviços de Iluminação Pública - COSIP foi introduzida na Constituição
Federal (Art. 149-A) pela Emenda nº 39/02. Estabelece a possibilidade que os municípios cobrem de seus
contribuintes uma taxa para o custeio do serviço de iluminação pública. Sua implementação é cercada de
controvérsias, ligadas à natureza do tributo, fato gerador e entendimentos sobre o que estaria incluído nos
“serviços de iluminação pública”.
24
● Segurança cibernética,
● Transparência ao usar dados, informações, algoritmos e dispositivos,
● Dados e códigos abertos, acessíveis a todas as pessoas,
● Proteção geral de dados pessoais,
● Letramento digital,
● Inclusão digital.
Todas essas ações devem ser realizadas de forma adequada e com respeito às características
socioculturais, econômicas, urbanas, ambientais e político-institucionais específicas de cada
território. E também devem conservar os recursos naturais e preservar as condições de saúde
das pessoas.
.
25
Nós, Comunidade da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, apresentamos aqui uma agenda
pública para a transformação digital sustentável nas cidades.
Organizamos oito Objetivos Estratégicos, cada qual associado a uma série de Recomendações.
A agenda está ligada ao conceito brasileiro de cidades inteligentes, está ancorada nos princípios
e deve ser guiada pelas diretrizes já apresentados neste documento.
Este texto introdutório mostra como os Objetivos Estratégicos estão relacionados entre si e como
as recomendações são interdependentes. O texto situa cada objetivo no contexto mais amplo da
transformação digital sustentável nas cidades brasileiras.
Governos e sociedade precisam agir para que a tecnologia atenda as necessidades reais das
cidades. Iniciativas e soluções digitais devem estar alinhadas com uma visão estratégica de
28
Esse processo requer que a sociedade e as instituições locais se fortaleçam para assumir o
protagonismo na adaptação da transformação digital às suas realidades. Para isso, elas devem
adequar políticas, programas e ações de desenvolvimento urbano ao novo contexto da
transformação digital. Devem aperfeiçoar infraestruturas, ferramentas e sistemas digitais para a
prestação de serviços públicos de qualidade.
Contexto – Políticas públicas e conectividade são elementos básicos, mas insuficientes para
equidade (distribuição justa, capaz de atender necessidades diferentes de todas as pessoas) de
oportunidades no contexto da transformação digital. É preciso estruturar sistemas de governança
de dados e de TICs (tecnologias de informação e comunicação) adequados a cada realidade.
Somente a partir desses sistemas será possível integrar infraestrutura, sistemas, ferramentas e
soluções digitais no desenvolvimento urbano de todas as cidades.
Contexto – Uma governança bem estruturada, colaborativa e inclusiva torna as cidades mais
habitáveis e fortalece a economia local. O mesmo ocorre quando as decisões são tomadas com
base em dados e evidências científicas.
A transformação digital pode gerar valor, emprego e renda para as pessoas das cidades. A
economia do compartilhamento, a economia criativa e a economia circular podem potencializar
essas oportunidades. Mas é indispensável que diferentes setores e pessoas se articulem para
evitar que uma transformação digital mal conduzida cause mais desigualdade social.
Estado e sociedade devem trabalhar juntos, seguindo na mesma direção. A ação conjunta deve
incluir bancos públicos, investidores privados, instituições financeiras e de fomento, agências de
apoio à pesquisa e inovação. O trabalho em colaboração irá identificar, sistematizar, criar e
disponibilizar instrumentos, linhas diversificadas de financiamento e soluções de
autofinanciamento da transformação digital. Todas as ações devem estar associadas ao
desenvolvimento urbano sustentável.
Contexto – Por outro lado, pessoas, coletivos e organizações devem fazer a transição de
usuários passivos para agentes da transformação. Devem ser agentes conscientes e criadores
das próprias realidades. Isso requer novas capacidades, habilidades e atitudes.
Trata-se de uma tarefa coletiva e desafiadora. Logo, ela deve ser apoiada por um movimento
educativo massivo sobre a transformação digital nas cidades. Essa tarefa também requer um
processo de comunicação qualificado para engajar, sincronizar, coordenar e articular distintos
agentes públicos e privados em torno dos objetivos da Carta. Entre os agentes, devem constar
organizações da sociedade civil, veículos de comunicação, instituições de ensino e pesquisa.
A avaliação dos impactos é uma tarefa essencial para identificar novos desafios e corrigir os
rumos desta agenda ao longo da sua implementação. Tamanha tarefa só será possível com a
união de diferentes pessoas e com a valorização dos saberes locais e comunitários.
31
Recomendações:
1.1.2. Informações sobre exclusão digital: Entender melhor os fatores associados à exclusão
digital, tais como quais são as condições de conectividade dos grupos vulneráveis e quais
são as condições de conexão em cada localização. Para isso, usar dados
georreferenciados (com localização geográfica) separados por renda, raça, gênero,
escolaridade, idade. Incluir análises específicas para as pessoas com deficiência.
Recomendações:
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2.4.1. Inclusão digital de pessoas com deficiência: Criar e usar soluções, elaborar e
difundir normas e procedimentos para ampliar a acessibilidade da pessoa com
deficiência à computação e à internet. Realizar essas ações também na oferta de
serviços públicos digitais e outras iniciativas de governo digital (Estatuto da Pessoa
com Deficiência, Art. 78).
39
s:
Estabelecer normas e padrões para o planejamento, a utilização e a gestão do subsolo, do solo
e do espaço aéreo nos municípios. Estabelecer normas e padrões também para a localização e
o compartilhamento de infraestrutura para inclusão digital nas cidades, incluindo postes, antenas
e dispositivos de Wi-Fi. Para garantir que as ações aconteçam de forma integrada no território,
estabelecer acordos interinstitucionais (entre instituições) e interfederativos (entre os entes da
federação - União, Estados, Municípios e Distrito Federal) para regulação conjunta, quando for
o caso.
41
Recomendações:
Essa articulação deve ter como foco uniformizar conceitos, nomenclaturas, métodos
e meios de implementação. Isso irá otimizar esforços e garantir a interoperabilidade
(capacidade de sistemas trabalharem em conjunto para a troca eficaz de informações)
de dados.
3.6.1. Ampliação do acesso a serviços públicos e direitos sociais por meio de TICs:
Usar tecnologias de informação e comunicação (TICs) para promover o direito à
cidade e para ampliar os direitos sociais. Focar em áreas urbanas com carências de
serviços públicos e em pessoas e grupos sociais vulneráveis. Para realizar esses
direitos, as TICs devem colaborar na simplificação o acesso a serviços de saúde,
educação, moradia, transporte, saneamento básico, telecomunicações (inclusive
serviços de internet), lazer e cultura.
Recomendações:
: Mobilizar
saberes de diferentes segmentos da sociedade, pessoas e instituições, para construir soluções
criativas para problemas urbanos contemporâneos com mais agilidade.
4.2.1. Rede digital para colaboração urbana: Estimular a formação de uma rede para
o desenvolvimento urbano sustentável. A rede deve ser multinível (atuar nos níveis
nacionais, regionais, estaduais e locais), interinstitucional (cooperação entre
diferentes instituições) e intersetorial (com cooperação entre as diferentes áreas de
política pública). A rede deve oferecer recursos digitais e inclusivos para realizar
trabalhos colaborativos, incluindo a implementação e a retroalimentação desta Carta
Brasileira para Cidades Inteligentes.
4.3.3. Diálogo com órgãos de controle: Estabelecer fóruns regulares de diálogo entre
(1) instituições públicas que formulam e implementam políticas públicas; (2) órgãos
de controle dos poderes executivo, legislativo e judiciário; e (3) Ministério Público.
Esses fóruns devem ter caráter estratégico na tarefa de construir conjuntamente
caminhos e suporte à tomada de decisões sobre a transformação digital nas cidades.
O objetivo é assegurar a boa condução das políticas sobre o tema da transformação
digital nas cidades, em todos os níveis de governo.
:
Desenvolver capacidades e competências na Administração Pública que sejam voltadas à
atuação no contexto da transformação digital e seus desdobramentos territoriais. Implementar e
fortalecer programas de desenvolvimento institucional em todos os níveis de governo.
Recomendações:
: Apoiar o desenvolvimento de
modelos econômicos locais justos e inovadores. Incluir iniciativas de economias solidária,
compartilhada, criativa, circular e colaborativa. Usar essas iniciativas para criar soluções de modo
a atender as diferentes realidades locais e gerar oportunidades a todas as pessoas,
especialmente para incluir pessoas e grupos sociais vulneráveis.
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desenvolvem tecnologia e inovam) de serviços digitais urbanos. Para isso, devem-se usar
práticas que evitem monopólios e promovam a escolha livre dos usuários. As ações devem estar
alinhadas com a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica.
5.6.2. Apoio à inclusão produtiva e digital: Criar subsídios e outros mecanismos para
a inclusão produtiva e digital de micro e pequenas empresas, pessoas
empreendedoras ou pessoas que trabalham informalmente. Esses mecanismos
devem viabilizar economicamente o acesso dessas pessoas e empresas: (1) à
internet; (2) a dispositivos digitais de qualidade, tais como smartphones, tablets e
notebooks; e (3) a plataformas para comércio eletrônico. As ações também devem
apoiar a legalização das pessoas que trabalham informalmente.
Recomendações:
:
Incentivar os governos estaduais a implantarem políticas de redução de carga tributária. O
objetivo é interiorizar (levar a cobertura das redes para o interior do país) a cobertura das redes
do Serviço Móvel Pessoal (Estratégia Brasileira para a Transformação Digital E-digital) e os
serviços de oferta de banda larga. Além disso, incentivar os governos estaduais a
disponibilizarem recursos onerosos (com encargos financeiros) e não onerosos (sem encargos
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financeiros) para fornecer e ampliar a conectividade digital. Esses recursos devem apoiar a
elaboração de projetos e a implementação de plataformas digitais.
: Desenvolver estudos de
viabilidade para modelar novos negócios considerando as possibilidades de monetização de
dados (uso de dados para benefícios econômicos). Considerar a inclusão de novas linhas para
atender esse tipo de negócio no Fundo de Apoio à Estruturação de Concessão e Parcerias
Público-Privadas (FEP).
Recomendações:
7.3.1. Cidade educadora: Usar a cidade como suporte para a educação urbana. Para
isso, deve-se incentivar que as pessoas e instituições deem valor aos recursos
naturais e ao sistema de áreas verdes e aos espaços públicos, equipamentos e
mobiliários urbano. Também deve-se informar o público sobre a história e o
significado dos lugares. Essas ações devem ser associadas ao uso de ferramentas
de mapeamento colaborativo que levantem e registrem aspectos subjetivos
relacionados a espaços urbanos.
: Desenvolver e
implementar estratégia de comunicação pública da Carta em linguagem simples, com a
participação de segmentos adeptos da cultura digital. O objetivo é alcançar a sociedade de forma
ampla e sensibilizá-la, particularmente quanto a duas questões: (1) as relações existentes entre
as cidades e as TICs (tecnologias de informação e comunicação); e (2) os direitos digitais das
pessoas.
Recomendações:
: Estimular que os
temas do desenvolvimento urbano e da transformação digital sejam discutidos a partir de uma
perspectiva local integrada. Para isso, deve-se estimular a articulação institucional de conselhos
ou fóruns que debatem sobre esses temas e que atuem no controle social de políticas públicas.
Essas instituições devem acompanhar, avaliar e dar suporte à atuação do município sobre os
impactos da transformação digital no território. As ações junto aos municípios devem considerar
as condições político-institucionais específicas de cada cidade.
O futuro das cidades brasileiras depende de entender que a transformação digital é um processo
dinâmico, inédito e capaz de ser gerido. E também entender os impactos que essa transformação
causa nas cidades e nas pessoas.
É importante compreender que esse processo deve ser sustentável. Isso exige buscar o
desenvolvimento urbano sustentável, incluindo velhos e novos desafios. Deve-se assumir a visão
de que a transformação digital e o desenvolvimento urbano são processos que se
retroalimentam.
Construir esta Carta levou mais de um ano. Autoras e autores vieram de diferentes áreas do
conhecimento e setores de atuação, tais como tecnologia da informação e comunicação,
desenvolvimento urbano e políticas públicas. Foi desafiador reunir tantas perspectivas,
conceitos, políticas e orientações.
Foi um profundo aprendizado para todas e todos. Construímos propostas a partir de visões
comum a todas e todos e encontramos formas de compartilhar princípios e diretrizes em meio à
diversidade.
Esperamos que o olhar abrangente proposto pela Carta gere impactos positivos e contínuos nas
cidades brasileiras e na vida das pessoas. Esperamos que as recomendações sejam
implementadas e que a rede de colaboração constituída durante a elaboração se fortaleça
(Comunidade da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes – leia mais nas págs. 2-5).
Esta Carta se apresenta como um documento de agenda política para enfrentar os reais e
imensos desafios das cidades brasileiras. A Carta olha para o presente e para o futuro. Entende
que cada indivíduo pode e deve assumir um papel importante no caminho para uma ampla,
positiva e efetiva transformação.