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Universidade do Algarve

Faculdade de Economia

Curso de Sociologia: 2º ano – 1º semestre

Revisão da Literatura e Pergunta de Partida – Sexualidade e Género

Unidade Curricular:

Métodos e Técnicas de Investigação Quantitativa

Docente: Prof. Ana Rita Domingues Teixeira

Aluna: Diana Batista Brazão Lourenço

2022/2023
Sexualidade e Género é um tema que ao passar dos anos foi sendo discutido cada vez
mais, surgiram novos conceitos, novas teorias e cada vez mais estudos. Estudos estes
que são revolucionários: desde temas que nunca foram investigados a temas que são
bastante controversos. E são quatro dos imensos exemplos que existem que serão aqui
falados.

Jordão, C., Carvalho, T. e Diogo, S. (2021). Sexualidade e Género Planos de


Igualdade de Género nas Instituições de Ensino Superior em Portugal: A Remar
Contra a Corrente?; Lopes, M., Coelho, L. e Ferreira, V. (2021). Sexualidade e Género
Academia lockdown: the gendered effects of COVID-19 on academic working
conditions and performance; Miranda, P. (2014). Habitar um corpo sexualizado:
tensões e ambiguidades na construção dos géneros; Ramalho, N. e Vaz, A. (2016).
Quem são os clientes das travestis trabalhadoras do sexo em portugal? Breve
caracterização dos t-lovers. São estes os estudos em que esta revisão se vai basear,
estudos estes que têm objetivos completamente diferentes, no artigo de (Lopes, Coelho
e Ferreira, 2021) o título por si só muito nos diz, mas apesar disso o verdadeiro objetivo
é “explorar os efeitos do primeiro lockdown do COVID-19 em condições de trabalho,
uso do tempo académico, o balanço dos desafios da vida/trabalho e a produtividade
científica”; enquanto que Jordão, Carvalho e Diogo mencionam que o objetivo do seu
artigo é

“…analisar as dinâmicas organizacionais de resistência à implementação de Planos de


Igualdade de Género nas RPO portuguesas, identificar e analisar as principais formas de
resistência sentidas ao longo da implementação dos GEPs e as razões que lhes
subjazem, abordar potenciais estratégias que permitam ultrapassar essas barreiras e
assegurar o sucesso e a sustentabilidade das iniciativas promotoras da igualdade de
género e dos projetos nacionais …” (Jordão, Carvalho e Diogo, 2021: 3)

Enquanto isso Ramalho e Vaz têm um objetivo e um tema completamente diferente,


estes autores mencionam que o objetivo é a desocultação científica dos clientes de
travestis em Portugal e por fim Miranda (2014: 5) que revela que o seu objetivo foi “…
perceber os impactos da modernidade reflexiva nas interacções através das quais os
sujeitos constroem as suas identidades de género; e percepcionar até que ponto habitar
um corpo sexualizado gera tensões e ambiguidades na construção identitária…”. Sendo
temas completamente diferentes também as suas Perguntas/Hipóteses de Investigação e

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Teorias/Conceitos o são. Vejamos por exemplo o tema de Lopes, Coelho e Ferreira ao
falarem de contexto de COVID-19. Neste artigo os conceitos analisados foram as
Condições Emocionais/Físicas; Condições para trabalho remoto; os Efeitos Psicológicos
do Lockdown; Maternidade/Paternidade; Efeitos em conflitos de trabalho/família;
Efeitos no tempo usado academicamente e os Efeitos do COVID-19 na produtividade
científica. Este artigo em relação aos outros tem sem dúvida muitos mais conceitos e
teorias e para além disso na minha perspetiva foi também o estudo mais desenvolvido
pelos autores em relação a todos os outros. Já que se mencionou conceitos o que é aqui
analisado em relação a Hipóteses de Investigação ou até mesmo Perguntas? Ora, neste
artigo são feitas “indiretamente” algumas Hipóteses/Perguntas sendo a 1ª: Como é que o
lockdown afetou as tarefas domésticas internas, cozinhar e preparar refeições, cuidar de
crianças, apoio escolar em casa para crianças, cuidar de adultos, desporto/exercício
físico e atividades de lazer?; Como é que o fechar das universidades, campos, escolas e
creches e outras instalações de cuidados podem regredir o progresso das mulheres em
direção à igualdade? e Como é que a pandemia de COVID-19 influenciou a quantidade
de tempo dedicado ao trabalho acadêmico/científico? (Lopes, Coelho e Ferreira, 2021)
É de reparar que este artigo é muito mais desenvolvido que o resto dos artigos, sendo
que é um tema com uma grande quantidade de dados exploratórios disponíveis e de tal
forma vai conter mais Teorias/Conceitos e Perguntas/Hípoteses de Investigação, dito
isto é possível até comparar com o artigo de Ramalho e Vaz sendo que é o artigo menos
desenvolvido de todos os artigos aqui analisados, é importante mencionar que é assim
por ser a 1ª vez que o tema é analisado num artigo científico em Portugal, sendo
também um tema onde é mais difícil arranjar informação enquanto que o tema de
COVID-19 teve imensas estatísticas/estudos científicos desde o início do lockdown até
ao fim do mesmo. Mas continua a ser interessante poder do mesmo modo comparar a
intensidade de informação de um artigo e a escassez de outro. Posto isto, o artigo de
Ramalho e Vaz dá-nos alguns conceitos inovadores e interessantes: t-lovers; “população
oculta; “test drives”; orientação sexual; feminilidade da travesti e a masculinidade
hegemónica. Em relação a Perguntas/Hipóteses de Investigação os autores tinham em
partida perceber: “Quem são os clientes de travestis? Que idades têm? Qual a sua
escolaridade e a situação profissional? Qual a classe social a que pertencem? Quais os
seus contextos sociofamiliares? Quais as motivações que orientam para o seu interesse
sexual? (percepcionado por uma sociedade heteronormativa como “desviante” e

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“marginal”), De que forma conseguem gerir o seu comportamento e identidade
deteriorada?” (Ramalho e Vaz, 2016)

Ora, com toda esta informação é possível reparar que este estudo é mais “informal”
da mesma maneira que é algo que em termos de estatística não tem qualquer
informação, é também por isso que nos Métodos e Técnicas utilizadas existe uma
grande diferença em relação a todos os outros estudos. Mas antes de se falar dos
Métodos e Técnicas que foram utilizado/usados nestes artigos, falta ainda mencionar as
restantes Teorias e Conceitos dos últimos dois artigos. Em relação a estes artigos a
informação que cada um proporciona é equivalente, não é demasiado específica nem
demasiado minimalista. No artigo de Miranda os conceitos podem até ser considerados
mais simplistas estando na mesma equiparados ao artigo de Jordão, Carvalho e Diogo,
sendo esses conceitos os seguintes: naturalização; projectos do corpo; self;
identificação; ingroup; outgroup; corpo gendrificado; construção social; família e
escola. Em relação às perguntas/hipóteses colocadas ao longo do artigo Miranda remete
para a

“…perspectiva do interaccionismo simbólico, na medida em que a construção das


identidades de género nas crianças se processa a partir das diferentes conjugações ou
negociações dos estereótipos e papéis de género nas interacções sociais, nos diversos
contextos e situações sociais…”; Miranda (2014: 6) menciona também que pertende “…
perceber os impactos da modernidade reflexiva nas interacções através das quais os
sujeitos constroem as suas identidades de género; e percepcionar até que ponto habitar
um corpo sexualizado gera tensões e ambiguidades na construção identitária…”
(Miranda, 2014: 5)
mas para Miranda as hipóteses em si baseavam-se em…

“…sintetizar as grandes hipóteses e/ou perspectivas de partida nas seguintes ideias: a)


num contexto de modernidade reflexiva as crianças percepcionam e constroem as suas
identidades de género de forma individualizada; e b) existem lógicas e mecanismos
inscritos nos processos dessa construção que interessa captar. Um dos pressupostos do
estudo foi o reconhecimento de que as identidades são produtos das interacções com os
outros e que a dimensão avaliativa é central naquele conceito, uma vez que a construção
do self é processada através da observação e interpretação, ou avaliação, dum outro com
quem se interage, ressaindo aqui a noção de alteridade social…” (Miranda, 2014: 5)
E para Miranda as seguintes hipóteses eram também importantes no sentido em que as
principais categorias/resultados…

“…iriam surgir do material qualitativo obtido através da pesquisa de terreno, foram as


seguintes: a) as representações (expectativas) e as crenças, estas últimas mais no sentido
de estereótipos partilhados por um grupo, associadas aos papéis e atributos de género e
às noções de masculinidade/feminilidade; b) as práticas do quotidiano e as interacções

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sociais, ou seja, os comportamentos dos sujeitos crianças, pais e professores, nos vários
níveis individual, de grupo e entre grupos, isto em função do género; c) a simbologia –
em estreita ligação com o interaccionismo simbólico e com os significados inscritos no
(e moldados pelo) corpo –, dimensão onde se poderão destacar aspectos como as
características físicas (rosto, corpo) e psicológicas (atributos de personalidade), patentes
nas escolhas em termos de linguagem, vestuário, gestualidades, etc., aspectos que
contribuem para a formação da imagem que as crianças têm de si próprias e do outro
(do outro semelhante do ingroup e do outro diferente do outgroup)…” (Miranda, 2014:
6).
Sendo estas as hipóteses de Miranda é também possível dizer que neste artigo as
Hipóteses são mais esquematizadas em relação ao artigo a seguir analisado. Artigo este
que pertence a Jordão, Carvalho e Diogo que anteriormente foi dito que seria o mais
familiar com os mesmos Conceitos, Teorias, Hipóteses e Perguntas do artigo de
Miranda também por serem os dois artigos mais perto do tema estudado, sendo assim os
conceitos deste artigo são os seguintes: Investigação-ação; Planos de Igualdade de
Género; Resistência à mudança; Resistência organizacional e Inércia Organizacional e
Burocrática. Em relação às Perguntas/Hipóteses de Investigação Jordão, Carvalho e
Diogo (2021: 5) mencionam que é importante colocar “..a resistência enquanto recurso
culturalmente disponível em que os indivíduos têm de dar sentido às suas experiências
organizacionais..” , “…reconhecer as formas e as manifestações da resistência é um
requisito essencial para assegurar o sucesso dos GEPs…”

Tendo então em consideração quais foram os pontos de partida de todos os artigos é


essencial perceber como é que se desenvolveu toda a investigação científica dos artigos,
é claro que apesar de todos os Conceitos, Perguntas e Hipóteses de Investigação que
foram mencionados há Teorias e explicações por detrás de cada artigo que nos dão o
contexto para mais tarde na própria investigação perceber-se como é que surgiu os
Métodos/Técnicas de Investigação e a Amostra escolhida. Portanto, com todo o
contexto tido da parte inicial de cada artigo será mais fácil perceber-se no que é que
cada um consiste.

Resumidamente e partindo do artigo de Lopes, Coelho e Ferreira estes autores falam


da importância de se poder compreender e tentam compreender que efeitos o COVID-
19 em contexto de lockdown teve a nível académico tendo em consideração todo o
contexto de lar. E perceber se afeta mais as Mulheres ou os Homens e claro, no que é
que mais afeta? E se não afeta um e sim o outro porque é que isso acontece? Se para
além de serem afetados pelo COVID-19, se nesta altura o lockdown pode ter trazido

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mais fatores a ter em causa ou não. Além disso para os próprios autores era importante
perceber se afetava também as tarefas domésticas ou não, ou se seria apenas a nível
académico? Também seria relevante perceber se isto causaria efeitos em termos de
empregos e claro, se existiriam ou existem soluções para qualquer problema encontrado
no artigo; Tendo em consideração isto, é relevante também perceber que ao longo da
sintetização daquilo que se estuda e se pretende em cada um dos textos é cada vez mais
notável que todos artigos apesar de terem temas muito afastados ao mesmo tempo são
muito parecidos e porquê? Porque é possível reparar que em todos o género é falado ou
contextualizado de alguma maneira sendo ele o masculino ou o feminino, isto mostra-
nos como o tema da Sexualidade está tão relacionado com o tema do Género. Posto isto
falaremos agora do artigo de Ramalho e Vaz. Bom, este artigo é promissor, é um artigo
muito atual e pessoalmente o artigo que mais me chamou atenção, este artigo tem por
finalidade descobrir quem são os clientes das travestis trabalhadoras do sexo em
Portugal de tal forma só através disto já se consegue perceber o que será analisado no
Método de Investigação. Para além disso este artigo mostra todos os conceitos
existentes dentro das plataformas para clientes de travestis, desde os seus gostos
pessoais, aos seus medos, como eles superam esses medos (entre os mesmos) e através
disto os autores tentam criar visibilidade para estes Clientes sendo que eles muitas vezes
são alvo de preconceito e os próprios têm medo/receio de serem visualizados pela
própria sociedade. Principalmente acima de tudo, este estudo é interessante por tentar
perceber porque é que os clientes travestis gostam de fazer parte desta comunidade e
quais os seus contextos. Posto isto passaremos para o artigo de foro mais
político/económico dentro deste tema da Sexualidade e Género, artigo esse que pertence
a Jordão, Carvalho e Diogo. Este artigo tenta compreender o porquê de existir
resistência a iniciativas de igualdade de género dentro de RPos. O porquê de haver
ainda desigualdade de género nas empresas, o porquê de não haver mudanças neste
aspeto e se estas empresas tentam sequer mudar este aspeto. Tentam também explicar e
dar contexto no facto de não ser bom a qualquer nível não haver igualdade de género
nas empresas, para além disso através dos inúmeros autores enumerados neste artigo
tentam entender o que é que podem fazer para mudarem isto, tendo em consideração
que para qualquer empresa tudo é melhor quando existe igualdade de género em todos
os aspetos. E por fim, falaremos do artigo que mais se aproxima deste em termos do
tema de género, este artigo que pertence a Miranda tenta perceber como é que se
constroem socialmente as identidades de género nas crianças. A autora entende que

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existe o “doing gender” e o “undoing gender” e que isto parte muito da família (sendo
que na mesma enquanto adultos têm também isso presenciado) e da escola. A autora
mostra ao longo do artigo a importância da socialização, da individualização e da
avaliação. Principalmente na avaliação ela explica que uma criança avalia-se como algo
que “supostamente” foge às normas da sociedade no sentido de identidade de género
mesmo se a mesma se sentir confortável assim, porque é algo que por si mesmo vai
sendo construindo na própria sociedade, sendo que a escola dá esse maior exemplo. A
dificuldade em cada uma das crianças pode ser ela tentar se “ela mesma” pelo facto
existirem papéis enraizados para cada género, o “dever ser” dentro da Feminilidade e
Masculinidade e a pressão da Família. Em contraoposição a autora explica também que
ao uma criança levar-se como “única” /” singular” na maneira como age perante o seu
género não causa qualquer distúrbio na sociedade levando a provar que somos nós
(indivíduos) dentro de uma sociedade que criamos as identidades de género pela
maneira que agimos perante isso.

Por fim, ao já termos todo o contexto, toda a teoria e ainda as próprias conclusões de
algumas partes do Método de Investigação vamos tentar perceber a como é que se
chegou a este ponto. É importante começar por dizer que todos os artigos usam o
método qualitativo, dois baseiam-se em Entrevistas e os outros dois em Questionários.
Começando pelo artigo de Lopes, Ferreira e Coelho, a técnica utilizada foi um
questionário online que se baseava numa Universidade Pública Portuguesa (não
mencionada no artigo) sobre o controlo do projeto SUPERA ou melhor dizendo:
“Supporting the Promotion of Equality in Research and Academia”. O questionário foi
enviado por email a todos os staffs e ficou ativo entre 10 a 20 de Setembro de 2020, 281
questionários foram respondidos que correspondeu a 14% do Staff Académico. O
questionário foi apresentado como um “inquérito sobre as condições de trabalho e
perceções sobre o desempenho académico durante a crise COVID-19, a fim de moderar
os efeitos da autosseleção associadas a inquéritos sobre questões de género”, consistiu
em questões abertas e fechadas, continha uma série de questões sobre condições de
trabalho e estratégias para acomodar a distância de ensino/trabalho remoto, atribuição
de tempo (ao trabalho doméstico, familiar e académico) e produção científica durante o
COVID-19. Toda a análise de respostas foi feita através do SPSS. Em relação a
resultados a representação de mulheres e homens na amostra foi relativamente
equilibrada (54% e 45%, respetivamente). As inquiridas femininas em comparação com

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o universo foram particularmente proeminentes nos níveis superiores da carreira
académica. Tendo em consideração tudo isto, Lopes, Ferreira e Coelho mencionam que
os resultados são os seguintes:

“…academic women are more exposed not only to the severity of


psychological/emotional effects of the COVID-19 crisis but also to the increased burden
of domestic work during the “stay-at-home order”, broadly in line with early
international research on the effects of the pandemic in housework routines of academic
(…) the pandemic appears not only to disproportionately affect the housework and care
routines of women (especially younger academic mothers), but also the personal
routines of female academics (…) survey results show substantial differences betei male
and female respondents´ perceptions on how the pandemic has affected their academic
work (…) we see that the reinforcement of teaching and institutional and departmental
service observed during the confinement is specially bound to female dedication,
lending strong support to early interview based studies. In the case of academic mothers
(and fathers), the priority given to teaching occurs at the expense of research activities,
which are critical to career progression. The study also gives important insights on the
extent to which the 27 children had an impact on academic productivity (…) placing
women scientists with children up to 12 at particular disadvantage as compared to
women without children and men (with and without children)…” (Lopes, Ferreira e
Coelho, 2021: 26-27)
Dito por outras palavras, as mulheres tiveram sem qualquer dúvida sobre os maiores
efeitos do lockdown do COVID-19 não tendo afetado a vida doméstica e sim a vida
académica (especialmente mulheres que têm crianças).

O próximo artigo que também usou questionário foi o de autoria de Ramalho e Vaz. O
questionário foi realizado online sendo a sua amostra os indivíduos registados no site
forumtrans.net. De acordo com Ramalho e Vaz foi realizado em…

“…três partes: (1) a primeira, composta por 18 questões, destinava -se à recolha dos
dados sociodemográficos; (2) a segunda, composta por 22 questões, pretendia avaliar as
práticas clientelares com as travestis trabalhadoras do sexo; (3) e, por fim, a terceira,
composta por 6 questões, visava compreender como é que os t-lovers consideravam ser
percepcionados socialmente e, em resposta, geriam a sua identidade (…) O inquérito foi
elaborado através da plataforma Google Docs. A partir dela foi gerado um link de
acesso que foi disponibilizado no tópico de discussão, por nós desenvolvido, durante
um período de, aproximadamente, 6 meses…”. (Ramalho e Vaz, 2016: 8)
Foram obtidas 165 respostas, sendo 18 excluídas. Portanto ficaram-se por 147 respostas.

Sendo que os dados são específicos em relação ao contexto dos indivíduos ficaremos
pelo mais importante, resumidamente Ramalho e Vaz deram conta através dos
resultados obtidos que:

“…os t-lovers, frequentadores e membros ativos do forumtrans.net, eram do sexo


masculino, predominantemente com idades compreendidas entre os 30 e os 49 anos

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(68,8%). Apresentavam um elevado grau de escolarização e uma condição
socioeconómica bastante segura. Em termos relacionais, a grande maioria (66,7%)
encontrava-se casada, a viver em união de facto ou, sendo solteiros, estavam envolvidos
numa relação estável com as suas namoradas e companheiras. Eram, portanto, “cidadãos
comuns” que contribuíam para a sociedade e cumpriam as suas obrigações civis e
familiares, situação que vem contrariar as representações sociais dominantes sobre eles,
que os observam como “anormais” ou “desviantes” por deterem um interesse sexual
dirigido para travestis e procedem a práticas de sexo comercial…” (Ramalho e Vaz,
2016: 13)
Por outras palavras este foi um estudo que concluí que não existe motivo para
discriminação nesse campo e que até mesmo os inquiridos estavam prontos a responder
e a serem percebidos pela sociedade levando a querer pelos próprios autores que estes
temas devem ser cada vez mais estudados.

Em relação àqueles que utilizaram entrevistas falaremos primeiro de Jordão,


Carvalho e Diogo. Pois apesar de serem os dois artigos a utilizarem as entrevistas,
foram utilizadas de maneira diferente. De acordo com Jordão, Carvalho e Diogo (2021:
6) foram “realizadas entrevistas semiestruturadas com três Investigadoras Principais
(PIs) de projetos financiados pela Comissão Europeia, no âmbito do programa
Horizonte 2020, cujo o objetivo principal é a implementação de GEPs em Instituições
de Ensino Superior”

Jordão, Carvalho e Diogo optaram por utilizar…

“…16 questões abertas (open-ended), organizadas em torno de dois grandes blocos: um


relacionado com o enquadramento e a igualdade de género, o outro centrado nas
iniciativas de igualdade de género implementadas e nas experiências de resistência.
Antes da entrevista, foi facultada a cada uma das entrevistadas informação sobre os
objetivos do estudo e sobre os procedimentos de processamento e armazenamento dos
dados; foi também assinado um consentimento informado. As entrevistas foram
realizadas presencialmente, gravadas e posteriormente transcritas…” (Jordão, Carvalho
e Diogo, 2021: 7)
De acordo com os autores os resultados foram complicados pois existiu resistência
por parte das empresas para responder. Mas através das próprias respostas conseguiram
perceber que a desigualdade tende a não ser considerada como um problema, que existe
uma grande falta de informação dentro das empresas sobre este tema fazendo com que
também não exista a vontade de implementar soluções para este mesmo problema. Os
próprios autores mencionam neste artigo do ano passado que estão a tentar criar
soluções para este problema.

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Em comparação com este artigo falta o último artigo que utiliza entrevistas como
Técnica de Investigação. Pertence a Miranda e o seu artigo é baseado num estudo de
caso denominado de “Processos de construção social das identidades de género nas
crianças: um estudo de caso com um grupo de pré-adolescentes em Viseu”. Mais
especificamente baseou-se numa turma de quinto ano de escolaridade onde se tentava
compreender os processos de construção social das identidades de género e mecanismos
neles inscritos. A autora não utiliza dados específicos, limita-se a utilizar a teoria para
explicar ao mesmo tempo os resultados e incorporar com a sua perspetiva (resultados
estes que já foram revistos neste texto).

A diferença entre cada um dos artigos que articula entrevistas é clara, sendo que um
articula mais as entrevistas e outro limita-se a teorias e conceitos. Em contrapartida nos
dois artigos que utilizam questionários é claro a proximidade, sendo que ambos até
utilizam os questionários online o que muda é a sua população-alvo.

Por fim, com toda a consideração da análise aqui feita é necessário dizer que a nível
pessoal achei todos os artigos muito enriquecedores, para além de serem recentes em
termo de temas são muito ricos de informação, mesmo aqueles que não têm muita
informação estatisticamente. É possível notar a clara importância do tema da
Sexualidade e Género, sendo também muito importante fazer o que os autores Ramalho
e Vaz fazer. Analisar/Estudar aquilo que ainda não foi estudado, especialmente dentro
deste tema. Existem milhares de temas por explorar. Porém algo que foi percetível pela
minha parte foi a pouca informação quando os artigos se limitem mais á parte da
Sexualidade. Daí ser necessário analisar cada vez mais este tema. Foi realmente um
tema que pessoalmente achei imensamente importante e interessante.

Posto isto e concluindo de vez a minha pergunta de partida é: Quais as diferenças de


género a nível de resultados nos estudantes da Universidade de Faro?

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Referências Bibilográficas

Jordão, C., Carvalho, T. e Diogo, S. (2021). Sexualidade e Género Planos de Igualdade


de Género nas Instituições de Ensino Superior em Portugal: A Remar Contra a
Corrente?

Lopes, M., Coelho, L. e Ferreira, V. (2021). Sexualidade e Género Academia lockdown:


the gendered effects of COVID-19 on academic working conditions and performance.

Miranda, P. (2014). Habitar um corpo sexualizado: tensões e ambiguidades na


construção dos géneros.

Ramalho, N. e Vaz, A. (2016). Quem são os clientes das travestis trabalhadoras do


sexo em portugal?

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