Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FRANCA
2016
VALÉRIA DE REZENDE PEREIRA
FRANCA
2016
DEDICO este trabalho a todos aqueles que sofrem o
preconceito e a exclusão social por terem suas subjetividades
marcadas como “diferentes” do padrão hegemônico e, em
especial, ao jovem Erlon que concedeu a gentileza de
compartilhar comigo seus sentimentos.
AGRADECIMENTOS
Convivendo com jovens estudantes, percebo que, no espaço escolar, pouco se fala
de temas como sexualidade e gênero, criando um silêncio que sufoca as dores
daquelas/es que não se encaixam nas regras das categorias hegemônicas. Além
disso, quando a escola aborda este tema, é sempre sob a perspectiva da
heterossexualidade reprodutiva. Nesta pesquisa, procuro analisar os
posicionamentos interacionais de sexualidade e gênero observados em artigos de
opinião do blog Integra, bem como identificar as ordens de indexicalidade de
sexualidade e gênero presentes em tais artigos. O blog Integra foi criado em uma
instituição de ensino heterossexista, cujo contexto não abarca questões
relacionadas ao grupo LGBTT. O escopo teórico parte da concepção de atos de fala
performativos elaborados por Austin (1990), Derrida (1973) e Butler (2003), de
letramentos digitais propostos por Davies & Merchant (2009) e das conceituações de
sexualidade e gênero pelas teorias queer (BUTLER, 2003; LOURO, 2004).
Acreditando que a pesquisa científica deve dialogar com as práticas sociais ( MOITA
LOPES, 2004; RAJAGOPALAN, 2010), escolhi os temas sexualidade e gênero,
porque compreendo o trabalho docente como oportunidade para refletir sobre o
sofrimento de todas/os que são colocadas/os na área sombria e obscura da
sociedade, abordando temáticas silenciadas na escola e articuladas na web. Além
disso, o trabalho traz à tona os corpos de sujeitos sociais cujas histórias eram
apagadas na Modernidade. Neste sentido, realizei uma pesquisa de cunho
etnográfico virtual (HINE, 2004) e os instrumentos de geração de dados são quatro
artigos de opinião encontrados no blog. O instrumental analítico se embasa em
posicionamentos interacionais propostos por Goffman ([1979], 1998) e nas ordens
de indexicalidade de Blommaert (2008, 2010). Foram utilizadas como categorias de
análise as cinco pistas indexicais definidas por Wortham (2001), os dêiticos e as
modalizações sugeridas por Bronckart (2007). Dentre os resultados, observei que os
posicionamentos interacionais encontrados nos textos são de um blogueiro do
interior, que se afirma gay e ciente de sua sexualidade. Em relação às ordens de
indexicalidade, constatei que o blogueiro aponta para padrões estratificados de
significados referentes a normas e convenções socioculturais em detrimento de
outras, como o conservadorismo das cidades interioranas, a web como espaço
favorável ao relacionamento gay e a ditadura do físico belo nos relacionamentos
homoafetivos.
Living with young students, I realized that, at school, little is said about themes such
as sexuality and gender, creating a silence that smothers the pain of those who do
not fit the rules of the hegemonic categories. In addition, when the school deals with
this topic, it is always from the perspective of reproductive heterosexuality. In this
research, I analyze the interactional positionings of sexuality and gender observed in
the articles presented on blog Integra, as well as, to identify the indexicality orders of
sexuality and gender, perceived in such texts. The blog Integra was created in a
heterosexist educational institution, whose context does not cover issues related to
the LGBTT group. The theoretical scope uses the concept of performative speech
acts developed by Austin ([1962] 1990), Derrida (1988) and Butler (2003), digital
literacies proposed by Davies & Merchant (2009) and sexuality and gender concepts
by queer theories (BUTLER, 2003; LOURO, 2004). Believing that scientific research
must dialogue with the social practices (MOITA LOPES, 2004; RAJAGOPALAN,
2010), I chose the sexuality and gender issues in order to reflect on a theme which is
silenced in schools and at the same time quite articulated in web. Furthermore, the
work brings out the social subjects of bodies whose stories used to be erase in
Modernity. In this sense, I realized a virtual ethnographic research (HINE, 2004) and
the data generation instruments are four opinion articles found on the blog. The
analytical tools were based on interactional positionings proposed by Goffman
([1979] 1998) and the indexicality orders of Blommaert (2008, 2010). The five
indexical clues defined by Wortham (2001), the deictics and modalizations suggested
by Bronckart (2007) were used as analysis categories. As a result, I observed that
interactional positionings presented in the texts are a blogger blogger from a small
town, who claims to be gay and aware of his sexuality. Regarding indexicality orders,
I noticed that the blogger points to stratified patterns of meanings regarding norms
and socio-cultural conventions over others, such as the country consservatism, the
web as a helpful tool to gay relationship and the beautiful physical dictatorship in
homoaffective relationships.
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 9
1. LINGUAGEM COMO PERFORMANCE ................................................................ 16
2. SEXUALIDADE E GÊNERO PELAS TEORIAS QUEER ..................................... 23
2.1 MUNDO LGBTT E SUBJETIVAÇÕES URSINAS...............................................30
3. METODOLOGIA DE PESQUISA .......................................................................... 35
3.1 A INTERNET E A ETNOGRAFIA VIRTUAL ........................................................ 35
3.2 CONTEXTO DE PESQUISA ................................................................................. 40
3.3 POSICIONAMENTO INTERACIONAL E ORDEM DE INDEXICALIDADE......... 46
3.4 INSTRUMENTO DE GERAÇÃO DE DADOS E CATEGORIAS DE ANÁLISE ... 49
4. OS POSICIONAMENTOS INTERACIONAIS E AS ORDENS DE
INDEXICALIDADE DE UM BLOGUEIRO URSO ...................................................... 52
4.1 O BLOG INTEGRA..............................................................................................52
4.2 CONHECER NOVAS PESSOAS. ........................................................................ 56
4.3 BALADINHA. ......................................................................................................... 65
4.4 TEMPESTADES DE ILUSÃO..............................................................................72
4.5 SENTIMENTO DE ESTAR SEMPRE PROCURANDO.......................................79
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 87
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 90
ANEXOS ...................................................................................................................... 95
9
INTRODUÇÃO
1
As variações de gênero a(s)/o(s) e demais formas que aparecem ao longo deste texto, são
utilizadas para se referir às diversas possibilidades de gênero.
2
Na literatura, encontramos outros termos que se referem à ideia de Segunda Modernidade. Giddens
(1991) faz uso do termo Modernidade Reflexiva, em referência às transformações do mundo atual e
ao momento de reflexão e reinvenção da vida contemporânea. Em relação às mesmas mudanças,
Bauman (2001) emprega também o termo Modernidade Líquida e Rampton (2006) Modernidade
Tardia.
10
3
É importante ressaltar que, neste trabalho, seguiremos a diferenciação gráfica “discurso” e
“Discurso” proposta por James Gee: enquanto o primeiro designa os produtos da linguagem praticada
no cotidiano pelos falantes de uma determinada língua, o segundo “integra modos de falar, ouvir,
escrever, ler, agir, interagir, acreditar, valorizar, sentir e usar vários objetos, símbolos, imagens,
ferramentas e tecnologias, com a finalidade de ativar identidades e atividades significativas,
socialmente situadas” (Gee apud GUIMARÃES, 2014, p.71).
4
Desde junho de 2011 discute-se na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados,
11
Assim, enquanto um número cada vez maior de setores sociais mobiliza-se em prol
do respeito às minorias sexuais, outra parcela de cidadãos brasileiros investe no
repúdio a estes grupos, bem como em sua marginalização. É importante refletirmos
como posicionamentos sociais e declarações de juízos de valor, em absoluto,
diferentes coabitam um mesmo espaço e, por isso, discuto, neste estudo, como a
web 2.0, enquanto contexto híbrido, comporta tanto facetas tradicionais quanto
contraditórias a respeito de discussões políticas, raciais, misóginas, entre outras.
Assumindo uma postura participativa nas referidas circunstâncias do
cotidiano nacional, esta pesquisa propõe uma contribuição às reflexões sobre a
condição daquelas/es que se veem excluídas/os dos padrões hegemônicos de
sexualidade e gênero no país. Corroboro a concepção de Rajagopalan (2010) a
respeito da pesquisa linguística que se faz no próprio âmbito da realidade em que
está inserida, logo, os objetivos a seguir relatados demonstram em que sentido tal
axioma perfaz-se neste estudo.
Ao iniciar minha pesquisa e aprofundar-me no estudo das teorias
queer, vislumbrei a possibilidade de trabalhar com os temas ligados a sexualidade e
gênero através de redações produzidas em sala de aula por alunas/os do ensino
técnico integrado com o ensino médio. Entretanto, os encargos que a submissão da
pesquisa ao comitê de ética demandaria poderiam comprometer de forma
substancial o tempo de execução do projeto. Sendo assim, alterei o percurso da
pesquisa e passei a fazer uma outra configuração do meu estudo.
Ciente da militância de um grupo LGBTT presente na Escola em que
atuo, passei a considerar a possibilidade de articular com o mesmo alguma maneira
de trabalhar, dentro da Instituição, a temática citada. Docente há quase vinte anos
nesta Instituição, entendi que ela, a Escola, apresentava um perfil extremamente
desafiador para se desenvolver a discussão de temas como sexualidade e gênero.
Valendo-se dos textos produzidos no blog Integra, concebido e
coordenado por alunas/os do Instituto Federal do Sul de Minas Câmpus
Muzambinho, minha pesquisa tem como objetivo geral analisar os posicionamentos
presidida pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), a aprovação o Decreto Legislativo 234,
conhecido como “cura gay”, pelo qual se suspende um parágrafo de uma resolução do Conselho
Federal de Psicologia que impede os psicólogos de colaborar “com eventos e serviços que
proponham tratamento e cura das homossexualidades”. No momento o projeto tramita por comissões
e, caso aprovado, será votado na Câmara dos Deputados. In: BRASIL. Projeto de Decreto Legislativo
nº 234/2011, apresentado em02jun2011. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoes
Web/fichadetramitacao? idProposicao=505415 Acesso: 11 julho 2015.
12
5
Tradução minha.
13
6
Verificar nota 3.
7
Nesta pesquisa o termo "urso" e, contiguamente, a expressão "subjetivações ursinas" são utilizados,
15
assim como em Cerqueira e Souza (2015, p. 268), para alusão a um "esquema corpóreo de gays que
usualmente exibem corpos parrudos, barba cheia e/ou grande, assim como pelos em outras regiões
do corpo (como na região torácica, nas costas, nos braços e nas pernas)".
16
8
Segundo Austin (1990), a ação inscrita no proferimento estaria sujeita à felicidade (efetivação) ou à
infelicidade (falha) em sua realização.
19
por sua vez, aprofundam a questão das condições de realização de atos de fala
performativos e constatativos, desenvolvendo os conceitos “locucionário”,
“ilocucionário” e “perlocucionário”. O ato de fala locucionário corresponde ao que
temos por declaração, ou mero “dizer algo”, que poderia ser exemplificado como um
proferimento do tipo “a janela está aberta”. Se tal proferimento, por sua vez, é dito
em determinadas circunstâncias – anteriormente a uma exclamação do tipo “estou
com muito frio” – ele pode advertir ou anunciar uma ação daquele que o emite,
caracterizando um ato de fala ilocucionário. Ainda é possível que em determinadas
condições – em uma casa com uma forte nevasca, após uma queixa de frio do
interlocutor, por exemplo – pressuponha-se a intenção de causar alguma disposição
especial no ouvinte – como a iniciativa de fechar a janela – e isto caracterizaria um
ato perlocucionário. É neste sentido que Austin expõe como todo dizer é de fato um
fazer, uma vez que a ocasião de um proferimento tem enorme importância e que as
palavras utilizadas têm de ser, até certo ponto, "explicadas" pelo "contexto" em que
se inserem, ou em que foram realmente faladas numa troca linguística. Contudo,
talvez ainda nos inclinemos demasiado pelas explicações em termos do "significado
das palavras". (AUSTIN, 1990 [1962], p. 89)
Derrida (1973), em sua releitura dos atos de fala propostos por Austin,
direciona um aprofundamento das premissas sobre as condições para o sucesso e o
insucesso do proferimento, a intencionalidade e, principalmente, vale-se do conceito
da iterabilidade para compreender as instâncias em que a individualidade e os ideais
regulatórios relacionam-se: justamente pelo fato de o sujeito não ser plenamente
consciente e não ter total domínio de sua intenção é que suas escolhas estão no
campo do indecidível, do não-calculável (SANTOS, 2008 p. 1560). Butler, por sua
vez, corrobora o pensamento do filósofo franco-argelino ao contestar a própria ideia
de ritualização da performatividade de Austin. Esta contestação fundamenta sua
argumentação sobre a constituição do corpo pelo desejo no processo de
incorporação que caracterizaremos posteriormente.
Assim sendo, pode-se concluir que Derrida (1973) problematiza as
condições para realização dos atos de fala colocadas por Austin, que tornavam
estes últimos invariavelmente performativos em sua essência. Contra a suposta
supremacia dos atos de fala sinalizada por Austin, e em prol de uma inerência entre
repetição e linguagem, Derrida instaura a questão da citacionalidade e, por meio
dela, demonstra que “a condição de possibilidade dos enunciados é a repetição, que
20
aqui “não diz respeito a diferenças entre coisas, mas sim entre rastros. Isso significa
dizer que se tem algo que vem primeiro é a própria ‘diferencialidade’, o que Derrida
chama de différance.” (DARDEAU, 2011, p. 61). Este aspecto remonta à linguagem
que executa ações e, por isso, também constitui corpos e subjetividades. Ela
também nos leva ao conceito austiniano de uptake, termo que, segundo Pinto (2007,
p. 8), pode ser entendido como “a relação de inter-significação, quando as forças
envolvidas no ato de fala estão sendo negociadas pelos/as falantes.” Corresponde
ao “momento da enunciação (...) em que há o reconhecimento entre os
interlocutores de que algo está assegurado” (OTTONI, 2002, p. 134), ou seja, ele
envolve não apenas a enunciação de um “eu”, como também a recepção deste “eu”
pelo Outro, descentralizando, assim, a realização do ato de fala antes fundamentada
no falante. Instaura-se, então, a ideia da diferença na repetição, a possibilidade de
se criarem novos sentidos na repetição de um vocábulo em contextos de iteração
diferentes, o que caracteriza a performatividade (PINTO, 2007, p. 8). Sendo assim, a
iterabilidade, repetição do ato de fala submetido à alteridade, ocorre repetidas vezes
em momentos diferentes e possibilita que o signo seja ressignificado, ou seja, não
se submete à sedimentação, tornando-se performatividade. Este princípio foi
especialmente desenvolvido por Judith Butler acerca das teorias de sexualidade e
gênero e, como explicito adiante, foi também adotado pela pesquisa.
Segundo Derrida (1973), haveria um transbordamento do conceito de
linguagem que não estaria mais dando conta de tudo o que foi reunido sob ele ao
longo da história do pensamento Ocidental. Em conformidade com tal concepção de
transbordamento, é possível conceber a relação proposta por Butler (2003) entre
corpo, sexualidade e gênero. Com relação à incompatibilidade do que se tem por
identidade com os atos de fala performativos, a filósofa demonstra como a produção
de discursos e suas esferas semânticas ocorrem antes na contingência da sua
prática do que na abstração conceitual, como nos lembra Ottoni (2002) a respeito do
pensamento austiniano.
Ao construir “aquilo que chama de ‘uma teorização discursiva da
produção cultural do gênero’ (...) ela [Butler] trabalha a partir da premissa de que o
gênero é um construto discursivo, algo que é produzido” (SALIH, p. 74, 2013). A
autora também concorda com a proposta austiniana de que os atos de fala são
performativos e com o conceito da iterabilidade e citacionalidade de Derrida,
consequentemente, ao afirmar que fazemos coisas com a linguagem e que isso
22
9
“O Panóptico de Bentham é a figura arquitetural dessa composição. O princípio é conhecido: na
periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se
abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma
atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior,
correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela
de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um
doente, um condenado, um operário ou um escolar.” (FOUCAULT, 1987, p.223).
26
1990, p. 39), Butler propõe uma leitura do gênero pelo deslocamento, na qual a
performatividade permite um discurso que vai, além do Eu, para o Outro:
Nesse sentido, o gênero não é um substantivo, mas tampouco
é um conjunto de atributos flutuantes, pois vimos que seu efeito
substantivo é performativamente produzido e imposto pelas
práticas reguladoras da coerência do gênero.
Consequentemente, o gênero mostra ser performativo no
interior do discurso herdado da metafísica da substância - isto
é, constituinte da identidade que supostamente é. Nesse
sentido, o gênero é sempre um feito, ainda que não seja obra
de um sujeito tido como preexistente à obra (BUTLER, 2003, p.
48).
Aquilo que se tem usualmente por gênero acontece no interior das leis
que regem os jogos de poder na sociedade, sendo por elas conformadas. Neste
sentido, são as identidades de gênero que legitimam os juízos que as fundamentam,
27
10
Tradução minha. “Cuando la distinción sexo/género se une a una noción de constructivismo
lingüístico radical, el problema empeora aún más, porque el "sexo", al que se define como anterior al
género, será en si mismo una postulación, una construcción, ofrecida dentro del lenguaje, como
aquello que es anterior al lenguaje, anterior a la construcción. Pero este sexo postulado como anterior
a la construcción se convertirá -en virtud de haber sido postulado- en el efecto de esa misma
postulación, la construcción de la construcción. Si el género es la construcción social del sexo y sólo
es posible tener acceso a este "sexo" mediante su construcción, luego, aparentemente o que ocurre
es, no sólo que el sexo es absorbido por El género, sino que el "sexo" llega a ser algo semejante a
una ficción, tal vez una fantasía, retroactivamente instalada en un sitio prelingüístico” (BUTLER, 2002,
p. 23).
29
11
Conceito desenvolvido por Laclau e Mouffe. Conferir: Laclau E. e Mouffe, C (1987). Hegemonía y
estratégia socialista: hacia una radicalización de la democracia. Madrid: Siglo XXI
33
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
12
Tradução minha. “La presencia sostenida del etnógrafo en su campo de estudio, combinada com
un compromiso profundo con la vida cotidiana de los habitantes de ese campo (...); EI crecimiento de
las interacciones mediadas nos invita a reconsiderar La idea de una etnografía ligada a algún lugar en
concreto o, inclusive, a múltiples espacios a la vez. (...);La etnografía virtual es un intersticio en eI
sentido de que convive entre varias actividades, tanto deI investigador como de los participantes del
estudio.(...); La etnografía virtual es irremediablemente parcial (TRIPP, 2005, p. 445).”
40
etária diverificada e conta com uma classe estudantil mais politizada e engajada com
militâncias diversas, inclusive a LGBTT.
No primeiro contato que tive com as/os estudantes, senti nitidamente
uma boa receptividade e, também, a manifestação explícita da necessidade de um
espaço ou instrumento de articulação da temática LGBTT como um recurso
imperioso para se trabalhar a questão. Para mim, ficou evidente e comprovado o
silenciamento da Instituição em relação às perspectivas referentes a temáticas
consideradas dissidentes normativas. Compartilhar com ess as alunas/os a
discussão, já ativa dentro do grupo, da temática LGBTT e dividir com elas/es suas
ideias, vivências, conflitos, angústias e carências foi uma experiência enriquecedora
para minha pesquisa.
A partir de janeiro de 2015, comecei alguns contatos com jovens que
se identificavam com a causa e queriam falar sobre a referida temática, passando a
realizar encontros semanais, que aconteciam dentro do espaço escolar. Nosso
primeiro contato aconteceu em 07 de janeiro de 2015 com a/o aluna/o Águia13 que
apresenta uma forte liderança e grande aceitação dentro da Escola e também uma
voz representativa do grupo assumidamente gay e bissexual do Câmpus. Percebi
que Águia foi realmente uma escolha preciosa para conhecermos a realidade das
relações interpessoais e os posicionamentos interacionais perante as questões de
sexualidade e gênero naquela coletividade. A postura da/do jovem possibilitou que o
seu grupo, e, principalmente ela/ele, Águia, criasse uma nova perspectiva perante a
visão binária de sexualidade e gênero dentro da Escola. Observei que o grupo que
busca legitimidade para a livre opção de sexualidade e gênero vem conseguindo seu
espaço num ambiente tradicionalmente heteronormativo, através de uma postura de
respeito e aceitação à individualidade e valorização dos seus direitos e do seu
próximo.
Foi Águia quem, após três encontros, articulou o contato com as/os
demais estudantes e organizou um primeiro encontro com outras/os alunas/os
adeptas/os à causa, no dia 30 de janeiro de 2015 e, depois, minha primeira reunião
com um grupo maior (média de dez alunas/os), no dia 09 de fevereiro deste ano.
O grupo apresentava um perfil bastante eclético, contando com jovens
entre 15 a 25 anos, estudantes desde o ensino médio integrado com o curso técnico
13
Nome fictício criado com a finalidade de preservar a identidade da pessoa, que será referida, no
texto, sem marcação de gênero.
42
até alunas/os de graduação. Fiz uma breve apresentação das teorias queer e a
minha proposta de desenvolver uma dissertação de mestrado dentro desta área.
Deixei claro meu objetivo de analisar como as questões de sexualidade e gênero,
que fogem do padrão dominante da sociedade e geram sofrimento àqueles que se
opõem à ordem estabelecida, eram tratadas dentro do ambiente escolar. As reações
foram diversas, mas, de início, a maioria ficou retraída, querendo mais ouvir do que
falar.
Como vinha de uma experiência de gestão escolar, após passar alguns
anos na vice-direção do Instituto, quando iniciei minha convivência com essas/es
alunas/os, então em um outro contexto, a pesquisadora ouvindo e conversando
sobre questões alusivas a sexualidade e gênero com jovens estudantes, notei que o
rótulo de diretora ainda estava presente e dificultava esta relação. As/os alunas/os
chegaram a me questionar como seria a participação delas/es, se deveriam falar de
questões específicas elencadas por mim ou se poderiam, livremente, tratar de
assuntos que fossem de seus interesses. Neste momento, deixei claro meu objetivo
de “ouvir” o que eles de fato gostariam de comentar e discutir sobre os temas
suscitados nos encontros, salientando a total autonomia que teriam para conduzir o
rumo das discussões. Evidenciei também a necessidade de que elas/es passassem
a me enxergar não mais como a diretora da Instituição e sim como a professora
pesquisadora que se propunha a tratar de temas que fazem parte do dia a dia da
sociedade e muito interessam à escola. Em nossos encontros, minha participação
limitou-se mais a observar, ouvir e responder aos questionamentos feitos.
Surgiu, então, da parte das alunas e dos alunos, a ideia de se criar um
blog que funcionasse como espaço de expressão e discussão de temas como
sexualidade e gênero e pudesse servir de apoio a jovens que se identificam com a
causa LGBTT e demais alunas/os do Instituto. Ressaltaram a necessidade de
informação para as/os adolescentes conviverem com problemas como doenças
sexualmente transmissíveis, dificuldade de relacionamento familiar, inabilidade para
se impor no meio social em que vivem, bem como despreparo e falta de referência
para se relacionarem com o coletivo sem invadir ou agredir a individualidade das
pessoas, respeitar a opinião de terceiros e saber se posicionar no dia a dia da
sociedade. Mencionaram que, através do blog, muitas/os jovens que convivem com
essas dificuldades sentir-se-iam seguras/os para falar de seus receios e suas
histórias sem necessariamente se expor. Ao mesmo tempo, o blog poderia ser usado
43
14
O blogueiro autorizou a divulgação do seu nome. Por ele referir-se a si próprio com a designação
de gênero masculina nos posts, fiz o mesmo ao referir-me a ele ao longo do texto.
15
Aqui a forma como a sigla LGBTT foi utilizada no blog Integra.
44
postagens adiante.
Sendo assim, procurei interpretar o que motivou este fenômeno. Por
que razão entre tantas/os alunas/os interessadas/os em promover a discussão sobre
temas pertinentes ao seu mundo, à sua realidade, e, ao mesmo tempo, pouco
reconhecidos pela sociedade, desapareceram do cenário proposto por elas/es
próprias/os e se emudeceram.
Fazendo uma retrospectiva das falas observadas durante nossos
encontros anteriores, recordei que, ao se estabelecerem as atribuições que cada
aluna/o assumiria na manutenção do blog, muitas/os revelaram dificuldade de se
expressarem através da cultura letrada. Sentiam-se mais à vontade falando16, em
nossos encontros, e preferiam não se responsabilizar por enviar os textos a serem
postados no blog. Em um outro momento, cheguei a ouvir o seguinte
posicionamento: “Olha, toma cuidado, você escreve muito errado e ela (no caso, a
pesquisadora, eu) é professora de português.” 17
Diante dessas constatações, concluí que realmente o que dificultou a
circulação de uma variedade maior de autoria de textos no blog, com certeza, foi a
falta de domínio ou familiaridade com o letramento, impedindo assim, que outr as/os
alunas/os se manifestassem e expusessem seus posicionamentos interacionais em
relação aos temas sexualidade e gênero no blog Integra. Talvez até uma resistência
em aceitar o formato blog como forma de circulação e aquisição de conhecimento.
Aqui, é preciso que entendamos como concebo os letramentos digitais enquanto
forma predominante de apropriação do código escrito e produção de conhecimento
entre as/os jovens que inclui não apenas a incorporação de “instrumentos
multisemióticos” à escrita (imagens, sons, vídeos, etc...), bem como a instauração de
um meio “de construção, de disputa, de contestação de significados” ( MOITA
LOPES; FABRÍCIO, 2010, p. 398).
Logo, o princípio do qual iniciei, a partir da sugestão do formato blog,
feita pelas/os alunas/os – a possibilidade de transgressão tanto de paradigmas
textuais prestigiados na escola como de paradigmas de juízos de valor sobre gênero
e sexualidade – visava a uma proximidade com o cotidiano das/os alunas/os e,
portanto, um maior entendimento de como elas/es pensavam tais temas. A
abordagem da temática por meio de veículos digitais também foi pensada como
16
Grifo meu.
17
Grifo meu.
45
18
Tradução minha. “It is the interplay between creativity and determination that accounts for the
social, the cultural, the political, the historical incommunicative events -- the connection between
agency and structure, or micro-events and macro-relations and patterns in society” (BLOMMAERT,
2005, p. 99).
49
indexical, uma vez que é no cotidiano escolar, em meio a gírias e interações entre
pátios e salas de aula que nascem as tribos urbanas. Os modalizadores
epistêmicos, por fim, produzem itens indexicais utilizados para reforçar a veracidade
do proferimento.
São, portanto, os elementos contextuais que reivindicam os temas
recorrentes tanto nos textos argumentativos como nas análises, manifestando-se
através de itens indexicais:
(...) os elementos de contextualização funcionam como
âncoras, fornecendo um terreno indexical que orienta as
pressuposições e expectativas dos interlocutores em relação
ao encontro interacional, guia seu uso de recursos e
estabelece relações entre os signos empregados e os
significados socioculturais que eles designam (FABRÍCIO,
2014, p. 148).
19
Alguns dos canais pesquisados: Canal Põe Na Roda:
<https://www.youtube.com/user/canalpoenaroda>; Canal das Bee:
<https://www.youtube.com/user/CanalDasBee>; Canal Beijei Gostei:
<https://www.youtube.com/channel/UCVrrsOpNgdncPHcunW_xb9Q>; Canal Transviados:
53
jovens para promover a interação entre seus pares, como vem expresso em sua
inscrição: “Integra é uma iniciativa conjunta d@s alun@s LGBT do IFSULDEMINAS
campus Muzambinho, como forma de colocar em pauta discussões pertinentes a
nós”. Além disso, é relevante considerar a origem do nome “integra” como um
substantivo derivado do verbo “integrar” que significa 1- Fazer(-se) inteiro, incluído
num só todo ou conjunto; INCOMPORAR (-SE); 2- Receber alguém num grupo
qualquer, ou adaptar-se a este como membro, como integrante; 3- Ser parte de (uma
totalidade, um conjunto maior). 21 Assim, fica evidente a coerência da escolha do
nome do blog com a intenção proposta no momento da sua criação, podendo ser
admitido qualquer um dos significados acima como sinônimo da ação proposta pelo
grupo de alunas/os.
Aqui há também a presença de alguns dêiticos (“é”, “nós”) que,
segundo Pontes (2009) são expressões linguísticas capazes de indexicar
informações socioculturais. Assim, através do verbo no presente (“é”), aparece a
execução do objetivo proposto pelo blog acontecendo simultaneamente à sua
produção, o que indicia o traço indiscutivelmente próprio do ambiente online.
Também o pronome pessoal de primeira pessoa (“nós”) retoma o sentido de
interação entre comuns (nós = eu e os outros) ao mesmo tempo que remete à ideia
de apropriação do espaço (nosso lugar). Neste sentido, é possível afirmar que as
postagens adquirem feições muito particulares, aproximando-se do relato
confessional. Ainda assim, os posts transcendem a natureza do relato pessoal, pois
identificam uma coletividade concernente a um contexto e expõem questões
cotidianas que dizem respeito a ela.
Em um primeiro momento, o da criação do blog, percebe-se, na
inscrição citada “Integra é uma iniciativa conjunta d@s alun@s LGBT do
IFSULDEMINAS campus Muzambinho, como forma de colocar em pauta discussões
pertinentes a nós”, um posicionamento interacional que remete ao coletivo, expresso
na referência “iniciativa” e na predicação “conjunta”, bem como na referência
“discussão” e na predicação “pertinentes a nós”. Esta situação indexa o que,
naquele momento, era extremamente importante para o grupo: o agir conjuntamente
em prol de uma causa comum a todas/os.
Vale destacar que, posteriormente à publicação do blog, à medida que
21
Disponível em http://www.aulete.com.br/integrar. (acesso em 28/10/2015)
55
a autoria dos textos foi assumida por um único autor, Erlon, ele fez alterações na
primeira versão, mudando inclusive a sua inscrição: “Integra é uma iniciativa de algo
que nem sei mais explicar mais sinceramente existe, entenda como quizer.”,
conforme demonstra a figura 2.
leitoras/es.
A seguir, passo à análise dos artigos de opinião, que por questões
didáticas, foram divididos em excertos, para facilitar sua compreensão.
Excerto 1
01. “Gente vou começar o post de hoje primeiro me desculpando de não ter postado
02. a algum tempo é a correria do dia a dia que compromete, prometo criar uma
03. frequência maior de publicações no blog afinal e a nossa voz social.”
“publicações”, “blog” e pela predicação “maior” (linha 03). Também quero marcar a
força da modalização deôntica “prometo criar uma frequência maior de publicações
no blog” (linhas 02 e 03), quando o jovem assume uma obrigação social de manter
os laços que o unem com o grupo ao qual se liga, LGBTT, através do compromisso
com a frequência das publicações neste ambiente virtual que as/os colocam lado a
lado.
Erlon reafirma o objetivo de utilizar o blog como espaço de interação e
discussão de assuntos de interesse do grupo LGBTT da Instituição, por meio da
referência “voz” e da predicação “social” (linha 03), o que marca nitidamente a
ordem de indexicalidade de compromisso moral de ajuda ao próximo, àquele que
demonstra necessidade de apoio e encontra-se fragilizado em seu meio social. Com
o uso do pronome de primeira pessoa “nossa”, no mesmo trecho, o blogueiro
resgata novamente a atenção da audiência para si e deixa claro, que naquele
momento, considerava o blog um instrumento coletivo de interação, pertencente,
ainda, ao grupo que o originou.
Excerto 2
04. “Bom sou do interior, lugar onde você sai na porta e todo mundo já sabe o que onde
05. e como você fez alguma coisa por menor e mais simples que essa coisa seja.
06. È disso tudo que nos gays do interior acabamos cada vez ficando mais calados.”
Excerto 3
59
07. “Um saída que encontrei e vou compartilhar com vocês são os app's de gays. Bom gente
08. pra quem ainda não sabe existem alguns app's pra conhecer outros gays, porém o lance
09. dos app's é o seguinte, as pessoas lidam como se tudo isso fosse um grande e
10. diversificado cardápio virtual. Eu mesmo por muitas vezes procurei conversa com
11. pessoas apenas por que curti o rosto ou corpo enfim nos tornamos pessoas rasas
12. nesses app's, o fato de não estarmos frente a frente um ao outro faz com que liberamos
13. uma parte obscura de nos mesmo que e volúvel e superficial.”
Excerto 4
14. “Mais nunca vamos generalizar as interações desses app's, eu por exemplo tive muitas
15. vezes o prazer de olhar perfis e me identificar conhecer amigos e até mesmo paquera
16. olhando pra o que a pessoa é, e não somente para aparência. Acho quando não
17. estamos perto fisicamente devemos sempre estar apertos de alguma forma a conhecer
18. e se relacionar com pessoas, afinal seres humanos tem necessidade de viver em
19. conjunto e quando estamos entre iguais ou semelhantes de alguma forma fica bem mais
20. fácil lidar com situações duras que encaramos no dia a dia.”
primeira pessoa do singular “eu”, “tive”, (ambos na linha 14), “me” (linha 15), as
referências “prazer”, “perfis”, “amigos”, “paquera” (linha 15), “pessoa” e
“aparência”(linha16) e as predicações “de olhar perfis” (linha 15), “o que é” (linha 16)
para se colocar em um posicionamento interacional no qual se procuram amizades e
relacionamentos afetivos por meio de identificações pessoais, para além da
aparência, o que seria, de acordo com a argumentação exposta, um ponto positivo
deste tipo de TIC. Este posicionamento suscita a ordem de indexicalidade da
moralidade nas relações interpessoais, em que valores como princípios éticos,
honradez, caráter, dignidade estão acima de qualquer banalidade expressa por
aspectos fúteis, superficiais e frívolos, como a aparência física tão cultuada por
alguns grupos homoafetivos.
Neste excerto, Erlon estabelece um novo gancho com sua audiência
presumivelmente gay através de referências “iguais”, “semelhantes”, “situações” e de
predicações “bem mais fácil”, “duras” no trecho: “afinal seres humanos tem
necessidade de viver em conjunto e quando estamos entre iguais ou semelhantes
de alguma forma fica bem mais fácil lidar com situações duras que encaramos no
dia a dia.” (linhas 18 a 20), trazendo também de forma clara a modalização lógica
marcada pela caracterização própria do ser humano de fortalecimento quando em
grupo.
Excerto 5
responsável pelo blog. Novamente se faz marcante o uso das cores, o que suscita a
ordem de indexicalidade que atribui ao espaço ocupado pela juventude na
sociedade como um ambiente de despreocupação e de informalidade. Destaco
também o enquadramento da imagem, onde todos os sujeitos aparecem colocados
em um mesmo nível, sugerindo a equidade própria das amizades verdadeiras. A
frase impressa em destaque, no centro inferior da imagem, enfatiza a importância
dos amigos, inclusive aqueles virtuais.
Destaco alguns dos aspectos mais relevantes a respeito dos
posicionamentos interacionais e das ordens de indexicalidade suscitadas nesta
análise. Ao longo de todo artigo, cuja temática desenvolvida foi a utilização de
aplicativos específicos para gays, identifico várias marcas discursivas como a
primeira pessoa sugerida pelos dêiticos pronominais (me, nossa, nos, eu, mesmo) e
verbais (vou, prometo criar, sou, acabamos ficando, encontrei, vou compartilhar,
procurei, curti tornamos, estarmos, liberamos, vamos generalizar etc.) que remetem
a um posicionamento interacional relativo à assunção de uma subjetividade em um
cenário social, bem como à ordem de indexicalidade de identificação de um lugar
entre pares.
Este ponto é recorrente também nos demais artigos que serão
analisados e relaciona-se diretamente com o posicionamento interacional
apresentado nos excertos 1, 3 e 5, segundo o qual se demonstra socialmente
engajado e coerente com o papel crítico que ele assume no contexto em que
discute, ou seja, um gay pertencente a um grupo de alunas/os LGBT de uma
instituição escolar tradicionalmente heteronormativa do interior do estado de Minas
Gerais. Este posicionamento relaciona-se com ordem de indexicalidade de
compromisso social do blogueiro com seus pares e ratifica o caráter político
suscitado pelos princípios queer (LOURO, 2004) no sentido de se assumir em um
microcosmo enquanto componente de uma força que combate uma “verdade”
estabelecida fortemente por um contexto macro da nossa sociedade.
Não obstante, uma análise mais aprofundada demonstra como seus
discursos sobre sexualidade e gênero encontram-se permeados por marcas de um
Discurso que nomeia e hierarquiza indivíduos que como ele, percebem-se fora da
heteronormatividade vigente. Logo, conquanto proponha ao blog uma postura
questionadora e insurgente em relação ao preconceito, Erlon também se mostra
suscetível aos padrões normativos existentes dentro da própria comunidade LGBTT
64
4.3 BALADINHA
Excerto 1
01. “Sabe gente pensei nesse post já alguns dias, porém estava mega sem tempo para
02. escrever então só consegui escrever hoje.”
Excerto 2
03. “Agora sem mais rodeios sabe sair ai como e bom, mais tem tanta coisa por traz que
04. confesso chega a me dar uma certa preguiça sabe. Acho que todo mundo é assim
05. escolhemos a roupa nos maquiamos e lá se foi duas ou três horas tudo isso pensando
06. no que os outros pensam de nós se vamos ser atraentes?, se algum cara vai se
07. interessar por nós?.”
Excerto 3
08. “Passamos noventa por cento do tempo pensando em tudo menos que
09. inconscientemente sabe de certa forma e uma coisa que a sociedade nós condiciona a
10. ser assim. Em uma balada e quase que automático quero achar os caras bonitos ou que
11. de alguma forma nos interessamos e passamos mais tempo assim que esquec o dos
12. amigos no meio disso tudo.”
Excerto 4
13. “Quando era menor nunca fui muito de sair sabe sempre ligava com o que iriam falar ou
14. não de mim,cidade pequena de novo trabalhando contra mim. Outra coisa é que por ser
15. interior não tem baladas gays acaba que são sempre as mesma baladas convencionais,
16. "mais não é a mesma coisa?"alguns vão me pergunta eu digo e afirmo não é não ,sabe
17. quando se esta em ambiente de balada hetero assim se um cara fica com você ele tem
18. que ser assumidamente gay pq a muito mais o lance do disse me disse e por ai vai .”
com você ele tem que ser assumidamente gay” (linhas 17 e 18). Disto pode-se
verificar que existem mesmo as normas no mundo gay, não só para estabelecer
padrões de beleza, mas também padrões de comportamento.
A oralidade, traço característico da linguagem informal de um bate
papo também se faz muito marcante neste trecho, remetendo à aproximação da fala
com sua audiência. Esta característica é expressa pelos dêiticos “sabe” (linha 13),
“outra coisa” (linha 14), “vão me pergunta’’, “eu digo e afirmo” (linha 16), “disse me
disse”, “por aí vai” (linha 18).
Excerto 5
19. Não tenho muita propriedade pra fala sobre baladas para gays não fui em muitas,mais
20. mesmo quando esta numa balada convencional quando estamos com o foda-se ligado
21. acabamos nos divertindo e muito. E muitas vezes um sorriso e bem melhor do que mil
22. beijos sem sentimento. Mais o que queria falar é quando você liga o foda-se sociedade e
23. começa a pensa mais em você fica mais facial e mais agradável acaba dando muito
24. mais risadas e as coisas acontecem naturalmente.
25. Ser feliz tenho apreendido que esta mega ligado ao Foda-se sociedade.,
“TEMPESTADES DE ILUSÃO”
Excerto 1
01. “Gente olha acho que estou encontrando a regularidade das minhas postagens
02. como eu tanto queria, sabe acho que estou começando a entrar em sintonia com o
03. que desejo realmente dizer, de certa forma tiro um peso da minha consciência
04. cada vez que faço um breve relado do que realmente sinto e penso. Sabe aquele
05. momento em que você acha que encontro o então perfeito felizes para sempre eu
06. tenho uma tendencia a achar que todas as pessoas são perfeitas e querem
07. conhecer realmente o verdadeiro amor e tudo mais”
realmente dizer” (linha 03) e “que realmente sinto e penso” (linha 04). Isto suscita a
ordem de indexicalidade do cumprimento do dever, da realização de um pacto
proposto.
Em um tom coloquial “sabe aquele momento” (linhas 04 e 05), típico de
situações de confidencialidade com sua/seu amiga/o íntima/o, Erlon assume um
posicionamento interacional confessional, fazendo revelações da sua mais profunda
intimidade emocional, quando passa a desvelar contatos de intimidade e confissões
de sua vida amorosa, não se envergonhando de mostrar-se em um momento de
vulnerabilidade. Assume-se, sem o menor receio, como uma pessoa inocente “tenho
uma tendencia a achar que todas as pessoas são perfeitas” (linha 06) e “querem
conhecer realmente o verdadeiro amor” (linhas 06 e 07), marcadas nos trechos
destacados pelas referências “tendência”, “pessoas”, “amor”, pelas predicações
“perfeitas” e “verdadeiro” e pelos dêiticos “tenho”, “achar”, “todas”, “querem”,
“realmente”. Esta característica valoriza a autenticidade das pessoas e revela a
ordem de indexicalidade da franqueza e transparência nos relacionamentos
amorosos.
Um terceiro posicionamento interacional assumido por Erlon, neste
excerto, é marcado pela forte necessidade de encontrar a pessoa amada, de
estabelecer um relacionamento estável traduzido na modalização pragmática “Sabe
aquele momento em que você acha que encontro o então perfeito felizes para
sempre” (linha 05), o que suscitará uma ordem de indexicalidade da sociedade
tradicionalista de que a felicidade só se completa com a vida conjugal heterossexual,
e de forma sutil, sugere que todas/os temos que ter um par para sermos felizes na
vida.
No início do post, é possível associar este posicionamento a uma
reflexão que anteriormente suscitei: a maneira pela qual, ao expor questionamentos
e experiências pessoais, o blogueiro põe em pauta e problematiza os temas que, de
maneira geral, relacionam-se com o grupo a que ele se dirige (jovens que se
interessam pela questão LGBTT).
Excerto 2
08. O meu grande problema é a trajetória que eu acabo adotando pra chega a essas
09. conclusões sabem. Na grande maioria das vezes conheço um estranho e em
10. menos de uma semana por meio do papo e tal acabo conhecendo o que ele quer
11. me mostrar, sei que na verdade nem sempre o que as pessoas falam é realmente
75
12. o que elas verdadeiramente sentem , acho que de certa forma não me apaixono
13. pelas pessoas sabe acabo me apaixonando pelas minhas ilusões, é isso mesmo
14. podem achar estranho mais sou uma grande "Alice no Pais das Maravilhas" no
15. mundo eu acabo construindo todo um mundo paralelo na minha cabeça e
16. transportando tudo que verdadeiramente sinto e penso e transponho a pessoa
17. para aquele meu universo paralelo. Sabe no meio disso tudo acabo pensando
18. coisas como será que vamos namorar?,ele gosta das mesma coisas que eu ?,
19. como ele e atencioso?e tantas outras
20. Me fecho no meu mundo e esqueço de realmente ver e perceber o que a
21. realmente quer e quando menos percebo no meio disso tudo já estou apaixonado
22. afinal um coração incapaz de se iludir é um coração incapaz de amar . O problema
23. é depois de 15 ou 20 dias de papo vai papo vem no qual começo verdadeiramente
24. a entrar no intimo da pessoa e acabo vendo que não bem por ali que as coisas
25. rolam por um motivo ou outro vejo claramente que as pessoas estão cada vez
26. mais rasas que só a ultimamente espaço para o sexo e ponto.
Excerto 3
27. Numa dessas me vem um vazio tão grande uma magoa que não desejo a ninguém
28. sentir sabe fico na fossa mesmo mais não daquela de chora morrer de soluções
29. em um mar de lagrimas não apenas fico mega ultra plaster chato e mal humorado
30. até que encontro um ilusão sabe e me apego nessa ilusão e acho que me levo
31. momento curto o beijo o abraço o toque , até que percebo onde e por onde estou
32. indo de novo. Acaba que espero realmente no meio dessas ilusões da minha vida
33. encontre uma verdadeira ilusão correspondida capaz de alimentar uma coisa que
34. muitas vezes nem sei ainda existe em mim uma capacidade de amar e ser
35. realmente amo. Sabe quando paro pra pensar em como o amor vem sendo
36. conduzido acabo vendo que eu nunca amei de verdade um amor de casal sabe
37. aquele lance que nossos avos tiveram de felizes para sempre. Acaba que espero
38. realmente no meio dessas ilusões da minha vida encontre uma verdadeira ilusão
39. correspondida capaz de alimentar uma coisa que muitas vezes nem sei ainda
40. existe em mim uma capacidade de amar e ser realmente amo. Sabe quando paro
41. pra pensar em como o amor vem sendo conduzido acabo vendo que eu nunca
42. amei de verdade um amor de casal sabe aquele lance que nossos avos tiveram de
43. felizes para sempre.
23
Grifo meu.
80
Excerto 1
01. “Sabe gente não sei se exatamente o que é, se é do meu signo ou não mais
02. sempre estou com um gostinho de quero mais na boca, sabe aquele lance de
03. pensar que nada ta suficiente ou que você sempre merece mais do que já tem,
04. sabe eu tenho toda hora.”
Excerto 2
05. “Sabe mais a falta maior que sinto e solidão de nunca ter amado alguém de
06. verdade, parece cliché mais não é essa a intenção, aparentemente tenho
07. esperado muito por alguém que me completasse e nessas tantas ilusões vão
08. surgindo meus casos de uma noite só, que são um caso para outro posto logo.”
“falta”, “alguém” (ambas na linha 05), “ilusões” (linha 07) “casos” (linha 08) e das
predicações “”maior” (linha 05), “de verdade” (linhas 05 e 06), “tantas” (linha 07), “de
uma noite só” (linha 08). Este desejo faz-se muito forte na vida do blogueiro e
suscita a ordem de indexicalidade da indissolução do casamento cultivada por uma
sociedade conservadora. O ideal de união a dois leva-o a citar, no excerto 3 do
artigo III, como exemplo do relacionamento que procura, a relação entre seus avós,
ou seja, remete a um tempo em que os relacionamentos, mesmo que infelizes,
dificilmente eram desfeitos, mantinham-se para a vida toda. Tal sentimento de dor e
sofrimento fica totalmente explícito nas referências “falta” e “solidão” (linha 05), na
modalização lógica “aparentemente tenho esperado muito por alguém que me
completasse” (linhas 06 e 07), culminando com a revelação retumbante “solidão”
(referência) “de nunca ter amado alguém de verdade” (predicação) linhas 05 e 06).
Este posicionamento do jovem apresenta-se em desacordo com a
ordem de indexicalidade de um dos padrões próprios dos relacionamentos gays, que
reverenciam a beleza física, a superficialidade e efemeridade dos mesmos.
Excerto 3
09. “Comigo e algo que não sei explicar ao certo sabe, toda vez que estou voltando
10. para minha casa parece que a cada passo procuro por algo não sei se
11. necessariamente alguém sabe .Tenho uma impressão de que apesar de mais
12. divertido que tudo aparente não estou completo , não sei explicar ao certo, mas
13. tenho a ideia de que seja alguém, mais nunca me aprofundei em outras
14. possibilidades, quando estou de bem comigo tenho a ideia que sou alto suficiente
15. de que me basto sozinho e tal.
16. Isso não é a pura verdade, nunca amei ninguém verdadeiramente sabe aquele
17. lance que você pensa e sente falta da pessoa, o papo flui, você gosta
18. verdadeiramente da pessoa e de como ela é.”
Excerto 4
19. “Eu costumo dizer para mim mesmo e para os amigos mais próximos que sofro do
20. "Mal dos SETE", e você deve estar se perguntando o que o isso?, do que esse
21. cara esta falando?, calma eu explico.Eu fundamentei um teoria pessoal chamada
22. de "Mal do SETE", funciona assim conheço uma pessoa no primeiro, segundo e
23. terceiro dia quero saber tudo sobre ela acabamos passando muito tempo juntos
24. seja por celular, e-mail, face ou pessoalmente então viro para uma das minhas
25. amigas ou amigos e digo a tão conhecida frase minha "ele tem muita coisa em
26. comum, estão encantado, estou amando" de certa forma estou acostumado a
27. fazer assim sempre, então vem o quarto e quinto dia o contato fica mais escasso,
28. então no sexto dia acabo descobrindo numa nova investida alguns defeitos e então
29. me desencanto da pessoa, em algumas vezes acabo persistindo no erro e tal mais
30. e basicamente assim que acontece.”
Excerto 5
31. A questão é que sempre estou com a porta de um ou outro aplicativo na minha
32. vida então as pessoas acabam brotando delas e tal.
33. Gente ai um de vocês me diz se sei como funciona por que não trato desse meu
34. problema, li em algum lugar acho que no meu mapa astral que tenho uma grande
35. tendência me envolver em "paixonitis" um dos meus passos pra entender melhor
36. isso e me ajudar e admitir e agora compartilhar e ir trabalhando em cima disso
37. tudo, muitas vezes tem muito haver com auto estima e tal, mais isso e assunto pra
38. outro post.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
24
Ferramenta interativa baseada na web que apoia o aprendizado de conceitos específicos
incrementando, ampliando, ou guiando o processo cognitivo dos aprendizes.
Disponível em http://www.ufal.edu.br/cied/objetos-de-aprendizagem
89
REFERÊNCIAS
AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer. Trad: Danilo Marcondes de Souza Filho. Porto
Alegre: Artes Médicas: 1990.
______. ideologias linguísticas e poder; in: Daniel Nascimento e Silva, Dina Maria
Marins Ferreira, Claudiana Nogueira de Alencar (orgs.): Nova pragmática: modos de
fazer. São Paulo: Cortez, 2014, p.67-77.
BUTLER, J. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo; in: Guacira
Lopes Louro (org.): O Corpo Educado: Pedagogias da sexualidade. 2ª Edição. Belo
Horizonte: Autêntica, 2000. p.110-124.
______. Cuerpos que importan: sobre los límites materiales y discursivos del
"sexo". Buenos Aires, Paidós, 2002
DAVIES, J.; MERCHANT, G. Web 2.0 for Schools: learning and social
participation. New York: Peter Lang. 2009.
______. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação. Rev. Estud.
Fem., Florianópolis , v. 9, n. 2, p. 541-553, 2001 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2001000200012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 13 Aug. 2015.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2001000200012.
108.
128.
ANEXOS
de alguma forma fica bem mais fácil lidar com situações duras que encaramos no
dia a dia.
Alternativas de app's para gays são:
Hornet
BADU
GRINDR
SCRUFF
Logicamente que existem mais dezenas de app's os com mais divulgação são esses
e por meio deles entramos em contato com muito mais pessoas. Estar aperto a
conhecer significa muitas vezes se conhecer melhor. Gente fico por aqui espero ter
sido de alguma forma útil pra vocês, até o próximo post.
97
BALADINHA
Sabe gente pensei nesse post já alguns dias, porém estava mega sem tempo
para escrever então só consegui escrever hoje.
Agora sem mais rodeios sabe sair ai como e bom, mais tem tanta coisa por
traz que confesso chega a me dar uma certa preguiça sabe. Acho que todo mundo é
assim escolhemos a roupa nos maquiamos e lá se foi duas ou três horas tudo isso
pensando no que os outros pensam de nós se vamos ser atraentes?, se algum cara
vai se interessar por nós?. Passamos noventa por cento do tempo pensando em
tudo menos que inconscientemente sabe de certa forma e uma coisa que a
sociedade nós condiciona a ser assim. Em uma balada e quase que automático
queremos achar os caras bonitos ou que de alguma forma nos interessamos e
passamos mais tempo assim que esquecemos dos amigos no meio disso tudo.
Quando era menor nunca fui muito de sair sabe sempre ligava com o que iriam falar
ou não de mim,cidade pequena de novo trabalhando contra mim. Outra coisa é que
por ser interior não tem baladas gays acaba que são sempre as mesma baladas
convencionais, "mais não é a mesma coisa?"alguns vão me pergunta eu digo e
afirmo não é não ,sabe quando se esta em ambiente de balada hetero assim se um
cara fica com você ele tem que ser assumidamente gay pq a muito mais o lance do
disse me disse e por ai vai . Não tenho muita propriedade pra fala sobre baladas
para gays não fui em muitas,mais mesmo quando esta numa balada
convencional quando estamos com o foda-se ligado acabamos nos divertindo e
muito. E muitas vezes um sorriso e bem melhor do que mil beijos sem sentimento.
Mais o que queria falar é quando você liga o foda-se sociedade e começa a
pensa mais em você fica mais facial e mais agradável acaba dando muito mais
risadas e as coisas acontecem naturalmente. Ser feliz tenho apreendido que esta
mega ligado ao Foda-se sociedade.
98
Tempestades de ilusão
Acaba que espero realmente no meio dessas ilusões da minha vida encontre uma
verdadeira ilusão correspondida capaz de alimentar uma coisa que muitas vezes
nem sei ainda existe em mim uma capacidade de amar e ser realmente amo.
Sabe quando paro pra pensar em como o amor vem sendo conduzido acabo vendo
que eu nunca amei de verdade um amor de casal sabe aquele lance que nossos
avos tiveram de felizes para sempre.
Acaba que espero realmente no meio dessas ilusões da minha vida encontre uma
verdadeira ilusão correspondida capaz de alimentar uma coisa que muitas vezes
nem sei ainda existe em mim uma capacidade de amar e ser realmente amo.
Sabe quando paro pra pensar em como o amor vem sendo conduzido acabo vendo
que eu nunca amei de verdade um amor de casal sabe aquele lance que nossos
avos tiveram de felizes para sempre.
100
Sabe gente não sei se exatamente o que é, se é do meu signo ou não mais sempre
estou com um gostinho de quero mais na boca, sabe aquele lance de pensar que
nada ta suficiente ou que você sempre merece mais do que já tem, sabe eu tenho
toda hora.
Sabe mais a falta maior que sinto e solidão de nunca ter amado alguém de verdade,
parece cliché mais não é essa a intenção, aparentemente tenho esperado muito por
alguém que me completasse e nessas tantas ilusões vão surgindo meus casos de
uma noite só, que são um caso para outro posto logo.
Comigo e algo que não sei explicar ao certo sabe, toda vez que estou voltando para
minha casa parece que a cada passo procuro por algo não sei se necessariamente
alguém sabe .Tenho uma impressão de que apesar de mais divertido que tudo
aparente não estou completo , não sei explicar ao certo, mas tenho a ideia de que
seja alguém, mais nunca me aprofundei em outras possibilidades, quando estou de
bem comigo tenho a ideia que sou alto suficiente de que me basto sozinho e tal.
Isso não é a pura verdade, nunca amei ninguém verdadeiramente sabe aquele lance
que você pensa e sente falta da pessoa, o papo flui, você gosta verdadeiramente da
pessoa e de como ela é.
Eu costumo dizer para mim mesmo e para os amigos mais próximos que sofro do
"Mal dos SETE", e você deve estar se perguntando o que o isso?, do que esse cara
esta falando?, calma eu explico.Eu fundamentei um teoria pessoal chamada de "Mal
do SETE", funciona assim conheço uma pessoa no primeiro, segundo e terceiro dia
quero saber tudo sobre ela acabamos passando muito tempo juntos seja por celular,
e-mail, face ou pessoalmente então viro para uma das minhas amigas ou amigos e
digo a tão conhecida frase minha "ele tem muita coisa em comum, estão encantado,
estou amando" de certa forma estou acostumado a fazer assim sempre, então vem o
quarto e quinto dia o contato fica mais escasso, então no sexto dia acabo
101
25
Grifo nosso.
104
próprios alunos. Senti que, aos poucos, eles foram se soltando e mais adiante, já
entrosados, passaram a fazer sugestões, falar de suas vidas, mostrar como
achavam que aquele instrumento (o blog) poderia ser útil e usado como apoio para
seus seguidores e seguidoras. Nesta reunião, houve vários relatos de como eles
contaram para suas famílias a descoberta de suas subjetividades. Algumas/alguns,
de forma amável, receberam apoio dos familiares, outros, entretanto, sofreram não
só a discriminação e o desprezo como também a incompreensão, intolerância e até
a violência da expulsão do seio da família. Esses relatos, por mais dolorosos que
sejam, também contribuem para que todos se unam e se fortaleçam com o apoio
dos amigos, tornando-os cada vez mais coesos e vinculados pelos mesmos
propósitos.
No dia 27 de fevereiro, foi criado um Facebook do grupo para compartilhar
artigos, notícias, vídeos referentes à temática LGBTT e também facilitar a
comunicação entre todos.