Artigo nº1 – Costa, 2021 “Patrões e trabalhadores católicos:
consciência religiosa e consciência de classe”
Objetivos do estudo: Analisar as representações de classe que reciprocamente ligam patrões e trabalhadores católicos através de três associações: Liga Operária Católica (LOC), Juventude Operária Católica (JOC) e Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE). Perguntas de Inv. / Hipóteses de In: O que têm eles de fazer para aceder a esses bens? Tal formulação, feita por Nyssens e Ruol (1995, pp. 181/2). Teorias e conceitos usados: representações de classe / patrões e trabalhadores católicos / episcopado português / militantismo operário / Acção Católica / neoliberalismo triunfante / “expressões-teoria” / distribuição de rendimentos nas empresas / o envelhecimento dos militantes da organização / um modelo “garantista” e de estabilidade cujo ideal seria o Estado-Providência (v. Bauman, 2004 ; Esping-Andersen, 1993) / como diz Maurice Bellet, uma hierarquia, um esquema vertical, que apela à mobilização, colectiva e não individual, dos “de baixo” contra os “de cima” (Bellet, 1995, pp. 173/4; v. também Costa, 2021, p. 127) / No entender de Nyssens e Ruol, é assim que se fazem as políticas sociais, lendo a acção na estrutura socioeconómica como uma “luta de lugares” (e não de classes)” (Costa, 2021, pp. 127/8) / a estrutura socioeconómica torna-se numa luta de lugares e não de classes / através da invisibilização da exploração, esta pode até acentuar-se em “políticas sociais” que coagem os “excluídos” a aceitarem empregos precários, mal pagos e sem que façam quaisquer exigências (Nyssens e Ruol, 1995, pp. 183/4) / continua-se a prosseguir políticas baseadas num princípio que “não permite viver e consumir sem trabalhar” (Jappe, 2019, p. 123) / Estas «políticas sociais», estatais ou não, remetem para o que Pierre Bourdieu entende ser um recurso ideológico comum à generalidade dos tipos de exploração (e não só do capitalista) / “deseconomização” / ”moralização” das relações de produção / a substituição do “trabalhador” pelo “colaborador”. Técnicas de amostragem e composição da amostra: Entrevista aos LOC (operários), Entrevista aos JOC e Entrevista aos ACEGE. Feitas especialmente a trabalhadores. Mét. e Téc. de Inv. (recolha e análise): Entrevistas. Resultados e conclusões: Expressam a extinção de um mundo e o surgimento de outro / são os sinais do fim do fordismo / “deseconomização” / ”moralização” das relações de produção foi evidente no discurso da ACEGE, tanto no institucional como no das entrevistas, e nas entrevistas da JOC / Os sindicatos, fortemente enraizados nesse mundo, deparam-se com crescentes dificuldades de implantação nos jovens trabalhadores; o mesmo acontece com a LOC e a JOC. As “novas” desigualdades separaram-se da anterior concepção fortemente classista. Os “lugares” na sociedade existem para serem preenchidos por indivíduos da era neoliberal: todos “iguais” à partida e ver-se-á quem ganha a corrida por ser mais resiliente. Os temas não consensuais, polémicos até, esses, sim, parece que desertaram para outros campos, que não o da ordem socioeconómica, da respectiva estrutura de classes e da política que as sustenta; passaram para a ordem da moral, como se vê nas questões do aborto e da eutanásia, em que a Igreja se tem mobilizado em atitudes de vivo combate / Os resultados apontam, de facto, para uma bipolarização entre ACEGE e LOC (em relação ao Estado, ao mercado, à desigualdade económica, etc.), mas também para uma profunda fractura geracional entre LOC e JOC, ambas com dificuldades em se reproduzirem – a LOC está envelhecida e a JOC muito esvaziada de membros. Dir-se-ia que se vai atingindo “máximos de consciência possível” de classe no pós- fordismo. Artigo nº2 – Coutinho, 2014 “A RELIGIOSIDADE JUVENIL NAS DUAS ÚLTIMAS DÉCADAS” Objetivos do estudo: Abordar a religiosidade juvenil portuguesa, focalizando o catolicismo, pelo seu domínio no campo religioso português. Perguntas de Inv. / Hipóteses de In: Porque é que a crença no pecado e no Deus pessoal é maior e no inferno é menor? Porque é que todas as crenças aumentaram, principalmente no inferno e na vida após a morte? Não serão as experiências de concertos ou de noite, com rituais particulares, guiadas por deuses temporais (ídolos musicais) e sacerdotes nocturnos (DJ), similares às experiências xamânicas? Porque é que a recusa da eutanásia e principalmente da homossexualidade baixou enquanto do aborto manteve o seu valor? Porque é que a crença no espírito ou força vital e na reincarnação aumentaram e principalmente nesta última? É difícil destrinçar o efeito directo de cada variável ou quais as variáveis mais importantes na evolução religiosa. Será a socialização religiosa, principalmente através da família? Será o lazer, essencialmente na vertente das novas tecnologias, da sexualidade, do consumo? Teorias e conceitos usados: Individualização / Família e lazer / a individualização ou segunda secularização torna-se o paradigma sociológico / As formas não institucionalizadas de religião vão ocupando o espaço das religiões tradicionais. / Mauss (2008) argumentava pela crescente espiritualização e individualização das religiões / O indivíduo torna-se agora o soberano do seu destino, afectando inevitavelmente a sua religiosidade. Como defende Lambert (1991) / a religiosidade juvenil actual caracteriza-se pela primazia da felicidade individual e terrena, pela vontade de independência e de autonomia, pelo relativismo e pelo pragmatismo / A família é o factor essencial da socialização religiosa. / como defendem Campiche et al. (1997). Primeiro: a tradição já não continua a sustentar a vida individual e colectiva. Segundo: as crenças são legitimadas não pela autoridade tradicional mas pela sua utilidade. Terceiro: as crenças não são recebidas passivamente mas são activamente consumidas. / a mudança substancial da estrutura familiar contribui seguramente para quebrar os elos da cadeia / a reprodução das linhagens crentes tradicionais, assentes em casamentos religiosos estáveis e em famílias alargadas, fica certamente comprometida com estas transformações em curso / Às mudanças na família juntam-se as modificações no lazer. De facto, no lazer os jovens expressam-se na sua especificidade e diversidade, construindo a sua identidade sobre a experimentação afectiva, social e cultural / A passagem da concepção cristã de pessoa como ser unitário de corpo e alma à concepção dualista de objecto como exterior à pessoa. Esta transição levou os jovens, mais permeáveis à novidade, a desautorizar quaisquer intromissões relativas ao seu corpo, agora seu objecto pessoal / As tecnologias de informação e comunicação (TIC) revolucionaram a forma como as pessoas se relacionam / Como defende Bauman (2007), as relações pós-modernas são fragmentárias, inconsequentes, pequenas e sem obrigações mútuas, cortando o envolvimento interpessoal / Como defende Lipovetsky (2010), os princípios do hiper-consumo invadem a alma religiosa: transitoriedade, liberdade de pertença comunitária e de escolha de comportamentos, primazia do bem-estar subjectivo e da experiência emocional. Técnicas de amostragem e composição da amostra: Jovens portugueses (15-24 anos). Mét. e Téc. de Inv. (recolha e análise): Análise da evolução da religiosidade (crenças, práticas e atitudes) dos jovens portugueses (15-24 anos) nos últimos vinte anos, baseado nos dados do European Values Study (EVS) de 1990 e de 2008. Resultados e conclusões: Da análise dos dados, conclui-se que o jovem português tende a acreditar e a recompor mais, mas a praticar e a seguir menos as normas católicas. As crenças têm aumentado, enquanto as práticas e as atitudes positivas relativamente às normas católicas regrediram. Ao mesmo tempo, as crenças não católicas crescem, o que demonstra a sua plasticidade, que vai ao encontro da teoria da individualização. É difícil destrinçar o efeito directo de cada variável ou quais as variáveis mais importantes na evolução religiosa. Em 1990, as crenças mais importantes foram pecado (47%) e Deus pessoal, seguidas de céu, vida após a morte e inferno (14%), com uma amplitude de 33%. Todas as crenças cresceram (pelo menos +9%), principalmente vida após a morte (+24%) e inferno (+22%). Assim, em 2008, vida após a morte e céu trocaram as suas posições e a amplitude desceu para 24% (pecado - 60%, inferno - 36%). A figura 2 mostra os resultados das práticas católicas. Cerca de 50% mantiveram os seus momentos de oração/meditação de uma ronda para outra, enquanto a frequência de serviços religiosos baixou 10% para 16%. A figura 3 mostra os resultados das atitudes. Em 1990, homossexualidade era o aspecto mais rejeitado, seguida por eutanásia e aborto. Em 2008, tiveram valores próximos: homossexualidade desceu significativamente 32%, enquanto eutanásia diminuiu 16% e aborto aumentou 2%. A figura 4 mostra os resultados das crenças não católicas: reincarnação passou de 17% para 35% e espírito ou força vital de 20% para 25%. Entre 1990 e 2008, os jovens portugueses passaram a acreditar mais, tanto em crenças ortodoxas como heterodoxas, a praticar e a seguir menos as normas católicas. Estas conclusões limitam-se, contudo, ao período em análise, período máximo disponível. Estas alterações religiosas advêm também das mutações na família e no lazer. Mudanças na estrutura e no papel da família como transmissora religiosa explicam possivelmente a evolução religiosa em todos os seus três tipos de indicadores. Mudanças no lazer (sexualidade, TIC e consumo) explicam porventura a descida da assistência à missa e do seguimento das normas católicas, e o crescimento das recomposições religiosas, principalmente através das TIC. Em suma, a individualização é traço principal da nossa modernidade, como é reconhecido por vários autores. Artigo nº3 – Lanza, 2014 “Imprensa Católica Paulistana: entre o conservadorismo e resistência a Ditadura Militar n’O São Paulo”. Objetivos do estudo: A pesquisa teve como foco a atuação dos arcebispos da Arquidiocese paulistana, da Igreja Católica, no período de 1956 a 1985, a partir da análise do semanário O São Paulo. Perguntas de Inv. / Hipóteses de In: Teorias e conceitos usados: a Encíclica Miranda prorsus (1957) e os editados a partir do Concílio Vaticano II, como o decreto Inter mirifica / Carta Encíclica / Concílio Vaticano II, como o decreto Inter mirifica / A encíclica Miranda prorsus surgiu como que um advento ao Concílio Vaticano II e ao decreto Inter mirifica, foi uma síntese dos avanços e contribuições proporcionados pelo papa Pio XII “sobre a comunicação social. Os seus mais de 60 discursos e textos variados sobre diversas áreas e questões da comunicação são uma prova evidente do interesse desse papa no campo da comunicação social” (Dariva, 2003, p. 33) / Os avanços do Concílio Vaticano II foram significativosii, principalmente no que se refere ao conceito de “direito de informação” / As análises do professor José Marques de Melo, da Universidade Metodista de São Paulo, enfatizam que, a partir da década de 60 do século XX, houve uma maior elaboração e reflexão por parte da Igreja Católica no tocante a essa área de atuação – o que, de certa forma, está em consonância com a constituição e implantação dos canais oficiaisiii de comunicação da Arquidiocese de São Paulo / é muito poderosa porque ele veio substituir o antigo jornal que existia há dezenas de anos e se chamava O Legionário. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, em 1956, exatamente no dia 25 de janeiro, resolveu criar um novo jornal – O São Paulo / e a Igreja Católica se constitui enquanto sujeito coletivo e expressa seu projeto frente ao contexto sociohistórico relacionado com a análise das edições d’O São Paulo / O conceito de matriz ideológica é entendido como a base do “discurso que revela a ação [e] revela também o sujeito”. Por isso, a matriz ideológica permite “a atribuição de sentido às coisas”, ela é expressa no discurso (oral e escrito) (Sader, 1988, p. 57) / “tendo em vista que a linguagem não é um mero instrumento neutro que serve para comunicar alguma coisa que já existisse independente dela” (Sader, 1988, p. 57) / distinção dos termos “teologia” e “ideologia”. Técnicas de amostragem e composição da amostra: semanário O São Paulo. Mét. e Téc. de Inv. (recolha e análise): Ela buscou uma orientação histórica e sociológica, com base documental e oral. Partiu das matrizes ideológicas utilizadas pelos arcebispos – Dom Agnelo Rossi e Dom Paulo Evaristo Arns – revisitando o período anterior, de Dom Carmelo V. Motta, frente à Fundação Metropolitana Paulista, mantenedora do jornal O São Paulo. As fontes documentais se basearam em documentos históricos sobre a Igreja Paulistana, e as publicações d’O São Paulo, privilegiando as matérias da primeira página e os editoriais; e empregando os aportes da análise de conteúdo sob o ângulo de distintos autores. As fontes orais foram constituídas a partir dos sujeitos de pesquisa selecionados qualitativamente com critérios vinculados a História Oral, tendo em vista as experiências pessoais no Clero e suas relações com os MCS da Arquidiocese de São Paulo / Foi elaborada uma periodização, a partir de uma investigação preliminar, que colaborou no sentido direcionar os estudos e análises. Resultados e conclusões: Foi possível identificar que a matriz ideológica adotada nos discursos da Igreja Católica de São Paulo, expressa nas edições d’O São Paulo, sofreu drásticas transformações no final da década de 1960 e início da seguinte / É possível perceber que sua abordagem jornalística era tradicional e conservadora e não refletia os parâmetros profissionais do exercício jornalístico. Essa afirmação pode ser fundamentada em vários aspectos, mas entre eles é relevante destacar: que havia uma omissão na cobertura dos conflitos e disputas políticas do País; os fatos ou dados da realidade conjuntural nacional não eram abordados nas primeiras páginas ou editoriais; e a cobertura desses eventos era apresentada após todos os encaminhamentos já concluídos e em conformidade com a manutenção do status quo. Este procedimento editorial foi verificado, por exemplo, com a renúncia do presidente Jânio Quadros (1961), com o golpe militar de 1964 e outros. / Tudo isso não o impediu, contudo, de forma que continuou no trabalho que permitiu alterar radicalmente a matriz ideológica predominante da Arquidiocese de São Paulo, assim como, implementar mudanças na concepção norteadora do papel dos MCS institucionais em face da sociedade civil e do Estado.
Artigo nº3 – Tomás, 2016 “PLURALIDADE RELIGIOSA E
POLÍTICAS PÚBLICAS – A REALIDADE DO MUNICÍPIO DE LISBOA”. Objetivos do estudo: Perguntas de Inv. / Hipóteses de In: Teorias e conceitos usados: Técnicas de amostragem e composição da amostra: Mét. e Téc. de Inv. (recolha e análise): Resultados e conclusões: