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Fervor popular resiste dentro de casa

e na devoção a santos
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre": o dito popular sempre foi
um emblema do catolicismo praticado no Brasil. Em boa medida, continua valendo,
apesar das mudanças que a Igreja Católica e o país sofreram.

Com distâncias continentais, relativa escassez de sacerdotes e pouca educação


religiosa formal, sempre foi mais comum rezar o terço em família ou fazer
promessas para o santo predileto do que comungar aos domingos.

"Esse catolicismo popular ainda é muito vivo, apesar de inúmeras tentativas da


hierarquia de controlá-lo", diz o professor Rodrigo Coppe Caldeira, da PUC de
Minas Gerais.

Isso significa que a devoção e as promessas feitas a São Judas Tadeu, Santo
Expedito, Santo Antonio de Pádua e outros santos considerados "poderosos", bem
como o culto à Virgem Maria, estão longe de estar em crise.

No caso de Maria, à imensa popularidade de santuários como o de Nossa Senhora


Aparecida (SP) têm se juntado novas devoções, como a de Nossa Senhora
Desatadora dos Nós, originalmente cultuada na Alemanha e trazida primeiro para a
Argentina pelo cardeal Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco.

Como o nome sugere, trata-se de uma santa frequentemente invocada para resolver
pequenos entraves angustiantes da vida cotidiana.

Uma novidade no cenário de manutenção das tradições é o uso cada vez mais
comum de uma "identidade visual" católica em público, a começar por adesivos de
carro representando, por exemplo, a Virgem Maria e o rosário.

"É possível ver isso como uma reação ao crescimento das igrejas evangélicas, que
têm uma identidade pública muito mais forte, em geral", afirma Caldeira. "É uma
forma de mostrar que a Igreja Católica está aí e está viva."

Nos rituais, em especial nas missas, o catolicismo praticado no Brasil desenvolveu


uma linguagem mais solta que a de sua matriz europeia.

Violões, guitarras, baterias e melodias inspiradas no rock ou na música sertaneja


passaram a dominar as missas, fenômeno intensificado pelo êxito dos padres
cantores Marcelo Rossi e Fábio de Melo.
"Há também um retorno à missa tridentina [como definido pelo Concílio de Trento,
no século 16]", diz Caldeira. A liturgia costuma ser em latim, o padre de costas para
os fiéis e voltado para o altar.

"Em Belo Horizonte, as missas ocorrem toda semana. Não é algo com expressão
maciça, mas é interessante porque jovens de todas as classes sociais vão a essas
missas."

(REINALDO JOSÉ LOPES)

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