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Tabela de Conteúdos
Introdução 4
PERTURBAÇÕES DO NEURODESENVOLVIMENTO 16
Perturbação do Espectro do Autismo 17
PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE 47
Perturbação de Ansiedade de Separação 47
Mutismo Seletivo 54
PERTURBAÇÕES DO HUMOR 60
Perturbação Depressiva da Primeira Infância 60
Perturbação de Tourette 76
Tricotilomania 80
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Perturbação de Escoriação - “Skin Picking” 82
Anexos 151
APÊNDICE A: Marcos de desenvolvimento e classificação de competências 152
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Introdução
A DC:0-5 representa um esforço para atualizar e expandir versões anteriores da classificação das
perturbações da primeira infância: DC:0-3 (1994) e DC:0-3R (2005). O grupo de trabalho para a revisão da
classificação diagnóstica da ZERO TO THREE® dedicou mais de 3 anos a esta revisão. Atualizar o manual
foi um processo meticuloso que teve em consideração evidências empíricas emergentes e avanços em
conhecimentos teóricos e clínicos. Estão disponíveis outras classificações para as perturbações mentais e
de desenvolvimento, incluindo a DSM-5 (2013) e CID-10 (1992), no entanto, nenhuma destas alternativas é
a ideal quando se trata de classificar as perturbações da primeira infância.
Não há dúvida que a base empírica das perturbações da primeira infância está muito aquém do
que se sabe acerca das doenças em crianças mais velhas, adolescentes e adultos. Não obstante, tem
havido um aumento do número de estudos, incluindo alguns epidemiológicos e longitudinais, em crianças
da primeira infância. Ao preparar esta classificação, o grupo de trabalho baseou-se essencialmente em
conhecimentos empíricos, sendo que, como em todas as classificações, a força do background empírico
varia de perturbação para perturbação.
Adicionalmente, a experiência clínica foi usada para modelar e refinar critérios. Após questionar
20.000 clínicos, em todo o mundo, acerca da DC:0-3R, em 2013, o grupo de trabalho recebeu 890
questionários completos de profissionais de 6 continentes, com muitos comentários acerca das
perturbações e eixos. Os critérios preliminares para as perturbações foram colocados no website da ZERO
TO THREE® em maio e outubro de 2015, sendo solicitados comentários acerca destas versões de
rascunho. A experiência clínica coletiva dos membros do grupo de trabalho também contribuiu para a
elaboração das definições das perturbações da DC:0-5.
O nosso objetivo foi fornecer critérios descritivos que permitam avaliações confiáveis e válidas,
minimizando a necessidade de inferências ou atribuições sem suporte, para além do que é clinicamente
observável. Concordámos que todos os aspetos da classificação, até mesmo a abordagem multiaxial,
deveriam ser revistos antes da inclusão. Dada a importância do contexto no desenvolvimento das crianças
durante a primeira infância, todos os eixos da DC:0-3 e DC:0-3R se mantiveram, apesar de terem sido
extensamente revistos e atualizados. O Eixo I define as perturbações mas cada um dos eixos tem uma
contribuição para a formulação clínica.
As revisões da literatura, novos dados, informação obtida através dos profissionais, assim como as
discussões do grupo de trabalho, tornaram claro que a revisão da DC:0-3R seria extensa. Muitas das
diferenças que distinguem a DC:0-5 da DC:0-3R especificam e esclarecem critérios para as categorias
diagnósticas já designadas no Eixo I. Vários diagnósticos novos foram adicionados ao Eixo I, enquanto
outros, que existiam na DC:0-3R, foram excluídos. Algumas mudanças na DC:0-5 incluem os seguintes:
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- A nova edição inclui perturbações que ocorrem em crianças até aos 5 anos de idade; o novo título (DC:
0-5) reflete esta mudança.
- O grupo de trabalho fez um esforço para ser mais compreensivo na definição das perturbações, em vez
de referenciar os clínicos para outras classificações nosológicas, caso as perturbações não estivessem
incluídas nesta classificação. Assim, outras perturbações bem conhecidas em crianças mais novas,
como a Perturbação do Espectro do Autismo e a Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção,
foram incluídas.
- Cada perturbação inclui um algoritmo de diagnóstico para clarificar os critérios a serem usados, com o
objetivo de maximizar a confiabilidade inter observadores.
- Quase todas as perturbações incluem um texto que descreve o que se sabe acerca da apresentação
clínica, curso e aspetos correlacionados.
- Foi adicionada uma nova secção de Perturbações do Processamento Sensorial que inclui Perturbação
da Hiper-reatividade Sensorial, Perturbação da Hipo-reatividade Sensorial e Outras Perturbações do
Processamento Sensorial.
- A ligação com as perturbações da DSM-5 e CID-10 correspondentes, são incluídas no texto para cada
perturbação do Eixo I da DC:0-5.
- Foi realizada uma extensa revisão do Eixo II (Contexto Relacional). Este eixo inclui agora duas partes:
uma Classificação do Nível de Adaptação da Relação com o cuidador principal e uma Classificação do
Nível de Adaptação ao Ambiente de Cuidados - isto é, a rede relacional familiar principal (incluindo
coparentalidade) na qual a criança se está a desenvolver.
- O Eixo III foi alargado para incluir exemplos ilustrativos de condições médicas que podem ser detetadas.
- O Eixo IV manteve a lista de Stressores Psicossociais e Ambientais mas foram adicionadas categorias e
alguns stressores específicos.
- O Eixo V foi extensamente revisto de forma a focar-se nas competências de desenvolvimento que
integram os domínios emocional, social-relacional, linguagem e comunicação social, cognitivo e
motricidade e desenvolvimento físico. Foi incluída uma tabela de “Marcos de Desenvolvimento e
Classificação de Competências” no Apêndice A, para ajudar os profissionais.
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História da Classificação Diagnóstica ZERO TO THREE®
A DC:0-3, publicada em 1994 pela ZERO TO THREE®, foi criada para responder à necessidade de
uma abordagem sistemática e baseada no desenvolvimento, para a classificação da saúde mental e das
dificuldades de desenvolvimento, nos primeiros 4 anos de idade (ou seja, do nascimento até aos 3 anos de
idade). O design e constituição da DC:0-3 representou o primeiro esforço realizado por um grupo de
clínicos expertos, para recomendar um esquema útil que complementaria, mas não substituiria, outros
sistemas de classificação diagnóstica para crianças mais velhas e adultos, como o Manual Diagnóstico e
Estatística de Perturbações Mentais (4ª edição; DSM-IV; APA, 1994) e a CID-10 (OMS, 1992). Os autores da
DC:0-3 procuraram ter em conta os novos conhecimentos sobre (1) fatores que contribuem para padrões
adaptativos e mal-adaptativos de desenvolvimento e (2) o significado de diferenças individuais na infância
(ZERO TO THREE®, 2005). O seu objetivo foi desenvolver critérios de classificação que poderiam melhorar
a comunicação entre profissionais, formulação clínica e investigação. A revisão, DC:0-3R, publicada em
2005, foi criada mais de uma década depois do sistema de classificação diagnóstica original. Esse novo
manual forneceu uma revisão que atualizou os critérios de classificação, incluindo novos conhecimentos da
experiência clínica, e permitiu clarificar áreas de ambiguidade. A atual revisão da DC:0-3R, a DC:0-5,
contempla novos achados pertinentes ao diagnóstico em crianças da primeira infância, atualiza os critérios
de classificação, introduz novas perturbações, alarga o intervalo de idade, que antes era desde o
nascimento até aos 3 anos de idade e passa a ser do nascimento até aos 5 anos de idade, faz uma revisão
dos eixos, e aborda preocupações não resolvidas desta área, desde a publicação da DC:0-3R, em 2005.
As origens da DC:0-3
Nota: esta secção foi reproduzida, na íntegra, a partir da DC:0-3R (ZERO TO THREE®, 2005)
A DC:0-3 foi produto de um grupo de trabalho multidisciplinar que surgiu em 1987 pela ZERO TO
THREE®: Centro Nacional para Bebés, Crianças Pequenas e Famílias, uma organização que representa a
liderança interdisciplinar no campo do desenvolvimento e saúde mental infantil. O grupo de trabalho incluiu
clínicos e investigadores de centros de saúde mental infantil da América do Norte e Europa. Os membros
analisaram sistematicamente case reports dos centros participantes, identificando padrões recorrentes de
problemas de comportamento e descreveram categorias das perturbações. O processo era aberto e as
opiniões surgiram de uma grande variedade de áreas.
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- Eixo III: Perturbações ou Condições Médicas ou de Desenvolvimento
Tendo terminado isto, o grupo de trabalho reconheceu que este novo guia para a classificação diagnóstica
de perturbações mentais, nesta faixa etária, seria provisório. O texto da introdução da DC:0-3 é
informativo.
Em qualquer empreendimento científico, mas particularmente num novo campo, existe uma tensão
saudável entre o desejo de analisar descobertas de estudos sistemáticos, mesmo antes de oferecer
conceptualizações iniciais, e a necessidade de disseminar conceptualizações preliminares, que possam
servir de base para a colheita de dados sistemáticos, o que pode levar a aplicações com base mais
empírica … O desenvolvimento da DC:0-3 representou um primeiro passo muito importante: a
apresentação de expertos, a categorização de perturbações de desenvolvimento e de saúde mental em
idades precoces… É um guia inicial para clínicos e investigadores, para facilitar o diagnóstico e
planeamento clínico, assim como a comunicação e futuros estudos científicos.
As origens da DC:0-3R
Em 2002, foi proposta uma revisão da DC:0-3 e, em 2003, a ZERO TO THREE® selecionou e
definiu um grupo de trabalho para a revisão. O grupo foi encarregue de elaborar a versão de revisão da DC:
0-3, fornecendo as necessárias especificações e esclarecimentos acerca dos critérios, de forma a permitir
fiabilidade entre clínicos, seguindo a evolução baseada na evidência. Durante 2 anos, o grupo teve em
conta literatura clínica e outros sistemas de diagnóstico, desenvolvendo e disseminando dois inquéritos
aos utilizadores da DC0-3, em todo o mundo, para recolher comentários de expertos de todas as áreas. O
grupo de trabalho comunicava todas as semanas (por videoconferência e em pessoa) para aprimorar o
texto e critérios diagnósticos.
A DC:0-3 apresentava uma árvore de decisão que implicava que a criança só tivesse um único
diagnóstico. Na DC:0-3R, a árvore de decisão manteve-se no que diz respeito ao “diagnóstico principal”,
mas enfatizou-se que era possível ter mais do que um diagnóstico. A inclusão de comorbilidades foi,
portanto, uma mudança significativa.
A DC:0-3R manteve o sistema de classificação multiaxial que tinha sido tão importante na
formulação clínica. Os nomes dos eixos da DC:0-3R são quase os mesmos que os da DC:0-3, com
pequenas mudanças no texto, como recomendado pelos utilizadores:
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- Eixo V: Funcionamento Social e Emocional
A DC:0-3R forneceu uma linguagem comum que permitiu aos profissionais de várias áreas -
clínicos, investigadores, corpos docentes e responsáveis políticos - comunicar entre si com precisão e
eficácia.
Os clínicos que lidam com a saúde mental na primeira infância consideraram a DC:0-3R uma
classificação útil. Foi bem recebida pelos clínicos de todo o mundo sendo traduzida em diversas línguas
incluindo alemão, francês, italiano, japonês, coreano, polaco e romeno.
Em 2013, a ZERO TO THREE® nomeou o grupo de trabalho para redigir uma versão revista e
atualizada da DC:0-3R em 3 anos. O grupo de trabalho estudou literatura clínica e outros sistemas de
classificação diagnóstica, desenvolveu e disseminou, pelos utilizadores de todo o mundo, um questionário
acerca da DC:0-3R, publicou critérios para debate público e recolheu esboços para a linguagem e
feedback de expertos de renome do mundo inteiro, que representam uma variedade de áreas profissionais.
O grupo de trabalho comunicava duas vezes por semana, por videoconferência, e diversas vezes por ano,
em pessoa, para desenvolver critérios diagnósticos e aprimorar o texto. O DC:0-5 é resultado de 3 anos de
esforços. Os detalhes do processo de revisão apresentam-se no Apêndice B.
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desenvolvimento. A formulação pode guiar o plano de tratamento destacando os fatores protetores e de
risco, identificando os fatores modificáveis e priorizando os fatores clínicos passíveis de tratamento.
Para os clínicos, o processo é um contínuo. Não se faz um diagnóstico com base numa única
observação de sintomas, mas sim recolhendo informação ao longo do tempo, para entender os múltiplos
aspetos da apresentação dos problemas, bem como as variações e desenvolvimento que se revelam em
diferentes ocasiões e contextos. Os Eixos II-V são úteis na caracterização do contexto dos sintomas e
perturbações do Eixo I.
- A avaliação e classificação diagnóstica são guiadas pela noção de que todas as crianças têm o seu
próprio ritmo de desenvolvimento e mostram diferenças individuais nos seus padrões motor, sensorial,
cognitivo, de linguagem, afetivo e interativo.
- Todas as crianças na primeira infância participam nas relações, sendo as mais significativas, as
estabelecidas com a família. As famílias, por sua vez, participam nas relações com a comunidade e
cultura.
Qualquer intervenção ou programa de tratamento deve basear-se numa compreensão tão completa
quanto possível, da criança e das relações da criança. Pressionados pelo tempo, os clínicos podem focar a
atenção num número limitado de variáveis, dando pouca atenção a outras influências no desenvolvimento.
Os clínicos podem ainda evitar avaliar áreas de funcionamento da criança onde os constructos ou a
investigação não estão totalmente desenvolvidos, ou onde existem lacunas da sua própria formação.
Apesar de ser compreensível, qualquer clínico ou equipa clínica responsável por fazer uma avaliação clínica
e planificar uma intervenção apropriada, deve ter em conta todas as áreas relevantes do funcionamento da
criança. O clínico é obrigado a cumprir o estado da arte para cada área de funcionamento e avaliar os
pontos fortes e fracos da criança e sua família.
O clínico ou a equipa precisam de um determinado número de sessões para perceber como é que
a criança se está a desenvolver em cada área de funcionamento. Pode ser apropriado fazer um conjunto de
questões aos pais ou cuidadores, acerca de cada área, para recolha de alguma informação, mas não para
uma avaliação completa. Uma avaliação compreensiva requere, geralmente, um mínimo de 3-5 sessões de
45 ou mais minutos cada. Uma avaliação completa envolve tipicamente os seguintes:
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- Observar diretamente o funcionamento da família (dinâmica familiar e parental, relação cuidador-criança
e padrões de interação;
- Obter informação, através de observação direta e relatórios, acerca das características individuais da
criança, linguagem, cognição, reciprocidade social e expressão afetiva e comportamental; e
Além de ter em conta as perturbações clínicas, os achados de uma avaliação clínica abrangente devem
levar a noções preliminares sobre o seguinte:
- A natureza dos pontos fortes e fracos da criança, incluindo o nível geral de capacidade global de
adaptação e funcionamento nas principais áreas de desenvolvimento (emocional, social-relacional,
linguagem e comunicação social, cognitivo e motricidade e desenvolvimento físico) em comparação
com os padrões de desenvolvimento esperados para a idade e cultura;
- A relativa contribuição para as competências e dificuldades das diferentes áreas avaliadas (p.e. relações
familiares, padrões de interação, stress e padrões constitucionais ou de maturação); e
A DC:0-5 mantém o sistema de classificação multiaxial que tem sido tão útil na formulação clínica.
O uso do sistema multiaxial para a formulação clínica foca a atenção do clínico nos factores que podem
estar a contribuir para as dificuldades da criança, nas forças adaptavas e outras áreas de funcionamento
nas quais seja preciso realizar uma intervenção. Dois dos nomes dos eixos da DC:0-5 são semelhantes aos
da DC:0-3R, no entanto, os nomes atribuídos aos restantes três eixos foram revistos e atualizados. Todos
os eixos foram reformulados substancialmente:
O comportamento e a expressão das emoções, nas crianças pequenas, são modelados, desde o
momento do nascimento, pelos valores culturais familiares e práticas, que são geralmente realizadas
inconscientemente, mas que têm um grande poder na definição do que é certo e errado, no crescimento
de uma criança. Estas práticas e valores estão presentes em todos os aspetos do cuidado da criança,
desde decisões concretas, como onde e com quem dorme o bebé e quando começar o treino de bacio,
até às expectativas do adulto acerca do que a criança pode ou não dizer e fazer, em diferentes situações.
Por estas razões, ao diagnosticar uma criança pequena que está a passar por problemas de saúde mental
deve ter-se em conta o contexto cultural e as condições socio-económicas dos pais, nacionalidade,
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estatuto de imigração, identidade racial e étnica, orientação sexual, religião e práticas espirituais e outras
fontes de diversidade.
Na avaliação da criança é útil ter em mente que as atitudes e práticas clínicas convencionais, no
campo da saúde mental, em crianças da primeira infância, são modeladas por pressupostos que podem
não ser partilhados pela família. Uma visão clínica do que é normativo ou saudável pode entrar em conflito
com a visão da família do que é certo ou errado - por exemplo, em termos da curiosidade acerca do corpo
e aparecimento de exploração sexual, ou a forma da criança expressar a raiva com os pais ou outros
adultos. Como conciliar premissas de saúde mental com valores culturais divergentes dos pais representa
um desafio contínuo para clínicos que trabalham com diversas famílias. Algumas práticas parentais na
educação dos filhos podem ser mal interpretadas pelo clínico como indicando psicopatologia severa
quando estas práticas não são entendidas no contexto socio-económico da família ou circunstâncias
históricas. Por outro lado, há o perigo de que o esforço para ser mais sensível às questões culturais possa
involuntariamente resultar num “relativismo cultural” que deixe passar alguns danos causados à criança por
práticas socialmente reprováveis como punições severas, que podem ter raízes históricas na opressão de
um grupo cultural por outro, mas podem perpetuar um padrão de vitimização de pai para o filho.
O esquema da tabela 1 apresenta uma abordagem para incorporar perspectivas culturais na avaliação da
saúde mental de crianças na primeira infância. Representa uma adaptação do texto sobre crianças
pequenas da DSM-5 (perfil para a formulação cultural) e tem como objetivo ajudar os clínicos a refletir
acerca das diferentes facetas da identidade cultural e a sua possível influência na apresentação clínica, na
criança da primeira infância.
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Tabela 1. Formulação cultural para uso em crianças pequenas
1. Identidade cultural do indivíduo
Identidade cultural da criança e cuidadores
Anote a referência étnica ou cultural dos pais da criança e, se for relevante, outros cuidadores.
Grupos de referência cultural, para além da raça, etnia, nacionalidade e aculturação, pode ainda incluir o
género, identidade de género, orientação sexual, religião, status socioeconómico.
Anote como os cuidadores pretendem educar a criança no que diz respeito ao seu grupo cultural
de referência e, em particular, se há ou não potenciais questões de multiculturalidade para a criança. Em
imigrantes e minorias étnicas, anote o grau de envolvimento com ambas culturas, a de origem e a de
destino, e se se antecipam ou não quaisquer questões geracionais em relação ao envolvimento da criança
na cultura de origem e na cultura anfitriã. Observe as habilidades linguísticas dos cuidadores, o uso e a
preferência pela língua-mãe (incluindo se são poliglotas) e qual a língua que pretendem ensinar à criança.
B. Rede de cuidados do bebé. Anote os cuidadores significativos na vida da criança, incluindo o papel e
grau de envolvimento dos cuidadores principais (p.e. mãe, pai) e dos secundários (p.e. avós, irmãos,
prestadores de cuidados da comunidade, outros). Anote alterações significativas na rede de cuidados
(p.e. presença de vários cuidadores e frequência da mobilidade entre eles, consistência e
previsibilidade versus mobilidade imprevisível, inconsistente e/ou disruptiva) e se são ou não
normativos na cultura local.
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C. Crenças dos pais/cuidadores acerca da parentalidade e desenvolvimento da criança. Anote crenças
acerca da parentalidade e desenvolvimento infantil que não tenha descrito noutro lado, incluindo
diferentes visões ou discrepâncias entre pais/cuidadores, como: práticas cerimoniais (p.e. colocar o
nome), crenças acerca dos papéis de género, práticas disciplinares, objetivos e aspirações para a
criança, crenças acerca de crianças e desenvolvimento infantil, fontes às quais recorrem os pais/
cuidadores para obter conselhos sobre parentalidade, crenças acerca do papel dos pais/cuidadores ,
etc.
A abordagem descritiva da classificação que incorpora a DC:0-5 tem sido muito criticada. O facto
de se focar em comportamentos que se agrupam, sem qualquer compreensão da patofisiologia e etiologia,
é uma restrição significativa. Além disso, há evidências crescentes de que a maioria das formas de
psicopatologia existe num contínuo, o que leva a uma certa arbitrariedade na definição de pontos de corte
e no preenchimento de critérios diagnósticos para uma dada perturbação psiquiátrica. As perturbações
categóricas envolvem o agrupamento sintomas que muitas vezes não indicam a etiologia ou patogénese,
nem necessariamente qual tratamento será mais eficaz.
A DC:0-5 aparece num altura de progresso sem precedentes na neurociência, genética, imunologia
e biologia celular e molecular. Estes avanços trouxeram a promessa de identificar biomarcadores e delinear
circuitos envolvidos na patofisiologia das perturbações mentais e de desenvolvimento. Estes
desenvolvimentos são extremamente necessários para aumentar a precisão do diagnóstico e tratamento e
para desenvolver cuidados individualizados para as crianças pequenas e suas trajetórias de
desenvolvimento.
O Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA iniciou o projeto “Research Domain Criteria” (RDoC).
Este projeto classifica as perturbações mentais incorporando as suas múltiplas dimensões:
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comportamento, padrões de pensamento, medidas neurobiológicas e genética. De facto, o projeto RDoC
mudou as suas prioridades de financiamento em favor de abordagens dimensionais.
Isto não significa que o reducionismo biológico terá influência no futuro. Há evidências abundantes
de que o ambiente e as características do contexto da criança estão indissociavelmente ligados às suas
características biológicas subjacentes. Por exemplo, investigadores demonstraram que as experiências
levam a mudanças moleculares que aumentam ou diminuem a expressão de genes. Perceber a
patofisiologia nunca será suficiente, mas provavelmente ajudará a aliviar o sofrimento e restaurar o
funcionamento.
Mesmo assim, na nossa perspectiva, estes desenvolvimentos não estarão disponíveis num futuro
intermédio. A epigenética é um ponto de pesquisa importante mas não tem aplicação clínica neste
momento. Mesmo as medidas dimensionais da psicopatologia apresentam desafios para avaliar o
preenchimento de critérios diagnósticos para uma dada perturbação psiquiátrica, o que determina se uma
condição clínica justifica intervenção em determinado momento. Em cada consulta médica, o clínico toma
uma decisão categórica sobre se a intervenção é ou não justificada.
Evidências crescentes asseguram que a evolução dos constructos diagnósticos irá continuar e que
futuras revisões do sistema de classificação diagnóstica serão resultado de pesquisas atuais e futuras. O
texto de cada perturbação, nesta classificação, destaca as evidências das quais resultaram os critérios e
identifica áreas de oportunidade para investigações futuras. De acordo com o conhecimento atual,
acreditamos que os critérios descritivos da DC:0-5 são clinicamente relevantes e mais úteis para os
clínicos, do que as abordagens alternativas.
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Eixo I:
Perturbações Clínicas
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PERTURBAÇÕES DO NEURODESENVOLVIMENTO
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Coordenação. Estas três podem ocorrer sozinhas mas, mais frequentemente, ocorrem em comorbilidade
com outras perturbações do neurodesenvolvimento.
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
A. Cada um dos seguintes três sintomas de comunicação social deve estar presente:
2. Défices em comportamentos não verbais de comunicação social, evidenciados por pelo menos um
dos seguintes:
3. Dificuldades na interação com os pares, evidenciadas por pelo menos um dos seguintes:
B. Os sintomas do critério A não são melhor explicados por défices sensoriais (p.e. visão, audição, outro
défice sensorial major)
C. Dois dos seguintes comportamentos repetitivos e restritos têm que estar presentes:
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1. Vocalizações ou discurso, movimentos motores ou uso de objetos e brinquedos estereotipados ou
repetitivos
2. Mantém rotinas rígidas, com excessiva resistência à mudança; exige manutenção da similaridade e
mostra angústia em resposta a mudanças ou transições; uso ritualizado de frases ou
comportamentos não verbais estereotipados, estranhos ou idiossincráticos
3. Interesses altamente circunscritos, específicos ou inusuais, que se manifestam por fixação extrema
ou atípica num item ou tópico de interesse
4. Resposta atípica ao “input” sensorial (p.e. hiper ou hipo-reativo) ou envolvimento inusual com os
aspetos sensoriais do ambiente (p.e. lamber carpetes)
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Idade: O diagnóstico deve ser feito com precaução em crianças com menos de 18 meses de idade.
Especificar:
1. Com ou sem Atraso Global de Desenvolvimento
Nota: Crianças que apresentem uma regressão inexplicável ou aumento súbito nos comportamentos
repetitivos e restritos, devem ser alvo de avaliação médica. Crianças com menos de 30 meses que não
cumprem critérios para PEA, mas nas quais há preocupação marcada a respeito do desenvolvimento
social, devem ser avaliadas para Perturbação do Espectro do Autismo Atípica Precoce.
Características do diagnóstico
Os critérios usados para diagnosticar PEA em crianças pequenas são os mesmos que os usados
no diagnóstico de crianças mais velhas, adolescentes e adultos. No entanto, as manifestações
comportamentais específicas dos sintomas de comunicação social são diferentes porque as crianças
pequenas têm competências de comunicação social e de relações interpessoais mais limitadas. Por
exemplo, não é expectável que crianças, na primeira infância, questionem outras crianças ou adultos sobre
as suas experiências ou sejam capazes de refletir acerca das suas próprias experiências emocionais.
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Características associadas que apoiam o diagnóstico
Muitas das crianças pequenas que acabam por receber um diagnóstico de PEA chegam aos
clínicos porque os pais estão preocupados com o atraso de linguagem e comunicação. De facto, muitas
crianças com PEA têm atrasos de linguagem expressiva e recetiva significativos à data do diagnóstico. O
Atraso Global de Desenvolvimento também é comum. Vários fatores de risco adicionais aumentam a
probabilidade de um diagnóstico de PEA. O mais chamativo é quando a criança é o irmão mais novo de
uma criança previamente diagnosticada com PEA, onde o risco de aparecimento de PEA é
aproximadamente 19%, com risco mais elevado para rapazes e crianças com mais de um irmão com PEA.
Adicionalmente, há evidências de que crianças prematuras tenham maior risco de desenvolver PEA.
Características do desenvolvimento
Existe uma grande variação individual nas trajetórias de desenvolvimento das crianças com PEA.
Tanto os comportamentos repetitivos e restritos, como os de comunicação social, podem aparecer no
primeiro ano de vida. A idade de início varia entre os 12 e os 36 meses de idade. Observam-se diferenças
marcadas no surgimento de um espectro de défices sociais e de comunicação. Muitas crianças evidenciam
perdas marcadas ou regressão nas competências de comunicação social e linguagem, enquanto outros
mostram um padrão de início gradual, que pode ser marcado pela falha na aquisição de competências
sociais apropriadas à idade, ou por se desligarem das interações sociais. A maioria dos pais relata
preocupações de desenvolvimento entre os 18 e os 24 meses de idade. No entanto, crianças pequenas
sem atrasos de desenvolvimento tendem a ser diagnosticadas mais tardiamente, na pré-escola ou mais
tarde ainda, quando a exigência de interações sociais aumenta. Muitas crianças com PEA e atraso global
ou de linguagem, mostram marcados ganhos na linguagem e desenvolvimento cognitivo ao longo da
primeira infância.
Prevalência
Antes considerada uma doença rara, a PEA está atualmente entre as mais comuns perturbações
do neurodesenvolvimento, com estimativas, nos EUA, de 1 em cada 68 crianças. Dado que os rapazes são
aproximadamente 4 vezes mais afetados que as raparigas, a prevalência estimada para rapazes é 1 em 42
e, para raparigas 1 em 189.
Curso
O diagnóstico de PEA realizado antes dos 3 anos de idade parece manter-se significativamente
estável ao longo do tempo, no entanto, a estabilidade aumenta quando o diagnóstico é feito após os 4
anos de idade.
Muitos fatores têm sido associados ao aumento do risco de PEA, incluindo ter um irmão mais velho
com PEA ou outro fator de risco familiar/genético; ser do sexo masculino; ter um atraso de
desenvolvimento, debilidade intelectual ou atraso de linguagem; prematuridade ou baixo peso ao
nascimento; pais de idade avançada; ter sido exposto a toxinas ambientais (p.e. exposição pré-natal ao
valproato, proximidade a uma auto-estrada). Adicionalmente, algumas condições genéticas como
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Síndrome de X-frágil e Esclerose Tuberosa estão associados a elevado risco de PEA. Alguns estudos
demonstraram que crianças com maior nível de linguagem e melhor funcionamento cognitivo, assim como
os que têm melhores competências de atenção conjunta, apresentam melhor prognóstico.
São conhecidas disparidades na idade e taxas de diagnóstico nos EUA. Crianças pequenas com
PEA que cresceram em ambientes pobres, com pais não nativos em língua inglesa ou com pais
identificados como pertencentes a minorias raciais/étnicas, têm sido diagnosticados mais tarde ou
erroneamente diagnosticados apenas com debilidade intelectual. Uma vez que existem diferenças culturais
nas práticas de comunicação social e expressão emocional, os sintomas da criança devem ser avaliados
no contexto das práticas culturais familiares ou da sua comunidade.
Diagnóstico diferencial
Crianças com Síndrome de Rett podem apresentar sintomas de PEA na primeira infância. Quando
uma debilidade intelectual ou um Atraso Global de Desenvolvimento é muito severo, pode ser difícil de
distinguir da PEA. É importante avaliar os sintomas de comunicação social no contexto da idade mental da
criança - particularmente quando se examinam défices sociais. Crianças com Perturbação Reativa de
Vinculação podem apresentar dificuldades na reciprocidade social e Atraso Global de Desenvolvimento,
mas mostram ausência seletiva de comportamentos de vinculação, atrasos de linguagem comparáveis a
atrasos cognitivos e não apresentam evidência de comportamentos restritivos ou repetitivos, para além de
estereotipias motoras.
Comorbilidades
Introdução
O diagnóstico de PEAAP identifica crianças com sintomas de PEA sérios, persistentes e que
causam transtorno, mas que não preenchem todos os critérios de PEA. A PEAAP aplica-se apenas a
crianças entre os 9 e os 36 meses de idade, cujo funcionamento se encontra prejudicado pela
sintomatologia, mas que não têm um número suficiente de sintomas para preencher todos os critérios de
diagnóstico para PEA, do DSM-5. Este diagnóstico não se aplica a crianças cujo comportamento seja
melhor explicado por uma perturbação/atraso/distúrbio de linguagem ou intelectual, ou outra
psicopatologia. Acredita-se que crianças pequenas com PEAAP estão em alto risco de desenvolver PEA e
devem ser monitorizadas para o desenvolvimento de novos sintomas.
Algoritmo de diagnóstico
Pelo menos dois critérios de comunicação social e um critério de comportamento restritivo e repetitivo,
devem estar presentes, assim como o critério de afetar o funcionamento.
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c. Capacidade reduzida ou limitada de iniciação de atenção conjunta para partilhar interesses ou
emoções, ou para pedir informação sobre objetos de interesse no ambiente
2. Défices em comportamentos não verbais de comunicação social, evidenciados por pelo menos um
dos seguintes:
3. Dificuldades na interação com os pares, evidenciadas por pelo menos um dos seguintes:
B. Os sintomas do critério A não são melhor explicados por défices sensoriais (p.e. visão, audição, outro
défice sensorial major). A criança não preenche critérios para PEA.
2. Mantém rotinas rígidas, com excessiva resistência à mudança; exige manutenção da similaridade e
mostra angústia em resposta a mudanças ou transições; uso ritualizado de frases ou
comportamentos não verbais estereotipados, estranhos ou idiossincráticos
3. Interesses altamente circunscritos, específicos ou inusuais, que se manifestam por fixação extrema
ou atípica num item ou tópico de interesse
4. Resposta atípica ao “input” sensorial (p.e. sobre ou sub-reativo) ou envolvimento inusual com os
aspetos sensoriais do ambiente (p.e. lamber carpetes)
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Idade: O diagnóstico só pode ser feito entre os 9 e os 36 meses de idade. Crianças em idade pré-escolar
que preenchem critérios para PEAAP devem ser avaliados para Perturbação de Comunicação Social
(Pragmática) do DSM-5
22
Especificar:
1. Com ou sem atraso global de desenvolvimento
Nota: Crianças que apresentem uma regressão inexplicável ou aumento súbito nos comportamentos
repetitivos e restritos, devem ser alvo de avaliação médica.
Características do diagnóstico
Os critérios usados para diagnosticar PEAAP em crianças pequenas são os mesmos que os
usados no diagnóstico de PEA em crianças mais velhas, adolescentes e adultos. No entanto, as
manifestações comportamentais específicas dos sintomas de comunicação social são diferentes, porque
as crianças pequenas têm competências de comunicação social e de relações interpessoais, mais
limitadas. Por exemplo, não é expectável que crianças, na primeira infância, questionem outras crianças ou
adultos sobre as suas experiências, ou sejam capazes de refletir acerca das suas próprias experiências
emocionais.
Tal como para a PEA, muitas das crianças pequenas que acabam por receber um diagnóstico de
PEAAP vêm à consulta porque os pais estão preocupados com o atraso de linguagem e comunicação.
Assumindo que algumas crianças diagnosticadas com PEAAP estão a mostrar sintomas precoces de PEA
como parte da progressão da PEA, e dado que muitas crianças com PEA têm atrasos de linguagem
expressiva e recetiva significativos, assim como Atraso Global de Desenvolvimento, na altura do
diagnóstico, é importante avaliar o funcionamento cognitivo, expressivo e recetivo da criança.
Características do desenvolvimento
Apesar de não haver dados disponíveis para a PEAAP, com base nos achados acerca da
progressão da PEA, parece existir variabilidade individual nas trajetórias de desenvolvimento de crianças
com PEAAP. Tanto os comportamentos repetitivos e restritos, como os de comunicação social, podem
aparecer no primeiro ano de vida. A idade de início varia, apesar de alguns sintomas poderem estar
presentes no primeiro ano de vida. Observam-se diferenças marcadas no surgimento do espectro de
défices sociais e de comunicação. Muitas crianças evidenciam perdas marcadas ou regressão nas
competências de comunicação social e linguagem, enquanto outros mostram padrão de início gradual, que
pode ser marcado pela falha na aquisição de competências sociais apropriadas à idade, ou por se
desligarem das interações sociais. Crianças que preencham critérios para PEAAP devem ser monitorizados
para o aparecimento de sintomas adicionais porque têm elevado risco de desenvolver PEA.
23
Prevalência
A prevalência é desconhecida mas a prevalência parece ter aumentado nos últimos anos.
Curso
O curso da PEAAP é desconhecido. Crianças com 12 meses que manifestem múltiplos sintomas
de comunicação social e restritivos/repetitivos têm risco aumentado de desenvolvimento de PEA, mas o
curso da PEAAP não está bem definido.
É provável que os mesmos fatores de risco que estão associados a PEA - incluindo ter um irmão
mais velho com PEA ou outro fator de risco familiar/genético; ser do sexo masculino; ter um atraso de
desenvolvimento, debilidade intelectual ou atraso de linguagem; prematuridade ou baixo peso ao
nascimento; pais de idade avançada; ter sido exposto a toxinas ambientais (p.e. exposição pré-natal ao
valproato, proximidade a uma auto-estrada) - estão associadas ao aparecimento de PEAAP. Existem
evidências de que crianças que desenvolvem todos os sintomas de PEA antes dos 2 anos de idade e os
que desenvolvem sintomas após os 2 anos de idade, são indistinguíveis aos 3 anos de idade, em termos
de gravidade dos sintomas. Há ainda evidências de que tratar crianças com sintomas de PEA
independentemente de preencherem ou não todos os critérios, pode minimizar défices de comunicação
social.
Existem diferenças culturais nas práticas de comunicação social e expressão emocional. Assim
sendo, os sintomas da criança devem ser avaliados no contexto das práticas culturais familiares ou da sua
comunidade.
Não há dados que permitam inferir diferenças de género para PEAAP, no entanto, há evidência de
que os rapazes têm tendência a mostrar risco mais elevado em questionários e screenings observacionais,,
mesmo antes da idade à qual as crianças tipicamente recebem um diagnóstico de PEA.
Diagnóstico diferencial
Crianças com Síndrome de Rett podem apresentar sintomas de PEA na primeira infância. Quando
uma debilidade intelectual ou um Atraso Global de Desenvolvimento é muito severo, pode ser difícil de
distinguir de PEAAP e da PEA. É importante avaliar os sintomas de comunicação social no contexto da
idade mental da criança - particularmente quando se examinam défices sociais. Crianças com Perturbação
Reativa de Vinculação podem apresentar dificuldades na reciprocidade social e Atraso Global de
Desenvolvimento, mas mostram ausência seletiva de comportamentos de vinculação, atrasos de
linguagem comparáveis a atrasos cognitivos e não apresentam evidências de comportamentos restritivos
ou repetitivos, para além de estereotipias motoras.
24
Comorbilidades
Não há dados de comorbilidade para PEAAP, no entanto, sintomas de PEA estão aumentados em
crianças com Atraso Global de Desenvolvimento e atrasos de linguagem. Uma avaliação formal de
desenvolvimento é importante para caracterizar o funcionamento da criança, com a ressalva de que ambos
scores, linguagem e cognitivo, são menos estáveis na primeira infância.
Introdução
Os sintomas de PHDA estão entre as razões mais comuns para referenciação aos profissionais de
saúde mental, na primeira infância. Considerando os potenciais diagnósticos diferenciais, que incluem um
desenvolvimento normal, assim como outros diagnósticos de saúde mental, é necessária uma aplicação
rigorosa do diagnóstico. Crianças pequenas com sintomas em apenas um contexto ou restritos a uma
relação, assim como os que apresentam menos sintomas do que os requeridos, não devem receber um
diagnóstico de PHDA. Por outro lado, crianças pequenas que preenchem os critérios devem ser
diagnosticadas de forma a assegurar o acesso a suporte e tratamento adequados e facilitar a comunicação
efetiva entre os prestadores de cuidados.
Algoritmo de diagnóstico
A. Pelo menos seis sintomas da categoria de desatenção ou pelo menos seis sintomas da categoria de
hiperatividade-impulsividade devem estar presentes.
1. Categoria de desatenção:
b. Habitualmente não é cuidadoso e está desatento aos detalhes durante o jogo, atividades da vida
diária ou atividades estruturadas (p.e. comete erros ou tem acidentes desproporcionados em
relação ao que seria expectável para o seu nível de desenvolvimento)
25
d. Frequentemente não responde a pedidos/exigências verbais, especialmente se envolvido numa
atividade preferencial (p.e. o cuidador tem que chamar o nome da criança múltiplas vezes até
que ela pareça notar)
e. Frequentemente descarrila quando tenta seguir instruções múltiplas e acaba por não completar a
atividade
f. Frequentemente tem dificuldade em cumprir tarefas sequenciais apropriadas à idade (p.e. vestir-
se, cumprir com rotinas em casa ou no infantário)
g. Frequentemente recusa ou evita atividades que requeiram atenção prolongada (p.e. ler um livro
com o cuidador, ou fazer um puzzle)
h. Perde coisas que usa regularmente (p.e. animal de peluche preferido, sapatos, mochila)
i. Frequentemente distrai-se com sons ou imagens (p.e. sons de outra divisão ou objetos ou
atividades fora da janela)
2. Categoria de hiperatividade-impulsividade
a. Frequentemente contorce-se ou mexe-se quando seria suposto estar estar quieto, mesmo por
curtos períodos de tempo
b. Habitualmente levanta-se da cadeira durante atividades em que deveria estar sentado (p.e. bons
dias, refeições, culto)
d. Habituamente parece fazer mais barulho do que outras crianças pequenas e tem dificuldade em
brincar em silêncio
h. Frequentemente tem dificuldade em ceder a vez nas atividades e em aguardar para ter as suas
necessidades satisfeitas
i. Frequentemente intrusivo no jogo ou outras atividades (p.e. retira brinquedos às outras crianças,
interrompe um jogo estabelecido)
B. Os sintomas do critério A têm que ser excessivos quando comparados com as normas culturais e de
desenvolvimento expectáveis.
C. Os sintomas têm que estar presentes em pelo menos dois contextos de vida da criança (p.e. dois
espaços físicos diferentes - casa e fora de casa) ou em dois relacionamentos diferentes (cuidador,
professor, clínico).
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
26
4. Limitam a participação da criança em atividades ou rotinas expectáveis para o seu nível de
desenvolvimento
Características do diagnóstico
Crianças pequenas com PHDA, em idade pré-escolar, têm maior risco de ter atrasos de
desenvolvimento incluindo compromisso intelectual ligeiro, défices de desenvolvimento, competências pré-
académicas pobres, problemas de coordenação motora e dificuldades na interação social. Os pré-
escolares com PHDA também apresentam défices das funções executivas e podem ter necessidade de
serviços de educação especial em taxas superiores às crianças com um desenvolvimento típico.
As suspensões e expulsões escolares não são incomuns em crianças pequenas com esta
perturbação e podem levar a dificuldades financeiras dos pais, assim como consequências psicológicas na
criança. Adicionalmente, algumas das mais prevalecentes dificuldades ligadas à PHDA são problemas de
aprendizagem e fracasso académico.
Nem todas as crianças pequenas com PHDA têm uma história familiar de problemas de atenção ou
hiperatividade-impulsividade. No entanto, a presença de história familiar de PHDA é uma característica
importante para as crianças pequenas que preenchem os critérios para PHDA.
Características do desenvolvimento
27
Prevalência
Em crianças pequenas dos 2-6 anos de idade, a maioria dos estudos apresenta taxas de
prevalência no intervalo de 2-6%, no entanto, foram descritas, em algumas amostras, taxas de 0,4% a
8,8%.
Curso
Fatores ambientais e genéticos, incluindo abuso e negligência, têm sido ligados ao aumento de
PHDA na infância precoce. Por exemplo, crianças pequenas que cresceram em ambientes adversos, como
instituições ou orfanatos, têm aproximadamente quatro vezes mais risco de PHDA na infância precoce,
comparado com pré-escolares que vivem com as suas famílias. A hereditariedade da hiperatividade em
crianças pequenas é aproximadamente 70%, semelhante a taxas de crianças mais velhas. A investigação
de genes específicos relacionados com a PHDA realizou-se primeiramente em crianças mais velhas,
focando-se em genes relacionados com a atividade dopaminérgica ou metabolismo de outras
catecolaminas. Tal como em outras perturbações, o mais provável é que a PHDA em crianças se
desenvolva no contexto de interações complexas entre fatores genéticos e ambientais. Síndromes
específicos de neurodesenvolvimento, incluindo o Síndrome de X-Frágil e Perturbação do Espectro do
Autismo, estão associados a elevadas taxas de PHDA.
Fatores pré e pós-natais não herdados, estão também associados a sinais de PHDA pré-escolar. A
exposição pré-natal a substâncias de abuso por parte da mãe, incluindo álcool, está associada a sinais de
PHDA em idade pré-escolar. Os achados relativos à exposição pré-natal ao tabaco são contraditórios, com
a maioria, mas não todos os estudos, a indicarem uma associação com a PHDA pré-escolar. Fatores
perinatais, incluindo baixo peso ao nascer e prematuridade, também são preditivos de hiperatividade e
impulsividade precoces. Exposição pós-natal ao chumbo e perturbações do sistema nervoso central, como
convulsões, também estão associados a taxas aumentadas de PHDA. Fatores familiares, incluindo pais
jovens, depressão parental e ter uma família isolada, também aumentam o risco de PHDA em idade pré-
escolar.
28
Características de diagnóstico relacionadas com a cultura
Alguns estudos, em crianças pequenas, indicam que os rapazes têm maior prevalência que as
raparigas, apesar da magnitude desta diferença ser um pouco menor que em crianças mais velhas.
Diagnóstico diferencial
Comorbilidades
A PHDA ocorre, frequentemente, em simultâneo com outras perturbações psiquiátricas, numa larga
maioria, em crianças de idade pré-escolar. Os padrões específicos de comorbilidade variam na literatura,
mas destacam-se a Perturbação de Oposição e Desafio, perturbações internalizantes, especificamente
Perturbação de Ansiedade de Separação, Perturbação Depressiva Major ou Perturbação de Ansiedade
Generalizada.
29
Perturbação de Excesso de Atividade da Criança Pequena
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
A. A criança apresenta pelo menos seis sintomas, dos seguintes, que são excessivos, quando
comparados com o expectável para a norma cultural e de desenvolvimento:
1. Frequentemente contorce-se ou mexe-se quando seria suposto estar estar quieto, mesmo que por
curtos períodos de tempo
2. Habitualmente levanta-se da cadeira durante atividades em que deveria estar sentado (p.e. bons
dias, refeições, cadeira do carro)
3. Frequentemente trepa a mobília ou outros objetos inapropriados
4. Habitualmente parece fazer mais barulho do que outras crianças pequenas e tem dificuldade em
brincar em silêncio
7. Frequentemente tem dificuldade em ceder a vez durante as conversas ou interrompe a conversa dos
outros
8. Frequentemente tem dificuldade em ceder a vez nas atividades e em aguardar para ter as suas
necessidades satisfeitas
B. Os sintomas do critério A têm que ser excessivos quando comparados com as normas culturais e de
desenvolvimento expectáveis.
C. Os sintomas têm que estar presentes em pelo menos dois contextos de vida da criança (p.e. dois
espaços físicos diferentes - casa e fora de casa) ou em dois relacionamentos diferentes (cuidador,
professor, clínico).
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
30
1. Causam sofrimento à criança
Características do diagnóstico
A janela de desenvolvimento para esta perturbação é pequena, de forma intencional, com um limite
inferior de 24 meses de idade, que é a idade mais baixa a que estes sintomas foram estudados como
diagnostico categórico, e um limite superior de 36 meses de idade, após o qual deve ser considerado o
diagnóstico de PHDA.
O diagnóstico não deve ser considerado em crianças pequenas com alterações do nível de
atividade episódicas, reativas ou em contextos específicos. Neste caso, deve ser considerado um
diagnóstico diferencial, sendo provável que estejam presentes outras comorbilidades.
Crianças pequenas com sinais de PACP podem sofrer ferimentos como lacerações que requerem
pontos ou magoar-se na cabeça como resultado de quedas, o que se relaciona com a impulsividade e o
aumento da atividade. Os cuidadores principais podem ter dificuldades em encontrar outros adultos, como
amas, família alargada ou creches, que estejam dispostos a ficar com a criança a seu cuidado. Dados
recentes sugerem que a hiperatividade precoce está associada a sono de curta duração, um padrão que se
31
vê com frequência na prática clínica, apesar de não estar estabelecido um nexo de causalidade.
Adicionalmente, a agressão física também está frequentemente associada a excesso de atividade infantil.
Características do desenvolvimento
O critério A1 e A2 não devem aplicar-se por períodos prolongados, mas sim por períodos de tempo
curtos, com outras pessoas, como ver um livro, explorar um novo brinquedo ou cantar uma canção com
um grupo. Para o critério A3, a frequência do comportamento é importante para distinguir uma exploração
do ambiente típica de um excesso de comportamento de escalar objetos. Crianças pequenas com PACP
têm tendência a escalar qualquer objeto, incluindo mobiliário e estruturas altas ou potencialmente
perigosas. O critério A4 distingue o volume da criança, de forma explícita, das outras crianças e este pode
ser identificado em jogos de grupo ou em solitário.
Prevalência
Os dados acerca das taxas de diagnóstico categórico de PACP são limitados, no entanto, dados
epidemiológicos da Europa e América do Norte demonstram que 7-16% das crianças pequenas mostram
uma trajetória de desenvolvimento estável, elevados níveis de hiperatividade e impulsividade, não contando
com os critérios de compromisso funcional e múltiplos contextos. Com base em dados existentes, em
crianças mais velhas, o compromisso funcional parece estar presente em menos de metade das crianças
com hiperatividade e impulsividade, no entanto, dada a especificidade do contexto e as diferentes
expectativas para as crianças pequenas, é provável que sejam até menos, aqueles que cumprem os
critérios para a perturbação.
Curso
32
extrema. Fatores familiares, incluindo pai/mãe solteiro ao nascimento, baixa idade materna, insegurança
alimentar, depressão materna ou história parental de comportamentos antissociais, têm demonstrado ser
fatores preditivos estáveis de comportamentos de hiperatividade em crianças pequenas. Em crianças
pequenas para as quais a PACP é preditiva de PHDA mais tardiamente, os fatores de risco pré-escolares,
incluindo fatores genéticos, padrões de hereditariedade e adversidade nos cuidados, também podem
conferir risco na primeira infância.
Diagnóstico diferencial
Comorbilidades
Muitas das perturbações descritas previamente nos diagnósticos diferenciais podem também
ocorrer em comorbilidade com a hiperatividade. Problemas do sono e desregulação do comportamento,
tais como os que se verificam na Perturbação de Desregulação da Raiva e Agressão da Primeira Infância,
estão bem documentados. Devido à associação com a adversidade, as perturbações relacionadas com
trauma, como a PSPT, podem também surgir em comorbilidade com a PACP, quando a criança pequena
apresenta hiperatividade, assim como sinais de PSPT.
Introdução
34
A etiologia do AGD varia desde negligência social a uma condição genética (p.e. Síndrome de X-
frágil, Síndrome de Down). Quando o AGD ocorre no contexto de uma condição genética, é importante
determinar se existe um fenótipo específico associado, que influencie o curso do desenvolvimento
cognitivo porque algumas condições p.e. Síndrome de Rett, podem estar associadas a declínio do
funcionamento cognitivo.
Apesar dos testes standartizados na primeira infância e período pré-escolar serem menos estáveis
do que os testes de QI standartizados para crianças pequenas dos 3-5 anos, crianças mais velhas,
adolescentes e adultos, muitas crianças pequenas com AGD irão continuar a preencher critérios para
debilidade intelectual.
Muitas vezes, os pais apercebem-se do AGD dos filhos pequenos quando eles não atingem
marcos de desenvolvimento motores (p.e. sentar, andar sem apoio) ou não falam. Quando qualquer
domínio de desenvolvimento está atrasado, é importante prosseguir com uma avaliação formal de todos os
domínios. Quando os scores dos testes de desenvolvimento suportam um diagnóstico de AGD, é
importante administrar um teste de funcionamento adaptativo para determinar se o desempenho do bebé/
criança pequena está de acordo com o seu desempenho diário, no que diz respeito às competências
adequadas à sua idade.
As crianças com AGD geralmente apresentam pontos fortes e fracos relativos, em todos os
domínios de desenvolvimento, que podem ser úteis para determinar a intervenção. No entanto, crianças
pequenas com AGD mostram atrasos marcados em todos os domínios de desenvolvimento, em contraste
com crianças com atrasos específicos de aprendizagem ou perturbações de linguagem. O AGD está
associado a uma ampla gama de perturbações mentais.
Algoritmo de diagnóstico
35
CID-10: Outras perturbações do Desenvolvimento Psicológico, Atraso global do desenvolvimento (F88)
Introdução
O alcance das potenciais limitações de linguagem em crianças com esta perturbação é grande,
variando desde os que exibem primariamente problemas de articulação, até os que exibem atrasos
profundos na compreensão da linguagem falada. Apesar dos problemas de linguagem expressiva poderem
ser identificados na ausência de anomalias da linguagem recetiva, o contrário raramente acontece.
Quando mais tardiamente forem diagnosticadas, pior será o prognóstico, sugerindo que é urgente
iniciar uma avaliação cuidada e intervenção precoce. A avaliação da audição está sempre indicada em
crianças pequenas com atrasos de linguagem não explicados. O discurso, linguagem e comunicação
devem ser entendidos de acordo com o contexto cultural e de linguagem. Normas standartizadas para um
grupo não podem assumir-se como relevantes para um grupo diferente. Deve prestar-se atenção especial
às crianças que crescem em ambientes bilingues porque as normas monolíngues podem não se aplicar.
Um diagnóstico de Perturbação do Desenvolvimento da Linguagem faz-se com base na história,
observação e performance em testes standartizados para a capacidade de linguagem.
Algoritmo de diagnóstico
36
A. Dificuldades consistentes ou atraso na aquisição e uso da linguagem e comunicação, comparados com
a norma para a idade, e que são caracterizadas por um ou mais dos seguintes:
1. Atraso na produção de gestos, vocalizações, palavras ou frases que estão significativamente abaixo
das normas de desenvolvimento. Para as crianças pequenas que usam palavras, pode incluir
problemas no uso das regras gramaticais e morfológicas da linguagem, tais como produzir novas
combinações de palavras, acrescentar marcadores de tempos verbais e uso de plurais.
3. Dificuldade ou atraso em usar a linguagem para fazer saber as suas necessidades, relatar
experiências ou manter um diálogo (p.e. discurso comprometido).
1. Audição ou outro défice sensorial, disfunção motora ou outra condição médica ou neurológica.
3. Trauma grave.
Introdução
37
O diagnóstico é realizado apenas se as dificuldades de coordenação causam impacto funcional na
criança pequena e na família, interferem com a participação nas atividades ou rotinas diárias que requerem
coordenação motora (p.e. jogos físicos com pares, vestir, usar utensílios de escrita no pré-escolar).
O início da perturbação é insidioso. Um aparecimento súbito com uma progressão típica nas
competências de coordenação motora deve levar à consideração de outras perturbações. Um diagnóstico
de PDC não deve ser realizado em crianças com menos de 24 meses de idade para assegurar que as
crianças pequenas têm uma oportunidade adequada para praticar o caminhar e outras competências de
motricidade fine e grossa.
A perturbação é mais comum no sexo masculino do que no feminino. Os fatores de risco incluem
exposição pré-natal a álcool e parto pré-termo. Algumas crianças pequenas com PDC podem tornar-se
sensíveis depois de terem a perceção dos seus défices, tornando-se socialmente retraídas.
Tal como em outras perturbações do desenvolvimento, está indicada a referenciação precoce para
avaliação e intervenção. Com frequência, as perturbações do neurodesenvolvimento ocorrem em
comorbilidade, pelo que a avaliação de PDC devem considerar a possibilidade de outras destas e vice-
versa.
Algoritmo de diagnóstico
A. A coordenação das competências motoras está marcadamente abaixo do esperado tendo em conta a
idade mental da criança e experiência com aquisição de competências. A criança pequena exibe pelo
menos dois dos sintomas seguintes:
3. Problemas com a coordenação que afetam quer a velocidade, quer a precisão, em atividades que
requerem competências motoras sequenciais (p.e. procurar e apanhar uma bola, andar de triciclo,
subir escadas, usar lápis).
B. Os défices nas competências motoras não são melhor explicados por AGD, défices sensoriais (p.e.
visuais) ou doença neurológica que afete a coordenação motora (p.e. paralisia cerebral ou TCE).
Idade: O diagnóstico não deve ser feito em crianças com menos de 24 meses de idade.
38
Especificar:
1. Com ou sem isolamento social
Algoritmo de diagnóstico
B. Os sintomas não se encontram incluídos em outra perturbação para a qual a criança preencha todos os
critérios.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família, em uma ou mais das seguintes formas:
Especificar:
1. A perturbação que melhor explica os sintomas da criança
2. Porque é que a criança não cumpre inteiramente os critérios para essa perturbação
39
PERTURBAÇÕES DO PROCESSAMENTO SENSORIAL
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
40
A. A criança apresenta um padrão persistente e invasivo de hiper-reatividade sensorial que inclui reações
intensas e negativas a um ou mais tipos de estímulos sensoriais da rotina (incluindo táctil, visual,
auditivo, vestibular, olfativo, paladar, propriocetivo ou interocetivo), em mais do que um contexto (p.e.
casa, ama, jardim de infância) e com diferentes cuidadores (se a criança tem mais do que um cuidador).
A intensidade ou a duração da reatividade é desproporcional à intensidade do estímulo. Tem que estar
presente o critério 1 ou 2:
2. A criança tenta evitar o contacto com o estímulo sensorial que é aversivo para si.
B. A criança não preenche critérios para uma PEA . Os sintomas não são melhor explicados pela PHDA.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Duração: O padrão de hiper-reatividade sensorial deve estar presente por pelo menos 3 meses.
Especificar:
- Táctil: pessoas; objetos;
- Auditivo: um tipo específico de ruído ou nível de decibéis (altura) de todos os ruídos (p.e. um estímulo
específico de todos os dias como liquidificadora, autoclismo ou aspirador).
- Olfativo
- Propriocetivo: não consegue medir corretamente a força (p.e. empurrar com força sem maldade,
carregar no lápis com força, apagar com força linhas no papel)
Características do diagnóstico
Estudos de neuroimagem indicam que, quando comparadas com crianças com desenvolvimento
típico, crianças com Perturbação de Hiper-reatividade Sensorial apresentam dificuldade no processamento
de estímulos multimodais, tais como a combinação de estímulos auditivos e visuais. Outro estudo em curso
sugere disfunção na substância branca, na parte posterior do cérebro. Há ainda evidência de que a hiper-
reatividade sensorial apresenta moderada estabilidade durante a primeira infância e é hereditária, sendo
que, gémeos idênticos têm mais manifestações similares de hiper-reatividade do que gémeos fraternos.
Características do desenvolvimento
Prevalência
Curso
Crianças pré-termo ou pequenas para a idade gestacional parecem ter risco mais elevado para a
Perturbação de Hiper-reatividade Sensorial. Também as condições ambientais - incluindo falta de
movimento/estímulos tácteis na primeira infância (p.e. devidos a crescer numa instituição), exposição a
drogas ou stress pré-natais, violência - parecem aumentar o risco. Crianças com Atraso Global deu
Desenvolvimento ou Debilidade Intelectual têm também risco aumentado. Finalmente, os sintomas de
Perturbação de Hiper-reatividade Sensorial parecem ser hereditários.
Os sintomas devem ser avaliados no contexto cultural da família e de acordo com as suas crenças
e práticas culturais.
42
Diagnóstico diferencial
Dado que a reatividade sensorial atípica faz agora parte dos critérios de PEA, não é possível
diagnosticar ambos simultaneamente (PEA e Perturbação de Hiper-reatividade Sensorial). Pode ser difícil
distinguir algumas repostas ansiosas de respostas sensoriais (p.e. medo do aspirador). Quando a criança
pequena só fica incomodada com o som de um objeto, é improvável que a causa seja sensorial. É muito
importante observar um padrão de hiper-reatividade sensorial que aconteça em vários contextos e
estímulos que partilhem um componente sensorial.
Comorbilidades
A maioria das crianças com Perturbação de Hiper-reatividade Sensorial não tem comorbilidades
com outros diagnósticos psiquiátricos. Estas crianças podem manifestar problemas na alimentação, sono e
na auto-regulação. Na pré-escola existe elevado risco de problemas emocionais e comportamentais. Na
idade escolar têm maior probabilidade de dificuldades de aprendizagem. Parece existir um risco muito
elevado de perturbações de ansiedade e, os pais de crianças com Perturbação Obsessivo-compulsiva,
costumam reportar elevadas taxas de hiper-reatividade sensorial.
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
43
A. A criança apresenta um padrão persistente e invasivo de hipo-reatividade sensorial que inclui reações
neutras ou passividade a um ou mais tipos de estímulo sensorial da rotina (incluindo táctil, visual,
auditivo, vestibular, olfativo, paladar), em mais do que um contexto (p.e. casa, ama, jardim de infância) e
com diferentes cuidadores (se a criança tiver mais do que um cuidador). A intensidade mínima da
reatividade ou o tempo que demora a iniciar resposta é desproporcional à intensidade do estímulo. Tem
que estar presente o critério 1 ou 2:
B. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Especificar:
- Táctil: pessoas; objetos;
- Olfativo
Características do diagnóstico
44
envolver um ou mais domínios sensoriais. Por exemplo, a criança pode não ter dor quando sangra após
uma queda ou pode não perceber que a televisão foi ligada a um volume muito alto.
Não existem características associadas que suportem o diagnóstico. Não são conhecidas
diferenças no desenvolvimento durante a primeira infância, mas a capacidade da criança para
compreender e comunicar sobre a baixa resposta aumenta na idade pré-escolar.
Prevalência
Curso
O curso é desconhecido.
Não há evidências claras a respeito dos fatores de risco e prognóstico. Verificam-se dificuldades
no diagnóstico baseadas nas diferenças culturais. Uma vez que existem variações culturais no
reconhecimento de sintomas somáticos nas várias culturas, os sintomas sensoriais do bebé/criança
pequena devem ser avaliados no contexto da sua família e crenças/práticas culturais.
Diagnóstico diferencial
Uma vez que a resposta sensorial atípica é um critério de PEA, a presença de PEA exclui um
diagnóstico de Perturbação de Hipo-reatividade Sensorial. Pode ser difícil distinguir da PHDA do tipo
desatento (p.e. ausência de resposta quando a TV está ligada com o som muito alto). Se outros sintomas
de PHDA puderem explicar os sintomas de hipo-reatividade, deve atribuir-se esse diagnóstico (PHDA). A
Perturbação de Hipo-reatividade Sensorial requer uma evidência clara de reatividade limitada
especificamente a inputs sensoriais. Estas crianças devem também ser avaliadas para condições médicas
quando são insensíveis à dor.
Comorbilidades
Algoritmo de diagnóstico
45
A. A criança apresenta um padrão persistente e invasivo de resposta atípica aos estímulos sensoriais, não
preenchendo critérios para a Perturbação de Hiper-reatividade Sensorial ou Perturbação de Hipo-
reatividade Sensorial.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Duração: O padrão de hiper ou hipo-reatividade sensorial deve estar presente por pelo menos 3 meses.
Especificar:
- Táctil: pessoas; objetos;
- Olfativo
46
PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE
Até há pouco tempo, o sofrimento associado à ansiedade nas crianças pequenas era considerado
um fase normativa do desenvolvimento ou um estilo de temperamento que aumentava o risco de
perturbações de ansiedade, depressão e outras perturbações mentais, um dia mais tarde. Atualmente ficou
claro que a ansiedade e sintomas associados, na primeira infância, pode atingir limites clinicamente
significativos, causando sofrimento nas crianças e suas famílias, e aumentando o risco para ansiedade e
depressão, na infância ou idade adulta. Além disso, as Perturbações de Ansiedade na criança pequena, tal
como na criança mais velha e adulto, apresentam-se como perturbações específicas que incluem
Perturbação de Ansiedade de Separação, Fobia Social, Perturbação de Ansiedade Generalizada e Fobias
Específicas.
Identificar a ansiedade clinicamente significativa em crianças da primeira infância pode ser muito
difícil. Crianças mais velhas e adultos verbalizam melhor as suas emoções e experiências internas incluindo
medo, ansiedade e preocupação. Assim, avaliar a ansiedade na primeira infância depende de descrições
do estado emocional da criança que (1) são baseadas nos comportamentos e sofrimento demonstrado
pela criança (2) são primariamente baseadas na descrição do adulto (p.e. pais, educador) ou avaliações
observacionais em casa/escola ou creche. Crianças a partir dos 3 anos de idade podem verbalizar a
ansiedade e medos, e representar estas experiências internas no jogo.
Uma vez que a maior parte da investigação acerca da Perturbação de Ansiedade de Separação,
Perturbação de Ansiedade Social e Perturbação de Ansiedade Generalizada é realizada em conjunto, o
texto para estas três perturbações é apresentado em conjunto, sendo realçadas as diferenças entre elas.
De seguida apresentam-se os critérios e descrição para o Mutismo Selectivo, Perturbação de Inibição à
Novidade e Outra Perturbação de Ansiedade da Primeira Infância.
Algoritmo de diagnóstico
47
A. A criança apresenta sinais de ansiedade excessivos e inapropriados ao nível de desenvolvimento, em
relação à separação de casa ou pessoas a quem esteja vinculado. Pelo menos durante algum tempo, a
criança não consegue regular a ansiedade, mesmo com ajuda externa. A ansiedade é manifestada por,
pelo menos três dos seguintes sete sintomas:
2. Preocupação excessiva e persistente de que algum evento (p.e. perder-se ou ser raptado) possa
levar à separação de uma figura vinculação major. Crianças pré-verbais ou com pouca linguagem
têm capacidade limitada de expressar preocupações.
3. Relutância ou resistência persistente em ir para o jardim de infância, escola ou outros locais fora de
casa, pelo medo da separação. Pode manifestar-se por: (a) medo ou ansiedade em sair de casa
para a escola; (b) medo ou ansiedade antecipatória relacionada com ir para a escola; (c) resistir ou
recusar ir para escola pelo medo da separação; (d) chorar, agarrar-se aos cuidadores, esconder-se,
fazer birra ou outros esforços para evitar a separação. Crianças mais pequenas podem manifestar a
ansiedade/medo com choro inconsolável e agarrar-se forte.
5. Relutância persistente ou recusa em ir dormir sem a presença de uma figura de vinculação major
por, pelo menos, 1 mês.
7. Sintomas físicos ou fisiológicos quando a separação das figuras de vinculação major acontece ou é
antecipada.
B. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Duração: O medo, ansiedade ou evitamento são persistentes, com duração de pelo menos 1 mês.
48
Perturbação de Ansiedade Social (Fobia Social)
Algoritmo de diagnóstico
Todos os seguintes critérios devem estar presentes. Os critérios podem estar presentes se a
criança demonstrou estes comportamentos no passado e atualmente evita a exposição ou esta é limitada
intencionalmente pelos cuidadores.
A. A criança apresenta medo marcado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho,
que envolvam exposição a pessoas não familiares, ou possível escrutínio por adultos ou pares. O medo
ou ansiedade são desproporcionais à ameaça colocada pela situação social.
B. A exposição à situação social temida quase invariavelmente provoca ansiedade na criança, que pode
expressá-la por pânico, choro, birras, “freezing”, encolher-se, agarrar-se aos cuidadores ou não
conseguir falar em situações sociais com pessoas não familiares.
C. A criança evita a situação social ou de desempenho temida, ou enfrenta-a com ansiedade extrema ou
sofrimento.
D. O medo não é melhor explicado por outras perturbações incluindo PEA, Perturbação de Ansiedade de
Separação ou outras perturbações de ansiedade.
E. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Algoritmo de diagnóstico
49
B. A criança não é capaz de regular a ansiedade ou preocupação (p.e. a criança pode perguntar
repetidamente aos pais para garantir)
1. Agitação
2. Fadiga
3. Desatenção intermitente
6. Perturbação do sono (p.e. dificuldade em adormecer ou manter o sono; sono inquieto, pouco
reparador; ou ser acordado por pesadelos)
F. A perturbação não se deve ao efeito fisiológico direto de uma substância (p.e. medicação para asma ou
esteróides).
G. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Idade: O diagnóstico deve ser feito com precaução em crianças com menos de 36 meses de idade.
Características de diagnóstico
A barreira mais significativa para a identificação e tratamento da criança pequena, com ansiedade
que causa sofrimento, é a crença generalizada dos cuidadores de que a criança vai conseguir lidar com a
ansiedade e comportamentos associados, e superar os sintomas sozinha. A identificação destas
perturbações requere que os cuidadores reconheçam o estado emocional interno da criança.
50
reativas e através de outros comportamentos que refletem a tentativa da criança evitar as ameaças
percebidas.
Para ser considerado clinicamente significativo, cada sintoma deve ter todas as seguintes
características: a ansiedade deve ser intensa (sofrimento excessivo), incontrolável, inapropriada para o
desenvolvimento e persistente (manter-se por mais de 1 mês). Se estiverem preenchidos os sintomas para
uma perturbação específica da ansiedade, o funcionamento da criança e família deve estar afetado.
Características do desenvolvimento
Na avaliação das perturbações de ansiedade na criança pequena, o clínico deve também ter em
conta o temperamento da criança. Crianças inibidas mostram características que têm sido associadas a
aumento do risco para perturbações de ansiedade, depressão ou outras perturbações mentais numa fase
mais tardia. No entanto, estas características de temperamento nem sempre estão associadas a outros
sintomas de ansiedade, nem são preditivas de impacto no funcionamento, apesar destas crianças
poderem preencher critérios para uma perturbação de ansiedade. Os estudos sugerem que a Perturbação
de Ansiedade de Social pode ser identificada com fiabilidade em crianças com mais de 2 anos de idade.
Existe sobreposição entre os sintomas de Perturbação de Ansiedade Social e a inibição comportamental.
Um diagnóstico de Perturbação de Ansiedade Social requere o preenchimento de critérios estabelecidos,
de forma a distinguir entre uma apresentação típica e atípica (p.e. gravidade, persistência) devendo existir
impacto funcional.
Prevalência
Curso
A persistência e curso das perturbações de ansiedade na primeira infância são similares a idades
mais tardias. Estas perturbações numa idade tão precoce aumentam o risco para perturbações de
ansiedade, assim como para depressão e Perturbação do Comportamento Disruptivo em idade escolar e
52
na adolescência. Há ainda um aumento da probabilidade de existir impacto no funcionamento, sobretudo
no domínio social, à medida que a criança vai crescendo.
A maioria dos estudos acerca da ansiedade na primeira infância agrega todas as perturbações no
conjunto, em vez de especificar cada uma. Os fatores de risco associados incluem fatores pré-natais (p.e.
fumar durante a gravidez), história familiar (p.e. história familiar de ansiedade ou depressão), fatores
parentais (p.e. depressão materna), características da criança pequena (p.e. inibição comportamental,
timidez), estilos parentais (p.e. sobreproteção parental, parentalidade coerciva), estrutura familiar (p.e.
aumento do número de irmãos, monoparentalidade), fatores ambientais (p.e. exposição à violência,
particularmente violência doméstica), experiências adversas de vida (p.e. doença médica com necessidade
de procedimentos invasivos e hospitalizações) e fatores demográficos (p.e. adversidades económicas).
Alguns estudos sugerem que as raparigas têm taxas mais elevadas de perturbações de ansiedade,
particularmente Perturbação de Ansiedade de Separação, no entanto, outros estudos não encontraram
diferenças entre géneros.
Diagnóstico diferencial
Uma vez que, nas crianças pequenas, os sintomas de perturbação de ansiedade se sobrepõem
aos de outras perturbações (p.e. irritabilidade na Perturbação de Ansiedade Generalizada e Depressão) e
características associadas (p.e. birras), é essencial fazer uma avaliação cuidada e considerar diagnósticos
diferenciais. Outras perturbações mentais como Depressão ou PSPT devem ser consideradas (e podem ser
comórbidas). O delírium, mais comum na neonatologia ou cuidados intensivos, também deve ser
descartado. Outras condições médicas devem ser consideradas incluindo, enxaquecas, crises epiléticas,
perturbações do SNC, perturbações respiratórias e perturbações do sono. A ansiedade induzida por
fármacos (p.e. medicação para asma, corticóides ou antivíricos) também deve descartar-se, assim como a
intoxicação por drogas (p.e. ingestão não intencional de analgésicos com cafeína).
Comorbilidades
Crianças pequenas com perturbações de ansiedade têm também maior probabilidade de ter
hipersensibilidade a estímulos sensoriais (p.e. ruído, olfato, paladar) e para ter seletividade alimentar “picky
eaters”. Podem ainda estar associadas a condições médicas como pele atópica, eczema, asma e dor
abdominal funcional. As taxas de perturbações de ansiedade são elevadas (>40%) em crianças pequenas
com PEA e doenças genéticas, incluindo Síndrome de DiGeorge.
Mutismo Seletivo
Introdução
Crianças pequenas com mutismo seletivo não falam em determinadas situações mas falam
normalmente em outras. O sintoma central é uma ausência da fala mas não uma incapacidade de o fazer.
O Mutismo Seletivo surge na primeira infância, é persistente e altamente prejudicial. Também está muito
relacionado com temperamento inibido e sintomas de Perturbação de Ansiedade Social. Apesar de não ser
tão comum como as outras perturbações de ansiedade major, causa muito sofrimento, sendo
frequentemente, severa. O Mutismo Seletivo não tratado persiste e causa disfunção significativa no
desenvolvimento social e emocional da criança pequena.
Algoritmo de diagnóstico
A. Insucesso consistente em falar em situações sociais específicas em que há expectativa de falar (p.e. na
pré-escola), apesar de manter a capacidade de falar noutras situações.
B. A relutância em falar não é explicada pela ausência de familiaridade com a língua falada, nem por
perturbação de linguagem expressiva.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
54
1. Causam sofrimento à criança
Características do diagnóstico
As crianças pequenas com Mutismo Seletivo são capazes de falar e perceber linguagem verbal.
Podem raramente falar ou estar silenciosas num contexto (p.e. escola) e falarem noutros (p.e. casa). O
mutismo deve estar presente por, pelo menos, 1 mês e causar sofrimento na criança e sua família.
Características de desenvolvimento
As características de temperamento com comportamento inibido têm maior intensidade no Mutismo
Seletivo, do que em crianças com outras perturbações emocionais. Quanto maior a intensidade de
comportamento inibido, menos palavras são ditas.
Prevalência
É uma perturbação pouco comum, com prevalência estimada entre 0.03% a 0.08%.
Curso
A idade média de aparecimento é entre os 3 e 4 anos de idade, apesar do diagnóstico ser feito
frequentemente, na idade escolar. A duração média é de cerca de 8 anos. A linguagem verbal mantém-se
menor que em crianças sem antecedentes de Mutismo Seletivo. Mesmo quando a perturbação é
ultrapassada, é frequente permanecer timidez e ansiedade social até à adolescência e idade adulta, assim
como problemas de comunicação, outras doenças mentais e menor funcionamento social e académico.
55
Fatores de risco e prognóstico
Crianças pequenas com Mutismo Seletivo têm maior probabilidade de ter familiares com
Perturbação de Ansiedade Social e de Mutismo Seletivo. A inibição comportamental é também um fator de
risco, assim como o estatuto de imigrante. Os fatores preditivos de manutenção de sintomas incluem o
estatuto de imigrante, gravidade da inibição comportamental, grau de gravidade e duração do Mutismo
Seletivo e idades mais tardias aquando do diagnóstico.
Diagnóstico diferencial
É fundamental averiguar se o mutismo, nas crianças pequenas, não pode ser melhor explicado por
outras causas ou perturbações. A ausência de compreensão da linguagem ou falta de competências de
linguagem devem ser descartadas. Uma perturbação de comunicação primária (p.e. Perturbação de
Comunicação Social - Pragmática) pode ser a causa do mutismo. Deve considerar-se diagnóstico
diferencial com PEA pois, em ambas perturbações, podem existir mutismo e inibição social, embora no
Mutismo Seletivo não se verifiquem os comportamentos repetitivos e défices sociais que caracterizam a
PEA. O mutismo que surge subitamente, aptos um evento traumático, deve ser identificado como “mutismo
pós-traumático” e não como Mutismo Seletivo.
Comorbilidades
A perturbação comórbida mais comum é a Perturbação de Ansiedade Social, com 90-100% das
crianças a preencher os critérios. O Mutismo Seletivo também está associado a outras perturbações de
ansiedade, entre outras como Depressão e POC. Apesar de poderem existir alterações do comportamento
significativas, a Perturbação de Comportamento Disruptivo é relativamente incomum. Cerca de 40% das
crianças têm problemas de linguagem e no discurso (p.e. gaguejar, dificuldades na pronúncia e articulação,
lábio leporino) e, além disso, um estudo descreve que cerca de 70% das crianças também preenche
critérios para atrasos de desenvolvimento.
56
Perturbação de Inibição à Novidade
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
Todos os seguintes critérios devem estar presentes.
A. A criança exibe sintomas de medo na presença de objetos (p.e. brinquedos), pessoas e situações não
familiares/novos. A criança quase sempre faz o seguinte:
1. “Congela” ou contém-se (p.e. pára de vocalizar, evita o contacto ocular) e tenta distanciar-se do
objeto/pessoa/experiência nova, escondendo-se ou procurando o cuidador.
2. Mostra afeto negativo marcado, persistente e pervasivo.
B. O comportamento inibido não é melhor explicado por um sintoma relacionado com trauma ou stress,
como na PSPT ou na Perturbação de Adaptação, e não é uma reação fóbica a um estímulo específico.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Duração: Os sintomas da perturbação devem estar presentes por, pelo menos, 1 mês.
Características do diagnóstico
57
comportamento exploratório da criança, na aprendizagem através de novas experiências e a resistência
aos esforços de encorajamento da exploração.
Características do desenvolvimento
A inibição comportamental tem sido descrita no segundo ano de vida, mas alguns precursores
deste tipo de comportamento podem detetar-se nos primeiros meses de vida, apesar de ser improvável
que os critérios para a perturbação sejam preenchidos antes dos 18 meses de idade. Depois dos 24 meses
de idade, a perturbação não é diagnosticada, porque as crianças que permanecem sintomáticas
apresentam sintomas de outras perturbações de ansiedade (p.e. Perturbação de Ansiedade Generalizada,
Perturbação de Ansiedade Social).
Prevalência
A inibição comportamental deteta-se em 15% das crianças mas, apesar de não haver dados
formais acerca da prevalência da Perturbação da Inibição à Novidade, esta representa uma pequena
percentagem destes comportamentos de inibição.
Curso
A inibição do comportamento em crianças parece anteceder alguma cautela social em idades mais
velhas. Há poucos dados acerca do curso desta perturbação mas acredita-se que é precursora de outras
perturbações de ansiedade que se manifestam mais claramente a partir dos 2-3 anos de idade.
Filhos de pessoas com perturbações de ansiedade têm risco aumentado para esta perturbação.
Manifestações precoces de receio/medo são preditivas de outros sintomas de ansiedade que emergem
mais tardiamente. Pais com tendência a proteger os filhos de novas experiências, também aumentam o
risco de que estes apresentem sintomas de ansiedade em idades mais velhas. Algumas crianças inibidas
continuam a ter a tendência de se protegerem de novos estímulos, podem tornar-se menos assertivas e ser
alvo de rejeição pelos pares, catalisando a construção de auto-perceções negativas. Comparados com os
pares, as crianças com inibição comportamental experienciam maior rejeição social, interpretação ambígua
de situações sociais como rejeição particular, maior tendência a evitar stressores sociais e maior
probabilidade de responderem à rejeição social com atribuições internas de fracasso.
Não há dados específicos relacionados com diferenças culturais, apesar de ser importante
considerar as normas culturais de comportamento em ambiente familiar e não familiar.
58
Diagnóstico diferencial
Comorbilidades
Tende a ocorrer em comorbilidade com perturbações de ansiedade mas, nesta faixa etária, estas
são difíceis de diagnosticar. Não se conhecem outras comorbilidades.
Algoritmo de diagnóstico
B. Os sintomas não são melhor entendidos no contexto de outra perturbação para a qual a criança
preencha todos os critérios.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Especificar:
1. A perturbação que melhor explica os sintomas da criança.
59
PERTURBAÇÕES DO HUMOR
Introdução
A literatura científica recente acerca das perturbações de humor da primeira infância mostra que as
crianças pequenas, com 3 ou mais anos de idade, experienciam uma perturbação depressiva que é muito
60
semelhante às perturbações depressivas que se apresentam em idades mais tardias da infância e na idade
adulta.
Algoritmo de diagnóstico
A. Humor deprimido ou irritabilidade em atividades, quase todos os dias, durante pelo menos duas
semanas, como indicado por discurso direto da criança (p.e. “Estou triste”) ou observações feitas por
outros (p.e. a criança parece triste ou chorosa, aplanamento afetivo ou birras frequentes).
2. Insónia (i.e. dificuldade em adormecer ou manter o sono) ou hipersónia, quase todos os dias,
durante pelo menos duas semanas.
3. Agitação ou lentificação psicomotora em atividades, observadas por outras pessoas, quase todos
os dias, durante pelo menos duas semanas.
4. Cansaço ou perda de energia que pode apresentar-se como interesse diminuído em todas as
atividades, na maioria dos dias, durante pelo menos duas semanas.
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
61
4. Limitam a participação da família nas atividades ou rotinas diárias
Idade: O diagnóstico deve ser feito com precaução em crianças com menos de 24 meses de idade.
Duração: Os sintomas devem estar presentes quase todos os dias durante pelo menos duas semanas.
Características do diagnóstico
Tanto o critério de duração, para cada sintoma, como as alterações de humor e comportamento,
devem estar presentes no diagnóstico de Perturbação Depressiva da Primeira Infância. As crianças
pequenas podem não ser capazes de expressar o seu sofrimento emocional verbalmente. O humor
deprimido pode apresentar-se como uma expressão facial triste e lágrimas persistentes, intensas e
pervasivas, em vários contextos e relacionamentos. A irritabilidade pode estar presente sob a forma de
birras clinicamente significativas, de elevada frequência e pervasivas, ao longo de vários contextos e
relacionamentos, e incluem agressividade (p.e. morder, pontapear, bater). Crianças pequenas com
depressão apresentam mais comportamentos de auto-agressividade, como morder-se ou bater-se.
A anedonia está presente em mais de 50% das crianças pequenas com depressão e está
associada a maior gravidade dos sintomas, história familiar de depressão e atraso psicomotor, sugerindo
que a depressão anedónica em crianças pequenas é semelhante à depressão melancólica em crianças
mais velhas e adultos. Expressões de culpa, inutilidade e ideação suicida devem ser avaliadas de acordo
com a compreensão do desenvolvimento cognitivo da criança. Estes sintomas podem estar presentes no
jogo da criança pequena. As perturbações do sono, apetite, energia e atividade motora, podem ser mais
fáceis de identificar.
Características do desenvolvimento
Em meados do século 20, estudos em bebés/ crianças pequenas, que cresceram em instituições,
levaram a descrições da "depressão anaclítica", que se acreditava ser causada pela separação prolongada
dos bebés, das suas mães. Esses bebés apresentavam uma expressão facial triste, apatia, alterações e
atraso psicomotor, atrasos de desenvolvimento e incapacidade de resposta aos cuidadores. Em crianças
dos 3-5 anos de idade, os sintomas depressivos são semelhantes aos encontrados em crianças mais
velhas e adultos, com anedonia, disforia, irritabilidade e insónia, como principais características.
62
Prevalência
Curso
Estudos epidemiológicos nos EUA e outros países identificaram taxas relativamente consistentes
de depressão com início precoce, em crianças pequenas. Não se verificaram diferenças relacionadas com
a cultura.
A percentagem é a mesma para ambos sexos. Há alguma evidência de que a raiva é uma
característica mais proeminente em meninos, dos 3 a 5 anos, com depressão e que a tristeza é mais
frequente em meninas pequenas com depressão.
Diagnóstico diferencial
Os períodos de tristeza são aspetos inerentes à vida de uma criança pequena e não devem ser
diagnosticados como episódios depressivos, a menos que sejam cumpridos os critérios de gravidade,
duração e compromisso funcional.
Comorbilidades
A maioria das crianças pequenas entre 3-5 anos com depressão, tem uma ou mais perturbações
comórbidas, estando entre as mais comuns, as Perturbações de Ansiedade e Perturbação de
Hiperatividade com Défice de Atenção. Crianças pequenas com Perturbação Reativa da Vinculação
também podem ter Perturbação Depressiva da Primeira Infância. A comorbilidade disruptiva é muito
comum em crianças pequenas com depressão de início precoce.
A depressão costuma ser concomitante com Perturbações de Ansiedade, incluindo fobias e tiques.
Crianças pequenas com depressão e ansiedade, em comorbilidade, podem ver o seu funcionamento mais
afetado do que aquelas que só apresentam depressão.
Introdução
Uma pequena parte das crianças pequenas enfrenta dificuldades para desenvolver a capacidade
de regular as emoções e o comportamento, na primeira infância, resultando em compromisso funcional,
estigma e exclusão de atividades adequadas à idade. Essas crianças exibem explosões de raiva intensas,
graves e frequentes, associadas a uma persistente irritabilidade ou afeto negativo. A desregulação
simultânea de emoções e comportamentos tem sido observada e estudada extensivamente em crianças
pequenas dos 3-5 anos de idade, e diferencialmente concetualizada como Perturbação de Oposição e
Desafio, Perturbações de Humor/Ansiedade, Perturbação Disruptiva de Comportamento ou Irritabilidade.
64
A Perturbação da Desregulação da Raiva e Agressão da Primeira Infância (PDRA) surgiu a partir de
investigação acerca da desregulação emocional e comportamental na primeira infância, bem como na área
da Perturbação Disruptiva da Desregulação do Humor, em crianças mais velhas e adultos. Um componente
central da PDRA é o foco na irritabilidade e desregulação da raiva como expressões de desregulação
emocional, que levam a comportamentos desregulados, incluindo explosões de raiva. Este componente da
PDRA é um poderoso preditor de outcomes adversos, incluindo compromisso funcional e diagnósticos
clínicos, em crianças mais velhas.
Os critérios para PDRA são derivados de estudos epidemiológicos de grandes coortes de crianças
pequenas através de avaliação rigorosa dessas populações, representativas de crianças pequenas, usando
relatos de cuidadores e avaliações observacionais. A distribuição completa dos sintomas, em cada
domínio, é descrita nos critérios. Os pontos de corte de frequência e duração são empiricamente
estabelecidos para identificar, não mais de 15% das crianças pequenas, com a maioria dos critérios a
identificar menos que 10%, de forma a reduzir a possibilidade de que crianças com desenvolvimento
normativo, com capacidades adequadas à idade para a regulação emocional e o comportamento, sejam
diagnosticadas com uma perturbação; e para aumentar as hipóteses de identificar crianças pequenas com
compromisso funcional. Os sintomas também devem ser pervasivos, ocorrendo em mais de uma relação e
contexto, e devem estar presentes por, pelo menos, três meses. Esses especificadores permitem ao clínico
descartar apresentações transitórias, específicas do contexto ou específicas da relação, de irritabilidade,
raiva e comportamento disruptivo.
Algoritmo de diagnóstico
65
A. A criança pequena demonstra um padrão pervasivo e persistente de desregulação do humor e
desregulação comportamental, como evidenciado em pelo menos três sintomas, de qualquer uma das
quatro categorias:
d. Mostra explosões de raiva intensa ou extrema ou reações de raiva, quase todos os dias.
c. Não segue as indicações habituais que as crianças pequenas têm a capacidade de cumprir,
mesmo com pedidos repetidos, quase todos os dias.
3. A agressão reativa (i.e, agressão substancial quando a criança está irritada, chateada ou assustada/
sob ameaça) demonstrada por:
a. Bater, morder, dar pontapés ou atirar coisas aos cuidadores, mais de uma vez por semana.
b. Bater, morder, dar pontapés, ou atirar coisas a crianças pequenas, que não sejam irmãos, pelo
menos uma vez por semana. (Nota: Para crianças pequenas com interação limitada com outras
crianças pequenas, este comportamento ocorre com maior frequência).
a. Frequentemente (pelo menos uma vez por semana) é coerciva e controla a brincadeira com os
pares (p.e. excluindo os pares do jogo).
b. Frequentemente (pelo menos uma vez por semana) diz ou faz coisas que ferem os sentimentos
de outras pessoas. (Nota: Considerar apenas se a criança pequena demonstrar que
compreende).
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
66
5. Limitam a participação da família nas atividades ou rotinas diárias
Especificar:
1. Presença de comportamentos e emoções pró-sociais limitados, demonstrados por pelo menos dois
dos seguintes:
Características do diagnóstico
Características do desenvolvimento
As birras e o comportamento agressivo são mais frequentes em crianças pequenas dos 3-5 anos
de idade, quando comparadas com outros períodos ao longo da vida. Em muitas clínicas de ambulatório
de primeira infância, estes problemas e a hiperatividade são os motivos de referenciação mais comuns.
Assim, o desafio mais importante na identificação de crianças com PDRA é distinguir entre o
desenvolvimento típico e sintomas emocionais e comportamentais desorganizados.
Prevalência
Dado que se trata de uma nova entidade nosológica, a prevalência da PDRA não está estabelecida.
No entanto, uma vez que as crianças pequenas devem apresentar múltiplos critérios para preencher os
critérios de diagnóstico, a expectativa é que a prevalência de PDRA seja significativamente inferior a 10%.
Nos estudos onde se aplicaram os critérios de Perturbação Disruptiva de Desregulação do Humor, 3%-8%
das crianças entre os 3-5 anos de idade, preencheram todos os critérios. Nos estudos dirigidos à
Perturbação de Oposição e Desafio, 4%-9% das crianças entre 2-5 anos de idade preencheram os
critérios de diagnóstico para esta perturbação. Uma estável e elevada trajetória de agressão, dos 17 aos 42
meses, pode ser ainda mais prevalente.
Curso
Não existem estudos longitudinais da PDRA como uma única entidade, mas tem sido analisada a
trajetória das categorias de sintomas. Crianças pequenas com altos níveis de desregulação de raiva e
temperamento, até aos 3 anos de idade, têm quase o dobro do risco de Depressão até aos 6 anos de
idade, quando comparadas com crianças pequenas sem estes sintomas; além disso, estas crianças
apresentam elevado risco para padrões ansiosos e depressivos, assim como impacto funcional, aos 9 anos
de idade. Entre as crianças pequenas que apresentam elevados níveis de padrões de oposição, na primeira
infância, aproximadamente metade vão manter níveis elevados de oposição; além disso, como grupo,
estão em maior risco de desenvolver padrões de psicopatologia internalizantes e externalizantes, na idade
escolar. Os padrões de agressão também tendem a ser estáveis. Vários estudos longitudinais indicaram
que crianças pequenas com altos níveis de agressão, na primeira infância, tendem a apresentar níveis
elevados de agressão na idade escolar e até mesmo na adolescência. A agressão proativa e os problemas
de comportamento relacionados, estão associados à Perturbação da Conduta, PHDA e desafio, na idade
escolar. Em crianças mais velhas, a agressão proativa é preditiva de comportamentos em que há quebra de
regras recorrente e, eventualmente, dificuldades legais. Tem-se detetado que o curso de emoções pró-
sociais limitadas, ou traços de frieza e insensibilidade, tem início na primeira infância mostrando, pelo
menos, estabilidade moderada, ao longo do tempo.
Os fatores de risco para os sinais de PDRA têm sido estudados extensivamente, começando no
período pré-natal. Uma base de investigação crescente descreve um conjunto, cada vez mais complexo,
de interações entre os genes e o ambiente, no desenvolvimento da desregulação da raiva e do
comportamento. Nas crianças mais velhas e nos adultos, a irritabilidade é moderadamente hereditária,
sendo que, na primeira infância, a irritabilidade também parece seguir este padrão. Os genes que modulam
a atividade da monoamina oxidase e da serotonina têm demonstrado ter um papel importante nos
problemas de regulação da raiva. Existe literatura em desenvolvimento que demonstra interações entre a
genética, os cuidados ambientais e o timing de exposições específicas, que influenciam a regulação do
temperamento e a regulação comportamental.
68
A qualidade do ambiente pré-natal – particularmente no que diz respeito à saúde mental dos pais,
cuidados pré-natais e exposição a stressores e toxinas - é preditivo do risco de PDRA. A parentalidade
precoce, combinada com outros fatores como a história parental de comportamentos antissociais, tem
sido identificada como um fator de risco. No ambiente pós-natal, a exposição à parentalidade coerciva,
falta de calor afetivo e a baixa coesão familiar, são fatores de risco para a PDRA. No extremo, maus tratos
infantis são também um importante fator de risco. Parece haver um efeito aditivo entre o estatuto
socioeconómico da família com outros fatores de risco familiares. Em particular, a psicopatologia dos pais
e a regulação da raiva estão associadas a uma maior desregulação infantil, em famílias com baixos
recursos económicos.
Os fatores da criança pequena, relacionados com os sinais de PDRA, incluem temperamento com
afetos negativos e dificuldades de controlo.
Diagnóstico diferencial
Vários medicamentos prescritos pelos pediatras podem contribuir para a desregulação. A lista é
extensa, mas alguns exemplos são descritos de seguida. Esteróides orais e ocasionalmente inalados,
podem causar desregulação emocional, comportamental e do sono. Agonistas beta-adrenérgicos inalados,
como o albuterol, também podem provocar períodos de desregulação que, geralmente, não são
sustentados. Anti-histamínicos de primeira geração podem causar padrões similares.
Comorbilidades
70
Outra Perturbação do Humor da Primeira Infância
Algoritmo de diagnóstico
A. A criança pequena tem um ou mais sintomas persistentes de uma perturbação do humor, mas não
reúne a totalidade dos critérios para a Perturbação Depressiva da Primeira Infância ou Perturbação da
Desregulação da Raiva e Agressão da Primeira Infância.
B. Os sintomas não estão englobados noutra perturbação para a qual a criança pequena reúne a
totalidade dos critérios.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Especificar:
1. A perturbação que melhor explica os sintomas da criança pequena
71
PERTURBAÇÃO OBSESSIVO-COMPULSIVA E PERTURBAÇÕES RELACIONADAS
Perturbação Obsessivo-Compulsiva
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
a. Comportamentos repetitivos (p.e. brincar estabelecendo uma ordem particular, lavar as mãos,
ordenar, verificar, contar, repetir palavras silenciosamente) que a criança parece realizar, ou insiste
para que um dos pais realize, de acordo com regras rígidas.
C. As obsessões ou compulsões não são atribuídas a outra perturbação mental (p.e. Tricotilomania,
Perturbação Alimentar Atípica, PEA), perturbação médica (p.e. Tumor cerebral, doença auto-imune) ou
uso de substâncias.
E. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Nota: O aparecimento súbito de sintomas de POC, apresentação severa, curso episódico com remissão
entre episódios e antecedentes de infeção por streptococcus ou outros agentes infeciosos, impõe uma
avaliação neurológica e imunológica.
73
Características do diagnóstico
Crianças pequenas com POC apresentam tipicamente duas ou mais obsessões que incluem medo
de contaminação, obsessões agressivas/catastróficas, religiosas ou somáticas. As obsessões podem
apresentar-se como pensamentos intrusivos que a criança expressa através de questões repetitivas. Por
definição, as obsessões causam sofrimento.
Uma vasta maioria das crianças com POC apresenta ainda múltiplas compulsões. Entre as mais
comuns estão a lavagem, verificação, repetição, rituais envolvendo outras pessoas, ordem, compulsões
tic-like, contagem, bater e esfregar. As compulsões estão habitualmente ligadas a pensamentos obsessivos
e são atos realizados com o objetivo de reduzir stress e ansiedade.
As crianças pequenas podem dizer que precisam de completar as compulsões até sentirem “que
está tudo bem”, para aliviar o stress. Em outros casos, a compulsão é realizada para afastar danos
imaginados. Com frequência, as crianças não têm capacidades verbais para expressar os seus estados
internos ou para descrever o porquê de realizarem determinadas compulsões.
Se for realizado um diagnóstico de POC, o clínico especifica se estão presentes tiques. Crianças
pequenas com POC e um histórico de tiques parecem apresentar um início de POC mais precoce,
comparadas com as que apresentam a doença sem tiques associados.
Crianças pequenas com POC têm, com frequência, dificuldades sociais, pois os seus
comportamentos podem parecer bizarros e interferir na interação com os outros. A frustração devido à
incapacidade da criança parar os seus comportamentos pode levar a discórdias com adultos e com outras
crianças. Os adultos podem negligenciar ou não prestar atenção e as crianças podem tentar esconder os
comportamentos, o que leva a um intervalo de tempo significativo entre o início, o diagnóstico e o
tratamento da doença.
Características do desenvolvimento
Apesar dos comportamentos POC-like serem comuns em crianças pequenas, com um pico aos 3
anos de idade, geralmente não afetam o funcionamento e não são disfuncionais. Comportamentos
potencialmente normativos tornam-se problemáticos quando as obsessões/compulsões são tão rígidas,
pervasivas e stressantes, que causam efeitos adversos no desenvolvimento da criança.
Prevalência
Estimativas da prevalência de POC (adultos, crianças mais velhas e crianças pequenas) oscila entre
1% a 3%. A prevalência do seu aparecimento, na primeira infância, é desconhecida, no entanto, em
crianças mais velhas, parece rondar os 0,25%.
Curso
O aparecimento, na primeira infância, pode ser gradual (geralmente mais cedo) ou abrupto. Os
tipos e padrões de doença podem mudar ao longo do tempo. O curso varia, apesar da persistência do
diagnóstico ou sintomas parciais, ser comum. Algumas crianças parecem apresentar um curso crónico,
74
outras em crescendo e decrescendo, e algumas têm apresentações episódicas com recuperação entre
cada episódio.
História familiar de POC, Perturbação de Tiques ou outras Perturbações de Ansiedade, são fatores
de risco para um aparecimento de POC, na primeira infância. Eventos de vida stressantes parecem
aumentar o risco de POC em adultos e crianças mais velhas, mas não em crianças pequenas.
Pouco se sabe acerca dos fatores de prognóstico. Evidências preliminares sugerem que meninas,
comorbilidade com Perturbação de Oposição e Desafio crianças com sintomas severos, têm risco
aumentado de persistência dos sintomas na idade adulta. Por outro lado, quando há comorbilidade com
Perturbação de Tiques tem maior probabilidade de remissão na infância mais tardia ou idade adulta.
Não existem evidências consistentes de que haja diferenças de género, na primeira infância. Os
estudos mais recentes indicaram que não existem diferenças significativas na prevalência, apresentação,
ou curso da POC, com início na primeira infância, entre rapazes e raparigas. Também não parece existir
nenhuma associação entre o género e os tipos de patologias comórbidas com POC.
Diagnóstico diferencial
Um início abrupto ou agravamento de sintomas de POC, antes ou durante uma infeção por
streptococcus ou outro agente infecioso, apresentação severa e curso episódico com remissão entre
episódios, podem ser indicadores de uma perturbação neuropsiquiátrica autoimune pediátrica, com
infeção streptocócica, síndrome neuropsiquiátrico de início agudo ou encefalite autoimune. Deve realizar-se
um estudo médico com vários especialistas pediátricos em neurologia, reumatologia, neuropsiquiatria e
imunologia.
Comorbilidades
Mais de 60% das crianças com POC na primeira infância têm uma ou mais perturbações
psiquiátricas ou de desenvolvimento, comórbidas. As comorbilidades mais comuns, por ordem de
prevalência são: PHDA, Perturbação de Tiques, Perturbação de Ansiedade Generalizada, Perturbação de
Oposição e Desafio, Fobia Específica, Perturbação de Ansiedade de Separação, Perturbação de Ansiedade
Social e Depressão.
75
O início da POC em idades mais precoces tem sido associado a taxas mais elevadas de
comorbilidade com PHDA e outras Perturbações de Ansiedade não POC, assim como tiques.
Perturbação de Tourette
Introdução
A Perturbação de Tourette é uma perturbação de tiques que requer a presença de tiques motores e
vocais. Um tique é um movimento motor ou produção vocal involuntário, repetido, rápido e não rítmico,
que ocorre subitamente e não parece satisfazer nenhum propósito funcional. À medida que a criança vai
crescendo, pode aprender a suprimir os tiques por períodos de tempo variáveis. Os tiques podem ser
simples, quando envolvem um movimento ou som (p.e. pigarrear, piscar de olhos), ou pode envolver
movimentos e sons mais complexos (p.e. repetição de sons, encolher de ombros seguido de girar de
cabeça).
Algoritmo de diagnóstico
A. A criança apresenta, pelo menos, um tique motor simples ou complexo e pelo menos, um tique vocal
que cresce e decresce, em intensidade.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Idade: O diagnóstico deve ser feito com precaução em crianças com menos de 18 meses de idade.
76
Características do diagnóstico
Os tiques podem ser movimentos ou sons, simples e breves, ou complexos e de longa duração. Os
tiques complexos podem envolver conjuntos de movimentos em série e parecerem ter um propósito, como
a repetição de uma palavra ou gesto obscenos (i.e. coprolália e copropraxia), podem consistir em imitar
movimentos (i.e. ecopraxia), repetir palavras (i.e. ecolália) ou sons (palilália).
Os tiques tendem a aumentar e diminuir, podendo existir horas, dias ou semanas em que não se
manifestam. A persistência é estabelecida ao longo de um período de 12 meses, contando com alguns
períodos em que não se manifestam.
Crianças pequenas com Perturbação de Tourette têm, frequentemente, um familiar com uma
Perturbação de Tiques ou POC. Os pais podem não se aperceber dos tiques até se tornarem mais
pronunciados ou complexos.
Características de desenvolvimento
Prevalência
Os tiques são comuns na infância, aparecendo em aproximadamente 15% das crianças em idade
escolar mas, na maioria das vezes, são transitórios. A prevalência estimada de Perturbação de Tourette
encontra-se entre 3 a 8 crianças em 1000, em idade escolar. A prevalência, no primeiro ano de vida, é
desconhecida mas é provável que seja menor.
Curso
Os tiques podem emergir no segundo ano de vida mas são mais habitualmente reconhecidos como
tiques quando as crianças têm 4 a 6 anos de idade. Em algumas crianças, os tiques tendem a piorar com a
idade. Os tiques tendem a emergir de forma rosto-caudal, com os tiques faciais a surgirem primeiro que os
das extremidades.
Os indivíduos podem ter necessidade de realizar o tique de determinada maneira, repetindo-o até à
sensação de alívio associada a tê-lo feito “bem”.
Os tiques tendem a ser exacerbados por stress e fadiga, pelo que as crianças podem exibir mais
tiques durante períodos de transição (p.e. mudança de creche, mudança de residência). Existem evidências
fortes de uma contribuição genética para esta perturbação. Para além disso, complicações obstétricas,
baixo peso ao nascimento, mãe fumadora na gravidez e idade parental avançada, estão associadas a
tiques de maior gravidade. Crianças pequenas com Atraso Global do Desenvolvimento e Debilidade
Intelectual têm risco aumentado para perturbações de tiques.
Uma vez que há variações culturais nos comportamentos e sons que são considerados violações
das normas de cada cultura, os comportamentos de tiques da criança pequena devem ser avaliados no
contexto das suas práticas familiares e culturais.
Diagnóstico diferencial
Tal como os tiques, as estereotipias motoras são involuntárias, repetitivas e sem propósito, mas
rítmicas, enquanto os tiques são considerados não rítmicos. As estereotipias motoras mais comuns
incluem bater asas com as mãos “flapping”, andar em pontas de pés, estalar os dedos ou posturas
corporais estranhas. Pode ser difícil diferenciar os tiques de comportamentos obsessivo-compulsivos,
particularmente na primeira infância, quando as crianças têm dificuldades em exprimir as suas experiências
emocionais internas. Comportamentos como puxar o cabelo, escoriação compulsiva e roer as unhas,
parecem ter objetivos mais dirigidos do que os tiques.
Comorbilidades
CID-10: Perturbação de Tiques Vocais e Motores Múltiplos Combinados (de la Tourette) (F95.2)
78
Perturbação de Tiques Motores e Vocais
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
A. Tiques únicos ou múltiplos, simples ou complexos (motores ou vocais), presentes por, pelo menos, 12
meses.
B. Os tiques podem aumentar ou diminuir ao longo de dias ou semanas, mas estão presentes, pelo menos
de forma intermitente, por 12 meses, desde o tique inicialmente observado.
C. Os tiques não podem ser explicados por exposição a medicação ou outra condição médica.
D. A criança não preenche os critérios para S. Tourette (que requer a presença de tiques vocal e motores
em simultâneo).
E. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Especificar:
1. Apenas com tiques motores
79
Tricotilomania
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
A. A criança arranca de forma recorrente o cabelo/pêlo, resultando em áreas sem pêlo no escalpe,
sobrancelhas ou pestanas.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Características do diagnóstico
Na tricotilomania da infância, o escalpe parece ser o local mais comum onde se arranca cabelo,
observando-se zonas de alopécia, sendo que, mais raramente, as crianças também podem arrancar as
sobrancelhas e pestanas. Investigação recente começou a identificar de forma consistente, dois tipos
distintos de arrancamento de cabelo: “automático” e “focado”. No arrancamento automático, a criança não
parece ser consciente de que está a arrancar o cabelo. Por outro lado, as crianças que apresentam
arrancamento focado, parecem estar conscientes do seu comportamento, sendo detetado um trigger de
frustração. Encontrar cabelo nas fezes da criança é um sinal de que, não só o arranca, como também o
engole (tricofagia).
O arrancar de cabelo começa quando a criança tem menos de 3 anos de idade, começando
frequentemente como um gesto automático que a criança faz em alturas específicas, como enquanto
chucham no dedo, bebem o biberão, vêem TV, ou ao adormecer. Algumas crianças com menos de 12
meses também o fazem enquanto mamam. Relações familiares tensas ou ansiosas têm sido observadas
em alguns casos.
80
Características do desenvolvimento
Prevalência
A tricotilomania não está bem estudada na infância pelo que a sua prevalência é desconhecida.
Curso
Não há estudos de follow-up em crianças com tricotilomania. Entre as crianças mais velhas, os
estudos sugerem que há um aumento do risco para depressão e sintomas ansiosos com a tricotilomania.
Um arrancamento mais focado pode estar associado a um pior prognóstico a longo prazo.
A disfunção familiar, especialmente expressão emocional pobre, tem sido relacionada com a
tricotilomania em crianças, no entanto, não está claro o significado desta associação. Também pode existir
história familiar de tricotilomania, POC ou Perturbações de Ansiedade.
Não existem dados associados ao género no entanto, meninas em idade escolar tendem a
apresentar maior sofrimento e disfuncionalidade associada a arrancamento do cabelo, mesmo quando a
frequência e a gravidade do quadro, não difere dos rapazes.
Diagnóstico diferencial
Condições dermatológicas, como a Alopecia Areata, que envolve perda de cabelo espontânea
como resultado de um processo auto-imune que ataca os folículos, devem ser descartadas. Arrancar o
cabelo pode ser, ocasionalmente, uma forma de estereotipia. Para ser considerado tricotilomania, o
arrancamento deve resultar em perda de cabelo.
Comorbilidades
DSM-5: Tricotilomania
81
Perturbação de Escoriação da Primeira Infância - “Skin-Picking”
Introdução
Apesar do arrancamento de pele não ser incomum na primeira infância, a escoriação da pele até ao
ponto da criança causar ferimentos que se mantêm por longos períodos de tempo, é incomum e
preocupante. A característica principal da Perturbação de Escoriação é o arrancamento de pele que resulta
em escoriações duradouras.
Algoritmo de diagnóstico
A. A criança pequena arranca a sua pele, crostas ou anomalias minor da pele, resultando em escoriações
de longa duração (p.e. ferimentos, lesões, lacerações).
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Características do diagnóstico
As crianças podem entrar numa variedade de rituais que precedem a escoriação incluindo analisar
a pele e comer ou brincar com as crostas. Algumas crianças mais velhas ou adultos justificam o
comportamento como resposta a ansiedade, outros fazem-no de forma automática, sem pensar no que
estão a fazer.
Características do desenvolvimento
82
Prevalência
Curso
O arrancamento de pele tende a exacerbar-se com o stress, pelo que a criança pode apresentar
este comportamento com mais frequência durante períodos de transição (p.e. mudança de creche, mudar-
se para nova residência) ou outros stressores familiares. Crianças com familiares diagnosticados com POC
têm risco elevado de desenvolvimento de Perturbação de Escoriação.
Diagnóstico diferencial
A perturbação deve ser diferenciada de mordeduras de insectos que podem, raramente, ser um
sinal de negligência.
Comorbilidades
As crianças com Perturbação de Escoriação têm elevado risco para Perturbações de Ansiedade,
POC, Tricotilomania e outros comportamentos repetitivos focados no corpo (p.e. roer as unhas).
Algoritmo de diagnóstico
A. A criança tem um ou mais sintomas persistentes de POC ou perturbação relacionada, mas não
preenche todos os critérios para outra perturbação desta secção.
B. Os sintomas não são melhor explicados por outra perturbação para a qual a criança preencha todos os
critérios.
83
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Especificar:
1. A perturbação que melhor explica os sintomas da criança.
84
PERTURBAÇÕES DO SONO, ALIMENTAÇÃO E CHORO
PERTURBAÇÕES DO SONO
Introdução
Os problemas do sono estão entre as preocupações mais comuns na primeira infância. Os padrões
do sono mudam drasticamente ao longo dos primeiros 5 anos de vida e existe uma variabilidade
substancial entre as crianças. De entre os problemas mentais da primeira infância, as perturbações do
sono podem ser a influência direta mais profunda no sono de outros membros da família, frequentemente
com influência recíproca entre pais e criança. Apesar dos padrões do sono se desenvolverem no contexto
de cuidados, refletem as interações da biologia, relações com os cuidadores e ambiente físico do sono. A
85
investigação e experiencia clínica indicam que problemas de sono significativos podem desenvolver-se
tanto no contexto de relações saudáveis, como em contextos de alto risco.
Os padrões do sono evoluem substancialmente nos primeiros anos de vida, com a maioria das
crianças, com desenvolvimento típico, a ficar aptas a dormir toda a noite pelos 6 meses de idade. É
possível que os problemas de sono causem impacto e sofrimento severos na segunda metade do primeiro
ano de vida.
Muito do que sabemos acerca do sono em crianças pequenas é devido a descrições dos pais
acerca dos problemas de sono, resultando em literatura que analisa com mais frequência as características
relacionadas e o curso dos problemas do sono, que quaisquer outras perturbações específicas. Muito do
que se sabe tem também prováveis ligações culturais, pelo que o clínico deve ter cuidado quando tenta
aplicar determinadas normas acerca do sono, em culturas diferentes.
Esta secção inclui quatro perturbações: Perturbação de Insónia Inicial, Perturbação de Despertares
Noturnos, Perturbação de Microdespertares Noturnos e Perturbação de Pesadelos da Primeira Infância.
Estas perturbações são definidas empiricamente com base no conhecimento existente acerca do sono
típico e devem causar impacto, para assegurar que padrões não patológicos, não sejam considerados
doença.
Algoritmo de diagnóstico
A. A criança necessita mais de 30 minutos para adormecer na maioria das noites da semana.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
86
Idade: A criança deve ter pelo menos 6 meses de idade.
Algoritmo de diagnóstico
A. Múltiplos e prolongados despertares, acompanhados por sinalização, na maioria das noites da semana.
B. Os sintomas não são melhor explicados por outras perturbações ou problemas médicos e efeitos
secundários da medicação.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Algoritmo de diagnóstico
Dos critérios seguintes, devem estar presentes o critério A ou o critério B, e ambos critérios C e D devem
estar presentes.
87
A. Terrores noturnos: Episódios frequentes e recorrentes de microdespertares sem, no entanto, atingir
um estado de completamente desperto. Os episódios estão frequentemente associados a gritos e
sinais de sofrimento incluindo palpitações, aumento da frequência respiratória e diaforese. Estes
eventos ocorrem nas primeiras horas do sono. Nos terrores noturnos, a criança pequena não responde
prontamente aos esforços para a despertar.
Ou
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
DSM-5: Perturbação do Despertar do Sono sem Movimentos Oculares Rápidos - Tipo terrores noturnos
Algoritmo de diagnóstico
A. Sonhos maus ou despertares súbitos repetidos, com sofrimento associado e que acontecem mais
frequentemente na segunda metade do período do sono. A criança pode, ou não, lembrar-se e contar o
conteúdo.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
88
2. Interferem com os relacionamentos da criança
Características do diagnóstico
É importante destacar o impacto associado a problemas do sono, pois existe uma ampla variedade
de padrões do sono típicos, ao longo dos primeiros 5 anos de idade, incluindo na segunda metade do
primeiro ano de vida. Uma criança que preencha critérios de frequência ou duração, para qualquer
perturbação do sono, mas não apresente critérios de impacto funcional, não apresenta uma perturbação
do sono. O impacto pode estar presente sob a forma de padrões internalizantes e externalizantes e pode
ser visível quer nas crianças, quer nos cuidadores. A privação do sono em crianças pode estar presente
com distractibilidade, irritabilidade ou uma necessidade adicional de sesta diurna. Pais com privação do
sono podem estar cansados, sentir-se no limite e apresentar experiências semelhantes de padrões de
humor negativo e impacto na cognição.
Características do desenvolvimento
Apesar de haver uma enorme variabilidade entre os padrões de sono, o período de latência de
início do sono em crianças pequenas é maior que 30 minutos, numa pequena proporção de crianças. A
variabilidade no tempo de latência de início do sono pode ser influenciada por determinadas associações,
em crianças com mais de 4 meses de idade, isto é, pode depender de rotinas específicas, objetos
transicionais ou presença de pessoas para adormecer. Em crianças pequenas, o estabelecimento de
limites parentais (ausência de limites estabelecidos), pode também desempenhar um papel no atraso do
início do sono.
Os pesadelos e microdespertares não se desenvolvem até uma fase mais tardia da infância e
ocorrem com mais frequência na idade pré-escolar. É importante lembrar que muitas crianças pequenas
não se recordam do conteúdo dos seus sonhos. Comparado com os adultos, os pesadelos em crianças
pequenas podem ser mais comuns, sem uma exposição traumática associada, apesar de ser importante
considerar o contexto social clinicamente.
Prevalência
A prevalência da Perturbação de Insónia Inicial é um pouco difícil de avaliar devido aos critérios
usados nos estudos epidemiológicos. Aproximadamente 10%-15% das crianças pequenas tem um tempo
de latência de início do sono maior do que 30 minutos, de acordo com os relatos dos pais. Quando se
usam critérios rigorosos que incluem sofrimento, as perturbações do sono variam entre 10%-15% nos
estudos dos EUA e Europa, mas há cerca de um terço dos pais que descreve problemas de sono usando
terminologia mais geral, com prevalência mais elevadas na segunda metade do primeiro ano de vida.
Curso
Os problemas de sono na infância não são preditivos de problemas de sono mais tardiamente, na
idade oré-escolar. Aproximadamente 30%-40% das crianças entre os 8-10 meses de idade continuam a ter
problemas de sono descritos pelos pais, na idade pré-escolar. No geral, ao contrário da maioria dos
problemas mentais da primeira infância, as crianças mostram padrões de sono muito variáveis, ao longo do
tempo. A exceção a este padrão são os Pesadelos, que mostram elevada estabilidade dos 24 aos 60
meses.
A desregulação precoce do sono tem sido associada a outcomes adversos mais tardios, incluindo
o desenvolvimento da linguagem. Os problemas de sono, nos primeiros 42 meses de idade, resultam em
90
menos horas de sono totais e têm sido associados a problemas de hiperatividade aos 6 anos de idade. De
igual forma, problemas precoces no sono são preditivos de pobres outcomes cognitivos incluindo scores
de linguagem e raciocínio espacial mais baixos. Sono insuficiente nos primeiros 3 anos de vida relaciona-se
com taxas mais elevadas de obesidade, aos 6 anos de idade. De salientar que uma duração curta do sono
aos 18 meses de idade é um forte fator preditivo de hiperatividade aos 60 meses.
A investigação sugere que as crianças com mais dificuldades do sono, especialmente insónia
inicial e despertares noturnos, podem ter padrões diurnos de cortisol atípicos, particularmente níveis
matutinos elevados de cortisol. Não está estabelecido se esta associação indica um risco biológico ou
sequela de privação do sono.
Fatores familiares associados a problemas de sono na primeira infância incluem questões de saúde
mental e comportamentos ou cognições dos pais em relação ao sono. Crianças nascidas de mães com
depressão na gravidez estão em maior riso de problemas do sono, mesmo quando os sintomas da mãe
estão controlados no pós-parto. A depressão parental pós-natal, estudada primariamente em mães, e
problemas do sono parentais, têm demonstrado estar associadas a problemas de sono nas crianças
pequenas, apesar da direção desta associação ser difícil de estabelecer. Os problemas do sono estão
associados a comportamentos parentais à volta do sono, apesar desta associação ser provavelmente mais
recíproca, do que unidirecional. Crianças cujos pais estão ativamente envolvidos no processo de
adormecimento (segurando, alimentando ou balançando) têm risco mais elevado de perturbações do sono,
do que crianças que adormecem no seu berço com assistência parental mínima. Após os 5 meses de
idade, quando é improvável que os despertares noturnos sejam indicativos de fome, as crianças que são
alimentadas nos despertares também têm maior probabilidade de ter mais dificuldades no adormecer.
Utilizar o contacto físico, durante o dia, para acalmar a criança está associado a mais problemas de sono.
Cognições parentais que indicam dificuldades no estabelecimento de limites, crenças de que o bebé
precisa de resposta imediata para reduzir o sofrimento durante o sono e ansiedade de separação materna,
também são fatores preditivos de problemas de sono da criança.
Outros fatores, incluindo estatuto socioeconómico e estrutura familiar, não parecem influenciar de
forma independente o risco de problemas de sono, exceto na forma como influenciam os comportamentos
parentais relacionados com o sono.
Não existem dados consistentes que sugiram diferenças de género nos problemas do sono ou
sinalização pelas crianças. Os rapazes podem ter maior risco de sono pouco reparador do que as
raparigas.
Diagnóstico diferencial
Se houver evidência de que o sono da criança é anormal, de forma consistente, num determinado
contexto (p.e. com os pais) e habitualmente normal em outros contextos (p.e. com os avós), o diagnóstico
apropriado é uma Perturbação Específica da Relação da Primeira Infância. Na ausência de evidências
claras da variabilidade entre contextos (p.e. a criança apenas dorme em sua casa), deve diagnosticar-se
uma perturbação do sono. A variabilidade entre as sestas diurnas e o sono noturno não deve ser
considerada na avaliação do sono em diferentes contextos, para este propósito (do diagnóstico).
A Perturbação de Ansiedade de Separação deve ser considerada em crianças pequenas que têm
atraso no início do sono quando adormecem sozinhas, mas não em co-sleeping.
Medicação ou outros agentes também podem interferir com o sono. Deve prestar-se particular
atenção à cafeína, esteróides e medicamentos para a tosse/resfriado. Podem verificar-se efeitos
paradoxais em crianças a tomar anti-histamínicos resultando num aumento da agitação, em vez da habitual
sedação.
Problemas respiratórios associados ao sono, como a apneia, podem também causar despertares
frequentes, apesar de necessitarem de uma intervenção diferente. Estas crianças têm também ressonar
audível e podem ter breves períodos de apneia (param de respirar) frequentemente seguidos por sons
irregulares de recuperação do fôlego ou ressonar. Quando não está claro, um estudo pediátrico do sono
pode ser útil para identificar padrões ou problemas do sono subjacentes.
92
Um diagnóstico diferencial alargado deve ser considerado no caso de início agudo dos problemas
do sono, em vez de crónico, que pode refletir um problema médico, uma resposta a um evento de vida
stressante ou mudanças no ambiente de sono.
Comorbilidades
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
93
A. A criança pequena come demasiado ou tenta comer demasiado, demonstrando cada um dos
seguintes:
B. A criança pequena está excessivamente preocupada com comida ou com a alimentação, como
manifestado por pelo menos dois dos seguintes:
D. O comportamento da criança não se deve a uma condição que explique melhor estes comportamentos
(p.e. ausência de comida e fome, efeitos secundários de medicação, outras condições médicas).
E. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Especificar: se o peso da criança está acima do percentil 95, facto que se anota no Eixo III.
Características do diagnóstico
94
Características do desenvolvimento
A Perturbação de Ingestão Alimentar Excessiva raramente se observa antes dos 2 anos de idade
porque é necessário algum grau de autonomia, assim como competências verbais e motoras, para
procurar comida. A sobrealimentação (“overfeeding”) pode ocorrer em crianças com menos de 2 anos de
idade, especialmente durante o primeiro ano de vida. Se não existirem outros comportamentos que
indiquem procura ou preocupação por comida, os critérios para a perturbação não se cumprem.
Prevalência
Curso
Não existem estudos sistemáticos acerca do curso da perturbação. A experiência clínica sugere
que os comportamentos tendem a persistir e pode ser improvável que remitam espontaneamente. A
relação entre a ingestão alimentar excessiva na primeira infância e o Binge Eating ou a Bulimia Nervosa, em
idades mais avançadas, é desconhecida.
Uma incompatibilidade crónica na capacidade de resposta do cuidador às pistas dadas pelo bebé/
criança pequena, como por exemplo alimentá-lo quando ele não tem fome, tem demonstrado ter algum
papel no desenvolvimento de ingestão excessiva, por prejudicar a resposta da criança ao estado interno de
fome e saciedade. Os cuidadores que exercem demasiado controlo sobre o quê e qual a quantidade que
as crianças devem comer, podem também contribuir para a ingestão alimentar excessiva na infância.
Perturbações alimentares nos cuidadores, incluindo “Binge Eating”, Bulimia Nervosa e Anorexia
Nervosa, podem aumentar o risco para todos os tipos de perturbações alimentares da criança, incluindo
ingestão alimentar excessiva. Sintomas maternos de stress, depressão e ansiedade têm sido relacionados
com práticas de alimentação não responsivas (p.e. controladora, indulgente, subenvolvida). A alimentação
não responsiva, por seu lado, está relacionada com baixo peso ou excesso de peso nas crianças
pequenas. Conflitos familiares acerca da comida também são fatores que estão habitualmente associados
a perturbações alimentares em crianças pequenas.
Não existem dados, no entanto, assume-se que diferentes culturas tenham diferentes normas
acerca do que são padrões ótimos e saudáveis de alimentação. Por exemplo, as sociedades ocidentais
95
reforçam “valores” de magreza e “comida saudável”, enquanto nos países em desenvolvimento, onde os
recursos são escassos, coloca-se ênfase na sobrevivência.
Diagnóstico diferencial
Comorbilidades
Apesar dos dados serem limitados, pode existir em comorbilidade com Perturbação do
Processamento Sensorial e Perturbação Depressiva da Primeira Infância.
Algoritmo de diagnóstico
A. A criança pequena come menos do que o esperado para a sua idade, consistentemente.
3. Dificuldade em regular-se quando está a ser alimentada (p.e. adormece repetidamente ou fica
agitada).
6. Come apenas quando os cuidadores cedem a condições específicas impostas por ela (p.e. em
frente à TV, com um programa específico, com brinquedos ou com histórias).
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
96
1. Causam sofrimento à criança
Especificar:
1. Se há perda de peso
Nota: Perda de peso ou ausência do aumento de peso expectável devido à ingestão alimentar reduzida
devem ser anotados no Eixo III.
Características do diagnóstico
Os comedores seletivos “picky eaters” não têm necessariamente baixo peso, apesar da situação
estar frequentemente associada a tensão e sofrimento familiares. Algumas crianças podem exibir aversão a
cheiros, texturas e sabores específicos.
Características do desenvolvimento
A ingestão alimentar reduzida pode aparecer nos primeiros meses de vida. Por vezes pode estar
relacionada com uma relação específica, neste caso o diagnóstico apropriado será Perturbação Específica
da Relação. Se a ingestão reduzida ocorrer em mais de uma relação, deve ser considerada a Perturbação
de Ingestão Alimentar Reduzida e pode estar associada a ser subalimentado. No primeiro ano de vida, a
alimentação começa por ser uma atividade da díade. Algum tempo mais tarde, ainda no primeiro ano, a
criança começa a alimentar-se por ela própria - inicialmente estes esforços são limitados, mas o comer
torna-se progressivamente mais independente durante o segundo e terceiro anos de vida. O comer
seletivamente “picky eating” pode aparecer na segunda metade do primeiro ano, especialmente na
97
transição para as comidas sólidas. Algumas crianças podem resistir ao desmame da amamentação ao
peito. De qualquer forma, o comer seletivamente pode começar em qualquer idade.
Prevalência
Segundo relatos dos pais, cerca de 25-40% das crianças têm problemas na alimentação,
principalmente vómitos, comer muito devagar e recusa alimentar. Apesar de algumas destas dificuldades
serem transitórias, alguns problemas, como a recusa em comer, encontram-se em cerca de 3%-10% das
crianças e tendem a persistir no tempo.
Curso
Perturbações alimentares maternas, incluindo Bulimia Nervosa e Anorexia Nervosa, são um fatores
de risco para todos os tipos de perturbações alimentares na infância. Sintomas maternos de stress,
depressão e ansiedade têm sido relacionados com práticas de alimentação não responsivas (p.e.
controladora, indulgente, subenvolvida). A alimentação não responsiva, por seu lado, está relacionada com
baixo peso ou excesso de peso nas crianças pequenas. Conflitos familiares e tensão acerca da comida
também são fatores de risco, por si sós, de agravamento de problemas alimentares. O comer
seletivamente “Picky eating” é frequentemente observado em pais de crianças com este mesmo
comportamento.
A alimentação tem um papel importante na maioria das culturas. Hábitos alimentares aceitáveis
variam largamente entre grupos religiosos e étnicos e as perturbações alimentares têm sido
concetualizados como síndromes ligados à cultura. Neste contexto, destaca-se que a maioria das
publicações de investigação da área dizem respeito às populações da América do Norte e da Europa.
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Características de diagnóstico relacionadas com o género
Diagnóstico diferencial
Dada a confiança da criança pequena nos cuidadores, comer é um processo que funciona em
díade. O termo “alimentar” (“feeding”) reflete o papel do cuidador no processo, enquanto o termo
“comer” ("eating”) reflete o papel da criança (p.e. abrir a boca, engolir, alcançar a comida). Tem-se
descoberto que as práticas de alimentação dos pais estão fortemente associadas tanto a comportamentos
de ingestão excessiva como reduzida, na criança pequena. Como regra, a menos que haja evidência de
que os problemas alimentares estão limitados a um ou mais cuidadores principais, o diagnóstico é uma
perturbação de ingestão alimentar. Se existir evidência de que a criança tem ingestão excessiva ou
reduzida apenas com um cuidador, o diagnóstico deve ser Perturbação Específica da Relação da Primeira
Infância, com a especificação do distúrbio.
É necessário excluir razões orgânicas para a Perturbação de Ingestão Reduzida, como alergia ao
leite, anomalias estruturais que afetem a nasofaringe, laringe, traqueia e esófago, distúrbios do
neurodesenvolvimento, hipersensibilidade oral e disfunção oral-motora, doença sistémica, assim como
causas orgânicas de dor como esofagite devida a refluxo gastoesofágico.
Comorbilidades
Problemas médicos coexistentes devem ser mencionados no Eixo III porque nem sempre uma boa
gestão médica alivia os problemas de alimentação adequadamente. Por exemplo, crianças com fibrose
cística têm frequentemente um padrão alimentar lento, mastigando com dificuldade, preferindo líquidos,
recusando comer sólidos e resistirem à introdução de novos alimentos. Crianças com refluxo
gastroesofágico têm menor consumo de alimentos geradores de energia, menor capacidade de adaptação,
disponibilidade para sólidos mais baixa, maior probabilidade de recusar comida e são mais exigentes e
difíceis no momento da alimentação. A Perturbação Específica da Relação da Primeira Infância, com outras
manifestações, para além dos comportamentos alimentares problemáticos, pode ocorrer
concomitantemente com o diagnóstico de Perturbação de Ingestão Alimentar Reduzida.
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Perturbação Alimentar Atípica
Algoritmo de diagnóstico
A. A criança pequena exibe sintomas alimentares anormais que incluem pelo menos um dos seguintes:
1. Acumulação “Hoarding” - a criança esconde comida em locais incomuns (p.e. na cama, na gaveta
da secretária).
B. O comportamento alimentar anormal da criança pequena não é melhor explicado por uma condição
médica ou efeito adverso de um fármaco.
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Características do diagnóstico
PICA descreve o consumo persistente de substâncias, que não são comida, como lixo, giz, papel,
sabão, pano, corda, terra, tinta, chiclete, argila, objetos de metal ou plástico ou fezes. Geralmente não está
associada a aversão à comida. Estes objetos não são ingeridos em substituição da comida, mas sim para
além da comida habitual.
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Ruminação descreve a regurgitação repetida de comida que a criança ingeriu ou lhe foi
administrada. Habitualmente a criança volta a engolir a comida regurgitada mas, por vezes, a comida é
expelida após a regurgitação.
Hoarding: Encontrar comida em locais incomuns ajuda a fazer o diagnóstico. Algumas destas
crianças têm excesso de peso, enquanto outras têm peso a menos, dependendo do que fazem com a
comida que escondem. Tem sido associado a maus-tratos infantis, especialmente negligência.
PICA: Deficiências em ferro e zinco têm sido descritas em casos de PICA. Alguns casos são
diagnosticados após oclusão intestinal ou perfuração, infeções como toxoplasmose ou toxocaríase após
ingestão de fezes, terra do solo ou lixo, ou intoxicação por chumbo. Por vezes está associada a debilidade
intelectual, autismo e outras debilidades de desenvolvimento.
Ruminação: durante a ruminação, frequentemente, a criança arqueia as costas com a cabeça para
trás enquanto faz movimentos de sucção com a língua e parece envolver-se numa atividade de se auto-
acalmar ou auto-estimular. Entre as refeições a criança pode ficar com fome ou irritável. Perda de peso ou
não ganhar peso são comuns, até ao ponto da desnutrição, especialmente quando a regurgitação ocorre
no seguimento de cada refeição.
Características de desenvolvimento
Hoarding: segundo os nossos conhecimentos, não está descrito em crianças com menos de 2
anos de idade.
PICA: em crianças com menos de 2 anos de idade, o normal manuseamento de objetos com a
boca, próprio do desenvolvimento, pode resultar em ingestão, pelo que se deve ser cauteloso quando se
atribuiu um diagnóstico de PICA em crianças com menos de 24 meses de idade.
Ruminação: pode ser observada em todas as idades, desde a infância até à idade adulta. Em
crianças, habitualmente começa entre os 3 e os 12 meses.
Prevalência
A prevalência é desconhecida para os 3 tipos. Comer seletivamente “Picky eating” é muito mais
comum, embora os números exatos, na população geral, sejam desconhecidos.
Curso
Hoarding: não existem dados publicados acerca do curso ao longo do tempo, no entanto, a
experiência clínica sugere que frequentemente resolve em semanas ou meses, quando a criança é
colocada num ambiente de cuidados adequado.
PICA pode ocorrer em crianças com desenvolvimento normal mas o fenómeno é mais comum em
crianças pequenas com debilidade intelectual ou autismo. O curso depende do grau de gravidade e pode
prolongar-se no tempo e levar a emergências médicas.
Ruminação: pode ser auto-limitada, mas pode prolongar-se no tempo levando a desnutrição
potencialmente fatal. Alguns casos têm curso episódico, outros casos são contínuos.
101
Fatores de risco e prognóstico
PICA: em algumas culturas, a ingestão de terra do solo faz parte de rituais espirituais e a criança
pequena pode imitar o adulto, neste caso, não há garantia de que seja um diagnóstico de PICA. Não há
dados publicados acerca de questões relacionadas com a cultura que possam pertencer a outros tipos de
comportamentos alimentares atípicos.
Pode ocorrer tanto em raparigas como rapazes, não há dados específicos para nenhum dos
comportamentos alimentares atípicos.
Diagnóstico diferencial
PICA: se a PICA não for severa e estiverem preenchidos critérios para PEA, Debilidade Intelectual,
Esquizofrenia de início precoce ou Síndrome de Klein-Levin, o diagnóstico não está garantido.
Comorbilidades
Hoarding
DSM-5: Perturbação Alimentar ou da Alimentação Sem Outra Especificação
PICA
DSM-5: PICA
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Ruminação
DSM-5: Perturbação de Ruminação
Introdução
Os livros de pediatria referem-se ao choro excessivo como “cólicas infantis” e descrevem-no como
um fenómeno benigno e auto-limitado. Apesar dos clínicos encontrarem casos severos de choro excessivo
persistente com impacto funcional significativo, a investigação divide-se e as descrições de caso são
praticamente inexistentes.
Algoritmo de diagnóstico
A. O bebé/criança pequena chora, pelo menos, durante 3 horas por dia, em 3 ou mais dias da semana,
por pelo menos 3 semanas (“regra dos 3”).
B. O choro não é melhor explicado por uma condição médica (p.e. intolerância à lactose, refluxo
gastroesofágico).
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
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Características do diagnóstico
Tipicamente, os pais descrevem a preferência das crianças pela posição vertical, recusando a
posição horizontal, bem como a dificuldade de acalmar a criança mesmo estando nos seus braços. Finais
da tarde e noite são piores que as manhãs. A situação cria, inevitavelmente, uma sobrecarga dos pais, cuja
forma de reagir depende dos mecanismos de coping e características individuais.
Características de desenvolvimento
Prevalência
O choro excessivo nos primeiros 3 meses de idade ronda os 16%-29%, dependendo das
definições e métodos de avaliação.
Curso
O choro excessivo, que persiste para além dos 3 meses, tem a sua própria dinâmica: normalmente
acompanha-se de dificuldades de interação pais-criança, criando-se um ciclo vicioso. As noites podem
também tornar-se problemáticas. A longo prazo, estudos de follow-up de crianças acima dos 3 anos de
idade mostram desenvolvimento motor, cognitivo e social, normativos. A nível do comportamento, os
dados são controversos, sendo que, um prognóstico desfavorável parece ser mais evidente em estudos
conduzidos em amostras clínicas.
Até onde sabemos, não existem dados acerca do choro excessivo em países não ocidentais ou
diferentes grupos étnicos. Pode assumir-se, contudo, que o choro tem diferentes significados nas várias
culturas, o que provoca diferentes padrões de reposta, consoante os pais.
104
Características de diagnóstico relacionadas com o género
Estudos extensos não confirmaram a impressão clínica comum, de que os bebés do sexo
masculino são mais predispostos a ter choro excessivo.
Diagnóstico diferencial
Comorbilidades
DSM-5: N/A
CID-10: Sintomas Não Específicos Peculiares da Infância (Choro Excessivo na Infância) (R68.11)
Algoritmo de diagnóstico
B. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Especificar:
1. A perturbação que melhor explica os sintomas da criança.
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CID-10: Outras Perturbações da Alimentação (F50.8)
CID-10: Sintomas Não Específicos Peculiares da Infância (Choro Excessivo na Infância) (R68.11)
106
PERTURBAÇÕES DE PRIVAÇÃO, STRESS E TRAUMA
Introdução
A maioria das perturbações deste manual são definidas de forma descritiva sem relação com a
etiologia, no entanto, as perturbações desta secção são a exceção à regra geral, porque cada uma inclui
uma etiologia específica nos critérios de diagnóstico. Essencialmente, esta secção define comportamento
sintomático que deriva de (a) presença de stressores e traumas (no caso de Perturbação de Stress Pós-
Traumático e Perturbação de Ajustamento), (b) a ausência de estimulação necessária (no caso da
Perturbação Reativa de Vinculação e Perturbação de Envolvimento Social Desinibido), e (c) a perda da
relação com um cuidador principal (no caso da Perturbação do Luto Complicado da Primeira Infância).
Muitos dos comportamentos sintomáticos destas perturbações não são específicos (p.e. agressão,
irritabilidade, redução da expressão de emoções positivas) pelo que, ligar os comportamentos a uma
etiologia de perda, trauma ou privação, é essencial para um diagnóstico apropriado. Consequentemente, é
importante avaliar as perdas, stressores e traumas, na relação com o quadro clínico. No entanto, há
evidências abundantes de que nem todas as crianças pequenas expostas a stressores, traumas ou
privação irão desenvolver estes ou quaisquer outros sintomas. Assim, em crianças pequenas que foram
sujeitas a este tipo de exposição, é importante inquirir acerca dos sintomas específicos que estão a causar
dificuldades, em vez de assumir que a exposição implica uma perturbação.
Os sintomas específicos podem variar com a idade da criança sendo difícil identificar a maioria
destas perturbações no primeiro ano de vida. Por exemplo, a Perturbação Reativa de Vinculação e a
Perturbação de Envolvimento Social Desinibido não podem ser diagnosticadas até depois da criança ter
idade suficiente para ter criado uma vinculação focada. A Perturbação de Luto Complicado da Primeira
Infância também não pode ser diagnosticada antes de se ter idade para ter desenvolvido vinculação com o
cuidador. A Perturbação de Stress Pós-Traumático é difícil de identificar no primeiro ano de vida devido às
capacidades limitadas das crianças em transmitir os sintomas. A Perturbação de Ajustamento pode ocorrer
em qualquer idade e pode considerar-se quando se vêem sintomas, no primeiro ano de vida, que não são
explicados por outras perturbações desta secção, com a noção de que a expressão dos sintomas da
Perturbação de Ajustamento é limitada a 3 meses. Se os sintomas e o impacto resultantes do trauma,
stress, privação ou perda, se estenderem por mais de 3 meses e não preencherem critérios para outra
perturbação major desta secção, é mais apropriado um diagnóstico de Outra Perturbação Privação, Stress
ou Trauma da Primeira Infância.
Introdução
Apesar da exposição ao trauma poder levar a várias perturbações, a Perturbação de Stress Pós-
Traumático (PSPT) descreve uma constelação de sintomas em resposta a uma exposição traumática. Em
107
crianças pequenas, a PSPT requer sempre exposição prévia a eventos ou séries de eventos assustadores/
aterradores, como a exposição a abuso físico ou sexual, violência íntima ou na comunidade, desastres
naturais, conflitos armados, acidentes com veículos motorizados, procedimentos médicos assustadores ou
dolorosos ou eventos similares. A criança pequena pode vivenciar o evento diretamente, ser testemunha
direta ou ser confrontada com o evento que aconteceu a uma pessoa significativa da sua vida. A
característica principal consiste num conjunto de sinais que aparecem após a exposição. Em algumas
crianças predomina um quadro clínico de medo de uma re-experiência, especialmente em resposta a um
evento traumático direto. Um quadro de afastamento e responsividade reduzida predomina em outras
criança pequenas, especialmente as que estão expostas a circunstâncias traumáticas crónicas.
Algoritmo de diagnóstico
Para além da exposição a trauma especificada no critério A, os sintomas seguintes devem estar
presentes: pelo menos um sintoma do grupo B, pelo menos um sintoma do grupo C ou grupo D e pelo
menos dois sintomas do grupo E. Adicionalmente, as condições descritas no critério F também devem
estar presentes.
A. A criança pequena foi exposta a uma ameaça ou dano sérios, acidente, doença, trauma médico, perda
significativa, calamidade, violência ou abuso físico/sexual em uma ou mais das seguintes formas:
3. Saber que o evento traumático aconteceu a uma pessoa significativa da vida da criança pequena.
B. A criança pequena mostra evidência de re-experienciar o evento traumático através de pelo menos um
dos seguintes:
2. Preocupação com o evento traumático transmitida por afirmações ou questões repetidas acerca de
alguns aspetos do evento.
3. Aumento da frequência, após o evento traumático, de pesadelos repetidos, cujo conteúdo pode, ou
não, estar ligado ao evento traumático.
5. Reações fisiológicas marcadas (p.e. suar, respiração ofegante, mudança de cor) ao se lembrar do
evento traumático.
6. Episódios dissociativos, com início após o evento traumático, nos quais a criança “congela”, fica
imóvel ou com olhar fixo e não responde aos estímulos do ambiente, durante alguns segundos ou
minutos, em resposta a uma lembrança do evento traumático.
C. A criança pequena tenta, de forma persistente, evitar estímulos relacionados com o trauma através de
esforços por evitar pessoas, lugares, atividades, conversas ou situações interpessoais que são lembranças
do trauma.
D. A criança pequena experimenta uma diminuição da capacidade de resposta emocional positiva, que
aparece ou se intensifica após o trauma e se revela por, pelo menos um, dos seguintes:
108
4. Aumento do medo ou tristeza.
E. Após um evento traumático, a criança pequena pode exibir início ou intensificação dos sinais de alerta,
como revelado por, pelo menos dois, dos seguintes:
2. Dificuldades de concentração.
3. Hipervigilância.
F. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Idade: o diagnóstico deve ser feito com precaução em crianças com menos de 12 meses de idade.
Duração: Os sintomas das categorias B-E devem estar presentes durante pelo menos um mês após a
exposição do critério A.
Características do diagnóstico
O trauma pode ter muitos efeitos nas crianças, para além da PSPT. Efeitos comuns incluem
aparecimento de novos medos ou início de comportamentos agressivos. O comportamento opositivo é
uma característica frequente, assim como a ansiedade de separação. Comportamentos regressivos ou
perda de competências previamente adquiridas (p.e. treino de bacio) podem ser evidentes. Algumas
109
crianças pequenas com competências de linguagem expressiva em desenvolvimento podem manter estas
competências mas mostrar regressão seletiva quando se referem à experiência traumática.
Características de desenvolvimento
A PSPT tem sido descrita em crianças com idades tão precoces como 12 meses de idade.
Crianças com menos de 12 meses têm capacidades de representação limitadas, que podem ser
necessárias para re-experienciar e expressar o ocorrido. No primeiro ano de vida, os bebés podem tornar-
se sintomáticos após exposição a um evento traumático, mas têm menor probabilidade de manifestar
todos os sintomas de PSPT, do que crianças com mais de um ano de idade.
Prevalência
Curso
Alguns estudos atribuem fatores de vulnerabilidade para PSPT em crianças expostas a trauma. Um
fator que tem algum suporte preliminar é que a probabilidade de desenvolver PSPT após exposição a
trauma é superior se os cuidadores forem afetados pelo mesmo trauma. Estudos de vulnerabilidade
biológica, como polimorfismos genéticos, podem ser úteis na demonstração de risco, apesar destes
estudos serem difíceis de replicar. Um fundo ansioso parece aumentar o risco para PSPT entre indivíduos
traumatizados mais velhos, o que também pode ser verdade em crianças pequenas, apesar de não haver
evidência direta.
Não há diferenças culturais no quadro clínico em crianças, apesar da procura de ajuda, risco de
desenvolvimento e gravidade poderem ser afetados por crenças culturais. Entretanto, uma barreira
significativa ao tratamento é a crença, de vários cuidadores adultos, de que nos primeiros anos de vida, a
criança não é afetada por exposição a trauma ou que eles ultrapassaram os sintomas.
110
Diagnóstico diferencial
O quadro clínico inclui sintomas específicos e não específicos. Os sintomas específicos consistem
no aparecimento repentino de angústia após a exposição a trauma e, especialmente, re-experienciar o
evento traumático, de várias formas. Sintomas não específicos são os afetos negativos, incluindo
irritabilidade, medo e retraimento emocional. O início ou intensificação dos sintomas após a exposição ao
trauma é necessário para preencher os critérios de diagnóstico. A Perturbação de Ajustamento é
apropriada se a criança sofreu um trauma e apresenta sintomas por menos de 3 meses, mas não preenche
critérios para PSPT. Para crianças pequenas que estão traumatizadas, não preenchem critérios de PSPT e
os sintomas se prolongam para além dos 3 meses, o diagnóstico de Outra Perturbação de Privação, Stress
ou Trauma, é apropriado.
Comorbilidades
DSM-5: Perturbação de Stress Pós-Traumático em Crianças com Idade Igual ou Inferior a 6 anos.
Perturbação de Ajustamento
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
B. Num período de até 2 semanas após exposição ao stressor, o bebé/criança pequena exibe uma
perturbação das emoções (p.e. irritabilidade, tristeza ou ansiedade) ou comportamentos (p.e. oposição,
resistência em ir dormir, birras frequentes ou regressão do desenvolvimento).
111
C. Os distúrbios emocionais ou de comportamento do critério B representam uma mudança clara nas
emoções ou comportamento habituais e são plausivelmente relacionáveis com o stressor.
E. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Duração: Os sintomas devem estar presentes por pelo menos 2 semanas e por menos de 3 meses, se o
stressor já não estiver presente.
Características do diagnóstico
Características do desenvolvimento
Os bebés têm um repertório de comportamentos mais estreito que as crianças pequenas e a forma
como expressam os sintomas é provavelmente mais limitada. Os bebés podem exibir sintomas como
distúrbios do sono, problemas alimentares, inibição social ou choro excessivo - todos devem estar abaixo
do limiar para as perturbações do Eixo I que envolva esses comportamentos. As crianças pequenas podem
112
exibir qualquer um destes sintomas e ainda outros como hiperatividade, comportamento opositivo ou
agressão.
Prevalência
Curso
Diagnóstico diferencial
113
Comorbilidades
A Perturbação de Ajustamento pode ser acompanhada por outra perturbação ou condição médica,
mas deve incluir sintomas que não contribuam para a perturbação comórbida. A comorbilidade da
Perturbação de Ajustamento com outra perturbação do Eixo I deve ser distinguida da exacerbação de uma
condição pré-existente. Por exemplo, uma criança pequena com PHDA pode tornar-se mais medrosa e
irritável após um acidente de automóvel. Se a criança pequena não preenche os critérios para PSPT, a
Perturbação de Ajustamento deve ser considerada.
Introdução
Algoritmo de diagnóstico
A. Após a morte ou perda permanente de uma figura de vinculação, o bebé/criança pequena exibe, pelo
menos, dois dos seguintes sintomas:
114
1. O bebé/criança pequena chora, chama ou procura, de forma persistente, a pessoa perdida.
2. Quando se depara com lembranças da perda, o bebé/criança pequena mostra qualquer um dos
seguintes:
(a) Distanciamento, incluindo aparente indiferença perante recordações do cuidador, como uma
fotografia ou menção do nome do cuidador.
(c) Extrema sensibilidade a qualquer recordação da pessoa perdida incluindo stress agudo quando
um objeto que pertencia à pessoa perdida é tocado por outra pessoa ou levado por alguém.
(d) Uma forte reação emocional perante qualquer tema relacionado com a separação e a perda - por
exemplo, recusa em jogar às escondidas, desatar a chorar quando um objeto doméstico é
colocado num local diferente do habitual, intensa angústia de separação ou preocupação
persistente com o paradeiro dos outros.
3. Preocupação persistente com a possibilidade da sua morte ou morte de outros, tal como qualquer
um dos seguintes:
(b) Afirmações acerca do desejo de morrer (“Eu também quero morrer”) ou encenações de morte
durante o jogo.
5. Afirmações que denotam culpa ou auto-responsabilização pela perda (p.e. “sou mau”; “eu matei-a”)
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Idade: Não se especifica nenhum mínimo de idade mas o diagnóstico deve ser feito com precaução em
bebés com menos de 9 meses de idade (a idade de desenvolvimento na qual a vinculação a uma figura
preferida deve estar claramente estabelecida).
115
Duração: Os sintomas devem estar presentes durante a maior parte dos dias por, pelo menos, 30 dias.
Especificar:
1. Se o bebé/criança pequena estava presente durante o evento que levou à morte.
Características do diagnóstico
A morte de uma figura de vinculação pode ter outros efeitos para além de luto complicado. O
bebé/criança pequena pode ficar com medo de se vincular a outros adultos por receio de que estes
também possam morrer; pode evitar atividades por medo de se magoar ou morrer; e podem mostrar
interesse reduzido em explorar, aprender e resolver problemas. O contrário também pode acontecer, com a
criança pequena a tornar-se muito solícita em relação ao bem-estar dos cuidadores por receio da
segurança destes. A ansiedade de separação é habitualmente exacerbada após a perda ou separação
permanente de uma figura de vinculação.
Características do desenvolvimento
Não existem estudos sistemáticos acerca do curso do luto em bebés/crianças pequenas com
menos de 3 anos de idade e existem muito poucos estudos que envolvam crianças em idade pré-escolar.
Bebés no primeiro ano de vida podem sofrer angústia intensa por separação ou perda da figura de
vinculação, que expressam através do choro, incapacidade de se acalmarem, distúrbios do sono e
indiferença. As crianças pequenas podem desenvolver auto-atribuições acerca da causa da morte,
preocupações com a morte e morrer, preocupação acerca de terem causado a morte, pensamentos
negativos como desejar morrer para se juntarem à figura de vinculação e raiva ou vinculação ambivalente
envolvendo cuidadores substitutos.
Prevalência
Curso
116
Fatores de risco e prognóstico
A experiência clínica sugere que os bebés/crianças pequenas que, apesar da perda, têm uma
figura de vinculação alternativa viva, têm menor probabilidade de desenvolver uma perturbação, do que os
que perderam a sua única figura de vinculação conhecida. Existem indicações de que as crianças que
perdem uma figura de vinculação na primeira infância são mais propensas a reagir com depressão, um dia
mais tarde, após perda de uma pessoa amada.
Não existem estudos em que sejam que abordem as diferenças culturais na manifestação da
Perturbação do Luto Complicado da Primeira Infância em bebés/crianças pequenas. Um obstáculo
significativo a estes estudos é a crença pervasiva, entre as várias culturas, de que a criança vai esquecer a
pessoa que morreu, se esta não for mencionada e se as lembranças dela forem removidas do ambiente
diário da criança.
Não foram identificadas diferenças de género para esta perturbação, nos bebés/crianças
pequenas.
Diagnóstico diferencial
Comorbilidades
DSM-5: Perturbação Relacionada com Trauma e Fatores de Stress com Outra Especificação (Perturbação
de Luto Complicado Persistente)
117
Perturbação Reativa de Vinculação
Introdução
A Perturbação Reativa de Vinculação descreve uma condição em que a criança pequena não tem
uma figura de vinculação, apesar de ter capacidade de formar uma relação de vinculação. O bebé nasce
com uma forte propensão para formar vínculos com os adultos cuidadores. Geralmente é isso que
acontece, exceto em circunstâncias inusuais, em que o bebé não tem interação social suficiente com os
cuidadores. As manifestações da perturbação incluem tanto a ausência de comportamentos de vinculação,
como uma capacidade de resposta social e emocional aberrantes. A perturbação é diagnosticada por uma
história detalhada e observação dos comportamentos da criança durante a avaliação clínica. Não há testes
ou procedimentos específicos para confirmar ou suportar o diagnóstico.
Algoritmo de diagnóstico
(b) Ausência ou interesse significativamente reduzido em estabelecer contacto social com outros.
(d) Ausência ou interesse significativamente reduzido nas respostas ao conforto, quando oferecido.
B. A ausência de uma figura de vinculação resulta de falta de cuidados (negligência social e emocional) ou
mudanças repetidas nos cuidadores, que limitam aptidão do bebé/criança pequena para formar laços
de vinculação, resultando nos comportamentos anómalos descritos no critério A1.
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
118
Idade: A perturbação pode não ser diagnosticável em bebés com com idade de desenvolvimento inferior a
9 meses
Características do diagnóstico
A essência desta perturbação é a ausência de vinculação, a qualquer adulto cuidador, por parte do
bebé/criança pequena que sofreu grave negligência social. A criança deve ser suficientemente crescida
para poder desenvolver uma vinculação seletiva - isto é, ter uma idade cognitiva de, pelo menos, 9 meses.
A ausência de comportamentos de vinculação como procura de conforto, suporte, nutrição e proteção,
também é evidente pela ausência de prudência em relação a estranhos e ausência de protestos perante a
separação. Além disso a criança demonstra ausência ou reduzida reciprocidade social durante as
interações, e distúrbios de regulação emocional, que incluem emoções positivas reduzidas e episódios de
medo, irritabilidade ou tristeza.
Características do desenvolvimento
Depois da criança atingir uma idade cognitiva de 9 meses, é suposto mostrar preferências por um
número de cuidadores relativamente pequeno. A procura de comportamentos de proximidade, em crianças
mais velhas, pode incluir gatinhar ou dirigir-se a um cuidador, agarrar-se, sorrir ou chorar para obter
proximidade física, inclinar-se para estabelecer contacto e outros comportamentos similares. À medida que
as crianças crescem, muitos destes comportamentos persistem, mas o verbal também é utilizado para
promover a proximidade e expressar a necessidade de conforto. Tendo em mente as diferenças na forma
como os comportamentos de vinculação são expressos desde os 9 meses, até aos 5 anos de idade, as
manifestações essenciais da Perturbação Reactiva de Vinculação são semelhantes, ao longo deste
período.
Prevalência
Curso
Apesar de que uma minoria dos bebés/crianças pequenas expostas a negligência social severa irá
desenvolver uma Perturbação Reativa de Vinculação, muito pouco se sabe acerca do porquê de algumas
crianças a manifestarem e outras não. Parece ser necessário que exista negligência nos primeiros anos de
vida, possivelmente até antes das primeiras formas de vinculação, mas os estudos são limitados neste
ponto. Nos primeiros 3 anos de vida, não parece importar em que altura a criança é removida do ambiente
negligente porque os sinais da perturbação diminuem ou desaparecem rapidamente, independentemente
da idade da criança. O que está menos claro é se, quando a perturbação já não parece estar presente, a
criança se encontra em risco de problemas subsequentes nas relações e vinculações. Dada a importância
da vinculação no desenvolvimento social e emocional, a Perturbação Reativa de Vinculação deve ser
considerada uma emergência do desenvolvimento. Assim, o desenvolvimento de todos os esforços para
colocar crianças pequenas, com sinais desta perturbação, em ambientes de cuidado adequados (ou
melhores), deve ser uma prioridade urgente.
Neste momento os dados são muito limitados, pelo que se desconhecem diferenças culturais na
prevalência, curso ou apresentação clínica.
Diagnóstico diferencial
Tanto a PEA como a PEAAP envolvem comportamentos sociais aberrantes, fraca expressão de
emoções positivas, atrasos cognitivos e de linguagem e impacto na reciprocidade social. Para além disso,
ambas perturbações podem estar associadas a atrasos de desenvolvimento e estereotipias motoras. Estas
perturbações devem ser descartadas antes de fazer um diagnóstico de Perturbação Reativa de Vinculação.
Crianças pequenas com debilidade intelectual podem partilhar um perfil de atraso cognitivo, de
competências motoras e marcos de desenvolvimento, com crianças com Perturbação Reativa de
Vinculação. Mesmo assim, não há razão para se esperarem comportamentos emocionais/sociais e
capacidade de resposta anormais em crianças com debilidade intelectual. A vinculação aos cuidadores
adultos deve ocorrer ao se atingirem os 7-9 meses de idade. As crianças com Perturbação Reativa de
Vinculação podem mostrar impacto seletivo nas respostas sociais e emocionais e uma ausência de
vinculações preferidas, apesar de terem atingido uma idade cognitiva de, pelo menos, 9 meses de idade.
Comorbilidades
Introdução
121
por observação e história detalhada dos comportamentos da criança durante a avaliação clínica. Não
existem testes específicos ou procedimentos indicados para confirmar ou suportar o diagnóstico.
Algoritmo de diagnóstico
A. Tendência recorrente a aproximar-se e interagir com adultos não familiares, sem se apresentarem
reticentes, como manifestado por pelo menos dois dos seguintes:
7. Tendência repetida em envolver-se em interações físicas intrusivas (p.e. tocar, abraçar) ou verbais
(p.e. perguntar questões demasiado íntimas) que são inapropriadas à idade, com adultos estranhos.
8. Tendência repetida em deixar de estar atento à presença do adulto cuidador em contextos não
familiares monitorizado, olhando para trás ou ficando perto.
B. Desinibição social com adultos, que é distinta de impulsividade (p.e. pensar antes de agir) e que viola
as normas de desenvolvimento culturalmente aceites.
D. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Idade: A perturbação pode não ser diagnosticável em bebés com com idade de desenvolvimento inferior a
9 meses e deve ser diagnosticada com precaução antes dos 12 meses de idade.
Especificar:
1. Se o bebé/criança pequena não tem uma vinculação completamente formada.
Características do diagnóstico
122
Características associadas que apoiam o diagnóstico
A perturbação pode limitar seriamente a qualidade das relações com outras pessoas importantes.
Os cuidadores podem descrever a criança como emocionalmente superficial ou como procura de atenção
constante. Existe a possibilidade de se colocarem em perigo, por não se manterem fisicamente próximas
às figuras de vinculação em ambientes estranhos, ou indo de boa vontade com adultos desconhecidos.
Uma vez que as crianças pequenas com Perturbação de Envolvimento Social Desinibido sofreram
negligência social, habitualmente também manifestam outros problemas como atrasos motores, cognitivos
e de linguagem, estereotipias e atrasos de crescimento incluindo altura, peso e perímetro cefálico.
Características do desenvolvimento
Após a criança atingir uma idade cognitiva de 9 meses, é esperado que mostre preferência por um
número relativamente pequeno de adultos cuidadores. Um comportamento que prevê o início de uma
vinculação focada é a angústia ao estranho. Após um período de elevado interesse na interação social com
qualquer pessoa, habitualmente evidente dos 2-7 meses, os bebés começam a reagir com angústia ou,
pelo menos hesitação, a adultos estranhos, aos 7-9 meses. A perturbação será mais evidente quando a
criança pequena for capaz de se aproximar livremente e ir com adultos estranhos, pelo que o diagnóstico
deve ser feito com precaução antes dos 12 meses de idade.
Prevalência
Curso
Apesar de apenas uma minoria dos bebés/crianças pequenas expostas a negligência social severa
desenvolver Perturbação de Envolvimento Social Desinibido, pouco se sabe acerca de porque é que alguns
desenvolvem a perturbação e outros não. Parece ser necessário que exista negligência nos primeiros anos
de vida, talvez mesmo antes da primeira forma de vinculação, mas os estudos são limitados a este nível.
No presente, não existe evidência clara de que uma privação após o segundo ano de vida leve a esta
perturbação, mas também nisto, a evidência é limitada.
123
Características de diagnóstico relacionadas com a cultura
Diagnóstico diferencial
Crianças pequenas com PHDA demonstram impulsividade que se pode estender às interações
sociais. Uma avaliação cuidada deve tentar perceber se a impulsividade da criança inclui desinibição
cognitiva (p.e. problemas de controlo inibitório), comportamental (p.e. correr na rua sem olhar) ou social
(p.e. pedir para sentar no colo de um adulto desconhecido). Não é expectável uma impulsividade não
social nas crianças pequenas com Perturbação de Envolvimento Social Desinibido, no entanto, esta pode
ocorrer com a PHDA.
Criança pequenas com debilidade intelectual também podem exibir alguns aspetos de
comportamento indiscriminado, talvez por terem reduzida noção dos limites sociais. Se a Perturbação de
Envolvimento Social Desinibido estiver presente, as violações dos limites sociais devem estar fora das
proporções normais para o nível de desenvolvimento.
Comorbilidades
124
Outra Perturbação de Privação, Stress e Trauma da Primeira Infância
Algoritmo de diagnóstico
A. O bebé/criança pequena tem um ou mais sintomas de trauma, stress ou perturbação de privação mas
não preenche todos os critérios para o diagnóstico.
B. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Especificar:
1. A perturbação que melhor explica os sintomas do bebé/criança pequena.
125
PERTURBAÇÕES DA RELAÇÃO
Introdução
Uma vez que o Eixo II é designado para caracterizar o contexto relacional da criança, é necessário
clarificar de que forma este eixo e a Perturbação Específica da Relação se relacionam. Em particular, a
Parte A: Relação de Adaptação entre Cuidador-Bebé/Criança do Eixo II, é mais relevante para a
Perturbação Específica da Relação da Primeira Infância do Eixo I. Em primeiro lugar, apenas as crianças
126
que preenchem critérios para a perturbação do Eixo I (sintomas com impacto funcional limitados a um
contexto relacional) recebem o diagnóstico de Perturbação Específica da Relação da Primeira Infância.
Para além disso, deve caracterizar-se o contexto relacional de todas as crianças, no Eixo II (Parte A e B),
que varia desde “exemplar” a “muito perturbado”. Se a criança recebe um diagnóstico de Perturbação
Específica da Relação da Primeira Infância, a classificação da relação com o cuidador principal deve ser,
pelo menos, nível 3 ou 4, no Eixo II. Em segundo lugar, a atribuição do diagnóstico não presume nenhuma
etiologia para o quadro sintomático, sendo que, as perturbações da relação podem surgir a partir de
problemas com o cuidador, do bebé/criança, da relação única que se estabelece entre os dois ou várias
combinações dos anteriores. Na secção do Eixo II, a Tabela 1 (Dimensões dos Cuidados) e a Tabela 2
(Contribuições da Criança para a Relação) podem ser usadas para a consideração de contributos mais
específicos, mas estas considerações não são necessárias nem estão incluídas nos critérios para uma
perturbação do Eixo I.
Introdução
Esta perturbação define-se como a presença de sintomas que estão limitados ao contexto de uma
relação. Por exemplo, uma criança pequena que é opositiva com um educador, ou uma criança que mostra
comportamento inapropriado apenas com o cuidador principal, podem ser candidatos ao diagnóstico, se
os sintomas causarem impacto funcional. A perturbação deriva da demonstração de que embora os
distúrbios relacionais nas crianças não sejam raros, por vezes expressam-se através de comportamentos e
emoções da criança. Apesar da psicopatologia ser tradicionalmente definida como existindo “dentro” do
indivíduo, mais do que “entre” indivíduos, a investigação e a prática clínica têm demonstrado que a criança
pode ter comportamentos muito diferentes, em relações com diferentes cuidadores. No extremo, a criança
pode exibir sintomas emocionais e comportamentais no contexto de uma relação particular, mas não em
outras.
Algoritmo de diagnóstico
1. Comportamento de oposição.
2. Agressividade.
3. Receio.
5. Recusa alimentar.
6. Problemas de sono.
127
7. Desempenho de papel inadequado com o cuidador (p.e. excesso de solicitação ou comportamento
controlador).
C. Os sintomas da perturbação ou adaptações feitas pelo cuidador em resposta aos sintomas, afetam
significativamente o funcionamento da criança e da família em uma ou mais das seguintes formas:
Idade: Não há restrições de idade, mas a especificidade da relação pode ser difícil de determinar nos
meses de vida mais precoces.
Duração: Os sintomas têm que estar presentes durante pelo menos 1 mês.
Especificar:
1. Os sintomas que são específicos na relação
Características do diagnóstico
Características do desenvolvimento
Os sintomas podem variar com a idade da criança, mas a perturbação em si não é diferente em
diferentes idades. A especificidade da relação documenta-se melhor na primeira infância do que na idade
128
pré-escolar, uma vez que as crianças em idade pré-escolar podem ter internalizado padrões relacionais e
tê-los recriado nas novas relações; assim, a perturbação pode ser mais comum na primeira infância do que
na idade pré-escolar.
Prevalência
Não dá dados sobre a prevalência desta perturbação, mas em contexto clínico, parece observar-se
com alguma regularidade.
Curso
O curso desta perturbação não está demonstrado, mas é provável que haja continuidade
heterotípica (p.e. quando uma disfunção de desenvolvimento se mantém, mas a manifestação muda com o
progresso de desenvolvimento) com outra perturbação do Eixo I, na infância mais tardia.
As crianças que apresentam distúrbios extremos na relação de vinculação têm risco acrescido de
desenvolver uma Perturbação Específica da Relação da Primeira Infância, no entanto, é necessário
comportamento sintomático e compromisso do funcionamento para estabelecer um diagnóstico. Uma vez
que as vinculações inseguras e, especialmente, as desorganizadas nas crianças estão associadas a risco
acrescido de psicopatologia concomitante e subsequente, é provável que a Perturbação Específica da
Relação da Primeira Infância aumente o risco de perturbações do Eixo I subsequentes.
Não estão disponíveis dados específicos relativos a diferenças culturais, embora grandes variações
culturais nos cuidados infantis sugiram que esta é uma área importante a explorar.
Diagnóstico diferencial
Comorbilidade
Comorbilidade com outras perturbações do Eixo I é possível, mas sabe-se pouco sobre padrões
específicos.
CID-10: Outros Problemas Especificados Relacionados com a Educação dos Filhos (Z62.820)
129
Eixo II:
Contexto Relacional
130
O Eixo II é usado para caracterizar o contexto da relação do ambiente de cuidados com a criança.
Dada a importância central do ambiente de cuidados para o desenvolvimento e saúde na primeira infância,
a compreensão do contexto desta relação deve ser incluída na avaliação dos bebés/crianças pequenas. O
uso deste eixo facilita esta compreensão por encorajar a caracterização sistemática de uma ou mais
relações com os cuidadores principais (Parte A) e a caracterização do ambiente de cuidados, incluindo
coparentalidade, irmãos e outras relações familiares importantes que afetam o desenvolvimento da criança
(Parte B).
Na Parte A, na Tabela 1 constam as dimensões dos cuidados, que englobam funções básicas de
cuidado na relação com o cuidador principal e a Tabela 2 apresenta as contribuições do bebé/criança
pequena para a relação com o cuidador principal. Na Parte B, a Tabela 3 apresenta várias dimensões do
ambiente de cuidados. Determinando se cada uma das áreas específicas é um “ponto forte”, “não é uma
preocupação”, ou é “preocupação”, espera-se obter um quadro geral acerca do contexto relacional, assim
como áreas que necessitem ser alvo de tratamento.
Esta escala deve ser usada em contexto clínico para classificar a qualidade adaptativa da relação
entre um cuidador principal e uma criança (com menos de 6 anos). Podem ser avaliadas mais relações do
que apenas a existente com um cuidador principal, devendo ser feita uma classificação separada para
cada relação avaliada. Esta classificação deve ser feita depois de um processo de avaliação, que deve
incluir, sempre que possível, observações da interação pais-criança, bem como o registo das atitudes e
atribuições dos pais relativas às crianças (instrumentos estruturados, observações naturalistas, entrevistas
não estruturadas com cuidadores ou uma combinação dos anteriores, dependendo das circunstâncias e
contexto clínico).
Tipicamente, crianças desta idade têm um pequeno número de cuidadores principais com quem
estabelecem relações de vinculação importantes. Esta escala deve classificar a dinâmica da relação que
existe entre o cuidador e a criança e não o comportamento da criança ou cuidador isoladamente.
131
Apesar de tanto o cuidador como a criança contribuirem individualmente para a qualidade
emocional da relação, a eficácia do cuidador em proporcionar os cuidados apropriados à idade é uma
influência importante na capacidade da criança confiar e se apoiar no cuidador, para que este dê resposta
às suas necessidades físicas e psicológicas. Os clínicos podem usar as dimensões dos cuidados e as
contribuições da criança, descritas nas tabelas 1 e 2, para guiar as suas observações, informar e apreciar a
relação criança-cuidador.
Avaliar a adequação dos cuidados requer prestar atenção a três características: (1) o cuidador está
disponível emocionalmente de modo consistente, (2) o cuidador reconhece e valoriza a criança como um
indivíduo único e (3) o cuidador está confortável e é competente na sua responsabilidade de criar a criança.
A disponibilidade emocional requer a monitorização da criança e leitura de pistas, assim como resposta
adequada. Ser responsável pela criança é mais do que ter disponibilidade emocional, é deixar de lado as
suas próprias necessidades para atender às necessidades da criança. Pais de “primeira viagem”, com um
recém-nascido, podem precisar de um período de tentativa e erro até conhecerem o seu bebé e se
sentirem mais confiantes e competentes, o que se vai estabelecendo, à medida que a criança vai
crescendo e vai comunicando as suas próprias necessidade mais claramente. Mesmo assim, em relações
saudáveis, os pais adaptam-se às necessidades dos bebés e não esperam que o bebé se adapte
desproporcionalmente às suas necessidades.
As interações são uma das fontes de informação mais importantes acerca das relações entre a
criança e os cuidadores, assim como a experiência subjetiva da díade. Os pais e filhos são capazes de
transmitir a sua experiência subjetiva através do comportamento verbal e não verbal.
Não se presume que a qualidade da relação entre a criança e um cuidador principal esteja
relacionada com a qualidade da relação entre a criança e outro dos cuidadores principais. Existem
evidências consideráveis de que a criança pode construir diferentes tipos de relações com diferentes
cuidadores. A única forma de determinar a qualidade da relação entre uma criança e cada cuidador
específico é avaliá-la diretamente.
As dimensões dos cuidados descritas na Tabela 1 auxiliam na avaliação da relação, mas não há
número mínimo de dimensões “preocupantes” que se traduza numa classificação específica do nível da
adaptação da relação.
132
133
Níveis de Funcionamento Adaptativo – “Dimensão dos Cuidados”
Os níveis que a seguir se descrevem indicam os intervalos de funcionamento que cada clínico
determina como sendo o que melhor se aplica à relação em questão, com base na avaliação clínica.
Nível 1, “Relações Bem Adaptadas a Suficientemente Boas”, descreve relações que não
constituem preocupação clínica. Este nível abrange um largo intervalo de relações, desde as que
funcionam adequadamente para ambos, às que são exemplares. No Nível 2, "Relações com Restrições a
Preocupantes”, está indicada monitorização cuidadosa (pelo menos) e pode ser necessária intervenção. No
Nível 3, “Relações Prejudicadas a Atribuladas", a perturbação da relação está claramente num intervalo
clínico e está indicada intervenção. Finalmente, no Nível 4, “Relações Perturbadas a Perigosas", é
necessária intervenção urgente, dada a gravidade do compromisso da relação. De seguida apresenta-se
uma explicação detalhada de cada um dos níveis:
relação funciona adequadamente, para ambas as partes, na maior parte do tempo. A criança é
consistentemente protegida do perigo e mostra uma expectativa predominante de que o cuidador estará
seguramente disponível nas diferentes dimensões dos cuidados prestados. A relação promove as
necessidades da criança expressar livremente as suas emoções e aprender a regulá-las, de conforto e
proximidade, e de motivação e exploração. Os conflitos não são característicos e são adequadamente
reparados, quando ocorrem. Para além disso, há uma assimetria saudável na relação, o cuidador é
responsável pelo bem-estar da criança, mas a criança não é responsável pelo bem-estar do cuidador.
à idade. Há algumas limitações no prazer mútuo em atividades, ou nas expressões de afeto, e problemas
na regulação emocional. As interações sociais, incluindo brincadeira conjunta, podem não ser
consistentemente coordenadas, recíprocas ou responsivas. Pode haver alguns sinais de subenvolvimento
na interação, pelo pai ou pela criança. Algumas interações podem ser caracterizadas por tentativas não
saudáveis de controlar o outro. Estes problemas ou preocupações estendem-se para além do que é
expectável na relação entre pais e filhos, podendo estar indicados serviços de suporte parental.
criança, sofrimento persistente, risco de problemas subsequentes ou compromisso funcional atual grave.
134
As qualidades adaptativas podem ser observadas ocasionalmente, mas de modo muito inconsistente e, na
maioria da vezes, estão em falta. Há problemas definitivos na comunicação emocional e reciprocidade
social da díade, que comprometem a regulação emocional da criança. A expressão e resposta às
necessidades de conforto e proteção, socialização adequada à idade, bem como suporte e motivação para
brincar e explorar, estão prejudicadas. A relação está repleta de níveis inapropriados de risco para a
segurança, conflito significativo, envolvimento irregular ou insuficiente ou desequilíbrio significativo. Este
nível indica que as trajetórias sociais e emocionais da criança foram, ou estão em risco substancial de ser,
prejudicadas.
Relações nas quais é inquestionável a necessidade de intervenção urgente, não estando presentes
qualidades adaptativas. A patologia da relação é grave e geralmente pervasiva, com deficiências na
capacidade da díade para proteção adequada, disponibilidade e regulação emocional, expressão e
resposta a necessidades de conforto e cuidados, bem como suporte e motivação para exploração e
aprendizagem adequadas à idade. Na maioria do tempo, a relação é pautada por conflito aberto
significativo, envolvimento gravemente insuficiente ou significativa inversão de papéis. As atribuições
parentais relativas à criança são negativas, demonstram expectativas significativamente inadequadas ao
desenvolvimento e não são permeáveis à reflexão ou crítica. Estas perturbações comprometem
gravemente o desenvolvimento, ou podem ameaçar a segurança física ou psicológica da criança.
Nota: As associações entre uma perturbação na criança, uma perturbação no cuidador e uma perturbação
na relação cuidador-criança são complexas. Uma criança pode ter uma perturbação com sintomas clínicos
e qualquer nível de adaptação de relação, no entanto, é expectável um compromisso maior da relação,
quando há um diagnóstico grave no Eixo I ou psicopatologia parental grave. Uma criança pequena pode
ter uma perturbação de ansiedade, PSPT ou PEA que estão associadas a uma relação adaptada com o
cuidador principal. Níveis de má adaptação são mais prováveis quando quando as dificuldades emocionais
da criança tornam os cuidados mais stressantes. Os comportamentos desafiadores da criança podem
contribuir e refletir a perturbação da relação. Uma vez que as crianças são especialmente sensíveis aos
ambientes de cuidado, a probabilidade de uma relação mal adaptada aumenta quando a psicopatologia
parental afeta a qualidade dos cuidados.
Os dados necessários para completar as classificações podem ser obtidos por observação da
família e interações coparentais, assim como pela descrição dos cuidadores, das várias dimensões
descritas abaixo. Como observado na Parte A, são utilizados métodos formais e informais, com as suas
vantagens e desvantagens associadas.
136
Níveis de Funcionamento Adaptativo – “Ambiente de Cuidados”
Os níveis que a seguir se descrevem indicam os intervalos de funcionamento que cada clínico
determina como sendo o que melhor se aplica à relação em questão, com base na avaliação clínica.
para uma boa regulação emocional, conforto e proximidade, e para motivação e exploração. Os conflitos
não são característicos da relação entre os cuidadores e as dificuldades que possam surgir à volta das
prioridades e papéis dos cuidadores, são adequadamente reparadas.
137
Nível 3 – Ambientes de Cuidados Prejudicados a Atribulados
Há claramente uma preocupação clínica que requer intervenção pelo risco para a segurança da
criança, sofrimento persistente, risco de problemas subsequentes ou compromisso funcional atual grave.
Os cuidadores não conseguem providenciar cuidados coordenados ou adotar estratégias adaptavas de
resolução de problemas, no que respeita aos cuidados da criança. Ocasionalmente podem observar-se
colaboração e coordenação, mas estão ausentes na maioria das vezes. Há problemas com a
disponibilidade emocional dos cuidadores (e na regulação emocional da criança), alocação de papéis,
suporte mútuo e resposta às necessidades de conforto e proteção da criança, socialização adequada à
idade, bem como suporte partilhado e motivação para brincar e explorar. Nas relações familiares há níveis
inapropriados de risco para a segurança, conflito significativo, envolvimento irregular ou insuficiente, ou
desequilíbrio significativo. Este nível indica que as trajetórias sociais e emocionais da criança foram, ou
estão em risco substancial de ser, prejudicadas.
Nota: Nas relações perigosas, quando a segurança da criança é ameaçada, os clínicos devem considerar
intervenções ativas para proteger a criança, como reportar a situação aos serviços de proteção de
crianças. Deve salientar-se que, uma classificação de Nível 4 na “Adaptação da Relação Cuidador-Criança“
ou no “Ambiente de Cuidados e Adaptação da Criança Pequena”, que em ambas escalas inclui um
intervalo de relações mal-adaptativas, não implica necessariamente reportar a situação. No entanto, esta
classificação indica a necessidade imediata de suporte, de forma a proteger a criança. Por outro lado,
relações caracterizadas previamente como maus-tratos não têm necessariamente que ser classificadas
como Nível 4 com base apenas nesse historial, se se evidenciarem mais qualidades adaptativas na
avaliação.
138
Eixo III:
Condições e
Considerações da
Saúde Física
139
O Eixo III deve ser usado para descrever condições e considerações de saúde física não descritas
no Eixo I. Uma avaliação diagnostica compreensiva inclui a pesquisa de condições físicas, cognitivas e de
desenvolvimento, para além da saúde mental. Estas considerações e condições médicas são obtidas a
partir de documentos médicos, relatos familiares ou colaboração com o médico assistente. A função clínica
das condições do Eixo III é a formulação global. Uma condição no Eixo III tem uma função variável no
estado de saúde mental, aumentando o risco em alguns casos, promovendo a resiliência noutros e, por
vezes, não tendo impacto substancial.
Problemas de saúde podem influenciar a saúde mental de forma direta ou indireta. Uma toxina
pode causar o problema, ou a medicação usada para o tratamento pode influenciar o funcionamento do
sistema nervoso central através de malformações congénitas ou lesões. Para além disso, experienciar
sintomas físicos como dor, prurido ou dificuldades respiratórias, pode afetar a expressão emocional, sono
e padrões de alimentação. O Eixo III inclui atenção específica à gravidez e complicações perinatais que
podem ter influência direta no desenvolvimento da criança. Indiretamente, as condições médicas podem
influenciar as experiências da criança por exposição a procedimentos médicos potencialmente traumáticos
(mesmo quando eles são lifesaving) e através das limitações nas atividades e interações normativas
devidas à agenda médica e incapacidade física ou fragilidade imunitária. Condições médicas agudas ou
crónicas podem resultar em separações do cuidador principal e exposição a um número elevado de
cuidadores de saúde e, portanto, podem influenciar o funcionamento da família por fadiga, stressores
financeiros, stress e meios relacionados. Psicologicamente, as condições de saúde influenciam
frequentemente a percepção dos pais acerca da vulnerabilidade ou resiliência, assim como a perceção da
criança de si própria, especialmente no caso de malformações congénitas visíveis ou doença médica
crónica.
Como evidência das complexas interações entre a saúde física, o ambiente de cuidados e a saúde
mental, algumas condições de saúde podem também refletir características do ambiente de cuidados,
como a exposição pré-natal ao álcool ou maus-tratos.
Um histórico de condições médicas pode influenciar a relação entre pais-criança e pode ter um
papel na saúde mental e desenvolvimento da criança, mesmo após resolução da doença. Por esta razão, o
Eixo III é considerado inclusivo de todas as condições de saúde que podem influenciar a apresentação
clínica, não apenas aquelas condições acerca das quais o clínico tem absoluta certeza.
A consciência do diagnóstico é mais importante que a precisão técnica. Os pais podem descrever
a doença médica sem especificidades técnicas no entanto, a descrição deve também ser anotada no Eixo
III (p.e. “buraco no coração”) e subsequentemente pode clarificar-se a informação a partir dos pediatras.
140
As categorias descritas nos exemplos abaixo incluem condições médicas pré-natais, condições
médicas crónicas, condições médicas agudas, procedimentos médicos, dor, indicadores físicos de
problemas no ambiente de cuidados, fármacos e marcadores do estado de saúde. Estas categorias não
são mutuamente exclusivas e a condição deve ser listada apenas uma vez no diagnóstico. Os domínios de
saúde são representativos de algumas áreas de saúde que devem ser consideradas, mas a lista não é
exaustiva e todas as áreas identificadas na avaliação clínica devem ser incluídas no Eixo III:
- Prematuridade
- Cólicas
- Cancros e tumores
- Gastrointestinais (p.e. refluxo, obstipação, diarreia, ou restrições dietéticas médicas ou eletivas, como
dieta sem glúten)
- Síndromes genéticos (p.e. Síndrome de Down, Síndrome de DiGeorge, Síndrome de Turner, Síndrome de
X Frágil, Síndrome de Williams)
- Estado de imunização
- Imunológicas (p.e. doenças autoimunes [incluindo lúpus eritmatoso sistémico, artrite reumatóide juvenil e
hipertiroidismo], infeções ou inflamação do SNC, ou encefalite)
Condições médicas agudas (p.e. trauma, acidentes, fraturas, apendicite ou infeções agudas)
141
Dor crónica ou recorrente (de qualquer causa)
Marcadores do estado de saúde (identificados através dos cuidados de saúde primários e dentistas, bem
como do estado de imunização)
Nota: A Perturbação de Choro Excessivo (cólicas) deve ser codificada no Eixo I, no entanto, condições
comórbidas, como o diagnóstico de refluxo gastroesofágico, podem ser incluídas no Eixo III.
142
Eixo IV:
Stressores
Psicossociais
143
O Eixo IV fornece uma estrutura para identificar e avaliar stressores psicossociais e ambientais que
podem influenciar a apresentação, curso, tratamento e prevenção de sintomas e perturbações de saúde
mental nas crianças. A investigação indica que, para muitas crianças, frequentemente há acumulação de
stressores. A hipótese de risco cumulativo, que tem crescente apoio empírico, sugere que o número de
stressores é mais preditivo de mal-adaptações subsequentes do que quaisquer stressores específicos.
Stressores psicossociais para a criança podem incluir eventos agudos e circunstâncias que
perdurem no tempo, como pobreza e violência doméstica. Além disso, o stress pode ser direto (p.e. uma
doença que necessite de hospitalização) ou indireto (p.e. doença súbita de um dos pais). Mesmo os
eventos e transições que fazem parte de uma experiência normal da cultura da família podem ser
stressantes para a criança - p.e. nascimento de um irmão, mudanças, regresso de um dos pais ao trabalho
depois de ter estado em casa por algum tempo, entrada para a creche. Algumas crianças experienciam
estas transições como sendo stressantes enquanto outras fazem transições mais suaves e adaptam-se a
novas circunstâncias facilmente.
3. A disponibilidade e capacidade dos adultos do ambiente de cuidados para servir como amortecedor
protetor e ajudar a criança pequena a perceber e lidar com stressores
Esta checklist fornece ao clínico uma estrutura para (1) identificar as múltiplas fontes de stress
experienciadas pela criança e sua família (2) perceber a sua duração e gravidade.
Para captar a gravidade cumulativa dos stressores, o clínico deve identificar todas as fontes de
stress no bebé/criança pequena. Por exemplo, uma criança alvo de uma medida de acolhimento pode
estar a passar por abusos, doença psiquiátrica parental, separação e pobreza. Quanto maior o número de
stressores envolvidos, presume-se que, maior o impacto negativo na criança.
144
Checklist de Stressores Psicossociais e Ambientais
(Complete a informação para todos os stressores que se apliquem)
Idade
de
início Comentários, incluindo a
Stressores
duração e gravidade
(em
meses)
Desafios dentro da família da criança ou do grupo de suporte primário
Nascimento de um irmão
Violência doméstica
Abuso emocional
Negligência da criança
Criança institucionalizada
Reunificação da criança com um progenitor depois de separação
prolongada
Abuso sexual da criança
Doença médica de um progenitor ou cuidador (especificar aguda ou
crónica)
Doença médica de irmão ou outro membro do agregado familiar
(especificar aguda ou crónica)
Problemas de saúde mental em membro do agregado familiar
145
Progenitor ou cuidador volta a casar
Separação de progenitor ou cuidador da criança (p.e. emprego fora,
hospitalização)
Abuso de substâncias de progenitor ou de cuidador
Progenitor adolescente
Estatuto de imigrante
Estatuto de refugiado
Vizinhança insegura
Situação de sem-abrigo
Mudanças múltiplas
Precariedade alimentar
Endividamento significativo
Pobreza ou quase-pobreza
Saúde da criança
146
Acidente ou lesão da criança (p.e. mordedura de animal, acidente de
viação)
Hospitalização da criança
Disputa de custódia
Detenção parental
Deportação parental
Outros
Doença epidémica
Outros (especificar)
Terrorismo
Guerra
147
Eixo V:
Competências do
Desenvolvimento
148
O Eixo V usa um modelo integrativo para compreender as competências do desenvolvimento da
criança nos domínios emocional, social-relacional, linguagem-comunicação social, cognitivo, bem como a
motricidade e desenvolvimento físico. A informação do Eixo V pode ser usada para perceber como é que
os domínios do desenvolvimento funcionam juntos e dentro do contexto dos outros eixos, para completar
o processo de diagnóstico. O Eixo V está incluído porque a criança deve ser compreendida no contexto
das suas competências de desenvolvimento, que emergem integradas nas interações com os cuidadores
principais.
149
Impressão geral. Forneça uma formulação do Eixo V como impressão geral com base nas classificações
supramencionadas. Indique qualquer desigualdade nas competências de desenvolvimento referindo os
pontos fortes e as preocupações relativas. Registe ainda se ocorreram alterações recentes nas
competências, em qualquer domínio do desenvolvimento.
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150
Anexos
151
ANEXO A: MARCOS DE DESENVOLVIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS
Quando usa a tabela fornecida neste anexo, o clínico deve começar pelas capacidades
expectáveis para a idade da criança. Se a criança não preencher as capacidades esperadas em algum
domínio, o clínico deve continuar a avaliar o desenvolvimento nas categorias mais precoces do
desenvolvimento. É importante classificar o funcionamento em cada um dos domínios (p.e emocional,
social-relacional, linguagem-comunicação social, cognitivo e desenvolvimento físico e motor) assim como
anotar inconsistências e consistências entre e ao longo dos domínios de funcionamento do
desenvolvimento. Para completar o quadro, em primeiro lugar classifica-se de que forma a criança se está
a desenvolver, em cada um dos domínios apresentados, usando a escala de classificação apresentada
abaixo. Indica-se uma classificação para cada marco de desenvolvimento incluido no domínio e depois
concluiu-se com uma classificação representativa do domínio, baseada no padrão dos marcos individuais,
para cada domínio. Para completar o Eixo V, rever o padrão de classificações ao longo dos domínios, de
forma a determinar uma classificação geral para a criança.
Nota: Esta tabela representa exemplos de marcos chave recolhidos a partir de uma variedade de fontes
estabelecidas e é uma referência representativa, mas não exaustiva, para o clínico. Pretende-se que seja
usado como uma forma de documentar observações acerca do funcionamento do desenvolvimento da
criança. Não é um substituto de uma avaliação de desenvolvimento padronizada e validada. A tabela de
marcos de desenvolvimento está organizada por domínios e idade da criança. Priorizaram-se
comportamentos que se esperariam observar dentro dos períodos de desenvolvimento especificados.
1 = totalmente presente
3 = ausente
152
MARCOS DO DESENVOLVIMENTO E CLASSIFICAÇÕES DAS COMPETÊNCIAS
3 meses
Classificação
Domínio da
Marco do Desenvolvimento Classificação Comentário do Domínio da
Competência
Competência
Acalma-se momentaneamente (p.e. com
mão na boca)
Exibe interesse no mundo externo
quando em estado de vigília (p.e. olha
para objetos, pessoas, ou luz; localiza o
som; ajusta a respiração em resposta ao
som de vozes)
Emocional É confortado pela proximidade ao
cuidador e movimento tranquilizador
Permanece num estado calmo, focado
durante pelo menos 2 minutos
Faz transições de estado suaves (p.e.
do sono para sonolento para acordado)
Expressa satisfação ou desconforto
Sorri responsivamente (p.e. sorriso
social)
Olha para a cara do cuidador
153
6 meses
Classificação
Domínio da
Marco do Desenvolvimento Classificação Comentário do Domínio da
Competência
Competência
Responde ao afeto com sorriso,
murmúrio ou acalmando-se
Demonstra uma variedade de emoções
que inclui prazer, excitação, tristeza,
medo, angústia, nojo, raiva, alegria,
Emocional interesse e surpresa
Expressa raiva, frustração ou protesta
com choros e expressões faciais
distintas
Recupera de angústia (distress) quando
confortado pelo cuidador
Imita alguns movimentos e expressões
faciais (p.e. sorrir ou franzir o sobrolho)
Envolve-se em interações sociais
recíprocas (p.e. jogos simples
Social-Relacional sequenciais “back and fort”)
Procura o envolvimento social com
vocalizações, expressões emocionais
ou contacto físico
Olha para faces de perto
Copia sons
154
9 meses
Classificação
Domínio da
Marco do Desenvolvimento Classificação Comentário do Domínio da
Competência
Competência
Tem estratégias para se auto-acalmar
155
12 meses
Classificação
Domínio da
Marco do Desenvolvimento Classificação Comentário do Domínio da
Competência
Competência
Olha para o cuidador para obter
informação sobre novas situações e
ambientes
Olha para o cuidador para partilhar
experiências emocionais
Emocional Responde às emoções de outras
pessoas (p.e. apresenta uma face sóbria,
séria, em resposta a tristeza num dos
pais; sorri quando os pais riem)
Usa gestos para comunicar sentimentos
(p.e. bater palmas quando excitado)
Oferece objetos para iniciar uma
interação (p.e. entrega um livro ao
cuidador para ouvir uma história)
Participa em jogos interativos (p.e.
“cucu”)
Social-Relacional Olha para pessoas familiares quando
elas são nomeadas
Dá objetos para procurar ajuda (p.e.
entrega um sapato a um dos pais).
Estica o braço ou perna para ajudar a
vestir
Compreende o “não”
Fica de pé sozinho
156
Pega em coisas entre o polegar e o
indicador (p.e. cereais)
Motricidade e Gatinha para a frente de barriga,
Desenvolvimento segurando-se nos braços e empurrando
Físico
com as pernas
Vira-se enquanto gatinha
157
15 meses
Classificação
Domínio da
Marco do Desenvolvimento Classificação Comentário do Domínio da
Competência
Competência
Mostra afeto com beijos (sem apertar os
lábios)
Emocional Demonstra um comportamento cauteloso
ou receoso, como agarrar ou esconder-
se atrás do cuidador
Procura e desfruta da atenção de outros,
especialmente dos cuidadores
Participa em jogo paralelo com os pares
Apresenta um livro ou brinquedo quando
Social-Relacional quer ouvir uma história ou brincar
Repete sons ou ações para obter
atenção
Gosta de olhar para livros de imagens
com o cuidador
Usa gestos simples como abanar a
cabeça para “não” ou acenar “xau”
Responde aos gestos de outros
Gosta de olhar para livros de imagens
com o cuidador
Faz sons com alteração na entoação
Linguagem e (parece-se mais com discurso)
Utiliza estratégias de comunicação
Comunicação
complexas, integra gestos, vocalizações
Social
e contacto ocular (p.e. olha para o
cuidador enquanto pega na sua mão para
o levar até um objeto desejado)
Identifica a imagem ou objeto correto,
quando é nomeado
Segue pedidos simples (p.e. “traz o
brinquedo”, “atira a bola”)
Imita gestos complexos (p.e. assinar)
Inicia atenção conjunta (p.e. aponta para
mostrar aos outros algo do seu interesse
ou para obter a atenção dos outros)
Cognitivo
Encontra facilmente objetos escondidos
Usa objetos para o seu propósito (p.e.
bebe de um copo, passa a escova no
cabelo)
Explora o ambiente físico
Motricidade e
Empurra objetos (p.e. caixas, camiões de
Desenvolvimento
brincar ou outros brinquedos)
Físico
Caminha de modo independente
158
18 meses
Classificação
Domínio da
Marco do Desenvolvimento Classificação Comentário do Domínio da
Competência
Competência
Demonstra estratégias de auto-conforto
Reconhece-se no espelho
Motricidade e
Desenvolvimento Empilha dois blocos
Físico
159
Sobre degraus com ajuda
Bebe de um copo
160
24 meses
Classificação
Domínio da
Marco do Desenvolvimento Classificação Comentário do Domínio da
Competência
Competência
Exibe embaraço e orgulho
Nomeia ações
Sabe o nome de pessoas familiares e
muitas partes do corpo
Linguagem e Usa duas palavras juntas (p.e. “mais
bolo”; “papa, xau”)
Comunicação Repete palavras que ouve em conversas
Social
Nomeia objetos em livros de imagens
(p.e. gato, pássaro, bola ou cão)
Imita sons de animais, como “miau”, “au”,
“muuu”, “mee”
Usa alguns pronomes autorreferenciais
como “meu/minha”
Encontra coisas, mesmo quando
escondidas por baixo de duas ou três
camadas, ou quando escondidas num
local e mudadas para um segundo local
(p.e. não desiste quando o objeto
escondido não é encontrado à primeira)
Começa a ordenar formas e cores
Cognitivo Completa frases e rimas de livros,
histórias ou canções familiares
Joga jogos de faz de conta simples (p.e.
refeição de faz de conta)
Constrói torres de quatro ou mais blocos
Segue instruções de dois passos (p.e.
“pega nos teus sapatos e coloca-os no
armário”)
161
Participa no vestir (p.e. coloca os braços
nas mangas, puxa as calças para cima
ou para baixo, coloca o chapéu)
Fica de pé em bicos de pé
Motricidade e Corre
Desenvolvimento
Físico Sobe e desce de mobília sem ajuda
Desenha linhas
162
36 meses
Classificação
Domínio da do Domínio
Marco do Desenvolvimento Classificação Comentário
Competência da
Competência
Expressa o leque completo de emoções,
incluindo orgulho, vergonha, culpa e
empatia
Expressa angústia ou raiva com as suas
palavras
Emocional Mostra orgulho em novas aprendizagens
e novas experiências
Expressa afeto aberta e verbalmente
Expressa sentimentos através do jogo faz
de conta e da representação
Mostra afeto aos pares sem ser solicitado
163
Nomeia algumas cores corretamente
Faz jogo de faz de conta temático com
objetos, animais e pessoas
Responde a questões “porquê” simples
(p.e. Por que é que precisamos de um
casaco quando está frio?”)
Mostra consciência de limitação de
capacidades.
Compreende “maior” e “menor”
Cognitivo
Compreende o conceito de “dois”
Adota rotinas comportamentais
complexas observadas na vida diárias
dos cuidadores, irmãos ou pares
Resolve problemas simples (p.e. obtém
objeto desejado abrindo um recipiente)
Atenta a uma história durante 5 minutos
Brinca de modo independente durante 5
minutos
Manipula alguns botões, alavancas e
partes em movimento
Monta estruturas altas e baixas
164
48 meses
Classificação
Domínio da do Domínio
Marco do Desenvolvimento Classificação Comentário
Competência da
Competência
Expressa angústia ou raiva com palavras
Transmite experiências emocionais no
Emocional jogo faz de conta
Cumpre com as regras culturais básicas
para a expressão emocional
Faz de conta que é a “mãe” ou o “pai” no
jogo (ou outros cuidadores relevantes)
Faz questões ou fala sobre os cuidadores
quando separados (i.e., mantém o outro
na mente)
Social-Relacional Participa no jogo cooperativo com outras
crianças
Tem um amigo preferido
165
Responde a questões que requerem a
compreensão da ideia “mesmo” e
“diferente”
Desenha uma pessoa com duas a quatro
partes do corpo
Compreende que as ações podem
influenciar as emoções das outras
pessoas (p.e. tenta fazer os outros rir ao
contar piadas simples)
Cognitivo
Espera pela sua vez em jogos simples
166
60 meses
Classificação
Domínio da
Marco do Desenvolvimento Classificação Comentário do Domínio da
Competência
Competência
Expressa duas ou mais emoções ao
mesmo tempo
Mostra consciência de e interesse no
Emocional
sucesso pessoal
Mostra confiança aumentada associada
a maior independência e autonomia
Quer agradar aos amigos
167
Fica, em pé, apoiado num só pé durante
10 segundos ou mais
Copia o triângulo e outras formas
geométricas
Copia algumas letras e números
Motricidade e
Salta num só pé
Desenvolvimento
Físico Usa utensílios para comer
Usa a casa de banho de modo
independente (limpa-se, descarrega o
autoclismo e lava as mãos)
Anda de modo independente no baloiço
168
ANEXO B: GRUPO DE TRABALHO DA TRADUÇÃO E REVISÃO GERAL
Introdução
Maria Goretti Dias (Assistente Hospitalar Graduada Sénior de Pedopsiquiatria no CHP)
Perturbações Do Neurodesenvolvimento
Vânia Martins (Assistente Hospitalar Graduada de Pedopsiquiatria no CHP)
Perturbações de Ansiedade
Fábio Monteiro (IFE de Psiquiatria do Hospital de Magalhães Lemos)
Perturbações do Humor
Perturbações da Relação
Filipa Martins Silva (IFE de Pedopsiquiatria no CHP)
169
170