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Ementa

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE


DE ATOS JURÍDICOS. SENTENÇA QUE AFASTOU A
FRAUDE À EXECUÇÃO E DECRETOU A NULIDADE DA
PENHORA E ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL. (i) PRIMEIRO
PEDIDO: RECURSO CONTRA DECISÃO QUE CONDENOU O
ARREMATANTE AO PAGAMENTO DE VERBA DE
SUCUMBÊNCIA. INVIABILIDADE. APLICAÇÃO DA REGRA
DO ART. 85, CPC. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE E DA
SUCUMBÊNCIA. ARREMATANTE/RÉU QUE DEU MAIS
CAUSA AO AJUIZAMENTO DA DEMANDA DO QUE O
AUTOR, SENDO, ALÉM DISSO, SUCUMBENTE. (ii) PEDIDO
RECURSAL SUBSIDIÁRIO: MÉRITO. NÃO
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DO
ART. 593, CPC/73 A AUTORIZAR O RECONHECIMENTO DE
FRAUDE À EXECUÇÃO. INOBSERVÂNCIA DA
SÚMULA 375 DO STJ. AUSÊNCIA DE PENHORA DO BEM E
RESPECTIVO REGISTRO À ÉPOCA DA AQUISIÇÃO PELO
AUTOR. FALTA DE INTIMAÇÃO DO PROPRIETÁRIO DO
BEM ACERCA DA PENHORA E DA
ARREMATAÇÃO. NULIDADES CORRETAMENTE
DECRETADAS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
DESPROVIDO. (TJPR - 6ª C.
Cível - 0039211-73.2010.8.16.0001 - Curitiba - Rel.: JUIZ DE
DIREITO SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU HORACIO
RIBAS TEIXEIRA - J. 19.02.2022)

Acórdão
RELATÓRIO Trata-se de recurso de apelação em face de
sentença[2] proferida nos autos de ação declaratória de
nulidade de atos jurídicos, a qual julgou procedentes os
pedidos iniciais, nos seguintes termos: “III – DISPOSITIVO
POR TODO O EXPOSTO, no que tange aos réus IVETE
MARILDA DEGANI, PEDRO DEGANI e VANDERLEI
APARECIDO DE OLIVEIRA, com fulcro no artigo 487, inciso I,
do CPC, JULGO PROCEDENTES os pedidos formulados na
inicial para declarar a nulidade da decisão de mov. 1.99 (fls.
428) dos autos n. 0001621-14.2000.8.16.0001, que declarou
ineficaz a alienação realizada aos autores em 24/10/2002 (R-
04/M-46.492), e para declarar a nulidade da penhora e da
arrematação do imóvel de matrícula n. 46.492 do Cartório do
2º Registro de Imóveis de Curitiba (apartamento n. 04 do
Conjunto Residencial Nova Primavera II) nos autos
n. 0001621-14.2000.8.16.0001, determinando-se a
manutenção dos autores na posse e domínio do imóvel. Com
relação à ré MASSA FALIDA DE ECORA S/A – EMPRESA DE
CONSTRUÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ATIVOS, com base no
art. 487, III, a, do CPC, HOMOLOGO o reconhecimento da
procedência do pedido formulado na petição inicial da ação.Em
razão da sucumbência dos réus, inclusive da MASSA FALIDA
DE ECORA S/A ( CPC, art. 90, caput), condeno-os ao
pagamento das custas e despesas processuais, bem como
honorários advocatícios do patrono da parte contrária, os quais
fixo em 10% sobre o valor atualizado da causa, consoante regra
do artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil, considerando o
grau de zelo profissional, o lugar de prestação do serviço, a
natureza, a importância e a simplicidade da causa, o trabalho
realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
Após o trânsito em julgado, oficie-se ao Cartório do 2º Registro
de Imóveis de Curitiba comunicando o teor desta decisão e
determinando o cancelamento dos registros e averbações que
lhe forem contrárias (AV-07 e R-08 da matrícula n. 46.492).
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.”Colhe-se da
fundamentação lançada na r. sentença, em seus pontos
principais, o seguinte:De acordo com o
art. 593 do CPC/73 (diploma legal vigente à época dos fatos),
considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de
bens: I - quando sobre eles pender ação fundada em direito
real; II - quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria
contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência; III
- nos demais casos expressos em lei. Segundo a súmula
n. 375 do STJ, “O reconhecimento da fraude à execução
depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova
de má-fé do terceiro adquirente”. No caso em tela, o imóvel
objeto da lide foi prometido à venda aos autores pela empresa
Plano Leve S/A em 22/05/2002, por meio de instrumento
particular (mov. 1.2, fls. 108/121), tendo a escritura pública de
compra e venda sido lavrada em 15/10/2002 e registrada
perante o Cartório do 2º Registro de Imóveis de Curitiba em
24/10/2002 (mov. 1.2, fls. 123/134; mov. 1.3, fls. 200/201-vº).
É incontroverso que o preço foi integralmente quitado pelos
autores (mov. 1.2, fls. 136/139). Analisando a matrícula n.
46.492 juntada ao mov. 1.3, fls. 200/201-vº, verifica-se que ao
tempo da alienação do imóvel aos autores não havia qualquer
registro da existência de penhora ou de garantia dada na ação
n. 0001621-14.2000.8.16.0001 (autos n. 115/2000) ou em
qualquer outra. Ademais, não comprovaram os réus a
existência de má-fé dos autores, ônus que lhes incumbia, na
medida em que, nos casos em que se alega a fraude à execução,
há a presunção relativa da boa-fé do terceiro adquirente (TJPR
- 15ª C.Cível - 0021374-56.2020.8.16.0000 - Mandaguari -
Rel.: Desembargador Shiroshi Yendo - J. 20.07.2020).
Ressalte-se que no item 3 do acordo firmado entre CIDADELA
S/A, CIDADELA TRUST INTERNACIONAL S/A e os réus
Pedro e Ivete, protocolado em 20/11/2000 e homologado em
21/11/2000 (mov. 1.21 e 1.22 dos autos em apenso), constou
que foi dado em garantia do pagamento da dívida “o crédito da
Primeira Ré decorrente da venda do imóvel”, e não a
propriedade do imóvel em si. Ainda, no item 6 do acordo foi
consignado que “Na eventualidade de ocorrer a venda do
referido imóvel antes do vencimento da obrigação ora
pactuada, a Primeira Ré, deverá imediatamente quitar o seu
débito” e, no item 7, ficou estabelecido que caso o imóvel não
tivesse sido vendido 30 dias antes do vencimento da obrigação,
a Cidadela S/A informaria Pedro e Ivete de tal acontecimento
para que eles pudessem manifestar a intenção de adquirir o
bem, com o abatimento do valor do seu crédito. Não havendo
interesse na aquisição por Pedro e Ivete, a Cidadela S/A ficaria
obrigada a efetuar o pagamento imediato da dívida (item 9).
Em outras palavras, não havia qualquer óbice à venda do
imóvel pela CIDADELA S/A a terceiros. Muito pelo contrário,
uma vez que o valor obtido com a alienação estaria vinculado
ao pagamento do débito contraído com os réus Pedro e Ivete.
Também é de se destacar que a penhora do imóvel apenas
ocorreu no dia 19/11/2002 (mov. 1.41 dos autos em apenso), ou
seja, quando a aquisição pelos autores já estava perfeita e
acabada, inclusive registrada na matrícula do bem. Saliente-se
que, diferentemente do alegado pelo réu Vanderlei, não havia a
necessidade de os autores diligenciarem junto aos cartórios
distribuidores a respeito da existência de ações ajuizadas em
face da vendedora, na medida em que a pendência de ações,
por si só, não gera a presunção de insolvência, circunstância
que deveria ter sido devidamente comprovada pela parte que
alega a fraude à execução. Nesse ponto, como bem asseverado
pelos autores, em petição protocolada em 28/06/2002, a
Cidadela S/A ofereceu à penhora bem imóvel avaliado em
montante suficiente para a quitação do débito com os réus
Pedro e Ivete (mov. 1.27 dos autos em apenso) – tendo estes
recusado a indicação por considerar que o fato de o bem
pertencer à circunscrição de outra comarca tornava difícil sua
alienação (mov. 1.29 dos autos em apenso) – o que indica que
não havia insolvência à época da alienação do imóvel aos
autores, ao contrário do que entendeu o Juízo na decisão de
mov. 1.99 dos autos em apenso, a qual deve ser declarada nula.
Com efeito, apesar de os autores não terem sido parte nos
autos n. 0001621-14.2000.8.16.0001 e de não existir
no CPC/73 disposição análoga àquela trazida pelo artigo 792, §
4º, do CPC/2015, como ao tempo da penhora já havia no
imóvel o registro da aquisição pelos autores, adquirentes de
boa-fé, depreende-se que o ato constritivo sequer deveria ter
sido realizado e, consequentemente, não deveria ter havido o
praceamento e arrematação do bem. Portanto, a declaração de
nulidade da penhora e da arrematação também é medida que
se impõe.Razões recursais (Réu Vanderlei A. de Oliveira):
Requer, em suma, o seguinte: (a) primeiro pedido – exclusão
da condenação de sucumbência: a r. sentença “condenou
indevidamente a terceira parte ao pagamento dos honorários
advocatícios e custas processuais, sendo que a terceira parte
nem estava mais participando da presente ação, haja vista a
homologação em 2014 da desistência da arrematação que havia
ocorrido em 2009 nos autos principais”; pugna, portanto,
“para que o Apelante seja excluído da lide, e consequentemente
seja excluído da condenação de sucumbência”; (b) pedido
subsidiário – validade da arrematação: “alternativamente caso
não seja o terceiro arrematante excluído da lide e da
condenação ocorrida indevidamente no processo, sendo
ressuscitada a análise do ato jurídico do leilão, requer-se seja
analisado o mérito do ato jurídico da arrematação ab inicio,
deferindo-se a sua validade”. Assim requer-se como pedido
alternativo requer-se seja modificada a sentença para ser
julgada improcedente a ação anulatória em razão do autor ser
evicto e a arrematação ser irretratável, sendo declarado a
validade do leilão para que seja oportunizada novo depósito do
preço da arrematação devidamente atualizado, com a mesma
correção das contas judiciais, que são atualizadas pelo índice
da poupança, sendo expedido ao mesmo tempo ofício ao
Cartório de Registro de Imóveis para manter válida a
arrematação que havia sido realizada e registrada na matrícula
do imóvel e expedição do mandado de imissão de posse sobre o
imóvel”. Contrarrazões apresentadas pela parte Apelada[3]. É,
em resumo, o relatório. FUNDAMENTAÇÃO Admissibilidade e
recebimento dos recursos: Quanto às demais matérias de
Apelação, encontram-se presentes os requisitos de
admissibilidade recursal, os quais, segundo a conhecida
classificação de Barbosa Moreira, são divididos em dois
grupos: (a) intrínsecos (cabimento, legitimação, interesse e
inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de
recorrer) e (b) extrínsecos (preparo, tempestividade e
regularidade formal)[4]. Sendo assim, conheço e recebo os
recursos, no duplo efeito. Sobre a cumulação eventual de
pedidos: Ensina a doutrina autorizada que “a cumulação de
pedidos pode ser simples ou eventual. Essa última pode ser
ainda sucessiva ou alternativa. Na cumulação simples os
pedidos cumulados são absolutamente autônomos entre si e
cada um deles poderia ter sido formulado de maneira
independente. Na cumulação eventual o demandante formula
um segundo pedido para a eventualidade de ser julgado
procedente (cumulação sucessiva) ou improcedente o primeiro
pedido (cumulação alternativa). O juiz só examinará o pedido
sucessivo se julgar procedente o primeiro pedido; só examinará
o pedido subsidiário se julgar improcedente o primeiro pedido
(art. 326, CPC)”[5]. Sobre o primeiro pedido – afastamento da
condenação ao ônus sucumbencial: Alega o Requerente que a r.
sentença é equivocada ao condená-lo ao pagamento da verba
sucumbencial, eis que “nem estava mais participando da
presente ação, haja vista a homologação em 2014 da
desistência da arrematação que havia ocorrido em 2009 nos
autos principais (...) Não devendo fazer mais parte desse
processo desde então. Assim como o arrematante não deve ser
condenado em sucumbência em favor do autor”. Do
fundamento da decisão recorrida: A douta sentença consignou
que “em razão da sucumbência dos réus, inclusive da MASSA
FALIDA DE ECORA S/A ( CPC, art. 90, caput), condeno-os ao
pagamento das custas e despesas processuais, bem como
honorários advocatícios do patrono da parte contrária, os quais
fixo em 10% sobre o valor atualizado da causa, consoante regra
do artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil, considerando o
grau de zelo profissional, o lugar de prestação do serviço, a
natureza, a importância e a simplicidade da causa, o trabalho
realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço”.
Para resolver esta controvérsia, a seguir, serão fixadas as
premissas normativas e factuais para que se alcance um
resultado dedutivamente válido, isto é, uma conclusão que
esteja completamente contida nas premissas previamente
estabelecidas, cumprindo o órgão julgador, assim, o seu mister
de explicitar de maneira racional e sistemática aquilo que
entende derivar da ordem jurídica para densificar no caso sob
julgamento. Da premissa maior (premissa normativa):
Aplicável ao caso dos autos a seguinte regra de direito:Art. 85.
A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao
advogado do vencedor. (destaquei) Comentários doutrinários
sobre o art. 85, CPC: “À luz do art. 85 do CPC/2015, poder-se-
ia afirmar que o princípio da sucumbência é aquele que
informa a responsabilidade processual pelas despesas e
honorários advocatícios. Não é o que ocorre, contudo. O que
sucede é que a sucumbência é o sinal aparente que permite
identificar, com razoável grau de certeza, quem deu causa,
injustificavelmente, à instauração do processo. Por isso, a lei
processual erige-a (a sucumbência) como critério para a
definição de tal responsabilidade processual. Mas,
rigorosamente, o fundamento da responsabilidade processual é
a causalidade, justificativa esta que se encontra subjacente à
sucumbência. [...] Diante disso, não parece conveniente tratar
os critérios de sucumbência e da causalidade como
antagônicos, ou como um fosse exceção do outro. Mais
apropriado considerar que a causalidade compreende a
sucumbência. De todo modo, é correto afirmar-se, na doutrina,
que, sempre que se colocarem em comparação esses dois
critérios, aquele (princípio da causalidade) prepondera sobre
este (princípio da sucumbência). Nesse sentido, decidiu-se que
o princípio da sucumbência deve ser tomado ‘apenas como um
primeiro parâmetro para a distribuição das despesas do
processo, sendo necessária a sua articulação com o princípio da
causalidade’ (STJ, REsp 684.169/RS, rel. Min. Sidnei Beneti,
3ª T., j. 24.03.2009)”[6]. Jurisprudência - STJ: Consoante
julgado do STJ, em v. acórdão de relatoria do Ministro Luís
Felipe Salomão, “no processo civil, para se aferir qual das
partes litigantes arcará com o pagamento dos honorários
advocatícios e das custas processuais, deve-se atentar não
somente à sucumbência, mas também ao princípio da
causalidade, segundo o qual a parte que deu causa à
instauração do processo deve suportar as despesas dele
decorrentes”[7].Da premissa menor (premissa fática):
Analisando-se os fatos que a prova colhida e as versões das
partes trouxeram para o feito, não se pode dizer que o Autor
deu mais causa à instauração do processo do que o
Arrematante, haja vista que o Autor sequer foi intimado da
praça.Já o Arrematante, por seu turno, assumiu o risco ao fazer
o lance no leilão, eis que deveria ter a cautela de analisar toda a
situação envolvendo o imóvel, desde a existência da posse do
Autor, a falta de intimação deste para a praça etc. Ademais,
como bem demonstrado em contrarrazões, “a partir do
momento em que apresentou contestação e recurso de agravo
de instrumento, o apelante verdadeiramente opôs resistência à
pretensão autoral, não podendo se esquivar agora dos ônus
sucumbenciais sob o pretexto de anos depois, ter desistido da
arrematação”.Da conclusão - silogismo: Com base nas
premissas acima estabelecidas, é autorizado afirmar que a
hipótese prevista abstratamente na lei de regência
(art. 85, CPC)- premissa maior - quando densificada no plano
dos fatos que são objeto da presente lide - premissa menor -,
autoriza a implementação da consequência prevista na regra
legal, qual seja, a responsabilização do Arrematante pela verba
de sucumbência, não só porque ele é sucumbente, mas também
porque, de certa forma, deu causa à instauração do
processo.Sobre o pedido subsidiário (cumulação eventual
alternativa): Rejeita-se. Alternativamente, requer o Apelante
seja reconhecida a validade da arrematação “em razão do autor
ser evicto e a arrematação ser irretratável, sendo declarado a
validade do leilão para que seja oportunizada novo depósito do
preço da arrematação devidamente atualizado, com a mesma
correção das contas judiciais, que são atualizadas pelo índice
da poupança, sendo expedido ao mesmo tempo ofício ao
Cartório de Registro de Imóveis para manter válida a
arrematação que havia sido realizada e registrada na matrícula
do imóvel e expedição do mandado de imissão de posse sobre o
imóvel”. Da conclusão da decisão recorrida: A douta sentença,
como já visto acima, julgou procedentes os pedidos da inicial
decretando “a nulidade da decisão de mov. 1.99 (fls. 428) dos
autos n. 0001621-14.2000.8.16.0001, que declarou ineficaz a
alienação realizada aos autores em 24/10/2002 (R-04/M-
46.492), e para declarar a nulidade da penhora e da
arrematação do imóvel de matrícula n. 46.492 do Cartório do
2º Registro de Imóveis de Curitiba (apartamento n. 04 do
Conjunto Residencial Nova Primavera II) nos autos
n. 0001621-14.2000.8.16.0001, determinando-se a
manutenção dos autores na posse e domínio do imóvel”. Da
rejeição da tese do Autor: A r. decisão recorrida basta por si só,
não tendo os argumentos recursais empuxo suficiente para
debelar a consistência da argumentação deduzida pela douta
Julgadora monocrática, que bem explicitou, racional e
sistematicamente, as razões do seu decidir. Indicativo da força
do direito dos Autores, é o fato de o próprio Apelante ter
desistido da arrematação em 2014. Ademais, em tendo havido
a desistência, não há mais possibilidade jurídica de se
“ressuscitar” o ato da arrematação, ainda que se fosse o caso de
se reconhecer a validade da penhora. Entretanto, para fins de
argumentação, tem-se que foi indevida a declaração de
ineficácia da compra do imóvel pelo Autor por fraude à
execução, na medida em que não se encontravam, à época,
preenchidos os requisitos do art. 593 do CPC/73. Inclusive,
sequer havia a penhora do bem e, por consequência, o seu
registro no RI, como o exigia a Súmula 375 do STJ como
pressuposto para o reconhecimento da fraude à execução.
Outro ponto importante assentado na douta sentença, é o de
que “não havia a necessidade de os autores diligenciarem junto
aos cartórios distribuidores a respeito da existência de ações
ajuizadas em face da vendedora, na medida em que a
pendência de ações, por si só, não gera a presunção de
insolvência, circunstância que deveria ter sido devidamente
comprovada pela parte que alega a fraude à execução”. Não se
pode ignorar, ainda, a observação constante da r. sentença
segundo a qual, “em petição protocolada em 28/06/2002, a
Cidadela S/A ofereceu à penhora bem imóvel avaliado em
montante suficiente para a quitação do débito com os réus
Pedro e Ivete (mov. 1.27 dos autos em apenso) – tendo estes
recusado a indicação por considerar que o fato de o bem
pertencer à circunscrição de outra comarca tornava difícil sua
alienação (mov. 1.29 dos autos em apenso) – o que indica que
não havia insolvência à época da alienação do imóvel aos
autores, ao contrário do que entendeu o Juízo na decisão de
mov. 1.99 dos autos em apenso, a qual deve ser declarada
nula”. Por fim, destaque-se que não se poderia julgar ineficaz a
compra e venda feita pelo Autor, penhorar o bem e realizar a
sua venda em praça pública sem a intimação do proprietário.
Foram muitas, portanto, as nulidades, de modo que
irreprochável se mostra a douta sentença, da lavra da culta e
operosa magistrada Dra. Anne Regina Mendes. Conclusão:
Voto pelo desprovimento do recurso. Honorários recursais:
Com fulcro no art. 85, § 11 do CPC/2015, majoro os honorários
fixados na sentença de 10% para 13% do valor atualizado da
causa, tendo em vista a natureza da demanda, o local de
prestação do serviço, o grau de zelo do advogado e o tempo
decorrido.

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