que sai um cheiro de alcachofra podre. A morbidez do seu rosto faz a nuvem chover sangue. A morbidez do meu rosto faz meu cérebro ferver. O miolo da sua careca que forma um espiral, me faz mergulhar na piscina do seu corpo e tamborilar meus dedos no seu saco nu. As curvas dos seus cachos, cor mármore, fazem meu vômito ficar com cheiro de pétalas, pétalas apodrecidas que foram abandonadas no seu jardim cultivado, onde você faz seus cachos crescerem e virarem abóbora. As curvas dos seus cachos com pedaços de caspa que fedem a piolho fazem minha barriga tremer e meu corpo ficar com vontade de deitar no seu peito nu e peludo. Sua unha crescida que não chega a sua altura, com seus pés de pão de queijo com cheiro de armazém faz meu estômago se revirar como a tempestade que vem chegando, se juntando ao turbilhão do meu umbigo. Sua pele molhada e seca com crostas e buracos, enfio meu dedo. Ao tirar vejo geleia, geleia de mocotó. Passo na palma da minha mão e mordo sentindo um gosto da- quilo que nunca experimentei. Daquilo que faz o vômito sair de todos os orifícios possíveis. O seu olho que remete uma pulsão daquilo nunca visto antes. O infinito que se aproxima ao ver a imensidão do vazio, que vejo na porta da cara, da janela do rosto, naquilo que vejo o além do consciente que me faz querer con- tornar os traços da sua boca e do seu nariz. Principalmente dos seus cílios inexistentes e da monocelha de morcego. A porta da cafonice da alma mostra o quão desesperados estamos ao achar o tudo que se transformou no nada. Ao pisar no canteiro sujo do bar da esquina avistei a velha na janela com cortinas de pano encardidas de nicotina que cheira- vam a maço de cigarro. A ponta do cigarro caiu das mãos velhas enrugadas com cheiro de pano velho. O algodão da piteira em- palhou o corpo do rato que andava no bueiro encardido de cocô. O mendigo vendo a cena pensou em comer o rato e deixá-lo de presente pra criança que passava chupando um pirulito de men- ta com cebola. A mãe do moleque se deparando com o saco do mendigo pensou em chupar o marido mas decidiu se posicionar no berço do filho e pensar na puta que comeu na manhã do sába- do. A cortina manchada de sangue cheirando a nicotina e tabaco barato foi levada pelo vento sujo e empoeirado. Sentindo a brasa quente do churrasco na esquina vendo se tinha trocado pisando no chiclete e na própria piteira que empalhou o rato me deparei com aquele homem que observava cada canto dos dedos do pé da mulher e a mulher que observava cada canto da borda da boca do mendigo que observava o cu do rato. A nuvem que parecia uma casca de tomate resolveu se misturar a cena e deixar cair sua urina encardida de poeira. As buzinas faziam meu cérebro ferver como a água do café da velha com cheiro de nicotina que decidia acender novamente um cigarro, o último do maço, abrin- do em seguida uma garrafa de conhaque e um pouco de cocaína que havia sobrado na borda da gaveta onde se encontrava a bí- blia. Rezando sete ave Marias, o mendigo se deparou com o cu do rato e o pirulito do menino, vendo em seguida as curvas aper- feiçoadas da bunda do pedreiro que cuspia no chão. O cuspe se misturou com a urina do rato empalhado pela piteira do cigarro da velha do quinto andar com cortinas fedendo a nicotina.