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peln experigncia dos pares e campletado por anos de estudas e obser ‘erreires € tendas de tod) wialmetite de Sia Paulo, Bihi Rio Grane do. Sul. ¢ ‘slaidos, ivro, que se esforga por sev miotribuicie para a grande cam- Unificagio de Um- tesponde as indimeras pergune que w cada yaoi o estudioso dy trina se ve otnigad a fazer, va eposta em el. Desereve as prin- ig musongas de Umbanda, quer oa ma. Colca questéa das edo uma base ce ie yela enn leicias sinvvelistar, (abt) da calle to vital quer as de nem ta cantante thks, pes ta, laste dos poritas 0 da ¥ cuit do Bem lo neal (Ex) Eni buguauem arena, simples, bem aut explicaties s6l teecargay, evs . pon Bs rlecudos v canisdas, cle. hem de {rlentogio segura pata ot cerien, Minis de sucraiventas’ cassie imbanila, Vatisados, vans ol los Fineires. A quesian das defy gies vem Aratarta en. ling 1 vem intittas dle paléen alerer eiat eseuln © dander ale receitas avlequaday ete Em shana, © mals do que Hit: B INDISPENSAYEL Mar eon neni san 80. rein hte WS. principionte Scotendelor dy aesuntes "= Uspdmenos ume MANUAL DOS CHEFES DE TERRETROS DE UMBANDA y MEDIUN eee , JOSE ANTONIO BARBOSA , Manual dos Chefes de ‘Terreiros A-OMURADA FEDERATIVA ESPIRITA Ds e Médiuns de Umbanda UMBANDA oficial) ie SAO PAULO SEM SER PREFACIO... Néo hd mister de muitas palavras para se carate- visar éste livro. Resumiriamos tudo 0 que se pudesse e se quizesse dizer num curto adjetivo de quatro letras, apenas: UTIL. O Manual em cuja leitura dentro de instantes ireis deleitosamente mergulhar — 6 curioso leitor, 6 amavel LIVRARIA ESPIRITUALISTA EDITORA leitova, 6 pois, um Livro til. Rua Senador Feij6, 29 - 3.° andar - sala 316 Util, em primeiro lugar aos irmédos da fé, umban- = distas, hoje muitas centenas de mithar, ou muitos mi- ‘aixa Postal 1625 Indes. Falando-se em nimeros, justifica-se um parén- SAio PauLo tese: foi uma pena que no recenseamento de 1960, falho MANUAL DOS CHEFES DE TERREIROS nésse ponto, ndo tivessem aberto um titulo especial para Umbanda; isso levow os adéptos dessa religido, cento por cento nacional, a se disseminarem entre os que se recensearam como espiritas ou entdo sob a gené- rica rubrica de “Outras religides”. Perderam os um- bandistas wma grande oportunidade histérica de medi- rem sua férga quantitativa. Ao IBGE o reparo, a-fim- -de que a lacuna seja coberta nos futuros censos a partir de 1970... Feito a oportuna observagéo, prossigamos: éste manual serd titil a todos os estudiosos de etnografia folelore, Ble vem trazer, com sua feigto diddtica, vasada no espirito sério de quem se propée a fazer pesquisas cientificas, uma contribuigdo notdvel a ésse ramo de estudo iniciado e enriquecido com trabathos de Nina Rodrigues ¢ depois por Arthur Ramos, Edison Carneiro, Manuel Querino, Leopoldo Bettiol, José Ribeiro... Quanto a éste segundo aspecto, podemos afirmar com a autoridade de quem jd lew, anotou e comparou SEM SRR PREFACIO m intimeras obras hoje existentes sdbre o assunto em lin- gua portuguésa — que Manual dos Chefes de Terreiros e Médiuns de Umbanda se torna mais do que wtil: é indispensdvel mesmo. Conhecemos de longa data 0 Autor. Liga-nos a éle uma amizade filial inquebrantdvel. Achamos que nin- guém esté mais autorizado do que ésse apéstolo, para lancar obra de tal félego. José A. Barbosa é nome de sobejo conhecido na imprensa espiritualista das Amé- ricas. Em 1989, langava com éxito invulgar o jornal “OQ Espiritualista” que se propunha a tarefa hercitlea de unificar as diversas correntes espiritualistas — do kardecismo ao esoterismo; do teosofismo de Annie Besant ao orientalismo togue; do ocultismo da “Comu- nhio do Pensamento” ao umbandismo dos Pretos Velhos; do espiritismo caboclo obrigado a fundanga e riscos de pemba aos rosa-cruzes; do mentalismo @ “Ciéneia Cristé”; ¢, do espiritismo de Ramatis as Testemunhas de Jeovd... eFES DE TERREIROS ‘A idéia era generose demais para vingar num setor onde, do geral, grandes correntes se apresentan divi- didas & subdivididas em grupos heterogéneos, igreji- ahas, curriolas, seitas ¢ sub-seitas, que se combatem entre si e por sua vez Se apresentant enfraquecidas pelas dissensdes internas @ pelos irredutiveis individua- lismos.. . Mas J. A. Barbosa no desanimow ante a imensidéo da tarefa. Prosseguiu com estoicismo ¢ persistéucia peculiares dos apéstolos. Apenas aliado a wn senso rec lista da situagdo, resolvew encurtar a frente de luta Dedicou-se de corpo e alma, sempre com oa niesnia ¢ pi rito infatigdvel ¢ missiondrio, d wnificagao de Umbanda E hé alguns anos — precisamente sete — langou com bom éxito jornalistico maior ainda do que 0 anterior, um mensério hoje bastante conhecido no Brasil inteivo e até mesmo Id fora: “Tribuna Umbandista”. Lé-se “Tribuna Umbandista” na Argentina, em Cuba, ne Mézico, em Portugal ¢ na Africa, De todos ésses paises SEM SER PREFACIO encaminham pedidos de assinatura e hd reclamagdo ao menor atraso ou anomalia na remessa... Naturalmente que os entendidos no assunto jé conhecem ésse jornal e as grandes campanhas que vent levantando, as quais podem ser assim condensadas: 1 — Pela unificagaéo de Umbanda, ética espiritual e littrgicamente com uniformizagéo da doutrina e dos ritos, para maior compreensdo solidariedade cristé entre os irmdos na fé; 2 — Pela separacdo entre o jdio e o trigo, isto é, selecdo do vero wnbandista, com a eliminagdo das infil- tvagées de “falsos candomblés”, macumbas, “batuques” e outros nomes que tenham a pratica da magia negra © 0 culto satanico as férgas do mal, reservando a Um- banda apenas o tacto com as Férgas Brancas, as Vibra- goes Positivas, a Caridade e o Bem, enfim. 3 — Pela moralizagéo de Umbanda, com segre- gacdo dos charlatdes, dos vigaristas e mistificadores de todo tipo, que desfiguram a doutrina ea mercantilizam, na mais nefanda pratica da simonia ou tréfico das coisas sagradas. 4 — Pelo integral cumprimento do item constitu- cional da Liberdade religiosa, sem impertinentes e ile- gais intromissdes da polfcia nos assuntos do cullto. Rigorosa equiparagéo de Umbanda a outros eredos em face da lei, impedindo-se os prit igios clamorosos « certas seitas em detrimento de outras. 5 — Pela educagdo do elemento wnbandista, inci tado a se preparar culturalmente para a sua misao religiosa, Néste sentido, os apélos a leitura, ao & meditagi tudo « aprimorados pelas faculdades intelectuais, so « ténica. mais vigorosa dos tépicos de “Tribuna Umbandista”, § — Por um principio bem nacional na interpre- tagdo da teologia umbandista, a religiéo considcrada nos dias que correm como a Revelagéo Brasileira, aquela SEM SER PREFACIO va que mais de perto fala a nossa alma e mais se ajusta as Uidimas tradigdes de nossa gente. 7 — Pela toleréncia e compreenséo entre o3 homens de tédas as ragas, paises e eredos politicos, relio-filosdficos, pela paz na terra, entre as nagées como entre as religides, & 0 cristianismo no sew sentido uni- versal ¢ humano mais puro, mais amplo e mais belo. Tal é 0 setendrio — jé que sete é 0 ntimero mistico e teirgico por exceléncia — que carateriza o jornal “Tribuna Umbandista” do qual nos orgulhamos de ser secretéria-redatora desde 0 ntimero inicial. Cercando 0 setenério — ¢ néo é por mero acaso que 0 “ponto riseado” que figura no cabegalho do jornal se compée de sete flechas entrelagadas numa estréla de cinco pontas — eis J. A. Barbosa com éste livro. A necessidade de textos de estudo em tédas as matérias, em nosso pais é evidente. Mas no setor “Umbanda” 6 que mais se faz sentir, Que frutos terdo produzido ésses esforgos ingentes? pranAL OS CHEFES DE TERREIROS Muitos ¢ inegdveis. Em primeiro lugar, néo 6 nenhum tropo atrevido o dizer que a histéria de Umbanda em nosso Estado pode se dividir em dois periodos: antes de “Tribune Umbandista” e depois de “Tribuna Umbandista”. Cessaram, ow minoraram grandemente as perse- guigées policiais no Estado de Séo Paulo, tal é a forga incontestével da imprensa! A Umbanda se firmon no conceito popular, provocando o respeito ¢ acalamento dos sous adverstrios mais ferrenhos. A nidigica palavra Unificagio ressoou de norte o sul do Brasil, como ve dadeira bandeira renovadora. A ésse movimento, néo terd sido alheio certamente o “grupo de trabalho” gue Oswaldo Costa — admirdvel diretor de “O Semandrio do Rio, congregau, acolheu ¢ estimilov: José Alvares Pessoa, da “Tenda Espirita 8. Jerdnime”; Netsou Mesquita Cavateanti, da Tenda Espivita Irma Elza; Madre Yarandasa, da Ordem Mistica Agia Avid, Carlos de Azevedo, do Centro Espirita Damido Diolan ¢ outros SEM SER PREFACIO que wio mencionamos aqui para deixar ao leitoro antiprazer espiritual de identificar, proclamar @ aben- goar os nomes beneméritos. Esse “grupo de trabatho” se inspiron num setend- vio idéntico ao que hd sete anos vem Barbosa divulgando © pregando. O postulado da liberdade religiosa 6 désses que ndo pode mais padecer dividas, Mais do que uma conquista, € wm patriménio inaliendvel do homeni e por isso tudo 0 que atenta contra éle € uma blasfémia contra © Criador e uma violagdo do exeretcio pleno de cidadania. Trata-se de postulado bésico do movimento de emancipagéo religiosa, consagrado no mundo civilizado ¢ que néo pode sofrer nenhuma tergiversagéo, sofisma ‘ou distorsdo, Deus nao é privilégio de ninguém e pres- tarthe culto é um direito, Deus estd acima de tédas as coisas, sem sofrer limitagdo de lugares ou espago ¢ as diversas modatidades de culto néo podeni jamais ser confundidas com crimes passiveis de serem repri- mmidos com violéncias policiais ow coersdo da liberdade humana, Terminando, permita-nos Oswaldo Costa que gri- lemos, do seu maravilhoso prefécio ao livro Umbanda, religifo do Brasil, esta pepite de ouro: “Cremos que a espiritualidade brasileira muito ganharé com a leitura déste livro. O materialismo grosseiro — e queremos nos referir, nao ao materialis- mo filoséfico, que se situa no plano da ideologia, e sob muitos agpectos, benéfico & evolugiio social da humani- dade — mas ao materialismo do apetite dos bens mate- riais em si mesmo — leva go ceticismo, ao bovarisme, 20 egoismo, ao imediatismo, a0 cinismo, que constituem outros tantos modos de degradagiio da pessoa humana.” Esperamos, pois, ser entendidos no estimilo dodo com éste profacio — a publicago de um tyabatho que € obra de fé, eserita por um homem de fé. Obra, por- tanto, de Caridade ¢ Eeperanga. Obra de amor. SEM SER PREFACIO x Saravd, irméo Barbosa! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, 0 Mestre Divino de todos os crentes. Eralcado seja 0 nome do Altissimo, ndo importa se na béca de um grande personagem ou na de um humilde Carapina, chefe de terreiro! Guiomar BussiLi cea CAPITULO I O QUE & UMBANDA — ORIGENS — DOGMAS UMBANDA ou DOUTRINA DA Luz 6 uma palavra de origem africana que serve para designar uma forma peculiar de espiritismo religioso, nao-karde- cista. Como téda religio organizada e sistematizada, tem a sua pocm-a-rica, isto é, conjunto de dogmas ou verdades fundamentais e indiscutfveis da dou- trina; sua Brica, ou parte moral, e LITURGIA, ou complexo de ceriménias, do ritual. Vavias explicagdes tém sido propostas para a origem (ou etimologia) dessa palavra. HA quem atribua a sua origem ao idioma Pali, primeira lin- guagem humana sistematisada e cujo coméco se perde na noite dos tempos. O mais certo, porém, & que vem da lingua pawTv, de kRIM-MBaNpa, ciéneia ou arte de curar, por extensio, a salvacdo, a satide espiritual. O primeiro elemento da palavra caiu, ficando apenas mBanva; e como ocorre com todos os te aos cHEFES DE TERREIROS MANUAL ppAMBA, qUe deram Embu, Um- ua » BI ane mbar ico de UMBANDA, com base na Shor defies ia: mtn (Orca, ANDA, luz, “da luz. Como os primitivos J como manifestagao visivel de Deus, o sol eoMfonte de luz, verifica-se af uma dt are i solar, que € no fundo a fonte a as religides existentes no mundo. 0 nome de um dos grandes ramos da a africana. Abrange SS ; i e ae os congoleses, 0S cabindas e os de Mo aa ue, Foi désse ramo que se eae i i ao Bra- Ea a correntes de escravos que vieram a0 et ; a Dal serem os cultos bantus os que mais mntlu- “sna formagio de Umbanda no Brasil. = ifica-se 0 SENCRETISMO (pa- Nésses cultos, verifica-s' z ‘s adiante explicaremos) ou aprovei lavra que mais adiante ae tamento de ritos espiritas e catélicos. — igidio mista, em que banda se tornou uma religido mista ee elementos espititas em grande escala, éstes na parte exterior ou LITURGICA. reminise’nc eomum de ORIGENS HISTORICAS res No ano de 1500, as caravelas dos ee portuguéses aportaram A Bahia, O Brasil cA foram siderado um pais de selvagens, ¢ para © QUE & UMBANDA. ORIGENS. DOGMAS 1 mandados elementos colonisadores. Mas ésses ele- mentos foram os piores e mais perniciosos que exis- tiam em Portugal: criminosos de todo tipo, deser- tores, desordeiros... Esse foi o motivo pelo qual as capitanias em que foi dividido o pais descoberto nao progrediram. Havia muita turbuléncia. A situa- ¢ao pouco melhorou com a vinda do primeiro gover- nador geral, pois com Dom Tomé de Souza vieram 400 degredados. Eram em sua maioria condenados A morte, que se prontificaram a trocar a férea pelo destérro, visto que outra alternativa nao tinham. Com o decorrer dos tempos, A medida que aumentavam as necessidades de trabalho, ésse tipo de bracos nao interessando e nao tendo sido possivel eseravisar o indio, os colonisadores tiveram de lan- gar mao do recurso da importagdo de escravos. O grande celeiro era a Africa. E assim comegaram a vir as grandes levas trazidas nos navios negreiros JA tantas vézes descritos em prosa e em verso ou revividos pelo cinema. Entre a turba de escravos ignaros vindos para 0 Brasil, incluiam-se alguns sacerdotes das religides africanas. Esses sacerdotes, em aqui chegando, cui- daram de preservar os seus ritos. Procurando identificar-se com a nova moradia P negro foi tratando de restabelecer velhos habitos De noite, no siléneio dos terreiros das Fazendas, en- quanto seus algozes dormiam ou se entregavam a téda sorte de devassidées, reuniam-se para invocar 8 MANUAL DOS CHEFES DE TERREIROS seus deuses. E ento subiam na neblina da noite os cantos plangentes, as queixas, as orages pedin- do frgas para suportar o martirio da escravidio. E légico que, ausentes do seu meio natural, ésses anénimos construtores da civilisacio brasileira tivessem deturpado o rito a que chamavam UMBANDA e ao qual pertencia a maior parte. Outras seitas tra- ziam sua infiltracéo. E uma nova religiao, diferente de tédas as outras ia se erguendo. Curioso que, em vez de ser absorvida pela religiao dominante, pelo contrario ela é que absorvia os seus pontos mais lindos e sublimes, e assim Jesus e o Evangelho, de que jamais ésses pobres negros tinham ouvido falar no seu longinquo e barbaro continente, passaram a ter parte preponderante na uUMBANDA. Vinda a libertagio dos escravos, a religiio de origem negra j4 nao tinha porque esconder-se no recesso das matas. Além do mais, poucos meses depois, proclamava-se a Republica ¢ em 1891 tinh: mos a primeira Constituico brasileira a proclam a liberdade dos cultos ¢ a separacio da Tgreja ¢ 9 Estado, Mas ao mesmo tempo, 0 mundo inteiro se via surpreendido com o interésse despertado pelos fend- menos espiritas. Allan Kardec coodificara os ensi- namentos espiritas ¢ os sistematisara ao gésto oci- dental. Comecaram a surgir no Brasil os grandes estudiosos dos fendmenos metapsiquicos. Foi quan- © QUE £ UMBANDA. ORIGENS, DOGMAS 9 do os cultores de Umbanda verificaram a identidade de prinejpios que norteavam a sua propria doutrina © os kardecistas, Com efeito, tanto em umbanda como no kardecismo, acredita-se na reincarnagio, ha comunicago com os desencarnados, na liberta- cao dos seres terrenos das influéncias dos larvados do Espaco, doutrinando, corrigindo e guiando os espititos atrasados; na corregao gradual e gradual evolugao rumo & perfeigéo divina; e no prinefpio da Justi¢a e do Amor de Deus. E assim, a mesma religiao que j4 houvera be- bido elementos essenciais no Catolicismo, e se cris- tianisara, assimilou as novas conquistas cientfficas representadas pelo espiritismo, para tornar-se a RELIGIAO pO BRASIL por exceléncia. Contendo no seu io contribuigdes do branco, do negro e do indio. sintese portanto das aspiragées espirituais da nacho, vera “Flor amorosa das trés racas tristes”, a Um. banda firmou enfim seu critério e se encaminhou decididamente para um apuramento dogmiatico e litimgico préximo da pureza total e da ortodoxia que caracterisa as grandes religides universais. uMpanpa sobrevi vi lentos, 8 perseguigde dos feitores e ace eee niais, as tentativas de subérno, aos treme legislages arbitrdrias, as deturpacdes de tele ines umpanpa é hoje uma religiio roa itd i ey ge para si o mesmo acatamento e revveng eee e reveréncia que se 0 Tao digno de acata- da as demais religides no Brasil, 10 MANUAL DOS CHEFES DE TERREIROS mento e respeito é um babalaorixa ou “pai de santo” quanto um padre catélico ou um ministro evangé- lico ou um rabino israelita ou um “dervixe do “Dharma” indiano. Relembremos que Deus nao é monopélio de ninguém, nem o seu culto é privilégio déste ou daquéle. Desde que sinceras e inspiradas no coraeao, todas as formas de servi-lo ¢ de amé-lo, ou de cumprir as suas leis de caridade e amor lhe sio agradaveis. DOGMATICA umpanpa é uma religido essencialmente evo- lutiva. Para ela, todo o universo esta perp2tuamente em movimento ¢ em marcha para a Perfeicio Su- prema que é Deus. Os mais obscuros organismos minerais_mar- cham para o vegetal, o vegetal para o animal, 0 animal para o humano, o humano para escalas su- periores, rumo ao divino. A lei fundamental de umpanpa é: RESPEITO A OBRA DA CRIACAO, AMOR AO PROXIMO, CRENCA EM DEUS B NUMA ALMA IMORTAL Seus principais dogmas — ou verdades basicas, imutiveis — sao: 1° — A existéncia de um Deus Supremo ¢ Unico, Onipotente e Onipresente. © QUE £ UMBANDA. ORIGENS, DOGMAS u 2.9 — A evolugao, em escala ascendente do jnanimado ao animado, do inerte ao movente, do inconsciente ao consciente, da treva a luz, o aper- feicoamento espiritual constante, através da dor e © sofrimento, rumo a Aruanda ou regiao celestial ‘onde assentam morada os seres espirituais mais clevados. Esta evolugdo se processa por meio de su- cessivas encurnagdes materiais. A isto é que cha- mamos LEI DA REENCARNAGAO OU DOS RENASCI- MENTOS. 3.° — A existéncia de espiritos nao encarnados — ansos, pEvas ou orrxAs — hierarquicamente superiores aos homens e inferiores aos Mestres ou Aruandas, que acompanham e protegem o homem contra as investidas do mal. 4° =A imortalidade da alma humana. . = eae ee os seres da natu- MEDIUNS 0 CAVALOS. el 6.° — A lei do am éxi Si da i's Siesta abate um mundo melhor, mesmo num plano de im: . cao como é Baas perfei- oa ay Terra pela qual incidentalmente pas- 7° — 0 reconheci gides sio réios Peay eee Umbanda a sintese de todas clas ns Mm Sendo a ‘Ss, Mas em tédas se fi le Uni i ae Unica sumarisada na REGRA- j MANUAL’ DOS CHEFES DE TERREIROS! [MAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E ‘AO PROXIMO COMO A SI MESMO Note-se que sao sete ésses fundamentos; 0 ni- mero SETE é, como veremos, um dos mistérios — ou mironcas — de Umbanda, como de tantas outras religides; trata-se do numero mistico por exceléncia. Dentro désses sere principios ou dogmas en- quadram-se 0s sere fins terrenos da Umbanda, a saber: bem, a tolerdncia. 3.° — Comprovar a reencarnacio. nas comunicagdes astrais ou meditinics reza criada por Deus. 6.° — Harmonisar 0 homem com o seu Orixa ou protetor. 7.° — Preparar o homem para uma vida me- Thor aqui e na ascensio até a Aruanda luminosa. Examinemos agora em separado cada um dés- ses objetivos. 1° — Praticar a caridade, a fraternidade, o 2.° — Evidenciar a imortalidade da alma. 4.° — Propagar a palavra de Jesus e dos gran- des Mestres da humanidade, contida na Biblia e 5.° — Promover o respeito e 0 culto A natu- 0 QUE £ UMBANDA. ORIGENS, DOGMAS: 13 I — Paaticar a caRtpapE Este é 0 dever social ntimero um do verdadeiro umbandista. Devemos cumprir ésse preceito aju- dando o nosso semelhante em tédas as oportunidades quer socorrendo-o em suas necessidades materiais, quer consolando-o e alentando-o com palavras de estimulo nos seus sofrimentos espirituais, quer per- doando-he as faltas e erros e procurando indicar-lhe caminho certo. Nao devemos censurar 0 homem que cai vitima de um vicio e sim procurar curé-lo. Por exemplo, com os que bebem, devemos partir do prinefpio de que aleoolismo é uma doenga e nao um crime e assim, o que se deixa dominar pela bebida é um doente que deve ser curado e néo um malfeitor que necessita ser castigado: ja 0 vicio em si éum terrivel castigo! Devemos ter paciéncia com 0S ignorantes, com os que nos censuram ou nos Hes oper depen Doser ee2 de noses crianca, a vitiva, 0 érfio, o aleijado, Por omen eye fagamos © bem sem humilhagdo, sem ore 9% a0, sem apregoar e u MANUAL DOS CHEFES DE TERREIROS TL — Evivencra A TMORTALIDADE A imortalidade 6 comprovada pelas praticas e trabalhos de terreiros, ou seja, pela mediunidade. Como exemplo, examinemos a manifestacio dos pretos velhos, tao comum nos terreiros a ponto de haver uma corrente dentro da uMBANDA que afirma ser o contacto com 0S PRETOS VELHOS a principal finalidade da nossa religiao. Dado que, como dissemos acima, a evolugio do homem se processa pelo sofrimento, e mais pelo sofrimento do que por qualquer outra causa, foi na escravidao, através de lutas e padecimentos sem conta que ésses pretos escravos, j vindos de remo- tas e sucessivas encarnacées aperfeigoaram mais ainda suas mentes. Eram muitos déles profundos conhecedores das linhas de magia dos antigos, tanto a magia branca como a negra, e trouxeram consigo ésses conhecimentos embebidos por meio da tradi- Go oral, no recesso das florestas africanas, Assim subiram varios degraus na escala evolutiva. Os hor- rores do navio negreiro, o infame chicote do feilor, as humilhagdes sem conta nos mercados de ¢ erayoe a separacio brutal dos entes quer idos, 0s Medea na senzala, a degradacao social chegada as 4 me conseqiiéncias — tais foram as molas © 05 oe da subida luminosa, Desencarnados, deseem 800% aos terreiros para orientar seus irmaos = ee znd jluminados, e aguardam o momento de n © QUE # UMBANDA. ORIGENS, DOGMAS 15 carnacées, desta vez em mundos superiores e mais adiantados. II — ComProvar A REENCARNACKO A prova da reencarnacao se faz pela lei da causa e do efeito, ou do Karma. O dogma da reencarna- cio se opde ao do “pecado original”. Este dogma romano diz que somos feitos & imagem e semelhanga do Pai, por Ele préprio criados, e inclusive nossas almas foram assim plasmadas; entretanto, em dado momento, por culpa de outrem, nossas almas puras saidas das mfos purissimas do Pai, se enegrecem com o “pecado original”. ‘A reencarnagdo nao pode admitir essa contra- diedo. Sendo todos nés filhos de Zambi (ou Oxalé, ou Deus, Ente Supremo) ao iniciarmos a viagem através da matéria, no somos 0 Mat e sim a Igno- vaneia, a Fraqueza filha da Inexperiéncia, a Treva — lado oposto da luz de onde viemos. Somos cerca. dos pela matéria bruta e ser por meio dela que de. vemos suprimir a ignorancia e adquirir a sabedoria, Por outro lado, seria deserer na justica divina aceitar a impunidade dos erimes humanos. Quem deve paca, no importa se nesta ou em outra vinda a esta Terra. (*) Karma, ou Carma, definiséo ampla’ do voedbulo tt" Mais adiante ser dada a ee OO MANUAL DOS CHEFES DE TERREIROS E nfo se alegue que nao é 0 mesmo corpo que sofre. A isso responderemos que NENHUM corpo sOFRE. Quem vive as dores, quem registra e inter- preta as sensagoes do mundo exterior ou as emoges do mundo interior, é o Espirito, a Mente. Os nossos atos de hoje é que determinam as nossas alegrias ou tristezas de amanha. Esta é que é a lei do Karma, Para 0 UMBANDISTA, 0 presente que é ou deve ser gera o futuro que sera ou devera ser. Esta afir- mativa nos leva a um tema que tem suscitado vivas controvérsias: 0 LIVRE ARBiTRIO, Parece & primeira vista que a lei do Karma redundard no fatalismo dos antigos, ou no “deter- minismo” tal como o aceitam os muculmanos, para os quais tudo o que nos acontece ja estava de ante- mio estabelecido. B o awanxt dos gregos, 0 Destino inexordvel a cujos ditames nem os deuses podem fugir. Sendo assim, ficaria sem sentido a expressio LIVRE ARBiTRIO, Para nds umbandistas, 0 homen dis- pie, sim, do livre arbitrio, quer dizer, gosa de rela- tiva liberdade de acdo, podendo escolher entre a prdtica do bem e do mal, entre a remincia aos ape tites materiais e o chafurdamento nos sr prazeres da carne, entre o abreviar ou prolon seu processo evolutivo, entre a virlude € © vicloy entre a limpesa e a corrupcio, entre as belezas do desprendimento e a hediondez do egoisme Os mestres de Umbanda, os caboclos © pretos velhos nfo se propéem a modificar a lei nem civ! 1 a re © QUE & UMBANDA. ORIGENS. DOGMAS u carregar a cruz de ninguém. O que fazem é exercer a caridade, ensinando, guiando, amparando através do aparélho fisico do médium, que por ésse modo também esté praticando a caridade. Quem deve pagar. Mas na ac&o do pagamento — isto é, nas sucessivas reencarnagdes — pode contar com a Um- banda, que dard ao caminheiro cansado coragem, consélo e alento para prosseguir. A teoria das reen- carnacées & das mais sublimes, por envolver em si a idéia da Justica e da Misericérdia divina, a pri- meira reprimindo o érro, a segunda promovendo os meios de reabilitacao. IV — Propacar a PALAVRA DIVINA De muitas maneiras poderemos propagar os ensinamentos vindos da Luz, A primeira e mais im- portante é por meio da caridade. Téda vez que es- palharmos o bem estaremos propagando particulas da férea divina. Devemos outrossim ouvir os ensi- namentos dos pretos velhos e dos caboclos, nas ten- das e terreiros. Estes ensinamentos na maioria das es vém sob a forma de mensagens, que quando escritas se chamam “psicografadas” e que também recebem o nome de “comunicacées astrais”, por virem de outzos planos exteriores ao astro em ue vivemos, portanto de outros astros, O vero Umbandista deve ler muito. Ler a Bi blia, que é a palavra de Deus vinda dos antigos iz MANUAL DOS CHEFES DE TERREIROS Ler todos os seus setenta € dois livros, divididos em duas partes: O Velho Testamento e o Novo Testa- tnento. Ler principalmente os Salmos, que tém férca mégica. Vv — Resrziro & cunto A NATUREZA Na magia da natureza, encontramos 0 Sol, o astro-rei, que controla tédas as forcas césmicas do proprio sistema planetario. E vemos a influéneia que a Lua exerce sobre as 4guas, os ventos, as plan- tas e os préprios seres animados. E vemos enfim a obra do Criador estender-se por téda a parte, ora meiga como o arrulho da pomba e o cantarolar dos riachos, ora terrfvel em suas manifestagies como 0 troar dos vuledes ou o desencadear da tempestade. Consiste 0 culto A natureza na compreensio de que os elementos no sfio mortos ¢ sim animados de um sopro de vida como nés préprios. Assim, a pedra, 0 rio, a cachoeira, o mar, o sol, a lua, 0 areial, 0 vento possuem alma, séo os “elementais” ou espirito puro. As Arvores e os animais, a humilde grama t os infimos insetos so outras tantas manifestagoes visiveis do mesmo Deus como os planet jestosas montanhas. Neste particular, Umbanda se jdentifiea com o chamado “Panteismo”, doutrina ane vé Deus em tudo, na natureza e 10 céu, na borbo leta e no homem, na voz dos regatos murmurejantes ou no estrondo dos réios..- asteira, ‘as e as ma- (© QUE & UMBANDA. ORIGENS, DOGMAS 19 VI — Harmonia po Home com SEU ORIXA Esta harmonia pode se obter de duas maneiras: 1 — Pelo procedimento reto, concordante com a do Orixd, Temos que copiar as suas virtudes pre- dominantes. Assim, nao se justifica que alguém que tenha como guia um Preto Velho, cuja principal virtude é a humildade, seja arrogante, negue os prin- cipios do amor, da paciéncia ¢ do sacrificio. Ou ainda que um irmo sob a égide de Yemanjé, que é a Pu- reza, seja dissoluto, présa dos vicios, do egoismo e da ambicéo material. 2 — Pelos ritos. —- Como veremos na parte litirgiea, cada orixé tem a sua cér, o seu amald (ou oferenda), suas caracteristicas rituais. Devemos co- hecer & exata a simbologia do respectivo orixd, para prestarmos a cada um déles a prova exata de respeito e veneracio. VI — Prerano pana UMA VIDA MELHOR A umpawpa, jé 0 dissemos, ¢ nunca serd demais repetir, é uma doutrina evolutiva, isto é, quer sem- pre o Mnt.ttor, Ela prdpria, como doutrina, tem pas- sado por transformagdes sempre visando aperfeigoa- mentos. Era a prinefpio uma religigo fetichista e politeista, isto ha muitos milhares de anos; foi se polindo e se jocirando até chegar ao adiantadissimo grau em que se encontra, re Ee MANUAL, DOS CHEFES DE TERREIROS Assim também o mundo, Os que se queixam de que 0s tempos sio maus e acham que tudo vai de mal a pior devem perder algum tempo estudando a histéria do passado humano. Veremos as épocas bar~ bbaras, em que o homem era a verdadeira fera de seu irmio, os julgamentos eram sem defesa, corta- va-se uma cabeca ou um braco por da cd aquela palha. E havia as guerras desumanas, barbaras, em que nao se respeitava nada, nem criangas, nem ‘yelhos nem mulheres. Hoje, jé se fala abertamente em Paz UwivensaL, pelo menos jé se admite a possi- ilidade de os homens viverem todos em paz, sem 0s horrores das matancas coletivas. Houve um tempo em que o leproso era considerado um eriminoso, um marcado da vinganca de Deus e porisso repelido e injuriado. Hoje, a lepra é uma doenga curdvel, 0 hanseniano é cuidado com carinho e bondade crista até a cura total. ‘Temos que pregar constantemente a paz uni- versal, a tolerancia entre os homens, o espirito de fraternidade. Que cada um respeite a crenca alheia. Cessem de vez as perseguicées religiosas como j4 cessaram as raciais e filoséficas. Cuidemos de nosso aperfeicoamento moral, espiritual e corporal e auxi- liemos os nossos semelhantes a fazer o mesmo. Isso € que é trabalhar por vat mtunpo metuon. E esta é uma das finalidades da nossa religiéo. E serd nesta maravilhosa sfntese de tédas as

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