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MESTRADO EM DIREITO
MESTRADO EM DIREITO
São Paulo
2014
Banca Examinadora
AGRADECIMENTOS
Hannah Arendt
RESUMO
Diante das inúmeras inovações tecnológicas do século XX que atuam diretamente sobre a
informação e comunicação, a Internet, em especial, tem influído diretamente sobre o homem e
a sociedade, de modo que o acesso à Rede se tornou uma necessidade de nossa época e vem
declarado pela ONU como direito humano. Assim, a presente pesquisa objetiva examinar a
natureza jurídica do acesso à Internet e investigar se é possível considerá-lo um novo direito
humano relacionado às tecnologias informativas. Na construção do trabalho – resultado de
análise bibliográfica, normativa e jurisprudencial – foram abordados aspectos essenciais aos
Direitos humanos, à Internet, à relevância da Rede para os Direitos Humanos, seguidos de
considerações finais sobre o acesso. Como resultado, conclui-se que a Internet não se resume
na definição técnica de rede de transmissão de dados, nem pode ser vista apenas como meio
de comunicação, pois se tornou um verdadeiro locus onde todos os homens devem ter a
possibilidade de ingressar e participar da vida comunitária. Portanto, o direito de acesso à
Internet vai além do mero acesso à infraestrutura necessária para a conexão, traz incorporado
o acesso a todo conteúdo e à capacitação ou alfabetização digital. Trata-se, enfim, de um
direito humano, exigência ideal de que cada homem e todos os homens possam ser
reconhecidos como pessoa neste novo espaço social.
Considering the many technological innovations of the Twentieth Century that act directly on
information and communication, the Internet in particular has directly influenced man and
society, so that the access to the Net has become a necessity of our time and was declared by
the UN as a human right. Thus, this research aims to examine the legal nature of Internet
access and investigate whether is possible consider it as a new human right related to
information technologies. While developing this study – result of bibliographic, normative
and jurisprudential analysis – essential aspects were addressed human rights, Internet’s
relevance for Human Rights, followed by concluding remarks on access. As a result, it is
concluded that the Internet is not just the technical definition of a data transmission network,
nor it is only a communication means, it has become a true locus where all men should have
the possibility to live and participate in community life. Therefore, the right to Internet access
goes beyond the mere access to the necessary infrastructure to get connected, has incorporated
access to all content and training or digital literacy. We are dealing with a Human Right, an
ideal requirement that every individual and all mankind can be recognized as a person in this
new social space.
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10
POSITIVAÇÃO .............................................................................................................................51
FUNDAMENTAIS .........................................................................................................................70
3.1. ANÁLISE HISTORICA SOBRE A ORIGEM DA INTERNET: INDÍCIOS DE UMA TECNOLOGIA
BRASILEIRAS ...........................................................................................................................150
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................171
INTRODUÇÃO
10
A tarefa empreendida nesta Dissertação resume-se ao estudo de noções
elementares fundamentais à compreensão do direito humano de acesso à Internet. Embora
claro e direto, o tema pode ser considerado complexo, não apenas por serem escassas as
fontes legais, jurisprudenciais e doutrinárias, mas também, em virtude da relevância e
atualidade da matéria.
11
O estudo desenvolvido no capítulo segundo busca identificar o papel dos
Direitos Humanos na formulação das normas jurídicas. Enquanto ethos do direito, os Direitos
Humanos são exigências ideais que encontram fundamento na própria natureza humana – na
dignidade inerente a toda pessoa humana – e da qual também decorrem deveres ideais
correlatos às exigências. Portanto, observa-se especial relação com o direito natural e com a
ideia de justiça, entendida no sentido indicado por São Tomas de Aquino, como uma virtude
direcionada à convivência humana, que requer de cada homem uma atitude de respeito à
dignidade da pessoa humana.
12
de transmissão de dados é superada pelo conceito social que revela o homem, não a
tecnologia em si, como elemento essencial das conexões em rede. Ou seja, não são as
máquinas que estão conectadas, mas as pessoas que se relacionam no entorno digital por meio
da Internet.
No quarto e último capítulo, a Internet deixa de ser vista como simples meio
de comunicação por onde transitam dados de uma parte a outra, para se firmar como um
verdadeiro espaço de convivência. Um novel domínio público, lugar da palavra e da ação1,
onde o homem pode revelar seu valor diante dos outros e assim buscar o próprio
aprimoramento; um espaço de convivência, onde o ser humano desenvolve suas mais
rotineiras atividades.
1
Em analogia com o pensamento de Aristótele quando discorre sobre os cidadãos - os participantes do governo,
portadores do poder da palavra e da ação. Vid. ARISTÓTELES. Política. trad. Pedro Constantin Tolens, 9ª
reimp., São Paulo: Martin Claret, 2013, p.115.
13
democráticos, são de duvidosa legitimidade e possivelmente configuram uma real violação a
direitos.
2
PEC nº. 479/2010 da Câmara dos Deputados e PEC nº. 06/2011 do Senado Federal.
14
PARTE I – PRESSUPOSTOS ESSENCIAIS DOS DIREITOS HUMANOS.
3
Vid. KAUFMANN, Arthur. Filosofia do Direito. trad. Antonio Ulisses Cortes. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2004. pp. 290-329.
15
extraída do sentido jurídico da palavra, de sujeito das relações jurídicas e, portanto, do sujeito
dos deveres jurídicos e dos direitos subjetivos, antes, o fundamento para que o homem seja
considerado um sujeito de direitos e deveres, está na Filosofia.
4
Cfr. SICHES, Luis Recaséns. Tratado general de filosofia del derecho. 19ª ed., México: Editorial Porruá, 2008.
pp. 244-245.
5
Vid. COMPARATO, Fabio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 7ª edição, revista e
atualizada. São Paulo: Saraiva, 2010. pp. 20 – 21.
16
Retrocedendo ao período do pensamento pré-socrático (séculos VII a V
A.C.), vê-se que as investigações filosóficas se centram na distinção dos elementos básicos do
universo, buscam compreender a origem de todas as coisas e as mutações sofridas pelo devir.
O ser humano não vem abordado com precisão nas cogitações metafísicas, como se vê, v.g.,
em Tales de Mileto, para quem o homem era um ser racional e consciente de seu próprio ser e
de suas potencialidades e de seu destino. Consoante o filósofo grego, a alma humana era
automotivadora, impulsionava o agir do homem6.
17
Dotado de uma mente universal, através do raciocínio o homem pode alcançar o
conhecimento verdadeiro e universal. Ao ser capaz de formular conceitos, consegue revelar o
que vem a ser a verdade sobre as coisas naturais e abstratas, consegue expressar o que é
sabedoria, a coragem, a justiça, as virtudes morais. Sócrates, por tratar o conhecimento como
uma virtude, percebe que a realidade humana só pode ser explicada pela razão e pelo espírito.
Essa dimensão espiritual leva-o a desenvolver uma ciência do espírito, cuja função é
disciplinar a conduta humana em direção ao “bem” – pois só aquele que age de acordo com as
regras do bem (quem age com bondade e justiça) torna-se um homem melhor. Introduz,
então, os valores como uma nova dimensão da realidade humana8.
18
afirmação de que o Estado existe visando o bem do homem, de modo que a vida social
aparece como objetivo da existência humana, pois isolado o homem não é autossuficiente.
Cada ser humano, cada indivíduo, possui diferentes habilidades e cada um deve exercer as
habilidades que tem em favor da vida comunitária; do mesmo modo, cada homem deve ser
tratado pela justiça de acordo com as suas diferenças10.
10
Cfr. CHAMPLIN, Russel Norman; BENTES, João Marques. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia. V. 2,
p. 780; V1, pp. 275-278.
11
Cfr. MONDIM, Battista. Quem é Deus? Elementos de teologia filosófica. Trad. José Maria de Almeida, São
Paulo: Paulinas, 1997, p. 400.
12
Vid. COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. pp. 26-28.
13
Vid. Ibidem, p. 28.
19
mulher14. O conceito de pessoa atrela-se à filiação divina, a razão seria então uma centelha da
imagem de Deus em nós, a conferir dignidade que é comum a todos os homens.
“(...) Assim, a origem ex ipso das criaturas as coloca entre Deus (o ser) e o nada
(não-ser). Mas, apesar disso, eles não deixam de ser e de ser um bem, pois, se tudo o
14
A filiação divina no contexto bíblico é apresentada de dois modos: i) no livro do Gênesis (1: 26-28) os homens
(incluindo toda a espécie humana) são criados à imagem e semelhança de Deus, ou como diz no livro dos Atos (
17: 28) são “geração “de Deus; e ii) nos livros de João (8: 44), Romanos (8:29), é apresentada mediante a fé, por
isso não há mais um povo escolhido, mas agora todos os que creem em Cristo são considerados filhos de Deus.
15
Na obra Por um Humanismo Cristão, Jacques Maritain afirma que a “... expressão ‘filosofia cristã’ não
designa simplesmente uma essência, mas um complexo: uma essência tomada sob certo aspecto. (...) A filosofia
cristã não é uma doutrina determinada, (...). É, ao contrário, a própria filosofia enquanto posta naquelas
condições de existência e de exercício absolutamente característicos, onde o cristianismo introduziu o sujeito
pensante, de maneira que ela veja certos objetos, estabeleça validade certas asserções, que, em outras condições,
lhe escapariam mais ou menos”. (in. MARITAIN, Jacques. Por um Humanismo Cristão. Coleção Ensaios
Filosóficos, São Paulo: Paulus, 1999, pp.85-86).
16
Vid. RUBIO, Valle Labrada. Introducción a la teoria de los derechos humanos; fundamento, história,
declaración universal de 10.XII.1948. Editorial Civitas, Madrid, España, 1998, p.34.
20
que existe procede de Deus, único princípio e sumo bem, então tudo é um bem, não
havendo, portanto, nada que seja mau em si mesmo. (...) O bispo de Hipona entende
que Deus é o princípio de toda medida (modus), de toda forma (species) e de toda
ordem (ordo), os quais são predicados gerais, presentes em todas as criaturas,
tornando-as, assim, coisas boas. Qualquer que seja a criatura analisada, corporal ou
espiritual, Deus lhe concedeu a medida, a forma e a ordem. De acordo com o grau
desses atributos, a criatura que os possui será um grande ou um pequeno bem. Onde
encontramos essas três coisas em grau elevado temos grandes bens; onde em grau
inferior, temos pequenos bens e onde em grau zero não há bem algum17.
17
GRACIOSO, Joel. A Relação entre o problema de Deus e a questão do mal no livro VII das Confissões de
Agostinho de Hipona, 2003. Dissertação (mestrado em filosofia), Universidade de São Paulo, São Paulo, pp.57-
58.
18
Como conhecido Santo Agostinho, por haver sido ordenado bispo de Hipona, cidade argeliana, no ano de 391,
assim tendo permanecido até a sua morte, em 430,
19
Vid. MONDIM, Battista. O homem. Quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. Trad. R. Leal Ferreira
e M. A. S. Ferrari, São Paulo: Paulinas, 1977, p. 286.
20
Vid. COMPARATO. Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. p. 32.
21
“uma substância completa, em si mesma subsiste, com independência de outro sujeito” 21. O
homem é considerado pessoa porque tem consciência do que o leva a agir; diferentemente dos
animais, é um ser livre e autônomo. Consciência atribuída à razão, que para São Tomás é a
expressão da imagem de Deus nos homens. Ressalta o Doctor Angelicus, três tendências
fundamentais no homem, traduzidas na conservação do próprio ser; na conservação da
espécie, e na vida social e cultura22.
21
TOMÁS DE AQUINO. Santo. Suma teológica. Madrid/Barcelona: BAC, 1957, III, q. 16, a. 12, ad 2, p. 231.
22
Cfr. RUBIO, Valle Labrada. Introducción a la teoria de los derechos humanos: fundamento, história,
declaración universal de 10.XII.1948. p.35.
23
Cfr. CHAMPLIN, Russel Norman; BENTES, João Marques. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia. V. 2,
p. 780; V.1, pp. 247 – 250.
22
um ser entre os outros seres que, embora com traços privativos que o diferenciam dos demais,
tem dimensões comuns com estes24.
24
Cfr. SICHES, Luis Recaséns. Tratado general de filosofia del derecho. p. 246.
25
Vid. MARITAIN, Jacques. Príncipes d’une politique humaniste. Ouvres completes, VIII, Friboug Suisse,
1989, p. 188.
23
será o fulcro de toda a nossa exposição: o homem na sua unidade e integridade: corpo e alma,
coração e consciência, inteligência e vontade” 26.
Na Encíclica Pacem in Terris, o Papa João XXIII afirma que, em “... uma
convivência humana bem constituída e eficiente, é fundamental o princípio de que cada ser
humano é pessoa; isto é, natureza dotada de inteligência e vontade livre. Por essa razão,
possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam direta e simultaneamente de sua própria
natureza. Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais, invioláveis, e
inalienáveis” 27.
Ainda, ressalta o Papa João Paulo II, na Encíclica Redemptor Hominis, essa
singular realidade do ser e do agir, da inteligência e da vontade, da consciência e do coração
— “porque é pessoa” —, com uma própria história da sua vida e, sobretudo, uma própria
história da sua alma28.
26
CONCÍLIO VATICANO II, Constituição pastoral sobre a igreja no mundo contemporâneo: Gaudium et
Spes. Disponível em http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html> acesso em 03 de novembro e 2012.
27
PAPA JOÃO XXIII. Carta Encíclica Pacem in Terris. Disponível em
<http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-xiii_enc_11041963_pacem_po.html>
acesso em 30 de Julho e 2013.
28
PAPA JOÃO PAULO II, Papa. Carta Encíclica Redemptor Hominis. Disponível em
<http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_04031979_redemptor-
hominis_po.html> acesso em 28 de fevereiro de 2014. Enfaticamente proclamado pelo Papa Bento XVI, na
Encíclica Caritas in Veritate, “... que o autêntico desenvolvimento do homem diz respeito unitariamente à
totalidade da pessoa em todas as suas dimensões.” (Capítulo I, n.11). disponível em
<http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-
veritate_po.html> acesso em 27 de agosto de 2013.
29
“(...) E notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as mais
extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo,
como o primeiro princípio da Filosofia que procurava. Depois, examinando com atenção o que eu era, e vendo
que podia supor que não tinha corpo algum e que não havia qualquer mundo, ou qualquer lugar onde eu
24
Immanuel Kant trouxe a discussão sobre o homem para o plano da moral, da
ética. Para o pensador de Königsberg, não é possível compreender o que é a pessoa se
examinamos só o seu ser; há que considerar inerente ao próprio homem uma ideia ética, já
que é um ser capaz de possuir a si mesmo e manifestar-se de acordo com sua razão. Nesse
sentido, defende que a personalidade é liberdade e independência do mecanismo de toda a
natureza, e que os seres racionais são denominados pessoas por constituírem um fim em si
mesma, melhor dizendo, algo que não deve ser empregado com um mero meio, algo que em
virtude de sua relação com a ética, contém uma vontade que a torna um ser extremamente
diverso das coisas, diverso em razão de sua posição e dignidade30.
Assim, a pessoa é aquele ser que tem fim em si mesmo, e precisamente por
isso, possui dignidade, a diferença de todos os demais seres e das coisas – que têm um fim
fora de si – que servem como meio para lograr fins alheios e, portanto, possuem um preço. A
pessoa por ser sujeito da lei moral autônoma, é o único ser que não tem um valor somente
relativo, ou seja, um preço (que é próprio de todas as coisas), mas antes um valor em si
existisse, mas que nem por isso podia supor que não existia; e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar
em duvidar da verdade das outras coisas seguia-se mui evidente e mui certamente que eu existia; ao passo que,
se apenas houvesse cessado de pensar, embora tudo o mais que alguma vez imaginara fosse verdadeiro, já não
teria qualquer razão de crer que eu tivesse existido; compreendi por aí que era uma substância cuja essência ou
natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de nenhum lugar, nem depende de qualquer
coisa material. De sorte que esse eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo e,
mesmo, que é mais fácil de conhecer do que ele, e, ainda que este nada fosse, ela não deixaria de ser tudo o que
é” (in. DESCARTES, René. Discurso do Método, Meditações, Objeções e Respostas, As Paixões da Alma,
Cartas. vol. XV, São Paulo: Abril Cultural, 1973, pp.54-55).
30
Cfr. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes e outros escritos. trad. Leopoldo
Holzbach, 2ª. reimp., São Paulo: Martin Claret, 2011. p. 58.
31
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes e outros escritos. p. 59.
25
mesma (dignidade), que constitui um auto-fim32. Pode-se dizer então que, para Kant, o
homem é considerado pessoa em virtude de sua eminente dignidade33.
“(...) por mais que seja um indivíduo particular, e justamente é a particularidade que
faz dele um indivíduo e um ser social individual efetivo — é, na mesma medida, a
totalidade, a totalidade ideal, o modo de existência subjetivo da sociedade pensada e
sentida para si, do mesmo modo que também na efetividade ele existe como intuição
e gozo efetivo do modo de existência social, quanto como uma totalidade de
exteriorização da vida humana34.
“(...) se Deus não existe, pelo menos há um ser no qual a existência precede a
essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que
este ser é o homem, ou, como diz Heidegger, a realidade humana. Que significará
aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem
primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O
homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque
primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se
fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O
homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se
concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a
existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro princípio do
existencialismo. É também a isso que se chama de subjetividade, e o que nos
censuram sob este mesmo nome. Mas que queremos dizer nós com isso, senão que o
homem tem uma dignidade maior do que uma pedra ou uma mesa? Porque o que
nós queremos dizer é que o homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de
mais nada, é o que se lança a um futuro, e o que é consciente de se projetar no
futuro” 35.
32
Cfr. SICHES, Luis Recaséns. Tratado general de filosofia del derecho. pp. 246 -247.
33
“Kant define a pessoa humana como liberdade contra mecanicismo. Por esta razão, tem sido afirmado que
descoisifica o conceito de pessoa, porque a define no plano da ética, isto é, não a examina em seu ser, como
fizeram os autores anteriores, destacando de uma ou outra forma sua racionalidade, mas Kant afronta a acepção
de pessoa humana no âmbito de sua capacidade de agir. Kant, portanto, ressalta a liberdade como faculdade
específica do homem, porque o distingue dos demais seres que atuam mecanicamente, guiados por leis
necessárias e de cumprimento forçado, enquanto o homem se caracteriza por estar capacitado para eleger a regra
de suas ações” (in. RUBIO, Valle Labrada. Introducción a la teoria de los derechos humanos: fundamento,
historia, declaración univesal de 10.XII.1949. p.35).
34
MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos, Terceiro Manuscrito, Os Pensadores, vol. XXXV, São
Paulo: Abril Cultural, 1974, p.16.
35
SARTRE, Jean Paul. O Existencialismo é um Humanismo. trad. Vergílio Ferreira, Os Pensadores, vol. XLV,
São Paulo: Abril Cultural, 1973, p.12.
26
Em Max Scheler, a pessoa humana é apresentada como um ser concreto e
essencial que traz em si mesmo a base do lado espiritual e intencional em seus atos. É dizer, o
que identifica o homem é sua espiritualidade. A dimensão espiritual do homem compreende a
sua razão, emoções, vontades e intuições, definida a pessoa como “o centro ativo no qual o
espírito aparece no interior das esferas finitas do ser, em uma diferença incisiva em relação a
todos os centros vitais funcionais que, considerados por dentro, também se chamam centros
anímicos” 36.
De acordo com Scheler, a pessoa é o homem, que não pode ser reduzido a
apenas atos racionais e volitivos; sua natureza espiritual torna-o capaz de realizar a si próprio,
de modo que cada pessoa representa uma individualidade concreta e singular, cada pessoa é
um universo, um microcosmo (como diria Jacques Maritain), com suas particularidades e
percepções. Para o filosofo alemão, o homem não pode ser um objeto em razão de sua
natureza espiritual. Destaca, ainda, cada pessoa é uma medida de valor, que não deve ser
interpretada como estimativa subjetiva, senão como uma dimensão ideal do valor, ou seja,
cada pessoa, em razão de sua realidade e de sua situação concreta, é chamada a cumprir
determinados valores relativos à sua essência e existência37.
36
Vid. SCHELER, Max. A posição do homem no cosmos. Trad. Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2003, p. 36.
37
Vid. SCHELER, Max. A posição do homem no cosmos. pp. 36 – 37.
38
Cfr. HARTMANN, Nicolai. Introduccíon a la filosofia. trad. José Gaos, México: UNAM, 1961, pp. 107 –
118.
27
hipotético, não depende de nenhuma condição para que seja válido. De acordo com o
pensador alemão, os valores morais não determinam por si só o homem, a função que lhes
cabe é de iluminar a conduta humana, que é livre39 para escolher o caminho que irá seguir.
39
A liberdade deve ser entendida “como autonomia da pessoa em contraposição à autonomia dos valores. Uma
força positiva que radica na pessoa, é o princípio que determina finalisticamente o homem”. Vid. DEL VALLE,
Agustín Basave F.. Filosofia do homem: fundamentos de antroposofia metafísica. Trad. Hugo Di Primo Paz, São
Paulo: Convívio, 1975, p. 152.
40
Cfr. MOUNIER. Emmanuel. O personalismo. Trad. Vinícius Eduardo Alves, São Paulo: Centauro, 2004, p.
46.
41
Cfr. Ibidem, p. 44.
42
MONDIN, Battista. O homem: quem ele é? Elementos de antropologia filosófica. p. 154.
28
As ideias de sociabilidade do homem e do reconhecimento no outro de uma
extensão do “eu”, conduzem à criação de um sistema de justiça e de valores fundamentais
para que a “unidade da humanidade43” esteja preservada.
43
Uma das ideias chave do personalismo é a unidade da humanidade, no espaço e no tempo. Esta ideia já havia
perscrutado o pensamento da antiguidade e ganhou mais forma com a tradição cristã, que pregava não haver
cisão entre senhor e escravo, judeus e pagãos, cidadãos e bárbaros, homem ou mulher, pois todos são criados à
imagem e semelhança de Deus e todos são chamados à salvação por intermédio de Jesus Cristo. Vid.
MOUNIER. Emmanuel. O personalismo. p. 55.
44
Vid. BOBBIO, Norberto. Igualdad y libertad. Trad. Pedro Aragon Rincón, Barcelona: Paidos e Instituto de
Ciências de la Educación de la Universidad Autônoma de Barcelona, 2000, p. 69
45
MONDIN, Battista. O homem: quem ele é? Elementos de antropologia filosófica. p. 297.
46
Cfr. GUARDIA, Andrés F. T. S.. Homem, pessoa e dignidade: da antropologia filosófica à Corte
Interamericana de Direitos Humanos. 2008. 280 f. Dissertação (mestrado em direito), Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo. pp. 156 –158.
29
primeiro passo para admiti-lo como sujeito de direitos47. Esta constatação é fruto do processo
evolutivo de integração social do homem cidadão da antiguidade clássica para o homem
indivíduo das revoluções norte-americana e francesa do século XVIII, que pode ser resumido,
como bem faz Miguel Reale, em dois fenômenos complementares: numa lenta mas
progressiva atribuição de “poderes autônomos e iguais aos indivíduos como tais, e a
constituição de uma estrutura jurídica superior capaz de garantir essa autonomia” 48.
47
Conforme as lições de Miguel Reale, “... o Direito é uma ordenação bilateral atributiva das relações sociais,
na medida do bem comum. Isto quer dizer que, em toda relação jurídica, duas ou mais pessoas ficam ligadas
entre si por um laço que lhes atribui, de maneira proporcional ou objetiva, poderes para agir e deveres a cumprir.
O titular, ou seja, aquele a quem cabe o dever a cumprir ou o poder de exigir, ou ambos é que se denomina
sujeito de direito” (in. REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 25ª. ed., 22ª. tiragem, São Paulo: Saraiva,
2001. p. 212).
48
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. p. 214.
49
Cfr. VILLEY. Michel. O direito e os direitos humanos. Trad. Maria Ermantina A. Prado Galvão. São Paulo:
WMF – Martins Fontes, 2007, p. 10; LIMA, Alceu Amoroso. Os direitos do homem e o homem sem direitos. 2ª.
edição. Editora Vozes: São Paulo, 1999. p. 23; CAMPOS, Germán J. Bidart. Teoria general de los derechos
humanos. México: UNAM, 1989, pp. 129 –133.
30
Aceitar os Direitos Humanos como direitos históricos não quer dizer aceitar
a visão historicista dos direitos, que coloca o fundamento do direito na história, no
contingente. O fundamento dos direitos do homem não está na história, não é a história, não
está no contingente, mas no supra e extra-histórico que impregna de historicidade os direitos.
Porque é esse mesmo fundamento a prestar razão para que os direitos se situem no tempo e
assim sejam almejados, representados e concebidos positivamente na história50.
50
Cfr. CAMPOS, Germán J. Bidart. Teoria general de los derechos humanos. p. 130.
51
O constitucionalista Paulo Bonavides defende a existência, hoje, de cinco gerações de direitos fundamentais,
sendo a quarta a correspondente ao direito à democracia, e a quinta, o direito à paz (in Curso de Direito
Constitucional. 26ª. edição, Malheiros Editora, São Paulo, 2011, pp. 570 e ss.). Ingo W. Sarlet não rechaça a
existência de novas gerações ou dimensões de direitos, ao contrário, apresenta reflexões tendentes a aceitá-las.
(in A eficácia dos direitos fundamentais. 7ª. ed. Rev. atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007,
pp. 60 – 61). Maria Eugenia Rodriguez Palop reconhece uma quarta geração de direitos embasados nas
reivindicações de novos movimentos sociais e tendo como pano de fundo as inovações tecnológicas (in La nueva
generación de Derechos Humanos – Origen y Justificación. 2ª. ed. Colección Derechos Humanos y Filosofia del
31
amplamente disseminados nas doutrinas nacionais e estrangeiras, mas das fases de afirmação
dos Direitos Humanos desde a modernidade até nossos dias, tendo por perspectiva o contexto
histórico e a visão ideológica que conduz, em cada momento, à afirmação e ao
reconhecimento paulatino de novos Direitos Humanos e de novas perspectivas de direitos já
assentes.
A escolha desta nova terminologia “fases” pode causar certa estranheza por
não ser comum, no entanto, é adequada a abordagem pretendida neste ponto do estudo. O
sentido contido no termo “fase” contempla o reconhecimento de diferentes aspectos que um
dado objeto apresenta com o evoluir do tempo53. Assim, no estudo empreendido busca-se
averiguar como as demandas concretas e a concepção do homem enquanto pessoa,
representativa de cada época, contribuem para o reconhecimento e afirmação de direitos a
proteger e para promover a pessoa humana em todos os aspectos de sua existência.
Derecho, Instituto de Derechos Humanos Bartolomé de Las Casas Universidade Carlos III de Madrid, Madrid:
Dykinson, 2010, pp.32 – 33).
52
Há na doutrina uma distinção entre os termos gerações e dimensões, esta é a posição de Willis Santiago
Guerra Filho (in Teoria Processual da Constituição, 3ª. ed., São Paulo, RCS Editora, 2007, p. 78, e Processo
constitucional e direitos fundamentais, 5ª. ed. rev. e ampl., São Paulo, RCS Editora, 2007, pp. 39 – 43).
Objetivando, primeiramente uma elucidação semântica, observa-se que o termo gerações, advindo do latim
generativo remete a ideia de linhagem, genealogia, aludindo também ao espaço temporal correspondente à
duração media da vida dos seres humanos, bem como ao conjunto ordenado das funções e fases que caracterizam
o processo de surgimento e desenvolvimento de um ser organizado (Dicionário da língua portuguesa
contemporânea, v. II, editora Verbo, Lisboa, 2001, p. 1890). Já, para a filosofia o termo geração é utilizado para
exprimir o conceito aristotélico de mudança do não-ser para o ser, representando uma espécie de alteração de
qualidade (Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia. V. 2, p. 889). O termo dimensão, do latim dimensio evoca
a extensão mensurável de algo em qualquer sentido, proporção, importância ou valor que assume (Dicionário
da língua portuguesa contemporânea, v. I, editora Verbo, Lisboa, 2001, p. 1260). Num contexto filosófico,
dimensão pode ser entendida como plano, grau, direção no qual se possa efetuar uma investigação ou realizar
uma ação (ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 2ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 277).
Assim o termo gerações, trás consigo a ideia de nascimento de novos paradigmas, sobrepondo-se aos antigos,
enquanto o termo dimensão evoca a noção de continuidade de analise e interpretação dos direitos sob ângulos
diversos tendo por fim a efetivação dos direitos humanos no âmbito estatal. Neste sentido é a posição de Willis
Santiago Guerra Filho: “[...] gerações e dimensões dos direitos fundamentais, [...] a primeira uma noção
histórico-evolutiva, diacrônica, enquanto a segunda, correlatamente, é de se ter como cumulativa, sincrônica,
estando cada dimensão em relação de mutua dependência e condicionamento recíproco umas com as outras. Daí
se pode dizer que as gerações são dos direitos fundamentais (e humanos) e as dimensões são de cada direito
fundamental” (in Teoria Processual da Constituição, p. 79).
53
Cfr. BECHARA, Evanildo (org.). Dicionário escolar da academia brasileira de letras. 3ª. ed., São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 2011; LAROUSSE CULTURAL. Dicionário da língua portuguesa.São Paulo:
Editora Nova cultural e Editora Moderna, 1992.
32
1. 2. 1. A Primeira Fase dos Direitos Humanos – o Individualismo.
54
Cfr. ISRAEL, Jean-Jaques. Direito ds liberdades fundamentais. trad. Carlos Souza, São Paulo: Manole, 2005,
pp. 52 e ss.
55
MOUNIER. Emmanuel. O personalismo. p. 44.
33
do final do século XVIII, representou a tradução da teoria dos direitos naturais ao Direito
positivo56.
34
particular acerca do virtuoso ou do justo, senão precisamente na melhor preservação dos
58
direitos” .
58
Vid. SANCHÍS, LUIS PRIETO. La Ley, princípios, derechos. p. 69.
59
Cfr. COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humnaos. p. 49; BALERA, Wagner.
Direitos humanos como modelos normativos. In Revista brasileira de direitos humanos. coord. César Barros Leal
et. Al., v. 1, Porto Alegre: Magister, 2012. p.10.
60
O efeito notável da Revolução Francesa foi a mudança radical nos fundamentos da legitimidade política – com
a queda da monarquia absolutista emerge a figura do Estado-Nação moderno. Ao afirmar todo poder pertence ao
povo e dele deriva, chama à ordem todos os homens para que ocupem o papel que lhes cabe por direito - o
indivíduo toma parte na vida pública.
61
Cfr. BALERA,Wagner. Direitos humanos como modelos normativos. p.14.
35
Neste novo ambiente, o Estado de Direito emerge como um movimento de
limitação geral dos poderes governamentais, sem qualquer preocupação com a defesa da
maioria pobre contra as minorias abastadas. Ou seja, naquele momento a preocupação com as
questões sociais ainda não havia encontrado lugar.
62
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. trad. Roberto Raposo, São Paulo: Companhia das Letras, 2009,
p. 262.
63
Cfr. Ibidem, p. 324.
64
O pensamento socialista, cujo maior expoente é Karl Marx, procurou substituir o idealismo vigente no
pensamento filosófico até então, por um realismo materialista – pois já não é mais a consciência dos homens que
36
Conforme demonstram os documentos normativos da época, as liberdades
seriam iguais para todos, não obstante, na realidade, para a maioria das pessoas não fosse
possível exercê-las devido à falta de meios. De modo que os direitos reconhecidos e vigentes
eram negados pela própria organização social.
37
caracterizados por um “não fazer” estatal, com novos direitos econômicos e sociais marcados
por uma necessária obrigação de “fazer” imposta ao Estado.
67
Cfr. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. pp. 57 – 58.
38
1. 2. 3. A Terceira Fase dos Direitos Humanos – a Fraternidade.
68
O transpersonalismo é um antihumanismo, de acordo com esta concepção o homem não é considerado um ser
dotado de dignidade, não é considerado uma pessoa, ao contrário, é visto como um meio, um instrumento a ser
utilizado. Neste sentido é a lição de Luis Recaséns Siches: “En las concepciones transpersonalistas, el hombre no
es considerado como ser moral con dignidad, como persona que tiene una singular misión a cumplir por propia
cuenta; por el contrario, es utilizado tan sólo como mero material para la realización de finalidades que
trascienden su propia existencia moral, como pura cosa que se maneja como instrumento para fines ajenos a su
vida; por tanto, se le valúa no como un sujeto que es sustrato de la tarea moral, sino únicamente como mercancía
que tiene un precio, en la medida en que resulta aprovechada para una obra transhumana (ajena a la
individualidad) que encarna en el Estado.” Vid. SICHES, Luis Recaséns. Tratado general de filosofia del
derecho. p. 502.
69
Conforme a lição de Luis Recaséns Siches, o totalitarismo, caracteriza-se por: i) negar a o sentido e o valor
moral do individuo, proclamando que o homem não tem valor senão e na medida em que serve de instrumento a
um grupo, o homem é destituído de personalidade moral, de dignidade; ii) o Estado assume um caráter divino, o
único deus, exigindo do povo uma atitude religiosa de veneração e submissão absoluta; iii) professam um
nacionalismo exacerbado; iv) é belicista a ponto de afirmar que o homem nasce para a guerra e que esta é sua
suprema missão, concebendo a vida sob a perspectiva militar, a convivência comunitária é regida como um
regimento e o país como quartel militar permanente; v) consideram o líder como um ser sobrenatural, como um
ser sagrado e infalível; vi) o poder é a suprema finalidade, assim aspiram seu aumento ilimitado. Cfr. SICHES,
Luis Recaséns. Tratado general de filosofia del derecho. pp. 505 – 506.
70
Nota-se neste período, o pensamento socialista que originariamente continha uma preocupação humanista foi
distorcido a tal ponto que o poder coercitivo do Estado-providência exacerba os limites desenhados pelo
jusnatural e implementa um novo tipo de Estado, nem liberal nem social, um Estado totalitário, cujas maiores
expressões foram o nacional socialismo (nazismo), o fascismo, o comunismo soviético (por mais que este tenha
tentado dissimular sua orientação com discursos sobre liberdade e igualdade). Cfr. SICHES, Luis Recaséns.
Tratado general de filosofia del derecho. pp. 502 – 511.
71
Jacques Maritain propõe um humanismo baseado no ideário cristão. De acordo com sua obra, importa ao
homem uma mudança, um nascer de novo, como um processo de conversão do homem burguês individualista
39
personalista, com influência no processo de conscientização (agora em proporção mundial)
sobre os Direitos Humanos, em especial a partir de 1945.
para um ser voltado à sua essência espiritual. A transformação importa que sejam respeitadas as exigências
essenciais da natureza humana, a sua dignidade (sua semelhança com Deus), “e este primado dos valores
transcendentes que permitem justamente e escorvam um renovamento, de outro lado, que se compreenda que tal
modificação não é obra do homem sozinho, mas de Deus em primeiro lugar e do homem com ele”. Vid.
MARITAIN, Jacques. Humanismo integral: uma visão nova da ordem cristã. Trad. Afrânio Coutinho,
Biblioteca do Espírito moderno, série 1ª., vol. 5, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1941. p. 91.
72
Em esforço para conferir eficácia ao texto da Declaração, já que se trata de documento meramente
recomendatório, a ONU elaborou diversos documentos que estabelecem de modo mais preciso e concreto regras
para a proteção e promoção de direitos. Os mais importantes documentos, após a Declaração de 1948, são os
Pactos de Direitos humanos de 1966 – Pactos de Direitos Civis e Políticos e Pacto de Direitos Econômicos
Sociais e Culturais. Também cabe lembrar que, paralelamente ao sistema global instituído pelas Nações Unidas
em 1945, foram formados sistemas regionais de proteção de direitos humanos: sistema europeu, sistema
interamericano e sistema africano, a fim de facilitar o monitoramento da observância dos direitos.
73
Cfr. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 20ª ed. atual., São Paulo: Saraiva,
1998, p. 212
40
liberdades dos direitos civis e políticos, nem as questões sociais trazidas ao conhecimento
pelos textos constitucionais do inicio do século, mas ao homem se incorporam questões
relacionadas à convivência social, à aceitação do outro como pessoa, embora a existência de
diferenças culturais, étnicas, religiosas; também adensam o catálogo, direitos relativos ao
consumo, ao meio ambiente, aos avanços biotecnológicos, à qualidade de vida, à
comunicação.
74
Vid. PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. La tercera geración de derechos humanos. Navarra, Editorial
Aranzadi, 2006. p. 28.
41
Hannah Arendt, agrega-se ao homem toda artificialidade desenvolvida por seu trabalho, pois
tudo aquilo com que tem contato passa a fazer parte da condição de sua existência75.
75
Vid. ARENDT, Hannah. A condição humana. trad. Roberto Raposo, 10ª. ed., 5ª. reimp., Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2005, pp. 15 – 17.
76
A designação Revolução Termonuclear foi usada pelo antropólogo Darcy Ribeiro para referir-se à onda
emergente de inovações técnicas, sociais e culturais causadas pela implementação de tecnologias cientificas de
base termonuclear e eletrônicas desenvolvidas deste o inicio do século XX. Trata-se de uma verdadeira
revolução, pois estes avanços resultaram no surgimento de novas formações sócio culturais. Vid. RIBEIRO.
Darcy. O processo civilizatório: estudos de antropologia da civilização: etapas da evolução sociocultural. São
Paulo: Companhia das Letras e Publifolha, 2000, p. 161.
77
Cfr. Ibidem. p. 163.
42
CAPÍTULO 2 – DIREITOS HUMANOS – IDEAL BALIZADOR DA
NORMATIZAÇÃO.
Há, pois, que prosseguir neste estudo, buscando perquirir o papel dos
Direitos Humanos na formulação das normas jurídicas, seu caráter prevalente, sua especial
relação com os direitos fundamentais e suas características comuns, que acabam por permitir
o reconhecimento de novos Direitos Humanos, inclusive no contexto estatal, erigida a
Dignidade da pessoa humana em critério identificador.
43
Antonio Enrique Pérez-Luño observa que estes tipos de definição não
conduzem a bom termo, não permitem aceder ao seu real significado78. Assim, propõe
definição que, a seu ver, propiciaria melhor compreensão do sentido: os Direitos Humanos
seriam “um conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico,
concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humana, as quais devem
ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e
internacional” 79.
(...) Obviamente quando se fala dos ‘direitos do homem’, com este vocábulo
‘direitos’ não se pensa o mesmo que quando alguém se refere aos direitos que tem
um comprador segundo o determinado no Código Civil vigente, ou aos direitos
políticos do cidadão de acordo com a Constituição de um certo país. Pelo contrário,
pensa-se em outra coisa e, sobretudo, em um plano diferente do Direito positivo.
Pensa-se em uma exigência ideal, a qual é formulada verbalmente dizendo ‘todos os
homens têm o direito – por exemplo – à liberdade de consciência’, o qual não
expressa um direito subjetivo no sentido técnico destes vocábulos, isto é, com a
possibilidade de fazê-lo valer mediante o auxilio dos órgãos jurisdicionais e
executivos do Estado. Expressa que o Direito positivo, toda ordem jurídica positiva,
por exigência ideal, por imperativo ético, deve estabelecer e garantir em suas
normas a liberdade de consciência. Não se fala de um direito subjetivo dentro de
uma ordem jurídica constituída, senão de um direito ideal no campo do Direito que
se deve estabelecer, isto é, in re de iure condendo80. (trad. nossa)
78
De acordo como Antonio Enrique Pérez-Luño estas definições poderiam ser assim classificadas:
a)Tautológicas, que não aportam nenhum elemento novo que permita a caracterização de tais direitos, tomando,
por exemplo, a afirmação de que os direitos do homem são aqueles que lhe correspondem pelo fato de ser
homem; b) Formais, são definições que não especificam o conteúdo destes direitos, limitando-se a alguma
indicação sobre o estatuto desejado ou proposto, como é o caso: os direitos do homem são aqueles que
pertencem ou devem pertencer a todos os homens, e dos quais nenhum homem pode ser privado; c)
Teleológicas, seriam as definições que apelam a certos valores últimos que se tornam suscetíveis de variadas
interpretações, a exemplo: os direitos do homem são aqueles imprescindíveis para o aperfeiçoamento da pessoa
humana, para o progresso social, para o desenvolvimento da civilização. Vid. PÉREZ-LUÑO, Antonio Enrique.
Derechos humanos, estado de derecho y constituición. 9ª. ed., Madrid: Tecnos, 2005. p. 27.
79
Ibidem, 2005. p. 50.
80
“Obviamente, cuando se habla de los ‘derechos del hombre’, con este vocablo ‘derechos’ no se piensa lo
mismo que cuando uno se refiere a los derechos que tiene el comprador según lo determinado en el Código civil
vigente, o a los derechos políticos del ciudadano de acuerdo con la Constitución de un cierto país. Por el
contrario, se piensa en otra cosa, y, sobre todo, en un plano diferente del Derecho positivo. Se piensa en una
exigencia ideal, la cual es formulada verbalmente diciendo ‘todos los hombres tienen el derecho - por ejemplo -
e a la libertad de conciencia’, lo cual no expresa un derecho subjetivo en el sentido técnico de estos vocablos, es
decir, con posibilidad de hacerle valer mediante el auxilio de los órganos jurisdiccionales y ejecutivos del
Estado. Expresa que el Derecho positivo, todo orden jurídico positivo, por exigencia ideal, por imperativo ético,
debe establecer y garantizar en sus normas la libertad de conciencia. No se habla de un derecho subjetivo dentro
de un orden jurídico constituido, sino de un derecho ideal en el campo del Derecho que se debe establecer, esto
es, in re de iure condendo”. In SICHES, Luis Recaséns. Tratado general de filosofia del derecho. p. 552.
44
Os Direitos Humanos, enquanto exigências ideais, estão intimamente
ligados à ética, sendo assim, estes “direitos” encontram origem e fundamento não no jurídico,
mas em algo prévio na pessoa humana. Esta visão conduz a uma semelhança entre os Direitos
Humanos e os direitos morais – ambos antepõem à positividade uma estrutura ética fundada
no homem, na pessoa humana e no ideal de justiça.
Interessante notar que esta visão dos Direitos Humanos está entrelaçada à
noção de direito natural, pois ambos encontram seu fundamento na pessoa humana. Os
jusnaturalistas sempre defenderam que os homens não podem ser tratados ao arbítrio do
poder, nem que seus direitos sejam apenas resultado e um consenso, senão que os direitos do
homem se originam da dignidade da pessoa humana, característica que nenhum outro ser
possui81.
81
Cfr. SERRANO, Javier Saldaña. Derecho natural. tradición, falácia naturalista e derechos humanos.
México: UNAM, 2012. p. 88.
82
Cfr. MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei natural. trad. Afrânio Coutinho, pref. Alceu Amoroso
Lima, 3ª. ed., Rio de Janeiro: José Olimpio Editora, 1967, p. 58.
83
TOMÁS DE AQUINO, Santo. Suma Teológica. II, q, 94, a.2.c.
45
referência ou conteúdo do que é justo por natureza, ou melhor dizendo, o que é conforme a
natureza racional do homem, portanto, é ali onde os direitos se fazem presentes84.
84
Cfr. SERRANO, Javier Saldaña. Derecho natural. tradición, falácia naturalista e derechos humanos. p. 121-
122.
85
MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei natural. p. 58.
86
SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica, II, q. 80, c.
87
Virtude seria, de acordo com Aristóteles, um hábito racional que torna o homem bom e permite-lhe cumprir
bem suas tarefas. Vid. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. II, 6, 1106a, 25, p. 47. São Tomás de Aquino quando
faz alusão à palavra virtude, retoma a ideia aristotélica, pois diz que a virtude é um hábito da alma.
88
Os valores, explicita Theodor Lessing, são determinações antecipadamente válidas e essenciais para qualquer
agir humano, de forma que, como pensou Kant, então seriam leis incondicionalmente válidas, que servem de
norma a qualquer princípio material, ou qualquer etapa de nossa vida. Contudo, esta lei que teria um caráter
puramente formal (por não estar relacionada às contingências das necessidades materiais de cada momento da
existência) e ideal, seria válida para todas as leis praticadas, devendo provocar um impulso motivador, conduzir
a vontade e a valoração feita pelos homens, os fins e os propósitos humanos e ao determiná-lo, deve obrigar (
Vid. LESSING, Theodor. Estudo acerca de la axiomática del valor. Trad. Luis Villoro, cuaderno 3, México:
UNAM, 1959, p. 5 – 6). Como ensina Johannes Hessen, o valor está intimamente relacionado ao sujeito, não
como ser valorante, mas como ser valioso. Neste sentido, afirma: Os valores acham-se referidos ao sujeito
humano, isto é, àquilo que há de comum em todos os homens. Referem-se àquela mais profunda camada do ser
que se acha presente em todo os indivíduos humanos e constitui o fundamento objectivo do seu ‘serem homens’”
(Vid. HESSEN, Johannes. Filosofia dos valores, pref. e trad. L. Cabral de Moncada, Coimbra: Almedina, 2001.
p. 51).
89
Cfr. DABIN, Jean. La philosophie de l’ordre juridique positif: specialement dans les rapports de droit privé.
Paris: Librairie Du Recueil Sirey, 1929, p. 320.
46
Entretanto, a natureza humana não se restringe a trazer ao conhecimento a
existência de Diretos Humanos, nela subjazem também os correlatos deveres. De modo que o
homem, enquanto inserido em uma comunidade, pois só ali realiza sua existência, possui o
direito de existir e a sociedade tem o dever correlato de criar meios e condições para que o
homem exista plenamente.
Esta lei escrita foi conhecida pelo homem pouco a pouco, caminhando junto
com o progresso da consciência moral, com o desenvolvimento do homem e de sua
racionalidade, de sua comunicabilidade e de sua transcendência. O conhecimento que hoje se
tem dessa lei natural inerente ao homem ainda é imperfeito, e sempre o será até o fim da
humanidade, pois o homem, enquanto ser transcendente, não nasce pronto, constrói-se. Assim
é que o homem do século XXI, não é o mesmo homem do século XVIII, as necessidades, os
problemas e as relações assumiram novas proporções.
90
Vid. BALERA, Wagner. Direitos humanos como modelo normativo. p.10.
47
Esta idéia advinda do direito natural encontra sua primeira expressão em
Aristóteles. Reconhecido pelo filósofo, na obra Ética a Nicômaco, que a justiça política é
complexa, fundindo-se nela duas perspectivas – a natural e a legal.
(...) A justiça política é em parte natural e em parte legal. A parte natural é aquela
que tem a mesma força em todos os lugares e não existe por pensarem os homens
deste ou daquele modo. A legal é o que de início pode ser determinado
indiferentemente, mas deixa de sê-lo depois que foi estabelecido (por exemplo, que
o resgate de um prisioneiro seja uma mina, ou deve ser sacrificado um bode e não
duas ovelhas), e também todas as leis promulgadas para casos particulares (como
mandava oferecer sacrifícios em honra de Brásidas), e as prescrições de decretos.
Algumas pessoas pensam que toda justiça é desta espécie, porque as coisas que
existem por natureza são imutáveis e em toda parte tem a mesma força (como o fogo
que arde aqui e na Pérsia), ao passo que essas pessoas observam alterações nas
coisas reconhecidas como justas. Isto porém, não é verdadeiro de modo absoluto
mas apenas em certo sentido; para os deuses talvez não seja verdadeiro de modo
algum, mas para nós existe algo que é justo mesmo por natureza, embora seja
mutável. De qualquer modo, existe uma justiça por natureza e outra por
convenção91.
91
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. V, c.7, 1133b, 20.
92
Cfr. SALDAÑA SERRANO, Javier. Derecho natural, tradición, falácia naturalista y derechos humanos. p.
67.
93
Cfr. COMPARATO. Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. p. 73.
48
reconhecimento, a garantia e a interpretação de direitos subjetivos no âmbito do direito
positivo.
94
“Art. 4º. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
(...) II - prevalência dos direitos humanos”. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988.
95
Vid. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários à Constituição de 1967- com a Emenda n.
1, de 1969. Tomo IV, 2ª. ed., rev., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1970, p. 625.
49
saudoso jurista não se referia aos Direitos Humanos, mas aos direito das gentes96. De modo
algum, pretende-se confundir aqui os conceitos de Direitos Humanos e direitos das gentes,
mas apenas se recorre ao texto do doutrinador alagoano como forma de demonstrar que antes
mesmo do texto constitucional de 1988, o constitucionalismo brasileiro já previa a existência
de normas suprapositivas a nortear a construção e interpretação do ordenamento jurídico.
96
De acordo com a definição de Emer de Vattel, “o direito das gentes é ciência do direito que tem lugar entre
Nações ou Estados, assim como das obrigações correspondentes a esse direito”. c.f. VATTEL, Emer. O direito
das gentes. pref. e trad. Vicente Marotta Rangel, Brasília: Editora Universidade de Brasília – UNB, 2004, p. 1.
97
STF. A constituição e o Supremo. Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/constituicao.asp>
acesso em 02 de outubro de 2013.
98
STF. A constituição e o Supremo. Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/constituicao.asp>
acesso em 02 de outubro de 2013
50
2. 3. DIREITOS FUNDAMENTAIS – ENFOQUE RELACIONAL DOS DIREITOS
HUMANOS E SUA POSITIVAÇÃO.
99
Cfr. DIMOULIS, Dimitri, MARTINS Leonardo: Teoria Geral dos Direitos Fundamentais São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2007, p. 24 – 26.
100
Quanto ao aspecto jurídico, sublinha o autor, de rigor considerar que os direitos fundamentais remontam ao
direito natural, “(...) a cuja evolução se liga, por isso, correntemente a sua ‘proto-história’.” Vid. ANDRADE,
José Carlos Vieira. Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976: Portugal: Almedina, 3ª. ed.,
2005, p.15.
101
Cfr. CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7ª. ed., 5ª. reimp.,
Coimbra: Almedina, 2003. p. 393.
51
ordem jurídica concreta, portanto, jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espaço-
temporalmente.
102
Cfr. PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Los derechos fundamentales. 9ª. ed., Madrid: Tecnos, 2007, p.42;
MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional: parte VI, direitos fundamentais, 3ª. ed. rev. e atual.,
Coimbra: Coimbra Editora, 2000. p. 52 – 54; CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direitos constitucional e
teoria da constituição. p. 393; BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. p. 560.
103
Vid. ROBLES, Gregório. Os direitos fundamentais e a ética na sociedade atual. trad. Roberto Barbosa Alves,
Barueri: Editora Manole, 2005. p. 6 – 7.
52
tanto uma moralidade básica, como uma juridicidade básica, pois neles está expressa a
relevância moral de uma ideia comprometida com a dignidade da pessoa humana e seus
objetivos de autonomia moral, e também a relevância jurídica que converte os pressupostos
éticos em normas materialmente fundamentais do ordenamento jurídico, de modo que o
homem possa desenvolver em sociedade toda a sua potencialidade104.
104
Vid. MARTINÉZ, Gregório Peces-Barba. Curso de derechos fundamentales: teoría general. 1ª. reimp.
Madrid: Universidad Carlos III de Madrid y Boletín Oficial del Estado, 1999, p. 37.
105
C.f. CAMPOS, Germán J. Bidart. Teoria general de los derechos humanos. p. 62.
106
VId. MURILLO, Pablo Lucas. El derecho a la autodeterminación informativa, Madrid: Tecnos, 1990, p. 17.
53
uma função institucional a partir da qual se deve alcançar a realização dos fins e valores
constitucionais proclamados.107
107
Cfr. PÉREZ-LUÑO, Antonio Enrique. Los derechos fundamentales, p. 25.
108
Cfr. MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional: Tomo IV, direitos fundamentais. p. 10;
CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. p. 379.
109
Vid. MARTINÉZ, Gregório Peces-Barba. Curso de derechos fundamentales: teoría general. p. 109.
110
Vid. Ibidem, p. 109.
111
Vid. Ibidem, p. 109-110.
54
determinado momento da cultura científica condicionam a ideia de liberdade informativa,
bem como a própria liberdade de comunicação.112
Este processo de alteração foi sintetizado por José Carlos Vieira de Andrade
em três ideias-força: acumulação, variedade e abertura.
112
Vid. MARTINÉZ, Gregório Peces-Barba. Curso de derechos fundamentales: teoría general, p. 112.
55
de direitos antigos, conforme as ameaças e as necessidades de proteção dos bens
pessoais nas circunstâncias de cada época113.
(...) Como se vê, quase sempre estamos diante de uma realidade social na qual
influem, até decisivamente, comportamentos humanos, o que em algumas ocasiões
produz a elaboração racional que leva a determinadas conclusões morais que, por
sua vez, podem influir nos direitos fundamentais pela qual a realidade está presente
de modo indireto na moralidade.114
113
ANDRADE, José Carlos Vieira. Os direitos fundamentais no século XXI, In: ROYO, Javier Pérez et al..
Derecho constitucional para el siglo XXI – actas del VIII congresso iberoamericano de derecho constitucional.
t. 1, Navarra: Editorial Aranzadi, 2006. p. 1052.
114
“Como se ve, casi siempre estamos ante una realidad social en la que influyen, incluso decisivamente,
comportamientos humanos, lo que en ocasiones produce elaboraciones racionales, que llevan a determinadas
concluiones morales que a su vez pueden influir en los derechos fundamentales con lo que la realidad social está
presente por la vía indirecta de la moralidad”. In MARTINÉZ, Gregório Peces-Barba. Curso de derechos
fundamentales: teoría general, pp. 386 – 387.
56
ético-moral que o constituinte reconhece como critério legitimador e justificador das normas
de direitos fundamentais115.
(...) porque vivemos, não em Estado liberal, mas sim em Estado social de Direito, os
direitos econômicos, sociais e culturais (ou os que neles se compreendam) podem e
devem ser dilatados ou acrescentados para além dos que se encontrem declarados
em certo momento histórico - precisamente à medida que a solidariedade, a
promoção das pessoas, a consciência da necessidade de correção de desigualdades
(com se queira) vão crescendo e penetrando na vida jurídica. E porque esses direitos
(ou grande parte deles) emergem como instrumentais em relação aos direitos,
liberdades e garantias, não há então que temer pela liberdade: desde que não se
perca, em nenhum caso, o ponto firme apresentado pelos direitos, liberdades e
garantias assegurados pela Constituição, quanto mais solidariedade mais segurança,
e quanto mais condições de liberdade mais adesão de liberdade.118
115
Vid. MARTINÉZ, Gregório Peces-Barba. Curso de derechos fundamentales: teoría general, p.411 – 412.
116
Vid. ANDRADE, José Carlos Vieira. Os direitos fundamentais no século XXI, p. 1052.
117
Vid. MIRANDA, Jorge. Curso de direito constitucional: Tomo IV, direitos fundamentais, p. 164 – 165.
118
Ibidem, p. 166.
57
toda e qualquer situação que a coloque em risco, na concepção de que a pessoa é o
fundamento e o fim do Estado e da sociedade.
119
Cfr. GONZÁLES PÉREZ, Jesús. La dignidad de La persona. Madrid: Civitas, 1986. p. 19; MIRANDA,
Jorge. Diginidade da pessoa humana e a unidade valorativa dos direitos fundamentais. In: Tratado luso-
brasileiro da dignidade humana. Coordenação Miranda, Jorge; Silva, Marco Antonio Marques da. São Paulo:
Quartier Latin, 2009. p. 168.
120
Vid. PIETRO ALVAREZ, Tomás. La dignidad de la persona: núcleo de la moralidad y el orden públicos,
limite al ejercício de libertades públicas, Navarra:Thompson Civitas, 2005. p. 6.
58
Interessante notar que a Lei Fundamental alemã não coloca a dignidade e os
direitos fundamentais em um mesmo plano, sendo superior, a dignidade abre a possibilidade
de acrescer outros novos direitos que nela encontrem fundamento.
e) Cada pessoa vive em relação comunitária, mas a dignidade que possui é dela
mesma, e não da situação em si;
59
g) A dignidade da pessoa permanece independente dos seus comportamentos
sociais;
122
MIRANDA, Jorge. Dignidade da pessoa humana e a unidade valorativa dos direitos fundamentais, p. 170.
123
Cfr. GONZÁLES PÉREZ, Jesús. La dignidad de La persona, p. 7; PIETRO ALVAREZ, Tomás. La dignidad
de la persona: núcleo de la moralidad y el orden públicos, limite al ejercício de libertades públicas, p. 8.
124
Humanismo é o movimento filosófico que toma o homem por seu fundamento, como medida das coisas e em
nosso caso, do direito. Cfr. verbete HUMANISMO, ABBAGNANO, Nicola, Dicionário de Filosofia. p. 602.
60
governo social, sendo necessária a construção de um homem artificial maior em estatura e
força; surge daí o Estado, este ser artificial capacitado a controlar a natureza maligna do
homem, e que através do poder de legislar é o único habilitado a editar regras para a
manutenção da ordem pública125.
(...) supondo que haja alguma coisa cuja existência em si mesma tenha um valor
absoluto e que, como fim em si mesma, possa ser o fundamento de determinadas
leis, nessa coisa, e somente nela, é que estará o fundamento de um possível
imperativo categórico, quer dizer, uma lei prática.
(...) o homem – e, de uma maneira geral, todo o ser racional – existe com fim em si
mesmo, e não apenas como meio para o uso arbitrário desta ou daquela vontade. Em
todas as suas ações, pelo contrário, tanto nas direcionadas a ele mesmo como nas
que o são a outros seres racionais, deve ser ele sempre considerado simultaneamente
como fim126.
125
Esta é a visão humanista de Hobbes, ao defender que o Estado monárquico é a melhor forma de governo. Vid.
HOBBES, Thomas, Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad. João Paulo
Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva, 1ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 9; GOYAR-FABRE.
Simone. Os princípios filosóficos do direito político moderno. Trad. Irene A. Paternot, 1ª. ed., 2ª. tiragem, São
Paulo: Martins Fontes. 2002. p. 96.
126
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes e outros escritos. p. 58.
61
faz com que ele viva em um “estado jurídico”, ou seja, sob condições únicas que permitem a
cada um participar de seu direito127.
127
Vid. KANT, Immanuel. Doutrina do direito. trad. Edson Bini, 4ª. ed. rev. atual, coleção fundamentos do
direito, São Paulo: Ícone. 2013, p.146.
128
KANT. Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes e outros escritos, p. 59.
129
Ibidem. p. 68.
130
Cfr. PIETRO ALVAREZ, Tomás. La dignidad de la persona: núcleo de la moralidad y el orden públicos,
limite al ejercício de libertades públicas, p. 8.
131
Vid. KANT. Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes e outros escritos. p. 68.
62
2. 6. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS.
132
O Supremo Tribunal Federal afirmou que qualificar um direito como fundamental não importa atribuir-lhe
importância meramente retórica: “(...) Com efeito, as normas definidoras de direitos fundamentais não são
simples recomendações aos Poderes do Estado, destituídas de qualquer eficácia” (RE 631631/SC, julgado em 23
de janeiro de 2014, publicado em 6 de fevereiro de 2014, relatora Ministra Cármen Lúcia).
133
No exame do tema, Ingo Wolfgang Sarlet alude à característica da fundamentalidade, intrínseca à noção de
direitos fundamentais, que, consoante a lição de Robert Alexy, recepcionada na doutrina de Gomes Canotilho,
alude a uma especial dignidade e proteção dos direitos em um sentido formal e material: “A fundamentalidade
formal” – leciona o professor brasileiro - “encontra-se ligada ao direito constitucional positivo e resulta dos
seguintes aspectos, devidamente adaptados ao nosso direito constitucional pátrio: a) como parte integrante da
Constituição escrita, os direitos fundamentais situam-se no ápice de todo o ordenamento jurídico, de tal sorte que
– neste sentido – se cuida de direitos de natureza supralegal; b) na qualidade de normas constitucionais,
encontram-se submetidos aos limites formais (procedimento agravado) e materiais (cláusulas pétreas) da reforma
constitucional (art.60 da CF), cuidando-se, portanto (pelo menos num certo sentido) e como leciona João dos
Passos Martins Neto, de direitos pétreos, muito embora se possa controverter a respeito dos limites da proteção
outorgada pelo Constituinte (...); c) por derradeiro, cuida-se de normas diretamente aplicáveis e que vinculam de
forma imediata as entidades públicas e privadas (art.5º., § 1º., da CF). A fundamentalidade material, por sua vez,
decorre da circunstância de serem os direitos fundamentais elemento constitutivo da Constituição material,
contendo decisões fundamentais sobre a estrutura básica do Estado e da sociedade. Inobstante não
necessariamente ligada à fundamentalidade formal, é por intermédio do direito constitucional positivo (art.5º., §
2º., da CF) que a noção de fundamentalidade material permite a abertura da Constituição a outros direitos
fundamentais não constantes de seu texto e, portanto, apenas materialmente fundamentais, assim como a direitos
fundamentais situados fora do catálogo, mas integrantes da Constituição formal, ainda que possa controverter-se
a respeito da extensão do regime da fundamentalidade formal a estes direitos apenas materialmente fundamentais
(...)”. In SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, pp. 86 – 87.
134
O aspecto formal dos direitos fundamentais está associado à constitucionalização do direito. Vid.
CANOTILHO, Joaquim José Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição, p. 379.
63
segurança, classificados como imutáveis ou alteráveis por processos legislativos mais
dificultosos (a exemplo da Emenda Constitucional).
Historicidade e Progressividade:
135
Sob pena de violação ao princípio da proibição do retrocesso.
136
No STRF, em voto proferido no julgamento do Habeas Corpus 104410/RS, em 6 de março de 2012, o relator
Ministro Gilmar Mendes, com supedâneo na doutrina alemã, afirmou que os “(...) direitos fundamentais não
podem ser considerados apenas como proibições de intervenção (Eingriffsverbote), expressando também um
postulado de proteção (Schutzgebote). Utilizando-se da expressão de Canaris, pode-se dizer que os direitos
fundamentais expressam não apenas uma proibição de excesso (Übermassverbote), como também podem ser
traduzidos como proibições de proteção insuficiente ou imperativos de tutela (Unbermassberbote).
64
O caráter histórico e progressivo dos direitos do homem encontra-se
explicitado no §2º., do art. 5º. da Constituição Federal de 1988, e também foi reconhecido
pelo Supremo Tribunal Federal137 em acórdãos que tratam da prisão do depositário infiel.
Universalidade:
137
STF, Recurso Extraordinário nº. 466.343, relator Ministro Cezar Peluso, voto proferido pelo Ministro Gilmar
Mendes, julgamento em 3.12.2008, Plenário, DJE de 05 de junho de 2009; Habeas Corpus nº. 98.893-MC,
relator Ministro Celso de Mello, decisão monocrática, julgamento em 09 de junho de 2009, DJE de 15 de junho
de 2009; Recurso Extraordinário nº. 349.703, relator p/ac. Ministro Gilmar Mendes, julgamento em 03 de
dezembro de 2008, Plenário, DJE de 05 de junho de 2009.
65
como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma
proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da
que oferece o direito interno dos Estados americanos”; e também nos artigos 3º. a 25;
Inalienabilidade e Irrenunciabilidade:
138
No julgamento do Recurso Extraordinário 631631/SC, em 23 de janeiro de 2014, o Supremo Tribunal Federal
enfatizou que qualificar um direito como fundamental não importa atribuir-lhe importância meramente retórica.
Certo que as normas definidoras de direitos fundamentais não são simples recomendações aos Poderes do
Estado, destituídas de qualquer eficácia. (publicado em 06 de fevereiro de 2014, relatora Ministra Cármen
Lúcia).
139
Vid. SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 32ª. ed., rev. e atual., São Paulo:
Malheiros, 2009, p. 181.
66
Imprescritibilidade:
Limitabilidade:
140
Cfr. SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. p. 185.
141
A temática traz a lume o debate entre teoria interna e teoria externa do direito que, consoante Felipe de Paula,
“(...) antes de ser questão específica da dogmática dos direitos fundamentais é querela basilar do direito como
um todo”. In PAULA, Felipe. A (DE)Limitação dos Direitos Fundamentais, Porto Alegre, Livraria do Advogado
Editora, 2010, p. 49.
142
O fenômeno da colisão de direitos alude ao fato de que duas normas, caso aplicadas isoladamente, levariam a
resultados inconciliáveis entre si, ou como diz Robert Alexy “(...) dois juízos concretos de dever-ser jurídico
contraditórios”. Robert Alexy, analisando a estrutura das normas de direitos fundamentais no contexto alemão,
identifica a existência de normas principiológicas,“(...) normas que ordenam que algo seja realizado na maior
medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes. (...) Princípios são, por conseguinte,
mandamentos de otimização que são caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de
que a medida devida de sua satisfação não depende somente das possibilidades fáticas, mas também das
possibilidades jurídicas. O âmbito das possibilidades jurídicas é determinado pelos princípios e regras
colidentes.” Deste modo, diante de um caso de colisão, um dos princípios terá precedência sobre o outro, em
razão de determinadas condições. Não se trata de análise de validade, pois aqui ambos serão válidos, mas de
sopesamento de interesses. Vid. ALEXY. Robert. Teoria dos direitos fundamentais. trad. Virgilio Afonso da
Silva, 2ª. ed., 2ª. tir., São Paulo: Malheiros, 2012, pp. 90-94.
67
subjetivas fundamentais prima facie). Daí resulta frequente embate, colisão de direitos que
pode ocorrer: i) quando o exercício de um direito humano colide com o exercício de outro
direito humano; ii) ou ainda quando o exercício de um direito fundamental do homem colide
com a necessidade de preservar um bem coletivo ou público que tenha recebido proteção
especial por parte do texto constitucional143.
Concorrência:
68
jurídicas –, também o insere em um novo espaço, ofertando-lhe novas oportunidades de
exercício dos direitos, de desenvolver-se individual e socialmente, como será visto na parte II
deste estudo.
69
PARTE II – NOVAS TECNOLOGIAS INFORMATIVAS, DIREITOS
HUMANOS E O DIREITO DE ACESSO À INTERNET.
145
Vid. LEVY, Pierre. Cibercultura. trad. Carlos Irineu da Costa, 3ª. ed., 1ª. reimp., São Paulo: Editora 34, 2011,
p. 125
146
Cfr. CASTELLS, Manuel. A galáxia internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Trad.
Maria Luiza S. de A. Borges, rev. Paulo Vaz, Rio de Janeiro: Zahar, 2003, 19 – 24; RODRIGUÉZ. José Julio
Fernández. Lo público y lo privado en internet: intimidad y libertad de expresión en la red. México: Universidad
Nacional Autônoma de México, 2004, pp. 6 – 9; ÁLVAREZ, Clara Luz, Internet y derechos fundamentales.
México: Editorial Porrúa, 2011, p. 4; CARDON, Dominique. A democracia internet: promessas e limites. trad.
Nina Vincent e Tiago Coutinho, rev. técnica Manoel Barros da Motta, Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2012, pp. 7 – 8; ERCÍLIA, Maria; GRAEFF, Antonio. A internet. 2ª. ed., São Paulo: Publifolha, 2008, p. 12.
147
Cfr. CASTELLS, Manuel. A galáxia internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. pp. 13 –
14; ÁLVAREZ, Clara Luz, Internet y derechos fundamentales. pp. 4 – 5.
71
À época, os computadores e as redes já eram uma realidade, porém, a
dimensão de operação destes modos de troca de informações encontrava limites espaciais.
Geralmente, relacionava-se a um conceito de rede local em que os computadores eram ligados
por cabos dentro de uma área restrita, além de cada uma das redes funcionar através de
protocolos próprios (em termos menos técnicos – uma linguagem própria) que impediam
diálogo entre as redes existentes. Assim, em 1969, a ARPA deu início às articulações para
desenvolver a ARPANET, cujo desafio proposto era intercomunicar os computadores, de
modo a facilitar a transmissão de informações por meios alternativos ao modelo centralizado
das redes de telecomunicações148, preservando uma estrutura descentralizada de
armazenamento e de transmissão de dados para manter a salvo de ataques inimigos todo o
arcabouço de informações imprescindíveis, pois o acesso ao conteúdo integral de tais
informações poderia causar um colapso na estrutura governamental e militar. Portanto, desde
o início a característica da descentralização e a inexistência de hierarquia estavam presentes,
ainda que naquele momento se apresentassem para o governo norte- americano como táticas
defensivas de preservação e segurança estatal149.
148
Como explica Clara Luz Alvarez, as redes de telecomunicações apresentam um controle centralizado (a
operação de comunicação se em rede efetua-se por um caminho determinado por uma central de modo a se ter
um controle sobre o que se passa na rede) e funcionam por meio da tecnologia de comutação de circuitos, ou
seja, a comunicação é estabelecida por uma ligação, de modo que enquanto durar uma chamada, que ocorre em
tempo real, é impossível estabelecer uma comunicação concomitante. Vid. ALVAREZ, Clara Luz, Internet y
derechos fundamentales. pp. 6 – 7.
149
Cfr. RODRIGUÉZ. José Julio Fernández. Lo público y lo privado en internet: intimidad y libertad de
expresión en la red. p. 7.
150
Cfr. Ibidem, p. 7
72
O impulso evolutivo da tecnologia informática de rede deu-se no ano de
1971, com a criação do primeiro programa de correio eletrônico151 por Ray Tomlinson. O
programa de e-mail desenvolvido originariamente para a Arpanet, além de estabelecer um
meio eficaz de transmissão de dados de uma máquina a outra, criou uma nova forma de
comunicação que, no final do ano de 1973, avançou das simples comunicações por conexões
de redes locais e regionais para conexões internacionais visando troca de investigações
acadêmicas152.
73
computadores para todos os lugares. Prestou-se, ainda, a assentar as bases da generalização do
seu uso, de modo que o intuito de criar um espaço emancipado no qual seria possível
reconstruir a sociedade estivesse cada vez mais próximo de sua concretização, porquanto,
formadas nesta década as primeiras comunidades, os primeiros fóruns temáticos de discussão
que versavam sobre tecnologia155.
155
Cfr. RODRIGUÉZ. José Julio Fernández. Lo público y lo privado en internet: intimidad y libertad de
expresión en la red. p. 7
156
Vid. BERNERS-LEE, Tim, Tejiendo la red, el iventor del word wide web nos descubre su origen. trad.
Mónica Rubio Fernández, Madrid: Siglo Veinteuno de España Editores, 200p, p. 1 – 6.
157
Vid. Ibidem, p. 7 – 31.
74
possuía versões para os tipos de computador existentes à época, e possibilitava trafegar entre
páginas diversas, algo corriqueiro nos dias atuais158.
158
Vid. ERCILIA, Maria e GRAEFF, Antonio. A Internet. p. 20.
159
Vid. Ibidem, p. 47.
160
Vid. Ibidem, pp. 48 – 49.
161
Vid. Ibidem, p. 47.
75
aos usuários tornarem-se produtores de tecnologia, artesãos que modelam a arquitetura da
rede, sempre aberta a transformações.
162
Vid. BERNERS-LEE, Tim. Tejiendo la red: o inventor del word wide web nos descubre su origen. p. 115.
163
MURARO. Rose Marie. Os avanços tecnológicos e o futuro da humanidade: querendo ser Deus. Petrópolis:
Vozes, 2009 . p. 53.
164
Cfr. Ibidem, p. 174
76
prosperam na criatividade tecnológica livre e aberta, incrustada em redes virtuais que
pretendem reinventar a sociedade (...)” 165, enquanto que para Pierre Levy:
(...) Tudo o que espontaneamente adentra o mundo humano, ou para ele é trazido
pelo esforço humano, torna-se parte da condição humana. O impacto da realidade do
mundo sobre a existência humana é sentido e recebido como força condicionante. A
objetividade do mundo – o seu caráter de coisa ou objeto – e a condição humana
completam-se uma a outra; por ser uma existência condicionada, a existência
humana seria impossível sem as coisas, e estas seriam um amontoado de artigos
incoerentes, um não mundo, se esses artigos não fossem condicionantes da vida
humana168.
(...) A mudança que se dá hoje nas comunicações implica, mais que uma simples
revolução técnica, a transformação completa de tudo o que é necessário para
compreender o mundo que a envolve e para verificar e expressar a percepção do
165
CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade, p. 53.
166
LEVY, Pierre. Cibercultura. p. 17.
167
“Para evitar erros de interpretação: a condição humana não é o mesmo que a natureza humana, e a soma total
das atividades e capacidades humanas que correspondem à condição humana não constitui algo que se assemelhe
à natureza humana.” In ARENDT, Hannah. A condição humana. trad. Roberto Raposo, 10ª. ed., 5ª. reimp., Rio
de Janeiro, 2005, p. 18.
168
Ibidem, p. 17.
77
mesmo. A apresentação constante das imagens e das ideias, assim como a sua
transmissão rápida, até mesmo de um continente para outro, têm consequências
simultaneamente positivas e negativas, no desenvolvimento psicológico, moral e
social das pessoas, na estrutura e no funcionamento da sociedade, na partilha de
uma cultura com outra, na percepção e na transmissão dos valores, nas ideias do
mundo, nas ideologias (...).169
78
As ciências informáticas apresentam definição de cunho técnico, em que a
Internet aparece como uma rede de transmissão de dados e de comunicação de abrangência
mundial que, por meio de linhas telefônicas, cabos de transmissão de sinal de TV, ou
frequência de rádio, une milhares de outras redes170 utilizando um protocolo comum
(TCP/IP171), de modo a permitir que um computador conectado a uma rede se comunique com
um ou vários outros equipamentos informáticos conectados a outras variadas redes172.
170
As redes que integram a Internet, desde um poto de vista topológico sao de tipos diversos como: LAN (local
area network), redes locais que ligam computadores que estão dentro de um mesmo espaço fisico; MAN
(metropolitan area network), redes metropolitanas que conectam diversas redes locais dentro de um determinado
periometro espacial; WAN (wide area network) redes de longa distâncai que conectam redes locais e
metropolitanas em periometro mais alargado, como um país ou até um continente. Cfr. RODRIGUÉZ. José Julio
Fernández. Lo publico u lo privado en internet: intimidad y liberdad de expression en la red. p. 1.
171
TCP/IP (transmission control protocol/Internet protocol), refere-se ao protocolo que controla as transmissões
na Internet. Faz parte da tecnologia digital que trata das telecomunicações geradas e recebidas por aparelhos .
Cfr. ERCÍLIA, Maria; GRAEFF, Antonio. Internet. p. 119.
172
Cfr. Ibidem. p. 116
173
BRASIL. Agência Nacional de Telecomunicações. Norma nº. 004/95 aprovada em 31 de Maio de 1995 pela
Portaria nº. 148. Do Ministério das Comunicações. Disponível em:<http://legislacao.anatel.gov.br/normas-do-
mc/78-portaria-148> acesso em 03 fevereiros de 2013.
174
BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Guia do Usuário Internet/Brasil – versão 2.0. 1996. Disponível
em:<https://www.rnp.br/_arquivo/documentos/rpu0013d.pdf>, acesso em 03 de fevereiro de 2013.
79
A mais recente definição legal vem apresentada na recente Lei nº. 12.965,
de 23 de abril de 2014, data do início da Conferência Mundial sobre a Internet, realizada no
Brasil (Net Mundial). Para os efeitos da lei, também conhecida como Marco Civil da
Internet, considera-se Internet “o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos,
estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a
comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes” 175.
Manuel Castells relembra que a noção de rede era utilizada pelo homem,
principalmente nas relações de produção. Neste sentido, a rede consistia em meio
organizacional capaz de potencializar o êxito no cumprimento de metas definidas, através da
congregação de recursos e divisão de tarefas de modo hierarquizado, havendo sempre um
comando e um controle vertical (neste sentido de rede hierárquica, por exemplo, é que foram
175
BRASIL. Lei nº. 12.965/2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L12965.htm>, acesso em 24 de abril de 2014.
176
Sobre a natureza social do homem vid. nesta Dissertação p. 27 – 29.
177
Neste sentido é a posição de Hernani Dimantas, quando diz que somos seres em relação, porém sua
fundamentação filosófica se encontra no pensamento de Spinosa, para quem não há individuo que não esteja em
relação com outrem. Cfr. DIMANTAS, Hernani. Linkania: uma teoria de redes. São Paulo: Editora SENAC São
Paulo, 2010, p. 20.
178
Cfr. Ibidem, p. 45.
80
179
formados os feudos, e tempos depois o Estado) . O desenvolvimento de novas tecnologias
da computação, principalmente aquelas relacionadas à informação e comunicação, libertou a
noção de rede da estrutura rígida e piramidal de comando e assumiu sua real essência, de
malha flexível e adaptável, em razão de sua trama horizontal ser formada por vasto conjunto
de nós interconectados180.
O douto jurista espanhol, ainda que faça referência a termos utilizados nas
definições técnicas, quando diz ser a Internet uma rede interconectada de computadores,
apresenta a pessoa como o sujeito atuante, quem realmente interage na rede. É a pessoa
humana o sujeito a quem se destina a tecnologia.
179
Cfr. CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. pp. 7-
8.
180
Cfr. CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. p. 8.
181
Vid. PÉREZ-LUÑO, Antonio Enrique. La tercera generación de derechos humanos. p. 91.
81
O sociólogo Manuel Castells conceitua Internet como meio de comunicação
em rede que, pela primeira vez na história da humanidade, permitiu ao homem experimentar a
comunicação de muitos para muitos, em uma escala global, de modo que os efeitos
transformadores desse novo processo de comunicação podem ser sentidos na própria
organização social. Daí porque, admite considerar-se a Internet como instrumento
fundamental para o desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo182.
82
todos”, acrescenta que a natureza descentralizada da rede (baseada na ausência de um
proprietário), fez renascer o sonho de uma comunidade harmônica em escala planetária – uma
aldeia global186. Dá-se início à materialização do sonho contracultural, de uma comunidade
composta por pessoas em um novo lugar; pessoas que ali são denominadas internautas e que
partilham de um conjunto de valores e sentimentos de familiaridade que transcendem as
distâncias espaciais, sociais e institucionais.
No entanto, vale adiantar, a Internet não pode apenas ser conceituada como
um meio de comunicação ou informação, apresenta-se, também, como um locus, conforme
será estudado no próximo capítulo188.
186
Vid. GONÇALVES, Maria Eduarda. Direto da informação: novos direitos e formas de regulação na
sociedade da informação. Coimbra: Almedina, 2003, pp. 138 – 139.
187
VATICANO, Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. Ética na internet. Disponível em
<http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_pccs_doc_20020228_ethics-
internet_po.html>, acesso em 02 de dezembro de 2012.
188
Sobre o conceito de Internet como um novo espaço, um novo lugar do homem no mundo, vid. pp. 116-119
desta Dissertação.
83
3. 3. A RELEVÂNCIA DA INTERNET NA SOCIEDADE – MEIO HABILITADOR
DO EXERCÍCIO DE DIREITOS HUMANOS.
É fato que na vida cotidiana as pessoas cada vez mais fazem uso da Internet
em variados contextos, seja para comunicar-se com amigos e familiares, resolver assuntos
profissionais, fazer negócios, trabalhar, cumprir obrigações tributárias, assistir aulas à
distância, assistir a um documentário, ter acesso a um livro, realizar pesquisas, dentre tantas
189
Vid. PNUD. Informe 2013 – Objetivo de Desarrollo del Milênio. Disponível em <
http://www.undp.org/content/dam/undp/library/MDG/spanish/mdg-report-2 >, acesso em 08 de setembro de
2013.
190
Também conhecida por sua sigla ITU (International Telecomunication Union) é uma agência da ONU que
cuida especificamente das tecnologias da informação e comunicação, com a função de através de
Recomendações, estabelecer padrões internacionais relacionados às tecnologias de telecomunicações em geral.
A criação da ITU é anterior à própria ONU, data de 14 de maio de 1865, quando da assinatura da primeira
Convenção Internacional do Telégrafo. O Brasil integra a ITU deste de 04 de julho de 1877. Informações
disponíveis em <http://www.onu.org.br/onu-no-brasil/uit/>, acesso em 03 de janeiro de 2014; e
<http://www.itu.int/es/about/Pages/default.aspx>, acesso em 03 de janeiro de 2014.
191
Vid. CONSELHO da EUROPA, Declaration of the committee of ministers on human rights and the rule of
law in the information society, CM (2005) 56 final, 13 de maio de 2005.
192
Cfr. ALVAREZ, Clara Luz. Internet y derechos fundamentales. pp. 76 – 77.
84
outras possibilidades. Considerada símbolo de progresso e modernidade, o acesso amplo a
esta nova tecnologia da informação e comunicação assume importante papel no cenário
mundial e nacional. Trata-se de canal que, na atualidade, permitiu ampliar a atuação do
homem no tempo e no espaço, influindo sobremaneira nas esferas sociais, culturais e
econômicas.
3. 3. 1. Democracia e Internet
193
Cfr. GONÇALVES, Maria Eduarda. Direito da Informação: novos direitos e formas de regulação na
sociedade da informação. Coimbra: Almedina, 2003. p. 11.
194
Cfr. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. p. 94.
85
direto e secreto, adquiriu nos últimos tempos significado mais amplo, que indica um modo de
ser e de pensar, em razão de intrínseca relação com os Direitos Humanos. Atualmente,
inseridas no âmbito da democracia estão as noções de pluralismo e participação, além de
diversos elementos valorativos que a tornam verdadeiro princípio de convivência, a ponto de
dizer-se, em suma, que é uma cultura – a cultura democrática195. Sob tal ótica, opera-se um
salto, deixa a democracia de ser vista somente como um sistema de governo e passa a ser
entendida como um valor196 .
195
Neste sentido, o termo democracia ultrapassou o significado político do governo do povo pelo povo –
enquanto forma de governo – indicando sobretudo um modo de ser e de pensar, como observa Nicola
Abbagnano. (In Dicionário de Filosofia. p. 277). É neste sentido ampliado que o francês Dominique Cardon,
apresenta a Internet como um potencializador da implementação de uma cultura democrática que ultrapassa a
experiência entre representantes e representados, já que o processo deliberativo é ampliado, vivencia-se uma
auto-organização, implementação de coletivos transnacionais; o saber é socializado, além de contribuir para o
desenvolvimento de competências críticas, entre tantas outras situações. (In A democracia internet: promessas e
limites. p. 1).
196
Cfr. RODRÍGUEZ, José Julio Fernández. Lo público y lo privado en internet: intimidad y libertad de
expresión en la red. p. 199.
86
Como assevera Clara Luz Alvarez, os meios eletrônicos trouxeram um novo
espaço para o exercício da democracia. Tal relação ficou conhecida também como e-
democracia, alusiva à aproximação cidadão/governo, e ainda, ao processo participativo nas
tomadas de decisões197.
Consoante José Julio Fernández Rodríguez, a Internet deve ser havida como
auxílio para que a complexidade da sociedade se reflita no exercício do poder político, diante
de individualismos disfuncionais. Acrescenta o autor, ainda, que a permeabilidade do poder
político se vê melhorada com a rede, ao facilitar o contato com o cidadão199.
197
Neste ponto, o Marco Civil da Internet é no contexto brasileiro uma demonstração da contribuição da Internet
para chegar-se ao texto legal apresentado em 2011 - Projeto de Lei nº. 2.126/2011.
198
O Pluralismo, tomado como corrente do pensamento político moderno que se opõe à tendência de
concentração e unificação do poder, reporta à concepção que propõe como modelo uma sociedade composta por
vários grupos ou centros de poder, mesmo que sejam conflitantes entre si, aos quais é atribuída a função de
limitar, controlar, contrastar, até o ponto de eliminar um poder dominante. Não é separação de poderes de modo
vertical, nem se assemelha à teoria liberalista clássica que propõe limitar a onipotência do Estado pela
impossibilidade de atuar em determinadas esferas de atividade (religiosa, econômica e social de modo geral).
Também não pode ser confundida com a teoria democrática que vê na participação dos cidadãos - do modo mais
amplo possível - o remédio para o controle do poder. Contudo, o pluralismo é compatível com tais correntes,
pois persegue um objetivo comum, o Estado como centro único de poder. (BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI,
Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. trad. Carmem C. Varriale, Gaetano Lo Mônaco, João
Ferreira, Luís Guerreiro P. Caçais e Renzo Dini, 11ª. ed., Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998, p.
928) O termo pluralismo deve aqui ser tomado em seu sentido mais ideológico que teórico - como proposta de
ação prática que vise a coexistência de vários interesses, opiniões e experiências.
199
Cfr. RODRÍGUEZ, José Julio Fernández. Lo público y lo privado en internet: intimidad y libertad de
expresión en la red. p. 201.
87
também deve velar a fim de que o pluralismo não seja submetido ao controle dos mercados
informativos pelos setores empresariais interessados200.
Por todo o exposto, inafastável reconhecer que a Internet deve ser vista
como uma força de democratização que ultrapassa as barreiras nacionais e culturais, facilita a
difusão de ideias pelo mundo, e permite às pessoas que compartilham as mesmas opiniões,
crenças e ideologias, se encontrar no domínio do ciberespaço202.
3. 3. 2. A Internet e as Liberdades
88
tempo, de três concepções que foram se sobrepondo no transcorrer da História, mas que
auxiliam na intelecção do respectivo conceito. A primeira, advinda do pensamento clássico
antigo, coloca a liberdade como uma causa em si mesma; a visão metafísica apregoa a
liberdade como autodeterminação ou autocausalidade, pois resulta na ausência de condição ou
limites203.
(...) nas coisas em que a ação depende de nós a não ação também depende; e nas
coisas em que podemos dizer não também podemos dizer sim. De tal forma que, se
realizar uma boa ação depende de nós, também dependerá de nos realizar a má
ação204.
203
Cfr. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. pp. 699- 702.
204
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, III, 5, 1113b 10. p. 65.
205
Cfr. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. p. 702-703.
206
Cfr. Ibidem, p. 703-704
89
seu agir (que se dá em um processo externo). A liberdade, para a ilustrada autora, passa a ser
compreendida como manifestação da pessoa humana, do homem no espaço público, que se dá
através da ação e da linguagem207.
207
Vid. ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. trad. Mauro W. Barbosa de Almeida, 2ª ed., São Paulo:
Editora Perspectiva, 1988, pp. 194- 220.
208
Vid. BOBBIO. Norberto. Igualdade y libertad. pp. 97 – 98.
209
Cfr. Ibidem, pp. 98– 100.
210
Vid. Ibidem, pp. 100 - 102.
90
àquela de cuja criação participa. É neste sentido a ideia de liberdade defendida por Rousseau
no contrato social211, e por Kant212 na construção da paz perpétua.
Por sua vez, Gregório Peces-Barba Martínez reconhece que a liberdade pode
ser analisada sob tríplice modalidade: não interferência, promocional e participação.
211
Cfr. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social; Ensaio sobre a origem das línguas; Discurso sobre a
origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens; Discuros sobre as ciência e as artes. trad. Lourdes
Santos Machado, introd. e notas Paul Arbousse-Bastide, Lourival Gomes Machado, São Paulo : Abril
Cultural, 1978, pp. 36 – 37.
212
Cfr. KANT, Immanuel. À paz perpétua. trad. Marcos Zingano, Porto alegre : L&PM, 2011, pp. 24 – 25.
213
Cfr. MARTÍNEZ, Gregório Peces-Barba. Curso de derechos fundamentales: teoria general. pp. 221, 222 –
227.
214
Cfr. Ibidem, p. 222 – 225, 227.
215
C.f. Ibidem, p. 225, 226 – 228.
91
Ao constatar que é condição imprescindível para o agir do homem na vida
em sociedade, a liberdade atua no âmbito da sociedade política, tanto por meio do individuo,
como por meio do poder, refletindo-se nos Direitos Humanos e nos princípios de organização
política.
216
O termo domínio está empregado no sentido de aquisição e ampliação do conhecimento.
217
Cfr. SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. p. 231 – 232.
218
ONU. Declaração Universal dos direitos humanos (“… considerando que o reconhecimento da dignidade
inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da
liberdade, da justiça e da paz no mundo.”; art. 1º. “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e
direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade”).
92
autoriza reconhecer que estamos entrando em um novo estado de evolução humana – o
infolítico219.
219
O termo infolítico é empregado para referir-se ao período atual da evolução humana, em que o homem
organiza sua comunidade através da comunicação, dos Meios de comunicação atrelados à cultura digital do BIT.
Meios com maiúscula, pois como explicam David Tuner e Jesus Muñoz, “(…) os Meios condicionam a
sociedade humana e os Meios determinam o relacionamento e a evolução da nossa sociedade”. (in TUNER,
David; MUÑOZ, Jesus. Para os filhos dos filhos dos nossos filhos: uma visão da sociedade internet. 2ª ed., São
Paulo: Summus Editorial, 2001, pp. 17 – ss).
220
Vid. ALVAREZ, Clara Luz. Internet y derechos fundamentales. p. 80.
221
SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. p. 243.
93
acesso à informação), todos do art. 5.º, combinado com os artigos 220 a 224 (Capítulo que
trata da Comunicação Social) da Carta de 1988.
222
O conteúdo da mensagem importa ao estudo da liberdade de informação, vid. nesta Dissertação pp. 96- 100.
223
Cfr. FERREIRA, Aluísio. Direito à informação, direito à comunicação: direitos fundamentais na
constituição brasileira. São Paulo: Celso Bastos Editor, 1997. p. 175. Em semelhante sentido é a posição de
Jorge Miranda. Segundo o jurista português, trata-se de uma liberdade social (liberdade de comunicação social)
que congloba as liberdades de expressão e informação, que deve ser tomada em uma acepção institucional, visto
pressupor uma organização (em um sentido empresarial), ainda que dependa sempre de atividades de pessoas
individualmente consideradas (v.g. jornalistas, radialistas, colaboradores, leitores, ouvintes, telespectadores).
MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional: parte IV, direitos fundamentais. pp. 456 – 457.
224
Vid. MIRANDA, Jorge. Idem, p. 456.
94
devido à sua natureza ambivalente, envolvendo feixes de direitos humanos, e ao mesmo
tempo, traduzindo-se em um fenômeno de poder225.
225
Cfr. MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional: parte IV, direitos fundamentais. p. 457.
226
Cfr. FISHER, Desmond. O direito de comunicar: expressão, informação e liberdade. São Paulo: Editora
Brasiliense.1984, p. 60.
227
Cfr. Ibidem, p. 59 –60.
228
Cfr.Ibidem, p. 31 – 39.
229
Ibidem, p. 22. “A informação, em seu duplo aspecto – documentação, que é memória, e comunicação, que é
intercâmbio de toda as formas de expressão e de estímulo – é essencial para a vida espiritual e a missão da
UNESCO. Acima de tudo, o progresso real da UNESCO deve ser avaliado por aquilo que ela pode fazer para
tornar disponível para cada um e para todos um fundo de conhecimento e um sistema de comunicação que são -
ambos – universais.”
230
Curioso notar que as primeiras discussões sobre o reconhecimento destes direitos são concomitantes com os
primeiros avanços para criação de uma rede global a permitir o acesso e a troca de informações por meio da
intercomunicação de computadores.
95
o direito de se comunicar constitui autêntica extensão do progresso em busca da liberdade e
da democracia.
231
Cfr. GONÇALVES, Maria Eduarda. Direito da informação: novos direitos e formas de regulação na
sociedade da informação. p. 17.
232
Compreende-se como liberdade de pensamento, o direito que toda pessoa humana tem de exprimir suas
convicções, seu conhecimento dirigido a outrem (seja ele alguém determinado ou não). Em semelhante sentido,
96
liberdade que a pessoa tem de se informar e a liberdade de ser informada. Por liberdade de
informar, entende-se o direito que toda pessoa possui de manifestar seu pensamento e de
fornecer dados sobre si ou sobre algo; ao passo que a liberdade de ser informada denota um
interesse individual e coletivo, pois todos os indivíduos e toda sociedade têm o direito de estar
informados, de ter acesso às informações necessárias ao exercício consciente das liberdades
públicas233.
FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 34ª. ed. rev. e atual., São Paulo:
Saraiva: 2008, p. 300.
233
Cfr. SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. p. 245
234
Cfr. FERREIRA, Aluísio. Direito à informação, direito à comunicação: direitos fundamentais na
constituição brasileira. p. 167.
235
Como explica Aluísio Ferreira, “no exercício do direito de comunicação, o sujeito se comporta ativamente
enquanto titular do direito de informação – logo, das faculdades de colher e receber -, e ativa e passivamente,
enquanto no exercício da faculdade de comunicar, já que esta faculdade, que deve ser assegurada (aspecto ativo),
corresponde à satisfação de necessidades e interesses de informação, por parte de outrem, a que ele deve atender
(aspecto passivo). Desta forma, o direito à comunicação somente faz sentido na perspectiva do direito à
informação. É porque todos os seres humanos têm direito a estar informados que a cada pessoa devem ser
asseguradas as faculdades de procurar, receber e publicar informações, assim efetivando-se, por sucessivos
processos de comunicação, o livre intercâmbio de ideias e opiniões na sociedade” (Ibidem, p. 168).
97
sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por
quaisquer meios, sem consideração de fronteiras.
98
comunicação de massa (jornais, rádio e televisão), tornou-se na atualidade o meio em que
primeiro se busca conhecimento.
O mau uso da Internet não pode ser resolvido por meio de censura total ou
parcial do acesso a este novo espaço social. Não é possível alienar o ser humano desta
realidade, sob pena de impedir seu desenvolvimento, ou na dicção de Kant, seu
esclarecimento, que representaria verdadeiro crime contra a natureza humana237.
99
Há que considerar a Internet como um meio construído pelo próprio homem
em razão de seu anseio de esclarecimento, onde poderá se informar, obter conteúdo,
confrontar, enfim, informações em busca da verdade, e desenvolver autonomia.
239
Cfr. MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional: parte IV- direitos fundamentais. p. 453.
240
Cfr. FERREIRA, Aluísio. Direito à informação, direito à comunicação: direitos fundamentais na
constituição brasileira. p. 167.
100
O art. 13, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, ao tratar da
liberdade de expressão, afirma que toda pessoa tem o direito de divulgar informações e ideias
de qualquer natureza, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por
qualquer meio à sua escolha.
241
CIDH. Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão. Aprovado pela Comissão Interamericana de
Direitos Humanos em seu 108º. período ordinário de Sessões, celebrado de 16 a 27 de outubro de 2000.
Disponível em <http://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/s.Convencao.Libertade.de.Expressao.htm>, acesso
em 04 de novembro de 2012.
101
se encontram limitações de conteúdo, tanto para os que buscam acesso à informação, quanto
para os que procuram colocar conteúdo na Rede242.
242
Cfr. ALVAREZ, Clara Luz. Internet y derechos humanos. p. 78. Sobre restrições ao acesso à Internet vid.
neta Dissertação pp. 128 e ss.
243
Vid. Ibidem, p. 80.
244
Cfr. RODRÍGUEZ. José Julio Fernández. Lo público y lo privado en internet: intimidad y libertad de
expresión en la red. p. 202.
102
3. 3. 3. A Internet e sua Relação com o Direito ao Desenvolvimento.
103
aumenta a produtividade e, por via de consequência, satisfaria as necessidades humanas, mas
também, o aspecto social, educacional, cultural, científico e tecnológico246.
246
Artigo 30: “Os Estados membros, inspirados nos princípios de solidariedade e cooperação interamericanas,
comprometem-se a unir seus esforços no sentido de que impere a justiça social internacional em suas relações e
de que seus povos alcancem um desenvolvimento integral, condições indispensáveis para a paz e a segurança. O
desenvolvimento integral abrange os campos econômico, social, educacional, cultural, científico e tecnológico,
nos quais devem ser atingidas as metas que cada país definir para alcançá-lo”. OEA. Carta da Organização dos
Estados Americanos, 1948.
247
Artigo 29: “Os Estados-Membros, inspirados nos princípios de solidariedade e cooperação interamericanos,
comprometem-se a unir seus esforços no sentido de que impere a justiça social internacional em suas relações e
de que seus povos alcancem um desenvolvimento integral, condições indispensáveis para a paz e a segurança. O
desenvolvimento integral abrange os campos econômico, social, educacional, cultural, e científico e tecnológico,
nos quais devem ser atingidas as metas que cada país definir para alcançá-lo”.
248
Vid. BALERA, Wagner. Direito ao desenvolvimento. Disponível em <
http://cjlp.org/direito_ao_desenvolvimento.html>, acesso em 31 de julho de2013.
249
Vid. RISTER, Carla A. Direito ao Desenvolvimento: interesses, significados e consequências. Rio de Janeiro:
Renovar, 2007, p. 8.
104
Constrói-se dia a dia, na busca de uma ordem querida por Deus, que traz consigo uma justiça
mais perfeita entre os homens250”.
250
PAPA PAULO VI. Encíclica Populorum Progressio. 1967. Disponível em
<http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-
veritate_po.html>, acesso em 21 de julho de 2013. Parágrafo 76 in fine.
251
“(…) Não é lícito aumentar a riqueza dos ricos e o poder dos fortes, confirmando a miséria dos pobres e
tornando maior a escravidão dos oprimidos. São necessários programas para "encorajar, estimular, coordenar,
suprir e integrar" a ação dos indivíduos e dos organismos intermediários. Pertence aos poderes públicos escolher
e, mesmo impor, os objetivos a atingir, os fins a alcançar e os meios para os conseguir e é a eles que compete
estimular todas as forças conjugadas nesta ação comum. Tenham porém cuidado de associar a esta obra as
iniciativas privadas e os organismos intermediários. Assim, evitarão o perigo de uma coletivização integral ou de
uma planificação arbitrária que, privando os homens da liberdade, poriam de parte o exercício dos direitos
fundamentais da pessoa humana”. In PAPA PAULO VI. Encíclica Populorum Progressio. 1967. Disponível
em <http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-
in-veritate_po.html>, acesso em 21 de julho de 2013. Outras Encíclicas que também se dedicam à questão do
desenvolvimento, v.g.: Solicitudo Rei Socialis, escrita em 1987 pelo Sumo Pontífice João Paulo II, e Caritas in
Veritate, de autoria do Papa João Paulo II.
252
Vid. SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das letras, 2010. pp. 8 – 10
253
Cfr. Ibidem, pp. 55 – 57.
105
O desenvolvimento integral relaciona-se com as condições mais gerais da
existência humana, que Hannah Arendt nomeou de vita activa.
A ação, única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação
das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao fado de
que homens, e não Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos
da condição humana têm alguma relação com a política; mas esta pluralidade é
especificamente a condição – não apenas a conditio sine qua non, mas a conditio per
quam – de toda vida política.254
254
ARENDT, Hannah. A condição humana. p. 15.
255
Cfr. ALVAREZ, Clara Luz. Internet y derechos humanos. pp. 88 - 89.
106
rede tem a liberdade de comunicar-se com o mundo, de se informar, confrontar informações e
se expressar.
Esta nova tecnologia apresenta pelo menos duas funções básicas a serviço
da educação: servir de meio para o ensino (acesso à educação) – como no caso do ensino à
distância por vídeo conferência ou por lições on-line256 – e outra como construtor de novas
habilidades, tanto no uso, como no aproveitamento das tecnologias da Rede para a vida
profissional futura do estudante257.
256
No entanto, há cuidar para que as dinâmicas de ensino que usem estas novas tecnologias sejam aplicadas
adequadamente, sob pena de maior divisão social no que toca ao conhecimento e instrução.
257
Cfr. ALVAREZ, Clara Luz. Internet y derechos humanos. p. 90.
258
BRASIL. Programa Nacional de Tecnologia Educacional – ProInfo, Decreto nº. 6.300, de 12 de dezembro de
2007.
107
De rigor destacar, ainda, que as tecnologias da informação e comunicação
permitem, desde que haja infraestrutura, as comunidades marginalizadas ou grupos
desfavorecidos divulguem conteúdo e disseminem sua cultura no mundo. Neste contexto, a
Internet também abre oportunidade para as pessoas pertencentes a grupos ou comunidades,
que se encontram fora de seu lugar de origem, manter contato com suas tradições.
259
“12. Insistimos en que la adopción de las TIC por las empresas desempeña un papel fundamental en el
crecimiento económico. El mayor crecimiento y productividad que generan inversiones bien realizadas en las
TIC puede conducir a un aumento del comercio y a empleos más numerosos y mejores. Por este motivo, las
políticas de desarrollo empresarial y las relativas al mercado del trabajo desempeñan un papel fundamental en la
adopción de las TIC. Invitamos a los gobiernos y al sector privado a mejorar la capacidad de las pequeñas,
medianas y microempresas (PMYME), ya que ofrecen el mayor número de puestos de trabajo en la mayoría de
las economías. En colaboración con todas las partes interesadas, crearemos un marco político, jurídico y
reglamentario que propicie la actividad empresarial, en particular para las pequeñas, medianas y microempresas.
(...) 15. (...) subrayamos que las TIC son un instrumento eficaz para promover la paz, la seguridad y la
estabilidad, así como para propiciar la democracia, la cohesión social, la buena gobernanza y el estado de
derecho, en los planos regional, nacional e internacional. Se pueden utilizar las TIC para promover el
crecimiento económico y el desarrollo de las empresas. El desarrollo de infraestructuras, la creación de
capacidades humanas, la seguridad de la información y la seguridad de la red son decisivos para alcanzar esos
objetivos. Además, reconocemos la necesidad de afrontar eficazmente las dificultades y amenazas que
representa la utilización de las TIC para fines que no corresponden a los objetivos de mantener la estabilidad y
seguridad internacionales y podrían afectar negativamente a la integridad de la infraestructura dentro de los
Estados, en detrimento de su seguridad. Es necesario evitar que se abuse de las tecnologías y de los recursos de
la información para fines delictivos y terroristas, respetando siempre los derechos humanos.” In CÚPULA
MUNDIAL SOBRE A SOCIEDADE DA INFORMAÇAO. Compromisso de Tunes. Documento WSIS-
05/TUNIS/DOC/7-S de 28 de junho de 2006. Disponível em <http://www.itu.int/wsis/docs2/tunis/off/7-
es.html>, acesso em 24 de setembro de 2013.
108
repercute na economia não por aspectos ligados à facilidade de inversão em capital ou nos
diminuídos custos de transação, mas por contribuir para melhorar as habilidades humanas260.
109
prioridades colocadas para que as pessoas escolham as seis que fariam maior diferença em
suas vidas, o décimo traz o acesso à Internet e ao telefone261.
261
Vid. ONU. My World. Pesquisa global das Nações Unidas por um mundo melhor. Disponível em
<http://www.myworld2015.org/?lang=pr>, acesso em 30 de maio de 2014.
262
De acordo com o relatório produzido em 1987 pela Comissão Brundtland, documento conhecido como
“Nosso Futuro Comum”, desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais
sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades. O mesmo documento
afirma que o desenvolvimento sustentável requer que as sociedades atendam às necessidades humanas, tanto
pelo aumento do potencial produtivo, como pela garantia de oportunidades iguais para todos. Assim, a essência
do desenvolvimento sustentável é um processo de mudança, no qual a exploração dos recursos, o direcionamento
dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão em harmonia e
reforçam o atual e futuro potencial para satisfazer as aspirações e necessidades humanas. ONU. General
Assembly, 96ª. plenary meeting. Report of the World Commission on Environment and Development.
Doc.A/RES/42/187.
263
Há que destacar, a partir da Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo
(2010) e na RIO +20 (2012), os pilares que fundamentam do desenvolvimento sustentável são: o
desenvolvimento econômico, o desenvolvimento social e a proteção ambiental. No entanto, da leitura do
documento “O futuro que queremos”, verifica-se que o aspecto social ficou relegado a segundo plano, e a
economia e o mercado assumem a função de mola motriz do desenvolvimento, o que demonstra um retrocesso.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban KI-moon em reunião especial da Assembleia Geral, frisou que a
implementação de uma nova agenda para o desenvolvimento deve ser baseada nos direitos humanos e no Estado
de Direitos, pois todos têm direito a ter direitos; esta é a base sólida para equilibrar as necessidades dos homens e
do planeta, ao mesmo tempo em que se erradicam a miséria e as desigualdades socioeconômicas (v. noticia
veiculada no site ONUBR, no dia 09/06/2014 - < http://www.onu.org.br/todos-tem-direito-a-todos-os-direitos-
diz-chefe-da-onu-em-evento-de-alto-nivel-na-assembleia-geral/>).Há que aguardar o desenrolar dos fatos para
verificar quais são realmente os pilares que suportarão os novos objetivos a partir de 2015.
264
Vid. ONU. Asamblea General. 66º. periodo de sesiones. El futuro que queremos. Doc. A/RES/66/288. p. 3.
110
O acesso à Internet tornou-se um direito básico, de que também depende o
desenvolvimento humano e, em última instância, a realização de Direitos Humanos e
liberdades fundamentais.
(...) preocupa (...) que, ao não ter acesso à Internet, que facilita o desenvolvimento
econômico e o gozo de diversos direitos humanos, os grupos marginalizados e os
Estados em desenvolvimento sigam sobrecarregados por sua situação de
desvantagem, que perpetua a desigualdade entre Estados e dentro de um mesmo
Estado.265
265
ONU. Asamblea General. Consejo de Derechos Humanos. 17o. período de sesiones. Informe del Relator
Especial sobre la promoción y protección del derecho a la libertad de opinión y de expresión, Frank La Rue.
Doc. A/HRC/17/27 (16/05/2011), p. 18.
266
Vid. COMPARATO, Fabio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. p. 541.
111
solidariedade – ao remeter a ideia de interdependência, de comunhão de interesses, de
partição nos ideais e benefícios de outros267.
112
expressar-se por meio da escrita), como também ao analfabetismo tecnológico, a falta de
instrução necessária para o uso das novas tecnologia de informação e comunicação.
272
Cfr. ALVARÉZ, Clara Luz. Internet y derechos fundamentales, pp. 70 – 74.
113
Como leciona François Perroux, “(...) o desenvolvimento pressupõe a
expansão da actividade dos homens em relação aos homens pela troca de bens ou serviços e
pela troca de informação e de símbolos”273. Deste modo, a brecha digital torna-se um fator
prejudicial e até mesmo impeditivo do desenvolvimento, tanto pessoal (v.g., a dificuldade de
acesso à informação, a novos meios de educação e aprendizagem, a novas oportunidades de
trabalho), quanto social (v.g., dificultando a participação popular no controle da gestão
pública, no desenvolvimento da economia, na prestação de obrigações tributárias).
273
Vid. PERROUX, François. Ensaio sobre a filosofia do novo desenvolvimento. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian 1987. p. 33.
114
CAPÍTULO 4 – RECONHECIMENTO DO ACESSO À INTERNET COMO UM
DIREITO ESSENCIAL DO HOMEM.
115
4. 1. INTERNET COMO UM NOVO ESPAÇO DE VIVÊNCIA.
274
Em analogia a visão de Aristóteles, na obra Política, em relação as cidades e aos cidadãos - os participantes
do governo, portadores do poder da palavra e da ação. ARISTÓTELES. Política. p.115.
275
Cfr. QUÉAU, Philippe. Cibercultura e info-ética. In. MORIN, Edgar. A Religação dos saberes, os desafios do
século XXI. trad. Flávia Nascimento, 10ª ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. p. 470.
116
também de empresas, instituições e governos”276. Vê-se na rede a formação de uma
verdadeira sociedade composta por homens e instituições.
Esta complexa sociedade informativa que ora se forma pode ser definida
como:
276
Vid. PECK, Patrícia. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2002. pp. 1 – 2. Segundo autora, a Internet elimina
definitivamente o conceito de corporação unidimensional, impessoal e massificada. Isso significa uma profunda
mudança na forma como o Direito deve encarar as relações entre os Indivíduos.
277
“(…) society in which information and communication technologies (ICTs) have become an integral part of
daily life. It has become second nature to millions of people around the world to use ATM banking machines,
listen to a radio, carry a mobile phone, surf the Internet or consult their e-mail inbox, to cite but a few
examples.” In ERDELEN, Walter. From the printing press to the World Wide Web. in UNESCO. Science in The
Information Society. Paris: UNESCO, 2003, p. 10.
278
Cfr. CASTELLS, Manuel. A galáxia internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. p. 196.
117
desafio meramente técnico, mas antes, um desafio político prol da construção de estruturas
mais igualitárias.
279
Neste sentido, Celso Antonio Pacheco Fiorillo compreende que as redes sociais se consideram verdadeiras
cidades. Surge um novo conceito de território e espaço urbano, associado ao denominado meio ambiente digital,
cujo fundamento se encontra nos artigos 220 a 224, da Constituição Federal, combinados com os artigos 182 e
183, orientados pelo artigos 1º. e 3º., todos da Carta de 1988. Pelo raciocínio desenvolvido pelo autor, a Internet
118
Entenda-se a Internet como um “meio ambiente” em sentido amplo, ou
como apenas um espaço onde se desenvolvem atividades rotineiras da vida humana, fato é
que as intensas inovações proporcionadas pelo seu desenvolvimento e ampliação têm
produzido efeitos diretos sobre os Direitos Humanos. Mais intensamente, sobre os Direitos da
Liberdade, como por exemplo, os direitos à informação, acesso aos bens culturais, à livre
expressão, que por si só justificam o reconhecimento do acesso à Internet como um direito280.
estaria incluída mais especificamente dentro do denominado meio ambiente cultural, já que no século XXI
passamos por um novo processo civilizatório adaptado à sociedade da informação, uma nova forma de se viver
em razão da cultura de convergência, em que os meios de comunicação (telefonia fixa e móvel, rádio, TV,
cinema, etc.), em especial a Internet, moldam uma nova vida, revelando uma nova faceta do meio ambiente
cultural. In FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Fundamentos constitucionais do meio @mbiente digit@l na
sociedade da informação. Disponível em <
http://cjlp.org/materia_fundamentos_constitucionais_meio_ambiente_digital.html>, acesso em 07 de julho de
2013.
280
Assim é a posição de Frank La Rue no Informe Especial sobre a promoção do direito ã liberdade de opinião e
expressão, apresentado à Assembleia das Nações Unidas em 16 de maio de 2011. A Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, em Relatório Especial sobre a Liberdade de Expressão e Internet, aprovado em de 31 de
dezembro de 2013, apresenta o acesso à Internet com um dos princípios essenciais à liberdade de expressão na
Internet . In CIDH. Relatoria Especial para la libertad de expression. Libertad de expressión e internet.
CIDH/RELE/INF.11/13 (31/12/2013), pp. 7- 8; 16 – 25.
119
tecnologias da informação e as comunicações, como cabos, modens, computadores e
281
programas informáticos, para acessar inicialmente a Internet.
Neste estudo, além dos fatores reconhecidos pelas Nações Unidas, urge
destacar outro elemento que também deve ser considerado parte integrante do chamado
direito de acesso. Trata-se, especificamente, do acesso à capacitação para utilizar a Internet282.
Desta forma, neste trabalho, três são as dimensões que conformam o direito de acesso à
Internet: acesso à infraestrutura; acesso ao conteúdo, e acesso à capacitação.
4. 2. 1. Acesso à Infraestrutura.
281
ONU. Asamblea General. Consejo de Derechos Humanos. 17o. período de sesiones. Informe del Relator
Especial sobre la promoción y protección del derecho a la libertad de opinión y de expresión, Frank La Rue.
Doc. A/HRC/17/27 (16/05/2011), p. 4.
282
Neste sentido é a Declaração de Genebra de 2003, vid. parágrafos 29 a 34. Documento disponível em
<http://www.itu.int/dms_pub/itu-s/md/03/wsis/doc/S03-WSIS-DOC-0004!!PDF-S.pdf>, acesso em 10 de maio
de 2014.
283
De acordo com Alexy, insere-se neste rol um direito a que o Estado inclua o titular o titula do direito
fundamental nos procedimentos relevantes (direito a procedimentos). Cfr. ALEXY, Robert. Teoria dos direitos
fundamentais. pp. 442 – 443.
284
O termo banda, em comunicação digital alude à quantidade de informação que pode ser transferida de uma
ligação à Internet.
120
Neste sentido, o posicionamento da Declaração de Princípios sobre a
Sociedade da Informação, firmada em Genebra, no ano de 2003. No documento
representativo da primeira Fase da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, a
conectividade aparece como um fator habilitador indispensável na criação da Sociedade
fundada na comunicação e informação. Assim, o acesso universal, ubíquo, equitativo, e a
infraestrutura e serviços de conexão a preços acessíveis, são desafio e meta a ser perseguida
por todos os envolvidos na criação desta nova sociedade. Também integra, neste aspecto, o
acesso à energia elétrica.
121
funcionamento das máquinas, observadas as definições, especificações e características
técnicas mínimas estabelecidas pelo Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia; o programa
GESAC, Governo Eletrônico - Serviço de Atendimento ao Cidadão, que oferece,
gratuitamente, conexão à Internet em banda larga - por via terrestre e satélite - a telecentros,
escolas, unidades de saúde, aldeias indígenas, postos de fronteira e quilombos; o projeto
Territórios Digitais, com o objetivo de oferecer gratuitamente o acesso à informática e
Internet para populações rurais, por meio da implantação de Casas (espaços públicos para uso
da Internet em área rural), criação de telecentros, software livre, centro de recondicionamento
de computadores, Programa Nacional de Banda Larga (PNB; Decreto nº. 7.115/2010); o
Programa Cidades Digitais - incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do
Governo Federal -, que visa, através de cabeamento de fibra ótica, interligar os órgãos
públicos locais, fornecer pontos de conexão livre e gratuita em espaços públicos, ampliar o
acesso do cidadão a serviços públicos e promover o desenvolvimento dos municípios286.
4. 2. 2. Acesso ao Conteúdo
286
Os conteúdos de programas e projetos desenvolvidos podem ser acessados a partir do site
http://www.governoeletronico.gov.br/acoes-e-projetos/inclusao-digital.
287
Vid. Declaração de Genebra de 2003, parágrafos 24 a 25. Documento disponível em
<http://www.itu.int/dms_pub/itu-s/md/03/wsis/doc/S03-WSIS-DOC-0004!!PDF-S.pdf>, acesso em 10 de maio
de 2014.
288
Vid. ALVAREZ, Clara Luz. Internet y derechos fundamentales. pp. 154-155.
122
limitação enquanto restrição de conteúdo, que neste caso não é um mero vazio, mas
verdadeira afronta aos Direitos Humanos e fundamentais, por impedir o exercício da
liberdade de expressão, comunicação e informação, como será visto em tópico seguinte.289.
Fato é que grande parte do conteúdo disponível na Internet pode não ser
plenamente inteligível pelo usuário, em razão do idioma. Contudo, esta barreira idiomática
não implica algo intransponível, já que neste mesmo locus digital a pessoa encontra meios de
auxiliadores para a compreensão do conteúdo, a exemplo de tradutores online e cursos
gratuitos para o aprendizado de novas línguas290.
289
Sobre restrições ao acesso à Internet, vid. nesta Dissertação pp.128 – 137.
290
Um exemplo de iniciativa brasileira para a aprendizagem de novos idiomas é o MyEnglishOnline
(http://www.myenglishonline.com.br/). Também encontramos outros sítios de ensino de idiomas online e
gratuitos como: http://www.aprendendofrances.com/; http://www.bonjourdefrance.com.br/aprenda-frances-
online/, www.weblinguas.com.br, http://www.espanholgratis.net/licoes.htm.
291
Vid. UNIÃO INTERNACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES. Challenges to the network internet for
development. Genebra, UIT, 1999, nota 220, p. 39.
123
levem a uma maior participação pública292. Neste sentido, podemos destacar a iniciativa
brasileira da criação do sítio http://www.dominiopublico.gov.br/, biblioteca digital voltada ao
compartilhamento de conhecimentos de modo equânime, que coloca à disposição de todos os
usuários da Rede Mundial de Computadores, ambiente virtual a permitir a coleta, a integração
e a preservação de informações, através do acesso a obras literárias, artísticas, textos
científicos, sons, imagens e vídeos, que são parte do patrimônio cultural brasileiro e universal
e que estejam em domínio público ou tenham a divulgação devidamente autorizada.
4. 2. 3. Acesso à Capacitação.
292
Vid. UNESCO. Recomendación sobre la promoción y el uso del plurilingüismo y el acesso universal al
ciberespacio, aprobada en la 32ª Conferencia General el la UNESCO, París, 2003, punto 16.
293
Como explica David Guile, o conceito de economia do conhecimento foi cunhado por Drucker em 1969, e
referia-se à aplicação do conhecimento de qualquer campo ou fonte, novo ou velho, como estímulo ao
desenvolvimento econômico. Daniel Bell, a figura mais conhecida por chamar atenção para o impacto do
conhecimento nas economias das sociedades industriais avançadas, acreditava que alguma forma de
conhecimento sempre foi fundamental para o funcionamento de qualquer sociedade, no sentido de que o
conhecimento é um universal antropológico. Para Bell, o traço distintivo das sociedades industriais avançadas
era que o conhecimento teórico constituía o "princípio axial" do desenvolvimento, pois “a mudança de uma
economia de produção para uma economia de serviços significava que: ‘quando o conhecimento se torna
envolvido de alguma forma sistemática na transformação aplicada dos recursos, então pode-se dizer que o
conhecimento, não o trabalho, é a fonte de valor.”Aos Argumentos de Bell, Manuel Castells introduz uma nova
dimensão ao afirmar que “o emprego generalizado da TIC resultou na emergência de um novo paradigma
econômico - uma economia ‘informacional’, cujas características centrais são a crescente demanda e produção
de informação. A razão para essa demanda por informação é a dupla mudança que ocorreu no princípio do
desenvolvimento econômico nas sociedades industriais avançadas. A primeira é a mudança de um modo de
produção cujo objetivo principal era maximizar a produção para gerar mais-valia para um ‘modo informacional
de desenvolvimento’ preocupado com o desenvolvimento tecnológico e a geração de dados. A segunda é uma
consequência lógica da primeira: o acúmulo constante de riqueza, por meio da transformação contínua das
próprias tecnologias existentes e das TICs, significa que o sucesso na economia global depende da geração, do
processamento e da aplicação de informações para melhorar o desempenho empresarial.” In GUILE, David. O
que distingue a economia do conhecimento? Implicações para a educação. Artigo disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15742008000300004&script=sci_arttext>, acesso em 27 de maio
de 2014.
124
pleno seus benefícios294, incluída, como recomenda a UNESCO, uma sensibilização para os
princípios e valores éticos295.
294
Neste sentido, vid. a Declaração de Genebra de 2003. Parágrafo 29.
295
UNESCO. Recomendación sobre la promoción y el uso del plurilingüismo y el acesso universal al
ciberespacio, aprobada emn la 32ª Conferencia General el la UNESCO, París, 2003, punto 19. “Los Estados
Miembros y las organizaciones internacionales deberían promover y facilitar la ‘alfabetización electrónica’, lo
que incluye actividades encaminadas a divulgar las tecnologías de la información y la comunicación e infundir
seguridad y confianza en su aplicación y utilización. El desarrollo del ‘capital humano’ de la sociedad de la
información, y en especial una enseñanza abierta, integrada e intercultural combinada con la adquisición de las
aptitudes necesarias para manejar las tecnologías de la información y la comunicación reviste una importancia
capital. La formación en esa materia no debería circunscribirse a la adquisición de competencias técnicas sino
que debería dar también cabida a una sensibilización a principios y valores éticos.”
296
Neste sentido é a afirmação do 11º parágrafo do Preâmbulo da Recomendación sobre la promoción y el uso
del plurilingüismo y el acesso universal al ciberespacio, aprobada en la 32ª Conferencia General el la UNESCO,
París, 2003.
125
produzido, analisando criticamente as técnicas, a linguagem e as escolhas utilizadas pelos
meios de comunicação, de modo que as pessoas sejam capazes de identificar conteúdos e
serviços midiáticos ofertados sem solicitação do usuário, ou que sejam ofensivos ou
prejudiciais297.
297
UNIÃO EUROPÉIA. Recommendation CM/Rec(2007) 16 of the Committee of Ministers to member state on
measures to promote the public service value of the Intetnet. Adopted by the Committe of Ministers on 7
November 2007 at the 1010th meeting of the Ministers’ Deoytues. Disponível em
<https://wcd.coe.int/ViewDoc.jsp?id=1207291>, acesso em 27 de maio de 2014.
298
Vid. MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. trad. Eloá Jacobina,
20ª ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p. 54
299
Vid. Ibidem. p. 11.
126
escolher, tomar decisões, serem responsáveis e prontos para exigir que não apenas
seus direitos, mas também os direitos dos outros sejam respeitados e cumpridos300.
A Internet, apesar se ser vista por alguns com ressalva, constitui ambiente
promissor para a disseminação desta cultura, vez que a própria estrutura do ambiente digital
convida todos a vivenciar igual oportunidade de livremente se expressar, de desenvolver
atitudes de cooperação (a exemplo dos fóruns de discussão), de reunir-se, formar uma nova
sociedade mais inclusiva, em que o bem comum seja sempre representado pela existência do
outro, pela inclusão do diferente como um igual.
300
BENEVIDES, Maria Victória. Educação em direitos humanos: de que se trata?. Convenit Internacional
(USP), v. 6, p. 43 – 50, 2001.
301
O conteúdo dos programas brasileiros de alfabetização digital pode ser acessado a partir do site
http://www.governoeletronico.gov.br/acoes-e-projetos/inclusao-digital.
127
4. 3. RESTRIÇÕES DE ACESSO À INTERNET - VIOLAÇÕES DE DIREITOS
HUMANOS
302
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Declaración Conjunta sobre libertad de Expresión e
Internet. Disponível em <http://www.oas.org/es/cidh/expresion/showarticle.asp?artID=849&lID=2>, acesso em
04 de fevereiro de 2014.
303
De acordo com a Lei nº. 12.965/2014, tendo em vista que o acesso à Rede é essencial para o exercício da
cidadania (art. 7º., caput), o legislador reconhece-o como um direito de todos, e portanto, cabe ao estado
promovê-lo (art. 4º., I).
128
disseminados) e repressivo (para impedir que o uso da Internet contrarie os interesses dos
governantes)304.
(...) 1. Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões. 2. Toda pessoa tem direito à
liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e
difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de
considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou
artística, ou qualquer outro meio de sua escolha.
304
Esta classificação, que não encontra precedentes na doutrina, é aqui proposta para facilitar a compreensão dos
diferentes meios de restrição ao acesso à Internet, segundo suas finalidades.
129
Unidas, no Comentário Geral nº. 34, que versa especificamente sobre o art. 19, do Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos305.
305
O Comentário Geral no. 34, do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, está disponível em
<http://acnudh.org/pt-br/2012/01/protesto-social-qual-e-a-responsabilidade-do-estado-de-acordo-com-os-
padroes-internacionais-de-direitos-humanos/> acesso em 02 de abril de 2014.
306
“(…) 12. Paragraph 2 protects all forms of expression and the means of their dissemination. Such forms
include spoken, written and sign language and such non-verbal expression as images and objects of art. Means of
expression include books, newspapers, pamphlets, posters, banners, dress and legal submissions. They include
all forms of audio-visual as well as electronic and internet-based modes of expression.
13. “(…) A free, uncensored and unhindered press or other media is essential in any society to ensure freedom of
opinion and expression and the enjoyment of other Covenant rights. It constitutes one of the cornerstones of a
democratic society. The Covenant embraces a right whereby the media may receive information on the basis of
which it can carry out its function.306 The free communication of information and ideas about public and political
issues between citizens, candidates and elected representatives is essential. This implies a free press and other
media able to comment on public issues without censorship or restraint and to inform public opinion. 306 The
public also has a corresponding right to receive media output.” in UNITED NATIONS. Human Rights
Committee. General Comment nº. 34, Article 19: Freedoms of Opinion and Expressions. Doc. CCR/C/GC/34,
(Sept. 12, 2011), par. 12.
130
Inúmeras violações de Direitos Humanos têm sido causadas nos últimos
anos, em decorrência de desconexões intencionais ou censura. Obviamente, não seria possível
examinar individual e pormenorizadamente as inúmeras restrições de caráter preventivo que
continuam a ser reiteradamente aplicadas em alguns países. Contudo, indispensável analisar
como restrições de caráter preventivo foram – e em muitos casos continuam a ser – aplicadas
em alguns países.
307
Vid. CASTELLS. Manuel. Redes de imaginação e de esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio
de Janeiro: Zahar, 2013, p. 53 – 57.
131
4. 3. 2. Restrições de Acesso de Caráter Repressivo
308
BBC. Indonesia woman gets suspended term for Facebook libel. News Asia-Pacific. 11/07/2011. Disponível
em <http://www.bbc.co.uk/news/world-asia-pacific-14104471>, acesso em 07 de março de 2014.
309
AMNESTY INTERNATIONAL. Document. Disponível em
<http://www.amnesty.org/en/library/asset/MDE23/001/2014/en/a6a4d3ec-dfab-4b03-b78c-
c8e3d8828b8c/mde230012014en.html>, acesso em 05 de março de 2014.
132
310
opiniões que venha a sustentar, constitui uma violação do artigo 19, parágrafo 1.
311
Cumpre frisar que o respeito à liberdade de opinião não deve dar margem à
impunidade. Sendo assim, imprescindível sejam apuradas eventuais violações de direitos
decorrentes do exercício de liberdades no entorno digital e condenados os responsáveis.
310
Todas as referências mencionadas neste parágrafo dizem respeito ao art. 19, do Pacto de Direitos Civis e
Políticos.
311
UNITED NATIONS. Human Rights Committee. General Comment nº. 34, Article 19: Freedoms of Opinion
and Expressions. Doc. CCR/C/GC/34, (Sept. 12, 2011), par. 9. Trad. nossa.
312
BRASIL. Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança relativos à venda de crianças,
prostituição e pornografia infantis. Decreto nº. 5.007 de 08 de março de 2004.
133
(...) 3. O exercício do direito previsto no § 2o. do presente artigo implicará deveres e
responsabilidades especiais. Consequentemente, poderá estar sujeito a certas
restrições, que devem, entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam
necessárias para: a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais
pessoas; b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral pública.
313
A palavra lei deve ser aqui interpretada em sentido estrito, como manifestação do Poder Legislativo .
314
“(…) Any restrictions on the operation of websites, blogs or any other internet-based, electronic or other such
information dissemination system, including systems to support such communication, such as internet service
providers or search engines, are only permissible to the extent that they are compatible with paragraph 3.” In
ONU. Human Rights Committee. General Comment n. 34, Article 19: Freedoms of Opinion and Expressions.
Doc. CCR/C/GC/34, (Sept. 12, 2011), par. 9. Esta assertiva deve ser interpretada com cautela, pois neste caso o
acesso à Internet não é apresentado como direito humano, mas como instrumento de promoção das liberdades de
opinião e expressão.
315
De fato, consiste a analogia em aplicar a um caso não previsto a norma que rege outro semelhante, porém na
hipótese em questão a restrição do acesso à Internet não importa em uma espécie de reparação civil por ilícito,
mas imposição de verdadeira penalidade, que importaria em violação de outros Direitos Humanos mais graves;
ademais, em conformidade à lei penal, é vedado o uso da analogia para estabelecer sanções.
134
A outra razão diz respeito à problemática redação do parágrafo discutido,
que suscitaria transtornos até mesmo quando aplicado à liberdade de expressão. É sabido que
duas espécies de restrições são admitidas neste dispositivo, dentre as quais, as medidas
necessárias a assegurar o respeito aos direitos e à reputação das demais pessoas. Sobre o
respeito dos direitos, obviamente se refere o texto à necessidade de compatibilizar o exercício
da liberdade de expressão com outros direitos de igual categoria. Deve-se interpretar este
excerto como uma tentativa de manter em equilíbrio os Direitos Humanos, assim, não seria
admissível que a liberdade de expressão pudesse ser utilizada, por exemplo, para promover
interferências na vida privada de alguém316. Ainda que imprecisa, a primeira parte da
prescrição não oferece dificuldades de interpretação.
316
Observe-se o disposto no art. XII, da Declaração Universal dos Direitos do Homem, e no art. 17, 1, do Pacto
sobre Direitos Civis e Políticos, que impedem interferências na vida privada das pessoas.
317
Difamação consiste em imputar a alguém um fato ofensivo à sua reputação. Conceito extraído do tipo penal
previsto no art. 139, do Código Penal Brasileiro - Decreto-lei, nº 2.848, de 1940.
318
Bósnia-Herzegovina, Chipre, Estônia, Geórgia, Moldova, Romênia, Ucrânia, Reino Unido e Estados Unidos.
Nos últimos meses, circularam notícias sobre mudanças legislativas tendentes a descriminalizar a difamação na
Lituânia, mas até o mês de fevereiro de 2014, não haviam sido efetivadas.
135
As mesmas críticas dirigidas ao crime de difamação cometido fora da
Internet aplicam-se àqueles que utilizam a Rede para ofender a reputação de outras pessoas.
Neste sentido, o entendimento adotado na Dissertação coincide com o manifestado por Frank
La Rue, em seu Informe sobre a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e de
expressão:
(...) O Relator Especial deseja repetir que a difamação deve ser despenalizada e que
a proteção da segurança nacional ou a luta contra o terrorismo não podem ser
mencionadas para justificar a restrição do direito à liberdade de expressão, a não ser
que o Governo possa demonstrar que: a) a expressão tem por objetivo instigar a
violência imediata; b) é provável que instigue este tipo de violência; c) existe uma
relação direta e imediata entre a expressão e a possibilidade de que se produza esse
tipo de violência319.
136
cada direito que se coloca em conflito em um caso concreto. E ainda, que as restrições
estipuladas em detrimento do direito à liberdade de expressão não são necessariamente
idênticas às que poderiam ser aplicadas ao direito de acesso à Internet.
Cabe destacar que o respeito à liberdade de opinião não deve dar margem à
impunidade. Sendo assim, imprescindível a apuração de eventuais violações de direitos
decorrentes do exercício de liberdades no entorno digital, punidos os responsáveis.
137
Estônia
Costa Rica
320
Referimo-nos ao Informe do Relator Especial sobre a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião
e de expressão, Frank La Rue, p. 19. Observe-se que a nota de rodapé no. 52 não indica fonte capaz de
corroborar tal afirmação, apenas faz referência a um artigo publicado no Christian Science Monitor, jornal
internacional que desde 1908 funciona como serviço público da 1a. Igreja de Cristo, Científico.
321
C.f. ESTONIA. Constitution of Republic Estonia, 1992; ESTONIA. Information Society Services Act, 2004;
ESTONIA. Public Information Act, 2000; ESTONIA. Telecommunications Act, 2000; ESTONIA. Electronic
Communications Act, 2004. Unofficial translation.
138
Conforme provado nos autos, a solicitação dos serviços de banda larga fora
efetuada em 26 de junho de 2009. Em novembro de 2009, a requerente apresentara uma
reclamação formal à Controladoria de Serviços do Instituto Costarriquenho de Eletricidade
(CAIC), pois embora passados mais de quatro meses, o serviço ainda não havia sido
habilitado. Em resposta, o CAIC comprometera-se a marcar uma data próxima para a
instalação. Todavia, dias depois, tornara a manifestar a impossibilidade de levar a cabo a
instalação, pois a casa da recorrente estaria fora da área alcançada pelos serviços de Internet.
322
“São deveres e atribuições que correspondem conjuntamente ao Presidente e ao respectivo Ministro de
Governo: vigiar o bom funcionamento dos serviços e dependências administrativas”. (art. 140, 8). “São deveres
e atribuições exclusivas daquele que exerce a Presidência da República: “Apresentar à Assembleia Legislativa,
ao se iniciar o primeiro período anual de sessões, uma mensagem escrita relativa aos diversos assuntos da
Administração e o estado político da República e no qual deverá, ademais, propor as medidas que julgue de
importância para a boa marcha do Governo, e o progresso e bem estar da Nação” (art. 139, 4). “Um estatuto de
serviço civil regulará as relações entre o Estado e os servidores públicos, com o propósito de garantir a eficiência
da administração” (art. 191). In COSTA RICA. Constitución Política de la República de Costa Rica, 1949.
(Trad. nossa).
323
“A atividade dos entes públicos deverá estar sujeita em seu conjunto aos princípios fundamentais do serviço
público, para assegurar sua continuidade, sua eficiência, sua adaptação a toda mudança no regime legal ou na
necessidade social a que satisfazem e a igualdade no tratamento dos destinatários, usuários ou beneficiários” (art.
4o.). “O órgão deverá conduzir o procedimento com a intenção de lograr um máximo de celeridade e eficiência,
dentro do respeito ao ordenamento e aos direitos e interesses do administrado.” (art. 225, 1). “A atuação
administrativa se realizará com respeito às normas de economia, simplicidade, celeridade e eficiência.” (art. 269,
1). In COSTA RICA. Ley nº. 6.227. Ley General de la Administración Pública, 1978. (Trad. nossa).
139
administrativas sejam organizadas de maneira objetiva e direta. Por fim, o princípio da
celeridade determina que a Administração Pública deve pautar-se pela rapidez e agilidade em
seus procedimentos.
324
Cfr. COSTA RICA. Corte Suprema de Justicia. Recurso de amparo. Res. no. 2010-010627. Sala
Constitucional, 2010, p. 4.
140
Neste contexto, não é possível afirmar a previsão de um direito de acesso à
Internet nos moldes em que se pretende nesta Dissertação. Embora sejam inegáveis os efeitos
práticos e teóricos desencadeados pela decisão da Sala Constitucional, que se presta à garantia
dos Direitos Humanos, não é possível afirmar que o acesso à Internet tem sido reconhecido na
Costa Rica como direito humano ou fundamental. Apenas, que a Internet deve ser considerada
um serviço público imprescindível à realização dos Direitos Humanos à informação e à
comunicação, reconhecidos como fundamentais pelo constituinte.
Peru
Diante desta notícia, pareceria legítimo inferir que a aprovação de uma nova
legislação atribuiu novel status ao acesso à Internet no ordenamento jurídico daquele Estado.
Constatação que parece corroborada por diferentes manifestações de bloggers, jornalistas,
ativistas políticos e internautas de todas as partes do mundo, facilmente encontradas quando
buscadas notícias daquela época na Internet.
325
Vid. EL COMMERCIO PERÚ. Congreso declara como derecho fundamental el acceso a Internet. Perú.
29/04/2011. Disponível em < http://elcomercio.pe/peru/lima/congreso-declara-como-derecho-fundamental-
acceso-internet_1-noticia-749846>, acesso em 05 de janeiro de 2014.
141
da Lei que outorga ao Fundo de Investimento em Telecomunicações (FITEL), a qualidade de
pessoa jurídica de direito público, adstrita ao setor de Transporte e Comunicações326.
O Projeto de Lei no. 4.392, de 21 de outubro de 2010, teve por meta instituir
a “Lei que declara a banda larga de necessidade pública e de interesse nacional”.
Aparentemente, a simples declaração não parece produzir muitos efeitos. Mas a leitura dos
três primeiros artigos do projeto demonstra o inverso. A contrario sensu, não se pretende
declarar a banda larga como algo necessário, digno de interesse nacional, mas a construção de
redes de transporte, acesso e infraestrutura destinadas a ampliar o acesso à Internet. Ou seja, o
objetivo do projeto é permitir que o Poder Executivo elabore normas complementares que
permitiriam destinar recursos para a construção e a manutenção de infraestruturas
relacionadas à banda larga, que seriam coordenadas pelo Ministério de Transportes e
Comunicações e pelos Governos Regionais.
326
Cfr. PERU. Ley nº. 28.900. Ley que otorga al Fondo de Inversión en Telecomunicaciones FITEL la calidad
de persona jurídica de Derecho Público, adscrita al Sector Transportes y Comunicaciones, 2007.
142
perseguidas pelo Estado no período compreendido entre os anos de 2012 e 2016. Ainda, torna
a formular modificações que permitiriam custear o complexo aperfeiçoamento das
infraestruturas de banda larga com recursos provenientes do FITEL.
143
Ao examinar o Texto Substitutivo e os Projetos de Lei inicialmente
apresentados, percebe-se de imediato que o acesso à Internet não ocupa posição de destaque
nestes documentos. O art. 1º., do Substitutivo, limita-se a declarar que o “acesso gratuito à
internet” é direito fundamental, mas não há qualquer preocupação de delimitar o conteúdo
deste direito. Pode-se afirmar com segurança que o direito de acesso à Internet tem papel
meramente figurativo no texto. O objeto prático e direto do Projeto de Lei evidencia-se na
parte final do art. 1º., onde se torna claro que o Substitutivo se destina prioritariamente a
promover grandes obras, de elevados custos, necessárias à implementação da banda larga em
todo o território nacional. Para tanto, reestrutura-se o FITEL a fim de que os recursos
econômicos possam ser angariados e realocados de forma ágil e rápida. Portanto, possível
afirmar que o objeto real do projeto é legitimar a construção de uma imensa infraestrutura de
acesso à Internet, que certamente exigirá a contratação de inúmeras empresas e profissionais
especializados para realizar os serviços.
Não merece prosperar a alegação de que o Substitutivo não gera ônus aos
cofres públicos. Ainda que não se esteja realocando recursos já incorporados à manutenção de
serviços básicos como saúde, educação ou segurança, a reestruturação do Fundo importa em
arrecadação de novos recursos que bem poderiam ser destinados a atender necessidades mais
prementes da população.
Cabe destacar que o respeito à liberdade de opinião não deve dar margem à
impunidade. Sendo assim, imprescindível sejam apuradas eventuais violações de direitos
decorrentes do exercício de liberdades no entorno digital, com a punição dos responsáveis.
144
Finlândia
329
Vid. ESTADO DE SÃO PAULO. Internacional. 1/07/2010. Disponível em <
http://blogs.estadao.com.br/link/direito-a-internet-na-finlandia/>, acesso em 22 de fevereiro de 2014.
330
Cfr. MINISTRY OF TRANSPORT AND COMMUNICATIONS FINLAND. Appointment of Rapporteur
(848/30/2008). 8 May 2008.
145
custos dos serviços e as áreas onde serão disponibilizados, em razão dos interesses de
mercado.
331
Cfr. MINISTRY OF TRANSPORT AND COMMUNICATIONS FINLAND. Harri Pursiainen. Making
broadband available to everyone. The national plan of action to improve the infrastructure of the information
society. Rapporteur’s Proposal, 2008, p. 1.
146
As metas e medidas prestigiadas pelo plano evidenciam-se nos itens 2 a 16
do texto. Algumas, de caráter emergencial, deveriam implementar-se até 31 de dezembro de
2010. Outras, também necessárias, deverão ser implementadas de maneira progressiva até 31
de dezembro de 2015. Em geral, destinam-se a reafirmar o aperfeiçoamento das redes de
telecomunicações e inovam ao discorrer especificamente sobre parâmetros de velocidade de
acesso à Internet.
147
que todas as conexões ofertadas contem com velocidade igual ou superior a 1 Mbps, e que até
o final de 2015, a infraestrutura de telecomunicações permita atender a demanda por conexões
de 100 Mbps em todo o país. Ou seja, não se trata de elevar acentuadamente a velocidade de
todas as conexões em apenas cinco anos, mas tornar possível a contratação de serviços que
ofereçam conexões cem vezes mais rápidas que o padrão, destinadas sobretudo ao setor
empresarial.
333
Cfr. Lei do Mercado de Comunicações – FINLAND. Communications Market Act (393/2003).
334
Cfr. Section 60 c (363/2011) “(2) (…). The subscriber connection shall also allow an appropriate Internet
connection for all users, taking into account prevailing rates available to the majority of subscribers,
technological feasibility and costs. (…).” (Unofficial translation of Ministry of Transport and Communications,
Finland)
148
especificadas pelo Ministério de Transporte e Comunicações335. Sobre esta questão, dispõe o
Decreto no 732/2009, que fixou em 1 Mbit/s a taxa mínima de tráfego de downstream336
referida na seção 60 c(2), da Lei do Mercado de Comunicações.
No entanto, esse valor não é absoluto, pois a seção 1(2) do Decreto admite
médias de 750 Kbit/s nas medições efetuadas durante um período de vinte e quatro horas e de
500 Kbit/s em medição efetuada em qualquer período de quatro horas. Contempla-se,
portanto, uma estimativa preliminar de 1 Mbit/s de acesso como regra, mas se admite algumas
oscilações transitórias de velocidade.
335
Cfr. Section 60 c (363/2011) “(3) Provisions on the minimum rate of a functional Internet access referred to
in subsection 2 above are laid down by decree of the Ministry of Transport and Communications. (…).”
(Unofficial translation of Ministry of Transport and Communications, Finland)
336
Downstream, termo usado para referir a mediáo de banda quando da baixa de arquivos na Rede.
149
serviços de qualidade a preços razoáveis. Em outras palavras, equivale a afirmar que o acesso
à Internet deve ser funcional.
150
o uso da Internet, inspirados na Resolução de 2009 do Comitê Gestor da Internet no Brasil
(CGI.br), intitulada os princípios para a governança e uso da Internet337.
(...) O direito de acesso à internet pode ser entendido como um desdobramento dos
direitos fundamentais de expressão e de comunicação, em seus âmbitos de acesso à
informação e de livre manifestação e formação do pensamento. É ainda condição
para o pleno exercício da democracia, por meio do acesso a serviços de governo
eletrônico e da possibilidade de interação que pode ser estabelecida com
representantes políticos.
Entendido como um direito fundamental, o acesso à internet não corresponde apenas
à navegação, mas também à produção de conteúdo, seja pelo uso de ferramentas
337
De acordo com a Resolução CGI.br RES/2009/003/P – Princípios para a governança e o uso da internet no
Brasil -, foram elencados 10 princípios: “1. Liberdade, privacidade e direitos humanos - o uso da Internet deve
guiar-se pelos princípios de liberdade de expressão, de privacidade do indivíduo e de respeito aos direitos
humanos, reconhecendo-os como fundamentais para a preservação de uma sociedade justa e democrática. 2.
Governança democrática e colaborativa - A governança da Internet deve ser exercida de forma transparente,
multilateral e democrática, com a participação dos vários setores da sociedade, preservando e estimulando o seu
caráter de criação coletiva. 3. Universalidade - O acesso à Internet deve ser universal para que ela seja um meio
para o desenvolvimento social e humano, contribuindo para a construção de uma sociedade inclusiva e não
discriminatória em benefício de todos. 4. Diversidade - A diversidade cultural deve ser respeitada e preservada e
sua expressão deve ser estimulada, sem a imposição de crenças, costumes ou valores. 5. Inovação - A
governança da Internet deve promover a contínua evolução e ampla difusão de novas tecnologias e modelos de
uso e acesso. 6. Neutralidade da rede - Filtragem ou privilégios de tráfego devem respeitar apenas critérios
técnicos e éticos, não sendo admissíveis motivos políticos, comerciais, religiosos, culturais, ou qualquer outra
forma de discriminação ou favorecimento. 7. Inimputabilidade da rede - O combate a ilícitos na rede deve atingir
os responsáveis finais e não os meios de acesso e transporte, sempre preservando os princípios maiores de defesa
da liberdade, da privacidade e do respeito aos direitos humanos. 8. Funcionalidade, segurança e estabilidade - A
estabilidade, a segurança e a funcionalidade globais da rede devem ser preservadas de forma ativa através de
medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e estímulo ao uso das boas práticas. 9.
Padronização e interoperabilidade - A Internet deve basear-se em padrões abertos que permitam a
interoperabilidade e a participação de todos em seu desenvolvimento. 10. Ambiente legal e regulatório - O
ambiente legal e regulatório deve preservar a dinâmica da Internet como espaço de colaboração.” Texto
disponível em <http://www.cgi.br/media/docs/publicacoes/4/CGI-e-o-Marco-Civil.pdf> , acesso em 15 de maio
de 2014.
151
online, incluindo aí as chamadas redes sociais; seja pela intervenção nos processos
comunicativos, por meio de comentários ou respostas a conteúdos prévios.
Além dessa perspectiva de direito individual, outro lado da questão, do ponto de
vista coletivo, é o potencial de desenvolvimento social e de promoção de justiça
social das comunicações pela internet. As possibilidades horizontais de produção de
significados, de construção de relevâncias, de reflexão sobre a própria sociedade,
são multiplicadas nesse ambiente multidirecional de conversação. E a plena fruição
da internet, nessa sua dupla face, depende de o acesso ser barato, fácil e rápido.
Se os meios de comunicação tradicionais dependem de um grande investimento para
funcionar, a internet permite um uso pleno com um gasto infinitamente mais baixo.
O custo mínimo para acessar a internet deve se manter ao alcance de todos os níveis
de renda. Só assim a rede pode ser espaço de promoção de igualdade social, e não
um multiplicador de desigualdades já existentes.
Tecnologicamente, a internet deve se manter uma ferramenta viável para o usuário
final, da qual as pessoas possam se valer para construir as soluções e respostas de
que precisem. A facilidade do acesso é um pressuposto, que compreende uma
infraestrutura adequada igualmente distribuída pelo País, que possibilite a
navegação por diversos dispositivos.
Nesse contexto, é essencial a existência de pontos públicos de acesso, não apenas
por redes sem fio abertas, mas também com terminais de uso público. Da mesma
forma, deve ser garantida a possibilidade de acesso pleno em estabelecimentos de
ensino, LAN houses, telecentros, bibliotecas, centros comunitários, bem como no
ambiente de trabalho.
A velocidade do acesso deve acompanhar as evoluções tecnológicas, fomentando
tanto a apreciação cultural como a capacidade de intervenção. Uma internet lenta
representa um obstáculo para o acesso, tanto passivo quanto ativo, dos conteúdos
online.
O debate, neste aspecto, recai não só sobre a viabilidade prática da afirmação do
direito de acesso como direito fundamental, como também sobre os meios para
alcançá-lo338.
152
A empresa Legaltech, de consultoria, gestão, perícia e treinamento, no
parecer enviado em 30 de maio de 2010, duvidava que o acesso à Internet fosse um direito.
De acordo com o documento, o que deveria constar no artigo era a consolidação da “inclusão
digital” como garantia fundamental, uma política publica que deveria compreender em seu
bojo a educação, a disponibilidade e a cidadania digital respeitada339.
Outra contribuição ao tema foi trazida pelo escritório Patrícia Peck Pinheiro
Advogados. O parecer, encaminhado em 30 de maio de 2010, reconhecia acertada a redação
do Anteprojeto, que privilegiava todo cidadão com o acesso à Internet, mas ressalvava que o
texto deveria determinar a obrigação do primeiro acesso ocorrer com educação sobre o uso
ético, seguro e legal da Internet, a importar na obrigação de ensinar, orientar sobre o uso
correto da Rede, ou seja, inclusão digital com conscientização dos usuários. Mais à frente,
análise mais detalhada do texto do Anteprojeto, considerava confusa a redação do art. 6º,
propondo o seguinte teor: “Todo cidadão tem direito de acesso à Internet, garantidos o acesso
à informação e a liberdade de manifestação do pensamento e de expressão, sempre
respeitando os direitos dos demais ao utilizá-la, por constituir ato de cidadania340“.
153
Art. 4º. A disciplina do uso da Internet no Brasil tem os seguintes objetivos:
I - promover o direito de acesso à Internet a todos os cidadãos;
II - promover o acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida
cultural e na condução dos assuntos públicos;
III - promover a inovação e fomentar a ampla difusão de novas tecnologias e
modelos de uso e acesso; e
IV - promover a adesão a padrões tecnológicos abertos que permitam a
comunicação, a acessibilidade e a interoperabilidade entre aplicações e bases de
dados. (grifo nosso)
341
BRASIL, Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 2.126 de 25 de agosto de 2011.
154
Durante os quase três anos de tramitação do Projeto, até a sanção da Lei, em
23 de abril de 2014, o reconhecimento do direito de acesso à Rede foi mantido no texto legal,
sendo substituído o vocábulo cidadão pela expressão “todos”, a fim de reforçar a ideia de um
direito de toda pessoa humana, direito que contribui para o exercício da cidadania e que
pressupõe para o seu exercício, a liberdade de expressão e a privacidade das comunicações,
como bem deflui do teor dos artigos 4º., 7º. e 8º., caput, da Lei nº. 12.965:
Art. 4º. A disciplina do uso da internet no Brasil tem por objetivo a promoção:
I - do direito de acesso à internet a todos;
II - do acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural e na
condução dos assuntos públicos;
III - da inovação e do fomento à ampla difusão de novas tecnologias e modelos de
uso e acesso; e
IV - da adesão a padrões tecnológicos abertos que permitam a comunicação, a
acessibilidade e a interoperabilidade entre aplicações e bases de dados.
155
Art. 8º. A garantia do direito à privacidade e à liberdade de expressão nas
comunicações é condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet.
Ainda que a Lei nº 12.965 declare o acesso à Internet como direito de todos,
não aclara, todavia, a compreensão de tal direito.
Em acréscimo, o Marco Civil prevê nos arts. 24, VIII, e 26, as diretrizes
para o desenvolvimento de ações e programas de capacitação para o uso da Internet, através
da educação:
Art. 24. Constituem diretrizes para a atuação da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios no desenvolvimento da internet no Brasil:
VIII - desenvolvimento de ações e programas de capacitação para uso da internet;.
342
Cfr. SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. p. 179.
343
BRASIL. Marco Civil da Internet, Lei nº. 12.965 de 24 de abril de 2014.
156
de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, em 22 de abril de 2010344,
ainda em tramitação. A PEC pretende acrescentar o inciso LXXIX, ao art. 5º., da
Constituição Federal, para incluir o acesso à Internet em alta velocidade como direito
fundamental do cidadão.
344
Informações disponíveis em <
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=473827>, acesso em 15 de maio de
2014.
345
Como referido no ponto 1, deste capítulo, a banda larga é parte da infraestrutura que envolve o direito de
acesso. Vid. p.121-123.
346
BRASIL. Decreto nº 7.175, de 12 de maio de 2010. “Art. 1o Fica instituído o Programa Nacional de Banda
Larga - PNBL com o objetivo de fomentar e difundir o uso e o fornecimento de bens e serviços de tecnologias de
informação e comunicação, de modo a:
I - massificar o acesso a serviços de conexão à Internet em banda larga;
II - acelerar o desenvolvimento econômico e social;
III - promover a inclusão digital;
IV - reduzir as desigualdades social e regional;
V - promover a geração de emprego e renda;
VI - ampliar os serviços de Governo Eletrônico e facilitar aos cidadãos o uso dos serviços do Estado;
VII - promover a capacitação da população para o uso das tecnologias de informação e
VIII - aumentar a autonomia tecnológica e a competitividade brasileiras.”
157
com a “iniciativa precursora já adotada por países como a Finlândia, primeira nação a declarar
em lei que o uso da banda larga é um bem comum que deve estar à disposição de todos”347.
Em seu voto pela aprovação do Projeto, o Relator evidencia que a Proposta terá
reflexos positivos para a indústria de telecomunicações e informática e segmentos da
economia, e consolidará o reconhecimento da Internet banda larga como ferramenta
estratégica para o desenvolvimento econômico e social do país. Ressalta, ainda, apenas com a
“universalização do acesso à banda larga, o Brasil poderá usufruir na plenitude do potencial
das novas tecnologias para a melhoria das condições de vida da população, notadamente em
áreas como telemedicina, ensino a distancia, mobilidade urbana, segurança pública,
pagamentos móveis, cidades digitais e governo eletrônico, entre tantas outras”348.
347
BRASIL.Proposta de Emenda à Constituição nº 479/2010, disponível em <
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=756209&filename=PEC+479/2010>
acesso em 25 de junho de 2014.
348
Parecer do Relator disponível em
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=756209&filename=PEC+479/2010>,
acesso em 25 de junho de 2014.
158
Na oportunidade, o Relator apresentou o Substitutivo – PEC nº. 479-
B/2010, que, no novel inciso LXXIX, do art.5º., da Constituição Federal propõe seja “(...)
assegurado a todos o acesso à Internet em alta velocidade, com a garantia de tratamento
isonômico dos dados trafegados, sendo vedada a discriminação em decorrência da natureza do
conteúdo, emissor e destinatário”.
Alocar o direito de acesso à Internet no rol dos direitos sociais se faz mais
apropriado, porquanto, por força da via hodierna, o exercício de muitos dos direitos do
cidadão, como a informação, a educação, o trabalho, a remuneração digna, encontra-se
estreitamente ligado ao acesso às novas tecnologias.
349
Sobre a visão econômica do desenvolvimento sustentável, vid. nesta Dissertação notas nº 262 e 263, p. 110.
350
Disponível em < http://www.senado.leg.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=99334>, acesso em
25 de junho de 2014.
159
A Proposição ainda não foi discutida no Senado Federal, já que desde 14 de
novembro de 2013 aguarda o Relatório da Senadora Ângela Portela351. No entanto, tal
Proposta parece mais consentânea com a natureza mista deste Direito Humano, que pressupõe
atuação positiva do Estado, de modo que a pessoa humana tenha liberdade de aceder e
auxiliar a produzir conteúdo na Rede.
351
Informações sobre a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição nº. 06/2011, disponível em
<http://www.senado.leg.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=99334>, acesso em 25 de junho de 2014.
160
CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O DIREITO HUMANO DE
ACESSO À INTERNET.
161
humana submete-se aos sempre novos matizes dos influxos das exigências essenciais da vida
em sociedade.
Quanto à Internet:
162
construir uma nova sociedade inclusiva em que, assimiladas, as diferenças não impeçam um
convívio pacífico. Enfim, um verdadeiro instrumento para a expansão das capacidades de
ações individuais.
163
informação, concretizando, destarte, o ideal proclamado pelas Nações Unidas, da construção
de uma comunidade harmônica em escala planetária.
164
i) acelerar mudanças em prol do desenvolvimento, em razão da velocidade em que ocorre a
troca informações; ii) criar redes humanas de âmbito estatal, regional e mundial; iii) aprimorar
o intercâmbio de informações, com reflexos no campo das pesquisas e no acesso ao
conhecimento; iv) reduzir os custos da distribuição de material informativo; v)promover a
interatividade, que não encontra limites em fronteiras culturais, sociais e territoriais; vi)
facilitar a transparência nas informações da administração pública, v.g., nos procedimentos
licitatórios, na destinação e utilização de verbas para políticas públicas; vii) fortalecer a
democracia.
Há, pois, que reconhecer a todos os homens o direito de tomar parte nesta
nova sociedade, de ter a oportunidade de participar dos acontecimentos que se desenvolvem
na Rede e de auxiliar em seu desenvolvimento. Direito que não se restringe ao mero ingresso
no ciberespaço, mas que lhe possibilita ser um verdadeiro cidadão do mundo virtual.
165
conteúdo, sem qualquer tipo de limitação externa à vontade do homem capacitado para estar
neste novo ambiente e agir de modo consciente e responsável.
166
Internet – antes, se encontra na relevância social que adquiriu para o homem enquanto meio
eficaz para o exercício de suas liberdades, para obter informações que refletem em uma
melhor qualidade da vida de todos, que pode influir no crescimento da economia, provocar
aumento da produtividade, gerar empregos e fomentar a empregabilidade, ao mesmo tempo
que constitui um novo locus humano, passível de ser utilizado por toda pessoa para
desenvolver suas potencialidades e exercer com responsabilidade direitos e liberdades
fundamentais.
167
desenvolver políticas que tenham por escopo a produção de conteúdo informativo de interesse
local; iii) quanto à capacitação para o acesso, há, também, que desenvolver políticas, tendo
em vista amplo e complexo processo educacional que possibilite a toda pessoa humana
adquirir as competências e conhecimentos necessários à compreensão do funcionamento deste
espaço virtual chamado Internet, à economia do conhecimento, para uma participação ativa,
com pleno aproveitamento dos benefícios, incluída sensibilização para os princípios e valores
éticos.
4
É mais que óbvia a omissão, já que à época da formulação de dados documentos normativos era impensável a
existência de um direito ao acesso à Internet. Impende lembrar as tecnologias de informação e comunicação que
deram origem à Rede mundial de computadores, como visto no capítulo 3, surgiram no final da década de 1950 e
se materializaram na década de 1960. Porém, esta nova tecnologia ganhou relevância mundial só em meados da
década de 1990.
168
direito de todos à participação na vida cultural, e de outro impulsionam aos Estados Parte à
adoção das medidas necessárias para a garantia do pleno exercício deste direito, despendido
especial esforço com as medidas dirigidas à conservação, desenvolvimento e difusão da
ciência e da cultura.
5
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. p. 987.
169
Enquanto utopia, os Direitos Humanos objetivam formar uma visão crítica
da realidade e impulsionar o homem a mover-se em busca do desenvolvimento de uma
sociedade melhor. É uma esperança que provoca os homens a repensar o Direito e o contorno
de seus direitos no futuro, pois a pessoa humana é um ser dinâmico que transforma a si
própria e o mundo à sua volta.
Esta Dissertação representa apenas o inicio dos estudos deste novo direito;
cumpre, a partir daqui, empreender análise sempre mais aprofundada dos princípios
norteadores do tema, e prosseguir, ainda, no acompanhamento do processo legislativo das
Propostas de Emenda à Constituição Federal de 1988 (nº 479/2010 e nº 06/2011), e no exame
dos ordenamentos normativos de outros países, v.g., Equador, Espanha, França e Grécia.
170
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