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TERESÓPOLIS
2016
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS – FESO
CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS – UNIFESO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCHS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
TERESÓPOLIS
2016
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS – FESO
CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS – UNIFESO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCHS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
Primeiramente tenho que agradecer sem dúvidas a minha família que sempre
esteve do meu lado ao longo desta jornada e pode me proporcionar essa oportunidade de
formação e aprendizado. A todos os professores que me transmitiram seu vasto
conhecimento durante todo o curso, dispondo das ferramentas para nos tornar melhores
cidadãos e futuros operadores do direito.
RESUMO
His work is the goal, contextualize and clarify the racial discrimination practiced
in the information society, mainly on the internet, technology has opened doors for
extensive exchange of views and thoughts, given its global expansion capacity. The
prejudice between races is matter since the dawn of contemporary society, always being
targets of discussion among historians and scholars of law. This threshold the evolution
of information technology has brought significantly the spread of discriminatory
thoughts, needing changes happen right for there to be a containment such social
problem. Freedom of expression and the constitutional principles conflict with the new
information technologies, showing the right's ability to modify on the ideological
convergence.
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 09
1. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO........................................................... 10
1.1 EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO.................................. 10
1.1.1 Histórico da criação da Rede Mundial de Computadores...................... 11
1.1.2 O processo de inclusão digital no brasil................................................... 12
1.1.3 Aspectos positivos e negativos da utilização da internet......................... 14
1.2 LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DIREITO A HONRA............................. 15
2. O RACISMO ................................................................................................... 18
2.1 RESUMO HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO ANTI-RACISMO NO
BRASIL................................................................................................................. 18
2.2 CONCEITO..................................................................................................... 19
2.2.1 Discriminação Racial ................................................................................. 19
2.3 CRIME DE RACISMO X INJÚRIA RACIAL .............................................. 20
2.4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS............................................................... 23
2.4.1 Princípio da dignidade da pessoa humana ............................................... 23
5. CONCLUSÃO................................................................................................... 46
INTRODUÇÃO
1. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
A expansão das novas tecnologias criou inúmeras alternativas que puderam quebrar
as barreiras da distância entre as relações econômicas, de modo que criaram uma
mutação na visão do empreendedorismo informacional.
A União Europeia logo após a investida dos EUA, também entrou na investidura
nas novas tecnologias de informação, tendo como teste sua padronização interna, em
sua administração pública, renovando consideravelmente a indústrias de seus países
componentes.
1
TAKAHASHI, Tadao. Sociedade da Informação: Livro Verde. Brasília. Ministério de Ciências e
Tecnologia. 2000. p 20
2
PAESANI, Liliana Minardi. Direito e internet. São Paulo. 2014. p.11
12
Genebra, cujo é composto por hipertextos, ou seja, documentos cujo o texto, imagem e
sons são evidenciados de forma particular e podem ser relacionados com outros
documentos.
3
ARRUDA, Felipe. 20 anos de internet no Brasil: aonde chegamos?. Disponível em:
http://www.tecmundo.com.br/internet/8949-20-anos-de-internet-no-brasil-aonde-chegamos-. Acesso em
30 de Novembro de 2015.
13
4
SANTOS, Plácida Leopoldina Ventura Amorim da Costa; CARVALHO, Angela Maria Grossi de
Sociedade da Informação: avanços e retrocessos no acesso e no uso da informação. Informação &
Sociedade: estudos. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba (UFPB), v. 19, n. 1, p. 45-55, 2009.
<Disponível em:http://www.ies.ufpb.br/ojs/index.php/ies/article/viewFile/1782/2687>
14
Com essa forma ilimitada e consideravelmente sem controle, usuários também abordam
a internet como forma de controle social, praticando delitos virtuais, como invasões a
sites de segurança, criações de páginas discriminatórias, furto de informações privadas.
Para o melhor controle e penalização destas formas de má utilização da internet em seus
veículos foi criada em 2012 por decreto da Presidência de República, a Lei 12.737/12,
conhecida vulgarmente como “Lei Carolina Dieckmanm”, a qual se refere o caso da
atriz que dá o nome a lei, ter diversas fotos intimas vazadas e expostas a público devido
a invasão de "Hackers" em seu computador pessoal, deixando uma vasta discussão entre
doutrinadores e juristas sobre crimes virtuais, ou seja, crimes cometidos pela a internet e
suas ramificações atentando principalmente a forma de utilização que a sociedade vem
usufruindo da tecnologia. A Lei insere artigos no Código penal, dispondo sobre a
tipificação nos delitos informáticos como podemos ver no Art. 154-A do CP:
5
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acessado em 15 de novembro de
2015.
15
Ainda no caso em tela os ministros do STF em seus votos foram por maioria em
considerar que a liberdade de expressão tem limites a serem estabelecidos, não sendo
ela absoluta, pregando no âmbito da juridicidade, constitucionalidade e moralidade,
como relata parte do julgado abaixo:
8
SALGADO, Ana Alice Ramos Tejo. LEITE, Filipe Mendes Cavalcanti. SILVA, Talita de Paula Uchoa.
Liberdade de expressão e os crimes contra a honra: aspectos controvertidos. Disponível em <
http://revista.uepb.edu.br/index.php/datavenia/article/view/500/297> Acessado em 10 de Jun. 2016 p.7
17
Desta forma percebe-se que direitos como a liberdade de expressão que são
regidos por princípios, podem ser restritos caso transgrida de maneira que cause danos a
honra de um indivíduo ou de um grupo, levando em consideração os fatos praticados.
2. O RACISMO
intolerância étnica, tal como uma desculpa para o tratamento desigual de questões
ideológicas, econômicas e sociais.
No Brasil, tais atos começam desde a sua descoberta que trouxeram os
moldes de escravidão da Europa, iniciando-se com os índios, por volta de 1500, sendo
substituídos por os africanos, cuja mão de obra se adaptaria melhor neste tipo de
trabalho pesado, que era imposto pela a colônia. O homem negro neste período era visto
como mercadoria, algo que poderia ser comercializado para abastecer as vias
econômicas Portuguesas, sendo claramente caracterizado como objeto não como um ser
humano semelhante aquele que o escravizava.
10
CHIAVETTO, Júlio José. O negro no Brasil: da senzala à guerra do Paraguai. São Paulo:
Brasiliense, 1980. p. 211.
19
liberdade, finalizando a era dos escravos no Brasil. Entretanto, mesmo com a alforria
decretada, os negros não eram tratados com igualdade, passando ainda por longas
escalas de preconceitos, cujo se expandem até os dias presentes.
2.2 CONCEITO
11
BRASIL. Lei n° 1.390 de 3 de Julho de 1951. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L1390.htm> Acessado em 1 de Dezembro de 2015.
20
12
UNIDAS, Nações. Declaração sobre eliminação de todas as formas de discriminação racial de
1968. Artigo 1°. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?
id=94836.> Acessado em 2 de Dezembro de 2015.
21
condenar o réu Gutman Uchôa de Mendonça, como incurso nas penas do art.
20, § 2º, da Lei 7.716-89, em interpretação conjunta com o art. 71 do Código
Penal, a pena de 02 (dois) anos e 08 (oito) meses de reclusão, a ser cumprida
em regime inicial aberto, cumulada com 10 (dez) dias-multa, nos valores
mínimos legais. O d. juízo sentenciante determinou, ainda, com fulcro no art.
77, § 2º, do Código Penal, a suspensão condicional da pena privativa de
liberdade fixada, pelo prazo de 04 (quatro) anos, por entender que a citada
suspensão seria mais favorável ao réu que a substituição por penas restritivas
de direito, nos termos do art. 77, III, do Código Penal. Ademais, deve o
acusado durante o primeiro ano da suspensão, prestar serviços à comunidade,
conforme disposto no art. 78, § 1º, do mesmo diploma legal. [...]
A defesa interpôs recurso de apelação às fls. 144-145, apresentando razões às
fls. 157-192, sustentando, em breve síntese, (i) extinção da punibilidade em
razão da ocorrência de prescrição da pretensão punitiva, pelo fato do réu ser
maior de 70 (setenta) anos, nos termos do art. 109 e seus incisos, em
interpretação conjunta com o art. 115, ambos do Código Penal; (ii)
atipicidade da conduta, tendo em vista [...]”
DIREITO PENAL. CRIME DE RACISMO CONTRA ÍNDIOS
PERPETRADO POR MEIO DE ARTIGOS JORNALÍSTICOS.
IMPRESCRITIBILIDADE. DIREITO FUNDAMENTAL DE LIBERDADE
DE EXPRESSÃO. EXERCÍCIO ARBITRÁRIO. CONTINUIDADE
DELITIVA. “I- O delito de racismo é imprescritível, conforme o disposto no
art. 5º, XLII, da Constituição da República. II- O direito de liberdade de
expressão não deve ser exercido de modo absoluto, irrestrito, sob pena de
violação a outros valores igualmente relevantes, como o princípio da
dignidade da pessoa humana. III- Se o réu, de forma consciente e voluntária,
por meio de artigos publicados em jornal, praticou, induziu e incitou a
discriminação contra os índios, incorreu no tipo penal de racismo, descrito no
art. 20, §2º, da Lei 7.716-89.IV- É cabível o reconhecimento da continuidade
delitiva, incidindo a causa de aumento de pena prevista no art. 71 do Código
Penal, se os artigos jornalísticos por meio dos quais o crime foi perpetrado
foram publicados em curto intervalo de tempo.V- Recurso desprovido.”
[...] “Vistos e relatados os presentes autos, em que são partes as acima
indicadas, acordam os Membros da Segunda Turma Especializada do
Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento
ao recurso, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante
deste julgado.”13
Diante disto, o crime de racismo está dito no Art. 20, §2º da Lei 7.716/89 que
tipifica os delitos que são resultantes de resultantes de discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
A injúria racial por sua vez, está completamente ligada à honra do indivíduo, isto
é, ofender a dignidade da vítima, usando a característica da raça, cor, religião, sendo a
sua principal característica é o emprego de palavras depreciativas. A infração da injúria
13
BRASIL. Tribunal Regional Federal. (2ª Região). Apelação Criminal. Apelante: Gutman Ochoa
Mendonça. Apelado: Ministério Público Federal. Relator: Desembargador Federal André Fontes.
Vitória/ES , 06 de maio de 2009. Disponível em:
http://trf2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5380650/apelacao-criminal-acr-5456-rj-20005001003187-6.
Acessado em 8 de Dezembro de 2015.
22
qualificada pelo o preconceito está distribuída no Art. 140, §3° do Código Penal,
podendo o acusado ser liberado mediante fiança estabelecida em sede policial, questão
extremamente debatida nos dias atuais, pela seriedade e gravidade do delito, mesmo
com a política de preservação dos direitos humanos em larga escala é corriqueiro casos
de injúria no cenário brasileiro e mundial. Acontecimentos ficaram marcados nesse
tema, como o caso do ex-jogador do São Paulo Futebol Clube, Edinaldo Batista
Libânio, mais conhecido como “Grafite”, que disputando uma partida da Copa
Libertadores da América de 2005 foi agredido verbalmente pelo Zagueiro adversário
Leandro Desábato, pelos os xingamentos de “Macaquito” e “Negrito” atingindo
diretamente a honra do jogador brasileiro dentro de campo de jogo. O desportista
argentino foi conduzido à delegacia e autuado por injúria racial, sendo liberado após ter
pago a fiança de R$ 10.000,00 (dez mil) reais.
“"A outra vez que viemos aqui jogar a Copa do Brasil tinha campanha contra
racismo, não é à toa. Xingar, pegar no pé é normal. Agora me chamaram de
'preto fedido, seu preto, cambada de preto'. Estava me segurando. Quando
começou o corinho com sons de macaco eu até pedi para o câmera filmar, eu
fiquei p... .Quem joga aqui sabe, sempre tem racista no meio deles. Está dado
o recado, agora é ficar esperto para a próxima", desabafou o goleiro. [..] Tem
leis, mas no futebol sabemos que o torcedor usa de várias maneiras para
desestabilizar. Não vou deixar de jogar o meu futebol por manifestação de
torcedor. Dói, mas tenho que jogar", declarou Aranha.”14
12.033/2009 que faz o crime de injúria racial se propor por Ação Pública Condicionada,
deixando de ser uma Ação Privada, devido ao caso do interesse público, diante do fato
do sentimento de impunidade aos casos de injúria racial, sendo assim para o maior
cerceamento desta infração voltada para a discriminação de raça e cor, tornando-a de
natureza jurídica híbrida.
Por sua característica pessoal, a dignidade humana não pode ser trazida com um
conceito, mas sim como um qualidade que o ser humano detém para o relacionamento
social com o seu semelhante, como podemos notar nas palavra de Ingo Wolfgang Sarlet
quando se trata da ideologia da dignidade humana:
A dignidade da pessoa humana por outro aspecto era tida como qualidade que o
ser humano possuía para distinguir das demais espécies, no sentido que a raça humana é
dotada da dignidade sempre, sendo firmemente conectada a ideia do homem ser livre e
responder por os seus atos e seu próprio destino.16
15
SARLET, Ingo Wolgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição
Federal de 1988. 4 ed. Ver. Atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2006. p.30
16
Loc. cit.
24
mais alto grau , nas relações sociais e no Direito, se tornando referência para o
entendimento de normas jurídicas, correspondendo a um elemento de extrema
importância para o Estado Democrático de Direito.
17
KARASINSKI, Eduardo. A história do e-mail. TecMundo. 21.set. 2009. Disponível em:
<http://www.tecmundo.com.br/web/2763-a-historia-do-email.htm> Acessado em 20 mai. 2016
18
AMÉRICO, Jorge. Estudante de direito é vítima de racismo na PUC de São Paulo. São Paulo. 19.
nov. 2010 Disponível em: <http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/estudante-de-direito-e-vitima-
de-racismo-na-puc-de-sao-paulo.html> Acessado em 20 mai. 2016.
site, que tem o propósito de ser o ponto de partida da página virtual, guiando o usuário
na navegação da mesma.
Os websites ao longo da evolução interna da internet foram ganhando diversas
variações que propunham as mais diferentes utilidades. Podemos destacar dois modos
que ficaram bastante populares sendo eles os blogs e as redes sociais. Fazendo uma
análise mais atenta para o primeiro citado, o blog começou a ser explorado nos anos
2000, vindo a ser umas das melhores ferramentas para a manifestação do pensamento,
por se assemelhar a um diário pessoal, o qual o usuário poderia transcorrer sobre
qualquer assunto de qualquer natureza por postagens escritas, por imagens ou por
vídeo. A característica inovadora que o Blog trouxe foi a capacidade de outros
usuários seguirem as postagens publicadas, sendo notificados a cada conteúdo novo
apresentado pelo o dono do blog, podendo o seguidor tecer comentários sobre aquele
assunto em uma área reservada para tal finalidade. Os blogs atraíram milhares de
novos usuários para a internet, a fim de expor suas ideias pensamentos e opiniões, as
coordenadoras Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Portella Montardo,
elucidam de forma clara a utilidade do Blog no mundo da web:
20
STREIT, Maíra. Site propaga ódio aos negros. 2. Abr. 2015 Disponível em:<
http://www.revistaforum.com.br/2015/04/02/site-propaga-odio-aos-negros. Acessado em 24. mai. 2016
21
RECURO, Raquel . Redes Sociais na Internet. Porto Alegre. 2009. Coleção Cibercultura. p. 102
Da mesma forma que o correio eletrônico facilitou a proliferação de discursos
racistas na internet, as redes sociais com suas peculiaridades também abriu espaço
para a discriminação racial. Casos deste tipo vem acontecendo nas redes sociais, de
forma corriqueira, causando muito impacto e repercussão na mídia. Neste limiar,
podemos citar o crime de injúria cometido contra a jornalista e apresentadora do
tempo do Jornal Nacional, Maria Júlia Coutinho, a qual sofreu ataques
discriminatórios através da rede social Facebook, por grupos racistas. O fato
repercutiu em âmbito nacional como mostra a matéria do G1, portal de notícias da
Globo:
Maria Júlia Coutinho, a Maju, se disse feliz pela campanha de apoio a ela e de
repúdio a insultos raciais postados na internet. No Jornal Nacional desta sexta-
feira (3), a jornalista agradeceu às manifestações de carinho. "Os
preconceituosos ladram, mas a caravana passa", disse a jornalista. Maju foi alvo
de comentários racistas na página do Jornal Nacional no Facebook, em um post
sobre previsão do tempo publicado na noite de quinta-feira com uma foto dela.
Alguns internautas fizeram comentários ofensivos, e várias pessoas saíram em
defesa da jornalista. A hashtag #SomosTodosMajuCoutinho chegou ao topo dos
trending topics, os tópicos mais comentados do Twitter nesta sexta-feira (3).
Internautas criaram a tag para apoiar a repórter do Jornal Nacional. "Acho
importante, claro, essas medidas legais serem tomadas, até para evitar novos
ataques a mim e a outras pessoas", disse a jornalista a respeito das investigações
sobre o caso. "Não esmoreço, não perco o ânimo, porque acho que isso é o mais
importante. Cresci em uma família muito consciente, de pais militantes, que
sempre me orientaram. Eu sei dos meus direitos", declarou. Ao final, ela
agradeceu ao carinho do público: "Quero demonstrar a felicidade que eu fiquei,
porque é uma minoria que fez isso. Eu fiquei muito feliz com as manifestações
de carinho. Eu recebi milhares de e-mails, de mensagens."22
22
G1. Maju se diz feliz: Preconceituosos ladram, mas caravana a passa.03. Jul. 2016. São Paulo
Disponível em:< http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2015/07/maju-comenta-apoio-preconceituosos-
ladram-mas-caravana-passa.html>. Acessado em 19/05/2016.
mês de Maio de 2016 também foi atacada por um indivíduo na rede social, levando a
mesma a polícia para o prosseguimento da ação penal contra o agressor.
26
VIANNA, Túlio Machado Felipe. Crimes informáticos. Belo Horizonte: Fórum. 2013.p 29.
“Jurisdição é a função estatal de aplicar o direito objetivo a um caso
concreto, protegendo um determinado direito subjetivo, através do devido
processo legal, visando ao acertamento do caso penal.”27
A competência por sua vez é a área que a lei determina para que Estado exerça
a jurisdição, munida do seu poder de julgar, criando-se assim as disciplinas do direito.
A competência dos crimes contra a honra praticados na internet, são tratados da
seguinte forma, como elucida Túlio Vianne e Felipe Machado:
Os crimes contra a honra (arts. 138, 139 e 140, todos do CpB), bem como
o racismo (lei nº 7.716/1989), praticados via Internet, conforme
entendimento aqui adotado, seguem a mesma lógica dos crimes do ECA,
isto é, a competência em razão do lugar da infração é definida a partir do
local onde foi concluída a ação delituosa, ou seja, no lugar onde o agente
veiculou a mensagem, e não onde está lotado o provedor29
27
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal - 21 ed. - Editora ATLAS: São Paulo. 2011
28
TOURINHO Filho, Fernando da Costa. Processo Penal – Volume I.12° ed ver. Atualizada. Saraiva.
São Paulo. 2010.
29
VIANNA, Túlio; MACHADO, Felipe. op. cit.,p. 52
O procedimento de coleta de provas, relacionadas ao suposto delito praticado,
tem escopo no Art. 6º, I do CPP, onde trata do Inquérito Policial, pois o local do ilícito
penal deve ser preservado até a chegada dos peritos, para a procedência de exames
nos instrumentos nos quais foram praticados os crimes. A investigação dos crimes
virtuais, incluindo os crimes de discriminação racial, ainda esbarram em problemas
como a diversificação de locais em que são executados e identificação dos autores dos
crimes, dificultando de forma que a autoridade policial não chegue a uma conclusão
precisa da onde se cometeu o fato, nem dos supostos infratores. No Art. 240 do CPP
traz a busca e apreensão, elemento de destaque no prosseguimento processual para a
investigação dos crimes virtuais, aplicando-se também o mesmo cuidado com o local,
no cumprimento do mandado para que os especialistas possam recolher apenas o
imprescindível para a análise pericial dos matérias utilizados.
31
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 21. ed. São Paulo. Saraiva: 2014. P. 266.
32
LOPES. Jr. Aury. op. Cit., p. 691
servirá de ferramenta para a futura medida cautelar a ser imposta ao praticante do ato,
sem a necessidade de autorização do poder judiciário.
Analisando profundamente a nossa lei penal, cabe ressaltar que ainda existe
uma carência de legislação específica que trata do ilícito penal cometidos através dos
meios virtuais, tanto para o crime de racismo, tanto para o crime de injúria racial,
carência esta que acaba dificultando as ações de coibição de tais crimes. Em 2012 foi
inserido no Código Penal, através da lei extraoficialmente como Carolina Dieckmann,
cujo foi explanada em linhas iniciais, dois artigos que foram relevantes para o início
da penalização de crimes virtuais, descrevendo somente a punição para o crime de
invasão de dispositivo informático alheio, definitivamente um bom passo para
repressão deste tipo de crime, porém insuficiente e praticamente nulo para a onda de
casos de discriminação racial que ocorrem pela a web.
Neste diapasão, é oportuno fazer a análise do cenário internacional, que vem
trazendo propostas para a melhoria de penalização dos cibercrimes, em termos de
responsabilidade, autoria e conteúdo. Em 2001, aconteceu na cidade de Budapeste,
capital da Hungria, a Convenção sobre Cibercrime na qual ficou notório por ser o
maior tratado internacional penal e processual penal, que aponta de forma concisa os
crimes cometidos pelas tecnologias da informação. Mais de 40 países foram adeptos a
esta convenção, criando um marco de controle penal na prática destes delitos. Na
América do Sul, apenas o Chile e a Colômbia aderiram o tratado, ficando o Brasil de
fora, deixando passar uma oportunidade e consequentemente abrindo uma lacuna na
segurança digital dos usuários da internet brasileira.
34
BRASIL. CPI – Crimes Cibernéticos. Relatório Final, de 20 de março de 2016. Diretoria
Legislativa. Brasília, p. 142, 2016. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1447125> Acesso em: 02
jun. 2016.
de extrema importância para a restrição do preconceito racial existente no país desde
o fim da época escravocrata.
Desta forma, existiu um contexto histórico até o advento desta lei, cujo veio
substituir a Lei 1.390 de 1951, Lei Afonso Arinos, a qual foi a precursora na
tipificação dos crimes de preconceito. O Brasil, desde os primórdios de sua
construção, sempre foi uma nação marcante pela sua diversidade étnica e cultural,
pois reuniu ao longo de sua história diferentes nacionalidades como povos da Europa,
África, Ásia, além dos nativos Indígenas. Mesmo com toda essa diversidade de etnias
o Brasil ainda passa por uma pré-disposição discriminatória com o sua própria nação,
tendo o fator das classes sociais, relacionada ao poder aquisitivo de casa indivíduo
auxiliando ainda mais as atitudes discriminatórias vividas e alimentada ao longo da
história.
nacional, como dispõe a lei, isto é, restrinja direitos, impeça um ação de um indivíduo
em virtude da sua etnia, por exemplo.
Porém sendo dispositivos diferentes, sendo aplicados em situações distintas, para que
não haja dúvidas a visualização do quadro comparativo abaixo35 clareia tal
explicação:
35
SIVIERO. Adriano dos Santos Filipe; SEVERINO. Guilherme Vasconcellos; MUSSI. Lucas;
PERES. Marcus Vinícius; JR. Miguel Armando Pereira. Lei 7.716/89 – Preconceito. Disponivel em: <
http://www.investidura.com.br/biblioteca-juridica/artigos/direito-penal/310-preconceito.> Acessado em
6 de junho de 2016
RACISMO RACISMO IMPRÓPRIO (INJÚRIA)
PRÓPRIO
O crime é
Consequências jurídicas:
inafiançável (embora
caiba Liberdade
Provisória sem fiança O crime é afiançável
do artigo 310,
parágrafo único do
O crime é prescritível
CPP, eis que a CF/88
não falou no gênero e
sim na espécie)
O crime é
imprescritível
(artigo 5º,
XLII da CF/88)
(HC 82424)
O especialista Paulo Rogério Nunes, cujo estuda os casos de racismo nas redes
sociais, discorre sobre a ineficácia da Legislação Brasileira nos casos de
discriminação por meio da rede, em entrevista concedida ao EL País Brasil:
“A Internet chegou para provar que somos um dos países mais racistas do
mundo” P: “Quais são os instrumentos legais que um internauta
anônimo tem para se defender dos ataques? Há outras vias, além dos
tribunais, para combater o ódio virtual?” R.” Existem as vias tradicionais
do Judiciário que precisam ter sua eficácia discutida e também há
plataformas que recebem denúncias como a SaferNet e Humaniza Redes.
Além disso, há várias redes de solidariedade e que produzem uma contra-
narrativa e apoio às vítimas de racismo e demais violações de direitos
humanos na Internet. Estamos começando a estudar esses grupos para
entender melhor como eles atuam. No evento que fizemos no Rio de
Janeiro, no final do mês de abril, conseguimos apresentar alguns deles
como o aplicativo Kilombu, que dá visibilidade a empreendedores
negros; o grupo Desabafo Social, que criou a Ubuntu, uma rede social
livre. Há ainda grupos de makers e hackers em favelas, vlogueiras negras
com canais de vídeos, além de aplicativos para mapear a violência
policial e outros para denunciar problemas nas cidades. Ou seja, tudo isso
entra nesse grande movimento de empoderamento dos cidadãos para não
ficarem passivos em relação ao racismo estrutural da sociedade
brasileira. Todos precisam ser co-responsáveis em promover de
diversidade.”36
36
MARTIN, Maria. A internet chegou para provar que somos um dos países mais racistas do mundo.
El País. Rio de Janeiro, 15 de jun. 2016. Disponivel em:
<http://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/10/politica/1462895132_579742.html?
id_externo_rsoc=Fb_CM> Acesso em 16 jun. 2016.
Um importante elemento que auxilia na ineficácia dos crimes cibernéticos é a
dificuldade na investigação, pois o anonimato e dinamicidade da internet criam
barreiras, facilitando a exclusão de indícios do crime, dando espaço para o agente
delituoso não ser imputado. Além disto, a política dos provedores de internet, é de não
ser flexíveis em relação a liberação de dados, sendo apenas mediante pedido de
quebra de sigilo, devido os mesmos não serem obrigados a guardar informações de
acesso de seus consumidores. A legislação também é omissa na questão da aquisição
de material de cadastro dos usuários dos provedores de internet, deixando os mesmos
livres de qualquer responsabilidade.
Fazendo uma análise da Lei 12.735/2012, cujo foi denominada de Lei Azeredo
sendo a mesma o ponto de partida para a regulamentação dos crimes na esfera virtual,
visando exclusivamente atender o princípio da legalidade, dando atualidade ao
Código Penal e ao Código Militar, em virtude dos novos delitos praticados pela a
internet.
O bem jurídico que é para ser zelado na criação deste dispositivo foi a
privacidade, preservando a vida privada de cada indivíduo. A Lei Carolina Dieckmann
foi feita com base na Lei Azeredo.
Por serem dois dispositivos que tem a mesma finalidade pode-se fazer uma
comparação entre a Lei 12.735 (Azeredo) e a Lei 12.737/12 (Dieckmann), sendo a
segunda diferenciada pela
linguagem mais A LEI 12.737/12 (LEI CAROLINA branda e precisa,
a diminuição de DIECKMANN) TIPIFICA OS pena em alguns
tipos elencados, SEGUINTES CRIMES: os quadros
38
abaixo dão Inclui um novo dispositivo na Lei de Combate mais clareza
sobre ao Racismo (7.716/89) para obrigar que determinada
diferenciação: mensagens com conteúdo racista sejam
retiradas do ar imediatamente, como já ocorre
Tabela 3 – Lei Carolina Dieckmann
atualmente em outros meios de comunicação,
Tabela 4 – Lei como radiofônico, televisivo ou impresso; Azeredo
prevê a criação das delegacias especializadas
Fonte: Marcha Mundial das
no combate a crimes cibernéticos na Polícia
Mulheres/ Clareana Cunha
Federal e nas Polícias Civis
37
CLANEANA, Cunha. Lei de Cibercrimes e Lei Azeredo entram em vigor e o Marco Civil? Nada.
Blog da marcha mundial das mulheres. 5 abr. 2013. Disponível em:
<https://marchamulheres.wordpress.com/2013/04/05/lei-de-cibercrimes-e-lei-azeredo-entram-em-
vigor-e-o-marco-civil-nada/>. Acesso em 10 jun. 2016.
38
VENTURA, Felipe. Dieckmann x Azeredo: como se comparam os dois projetos de lei para crimes
virtuais. Gizmodo – Brasil. 3 nov. 2012. Disponível em: <http://gizmodo.uol.com.br/projeto-leis-
dieckmann-azeredo/>. Acesso em 13 mai. 2016.
4.4 CRIMES VIRTUAIS NO ÂMBITO INTERNACIONAL
5. CONCLUSÃO
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