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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS – FESO

CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS – UNIFESO


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCHS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ANTONIO CARLOS DE ASSIS SILVA

RACISMO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

TERESÓPOLIS

2016
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS – FESO
CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS – UNIFESO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCHS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ANTONIO CARLOS DE ASSIS SILVA

RACISMO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Direito como requisito
parcial para obtenção do título de
Bacharel em Direito, sob a orientação da
Prof.ª. Eliza Maria de Oliveira Bianchi

TERESÓPOLIS

2016
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS – FESO
CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS – UNIFESO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCHS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ANTONIO CARLOS DE ASSIS SILVA

RACISMO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de


graduação em Direito do Centro
Universitário Serra dos Órgãos como
requisito parcial para a obtenção do
título de Bacharel em Direito e
submetida à avaliação da banca
composta pelos seguintes membros:

Prof.ª Eliza Maria de Oliveira Bianchi


Orientador

Prof. Christiane Vaz


Membro-examinador

Prof. Gisele Alves


Membro-examinador

Teresópolis, 18 de Outubro de 2016


AGRADECIMENTOS

Primeiramente tenho que agradecer sem dúvidas a minha família que sempre
esteve do meu lado ao longo desta jornada e pode me proporcionar essa oportunidade de
formação e aprendizado. A todos os professores que me transmitiram seu vasto
conhecimento durante todo o curso, dispondo das ferramentas para nos tornar melhores
cidadãos e futuros operadores do direito.
RESUMO

O presente trabalho tem como o objetivo, contextualizar e esclarecer sobre a


discriminação racial praticado na sociedade da informação, principalmente na internet,
tecnologia que abriu portas para a extensiva troca de opiniões e pensamentos, tendo em
vista sua capacidade de expansão global. O preconceito entre raças é matéria desde os
primórdios da sociedade contemporânea, sempre sendo alvos de discussão entre
historiadores e doutrinadores do direito. Neste limiar a evolução das tecnologias da
informação trouxe de maneira significativa a propagação de pensamentos
discriminatórios, precisando acontecer mudanças no direito para que houvesse uma
contenção de tal problema social. A liberdade de expressão e os princípios
constitucionais entram em conflito com as novas tecnologias de informação, mostrando
a capacidade do direito em se modificar diante as convergências ideológicas.

Palavras chaves: tecnologia; globalização; direitos humanos; web, racismo


ABSTRACT

His work is the goal, contextualize and clarify the racial discrimination practiced
in the information society, mainly on the internet, technology has opened doors for
extensive exchange of views and thoughts, given its global expansion capacity. The
prejudice between races is matter since the dawn of contemporary society, always being
targets of discussion among historians and scholars of law. This threshold the evolution
of information technology has brought significantly the spread of discriminatory
thoughts, needing changes happen right for there to be a containment such social
problem. Freedom of expression and the constitutional principles conflict with the new
information technologies, showing the right's ability to modify on the ideological
convergence.

Key words: technology; globalization; human rights; web; racism


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 09

1. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO........................................................... 10
1.1 EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO.................................. 10
1.1.1 Histórico da criação da Rede Mundial de Computadores...................... 11
1.1.2 O processo de inclusão digital no brasil................................................... 12
1.1.3 Aspectos positivos e negativos da utilização da internet......................... 14
1.2 LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DIREITO A HONRA............................. 15

2. O RACISMO ................................................................................................... 18
2.1 RESUMO HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO ANTI-RACISMO NO
BRASIL................................................................................................................. 18
2.2 CONCEITO..................................................................................................... 19
2.2.1 Discriminação Racial ................................................................................. 19
2.3 CRIME DE RACISMO X INJÚRIA RACIAL .............................................. 20
2.4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS............................................................... 23
2.4.1 Princípio da dignidade da pessoa humana ............................................... 23

3. A PRÁTICA DE RACISMO NA REDE MUNDIAL DE


COMPUTADORES............................................................................................... 25
3.1 AS VIAS DE EMPREGO DO RACISMO NA REDE..................................... 25
3.1.1 Redes Sociais e Blogs ................................................................................... 26
3.2 FISCALIZAÇÃO E MEDIDAS PARA O CONTROLE DO RACISMO NA
WEB........................................................................................................................ 30
3.3 DOS ASPECTOS PROCESSUAIS PENAIS E DA CLASSIFICAÇÃO DE CRIME
INFORMÁTICOS.................................................................................................... 32
3.4 CARÊNCIA DE TIPIFICAÇÃO ESPECÍFICA NA LEI
PENAL.................................................................................................................... 36

4. RACISMO E INTERNET NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.................... 39


4.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI 7.716 DE 1989 ....................................... 41
4.2 INEFICÁCIA DA LEGISLAÇÃO NOS CRIMES VITUAIS ........................ 43
4.3 LEI ORGÂNICA 12.735 DE 2012 .................................................................. 43
4.4 CRIMES VIRTUAIS NO ÂMBITO INTERNACIONAL............................... 45

5. CONCLUSÃO................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................ 48


9

INTRODUÇÃO

Desde a formação das civilizações e sociedades contemporâneas, estas


apresentam a característica da diversificação étnica e cultural de seus povos
correspondentes. Com o avanço tecnológico e de ideais, algumas sociedades, começam
a incorporar a intolerância étnica em povos que consideravam inferiores, tecendo um
contexto histórico que se arrasta até os dias atuais.
No Brasil, não poderia ser diferente, devido sua exorbitante miscigenação étnica
dentro de seu território, herança de inúmeras raças distintas que povoaram e construíram
o país durante os séculos. Com a chegada da era tecnológica no séc. XX, tendo o seu
principal marco, a criação da internet, a velocidade de propagação da informação e o
direito da livre expressão tornaram-se elementos importantes para o emprego de
pensamentos preconceituosos de cunho racial, que se vão totalmente a contramão dos
direitos fundamentais ditados em nossa Constituição Federal.
A internet e sua sociedade formadora crescem de maneira elevada, aumentando a
responsabilidade de seu uso, pois desfere de uma ampla influência no corpo social, de
modo que o dano causado poderá ser irreparável. Desta maneira, o Direito deve
caminhar concomitante com o desenvolvimento da sociedade, para que não haja lesão à
dignidade dos indivíduos.
O contexto histórico de ambos os assuntos é de importância primordial para o
entendimento de como o preconceito em toda sua forma, evoluiu até os dias de hoje,
acompanhando a evolução tecnológica.
A globalização e a discussão mais profunda sobre os Direitos Humanos trazem à
tona a controvérsia de até que ponto um discurso coletivo, difundido em um meio de
comunicação tão utilizado afeta o meio social de uma maneira negativa.
Nesta esteira, serão analisados ao longo da pesquisa os objetos em questão,
salientando a aplicabilidade da legislação penal perante o crime de racismo praticado na
Rede Mundial de Computadores, assim como medidas e fiscalização, na perspectiva ao
combate deste delito, junto a influência da sociedade da informação sob o
comportamento social do cidadão.
Compreendendo-se assim o objetivo de conscientizar a sociedade para que se
extinga a prática da intolerância racial, além da má utilização da internet, explorando
suas vantagens, para a facilitação da vida diária com a finalidade do progresso de
socialização global. Apresentando como linha de pesquisa os Diretos Fundamentais e
Novos Direitos, e como eixo temático os Direitos Humanos e suas Políticas Públicas.
10

1. A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

1.1 EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Os anos 90 foram de suma importância para o regime da sociedade da informação,


podendo dizer assim que foi o marco primordial, sendo a década que firmou o avanço
tecnológico da indústria da comunicação, trazendo consigo uma crescente mudança nas
vias econômicas mundiais, provocando alterações significativas na política e
comportamento da globalização.

A expansão das novas tecnologias criou inúmeras alternativas que puderam quebrar
as barreiras da distância entre as relações econômicas, de modo que criaram uma
mutação na visão do empreendedorismo informacional.

Os EUA foram os pioneiros na expansão das tecnologias de informação, com o


programa HPCC (High Performance Computing and Comunnications), cujo foi projeto
apenas para atender as necessidades acadêmicas, explorando as vias de rede e
computação. No ano de 1993 aperfeiçoam o programa, passando a se denominar NII (
National Information Infrastructure). O programa HPCC/NII em 1994 foi dividido em 5
componentes: Sistemas de Processamento de Alta Performance; Tecnologia Avançada
de Software; Rede para Educação e Pesquisa; Infraestrutura Nacional de Informações;
Pesquisa Básica e Recursos Humanos.

A União Europeia logo após a investida dos EUA, também entrou na investidura
nas novas tecnologias de informação, tendo como teste sua padronização interna, em
sua administração pública, renovando consideravelmente a indústrias de seus países
componentes.

O período das novas tecnologias, passou por diversas nomenclaturas as quais


ficaram mais difundidas "Sociedade da Informação" e "Sociedade da Infraestrutura",
não dispondo de um conceito fixo, trazendo definições que se completam como
podemos observar na definição de Tadao Takahashi:

É um fenômeno global, com elevado potencial transformador


das atividades sociais e econômicas, uma vez que a estrutura e
a dinâmica medida, afetadas pela infra-estrutura de
informações disponível. É também acentuada sua dimensão
político-econômica, decorrente da contribuição da infra-
11

estrutura de informações para que as regiões sejam mais ou


menos atraentes em relação aos negócios e empreendimentos. 1

No Brasil a Sociedade da Informação foi difundida de modo tardio e motivado por


iniciativas que levaram à criação do Programa Sociedade da Informação no Brasil,
sendo esse programa dividido em três etapas três etapas, seguindo o modelo
implementado na União Europeia que seriam: a elaboração de um Livro Verde da
Sociedade da Informação no Brasil; a condução de um processo de consulta pública
referente às propostas nele contidas; e a elaboração de um documento-proposta final e
oficial, o Livro Branco. O Programa Sociedade da Informação no Brasil, foi
implementado para funcionar de maneira eficaz integrando, coordenando e fomentando
ações para a utilização de tecnologias de informação e comunicação, de forma a
contribuir para que a economia do país tenha condições de competir no mercado global
e, ao mesmo tempo, contribuir para a inclusão social de todos os brasileiros na nova
sociedade. Hoje em dia o Brasil está entre os 10 países que mais consome internet,
ocupando a 7º posição em última pesquisa realizada.

1.1.1 Histórico da Rede Mundial de Computadores

A Internet foi o grande meio de expansão e difusão da sociedade da informação,


possibilitando que as relações ficassem cada vez mais perto. Nos primórdios, mais
precisamente em 1969, com a pretensão de criar um sistema de telecomunicações que
sustentasse o comando Norte Americano, caso acontecesse um ataque nuclear Soviético,
no auge da Guerra Fria, o departamento de Defesa dos EUA sistematizou pequenas
redes locais localizadas em locais separados, interligadas por redes de telecomunicações
geográficas.

No ano de 1973, a criação da internet é efetiva, diante uma nova criação do


Departamento de Pesquisa Avançada da Universidade da Califórnia, que possibilita o
registro do Protocolo (TCP/IP), que é conceituado por Liliana Minardi Paesani da
seguinte forma:
"Trata-se de um código que consente aos diversos de network
incompatíveis por programas e sistemas comunicarem-se
entre sí".2

Logo Após, da fixação do Protocolo (TCP/IP), e a consolidação da internet se


enraíza, e em 1989 ela começa a se difundir pelo componente "WWW" ou World Wide
Web, que se derivou da pesquisa do Laboratório Europeu de Física de altas Energias, em

1
TAKAHASHI, Tadao. Sociedade da Informação: Livro Verde. Brasília. Ministério de Ciências e
Tecnologia. 2000. p 20
2
PAESANI, Liliana Minardi. Direito e internet. São Paulo. 2014. p.11
12

Genebra, cujo é composto por hipertextos, ou seja, documentos cujo o texto, imagem e
sons são evidenciados de forma particular e podem ser relacionados com outros
documentos.

A internet por assim surge no ímpeto das comunicações globais procedentes do


avanço e busca tecnológica, atingindo milhares de pessoas, crescendo dia após dia na
presença da população mundial.

No Brasil a internet começou a aparecer em seus passos iniciais em 1981 devido a


uma rede de universidades Norte Americanas que obtinham ligações e conexões com a
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Em 1990, com a política de
expansão da sociedade da informação no Brasil, a criação da Rede Nacional de Pesquisa
pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, teve o objetivo da consolidação de forma
nacional da utilização da internet dentro do solo nacional de forma comercial.

Em 1994, a internet finalmente sai da esfera estudantil e começa a ser


comercializada para o público em geral. 3 No Brasil, a EMBRATEL lança o Serviço
Internet Comercial, em caráter experimental e com conexão internacional de 256 Kbps.
Com a chegada do século XXI, o Brasil em 2007 investe de forma massiva a expansão
da internet Banda Larga, suprindo boa parte do país com o acesso a nova tecnologia.

1.1.2 O processo de inclusão digital no Brasil

Posteriormente a massificação da internet no Brasil, outra fase é despertada,


sendo ela no âmbito da forma de acesso da população brasileira a nova tecnologia,
devido a mesma não atingir a nação em sua totalidade, preservando apenas aqueles que
teriam condições econômicas e informação de uso para a aquisição do equipamento e
consequentemente conhecimento necessário para o acesso à internet. Tal preocupação
levou o Governo Federal a criar o processo de Inclusão Digital no qual foram
encabeçados por dois projetos que se iniciaram em 2003 no mandato do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva denominados de “Cidadão Conectado – computador para
todos” e “Projeto Computadores para Inclusão, como explicam as professoras Plácida
Leopoldina Ventura Amorim da Costa Santos e Ângela Maria Grossi de Carvalho da
seguinte forma:

3
ARRUDA, Felipe. 20 anos de internet no Brasil: aonde chegamos?. Disponível em:
http://www.tecmundo.com.br/internet/8949-20-anos-de-internet-no-brasil-aonde-chegamos-. Acesso em
30 de Novembro de 2015.
13

O Computador para Todos tem como objetivo principal


possibilitar a população que não tem acesso ao computador
possa adquirir um equipamento de qualidade, com sistema
operacional e aplicativos em software livre, que atendam ao
máximo às demandas de usuários, além de permitir acesso à
Internet. Projeto Computadores para Inclusão envolve a
administração federal e seus parceiros num esforço conjunto
para a oferta de equipamentos de informática recondicionados,
em plenas condições operacionais, para apoiar a disseminação
de telecentros comunitários e a informatização das escolas
públicas e bibliotecas.4

Desta forma, criou-se uma política forte de desenvolvimento para criar


acessibilidade e de informação no mundo digital, tendo a principal característica a
democratização da internet.

Tratando da acepção ao termo Inclusão Digital, o mesmo traz a ideia de um


mecanismo que é apresentado a um grupo de indivíduos para que sejam capacitados a
utilização daquele meio, se igualando a outro grupo que já faz parte do habitat digital, o
informatizando, demonstrando técnicas de processamento de informações, e assim
tornando possível a utilização do espaço público virtual. Entretanto com a inclusão
digital e a constante propagação de informação, muito destes novos usuários não
manuseiam a internet de modo saudável, abusando do espaço público virtual de forma
que torna a tecnologia da informação uma problemática social em alguns aspectos. Esta
esfera de inclusão aumenta ano após ano com novos projetos e inciativas estatais e
privadas, para a diminuição da desigualdade digital. Tendo isto em consideração, o
Direito eletrônico é cada vez mais requisitado para zelar sobre o indivíduo que entra
para este mundo diversificado da sociedade da informação.

4
SANTOS, Plácida Leopoldina Ventura Amorim da Costa; CARVALHO, Angela Maria Grossi de
Sociedade da Informação: avanços e retrocessos no acesso e no uso da informação. Informação &
Sociedade: estudos. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba (UFPB), v. 19, n. 1, p. 45-55, 2009.
<Disponível em:http://www.ies.ufpb.br/ojs/index.php/ies/article/viewFile/1782/2687>
14

1.1.3 Aspectos positivos e negativos da utilização da internet

A internet como nova tecnologia, indubitavelmente foi criada para facilitar e


aproximar a sociedade em diversos aspectos, econômico, social, político, como também,
colhimento de informação, troca de opiniões, dentre outros elementos. A ferramenta
internet, traz características extremamente relevantes para sua utilização, com isso, cabe
ressaltar que a internet entrou no mundo do Direito, tendo totais implicações na sua
forma de manejo e responsabilidade.

A globalização das informações trouxeram alterações de interpretação


significativas, vinculadas a aspectos constitucionais, como a manifestação do
pensamento, liberdade de expressão e criação, como demonstra o Art. 220 caput da
nossa Constituição Federal:
Art. 220. "A Manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão
qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição." 5

Devido esta característica de autonomia, a internet tem a possibilidade de virar um


instrumento de duas faces, tal como, usada para o benefício do usuário, quanto para o
emprego de malefícios. O estouro da internet consolidou uma mudança na
comunicação, sendo ela de forma instantânea aplicando a transparência da sociedade em
relação ao convívio social.

Com essa forma ilimitada e consideravelmente sem controle, usuários também abordam
a internet como forma de controle social, praticando delitos virtuais, como invasões a
sites de segurança, criações de páginas discriminatórias, furto de informações privadas.
Para o melhor controle e penalização destas formas de má utilização da internet em seus
veículos foi criada em 2012 por decreto da Presidência de República, a Lei 12.737/12,
conhecida vulgarmente como “Lei Carolina Dieckmanm”, a qual se refere o caso da
atriz que dá o nome a lei, ter diversas fotos intimas vazadas e expostas a público devido
a invasão de "Hackers" em seu computador pessoal, deixando uma vasta discussão entre
doutrinadores e juristas sobre crimes virtuais, ou seja, crimes cometidos pela a internet e
suas ramificações atentando principalmente a forma de utilização que a sociedade vem
usufruindo da tecnologia. A Lei insere artigos no Código penal, dispondo sobre a
tipificação nos delitos informáticos como podemos ver no Art. 154-A do CP:

5
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acessado em 15 de novembro de
2015.
15

“Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede


de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e
com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar
vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três)
meses a 1 (um) ano, e multa. “6

1.2 LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DIREITO A HONRA

Dentre as dezenas características que a internet apresenta podemos destacar a


liberdade de expressão como a que dita a identidade da mesma, por a livre manifestação
de pensamento que o usuário pode empregar. No estudo da etimologia do termo
“liberdade de expressão” pode-se observar que é um termo genérico, pois existe
dispositivos parecidos em nosso texto constitucional para a compreensão do direito
fundamental, como retrata Rodrigo Meyer Bornhold em sua obra:

O Inciso IV do artigo 5° alude à liberdade de manifestação do


pensamento. Esta representa a liberdade de expressão num
contexto de comunicação singular ou pural. Já as liberdades
previstas no inciso IX do mesmo artigo 5° não representarão
nada além de espécies do gênero insculpido no referido IV do
artigo 5°. 7

A liberdade de expressão também age na esfera na forma de comunicação social,


ou seja, o direito personalíssimo que o indivíduo tem em construir uma opinião pública.
Assim a liberdade de manifestação do pensamento e a liberdade de comunicação social
se diferenciam, tendo a segunda contenções legais para a preservação de direitos como a
honra e a intimidade. Cabe ressaltar que a Constituição de 1988, a qual é vigente no
momento, foi a primeira Carta Magna que acolheu a liberdade de manifestação de
pensamento de modo singular.

Em virtude da amplificação acelerada das mídias expressas, o direito de


liberdade de manifestação e consequentemente de expressão, se torna cada vez mais
proativo ao ponto de criar opiniões diferentes tornando-se meio de agressão que acaba
infringindo direitos fundamentais de forma objetiva, sem o devido controle ou reparação
de danos causados pelas os indivíduos que os cometeu. Neste limiar é de suma
importância enfatizar que o Direito a Honra é uma garantia constitucional, porém acaba
entrando em rota de colisão com a liberdade de expressão e vontade de pensamento.
6
BRASIL. Código Penal Brasileiro. Vade Mecum. 15º Ed. São Paulo: Saraiva 2013
7
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acessado em 15 de novembro de
2015
16

Tratando da honra de uma maneira mais específica podemos correlaciona-la


diretamente a personalidade formando a identidade do indivíduo. Com esse breve
parâmetro conjugamos a honra de modo relativo, pois cada indivíduo possui suas
próprias experiências, histórias, emoções assim apenas o mesmo podendo definir a
intensidade da lesão de um ato que atinja a sua honra. Na esfera do Direito, junto a seus
operadores, aborda-se a lesividade na honra da pessoa através o Dano Moral

No linear do conflito da liberdade de expressão com os direitos da


personalidade, cabe destacar o caso Ellwanger que transcorreu no STF na década de 90
sobre um autor, escritor e distribuidor de livros que foi denunciado em 14/11/91 pelo
crime de racismo contra o povo judeu. Foi absolvido em primeira instância, mas
posteriormente condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio grande do Sul a dois anos de
reclusão por fazer apologia, por meio de livros, ao antissemitismo, disseminando ideias
discriminatórias contra a comunidade judaica. Foi incurso no crime de racismo. Assim
propondo Habeas Corpus no STJ e STF. 8

Ainda no caso em tela os ministros do STF em seus votos foram por maioria em
considerar que a liberdade de expressão tem limites a serem estabelecidos, não sendo
ela absoluta, pregando no âmbito da juridicidade, constitucionalidade e moralidade,
como relata parte do julgado abaixo:

HABEAS-CORPUS. PUBLICAÇÃO DE LIVROS: ANTI-SEMITISMO.


RACISMO. CRIME IMPRESCRITÍVEL. CONCEITUAÇÃO.
ABRANGÊNCIA CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
LIMITES. ORDEM DENEGADA. 1. Escrever, editar, divulgar e comerciar
livros "fazendo apologia de idéias preconceituosas e discriminatórias" contra
a comunidade judaica (Lei 7716/89, artigo 20, na redação dada pela Lei
8081/90) constitui crime de racismo sujeito às cláusulas de inafiançabilidade
e imprescritibilidade (CF, artigo 5º, XLII). O preceito fundamental de
liberdade de expressão não consagra o "direito à incitação ao racismo", dado
que um direito individual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas
ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos
princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica. "Existe
um nexo estreito entre a imprescritibilidade, este tempo jurídico que se escoa
sem encontrar termo, e a memória, apelo do passado à disposição dos vivos,
triunfo da lembrança sobre o esquecimento". No estado de direito
democrático devem ser intransigentemente respeitados os princípios que
garantem a prevalência dos direitos humanos. Jamais podem se apagar da
memória dos povos que se pretendam justos os atos repulsivos do passado
que permitiram e incentivaram o ódio entre iguais por motivos raciais de
torpeza inominável. 16. A ausência de prescrição nos crimes de racismo
justifica-se como alerta grave para as gerações de hoje e de amanhã, para que

8
SALGADO, Ana Alice Ramos Tejo. LEITE, Filipe Mendes Cavalcanti. SILVA, Talita de Paula Uchoa.
Liberdade de expressão e os crimes contra a honra: aspectos controvertidos. Disponível em <
http://revista.uepb.edu.br/index.php/datavenia/article/view/500/297> Acessado em 10 de Jun. 2016 p.7
17

se impeça a reinstauração de velhos e ultrapassados conceitos que a


consciência jurídica e histórica não mais admitem. Ordem denegada. 9 [...]

Desta forma percebe-se que direitos como a liberdade de expressão que são
regidos por princípios, podem ser restritos caso transgrida de maneira que cause danos a
honra de um indivíduo ou de um grupo, levando em consideração os fatos praticados.

2. O RACISMO

2.1 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO ANTI-RACISMO NO BRASIL

Diante da extensa história da humanidade, a questão étnica sempre foi


preponderante para o estudo do comportamento do homem moderno, ou seja, o
aprendizado das relações interpessoais entre povos distintos. Destas relações surge a
9
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. HC 82424/ RS. Paciente: Siegfried Ellwanger. Impetrante: Werner
Cantalício, João Becker e outra; coator: Superior Tribunal de Justiça. Relator: Ministro Moreira Alves.
Brasilia, 15 de março de 2011. Disponível em: <http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/770347/habeas-
corpus-hc-82424-rs/inteiro-teor-100486503 >. Acesso em: 05 abr. 2016.
18

intolerância étnica, tal como uma desculpa para o tratamento desigual de questões
ideológicas, econômicas e sociais.
No Brasil, tais atos começam desde a sua descoberta que trouxeram os
moldes de escravidão da Europa, iniciando-se com os índios, por volta de 1500, sendo
substituídos por os africanos, cuja mão de obra se adaptaria melhor neste tipo de
trabalho pesado, que era imposto pela a colônia. O homem negro neste período era visto
como mercadoria, algo que poderia ser comercializado para abastecer as vias
econômicas Portuguesas, sendo claramente caracterizado como objeto não como um ser
humano semelhante aquele que o escravizava.

As condições de trabalho e vida dos escravos eram extremamente


precárias, sendo explorados até o máximo de suas forças, com o mínimo de alimentação
e saúde. Cabe salientar também, as severas punições a qual eram submetidos caso
falhassem em certa tarefa, ou desafiassem o "senhor" que o tinham como propriedade,
tendo grave influência na expectativa de vida que em média não passava dos 35 anos.

Ao longo dos anos da escravidão no Brasil, surgiram movimentos contra


o tráfico escravagista, advindo da pressão europeia, principalmente da Inglaterra, que
visava não o escravo, mas sim, o seu interesse econômico daquele presente momento,
surtindo efeito na América, reduzindo significativamente o comércio. Um pouco mais à
frente na história, é ingressado o movimento Ventre Livre que afetou diretamente o
sistema escravocrata, começando seu declínio, devido seu foco central em um
nascimento livre para filhos de escravos. O processo abolicionista estava ganhando
força e crescendo no Brasil após a promulgação da lei do Ventre Livre e após a Guerra
do Paraguai é visto a oportunidade de modificar totalmente a economia para uma forma
mais moderna, como ilustra Júlio José Chiavernato:

"[...] Somente depois da Guerra do Paraguai é que aparece um movimento


sistematizado para a libertação dos escravos. Embora uma necessidade dos
novos tempos, uma exigência de agilização da economia, também reflexo
político da nova mentalidade que os 20 negros “vadios” que voltaram da
guerra, com a oficialidade transformada em representação do heroísmo
nacional, implantaram na discussão política."10

A partir desde marco, a escravatura perde força, deixando de ser um


negócio rentável para a economia brasileira, abrindo um espaço cada vez maior para o
trabalho livre. O fato determinante que marcou o fim da escravatura no Brasil foi no ano
de 1888 com a assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel, dando aos escravos negros

10
CHIAVETTO, Júlio José. O negro no Brasil: da senzala à guerra do Paraguai. São Paulo:
Brasiliense, 1980. p. 211.
19

liberdade, finalizando a era dos escravos no Brasil. Entretanto, mesmo com a alforria
decretada, os negros não eram tratados com igualdade, passando ainda por longas
escalas de preconceitos, cujo se expandem até os dias presentes.

O dispositivo que foi o precursor do assunto preconceito racial foi a Lei


1.390/1951, que dispunha da seguinte redação em seu Artigo 1°:

“O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO


NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
"Art 1º Constitui contravenção penal, punida nos termos desta Lei, a recusa,
por parte de estabelecimento comercial ou de ensino de qualquer natureza, de
hospedar, servir, atender ou receber cliente, comprador ou aluno, por
preconceito de raça ou de cor." 11

Em momento posterior, foi redigida a Lei 7.716/89, cujo está em vigor


nos dias atuais e que dispõe com muito mais detalhes sobre a discriminação racial,
esclarecendo que tal ato representa total colisão com os princípios dispostos na nossa
Carta Magna, em conjunto com a violação da honra individual dos indivíduos.

2.2 CONCEITO

2.2.1 Discriminação Racial

O termo discriminação racial em parâmetro geral é um tratamento desigual,


tendo como característica a superioridade, atingindo um indivíduo (injúria) ou um grupo
(racismo) em sua dignidade, em função de sua raça e/ou etnia. A discriminação racial
infringe em sua totalidade os direitos humanos e a dignidade da pessoa humana, deste
modo, a União das Nações Unidas, se manifesta apresentando em sua Declaração em
seu Art. 1° um breve conceito sobre tal matéria:

"Para fins da presente, a expressão discriminação racial significará toda


distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado
anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo
plano de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político,
econômico, social, cultural ou qualquer outro campo da vida pública."12

11
BRASIL. Lei n° 1.390 de 3 de Julho de 1951. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L1390.htm> Acessado em 1 de Dezembro de 2015.
20

Assim, a discriminação racial cria uma situação de desigualdade repudiada pela


Constituição Federal de 1988 ao assegurar o direito à igualdade para que todas as
pessoas sejam tratadas de forma igual, não importando os fatores raciais descritos.

Dessa forma, o princípio constitucional que atende a esse direito será o da


Igualdade ou da Isonomia, segundo o qual todos, sem distinção, devem ser tratados de
forma igualitária, não importando a sua cor da pele ou a raça a que pertencem. Cabe
ressaltar que o crime de racismo é, no Brasil, crime de maior gravidade, ao qual a lei
atribui um tratamento mais duro ao autor, sendo imprescritível, inafiançável e de ação
penal pública incondicionada, ou seja, será promovida por membros do Ministério
Público com oferecimento de denúncia.

2.3 CRIME DE RACISMO X INJÚRIA RACIAL

Quando abordamos o tema discriminação racial é importante salientar a


distinção entre crime de racismo e injúria racial, dois dispositivos que aparentam ser de
igual forma e objeto, porém com características, penas e tipicidades distintas perante a
lei. Começando pelo o crime de racismo, quando podemos notar que o mesmo é caráter
mais sério em toda sua matéria, sendo ele inafiançável, ou seja, retira total possibilidade
de liberdade do autor, mediante o pagamento da fiança, cabendo ressaltar também que é
um crime de pena maior. O crime de racismo se constitui quando a ofensa não é
direcionada a uma determinada pessoa, mas sim quando há menosprezo e cerceamento
de diretos a relacionada a raça, cor, religião a um determinado grupo. Coloca-se a
disposição a decisão do Tribunal Regional Federal da 2 ª Região para melhor
visualização das definições:

” Em 25.04.2002 (fl. 52), foi recebida denúncia do Ministério Público contra


GUTMAN UCHÔA DE MENDONÇA, pelo crime previsto no art. 20, § 2º,
da Lei 7.716-89, em interpretação conjunta com o art. 71 do Código Penal,
por ter, nos dias 23.01.2000, 24.04.2000 e 16.05.2000, por meio de artigos
publicados no Jornal “A Gazeta”, sustentado mensagens racistas e
discriminatórias, incitando e induzindo a discriminação contra minorias, o
que fere os princípios de respeito à dignidade da pessoa humana e às
diferenças étnicas, protegidos pelos arts. 1º, III e 4º, VIII, da Constituição da
República. [...]
[...] O MM. Juiz Federal da 1ª Vara Criminal - ES, Dr. Pablo Coelho Charles
Gomes, em sentença (fls. 128-140), julgou procedente o pedido para

12
UNIDAS, Nações. Declaração sobre eliminação de todas as formas de discriminação racial de
1968. Artigo 1°. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?
id=94836.> Acessado em 2 de Dezembro de 2015.
21

condenar o réu Gutman Uchôa de Mendonça, como incurso nas penas do art.
20, § 2º, da Lei 7.716-89, em interpretação conjunta com o art. 71 do Código
Penal, a pena de 02 (dois) anos e 08 (oito) meses de reclusão, a ser cumprida
em regime inicial aberto, cumulada com 10 (dez) dias-multa, nos valores
mínimos legais. O d. juízo sentenciante determinou, ainda, com fulcro no art.
77, § 2º, do Código Penal, a suspensão condicional da pena privativa de
liberdade fixada, pelo prazo de 04 (quatro) anos, por entender que a citada
suspensão seria mais favorável ao réu que a substituição por penas restritivas
de direito, nos termos do art. 77, III, do Código Penal. Ademais, deve o
acusado durante o primeiro ano da suspensão, prestar serviços à comunidade,
conforme disposto no art. 78, § 1º, do mesmo diploma legal. [...]
A defesa interpôs recurso de apelação às fls. 144-145, apresentando razões às
fls. 157-192, sustentando, em breve síntese, (i) extinção da punibilidade em
razão da ocorrência de prescrição da pretensão punitiva, pelo fato do réu ser
maior de 70 (setenta) anos, nos termos do art. 109 e seus incisos, em
interpretação conjunta com o art. 115, ambos do Código Penal; (ii)
atipicidade da conduta, tendo em vista [...]”
DIREITO PENAL. CRIME DE RACISMO CONTRA ÍNDIOS
PERPETRADO POR MEIO DE ARTIGOS JORNALÍSTICOS.
IMPRESCRITIBILIDADE. DIREITO FUNDAMENTAL DE LIBERDADE
DE EXPRESSÃO. EXERCÍCIO ARBITRÁRIO. CONTINUIDADE
DELITIVA. “I- O delito de racismo é imprescritível, conforme o disposto no
art. 5º, XLII, da Constituição da República. II- O direito de liberdade de
expressão não deve ser exercido de modo absoluto, irrestrito, sob pena de
violação a outros valores igualmente relevantes, como o princípio da
dignidade da pessoa humana. III- Se o réu, de forma consciente e voluntária,
por meio de artigos publicados em jornal, praticou, induziu e incitou a
discriminação contra os índios, incorreu no tipo penal de racismo, descrito no
art. 20, §2º, da Lei 7.716-89.IV- É cabível o reconhecimento da continuidade
delitiva, incidindo a causa de aumento de pena prevista no art. 71 do Código
Penal, se os artigos jornalísticos por meio dos quais o crime foi perpetrado
foram publicados em curto intervalo de tempo.V- Recurso desprovido.”
[...] “Vistos e relatados os presentes autos, em que são partes as acima
indicadas, acordam os Membros da Segunda Turma Especializada do
Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento
ao recurso, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante
deste julgado.”13

Diante disto, o crime de racismo está dito no Art. 20, §2º da Lei 7.716/89 que
tipifica os delitos que são resultantes de resultantes de discriminação ou preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

A injúria racial por sua vez, está completamente ligada à honra do indivíduo, isto
é, ofender a dignidade da vítima, usando a característica da raça, cor, religião, sendo a
sua principal característica é o emprego de palavras depreciativas. A infração da injúria
13
BRASIL. Tribunal Regional Federal. (2ª Região). Apelação Criminal. Apelante: Gutman Ochoa
Mendonça. Apelado: Ministério Público Federal. Relator: Desembargador Federal André Fontes.
Vitória/ES , 06 de maio de 2009. Disponível em:
http://trf2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5380650/apelacao-criminal-acr-5456-rj-20005001003187-6.
Acessado em 8 de Dezembro de 2015.
22

qualificada pelo o preconceito está distribuída no Art. 140, §3° do Código Penal,
podendo o acusado ser liberado mediante fiança estabelecida em sede policial, questão
extremamente debatida nos dias atuais, pela seriedade e gravidade do delito, mesmo
com a política de preservação dos direitos humanos em larga escala é corriqueiro casos
de injúria no cenário brasileiro e mundial. Acontecimentos ficaram marcados nesse
tema, como o caso do ex-jogador do São Paulo Futebol Clube, Edinaldo Batista
Libânio, mais conhecido como “Grafite”, que disputando uma partida da Copa
Libertadores da América de 2005 foi agredido verbalmente pelo Zagueiro adversário
Leandro Desábato, pelos os xingamentos de “Macaquito” e “Negrito” atingindo
diretamente a honra do jogador brasileiro dentro de campo de jogo. O desportista
argentino foi conduzido à delegacia e autuado por injúria racial, sendo liberado após ter
pago a fiança de R$ 10.000,00 (dez mil) reais.

Outro acontecimento recente no cenário do futebol brasileiro foi a injúria


praticada por torcedores do Grêmio, time do sul do Brasil, contra o Goleiro “Aranha”,
profissional do Santos Futebol Clube, time do litoral de São Paulo, onde foram
capturadas imagens onde uma jovem e outros espectadores agredindo o goleiro da
arquibancada, o xingando de “preto fedido”, “macaco” entre outras ofensas, como narra
o jogador em entrevista abaixo:

“"A outra vez que viemos aqui jogar a Copa do Brasil tinha campanha contra
racismo, não é à toa. Xingar, pegar no pé é normal. Agora me chamaram de
'preto fedido, seu preto, cambada de preto'. Estava me segurando. Quando
começou o corinho com sons de macaco eu até pedi para o câmera filmar, eu
fiquei p... .Quem joga aqui sabe, sempre tem racista no meio deles. Está dado
o recado, agora é ficar esperto para a próxima", desabafou o goleiro. [..] Tem
leis, mas no futebol sabemos que o torcedor usa de várias maneiras para
desestabilizar. Não vou deixar de jogar o meu futebol por manifestação de
torcedor. Dói, mas tenho que jogar", declarou Aranha.”14

A de se observar no que diz respeito a propositura da ação penal que o racismo


como dito anteriormente é proposto pelo Ministério Público em uma ação pública
incondicionada, ou seja, a demanda deve ser iniciada pelo Ministério Público mediante
a apresentação da denúncia ao Judiciário, sem qualquer condição, não precisando que a
vítima ou outro envolvido queira ou autorize a propositura da ação. Diferentemente da
injúria qualificada por preconceito, a qual foi reformada pelo o STJ pela Lei
14
VINICIUS, Roberto. Goleiro Aranha é alvo de ofensas racistas na Arena do Grêmio. Disponível
em: <http://esportes.terra.com.br/santos/goleiro-aranha-e-alvo-de-ofensas-
a35122e4c2f18410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html> Acessado em: 8 de Dezembro de 2015.
23

12.033/2009 que faz o crime de injúria racial se propor por Ação Pública Condicionada,
deixando de ser uma Ação Privada, devido ao caso do interesse público, diante do fato
do sentimento de impunidade aos casos de injúria racial, sendo assim para o maior
cerceamento desta infração voltada para a discriminação de raça e cor, tornando-a de
natureza jurídica híbrida.

2.4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

2.4.1 Princípio da dignidade da pessoa humana

A dignidade da pessoa humana é matéria de extrema relevância para o


entendimento do litígio entre a manifestação de pensamento e a internet em seu âmbito
geral. Desde a preexistência do homem, a dignidade humana é estudada, pelo seu
caráter personalíssimo, sendo um atributo criado pelo mesmo. Com o desenvolvimento
das sociedades em seu caráter social, a dignidade da pessoa humana se tornou ainda
mais relevante, pela a importância que a nobreza e honra tomaram.

Por sua característica pessoal, a dignidade humana não pode ser trazida com um
conceito, mas sim como um qualidade que o ser humano detém para o relacionamento
social com o seu semelhante, como podemos notar nas palavra de Ingo Wolfgang Sarlet
quando se trata da ideologia da dignidade humana:

No pensamento filosófico e político da antiguidade clássica, verifica-se que a


dignidade (dignitas) da pessoa humana dizia, em regra, com a posição social
ocupada pelo o indivíduo e o seu grau de reconhecimento pelos demais
membros da comunidade, daí poder falar-se em uma quantificação e
modulação da dignidade, no sentido de se admitir a existência de pessoas
mais dignas ou menos dignas. 15

A dignidade da pessoa humana por outro aspecto era tida como qualidade que o
ser humano possuía para distinguir das demais espécies, no sentido que a raça humana é
dotada da dignidade sempre, sendo firmemente conectada a ideia do homem ser livre e
responder por os seus atos e seu próprio destino.16

Com a constituição de 1988 os direitos fundamentais, como princípio da


dignidade da pessoa humana, começaram a ganhar notoriedade, sendo respeitados no

15
SARLET, Ingo Wolgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição
Federal de 1988. 4 ed. Ver. Atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2006. p.30
16
Loc. cit.
24

mais alto grau , nas relações sociais e no Direito, se tornando referência para o
entendimento de normas jurídicas, correspondendo a um elemento de extrema
importância para o Estado Democrático de Direito.

Dentre os princípios constitucionais, o da dignidade da pessoa humana tem a


singularidade com os demais, pelo fato de ser o pilar de construção de todos os outros
princípios, dispondo da proteção do indivíduo para o mesmo ter seus direitos e garantias
assegurados. Sob a égide da dignidade da pessoa humana, todos os indivíduos nascem
iguais e dispões dos mesmos direito e deveres, independente de posições sociais e
econômicas.

Os direitos humanos estão diretamente ligados a dignidade da pessoa humana,


principalmente com a difusão internacional desde elemento, diversos tratados e
convenções são trazidas para o consentimento da população mundial para difundir os
direitos humanos e a dignidade humana como a base sólida de qualquer discussão
jurídica ou social e econômicas.

Os direitos fundamentais, se dividiram em três gerações o qual caminham para a


criação deles próprios, como se faz entender no artigo de Mariana Alves, sobre as
dimensões dos direitos fundamentais:

Direitos de primeira geração, também conhecidos como Direitos e


garantias individuais. Foram os primeira a serem conquistados pela
humanidade através de lutas e revoluções em busca da liberdade.
Direitos de segunda geração, os sociais, econômicos e culturais.
Conquistados após a Revolução Industrial, eles englobam a saúde, a
educação, a moraria, segurança pública e a alimentação, que devem ser
garantidos pelo Estado, visando sempre diminuir a desigualdade social
Direitos de terceira geração, também conhecidos como direitos difusos,
pois transcendem o indivíduo (supraindividuais). A revolução dos meios de
transporte e comunicação, conectaram a humanidade através de um
compartilhamento de valores e assim conquistaram direitos como ao meio
ambiente, à paz e ao desenvolvimento.

3. A PRÁTICA DE RACISMO NA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES

3.1 AS VIAS DE EMPREGO DO RACISMO NA REDE

A Rede Mundial de Computadores, através da Internet, é um meio público


vasto, com tamanho sem precedentes podendo ser acessada de qualquer dispositivo
que comporte tal função, fazendo-a uma ferramenta de longo alcance para todas as
partes do mundo, tornando-se hoje em dia a principal escolha das pessoas que
propagam a discriminação racial, étnica, cultural e religiosa. A utilização da internet
começa pelo o Acesso, ou seja, a simples ação humana de manejar e explorar o
conteúdo que a internet expõe, seja ele por leitura, escrita, processamento de dados,
compartilhamento de informações etc.

Com o desenvolvimento da internet ao longo do tempo, a criação humana


começou a desenvolver meios para a troca de notícias, relacionamentos, comunicação,
negócios e entretenimento. Diversos recursos e caminhos foram surgindo para suprir
todas as necessidades que precisamos dentro e fora do mundo digital. Alguns meios
foram criados para auxiliar o homem contemporâneo nas suas tarefas básicas, como
por exemplo o correio eletrônico, vulgarmente conhecido do “e-mail”, cujo,
revolucionou a maneira da comunicação interpessoal à distância, tornando-a
instantânea e precisa.

No início o email teve a função de trocar mensagens simples entre


usuários da ARPANET, como se fosse o nosso SMS de hoje em dia.
Conforme o sistema foi evoluindo, a possibilidade de mandar mensagens
maiores foi aumentando cada vez mais. E assim, o email começou a ser
mais visto como, de fato, um correio eletrônico. É claro que, mais tarde, o
email foi visto também como uma oportunidade comercial. Na verdade, já
em 1978, Gary Thuerk enviou para cerca de 600 pessoas da ARPANET
uma mensagem tentando vender o Decsystem-20, um computador
novíssimo da época. Foi o primeiro spam, de todos. E a reação dos que
receberam foi como já é hoje em dia: nada boa. Mas, a maior possibilidade
que o email trouxe era o fato de poder se comunicar com outra pessoa de
outro canto do mundo. Matar as saudades dos parentes distantes agora era
possível, assim como conhecer novas pessoas e se comunicar de maneira
mais prática. Esses eram os primeiros propósitos para o sistema que ainda
estava se desenvolvendo.17

Com a criação do correio eletrônico, o envio de mensagens eletrônicas


ganhou larga escala, transformando-se num dos principais meios de comunicação,
sendo utilizada pela maioria dos usuário da rede. Diante das novas criações
relacionadas a célere troca de mensagens, tornou-se mais fácil a propagação de
manifestações condescendentes ao racismo e intolerância étnica, sendo assim, muito
ataques foram difundidos por intermédio do “e-mail”, como podemos observar no
artigo da Radio Agência NP em 2010:

A estudante do último ano de direito da Pontifícia Universidade Católica


(PUC-SP) Meire Rose Morais sofreu ofensas com conteúdo racista de uma
colega de sala. De acordo com ela, as agressões se deram em uma lista de
e-mails. Meire relata que é comum os bolsistas negros do Prouni serem
tratados de maneira preconceituosa. “Ela manda os e-mails com vários
contextos que discriminam a questão racial: ‘esse creme que você usa para
emplastar seu cabelo’. Ela faz uma ofensa pelos elementos raciais que eu
possuo. Eu tenho o cabelo crespo, cacheado e para ele não armar muito eu
passo bastante creme.” Meire é solteira e mãe de três filhos. Dentro de um
mês se formará aos 46 anos de idade. O advogado Cleyton Wenceslau
Borges, que acompanha o caso, acionará o conselho universitário para
pedir apuração. [...]18

3.1.1 Blogs e Redes Sociais

Com a difusão da internet no mundo e com a globalização se expandindo cada


vez mais, diversos meios de interação e compartilhamento de informações dentro da
rede foram se aperfeiçoando, criando novas alternativas que facilitaram a divulgação
de pensamentos e opiniões sobre determinado assunto.

Desde a criação da Rede Mundial de Computadores os Websites ou Sites


tomam conta da maioria dos acessos de usuários da internet. Os sites são espaços
virtuais de uma pessoa ou grupo no qual apresenta-se documentos escritos, mídias,
como fotos e vídeos sendo o seu acesso através dos endereços disponíveis na internet.
Outra característica dos websites são as “Homepages,” isto é, a página inicial de cada

17
KARASINSKI, Eduardo. A história do e-mail. TecMundo. 21.set. 2009. Disponível em:
<http://www.tecmundo.com.br/web/2763-a-historia-do-email.htm> Acessado em 20 mai. 2016
18
AMÉRICO, Jorge. Estudante de direito é vítima de racismo na PUC de São Paulo. São Paulo. 19.
nov. 2010 Disponível em: <http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/estudante-de-direito-e-vitima-
de-racismo-na-puc-de-sao-paulo.html> Acessado em 20 mai. 2016.
site, que tem o propósito de ser o ponto de partida da página virtual, guiando o usuário
na navegação da mesma.
Os websites ao longo da evolução interna da internet foram ganhando diversas
variações que propunham as mais diferentes utilidades. Podemos destacar dois modos
que ficaram bastante populares sendo eles os blogs e as redes sociais. Fazendo uma
análise mais atenta para o primeiro citado, o blog começou a ser explorado nos anos
2000, vindo a ser umas das melhores ferramentas para a manifestação do pensamento,
por se assemelhar a um diário pessoal, o qual o usuário poderia transcorrer sobre
qualquer assunto de qualquer natureza por postagens escritas, por imagens ou por
vídeo. A característica inovadora que o Blog trouxe foi a capacidade de outros
usuários seguirem as postagens publicadas, sendo notificados a cada conteúdo novo
apresentado pelo o dono do blog, podendo o seguidor tecer comentários sobre aquele
assunto em uma área reservada para tal finalidade. Os blogs atraíram milhares de
novos usuários para a internet, a fim de expor suas ideias pensamentos e opiniões, as
coordenadoras Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Portella Montardo,
elucidam de forma clara a utilidade do Blog no mundo da web:

Uma das primeiras apropriações que rapidamente se seguiu à


popularização dos blogs foi o uso como diários pessoais, documentado por
vários autores. Esses blogs eram utilizados como espaços de expressão
pessoal, publicação de relatos, experiências e pensamentos do autor. Ainda
hoje, o uso do blog como um diário pessoal é apontado por muitos autores
como o mais popular uso da ferramenta19

Desta forma, a exposição de pensamentos ficou facilitada de ser exposta, ao


ponto de atrair os indivíduos que propagam a discriminação racial, abrindo espaço
para que os mesmo pregassem discursos de ódio as raças e etnias pela ferramenta dos
sites e blogs. Assim vejamos a matéria da revista fórum em Abril de 2015 que retrata
o uso de sites e blogs de maneira discriminatória:

Site propaga ódio aos negros. Imagens do projeto fotográfico


#AHBRANCODAUMTEMPO foram alteradas com frases de ódio,
deboche e forte preconceito contra os negros; saiba como denunciar casos
de racismo na internet. Lutar contra o racismo foi a principal motivação da
estudante de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), Lorena
Monique, ao criar o tumblr #AHBRANCODAUMTEMPO. Inspirada em
19
AMARAL. Adriana; RECUERO. Raquel; MONTARDO, Sandra. Blogs.Com: estudos sobre blogs e
comunicação. São Paulo: Momento Editorial, 2009.
uma campanha da Universidade de Harvard, ela desenvolveu um ensaio
fotográfico com pessoas que transitavam pelo campus e pediu que
posassem com frases preconceituosas que já ouviram. “Você é um negro de
alma branca”, “Você lava o seu cabelo?”, “Sempre quis saber como é uma
negra na cama” foram algumas das mensagens trazidas nas fotos pelos
participantes. Porém, não demorou muito para a iniciativa causar
incômodo entre os mais conservadores. As imagens, criadas para combater
a discriminação, foram alteradas com frases de ódio, deboche e forte
preconceito contra os negros. Os autores da ação ainda não foram
identificados. O caso pode ser considerado crime cibernético, por
promover o ódio e a violência contra indivíduos com base em questões
raciais. De acordo com informações da organização não governamental
SaferNet, em nove anos de funcionamento a entidade já recebeu quase 470
mil denúncias de racismo, envolvendo 69 mil páginas na internet,
vinculadas a 54 diferentes países. 20

Um pouco mais à frente no contexto histórico das mídias sociais, dentro da


internet, nos defrontamos com a criação das redes sociais, cujo a sua utilização é parte
efetiva de modo constante na vida da maioria da população mundial. De uma forma
mais completa em suas características, as redes sociais trazem inovações na forma de
comunicação, relações de amizades e relacionamentos, compartilhamento de
informação, conexão continua, rapidez das informações dentre outras características
presentes nesta mídia. O principal elemento que caracteriza as redes sociais é a
criação de seu próprio perfil pessoal, podendo o usuário expor suas informações
pessoais, preferências, hobbies, status de relacionamento e etc. As redes sociais são
definidas como sistemas que possibilitam a construção de uma “pessoa” através de
um perfil ou página pessoal, sendo possível a interação através comentários, sendo
diferente dos demais meios de comunicação imediata pelo o computador, pelo fato de
preservar a visibilidade e a articulação, mantendo de maneira constante os laços
sociais no espaço off-line. 21

A utilização massiva das redes sociais deve-se a distintas propriedades como a


visibilidade, a popularidade, reputação e autoridade, características estas que acabam
regendo a personalidade do indivíduo contemporâneo, principalmente no mundo
digital. Outro fator primordial para o domínio das redes sociais é a extrema facilidade
em seu acesso, pois com a difusão dos aparelhos móveis como celulares, tablets e
notebooks gerou a possibilidade de interagir e usufruir das redes sociais de qualquer
lugar a qualquer instante.

20
STREIT, Maíra. Site propaga ódio aos negros. 2. Abr. 2015 Disponível em:<
http://www.revistaforum.com.br/2015/04/02/site-propaga-odio-aos-negros. Acessado em 24. mai. 2016
21
RECURO, Raquel . Redes Sociais na Internet. Porto Alegre. 2009. Coleção Cibercultura. p. 102
Da mesma forma que o correio eletrônico facilitou a proliferação de discursos
racistas na internet, as redes sociais com suas peculiaridades também abriu espaço
para a discriminação racial. Casos deste tipo vem acontecendo nas redes sociais, de
forma corriqueira, causando muito impacto e repercussão na mídia. Neste limiar,
podemos citar o crime de injúria cometido contra a jornalista e apresentadora do
tempo do Jornal Nacional, Maria Júlia Coutinho, a qual sofreu ataques
discriminatórios através da rede social Facebook, por grupos racistas. O fato
repercutiu em âmbito nacional como mostra a matéria do G1, portal de notícias da
Globo:

Maria Júlia Coutinho, a Maju, se disse feliz pela campanha de apoio a ela e de
repúdio a insultos raciais postados na internet. No Jornal Nacional desta sexta-
feira (3), a jornalista agradeceu às manifestações de carinho. "Os
preconceituosos ladram, mas a caravana passa", disse a jornalista. Maju foi alvo
de comentários racistas na página do Jornal Nacional no Facebook, em um post
sobre previsão do tempo publicado na noite de quinta-feira com uma foto dela.
Alguns internautas fizeram comentários ofensivos, e várias pessoas saíram em
defesa da jornalista. A hashtag #SomosTodosMajuCoutinho chegou ao topo dos
trending topics, os tópicos mais comentados do Twitter nesta sexta-feira (3).
Internautas criaram a tag para apoiar a repórter do Jornal Nacional. "Acho
importante, claro, essas medidas legais serem tomadas, até para evitar novos
ataques a mim e a outras pessoas", disse a jornalista a respeito das investigações
sobre o caso. "Não esmoreço, não perco o ânimo, porque acho que isso é o mais
importante. Cresci em uma família muito consciente, de pais militantes, que
sempre me orientaram. Eu sei dos meus direitos", declarou. Ao final, ela
agradeceu ao carinho do público: "Quero demonstrar a felicidade que eu fiquei,
porque é uma minoria que fez isso. Eu fiquei muito feliz com as manifestações
de carinho. Eu recebi milhares de e-mails, de mensagens."22

No caso em destaque o Ministério Público organizou e auxiliou uma operação


em oito estados distintos para a identificação e apreensão dos autores dos comentários
racista contra a jornalista. Múltiplos grupos racistas foram descobertos na
investigação, chegando em alguns suspeitos pelas postagens.

Outros casos que demonstram o emprego do racismo nas mídias sociais,


aconteceram recentemente com a atriz Taís Araújo e com a cantora Ludmilla, que
também sofreram ofensas raciais por meio da rede social Facebook. Em Março de
2015 a atriz foi alvo de comentários preconceituosos quando postou uma foto em seu
perfil pessoal, levando também a mobilização e das autoridades. A Polícia Civil, com
a investigação prendeu os suspeitos envolvidos nos ataques. A cantora Ludmilla no

22
G1. Maju se diz feliz: Preconceituosos ladram, mas caravana a passa.03. Jul. 2016. São Paulo
Disponível em:< http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2015/07/maju-comenta-apoio-preconceituosos-
ladram-mas-caravana-passa.html>. Acessado em 19/05/2016.
mês de Maio de 2016 também foi atacada por um indivíduo na rede social, levando a
mesma a polícia para o prosseguimento da ação penal contra o agressor.

Rio - O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro denunciou, nesta


segunda-feira, o professor de capoeira Hélder dos Santos Santana, o PQD,
por cometer injúrias racistas contra a cantora Ludmilla. Além disso, o
promotor de Justiça Márcio Nobre também solicitou medidas de proteção à
artista, para que o acusado não possa se aproximar dela e nem frequentar
espetáculos em que ela se apresente. “O denunciado ofendeu a dignidade
da vítima, demonstrando desapreço e desrespeito, sendo certo que não foi
esta a primeira vez que assim agiu”, ressaltou o promotor na denúncia. No
dia 22 de maio, em uma postagem feita por Ludmilla numa rede social,
Hélder comentou "Odeio essa criola nojenta (sic)". Mesmo sendo criticado
pelos internautas, o professor continuou atacando a cantora.23

3.2 A FISCALIZAÇÃO E MEDIDAS PARA A EXINÇÃO DO RACISMO NA WEB

A fiscalização para deter o racismo na rede mundial de computadores ainda é


bastante complicada, e está em processo de aperfeiçoamento, devido o veículo da
internet deter de recursos e meios para burlar e omitir a fiscalização necessária para a
eliminação dos atos discriminatórios. A internet por ser um meio de comunicação
ilimitado, ou seja, sem a menor restrição de conteúdo ou limite de páginas virtuais,
dificulta a área de busca por sites, fóruns ou blogs que apresentam conteúdo racista.
Muitas webpages que difundem o racismo, estão abertas na internet, principalmente
na camada de difícil acesso da mesma, denominada, Deep Web (web profunda),
camada esta, que está invisível aos habituais mecanismos de busca como Google e
Yahoo, conseguindo apenas ser alcançada por meio de softwares específicos e de alto
conhecimento de informática. Os perfis falsos e pseudônimos causam também uma
barreira que impede uma rápida e precisa busca por os reais autores e/ou participantes
das ofensas

Apesar desta problemática na fiscalização, as denúncias de racismo em casos


que são detectados na Surface Web (web da superfície), isto é, a internet habitual que
os usuários acessam no dia a dia, aumentaram em 81% no ano de 2014 como aponta o
estudo da Organização Não Governamental (ONG), divulgados no portal R7 de
notícias:
[...] Os dados, obtidos com exclusividade pelo R7, revelam que de janeiro
a junho do ano passado, foram feitos 32.533 registros desse tipo de
23
. O, Dia. MP denuncia autor de mensagens racistas contra Ludmilla. Rio de Janeiro. 30. Mai. 2016 <
http://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2016-05-30/mp-denuncia-autor-de-mensagens-racistas-contra-
ludmilla.html > acessado em 29/05/2016.
violação, enquanto em período equivalente de 2014, o número saltou para
59.083. O levantamento da ONG (organização não governamental), que
tem acordos de cooperação com a Polícia Federal e o Ministério Público
Federal, mostrou também um detalhe interessante: embora neste ano haja
mais denúncias, a quantidade de páginas (URLs) envolvidas foi menor:
5.732. Já em 2013, foram 7.953 sites. 24 [...]

O gráfico abaixo (figura 1)25 também exemplifica o aumento das denúncias e


o maior controle das páginas que fornecem conteúdo complacente com o racismo na
web:

Figura 1 – Gráfico de denúncia de racismo em 2014

Fonte: Portal de notícias R7

Cabe ressaltar, as medidas que podem ser adotadas para diminuição e


posteriormente a extinção da prática do racismo na rede. Como foi explorado
anteriormente, a denúncia dos usuários é extremamente relevante para a coibição dos
atos discriminatórios na web, com isso, é primordial a participação dos próprios
24
BARROS, Ana Cláudia. Denúncias de racismo na internet crescem 81% em 2014 aponta
levantamento de ONG. Disponível em: < http://noticias.r7.com/cidades/denuncias-de-racismo-na-
internet-crescem-81-em-2014-aponta-levantamento-de-ong-24092014> acessado em 28 de Maio de
2016.
25
BARROS, Ana Cláudia. Maior fiscalização provoca queda nas denúncias de pornografia.
Disponível em: < http://noticias.r7.com/cidades/maior-fiscalizacao-provoca-queda-nas-denuncias-de-
pornografia-infantil-na-internet-diz-ong-24092014>. Acessado em 28 de Maio de 2016.
internautas como medida de proteção. O desenvolvimento de novos programas de
computador podem auxiliar de forma mais precisa na identificação de páginas virtuais
que apresentam teor de cunho racista, assim como um banco de dados que armazena
informações de acesso e possibilita o reconhecimento de perfis falsos. Projetos de
conscientização na utilização do meio virtual teriam bastante impacto na comunidade
da internet, fazendo diminuir os casos de preconceito racial na rede.

Neste diapasão, salienta-se que já existem órgãos que enfrentam a violação de


direitos na internet, como por exemplo a SafeNet Brasil que opera diretamente no
monitoramento do uso indevido da rede. Com cooperação do Ministério Público
Federal, Governo Federal e entidades públicas e privadas, a SafeNet traça e aplica
ações que controlam os crimes virtuais, buscando desenvolver o ambiente da internet
em um local ético e moral. A entidade é de suma importância pois levanta estatísticas
e recolhe denúncias de usuários que presenciam qualquer tipo de violação virtual.

Em diversos polos do Brasil encontram-se disponíveis as Delegacias


Especializadas em Crimes de Informática, as quais são especificamente voltadas para
a investigação e repressão dos crimes cometidos por via eletrônica.

3.3 DOS ASPECTOS PROCESSUAIS PENAIS E DA CLASSIFICAÇÃO DOS


CRIME INFORMÁTICOS

A discriminação racial, no âmbito dos delitos virtuais, pode ser classificado


como um crime informático impróprio, isto quer dizer que o computador serviu como
instrumento para a execução de um crime, mas não houve ofensa ao bem jurídico
inviolabilidade da informação automatizada, a violação de dados digitais 26. Os crimes
impróprios são os de maior costume na esfera virtual, podendo ser praticado por
qualquer pessoa sem a necessidade de conhecimentos informáticos elevados. Assim,
os crimes contra a honra e os que infringem a dignidade humana como a injúria racial
e o crime de racismo respectivamente, estão englobados nos crimes impróprios
informáticos.

Partindo para o campo processual penal, há aspectos a serem pontuados como


a jurisdição e competência quando a discriminação racial é empregada pela a internet,
desta forma, a jurisdição é conceituada pelo professor Paulo Rangel da seguinte
forma:

26
VIANNA, Túlio Machado Felipe. Crimes informáticos. Belo Horizonte: Fórum. 2013.p 29.
“Jurisdição é a função estatal de aplicar o direito objetivo a um caso
concreto, protegendo um determinado direito subjetivo, através do devido
processo legal, visando ao acertamento do caso penal.”27

Assim, o poder do estado em substituir as partes é uma das suas principais


características, pois o mesmo foi instigado por um dos lados que não chegou ao
objetivo da solução do litígio de maneira extrajudicial. A jurisdição obedece
princípios, tal como o princípio do Juiz Natural o qual está instituído em nossa
constituição no Art. 5º, incisos XXXVII e LIII, o qual se esclarece quando a justiça é
provocada e obrigação jurisdicional do Estado é desempenhada por juízes, ou tribunal
competente, garantindo a imparcialidade. O ilustre professor Fernando da Costa
Tourinho Filho, conceitua o princípio do Juiz Natural sendo aquele cuja a
competência resulta, no momento do fato, das normas legais abstratas, encontrando-se
na Constituição Federal, investindo no poder de julgar.28

A competência por sua vez é a área que a lei determina para que Estado exerça
a jurisdição, munida do seu poder de julgar, criando-se assim as disciplinas do direito.
A competência dos crimes contra a honra praticados na internet, são tratados da
seguinte forma, como elucida Túlio Vianne e Felipe Machado:

Os crimes contra a honra (arts. 138, 139 e 140, todos do CpB), bem como
o racismo (lei nº 7.716/1989), praticados via Internet, conforme
entendimento aqui adotado, seguem a mesma lógica dos crimes do ECA,
isto é, a competência em razão do lugar da infração é definida a partir do
local onde foi concluída a ação delituosa, ou seja, no lugar onde o agente
veiculou a mensagem, e não onde está lotado o provedor29

As provas são de extrema importância na investigação dos crimes


informáticos, principalmente nos casos de racismo na internet. Sendo assim, são
admitidos todos e quaisquer tipo de prova, tais ela documental, testemunhal, pericial,
atentando para esta última citada que nos casos de crimes cometidos via a internet
destacará nos exames de praxe forense bem como a perícia em dispositivos
eletrônicos, em sites da internet, e computadores ligados à rede.

27
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal - 21 ed. - Editora ATLAS: São Paulo. 2011
28
TOURINHO Filho, Fernando da Costa. Processo Penal – Volume I.12° ed ver. Atualizada. Saraiva.
São Paulo. 2010.
29
VIANNA, Túlio; MACHADO, Felipe. op. cit.,p. 52
O procedimento de coleta de provas, relacionadas ao suposto delito praticado,
tem escopo no Art. 6º, I do CPP, onde trata do Inquérito Policial, pois o local do ilícito
penal deve ser preservado até a chegada dos peritos, para a procedência de exames
nos instrumentos nos quais foram praticados os crimes. A investigação dos crimes
virtuais, incluindo os crimes de discriminação racial, ainda esbarram em problemas
como a diversificação de locais em que são executados e identificação dos autores dos
crimes, dificultando de forma que a autoridade policial não chegue a uma conclusão
precisa da onde se cometeu o fato, nem dos supostos infratores. No Art. 240 do CPP
traz a busca e apreensão, elemento de destaque no prosseguimento processual para a
investigação dos crimes virtuais, aplicando-se também o mesmo cuidado com o local,
no cumprimento do mandado para que os especialistas possam recolher apenas o
imprescindível para a análise pericial dos matérias utilizados.

Atentando para as prisões nos Cibercrimes é importante esclarecer em


primeiro momento a diferenciação da prisão em flagrante, prisão temporária e prisão
preventiva. A primeira respectiva modalidade é disposta no Art. 301 e seguintes do
CPP e na Constituição Federal no Art.5º, inciso LXI, na qual restringe a liberdade
individual do indivíduo, não garantindo o resultado final do processo. A prisão em
flagrante dispõe de várias formas como o flagrante próprio cujo é encontrado no Art.
302, incisos I e II do CPP, como elucida o professor Aury Lopes Júnior sobre o
flagrante próprio nos incisos supra:

O flagrante do inciso I ocorre quando o agente é surpreendido cometendo o


delito, significa dizer, praticando o verbo nuclear do tipo. Inclusive, a
prisão nesse momento poderá, dependendo do caso, evitar a própria
consumação. No inciso II, o agente é surpreendido quando acabou de
cometer o delito, quando já cessou a prática do verbo nuclear do tipo penal.
Mas, nesse caso, o delito ainda está crepitando (na expressão de
Carnelutti), pois o agente cessou recentemente de praticar a conduta
descrita no tipo penal. É considerado ainda um flagrante próprio, pois não
há lapso temporal relevante entre a prática do crime (no sentido indicado
pelo seu verbo nuclear) e a prisão.30

Outro modelos de flagrante que são de importância citar são os flagrantes


impróprio e presumido, cujo estão elencados nos incisos III e IV do mesmo Art. 302
do CPP, os quais são definidos por Fenando Capez da seguinte forma:

“Flagrante impróprio (também chamado de irreal ou quase flagrante):


ocorre quando o agente é perseguido, logo após cometer o ilícito, em
situação que faça presumir ser o autor da infração (CPP, art. 302, III). No
30
LOPES. Jr. Aury. Direito processual penal. 10. ed. São Paulo. Saraiva: 2013. P.631
caso do flagrante impróprio, a expressão “logo após” não tem o mesmo
rigor do inciso precedente (“acaba de cometê-la”). Admite um intervalo de
tempo maior entre a prática do delito, a apuração dos fatos e o início da
perseguição. Assim, “logo após” compreende todo o espaço de tempo
necessário para a polícia chegar ao local, colher as provas elucidadoras da
ocorrência do delito e dar início à perseguição do autor. Flagrante
presumido (ficto ou assimilado): o agente é preso, logo depois de cometer
a infração, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir
ser ele o autor da infração (CPP, art. 302, IV). Não é necessário que haja
perseguição, bastando que a pessoa seja encontrada logo depois da prática
do ilícito em situação suspeita.”31

Em seguida, correspondendo a outra medida cautelar que pode ser imposta ao


suposto indivíduo do ato ilícito, a prisão temporária, a qual é prevista pela lei
7.960/89, diferentemente da prisão em flagrante apenas poderá ser decretada pelo o
Juiz, em face da representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério
Público e do advogado, como sistematiza o Art.2° da lei 7.960/89. Outro aspecto é o
prazo máximo de 5 dias que o imputado pode ficar detido, podendo ser prorrogado
por igual período se extremamente necessário e justificável, fazendo-a a única prisão
que detém de prazo específico em lei. Desta forma, Aury Lopes Júnior também é
categórico quando diz que não há cabimento ou prolongamento da prisão temporária
quando a fase do inquérito policial estiver concluída, pois tal modalidade de prisão é
para fins da investigação e que não se sustenta ao longo do curso do processo penal.32

Já a prisão preventiva, terceira modalidade de prisão esclarecida neste


trabalho, apresenta também particularidades, em relação as outras duas elencadas
anteriormente, a mesma, pode ser decretada pela garantia da ordem pública, ordem
econômica, conveniência da instrução criminal e outro elementos, quando houver
prova da existência do crime ou indicativos consideráveis da autoria do delito,
permanecendo a natureza cautelar, de caráter provisório, pelo fato do princípio da
presunção de inocência. A prisão preventiva está no Art. 312 do CPP, deste modo a
medida pode ser requerida em qualquer fase da instrução criminal, podendo ela ser
determinada de ofício pelo Juiz.

Desta forma, ressalta-se, que apesar da dificuldade da prisão em flagrante nos


crimes virtuais de discriminação racial pela internet, devido a fatores como a
ocultação do real autor, extrema instantaneidade da ação praticada, caso seja
concretizada a prisão em flagrante efetuará a função de medida pré-cautelar, pois

31
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 21. ed. São Paulo. Saraiva: 2014. P. 266.
32
LOPES. Jr. Aury. op. Cit., p. 691
servirá de ferramenta para a futura medida cautelar a ser imposta ao praticante do ato,
sem a necessidade de autorização do poder judiciário.

3.4. CARÊNCIA DE TIPIFICAÇÃO ESPECÍFICA NA LEI PENAL

A discriminação racial pela rede mundial de computadores é uma problemática


que vem crescendo ao longo dos anos, pela difusão gigantesca que a internet
proporciona com tecnologias criadas em ritmo acelerado, de todos os tipos, desde
computadores a smartphones, deixando a informação cada vez mais fácil de ser
divulgada e acessada. Com os casos sucessivos de pessoas que sofrem discriminação
pelo meio internet, o direito como ciência social, que anda indubitavelmente
concomitante com a vida diária, é responsável pelo controle social, podendo criar
formas de coibição de tais atos que afrontam a dignidade da pessoa humana e a honra
de um indivíduo ou de um determinado grupo de pessoas.

O Direito Penal em linhas gerais é o ramo do Direito Público que o Poder


Legislativo destina as normas que cerceiam as condutas delituosas, para garantir um
Estado democrático de Direito e um desenvolvimento da sociedade de maneira
organizada e com ordem. Desta forma, com as mudanças no mundo social, este ramo
também deve inserir novas normas para coibir novos crimes que surgem com a
adaptação humana.

Com a explosão das novas tecnologias, a pratica delituosa se tornou mais


extensa, atingindo um determinado número de pessoas que forma mais rápida e
eficiente, ao ponto dos infratores não terem a devida punição pela as ações praticadas
nas vias recém descobertas, deixando um certo sentimento de impunidade na
sociedade.

Analisando profundamente a nossa lei penal, cabe ressaltar que ainda existe
uma carência de legislação específica que trata do ilícito penal cometidos através dos
meios virtuais, tanto para o crime de racismo, tanto para o crime de injúria racial,
carência esta que acaba dificultando as ações de coibição de tais crimes. Em 2012 foi
inserido no Código Penal, através da lei extraoficialmente como Carolina Dieckmann,
cujo foi explanada em linhas iniciais, dois artigos que foram relevantes para o início
da penalização de crimes virtuais, descrevendo somente a punição para o crime de
invasão de dispositivo informático alheio, definitivamente um bom passo para
repressão deste tipo de crime, porém insuficiente e praticamente nulo para a onda de
casos de discriminação racial que ocorrem pela a web.
Neste diapasão, é oportuno fazer a análise do cenário internacional, que vem
trazendo propostas para a melhoria de penalização dos cibercrimes, em termos de
responsabilidade, autoria e conteúdo. Em 2001, aconteceu na cidade de Budapeste,
capital da Hungria, a Convenção sobre Cibercrime na qual ficou notório por ser o
maior tratado internacional penal e processual penal, que aponta de forma concisa os
crimes cometidos pelas tecnologias da informação. Mais de 40 países foram adeptos a
esta convenção, criando um marco de controle penal na prática destes delitos. Na
América do Sul, apenas o Chile e a Colômbia aderiram o tratado, ficando o Brasil de
fora, deixando passar uma oportunidade e consequentemente abrindo uma lacuna na
segurança digital dos usuários da internet brasileira.

Apesar de não aderir a Convenção de Budapeste, citada acima, no ano de 2015


foi aberta na Câmara dos Deputados a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos
Crimes Cibernéticos, que visa investigar e propor medidas para erradicar ao máximo
tais condutas, sendo citados dois casos de racismo na Justificativa do deputado Sibá
Macha para implementação da CPI:

“A Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos recebe uma


média de 2.500 denúncias por dia envolvendo páginas na Internet contendo
evidências dos crimes de Pornografia Infantil ou Pedofilia, Racismo,
Neonazismo, Intolerância Religiosa, Apologia e Incitação a crimes contra a
vida, Homofobia e maus tratos contra os animais[...] A seguir listamos
alguns casos reais de crimes cibernéticos ocorridos recentemente, apenas a
título exemplificativo: 2. Racismo contra a cearense Melissa Gurgel, Miss
Brasil 2014, 3. O Ministério Público Federal identificou e acusou, em
2014, internautas que postaram comentários considerados racistas contra
os cearenses durante um acidente em Canindé, no interior do Ceará, que
resultou na morte de 18 pessoas.”33

Em Março de 2016 foi apresentado o relatório final no qual foram discutidos


diversos projetos de lei que visam a fiscalização, coibição e controle dos crimes
cibernéticos como por exemplo: O bloqueio de sites, a investigação da Polícia
Federal, a investidura em recursos para o combate aos crimes, o perdimento de bens,
dentre outros. Cabe fazer um olhar mais preciso à proposta do Sub Relator Deputado
Daniel Coelho que centra seu projeto aos crimes contra a honra e outras injúrias,
assunto principal desde trabalho, recomentando a retirada célere de conteúdos que
molestam a honra do indivíduo, senão vejamos um pequeno trecho de seu projeto de
lei:
33
BRASIL. CPI – Crimes Cibernéticos. Relatório Final, de 20 de março de 2016. Diretoria
Legislativa. Brasília, p. 6, 2016. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1447125> Acesso em: 02
jun. 2016.
“Diversas são as ofensas, violações e crimes contra à honra da pessoa
perpetrados pela internet. Também, crimes resultantes de discriminação ou
preconceito de raça, homofobia, intolerância religiosa e outros atributos
pessoais são objeto constante de comentários nas redes sociais. Esta CPI,
sensibilizada ao assunto, buscou incessantemente convidar personalidades
atacadas por essa mazela que contamina a internet. Foram diversos
requerimentos aprovados para convidar vítimas a prestarem depoimento,
mas todas elas declinaram por se tratar de assunto extremamente doloroso
e pessoal. Essa recusa é um forte indicativo do grave transtorno que
acarreta ser alvo desses comentários maliciosos e criminosos. Também
nesta CPI foi relatado, por diversos delegados e procuradores, a
dificuldade e a demora para se aceder à remoção de conteúdos ilegais.
Casos não tão relevantes podem demorar 30 dias, mas casos extremamente
danosos, que deveriam ter remoção imediata das redes sociais,
continuaram por vários dias accessíveis aos usuários, perpetuando o dano
às vítimas” [...]34

4. RACISMO E INTERNET NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

4.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI 7.716 DE 1989

A lei 7.716/1989 abordada de maneira breve em linhas iniciais deste trabalho,


popularmente conhecida como lei antirracismo, foi criada após promulgação da
Constituição Federal de 1988, trazendo em sua redação a conceituação dos crimes
resultantes de raça ou de cor, etnia, religião ou procedência nacional. Sua criação foi

34
BRASIL. CPI – Crimes Cibernéticos. Relatório Final, de 20 de março de 2016. Diretoria
Legislativa. Brasília, p. 142, 2016. Disponível em:
<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1447125> Acesso em: 02
jun. 2016.
de extrema importância para a restrição do preconceito racial existente no país desde
o fim da época escravocrata.

Desta forma, existiu um contexto histórico até o advento desta lei, cujo veio
substituir a Lei 1.390 de 1951, Lei Afonso Arinos, a qual foi a precursora na
tipificação dos crimes de preconceito. O Brasil, desde os primórdios de sua
construção, sempre foi uma nação marcante pela sua diversidade étnica e cultural,
pois reuniu ao longo de sua história diferentes nacionalidades como povos da Europa,
África, Ásia, além dos nativos Indígenas. Mesmo com toda essa diversidade de etnias
o Brasil ainda passa por uma pré-disposição discriminatória com o sua própria nação,
tendo o fator das classes sociais, relacionada ao poder aquisitivo de casa indivíduo
auxiliando ainda mais as atitudes discriminatórias vividas e alimentada ao longo da
história.

A Lei 7.716/89 traz uma particularidade relacionada ao seu preâmbulo no qual


diz que: “Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor”. Contudo,
com as alterações trazidas pelas leis 9.459 de 1997, 12.288 de 2010 e 12.735 de 2012,
a mesma inseriu a punição sobre os crimes relacionados a preconceito de etnia,
religião ou procedência nacional.

Para o emprego da lei antirracismo, é necessário que o agente cometa


preconceito ou discriminação com base na raça, cor, etnia, religião ou procedência

nacional, como dispõe a lei, isto é, restrinja direitos, impeça um ação de um indivíduo
em virtude da sua etnia, por exemplo.

A maioria dos casos que acontecem e tratam de discriminação racial, são


tipificados no crime de injúria (Art. 140, III, do CP), causando confusão na veiculação
da informação e consequentemente se confundido com a Lei 7.716/89.

Porém sendo dispositivos diferentes, sendo aplicados em situações distintas, para que
não haja dúvidas a visualização do quadro comparativo abaixo35 clareia tal
explicação:

Tabela 2 – Racismo x Injuria Racial

35
SIVIERO. Adriano dos Santos Filipe; SEVERINO. Guilherme Vasconcellos; MUSSI. Lucas;
PERES. Marcus Vinícius; JR. Miguel Armando Pereira. Lei 7.716/89 – Preconceito. Disponivel em: <
http://www.investidura.com.br/biblioteca-juridica/artigos/direito-penal/310-preconceito.> Acessado em
6 de junho de 2016
RACISMO RACISMO IMPRÓPRIO (INJÚRIA)
PRÓPRIO

Conceito Conceito político-social e não biológico ou religioso


político-social e não
biológico ou religioso

Importa numa Importa numa qualificação negativa, um adjetivo


segregação de negativo
Direitos
Exemplos: impedir
Exemplo: com dolo de injuriar, chamar a pessoa negra de
uma pessoa de
“macaco”.
requentar clube,
igreja ou outros
lugares públicos ou
abertos ao público
por ser negra, branca,
judia, árabe etc.

Lei Afonso Lei 9459/97 que criou o tipo de injúria qualificada do


Arinos revogada pela artigo 140, §3º do CP.
Lei 7.716/89(artigo
20) e modificada pela
Lei 9459/97
Consequências
jurídicas:

O crime é
Consequências jurídicas:
inafiançável (embora
caiba Liberdade
Provisória sem fiança O crime é afiançável
do artigo 310,
parágrafo único do
O crime é prescritível
CPP, eis que a CF/88
não falou no gênero e
sim na espécie)

O crime é
imprescritível

(artigo 5º,
XLII da CF/88)

Recente no Exemplo polêmico recente:


STF:
Prisão do jogador argentino Leandro Desábato por
HC do escritor ofender o jogador Grafite do SP – abril de 2005.
anti-semita

(HC 82424)

Fonte: Investidura – Portal Jurídico

A Lei 7.716, veio de fato para enfatizar o princípio da igualdade e tentar


erradicar a prática de qualquer tipo de discriminação, que caminhava
desenfreadamente desde todo o contexto histórico brasileiro. Destaca-se que o
legislador trouxe este dispositivo para ser de um caráter mais rígido em relação a
atitude discriminatória. Justamente pelo elemento da imprescritibilidade e
inafiançabilidade, podendo o agente do tipo ter sua pena máxima de 5 anos.

4.2 A INEFICÁCIA DA LEGISLAÇÃO NOS CRIMES VIRTUAIS

Mesmo contendo legislação e dispositivos que penalizam a prática da


discriminação racial, seja ela por injúria, tipificada no Código Penal, ou por racismo,
tipificada pela lei 7.716/89, anteriormente explanada, doutrinadores e estudiosos
questionam a funcionalidade da legislação em casos que são advindos da internet. A
ineficácia da aplicação da lei é ponto essencial para a solução desta problemática
jurídico-social que atualmente vivemos. A de se observar que mesmo com criações de
pequenas leis que auxiliam de forma branda a coibição de atos ilícitos na rede
mundial de computadores, dezenas de casos ainda são executados e sem a devida
penalização deixando a sociedade sem a devida segurança jurídica. Diante o fato de
que o Código Penal vigente nos dias atuais, foi promulgado em 1940, e não sofre uma
grande mudança a bastante tempo, criou-se uma defasagem quando diz respeito a
novos delitos, deixando certa fragilidade na eficácia e aplicabilidade da lei.

O especialista Paulo Rogério Nunes, cujo estuda os casos de racismo nas redes
sociais, discorre sobre a ineficácia da Legislação Brasileira nos casos de
discriminação por meio da rede, em entrevista concedida ao EL País Brasil:

“A Internet chegou para provar que somos um dos países mais racistas do
mundo” P: “Quais são os instrumentos legais que um internauta
anônimo tem para se defender dos ataques? Há outras vias, além dos
tribunais, para combater o ódio virtual?” R.” Existem as vias tradicionais
do Judiciário que precisam ter sua eficácia discutida e também há
plataformas que recebem denúncias como a SaferNet e Humaniza Redes.
Além disso, há várias redes de solidariedade e que produzem uma contra-
narrativa e apoio às vítimas de racismo e demais violações de direitos
humanos na Internet. Estamos começando a estudar esses grupos para
entender melhor como eles atuam. No evento que fizemos no Rio de
Janeiro, no final do mês de abril, conseguimos apresentar alguns deles
como o aplicativo Kilombu, que dá visibilidade a empreendedores
negros; o grupo Desabafo Social, que criou a Ubuntu, uma rede social
livre. Há ainda grupos de makers e hackers em favelas, vlogueiras negras
com canais de vídeos, além de aplicativos para mapear a violência
policial e outros para denunciar problemas nas cidades. Ou seja, tudo isso
entra nesse grande movimento de empoderamento dos cidadãos para não
ficarem passivos em relação ao racismo estrutural da sociedade
brasileira. Todos precisam ser co-responsáveis em promover de
diversidade.”36

Com isto, é imprescindível uma maior atenção do Poder Judiciário para a


execução de novas leis que tenham a verdadeira eficácia e atinja de maneira ampla
toda esfera da internet e seus usuários, protegendo a sociedade de criminosos que
pregam o ódio com a finalidade de incitar qualquer tipo de discriminação ou lesão a
algum bem jurídico.

36
MARTIN, Maria. A internet chegou para provar que somos um dos países mais racistas do mundo.
El País. Rio de Janeiro, 15 de jun. 2016. Disponivel em:
<http://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/10/politica/1462895132_579742.html?
id_externo_rsoc=Fb_CM> Acesso em 16 jun. 2016.
Um importante elemento que auxilia na ineficácia dos crimes cibernéticos é a
dificuldade na investigação, pois o anonimato e dinamicidade da internet criam
barreiras, facilitando a exclusão de indícios do crime, dando espaço para o agente
delituoso não ser imputado. Além disto, a política dos provedores de internet, é de não
ser flexíveis em relação a liberação de dados, sendo apenas mediante pedido de
quebra de sigilo, devido os mesmos não serem obrigados a guardar informações de
acesso de seus consumidores. A legislação também é omissa na questão da aquisição
de material de cadastro dos usuários dos provedores de internet, deixando os mesmos
livres de qualquer responsabilidade.

4.3 LEI ORGÂNICA 12.735 DE 2012

A Lei sancionada em 30 de novembro de 2012 pela Presidenta da República


detém em sua ementa:

Altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,


o Decreto-Lei no 1.001, de 21 de outubro de 1969 - Código Penal Militar,
e a Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989, para tipificar condutas realizadas
mediante uso de sistema eletrônico, digital ou similares, que sejam
praticadas contra sistemas informatizados e similares; e dá outras
providências.

Fazendo uma análise da Lei 12.735/2012, cujo foi denominada de Lei Azeredo
sendo a mesma o ponto de partida para a regulamentação dos crimes na esfera virtual,
visando exclusivamente atender o princípio da legalidade, dando atualidade ao
Código Penal e ao Código Militar, em virtude dos novos delitos praticados pela a
internet.

A criação da lei em momento posterior de forma mais inofensiva, foi de suma


importância pois trouxe medidas que despertaram o interesse na descoberta dos
crimes pela a internet, abrindo um respaldo aos usurários que frequentam a internet e
compartilham seus dados, imagens, vídeos na web. Porém não foi muito bem aceita
incialmente, pelo fato de apresentar polêmicas em sua redação, como pode ser visto
no artigo abaixo:

No longínquo ano de 1999, surgiu o projeto da Lei Azeredo (PL 84/99),


cujo objetivo era definir crimes cibernéticos: hackear o computador de
alguém, difundir vírus, derrubar sites, repassar pornografia infantil, essas
coisas. Outros projetos de lei foram incluídos na Lei Azeredo – como o
estelionato eletrônico (phishing) – e em 2003 ela foi aprovada pela
Câmara. No Senado, ele também se arrastou por um longo tempo, onde foi
reformulado até chegar à sua versão final em 2008.

 A LEI 12.735/12 (LEI AZEREDO):


 Invasão de computadores para obter vantagem ilícita;
 Falsificação de cartões e de documentos particulares;
 Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou
de informação de utilidade pública.
No entanto, o projeto de lei ainda tinha muitos pontos polêmicos – como
guardar um histórico de acessos por três anos – ou amplos demais, que
poderiam restringir a privacidade e liberdade na internet. Por isso, este ano
a Lei Azeredo foi “depenada”: dos seus 23 artigos, 17 foram removidos –
incluindo o temido histórico de IP. Agora ela só cobre: favor a inimigos
(traição); falsificação de cartões de crédito ou débito; e criação de uma
estrutura policial para combater esses crimes. 37

O bem jurídico que é para ser zelado na criação deste dispositivo foi a
privacidade, preservando a vida privada de cada indivíduo. A Lei Carolina Dieckmann
foi feita com base na Lei Azeredo.

Por serem dois dispositivos que tem a mesma finalidade pode-se fazer uma
comparação entre a Lei 12.735 (Azeredo) e a Lei 12.737/12 (Dieckmann), sendo a
segunda diferenciada pela
linguagem mais  A LEI 12.737/12 (LEI CAROLINA branda e precisa,
a diminuição de DIECKMANN) TIPIFICA OS pena em alguns
tipos elencados, SEGUINTES CRIMES: os quadros
38
abaixo dão  Inclui um novo dispositivo na Lei de Combate mais clareza
sobre ao Racismo (7.716/89) para obrigar que determinada
diferenciação: mensagens com conteúdo racista sejam
retiradas do ar imediatamente, como já ocorre
Tabela 3 – Lei Carolina Dieckmann
atualmente em outros meios de comunicação,
Tabela 4 – Lei como radiofônico, televisivo ou impresso; Azeredo
 prevê a criação das delegacias especializadas
Fonte: Marcha Mundial das
no combate a crimes cibernéticos na Polícia
Mulheres/ Clareana Cunha
Federal e nas Polícias Civis

37
CLANEANA, Cunha. Lei de Cibercrimes e Lei Azeredo entram em vigor e o Marco Civil? Nada.
Blog da marcha mundial das mulheres. 5 abr. 2013. Disponível em:
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vigor-e-o-marco-civil-nada/>. Acesso em 10 jun. 2016.
38
VENTURA, Felipe. Dieckmann x Azeredo: como se comparam os dois projetos de lei para crimes
virtuais. Gizmodo – Brasil. 3 nov. 2012. Disponível em: <http://gizmodo.uol.com.br/projeto-leis-
dieckmann-azeredo/>. Acesso em 13 mai. 2016.
4.4 CRIMES VIRTUAIS NO ÂMBITO INTERNACIONAL

Os crimes virtuais também são discutidos firmemente internacionalmente, pois


o limite da internet não existe barreiras, afetando todos os usuários, em qualquer
localidade ou distância. A Convenção de Budapeste, conferência já citada
anteriormente, é considerada a maior modelo de regulamentação sobre crimes
virtuais, sistematizando a procedência da penalização e investigação dos cibercrimes.
A cooperação internacional é preponderante na luta contra os crimes virtuais, tendo
cada nação do globo, a responsabilidade controlar e coibir as ações delituosas
praticadas no meio de comunicação internet.

Com o acelerado fluxo de informações, países e organizações


intergovernamentais, como a ONU estão agindo de forma conjunta para a
massificação da regulamentação efetiva contra contravenções virtuais. O Brasil em
esfera nacional, ainda sofre com a falta de controle da internet, assim ocupando a 4º
posição no ranking de vítimas de crimes cibernéticos. A discriminação racial também
é matéria sempre apontada internacionalmente, convenções, conferências e
declarações são ditadas em anos periódicos para debater sobre a discriminação com
isso a sustentação das relações internacionais entre países é determinante para a
coibição e erradicação do ato discriminatório.

5. CONCLUSÃO

Em virtude do que foi mencionado, a sociedade da informação foi de extrema


importância para o crescimento da informação e acesso a novas tecnologias que
puderam revolucionar o modo de como os indivíduos se relacionam, se comunicam,
implicando mudanças repentinas na esfera jurídica. Com a chegada do grande marco
tecnológico que foi a internet, a proliferação da informação, ascendeu, tornando-se
indispensável na vida do cotidiano humano. A manifestação do pensamento e a
liberdade de expressão ganharam força, pela facilidade em que poderia ser divulgada
e repassada a todos. Desta forma, direitos ficaram expostos, ao ponto de serem
violados através da discriminação racial e étnica, atos dos quais foram cada vez mais
se proliferando em virtude dos elementos sociais que a rede mundial de computadores
oferecia em relação a mídias de informação.

Diante tanta liberdade adquirida, a massificação de casos que infringiam


princípios e garantias fundamentais, ficou mais evidente, criando uma problemática
divergente, botando em cheque a liberdade de expressão que a internet proporciona
em todas as suas ramificações. O contexto histórico brasileiro, desde o seu período
colonial até chegada a república, passou por inúmeras transformações sociais,
econômicas e jurídicas cujo concedeu um panorama ainda mais expressivo no âmbito
de ataques discriminatórios na web.

Abordando o aspecto jurídico, há de se ressaltar que o direito caminhou de


forma paralela as mudanças globais que a sociedade da informação trouxe ao mundo
contemporâneo. Os delitos cometidos pela internet, despertaram a mudança do direito
em seu ramo penal, pois a conduziu para medidas que penalizassem os indivíduos que
utilizam o meio para ataques de todo o tipo de natureza. Cabe ressaltar também a
importância do poder legislativo para a coibição de tais ações por meio de criações de
normas mais rígidas e restritivas, pregando o controle social dentro da internet.

A participação e principalmente a responsabilidade dos usuários da rede é


também de larga relevância, para a gerência de utilização da web, sendo ela
denunciando casos, participando efetivamente de medidas.

O Brasil detém uma alta quantidade da nação conectada as mídias sociais, e a


internet, chegando a números globais, desta forma é imprescindível a conscientização
dos usuários para manter o ambiente virtual de modo saudável e benéfico, sendo a
característica principal o bem maior e a facilidade que o meio produz através suas
ferramentas disponíveis.

A dignidade da pessoa humana, em conjunto dos os direitos humanos regem a


gama de garantias fundamentais que vivemos dia a dia, sendo possível sim a
concomitância com a liberdade de expressão, não deixando de lado o combate
veemente contra a discriminação racial, o qual viola tais institutos de maneira
selvagem e dolorosas.

Desta maneira os veículos de mídia são de fato importantes ao combate do


racismo na sociedade da informação, para conscientizar os utilizadores das novas
tecnologias digitas, de forma que haja sempre o debate sobre tal questão, a qual é
remotamente deixada de lado.
Casos emblemáticos vem sendo trazidos à tona com celebridades globais, cuja
tem a condição e a informação necessária para buscar os autores dos fatos, tendo o
apoio massivo das mídias. O racismo mundial, seja ele de qualquer natureza é uma
problemática que percorre desde os tempos remotos da civilização, apenas tendo um
grau de importância maior a partir do final do século XX.

Como demonstrado no presente trabalho, o contexto histórico favorece a


propagação racismo entre a sociedade, mostrando de fato que deve ser feita uma
reflexão sobre como foi construída a propagação étnica do Brasil e as consequências
históricas que o período escravocrata deixou ramificadas até hoje.

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