Você está na página 1de 78

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

FRANCISCO HIAGO VIEIRA GRANGEIRO

ESTUDO DE SOLO EXPANSIVO E SUAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS.

JUAZEIRO DO NORTE
2014
FRANCISCO HIAGO VIEIRA GRANGEIRO

ESTUDO DE SOLO EXPANSIVO E SUAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS.

Monografia apresentada ao Curso de


Engenharia Civil da Universidade Federal do
Cariri, como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Engenharia Civil.

ORIENTADORA: PROFª: DRA. ANA


PATRÍCIA NUNES BANDEIRA

JUAZEIRO DO NORTE
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Cariri

G757e Grangeiro, Francisco Hiago Vieira.


Estudo de solo expansivo e suas manifestações patológicas/ Francisco Hiago Vieira Grangeiro.
– 2014.
75f. il. color, enc.; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Cariri, Curso de Engenharia Civil, Juazeiro


do Norte, 2014.
Orientação: Profª. Dra. Ana Patrícia Nunes Bandeira

1. Solo expansivo. 2. Solo - patologia. I. Título.

CDD 631.4
FRANCISCO HIAGO VIEIRA GRANGEIRO

ESTUDO DE SOLO EXPANSIVO E SUAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS

Monografia apresentada ao Curso de


Engenharia Civil da Universidade Federal do
Cariri, como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Engenharia Cívil.

Aprovada em: ___/_____/____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________
Profª. Dra. Ana Patrícia Nunes Bandeira (Orientadora)
Universidade Federal do Cariri (UFCA)

_____________________________________________________
Prof. Dr. João Barbosa de Souza Neto
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)

_____________________________________________________
Profª. Dra. Karina Cordeiro de Arruda Dourado
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE).
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar aos meus Pais, Aurino e Iris, pela completa dedicação,
apoio, amor e força que me deram ao longo de toda minha vida.
A Deus por estar sempre ao meu lado me dando forças para alcançar
meus objetivos.
A minha família pelo incentivo que sempre demonstraram.
Aos meus irmãos, Yanna e Isaias, pelo companheirismo e parceria.
Aos amigos: Carlos, Denis, Édipo, Helson, Igor, Richardson, Robério,
Roberto, Rondon, Thiago, Urias, Valmário, Veridiana, Victor e Wanks, por
transformarem toda a jornada dentro da universidade, em um período de muita
experiência, aprendizado e diversão.
A Professora Ana Patrícia Nunes Bandeira pela orientação, paciência e
atenção oferecidas durante o desenrolar deste trabalho.
A bolsista do Laboratório de Mecânica dos Solos, Laís Chaves, pela
grande ajuda e disponibilidade na realização dos ensaios.
A aqueles que não citei, mas que contribuíram para minha formação e
para realização deste trabalho.
RESUMO

Devido à falta de uma norma específica, para a realização dos procedimentos de


expansão livre e tensão de expansão, procurou-se tomar como referência as recomendações de
FERREIRA (1995).
Os solos expansivos são solos não saturados que apresentam aumento de volume
quando dispostos em condições de absorver água. Este processo resultará em movimentos
horizontais e verticais que poderão causar desde simples fissuras a danos irreversíveis a uma
obra. O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar as características
geotécnicas de um solo potencialmente expansivo do município de Juazeiro do Norte-CE e
relacionar as patologias ocorridas em uma edificação com as propriedades desde tipo de solo,
através de um estudo de caso. No presente estudo foram analisados os potenciais de recalque
e de expansão do solo, bem como as respectivas tensões de expansão através dos ensaios
edométricos, realizados na prensa do tipo Bishop; devido à falta de uma norma específica,
para a realização dos procedimentos, procurou-se tomar como referência as recomendações de
FERREIRA (1995). Os ensaios de expansão livre foram realizados em três corpos de prova
cilíndricos de 7 centímetros de diâmetro, com umidade inicial girando em torno de 7,29%,
apresentando estes uma expansão livre média de 18,5%, sendo o solo classificado como de
alta expansibilidade de acordo com o critério de SEED et al (1962); já os ensaios de tensão
de expansão apresentaram uma tensão média de 377 kPa. Também foram realizados ensaios
de caracterização, cujos resultados apresentaram que o solo se trata de um silte de alta
compressibilidade – MH, com IP de 35%. Os ensaios de resistência ao cisalhamento
forneceram intercepto de coesão de 15 kPa e ângulo de atrito (ϕ) de 25,7º, para amostras
ensaiadas na condição inundada. Para o entendimento das patologias ocorridas em uma
residência assentada sobre este solo, foram realizados os cálculos das tensões transmitidas ao
solo e de sua tensão admissível, que foi de 114 kPa, calculada adotando-se a formulação de
TERZAGHI (1943) . Através dessa etapa verificou-se que a maioria dos blocos da fundação
da residência em análise transmitem tensões superiores à tensão admissível do solo e que
todos os blocos transmitem tensões inferiores à tensão de expansão do solo. Essa análise das
tensões possibilitou o entendimento das patologias encontradas na edificação, que de acordo
com este estudo, estão diretamente relacionadas com potencial de expansão do solo e com as
tensões transmitidas pela construção.

Palavras-chave: Solo expansivo, Expansão livre, Tensão de Expansão.


ABSTRACT

Expansive soils are unsaturated soils that have increased in volume when placed in a position
to absorb water. This process will result in horizontal and vertical movement that can cause
irreversible damage to a work. This paper aims to present the geotechnical characteristics of a
potentially expansive soil in the municipality of Juazeiro-CE and understand the pathologies
occurring in a building through a case study. In this work edométricos tests in order to check
the free expansion of the soil and its tension expansion were used. The results showed that the
soil is a silt of high compressibility - MH, IP 35%. The free expansion tests were performed
on three specimens and showed an average increase of 18.5%, being ranked as high ground
expansion, according to Seed et al (1962); already assays expansion strain showed a mean
stress of 377 kPa. Tests on shear strength provided cohesion intercept of 15 kPa and frictio n
angle (φ) of 25.7 ° for the samples tested in the flooded condition. To understand the
pathologies occurring in a seated residence on this ground, the calculations of the transmitted
to the ground and its allowable stress, which was 114 kPa tensions were performed. Through
this step it was found that most blocks above the foundation transmit permissible voltage and
the ground voltage to all the blocks transmitted to the lower expansion tension soil stresses.
This analysis enabled the understanding of the tensions of the pathologies found in the
building, which according to this study, are directly related to soil expansion potential and
tensions transmitted by construction.

Keywords: Expansive soil, free expansion, Stress Expansion.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1-Fissura inclinada na alvenaria da Escola Anália de Almeida Souza Lima, localizada
em Santo Amaro – BA. ........................................................................................................ 11
Figura 2 - Trincas de ressecamento em solo expansivo - Petrolândia Pernambuco. ............... 14
Figura 3 - Provável ocorrência de solos expansivos no Brasil. .............................................. 17
Figura 4 - Absorção de água por argilominerais do tipo 2:1:(A) não expansivo (ilita); .......... 18
Figura 5 - Classificação da expansibilidade de materiais argilosos de WILLIANS e
DONALDSON (1980) a partir do índice de atividade de Skempton. .................................... 22
Figura 6 - Esquema simplificado da célula edométrica utilizada no ensaio de expansão livre.
............................................................................................................................................ 23
Figura 7 - Manifestações patológicas do tipo fissuras. .......................................................... 25
Figura 8 – Fissuras provocadas por recalque ........................................................................ 29
Figura 9 - Trincas provenientes de levantamentos em forma de prato. .................................. 31
Figura 10 - Fissuras em paredes decorrentes de levantamento de tipo cúpula. ....................... 31
Figura 11 - Fissura diagonal em vértice superior de porta em casa do bairro Tiracolo,
Araci/BA. ............................................................................................................................ 32
Figura 12 – Fissura inclinada em Casa do bairro Tiracolo, Araci/BA. ................................... 33
Figura 13 - Área do estudo. .................................................................................................. 36
Figura 14 - Retirada de amostra indeformada (A) Local da coleta, (B) Abertura da trincheira,
(C) Moldagem do bloco, (D) envolvimento com papel alumínio, (E) Revestimento com tecido
e parafina, (F) Armazenamento em caixa de madeira............................................................ 38
Figura 15 - Curva granulométrica. ........................................................................................ 39
Figura 16 - Gráfico do ensaio de LL. .................................................................................... 40
Figura 17 – Carta de Plasticidade. ........................................................................................ 42
Figura 18 - Prensa edométrica do laboratório de mecânica dos solos da UFCA. ................... 43
Figura 19 - Curva tempo x Deformação - Amostra 1. ........................................................... 44
Figura 20 - Curva tempo x Deformação - Amostra 2. ........................................................... 45
Figura 21 - Curva Tempo x Deformação – Amostra 3........................................................... 45
Figura 22 - Curva tensão x Deformação volumétrica da amostra 1. ...................................... 47
Figura 23 - Curva Tensão x Índice de vazios da amostra 1. ................................................... 48
Figura 24 - Curva tensão x Deformação volumétrica da amostra 2. ...................................... 48
Figura 25 - Curva tensão x Índice de vazios amostra 2. ........................................................ 49
Figura 26 - Curva Tensão x Deformação volumétrica da amostra 3. ..................................... 49
Figura 27 - Curva Tensão x Índice de vazios amostra 3 ........................................................ 50
Figura 28 - Curva Tensão versus Deformação. ..................................................................... 51
Figura 29 - Curva Tensão versus Índice de vazios. ............................................................... 51
Figura 30 - Gráfico Deslocamento Horizontal versus Tensão Cisalhante. ............................. 53
Figura 31 - Envoltória de resistência – Tensão normal versus Tensão cisalhante ................... 53
Figura 32 – Planta baixa da casa em estudo. ......................................................................... 55
Figura 33 - Fachada lateral da casa em estudo. ..................................................................... 56
Figura 34 - Fenda vertical no muro ...................................................................................... 56
Figura 35- Fissuras Inclinadas nas paredes ........................................................................... 57
Figura 36 - Levantamento e abertura de piso ........................................................................ 57
Figura 37- Rachadura em extremidade de esquadria ............................................................. 57
Figura 38 - Modelo estrutural. .............................................................................................. 58
Figura 39 - Esforços nos apoios em kgf e cm. ...................................................................... 59
Figura 40 - Projeção da fundação. ........................................................................................ 60
Figura 41- Bulbo de Tensões. ............................................................................................... 64
Figura 42 - Perfil das tensões abaixo do bloco 14. ................................................................ 65
Figura 43 – Perfil das tensões abaixo do bloco 9. ................................................................. 65
Figura 44 – Curvas para cálculo dos deslocamentos verticais. .............................................. 66
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Países com problemas devido a solos expansivos. ................................................. 15


Tabela 2 - Relação entre o potencial de expansão e índice de plasticidade segundo SEED et al.
(1962). ................................................................................................................................. 21
Tabela 3 – Classificação do potencial de expansão de solos. ................................................. 24
Tabela 4 - Classificação de aberturas segundo a espessura. ................................................... 26
Tabela 5 – Recalques limites ................................................................................................ 29
Tabela 6 - Resumo da granulometria. ................................................................................... 39
Tabela 7- Resumo do ensaio de LP ....................................................................................... 40
Tabela 8 - Dados dos ensaios de expansão livre e Tensão de expansão. ................................ 50
Tabela 9 - Dados do ensaio de compressão edométrica. ........................................................ 52
Tabela 10 - Condições das amostras do ensaio de cisalhamento. ........................................... 54
Tabela 11 – Cargas aplicadas no modelo. ............................................................................. 59
Tabela 12 - Tensões transmitidas pelos blocos. ..................................................................... 61
Tabela 13 - Valores para cálculo da tensão admissível. ......................................................... 62
Tabela 14 - Deslocamentos verticais no bloco 14.................................................................. 66
Tabela 15 - Deslocamentos verticais no bloco 9. .................................................................. 66
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10

1.1 Justificativa .................................................................................................................11


1.2 Objetivos ....................................................................................................................12
1.2.1 Objetivo Geral ......................................................................................................12
1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................12
1.3 Organização do Trabalho .............................................................................................12
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 14

2.1 Solos expansivos .........................................................................................................14


2.1.1 Ocorrência de solos expansivos ............................................................................15
2.1.2 O Fenômeno da expansão dos solos .....................................................................17
2.1.4 Métodos de identificação e classificação de solos expansivos ...............................20
2.2 Manifestações patológicas ..........................................................................................24
2.2.1. Patologias do tipo fissuras ...................................................................................25
2.2.2 Manifestações patológicas devido a problemas com a fundação .......................26
2.2.3. Recalques de fundações ......................................................................................28
2.2.4 Danos causados por solos expansivos ...................................................................29
2.2.5 Medidas preventivas Quanto aos efeitos da expansão dos solos ...........................33
3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................ 36

3.1 Localização da área de estudo .......................................................................... 36

3.2 Obtenção das amostras ...............................................................................................37


3.3 Caracterização geotécnica ...........................................................................................38
3.3.1 Análise granulométrica .........................................................................................38
3.3.2 Limites de consistência .........................................................................................40
3.3.3 Classificação do solo segundo o S.U.C.S. ...............................................................41
3.3.4 Ensaios Edométricos .............................................................................................42
3.3.5. Ensaio de resistência ao cisalhamento .................................................................52
4 ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DAS TENSÕES NO SOLO ........................... 55

4.1 Descrição da edificação em estudo ..............................................................................55


4.2 Manifestações Patológicas encontradas ......................................................................56
4.3 Tensões Transmitidas pela Fundação ...........................................................................58
4.4 Capacidade de Carga e Tensão Admissível do Solo ......................................................61
4.5 Previsão dos movimentos verticais ..............................................................................63
4.6 Possíveis soluções .......................................................................................................67
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS ......................... 68

5.1 Conclusões ..................................................................................................................68


5.2. Sugestões para trabalhos futuros ...............................................................................69
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 70

ANEXO 1 – TABELA DOS COEFICIENTES DE CAPACIDADE DE CARGA

UTILIZADOS NA FÓRMULA DE TERZAGUI.............................................................. 74


10

1 INTRODUÇÃO

A ocorrência de patologias em obras civis, devido a problemas no subsolo, tem


sido observada e reportada com frequência tanto na prática nacional como internacional.
Considerando os inconvenientes provocados pelo aparecimento de patologias e/ou mau
desempenho das fundações, fica clara a importância destes serem estudados e evitados, em
todas as etapas da vida de uma construção (SCHWIRCK, 2005).
Os solos expansivos podem causar sérios danos às obras de engenharia
principalmente quando esses materiais não são considerados de forma adequada nas etapas de
projeto e execução da obra (CAMPOS e BURGOS, 2004).
Estes solos promovem um aumento de volume (expansão) quando absorvem água
ou redução de volume (contração) quando submetidos a um processo de perda de umidade.
Sendo assim, a expansão do solo resultará em movimentos horizontais e verticais que poderão
causar danos irreversíveis a uma obra, caso as tensões impostas pelo carregamento não sejam
suficientes para contrapô-los ou as estruturas não apresentem resistência e rigidez suficientes
para suportar os acréscimos das tensões resultantes da expansão.
Das formas de manifestação patológica em estruturas a mais importante é a
aparição de trincas ou fissuras, pois esta indica potenciais problemas estruturais,
principalmente advindos de problemas com o subsolo, que poderão comprometer o
desempenho da edificação. Além disto, as fissuras causam constrangimento psicológico aos
usuários e podem servir de porta de entrada para outras patologias.
Na literatura encontram-se alguns estudos de análise de ocorrência de
manifestações patológicas em edificações assentes sobre solos potencialmente expansivos,
dentre eles pode-se destacar o estudo de BRITTO (2006) onde avaliou o mecanismo de
funcionamento do problema patológico (fissuras) existente na alvenaria de vedação e piso da
Escola Anália de Almeida Souza Lima, localizada na Fazenda Vitória, Santo Amaro – BA.
No município de Juazeiro do Norte, embora ainda não tenha sido relatada
bibliograficamente a presença de solos expansivos, verificou-se que no Bairro Leandro
Bezerra de Menezes, algumas edificações apresentavam problemas semelhantes aos relatados
no trabalho supracitado, e que o solo do local aparentava ter características típicas de solos
potencialmente expansivos.
11

1.1 Justificativa

A negligência perante a probabilidade da ocorrência de solos expansivos,


acompanhados de seus efeitos danosos às estruturas, devido aos fenômenos de
expansão/retração volumétrica por aumento da umidade, é uma prática perigosa, porém
comum em obras de Engenharia Civil, principalmente nas de pequeno porte, podendo resultar
em danos estéticos e funcionais, ou até mesmo na ruína da edificação (Figura 1).
MAHLER (1994) Afirma que os prejuízos causados por solos expansivos em
edifícios, estradas e outras estruturas assentes em tais solos são da ordem de bilhões de
dólares. Daí segue a importância de se compreender os processos de atuação e de ocorrência
deste tipo de solo, antes de se iniciar uma obra.
Alertar sobre problemas existentes em edificações construídas no município de
Juazeiro do Norte, decorrentes da existência de solos expansivos, e a inexistência de
produções bibliográficas que abordem diretamente o fenômeno dos solos expansivos na
região Cariri do estado do Ceará, foram as motivações principais para realização deste
trabalho.

Figura 1-Fissura inclinada na alvenaria da Escola Anália de Almeida Souza Lima, localizada
em Santo Amaro – BA.

Fonte: BRITTO (2006).


12

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

O objetivo principal deste trabalho é caracterizar o solo do bairro Leandro Bezerra


de Menezes, Juazeiro do Norte-CE, com ênfase no estudo do seu potencial de expansão,
associando esta ocorrência com o surgimento de patologias em edificações.

1.2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos deste trabalho são:


a) Estudar o solo da área de estudo;
b) Conhecer o potencial de expansão do solo em estudo;
c) Compreender as ocorrências de patologias em estruturas devido aos efeitos dos
solos expansivos;
d) Analisar as patologias existentes em uma edificação localizada na área de
estudo;
e) Fornecer subsídios à construção de uma base de dados acerca da presença de
solos expansivos na Região do Cariri.

1.3 Organização do Trabalho

O presente trabalho foi dividido em quatro capítulos, cujos conteúdos estão


descritos a seguir.

No Capítulo 2 é apresentada a revisão bibliográfica sobre solos expansivos e sobre


manifestações patológicas em obras de engenharia.

O Capítulo 3 apresenta a caracterização da área de estudo, comenta sobre a


escolha do local de estudo, descreve a metodologia e os resultados dos ensaios realizados e do
cálculo da capacidade de carga do solo.
13

No Capitulo 4 é realizado o estudo de caso, sendo apresentados a edificação em


análise, o modelo estrutural adotado, o cálculo das tensões transmitidas pela edificação, e a
comparação destas com os parâmetros do solo.

No Capítulo 5 foi desenvolvida a conclusão, com uma breve explanação dos


resultados e algumas recomendações que possam auxiliar futuras pesquisas relacionadas a
este tema.
14

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Solos expansivos

Solos potencialmente expansivos são aqueles que apresentam variações de


volume diante da variação da umidade ou sucção, sendo constituídos na sua fração mais fina
por minerais expansivos (JUSTINO DA SILVA, 2001).
Eles são normalmente não saturados, predominantemente argilosos e apresentam
expansão quando colocados em condições de absorver água (Figura 2). Portanto, seu
comportamento é bastante dependente da sazonalidade. Durante períodos de estiagem, sofrem
contração e encontra-se geralmente com sucção elevada, o que lhes confere resistência
relativamente alta, dificultando sua escavação; porém, com o aumento no teor de umidade
(períodos chuvosos, infiltrações de água), esses solos podem experimentar valores de
expansão bastante expressivos (CALVALCANTE, 2007).

Figura 2 - Trincas de ressecamento em solo expansivo - Petrolândia Pernambuco.

Fonte: FERREIRA e FERREIRA (2009).

De acordo com a sua origem e formação, os solos expansivos podem ser


classificados em dois grupos. O primeiro grupo compreende os solos originários das rochas
ígneas básicas. Nestes solos, os minerais de feldspato e piroxênios das rochas de origem
15

sofrem decomposição formando a montmorilonita e outros minerais secundários. O segundo


grupo compreende os originários das rochas sedimentares que já contêm a montmorilonita na
sua composição, de maneira que ao sofrerem decomposição formarão os solos expansivos
(BRITTO, 2006).

Deve-se observar que, conforme afirma MAHLER (1994), o fenômeno da


expansibilidade dos solos está vinculado à capacidade de alguns solos argilosos, em especial
com componentes montmoriloníticos apresentarem modificações em sua estrutura original,
não compreendendo certos solos ou rochas que em condições especiais de descompressão,
como uma escavação, por exemplo, tendem a apresentar um inchamento na direção da
escavação.

2.1.1 Ocorrência de solos expansivos

Solos expansivos são abundantes em regiões onde a evapotranspiração anual


excede a transpiração. Isto segue a teoria que em zonas semiáridas a falta de percolação
ajudou a formação de montmorilonitas (argilominerais altamente expansivos). Esses tipos de
solos podem ser encontrados em quase todas as partes do mundo (Tabela 1). Nos países
subdesenvolvidos muitos dos problemas devido a solos expansivos ainda não foram
conhecidos. Acredita-se que se encontrará, cada vez mais, solos expansivos à medida que se
aumente a quantidade de construções em particular nos países em desenvolvimento
(MAHLER, 1994).

Tabela 1- Países com problemas devido a solos expansivos.


África do Sul França
Arábia Saudita Gana
Austrália Índia
Brasil Irã
Burma Israel
Canadá México
Chile Marrocos
China Nigéria
Espanha Turquia
Estados Unidos Venezuela
Etiópia Zimbábue
Fonte: (MAHLER, 1994).
16

No Brasil a grande maioria dos solos expansivos são solos residuais ou


coluvionares formados a partir de rochas sedimentares por intemperismo. A expansividade de
tais solos é devida à presença de grupos de minerais de argila montmorilonita em sua fração
argilosa. Segundo VARGAS (1989) é como se tais minerais já existissem na rocha e o
processo pedogenético de formação do solo tivesse uma tendência de quebrar os cristais
complexos de montmorilonita em minerais de caolinita inertes. Isto pode ser descrito pelo fato
que as camadas superficiais dos solos tropicais é comumente um horizonte laterítico não
expansivo e os horizontes saprolíticos mais profundos podem apresentar expansibilidade.

A Figura 3 mostra áreas potencialmente expansíveis no Brasil. Segundo


MAHLER (1994), O Brasil apresenta maior probabilidade de ocorrência deste fenômeno em
quatro regiões:
a) Ao longo da costa do nordeste, com formações terciárias e Cretáceas
sedimentares. Solos expansivos nesta área são formados por solos residuais de
arenitos, silitos e argilitos, em clima quente com umidade constante, com uma
concentração de chuvas média anual de 2000 mm e uma precipitação de mais de
50 mm no mês mais seco.
b) Solos da região nordeste em zonas de clima seco com calor constante, onde a
precipitação anual é de 500 mm e no mês mais seco é menor do que 50 mm.
c) Nos estados das regiões centro-sul e sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina,
em uma zona sub-tropical com verão quente e úmido e inverno frio e seco, com
uma precipitação anual em torno de 2000 mm. Tais solos expansivos são residuais
e coluvionares formados a partir de argilitos e siltitos da formação tubarão.
d) No Rio Grande do Sul, em sedimentos carboníferos e cretáceos, e em áreas de
clima úmido constante, com precipitação anual em torno de 2000 mm e mais de
50 mm no mês mais seco. Uma área bastante conhecida, de tais solos expansivos
de arenitos e siltitos, fica na formação de “Rosa-Rio do Sul” em uma zona
industrializada ao norte da cidade de Porto alegre.
17

Figura 3 - Provável ocorrência de solos expansivos no Brasil.

FONTE: SILVA (1993)

2.1.2 O Fenômeno da expansão dos solos

O fenômeno de expansão dos solos é muito complexo, envolvendo um conjunto


de fatores que influenciam e interagem entre si, tais como a composição das argilas
(argilomineral) e fatores ambientais (clima da região, natureza do fluido, grau de saturação do
solo).
O processo de expansão se produz quando um solo não saturado se umedece
absorvendo água entre suas partículas, havendo aumento de volume, sendo este volume
constituído por uma componente devido ao relaxamento das tensões intergranulares ao
aumentar o grau de saturação (BENTO, 2006).
SOUZA NETO et al (2012) afirma que quando a quantidade de água ou a
composição química desta for alterada, a força entre as partículas do solo mudará. Caso a
mudança resultante nas forças internas não seja balanceada pela correspondente alteração no
estado de tensões, aplicado externamente, o espaçamento entre partículas será alterado até que
as forças atinjam o equilíbrio. Essa modificação no espaçamento se manifestará sob a forma
de aumento ou redução de volume.
18

PEREIRA (2004) Aponta que a propriedade mais importante das argilas


expansivas é a capacidade de mudar de volume pela absorção de moléculas de água ou de
outros íons polares em sua estrutura. Apesar das espessuras da camada de água serem
semelhantes para os diferentes tipos de argilominerais, a expansão é maior para o grupo das
montmorilonitas, devido á sua superfície de expansão interna ser mais acessível e as
dimensões das partículas menores (Figura 4).

Figura 4 - Absorção de água por argilominerais do tipo 2:1:(A) não expansivo (ilita);
(B) expansivo (montmorilonita).

Fonte: PEREIRA (2004).

Do ponto de vista químico, LAESPIGA (2001) explica que a expansão das argilas
é resultado da estrutura de cátions adsorvidos. Segundo o autor duas fases de expansão podem
ser observadas nas argilas secas. Na primeira, a água hidrata os cátions trocáveis produzindo
um acréscimo do espaçamento basal do argilomineral, sendo essa expansão conhecida como
intracristalina. Na segunda fase, ocorre a expansão osmótica, resultada da diferença entre as
concentrações de cátion e a superfície das camadas de argilas e das águas dos poros,
provocando a repulsão elétrica que acontece entre duas camadas elétricas.

2.1.3 Fatores que Influenciam na expansão dos Solos

A magnitude de potencial expansivo é influenciada por diversos fatores que


podem ser classificados como: propriedades do material, condições do meio ambiente e do
estado de tensões a que se encontra submetido (NELSON e MILLER, 1992).
19

O potencial de expansão do solo esta atrelado principalmente ao arranjo estrutural


de seus argilominerais, e ao CTC (Capacidade de Troca Catiônica) e a sucção do solo
(SIMÕES DE OLIVEIRA et al. 2006).
Com relação aos fatores ambientais o que se pode comentar é que a expansão é
função principalmente da variação positiva da umidade em campo, ou seja, ao aumento do
grau de saturação do solo. Logo as causas externas que podem levar a expansão de um solo
são: variação da umidade devido a variações climáticas sazonais (chuvas), modificação do
nível freático ou das condições hidrogeológicas e redução da tensão total do solo, proveniente
de escavações ou corte de taludes, sendo que nesse caso as variações são mais lentas.
Dentre os fatores que podem influenciar no fenômeno de expansão dos solos tem-
se:
a) Estrutura do solo: os solos que possuem cimentações possuem menor tendência
de expansão. As estruturas floculadas têm maior tendência que as dispersas, sendo
a retração menor para o primeiro caso (SOUZA, 2009).
b) Natureza dos argilominerais: quanto maior for à expansibilidade dos minerais
presentes no solo, maior será sua capacidade de expandir-se com a umidade.
Sendo a montmorilonita e vermiculita as mais expansivas.
c) Umidade: influi na magnitude da expansão dos solos. Quanto menor for a
umidade, maior será a expansibilidade potencial, pois o solo ainda é capaz de
absorver maior quantidade de água (SOUZA, 2009).
d) Densidade: para um mesmo solo com a mesma densidade inicial, a expansão
será maior, quanto maior for a densidade seca do mesmo.
e) Permeabilidade: quanto maior permeabilidade de um solo, mais este terá sua
capacidade de condução hidráulica aumentada, favorecendo assim os processos de
expansão. Vale destacar que fissuras e trincas no solo provocam aumentos de
permeabilidade.
f) Espessura e Profundidade da camada de solo expansivo: quanto mais espessa a
camada maior será a intensidade da expansão e das pressões de levantamento.
Caso esteja muito profunda e não seja atingida pelas variações sazonais de
umidade, pode nunca causar problemas (MADLUN, 1983).
g) Índice de plasticidade: solos que apresentam elevado índice de plasticidade
possuem maior potencial de expansão. Tendo-se o índice de plasticidade e a
20

quantidade de fração argilosa da amostra é possível prever qualitativamente o grau


de expansão da mesma.
h) Perfil do solo: A espessura e posição da camada potencialmente expansiva no
perfil influenciam consideravelmente o movimento potencial. Os maiores
movimentos ocorrem em perfis que tem argilas expansivas desde a superfície até a
região abaixo da zona ativa. Movimentos menores ocorrerão se o solo expansivo
for recoberto por material não expansivo ou leito rochoso superficial (HOLLAND
e LAWRENCE, 1980, apud SILVA, 2013);
i) Sucção: conforme MARINHO (1997) esta pode ser compreendida como sendo
a pressão isotrópica da água intersticial, de condições físico-químicas, que faz
com que o sistema água-solo absorva ou perca água, dependendo das condições
ambientais. Logo solos com maior sucção podem ser mais expansivos
influenciados pelo grau de saturação, tamanho e forma os poros e tensão
superficial.

2.1.4 Métodos de identificação e classificação de solos expansivos

A identificação e classificação de materiais expansivos são realizadas com a


finalidade principal de caracterizar de forma qualitativa o seu potencial expansivo. Esta
classificação pode alertar os engenheiros sobre os problemas potenciais destes materiais
durante as etapas preliminares de projeto e proporcionar um apoio quanto à forma de
tratamento e da necessidade de ensaios adicionais, usando técnicas quantitativas de
determinação da expansão (PEREIRA, 2004).
Em campo os materiais potencialmente expansivos podem ser identificados como
aqueles que quando secos podem apresentar boa resistência aparente, e sinais de
empastilhamento, fenômeno que ocorre quando o solo é submetido à alternância dos estados
úmido e seco, desagregando-se em pequenas pastilhas. Outras características desses materiais
que podem ser notadas são o fato de que se desagregarem, quase que imediatamente, ao serem
imersos em água e quando agitados são quase que totalmente dispersos, podem ser expansivos
(PRESA, 1984).
São inúmeros os métodos utilizados para classificação e identificação de materiais
expansivos, desde técnicas simples até muito sofisticadas (COSTA, 2005 apud SANTOS,
21

2010). Estes métodos podem ser classificados em duas categorias, sendo estas: técnicas diretas
e técnicas indiretas.
As técnicas indiretas recorrem a ensaios laboratoriais, objetivando principalmente
a determinação da constituição mineralógica dos materiais argilosos, entre estas estão:
a) Difração de Raios-X: Tal ferramenta se presta a estudos detalhados da estrutura
cristalina de materiais. Comparando-se o padrão de difração de uma substância
desconhecida com a de substãncias puras padrão, pode-se realizar sua
identificação de maneira rápida (PEREIRA, 2004).
b) Limites de Atterberg: a expansibilidade pode ser analisada baseando-se no
índice de plasticidade, conforme pode ser visto na Tabela 2.
c) Análise térmica gravimétrica: consiste no aquecimento da argila à velocidade
constante, sendo que o aparelho encontra-se conectado a uma balança, permitindo
o registro das variações de massa em função da temperatura (SANTOS, 1989).
d) Adsorção de azul de metileno: Como o azul de metileno não é adsorvido pelos
minerais inertes, possibilita determinar a atividade dos argilominerais nos solos
sem ter que separá-los do material restante. Esse procedimento é utilizado para
vários fins, como exemplo, para avaliar a superfície específica e CTC (capacidade
de troca catiônica) de materiais argilosos.
e) Atividade: SKEMPTON (1953) considerou 5 grupos de solos (Figura 5) com
base nos valores do índice de atividade (razão entre o índice de plasticidade e a %
da fração argila) em função do tipo de argilomineral e afirma que a maior
atividade dos argilominerais fornece um maior potencial de expansão.

Tabela 2 - Relação entre o potencial de expansão e índice de plasticidade segundo SEED et al.
(1962).
Potencial de expansão Índice de Plasticidade
Baixa 0 – 10
Média 10 – 20
Alta 20 – 35
Muito alta 35 ou mais
Fonte: SILVA (2013).
22

Figura 5 - Classificação da expansibilidade de materiais argilosos de WILLIANS e


DONALDSON (1980) a partir do índice de atividade de Skempton.

Fonte: PEREIRA (2004).

Segundo PRESA (1984) as técnicas diretas incluem todos os métodos que


determinam quantitativamente as características de volume de materiais expansivos: a
expansão e a pressão de expansão. Estes ensaios têm importante aplicação geotécnica, porque
possuem metodologias que procuram simular as condições de variação de volume e pressões
desenvolvidas pelos materiais argilosos.

Os ensaios de expansão livre medem a variação da espessura da amostra em


função do tempo, em relação a sua altura inicial, quando é colocada em uma célula com água.
Um dos métodos mais utilizados para a determinação da expansão livre consiste
em acondicionar corpos de prova cilíndricos em células do tipo edométrica (Figura 6)
convencional, no topo do corpo de prova coloca-se um relógio comparador (micrômetro),
(CAMPOS, 1989). Após o corpo de prova está acondicionado na célula, ajusta-se o relógio
comparador e adiciona-se água destilada, as deformações observadas no relógio são anotadas
em intervalos de tempo que obedecem a uma progressão geométrica de razão 2.
23

Figura 6 - Esquema simplificado da célula edométrica utilizada no ensaio de expansão livre.

Fonte: PEREIRA (2004).

As pressões de expansão desenvolvem-se quando a expansão devido à


umidificação das rochas está total ou parcialmente impedida, porque do contrario, se
expandiriam livremente (aumentariam de volume), sem gerar tensões (JEREMIAS, 1991 apud
PEREIRA, 2004).

Há vários métodos para avaliar a tensão de expansão do solo, envolvendo


diferentes trajetórias de tensão. Conforme afirmam FERREIRA e FERREIRA (2009, p.781):

Os métodos mais citados na literatura compreendem: (1) carregamento


após expansão com diferentes sobrecargas; (2) expansão e colapso sob
tensão; (3) volume constante; (4) ensaio edométrico duplo; (5) (RAO
et al., 1988); e (6) (JUSTO et al., 1984). A diferença fundamental entre
os métodos é a ordem seguida entre a aplicação de tensão e a
inundação. No método 1, a amostra é inundada primeiro e carregada
depois; no método 2, a amostra é carregada primeiro e inundada
depois; no método 3, inundação e carregamento ocorrem
simultaneamente; no método 4, são dois corpos de prova, um
carregado na umidade natural e outro inundado e carregado
posteriormente; no método 5, inicialmente ocorre como no método 3
até a tensão de expansão a volume constante e, posteriormente, eleva-
se o carregamento, comprimindo o solo; e no método 6, proposto por
(JUSTO et al., 1984), a curva de inundação sob tensão depende mais
do estado de tensão do solo.

Para avaliação do potencial de expansão de um solo, pode-se tomar como


parâmetro a classificação de solos expansivos proposta por SEED et al (1962) e HOLTZ e
GIBBS (1956), conforme pode ser visto na Tabela 3.
24

Tabela 3 – Classificação do potencial de expansão de solos.


Grau de Expansão (%)
Potencial de expansão
HOLTZ E GIBBS (1956) SEED et al (1962)

Baixo 0 – 10 0 – 1,5
Médio 10 – 20 1,5 – 5,0
Alto 20 – 35 5 – 25
Muito Alto >35 >25
Fonte: SANTOS (2010).

2.2 Manifestações patológicas

As Edificações podem apresentar defeitos comparáveis a doenças: rachaduras,


manchas, deslocamentos, deformações, rupturas, etc. Por isso, convencionou-se chamar de
manifestação Patológica o acontecimento desses defeitos.
Manifestação Patológica Também pode ser definida como toda manifestação cuja
ocorrência no ciclo de vida da edificação, venha prejudicar o desempenho esperado do
edifício e suas partes (subsistemas, elementos e componentes). Assim a patologia pode
ocorrer na estrutura, na vedação, nos componentes de abastecimento (dutos elétricos,
hidráulicos).
Apropriadamente, existe uma diferença entre patologia e manifestação patológica,
esta última é a expressão resultante de um mecanismo de degradação. Já a patologia, é uma
ciência formada por um conjunto de teorias que serve para explicar o mecanismo e a causa da
ocorrência de determinada manifestação patológica (OLIVEIRA, 2012).
Os problemas patológicos em edificações podem surgir em qualquer das fases de
planejamento, construção ou utilização destas edificações, estando relacionados com o nível
de controle de qualidade realizado em cada uma das fases. Geralmente decorrem de:
a) Deficiências no projeto;
b) Deficiência na execução;
c) Uso inadequado da edificação (sobrecargas, impactos, temperaturas
excessivas);
d) Uso inadequado de materiais;
e) Uso de materiais de pouca qualidade;
f) Sismo;
g) Ambiente de exposição agressivo.
25

Os problemas patológicos estão presentes na maioria das edificações, seja com


maior ou menor intensidade, variando o período de aparição e/ou a forma de manifestação. As
formas patológicas encontradas com maior frequência são:
a) Fissuras ou trincas (Figura 7);
b) Corrosão da armadura;
c) Corrosão do concreto;
d) Desagregação:

Figura 7 - Manifestações patológicas do tipo fissuras.

Fonte: SCHWIRCK (2005).

Nesse estudo, serão tratadas em especial as fissuras ou trincas, já que são elas as
principais manifestações patológicas nas edificações, decorrentes dos problemas de
fundações.

2.2.1. Patologias do tipo fissuras

As fissuras ocorrem quando a resistência dos componentes da edificação ou a


resistência da união entre eles é superada pelas tensões geradas por:
a) Movimentação de fundações;
b) Movimentação higroscópica;
c) Fissuras ocorridas no concreto em estado plástico (movimentação de fôrmas e
retração);
d) Atuação de sobrecargas;
e) Deformação excessiva de estruturas;
f) Movimentação térmica;
26

g) Alterações químicas.

Conforme OLIVEIRA (2012). Fissuras, trincas e rachaduras são manifestações


patológicas das edificações observadas em alvenarias, vigas, pilares, lajes, pisos entre outros
elementos, geralmente causadas por tensões dos materiais. Se os materiais forem solicitados
com um esforço maior que sua resistência acontece a falha provocando uma abertura, e
conforme sua espessura será classificada como fissura, trinca, rachadura e fenda (Tabela 4).

Tabela 4 - Classificação de aberturas segundo a espessura.


Tipo Característica Espessura (mm)
Fissura Abertura em forma de linha Até 0,5 milímetros
Trinca Abertura em forma de linha De 0,5 até 1,0
Rachadura Abertura expressiva, proveniente de De 1,0 a 1,5
acentuada ruptura de massa.
Fenda Abertura excessiva Superior a 1,5
Fonte: LEÃO (2010).

Segundo Thomaz (1989), o surgimento de trincas ou fissuras é particularmente


importante, pois indica potenciais problemas estruturais, que poderão comprometer o
desempenho da edificação e causam constrangimento psicológico aos usuários.
Além do aspecto antiestético e a sensação de pouca estabilidade que apresenta
uma peça fissuradas, Uma vez surgidas, as fissuras poderão sofrer ataques químicos, pelo gás
carbônico emitido por veículos, águas de chuva, levando a um aumento nas aberturas das
mesmas. O aumento ocorrerá também, devido a uma contínua movimentação da estrutura.
Devido a isso a NBR 6118 - Projeto de estruturas de concreto - considera
fissuração como nociva quando a abertura das fissuras na superfície do concreto ultrapassa os
seguintes valores:
a) 0,1 mm para peças não protegidas, em meio agressivo;
b) 0,2 mm para peças não protegidas, em meio não agressivo;
c) 0,3 mm para peças protegidas.

2.2.2 Manifestações patológicas devido a problemas com a fundação

SCHWIRCK (2005, p. 16) afirma:

Considerando que a fundação é um elemento de transição entre a


estrutura e o solo, seu comportamento está intimamente ligado ao que
acontece com o solo quando submetido a carregamento, através dos
27

elementos estruturais das fundações. O mesmo comportamento pode


ser afetado por inúmeros fatores, iniciando por aqueles decorrentes do
projeto propriamente dito, que envolve o conhecimento do solo,
passando pelos procedimentos construtivos e finalizando por efeitos
de acontecimentos pós-implantação e incluindo sua possível
degradação.

Os recalques são as principais causas de patologias em edificações, mas também


existem situações nas quais os solos apresentam deformações ou variações volumétricas não
provocadas pelo carregamento das fundações, podendo resultar em patologias. Os chamados
solos problemáticos (expansivos, colapsíveis, etc.) são exemplos típicos desta ocorrência.
Estas situações são especiais, quer pelo comportamento não usual do solo, quer por outros
efeitos.
Problemas relacionados com a investigação do subsolo são as causas mais
frequentes de problemas de fundações. Na medida em que o solo é o meio que vai suportar as
cargas, sua identificação e a caracterização de seu comportamento são essenciais à solução de
qualquer problema. Segundo SCHWIRCK (2005) patologias decorrentes de incertezas
quanto às condições do subsolo podem ser resultado de:
a) Ausência de investigação do subsolo: quase sempre ocorre devido a razões
econômicas. Comum em obras de pequeno porte, é uma prática inadmissível,
podendo ser perigosa e antieconômica, já que conduz ao super ou
subdimensionamento das estruturas de fundação.
b) Investigação insuficiente: Número insuficiente de sondagens, Profundidade de
investigação insuficiente e ensaios para áreas extensas de subsolo variado, não
caracterizando camadas de comportamento distinto.
c) Investigação com falhas: erros na locação dos furos, localização incompleta,
adoção de procedimentos indevidos, ensaios não padronizados, uso de
equipamento com defeito ou fora da especificação, falta de nivelamento dos furos
em relação a referência, má descrição do tipo de solo, entre outros.
d) Casos especiais: São exemplos dessas ocorrências a influência da vegetação,
presença de solos colapsíveis ou expansivos, materiais cársticos, e a presença de
matacões ou regiões de mineração, que podem resultar em patologias importantes
e custos significativos de reparo.
Um fator que deve ser levado em consideração é de que as fundações quase
sempre estão enterradas, longe do alcance da visão, o que torna qualquer intervenção que seja
28

necessária, além de onerosa, muito complicada, uma vez que o acesso a esses elementos na
grande maioria dos casos é difícil. Diante desses fatores, conhecer e prevenir as patologias
devido às fundações é extremamente importante. SCHWIRCK (2005) exemplifica como erros
comuns de concepção de fundações e suas consequências:
a) Tensões de contato excessivas, incompatíveis com as reais características do
solo, resultando em recalques inadmissíveis ou ruptura.
b) Fundações em solos/aterros heterogêneos, provocando recalques diferenciais;
c) Ocorrência de atrito negativo não previsto, reduzindo a carga admissível
nominal adotada para a estaca;
d) Estacas apoiadas em camadas resistentes sobre solos moles, com recalques
incompatíveis com a obra;
e) Estacas de tipo inadequado ao subsolo, resultando mau comportamento;
f) Fundações sobre solos compressíveis sem estudo de recalques, resultando
grandes deformações;
g) Fundações apoiadas em materiais de comportamento muito diferente, sem
junta, ocasionando o aparecimento de recalques diferenciais;
h) Fundações apoiadas em crosta dura sobre solos moles, sem análise de
recalques, ocasionando a ruptura ou grandes deslocamentos da fundação.

2.2.3. Recalques de fundações

Recalque é o deslocamento vertical descendente da estrutura no terreno,


ocasionado pela diminuição de vazios de um solo. MARCELLI (2010) relata que toda
fundação recalca, porém na grande maioria das obras esses recalques são redistribuídos
através do processo da interação solo/estrutura e passam despercebidos.
(OLIVEIRA, 2012) afirma que com as cargas externas todos os solos, em maior
ou menor proporção, se deformam. Se as deformações (recalques) forem diferenciadas ao
longo do plano das fundações de uma obra, tensões de grande intensidade serão introduzidas
na estrutura da mesma, podendo gerar o aparecimento de fissuras (Figura 8).
29

Figura 8 – Fissuras provocadas por recalque

Fonte:LEÂO (2010).

BURLAND et. al. (1977) apud SANTOS (2010) sugerem valores de recalques
diferenciais e de recalques totais limites, aplicáveis aos casos de estruturas usuais, separando
os casos de fundações apoiadas em areias e argilas (Tabela 5).

Tabela 5 – Recalques limites


Sapata isolada Radier
Areia 40 mm 25 mm
Argila 65 mm 65 a 100 mm
Fonte: SANTOS (2010).

2.2.4 Danos causados por solos expansivos

JONES (1973) Apud MAHLER (1994) descreveu em termos de prejuízos


financeiros os danos causados por movimentos devido a solos expansivos. De acordo com a
30

estimativa realizada por ele na época, danos causados por solos expansivos excedem os danos
anuais combinados devidos a terremotos, inundações, furacões e ciclones.
Conforme (CAMPOS e BURGOS, 2004) os solos expansivos podem causar
sérios danos às obras de engenharia principalmente quando esses materiais não são
considerados de forma adequada nas etapas de projeto e execução da obra. A expansão do
solo resultará em movimentos horizontais e verticais que poderão causar danos irreversíveis a
uma obra, caso as tensões impostas pelo carregamento não sejam suficientes para contrapô-los
ou as estruturas não apresentem resistência e rigidez suficientes para suportar os acréscimos
das tensões resultantes da expansão.
Segundo MONTEIRO (2006) os danos que podem ocorrer em uma estrutura
(edificações e pavimentos) sobre um solo expansivo dependerão de como se processará as
variações da umidade, que raramente ocorrerão de forma uniforme.
O DEPARTMENT OF THE ARMY (1983) apud SANTOS (2010) apresenta
alguns tipos de padrões de movimentos resultantes das variações volumétrica em solos
expansivos, que podem ser identificados pelas orientações das fissuras e trincas observadas
nas estruturas. Os padrões mais comuns são:
a) Levantamento de borda: Também chamado de levantamento em forma de prato.
Este tipo de movimento é caracterizado por maior levantamento ao longo do
perímetro da estrutura. As trincas resultantes tendem a convergir para a parte
superior da estrutura (Figura 9).
b) Movimento em forma de cúpula: Caracterizado por maior levantamento em
direção ao centro da estrutura. Estes padrões de movimentos fazem os painéis de
alvenaria se deslocarem para fora, resultando em fissuras horizontais, verticais e
diagonais, com as maiores próximas ao topo. A cobertura tende a reter a rotação
proveniente dos movimentos diferenciais verticais, conduzindo a trincas horizontais
adicionais no topo da parede, próximas à coberta (Figura 10).
31

Figura 9 - Trincas provenientes de levantamentos em forma de prato.

Fonte: DEPARTMENT OF THE ARMY (1983) apud SANTOS (2010).

Figura 10 - Fissuras em paredes decorrentes de levantamento de tipo cúpula.

Fonte: DEPARTMENT OF THE ARMY (1983) apud SANTOS (2010).

Conforme MAHLER (1994), em áreas de solos expansivos, os solos são em geral


rígidos, e a chance de estruturas levemente carregadas fraturar devido a recalque é bastante
remota. Porém, ao mesmo tempo, uma grande quantidade de movimentos estruturais foi com
certeza causada por solos expansivos. Muitos pisos construídos em áreas de solos expansivos
32

romperam e por vezes levantaram devido à falta de juntas de expansão. Fraturas diagonais que
se desenvolvem abaixo e acima de esquadrias (Figura 11) também são um forte indicativo de
movimentos de expansão.
A expansão e contração de terra (solo) debaixo de uma estrutura tendem a
provocar uma significativa tensão que causa danos estruturais severos. SANTOS (2006)
afirma que alguns danos severos relatados em estruturas podem ser relacionados à presença de
solos expansivos, como:
a) Calçadas inteiramente erguidas;
b) Asfaltos e ruas rasgados e com distorções sem precedentes;
c) Desabamentos de casas e pontes;
d) Fissuras nas paredes e nos pavimentos (Figura 12);
e) Outras estruturas danificadas severamente.

Figura 11 - Fissura diagonal em vértice superior de porta em casa do bairro Tiracolo,


Araci/BA.

Fonte: LEÃO (2010).


33

Figura 12 – Fissura inclinada em Casa do bairro Tiracolo, Araci/BA.

Fonte: LEÃO (2010).

Em resumo, a expansão de um solo de fundação é capaz de provocar danos estruturais


às edificações sobre ele apoiadas, principalmente as mais leves, com custos de recuperação
geralmente elevados, (CAVALCANTE et al., 2007).

2.2.5 Medidas preventivas Quanto aos efeitos da expansão dos solos

Para minimizar o efeito da expansão, Britto (2006) apontou algumas medidas


preventivas da Agence Qualité Construction, empresa francesa especializada em estudos sobre
patologia das construções, que são capazes de reduzir bastante o aparecimento de manifestações
patológicas em construções sobre solo expansivo. Dentre elas:
a) realizar toda plantação de árvore ou arbusto a uma distância superior à altura
adulta da árvore;
b) despejar as águas pluviais a uma distância de 2 a 3 metros da construção;
c) estanquear as canalizações de evacuação com utilização de junções
flexíveis;
d) captar os fluxos superficiais com uma distância mínima de 2m entre a
construção e a presença eventual de um dreno;
e) efetuar drenagem periférica em casos particulares como taludes e encostas.
SANDRONI (2010) mostra que as posturas para fazer frente aos solos expansivos
podem ser agrupadas em três categorias: as estruturais, as de controle da umidade e as de
melhoramento do terreno.
34

As posturas estruturais consistem em preparar a estrutura para resistir ou conviver com


os esforços e deslocamentos causados pela expansão do solo. As mais comuns são:

a) Fundação profunda e espaço vazio sob a estrutura: Esta postura consiste em


apoiar a estrutura em estacas chumbadas abaixo da zona ativa (profundidade até a
qual a umidade do solo varia ao longo do tempo) e deixar espaço vazio ou
preenchido com isopor sob a estrutura (laje) para que o solo expanda.

b) Laje nervurada rígida: Trata-se de construir a edificação sobre base rígida de tal
forma que, embora sofrendo os movimentos do solo, as distorções na estrutura
sejam minimizadas.

As posturas de controle da umidade compreendem a modificação das condições


de infiltração da água visam manter a umidade constante já que a expansão e a contração só
ocorrem se houver variação de umidade. Em geral, o que se consegue obter com as posturas
de controle da umidade é uma redução das variações de umidade com a consequente
diminuição da intensidade dos ciclos de expansão e contração. Podendo ser citadas:

a) Impermeabilização da superfície. A postura consiste em implantar


geomembranas que se cobrem uma área conveniente em volta do perímetro da
estrutura que se busca proteger. Uma situação típica são os estacionamentos de
grandes comércios como shoppings e supermercados.
b) Barreiras de percolação. Trata-se de cercar a estrutura com diafragmas

impermeáveis buscando isolar o solo subjacente das variações de umidade.

As posturas de melhoramento do terreno preconizam intervenções mais radicais,


que removem ou modificam o terreno expansivo, tais como:

a) Molhagem prévia: O conceito desta postura é fornecer água ao solo para que a
expansão ocorra antes da construção. Em solos expansivos de baixa
permeabilidade (a maioria) o processo de infiltração é lento de modo que o
alcance é limitado. Para evitar que o tratamento deixe a superfície do terreno
impraticável é preciso fazer a molhagem a partir de uma capa de solo permeável.
Para aumentar o alcance do procedimento podem ser usadas colunas permeáveis.
Esta postura é rejeitada pela maioria dos especialistas.
35

b) Substituição: Trata-se de remover uma espessura de solo expansivo,


substituindo-a por mistura de solo expansivo com solo inerte (não expansivo) ou
só com solo inerte. Abaixo dessa espessura deixa-se o solo expansivo natural.
c) Neutralização química: Trata-se de misturar cal, cimento ou outros produtos de
maneira que o potencial de expansão do solo seja reduzido.
36

3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.1 Localização da área de estudo

A área em estudo está localizada no município de Juazeiro do Norte, Região


Metropolitana do Cariri, Sul do Ceará, endereçada no bairro Leandro Bezerra de Menezes,
nas proximidades do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida do governo Federal. O
local de coleta das amostras possui as coordenadas: 7°13’23” ao Sul 39°16'41"’ a oeste
(Figura 13).
O município de Juazeiro do Norte apresenta clima semiárido, com pluviosidade de
931,7 mm anuais com temperaturas que variam, conforme a época do ano e local, de mínimas
de aproximadamente 19°C até máximas de 35°C. As médias térmicas mensais, no entanto,
giram entre 24°C e 28°C. A vegetação predominante é a típica do semiárido, mais
especificamente floresta caducifólia espinhosa. Existindo em determinados pontos matas de
transição.
Área da amostragem foi escolhida a partir de relatos de patologias em edificações
situados no local, e após uma inspeção em campo, na qual se observou a predominância de
solo argiloso e sinais de empastilhamento no mesmo (características comuns de solos
expansivos).

Figura 13 - Área do estudo.

Fonte:Software Google Earth (2014).


37

3.2 Obtenção das amostras

No campo as coletas das amostras deformadas e indeformada foram realizadas


conforme a norma da ABNT NBR 9604 – Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo,
com retirada de amostras Deformadas e Indeformadas. As amostras deformadas foram obtidas
a fim de encontrar os índices físicos do solo e a classe granulométrica, e a amostra
indeformada com o objetivo de moldar corpos de prova para os ensaios edométricos e de
cisalhamento.

A amostra indeformada foi retirada em uma profundidade de 1,5 m (face inferior


da amostra) do nível do terreno, ela consistia de um bloco cúbico de dimensões 0,30 x 0,30 x
0,30 m. O procedimento iniciou-se, com a abertura de uma trincheira quadrada de lado 1,6
metros, por meio de escavação manual com picareta e pá, até se chegar à cota do topo do
bloco, a partir daí, delimitou-se a seção do bloco e escavou-se nas laterais até se chegar na
profundidade de 1,5 m.
Com um facão moldou-se o bloco, em seguida o mesmo foi envolvido por uma
camada de papel laminado, seguida de outra camada com tecido de algodão, para dar
aderência à parafina derretida. Após estas etapas eram aplicadas várias camadas de parafina,
até formar uma capa suficientemente rígida. Posteriormente, o bloco foi cuidadosamente
apartado do maciço e acondicionado em uma caixa de madeira de dimensões de 0,33 x 0,33 x
0,33 m forrada com isopor. Na Figura 14 apresenta-se uma sequência dos procedimentos ditos
anteriormente.
Na cota final de escavação manual do poço, foi coletada amostra deformada do
solo e armazenada em sacos plásticos para posterior realização de ensaios básicos de
caracterização geotécnica. Com a finalização da coleta, o poço foi aterrado e as amostras
transportadas para o Laboratório de Mecânica dos Solos da UFCA (Universidade Federal do
Ceará) onde foram realizados os ensaios.
Vale destacar que as amostras foram retiradas durante período chuvoso o que fez
com o solo apresentasse umidade maior que a umidade predominante na maior parte do ano
no local da amostragem.
38

Figura 14 - Retirada de amostra indeformada (A) Local da coleta, (B) Abertura da trincheira,
(C) Moldagem do bloco, (D) envolvimento com papel alumínio, (E) Revestimento com tecido
e parafina, (F) Armazenamento em caixa de madeira.

Fonte: O AUTOR.

3.3 Caracterização geotécnica

3.3.1 Análise granulométrica

A distribuição granulométrica do solo é a análise mais usual para sua


caracterização física, visa determinar, a partir de faixas pré-estabelecidas de tamanho de
grãos, a percentagem em peso que cada fração (pedregulho, areia, silte e argila) possui em
relação à massa total da amostra em análise. A distribuição granulométrica juntamente com os
limites de Atterberg, podem identificar o solo e contribuir como dado comparativo sobre a
correlação da composição granulométrica e presença de solos expansivos.
A composição granulométrica da porção da amostra cujos grãos ficaram retidos na
peneira n°200 (grãos de dimensões maiores que 0,075 mm) foi feita pelo método do simples
peneiramento e, para porção cujos grãos são menores que 0,075 mm, pelo processo de
39

sedimentação com o uso do defloculante hexametafosfato de sódio. Esses procedimentos


foram realizados conforme a norma da ABNT - NBR 7181/Solo – Análise Granulométrica.
A Figura 15 traz a curva granulométrica e a Tabela 6 mostra o resumo da
distribuição das frações do solo analisado.

Figura 15 - Curva granulométrica.

Tabela 6 - Resumo da granulometria.


Resumo da granulometria (%)
Pedregulho Acima de 2,00 mm 0,1
Areia grossa 0,6 - 2,0 mm 0,2
Areia média 0,2 - 0,6 mm 0,7
Areia fina 0,06 - 0,2 mm 3,3
Silte 0,002 - 0,06 mm 42,2
Argila Abaixo de 0,002 mm 53,5

Analisando a tabela 1, verifica-se, que o solo apresenta uma predominância de


argila (53,5%). Além disto, percebe-se uma menor presença de solos grossos representando
22,13% da fração total.
Analisando a tabela 2, verifica-se, que o solo apresenta uma predominância de
argila (53,5%). Além disto, percebe-se uma menor presença de solos grossos representando
22,13% da fração total.
40

3.3.2 Limites de consistência

Os Limites de consistência são um método de avaliação da natureza de solos


criado por Atterberg. Através de uma série de testes e ensaios é possível definir o Limite de
liquidez, o Limite de plasticidade de um solo. Apesar da sua natureza fundamentalmente
empírica, estes valores são de grande importância em aplicações de mecânica dos solos, tais
como a determinação do Índice de plasticidade e de Atividade dos solos.
O limite de liquidez (LL) que corresponde ao teor de umidade que separa o estado
líquido do estado plástico foi determinado tomando-se como referencia os procedimentos
prescritos na norma da ABNT NBR 6459/Solo – Determinação do Limite de Liquidez. O
gráfico da Figura 16 foi usado para determinação do LL da amostra.

Figura 16 - Gráfico do ensaio de LL.

O limite de plasticidade (LP) que corresponde ao teor de umidade que representa


o limite entre o estado plástico e o estado semissólido foi determinado tomando-se como
referencia os procedimentos prescritos na norma da ABNT NBR 7180/Solo – Determinação
do Limite de Plasticidade. A Tabela 7 traz o resumo deste ensaio.

Tabela 7- Resumo do ensaio de LP


Cápsula Nº A3 R3 P3 B3 R3
Peso Bruto Úmido (g) 17,23 8,55 8,31 8,85 9,01
Peso Bruto Seco (g) 16,83 8,18 7,95 8,49 8,55
Peso da Cápsula (g) 15,82 7,29 7,1 7,6 7,42
41

Peso da Água (g) 0,4 0,37 0,36 0,36 0,46


Peso do Solo Seco (g) 1,01 0,89 0,85 0,89 1,13
Umidade (%) 39,60 41,57 42,35 40,45 40,71
L. Plasticidade (%) 40,94

Os valores apresentados pelo solo foram 69% para o LL e 41 % para LP, obtendo-
se assim, um índice de plasticidade (IP) de 28%, e um índice de atividade de 0,6.
Correspondendo a um solo plástico com um potencial de expansão classificado como alto,
tanto pelos critérios de SEED et al. (1962) como pelo de WILLIANS E DONALDSON
(1980) comentados no item 2.1.4.

3.3.3 Classificação do solo segundo o S.U.C.S.

A classificação do solo em estudo foi feita, a partir do SUCS (sistema unificado


de classificação dos solos). Este sistema é oriundo do Airfield Classification System
idealizado por Arthur Casagrande.
Os solos neste sistema são classificados em solos grossos, solos finos e altamente
orgânicos. Para a fração grossa, foram mantidas as características granulométricas como
parâmetros mais representativos para a sua classificação, enquanto que para fração fina,
Casagrande optou por usar os limites de consistência, por serem parâmetros mais importantes
do que o tamanho das partículas.
A divisão solos finos, contempla os siltes e as argilas, que foram inicialmente
separados em função do limite de liquidez: menor que 50% e maior ou igual a 50%. Cada
uma destas subdivisões leva em conta a origem inorgânica ou orgânica do solo. Para
classificação deste grupo de solo usa-se a Carta de Plasticidade, montado a partir dos limites
de consistência dos solos finos (Figura 17).
42

Figura 17 – Carta de Plasticidade.

Fonte: Adaptado de VARGAS (1981).


Já que a amostra apresentou 97% de solo passando na peneira #200, ou seja,
indicação de solos finos, aplicando-se o Limites de Liquidez de 69% e o Índice de
Plasticidade (IP) de 35%, na Carta de Plasticidade, e considerando que não há presença de
matéria orgânica, classifica-se o solo como MH (silte de alta compressibilidade).

3.3.4 Ensaios Edométricos

No presente estudo foram analisados os potenciais de recalque e de expansão do


solo e as respectivas tensões de expansão através dos ensaios edométricos. Devido à falta de
uma norma específica, para a realização dos procedimentos de expansão livre e tensão de
expansão, procurou-se tomar como referência as recomendações de FERREIRA (1995).
O Bloco foi deixado exposto para secar ao ar, para que se chegasse a condições de
umidade próximas do período seco (predominante em maior parte do ano). Após isto, os
ensaios foram realizados usando-se amostras indeformadas, com objetivo de verificar a
expansão do solo em estudo, na condição de índice de vazios inicial da amostra. Para
realização dos ensaios foi utilizada uma prensa edométrica tipo Bishop (Figura 18), com
aplicação de carga por meio de pesos sobre um pendural com braço de alavanca 1/10, as
medidas das deformações foram feitas por um extensômetro com precisão de 0,01 mm.
43

Figura 18 - Prensa edométrica do laboratório de mecânica dos solos da UFCA.

Fonte: O AUTOR.

Da amostra indeformada foram moldados os corpos-de-prova em anéis de aço


inoxidável de paredes finas e colocados sob papel (tipo filtro) e pedra porosa, posteriormente
o conjunto foi armado na célula edométrica. O topo da célula foi envolvido por papel filme,
impedindo a perda de umidade durante a realização dos ensaios.
Com a célula já preparada, fez-se o seu encaixe na prensa, nivelando-se esta, e
posteriormente aplicando-se uma pequena carga de 50 g (as deformações advindas dessa
carga foram desprezadas) para estabilização do conjunto.
Neste estudo foram realizados os ensaios edométricos de expansão livre/ tensão
de expansão em três amostras, denominadas de Amostra 1, 2, 3; com corpos de prova
moldados a partir da mesma amostra indeformada, porém com teores de umidade natural um
pouco diferentes. Também foi realizado um ensaio de compressão edométrica com amostra
natural. O valor final de expansão livre e de tensão de expansão do solo em estudo foram
obtidos retirando-se a média aritmética dos resultados das três amostras, conforme recomenda
FERREIRA e FERREIRA (2009).

3.3.4.1 Ensaio de Expansão livre

Como relatado anteriormente, o ensaio de expansão livre mede a variação de


volume da amostra em função do tempo, quando é colocada em uma célula com água.
44

Neste trabalho a etapa de expansão livre foi alcançada inundando a amostra com
água destilada, sob a tensão de 2,50 kPa. Para isto, após a regularização da célula na prensa,
foi aplicada uma carga de 100 g, conduzindo a tensão de 2,5 kPa, e medidas as deformações
de compressão. Após a estabilização dessas deformações, verificada a partir da curva de
deformação (e) versus tempo (t), deu-se inicio a inundação do solo. Esta inundação ocorreu
de forma lenta, adicionando-se água através de um dreno, existente na base da célula.
Verificou-se que imediatamente após a inundação, as amostras passaram a apresentar
deformações de expansão, sendo estas verificadas a partir do extensômetro, em intervalos de
tempo (Δt) consecutivos, tal que Δt/t=1, até que a deformação entre estes dois intervalos fosse
inferior a 5% da deformação total ocorrida até o tempo anterior (estabilização da amostra).
As três amostras ensaiadas apresentaram, em média, umidade inicial de 7,29%. A
Amostra 1 apresentou deformação de expansão de 17,01% calculada a partir da inundação,
levando 44 horas para estabilizar. Já a Amostra 2 expandiu 18,6%, levando 40 horas para
estabilizar. A Amostra 3 apresentou deformação de expansão de 19,8% e estabilizou em 38
horas após o início da inundação. As Figuras de 19 a 21 apresentam os resultados desse
ensaio.

Figura 19 - Curva tempo x Deformação - Amostra 1.

UMIDADE SOLO NATURAL Wo=8,39%


-17.0
-15.0
-13.0
Deformação(%)

-11.0
-9.0
-7.0
-5.0
-3.0
-1.0

1 10 100 1000 10000


Tempo (min.)
45

Figura 20 - Curva tempo x Deformação - Amostra 2.

UMIDADE SOLO NATURAL Wo= 6,98%


-19.0
-17.0
-15.0
-13.0

Deformação(%)
-11.0
-9.0
-7.0
-5.0
-3.0
-1.0

1 10 100 1000 10000


Tempo (min.)

Figura 21 - Curva Tempo x Deformação – Amostra 3.

UMIDADE SOLO NATURAL Wo=6,54%


-21.0

-16.0
Deformação(%)

-11.0

-6.0

-1.0
1 10 100 1000 10000
Tempo (min.)

Verifica-se através dos resultados dos ensaios que a expansão é inversamente


proporcional ao teor de umidade inicial da amostra. Quando a amostra esteve um pouco mais
seca a expansão foi a maior. As amostras 1, 2 e 3 apresentaram resultados de expansão livre
semelhantes, Retirando-se a média da deformação de expansão das Amostras 1, 2 e 3, chega-
se ao valor de 18,5%. De acordo o critério de SEED et al. (1962) o solo apresenta alta
46

expansibilidade (5-25%), já para o critério de HOLTZ e GIBBS (1956) o solo apresenta


potencial de expansão médio.

3.3.4.2 Tensão de Expansão

A tensão de expansão neste estudo foi obtida adicionando carregamentos após o


ensaio de expansão livre, aplicando carregamentos até atingir a condição inicial do corpo-de-
prova, ou seja, seu índice de vazios ou altura inicial.
Após a estabilização das deformações de expansão, as amostras foram carregadas
por estágios. Nesta etapa, a sequência de carregamento foi iniciada em 5 kPa variando de
forma que o subsequente fosse sempre o dobro do anterior, os quais eram mantidos até a
estabilização das deformações, o tempo de duração de cada estágio de tensão foi definido
quando a deformação entre dois intervalos de tempos consecutivos fosse inferior a 5% da
deformação total do solo, ocorrida até o tempo anterior.
Após a estabilização das deformações no último estágio de carregamento a célula
era drenada, desmontada e o corpo-de-prova pesado. Foi então obtido o teor de umidade final
da amostra e, consequentemente, determinados os índices físicos correspondentes à condição
final do ensaio.
A Amostra 1 foi ensaiada com índice de vazios inicial de 0,26 apresentando uma
tensão de expansão de 380 kPa. A Amostra 2 apresentou índice de vazios inicial de 0,21 e uma
tensão de expansão de 290 Kpa. A Amostra 3 foi ensaiada com índice de vazios inicial de
0,23, apresentando uma tensão de expansão de 462 Kpa. Através desses resultados obteve-se a
média da tensão de expansão das Amostras 1, 2 e 3, chega-se ao valor de 377 kPa (3,77
kgf/cm²). As Figuras de 22 a 27 e a Tabela 8 resumem os ensaios de expansão livre e de
tensão de expansão.
47

Figura 22 - Curva tensão x Deformação volumétrica da amostra 1.

UMIDADE SOLO NATURAL Wo=8,39%


-18.0
-16.0
-14.0
-12.0 Tensão de
-10.0 Expansão
DEFORMAÇÃO(%) -8.0 Expansão
-6.0 Livre
-4.0
-2.0
0.0
2.0
4.0
1 10 100 1000
TENSÃO VERTICAL (kPa)
48

Figura 23 - Curva Tensão x Índice de vazios da amostra 1.

UMIDADE SOLO NATURAL Wo=8,39%


0.500

0.450
Tensão de
0.400 Expansão

ÍNDICE DE VAZIOS
0.350 Expansão
0.300 Livre
0.250

0.200

0.150

0.100
1 10 100 1000
TENSÃO VERTICAL (kPa)

Figura 24 - Curva tensão x Deformação volumétrica da amostra 2.

UMIDADE SOLO NATURAL Wo=6,98%


-20.0
-18.0
-16.0
-14.0
Expansão Tensão de
-12.0
DEFORMAÇÃO(%)

Livre Expansão
-10.0
-8.0
-6.0
-4.0
-2.0
0.0
2.0
1 10 100
TENSÃO VERTICAL (kPa)
49

Figura 25 - Curva tensão x Índice de vazios amostra 2.

UMIDADE SOLO NATURAL Wo=6,98%


0.450

0.400 Tensão de
0.350
Expansão
Expansão
ÍNDICE DE VAZIOS
0.300
Livre
0.250

0.200

0.150

0.100
1 10 100 1000
TENSÃO DE CONSOLIDAÇÃO (kPa)

Figura 26 - Curva Tensão x Deformação volumétrica da amostra 3.

UMIDADE SOLO NATURAL Wo=6,54%


-20.0
-18.0
Tensão de
-16.0
Expansão
-14.0
Expansão
-12.0
DEFORMAÇÃO(%)

Livre
-10.0
-8.0
-6.0
-4.0
-2.0
0.0
2.0
4.0
1 10 100
TENSÃO VERTICAL (kPa)
50

Figura 27 - Curva Tensão x Índice de vazios amostra 3

UMIDADE SOLO NATURAL Wo=6,54%


0.500

0.450
Tensão de
0.400
Expansão
0.350 Expansão
ÍNDICE DE VAZIOS
Livre
0.300

0.250

0.200

0.150

0.100
1 10 100 1000
TENSÃO DE CONSOLIDAÇÃO (kPa)

Tabela 8 - Dados dos ensaios de expansão livre e Tensão de expansão.


Amostra Exp. Livre (%) Tensão Exp. (kPa) W0 (%) e0 Wf (%) emáxima
1 17,01 380 8,39 0,26 21,94 0,43
2 18,6 290 6,98 0,21 21,58 0,43
3 19,8 462 6,54 0,23 24,51 0,47

3.3.4.3. Ensaio de compressão edométrica

Este ensaio faz à avaliação da deformação plástica e da redução do índice de


vazios de uma massa de solo em função do tempo e da pressão aplicada, visando à previsão
de deslocamentos verticais.
Para realização deste procedimento utilizou-se uma amostra com umidade inicial
de 6,5% e índices de vazios inicial de 0,31, esta amostra foi colocada na célula de carga e
fixada na prensa Bishop onde após sua devida estabilização foram aplicadas as tensões que
variaram de 5 até 1280 kPa. Os estágios de carregamento e os critérios de estabilização destes
foram os mesmos adotados para o ensaio de tensão de expansão. Estabilizado o carregamento
de 1280 kPa o corpo de prova foi descarregado e a célula foi desmontada, posteriormente foi
verificada a umidade final da amostra.
A Figura 29 apresenta a curva de variação da deformação volumétrica com a
tensão vertical e a Figura 30 apresenta a curva de índice de vazios com a tensão vertical. Na
Tabela 9 estão apresentadas as condições iniciais e finais do corpo-de-prova, assim como a
51

tensão de escoamento (vm) e os parâmetros de compressibilidade (Cc e Cs) do solo referente


a este ensaio. A tensão de escoamento foi determinada pelo método gráfico de Pacheco Silva.
Ao comparar as condições iniciais e finais dos corpos de prova observa-se que no final do
ensaio houve um aumento no teor de umidade, de 6,5% para 6,6%.

Figura 28 - Curva Tensão versus Deformação.

UMIDADE SOLO NATURAL Wo=6,5%


0.0

1.0
Compressão
2.0
DEFORMAÇÃO (%)

3.0

4.0

5.0
Descompressão
6.0
1 5 50 500 5000
TENSÃO VERTICAL (kPa)

Figura 29 - Curva Tensão versus Índice de vazios.

UMIDADE SOLO NATURAL Wo=6,5%


0.320
0.310
0.300
0.290
Compressão
0.280
ÍNDICE DE VAZIOS

0.270
0.260
0.250
0.240 Descompressão
0.230
0.220
1 10 100 1000
TENSÃO VERTICAL (kPa)
52

Tabela 9 - Dados do ensaio de compressão edométrica.


Amostra vm (kPa) Cc Cs Wo (%) e0 Wf (%) eminimo
1 92 0,05 0,002 6,5 0,312 6,6 0,247

3.3.5. Ensaio de resistência ao cisalhamento

Define-se como resistência ao cisalhamento do solo como a máxima pressão de


cisalhamento que o solo pode suportar sem sofrer ruptura, ou a tensão de cisalhamento do
solo no plano em que a ruptura ocorre no momento da ruptura. Em Mecânica dos Solos, a
resistência ao cisalhamento envolve duas componentes: atrito e coesão (DAVILLA, 2009).
No presente estudo os parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo foram
obtidos por meio de ensaios de cisalhamento direto. O ensaio de cisalhamento direto é
executado em uma caixa metálica bipartida, deslizando-se a metade superior do corpo de
prova em relação à inferior. O corpo de prova é inicialmente comprimido por uma forca
normal “N”, seguindo-se a aplicação da forca cisalhante “T”. Esta força impõe um
deslocamento horizontal à amostra até a ruptura do corpo de prova em um plano de ruptura
pré-determinado (uma das desvantagens desde ensaio, pois este plano nem sempre
corresponde ao de maior fraqueza). Para cada tensão normal aplicada (σ = N/A), obtém-se um
valor de tensão cisalhante de ruptura, permitindo o traçado da envoltória de resistência.
O ensaio foi realizado com a finalidade de obter os parâmetros de resistência do
solo para fins de cálculo da tensão admissível do solo para comparação com a tensão
transmitida por uma fundação rasa apoiada num solo natural. Os corpos de prova foram
moldados, a partir da amostra indeformada, e inundados, esperando-se no mínimo 24 horas a
fim de se atingir a sua saturação e estabilização, objetivando simular a pior situação em
campo.
Os corpos de prova foram moldados em laboratório através de uma forma
prismática, de seção quadrada de 6 cm de lado e altura de 2 cm. Para o ensaio foram aplicadas
tensões verticais de: 50 kPa; 100 kPa; 150 kPa e 200 kPa. A velocidade de cisalhamento
adotada foi 0,025mm/min. Após o cisalhamento da amostra o ensaio era desmontado e
determinada a umidade final do corpo de prova. O deslocamento máximo adotado nos ensaios
foi de 10 mm.
O critério de ruptura adotado foram os valores de pico da tensão cisalhante; ou os
valores máximos, quando a curva tensão-deformação não indicavam valores de pico bem
definidos, As Figuras 30 e 31 representam os resultados do ensaio.
53

Figura 30 - Gráfico Deslocamento Horizontal versus Tensão Cisalhante.

Ensaio de Cisalhamento

140

120
Tensão Cisalhante (kPa)
100

80
50 kPa
60
100 kPa
40
150 kPa
20 200 kPa

0
0 5 10 15

Deslocamento horizontal (mm)

Figura 31 - Envoltória de resistência – Tensão normal versus Tensão cisalhante

200
y = 0.4924x + 14.899
R² = 0.9898

150
Tensão Cisalhante (kPa)

100

50

0
0 50 100 150 200 250 300 350 400

Tensão Normal (kPa)

A partir da análise dos gráficos acima, nota-se que os valores de resistência se


ajustaram bem a reta envoltória, fato comprovado pelo coeficiente de determinação R² de
0,99. Sendo assim, se encontrou os parâmetros do solo: Coesão (c) de 15kPa, ângulo de atrito
54

(ϕ) de 25,7º. Esses parâmetros foram utilizados para o cálculo da capacidade de carga e da
tensão admissível do solo, conforme está apresentado no item 4.4 deste trabalho. A tabela 10
apresenta os parâmetros das quatro amostras utilizadas no ensaio.

Tabela 10 - Condições das amostras do ensaio de cisalhamento.


Amostra T. Vertical (kPa) Wo (%) e0 τ (kPa) σn (kPa) Wf (%)
1 50 6,78 0,32 41,25 56,60 25,10
2 100 5,23 0,29 73,95 120,00 24,20
3 150 7,40 0,25 103,41 169,81 20,78
4 200 5,84 0,31 121,00 222,22 22,87
55

4 ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DAS TENSÕES NO SOLO

4.1 Descrição da edificação em estudo

A edificação estudada se trata de uma residência unifamiliar de 01 pavimento,


com uma área construída de 93 m², constituída por uma sala, uma cozinha, dois banheiros e
uma área de serviço, em um terreno de 380 m² (Figura 32). A mesma fica localizada a cerca
de 7 m (sete metros) do ponto de retirada das amostras de solo.
A estrutura da casa é constituída por vigas e pilares de concreto armado, ambos de
seção retangular 12 cm x30 cm. A casa possui laje de forro de 10 cm de espessura constituída
por vigotas treliçadas e lajotas de cerâmicas, alvenaria de vedação em bloco cerâmico de seis
furos e cobertura em telha cerâmica com estrutura de madeira.
A fundação foi construída em blocos de concreto de seção quadrada de lado 0,70
m, assentes a uma profundidade de 1,2 m do nível do terreno. Também é constituída por
baldrame (para suporte da vedação) de alvenaria de pedra argamassada com 0,50 m de
profundidade e 0,30 m de largura, no topo do baldrame se têm uma cinta de amarração
ancorada nos pilares.
Pode ser observado que a residência encontra-se envolta de uma grande área
permeável (Figura 33), por onde passam córregos com águas pluviais, além disto, parte do
terreno da própria edificação é dotado de vegetações (árvores e gramado) que eram
constantemente irrigadas. Favorecendo assim, o umedecimento do solo adjacente a fundação
da casa.

Figura 32 – Planta baixa da casa em estudo.

Fonte: O AUTOR
56

Figura 33 - Fachada lateral da casa em estudo.

Fonte: O AUTOR

4.2 Manifestações Patológicas encontradas

Conforme fora visto no Capítulo 2, o surgimento de patologias como: fissuras


inclinadas em alvenaria, levantamentos de piso, desprendimento de paredes, fissuras verticais,
fraturas diagonais que se desenvolvem abaixo e acima de esquadrias, são comuns problemas
que a expansão dos solos costuma provocar em edificações. A partir da análise das figuras 34
a 37, verifica-se que as fissuras existentes na alvenaria de vedação e no piso da edificação em
análise apresentam o mesmo padrão destes problemas típicos.

Figura 34 - Fenda vertical no muro

Fonte: O AUTOR
57

Figura 35- Fissuras Inclinadas nas paredes

Fonte: O AUTOR

Figura 36 - Levantamento e abertura de piso

Fonte: O AUTOR

Figura 37- Rachadura em extremidade de esquadria

Fonte: O AUTOR
58

4.3 Tensões Transmitidas pela Fundação

Considerando-se apenas as tensões, para que não ocorram problemas em


edificações assentes sobre solos expansivos deve-se considerar/atender dois requisitos:
a) A tensão transmitida pela fundação ao solo deverá ser um pouco maior que a
tensão de expansão do solo: Dessa forma possíveis levantamentos da estrutura de
fundação seriam impedidos pela carga da edificação.
b) A tensão transmitida pela fundação deverá ser menor que a tensão admissível
do solo: uma vez que se as tensões solicitantes superarem as resistentes, o solo
poderá aprasentar o surgimento de recalques elevados.
No estudo de caso, para verificar se as duas situações acima foram atendidas,
calculou-se as cargas transmitidas pela fundação da casa em estudo. Para isto, foi
desenvolvido um modelo estrutural no programa SAP 2000, procurando simular, o mais real
possível, as condições geométricas e de carregamentos da edificação. Devido à falta do
projeto estrutural, a concepção geométrica do modelo foi feita por meio de informações
fornecidas pela construtora e por visitas a edificação em estudo.
O modelo foi discretizado em elementos de Barra (frames), uma vez que foram
consideradas como partes da estrutura da edificação: as vigas, pilares, cinta do baldrame, e
vigotas pré-moldadas da laje. A Figura 38 mostra o modelo discretizado no programa.

Figura 38 - Modelo estrutural.

Fonte: O AUTOR
59

As cargas aplicadas ao modelo foram baseadas na NBR-6120 - Cargas para o


cálculo de estruturas de edificações. As cargas foram transformadas em carregamentos
lineares (de acordo com área de influência de cada elemento) e aplicadas diretamente nos
elementos de barra. A Tabela 11 traz o resumo das cargas utilizadas.

Tabela 11 – Cargas aplicadas no modelo.


Carga Valor referência Unidade Elemento aplicado
Cobrimento concreto 2400 kgf/m³ Vigotas
Alvenaria 1300 kgf/m³ Cinta
Peso de água 1000 kgf/m³ Vigotas do wc
Telhado 125 kgf/m² Vigas
Sobrecarga 100 kgf/m² Vigotas

Após aplicação das cargas foram impostas às restrições nos apoios dos pilares,
para finalmente ser processado o modelo. A Figura 39 apresenta os esforços encontrados na
fundação após o término da análise estrutural do modelo. A numeração dos blocos de
fundação foi feita conforme a Figura 40.

Figura 39 - Esforços nos apoios em kgf e cm.

Fonte: O AUTOR
60

Figura 40 - Projeção da fundação.

Fonte: O AUTOR

Para cálculo da tensão transmitida na fundação dos pilares foram consideradas as


contribuições da força vertical (F3), e dos momentos nas direções x e y (M1 e M2
respectivamente), aplicados na Equação 1:
| | | |
σ . = + + (1)

Onde:
σ trans.: Tensão Transmitida;
F: Força vertical;
A: Área da base do bloco;
M: Momento;
W: Módulo de resistência elástico da base da fundação, dado pela equação 2:
³
W= (2)

Onde:
L: Lado do bloco quadrado.

Considerando a fundação anteriormente descrita, ou seja, bloco isolado quadrado


de lado 0,70 cm, assente a uma profundidade de 1,20 m, e aplicando os esforços retirados do
modelo estrutural, na Equação 3, chega-se as tensões solicitantes apresentadas na Tabela 12:
61

Tabela 12 - Tensões transmitidas pelos blocos.


Bloco M1(kgf.cm) M2 (kgf.cm) F3 (kgf) σ transmitida (kgf/cm²)
B1 11624,77 20845,85 5248,16 1,28
B2 11362,98 -28734,82 7066,3 1,65
B3 13459,82 12180,05 5005,98 1,16
B4 11209,07 13335,11 8080,87 1,63
B5 11580,03 -21438,55 5179,7 1,27
B6 -2407,35 23392 8101,59 1,64
B7 -2836,12 -23866,58 10645,19 2,05
B8 -13541,17 11901,75 5939,7 1,14
B9 -2613,64 10251,84 12099,58 2,08
B10 -2490,51 -23240,08 7982,22 1,64
B11 -10212,3 16650,43 4948,33 1,02
B12 -9746,67 -4510,96 8484,47 1,55
B13 -9756,24 3156,57 8510,99 1,73
B14 -10284,43 -17068,03 4904,99 0,84

4.4 Capacidade de Carga e Tensão Admissível do Solo

A capacidade de carga (qult) do solo, neste estudo, foi calculada para condição de
solo inundado, e conforme indicado por TERZAGHI (1943), para o caso de uma fundação
rasa, de seção quadrada, conforme apresenta a Equação 3:

, ,
σ = ƞ
(3)

Onde:
c: Coesão do solo;
γ: Peso específico efetivo do solo;
B: Menor dimensão da fundação;
H: Profundidade de assentamento;
Nc, Nq, Nγ: coeficientes de capacidade de carga.
σadm: Tensão admissível do solo;
ƞ: Coeficiente de segurança.
62

Os coeficientes de capacidade de carga dependem somente do ângulo de atrito do


solo, e foram retirados da Tabela do anexo 1. Além da capacidade de carga foi calculada a
tensão admissível do solo, a partir da Equação 4:

σ = ƞ
(4)

Onde:
σadm: Tensão admissível do solo;
ƞ: Coeficiente de segurança.

Para este estudo, considerou-se o caso de ruptura localizada, já que este apresenta
uma transição entre a ruptura generalizada (comum em solos compactos e rijos) e a por
puncionamento ( comum em solos moles). Adotando este caso de ruptura, e os valores de
ângulo de atrito (ϕ’) e de coesão (c’) dados a partir das equações 5 e 6:

( )= ( ) (5)

′= (6)

A Tabela 12 traz os parâmetros utilizados para o cálculo da tensão admissível.

Tabela 13 - Valores para cálculo da tensão admissível.


Parâmetros c’ (kPa) ϕ’ (º) Nc Nq Nγ B (m) H (m) γsat (kN/m³)
9,90 17,11 14,66 5,52 2,21 0,70 1,20 18,5

Os valores de coesão e de ângulo de atrito foram encontrados através do ensaio


de cisalhamento direto, enquanto foram considerados o peso específico saturado do solo (γsat)
de 18,5 kN/cm³ (situação crítica), a cota de assentamento (H) de 1,2 m e a menor dimensão da
fundação (B) de 0,7 m.
Sendo os valores da tabela acima aplicados nas Equações de 2 a 5, chegou-se a
capacidade de carga (qult) da fundação quadrada, para o caso estudado, de 335,3 kPa (3,42
kgf/cm²) e a sua tensão admissível de 111,8 kPa (1,14 kgf/cm²), considerando um fator de
segurança igual a 3.
63

Observando os dados da Tabela 10 verifica-se que a maioria dos blocos com


exceção apenas dos blocos B8, B11 e B14, transmitem tensões, superiores ao valor da tensão
admissível do solo (1,14 kgf/cm²), o que pode provocar recalques excessivos no solo. Já
comparando os valores da Tabela 10 com o valor de tensão de expansão média do solo, que é
de 3,77 kgf/cm², nota-se que todos os blocos transmitem tensões inferiores a de expansão, o
que não impede totalmente a expansão do solo quando sua umidade for elevada.
Como os esforços de expansão superam a tensão transmitida em todos os blocos
da fundação da edificação, esta fica suscetível aos ataques destes esforços, apresentando o
surgimento de novas patologias quando a expansão do solo gerar pressões na fundação que
acabarem sendo transmitidas para as alvenarias, pisos e outros componentes da casa.
Para verificar se os esforços transmitidos pela fundação da casa em análise e pela
expansão do solo são suficientes para causarem as patologias encontradas, também se
verificou os movimentos verticais possíveis de ocorrer nos elementos de fundação.

4.5 Previsão dos movimentos verticais

Para previsão dos movimentos verticais neste estudo, serão utilizados os


procedimentos adotados por SANTOS (2010), onde o cálculo dos deslocamentos verticais em
solos expansivos obedece aos procedimentos adotados para previsão de recalques em um solo
qualquer.
A metodologia consiste em Determinar a distribuição de tensões, induzida pela
fundação, subdividir a espessura do bulbo de tensões em subcamadas e multiplicar as
deformações específicas de expansão ou de recalque (εz) correspondente a tensão do centro
de cada subcamada, pela espessura da subcamada, Δh. A parcela de deslocamento (Δw),
obtida em cada subcamada é dada pela equação 7:

Δw = εz . Δh (7)

O deslocamento total encontra-se somando todas as parcelas de levantamento


(Δw). Para os cálculos, será considerado o bloco quadrado com largura de 0,70 m, apoiada a
1,2 m da superfície do terreno (características da fundação da edificação em estudo), e as
propriedades do solo local.
64

Neste estudo foram calculados os deslocamentos de levantamento e de recalque


para dois blocos considerados de pior situação (o mais leve, que impediria o mínimo da
expansão - bloco 14; e o mais carregado, que provocaria o maior recalque - bloco 9). Para
isso, foi desenvolvido o bulbo de tensões de ambos os blocos, considerando este com
espessura igual a duas vezes a aresta do bloco (1,4 m), dividindo-a em quatro subcamadas
(Δh) de 0,35 m (Figura 41).

Figura 41- Bulbo de Tensões.

Fonte: O AUTOR.

A tensão efetiva no centro de cada subcamada será calculada considerando as


tensões geostáticas advinda do peso do solo e as tensões devidas aos carregamentos da
fundação (determinadas utilizando a formulação de Newmark). Nas Figuras 42 e 43
encontram-se as tensões no centro de cada subcamada para carga de 82 kPa (bloco 14) e para
carga de 204 kPa (bloco 9), respectivamente.
65

Figura 42 - Perfil das tensões abaixo do bloco 14.

BLOCO 14
TENSÃO (KPA)
0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0 120.0
-0.35

0.15 tensão geostática


6.7
Tensão total
0.65
PROFUNDIDADE (m)

13.3
1.15 20.0
22.8
29.5 48.5 104.8
1.65
36.1 50.5
2.15 42.8 55.5
2.65 49.4 56.3
56.1 61.0
3.15
62.7 66.2
3.65 69.4 72.1

Figura 43 – Perfil das tensões abaixo do bloco 9.

BLOCO 9
TENSÃO (KPA)
0.0 50.0 100.0 150.0 200.0 250.0
-0.35
0.15 Tensão geostática
Tensão total
0.65 13.3
20.0
1.15
PROFUNDIDADE( M)

22.8
29.5 226.8
1.65 76.8
36.1 71.8
2.15 42.8 74.4
2.65 49.4 66.5
56.1 68.3
3.15
62.7 71.5
3.65 69.4 76.3

Para o cálculo do levantamento (l) será considerado que as camadas do solo sob a
fundação estão saturadas, obtendo-se assim o máximo potencial de expansão para as
condições de carregamento do solo, sendo assim, os Valores de deformações especificas (εz)
utilizados para este cálculo serão provenientes do ensaio de tensão de expansão para amostra
66

1 (mais próxima da média). Para o cálculo do recalque (r) será considerado que as camadas
do solo sob a fundação encontram-se com umidade de 6,5% mesma do ensaio de compressão
edométrico, os valores de deformação especifica para este cálculo também serão provenientes
deste ensaio (Figura 44).

Figura 44 – Curvas para cálculo dos deslocamentos verticais.

-20.0

-15.0
DEFORMAÇÃO(%)

-10.0

-5.0

0.0

5.0
1 10 100 1000
TENSÃO VERTICAL (kPa)

As Tabelas 12 e 13 trazem os cálculos dos deslocamentos verticais para os


carregamentos dos blocos 14 e 9, respectivamente.

Tabela 14 - Deslocamentos verticais no bloco 14.

Camada Recalque Levantamento


σ efetiva (kPa)
εz (%) Δw (mm) εz (%) Δw (mm)
1 48,5 0,56 1,96 12,39 43,365
2 50,5 0,58 2,03 12,23 42,805
3 55,5 0,62 2,17 11,83 41,405
4 56,3 0,63 2,205 11,77 41,195
Σ 8,365 168,77

Tabela 15 - Deslocamentos verticais no bloco 9.


Deslocamentos verticais
Camada Recalque Levantamento
σ efetiva (kPa)
εz (%) Δw (mm) εz (%) Δw (mm)
67

1 76,8 0,8 2,8 10,16 35,56


2 71,8 0,76 2,66 10,55 36,925
3 74,4 0,78 2,73 10,35 36,225
4 66,5 0,72 2,52 10,97 38,395
Σ 10,71 147,11

Analisando as tabelas acima se verifica que os valores de recalque são de 8,37 mm


para o bloco 14 e de 10,71 mm para o bloco 9, estando estes valores abaixo dos limites aceitáveis
( 20,0 a 65,0 mm) de recalques para uma fundação isolada assente em solo argiloso, conforme
critério de Burland et. al. (1977). Já os valores de levantamento encontrados foram de 168,77 mm
para o bloco 14 e de 145,1 mm para o bloco 9, estando ambos, acima do máximo aceitável
considerando o mesmo critério.

4.6 Possíveis soluções

O reparo das fissuras e trincas presentes na edificação em estudo pode ser realizado a
partir de técnicas como grapeamento e vedação com argamassas e/ou resinas, porém o simples
fechamento das fissuras não resolve o problema, uma vez que, novas fissuras continuarão
surgindo enquanto o problema da expansão do solo não for tratado.
Sanar o problema advindos da expansão do solo no caso estudado se mostra uma
tarefa de difícil execução, porém conforme o exposto no item 2.2.5, algumas medidas podem ser
tomadas como forma de mitigar esses efeitos, podendo ser citadas:
a) remover as árvores e gramado no entorno da residência;
b) despejar as águas pluviais a uma distância de 2 a 3 metros da construção;
c) Impermeabilizar toda a área do terreno;
d) reforçar as vigas da fundação da casa, deixando-as mais rígidas;
e) desviar águas servidas e pluviais advindas que se concentravam no muro da
edificação em análise.
68

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS

5.1 Conclusões

A caracterização geotécnica do solo em estudo apontou que este se trata de um


solo extremamente fino, classificado como silte de alta compressibilidade (MH). Os
parâmetros de resistência apresentaram coesão (c) de 15 kPa e ângulo de atrito (ϕ) de 25,7º,
obtidos pelo ensaio de cisalhamento direto. Através dos ensaios edométricos de expansão
livre, realizados em três amostras foi possível encontrar uma expansão média de 18,5%, sendo
o solo considerado de alta expansibilidade, segundo Seed et al (1962). O ensaio de tensão de
expansão apresentou um valor médio de 3,77 kgf/cm².
Neste estudo foi possível comprovar e visualizar a ocorrência de efeitos danosos
em uma edificação provocada pela combinação expansão do solo e mau dimensionamento da
estrutura de fundação. Analisando as cargas transmitidas pela fundação da edificação percebe-
se que elas, não são suficientes para combater a expansão que o solo local pode oferecer, o
que explica as diversas fissuras existentes em toda a edificação. Embora se tenha visto que
quase todos os blocos de fundação da casa em análise tenham exibido valores de tensão
solicitante maior que a tensão admissível do solo, sendo assim uma possível causa das
fissuras encontradas, a afirmativa de que as patológicas encontradas possuem relação com a
pressão de expansão do solo continua valida, pois verificados os deslocamentos verticais
notou-se que os levantamentos são muito mais significativos que os recalques.
A partir do que foi discutido ao longo do trabalho, é possível intuir que a
ocorrência de manifestações patológicas em estruturas assentes sobre solos expansivos é um
problema de fácil ocorrência para obras de pequeno porte, pois estas além de possuírem
menor carga para contrapor as pressões advindas da expansão do subsolo, geralmente não se
valem de investigações geotécnicas para o ideal dimensionamento da estrutura de fundação.
A terapia de patologias advindas de problemas no subsolo é de difícil solução e
por muitas vezes inviáveis, sendo, portanto, necessário tratar adequadamente o solo antes de
69

se iniciar a obra, por exemplo uma das maneiras de evitar o surgimento de patologias devido a
expansão do solo seria a substituição do solo expansivo por outro solo compactado.
Vale aqui destacar que investigações geotécnicas sobre solos problemáticos
(expansivos, colapsíveis) em regiões do semiárido devem sempre ser utilizadas, pois o clima
da região favorece a ocorrência destes tipos de solo. O local de estudo deste trabalho, por
exemplo, fica muito próximo do conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida, o que
possivelmente pode sofrer essas patologias, visto que essas obras de pequenas cargas,
geralmente não são adotadas de investigações geotécnicas de detalhe.

5.2. Sugestões para trabalhos futuros

O presente trabalho procurou mostrar como os solos expansivos podem provocar


efeitos bastante danosos às edificações, principalmente quando estes forem negligenciados
durante o dimensionamento da estrutura de fundação da construção. Logo, sugere-se a
realização de estudos sobre a constituição do argilomineral do solo, para o conhecimento mais
aprofundado de suas características, assim como de investigar outros locais do Cariri, para
contribuição ao banco de dados de informações geotécnicas da região.
70

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Grão de Solos que passa na


peneira de 4,8 mm – Determinação da massa específica – Método de ensaio. NBR 6508. Rio
de Janeiro. 1984.
______. Aberturas de Poço e Trincheira de Inspeção em Solo – Método de ensaio. NBR 9604.
Rio de Janeiro. 1986.

______. Cargas para o cálculo de estruturas de edificações – Procedimento. NBR 6120. Rio
de Janeiro. 1980.

______. Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. NBR 6118. Rio de Janeiro. 2003’

______. Solo – Análise Granulométrica – Método de ensaio. NBR 7181. Rio de Janeiro.
1984.

______. Solo – Determinação do Limite de Liquidez – Método de ensaio. NBR 6459. Rio de
Janeiro. 1984.

______. Solo – Determinação do Limite de Pasticidade – Método de ensaio. NBR 7180. Rio
de Janeiro. 1984.

BENTO, P.F. Uso de cal e fibras na melhoria de materiais para utilização em estruturas
de pavimentos. 2006. 120 p. Dissertação (Mestrado em engenharia civil) – Universidade de
Brasília, Brasília, DF, 2006.

BRITTO, A. A. S. Estudo de manifestação patológica em edificação assente sobre solo


expansivo – massapê. Monografia (Especialização em Gerenciamento na Construção Civil) -
Curso de Especialização em Gerenciamento da Construção Civil, Universidade Estadual de
Feira de Santana, Feira de Santana - BA, 2006.
71

CAMPOS, L.E.P; BURGOS, P.C. Influência da Sucção na Expansão de Massapês.


REGEO, Porto Alegre, RS, 2004.

CAMPOS, J. O. A desagregabilidade dos siltitos da formação Corumbataí. Rio claro 120p.


Concurso público para livre docência, Universidade Estadual paulista – Campus Rio Claro,
São Paulo. 1989.

CAVALVANTE, E. H. C. et al. Caracterização de um solo expansivo, não saturado, de


Sergipe. VI Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados. Salvador, BA. 2007.

CHEN, F. H. Foundation on expansive soils. Developments in Geotechnical Engineering,


Amsterdam, Elsevier, 1975. 280p.

COSTA, O. P. Avaliação de expansão, contração e resistência a compressão simples de


barreiras selantes produzidas com solos laterítico estabilizado quimicamente. 2005.
118p. Dissertação de Mestrado – Unesp. Ilha Solteira, SP, 2005.

FERREIRA, S. R. M; FERREIRA, M. G. V. X . Mudanças de volume devido à variação do


teor de água em um vertissolo no semiárido de Pernambuco. Revista Brasileira de Ciência
do Solo. Viçosa, MG. 2009.

FERREIRA, S. R. M. Colapso e Expansão de Solos Naturais não Saturados Devido à


Inundação. 1995. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Faculdade em Engenharia Civil,
Universidade Federal do Rio de Janeiro/COPPE, Rio de Janeiro, 1995.

HELENE, Paulo R. L.. Manual para reparo, reforço e proteção de estruturas de


concreto. 2ª ed. São Paulo: Pini, 1992.

HOLLAND, J. E. & LAWRENCE, C. E. (). Seasonal heave of Australian clay soil. Proc.
4th Int. Con. Expansive Soil, Denver, 1980.

HOLTZ, W.G. & GIBBS, H.J. Engineering properties of expansive clays. Transactions of
the American Society of Civil Engineers 121, 641-663, 1956.

I.S.R.M. - ENTER. SOC. FOR ROCH MECH. Commission on swelling rock and working
group on swelling rock of the commission on tasting methods. Suggested methods for
laboratory testing of argillaceous swelling rocks. Abstr. Vol. 26. N 5. p. 415-426.

JEREMIAS, F. T. S. A. A. Importância da expansibilidade na durabilidade dos materiais


rochosos e técnicas laboratoriais para sua avaliação. 1991. 222p. Dissertação (mestrado) –
Laboratório nacional de engenharia civil, Universidade Nova de Lisboa. Lisboa. 1991.

JUSTINO DA SILVA, J. M. Variação Volumétrica de uma Argila Contráctil-Expansiva


Não Saturada Submetida a Diferentes Condições Climáticas. Tese (Doutorado), Escola
Politécnica da USP, 249 p. 2001.

JUSTO, J.L.A.; DELGADO, A. & RUIZ, J. The influence of stress-path in the collapse-
swelling of soils at the laboratory. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON
EXPANSIVE SOILS, 5., Adelaide, 1984. Proceedings, 1984.
72

LAESPIGA, M.A.M. Estudo do Fenômeno de Expansão da Formação Libertad


Quartenáreo: Metodologia de Avaliação e Mapeamento na Região de Montevideu – Uruguai.
2001. Dissertação (Mestrado em Geotecnia) - EESC/USP. São Carlos, SP. 2001.

LEÃO, A. L. S. Uma revisão sobre fissuras causadas por problemas de Fundações.


Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade estadual de Feira de Santana, Feira de
Santana, BA. 2010. 98p.

MADLUN, I. Características e métodos de identificação de solos expansivos. (Relatório de


Monitoria), Departamento de Geotecnia, EESC-USP, São Carlos.

MAHLER, C.F. Análise de obras assentes em solos colapsíveis e expansivos. 1994. 267p.
Tese (Doutorado em engenharia civil) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro, RJ. 1994.

MARCELLI, Maurício – Sinistro na Construção Civil – Editora PINI, São Paulo, março
2010.

MARINHO, F. A. M. A técnica do papel filtro para medição de sucção. Encontro sobre


solos não saturados – Rio Grande do Sul – 18 a 20 de outubro de 1995, p. 112-125.

MONTEIRO, J. B Avaliação da Expansibilidade de um Solo Argiloso da Cidade de Rio


Branco – AC. Trabalho de Conclusão de Curso. UFAC, Rio Branco, AC. 2006. 63p.

NELSON, J. D. & MILLER, D. J. Expansive soils – Problems and pratice in


foundation and pavement engineering. John Wiley & Sons, Inc., New York, 1992, 259p.

OLIVEIRA, A. M. Fissuras, trincas e rachaduras causadas por recalque diferencial de


fundações. Monografia (Especialização em Gestão em Avaliações e Perícias) - Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG. 2006.

PEREIRA, E. M. Estudo do comportamento à expansão de materiais sedimentares da


formação. 2004. 253p. Tese (Doutorado em engenharia geotécnica) – EESC/USP, São Carlos,
SP. 2004.

PINTO, C. S. Fundações: Teoria e Prática. Capítulo 2. São Paulo: Pini, 1998.

PRESA, E. P. Deformabilidad de las arcillas espansivas bajo succión controlada. Centro


de Estudos y Experimentación de Obras Públicas. Madrid. 274p, 1984.

RAO, R.R.; RAHARDJO, H. & FREDJUND, D.G. (1988). Close fromheave solutions for
expansive soils. J. Geotechnol. Eng.A.S.C.E.

SANDRONI, S. S.; CONSOLI, N.C> (2010). Sobre a prática de engenharia geotécnica em


dois solos difíceis: os extremamente moles e os expansivos, 84 p. COBRAMSEG –
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, Gramado, Brasil.

SANTOS, B.J.S.F. Argilas expansivas da cidade da praia. Trabalho de Conclusão de Curso.


Instituto Superior de Educação, Cidade da Praia, 2006.77p.
73

SANTOS, M. F . Contribuição ao estudo da expansibilidade de solos do submédio São


Francisco. Trabalho de Conclusão de Curso. UNIVASF, Juazeiro, BA. 2010. 89 p.

SANTOS, P. S. Ciência e tecnologia de argilas. 2º. Ed. São Paulo, 1989. Edgard Blucher. V1.
408 p.

SCHWIRCK, I. A. Patologia das fundações. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade


do estado de Santa Catarina. Joinville – SC, 2005.

SEED, M.B.; WOODWARD, R.J.; LUNDGREN, R. Prediction of swelling potential of


compacted soils. Journal of Soil Mechanics and Foundation Engineering, ASCE 86 -128.
1962.

SILVA, D. A. Levantamento de problemas em fundações correntes no estado do Rio


Grande do Sul. Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS. 1993.

SILVA, I. V. Análise e caracterização geotécnica de um solo com indícios de


expansibilidade na cidade de Iguatu-Ce. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade
Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, CE, 2013. 48 p.

SIMÕES DE OLIVEIRA, A. G.; JESUS, A.C; MIRANDA, S.B. Estudo Geológico –


Geotécnico dos Solos Expansivos da Região do Recôncavo Baiano In: II Simpósio
Brasileiro de Jovens Geotécnicos, 2; 2006, Nova Friburgo. Resumos... Nova Friburgo: 2006.
p.6.

SKEMPTON, A. W. The Colloidal Activity of Clays. Proc. III Inter. Conference on Soil
Mechanics an Foudation Engineering. Zurich, 1953, Vol. 1, p.57-61.

SOUZA, L. S. Análise do comportamento mecânico de um solo expansivo da província


petrolífera de Urucu-AM para fins de pavimentação. 2009. 167p. Dissertação (Mestrado
em geotécnia e construção civil) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO. 2009.

SOUZA NETO, J. B.; SANTOS, M. F.; MARTINS, P. A.; JUNIOR, H. C. D. Avaliação da


expansibilidade de um solo de Juazeiro – BA. XVI Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia Geotécnica. Porto de Galinhas-PE, Setembro de 2012.

SOUZA, V. C. M., RIPPER, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de


concreto. São Paulo: Pini, 1998.

IBANEZ, J.P. Modelagem micro-mecânica discreta de solos residuais. 2008. 394 f. Tese
(Doutorado em Engenharia Civil) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 2008.

TERZAGHI, K.. “Theoretical Soil Mechanics”. Jonh Wiley and Sons, Inc. London, 1943,
510p.

VARGAS, M., GONCALVES, H. H., SANTOS, N.B. e MARINHO, F. A.M. Expansive Soils
in Brazil. Suplementary Contributions by the Brazilian Society for Soil Mechanics. 12th
Int. Conf. on Soil Mech. and Found. Engin., Rio de Janeiro, 1989.
74

WILLIAMS, A. A. B. & DONALDSON, G. W. (1980). Building on expansive soils in Souh


Africa: 1973 – 1980. Proceedings 4th Internacional Conference on Expansive Soil, Vol. II,
Denver , Colorado. 12p.

ANEXO 1 – TABELA DOS COEFICIENTES DE CAPACIDADE DE CARGA

UTILIZADOS NA FÓRMULA DE TERZAGUI.

α α
Φ(graus) Nc Nq Nγ Φ(graus) Nc Nq Nγ

0,00 5,70 1,00 0,00 26,00 27,09 14,21 9,84


1,00 6,00 1,10 0,01 27,00 29,24 15,90 11,60
2,00 6,30 1,22 0,04 28,00 31,61 17,81 13,70
3,00 6,20 1,35 0,06 29,00 34,24 19,98 16,18
4,00 6,97 1,49 0,10 30,00 37,16 22,98 19,13
5,00 7,34 1,64 0,14 31,00 40,41 25,28 22,65
6,00 7,73 1,81 0,20 32,00 44,04 28,52 26,87
7,00 8,15 2,00 0,27 33,00 48,09 32,23 31,94
8,00 8,60 2,21 0,35 34,00 52,64 36,50 38,04
9,00 9,09 2,44 0,44 35,00 57,75 41,44 45,41
10,00 9,61 2,69 0,56 36,00 63,53 47,16 54,36
11,00 10,16 2,98 0,69 37,00 70,01 53,80 65,27
12,00 10,76 3,29 0,85 38,00 77,50 61,55 78,61
13,00 11,41 3,63 1,04 39,00 85,97 70,61 95,03
14,00 12,11 4,02 1,26 40,00 95,66 81,27 115,31
15,00 12,86 4,45 1,52 41,00 106,81 93,85 140,51
16,00 13,68 4,92 1,82 42,00 119,67 108,75 171,99
17,00 14,60 5,45 2,18 43,00 134,58 126,50 211,56
18,00 15,12 6,04 2,59 44,00 151,95 147,74 261,60
19,00 16,56 6,70 3,07 45,00 172,28 173,28 325,34
20,00 17,69 7,44 3,64 46,00 196,22 204,19 407,11
21,00 18,92 8,26 4,31 47,00 224,55 241,80 512,84
22,00 20,27 9,19 5,09 48,00 258,28 287,85 650,67
23,00 21,75 10,23 6,00 49,00 298,71 344,63 831,99
24,00 23,36 11,40 7,08 50,00 347,50 415,14 1072,80
25,00 25,13 12,72 8,34
Fonte: Das (2007).
75

Você também pode gostar