Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PORTUGUÊS E INGLÊS
Rio de Janeiro
2020.2
Trabalho de Conclusão de
curso apresentado como requisito
para aprovação no curso de
graduação em Letras – Português e
Inglês, da Estácio de Sá, sob
orientação da Professora Merced de
Lemos Urtubia.
RIO DE JANEIRO – RJ
2020
Examinadores
______________________________________________________________
______________________________________________________________
NOTA FINAL ____________
RESUMO
Horror is an endless source of possibilities for tales and narratives that can
address both specific and obscure themes, as well as the unknown itself, and explore
these lands that present themselves as mysterious. Despite being often seen as a
genre saturated with an exaggerated number of clichés, horror is not only about the
typical evil monster and the hero who may or may not win the day against the
presented obstacle. Far beyond that, horror compels us to feel the discomfort caused
by imagining such a situation happening to us, explores the most reserved corners of
our minds and brings up not only the feeling of fear, but also makes us reflect on our
own capacity for evil and desires buried by ourselves that if allowed to let go of,
would control us, making us commit irreparable acts. The present work aims to show
the origins of horror as a literary genre in the myths of Ancient Greece and the divine
entities affiliated with the feeling, to explore its diverse strands and most famous
names such as Mary Shelley, Edgar Allan-Poe and H.P. Lovecraft, as well as its
representation today and expectations for the future.
CONCLUSÃO........................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................46
Dedico este trabalho, primeiramente à minha família.
Agradeço por terem sido compreensivos a respeito do tema e
por todo o apoio me foi dado durante sua confecção. Agradeço
a meus amigos queridos por me encorajarem com palavras de
carinho e pelo interesse que tiveram em minha pesquisa, assim
como agradeço profundamente pelos materiais emprestados e
opiniões recebidas que viabilizaram um trabalho mais refinado.
Por fim agradeço ao apoio da professora orientadora que
sempre se mostrou interessada em meu trabalho, contribuindo
assim enormemente para a versão final do mesmo.
"As palavras não têm poder de
impressionar a mente sem o extraordinário
horror de sua realidade."
(Edgar Allan-Poe)
8
INTRODUÇÃO
Por fim, serão usados em sua grande maioria os nomes originais das obras
durante a apresentação deste trabalho por questões estéticas, havendo, entretanto,
instâncias onde os títulos poderão ser traduzidos para a Língua Portuguesa.
Este capítulo irá tratar das origens atribuídas ao terror como gênero literário,
assim como explorar as suas finalidades, o que geralmente é transmitido ao leitor e
sua representação e presença em mitologias, sendo atribuído a uma divindade ou
até mesmo como um sentimento fortemente presente.
Mas afinal, o que é o Terror? E de onde ele vem? O historiador literário John
Anthony Bowden Cuddon (1984, p.11), descreve o terror (ou horror) como “uma obra
de ficção em prosa de extensão variável ... que choca, ou mesmo amedronta o leitor,
ou talvez induz um sentimento de repulsa ou aversão”. Não se sabe quando o termo
foi criado ou muito menos quando foi sua primeira vez empregado à ficção, tão
pouco existe um consenso sobre a verdadeira definição do terror, sendo que existem
múltiplas instâncias e incarnações do mesmo em várias obras através do tempo.
Mesmo sem uma origem certa, o terror achou seu lugar no folclore e mitologia
grega por meio de suas personificações nos deuses Phobos e Deimos,
respectivamente representando o medo e terror.
"Ares levou esses [guerreiros] ... e Deimos (Terror) os levou, e Fobos (Medo),
e Eris (Ódio), cuja ira é implacável, ela a irmã e companheira do assassino Ares.".
(Homero, [762 A.C.?], n.p.)
Com símbolos fixados para o terror, durante uma era de guerras contínuas e
expansão do império, o medo era presente sobremaneira. Autores souberam utilizar
desse sentimento para entregar obras que futuramente serviriam como inspiração
para as obras de terror mais icônicas, introduzindo por exemplo, histórias de
espíritos vingativos como em “As vidas dos nobres gregos e romanos” de Plutarco
que descreve o espírito de um assassino que foi, ironicamente, assassinado numa
casa de banho, ambiente comum de frequentação da alta sociedade antiga.
O século XV contou com uma das figuras mais cruéis e violentas da história
em Vlad III de Valáquia, também conhecido como Vlad Tepes ou Vlad, o Empalador.
A lenda popular diz que após decapitar seu pai em duelo, Vlad teria se tornado uma
das figuras mais imponentes deste período da história, batendo de frente com o
império otomano, empalando seus inimigos como punição por se levantarem contra
ele, demonstrando sua crueldade. Sua importância para o terror na literatura
aparece quando o mesmo é tido como a inspiração para o famoso Conde.
Criado pelo escritor Bram Stoker em 1897, a obra Drácula retrata a história de
um nobre e sua tentativa de se mudar da Transilvânia para a Inglaterra, afim de
espalhar a maldição dos mortos-vivos, além de sua batalha contra um grupo liderado
pelo professor Abraham Van Helsing. Drácula foi uma das obras principais que
15
Drácula se tornaria um personagem tão carismático que até hoje são feitas
releituras sobre o mesmo e a imagem do vampiro, que se popularizaria tanto que
eventualmente acharia um competidor no lobisomem, também cruzando para o reino
entre o real e fictício. Algumas novas versões do Drácula são mostradas em sua
personalidade original de galanteador e sedento por sangue para sua alimentação
pessoal e apaixonado por uma mortal, outras versões deram a Drácula um ódio da
humanidade e um filho chamado Alucard que discorda da visão de mundo do pai e
suas ações e esforços para erradicar a raça humana, assim como acabar com sua
própria vida após a morte de sua amada que é erroneamente acusada de bruxaria.
Uma de suas releituras criadas pelo mangaká Kouta Hirano em sua obra
Hellsing de 1997, vê Drácula (chamado na obra de Alucard), que após ser derrotado
pelo professor Van Helsing, termina como prisioneiro e servo da linhagem Helsing, e
ao conhecer a descendente de seu rival, Sir Integra Fairbrook Wingates Hellsing,
Alucard começa a operar como executor de ordens da organização criada por Van
Helsing para eliminar entidades sobrenaturais, monstros , indivíduos que acreditam
ser guiados por vontade divina, bem como outros vampiros.
A literatura futura também seria influenciada por outras figuras famosas, tendo
monstros e assassinos criados baseados em suas ações e vidas. Tal como foi com
Vlad III, Gilles de Rais receberia o mesmo tratamento.
O termo “gótico” literário, assim como o terror, pode se referir a muitas coisas,
sendo todas elas relacionadas de alguma forma ao sentimento do medo e podendo
ser empregado por qualquer lado em discussões por divergências de opiniões e
vertentes políticas, assim como o medo em geral de movimentos que aconteciam na
época, como a própria revolução francesa.
Com o gótico sendo a marca do terror no século XVIII, o século XIX veria um
crescimento no número de obras góticas inspiradas por Horace Walpole, levando o
terror para uma abordagem mais fixada no sobrenatural. Tratando de monstros,
fantasmas e espíritos, como foi o caso das muitas histórias colecionadas pelos
Irmãos Grimm, um exemplo famoso sendo Hänsel und Gretel, conhecido também
como João e Maria. O conto retrata dois irmãos que são abandonados na floresta
por seu pai, a pedido de sua esposa (e madrasta das crianças) para que não
morressem de fome devido à falta de alimento para todos na casa, e após duas
tentativas, as crianças se perdem na floresta quando levados uma terceira vez.
Enquanto perdidos, as crianças encontram uma casa feita inteiramente de doces e
habitada por uma bruxa canibal que após enganá-los com uma faceta de velhinha
19
benevolente, os prende dentro de sua casa, engordando Hansel para que pudesse
devorá-lo e forçando Gretel a ser uma escrava doméstica.
A grande verdade por trás dos contos de fadas que hoje conhecemos e que
foram feitos famosos pelo bordão “...e viveram felizes para sempre” não
necessariamente tinham finais felizes na maioria das vezes. Versões coletadas
pelos irmãos Grimm desses contos em suas versões “não refinadas” e não
adaptadas tinham elementos que deixavam o desenrolar de cada história diferente,
mais macabro, e que induzia medo ou desconforto pela descrição de detalhes nos
contos.
Após recitar uma pequena rima à arvore que possivelmente era mágica, os
mesmos pássaros a entregaram um vestido novo tão lindo quanto o anterior e
sapatos dourados. Não houve tempo limite do feitiço, mas ao final de cada noite de
baile, que era um evento de três noites, Cinderella tentava despistar o príncipe para
manter sua identidade um segredo.
20
A primeira irmã não consegue vestir o sapato dourado e sua mãe diz ser por
culpa de seu dedão, o que faz com que a filha, em desespero, corte fora seu dedão
para que o calçado sirva, e o príncipe por um segundo acredita, até ver que o sapato
se enchia de sangue.
A segunda filha também tentou calçar o sapato, mas por conta de seu
calcanhar grande, não conseguiu, e por fim, seguiu os mesmos passos da irmã por
orientação de sua mãe, e o resultado foi o mesmo.
Contando com mais de 100 contos nas coleções dos irmãos Grimm, sua
grande maioria recebe o mesmo tratamento, lidando com o grotesco ou temas
considerados pesados por fazerem mais sentido num ponto de vista realista,
levando em conta a natureza humana falha, como foi o caso das irmãs de Cinderella
que desesperadas para casar com o príncipe, mutilaram os pés sem sequer pensar
sobre o ato.
Ao retornar, sua esposa escuta o rei mencionar “Talia, Sol e Lua” e pressiona
a ajudante do rei a contar a verdade. A rainha então escreve à Talia como se fosse o
rei, pedindo para ver Sol e Lua, e as crianças são enviadas até ela, que planejava
que o cozinheiro do palácio fizesse um prato com as crianças para que o rei os
comesse, o cozinheiro, entretanto, escondeu as crianças e cozinhou dois cordeiros
no lugar deles. A rainha então requisita a presença de Talia e ordena que a mesma
seja queimada viva, mas o rei intervém e ordena que a rainha seja morta queimada
por ter o traído, e o cozinheiro que salvou as crianças é recompensado.
Na versão que se acredita ser a original, escrita por Charles Perrault, não
existe caçador e o Lobo devora a ingênua Chapeuzinho, sendo essa uma das
versões sem um final feliz, mas com uma lição de moral sobre a importância de não
falar ou confiar em estranhos.
Outro conto que não recebe final feliz é o conto que inspiraria “A Pequena
Sereia”, escrito por Hans Christian Andersen, onde a filha do Rei dos Mares se
apaixona por um mortal da superfície e troca sua voz por um par de pernas por meio
de um pacto com a Bruxa do Mar. Após fazer de tudo para que o príncipe se
apaixone por ela, sem sucesso, o príncipe decide se casar com outra jovem,
quebrando o coração da sereia. Ela é convidada à cerimônia e é obrigada a assistir
a felicidade alheia. Desiludida e sem rumo, suas irmãs emergem do mar com uma
adaga dada a elas pela Bruxa do Mar em troca de seus longos e belos cabelos. A
adaga devolveria sua forma de sereia se ela matasse o príncipe e derramasse seu
sangue sobre as pernas, mas antes de realizar o ato, ela desiste, e como punição
própria por ter sido egoísta, decide pelo suicídio, se jogando do alto de um penhasco
e virando espuma quando cai no mar.
seu amor por ela. Casamentos arranjados eram muito comuns na antiguidade,
muitas vezes por status ou riqueza, o que muitas vezes vinha a custo da felicidade
da mulher.
O século XIX como já mencionado foi juntamente com o final do século XVIII
o ápice do horror gótico, iniciado pelo Castelo de Otranto de Walpole, gerando
inspirações para muitos escritores da época que viriam a desenvolver suas próprias
marcas que transcenderiam o tempo, como foi o caso de Mary Shelley com sua obra
Frankenstein, também chamado de O Prometeu Moderno em 1818.
inicialmente bom, apesar de ser sempre agredido quando encontra humanos, jamais
devolveu um golpe e optou por se esconder após escapar do laboratório de
Frankenstein.
O monstro conforta Walton dizendo que não irá cometer mais nenhum crime,
assim como todos os pecados do doutor foram pagos com sua morte, a criatura
escolhe no final ir ao extremo norte sozinho, e cometer suicídio.
25
diretor Dan Curtis para o programa Dark Shadows em 1968, além do próprio Drácula
de Bram Stoker.
dificuldades de Frollo para aceitar seu amor por Esmeralda se comparados ao amor
que sente por Deus e expõe sutilmente toda a realidade do que acontecia em
Londres com a alta sociedade observando barbaridades como se fossem shows
para sua diversão, soldados cometendo crimes e saindo impunes, ciganos presentes
e até o próprio rei da época como personagem, visto que o rei atendia as missas na
catedral frequentemente. No final das contas, Vitor Hugo teria escrito o romance
como forma de conscientizar o público adulto sobre a necessidade da preservação
da Catedral de Notre-Dame, já que era o bem mais precioso que possuíam em
Londres.
O romance gótico sempre contaria com uma narrativa que envolvia um amor
trágico, muitas vezes não correspondido, ou correspondido, mas com um preço a se
pagar. Consolidando ainda mais o fato de que o terror pertence à vertente da
tragédia, onde nem sempre tudo dará certo e nem sempre o herói vencerá.
Eventualmente, o terror se tornaria mais pessoal quando diretamente canalizado de
experiências próprias da vida de autores, um nome de destaque que introduziu o
terror baseado em extrema tristeza foi, Edgar Allan-Poe.
Conhecido hoje como o pai do terror (grifo nosso), Edgar Allan-Poe foi uma
figura de extrema importância durante o século XIX e um dos autores mais
importantes que levariam o terror para o caminho que conhecemos hoje.
Edgar Allan-Poe perdeu ambos os pais aos três anos de idade, sendo
acolhido pela família Allan. John Allan, seu pai o criou para ser um empresário, mas
Edgar queria mais que tudo poder ser como seu herói, Lord Byron, o mesmo que
ajudara Mary Shelley com as publicações de Frankenstein.
Durante sua vida, Poe perdeu várias paixões, entre elas, a mãe de um amigo
que veio a falecer subitamente. Com a falta de uma figura materna verdadeira, Poe
se sentia acolhido pela mulher, e a notícia de sua morte o chocou a ponto de fazê-lo
entrar em profundo estado de sofrimento, quando em homenagem à sua falecida
paixão, Poe escreveu um poema intitulado “To Helen”, onde ele expressou a beleza
que sempre viu nela.
Durante a vida como universitário, apesar de ser bem versado nas matérias,
Poe acumulou muitas dívidas que acabaram por fazê-lo queimar seus móveis para
se aquecer, e então, frustrado com a falta de apoio de John Allan, decidiu abandonar
a faculdade de vez. Essas dificuldades relacionadas com a pobreza e frustração
serviriam de inspiração para outros poemas curtos, enquanto Poe se distanciava do
estilo longo e elegante de Lord Byron, eventualmente se mudando para Boston,
onde publicaria seu primeiro livro de poesias “Tamerlane and Other Poems”.
Durante seis anos, Poe se mostrou muito produtivo e talvez nos seus
melhores anos de sua vida, onde enquanto trabalhava foi capaz de escrever “Fall of
the House of Usher,” “The Murders in the Rue Morgue,” “The Masque of the Red
Death,” e “Ligeia.”.
Poe enfim recebeu a tão esperada notoriedade com a publicação de sua obra
mais famosa, “The Raven” em 1845 e ao mesmo tempo realizou seu desejo de ser
dono de um jornal literário. Com a morte de sua esposa Virginia, Poe continuaria
29
Edgar Allan Poe foi o autor de várias obras literárias que incluem poemas,
contos e histórias curtas muitas vezes com temáticas mórbidas, sendo o autor
famoso por utilizar de temas controversos e sombrios em seus poemas, tal como
desespero causado por solidão, medo, espíritos, defuntos, enterramento prematuro
etc.
Mas nenhuma obra de Poe impactou tanto o mundo do terror e horror como
“The Raven”, simplesmente por sua habilidade de transmitir a angústia do texto
durante a leitura, assim como fazer com que o leitor se sinta envolvido a nível
pessoal na narrativa com o dilema apresentado entre esquecer e lembrar, por ser
um tema com o qual o leitor pode se identificar com.
Serializações foram famosas durante esse período por ser mais barato
publicar partes da obra do que publicar a obra completa de uma só vez. Foi uma
época de reinvenções para o terror, onde novos gêneros foram criados, e antigos
gêneros como as histórias de fantasmas, reinventados.
A história se resume a ciúmes e obsessão, ambos por parte de Erik que vive
na casa de ópera e se apaixona perdidamente por Christine. A grande revelação da
obra é a descrição do rosto de Erik quando sua máscara é removida por Christine,
revelando um ser magro, com olhos fundos, sem lábios ou nariz e de pele
amarelada, quase semelhante a um esqueleto vivo.
Christine retorna ao local para devolver o anel dourado, assim como enterrar Erik
num local onde nunca o encontrariam, do lado de fora, a manchete dos jornais
dizem “Erik morto”.
Leroux viria a escrever outras obras, entre elas The Mystery of the Yellow
Room que retrata o personagem fictício Joseph Rouletablille que é enviado para
investigar um quarto que foi cena de um crime, onde aparentemente, o assassino
teria desaparecido sem nenhum traço.
The Mystery of the Yellow Room foi escrito com muito detalhismo para que o
leitor se sentisse dentro da sala explorada, incentivando o pensamento lógico do
leitor enquanto se descobre lentamente onde o assassino teria se escondido, o
gênero de investigação levaria à criação de outras obras sobre quartos fechados e
sem saída aparente, um conceito que alcançaria os dias atuais na forma de jogos
digitais.
Lovecraft teve uma vida que acreditava ele, ser um desperdício, por ter escrito
diversas obras, mas nunca ter recebido qualquer tipo de reconhecimento enquanto
ainda vivo, seu sucesso e reconhecimento vindo somente após sua morte.
O horror cósmico não apela para textos assustadores como de costume, mas
transmite dúvida e confusão, justamente por tratar de seres que humanos não tem
como descrever, mas que ativamente tentam se aproximar desse conhecimento
proibido a qualquer custo. Horror cósmico beira o estilo de literatura investigativa,
usando de textos descritivos para localizar o leitor através das narrações de um
personagem.
Lovecraft teria uma contribuição tão grande para o horror que até hoje, suas
obras inspiram novas visões e formas de se aproximar do mythos, seja por meio de
um sistema de RPG (Role-Playing Game), filmes que utilizam de elementos de
obras de Lovecraft como o Necronomicon como até mesmo artes e descrições de
Cthulhu.
35
James dizia que suas obras tinham como intuito fazer o leitor refletir sobre o
que estava acontecendo de forma como que se não fôssemos cuidadosos, algo
similar poderia acontecer conosco, voltanto novamente ao básico do terror:
Transmitir emoções de natureza negativa por meio da leitura e envolvimento pessoal
do leitor com os personagens e suas decisões.
No desenrolar da obra, que nos faz pensar a todo momento que Robert era
um homem comum com uma mãe insana e assassina, nos é revelado que na
verdade Robert havia envenenado sua mãe anos atrás por ciúmes de seu novo
namorado, e desde então, após um interesse em livros de satanismo e ocultismo,
desenvolveu uma condição de psicopatia perigosa, onde ele se vestia com as
roupas de sua mãe e assassinava os hóspedes do hotel por ter se fixado em um
pensamento de não possuir vida além de uma vida devota à sua “mãe”. Capturado,
Robert permite que a personalidade de “sua mãe” tome conta de seu corpo de forma
permanente, com essa nova personalidade afirmando que é melhor assim pois o
verdadeiro perigo estava na personalidade assassina e ciumenta de Robert, e ela
não seria capaz de machucar uma mosca sequer.
Ao mesmo tempo, assassinatos reais inspiravam mais obras, como foi o caso
de Red Dragon e The Silence of the Lambs de Thomas Harris, que apresentaram
assassino Dr. Hannibal Lecter.
37
Adaptado por Simon Hawke, Friday the 13 th segue a história dos roteiros
originais dos filmes exibidos nos cinemas, incluindo Pamela Voorhess e seu filho
Jason em suas caçadas por jovens que estariam engajando em atividade sexual.
Pamela pessoalmente possui um rancor do ato, já que ela havia perdido seu filho
porque instrutores não o salvaram de se afogar por estarem ocupados demais com
sexo durante o horário de trabalho.
38
Jason por outro lado, herda a vontade da mãe de matar todos eles por terem
feito ela sofrer, e pelo que fizeram com ele. Mesmo não dizendo uma palavra, Jason
é um assassino ameaçador por conhecer muito bem a área onde está, não
precisando correr atrás de suas vítimas e sempre as surpreendendo.
Rosemary’s Baby e The Exorcist foram sucessos instantâneos por terem sua
narrativa escrita com base em acontecimentos reais, recebendo também adaptações
para o cinema que também foram sucesso e aclamados pelos críticos, The Exorcist
em especial sendo tido pelo público como “o melhor filme de terror que já existiu”.
King contribui para o terror ainda hoje, e muitas de suas obras foram
adaptadas para o cinema, sendo sua última obra publicada o livro The Institute, em
2020.
Com o fim do século XX, o terror como é hoje se tornou lentamente uma parte
da cultura pop, estando presente em todos os tipos de mídia e como literatura na
forma de HQs.
40
The Walking Dead (2003), escrito por Robert Kirkman, por exemplo é um dos
exemplos de histórias em quadrinhos com uma temática de terror com foco em
zumbis. Inspirado no estilo de zumbi de introduzido por Romero, num cenário
apocalíptico, a trama segue Rick Grimes que acorda de um coma no meio do
apocalipse e de seu filho Carl Grimes que aos poucos se torna o protagonista da
série na medida que vai crescendo e amadurecendo no mundo caótico que agora é
o normal para eles.
A mistura do roteiro e arte fazem com que o leitor se sinta investido na história
e apegado aos personagens, ao ponto de ocorrerem ameaças de boicote quando
um dos personagens favoritos dos fãs ter sido morto de forma brutal na história.
Com o sucesso da HQ, The Walking Dead ganharia uma série de TV própria além
de planos para um filme. Até o presente momento de escrita deste trabalho, ambas
as encarnações de The Walking Dead continuam sendo publicadas periodicamente.
Apesar de viver numa era onde tudo se tornou mais visual com a presença de
filmes e HQs, novos livros e escritores ainda surgiram, mesmo que silenciosamente,
como foi o caso de Coraline (2002) por Neil Gaiman.
Coraline conta a história de uma menina de mesmo nome que a obra, que se
aventura num novo mundo por acidente ao se sentir insatisfeita com sua vida
tediosa e chata. Nesse novo mundo, Coraline é surpreendida por uma versão
aparentemente muito melhor de seu mundo, completo com pais mais divertidos e
41
amorosos e cores vibrantes, mas com uma pequena diferença: Todos os seres vivos
desse lugar têm seus olhos substituídos por botões costurados.
A obra de Gaiman foi tão bem recebida que recebeu diversas encarnações
diferentes, entre eles um programa de TV, um filme, jogos, peças, musicais e até
uma peça de ópera. Coraline também foi muito comparada com a obra de Lewis
Carroll, Alice no País das Maravilhas, por tratar de temas similares como uma
menina jovem perdida num mundo estranho onde nada faz sentido.
Stephen King não só contribuiria para o terror com seus trabalhos como
também nos deu um dos mais impressionantes autores do gênero terror em seu
filho, Joseph Hillstrom King, conhecido pelo pseudônimo Joe Hill.
Joe é um dos nomes do terror mais atuais e bem sucedido com suas obras
que incluem Heart-Shaped Box (2007), Horns (2009) e o bem aclamado pela crítica
NOS4A2 (2013).
Similar ao estilo de King, Joe opta por uma junção de terror sobrenatural e
psicológico, tendo como antagonista, um Vampiro, figura comum associada com
terror, que acha que está fazendo algo bom ao raptar as crianças e leva-las para um
lugar chamado “Christmasland” onde as crianças perdem sua estabilidade
emocional e empatia, se tornando nada mais do que monstros felizes, e o estresse
psicológico de Vic que procura proteger seu filho pelo uso de seus poderes,
correndo o risco de se perder numa insanidade por ser um risco ativo como
consequência do uso desses poderes.
A crítica ficou surpresa com NOS4A2, tendo uma ótima recepção e recebendo
o prêmio Lord Ruthven por Ficção, além de ter sido nomeado para 4 premiações
mais.
O início do milênio traria inícios para novos autores também, como Mark Z.
Danielewski que iniciou sua carreira com a publicação de House of Leaves em 2000.
O enredo gira em torno de uma casa de família que parece ser absurdamente maior
por dentro do que é por fora e exige ações do leitor para que se entenda
completamente a obra.
profundos enquanto comenta sobre a casa, como no caso de uma escadaria que
não leva a lugar nenhum, a escadaria representando a vida.
Com toda essa atenção, a internet entrou num período focado em terror, e
escritores amadores começaram a produzir histórias de terror e contos curtos
incluindo lendas ou figuras fictícias de autoria própria, que se chamaram
Creepypastas.
Outro livro que nasceu da internet foi A Murder of Saints (2017) por Chris
Miller. O livro trata de uma briga ideológica entre dois policiais sobre a vingança de
um jovem que prometeu matar todos os responsáveis pela morte da irmã, que
cometeu suicídio anos antes após o encobrimento de atitudes maliciosas da igreja.
O detetive Harry Fletcher vê justiça na vingança do jovem chamado Charlie, ao
mesmo tempo que Charlie mata inocentes para chegar em seu objetivo final de
vingança.
Com tantos exemplos da ficção de terror, ou horror, e após tanto evoluir sua
visão e se redefinindo várias e várias vezes, qual é o futuro do terror?
CONCLUSÃO
Trabalhar mais com mídia digital foi um desafio, visto que suas inclusões
como fonte de pesquisa muitas vezes podem vir a prejudicar o trabalho mais do que
46
auxiliar, mas devido ao contexto social atual, nos adaptamos aos meios e realizamos
pesquisas de forma produtiva.
O terror, apesar de muitas vezes ser posto de lado para dar lugar a gêneros
mais inclusivos, possui uma beleza no mórbido e profundidade nos temas e
pensamentos abordados pelos autores, profundidade essa que talvez não fosse
atingida se o tópico fosse abordado de forma mais sutil ou branda. O choque de
realidade causado pelo terror é como uma mão gélida no obro que desperta o leitor
para pensamentos controversos que muito raramente são estimulados. Sentir o
medo e o desgosto nos faz entender melhor sobre essas emoções; sentimentos
negativos nos fazem aprender mais sobre nós mesmos, como nos sentimos e como
gostaríamos de ser. Terror provoca mudança, justamente porque o terror em si, não
tem uma definição certa além de sua finalidade: Transmitir emoções e experiências,
que no final de tudo, é o objetivo de todo escritor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Autor desconhecido. NAVAJO PANTHEON. Disponível em: http://
www.stjlabs.com/teachers/humanities/humanities_handouts/big_myth/
CD_resources/NAVAJO_PANTHEON.pdf. Acesso em: 28 out. 2020
Autor desconhecido. THE EPIC OF GILGAMESH. Disponível em: http://
www.ancienttexts.org/library/mesopotamian/gilgamesh/tab2.htm. Acesso em: 13 set.
2020
FULBRIGHT, C. Nightmare on Elm Street Books. Disponível em: http://
GUENTHER, T. Hansel and Gretel. Disponível em: https://www.dltk-
teach.com/fairy-tales/hansel-and-gretel/story.htm. Acesso em: 17 nov. 2020.
HALBERSTAM, J. Technologies of Monstrosity: Bram Stoker's “Dracula". Vict
orian Studies, Bloomington, 36(3), 333-352. Disponível em:
http://www.jstor.org/stable/3828327. Acesso em: 7 out. 2020.
Von FRANZ, M.L. A Sombra e o Mal nos Contos de Fada. São Paulo:
Paulus, 1985. 348 p.