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1.

O Elefante e o Sapo
Sempre que as crianças vêem chegar o tocador de mbulumbumba, Sakusseia, ficam
contentes. Sabem que ele traz uma estória nova para contar. Estória que as diverte, lhes ensina
alguma coisa, lhes mostra os mundos desconhecidos que ele percorre.
Sakusseia chegou, nessa tarde de calor, depois de uma grande ausência. Andou terras,
distâncias de dias e meses. Deve trazer com certeza uma estória nova.
As crianças bateram palmas, gritaram a sua satisfação por vê-lo chegar e imediatamente
perguntaram pela estória linda que desta vez lhes trazia.
-Deixem-me descansar um pouco. Tragam-me uma boa caneca de água e já vos direi o
que sei.
Sakusseia acendeu o cachimbo cravejado de tachas amarelas, puxou duas grandes
fumaças e depois de perguntar como estavam todos acomodou-se melhor sobre o tchine1 que lhe
servia de assento. E depois começou:
«O amigo Elefante, o Njamba e o primo Tchimboto, o Sapo, iam à tardinha namorar duas
irmãs que viviam na casa dos pais, na aldeia próxima. Vocês sabem que o Sapo foi sempre uma
pessoa complexada, devido ao seu tamanho e à voz funda. Por isso mesmo lembrou-se um dia
dizer à noiva do Elefante:
-Passas a vida a gabar o teu noivo, o maior de todos, o mais forte, o mais não sei o quê…
Pois o teu noivo é meu cavalo. Hei-de vir cá um dia montado nele, açoitando-o com uma chibata
feita de rabo de palanca.
A noiva do Elefante ficou envergonhada e lamentou-se junto das amigas. Assim, quando
chegou o Elefante, todas as moças e os rapazes da aldeia gritaram-lhe em coro, troçando:
-Olha o cavalo do Sapo, ah! ah! ah! Olha o cavalo do Sapo, ah! ah! ah!
Nada satisfeito com a brincadeira o Elefante perguntou à noiva o que vinha a ser aquilo,
pois não achava piada que se estivessem a rir dele, sem respeito nenhum. Se ele fosse dos que
se irritam facilmente, nem sabia o que podia acontecer.
A noiva contou-lhe tudo e ele, nada refeito da fúria que o invadira, foi imediatamente à
procura do Sapo e encontrou-o a tomar banho.
-Então tu disseste à minha noiva que eu sou o teu cavalo?
-Eu? Claro que não! Como é que ia dizer uma coisa dessas de ti? – mentiu o Sapo.
-Então vem comigo:. Vamos tirar isso a limpo.
Partiram juntos para a aldeia. A certa altura, queixando-se de que estava exausto e não
completamente recuperando de uma gripe que o atormentava, o Sapo disse com fingido
constrangimento ao Elefante:
-Não posso mais, meu velho. Não posso acompanhar-te. Tens um passo largo demais
para mim. Se me deixasse subir para as tuas costas, não atrasaríamos por minha causa. Doutra
maneira só lá chegaremos amanhã ou depois de amanhã.
O Elefante, que estava interessado em pôr as coisas a claro o mais depressa possível,
consentiu e o Sapo subiu logo. Passos andados, o Sapo continuou a tossir e a espirrar,
lamentando-se.
-Que tens agora? – pergunta o Elefante, nervoso.
-Tenho medo de cair daqui. Se me deixasses procurar uma corda para amarrar à tua
tromba ficaria mais seguro. Assim poderias até correr e chegaríamos mais depressa.
O Elefante, que não queria outra coisa, acedeu imediatamente. O Sapo atou com cuidado
a corda em torno da tromba, como se fossem as rédeas de um cavalo. Aproveitando ainda a
ocasião, levou consigo um pequeno ramo de folhas para enxotar as moscas que incomodavam
constantemente o Elefante.
Vendo-os chegar a galope, os habitantes da aldeia, velhos e novos, sobretudo os jovens
em idade de casar, vieram para a rua a rir e a gritar:
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Almofariz (pilão)
-Olhem, olhem, afinal o Elefante é mesmo o cavalo do Sapo!»
Os pioneiros rebolaram pelo chão a rir. Sakusseia agarrou no seu mbulumbumba e disse:
-Divirtam-se, brinquem, mas não à custa dos outros, nunca à custa do mal alheio. Pensem
no Elefante e no Sapo: os furiosos não conseguem nunca ver claro, distinguir o que melhor fazer.
Perante a afronta e a provocação há que ter calma e escolher cuidadosamente a resposta.
Devemos sempre responder com a razão serena.

In Lenha Seca (adaptado)

EXERCÍCIOS
1. O teu texto “O Elefante e o Sapo” é narrativo.
a) Identifica e classifica as suas personagens quanto ao relevo ou papel.
2. Acção
a) Identifica e classifica-a quanto à importância.
b) Divide a mesma acção em três partes e delimita-as.
c) Classifica-a quanto à conclusão. Justifica.
3. Identifica o tempo cronológico e o espaço físico da narrativa.
4. Classifica o narrador do texto quanto a:
a) Presença ou participação
b) Ciência ou focalização
c) Posição
5. Classifica a narrativa quanto ao tipo. Justifica.
a) Conforme o tipo, que nome específico recebe?

BOM TRABALHO!!!!!

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