THOMPSON, John Brookshire. A Mídia e a Modernidade: Uma Teoria Social da Mídia.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2009
A Mídia e o Desenvolvimento das Sociedades Modernas
Com base na obra de Thompson, em meados do século XV as sociedades estavam se desenvolvendo e tornando-se cada vez mais modernas e necessitava de mudanças para o seu funcionamento. Podemos listar essas transformações de forma mais clara. A primeira, a transformação econômica; o sistema econômico feudalismo vai se transformando no sistema econômico capitalista de produção e intercambio. A segunda, a transformação política; onde ouve maior delimitação dos territórios (estados-nações), a centralização da administração e tributação. A terceira, o poder militar estava concentrando o monopólio do uso legítimo da força dentro de um determinado território, segundo Max Weber. Sobrando as transformações culturais/simbólicas, que serão analisadas pelo meio da produção e circulação das formas simbólicas no mundo social. Os modelos de comunicação e interação se transformaram de maneira profunda e irreversível, tendo na metade do século XV o desenvolvimento das organizações da mídia e sua expansão desde então. -Algumas dimensões institucionais das sociedades modernas Thompson nos traz uma análise da mediação da cultura desde o final do século XV até o século XX, onde serão analisadas as instituições associadas com o advento das sociedades modernas, com base nos tipos de poder. Primeiramente, o poder econômico. A economia feudal era agrária, a produção era de subsistência e para tributos ao senhor feudal (dono das terras em que o camponês trabalhava). Desde o século XI, um tipo de comercio vinha se expandindo, já era possível que os trabalhadores livres acumulassem um pouco de capital para incrementar mais no comércio. Com a evolução gradual disso, meados de 1450, surge o capitalismo, mudando as formas de produção e intercâmbio de mercadorias para qualquer lugar no mundo. Agora os indivíduos produziam em longas escalas, tinha trabalhadores assalariados, os produtos eram vendidos em escala muito maior, possibilitando a geração de lucros e consequentemente, de capital acumulado. Amsterdã e Londres vieram a se tornar grandes centros de acumulação de capital e poder econômico. Com a Revolução Industrial no século XVIII, aumentou ainda mais a capacidade produtiva das empresas, tudo isso dentro do sistema capitalista. Na Europa Medieval, o poder político era muito fragmentado, havendo até o século XIV mais de 500 unidades políticas. Já no século XVIII, esse número foi reduzido a 25 estados. Essas unidades políticas se caracterizavam por ter um governo e administração centralizados, cada um reivindicando soberania sobre um território por meio do poder coercitivo. A formação desses estados modernos viera com criações de um sentimento/identidade nacionalista. Esse sentimento trazia vantagens para o governo, pois consolidaria seu estado, oposição a ideias separatistas e mobilização de apoio para fins militares. Algumas potências europeias conquistaram territórios estrangeiros, que forneciam matéria prima para os capitalistas da Europa, e estabeleceram um sistema de administração colonial nesses territórios. Essa forma de centralizar o governo e a admiração do país se caracterizou em muitos países como França, Prússia, entre outros, como absolutismo monárquico. O monarca absoluto era superior a todas as leis humanas, respondendo apenas as leis de Deus. Mas a burguesia desejava ter sua participação na vida política, então a partir do século XVIII, o absolutismo foi substituído em alguns países por uma democracia e em outros por uma monarquia moderada (onde o rei não governa mais). E com mudanças de grande porte, o poder simbólico sofreu alterações. Primeiro, o papel das instituições religiosas. A Igreja Católica era quem detinha o monopólio do poder simbólico e possuía alianças entre políticos e a elite religiosa. Porém, com o advento do protestantismo no século XVI e o fortalecimento dos sistemas de administração europeus, esse monopólio da Igreja Católica foi abalado. A autoridade religiosa foi fragmentada e seu poder entrou em declínio. Segundo ponto, a expansão das ciências, que se libertaram da tutela da religião e puderam passar o conhecimento científico, fazendo com que a educação ganhasse mais autonomia. Escolas e universidades pudera transmitir formas de conhecimento dos mais diversos. Entretanto, somente a elite que tinha acesso às escolas e universidades. E por fim, a mudança da escrita para a impressão. -Comunicação, mercantilização e o advento da imprensa O Autor nos traz as novas técnicas de impressão desenvolvidas originalmente por Gutenberg, como um gatilho para o estabelecimento de novas bases poder do simbólico. Tal invenção se espalhou por toda Europa, onde o seu crescimento foi notório devido ao capitalismo. O surgimento da indústria gráfica representou o surgimento de novos centros de poder simbólico, em que o Estado e a Igreja queriam controlar para usar em benefício próprio. As primeiras formas papel e impressão foram desenvolvidas na China. Eles fabricavam seus papeis com plantas têxteis e através de mercadores esse papel chegou na Europa, e só a partir do século XIII o papel europeu começou a ser produzido. Sendo a Itália a maior fabricante e fornecedora de papel na Europa. A primeira invenção do tipo móvel é atribuída a Pi Sheng, que usou argila para fazer os caracteres. E os coreanos foram os primeiros a usar tipos móveis de metal. Blocos de impressão apareceram na Europa nó o século XIV, porém, o de Gutenberg se diferencia dos chineses no uso de tipos de alfabéticos e não ideográficos e a invenção da máquina impressora. Ele também desenvolveu um método de duplicar a fundição das letras de metal, assim poderia produzir textos mais extensos. Já em 1450 Gutenberg já havia aperfeiçoado a técnica para comercializar. Em 1480 já havia tipografias instaladas em mais de 100 cidades pela Europa e um comércio de livros tinha surgido. No final do século XV já havia pelo menos 35.000 edições produzidas e importadas. Muitos desses livros eram em latim e de caráter religioso como (cerca de 45%). Antes disso os livros eram copiados por escribas ou copistas. Os livreiros vendiam tanto dos livros manuscritos quanto os impressos, esse último tinha um formato similar ao livro dos copistas, mas com o tempo criaram sua própria identidade. O surgimento da indústria editorial criou centros e redes de poder simbólico que se baseavam nos princípios do mercantilismo. A igreja sempre tentou controlar a impressão de livros, chegando até mesmo a proibir esse ato sem a permissão do clero. Ao passar dos anos nível de censura cresceu e em 1559 surge um index dos livros proibidos pela igreja. Porém ao passar dos séculos esse index foi perdendo a força, pois os editores sempre achavam formas de burlar os censores. E segundo Thompson, essa censura estimulava um vigoroso comércio de contrabando de livros. A imprensa contribuiu para a difusão do protestantismo (as teses de Lutero e a bíblia em linguagem vernácula); facilitou e estimulou o renascimento do interesse pela Antiguidade; tornou mais fácil acumular e difundir dados sobre os mundos natural e social. Os primeiros leitores dos livros produzidos na imprensa era a elite urbana e política, clero, professores e estudantes. Entretanto, apesar de setores mais inferiores da sociedade tivessem tido taxas altas taxas de analfabetismo, ainda é provável que trabalhadores livres tivessem tido acesso a esses livros, de forma repassada/revendida, livros populares ou lidas em voz alta nas praças públicas. A medida em que os livros impressos foram se propagando no século XVI, grande quantidade de livros foram impressos nas línguas vernáculas, e isso se ligou também ao crescimento e consolidação dos estados nacionalistas. -O surgimento do comércio de notícias Thompson relata que antes do aparecimento da imprensa, as redes de comunicação eram divididas em quatro: religiosa, comercial, política e a dos trovadores. Ele também diz que ao longo dos séculos essas redes passaram por dois grandes desenvolvimentos: primeiro, onde grandes estados começaram serviços postais regulares, que rapidamente foram evoluindo, abrangendo um espaço maior e tempos de entregas mais curtos; segundo, foi o usa da imprensa na produção e disseminação de notícias em folhetos de forma ainda irregular. E isso fez com que houvesse o aparecimento de uma variedade de publicações periódicas de notícias e informações na segunda metade do século XVI. Em 1609 folhas semanais eram publicadas pela Alemanha. A preocupação com essas primeiras notícias era sobre o estrangeiro, e assim os indivíduos ficavam sabendo das notícias mesmo estando a quilômetros de distância do acontecimento. O primeiro jornal a aparecer na Inglaterra foi produzido na Alemanha e exportado para Londres. Além disso, nesse período, a Inglaterra sofreu forte censura por parte do parlamento e monarquia, que só fez prolongar o seu período de evolução, só em 1860 foram abolidos qualquer decreto de censura ou altas cobranças de impostos. O primeiro jornal diário na Inglaterra foi Daily Courant, em 1702. Londres já tinha cinco jornais bem, especializados e estabelecidos em 1750, onde o total de circulação beirava as 100.000 cópias por semana, que eram também distribuídos pelas províncias. Muitos desses leitores frequentavam cafés, que eram pontos de debate das notícias. A luta pela imprensa independente desempenhou um papel importante na evolução do estado constitucional moderno. Seria como se a imprensa pudesse expressar uma opinião contra o uso despótico do poder do estado. E isso se tornou tão importante que a imprensa tinha se tornado uma questão constitucional em muitos estados do ocidente, tendo assim, a liberdade de opinar permitido por lei. -Teoria da esfera pública: uma avaliação preliminar Nesse capítulo, Thompson faz uma crítica a primeira obra de Habermas, "Mudança estrutural da esfera pública" uma das poucas obras recentes que falam sobre a imprensa independente. Habermas fala sobre a esfera pública burguesa, que surgiu a partir do desenvolvimento do capitalismo mercantil, e essa esfera era constituída pela elite burguesa, que se reunia em cafés para debater questões sociais e políticas, onde o estado poderia ser confrontado e criticado. Habermas atribui a emergência da esfera pública burguesa ao surgimento da imprensa periódica, que começou a surgir no final do século XVII e no início do século XVIII as publicações eram pouco controladas e censuradas, o que tornou as condições favoráveis. Contudo, Thompson diz que Habermas não considerou os movimentos da plebe (movimentos populares) como um fator de importância política para o desenvolvimento da imprensa periódica, que muitas vezes chegava a confrontar os interesses da esfera pública burguesa, então não podemos falar que eram movimentos conjuntos ou até mesmo similares. Thompson também cita outros autores, que defenderam a importância da participação dos movimentos variados e populares para a imprensa moderna. Thompson também crítica a obra de Habermas, que ao centralizar a atenção apenas a dois periódicos que tinham ideias que convergiam com as suas, acabou por desconsiderar vários outros periódicos, que vieram antes e eram mais comuns que os citados por Habermas. Também é criticada a exclusão das mulheres na ideia da esfera pública burguesa por parte de Habermas, que além de se restringir para as elites instruídas, também conservava um público em sua grande maioria, de homens. A forma como Habermas explica o declínio da esfera também é criticada por Thompson, que concorda que há certa substância na explicação de Habermas, mas a mesma é fraca e insuficiente, além de presunçosa. Ao exagerar na passividade dos indivíduos e focalizar na intervenção do estado e comerciarão da mídia como motivos para esse declínio, Habermas deixa de considerar outros fatores de desenvolvimento dos meios da comunicação, deixando sua argumentação fraca. -Crescimento das indústrias da mídia E por fim, a obra de Thompson destaca três tendências que foram centrais no desenvolvimento das industrias da mídia desde o início do século XIX. Primeiro, a transformação da indústria em interesses comerciais. Isso se deu graças as inovações de técnicas da imprensa (máquinas a vapor), a transformação da base de financiamento das industrias da mídia (público mais vasto por conta da abolição dos impostos. Com o maior número de leitores, a propaganda comercial foi um meio para venda de bens e serviços), o crescimento da população urbana e diminuição do analfabetismo. Isso tudo favoreceu a expansão do mercado de impressos. Segundo ponto, a globalização da comunicação, que acabou assumindo uma forma muito mais extensiva e organizada, desenvolvendo agendas internacionais com sede nas principais cidades da Europa. E finalmente, o uso na energia elétrica na comunicação. Agora já era possível por meio dos telégrafos passar mensagens de maneira mais rápida. Em 1840 tendo um alcance em escala comercial, tendo o rádio e 1920 e a televisão em 1940, que se tornaram rapidamente universais. Os processos de globalização se aproximaram as partes mais distantes do globo por meio de teias de interdependência bem mais complexas. O desenvolvimento de várias tecnologias midiáticas está ligado diretamente com o poder coercitivo, econômico e político. Esses novos desenvolvimentos estão criando um cenário técnico em que informação e o conteúdo simbólico vem tendo mais flexibilidade no manuseio da informação quanto em sua transmissão.