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Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Comunicação Social

Disciplina: História da mídia

Professor(a): Fabiana Morais

Acadêmica: Daniele Cristina Santos Leite

THOMPSON, John Brookshire. A Mídia e a Modernidade: Uma Teoria Social da Mídia.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2009

A Mídia e o Desenvolvimento das Sociedades Modernas


Com base na obra de Thompson, em meados do século XV as sociedades estavam se
desenvolvendo e tornando-se cada vez mais modernas e necessitava de mudanças para o seu
funcionamento. Podemos listar essas transformações de forma mais clara. A primeira, a
transformação econômica; o sistema econômico feudalismo vai se transformando no sistema
econômico capitalista de produção e intercambio. A segunda, a transformação política; onde
ouve maior delimitação dos territórios (estados-nações), a centralização da administração e
tributação. A terceira, o poder militar estava concentrando o monopólio do uso legítimo da força
dentro de um determinado território, segundo Max Weber.
Sobrando as transformações culturais/simbólicas, que serão analisadas pelo meio da
produção e circulação das formas simbólicas no mundo social. Os modelos de comunicação e
interação se transformaram de maneira profunda e irreversível, tendo na metade do século XV o
desenvolvimento das organizações da mídia e sua expansão desde então.
-Algumas dimensões institucionais das sociedades modernas
Thompson nos traz uma análise da mediação da cultura desde o final do século XV até
o século XX, onde serão analisadas as instituições associadas com o advento das sociedades
modernas, com base nos tipos de poder.
Primeiramente, o poder econômico. A economia feudal era agrária, a produção era de
subsistência e para tributos ao senhor feudal (dono das terras em que o camponês trabalhava).
Desde o século XI, um tipo de comercio vinha se expandindo, já era possível que os
trabalhadores livres acumulassem um pouco de capital para incrementar mais no comércio. Com
a evolução gradual disso, meados de 1450, surge o capitalismo, mudando as formas de produção
e intercâmbio de mercadorias para qualquer lugar no mundo. Agora os indivíduos produziam
em longas escalas, tinha trabalhadores assalariados, os produtos eram vendidos em escala muito
maior, possibilitando a geração de lucros e consequentemente, de capital acumulado. Amsterdã
e Londres vieram a se tornar grandes centros de acumulação de capital e poder econômico. Com
a Revolução Industrial no século XVIII, aumentou ainda mais a capacidade produtiva das
empresas, tudo isso dentro do sistema capitalista.
Na Europa Medieval, o poder político era muito fragmentado, havendo até o século XIV
mais de 500 unidades políticas. Já no século XVIII, esse número foi reduzido a 25 estados.
Essas unidades políticas se caracterizavam por ter um governo e administração centralizados,
cada um reivindicando soberania sobre um território por meio do poder coercitivo. A formação
desses estados modernos viera com criações de um sentimento/identidade nacionalista. Esse
sentimento trazia vantagens para o governo, pois consolidaria seu estado, oposição a ideias
separatistas e mobilização de apoio para fins militares. Algumas potências europeias
conquistaram territórios estrangeiros, que forneciam matéria prima para os capitalistas da
Europa, e estabeleceram um sistema de administração colonial nesses territórios.
Essa forma de centralizar o governo e a admiração do país se caracterizou em muitos
países como França, Prússia, entre outros, como absolutismo monárquico. O monarca absoluto
era superior a todas as leis humanas, respondendo apenas as leis de Deus. Mas a burguesia
desejava ter sua participação na vida política, então a partir do século XVIII, o absolutismo foi
substituído em alguns países por uma democracia e em outros por uma monarquia moderada
(onde o rei não governa mais).
E com mudanças de grande porte, o poder simbólico sofreu alterações. Primeiro, o
papel das instituições religiosas. A Igreja Católica era quem detinha o monopólio do poder
simbólico e possuía alianças entre políticos e a elite religiosa. Porém, com o advento do
protestantismo no século XVI e o fortalecimento dos sistemas de administração europeus, esse
monopólio da Igreja Católica foi abalado. A autoridade religiosa foi fragmentada e seu poder
entrou em declínio. Segundo ponto, a expansão das ciências, que se libertaram da tutela da
religião e puderam passar o conhecimento científico, fazendo com que a educação ganhasse
mais autonomia. Escolas e universidades pudera transmitir formas de conhecimento dos mais
diversos. Entretanto, somente a elite que tinha acesso às escolas e universidades. E por fim, a
mudança da escrita para a impressão.
-Comunicação, mercantilização e o advento da imprensa
O Autor nos traz as novas técnicas de impressão desenvolvidas originalmente por
Gutenberg, como um gatilho para o estabelecimento de novas bases poder do simbólico. Tal
invenção se espalhou por toda Europa, onde o seu crescimento foi notório devido ao
capitalismo. O surgimento da indústria gráfica representou o surgimento de novos centros de
poder simbólico, em que o Estado e a Igreja queriam controlar para usar em benefício próprio.
As primeiras formas papel e impressão foram desenvolvidas na China. Eles fabricavam seus
papeis com plantas têxteis e através de mercadores esse papel chegou na Europa, e só a partir do
século XIII o papel europeu começou a ser produzido. Sendo a Itália a maior fabricante e
fornecedora de papel na Europa.
A primeira invenção do tipo móvel é atribuída a Pi Sheng, que usou argila para fazer os
caracteres. E os coreanos foram os primeiros a usar tipos móveis de metal. Blocos de impressão
apareceram na Europa nó o século XIV, porém, o de Gutenberg se diferencia dos chineses no
uso de tipos de alfabéticos e não ideográficos e a invenção da máquina impressora. Ele também
desenvolveu um método de duplicar a fundição das letras de metal, assim poderia produzir
textos mais extensos. Já em 1450 Gutenberg já havia aperfeiçoado a técnica para comercializar.
Em 1480 já havia tipografias instaladas em mais de 100 cidades pela Europa e um comércio de
livros tinha surgido.
No final do século XV já havia pelo menos 35.000 edições produzidas e importadas.
Muitos desses livros eram em latim e de caráter religioso como (cerca de 45%). Antes disso os
livros eram copiados por escribas ou copistas. Os livreiros vendiam tanto dos livros manuscritos
quanto os impressos, esse último tinha um formato similar ao livro dos copistas, mas com o
tempo criaram sua própria identidade.
O surgimento da indústria editorial criou centros e redes de poder simbólico que se
baseavam nos princípios do mercantilismo. A igreja sempre tentou controlar a impressão de
livros, chegando até mesmo a proibir esse ato sem a permissão do clero. Ao passar dos anos
nível de censura cresceu e em 1559 surge um index dos livros proibidos pela igreja. Porém ao
passar dos séculos esse index foi perdendo a força, pois os editores sempre achavam formas de
burlar os censores. E segundo Thompson, essa censura estimulava um vigoroso comércio de
contrabando de livros. A imprensa contribuiu para a difusão do protestantismo (as teses de
Lutero e a bíblia em linguagem vernácula); facilitou e estimulou o renascimento do interesse
pela Antiguidade; tornou mais fácil acumular e difundir dados sobre os mundos natural e social.
Os primeiros leitores dos livros produzidos na imprensa era a elite urbana e política,
clero, professores e estudantes. Entretanto, apesar de setores mais inferiores da sociedade
tivessem tido taxas altas taxas de analfabetismo, ainda é provável que trabalhadores livres
tivessem tido acesso a esses livros, de forma repassada/revendida, livros populares ou lidas em
voz alta nas praças públicas. A medida em que os livros impressos foram se propagando no
século XVI, grande quantidade de livros foram impressos nas línguas vernáculas, e isso se ligou
também ao crescimento e consolidação dos estados nacionalistas.
-O surgimento do comércio de notícias
Thompson relata que antes do aparecimento da imprensa, as redes de comunicação eram
divididas em quatro: religiosa, comercial, política e a dos trovadores. Ele também diz que ao
longo dos séculos essas redes passaram por dois grandes desenvolvimentos: primeiro, onde
grandes estados começaram serviços postais regulares, que rapidamente foram evoluindo,
abrangendo um espaço maior e tempos de entregas mais curtos; segundo, foi o usa da imprensa
na produção e disseminação de notícias em folhetos de forma ainda irregular.
E isso fez com que houvesse o aparecimento de uma variedade de publicações
periódicas de notícias e informações na segunda metade do século XVI. Em 1609 folhas
semanais eram publicadas pela Alemanha. A preocupação com essas primeiras notícias era
sobre o estrangeiro, e assim os indivíduos ficavam sabendo das notícias mesmo estando a
quilômetros de distância do acontecimento. O primeiro jornal a aparecer na Inglaterra foi
produzido na Alemanha e exportado para Londres. Além disso, nesse período, a Inglaterra
sofreu forte censura por parte do parlamento e monarquia, que só fez prolongar o seu período de
evolução, só em 1860 foram abolidos qualquer decreto de censura ou altas cobranças de
impostos. O primeiro jornal diário na Inglaterra foi Daily Courant, em 1702. Londres já tinha
cinco jornais bem, especializados e estabelecidos em 1750, onde o total de circulação beirava as
100.000 cópias por semana, que eram também distribuídos pelas províncias. Muitos desses
leitores frequentavam cafés, que eram pontos de debate das notícias.
A luta pela imprensa independente desempenhou um papel importante na evolução do
estado constitucional moderno. Seria como se a imprensa pudesse expressar uma opinião contra
o uso despótico do poder do estado. E isso se tornou tão importante que a imprensa tinha se
tornado uma questão constitucional em muitos estados do ocidente, tendo assim, a liberdade de
opinar permitido por lei.
-Teoria da esfera pública: uma avaliação preliminar
Nesse capítulo, Thompson faz uma crítica a primeira obra de Habermas, "Mudança estrutural da
esfera pública" uma das poucas obras recentes que falam sobre a imprensa independente.
Habermas fala sobre a esfera pública burguesa, que surgiu a partir do desenvolvimento do
capitalismo mercantil, e essa esfera era constituída pela elite burguesa, que se reunia em cafés
para debater questões sociais e políticas, onde o estado poderia ser confrontado e criticado.
Habermas atribui a emergência da esfera pública burguesa ao surgimento da imprensa periódica,
que começou a surgir no final do século XVII e no início do século XVIII as publicações eram
pouco controladas e censuradas, o que tornou as condições favoráveis.
Contudo, Thompson diz que Habermas não considerou os movimentos da plebe (movimentos
populares) como um fator de importância política para o desenvolvimento da imprensa
periódica, que muitas vezes chegava a confrontar os interesses da esfera pública burguesa, então
não podemos falar que eram movimentos conjuntos ou até mesmo similares. Thompson também
cita outros autores, que defenderam a importância da participação dos movimentos variados e
populares para a imprensa moderna. Thompson também crítica a obra de Habermas, que ao
centralizar a atenção apenas a dois periódicos que tinham ideias que convergiam com as suas,
acabou por desconsiderar vários outros periódicos, que vieram antes e eram mais comuns que os
citados por Habermas.
Também é criticada a exclusão das mulheres na ideia da esfera pública burguesa por parte de
Habermas, que além de se restringir para as elites instruídas, também conservava um público
em sua grande maioria, de homens. A forma como Habermas explica o declínio da esfera
também é criticada por Thompson, que concorda que há certa substância na explicação de
Habermas, mas a mesma é fraca e insuficiente, além de presunçosa. Ao exagerar na passividade
dos indivíduos e focalizar na intervenção do estado e comerciarão da mídia como motivos para
esse declínio, Habermas deixa de considerar outros fatores de desenvolvimento dos meios da
comunicação, deixando sua argumentação fraca.
-Crescimento das indústrias da mídia
E por fim, a obra de Thompson destaca três tendências que foram centrais no
desenvolvimento das industrias da mídia desde o início do século XIX.
Primeiro, a transformação da indústria em interesses comerciais. Isso se deu graças as
inovações de técnicas da imprensa (máquinas a vapor), a transformação da base de
financiamento das industrias da mídia (público mais vasto por conta da abolição dos impostos.
Com o maior número de leitores, a propaganda comercial foi um meio para venda de bens e
serviços), o crescimento da população urbana e diminuição do analfabetismo. Isso tudo
favoreceu a expansão do mercado de impressos. Segundo ponto, a globalização da
comunicação, que acabou assumindo uma forma muito mais extensiva e organizada,
desenvolvendo agendas internacionais com sede nas principais cidades da Europa. E finalmente,
o uso na energia elétrica na comunicação. Agora já era possível por meio dos telégrafos passar
mensagens de maneira mais rápida. Em 1840 tendo um alcance em escala comercial, tendo o
rádio e 1920 e a televisão em 1940, que se tornaram rapidamente universais. Os processos de
globalização se aproximaram as partes mais distantes do globo por meio de teias de
interdependência bem mais complexas.
O desenvolvimento de várias tecnologias midiáticas está ligado diretamente com o
poder coercitivo, econômico e político. Esses novos desenvolvimentos estão criando um cenário
técnico em que informação e o conteúdo simbólico vem tendo mais flexibilidade no manuseio
da informação quanto em sua transmissão.

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