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Diretrizes
Escola
Restaurativa
Expediente
Diretoria Executiva da Educação Básica
Sumário
14 » 1.1 O que são Práticas Restaurativas?
17 » 1.2 O facilitador nas Práticas Restaurativas
21 » 1.3 Qual a relação entre as Práticas Restaurativas
e a Educação em Direitos Humanos?
24 » 2. Práticas Restaurativas e o Manejo de Conflitos
26 » 2.1 Práticas Restaurativas e o Desenvolvimento das
Habilidades Socioemocionais
29 » 2.2 O que são conflitos e como manejá-los de forma não violenta?
30 » 2.2.1 Como manejar os conflitos de forma não violenta?
32 » 2.2.2 Quais são os Métodos Restaurativos e Manejo dos Conflitos?
33 » 2.2.2.1 Perguntar Restaurativo
34 » 2.2.2.2 Conversar Restaurativo
35 » 2.2.2.3 Círculo de Classe ou Hora do Círculo
36 » 2.2.2.4 Encontro Restaurativo ou Conferências Restaurativa
37 » 2.2.2.5 Reuniões Restaurativas
38 » 2.2.2.6 Mediação por pares
39 » 2.2.2.7 Os Métodos Circulares e as Perguntas Restaurativas
43 » 3. Práticas Restaurativas em sala de aula
44 » 3.1 Princípios e Valores Restaurativos
45 » 3.1.1 Participação
48 » 3.1.2 Inclusão
50 » 3.1.3 Escuta qualificada
52 » 3.1.4 Respeito
54 » 3.1.5 Conexão
Sumário
56 » 3.1.6 Corresponsabilidade
59 » 3.2 Práticas Restaurativas e as Metodologias Ativas
63 » 3.3 Planejamento Pedagógico e as Práticas Restaurativas
65 » 3.4 As Práticas Restaurativas como Metodologia Didática inserida
no Planejamento Pedagógico
69 » 3.5 As Práticas Restaurativas para a Gestão de Sala de Aula inseridas
no Planejamento Pedagógico
70 » 3.6 As Práticas Restaurativas para o Manejo de Conflitos inseridas
no Planejamento Pedagógico
72 » 4. Construindo uma Escola Restaurativa
81 » Referências
86 » Anexos
87 » 4.1 Relatos e Práticas
88 » Escola Social Marista Ir. Rui
92 » Marista Escola Social Cascavel
96 » Marista Escola Social Ir. Lourenço
101 » Colégio Marista Cascavel
104 » Colégio Marista São Francisco
109 » Benchmarking de duas escolas do Estado do Amapá
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Bonnie Neugebauer
(Editor Child Care Exchange)1
1
Centro de Referências em Educação
Integral: http://educacaointegral.org.br/
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» Apresentação Voltar ao menu
Apresentação
“Uma educação comprometida com a solidariedade e transformação social, atenta às culturas e ao
respeito ao meio ambiente[...] sem discriminação, criadora de espaços[..].”
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que uma metodologia, as práticas restaurativas assumem o lugar de ciência social a serviço da
integridade e inteireza dos sujeitos.
É neste contexto, situando-se como horizonte, que nascem as Diretrizes da Escola Restaurativa, num
processo de escuta ativa das unidades, de estudos dedicados em relação aos desafios da educação
contemporânea e de diálogos exigentes entre os tantos sujeitos da missão Marista. É certo que irão
auxiliar de forma expressiva o trabalho em todas as unidades de Educação Básica do Grupo Marista
– Marista Escolas Sociais, Escolas Champagnat e Colégios Maristas, fortalecendo todo o trabalho em
rede. Outrossim, as diretrizes da Escola Restaurativa estão em consonância com a BNCC, as ODSs
e o Pacto Global de Educação, aderentes à formação integral e ao projeto de educação qualificada,
colaborativa e transformadora.
Com o intuito de assegurar uma experiência mediada, sistemática, de aprendizagens e boa consulta,
estas diretrizes apresentam quatro capítulos estruturais: O que é justiça restaurativa?; Práticas
restaurativas e manejo de conflitos; Práticas restaurativas em sala de aula; e Construindo escolas
restaurativas. Este último, em particular, é muito provocativo e ilustrativo das experiências possíveis
e necessárias em nossas unidades, tratando especialmente do acolhimento, da escuta e da resolução
de conflitos. Diz-se sobre essas experiências que, a “[...] pluralidade de identidades e modos de ser
criança, adolescente, jovem e adultos, com suas linguagens e culturas referentes a subjetividade[...] é
(são) um fenômeno de impressionante complexidade[...]” (UMBRASIL, 2010, p. 57, grifo nosso). Portanto,
reconhecer essa diversidade das populações escolares exige aprofundada reflexão e intensa
dedicação e acolhimento, como propõe o Projeto Educativo do Brasil Marista.
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» Introdução Voltar ao menu
1. Introdução
As diretrizes da escola restaurativa têm como objetivo auxiliar as escolas e
colégios no trato das situações conflitantes que permeiam o espaço educativo,
contribuindo com uma abordagem integral das situações que envolvem conflitos,
sentimentos e necessidades dos sujeitos, abrangendo assim suas dimensões
simbólicas, psicológicas e materiais (JACCOULD, 2005).
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tomadas de decisão e resolução dos conflitos, restaurando atingida pelo fato e de um ou mais facilitadores
relações significativas num mundo onde as conectividades restaurativos;
estão cada vez mais fluidas.
II – as práticas restaurativas são coordenadas por
A Justiça Restaurativa, como explicada por Scuro Neto (2007), facilitadores restaurativos capacitados em técnicas
constitui-se de um sistema teórico-valorativo fundamentado autocompositivas e consensuais de soluções de conflitos
nos princípios de corresponsabilidade de todos os envolvidos próprias da Justiça Restaurativa, podem ser servidores
na infração (vítima, infrator e demais interessados) na busca do tribunal, agente público, voluntário ou indicado por
de respostas e soluções para o dano causado. Pressupõe, ao entidades parceiras;
contrário do modelo político-jurídico centrado na ideia abstrata
de crime-punição, participação comunitária e edificação de III – as práticas restaurativas terão com foco a
relações horizontais de poder, incluindo o poder jurisdicional, satisfação das necessidades de todos os envolvidos,
sendo esta uma alternativa para mitigar os problemas e a responsabilização ativa daqueles que contribuíram
limitações (anseios por justiça, genuína responsabilização dos direta ou indiretamente para a ocorrência do fato danoso
ofensores e atendimento das necessidades das vítimas) do e o empoderamento da comunidade, destacando a
sistema jurídico vigente (AMSTUTZ; MULLET, 2012). necessidade da reparação do dano e da recomposição do
tecido social rompido pelo conflito e as suas implicações
No Brasil, o Conselho Nacional de Justiça define a Justiça para o futuro. (BRASIL, 2016, p. 3-4).
Restaurativa por meio da Resolução 225, de 31 de maio de 2016,
como sendo: Embora a Justiça Restaurativa compreenda a importância do
encaminhamento e solução não punitiva dos conflitos (crimes),
Um conjunto ordenado e sistêmico de princípios, métodos, é preciso destacar que, do ponto de vista político criminal e
técnicas e atividades próprias, que visa à conscientização institucional do Estado, este modelo de solução dos conflitos
sobre os fatores relacionais, institucionais e sociais ainda permanece subordinado à centralidade das instituições
motivadores de conflitos e violência, e por meio do de Estado/operadores da justiça, ou seja, do Ministério Público
qual os conflitos geram dano, concreto ou abstrato, são e do Poder Judiciário, os quais darão a última palavra ao
solucionados de modo estruturado na seguinte forma: desfecho do conflito.
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O conflito, a partir da óptica das Práticas Restaurativas, não é Importante destacar que a escrita dessa diretriz acontece
entendido como algo negativo, mas passa a ser encarado como em um momento histórico, do ponto de vista do cenário de
uma oportunidade de aprendizagem e crescimento pessoal. transformações do mundo globalizado e as problemáticas
Entretanto, se faz necessário seu manejo favorecendo o culturais, políticas e socioeconômicas que o país e o mundo
diálogo, o atendimento das necessidades, e o consenso entre enfrentam, em virtude de um contexto pandêmico gerado pelo
os envolvidos na busca por soluções de reparação por meio de coronavírus que causou a Covid-19. O referido contexto exigiu
ferramentas e técnicas que tornem o manejo do conflito não que a Educação Básica também se reinventasse, buscando
violento. meios para estabelecer relações efetivas e significativas,
a distância, para dar conta de continuar promovendo o
Neste sentido, a inserção das Práticas Restaurativas no contexto desenvolvimento de seus estudantes. E é acreditando que, no
escolar contribui para que a escola cumpra o seu papel de pós-pandemia, a necessidade de escuta ativa e significativa,
educar e formar cidadãos conscientes e corresponsáveis pelo bem como de construção ou de fortalecimento dos vínculos,
seu bem-estar e dos demais, exercendo um papel formador continuará sendo de extrema importância, que apostamos
comprometido em promover a democracia, os direitos na metodologia das Práticas Restaurativas, como excelente
humanos, a prevenção à violência e a cultura da paz. recurso para atuação das equipes.
A implementação das Práticas Restaurativas se compõe Esperamos que essa diretriz possibilite uma compreensão
como um movimento social que busca instalar de modo geral dos conceitos de Justiça Restaurativa e Práticas
concreto a cultura da paz e dos Direitos Humanos na Restaurativas e que incida sobre a prática cotidiana das
efetividade da sala de aula, método escolhido e adotado unidades educacionais no desenvolvimento da cultura de paz
para a efetivação da mediação dos conflitos pelas escolas e e de ambientes seguros.
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» 1. O que é Justiça Restaurativa? Voltar ao menu
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“Paradigma da conexão” é um conceito utilizado pelo grupo de trabalho que consolidou a presente
diretriz na tentativa de expressar a importância do coletivo e da conexão deste na implementação da
cultura da paz. O professor Marcelo Pelizzoli, no livro “Justiça Restaurativa: Caminhos da Pacificação
Social”, destaca a importância do trabalho coletivo para a consolidação de uma nova cultura, e uma
inteligência coletiva que se paute na cultura da Paz e das Práticas Restaurativas. Dessa forma,
utilizamos o conceito inspirado nas discussões feitas na obra citada (PELIZZOLI, 2016). 11
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A metodologia da Justiça Restaurativa se configura como o ou um procedimento determinado, ainda mais no Brasil, um
encontro das pessoas vitimadas, que sofreram dano, com seus país com dimensões continentais. Há valores e princípios
agressores, que cometeram danos, ou autor do ato indesejado, comuns que identificam a Justiça Restaurativa. Entretanto,
num processo de inclusão ativo da vítima no processo há um caminho sendo percorrido pela Justiça Restaurativa e
penal a fim de discutir o crime, ou ato indesejado e suas que vem ampliando sua área de atuação e direcionando para
consequências por meio de reuniões e conversas restaurativas outros campos, como o escolar, familiar, empresarial e outros.
com a presença de um facilitador. O resultado esperado dentro Sob a ótica da Justiça Restaurativa, podemos denominar que
de um procedimento de Justiça Restaurativa é a reparação há um subconjunto de Práticas Restaurativas que consistem
dos eventuais danos causados, sejam eles patrimoniais ou em respostas formais ou informais pautadas nos princípios
morais, e a reintegração da vítima e do autor do ato indesejado da conexão, respeito, inclusão, reparação de danos, acolhida e
na comunidade, sem estigma ou “marginalização com valorização dos sentimentos, desenvolvimento da autonomia e
despenalização”. formação integral.
Dentro dos conceitos de Justiça Restaurativa, o de “reparação Abaixo destacamos um quadro comparativo com as principais
de danos” deve ser destacado para que não se prenda à diferenças na resolução de conflitos, tendo como polos
estreita visão de danos materiais. O materialismo foi alçado distintos a abordagem punitiva e a restaurativa:
ao interesse nato e fundamental do ser humano com a
revolução burguesa, tanto que a vida e a integridade física
Abordagem Punitiva Abordagem Restaurativa
são colocadas em segundo plano inclusive pelas legislações
penais, e a justiça penal tradicional fortaleceu essas ideias. Definir culpados é central Resolução de confito é central
Para a Justiça Restaurativa, reparação tem um significado
mais profundo: busca entender as necessidades da vítima e do Foco no passado Foco no futuro
agressor para que as coisas voltem ao seu curso normal e as Necessidades são secundárias Necessidades são primárias
pessoas envolvidas, ou afetadas pelo ato indesejado, consigam
recuperar sua confiança e o curso normal de seus dias. Enfatiza diferenças Procura pelo comum
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» 1.1 O que são Práticas Restaurativas? Voltar ao menu
· Construir relações;
· Restaurar relações;
· Criar espaços seguros;
· Acolher sentimentos;
· Reparar danos advindos dos conflitos.
A ciência social das Práticas Restaurativas oferece uma linha comum de unir
teoria, pesquisa e prática em diversos campos, sendo o ambiente escolar o
principal para a transformação da sociedade.
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Acolhemos a temática das Práticas Restaurativas em As Práticas Restaurativas se compõem como um movimento
consonância com a ODS 16ª, que convida à promoção social que busca instaurar a Cultura da Paz e dos Direitos
de sociedades pacíficas, inclusivas e sustentáveis, Humanos em nossa sociedade. Estas se valem de uma estrutura
proporcionando o acesso à justiça para todos e a construção que possibilite a liberdade para as pessoas expressarem suas
de instituições eficazes responsáveis em todos os níveis, com verdades pessoais, deixando de lado conceitos e práticas
foco na promoção da “Cultura da Paz”. punitivas como caminho de concretude do sentimento de se
sentir justiçado.
Desse modo, não apenas recomendamos a implementação das
técnicas e metodologias, mas a atuação intencional com foco a As Práticas Restaurativas se coadunam com a pedagogia
consolidar verdadeiras escolas restaurativas. Marista: empoderamento das partes através do diálogo na
vivência dos Círculos Restaurativos gera uma coletividade
Além da BNCC e das ODSs, dentro do contexto educacional, de percepções e inteligências práticas mais eficazes e
as Práticas Restaurativas dialogam fortemente com o Pacto humanizadas, criando nos integrantes uma nova postura, uma
Educativo Global proposto pelo Papa Francisco e adotado por mudança de visão e uma amplitude de múltiplos olhares das
instituições religiosas e educacionais do Brasil. práticas sociais.
O Pacto teve a intenção de ser um “encontro para reavivar o O perguntar restaurativo é uma forma de perguntar que
compromisso em prol e com as gerações jovens, renovando consiste em uma metodologia desenvolvida pelas Práticas
a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de Restaurativas e outros métodos baseados nos princípios da
escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão”3. Justiça Restaurativa que permitem conexão e deixam as portas
Segundo o Papa, o objetivo foi e é “educar os jovens para a do diálogo abertas entre as partes, caminho que se consolida
fraternidade, para aprender a superar divisões e conflitos, COM e não PARA as partes envolvidas no conflito.
promover a aceitação, a justiça e a paz”.4
Na pedagogia Marista, educadores e estudantes se conectam
A Diretoria Executiva de Educação Básica do Grupo Marista pela troca de saberes e por uma relação horizontal no processo
adota o conceito de Práticas Restaurativas motivada pelos de aquisição de novos conhecimentos. Ambos têm algo a
princípios da Justiça Restaurativa, ampliando sua abordagem ensinar e aprender e, de forma restaurativa, se compreendem
para além da resolução formal dos conflitos de forma reativa, como sujeitos ativos no processo, invertendo a lógica tecnicista
como no judiciário, mas o utiliza na provocativa de ações da educação em que o educador ensina e o estudante aprende,
preventivas e no desenvolvimento de posturas restaurativas ou a lógica punitiva, em que um terceiro diz qual o caminho a
em toda a comunidade educativa. ser percorrido para a solução do conflito.
3
Informações presentes no site da Associação de Nacional de Entidades Católicas – ANEC: https://anec.org.br/acao/pacto-educativo-global/
4
Informação retirada diretamente do site oficial do Pacto Educativo Global: https://www.educationglobalcompact.org/it/global-compact-on-education/
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» 1.2 O facilitador nas Práticas Restaurativas Voltar ao menu
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No desenvolvimento da postura do facilitador, o processo de o segredo para se conectar com outras pessoas. Para a equipe
escuta se constitui como uma das competências necessárias e Justiça em Círculo a postura apropriada do facilitador “(...) pode
de extrema importância e está relacionado com o estar ou não alcançar a transformação e vai depender de um conjunto de
presente diante do sujeito que se faz escutar. Para o professor elementos: intenção, o tom que usa a palavra, a forma e o que
Marcelo Pelizzoli (2016), perguntar” (GRECCO, 2014, p. 139)
A escuta traduz algo da presença; sem a capacidade A coerência entre os valores pessoais e os princípios que
de presença atenta a pessoa não consegue ouvir, não regem as práticas restaurativas são fatores determinantes
consegue ficar no próprio corpo e mente; na medida em que potencializam a efetividade da implementação da
que não está presente em si, não estará presente ao outro; cultura restaurativa. Desse modo, o facilitador considera
por isso, a presença e atenção é o ponto fundamental da importante o olhar nos olhos, a expressão facial interessada
escuta (PELIZZOLI, 2016). e atenta, o cuidado para não emitir expressões de julgamento
e espanto e que se conecta com as histórias e narrativas dos
Dessa forma, escutar se qualifica como a capacidade de dar presentes, auxiliando-os a encontrar seus próprios caminhos
atenção ao outro com disposição e foco da consciência e como de reparação de danos. Algumas perguntas podem auxiliar no
uma competência imprescindível para o desenvolvimento das desenvolvimento dessa postura restaurativa:
Práticas Restaurativas. Não basta assim deixar os ouvidos
abertos, é necessário estar presente e acolher o silêncio para · Eu sou uma pessoa acessível?
ouvir o outro que fala. · As pessoas sentem segurança para falar comigo
sobre seus problemas?
Vale destacar que não se trata de ensinar ou aprender posturas · Estou interessado no que a pessoa está falando?
de facilitador, e sim refletir sobre sua construção reflexiva · Eu escuto de maneira respeitosa?
que se realiza a partir das sensações, experiências, filosofia · Eu reconheço os sentimentos dos outros?
e valores que mobilizam seus sentimentos e pensamentos. · Eu espero a pessoa falar o que ela necessita para
Assim, a comunidade escolar toda é convidada a desenvolver então responder ao que é falado?
postura e competências do facilitador. · Eu costumo checar com a pessoa o que ela espera de mim?
· Eu respeito o ponto de vista, mesmo estando em
Para Belinda Hopkins (2004), o facilitador precisa ouvir com desacordo com ele?
respeito, de forma genuína e acreditar que as pessoas presentes · Depois de falar comigo, a pessoa se sente ouvida?
no círculo ou na conversa restaurativa têm competência para · Como que eu sei a resposta para tudo o que foi
encontrar seus próprios caminhos, sendo esses sempre os mencionado? Eu questionei a pessoa que falou?
melhores possíveis para elas. Ouvir com empatia, sem julgar, é
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De acordo com Yazbek (1999, p. 24), a escuta como um processo Aos professores, gestores, equipe de monitores e todos
ativo é: os sujeitos que compõem a comunidade escolar, cabe
desenvolver esse papel, assim como mobilizar técnicas e
· Uma atitude de autoquestionamento sobre os posturas nessa direção.
pensamentos, sentimentos, reações, diante da fala ou
atitude do outro; A postura de facilitar implica relação com o outro, conexão
· O ato de perguntar-se sobre a própria maneira de com os fatos e sentimentos, encorajamento para o diálogo
estar e relacionar-se com o outro; e participação, acolhida dos sentimentos e necessidades,
· A responsabilização pelas consequências de suas respeito e empoderamento para manejar conflitos.
próprias ações na interação com o outro;
· A chance de processar internamente a questão feita Essas habilidades não podem ser de responsabilidade de uma
pelo outro (diálogo Interno); única pessoa ou equipe dentro da comunidade escolar, mas
· Proteger-se da certeza imediata e espontânea, na devem compor toda a prática pedagógica e o Projeto Político
qual nada de novo pode ocorrer; Pedagógico Pastoral das escolas e colégios.
· Considerar o outro como colaborador na construção
de novas composições; Devemos lembrar que dentro das Práticas Restaurativas todos
· A aceitação para ouvir novas versões, flexibilizar as os envolvidos e afetados em uma situação de conflito também
posições e gerar possibilidades para transformação são os responsáveis e também os sujeitos ativos para o manejo
em si e no outro; e a reparação de danos desses conflitos.
· Ouvir para entender, e não para responder.
Parte importante dessa reflexão é que, para as Práticas
Cabe ao facilitador, além do desenvolvimento da postura, Restaurativas, sempre fazemos COM e não PARA os outros, e
buscar repertório e técnicas que favoreçam a execução dos em um conflito isso implica que todos são sujeitos do caminho
procedimentos restaurativos. A aquisição de ferramentas a ser percorrido.
deverá ser construída a partir e durante o percurso reflexivo e
de apropriação da prática de facilitar. Importante considerar que, todas as vezes que algum professor
coloca um(a) estudante para fora da sala de aula, ele mesmo
Dessa forma, manuais, dinâmicas, recursos pedagógicos que está assumindo diante do(a) estudante que não é a referência
favoreçam a participação e metodologias ativas, dentre outros, relacional para manejar o conflito e se desautoriza diante
são parte do desenvolvimento das técnicas e enriquecem a do sujeito, colocando a responsabilidade na coordenação e/
postura e a aplicação dos processos restaurativos. ou outra figura de autoridade na escola. Dentro das Práticas
Restaurativas, o ato de retirar o(a) estudante da sala de aula
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» 1.3 Qual a relação entre Voltar ao menu
as Práticas Restaurativas
e a Educação em Direitos
entre as Práticas
Restaurativas e a
Educação em Direitos
Humanos?
A Educação em direitos humanos:
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Autoridade, aqui, entendida como o fazer-se autorizar, estabelecendo
relações e vínculos efetivos que permitam a mediação e o manejo
do conflito, não tendo nenhuma referência e/ou aproximação com o
autoritarismo verticalizado e punitivo. 21
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o direito de fala, de uma escuta atenta, respeitosa, de um violência nas sociedades contemporâneas, incluindo a
diálogo acolhedor, coadunando-se com o desenvolvimento violência simbólica de grupos sociais que impõe normas,
de processos participativos significativos e com o combate valores e conhecimentos tidos como universais e que
à participação figurativa, à exclusão e à discriminação de não estabelecem diálogo entre as diferentes culturas
crianças, adolescentes e jovens nas decisões escolares que presentes na comunidade e na escola. (BRASIL, 2018, p. 61).
os afetam. A participação é um direito inerente às relações
humanas saudáveis, tendo como premissa o respeito ao outro Inserir no itinerário pedagógico ações pautadas nas Práticas
e à sua forma de estar no mundo. Restaurativas requer uma reflexão com a comunidade
educativa a respeito de conceitos como punição e castigo
As Práticas Restaurativas, por primarem pela participação, - como contraponto para uma educação cidadã -, sobre a
responsabilização, reparação e atendimento das necessidades importância da participação e da gestão democrática, entre
das vítimas diante de um dano causado por outro, introduzem outros conceitos que norteiam uma prática pautada no
a possibilidade de vermos as pessoas envolvidas em um compromisso com a defesa e promoção de direitos.
conflito como sujeitos de direitos e o dano ou ato ilícito
como oportunidade de reparação para seguir adiante, e não Assim, pensar a partir da abordagem restaurativa pressupõe,
simplesmente de punição, castigo. Elas nos ajudam a entender diante de um ato lesivo, nos perguntarmos:
que a punição não gera no indivíduo o compromisso com a sua
mudança interna, muito menos com a sociedade que o excluiu quem sofreu o dano? Quais suas necessidades? De quem
ou rejeitou. é a obrigação de atendê-las? Quais foram as causas?
Quem tem interesse na questão? Qual o processo
Desconstruir a perspectiva da punição como caminho educativo apropriado para envolver todos os interessados num
torna-se elementar para a implementação de tais práticas. O esforço conjunto para corrigir a situação? (ZEHR apud
que guia uma mudança de comportamento é o sentido para a AMSTUTZ; MULLET, 2012, p. 33).
mudança e os valores que agregamos a ela, mudança, e não o
medo de ser punido. E pensar em promover a resolução de problemas por meio da
cooperação e colaboração dos sujeitos envolvidos.
E, nesse sentido, a BNCC também nos alerta que:
Importante ressaltar que, em virtude do seu potencial no
(...) tendo por base o compromisso da escola de propiciar manejo das situações de conflito ou de violência e de criar
uma formação integral, balizada pelos Direitos Humanos conexões entre os indivíduos, essa metodologia poderá auxiliar
e princípios democráticos, é preciso considerar a a escola a desenvolver nos seus estudantes as seguintes
necessidade de desnaturalizar qualquer forma de competências gerais, previstas na BNCC:
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» 2. Práticas Restaurativas e o Manejo de Conflitos Voltar ao menu
2. Práticas Restaurativas
e o Manejo de Conflitos
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Pensar as Práticas Restaurativas no ambiente escolar e não podem ser entendidas como um primeiro itinerário restaurativo:
escolar se apresenta como uma possibilidade de conexão
humana, por meio do estabelecimento de vínculos, da expressão · Escuta qualificada e sem julgamento – O que aconteceu
verdadeira dos sentimentos e necessidades, da compreensão do do seu ponto de vista?
que é necessário fazer ou dizer para seguir em frente, e, para
que as coisas fiquem bem entre os envolvidos em uma situação · Identificação dos sentimentos dos envolvidos – O
de conflito. Dessa forma, por meio das metodologias circulares que você está ou estava pensando e sentindo quando o
e dos saberes ancestrais, se pretende dar condições às pessoas conflito aconteceu?
envolvidas de identificar e resolver seus próprios conflitos.
(WATSON E PRANIS, 2011). · Empatia – Quem você acha que foi afetado/prejudicado
pelo que aconteceu? Como essas pessoas foram afetadas?
Quando se apresentam possibilidades de conexão humana
e desenvolvimento de vínculos, a partir das metodologias · Corresponsabilização – Do que você precisa e no que
circulares, a pretensão é que tais habilidades se tornem você se compromete para que as coisas fiquem bem?
habituais na vida dos sujeitos e de suas relações. Segundo,
Costello e Wachtel & Wachtel (2011, p. 28), comportamentos que · Empoderamento – Como podemos seguir adiante? Em
se apresentam como inapropriados em espaços educativos que cada um envolvido no conflito pode se comprometer?
são o reflexo das relações e dos comportamentos verificados
nos ambientes fora da escola, ou seja, os conflitos fazem parte Manejar conflitos é possibilitar o encontro de soluções que
das relações humanas internas e externas ao local de estudo. partam dos envolvidos e transformem os padrões punitivos
Os autores afirmam que quando estimulamos a inclusão, a em padrões mais colaborativos, facilitando uma restauração
vida em comunidade, a responsabilização, apoio, acolhimento e das relações.
cooperação em uma escola, estamos influenciando diretamente
a qualidade das relações na vida em sociedade, e vice-versa. As Práticas Restaurativas pretendem promover o
desenvolvimento integral dos sujeitos e coibir tendências
Os conflitos entre as pessoas geralmente são percebidos como autoritárias na comunidade educativa (professores,
um aspecto indesejável das relações, contudo, fazem parte delas estudantes e famílias), ousando-se construir uma proposta de
e deveriam, em muitas situações, ser vistos como oportunidades corresponsabilização e reparação dos danos causados após um
de transformação. conflito. (JACCOULD, 2005 apud BARBOSA, 2019).
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» 2.1 Práticas Restaurativas e o Desenvolvimento das Voltar ao menu
Habilidades Socioemocionais
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Segundo CASEL (The Collaborative for Academic, Social and A BNCC, em sua proposta, traz a necessidade de
Emotional Learning): desenvolvimento de dez competências nas crianças,
adolescentes e jovens ao longo da educação básica. Entretanto,
A Educação Socioemocional tem impactos relevantes não apresenta nenhuma proposta metodológica que viabilize
nos seguintes aspectos: relacionamentos promovem ou mesmo contribua para o desenvolvimento dessas
os alicerces para aprendizagem; emoções afetam como competências gerais. Competências como responsabilidade
aprendemos; Habilidades Socioemocionais podem e e cidadania; empatia e cooperação; autoconhecimento e
devem ser ensinadas e são essenciais para novos líderes autocuidado, e comunicação, estão no bojo da BNCC. Habilidades
e para a prevenção da saúde mental e social.6 socioemocionais que não se desenvolvem teorizando, por meio
de exposição de conteúdo, mas vivenciando no cotidiano do
A BNCC aponta para o desenvolvimento das competências espaço escolar.
socioemocionais, para a compreensão das emoções, do seu
manejo, de refletir sobre o que o outro sente, de se colocar no As competências são de natureza intrinsecamente subjetivas,
lugar do outro, sobre o que eu sinto, do entendimento de que sua levando em consideração o modo de ser do sujeito, de
ação e/ou reação afetará de forma negativa ou positiva o outro, se expressar no mundo, sendo constituídas a partir das
o respeito à diversidade e todas as formas de vida, do saber interrelações estabelecidas com outros sujeitos. Considerando
ouvir e se expressar de forma objetiva, trabalhar de maneira a formação integral desses sujeitos, a busca por práticas que
coletiva e respeitosa, fazer escolhas éticas e responsáveis e fomentem uma cultura de valorização e respeito às pessoas
construir o seu projeto de vida. torna-se um caminho irrefutável.
De acordo com Pamela Bruening (2018), especialista norte- Nesse sentido, as Práticas Restaurativas podem ser vistas
americana, em entrevista à Revista Educação, sobre o como uma estratégia metodológica para o desenvolvimento
conceito de educação socioemocional e os benefícios de sua dessas competências, tendo em vista o seu potencial no
implantação nas escolas: desenvolvimento de relações sociais significativas. Como bem
pontua a BNCC:
Os pilares que apoiam a educação socioemocional
incluem autoconhecimento, autogerenciamento, tomada No novo cenário mundial, reconhecer-se em seu contexto
responsável de decisões, habilidades de relacionamento histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo, analítico-
e consciência social. Essas bases incluem contextos na crítico, participativo, aberto ao novo, colaborativo, resiliente,
escola, em casa e na comunidade, o que essencialmente produtivo e responsável requer muito mais do que o acúmulo de
significa que este tema precisa ser abordado em todos os informações. Requer o desenvolvimento de competências para
grupos de participantes que se relacionam com a escola.7 aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez
6
https://nuvem9brasil.com.br/blog/educacao-socio-emocional-de-maos-dadas-com-curriculo-escolar/, acesso em 08 de setembro de 2020.
7
https://nuvem9brasil.com.br/blog/educacao-socio-emocional-de-maos-dadas-com-curriculo-escolar/, acesso em 08 de setembro de 2020
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mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade para o estudante distinguir o que é certo e errado, o que é
nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos bom e ruim para si, até onde suas ações podem afetar a si e
para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ao próximo e a importância da responsabilidade pelo seu
ser proativo para identificar os dados de uma situação e desenvolvimento acadêmico.
buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as
diversidades. (BRASIL, 2018). É responsabilidade da escola promover o desenvolvimento
das competências emocional e social, além das habilidades
Reconhecer as emoções, se colocar genuinamente no lugar acadêmicas, no intuito de possibilitar a metamorfose para uma
do outro através da abertura de coração, sem julgamentos, é sociedade que ultrapasse a barreira do individualismo para
a chave para mudança do egocentrismo, e para a amplitude um olhar comunitário, em que prevaleça o bem-estar de todos
de reconhecimento de que todos estamos interligados com o e a garantia dos direitos humanos. Bem-estar que depende,
outro, a natureza e o metafísico. além de outros fatores, das relações estabelecidas e da saúde
mental dos sujeitos.
Segundo Araújo (2013), para aflorar a educação socioemocional
nas escolas, deve-se envolver toda a comunidade educativa. A A saúde mental já merecia atenção por parte de educadores e
educação para a paz não se reduz apenas ao interior da escola. da escola, mesmo antes do cenário de pandemia do coronavírus.
Nesse sentido, cuidar do docente, de sua formação, suas Nesse contexto, os efeitos sobre as relações sociais, com o
emoções, das suas necessidades, são primordiais para o seu distanciamento social, adotado para deter o avanço do vírus,
fortalecimento enquanto um ser humano integral, para uma só agravou a saúde mental de crianças, adolescentes e jovens.
busca constante de uma educação que valorize as relações
humanas saudáveis e promova a paz. A escola, nesse contexto, precisa estar conectada com essa
realidade e estabelecer estratégias pedagógicas onde seja
Conviver de maneira consciente, tendo ciência das suas possível construir relações saudáveis e dialógicas, por meio de
necessidades e do outro, é uma maneira de construirmos espaços de fala e escuta e nos quais os estudantes se sintam
relações mais saudáveis e humanas. As vivências das crianças incluídos no problema e na busca pelas soluções. E nesse sentido,
e adolescentes podem afetar de forma positiva ou negativa a as Práticas Restaurativas se tornam excelentes recursos para
sua autoestima. Quanto melhor o vínculo do(a) estudante com o desenvolvimento e fortalecimento do autocuidado e da
o professor e com a sua comunidade escolar, mais condições autoproteção desses sujeitos, além do manejo dos conflitos.
ele terá na direção do seu desenvolvimento integral.
28
» 2.2 O que são conflitos e como manejá-los de forma não violenta? Voltar ao menu
De modo geral, o conflito é um processo que envolve sentimentos e Ele sempre existirá na sociedade. Por esta constatação, é que se
relações entre duas ou mais pessoas a respeito de interesses tidos faz necessária a mediação como forma de lidar e estabelecer o
como opostos ou incompatíveis. E, por isso, se entende que alguém diálogo e o consenso entre as partes envolvidas no conflito.
deve perder para um outro ganhar, levando à inflexibilidade das
posições, pois todos querem ganhar, impossibilitando qualquer Daí, a necessidade de ferramentas ou recursos que tornem esse
tentativa empática de solução do conflito. Segundo Suares, “os manejo viável.
29
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» 2.2.2 Quais são os Métodos Restaurativos e Manejo dos Voltar ao menu
Conflitos?
32
» 2.2.2.1 Perguntar Restaurativo Voltar ao menu
2.2.2.1 Perguntar
Restaurativo
O Perguntar Restaurativo acontece sem a presença de
um facilitador. Segundo Pedroso e Burg (2014), este método
acontece entre um interlocutor e uma pessoa que viveu
um incômodo ou conflito e tem como objetivo auxiliá-la a
entender o que pensava e sentia no momento, para identificar
suas necessidades e ações necessárias para seguir em frente.
Por se tratar de uma alternativa metodológica que não requer
a preparação de um círculo ou de um facilitador, ela pode
acontecer em qualquer lugar ou espaço onde tenha acontecido
um conflito ou incômodo: corredores, sala de aula, quadra
poliesportiva ou em espaços com intervalos - aulas vagas, por
exemplo.
33
» 2.2.2.2 Conversar Restaurativo Voltar ao menu
2.2.2.2 Conversar
Restaurativo
Outra prática restaurativa importante na mediação de conflitos
é o Conversar Restaurativo, que acontece entre duas pessoas
em conflito sem a presença de um facilitador. O princípio
fundamental deste é que ambos os lados possam expressar
seus pensamentos, sentimentos e necessidades. (PEDROSO e
BURG, 2014).
34
» 2.2.2.3 Círculo de Classe ou Hora do Círculo Voltar ao menu
35
» 2.2.2.4 Encontro Restaurativo ou Conferências Restaurativa Voltar ao menu
36
» 2.2.2.5 Reuniões Restaurativas Voltar ao menu
37
» 2.2.2.6 Mediação por pares Voltar ao menu
38
» 2.2.2.7 Os Métodos Circulares e as Perguntas Restaurativas Voltar ao menu
39
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Como já ressaltado, os processos circulares fazem parte da do momento do círculo, marcando-o como um momento
sabedoria comunitária antiga e possuem um efeito poderoso diferente e sagrado dos demais vividos antes dele. O momento
porque respeitam a presença de cada um e cada uma, de abertura é marcado pelo check-in, palavra em Inglês que
salientam a conexão entre todas as coisas e permitem que a significa chegada8 - a ideia deste momento é criar aproximação
voz de todos e todas seja ouvida, num processo horizontal. e conexão do grupo. O momento de encerramento do círculo
Há então, segundo Pranis (2010), uma dívida histórica com os é marcado pelo check-out, palavra em Inglês que significa
povos indígenas que mantiveram vivas estas práticas. O círculo saída, encerramento – este tem a intenção de marcar o final do
se apresenta como um processo estruturado para organizar círculo, podendo ser representado por algum ensinamento do
a comunicação em grupo, tomadas de decisões, resolução de dia ou palavra que descreve algum sentimento ou aprendizado.
conflitos e construção de relacionamentos saudáveis.
O bastão de fala é o regulador do diálogo e permite a
Em suma, os círculos apresentam uma metodologia simples, manifestação das emoções à medida que passa de uma pessoa
mas com profundidade, no que tange a criar relacionamentos para a outra. Segundo Pedroso e Burg (2014, p. 192-193), a
mais significativos, proporcionando interconectividade, apoio, peça de fala “se movimenta em uma única direção sem pular
reconhecimento e unicidade. Neste sentido, a geometria qualquer participante e assegura que todos tenham a palavra.
circular se faz imprescindível para que todos se comprometam As pessoas falam apenas e tão somente quando têm a peça de
uns com os outros sem criar sensação de haver “lados”. (WATSON fala em suas mãos e tem o direito de passar a vez”.
& PRANIS, 2011).
O facilitador ajuda o grupo a criar e manter um espaço
As estruturas circulares objetivam, fundamentalmente, coletivo, zelando sempre pela qualidade da interação grupal. As
criar possibilidades de interconexão, partilha, igualdade orientações dizem respeito às informações e comportamentos
e inclusão. A participação de todos os envolvidos incita, que os participantes consideram importantes para transformar
também, à corresponsabilização pelas decisões que ali são o espaço do círculo em um ambiente seguro. Por fim, as
tomadas. Pranis (2010) apresenta uma estrutura que norteia tomadas de decisão são por consenso e isso não quer dizer
os processos circulares de forma intencional. Tal estrutura é que todos fiquem plenamente satisfeitos com as decisões. O
exposta pela autora a partir de uma cerimônia, um bastão de que ocorre é que todos devem trabalhar para a implementação
fala, um facilitador ou coordenador, orientações e um processo do que ali for decidido. (PRANIS, 2010).
decisório consensual.
Pensar em conversar “restaurativamente” implica em primeiro
A cerimônia, intencionalmente, busca a conexão dos escutar. Pedroso e Burg (2014) enaltecem o pensamento de
participantes no momento presente do círculo. Tanto na Belinda Hopkins, afirmando que, para que tenhamos uma
abertura, quanto no fechamento, apresenta-se a importância escola restaurativa, é necessário que antes de tudo sejamos
8
Algumas unidades aderiram à palavra “chegada” ou “chegança” para descrever o momento de abertura e descontruir o uso de termos em
Ingles, na ideia de “aportuguesar” a metodologia.
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uma escola ouvinte. Usar da escuta empática e do processo de · Em sua opinião, o que é preciso fazer para consertar as
questionamento restaurativo para dar vida à construção de coisas?
um ambiente que preconize a cultura da paz.
As perguntas básicas para responder a um comportamento
O ouvir com qualidade possibilita efeitos imediatos nas desafiador são, segundo Costello, Wachtel e Wachtel (2011);
relações pessoais e profissionais, nas quais todos podem Hopkins (2011); Rosenberg (2006)9:):
expressar aquilo que lhes está incomodando. Não se trata de
um simples diálogo, mas sim de um diálogo qualificado que · Em que você pensou ao perceber o que havia acontecido?
promove a compreensão. · Que impacto o incidente causou em você e nos outros?
· Para você, qual foi a coisa mais difícil?
Para atender às necessidades do perguntar restaurativo, · Em sua opinião, o que é preciso fazer para consertar as
Pedroso e Burg (2014 apud Belinda Hopkins, 2011) indicam coisas?
algumas perguntas que possibilitam o caminho para a mudança
de uma cultura da punição e culpabilização para outro da Cumpre ressaltar que as perguntas procuram trazer à tona
corresponsabilização, baseada no diálogo empático, na a história dos fatos e/ou dos eventos e os sentimentos
valorização dos sentimentos e no atendimento às necessidades. associados a eles, buscando as melhores soluções para
resolver as coisas. As perguntas criam um circuito de feedback
As perguntas restaurativas derivam das reuniões restaurativas. (retorno) para que as pessoas possam ouvir como seus atos
Existem duas formas do perguntar restaurativo: uma para lidar afetaram a comunidade, possibilitando o empoderamento e
com comportamentos desafiadores e outra quando alguém encorajamento dos envolvidos à responsabilização (COSTELLO,
foi prejudicado por ações de outra pessoa. Quando duas ou WACHTEL E WACHTEL, 2011).
mais partes se prejudicaram, podemos utilizá-las. (COSTELLO,
WACHTEL E WACHTEL, 2011). Além disso, os autores sustentam que o perguntar restaurativo
possibilita que os envolvidos não ignorem o que aconteceu,
As perguntas básicas para responder a um comportamento e possam responsabilizar as pessoas pelo ocorrido, além de
desafiador são, segundo Costello, Wachtel e Wachtel (2011); acolher e apoiar para que resolvam seus problemas de forma
Hopkins (2011); Rosenberg (2006)9: não violenta.
quem o cometeu – a pessoa não é o que ela cometeu –, Observação: sermos capazes de observar sem fazer
permitindo que elas admitam seus erros, reparem os danos e julgamento ou avaliação;
sejam reinseridas na comunidade. É sempre importante que
seja separada a ação do agente que a cometeu, evitando que Sentimento: identificarmos como nos sentimos ao observar
as pessoas sejam estigmatizadas como “ruins” e lhes abrindo determinada ação;
espaço para a mudança.
Necessidades: reconhecer quais de nossas necessidades
Neste espaço de perguntar restaurativamente, é possível estão ligadas aos sentimentos que identificamos, em outras
perceber que não existe o “Por que você fez isso?”, uma vez palavras, que necessidades minhas não foram atendidas e,
que tal questionamento sugere uma postura de julgamento e portanto, geraram o conflito;
pressupõe uma defensiva. Há de se considerar que a pessoa
pode, realmente, não saber o porquê e, sem muita autorreflexão, Pedido: este componente enfoca o que estamos querendo da
trará alguma justificativa que não lhe faça sentido no momento. outra pessoa para que as coisas fiquem bem e possamos seguir
Mais uma vez, enfatiza-se a escuta das necessidades de todos em frente. O pedido precisa ser bem específico.
os envolvidos. (COSTELLO, WACHTEL E WACHTEL, 2011).
Portanto, segundo Marshall (2006), a Comunicação Não Violenta
Na utilização dos métodos circulares e na aplicação das se apresenta como um processo que auxilia as pessoas a trocar
Práticas Restaurativas, podemos incorporar outros recursos, as informações necessárias para a resolução dos conflitos, das
ferramentas que dialoguem com seus princípios e valores, suas diferenças, da pauta em questão com uma linguagem
a exemplo da Comunicação Não-Violenta (CNV), do autor pacífica. A CNV também convida a nos conectarmos com a
Marshall B. Rosenberg. A CNV tem relação direta com as Práticas humanidade do outro, aumentando a disponibilidade para
Restaurativas, tendo sido ressaltada pela Belinda Hopkins, em ouvir de forma integral sua necessidade, trilhando caminhos
sua obra “Praticas Restaurativas em sala de aula” (p. 26), quando para a resolução, acordo e reparação do dano.
menciona a obra de Marshall como inspiração e modelo para
sua abordagem. Como o professor pode manejar os conflitos dentro de sala de
forma não violenta? Como a metodologia apresentada neste
A Comunicação Não-Violenta é, segundo comenta Rosenberg documento pode contribuir com um maior engajamento e
(2006), um processo de comunicação ou uma “linguagem da melhor rendimento acadêmico do estudante? Essas e outras
compaixão”, pois se propõe a auxiliar na maneira pela qual questões serão discutidas a seguir.
nos expressamos e escutamos o outro. Esse processo de
comunicação consigo e com o outro acontece mediante
quatro componentes:
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» 3. Práticas Restaurativas em sala de aula Voltar ao menu
3. Práticas Restaurativas
em sala de aula
43
» 3.1 Princípios e Valores Restaurativos Voltar ao menu
3.1 Princípios e
Valores Restaurativos
As Práticas Restaurativas têm-se consolidado como um conjunto sistematizado de técnicas
e princípios que buscam contribuir para a gestão de conflitos e de situações de violência,
visando o respeito por todos, o fortalecimento de vínculos e relações intrapessoais e
interpessoais saudáveis, com objetivo de transformação da cultura punitiva em uma cultura
de paz, ajudando as pessoas a seguirem em frente.
Os processos restaurativos, de acordo com Zehr (2015), são orientados por meio de 5
princípios que buscam estimular decisões para promover a responsabilização, a reparação e
a reintegração dos envolvidos. São eles:
Os referidos princípios trazem intrínsecos alguns valores, como o sigilo – informar e acordar
com os envolvidos que tudo que for tratado nos processos restaurativos deve ser mantido em
sigilo, não podendo ser repassado para terceiros, preservando a segurança das informações,
para que se estabeleça um ambiente de confiança entre os participantes, dentre outros
fatores elencados abaixo.
Em uma prática restaurativa, esses princípios e valores devem ser respeitados e não podem
ser ignorados, sob pena de não realizarmos um processo verdadeiramente restaurativo e
podendo, até mesmo, violar os direitos dos sujeitos envolvidos.
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» 3.1.1 Participação Voltar ao menu
3.1.1 Participação
A participação tem destaque no Projeto Educativo do Brasil
Marista, que menciona essa característica enraizada em todas as
escolhas educativas do projeto. Ao tratar sobre a opção político-
pedagógico-pastoral do currículo, o projeto afirma que:
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O conceito de participação envolve duas análises indissociáveis da participação, visando ao seu bem-estar e proteção da
que compreendem a participação como constituição de direito formação integral (AÇÃO EDUCATIVA, 2013). Fala-se então
social de crianças, adolescentes e jovens, e a participação de uma formação para a participação e desenvolvimento do
como processo formativo para habilidades humanas. protagonismo infanto-juvenil por meio das práticas educativas
desenvolvidas pela escola.
Enquanto direito social, a participação de crianças,
adolescentes e jovens é resguardada legislativamente a Participação está intrinsecamente ligada ao conceito de
partir da Convenção sobre os Direitos da Criança, documento protagonismo, que significa o desenvolvimento do(a) estudante
aprovado na Assembleia Geral da Organização das Nações para realizar escolhas de forma autônoma com base em seu
Unidas (ONU) em 1989. O artigo 12 do texto da convenção projeto de vida.
aponta a definição do direito à participação como a garantia da
criança e adolescente de “formar seus próprios pontos de vista, Portanto, ser protagonista depende necessariamente das
[...] exprimir suas opiniões livremente sobre todas as matérias oportunidades de participação construídas no espaço da escola
atinentes à criança, levando-se devidamente em conta essas que permitam aos(às) estudantes dialogar sobre assuntos
opiniões em função da idade e maturidade da criança” (AÇÃO relevantes à sua dinâmica pessoal, social e cognitiva, e nessa
EDUCATIVA, 2013). interlocução construir as balizas necessárias para realizar
escolhas conscientes ao longo da vida.
Os documentos legislativos em âmbito nacional também
apontam a incorporação do direito à participação ao Pensar a formação para a participação no ambiente da escola
conteúdo da proteção e promoção dos direitos básicos de não se restringe a ações pontuais ou segmentadas, mas tem
crianças e adolescentes. Nos documentos regulatórios da seu potencial de formação através das escolhas metodológicas
educação nacional, a participação também ganha destaque realizadas para as práticas didáticas, que costuram, ao mesmo
como elemento imprescindível ao processo formativo das tempo, o conteúdo curricular com as habilidades humanas,
crianças, adolescentes e jovens. A Base Nacional Comum necessárias ao exercício da participação e consequente
Curricular (Resolução CNE/CP nº 2, de 22 de dezembro de 2017) desenvolvimento do protagonismo.
também aponta a participação e o protagonismo de crianças,
adolescentes e jovens dentre as aprendizagens essenciais A participação se caracteriza pelo direito da criança,
para a educação brasileira. adolescente e jovem de ser informado, ser ouvido, emitir sua
opinião e incidir nas decisões do coletivo. O desenvolvimento
Enquanto processo formativo, a participação refere-se à dessas características exige um ambiente participativo, no qual
prática educativa que permita fortalecer as competências se tenha uma metodologia que favoreça a escuta e emissão de
de crianças, adolescentes e jovens necessárias à efetivação opiniões de forma respeitosa e acolhedora, além de encontros
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47
» 3.1.2 Inclusão Voltar ao menu
3.1.2 Inclusão
A prática pedagógica com foco na formação integral atua
enfaticamente nas relações afetivas e sociais construídas na sala
de aula e na escola. Como já destacado no item 2.1 dessa diretriz, as
Práticas Restaurativas demostram efetividade no trabalho sobre as
habilidades socioemocionais, articuladas às demais necessidades
pedagógicas. Quando observadas dentro de um processo de grupo,
como os coletivos da sala de aula, há dois vínculos sociais que fazem
essa costura entre sujeito e coletivo, e auxiliam no trabalho sobre as
relações e as habilidades socioemocionais: inclusão e pertencimento.
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tradicionais de resolução de conflitos, baseadas na punição, II. Com o uso do objeto da palavra, todos têm a chance de se
têm a tendência de afastar o(a) estudante ofensor(a) do expressar, quem tem mais facilidade e quem tem dificuldade,
grupo, caracterizando-o(a) a partir de estereótipos, por dando lugar social. Toda vez que o objeto de palavra circula
exemplo, como o(a) indisciplinado(a), o(a) agressivo(a), o(a) e todos têm a chance de se pronunciar, falar, emitir opiniões,
desrespeitoso(a). contar histórias, partilhar a vida e saberes, construir
considerações junto aos outros a partir das suas opiniões,
A partir das Práticas Restaurativas, o grupo aprende a olhar essa pessoa ganha um lugar, um nome, e passa a pertencer
para esses conflitos como parte das relações e a encontrar ao coletivo do grupo – isso tira os sujeitos da educação da
juntos uma forma de solução. Isso passa pela mediação docente invisibilidade e lhes garante um espaço social
em não apelar para estratégias exclusivas, como retirar o
aluno da sala, enviar para a coordenação resolver, sem antes III. As partilhas em roda permitem que cada sujeito seja
compreender a situação e dialogar com todos os afetados. reconhecido na sua individualidade, nas suas necessidades
Nessa dinâmica de resolução de conflitos, ninguém fica de individuais (afetivas, relacionais, de aprendizagem).
fora, todos participam, e a premissa da inclusão se materializa. Essa abertura para a percepção do sujeito conversa
necessariamente com uma proposta educativa que atua
Quando refletido sobre o exercício didático do docente, em pedagogicamente a partir das necessidades de cada aluno,
diálogos sobre os temas dos componentes curriculares, o rompendo com o olhar massificador do docente e da escola
próprio procedimento garante o valor da inclusão: quando o para perceber os sujeitos e suas necessidades. O(A) docente
procedimento é aplicado didaticamente para dialogar sobre também é estimulado(a) a estreitar suas relações com o seu
qualquer componente curricular, já favorece a disseminação grupo, alertando-o(a) para essas dinâmicas. O (A) docente
da inclusão. Alguns exemplos, a partir do procedimento que aprende a reconhecer a importância formativa dessa
circular, auxiliam nessa compreensão: dimensão se abre para explorar propostas pedagógicas
voltadas a essa natureza de relações.
I. Com a geometria circular, sentar-se em círculo permite
perceber os demais membros do grupo/sala de aula, conhecer Os demais passos das Práticas Restaurativas endossam
seus nomes, reconhecer as vozes e suas entonações, as essa perspectiva, alimentando a percepção de que o valor
expressões pessoais vinculadas a cada emoção durante da inclusão se dissemina em todo o procedimento circular.
os diálogos, e isso gera reconhecimento dos sujeitos que Essas estratégias se aplicam a todos os componentes
compõem qualquer grupo social. Não se trata de anônimos, curriculares, demonstrando que as escolhas pedagógicas
mas pessoas com nomes, sentimentos, necessidades e podem favorecer essa dimensão durante o trabalho escolar.
potencialidades diferentes, reconhecidas e afirmadas no
espaço da sala de aula.
49
» 3.1.3 Escuta qualificada Voltar ao menu
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uma cultura imediatista e instantânea, as pessoas tendem a e comunicação assertiva de seus pensamentos, sentimentos
dar respostas automáticas. Por isso, a demarcação do tempo e necessidades. Ensinar à criança, ao(à) adolescente e ao(à)
para falar e para ouvir se faz necessária e imprescindível para jovem a ouvir com atenção, cultivar a presença significativa,
construir uma percepção baseada na alteridade, e não no não interromper antes que o outro finalize sua fala, esperar
egocentrismo. a sua vez, compreender seus sentimentos diante de falas
desconfortáveis antes de responder, compreender a
À medida que as rodadas de uma proposta circular permitem necessidade do equilíbrio das emoções e sentimentos, é
que cada participante aponte suas percepções, as pessoas um processo formativo focado no cultivo das relações e da
aprendem a lidar com opiniões diferentes, que às vezes são promoção de respostas não reativas, mas promotoras de
desconfortáveis ou desagradáveis de ouvir, e nessa condição trocas humanas.
apontam caminhos pacíficos de lidar com perspectivas
diferentes, fomentando uma postura reflexiva. Outro ponto fundamental do desenvolvimento da escuta
qualificada é a autopercepção. O primeiro campo de diálogo de
Em situações de divergências, as Práticas Restaurativas um ser humano é consigo. Conhecer os sentimentos, emoções
possibilitam a construção de uma consciência humanizadora e desconfortos é essencial para interpretar as necessidades
ao destacar que não há julgamentos estereotipados, mas sim envolvidas em cada situação de troca e comunicação vivenciada
a presença de pessoas com necessidades diferentes a serem no espaço formativo da escola.
compreendidas.
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» 3.1.4 Respeito Voltar ao menu
3.1.4 Respeito
Dentre os valores fundamentais das Práticas Restaurativas,
o respeito é o principal vínculo estabelecido entre todos os
sujeitos envolvidos no processo escolar. O procedimento
circular estabelece como diretriz coletiva o respeito ao outro,
às suas ideias, partilhas e vivências, trazidas para o centro do
debate circular.
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53
» 3.1.5 Conexão Voltar ao menu
3.1.5 Conexão
Grande parte da carga horária diária do cotidiano de uma criança, adolescente ou jovem
é na escola. As teorias do desenvolvimento infantil já apontam que nesses momentos da
vida, a escola representa o espaço de vivência de grupo e trocas coletivas para crianças,
adolescentes e jovens. Também já é reconhecido que o ser humano é um ser relacional, que
aprende pelas interações sociais e pelas relações sociais construídas.
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conflitos, como já mencionado nos capítulos anteriores, mas professor pode usar jogos, brincadeiras, ou nomes/conceitos/
são zeladas pela transparência, autoconhecimento, respeito, temas de seu componente curricular para trabalhar jogos de
e trocas interpessoais verdadeiras. As escolhas didáticas mixer, permitindo que de forma divertida, o grupo se articule
podem favorecer esse processo, estimulando a ampliação das de outras maneiras e tenha a oportunidade de trabalhar com
relações e a construção de conexões mais amplas dentro e fora pessoas com quem frequentemente não fariam a opção.
da sala de aula. Monitorar as conexões, perceber potenciais
conflitos, fortalecer aproximações e ofertar estratégias para III. Articular dinâmicas para pensar estrategicamente os
lidar com afetos e desafetos é um trabalho intrínseco à ação lugares de acomodação dos estudantes em sala também pode
pedagógica, e pode ser realizado pelas estratégias das Práticas auxiliar na ampliação da conexão. Por exemplo, como ferramenta
Restaurativas. didática, os estudantes podem se sentar em pequenos grupos,
revezando momentos de escolha por afinidade, de escolha do
Avaliar as relações grupais e monitorar seu movimento pode docente, e de sorteio por temas de trabalho.
auxiliar o docente em escolher estratégias de gestão de sala
de aula que tornarão o ambiente mais acolhedor, receptivo e IV. Estimular partilhas pessoais permite que os estudantes
propício à aprendizagem, diminuindo a incidência de eventos se descubram ao longo da aula, favorecendo a ampliação
relacionais que possam sugar energia e foco dos alunos e das relações. O desenvolvimento de alteridade em função do
produzir indisciplina. No cotidiano ou na identificação de reconhecimento do lugar do outro e das histórias do outro
situações relacionais, que precisam ser trabalhadas, para está diretamente ligado as partilhas pessoais.
melhorar a conexão grupal, algumas estratégias das Práticas
Restaurativas também demonstram efetividade, por exemplo: É importante destacar que o trabalho sobre a conexão também
é tarefa docente, e precisa estar articulado à intencionalidade
I. As práticas de check-in e check-out podem incluir dinâmicas do professor no ato de planejar sua aula. Quando utilizadas
e jogos em que os estudantes possam diversificar as relações. sistematicamente na sala de aula como potencializador do
Podem ser ações rápidas e práticas nas quais eles(as) processo de formação integral, as Práticas Restaurativas
conheçam as pessoas da sala, saibam sobre possíveis pontos de asseguram que todas as dimensões das relações sejam
identificação, tenham a chance de reconhecer-se nos outros. abordadas e trabalhadas ao longo das dinâmicas das aulas.
Isso auxilia na ampliação das percepções sobre pessoas ainda
não próximas, garantindo oportunidades de estreitamento de Pertencimento ao grupo é parte dos processos vividos pelos
laços e construção de conexão grupal. estudantes em todas as fases do desenvolvimento e, em
alguns momentos, assume intensidade vital. Por isso, atuar nas
II. Nos trabalhos em pequenos grupos, as divisões podem relações coletivas por meio da construção de conectividade é
incluir estratégias de mixer, ou mistura de pessoas. O uma tarefa curricular.
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» 3.1.6 Corresponsabilidade Voltar ao menu
3.1.6 Corresponsabilidade
O Círculo Restaurativo apresenta uma estrutura de diálogo que
permite a participação de todos os envolvidos no tema de reflexão,
com espaço organizado para fala e escuta das percepções individuais.
A participação de todos nas escolhas e decisões de um grupo tem
o potencial de compartilhar a responsabilidade pelo percurso do
trabalho, pelos valores apontados como fundamentais, pelas regras, e
também pelos resultados obtidos.
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» 3.2 Práticas Restaurativas e as Metodologias Ativas Voltar ao menu
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abordagens metodológicas, como as metodologias ativas. possíveis com cada componente curricular.
É notório que esse objetivo formativo apresenta consigo a Nesse sentido, Bacich e Moran (2018) ainda destacam que para
exigência de propostas pedagógicas que dialoguem e resultem as metodologias ativas a educação acompanha o movimento da
em tal proposição. Nesse sentido, as metodologias ativas vida dos estudantes, do desenvolvimento da sua humildade, da
apresentam pressupostos que encontram tais necessidades sua autonomia, do seu processo de aprendizagem, atuando nas
e ainda podem ser correlacionadas com os princípios, conexões e relações estabelecidas, auxiliando na tomada de
procedimentos e estratégias das Práticas Restaurativas. As consciência, na construção e reconstrução do conhecimento
duas estratégias convergem na mesma visão de estudante, através da experiência.
de processo de aprendizagem, de formação humana, e se
colocam como canais possíveis para a materialização da A proposta circular apresenta um procedimento que traz para
educação integral. o centro do debate a partilha de experiências. Por exemplo,
as propostas de check-in e check-out são estratégias que
Na perspectiva da prática pedagógica, Bacich e Moran (2018) colocam o sujeito para dentro do tema de debate e o auxiliam
apresentam a metodologia ativa como uma estratégia que na construção de suas considerações, a partir da experiência
atua pela “[...] inter-relação entre educação, cultura, sociedade, pessoal e coletiva vivida no círculo.
política e escola, sendo desenvolvida por meio de métodos
ativos e criativos, centrados na atividade do aluno com a Diante de um componente curricular, o tema de debate central
intenção de propiciar a aprendizagem [...]” (2018, p. 7). da aula pode partir de insumos da realidade, dos contextos,
das leituras prévias de mundo apresentados por cada um dos
A estrutura circular – já apresentada anteriormente – alunos, e assim consolidar as novas aprendizagens a partir de
apresenta a mesma correlação entre vida e processo educativo, experiências de trocas.
não dissociando as experiências concretas dos sujeitos da
educação do seu processo educativo partilhado no espaço da Outra convergência entre as metodologias ativas e as
escola. Comumente, esses processos são observados de forma Práticas Restaurativas está no desenvolvimento de práticas
dissociada, como se o conteúdo presenciado na experiência do problematizadoras, baseadas em boas perguntas, e que levem
aluno não servisse ou não compusesse conteúdo curricular. à reflexão pelo desafio de aprendizagem. As perguntas, em
processos de investigação, são a base das metodologias ativas
Ao contrário dessa perspectiva, assim como nas metodologias e do fazer restaurativo. As premissas aplicadas no Conversar
ativas, quando utilizadas pelo docente como prática didática, Restaurativo podem ser traduzidas na forma de caminho
as Práticas Restaurativas propiciam que as vivências se façam investigativo para a produção do conhecimento.
presentes, sejam partilhadas e estabeleçam as conexões
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Por exemplo: Essa correlação ainda aponta o diálogo como elo principal entre
o sujeito e seu processo de aprendizagem, premissa básica para
Resolução de conflitos Estratégia didática as metodologias ativas e para as Práticas Restaurativas. Bacich
e Moran (2018) apontam uma definição para essa proposta
Do seu ponto vista, o que O que você sabe sobre esse
aconteceu? assunto?
que serve às metodologias ativas e às Práticas Restaurativas,
considerando a educação dialógica como:
O que passou pela sua cabeça O que você pensou/sentiu nessa
quando isso aconteceu? experiência que partilha? “[...] participativa e conscientizadora, que se desenvolve
por meio da problematização da realidade, na sua
Como esse assunto afeta sua
Como você foi afetado? realidade? apreensão e transformação. Na ótica do trabalho
pedagógico com a metodologia da problematização,
O que você precisa para a situação Que outros temas poderíamos ensinar significa criar situações para despertar a
ser resolvida? explorar nesse assunto? curiosidade do aluno e lhe permitir pensar o concreto,
Mão na massa, vamos descobrir conscientizar-se da realidade, questioná-la e construir
O que você pode fazer para ajudar juntos o que esse assunto tem a conhecimentos para transformá-la, superando a ideia de
a resolver a situação? nos mostrar. que ensinar é sinônimo de transferir conhecimentos [...]”.
(BACICH; MORAN, 2018, p.07).
Quadro 1 – Conversar restaurativo
Diante de tantas convergências, na tradução dessas estratégias
Nota-se, que o princípio restaurativo para a resolução de no plano de aula, por exemplo, elas podem ser associadas e
problemas se mantém mais dedicado à exploração dos utilizadas na estratégia didática. É possível iniciar a aula com um
assuntos em debate em cada componente curricular. Essas círculo restaurativo, e no ato da atividade principal utilizar outras
perguntas podem ser traduzidas em diversas estratégias estratégias ativas, como a investigação por situações-problema
didáticas para apontar o problema de aula, levantar ou estações por rotações do ensino híbrido. Uma proposta de
hipóteses, procurar caminhos e cooperar na construção das aprendizagem por projetos pode ser iniciada e concluída no
considerações sobre o tema. modelo circular, com cerimônias de abertura e encerramento
(check-in e check-out). A sala de aula invertida pode ser iniciada
As duas perspectivas mostram-se comprometidas com o pelas perguntas restaurativas, dentre outras associações.
protagonismo juvenil, no sentido de manter a centralidade do
sujeito que aprende como principal autor do seu processo, a A postura docente também é problematizada em ambas as
partir de estratégias adequadas pensadas intencionalmente leituras de aprendizagem. Para as metodologias ativas, o
pelo professor e de sua atuação como mediador/facilitador. docente ocupa o lugar de mediador da aprendizagem, rompendo
61
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62
» 3.3 Planejamento Pedagógico e as Práticas Restaurativas Voltar ao menu
3.3 Planejamento
Pedagógico e as
Práticas Restaurativas
Ao tratar sobre a incorporação das estratégias restaurativas na
sala de aula, Hopkins (2011) aponta que uma sala restaurativa
é caracterizada por aquela em que os relacionamentos são
importantes, considerando que os mesmos têm impacto direto no
processo de aprendizagem e na eficiência do ensino.
63
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Figura 2 – Diagrama
64
» 3.4 As Práticas Restaurativas como Metodologia Didática Voltar ao menu
inserida no Planejamento Pedagógico
3.4 As Práticas
Restaurativas
como Metodologia
Didática inserida
no Planejamento
Pedagógico
Quando dedicado à reflexão, o procedimento restaurativo é
caracterizado pelo uso das estratégias restaurativas com a
finalidade de refletir sobre um tema comum a um grupo. Na
realidade escolar e na dinâmica do professor/facilitador na
sala de aula, o tema comum refere-se ao conteúdo ou temas
centrais de cada área do conhecimento. Portanto, o Círculo
Restaurativo pode ser compreendido e utilizado como uma
estratégia didática, compondo uma escolha metodológica pela
qual se pode conversar sobre todo o conteúdo em qualquer
área do conhecimento.
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outras estratégias ou atividades pertinentes ao diálogo do procedimento circular, nas quais os alunos compõem
grupo. Nesse caso, orienta-se que as demais atividades sejam pequenos grupos circulares, pares de trabalho ou grandes
envolvidas pelo processo circular, ou seja, preferencialmente círculos. Para cada situação, o roteiro segue os mesmos
se inicie e conclua o diálogo com ele, incluindo as demais procedimentos, mas é possível diversificar o conteúdo
atividades desejadas no bojo da atividade principal. ou o percurso aliando a outras metodologias ativas. Por
exemplo, é possível propor uma aula sequenciada em
É importante seguir a estrutura do procedimento circular porque rotação por estações (ensino híbrido), na qual a turma é
cada elemento tem uma função para o objetivo do diálogo. dividida em pequenos círculos (grupos) de trabalho e cada
Os elementos pré-atividade principal auxiliam na coesão do grupo recebe um roteiro circular com um tema ou uma
grupo, no fortalecimento de vínculos e na sensibilização para etapa da aula. Pode-se iniciar e concluir a aula no grande
o tema de diálogo. Os elementos pós-atividade principal círculo e rechear o meio com as rotações por estações.
orientam para o fechamento, conclusão, acordos e avaliação Para trabalhos individualizados, é possível construir
das atividades realizadas. Há um sentido para cada etapa, roteiros em círculo indicando um percurso autorreflexivo
por isso, é importante ser fiel ao procedimento respeitando para o(a) estudante, iniciar e encerrar a aula no coletivo/
os objetivos e a forma de condução de cada momento, mas grande círculo e rechear com propostas personalizadas
também pode-se optar por uma ou outra estratégia, se o para o trabalho individualizado.
professor/facilitador achar necessário.
b. Diversificação dos instrumentais: as Práticas
Não é necessário realizar todos os passos do procedimento em Restaurativas apresentam alguns instrumentos que
todas as aulas. O professor poderá realizar escolhas de acordo auxiliam na percepção e sensibilização sobre o assunto
com seus objetivos de trabalho. A regra é ser criativo e explorar da aula. As peças de centro podem ser compostas
diversas combinações. Até desenvolver segurança no manejo com elementos que fazem menção ao tema da aula,
do procedimento, o professor poderá focar em uma ou outra por exemplo: na aula de Matemática sobre formas
estratégia e, gradativamente, ampliar suas possibilidades. geométricas, cada criança pode trazer de casa um objeto
em que reconheça uma forma geométrica para compor
São pistas de ação: a peça de centro; na aula de Geografia sobre biomas, o
professor pode escolher imagens que representem ou
a. Estrutura do grupo: ao planejar cada sequência apontem as características dos diferentes biomas e
didática ou roteiro de aprendizagem, o professor deixar expostas na peça de centro; na aula de Arte sobre
pode incluir atividades coletivas, grupais, em pares ou a construção de produções visuais, o professor pode
individuais, de acordo com os seus objetivos formativos. deixar dispostos na peça de centro os materiais que os
No círculo, é possível propor atividades roteirizadas pelo estudantes utilizarão ao longo da aula para a construção
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da produção; podem ser acrescentados elementos que nessa construção é perceber, dentro das teorias do
façam sentido para a turma e para a aula. Como bastão/ desenvolvimento e da aprendizagem, as características
objeto de fala/palavra, pode ser utilizado também um de cada faixa etária ou fase do desenvolvimento humano.
objeto que componha o tema da aula e que pode ser Essa percepção auxilia na construção de estratégias e
utilizado para iniciar a proposta, ser suspenso durante o recursos adequados à compreensão de cada momento
uso de outras atividades ou metodologias, e retornar ao da vida.
final da aula para a partilha das sínteses do grupo.
e. O procedimento circular e a Educação Infantil: para
c. Dinamização do procedimento circular na sequência os grupos da Educação Infantil, o planejamento precisa
didática: algumas etapas do procedimento circular contemplar com maior minúcia o fator tempo. As propostas
auxiliam na introdução das sequências didáticas e outras podem ser adequadas ao tempo de concentração dos
são mais eficazes para o encerramento. Por exemplo, estudantes em cada fase do desenvolvimento. Também
é possível preparar uma cerimônia de abertura para a pode-se optar, entre as etapas do procedimento, por aquela
sequência no primeiro dia de trabalho; na retomada da que faz mais sentido para a proposta de aula. Para a área da
aula no próximo dia, é possível iniciar com um check-in Educação Infantil, explorar a ludicidade é uma regra.
para recuperar o conteúdo trabalhado e concluir o dia
com um check-out; no dia do encerramento do assunto da f. Formação dos educadores: no processo formativo dos
sequência didática, é possível preparar uma cerimônia de educadores, é possível construir ferramentas lúdicas para
fechamento com sínteses construídas pelo próprio grupo que o professor identifique essas possibilidades como
ao longo do percurso, como um grande painel, mural ou oportunidades pedagógicas no ato de seu planejamento.
outra produção coletiva. Para isso, é possível criar selos ou outras formas de
identificação de cada etapa e, de acordo com o percurso
d. Ludicidade no procedimento circular: explorar a formativo de cada professor, fomentar a apropriação por
ludicidade, o universo da fantasia e a imaginação também partes, iniciando pelas fases de acolhida e despedida e,
auxiliam no desenvolvimento dos conteúdos de cada posteriormente, introduzindo outras etapas.
área do conhecimento pelo procedimento circular. Nesse
campo, há uma infinidade de possibilidades que geram g. O círculo restaurativo e o ensino híbrido: em
encantamento, aumentando o interesse, a participação momento de utilização de outras metodologias ativas
e, por consequência, a apropriação do conteúdo. Explorar em interlocução com os recursos tecnológicos, é
essas possibilidades tendem a melhorar a proficiência importante lembrar que a intencionalidade restaurativa
em decorrência do envolvimento afetivo da(o) estudante está em propor espaços de troca e interação humana
com a aula e com o grupo. Um aspecto que auxilia para o trabalho sobre as relações interpessoais. Nesse
67
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sentido, mesmo em propostas realizadas dentro execução de dadas tarefas ou de compromissos relativos
de uma interlocução com a tecnologia, é possível à escola, entre outros exemplos.
manter a estrutura de propor acolhimentos, trabalhos
diversificados e fechamentos coletivos utilizando e A ideia é ampliar possibilidades, diversificando as opções do
explorando as ferramentas, recursos, programas e professor para trabalhar com o grupo. Quando o educador
aplicativos disponíveis. pensa e registra essas estratégias no seu planejamento
pedagógico, consegue destacar a perspectiva formativa
h. Ensino remoto e procedimento circular: é possível restaurativa assumida por ele. Preparar a aula na modalidade
imprimir a intenção restaurativa do professor no de círculo restaurativo proporciona materialidade de uma
planejamento pedagógico em diversas modalidades educação voltada ao desenvolvimento integral e à promoção
de aula ou estrutura de atendimento. Em contextos de experiências e vivências em dignidade humana. Todo o
específicos nos quais se faz necessária a articulação processo e a forma de realização do procedimento precisam
de estratégias, como o atendimento remoto, a ser comunicados ao grupo, nominando corretamente cada
intencionalidade restaurativa pode ser transposta como estratégia e sua finalidade até que o grupo compreenda e
metodologia didática, na sensibilização do estudante para naturalize o processo. Isso gera organicidade e auxilia na
o tema de diálogo ou na provocação de espaços de escuta construção de uma cultura restaurativa.
e fala em ambiente doméstico com o grupo familiar.
Por exemplo, na modalidade de ensino híbrido, antes
de iniciar as rotações por estações, é possível construir
uma sensibilização para a aula com uma cerimônia de
abertura e check-in sobre o tema da aula, e o mesmo vale
para o encerramento; dentro das trilhas de aprendizagem
que usam aplicativos para execução, também é possível
aplicar os elementos que iniciam e finalizam o círculo
restaurativo; para as turmas da Educação Infantil, é
possível incluir nos roteiros um passo a passo para que
a família organize o círculo e siga o roteiro de reflexão;
é possível construir dicas de posturas restaurativas para
incentivar a reflexão no ambiente doméstico, como tratar
da importância da escuta, da percepção dos sentimentos,
do destaque aos valores do grupo familiar importantes
à convivência, das diretrizes do grupo familiar para a
68
» 3.5 As Práticas Restaurativas para a Gestão de Sala de Voltar ao menu
Aula inseridas no Planejamento Pedagógico
3.5 As Práticas
O procedimento circular pode ser utilizado para a gestão de sala
de aula quando se observa a necessidade de otimizar o trabalho
pedagógico com demandas diretamente ligadas às necessidades
de Aula inseridas
facilita a abertura do grupo para o diálogo sobre as áreas do
conhecimento, garantindo ao mesmo tempo formação integral e
no Planejamento
fluidez do processo de aprendizagem.
Pedagógico
Destaca-se que o trabalho sobre o fortalecimento das relações
humanas e processos grupais também configura conteúdo de
uma proposta curricular dedicada à formação integral de crianças,
adolescentes e jovens. Para essa proposta, é imprescindível que
o professor/facilitador conheça sua turma e as características
do grupo com o qual atua diretamente na formação: como se
relacionam, quais as forças operantes, quais os níveis hierárquicos,
as lideranças, as possíveis exclusões, os níveis de pertencimento, as
pessoas que precisam ser incluídas, os mais e menos participantes,
dentre outras características. O vínculo é fundamental para
qualquer proposta formativa.
69
» 3.6 As Práticas Restaurativas para o Manejo de Conflitos Voltar ao menu
inseridas no Planejamento Pedagógico
3.6 As Práticas
Restaurativas
para o Manejo de
Conflitos inseridas
no Planejamento
Pedagógico
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conflito. Por isso, é evitável gerar ataques pela linguagem de abertura e encerramento dedicadas ao fortalecimento de
escolhida, pela tonalidade de voz e pela maneira como vínculos, com atividades para que os estudantes se conheçam
direciona o diálogo. O foco das estratégias restaurativas é e aprendam a trabalhar com todos os colegas; na percepção
proporcionar o diálogo aberto e sincero, para que cada um se de conflitos relacionados ao bullying, o professor pode
perceba empaticamente com o outro na relação conflituosa. utilizar um check-in e check-out para trabalhar a empatia e
consideração pelas pessoas, descrevendo no planejamento
Nesse momento, é importante estimular os relatos em a articulação desse trabalho com os temas/assuntos de cada
primeira pessoa, para que, aos poucos, os participantes área do conhecimento.
manifestem suas necessidades pessoais, identificando-as
e, posteriormente, aprendendo formas assertivas de Quando essas finalidades constam no planejamento do
manifestá-las. A condução do facilitador também precisa professor, nota-se que houve preocupação em atender às
atentar-se à função de auxiliar o grupo a passar do conflito demandas relacionais, que também compõem a formação
para a solução. integral dos estudantes: uma ação planejada pelo professor
articulando o trabalho sobre todas as dimensões da
A compreensão de erro nessa perspectiva não é sobre formação humana através do planejamento pedagógico.
uma lente punitiva, mas sobre uma oportunidade de
aprendizagem. A condução do professor/facilitador tem
poder de mudar uma cultura punitiva para uma cultura
pacífica. Por isso, expressões que criam estigmas ou são
excludentes para os participantes do conflito não compõem
o repertório das Práticas Restaurativas para o manejo de
conflitos.
71
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» 4. Construindo uma Escola Restaurativa
4. Construindo uma
Escola Restaurativa
Como transitar para a Cultura da Paz? Como ancorar uma
cultura que se funda em assertivas como: “A violência é
evitável”; “É possível lidar com a violência sem violência”;
“A paz se aprende”. (PELIZZOLI, 2016 p. 75)
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A escola é provocada a assentar suas bases nas Práticas escola enquanto ambiente seguro.
Restaurativas e, de maneira imprescindível, é convidada a
estruturar métodos e estratégias, ressignificando assim 2. Gestão participativa. Como definida por Giareta (2015) “[...]
sua prática. Para isso, destacamos alguns aspectos a serem como meio a serviço do processo educativo, identificando
considerados: o planejamento como prática participativa, portanto, como
ação político-pedagógica, centralmente educativa, por isso
1. Um currículo com enfoque em direitos e pautado na participativa, democrática e libertadora” deve estar envolvida,
qualidade social da educação, que promova a formação humana, fomentando e apoiando o desenvolvimento das equipes e os
por meio de uma educação libertadora e emancipatória, é o processos necessários para que a mudança ocorra.
foco da missão Marista.
Nas experiências bem-sucedidas com a implementação das
O currículo na escola e, especificamente, na sala de aula, deve Práticas Restaurativas nas escolas, é sempre ressaltada a
possibilitar que as diferenças entre religiões, povos, culturas e importância do envolvimento da gestão para que o grupo
diferentes posicionamentos sociais não sejam aspectos para tenha o engajamento e o comprometimento necessários à
a segregação, privilegiando alguns e menosprezando outros. implementação da metodologia. O abandono dos modelos
A verticalidade da relação de poder precisa ser rompida para punitivos de gestão se faz necessário, sendo o caminho do
dar espaço a uma relação horizontal, em que todos(as) sejam diálogo e da participação o mais efetivo para a humanização
incluídos(as) e respeitados(as) em suas diferenças sociais, das relações.
culturais, sexuais, religiosas, dentre outras, para que, de fato, a
educação seja um direito social, conforme estabelecido em um 3. A formação docente na metodologia das Práticas
dos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos10, Restaurativas e nas ferramentas conversacionais da
e que garanta os demais direitos. Comunicação Não-Violenta (CNV) se torna fundamental na
formação continuada dos docentes, favorecendo a migração da
O Brasil, especificamente a área da Educação, desde 2018, se postura punitiva arraigada em nossa sociedade para a postura
defronta com o desafio de implementação da Base Nacional da responsabilização, reflexão, formação moral e dialógica,
Comum Curricular (BNCC, 2018) em todo o país. O referido presentes nas Práticas Restaurativas, fortalecendo a postura
documento tem a intencionalidade de servir de referência para proativa no manejo dos conflitos e, assim, promovendo um
a construção dos currículos de toda a rede pública e privada do ambiente saudável de trocas, relacionamentos, aprendizagem
país, na busca por equidade e qualidade da educação brasileira e formação humana.
(BRASIL, 2018). E nesse sentido, ousamos construir um currículo
com enfoque em direitos, e no qual os sujeitos e a construção De acordo com Charlot, Bernardo (2013), a formação docente
de relações saudáveis sejam centrais, para o fortalecimento da no mundo atual perpassa, não somente, por cumprir com a sua
10
O direito à educação, ou seja, o direito a aprender, está no rol dos direitos humanos fundamentais, que é amparado por normas
nacionais e internacionais e se expressa como espaço fundamental de todos visando ao ensino e aprendizagem na busca e processo
de desenvolver e potencializar a capacidade humana, conforme se registra na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948). 73
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obrigação fixada, mas também por um profissional que esteja de um Projeto Político Pedagógico (PPP) e Regimento Escolar
em sintonia com o ensino de qualidade e a resolução das que derrubem os muros de todas as questões excludentes e
mais variadas situações que acontecem na escola e em sala de anulação do outro, imbricadas na história da sociedade.
de aula, e que reflita sobre a sua prática, buscando sempre a Para isso, é imprescindível uma equipe que esteja dedicada e
formação. envolvida com o contexto escolar, bem como demais membros
da comunidade educativa na elaboração desses documentos.
Perrenoud (2000), ao discorrer sobre a formação docente e
suas competências, destaca uma das competências essenciais: É por meio do PPP que o espaço educativo tece a sua missão,
a formação continuada dos professores. Segundo o autor, objetivos, intencionalidade, define sua rota e as estratégias
essa é a bússola para o desenvolvimento de todas as demais para o futuro, e organiza suas ações na consolidação da
competências da função docente. É importante que a escola formação humana e integral dos sujeitos. Segundo Veiga (2013,
tenha um plano de formação continuada e que esse tema esteja p.13), “[...] Ele é construído e vivenciado em todos os momentos,
presente no plano. O professor é o gestor da sala de aula e deve por todos os envolvidos no processo educativo da escola.”
articular os métodos de ensino e aprendizagem, os conteúdos
escolares, o desenvolvimento das habilidades e competências, Sendo assim, é um documento que traduz a concepção de
sendo provocado a pensar tudo isso a partir dos princípios, educação adotada pela escola, qual o perfil de estudante
filosofia e metodologia das Práticas Restaurativas. pretende formar, comprometendo-se com a formação pautada
nos valores Maristas. O PPP se alimenta da realidade da escola
Importante ressaltar que, além da formação docente, se faz e traz as necessidades do cotidiano. É um documento que
necessária a formação de todos os profissionais que atuam permite a vivência da democracia, o exercício da cidadania e a
dentro do espaço escolar, nas Práticas Restaurativas. Para garantia do direito à educação de qualidade. Este documento
que haja, realmente, uma mudança de cultura, é necessário o precisa estar alinhado com a intencionalidade da efetivação
envolvimento de todos(as). A mudança de mentalidade precisa de uma escola restaurativa, para que os estudantes tenham
ser coletiva e se refletir nas práticas do cotidiano de toda a a garantia de seus direitos e para que não haja exclusão,
escola. Desta forma, toda a comunidade escolar é convidada negligência ou mesmo relações arbitrárias.
a consolidar a escola restaurativa, sendo responsável pela
cultura e disseminação das estratégias restaurativas. O Regimento Escolar, que regula, define e normatiza as ações da
escola para a vivência e promoção de uma escola restaurativa,
4. Projeto Político-pedagógico (PPP) e o regimento escolar: deve também estar em consonância com os pilares das
para que a escola seja um ambiente inclusivo, que respeite Práticas Restaurativas. Portanto, o Regimento Escolar deve
e valorize as diferenças, necessita desenvolver um olhar estar respaldado no diálogo, no apoio, no respeito, na escuta
diferenciado, “mudando as lentes” (ZEHR, 2014), na construção qualificada, na reflexão pessoal, na responsabilização dos
74
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sujeitos para a tomada das decisões e na reparação de dano de O UNICEF (2020) contribui dizendo que esses espaços
forma consensual. Isso permitirá uma mudança de paradigma, educacionais se tornam de empoderamento de meninas e
que foi-se construindo ao longo da história da educação e meninos, para que reconheçam situações e busquem apoio,
que, de acordo com Mullet, Amstutz (2020, p. 30), “(...) em geral ajuda e proteção. Para tanto, visto a complexidade da vida
a punição consegue coibir a criança temporariamente, mas humana, não conseguiremos agir meramente sozinhos,
dificilmente ensina a autodisciplina em primeira mão”. Mudar precisamos do apoio e envolvimento das famílias e demais
do paradigma punitivo para o restaurativo permite ver, sentir e atores que compõem a comunidade educativa.
entender o estudante como um sujeito de direitos, fortalecendo
sua autonomia. Instrumentalizada pelas Práticas Restaurativas, a escola
torna-se também um lugar cada vez menos punitivo e mais
Conforme Mullet, Amstutz (2020, p. 46), “as regras e acolhedor e potencializador de crianças, jovens e adultos como
normas devem refletir os valores e princípios escolhidos atores presentes e participativos na constituição da sociedade.
consensualmente pela comunidade educativa”. As mesmas
autoras afirmam que as normas e regras devem prevenir os Neste contexto, caminhamos circularmente em um movimento
problemas e não apagar os incêndios. Neste caminho a ser em que todos e todas presentes no espaço educativo também
trilhado de uma educação para a paz, conceber o Regimento se sintam corresponsáveis por tornar esse ambiente seguro
Escolar e o PPP11 como oportunidades de conexão e integração para o desenvolvimento pleno dos estudantes.
é o percurso para a construção de uma educação que promova
o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens. Nesse espaço, circulam vozes do corpo docente e equipe de
profissionais da escola, profissionais das redes de proteção, de
5. Corresponsabilidade da comunidade educativa. Quando outras políticas públicas, e assim, como o objeto de fala usado
refletimos sobre a palavra corresponsabilidade, muitos são os nos processos circulares restaurativos, que tem a função,
caminhos e possibilidades de compartilhar responsabilidades nas reflexões metodológicas, de dar voz, escuta e troca de
e cuidados. Por isso, apresentamos algumas ideias para conhecimentos diversos, todas as vozes que compõem o
pensarmos nesse cuidado ampliado e coletivo. A escola espaço educativo se engajam na implementação da cultura da
enquanto ambiente protetivo, de promoção e garantia de paz e na efetivação do modelo restaurativo.
direitos, de acesso ao conhecimento humano e técnico
profissional, torna-se um lugar estratégico para pensar Entende-se que a escola pode contribuir de maneira
possibilidades de viabilizar ações coletivas que integrem os significativa no fortalecimento da rede de atendimento de um
sujeitos e criem redes de parcerias, e intervenções sociais, território, construindo suas bases a partir da escuta, do olhar
gerando engajamento coletivo e contribuindo para uma cuidadoso e da empatia com cada participante deste sistema
sociedade mais justa e fraterna. complexo, de uma organização comunitária, muitas vezes,
11
ANEXO I – texto inspirador a ser adaptado pela escola e inserido no PPP.
75
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fragilizada pelas próprias Políticas Públicas e pela falta de e coordenada para garantir a atenção integral de crianças,
empoderamento de seus participantes, e/ou ainda isolada em adolescentes e jovens no sistema de garantia de direitos.
seus muros.
Para Ferrari (2014), ações articuladas, tanto nas instituições
Nesse sentido, as Práticas Restaurativas, na Educação, podem quanto nas Políticas Públicas, são necessárias para concretizar
ser utilizadas como instrumento de fomento para articulação as políticas existentes, permitindo maior agilidade nos
e empoderamento de outras Políticas Públicas, como Saúde, atendimentos. Em síntese, a contribuição da escola na
Assistência Social, Habitação, Cultura, Esporte, Justiça, construção de uma comunidade fortalecida na cultura
Segurança, e tantas outras, que devem atuar de forma integrada restaurativa pode ser compreendida da seguinte maneira:
6. Atuação em rede. As redes de atendimento, redes protetivas, acarretar diversas outras situações que se intensificam no
redes socioassistenciais e redes intersetoriais, entre outras decorrer da vida dos sujeitos.
denominações, são termos utilizados para o conjunto de
serviços que fazem parte das políticas públicas protetivas A consolidação de uma escola restaurativa é um processo que
de crianças, adolescentes, jovens, mulheres, idosos, LGBTQI+, demanda planejamento do “ser” escola. Uma escola restaurativa
entre vários outros públicos, que precisam de atendimentos perpassa, assim, pela descoberta do processo de ser escola, e
dos mais diversos níveis de necessidades biopsicossociais12 ser currículo. “Ser” currículo é uma forma de estar nas relações
assegurando seus direitos. educacionais desde um lugar de quem confia no processo
dialógico e nos recursos do estudante, vivendo essas crenças,
Para tanto, a escola como parte desta rede: para gerar, conjuntamente, novos aprendizados.
Revela-se como ambiente propício para revisitar Em resumo, construir uma escola restaurativa envolve,
leis, normas, planos já existentes e novos protocolos conforme figura abaixo, vários componentes imprescindíveis:
para avaliar a necessidade de implementar, revisar ou
desenvolver novos procedimentos e mecanismos que
assegurem a identificação e o encaminhamento efetivo Currículo com
enfoque em
de crianças e adolescente em risco ou em situação de direitos
violência. (UNICEF, 2020, p. 13).
Sendo assim, consideramos um grande desafio transformar comunicação. O diálogo é uma ferramenta de grande potencial
a escola em um ambiente seguro e restaurativo, onde a para isso. Em seguida, precisamos considerar as pessoas que
construção de uma cultura de paz torna-se um ponto central estão envolvidas nesses espaços: como elas reconhecem a
a ser alcançado. E, nesse sentido, pode ser considerado por paz a partir de suas narrativas pessoais? E, por fim, talvez seja
muitos uma utopia, mas que deve ser perseguida por todos nós. uma oportunidade pensarmos a responsabilidade que se tem
O escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) conta com o nosso planeta, e a paz também pode ser considerada um
que estando numa palestra junto de seu amigo, o cineasta serviço à nossa Casa Comum.
argentino Fernando Birri (1925-2017), um estudante fez uma
pergunta no mínimo embaraçosa: “Para que serve a utopia?”. Em 2013, numa conferência dirigida aos professores e
Eduardo logo considerou que essa era a pergunta mais difícil estudantes japoneses, o Papa Francisco recordou: “Se nos
já feita e, para sua sorte, foi o seu amigo que respondeu. E o fez isolarmos em nós mesmos, só teremos o que temos, não
de modo espetacular. Então, Fernando disse: “A utopia está no poderemos crescer culturalmente. Mas se formos ao encontro
horizonte e eu sei que nunca a alcançarei, pois se eu caminho de outras pessoas, culturas, modos de pensar e religiões,
dez passos em sua direção, ela se afasta dez passos para mais sairemos de nós e começaremos a aventura tão bonita
longe de mim. Quanto mais eu a busco, menos eu a encontro, chamada ‘diálogo’. O diálogo é muito importante para a nossa
porque ela se afasta, na medida que eu me aproximo. Então, maturidade [...] Não se pode ter paz sem diálogo”13. E essa é a
para que afinal serve a utopia? Serve para isso: para caminhar”. chave de leitura que nos dará acesso ao horizonte de construir
Utopia e educação caminham lado a lado. Por mais que a cultura de paz em nossos espaços educativos.
teorizemos a respeito dos processos de ensino-aprendizagem,
reconhecemos que nunca alcançaremos a forma perfeita de Diálogo implica em considerar o outro em sua plenitude, o
fazê-lo. Concordamos que esses processos não estão isolados, que solicita o reconhecimento e respeito da diversidade.
que não nos dedicamos sozinhos a eles, que não estão imunes Abrir-se para o diálogo requer ainda a habilidade da escuta
ao escorrer do tempo e às mudanças provocadas pelos avanços ativa, isto é, olhar para o outro como detentor de uma
científicos. Apesar disso, não negamos que temos um chamado mensagem importante e que, se não escuto, não saberei como
a aperfeiçoar nossa competência pedagógica, aliada ao senso corresponder com significado compatível. Diálogo em vias de
de cidadania, inclusão e justiça social. De igual modo, todos os construir cultura de paz não deve ainda ser confundido com
desafios da educação, específicos de nossa era, cumprem a estratégias de persuasão. Pois não se trata de convencer o
mesma função da utopia: servem para que caminhemos. Criar outro, de colonizá-lo a partir de um ponto de vista, mas sim de
cultura de paz nos espaços educativos é um desses desafios acolher aquilo que o outro comunica como vindo de um modo
que nos movem. diferente de ver o mundo. Diferente. Não melhor e nem pior,
apenas diferente. Por isso consideramos que o cuidado com a
Intuímos que esse desafio precisa considerar processos de comunicação favorece a geração de cultura de paz.
13
PAPA FRANCISCO. O projeto educativo de Francisco. Oscar Armando Perez
Sayago (Org.). Curitiba: PUCPRESS, 2019, p. 35.
78
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O ambiente que gera cultura de paz é aquele em que a degradação ambiental, se não prestarmos atenção às causas
dignidade da pessoa é considerada em sua integralidade. que têm a ver com a degradação humana e social” (Laudato
Também é preciso se perguntar que tipo de paz nós estamos Si18, n. 48). Caminhar como família global, como nos convida
buscando, bem como é preciso considerar quais formas se o XXII Capítulo Geral do Instituto dos Irmãos Maristas (2017),
opõem ao estabelecimento de uma cultura de paz. A violência, convoca cada pessoa envolvida nesta missão educativa a
por exemplo, precisa ser compreendida de modo amplo compreender-se como cuidadores da Casa Comum.
a partir de seus diversos contextos sociais, linguísticos e
midiáticos. A estudiosa Luciene Lucas do Santos14 é quem Inauguramos o ano de 2021 com a contundente afirmação de
justifica essa necessidade ao participar do 105º encontro do que “não há paz sem a cultura do cuidado”19 (Papa Francisco).
Comitê da Cultura de Paz, organizado pela Unesco em parceria Então, parece salutar nos perguntarmos: o quanto as nossas
com a Associação Palas Athena. Ela conclui que considerando estruturas, recursos e pessoas que dão corpo às nossas
os dias atuais, para se estabelecer cultura de paz é preciso unidades educativas estão comprometidas com a cultura
começar “estabelecendo novas relações com o consumo, com do cuidado? Cuidar solicita de cada um de nós um esforço
os modelos de desenvolvimento, com a diversidade étnica e interior, precisa brotar do lado de dentro e expandir como
evocar a dignidade humana”15. ondas para o lado de fora. Desse modo, geramos senso de
corresponsabilidade pela criação da cultura de paz.
Nunca é demais registrar que dignidade e paz já aparecem
juntas na “Declaração Universal dos Direitos Humanos” (1948), Estar disponível para o diálogo, reconhecer a dignidade de
quando em seu preâmbulo anuncia: “Considerando que o cada pessoa e ampliar o olhar para a nossa Casa Comum
reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros tornam possível assumir comportamentos saudáveis, que se
da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é opõem e resistem às múltiplas expressões de violência que
o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”16. podem existir dentro do ambiente escolar. Acreditamos que a
Na sequência, o Concilio Vaticano II (1962-1965) reforça que
essa dignidade é inalienável justamente porque “foi criada 14
http://comitepaz.org.br/index.php/105o-forum-os-impactos-do-
à imagem de Deus” (Gaudium et spes 17, n. 12). Sendo assim, modelo-de-desenvolvimento-na-dignidade-humana-interculturalidade-
e-construcao-de-novas-sociabilidades-como-antidoto-a-violencia-
ela deve ser a base de toda organização social e de seus estrutural/
princípios operacionais.
15
https://polis.org.br/noticias/por-uma-cultura-de-paz-e-o-direito-a-
dignidade-humana/
16
https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos
17
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/
A cultura de paz também pode ser considerada um serviço vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html
ao planeta. A esse respeito, o Papa Francisco nos recorda: 18
http://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-
francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html
“O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se 19
http://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/peace/documents/
em conjunto; e não podemos enfrentar adequadamente a papa-francesco_20201208_messaggio-54giornatamondiale-pace2021.html
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» Referências
Referências
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» Anexos
Anexos
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» 4.1 Relatos e Práticas Voltar ao menu
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» Escola Social Marista Ir. Rui Voltar ao menu
Escola Social
Marista Ir. Rui
» Manejo de conflitos
no Ensino Fundamental
Anos Finais
Um educando do 6º ano da Escola Social Marista Ir. Rui foi me chamaram (Márcia) para mediar.
demostrar ao amigo do 7º ano como se dá um “mata-leão”
em alguém (os jovens com os seguintes nomes fictícios: 6º No momento em que cheguei, fui saber do Alan se estava bem.
ano, Alan, e 7º ano, Marcos). Isso aconteceu no refeitório, no Ele estava muito assustado e não quis conversar. Dei o tempo a
horário em que as turmas dos sextos e sétimos anos estavam ele e o mesmo foi jantar. Fui procurar o Marcos, que havia dado
indo para o jantar. O golpe do “mata-leão” foi tão bem dado o golpe e saiu correndo da escola com medo de apanhar, assim
que Alan desmaiou. os colegas relataram.
Nesse momento, os monitores e docentes ficaram muito Chamei o grupo que queria bater para o diálogo, solicitando
assustados e acreditaram que Marcos queria matar o Alan. Os que não fizesse isso, porque a escola é que iria resolver
estudantes amigos do menino que desmaiou queriam bater no o que aconteceu e entender os motivos. Os estudantes
Marcos e foi uma situação bem delicada e logo os monitores acolheram a situação.
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Chamei o Alan para diálogo e o mesmo me contou que ambos vista de cada um?
são amigos e que partiu de uma brincadeira para demonstrar
o golpe, que ficou muito assustado sim, mas que não deveria Alan: que Marcos foi demonstrar a ele como se dá um golpe de
envolver as famílias, mas resolver entre eles. Ponderei que eu mata-leão que havia aprendido e ele concordou.
tinha que comunicar às famílias porque, afinal, não foi uma
brincadeira saudável. Marcos: que falou com o amigo que ia mostrar como se dá “um
mata-leão” e que não sabia que o amigo poderia desmaiar.
Entrei em contato com a família do Marcos e expliquei o que
aconteceu, de acordo com o ponto de vista do Alan e a mãe disse 2. O que cada um sentiu neste momento?
que iria conversar com o filho, assim que chegasse em casa.
Alan: não entendeu bem o que aconteceu, sabe que desmaiou,
Entrei em contato com a responsável pelo Alan e também perdeu o ar e ficou com muito medo depois do golpe.
expliquei. A mãe ficou bem preocupada e disse que irá
conversar com o filho porque sempre o vê brincando de luta Marcos: muito triste, culpado, arrependido, com medo do amigo
e sabe que não dá certo. morrer e muito nervoso com medo de apanhar e da punição
por parte da escola.
No dia seguinte, Marcos não veio à escola e, imediatamente,
entrei em contato com a família para saber o motivo. A mãe 3. Quem mais foi afetado e como?
relatou que estava no trabalho e não sabia que o filho não havia
ido à escola e que ia ligar para casa para saber, e eu relatei que Alan: minha mãe, que ficou preocupada e com medo de
estava preocupada porque ele poderia não ter ido à aula em acontecer novamente e pagou Uber para me buscar com
função de estar com medo. Passados 30 (minutos), o pai do medo de eu passar mal; os monitores que largaram os outros
Marcos e ele compareceram à unidade para o diálogo e, de fato, meninos para ficarem com a gente; e a Márcia, que teve que
o filho estava com medo de vir à escola. parar o serviço dela.
Chamei Alan para diálogo. Marcos: minha mãe, que ficou preocupada, meu pai, que
também ficou preocupado e veio até aqui, os monitores, porque
Momento da mediação: não olharam os outros meninos, e a Márcia, que deixou de fazer
as coisas que tinha que fazer.
Perguntas:
4. O que precisa para que as coisas fiquem bem?
1. Aos meninos: o que aconteceu de acordo com o ponto de Alan: que o Marcos me peça desculpas e que possamos
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conversar com os monitores e amigos, que tudo não passou de para a estada, posterior ao fato, do Marcos à escola, bem como
uma brincadeira de mau gosto. o diálogo dos educandos com os docentes e monitores que
Marcos: pedir desculpa ao Alan, aos monitores e também presenciaram a situação.
explicar o que aconteceu e explicar aos colegas também.
Surpreendo-me a todo instante de como nosso olhar muda
5. O que precisa para que as coisas voltem a ficar bem? quando há um diálogo assertivo, apoio e conexão, e o quanto
essa postura pode transformar vidas.
Alan: não brincar mais dessas brincadeiras e nem de nenhuma
que envolva tapas, empurrões, brincadeiras de luta.
Penso que se não temos empatia, escuta e formação para Tema: solidariedade e fortalecimento de vínculos.
lidarmos com as mais diferentes situações, corremos o risco de
“olhar” com as lentes carregadas de paradigmas, mas quando Objetivo: círculo realizado a partir de um pedido da turma,
acolhemos e nos abrimos ao diálogo, nossas lentes vão-se a fim de ajudar os participantes a refletir sobre pontos do
constituindo e se transformando. relacionamento que estão afetando de forma positiva e
negativa a turma.
Após todo o trabalho de mediação, conversei com os docentes
e monitores o que de fato acontecera para que não rotulassem Leitura: Solidariedade – páginas 26 e 37 do livro “Caminhar
Marcos e a explicação clara da situação fez toda a diferença Marista 5”.
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“A natureza nos uniu em uma imensa família, e devemos viver poder ajudar, caso aceitem;
nossas vidas unidos, ajudando uns aos outros” (Sêneca). ○ Não só esperar que as pessoas peçam ajuda, mas sim
oferecer ajuda;
Os/as estudantes elencaram situações de comportamento ○ Não ser irônico;
positivas e negativas: ○ Não trazer os problemas particulares para a sala de
aula. Ninguém tem culpa dos meus problemas;
Positivo: colaboração entre os grupos; aula invertida na qual um ○ Incluir as pessoas e não formar panelinhas;
grupo ajuda o outro; o componente curricular Interioridades, ○ Acolher o outro, dar conselho e chegar mais nas pessoas.
que traz alívio para as tensões e são gratos ao Marista por isso;
todos da escola são muito atenciosos. Encaminhamentos:
Negativo: muita conversa e há pessoas que sabem a hora de ○ Diálogo com os docentes que estão com desafios com
parar e participar das aulas, mas outras não; alguns colegas essa turma;
estão excluídos na sala de aula, principalmente os que ficaram ○ Voltar o “U” da sala de aula;
retidos no ano anterior; desorganização das carteiras e não ○ Mudar de sala de aula para a sala 2, onde as carteiras
entendem por que não continuou o formato de “U” e lixo no são maiores;
chão; a forma de explicar de algumas aulas não é boa. ○ Dinâmica final sobre relacionamentos realizada pela
Pastoral.
Como cada um pode contribuir para o melhor
desenvolvimento da turma?
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» Marista Escola Social Cascavel Voltar ao menu
» Inserção das
Práticas Restaurativas
no Planejamento
Pedagógico
Quando tratamos das Práticas Restaurativas no universo
escolar, e especialmente sobre a transposição didática
do Círculo Restaurativo como metodologia didática,
alguns questionamentos são recorrentes. Exemplo: como
trabalhar um conteúdo curricular no formato de círculo?
É necessário interromper o conteúdo curricular para
trabalhar um círculo? O círculo atende apenas à demanda
de atuação sobre temas relacionais?
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didática, o Marista Escola Social Cascavel construiu uma e relacionais com as demandas cognitivas. Portanto, atuar
proposta de formação com os educadores para a inserção na formação relacional e emocional por meio das escolhas
das estratégias restaurativas no planejamento pedagógico metodológicas e posturas do professor é tão fundamental
do professor. A proposta teve como objetivo esclarecer o quanto o desenvolvimento de proficiência do aluno. No Projeto
potencial formativo que as estratégias restaurativas têm Educativo do Brasil Marista, estas dimensões não se dissociam,
quando utilizadas como metodologia didática, e que é possível e por isso, não é possível pensar numa formação fragmentada.
construir aulas em todas as áreas do conhecimento no formato
de Círculos Restaurativos. Durante esse processo formativo, No material de apoio construído, a primeira parte foi dedicada
a ênfase foi em desmistificar que as Práticas Restaurativas aos Temas Restaurativos, conforme figura abaixo:
são “algo a mais” a ser trabalhado em sala de aula, já que
elas configuram uma escolha metodológica de vivência do Figura 4 – Instrumental página dos Temas Restaurativos
professor com seus alunos, elemento essencial na construção
de uma cultura para a paz. TEMAS
Após a realização de um ciclo formativo coletivo e personalizado
RESTAURATIVOS
para cada educador, foi realizada a construção de um material Tema 1- Perspectivas pessoais
de apoio, com uma estrutura lúdica para representar a igualmente valorizadas
transposição do círculo para sala de aula. Neste material, os
temas restaurativos e cada etapa do Círculo Restaurativo Tema 2 - Pensamentos influenciam
foram identificados com um selo, e à medida que o professor emoções e ações subsequentes
foi construindo e redigindo sua aula pelo formato de círculo,
ele pôde identificar cada etapa com seu selo correspondente. A Tema 3 - Empatia e consideração
escolha pela estratégia lúdica com os educadores foi realizada pelo outro
considerando que a formação do educador também configura
um processo de aproximação, apropriação e testagem de novas Tema 4 - Identificação das
estratégias, até que cada educador perceba a seu modo como necessidades precede as
as estratégias restaurativas têm potencial diante da sua área estratégias
do conhecimento.
Tema 5 - Responsabilidade
Outra bandeira presente nesse processo formativo foi a coletiva pelas escolhas e
de que a formação integral contempla todas as dimensões
resultados
humanas, incluindo proporcionalmente as áreas emocionais
Fonte: Marista Escola Social Cascavel
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A segunda parte se dedicou a identificar os instrumentais que A terceira parte se dedicou a apresentar as etapas do Círculo
compõem a execução do Círculo Restaurativo, apresentando Restaurativo, separadamente, considerando que cada educador,
as dinâmicas de organização da sala de aula (dinamizada em conforme os temas de diálogo de cada área do conhecimento,
pares, grupos ou círculos), o objeto da palavra/fala e a peça de transitou com liberdade sobre as etapas que mais promoveram
centro, compreendendo que o rompimento com a estrutura o seu conteúdo formativo. A exemplo da figura abaixo, nota-se
individualizada e enfileirada como regra para o trabalho é que as possibilidades de uso das práticas são múltiplas, através
fundamental para que os alunos desenvolvam maior conexão de diversas combinações:
uns com os outros, conforme exemplificado na figura abaixo:
Grupos Check In
Diretrizes e Valores
Sentar em Círculo
Instrumentos das Práticas Restaurativas Perguntas Norteadoras
Objeto da Palavra
Check Out
Peça de Centro Cerimônia de Fechamento
Fonte: Marista Escola Social Cascavel Fonte: Marista Escola Social Cascavel
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Dentro do planejamento, os selos foram colados ao lado de uma breve explicação da prática realizada, identificando a correlação da
prática com o conteúdo de diálogo da área do conhecimento, a exemplo do quadro abaixo:
A produção do material teve sua primeira versão elaborada em 2019, e foi aplicada durante o período de 4 meses. Essa versão pode
ser observada na íntegra no anexo 2. Após o período inicial e avaliação junto aos educadores, o material foi revisado para nova
elaboração. O uso desse recurso compôs parte de um processo formativo com os educadores, o que inclui o fator temporalidade de
uso desse método lúdico, até que os educadores expressem clareza na transposição didática das Práticas Restaurativas. À medida
que essa concepção for consolidada, o uso desse recurso se faz dispensável.
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» Marista Escola Social Ir. Lourenço Voltar ao menu
Marista Escola
Social Ir. Lourenço
» Práticas
Restaurativas, na
prática: gerando
conexões com os
check-ins
Como já falamos ao longo deste documento, as Práticas Restaurativas no
ambiente escolar têm como uma de suas funções estabelecer vínculos
por meio de conexões. Estas podem acontecer de diversas formas: umas
delas é por meio das cerimônias de abertura dos círculos e dos check-ins.
Aqui no Marista Escola Social Ir. Lourenço, localizado na periferia da zona
leste de São Paulo, iniciamos em 2020 – começo da nossa unidade como
escola20 -, um movimento sistemático de realização dos check-ins, aqui
“abrasileiramos” o termo, chamando-o para “movimentos de chegança”.
20
O Marista Escola Social Ir. Lourenço existe no território da Vila Progresso desde 1994, portanto, atua na periferia da zona leste do Estado de
São Paulo há 27 anos. Contudo, até 2019, o serviço oferecido à comunidade era ligado ao Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – o
Conviver Marista. A partir de 2020 a unidade iniciou sua caminhada na Educação Básica, atendendo ao ciclo do Ensino Fundamental Anos Finais
(6º ao 9º) e, em 2021, iniciou-se o ciclo do Ensino Médio.
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no estabelecimento destas metodologias na sua unidade de Estes dois pontos podem ajudar para que sua unidade
ensino: escolar inicie e implemente as Práticas Restaurativas como
metodologia do fazer educativo.
1. Formação: é fundamental estabelecer um processo formativo
com a equipe da escola sobre as Práticas Restaurativas; No Marista Escola Social Ir. Lourenço, o processo de formação
1. Como sabemos que o tempo é escasso, garantir algumas continuada dos colaboradores garantiu as “cheganças” nas aulas
horas durante a CAMAR é uma boa estratégia; on-line, nas reuniões pedagógicas e nas reuniões de equipe
gestora. Criou-se um espaço para os estudantes chamado de
2. Usar alguns minutos das reuniões pedagógicas para encontros de COM-TATO. O termo faz parte de um dos 7 passos
abordar e discutir alguns conceitos pode também ser da Pedagogia da Cooperação, uma metodologia colaborativa
uma boa estratégia. Uma dica: proposta por Brotto (2020), percursor dos Jogos Cooperativos
no Brasil. Estes encontros aconteciam semanalmente e
· Usar a metodologia de sala invertida com os contemplavam todas as turmas da escola.
professores pode ajudar. Indique um texto para
que leiam antes do encontro (no caso a Reunião Para os colaboradores, foram realizados alguns círculos
Pedagógica), e reserve um tempo para uma troca. de diálogo pautados na metodologia circular e em roteiros
propostos pelas autoras Kay Pranis e Karolina Watson
· A plataforma dos Círculos em Movimento possui (2010), criação de um espaço (virtual) de interação entre os
textos curtos (de até 5 páginas) que contextualizam colaboradores denominado “Cafezinhos do Lourenço”, no qual
bem os processos circulares e as práticas os colaboradores simulavam (virtualmente) aquele momento
restaurativas. Que tal começar por eles? do café que era realizado no presencial e a realização de
“cheganças”. Os momentos eram conduzidos, semanalmente,
pelos professores em forma de rodízio: a cada semana, um
2. O que não pode ser medido não pode ser gerido: apesar docente ficava responsável por realizar a conexão de chegada
de todo o processo formativo, sabe-se que algumas pessoas da equipe.
só irão realizar uma tarefa se esta lhes for atribuída, cobrada
ou fizer parte de uma obrigatoriedade. Por isso, vincular a Com as famílias, foi aplicado um questionário institucional
execução das práticas/vivências restaurativas a instrumentos para avaliar como a escola estava lidando com as demandas
institucionais de avaliação como, por exemplo, as metas ou o PDI escolares durante a pandemia e nas reuniões por turma
dos colaboradores, auxilia na implantação destes movimentos havia um espaço dedicado à escuta das famílias sobre todo
na escola. o processo do ensino remoto em 2020. Aqui, recolhíamos as
críticas, sugestões e felicitações das famílias.
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Considerando todas as ações de implantação do modelo 2. O processo formativo de todos os envolvidos é muito
restaurativo na escola social, em 2020, tivemos o seguinte importante. É fundamental que seja um processo de
cenário, considerando toda a comunidade educativa: formação continuada;
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» Fortalecendo a atuação
em rede através das
Práticas
Nas experiências elencadas, apresentamos o Marista Escola Social Ir.
Lourenço (SP), que incluiu as ações voltadas às Práticas Restaurativas na
formação continuada dos colaboradores da escola e nas ações envolvendo
famílias e rede de serviços do território.
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Como estratégia da Escola Social Marista, usamos aqui o A nossa escola, que também faz parte da rede de apoio e do
passo a passo da metodologia das Práticas Restaurativas para sistema de garantia de crianças, adolescentes e jovens da
o acontecimento da reunião como: o círculo, check-in para Villa Progresso, utiliza as Práticas Restaurativas na criação
abertura do encontro, na finalização, o check-out, o objeto de de espaços de diálogo e escuta significativa, para que juntos
fala e toda a mediação orientada pelas práticas, sendo uma e juntas possamos construir estratégias para atender às mais
oportunidade para trocas e junção de saberes, na perspectiva do diversas necessidades da comunidade educativa, apoiada pelas
fortalecimento da proteção social. Na rede, também, se amplia demais Políticas Públicas.
o conhecimento do território e se possibilita o fortalecimento
das Políticas Públicas.
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» Colégio Marista Cascavel Voltar ao menu
» Práticas Restaurativas
- A mudança no olhar
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que não queria que os alunos tivessem medo de mim, pelo mesmo após a formação, alguns professores viam como
contrário, gostaria que o setor fosse um local seguro, que uma abordagem que ‘passava a mão na cabeça dos alunos’.
as crianças/adolescentes pudessem confiar na equipe Foram necessários alguns meses para que a comunidade
para conversar e ajudar a resolver as situações difíceis que escolar pudesse compreender que existiam outras formas de
surgissem. Que compreendessem o setor como parte do gerenciar conflitos. Que a prevenção, ou seja, a escuta atenta,
currículo e valores da escola, que as orientações e tratativas era capaz de evidenciar as angústias que os alunos estavam
ocorridas ali também seriam muito importantes para sua vivendo, muitas vezes fora da escola.
formação profissional, principalmente para sua formação
humana. Essa forma de atuar veio ao encontro do que a Vivemos numa sociedade altamente punitiva. A maioria das
escola almejava para o setor, que estivesse mais conectado pessoas só conhece uma maneira de corrigir o indivíduo
aos alunos e aos projetos da rede, que já apresentavam que cometeu um erro: punindo. O próprio regimento escolar
uma nova perspectiva (Circuito Projeto de Vida, Combate ao previa as punições que eu ‘teria’ que aplicar, caso algum aluno
Bullying, Cyberbullying). não respeitasse as normas da escola (advertência verbal,
advertência escrita, suspensão). A dificuldade que a escola
Apresentei as PRs aos professores de uma maneira diferente. estava tendo em relação ao comportamento disciplinar de
Propus um Círculo de Diálogo, cuja pergunta check-in foi: alguns alunos ficou clara para mim, após a formação sobre PRs.
‘Quando você tinha 14 anos, quais eram seus sonhos?’. Foi
um momento muito importante, alguns professores se O comportamento “negativo” daqueles alunos era reforçado,
emocionaram, deram risada. Antes de explicar qualquer pois ao agir de acordo com o que previa o regimento, ou o aluno
teoria sobre as PRs, foi possibilitada a experiência e o acesso ficava mais bravo/triste com a situação, ou se acostumava
à memória afetiva da infância/adolescência. e até gostava, ganhava poder. Após a minha formação
nas PRs, desenvolvi um novo olhar, uma nova maneira de
Após esse momento, foi mais fácil explicar quais eram os auxiliar os alunos na resolução dos conflitos gerados nas
objetivos dessa nova maneira de enxergar e auxiliar os relações. Percebi a importância de trabalhar, efetivamente e
alunos no processo de resolução de conflitos. Aos poucos, fui constantemente, a prevenção. Como? Praticar a escuta atenta,
mudando a disposição dos móveis da minha sala (o diálogo dando a possibilidade aos alunos de se expressar através
em círculo cria uma conexão única, quase “mágica”, onde os de diálogos e atividades que os permitissem identificar e
envolvidos se sentem mais seguros e conectados), deixei gerenciar as emoções.
de aplicar suspensão para os alunos, os registros no Prime
precisaram continuar, para que os pais tivessem ciência Para que esse “Olhar Restaurativo” aconteça, é imprescindível
das situações ocorridas na escola. No início, encontrei o envolvimento de toda a comunidade escolar, principalmente
muita dificuldade em colocar o ‘novo olhar’ em prática, pois dos docentes. A formação contínua e sensibilização dos
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» Colégio Marista São Francisco Voltar ao menu
Colégio Marista
São Francisco
(...) Existo onde me desconheço aguardando pelo meu passado ansiando
a esperança do futuro. No mundo que combato morro no mundo por que
luto nasço.
» Práticas Restaurativas -
relato de experiência
A sala de aula constitui-se como um espaço de construção coletiva do saber,
composta por sujeitos que trazem consigo singularidades psicológicas,
emocionais, físicas, cognitivas, familiares, espirituais, dentre tantas outras
particularidades. É um espaço no qual há manifestação da diversidade, da
pluralidade de pensamentos, opiniões, desejos, expectativas pessoais e
sociais de forma mais concreta, pois reúne distintos “universos” em um
espaçotempo regido por regras de convivência instituídas socialmente
e que, de certa forma, coíbem a expressão mais genuína desses sujeitos,
mas, ao mesmo tempo, são imprescindíveis para o seu desenvolvimento
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de maneira processual, gradual e integral, pois oportunizam a prática pedagógica de todos os colaboradores que atuam
prática de valores culturais, éticos e sociais. direta ou indiretamente com os estudantes. É necessária,
primeiramente, uma transformação interna, pessoal, para que
Conviver coletivamente e de modo harmonioso no ambiente se viabilize uma transformação cultura coletiva.
escolar será continuamente desafiador, uma vez que os
conflitos sempre estiveram presentes nas relações humanas, e Ressalto a necessidade dessa mudança de “mindset”, pois, como
o espaço escolar não está desprestigiado dessas manifestações. mencionado, culturalmente associamos a ideia de reparação,
Podemos dizer que, culturalmente, fomos educados a visualizar de “justiça”, a punição, o que está profundamente cristalizado
a punição como única estratégia de reparação diante de uma em nossas memórias referentes à escola e produz efeitos em
ação injusta ou danosa, e as normativas escolares, de modo nossa prática atual. Nossas narrativas se baseiam em nossa
geral, seguem esse mesmo modelo. própria história de vida. Da mesma forma, nossos princípios
morais são determinados pela nossa construção histórica, e
Entretanto, a metodologia restaurativa chamou minha atenção esses fatos influenciam diretamente nossa percepção acerca
por propor, sensivelmente, uma quebra de paradigmas, já que dos conflitos. Por conta disso, a capacitação dos profissionais
tal prática visa à resolução de conflitos por meio do diálogo que atuam na escola oportuniza reflexão e esclarecimento
e da responsabilização dos sujeitos sobre suas ações e não acerca dessas questões e práticas, e, portanto, se torna
por meio da culpabilização ou punição. Nessa perspectiva, importante ferramenta para efetivar essa mudança.
os círculos restaurativos se configuram como um espaço
de escuta, compreensão e apoio ao sujeito envolvido em Faço essa afirmação baseada não apenas nas teorias e estudos
situações danosas, seja em relação aos outros e/ou a si que indicam a viabilidade e a concretude dos benefícios de
mesmo. No ambiente restaurativo, o sujeito está separado da tais práticas, mas também em minha experiência pessoal. Em
sua ação e isso possibilita que se olhe para o que aconteceu agosto de 2019, participei do curso “A postura restaurativa
com clareza e imparcialidade em relação às consequências, docente como caminho de consolidação da cultura da paz
mas, ainda assim, com responsabilidade; oportunizando a esse no ambiente escolar”, no Centro Marcelino Champagnat em
mesmo sujeito que ele se torne um agente transformador Curitiba, Paraná. Até aquele momento, não havia tido contato,
daquela realidade. nem detinha um conhecimento prévio do que consistiam
as “práticas restaurativas”, a não ser aquilo que os próprios
Neste sentido, para que as práticas restaurativas se termos me faziam pressupor.
desenvolvam na escola, acredito ser necessário ocorrer
principalmente uma mudança dos moldes disciplinares, não Posso dizer que vivenciei a metodologia das práticas
apenas no que tange aos documentos regimentares (PPP restaurativas de modo profundo e significativo. Tão grandiosa
– Projeto Político-pedagógico), mas, essencialmente, na foi essa experiência que gerou em mim um desejo intenso
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registrar e partilhar opiniões acerca de quatro perguntas mais realizadas com a finalidade de promover a sensibilização dos
diretamente relacionadas à temática da violência, conforme estudantes sobre o tema. Como podemos realizar um trabalho
consta nas imagens a seguir, que representam o plano de aula de pesquisa com caráter científico sem antes observar e
elaborado naquele período. identificar nosso “objeto de pesquisa” na realidade? Ou não
seria a Ciência um processo movediço em que a relação entre
As questões abordadas no 4º, 5º, 6º e 7º momentos foram o objeto e as dinâmicas que se constroem em cada grupo são
Figura 8 – Plano de Ensino Quinzenal capazes de se transformar no decorrer do percurso?
Após apresentar as sugestões, propus para que, em duplas, Em vista disso, considero o interesse e o desejo pelo
escolhessem um dos temas listados, de acordo com o interesse conhecimento acerca da temática proposta naquela
deles no assunto. Solicitei, ainda naquele período de aula, que ocasião como resultados de um movimento genuinamente
realizassem uma pesquisa geral sobre o tema na internet restaurativo, pois, para além de compreender a “mecânica da
e posteriormente acessassem o “Google Acadêmico” para violência” no interior do sujeito ou na sociedade, evidenciaram-
pesquisar e selecionar ao menos dois artigos para um estudo se os danos, as cicatrizes que a violência registra em cada
mais profundo sobre o tema. sujeito que, inevitavelmente, ao longo da vida, de alguma
forma, a experimenta.
Sem a intenção de detalhar os desdobramentos do projeto,
torna-se relevante destacar a metodologia restaurativa no
processo de seu desenvolvimento, pois o fato de que muitos
estudantes estavam motivados a compreender qual a natureza
da ação violenta que se tornou nítida, e tal motivação os
instigou a reflexões e leituras filosóficas, ao estudo de teorias
sociais, psicológicas e políticas, à investigação e à busca de
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» Benchmarking de duas escolas do Estado do Amapá Voltar ao menu
» Benchmarking de duas
escolas do Estado do Amapá
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» Entrevista com um
professor e integrante da
Comissão de Formação das
Escolas Municipais.
Entrevista realizada em 05/03/2021, pelo Zoom, às 17h30min, com um integrante
de uma comissão que tem por objetivo formar as escolas municipais do
Amapá nas Práticas Restaurativas. A referida comissão é constituída por 40
formadores, sendo que entre 15 a 20 pessoas vão até as escolas para formar os
profissionais. O entrevistado é um deles.
Formato da formação: 40h (uma semana, o dia todo); quando as escolas são
pequenas (poucos colaboradores), todos os colaboradores, de todas as escolas
do município, se reúnem em uma só escola, onde ocorre o treinamento; do
contrário, o foco passava a ser os professores e professoras e a gestão, para
que eles pudessem ser multiplicadores.
Essa comissão também realiza formação com os jovens que fazem parte de um
projeto Protagonismo Juvenil. Inclusive, na semana de 8/03/21, a Comissão irá
formar 100 jovens nas Práticas Restaurativas.
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Além disso, realizaram a formação de todas as equipes da escola 1. Trabalho em dupla para analisar as semelhanças e
(desde o porteiro à direção), durante a semana pedagógica. O diferenças existentes entre eles, seguido do grande
núcleo também é responsável pelo Projeto Família, trabalhando círculo para compartilhar e apresentar o seu par, referindo
com as famílias a Comunicação Não-Violenta (CNV), entre outras as semelhanças e diferenças entre eles;
temáticas que emergem no cotidiano da escola. O trabalho é
feito por meio dos círculos de diálogo e de celebração. 2. Trabalhar os modelos de família (composição, religião,
lazer, cor da pele);
Em 2020, as ações foram adaptadas ao ambiente virtual, e
a educadora então atuou em um projeto de “acolhimento 3. Mural com figuras para trabalhar as atitudes positivas
das emoções” para trabalhar as questões emocionais dos e não positivas dentro e fora da sala de aula;
professores e estudantes. O projeto com as famílias foi mantido
com essa mesma temática (como acolher, ensinar e auxiliar as O vídeo traz alguns depoimentos de crianças, familiares e
crianças com as suas emoções). professores referindo a importância e os resultados positivos
alcançados pela escola com as Práticas Restaurativas: melhora
Também forneceram aos professores os roteiros para as na comunicação, expressão, vínculos, relações mais saudáveis,
primeiras semanas de aula. Ela relata que os professores mais afetividade entre professores e estudantes e destes entre
realizam as Práticas em sala de aula utilizando os si; trabalho mais agradável para o(a) professor(a); respeito e
círculos para trabalhar os conteúdos, realizar vivências, ambiente legal em sala de aula.
e atividades em grupo, em duplas. Além disso, utilizam as
Práticas Restaurativas para resolver conflitos entre as E, para complementar o relato, a profissional respondeu
famílias de estudantes. textualmente às seguintes perguntas:
A educadora refere que o apoio da gestão é imprescindível 1 - O que você considera imprescindível para que as Práticas
para que a escola abrace a proposta. Restaurativas se desenvolvam na escola?
O núcleo tem atuado no enfrentamento do bullying, na escola, Para as Práticas Restaurativas se desenvolvam na escola é
por meio de atividades culturais, onde são abordadas outras imprescindível:
temáticas significativas.
a - Traçar estratégias para sensibilizar a comunidade
Assistimos a um vídeo da escola no qual foram trazidas escolar sobre a relevância do desenvolvimento de
algumas ações realizadas durante os anos de 2018 e 2019 com práticas pautadas na metodologia da Pedagogia
as Práticas Restaurativas: Restaurativa, além de ofertar cursos e ou oficinas para
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que a comunidade escolar possa conhecer e vivenciar os Nesse sentido, as professoras C.J., L.L. e J. C., declararam que:
fundamentos das das Práticas e obter o engajamento de
toda a equipe escolar. Adotando a Pedagogia Restaurativa, nós trabalhamos um
comportamento diferenciado nas crianças, por meio do
b - Realizar aplicações práticas na sala de aula para que qual ela vai aprender mais sobre os valores humanos, e que
professores e alunos exercitem valores como a não- através do diálogo e das práticas de respeito abordando
violência, a liberdade de opinião e o respeito mútuo, por a tolerância, é possível trabalhar os conteúdos, evitando
meio de um diálogo pedagógico que dê centralidade ao assim que conflitos que levam a graves problemas
sujeito e sua experiência vivida. envolvendo alunos, a família e a sociedade, de modo geral,
possam ser sanados desde pequenininhos.
c – Elaborar roteiros com sugestões de aulas valorizando
os círculos de diálogo como metodologia para a As temáticas da aula são trabalhadas no círculo de
transposição dos conteúdos curriculares, com dinâmicas diálogo, onde nós exaurimos o tema, com a opinião das
diversas que permitam aos alunos expor suas opiniões, crianças, com a experiência de cada uma delas, [...]. As
refletindo, principalmente sobre a importância da vida, crianças interagem entre si, trazem a sua participação
de seus valores, comportamentos, sentimentos, atitudes e têm uma melhoria de vida, tanto na escola, quanto em
e tomada de decisão. seus relacionamentos familiares. (Profª C. J. – 5º ano).
2 - Quais os resultados você julga ter alcançado com a Toda semana, eu trabalho as práticas restaurativas na sala
utilização das PRs? de aula, e também as conexões e os círculos com contação
de histórias, trazendo valores como respeito, cooperação
A inserção da PR no processo educativo da escola proporcionou e amizade. Tem sido muito gratificante esse trabalho,
uma vivência mais harmoniosa no ambiente escolar, pois porque os alunos têm tido outros comportamentos,
observou-se uma diferença significativa de comportamento antes eles eram agitados [...] agora estão mais calmos.
dos alunos, haja visto que eles se apresentaram mais Não estão acontecendo tantos conflitos na sala, com o
disciplinados, participativos e entusiasmados com os temas respeito, eles estão mais tolerantes uns com os outros.
trabalhados e debatidos nos círculos, uma vez que os É bom saber que em pouco tempo eu já estou colhendo
conceitos, questionamentos e aprendizagens estão sendo frutos desse trabalho tão maravilhoso que são as práticas
vivenciados em situações do seu cotidiano escolar e familiar, restaurativas. (Profª L. L. – 3º ano).
pois o compartilhamento de histórias e experiências constrói
os saberes presentes na escola coletivamente. As práticas restaurativas para mim, têm sido muito boas
mesmo, têm contribuído com o meu trabalho de ensino-
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aprendizagem. Os meus alunos eram muito falantes, eles 5 - A importância do diálogo entre pais e filhos.
não conseguiam escutar uns aos outros. Hoje quando
eu pego o objeto de fala e digo “garantam a fala de seu 6 - Círculo de Diálogo
colega”, eles param de falar [...].
○ Pergunta:
As atividades que eu tenho realizado em sala de aula a. Com qual situação apresentada no vídeo você se
de forma circular têm sido maravilhosas, porque têm identificou?
permitido que eles interajam entre si e vejam um ao outro,
garantam a fala um do outro. Eu estou encantada com as b. O que você pode fazer para melhorar o diálogo com
Práticas Restaurativas. (Profª J.C. – 2º ano). seus filhos e filhas?
3 - Poderia me enviar uma atividade que você aplicou e que 7 - Painel Minha família (comentário de três responsáveis
considera que ajudaria a escola? sobre a mensagem recebida do filho).
1 - Check-in
○ Como você está se sentindo hoje? E qual a sua
expectativa para esse encontro?
○ Pergunta:
Relate uma situação que você vivenciou com seus filhos que
esteja relacionada com a problemática exposta no vídeo.
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Núcleo de Práticas
Restaurativas ○ Check-in (em formação circular)
1° MOMENTO
Roteiro: Intervenção em sala de aula
Tema: O Perdão das Ofensas Contação da história “Mariana, Carol e o perdão”.
Disciplinas Relacionada: Português, Ensino Religioso e Arte
Mariana e Carol eram grandes amigas. Um dia, enquanto se
OBJETIVOS: divertiam dançando na sala, Carol pisou numa boneca de
Mariana sem querer, quebrando-a.
○ Sensibilizar sobre a fundamental importância de cuidarmos
de nosso coração, mantendo-o limpo de mágoas e rancores. Ela pediu desculpa para amiga, mas Mariana não quis saber,
gritou com sua melhor amiga e não a perdoou. A partir desse
○ Levar as crianças a compreender que perdoar consiste no dia, Mariana não quis conversar mais com Carol, e isso deixou a
esquecimento total das ofensas recebidas. Devemos perdoar amiga muito triste.
sempre, pois estamos sujeitos ao erro e necessitaremos do
perdão alheio. Desde esse dia, Mariana passou a carregar um sentimento
muito ruim em seu coração.
○ Reconhecer o perdão como um fundamento dos ensinos
de Jesus, indispensável para nossa paz interior e nossa (Interferência).
evolução moral.
2° MOMENTO
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4° MOMENTO ○ Será que uma mágoa, uma ofensa atrapalha a vida de quem
carrega? Por quê?
Distribuir bolinhas de cor escura feitas de papel para cada
aluno(a). Explanação do professor.
Pedir para imaginarem que nas mãos está uma mágoa que não Assim é a mágoa no coração, ela é como a bola de papel: impede
conseguiram perdoar, está grudada e não podem soltá-la. e atrapalha quem a carrega de fazer uma porção de coisas boas.
Colar com fita adesiva as mãos do(a) aluno(a) para ficar seguro, Perdoar é esquecer as ofensas e não ficar lembrando, não ficar
uma bola em cada mão. contando o que aconteceu para todas as pessoas que encontrar.
Será que uma mágoa ou uma ofensa atrapalha a vida de quem Não desejar o mal.
a carrega?
Desejar se entender com a pessoa. Perdoar com o coração.
Com as mãos grudadas, orientá-los a fazer as seguintes tarefas:
6° MOMENTO
1. Bater palmas;
Convidar os alunos a jogar a mágoa fora desatando as mãos, e
2. Abraçar; repetir a atividade anterior de bater as mãos e abraçar com as
mãos livres.
3. Pentear os cabelos;
4. Limpar os ouvidos;
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Final da história.
8° MOMENTO
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Quadro 2
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