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Importância da

comunicação para a
prática clínica
Professor Emanuel Sá
O processo de comunicação

EMISSOR MENSAGEM RECEPTOR

MÁ NOTÍCIA

TEMPO ESPAÇO
SENSO DE
OPORTUNIDADE

Watzlawick; 2002
Jakobson; 2000
A comunicação interpessoal
• A comunicação interpessoal é a base das relações humanas.

Troca de mensagens que ocorre na


interação entre os seres humanos.

Estar com o outro

Silva, 2002
Relação Humana
De que comunicação estamos
falando?!!

• Cummuns (latim): comungar, transferir, compartilhar.

Não é apenas transmissão de


informações, envolve um processo muito
mais amplo...
O que é uma má notícia?
• Qualquer informação que afeta a perspectiva de futuro de um
indivíduo. Buckman, 2010
• Diagnóstico inicial de uma doença grave
• Piora do estado de saúde.
• Descoberta de recidivas.
• Perdas.
• Morte.
O impacto da informação...
• Aquilo que fere na comunicação de uma má notícia não é o que
o profissional de saúde fala, mas a maneira como ele diz.

COMUNICAÇÃO INADEQUADA
Resgatando princípios da comunicação
• Todo processo comunicacional não é neutro, envolve
informações e sentimentos, possuindo 2 dimensões:
NÃO VERBAL VERBAL

Watzlawick 2002;
Silva, 2002
A verdade
• Contar ou não contar a verdade?
• As pessoas querem realmente saber a
verdade sobre sua condição?

A relação deve ser verdadeira até o final, mas é preciso


que se entenda os limites do que pode ser feito diante das
questões da terminalidade.
Guinelli et al, 2004; Liu, 2005; Vivar, 2005; Voogt, 2005
A verdade progressiva e tolerável

Ao invés da mentira
piedosa, devemos
utilizar a sinceridade
prudente, progredindo-
a de acordo com as
condições emocionais do
paciente.
Um caminho...
 Protocolo de 6 passos para a comunicação de notícias difíceis:

 1. Preparar-se.
 2. Averiguar o que o paciente sabe.
 3. Averiguar o quanto deseja saber.
 4. Divulgar as informações.
 5. Responder aos sentimentos do paciente e família.
 6. Sumarizar informação e planificar o seguimento.

Baile WF et al. Skipes – a six step protocol for delivering bad news:
application to the patient with cancer. The Oncologist 2000. 5(4): 302-11
1. Preparar-se
• Não delegar.
• Confirmar as possibilidades.
• Planejar o que será dito.
• Criar ambiente apropriado.
• Prover tempo adequado, prevenindo interrupções.
• Saber quem são as pessoas que o paciente deseja que estejam
presentes.
2. Averiguar o que ele sabe
 Investigar o que e quanto o paciente sabe: antes de falar, pergunte.

 Utilizar perguntas abertas:


 Como você tem se sentido?
 O que seu médico te disse?
 Quais são suas expectativas/dúvidas com relação à...?
 Porque você acha que...?

 Atentar para linguagem verbal e não verbal – avaliar habilidades


de compreensão e condições emocionais.
3. Averiguar o quanto ele deseja saber

 Compreender o respeitar o fato de que as pessoas manejam a


informação de maneira diferente, influenciadas por raça, etnia,
cultura, religião, sexo, condição sócio-econômica, etc...

 Perguntar e reconhecer as preferências individuais do paciente:


 Como você gostaria que eu te desse a informação sobre o resultado dos seus
exames?
 Você prefere informações detalhadas sobre os exames ou prefere focar no
tratamento?

 Solicitar ao paciente que indique outra pessoa para receber a


informação em caso de rechaço voluntário do mesmo às
informações oferecidas.
4. Divulgar as informações
 Ao dar a notícia:
 Evitar monólogo, promovendo diálogo.
 Usar silêncio – pausas frequentes.
 Informar de modo claro e firme.
 Evitar jargões e eufemismos.
 Verificar compreensão.
 Atentar à linguagem corporal.

 Não minimizar a gravidade e nem dar falsa esperança.

 Evitar ser vago.

 Implicação do “sinto muito”: compaixão ≠ pena


Renúncia de
Responsabilidade responsabilidade
5. Responder aos sentimentos
 Estar preparado para manifestações emocionais fortes:
 Respostas afetivas: lágrimas, tristeza, raiva, ansiedade, alívio.
 Respostas cognitivas: negação, culpa, medo, descrença, vergonha, luto,
intelectualização.
 Resposta psicofisiológica: luta, fuga.

 Prover tempo, compreendendo e respeitando


mecanismos.

 Utilizar como estratégias para oferecer apoio: toque,


presença, escuta, tempo, disponibilidade.
6. Sumarizar informação e planificar o
seguimento
 Resumir as principais informações.
 Assegurar a continuidade do cuidado: princípio do “não-
abandono”.
 Planificar o(s) passo(s) seguinte(s).
 Oferecer informações adicionais, se pertinente.
 Investigações e tratamento de sintomas.
 Próxima consulta/visita ou derivação.

 Identificar mecanismos e redes de apoio.


 Dar sempre uma esperança!
Quando a família diz:
“Não diga a ele...”
 Conspiração ou cerca de silêncio.
 Obter consentimento da família.
 Promover reuniões familiares para estabelecer alianças.
 Escuta ativa, destacando relações.
 Promover confiança e reforçar vínculos.
 Argumentar pela honestidade.
 Valorizar a história familiar, ajudando a identificar recursos
prévios para lidar com situações difíceis.
Concluindo...
“Se ao paciente é suficiente uma palavra, não ofereça discursos
Se só lhe for necessário um gesto, esqueça-se das palavras
Se ele só lhe pedir um olhar, omita o gesto
E se lhe basta o silêncio, feche os seus olhos
E reze
Com ele e por ele...”

Tradução livre de um poema do Pe. Martin Puerto, Argentina


Referências
 Araújo MMT. Quando “uma palavra de carinho conforta mais que um medicamento”: necessidades e expectativas de pacientes sob cuidados
paliativos. [dissertação]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem da USP; 2006.
 Pessini L, Bertachini L. Humanização e cuidados paliativos. São Paulo: Loyola; 2004.
 Silva MJP. Comunicação com pacientes fora de possibilidades terapêuticas: reflexões. Mundo Saúde. 2003: 27(1):64-70.
 Araújo MMT, Silva MJP. Comunicando-se com o paciente terminal. Rev Soc Bras Cancer. 2003; 6(23):16-20.
 Pimenta CAM, Mota DDC, Cruz DALM. Dor e Cuidados Paliativos: Enfermagem, Medicina e Psicologia. Barueri: Manole; 2006.
 World Health Organization (WHO). WHO Definition of Palliative Care [on line]. Disponível em:
http://www.who.int/cancer/palliative/definition/en. [Acesso em 13 jul. 2007).
 Araújo MMT, Silva MJP. Cuidados Paliativos na UTI: possibilidade de humanização do processo de morrer. Rev Soc Bras Cancer 2006. 11: 40-44
 Pessini L. Viver com dignidade a própria morte: reexame da contribuição da ética teológica no atual debate sobre a distanásia [tese]. São Paulo
(SP): Centro Universitário Assunção, Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção; 2001.
 Kübler-Ross E. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes; 2002
 Kovács MJ. Pacientes em estágio avançado da doença, a dor da perda e da morte. In: Carvalho MMMJ. Dor: um estudo multidisciplinar. São
Paulo: Summus; 1999. p. 318-37.
 Rodrigues IG, Zago MMF. Enfermagem em cuidados paliativos. Mundo Saúde. 2003; 27(1):89-92.
 Lynn J et al. Perceptions by family members of the dying experience of older and seriously ill patients. SUPPORT Investigators. Ann Intern Med
1997; 126(2):97-106.
 Desbiens NA et al. Pain and satisfaction with pain control in seriously ill hospitalised adults: findings from the SUPPORT research investigations.
Crit Care Med 1996; 24(12):1953-61
 SUPPORT Principal Investigators A Controlled Trial to Improve Care for Seriously ill Hospitalized Patients: The Study to Understand Prognoses
and Preferences for Outcomes and Risks of Treatments (SUPPORT). JAMA 1995; 274(20): 1591-1598.
 Oliveira RA. Cuidado Paliativo. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; 2008.
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