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COMUNICAÇÃO DE MÁ

NOTÍCIA

Isabelle Siqueira – Psicóloga


Julieth Lages - Enfermeira
Varum Ribeiro de Farias - Médico
COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS

 Apesar dos avanços tecnológicos a comunicação continua sendo o meio mais


eficaz para o estabelecimento de um vinculo terapêutico entre profissionais
de saúde e pacientes.

Os principais elementos como, a empatia, compreensão, interesse, desejo de ajuda e bom


humor são indispensáveis para conseguir um ambiente de conforto emocional, no qual o
paciente terá um conhecimento de sua doença e diagnóstico onde o médico agirá segundo
seus conhecimentos, experiência clínica e suas capacidades humanas (Doyle e O’Connel,
1996; Almanza-Muños e Holland, 1999; Vandekief, 2001).
COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS

Comunicar más notícias é, provavelmente, uma das tarefas mais difíceis que os
profissionais de saúde têm que enfrentar, pois implica em um forte impacto
psicológico do paciente e sua rede de apoio - quem recebe uma má notícia
dificilmente esquece onde, como e quando ela foi comunicada. (Almanza-
Muños e Holland, 1999).
COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS

 O termo “Comunicação de Más Notícias” pode ser compreendido como


aquela notícia que altera drástica e negativamente a perspectiva do paciente
em relação a sua vida e sua resposta dependerá de sua expectativa de futuro,
sendo esta única, individual e influenciada pelo contexto psicossocial do
mesmo.
COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS
 Na comunicação de notícias difíceis é importante que o profissional de saúde
trabalhe em 3 polos:
• Verificar o desejo do paciente em saber seu diagnóstico;
• Havendo o desejo, verificar se a informação foi transmitida e entendida de forma correta;
• Observar a reação afetiva do paciente, diante do diagnóstico;
• Considerar os sentimentos e expectativas que o paciente tem em relação ao
profissional de saúde (transferência),
• Os sentimentos e expectativas que o profissional de saúde tem sobre o paciente
(contratransferência),
• As expectativas que o paciente mantem em relação ao tratamento e prognóstico.
COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
PASSIVO
 Características:
 Falha na expressão de necessidades, emoções e opiniões; Indecisão.
 Evita o confronto, mesmo às custas de seus interesses
 Muito preocupado com a opinião dos outros, solicita aprovação e cede facilmente
 Culpa-se de tudo
 Expressão corporal – Voz hesitante, mínimo contato visual, discurso confuso, atitude
defensiva, postura encolhida, inquieto
 Exemplos:
 Não pedir o que necessita
 Não manifestar desacordo

 Consequências:
 Gera simpatias ao mesmo tempo que piedade, aborrecimento, confusão e não é valorizado;
gera mal-entendidos.
 Faz com que as pessoas se sintam culpadas em pedir-lhe algo
 Evita responsabilidades, riscos, rejeição, tomada de decisões
AGRESSIVO
 Características
 Expressa necessidades, preferencias, emoções e opiniões de forma hostil, exigente e ameaçadora
ou punitiva
 Defende seus direitos às custas da violação dos do outro
 Critica e deita imediatamente a culpa nos outros
 Autoritário, interrompe com frequência e nunca critica o comportamento
 Expressão corporal: Máximo contato visual, voz alta; postura evasiva; aperta/aponta dedos
 Exemplos
 Comentários humilhantes, insultos, ameaças; violência física
 “Se não consegue, deixe para quem sabe”; “Se tivesse feito como eu disse!”; “não me importo com
seu problema”
 Consequências
 Gera conflitos facilmente, leva o receptor a se sentir abusado; perde respeito e influência
 Ganha poder/domínio, não ter necessidade de explicar, negociar ou escutar o outro.
 Aparenta temporariamente superior/ameaçador, porém como maneira de encobrir inseguranças e
baixa auto-estima.
MANIPULADOR
 Características
 Expressa necessidades, preferencias, emoções e opiniões de forma implícita ou indireta
 Vai atrás de seus objetivos evitando riscos de confronto
 Expressão corporal com mínimo contato visual; postura fechada; suspiros de impaciência para
forçar um término na conversa.
 Humor variável e irritante; alusões sarcásticas
 Exemplos
 “Se fosses um bom colega, tu...”
 “Faço isso por ti!”
 “Eu penso que devias...”
 “Se me fizeres isto, fico eternamente grato!”
 “Não posso acreditar no que estou vendo/ouvindo”
 Consequências
 Receptor se sente irritado, confuso, culpabilizado e perde facilmente a confiança.
 Emissor se protege evitando o confronto direto e evita ser rejeitado diretamente.
ASSERTIVO
 Características
 Exprime pensamentos, sentimentos e convicções de forma apropriada, direta e honesta.
 Ouve e procura entender, tenta extrair do receptor o mesmo que ele transmite
 Aceita acordos e soluções
 Vai direto ao assunto sem ser áspero
 Expressão corporal: contato visual suficiente para transmitir segurança; tom de voz moderado,
mas firme; postura comedida e segura; expressão corporal de acordo com a mensagem.
 Exemplos
 Capacidade de dar e receber elogios; expressar sentimentos positivos e negativos; fazer e
recusar pedidos
 “Ficarei bem se estiveres bem”; “não sou perfeito”
 Consequências
 Receptor se sente esclarecido, valorizado e escutado
 Construção de respeito mútuo
GRUPOS BALINT-PAIDÉIA / PROGRAMA NACIONAL
DE HUMANIZAÇÃO

 Mostraram o benefício de, na preparação e após a comunicação, discussão


com equipe multidisciplinar completa.

 Assistente Social: Esclarecimento das relações familiares e sociais do


paciente
 Fisioterapia: Planejamento terapêutico de reabilitação, manutenção a ser
passado para o paciente; Insight pessoal obtido em conversa com o
paciente

 Todo profissional que fala com o paciente tem o potencial de obter


informações que ajudem na compreensão deste.
COMO MINIMIZAR AS BARREIRAS
 Usar linguagem apropriada e direta (Construção → Adaptação)
 Fornecer informações claras e completas.

 Usar canais múltiplos para estimular os vários sentidos do receptor


(visão, audição etc.).
 Dar relevância ao feedback.

 Escuta ativa. Participemos ativamente da comunicação.

 Empatia. Colocar-se na posição ou situação da outra pessoa, num


esforço de entendê-la; Compreender e nunca confrontar emoções.
SILÊNCIO
 Auto-contemplativo:
 Dar espaço / respeitar o silêncio
 Se após esse período não for expresso espontaneamente, questionar qual o
conteúdo/conclusão da reflexão.

 Não auto-contemplativo:
 Resumir tópicos mais importantes
 questionar dúvidas/opiniões/sentimentos
 empatia.
DIFICULDADE NA COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS
 Existem diversas razões para que a equipe de saúde tenha dificuldade em
comunicar más notícias.
• Preocupação, medo de como a má notícia irá afetar o paciente, sendo esta uma das
justificativas para o fato de escondê-la, quanto por parte do médico quanto por parte dos
familiares.
• Medo de ser culpado pela doença – profissionais da saúde como portadores da desgraça.
• Medo de não saber todas as respostas colocadas pelo doente e familiares e/ou outras
pessoas significativas.
• Medos pessoais acerca da doença e da morte.
• Medo das reações do doente e família.
DIFICULDADE NA COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS

 O código de ética médica, desde 1847 já declarava: “A vida de uma pessoa


doente pode ser diminuída não apenas pelos atos, mas também pelas palavras
ou maneiras do médico”. (Muller, 2002; Vandekief, 2001).
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

ENTREVISTA FAMILIAR

O sucesso da entrevista familiar depende principalmente de três fatores:

• Predisposição à doação;
• Qualidade do atendimento hospitalar recebido;
• Habilidade e conhecimento do entrevistador.
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

ENTREVISTA FAMILIAR

 São condições necessárias para a entrevista familiar:

• Conhecer as condições do potencial doador e as circunstâncias que


cercaram sua morte;
• Conversar com o médico do paciente;
• Identificar a melhor pessoa para oferecer a opção da doação;
• Ambiente tranquilo e confortável.
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Recusa familiar

Estudos mostram as razões para a negativa à doação, sendo as principais


abaixo listadas:

• Dúvidas com relação ao diagnóstico de morte encefálica;


• O desconhecimento da vontade prévia do potencial doador;
• O conhecimento de que o potencial doador era contra a doação;
• Causas religiosas;
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Recusa Familiar

• Desconhecimento familiar do sistema de alocação;


• Entrevista inadequada;
• Dificuldades com a equipe hospitalar que assistiu o doente.

 Com relação aos aspectos religiosos, a maioria das religiões é favorável à


doação de órgãos, considerando-a uma ação de generosidade para com o
próximo, pois às vezes pode evitar mortes ou então aliviar sofrimentos.
ÓBITO NA SALA DE
EMERGÊNCIA
Caso Clínico
Homem, jovem, 18 anos, jogador de futebol em divisão juvenil, chega em PCR na
sala de emergência após perda súbita da consciência dentro de campo em sessão de
treinamento, trazido pela equipe do SAMU que demorou 20 minutos para chegar ao
local, chegou em FV 30 minutos após o evento, realizado ACLS sem sucesso por 30
minutos, com evolução para assistolia e sem recuperação do pulso.

Assistente social entra em contato com família, consegue falar com mãe, informa
que filho está no hospital com quadro grave, mãe informa que chegará em 2 horas.
A fim de triagem, assistente social informa que mãe é viúva, moradora da favela do
moinho, diarista, analfabeta, na casa moram a mãe, avó e 2 irmãos mais novos do
falecido.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM: SOFRIMENTO
ESPIRITUAL
Intervenções

 Estar ao lado do familiar e deixar que este demonstre seus sentimentos diante
da perda. A acolher o outro na sua dor.

 Cuidado com a questão da “medicalização da dor”: considerando o luto algo


potencialmente patológico.

NANDA. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação (2009-2011). Porto Alegre: Artmed, 2009.
Tome LY, Popim RC,Dell’Acqua MCQ. Enfermagem cuidando de paciente adulto e família no processo de morte em sala de emergência. Cienc Cuid Saude
2011; 10(4):650-657
ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA

O atendimento psicológico de urgência é um tipo de intervenção que acolhe a pessoa no exato


momento de sua urgência, ajudando-a a lidar melhor com seus recursos e
limites. Desta forma, o objetivo é prestar atendimento urgencial à demanda,
acompanhando a pessoa em busca do sentido de existência por meio da
compreensão de seu sofrimento, do acolhimento, sem, contudo, garantir o
alívio imediato (Chaves & Henriques, 2008).
ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA
 Atuação com a equipe multiprofissional – auxiliando na elaboração dos
sentimentos presentes diante da má notícia.

 Atendimento multiprofissional aos familiares – proporcionando um espaço


de acolhimento emocional e facilitando a comunicação entre médico –
familiares e a compreensão dos mesmo diante da situação traumática.

 Atendimento psicológico aos familiares – visando a ressignificação das


perdas e viabilizando o processo de luto.
CUIDADO PALIATIVO
Caso Clínico
Mulher, 58 anos, casada, ensino superior completo, trabalhava em firma de
advocacia até há 2 anos quando se aposentou pelo diagnóstico de leiomiosarcoma
retroperitoneal, de 5cm, ressecado na época. Vem com metástase óssea e pulmonar
com compressão ainda pouco sintomática de traquéia e contato com aorta e artéria
pulmonar.
Tentado Rt e Qt paliativas sem nenhuma resposta tumoral. Internada em enfermaria
por quadro de pneumonia em melhora, aguardando término de antibioticoterapia,
você descobre que paciente tem pouco conhecimento da gravidade da doença e
objetivo/resultado das últimas terapias ou conversa prévia a respeito de cuidados
paliativos e a equipe teme que quadro inespecífico de dispneia queixado pela
paciente seja evolução da metástase pulmonar.
A equipe de oncologia em que a paciente acompanha é de outro serviço.
DIAGNÓSTICO DE ENFERAGEM
 Ansiedade relacionada a morte
Intervenções de Enfermagem
• 1- Estar disponível para escutar pacientes e familiares, após a comunicação da ''má
notícia”.

• 2- Abordar com pacientes e familiares questões espirituais/religiosas. E facilitar a


presença dos líderes religiosos.

• 3- Discutir as decisões e medidas de suporte a saúde com a equipe multiprofissional,


pacientes e familiares.

• 4- Possibilitar que o familiar esteja ao lado do paciente. Isso influi de maneira


importante para a elaboração da perda

NANDA. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação (2009-2011). Porto Alegre: Artmed, 2009.
ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA
 Realizar atendimento psicológico com pacientes e familiares, buscando
compreender a relação que ambos estabelecem com o adoecimento –
expectativas.
 Auxiliar na ressignificação do adoecimento e na capacidade de resiliência do
paciente frente a sua condição de adoecimento e de vida.
 Proporcionar um espaço de escuta e acolhimento emocional para o paciente,
os familiares e a equipe multiprofissional.

 Facilitar a comunicação nas relações família – paciente – equipe.


COMUNICAÇÃO EM FINAL DE VIDA
 Ao final da vida, espera-se que uma comunicação adequada permita:
• Conhecer problemas, anseios, temores e expectativas do paciente.
• Facilitar o alivio de sintomas de modo eficaz e melhorar sua autoestima.
• Oferecer informações verdadeiras, de modo delicado e progressivo, de
acordo com as necessidades do paciente.
• Identificar o que pode aumentar seu bem-estar.
• Conhecer seus valores culturais, espirituais e oferecer medidas de apoio.
• Respeitar/reforçar a autonomia.
COMUNICAÇÃO EM FINAL DE VIDA
• Tornar mais direta e interativa a relação entre profissional da saúde e
paciente.
• Melhorar as relações com os entes queridos.
• Detectar necessidades da família.
• Dar tempo e oferecer oportunidades para a resolução de assuntos
pendentes (despedidas, agradecimentos, reconciliações).
• Fazer com que o paciente se sinta cuidado e acompanhado ate o fim.
• Diminuir incertezas.
• Auxiliar o paciente no bom enfrentamento e na vivencia do processo de
morte.
Uma vez que se relacionar é estar com o outro, fazendo uso de habilidades de
comunicações verbal e não-verbal para emitir e receber mensagens, a
comunicação é um elemento fundamental na relação humana e um
componente essencial do cuidado. O emprego adequado de técnicas e
estratégias de comunicação interpessoal pelos profissionais da saúde é
medida terapêutica comprovadamente eficaz, permitindo ao paciente
compartilhar medos, dúvidas e sofrimento, contribuindo para a diminuição
do estresse psicológico e garantindo a manifestação de sua autonomia.
(SILVA & ARAÚJO, 2009)
Obrigado

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