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‘CAPITULO 7 Esquemas de reforgamento Nem todas as respostas sio reforgadas quando emitidas. Nem sempre ganhamos uma aposta e nem sempre somos vencedores todas as vezes em que jogamos. Nem todas as vezes que vamos a um bar & divertido. sempre que encontramos 0 pao de queijo hi pouco saido do forno na cantina. Nem sempre quando estudamos tiramos uma nota boa. Nem todos os nossos pedidos so atendidos. Isso quer dizer que muitos dos nossos comportamentos so apenas intermitentemente reforcados; portanto, um comportamento ndo precisa ser reforgado todas as vezes em que ocorre para continuar sendo emitido. © conceito de esquema de reforgamento diz respeito, justamente, a que critérios uma resposta ou conjunto de respostas deve atingir para que ocorra o reforgamento, Em outras palavras, descreve como se da a contingéncia de reforgo, ou seja, a que condigdes as respostas devem obedecer para ser liberado o reforcador. Existem dois tipos de esquemas de reforgamento, o continuo ¢ 0 intermitente_ Esquema de reforco continuo e esquemas de reforgamento intermitente No esquema de reforgo continuo, toda resposta & seguida do reforgador. Em experimentagio, o esquema é chamado de continuous reinforcement, mais conhecido pela sigla CRF. Exemplos de reforgamento continuo so comuns, como um carro novo com bateria nova ¢ tanque cheio: toda vez que giramos a chave, este comega a funcionar; & o caso também daquele namorado amoroso que aceita todos os convites de sua namorada, Nesses exemplos, dizemos que as respostas (girar a chave € convidar para sair) sempre so seguidas de seus reforgadores, ou seja, so contimiamente reforgadas. Veja a diferenga entre CRF e um esquema intermitente na Figura 7.1. Note que no CRF todas as vezes em que 0 comportamento ocorre — no exemplo, pressionar a barra— ele é reforgado. J no esquema de reforgo intermitente, algumas respostas so reforgadas e outras, nao. ors R= s][k—> | Ss cs || §—x | |e Incernitente [30 Figura 7.1 Reforcamento continuo e reforcamento intermitente. R representa resposta de presséo 8 barra e SR a apresentaco de Squa (o X indea que ‘ reforco [8 gua] néo fol apresentado). No dia-a-dia, no entanto, nem todos os comportamentos que emitimos so reforgados. Falamos, nestes casos, sobre esquemas de reforgamento intermitente. A caracteristica definidora dos esquemas de reforgamento intermitente é 0 fato de que nem todas as respostas siio seguidas de reforco, ou melhor, apenas algumas respostas sdo seguidas de reforgo. Além dos exemplos apresentados no pardgrafo introdutorio, podemos ver alguns outros exemplos, como pregar um prego ou achar um programa interessante na TV. A ndo ser que vocé seja o Karaté Kid, que, com suas técnicas ninjas, consegue pregar um prego com apenas uma martelada, precisard emitir um certo nimero de marteladas. Nesse caso, com apenas uma martelada, 0 reforgador (isto &, prego pregado na madeira) nao sera apresentado. F necessaria, portanto, a emissio de um nimero varidvel de respostas para que 0 reforgador fique disponivel. Outro exemplo muito comum diz respeito a mudanga de canal para encontrar algum programa interessante na TV, Com excerdo dos sibados, quando passa os Simpsons na Rede Globo, ou nas quintas, quando passa a Grande Familia na mesma emissora, sintonizar na Rede Globo é uma resposta certamente reforgada, procurar um programa interessante na TV é uma tarefa ingléria, Em termos comportamentais, significa que a resposta de procurar um programa interessante na TV & apenas intermitentemente reforgada, Somente 4s vezes conseguimos encontrar algo interessante, Mais alguns exemplos: nem sempre escapamos de fazer compras com nossos pais sbado a tarde dizendo que temos de estudar. Fazer a barba envolve varias passadas da lamina na face. Procurar uma vaga, muitas vezes, envolve muitas passadas pelos corredores do estacionamento, ¢ assim por diante, Todos os exemplos banais envolvem reforgamento intermitente, em que apenas uma parte das respostas emitidas é reforgada, Os principais esquemas de reforsamento intermitente: FR, VR, FI, VI Existem quatro tipos principais de esquemas intermitentes: razdo fixa, razo varidvel, intervalo fixo e intervalo varivel. Estes se organizam a) de acordo com o nimero de respostas para cada reforgador (isto é, esquemas de razdo) ou tempo entre reforgadores (isto é, esquemas de intervalo) e b) se 0 nimero de resposta ou o tempo entre reforgadores é sempre 0 mesmo (sto &, razio ou intervalo fixos) ou muda de reforgador para reforgador (isto &, razo ou intervalo varidveis) ‘TABELA 7.1 RAZAO VARIAVEL Reforcador N° de respostas: 1° 6 ~ 40 - 2 ° 35 *° 30 ° B ~ 5 ® 5 = 50 10° 30 ue 30 120 10 we 35 1 45 15° ” 16° 30 17° 5 18° 48 19° 20 20° “4 Média 30 Esquemas de raziio Os esquemas de razio se caracterizam por exigirem um certo nimero de respostas para a apresentagao de cada reforgador, isto é, para que 0 reforgo seja apresentado, & necessério que um certo nimero de respostas (mais do que uma) seja emitido. Existem dois tipos principais de esquemas de razio: razo fixa e razo variavel. Razio fixa Neste esquema, o mimero de respostas exigido para a apresentagaio de cada reforgador ¢ sempre o mesmo. Em outras palavras, o organismo deve emitir um mimero fixo de respostas para ter seu comportamento reforgado. Por exemplo, Jodozinho esti na aula de educagio fisica. Para poder beber gua, ele deve dar cinco voltas na quadra de basquete. Entéo, toda vez que da cinco voltas, 0 professor o autoriza a beber Agua. Outro exemplo comum de reforgo em esquema de razio & 0 adotado em fabricas que pagam seus funciondrio por nimero de pegas produzidas (por exemplo, RS 10,00 a cada cinco pares de sapato produzidos pelo artesdo; veja a ilustracdo da Figura 7.2). Deserevemos o esquema de reforgamento como razio fixa 5 ou simplesmente FR:5 (do inglés fixed ratio[l). Este termo resume a contingéncia de que sio necessarias cinco respostas para a apresentagao de cada reforgador. © comportamento de um professor corrigindo provas também esté sob 0 controle do esquema de razio fixa. Supondo que cada prova tenha 10 questdes, 0 reforgo para o comportamento de corrigir a prova (isto é, término da correcdo de uma prova) € contingente & emissdo de 10 respostas. Concluimos, entio, que © comportamento de corrigir provas, nese caso, est em razio fixa 10 ou simplesmente FR:10. Por fim, fazer uma chamada telefenica local esta em FR:8, em que temos de apertar sempre oito botdes, Exemplos de esquemas de razio fixa ndo sio faceis de encontrar porque 0 nosso ambiente & extremamente mutiivel. Isto é, os esquemas variveis serio sempre mais comuns. Intenso vase Figura 7.2 Esquemas de reforcamento no disa-dia. Que citério o ‘comportamento deve obedecer para ser reforcado em cada uma destas atvidades? Razio variivel Nesse esquema, muito mais comum em nosso cotidiano, o nimero de respostas entre cada reforgador se modifica, isto é, varia Um cabeleireiro corta cabelos neste esquema. Se ele ganhar RS 20,00 por corte, o reforgo seré contingente ao niimero de tesouradas que ele dard em cada cabelo. Entretanto, o mimero nio ser o mesmo de um corte para o outro, Portanto, o mimero de tesouradas para cada R$ 20,00 obtidos é varidvel; em outras palavras, cortar cabelos esta em VR (do inglés variable ratio). © comportamento de uma faxineira de arrumar cadeiras de um colégio também est sob o mesmo esquema, Ao ter de arrumar as cadeiras de 20 salas de aula (sendo que cada sala possui um nimero diferente de cadeiras), o reforgamento do término de cada sala & contingente & emisso de um nimero variivel de respostas de por cadeiras no lugar. Varios comportamentos nossos estio sob controle do esquema de VR, como fazer a barba, escovar os dentes, pentear 0 cabelo, fazer pedidos, dar ordens, ser bemsucedido em varias atividades do dia- cacaniques, etc.) e ganhar (ver Figura 7.2), entre varios outros comportamentos. Quando dizemos que um comportamento esta em razdo varidvel 30 ou VR:30, significa que, em média, a cada 30 respostas, ‘uma é reforgada. Examinemos o seguinte experimento, em que o rato devia pressionar a barra em VR:30 para obter Agua. Ao longo de uma sesso, 0 animal recebeu 20 reforgos. A Tabela 7.1 indica quantas respostas foram dadas para a obtengio de cada um dos reforgadores. Se somarmos o total de respostas emitidas, temos 600 respostas para um total de 20 reforgos. Dividindo um valor pelo outro, teremos 30, 0 que significa que, em média, foram necessarias 30 respostas para cada reforgador. Em termos comportamentais, nada mais do que VR:30. dia, jogar (alguns jogos de baralho, Esquemas de intervalo Nos esquemas de intervalo, 0 nimero de respostas ndo é relevante, bastando apenas uma resposta para a obtengo do reforgador. O tempo decorrido desde o iltimo reforgador & © principal determinante de uma nova resposta ser ou ndo reforgada, De forma similar aos esquemas de razdo, os esquemas de intervalo podem ser fixos ou variaveis. Intervalo fixo No esquema de intervalo fixo, o requisito para que uma resposta seja reforgada & o tempo decorrido desde 0 iltimo reforgamento. O periodo entre 0 iiltimo reforgador e a disponibilidade do préximo reforcador & sempre o mesmo para todos os reforgamentos. Por isso, 0 nome intervalo fixo, ou seja, os reforgadores estardo disponiveis depois de transcorridos intervalos fixos desde o iiltimo reforgador. Novament, fica dificil verificar exemplos desse tipo de esquema, uma vez que 0 nosso ambiente ¢ bastante variével. Os melhores exemplos dizem respeito a eventos regulares, como programas de TV didrios ou semanais. (Ox Simpsons passa apenas uma vez por semana na Rede Globo, todos os sébados. Para uma pessoa que tem Os Simpsons como reforgo, a resposta de ligar a TV para ver esse programa esti em um esquema de intervalo fixo (uma semana), pois 0 reforgo somente estaré disponivel em intervalos regulares de uma semana, De forma similar, imaginemos um adolescente que 86 tem seus pedidos de dinheiro para sair atendidos pelos pais aos sdbados. Nesse caso, se o adolescente pedir dinheiro no meio da semana, seu comportamento nio sera reforgado, Entdo, deve transcorrer o intervalo de uma semana para que seus pedidos de dinheiro sejam reforgados. Um exemplo com o rato seria assim: se a resposta de pressdo a barra estiver em FI:1° (um minuto), as respostas de pressio & barra s6 sero reforgadas quando passar um minuto desde o Ultimo reforgo. Portanto, quando o animal é reforgado, um cronémetro é disparado, contando o tempo até um minuto. Depois de passado esse minuto, a préxima resposta sera reforgada © crondmetro é zerado, sendo disparado outra vez até atingir um minuto, quando a proxima resposta seré reforgada, O processo se repetira para todos os reforgadores. Alguns pontos importantes devem ser notados. Primeiro, o reforgo somente serd liberado caso 0 organismo se comporte, ou seja, se no ligarmos a TY, se 0 adolescente nio pedir o dinheiro e se 0 rato nio pressionar a barra, no haverd reforgo. Portanto, além do tempo, deve ocorrer pelo menos uma resposta para que haja 0 reforgo, Além disso, respostas no meio do intervalo no so reforgadas, mas, elas no produzem nenhum prejuizo a disponibilidade do reforco ao final do intervalo, Intervalo variavel O esquema de intervalo variavel & similar ao intervalo fixo, coma diferenga de que os intervalos entre o iltimo reforgador e a proxima disponibilidade no sio os mesmos, ou seja, so varidveis. Exemplos desse esquema so muito mais faceis do que os de intervalo fixo. Achar uma misica boa no ridio mudando de estagio esti sob controle desse esquema. De tempos em tempos varidveis, nossa resposta de trocar de estagdo € reforgada ao achar uma miisica de que gostamos. Achar um anineio para estagidrio de psicologia no jornal também: de tempos em tempos a resposta de procurar & reforgada pela presenga de algum anincio, Mas o tempo varia de reforgo para reforgo. Arrumar-se para o namorado também esté sob esse esquema: as vezes, ele percebe e fiz elogios, is vezes, no. E no ha uma regularidade temporal, como no caso do intervalo fixo. Em média, uma vez por més ele elogia (é, esti mal!). Sendo assim, dizemos que 0 comportamento de se arrumar esta em VI:1 més (variable interval) Outra vez, de forma similar & razo varidvel, ao nos referirmos ao intervalo varidvel 30 segundos, ou simplesmente VI 30”, significa que o reforgo estar disponivel a cada 30 segundos em média, Este ¢ 0 mesmo raciocinio mostrado na Tabela 7.1; no entanto, nio mencionamos 0 do nimero de respostas, mas a passagem do tempo entre um reforgo ¢ a disponibilidade do proximo reforgo. ‘Tempo de disponibilidade (limited hold) Cotidianamente, os reforgadores no ficam disponiveis sem tempo definido. Se demorarmos a ligar a TV no sibado, perderemos o episédio dos Simpsons. Se demorarmos a trocar de estagio de radio, a nuisica boa pode acabar e perderemos 0 reforgador. Um recurso metodolégico em experimentos para aumentar a similaridade entre a situago cotidiana e a situago experimental & 0 tempo de disponibilidade, o qual representa um limite temporal para a resposta ser emitida. Caso 0 organismo no responda (p. ex., 0 rato ndo pressione a barra) dentro de um limite de tempo desde o inicio da disponibilidade do reforco, esse deixa de estar disponivel, sendo reiniciada a contagem do intervalo para a préxima disponibilidade. Portanto, se a tesposta de pressio a barra estiver em FI:1’, com tempo de disponibilidade de 10”, 0 reforgo estard disponivel apés transcorridos 60 segundos desde o iltimo reforgador. Entretanto, essa disponibilidade duraré apenas 10 segundos. Caso 0 rato nio pressione a barra nesse intervalo de 10 segundos, o reforgo deixar de estar disponivel, sendo contados mais 60 segundos até a proxima disponibilidade. Comparagio entre esquemas intermitente e continuo Estes dois tipos de esquemas nio diferem apenas no seu fincionamento e na forma como so feitos, mas também em relago aos seus efeitos sobre 0 comportamento. Freqiiéneia de respostas quemas de reforgamento intermitente produzem uma freqiiéneia de respostas maior que os esquemas de Em geral, os es reforgamento continuo. Isto se dé por duas razbes bisicas: 1) como no reforgamento intermitente apenas algumas respostas so reforgadas, teremos uma relago maior de respostas por reforgo, 0 que produz uma freqiiéncia maior de respostas; 2) quando 0 comportamento é reforgado por reforgadores primirios ou incondicionados (p. ex., fgua, alimento, sexo, ete.), a saciago ocorre muito mais rapidamente em CRF, pois o organismo entra em contato com um nimero maior de reforgadores com menos respostas, Sendo assim, a saciago ¢ mais répida, fazendo com que os reforgadores tenham seu valor diminuido. Nos esquemas intermitentes, © comportamento & reforgado menos vezes, demorando mais pata gerar saciago; e, portanto, o organismo acaba emitindo mais respostas. Existem excegdes a essa regra. Alguns esquemas temporais de reforgamento, como os de intervalo, podem produzir uma freqiiéncia menor de respostas que a observada em CRF, quando o intervalo entre as respostas reforgadas € muito longo. Aquisigio do comportamento O reforgamento continuo muito mais eficaz para a aquisig&o de um novo comportamento do que o intermitente. Imagine se, na modelagem da resposta de pressdo & barra, 0 rato recebesse agua aps 10 pressdes. Com esse procedimento, dificilmente a resposta seria aprendida, uma vez que 0 comportamento ainda no totalmente estabelecido & mais suscetivel 4 extingao (isto & a0 no-reforgamento). E provavel que o animal parasse de pressionar a barra antes de emitir a décima resposta para receber 0 reforgo. As nove respostas no reforgadas poderiam ser suficientes para que 0 comportamento parasse de ocorrer. Por outro lado, quando todas as respostas sdo reforgadas, a relagdo entre a resposta (presto a barra) e a sua conseqiiéncia (gua) & rapidamente aprendida Imaginemos um exemplo cotidiano: um aprendiz de uma danga ou um aluno de karaté que deve fazer um novo passo ou golpe para receber 0 feedback positivo do professor (isto é, “correto”), Ora, se o aprendiz ainda esti comegando a emitir esse novo passo ou golpe, é fundamental que 0 professor reforce continuamente para que este aprenda a relago entre a resposta (isto & 0 passo e 0 golpe precisos) e 0 feedback positivo. Por outro lado, caso o professor no o reforce continuamente, demoraré mais tempo para o aluno discriminar qual resposta levara ao reforgo, correndo ainda o risco de as tentativas corretas serem enfraquecidas pela extingio, Nao queremos dizer que nenhum comportamento pode ser aprendido por reforgamento intermitente, Eniretanto, o esquema ideal para o estabelecimento de novos operantes é o de reforgamento continuo. Manutencio do comportamento Os esquemas intermitentes, principalmente os variiveis, sto ideais para a manutengdo da resposta, ou seja, aumentam sua resisténcia a extingdo, O termo “resisténcia & extingdo” descreve o mimero de respostas emitidas sem reforgamento antes que © comportamento volte ao seu nivel operante, Em termos cotidianos: quantas vezes insistimos em fazer algo que no dé mais certo. Se uma mie, por exemplo, reforga as birras de seu filho as vezes sim, as vezes no, quando decidir no mais atender & crianga quando fiz bitras, a crianga demoraré mais tempo para parar de agir assim do que uma crianga cuja mae reforgava esse comportamento sempre (CRF). Da mesma forma, um individuo que ¢ criado em um meio abundante em esquemas inlermitentes (nem sempre seus comportamento so reforgados) tenderé a ser um adulto que nio desiste facilmente de seus objetivos, mesmo quando os reforgos so escassos; refere-se entio a um individuo perseverante (veja 0 grifico comparativo da Figura 7.3). 1.900 fem inicio da extingso 500 600 400 200 1.000 = Freqiléncia acumulada 500 00 400 200 0 10 2» 3% 40 5 Blocos de 1 minuto Figura 7.3 Perseveranca é igual a resisténcia a extingSo. Reforcar sempre em CRF 0 comportamento pode produzr ndvduos que deste muto facimente de seus abjetives. Nos esquemas de reforgamento intermitentes, varias respostas ndo so reforgadas, o que torna mais dificil a discriminagio entre o reforgamento intermitente e 0 nfo-reforgamento da extindo, Imagine um controle remoto de alarme de carro com defeito ndo abrindo 0 carro todas as vezes em que apertamos 0 botdo. Caso o controle remoto pare de funcionar definitivamente, tentaremos varias vezes fazé-lo fncionar antes de desistirmos. Isto ocorre porque, quando ainda funcionava, apertévamos o botio varias vezes antes de o carro abrir. Portanto, as tentativas nao reforgadas em extingo ndo representaro nenhuma novidade, ficando muito mais dificil para discriminarmos que o aparelho de fato nao funciona mais. Por outro lado, nos esquemas de reforcamento continuo, a discriminaco entre o reforgamento e o ndo-reforgamento da extingdo & muito mais ficil. Voltemos ao controle remoto, Digamos que todas as vezes que vocé aciona o bot, o carro abre (isto é, reforgo continuo). Agora imagine que seu filho deixou o controle remoto eair, sem voce ver, ¢ 0 controle remoto parou de fimcionar definitivamente. Ao utilizi-lo, suas tentativas de abrir 0 carro nao serdo reforgadas. Rapidamente seu comportamento deixaré de ocorrer, pois a diferenga entre quando 0 controle funcionava todas as vezes e quando este niio funciona mais € muito grande. Dessa forma, é provavel que vocé tente menos vezes até a total desisténcia Analisemos um outro exemplo: digamos que vocé tem um amigo que sempre aceita seus convites para sair (isto &, reforgo continuo), Caso seu amigo tenha uma namorada possessiva que no o deixa fazer mais nada, e ele pare de aceitar seus convites, rapidamente voeé deixara de fazet-lhe convites. Por outro lado, caso vocé tenha outro amigo que raras vezes aceita seus convites (isto é, reforgamento intermitente), e ele deixe definitivamente de aceiti-los, vocé insistiria um nimero maior de ve7es, pois, no passado, virios convites nio foram aceitos antes que vocés saissem alguma vez de fato, A historia de reforgamento, portanto, explica em grande parte por que algumas pessoas desistem facilmente e outras niio quando as coisas dao errado. Demnis efeitos sobre a extingio A extingo apés esquemas de reforgamento intermitente produz padrdes comportamentais diferentes da extingdo apés reforgamento continuo. A extingo apés reforgamento continuo gera um aumento na freqiiéncia de respostas e depois a resposta deixa de ocorrer rapidamente (Figura 7.3). Além disso, so observadas respostas emocionais semelhantes as observadas na punicdo, s6 que com menor magnitude. J4 a extingdo apés reforgamento intermitente produz efeitos mais amenos. Nao so observadas respostas emocionais nem o aumento siibito na freqiiéncia de respostas no inicio da extingdo. Além disso, a diminuigdo na freqiiéneia do responder & mais lenta. ‘Note, olhando a Figura 7.3, que a freqiiéncia total de respostas foi muito maior na extingdo apés FR (esquema de reforgo intermitente). Dizemos, portanto, que esquemas intermitentes geram comportamentos mais resistentes A extinglio que esquemas de reforgamento continuo. Além disso, no foi observado um aumento na freqiiéncia de respostas logo apés 0 inicio da extingdo, a diminuigdo na freqiiéncia de respostas foi gradual, e a resposta foi emitida por um nimero maior de blocos de um minuto Padrées comportamentais de cada esquema Cada um dos quatro esquemas vistos até agora produz um padrio comportamental caracteristico em estabilidade. Nos experimentos com esquemas de reforcamento, existem dois tipos de dados: 1) dados de transig&o: aqueles observados quando © organismo acabou de ser submetido a um novo esquema de reforgamento. Nesse caso, seu padrio comportamental trad caracteristicas da contingéneia antiga e da nova contingéncia. Dizemos, portanto, que seu comportamento ainda ndo est4 adaptado ao novo esquema de reforgamento, trazendo tragos do esquema anterior, Os dados de transigdo sdo iteis para estudar 05 efeitos de histéria de reforgamento; 2) estado estivel: dizer que um comportamento esté em estado estivel significa dizer que ele j se adaptou ao novo esquema e que nao mudaré mais, mesmo que seja submetido a mais sessGes experimentais nesse esquema. Para ser obtido o estado estivel, & necessirio que o organismo seja submetido a varias sessdes ao esquema em vigor, de forma que seu comportamento se adapte a ele. (Os padrdes comportamentais apresentados a seguir sio observados apenas em estado estAvel. Padrio de FR O padrio de FR é caracterizado por produzir uma taxa alta de respostas, uma vez que, quanto mais o organismo responder, mais reforgos obterd (Figura 7.4). Ou seja, como o reforgo depende exclusivamente do organismo, se ele responder com rapidez, seré reforgado imediato ¢ freqiientemente. Enffo, seré observada uma taxa alta de respostas. Entretanto, um outro fendmeno é observado emFR, que & a pausa apés o reforgamento. Logo apés o reforgo, 0 organismo demora um pouco para iniciar seu responder. Esse tempo & chamado de pausa apés reforgo. Attibui-se essa pausa ao fito de que o organismo nunca foi reforgado logo apés um reforgamento anterior, discriminando claramente que o reforgo demoraré a vir. Essa discriminagao é facilitada pelo mimero de respostas para cada reforgador ser sempre 0 mesmo. Sendo assim, o reforgo sinaliza que as proximas respostas ndo sero reforgadas, tornando 0 responder pouco provvel. Mas, na medida em que o organismo comeca a responder, suas respostas atingem rapidamente uma taxa alta que permanece constante até o préximo reforgo. Um exemplo vai nos ajudar a entender. Imagine que voce esti fazendo séries de abdominais em uma academia. Ao terminar uma série de eem abdominais, é pouco provivel que vocé inicie a série seguinte imediatamente. Isto ocorre porque vocé discrimina que sero mais cem abdominais para o proximo reforgo. Mas, quando vocé enfim comega, faz as repetigdes em um ritmo constante até o final da série va “ Cada tage deste representa a apresentacao de um refrca scalop vertical) oF vl Freqincia aamulada Pausa pés- refergo (hovizonta) ‘Tempo (min) Figura 7.4 Padres comportamentals productos por cada esquema Padrio de VR Por outro lado, o padrio de VR € caracterizado por auséncia de pausas ou por apenas pausas curtas (Figura 7.3). Isto ocorre porque ndo hi como discriminar se 0 mimero de respostas para o préximo reforgo & grande ou pequeno, uma vez que & 40, como o organismo também foi reforgado com poucas respostas no passado, o Ultimo reforgador nao sinaliza Go & correlacionado com o nao-reforgamento, como no caso da razio fixa. Portanto, as pausas so bem menores, ou mesmo no ocorrem nos esquemas de VR. Além disso, os esquemas de VR produzem altas taxas por exigirem o nimero de respostas para a liberagdo do reforgo e por nko apresentarem pausas apés reforgamento. Conseqiientemente, 0 VR é 0 esquema que produz as maiores taxas de respostas. Se ‘vocé deseja que alguém trabalhe muito e quer pagar-Ihe pouco, VR é o esquema mais indicado. varidvel que as préximas respostas ndo serdo reforgadas. Assim, 0 ultimo reforgador Padrio de FI Este € 0 esquema que produ as menores taxas de respostas por duas razdes: 1) nio ¢ exigido um nimero de respostas para a obtengdo do reforgo, ou seja, nio faz diferenga responder muito ou pouco, e, sim, no momento certo, Por conseguinte, 0 organismo responderé menos do que nos esquemas de razio; 2) é 0 esquema que produz as maiores pausas apés 0 reforcamento, uma vez que a discriminagdo temporal entre o reforgamento eo ndo-reforgamento é facilitada pela regularidade das duragdes dos intervalos entre reforgamento. Como o reforgo depende do tempo, que serd sempre o mesmo, é facil para organismo discriminar que, logo apés um reforgador, suas respostas no serao reforgadas. Portanto, o padro caracteristico do Fl envolve longas pausas apés o reforgo, como um inicio lento no responder um aumento gradual na taxa de respostas, que esti méxima no momento da préxima disponibilidade do reforgo. Essa acelerasio do responder é chamada de scalop (Figura 7.4). E importante notar que os padrées foram obtidos em pesquisas com animais que nio tém relégio nem calendario. Certamente, nfo comegamos a ligar a TV na quarta-feira e ficamos ligando-a com uma freqiiéneia cada vez mais alta quando se aproxima da hora dos Simpsons no sibado. Caso nfo se tratasse dos Simpsons, ¢, sim, de alimento, ndo tivéssemos formas organizadas de contar 0 tempo, nosso padrao seria semelhante a0 dos animais. Padrao de VI Apesar de ser um esquema de intervalo, o VI produz um padrdo com uma taxa relativamente alta de respostas. Uma vez que 0 organismo nao tem como prever quando o reforgador estara disponivel, ele responderd quase que o tempo todo (Figura 7.4). Caso 0 organismo fique muito tempo sem responder, perdera reforcos; portanto, ele permanecerd respondendo moderadamente © tempo todo. Efeito do tamanho do esquema Nos esquemas de razio, quanto maior o valor do esquema (tamanho do esquema), a) maior a freqiiéncia de respostas, pois sero necessarias mais respostas para cada reforgo; eb) maiores sero as pausas apés 0 reforgo, pois o iiltimo reforgamento ser menos correlacionado com o reforgador, tanto em FR como em VR. J4 nos esquemas de intervalo, quanto maior o valor do esquema, b) maiores serdo as pausas apés o reforgo, pois facilitaré a discriminagdo temporal; e c) menores serdio as freqiiéncias de respostas, pela mesma razio. Portanto, 0 padrao comportamental de cada esquema nio é influenciado apenas pelo esquema em si, mas também pelo tamanho do esquema, Esquemas nio-contingentes e 0 comportamento supersticioso Existem dois tipos principais de esquemas em que ndo hi a relago de contingéncia. Isto é, 0 reforgo & liberado independentemente de uma resposta especifica, Trata-se de dois esquemas exclusivamente temporais, ou seja, 0 reforgo é apresentado de tempos em tempos, sem a necessidade da emissio de uma resposta, Eventos climiticos, (como sol ¢ chuva), mesadas, pensdes alimenticias, aposentadorias, todos sdo reforgadores apresentados em esquemas ndo-contingentes; isto &, 0 reforgo vem sem que seja necessério emitir algum comportamento, ‘Tempo fixo (FT: fixed time) Este esquema € caracterizado pela apresentagdo dos reforgadores em intervalos de tempos regulares, mesmo que nenhuma resposta seja emitida. Exemplos desse esquema so, no caso, a mesada, a pensio alimenticia ou a aposentadoria, nos quais 0 individuo recebe o reforgo todo més sem precisar se comportar. Descreveriamo-los como FT:30 dias. Em um experimento de laboratério, poderiamos dar égua manualmente para o animal de 10 em 10 segundos. Nesse caso, estariamos executando um FT:10”. Note que niio hi uma relago de contingéncia como no esquema de intervalo fixo (FI). No FI, o reforgo esta disponivel em intervalos fixos caso ocorra uma resposta. No caso do FT, o reforgo nio & produzido por uma resposta, e, sim, é apresentado regularmente, mesmo que o organismo fique parado, Um fendmeno muito interessante comumente observado em experimentos como o antes descrito é 0 fortalecimento de um comportamento supersticioso por reforgamento acidental. © animal, dentro da caixa de Skinner, esti sempre se comportando, sendo provavel que ele esteja emitindo uma resposta qualquer (por exemplo, levantando a cabega) no momento em que 0 reforgo € liberado. Conseqiientemente, como observamos na modelagem, é provavel que a resposta aumente de freqiiéncia, Esse proceso & chamado de reforcamento acidental, em que ndo hi uma relagdo de contingéncia entre uma resposta ¢ uma conseqiiéncia, e, sim, uma mera contigilidade temporal, ou seja, uma resposta e um reforgo esto proximos no tempo. Como essa resposta aumenta de freqiiéncia, € muito provavel que ela esteja ocorrendo quando o préximo reforgo for apresentado, fortalecendo ainda mais a rela¢do supersticiosa entre a resposta e 0 reforgo, Trata-se de uma relago supersticiosa uma vez que o reforgo ndo & conseqiiéneia da resposta (ndo & uma relagfio de contingéncia, e, sim, de mera contigilidade temporal); entretanto, para o organismo que se comporta, nio faz a menor diferenga. Exemplos de comportamentos supersticiosos so freqientes em nosso dia-a-dia, como fazer simpatias, colocar 0 Santo Ant6nio de cabega para baixo para se casar, usar sempre a mesma cucca antes de um jogo de futebol importante, conversar com Sao Pedro para que no chova no churrasco, empurrar com a mAo a bola de boliche jé langada quando esta se aproxima da canaleta, usar um trevo de quatro folhas para dar sorte, entre outros. Entretanto, em nosso dia-a-dia, os reforgadores raramente sdo apresentados em tempos regulares. Em geral, os tempos entre as apresentagdes dos reforcadores variam, o que constitui o esquema de tempo varidvel Tempo varidvel (VI: variable time) Quando os reforgadores so apresentados em intervalos irregulares de tempos, independentemente de uma resposta, dizemos. que temos um esquems de tempo variavel. Esse esquema se assemelha muito ao VI; contudo, no esquema de VI é necesséria a emissio da resposta, enquanto que no VT niio, Quando dizemos que a liberago de fgua para o rato esté em VT:15”, isso significa que o reforgo seri apresentado a cada 15 segundos em média, independentemente da emissio de qualquer comportamento, Exemplos cotidianos de tempo variavel dizem respeito a eventos climiticos, vitérias do time favorito para o torcedor, miisicas boas tocadas no radio da sala de espera de um consultério médico, etc. Note que os reforgadores so apresentados de ‘tempos em tempos, independentemente de alguma resposta do organismo, ¢ esses tempos variam. Um fenémeno comum observado em VI e FT é a auséncia no responder. Se niio tem contingénci o ditado: “s6 se aprende a nadar quando a gua bate no bumbum” nao tem comportamento. E Esquemas reguladores da velocidade do responder (taxa de respostas) Existem esquemas desenvolvidos para controlar quio répido devem ser as respostas do organismo. Esses esquemas utilizam o reforgamento diferencial, no qual ndo se trata de uma resposta especffica que & selecionada, e, sim, da velocidade (taxa) com que esta é emitida, ou seja, nesses esquemas, o responder répido ou o responder lento é reforgado, Reforgamento diferencial de altas taxas de respostas (DRH: differential reinforcement of high rates) © DRH é um esquema desenvolvido para produzir um responder rapido, em outras palavras, somente taxas altas de respostas serdo reforcadas. Seu fimcionamento é parecido com um esquema de razio, ou seja, um nimero de respostas deve ser emitido para a liberagdo do reforgo. Entretanto, o DRH possui um requisito extra: esse nimero de respostas deve ser emitido dentro de um tempo predeterminado para que o reforgo seja apresentado, Em termos cotidianos, podemos dizer que 0 DRH & um cesquema que impe um prazo para que emitamos um niimero de respostas. Se colocassemos o rato em um DRH:20 em 30”, o animal teria de emitir 20 respostas para ser reforgado. Entretanto, essas 20 respostas deveriam ocorrer dentro de 30”. Caso 0 tempo se esgotasse, seriam zerados 0 cronémetro € 0 contador de respostas. © animal teria de emitir mais 20 respostas para ser reforgado, novamente, dentro do prazo de 30 segundos. Fica evidente que nio podemos comegar com um DRH muito exigente. Devemos iniciar com um DRH indulgente e, gradativamente, ir aumentando seu rigor. Caso coloquemos o animal em um DRH alto logo de inicio, & provavel que ele pare de responder por nio-reforgamento, antes de diseriminar a contingéneia de responder rapidamente que esté em vigor. Um bom exemplo cotidiano € a prova de digitagao ou datilografia para os mais antigos. Nelas, um certo nimero de toques deveria ser dado por minuto para que o candidato nfo fosse eliminado do concurso, o que produzia um responder muito rapido. indices para participagao de torneios em provas de velocidade também sdo um exemplo de DRH. O corredor tem que emitir um certo niimero de passadas em 10,10 segundos para ser classificado para as olimpiadas. Quem deixa para estudar na véspera da prova também se submete a um DRH, tendo de ler muitas paginas ou fazer muitos exercicios em um prazo curto. Em todos esses exemplos, apenas o responder com taxa alta sera reforgado, ¢ os demais sero extintos. Reforgamento diferencial de baixas taxas de respostas (DRL: differential reinforcement of low rates) Em DRL, as respostas serdo reforgadas apenas se forem espacadas temporalmente, ou seja, 0 organismo deve esperar um tempo desde o tiltimo reforgo para responder; sendo, além de ndo ser reforgado no momento em que responde, perde 0 proximo reforgador. O DRL é parecido com o esquema de intervalo fixo (FI), ou seja, as respostas serdo reforgadas em intervalos fixos. Em FI, caso o organismo responda antes da disponibilidade do reforgo, ele no perde 0 reforgo seguinte: quando vencer o intervalo, a primeira resposta sera seguida do reforgo. No DRL, por outro lado, caso 0 organismo responda antes de vencer 0 intervalo, 0 cronémetro é zerado, ¢ o interval é reiniciado. Ou seja, caso 0 organismo no espace suas Tespostas em um tempo maior que o intervalo, palavras, o apressado seré o iiltimo a ser servido. Submeter um rato a um DRL:1’ significa que respostas sero reforgadas de minuto em mimuto, desde que o animal no responda antes de passado um minuto desde o iiltimo reforgador. Caso a resposta ocorra, o cronémetro é zerado e um novo intervalo de um minuto é iniciado. Um pintor de paredes esta sob esse esquema. Ao terminar uma mio de tinta, ele deve esperar a tinta secar para passar a nova mio, sendo ele estragard a primeira mio ¢ tera de repetir o trabalho, Uma mie também pode controlar 0 comportamento do fitho de pedir dinheiro para sair utilizando um DRL. Caso ela coloque o filho em um DRL:7 dias, esse tera de esperar 7 dias para pedir dinheiro novamente. Senio, ele ficara mais sete dias sem poder pedir dinheiro para sair. © padrio comportamental de DRL € caracterizado por um responder pouco freqiiente com longas pausas apés 0 reforgamento. As pausas serdo sempre maiores que a duragdo do DRL. negativamente punido com o atraso da proxima disponibilidade. Em outras Reforcamento diferencial de outros comportamentos (DRO) O DRO é principal alternativa comportamental para reduzir a freqiiéncia de um comportamento sem a utilizago de punigdo. Consiste apenas em reforgar todos os comportamentos, exceto aquele que se deseja reduzir a freqiiéncia. E uma combinagdo de extingdo para 0 comportamento indesejado ¢ reforgo para outros comportamentos. Caso desejemos que um rato previamente modelado a pressionar uma barra para obter agua deixe de pressiond-la, podemos reforgar com gua qualquer um de seus demais comportamentos. Rapidamente, a freqtiéncia de pressdo a barra cair Podemos utilizar DRO para diminuir a freqtiéncia do comportamento de contar vantagem de um amigo. Podemos reforcar com atengdo e admiragdo quando ele falar qualquer coisa, menos as verbalizagdes que envolvem se vangloriar de algo. © DRO € preferivel como forma de redwir a freqtiéncia do comportamento em relagdo 4 punigdo ¢ a extinedo, pois produz menos efeitos colaterais, como respostas emocionais e contracontrole. Este tipo de esquema é bastante utilizado para reduzir a freqiiéncia de comportamentos autolesivos (bater cabega contra a parede, arrancar cabelos, morder-se, etc.). Esquemas compostos Existem esquemas que envolvem a combinago de mais de um esquema, como os miltiplos, mistos, concorrentes, encadeados, tandem e de segunda ordem, Esses esquemas compostos foram desenvolvidos para descrever com maior precisio as situagSes do nosso dia-a-dia. A complexidade das situagdes enfrentadas dia-a-dia nio é facilmente descrita pelos esquemas simples de reforcamento j4 apontados. Portanto, os esquemas tentam simular de forma mais fidedigna a complexidade dos determinantes: do comportamento. Examinemos alguns deles. Esquema miltiplo e esquema misto Nesse esquema composto, ocorre a alternincia de mais de um esquema de reforgamento. Cada um dos esquemas permanece em vigor por um periodo de tempo, por um nimero de respostas ou por um niimero de reforgadores obtidos. Além disso, cada uum dos esquemas é sinalizado por um estimulo diferente, mas a resposta requerida é sempre a mesma. Os esquemas miltiplos sio utilizados principalmente para estudar o controle de estimulos antecedentes sobre 0 comportamento operante. Como vimos, cada esquema de reforgamento produz um padrio comportamental diferente, Portanto, & esperado que, em estado estivel, o organismo sob o controle desse esquema ja passe @ emitir © padrdo comportamental pertinente a cada esquema meramente por entrar em contato como estimulo sinalizador. Um experimento hipotético poderia envolver um DRH:20 em 30” (luz vermelha) por 10 reforgos, uma extingo (luz apagada) por 5 minutos e um FI:1’ (luz verde) por 15 mimutos. Cada um dos esquemas do miltiplo é chamado de componente do miltiplo. Note que cada um dos esquemas durara um certo periodo ou nimero de reforgos e seré sinalizado por um estimulo visual. Apés a estabilidade, & esperado que 0 animal responda rapido, sem pausas, na presenga da luz vermelha (isto 6, padrdo de DRH), nio responda no escuro (isto &, extingdo) e responda com pausas apés o reforgo na presenga da luz verde (isto é, padrdo de FI), Note que o organismo pode conseguir quantos reforgos forem possiveis em cada esquema em vigor. Um exemplo deste esquema na vida cotidiana so aquelas criangas que fazem muitas birras quando estio coma av6, poucas quando esto com a mie e nenhuma quando esto com pai. Nesse exemplo, mie, pai e av6 sio os estimulos discriminativos correlacionados com cada componente do esquema miltiplo: a avé reforga as birras em CRF, o pai munca reforga as birras (extingdo) e mie ocasionalmente reforga uma birra (razo variével), Os esquemas mistos seguem 0 mesmo raciocinio dos esquemas miiltiplos: cada esquema componente esté em vigor em um momento isoladamente. Em todos os componentes, a resposta e 0 reforgo so os mesmos; no entanto, ao contririo do miltiplo, no misto, nao ha estimulos discriminativos que sinalizam qual esquema esti em vigor. © organismo deve discriminar o esquema em vigor pelo préprio contato coma contingéncia, Esquemas encadeados Os esquemas encadeados foram desenvolvidos para estudar cadeias comportamentais. Raras vezes uma resposta produz um reforgador primério como dgua, alimento e sexo. A maioria de nossos comportamentos esti imersa em longas cadeias de respostas. O ponto crucial nas cadeias de respostas & que o reforgo de um comportamento é 0 estimulo que sinaliza 0 comportamento seguinte. Nos esquemas encadeados, da mesma forma, a ocorréncia de um reforgo sinaliza a passagem para 0 proximo esquema (é 0 SP). Nos esquemas miiltiplos, cada componente est em vigor em um dado momento, ¢ um no depende do outro. Nos esquemas encadeados, cada componente também esti em vigor em um dado momento; no entanto, eles surgem sempre na mesma ordem, € a ocorréncia de um depende da ocorréncia do anterior. Um exemplo simples com o rato pode ser FR:10 barra da esquerda F1:20” barra da direita: 10 pressdes a barra da direita acendem uma luz; estando a luz acesa, apos se passarem 20 segundos, a primeira pressio 4 barra da esquerda é reforgada com Agua Esquemas concorrentes e a Lei da Igualagio Esquemas concorrentes so, com certeza, os mais presentes ¢ importantes em nossa vida. Falamos sobre esquemas concorrentes quando temos dois ou mais fontes de reforgo disponiveis ao mesmo tempo; por exemplo, ir a escola ou ficar em casa vendo TV; jogar futebol ou ir ao cinema no domingo a tarde ou, no caso do rato, pressionar a barra da esquerda produz gua em esquema VI:10" a da direita produz agua em esquema VI:20” (Figura 7.5). Nesse exemplo, os dois esquemas estio em vigor ao mesmo tempo, ou seja, tudo o que 0 rato tem que fazer é responder em uma das barras; o reforgo de um esquema ndo depende do outro. ocd deve ter percebido que, quando falamos em esquemas concorrentes, estamos nos referindo a escolha, a preferéncia, Estudar esquemas concorrentes nos ajuda a compreender melhor por que ¢ como as pessoas tomam decisdes, como e por que escolhem fazer ou deixar de fazer algo. Analisemos 0 experimento da Figura 7.5 para entender melhor como funciona, pelo ‘menos em parte, a preferéncia. Como a barra da esquerda est4 VI:10", pressiond-la produz duas vezes mais reforgo que pressionar a barra da direita. Como ela produz mais reforgos que a barra da esquerda, o rato tender a preferi-la. Dizer que ele tera preferéncia por ela quer dizer simplesmente que ele pressionara mais na direita que na esquerda ¢ passard mais tempo no esquema VI:10" do que no esquema VI:20". O mais impressionante, no entanto, é que 0 rato nio ficara somente pressionando a barra da direita: ele distribuiré suas respostas nas duas barras ¢ faré isso proporeionalmente & quantidade de reforgos disponiveis em cada esquema: se um esquema produz o dobro de reforgos do outro (isto é VI:10" e V:20"), 0 rato pressionard a barra do esquema que produz o dobro de reforgos duas vezes mais do que pressionard a outra barra. O tempo que ele passara em cada esquema também seré proporcional. Essa relago entre comportamento e reforco foi apontada — de modo experimental — pela primeira vez por um psicdlogo chamado Hermstein em 1961 ¢ ficou conhecida como a Lei da Igualagao, Figura 7.5 Esquemas concorrentes. A fotografia mostra uma stuacéo tiica em experimentos sobre esquemas concorrentes. Pressionar a barra da cesquerda é reforcado em VI:10" e pressionar a barra da dreta em VI:20" ‘ALei da Igualagao trata, portanto, de como os organismos distribuem seus comportamentos em situagSes onde hi esquemas concorrentes. Seu pressuposto basico é de que ha uma relagio de igualagdo entre o comportamento e varios parimetros do reforco, por exemplo, a quantidade de reforgo produzido em cada ocorréncia da resposta, a qualidade do reforgo, 0 atraso do reforgo (quanto tempo demora para o reforgo ser apresentado apés a resposta ser emitida) o esquema de reforgamento em vigor para determinado comportament. ObservagGes da adequagdo da Lei da Igualagdo para descrigdo e previsdo do comportamento so mais simples do que se possa pensar, Se observarmos um jogador de basquete atuando e registrarmos seus aremessos e cestas, perceberemos que a quantidade de arremessos de trés ¢ dois pontos é proporcional 4 quantidade de cestas de trés ¢ dois pontos que ele geralmente faz; a distribuigdo do tempo que passamos realizando uma ou outra atividade € proporcional 4 quantidade, qualidade freqiiéncia dos reforgadores disponiveis em cada esquem. Estudar a preferéneia do individuo por um ou outro esquema, isolando-se os pardmetros do reforgo apontados acima & relativamente facil e, até certo ponto, possui resultados intuitivos; todavia, quando os parametros do reforgo so levados em conta em conjunto, o problema torna-se mais complexo. E facil prever que um rato preferiré um VI:10" a um VI:20". Mas, se no VI:20” o reforgo for sacarose (agticar), ou se as gotas de 4gua em VI:20” tiverem o triplo de mililitros das gotas liberadas em VI:10", ou se as gotas em VI:10" sé aparecessem 5S” depois da resposta e as gotas liberadas em VI:20” fossem liberadas imediatamente apés a resposta, qual seria a preferéncia do rato? Como ele distribuiria seus comportamentos entre os esquemas? As respostas a estas perguntas, infelizmente, niio serdo encontradas neste livro. Nosso objetivo & s6 apresentar resumidamente esse campo de estudo; discuti-lo mais a fimdo foge do escopo deste livro, Principais conceitos apresentados neste capitulo Conceito Esquemas de reforcamento intermitente Esquemas de razio Esquemas de intervalo Esquemas de tempos Padréo de respostas Resisténcia a exting3o DRLeDRH DRO Esquemas compostos Lei da Igualacao Descrigao (Grtérios que definem qua respostas serdo reforcadas, Esquemas nos quat 0 reforco depende da ocorréncia de Um certo nimero de respostas. Podem ser de razio fxa ou variivel, Esquemas nos quaé 0 reforco depende da passagem de tum periado de tempo e da emissio de pelo menos uma Tesposta. Podem ser de intervab fixo ou vartvel. Esquemas em que o reforgo no & contngente & resposta Forma caracteristica como o organismo emite uma determinada resposta. ‘Tempo ou nimero de ocorténcas de uma resposta Necesséro para que eb se extinga Esquemas reguiadores de velociade da resposta, DRL: bakes taxas; DRH: akas taxas, Reforco diferencial de outros comportamentos. Todos os ‘comportamento, exceto 0 alvo, séo reforcados. Esquemas nos quais do’ ou maé esquemas simples cestdo presentes. Lei comportamental que estabelece uma relaglo de proporeao entre comportamento e reforco. Bibliografia consultada e sugestées de leitura Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cogni¢do. Porto Alegre: Artmed. Capitulo 10: Esquemas de reforgo. Capitulo 11: Combinagao de esquemas: sintese comportamental Hermnstein, R. J. (1961). Relative and absolute strength of response as a function of frequency of reinforcement, Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 4, p. 267-272. Millenson, J. R. (1967/1975). Principios de andlise do comportamento. Brasilia: Coordenada. Capitulo 7: Reforgamento intermitente Todoroy, J. C. ¢ Hanna, H. S. (2005). Quantificagao de escolha e preferéncias. In: J. Abreu-Rodrigues e M. R. Ribeiro Exemplo ‘A maior parte de nossos comportamentos no so reforcados sempre que ocorrem. Estudar e trar 10 na prova (VR). ‘Abra caixa de e-mals e encontrar novas mensagens wo. User uma cama veha eo tine ganhar (VT), Timidez. Prestar vestibubr 5 vezes, no passar e continuar tentando. Datingrafia, A veloctiade é mportante. Reforcar qualquer verbalzacéo, menos “contra vantagem’. Os pricpais séo miitips, encadeados e concorrentes. Ler trés vezes mats Ivros de fcclo cientfica do que de oes (Orgs.), Andlise do Comportamento: pesquisa, teoria e aplicacao. p. 159-174. Porto Alegre: Artmed. Fl Como voc8 péde observar, as sis do ivro so todas em inglés (por exempb, NS, US, UR, CS, CR, FR, VR, FI ¢ VI). Apesar do carster nachnalsta dos autores, as sblas em gk so termos técnicos breamente utizados no Bras Sendo assim, sua traducio para o portugués dficukara 2 comunicacdo entre os Analstas do Comportamento. Isso no quer dizer que voc® ngo possa treduzHs. Na verdade, sighs com 0 EN, Er, RI, EC, RC, RF, RV, IF e IV estdo tao corretas quanto as siplas em ings.

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