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CAPITULO 4 Aprendizagem pelas conseqiiéncias: 0 controle aversivo Como jé sabemos, 0 comportamento operante & aquele que produz modificagdes no ambiente e que & afetado por elas. Chamamos tais modificagdes no ambiente de conseqiiéncias do comportamento. Jé se conhece também um tipo dessas conseqiiéncias: 0 reforgo. Mais especificamente, foi abordado o reforgo positive (reforco porque aumenta a probabilidade do comportamento reforcado voltar a ocorrer; positive porque a modificagito produzida no ambiente era sempre a adigao de um estimulo). Por exemplo, quando 0 rato pressiona a barra , aparece uma gota de gua em seu ambiente; quando a crianga pede um doce, ela recebe um doce (ela néo tinha o doce, agora tem). Nos exemplos de reforgo positive vistos no Capitulo 3, 0 organismo comportava-se para que algo acontecesse, para que um estimulo fosse produzido, ‘Nese capitulo, veremos que existem outros tipos de conseqiiéncias do comportamento que também aumentam sua freqiiéncia (reforgo negativo), e outras que diminuem sua freqiiéncia (punico positiva e puni¢io negativa). A esses tipos de conseqiiéncias damos o nome de controle aversive do comportamento. Por que “controle aversive do comportamento”? Quase todos as seres vivos agem buscando livrar-se de contatos prejudiciais...Provavelmente, esse tipo de comportamento desenvolve-se devido ao seu valor de sobrevivéncia (Skim, 1983, p. 24), Dizemos que 0 reforgo positive é uma conseqiiéncia controladora do comportamento, jé que a sua ocorréncia torna o comportamento mais provavel. Ou seja, se fago algo que produz uma conseqiiéneia reforgadora, continuo agindo assim, seno paro. Reforco negativo e punigo (positiva e negativa) também sio conseqiiéncias do comportamento que exercem controle sobre ele, pois interferem na probabilidade de sua ocorréncia futura: se fago algo que tem como conseqiiéncia um reforgo negativo, voltarei a fazélo; se fago algo que tem como conseqiiéncia uma punigdo, seja positiva, seja negativa, nfo farei mais Por esse motivo, dizemos que esses trés tipos de conseqiiéneia do comportamento também o controlam. Mas por que controle aversivo? Defende-se que 0 controle exercido pelos trés tipos de conseqiiéncias ¢ aversivo porque o individuo se comporta para que algo nfo acontega, ou seja, para subtrair um estimulo do ambiente ou para fazer com que ele nem mesmo ocorra. Os organismos tendem a evitar ou fugir daquilo que Ihes & aversivo, Muitas pessoas respeitam o limite de velocidade para niio serem multadas; muitos estudantes freqiientam as aulas para no ficarem com falta, muitas pessoas ndo expdem suas idéias ara nio serem criticadas; mentem para niio serem punidas, e assim por diante. De fato, é possivel que, em boa parte de sew dia-a-dia, o individuo passe emitindo comportamentos ou deixa de emiti-los para que algo no acontega. O controle aversivo diz respeito & modificagio na freqiiéncia do comportamento utilizando-se o reforgo negativo (aumento na freqiiéncia) e punigGo positiva ou negativa (diminuigdo na freqiiéncia). De certa forma, a extingo também se configura como algo aversivo, sendo observadas fortes reagdes emocionais, principalmente quando a extingo segue ao reforcamento continuo do comportamento (isto €, todas as respostas cram seguidas de reforgo). Contudo, no se considera a extingo como controle aversivo, principalmente ao envolver reforgamento diferencial. Estimulo Aversivo é um conceito relacional (envolve relagdes entre eventos) e funcional. Nao existem estimulos eminentemente aversivos que serio aversivos para todas as pessoas. Por exemplo, uma misica do Bruno e Marrone pode ser um estimulo extremamente aversivo para algumas pessoas, mas um estimulo reforgador poderoso para outras. Sendo assim, os estimulos aversivos serdo definidos como aqueles que reduzem a freqtiéncia do comportamento que os produzem (estimulos punidores positives), ou aumentam a freqiiéncia do comportamento que os retiram (estimulos reforgadores negativos). Por conseguinte, somente faz. sentido falar em estimulos aversivos no reforgo negativo e na punigdo positiva. Muitas vezes, utilize~ se reforgo negativo no lugar de estimulo aversivo, como se a punigdo positiva fosse a apresentago de um reforgo negativo, 0 que é um erro, Vale lembrar que 0 reforgo negative produz um aumento na freqiiéncia do comportamento, no podendo participar da punigdo. Nesse caso, o correto seria dizer que, na punigdo positiva, 0 comportamento produz a apresentagio de um estimulo aversivo, resultando na diminuico da probabilidade de emisso do mesmo comportamento no futuro. Contingéncias de reforgo negativo O reforgo no se dé apenas coma apresentagio de estimulos (como os aplausos para um solo de guitarra e agua para a presso 4 barra), mas também pela retirada de estimulos do ambiente. Por exemplo, quando estamos com dor de cabega, podemos. tomar um analgésico. Nesse caso, concluimos que o comportamento de tomar analgésico é provavel de ocorrer em circunstincias semethantes no futuro, pois © comportamento teve como conseqiiéncia a retirada de um estimulo do ambiente: a dor de cabega. Sendo assim, a relag3o de contingéncia ¢ chamada reforgo (porque houve um aumento na freqiiéncia/probabilidade de um comportamento) negativo (porque a conseqiiéncia foi a retirada de um estimulo do ambiente). O estimulo retirado do ambiente & chamado de reforgador negativo. No exemplo anterior, a dor de cabega era o reforgador negativo. Alguns exemplos comuns de comportamentos mantidos por reforgo negative 1)Colocar éculos de sol para amenizar a luminosidade na retina é um exemplo de comportamento mantido por reforgo negativo. A luminosidade & um estimulo reforgador negativo cessado pela resposta de colocar os éculos. A relago entre a resposta de colocar os éculos e a retirada de luz da retina é chamada reforgo negativo. 2) Passar protetor solar para evitar queimaduras é um comportamento mantido por reforgo negativo. Ficar com queimaduras 0 estimulo reforgador negativo evitado pela resposta de passar protetor solar. A contingéncia em vigor é a de reforgo negativo, uma vez que a resposta de usar protetor solar & fortalecida (tem probabilidade aumentada) por evitar a apresentago de um estimulo reforgador negative. 3) Caso a namorada brigue com seu namorado quando ele fuma, & provaivel que 0 namorado passe a chupar um drops apés fumar um cigarro. Com isso, o namorado evita a briga, uma vez que ela niio percebe que ele fiumara, Nesse caso, a briga € um estimulo reforgador negativo, evitado pela resposta de chupar um drops. Novamente, temos uma contingéncia de reforgo negativo em que a resposta de chupar um drops € reforgada por evitar a apresentagdo da briga (que é um estimulo reforgador negativo). E importante notar que, em todos os exemplos, os comportamentos tiveram sua freqiiéneia aumentada ou mantida. O reforgo negativo, assim como o reforgo positivo, & um tipo de conseqiiéneia do comportamento que aumenta a probabilidade de ele voltar a ocorrer. A diferenga basica entre reforgo positivo e reforgo negativo reside na natureza da operago, ou seja, no reforgo positive, um estimulo & acrescentado ao ambiente; no reforgo megativo, um estimulo é retirada do ambiente. Por exemplo, podemos aumentar a probabilidade de um rato pressionar uma barra utilizando reforgo positivo ou reforgo negativo, ‘Veja o exemplo da Tabela 4.1. ‘A correta compreensiio do que é reforgo negativo e de como ele atua sobre o comportamento dos organismos é de fundamental importincia para a compreensio do comportamento humano. Essa importancia se deve ao fato de que varios de nossos comportamentos cotidianos produzem supressdo, adiamento ou cancelamento de estimulos aversivos do ambiente, ¢ nio a apresentagdo de estimulos reforgadores. Leis, normas, cédigos de ética, todos estabelecem conseqiiéncias para nossos comportamentos que queremos evitar: mentimos, inventamos historias, apresentamos “desculpas esfarrapadas” para os outros para nés mesmos para evitar conseqiiéncias aversivas. Via de regra, dois tipos de comportamento operante so mantidos por contingéncias de reforgo negativo: comportamento de fuga e comportamento de esquiva. TABELA 4.1 REFORCO POSITIVO VERSUS REFORCO NEGATIVO Reforso positive Reforco negative Stuago Animal na caka de Skinner privado de agua Afimalina calxa de Skinner recebendo choque ebitrco Comportamento Pressionar a barra Pressionar a barra ‘Conseqiiéncia Apresentago de Squa Retrada do choque ‘Tipo de operagio Adiionar estinuio (qua) ao ambiente Retrar estimuio (choque elétrco) do ambiente Natureza do stimu Estimulo reforcador postivo (SR+) stimulb reforcador negatwvo (S*) le de ocorrét Efeto sobre o comportamento Aumenta a probabil Notactio (representagdo) R+S®* RaSk ‘Aumenta a probabilidade de ocorréncia Comportamento de fuga e comportamento de esquiva Dois tipos de comportamento sio mantidos por reforgo negative, Consideramos que um comportamento é uma fuga no momento em que um determinado estimulo aversivo esté presente no ambiente, & esse comportamento retira-o do ambiente, ‘como no caso de um adolescente usar um creme para secar uma acne que j4 esti em seu rosto. Nesse caso, a resposta de usar 0 creme é uma fuga, mantida pela retirada da espinha da face, que & um estimulo aversivo j4 presente. Jé a esquiva é um comportamento que evita ou atrasa 0 contato com um estimulo aversivo, isto é, 0 comportamento de esquiva ocorre quando um determinado estimulo aversivo ndo esté presente no ambiente, e emitir este comportamento (de esquiva) faz com que o estimulo no aparega, ou demore mais para aparecer. Por exemplo, sv 0 adolescente faz uma dieta menos ealérica para evitar © aparecimento de espinhas, nesse caso, as espinhas ainda nao estio presentes, e a resposta (comportamento) de fazer dieta evitou a apresentagio do estimulo aversivo, constituindo-se em uma esquiva Alguns exemplos comuns de fuga e esquiva 1) Arrumar 0 quarto logo que acordamos para evitar reclamagGes da mie & um exemplo de esquiva, pois a mie ainda ndo esté reclamando. Por outro lado, se a mae vé 0 quarto desarrumado © comeca a brigar, nés 0 arrumamos para que ela pare, o que é um exemplo de fuga. N so, a briga ja esta presente. 2) Fazer uma revisio no carro antes de viajar € um exemplo de esquiva. O carro esta funcionando perfeitamente, mas a revisio € feita para que o carro nio apresente problemas no meio da viagem. Note que 0 carro ainda no esté com problemas e a revisdo é feita para evitar sua apresentagdo, Entretanto, se o carro comega a fazer um barulho atipico no meio da estrada, 0 comportamento de levé-lo a um mecdnico & um exemplo de fuga, pois 0 estimulo aversivo (ou seja, 0 barulho) jé estd presente. 3) Fazer a barba quando a namorada jé esta reclamando dos beijos que arranham sua face é um exemplo de fuga, pois a reclamagio ja esta presente. Seria esquiva caso o namorado fizesse a barba antes de encontré-la para evitar a reclamagdo que ainda nao esti presente. 4) Alguém esta The contando uma histéria muito chata e vocé diz: “Amigo, me desculpe, mas estou atrasado para um compromisso, tenho que ir...". Sait de petto do “chato” é um exemplo de fuga; j4 se vor’ “desconversa” e sai de perto do sujeito antes de ele comegar a contar histérias chatas, vocé esté se esquivando, Portanto, uma estratégia interessante de diferenciar os dois tipos de comportamento consiste em considerar a esquiva como uma prevengio, e a fuga como uma remediagao e, considerando-se que “‘prevenir € melhor do que remediar”, emitimos mais comportamentos de esquiva do que de fuga. Isto é, na esquiva, prevenimos a apresentagio de estimulo aversivo, enquanto na fuga remediamos a situagdo de forma que o estimulo aversivo ja presente seja suprimido. E importante notar que os comportamentos fuga e esquiva somente sao estabelecidos ¢ mantidos em contingéncias de reforgo negativo, Logo, no observaremos fuga e esquiva em contingéncias de reforgo positive ¢ de punigzo. A fuga é sempre a primeira a ser aprendida De inicio, somos modelados a emitir respostas que retirem estimulos aversivos ja presentes, como fugir de um predador, por exemplo. Nao temos como explicar 0 comportamento que ocorre sob o controle de algo que niio esta ocorrendo ainda. De fato, certos estimulos, por terem precedido a apresentagdo de estimulos aversivos no passado, tornam a resposta de esquiva mais provivel. Como 0 sol forte precedeu as queimaduras no passado, este se torna um estimulo que aumenta a probabilidade de emissio de um comportamento que as previne (no caso, a emissao da resposta de passar protetor solar). Todavia, é importante notar que o sol s6 adquiriu tal fungdo comportamental por ter precedido queimaduras no passado. Ou seja, tivemos que fugir das queimaduras no passado para aprender a fimo aversiva do sol, ¢ sé assim somos conduzidos a emitir uma resposta que evite as queimaduras em sua presenca. Para alguns autores, no existe o comportamento de esquiva, e, sim, comportamentos de fuga, uma vez que sempre estamos fugindo de estimulos que sinalizam a apresentagdo de outros estimulos aversivos (que & 0 caso do sol). Chamamos o sol forte de estimulo pré-aversivo ao sinalizat a probabilidade de apresentag3o de um outro estimulo aversivo, as queimaduras. Um experimento simples com um rato albino exemplifica bem a distingZo entre comportamento de fuga € comportamento de esquiva: um rato esté em uma caixa de condicionamento operante (dividida em dois compartimentos) onde a apresentagio de uum choque elétrico pode ser feita eletrificando-se 0 piso da caixa. Um timer controla a apresentagdo do choque: a cada 30 segundos, o timer ativa 0 choque elétrico, que s6 é retirado (desligado) se rato mudar de lado dentro da caixa. Rapidamente o rato aprende 0 comportamento de fuga (Figura 4.1), ou seja, assim que o chogue & ativado, 0 rato muda de compartimento. Podemos programar para que a mudanga de um compartimento para outro “zete” 0 contador do timer, ou seja, se 0 rato, antes do final de 30 segundos, mudar de lado dentro da caixa, o contador do timer é reiniciado, ¢ um novo intervalo de 30 segundos até que o choque seja apresentado € ativado. Nesse caso (Figura 4.2), se o rato mudar de lado um pouco antes da apresentago do choque, o animal evita que tal situago seja apresentada (falamos, ento, em um comportamento de esquiva). Figura 4.1 ‘Comportamento de fuga. Para fugr do choque elétrco, 0 rato passa de um lado para outro da caixa, © rabo kvantado indica que o piso da caixa std eletifcado. Figura 4.2 ‘Comportamento de esquiva (procedimento esquiva de Sidman). 0 rato aprendeu, depots de algumas fugas, que, se passar de uma edo para ‘outro antes de 30 segundos, ele evta 0 choque, e € 50 0 que eb esta fazendo, Sendo assim, denominamos comportamento de fuga aqueles em que um estimulo aversivo esta presente no ambiente no ‘momento em que o comportamento & emitido e em que a conseqiiéncia produzida por ele é a retirada do estimulo aversivo do ambiente. Chamamos comportamento de esquiva aqueles em que um estimulo aversive niio esta presente no ambiente no ‘momento em que 0 comportamento & emitido, € sua conseqtiéncia & o atraso ou o cancelamento do contato com o estinulo aversivo. ‘Tanto 0 reforgo positive como o reforgo negativo aumentam a probabilidade de o comportamento voltar a ocorrer: a diferenga esti apenas no fato de a conseqiiéncia ser a adigdo ou a retirada de um estinulo do ambiente: + Reforgo positivo: aumenta a probabilidade de o comportamento voltar a ocorrer pela adig&io de um estimulo reforgador a0 ambiente, + Reforgo negativo: aumenta a probabilidade de o comportamento voltar a ocorrer pela retirada de um estimulo aversivo (punitivo) do ambiente (comportamentos de fuga e esquiva). Punigio A puntgto detina-se a elininar conportnentos inadequador, aneacadores on, por our lado, indesejéves de um dado repertrio, com base no principio de que quem é punido apesenta menor posibidade de nper seu comportamentoInfelizment,o problema no & tio simples como parce. 4 recompenst (rforgo} ea punicdo ndo dferemanicamente com relagdo aos efelos que produzem, Uma cranca catigada de modo severo por brncadeiassesuaisndO ficard necessariamente desesinulada de continua, da mesma forma quem komen preso por assaiovolento nao ford nccesariamente diminada tua tendenciadvolénca. Conportamenossijetos a pungoesendema se repli assn ue as contingoncaspuniivas orem removes, (Skinner, 1983, p. $0) Algumas conseqiiéncias do comportamento tornam sua ocorréncia menos provivel. Sao elas: puni¢o positiva e puni¢o negativa. Puni¢Zo, em outras palavras, é um tipo de conseqiiéncia do comportamento que torna sua ocorréncia menos provavel. A distingdo entre punigdo positiva e punico negativa incide na mesma distingdo feita com relago ao reforgo (positivo ou negativo): se um estimulo ¢ acrescentado ou subtraido do ambiente. Tanto a punigdo positiva como a punicdo negativa diminuem a probabilidade de 0 comportamento ocorrer. ‘A punigao foi o termo escolhido por Skinner para substituir os “maus efeitos” da lei do efeito de Thorndike. O termo é definido funcionalmente como a conseqiiéncia que reduz a freqiiéncia do comportamento que a produz. Por exemplo, se ingerirmos diferentes bebidas alcoSlicas e tivermos ressaca no dia seguinte, esse comportamento ser menos provivel no futuro, Dizemos, portanto, que tal comportamento foi punido pela ressaca do dia seguinte, Outra vez, o termo punigo refere-se a uma relago de contingéncia entre um comportamento e uma conseqiiéncia, s6 que, nesse caso, o efeito da contingéncia & a redugdo da freqiiéncia ou da probabilidade de ocorréneia dese comportamento no fuluro. A conseqiiéneia sera denominada de estimulo punidor ou punitivo, o qual, no exemplo, foi a “ressaca”. E fundamental chamar a atengo para o fato de que a punigdo é definida funcionalmente, ou seja, para dizermos que houve ‘uma punigdo, & necessirio que se observe uma diminuigo na freqiiéncia do comportamento. Por isso, no existe um estimulo que seja punidor por natureza, s6 podemos dizer que o estinulo € punidor caso ele reduza a freqiiéncia do comportamento do qual é conseqiiente. E possivel pensar que para homens heterossexuais terem de ficar rolando no cho com outro homem suado 86 de calcdo de banho puniria qualquer comportamento. Entretanto, muitos homens pagam caro para ter acesso a esse estimulo, fazendo luta livre em uma academia, Nesse situago, o estimulo citado no pode ser considerado punidor, j4 que no reduz a freqiiéncia do comportamento que 0 produz. Dois tipos de punigio De forma similar ao reforgo, existem dois tipos de punigdo: a positiva e a negativa. A punigSo positiva & uma contingéncia em que um comportamento produz a apresentagdo de um estimulo que reduz sua probabilidade de ocorréncia futura. Por exemplo, uma pessoa alérgica a camaro passa mal ao comé-lo. A partir desse dia, ndio come mais camaro. No caso, 0 comportamento de comer camario produziu a apresentagio dos sintomas. Como houve uma diminuicdo na freqiiéncia desse comportamento, afirmamos que este comportamento foi positivamente punido. J4 na punigo negativa, a conseqiiéneia de um comportamento a retirada de reforgadores (de outros comportamentos). Essa conseqiiéncia tornara 0 comportamento menos provavel no futuro, Por exemplo, uma pessoa que acessa sites nio-confiaveis na internet pode ter seu computador infectado por virus, de forma que ele deixe de funcionar. A pessoa deixou de acessar sites niio-confidveis, Sendo assim, a conseqiiéncia do comportamento de acessar sites nio-seguros foi a retirada dos reforgadores (de outros comportamentos) disponibilizados pelo computador funcionando. Como houve uma diminuigao na freqiéncia do comportamento de acessar sites nio-seguros pela retirada dos reforgadores associados ao computador fimcionando, concluimos que houve uma punicao negativa. E importante notar que a punig&o, seja positiva, seja negativa, resulta, por definigdo, na redugao da freqiiéncia ou da probabilidade do comportamento. Os termos “positivo” e “negativo” indicam apenas apresentagdo ou retirada de estimulos respectivamente, Lembre-se de ignorar seus significados na lingua cotidiana, Em andlise do comportamento, positivo nao & bom negativo nao é ruim; simplesmente positivo & apresentagao, ¢ negativo é supressao. *+ Punicdo positiva: diminui a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente pela adigfio de um estimulo aversivo (punitive) ao ambiente. + Punigdo negativa: diminui a probabilidade de 0 comportamento ocorrer novamente pela retirada de um estimulo reforgador do ambiente, Exemplos de punigo positiva (adigio de um estimulo aversivo) + Umrato, modelado a pressionar uma barra para obter Agua, recebe, além da 4gua, um choque quando age assim e para de fazé-lo; + jogar bola dentro de casa, “evar uma surra” e no jogar mais bola nesse local; + “ultrapassar o sinal vermelho, ser multado e nao infringir mais essa regra; + “dizer palavrdo”, “receber uma bronca” e diminuir bastante a freqiiéncia dessa atitude. Exemplos de punicio negativa (retirada de um estimulo reforcador de outro comportamento do ambiente) + Fazer traquinagens, perder a “mesada” e diminuir bastante a freqiiéncia com que se faz traquinagens; + cometer um assalto, ser preso (perder a liberdade) e no cometer mais crimes; + fumar, ndo receber beijos da namorada por isso ¢ diminuir bastante o nimero de cigartos fumados por dia; + dirigir embriagado, perder a carteira de motorista e ndo mais dirigir embriagado. Suspensio da contingéncia punitiva: recuperagao da resposta Um comportamento que outrora fora punido pode deixar de sé-lo ¢ talvez tenha sua freqiiéncia restabelecida, Uma menina que namora um rapaz.que implicava com suas minissaias pode parar de usé-las. Sendo assim, o comportamento de usar minissaia era positivamente punido pelas brigas com 0 namorado. Caso ela troque esse namorado por outro menos chato, que no implique com suas roupas, seu comportamento de usar minissaia talvez volte a ocorrer. Nesse caso, houve uma suspensio da contingéncia de punigo em que o comportamento de usar minissaia produzia brigas e agora no produz mais. Definidos nesse caso, que houve recuperagdo da resposta. Skinner (1938) tem um estudo clissico sobre a quebra da contingéneia de punigo, no qual dois grupos de ratos foram modelados a pressionar uma barra para obterem alimento, O grupo experimental passou a receber um choque toda vez. que a pressionava. Tal procedimento fez. com que os animais rapidamente parassem de fazé-lo, enquanto o grupo controle, que no recebera choques, continuou pressionando a barra, mantendo uma taxa constante de respostas de pressio & barra. Entio, 0 choque foi desligado para o grupo experimental (isto é, quebra na contingéncia de punigdo-recuperagdo) e foi observado um aumento na freqiiéncia de respostas de presso 4 barra. Desse modo, a quebra da contingéncia de punigdo produziu um restabelecimento na forga do responder, 0 que conhecemos por recuperagao da resposta (Figura 4.3) Um ponto importante a ser considerado ¢: a fim de que 0 comportamento volte a ocorrer com a quebra da contingéneia de punigao, o reforgo deve ser mantido, e, obviamente, o organismo deve se expor outra vez & contingéneia, Em outras palavras, se os animais do grupo experimental do estudo de Skinner nio fossem reforgados ao pressionar a barra e no tentassem pressiond-la pelo menos uma vez, seu comportamento nao voltaria a ocorrer. E fundamental que o organismo se exponha outras ‘veres & contingéncia para que ele discrimine a midanea, ou seja, o estimulo punidor nio é mais contingente ao comportamento. Tal ponto ¢ fundamental para a clinica, uma vez que temos clientes que foram punidos no passado e, mesmo com a auséneia da puni¢do, ndo voltam 2 emitir 0 comportamento previamente punido, Dessa forma, ndo tém como perceber a mudanga na contingéncia. Um dos objetivos terapéuticos &, portanto, criar condigdes para que o cliente se exponha novamente as contingéncias. Por exemplo, um rapaz que um dia se declarou para a namorada, e ela o deixou logo em seguida, teve 0 comportamento de se declarar negativamente punido. Sendo assim, esse rapaz talvez munca mais se declare para ninguém, 0 que também gera a perda de reforgadores. Portanto, a terapia poderia criar condigGes para que ele tentasse de novo se declarar em uma situago com baixa probabilidade de punigo, a fim de que 0 comportamento fosse restabelecido. Resportas por Recuperacio debe Figura 4.3 Quebra da contingéncla. Quando hé quebra da contingénce, a freqUncia do comportamento retorna a seu nivel operante (Inna de base). Punicio negativa e extingio Um ponto que gera muita confusdo entre aprendizes & a distingdo entre a extingdo e a punigao negativa. Os dois casos sio similares, porque em ambos nio se tem acesso a reforcadores outrora disponiveis. Entretanto, na extingdo, um comportamento produzia uma conseqiiéncia reforgadora (telefonar para a namorada era reforgado por sua voz do outro lado quando cla atendia). Caso 0 namoro acabe e a ex-namorada se recuse a atender os telefonemas, 0 comportamento de telefonar para ela estard em extingZo, Ou seja, no produz mais a conseqiiéncia reforgadora que produzia, Por outro lado, na punigdo negativa, um comportamento passa a ter uma nova conseqiiéncia, a qual ¢ a perda de reforgadores. Retomando ao exemplo anterior, digamos que esse namorado era infiel pelo reforgamento social provido pelos amigos, até que ele fora descoberto, ocasionando o fim da relago. Supondo que, em namoros futuros, esse rapaz deixe de ser infiel. Aqui temos um exemplo de punigo negativa, pois 0 comportamento de ser infiel foi punido pela perda dos reforgadores associados ao namoro, Essa conseqiiéncia reduziu a fregiiéncia do comportamento de ser infiel. Note que as conseqiiéncias que mantinham © comportamento de ser infiel permaneceram intactas. Caso ele continue a ser assim, seus amigos ainda reforgaro seu comportamento. Entio, no podemos falar em exting’o. © que houve foi a apresentago de uma nova conseqiiéncia: retirada dos reforgadores contingentes a outros comportamentos relacionados ao namoro. Outra diferenga entre punigao e extingdo refere-se ao processo: a puni¢Zo suprime rapidamente a resposta, enquanto a extingo produz uma diminui¢ao gradual na probabilidade de ocorréncia da resposta. Imagine um rato em um esquema de reforgamento continuo (CRF: toda vez que pressiona a barra ele recebe Agua). Nesse caso, o comportamento de pressionar a barra produz uma conseqiiéncia reforcadora: apresentagio da Agua. Como ja se sabe, se deslig’ssemos 0 bebedouro, 0 comportamento de pressionar a barra néo mais produziria a conseqiiéncia reforgadora (a apresentagdo de agua). Falamos entdo de extingdo, ou seja, houve a suspensdo da conseqiiéncia reforgadora, a qual teria como efeito final no comportamento a redugo de sua probabilidade de ocorréncia. Extingo Reforco R~ s Punicao R — (S'+S') f= resposta de presséo & barra _apresentacio de aqua (estimulo reforgador| ~ apresentagSo de choque (estimulo punidor) Figura 4.4 Na extinedo, 0 reforco no ¢ ma apresentado. 14 na punicdo, o reforco continua sendo apresentado, mas junto 2 ek é apresentado 0 estimulo Punidor (ou aversivo), Imagine agora que ndo temos condigdes de desligar o bebedouro, mas temos que fazer com que o rato pare de pressionar a barra. Como poderiamos leva-lo a tal atitude? Isso mesmo: devemos usar a punigao. E possivel, nesse caso, “dar” um choque no rato toda vez que ele pressionar a barra, Se assimo fizéssemos, o rato desistiria de que estava fazendo. Note que, no segundo exemplo, no suspendemos a conseqtiéncia reforgadora, ou seja, em momento algum a agua deixou de ser apresentada quando o rato pressionava a barra, A punigdo, nesse exemplo, € a apresentago do choque. Ao aludirmos & unigdo, ndo nos referimos & suspensdo da consegiiéncia que reforga 0 comportamento, mas, sim, de uma outra conseqiiéncia que diminui a probabilidade de sua ocorréncia (ver Figura 4.3). Imagine agora o seguinte exemplo: quando Jo%ozinho fala palavras inadequadas, seus colegas riem bastante dele (a risada de seus colegas é uma conseqiiéncia reforcadora para 0 comportamento: & o que mantém Joazinho portando-se de tal forma). A mie de Jodozinho quer que ele pare com isso; para tanto, ela retira a “mesada” de Jodozinho, cessando 0 comportamento. Nesse caso, a mile de Jodozinho puniu 0 comportamento dele, ou colocou-o em exting’io? Para responder a essa pergunta, devemos fazer a seguinte andlise: + A fiegiiéneia do comportamento aumentou ou diminuiu? Ela diminui; portanto, a retirada da “mesada” nao pode ser um reforgo. Se a freqiiéncia diminuiu, sé pode ser extingdo ou punigdo: + Acconseqiiéncia reforgadora (risada dos colegas) foi retirada — Nao, por isso nio é extingdo, jé que no houve a suspensio da consegtiéncia reforgadora, + Sea freqiiéncia do comportamento diminuiu e a conseqiiéneia reforgadora nio foi retirada, falamos ent&o em punigdo. + A punigdo, nesse exemplo, foi a retirada de um estimulo reforgador ou a adigao de um estimulo aversivo? = Aconseqiiéneia foi a perda da “mesada” (retirada de um estimulo reforgador); portanto, trata-se de punigio negativa. No exemplo anterior, para que a freqiiéncia do comportamento de dizer palavras inadequadas diminuisse utilizando , 0 que deveria ser feito? Deveria ser feito exatamente isso: retirar (suspender) a consequéncia reforgadora, a qual, no caso, so as risadas dos amigos de Jofozinho, ou seja, a mie de Joaozinho poderia falar com os amigos dele para ndo rirem mais quando seu filho dissesse palavras de baixo nivel. Efeitos colaterais do controle aversivo O controle aversivo, de acordo como que vimos, é uma forma legitima e eficiente de aumentar ou de diminuir a probabilidade de emissio do comportamento. Punir comportamentos inadequados ou indesejados € muito mais ficil e tem efeitos mais imediatos do que reforcar positivamente comportamentos adequados. Entretanto, o controle aversivo apresenta uma série de efeitos colaterais que tornam seu uso desaconselhado por Varios autores comportamentais. ago de respostas emocionais No momento em que os organismos entram em contato com estimulos aversivos, & observada a eliciago de varias respostas emocionais, como tremores, taquicardia, palpitagdes, choro, etc. Existem algumas desvantagens na eliciagdo de respostas emocionais. Uma desvantagem comum ocorre quando 0 administrador da punigao observa as respostas emocionais do organismo punido. Essas respostas emocionais eliciam outras respostas emocionais no individuo que pune, comumente conhecidas por respostas emocionais de pena ou culpa. Elas so aversivas, e o individuo que pune, pode passar a liberar reforgadores ao organismo punido como forma de se esquivar dos sentimentos de pena ou culpa. Um exemplo bem comum ocorre quando uma crianga faz birra na rua para ganhar um pirulito. Seus pais podem Ihe dar uma palmada para punir a birra Ao receber a palmada, a crianga comega a chorar, e seu choro elicia respostas emocionais aversivas nos pais, as quais costumamos chamar de pena ou culpa, Para se esquivar dessas respostas emocionais aversivas, os pais podem dar o pirulito no fim das contas. Esse procedimento ¢ prejudicial por duas razdes principais: 1) Os pais treinam a relagdo entre o comportamento de chorar e ganhar 0 que se quer, aumentando a probabilidade do choro ocorrer no futuro. De fato, 0 choro deixa de ser exclusivamente um comportamento respondente, sendo controlado principalmente por suas conseqiiéncias, isto & torma-se primordialmente um operante. 2) A palmada ou a punigao vai preceder 0 reforgo. Sendo assim, as criangas podem aprender a emitir respostas que levem a uma palmada, pois tal ago adquire fimsdes reforgadoras condicionadas. Em outras palavras, uma palmada deixa de ser punitiva, tornando-se reforgadora, Existem experimentos muito interessantes, nos quais a resposta de pressdo a barra de um rato produz Agua apenas na presenca de um leve choque. Quando 0 choque niio esta presente, as respostas de pressio a barra ndo so reforgadas. Se incluitmos uma nova barta na caixa de Skinner ¢ a sua pressio tiver como conseqiiéncia a produgo do choque, os animais aumentardo a freqiiéncia do comportamento de pressio 3 barra que produz 0 choque. Ou seja, o choque reforgard as respostas de pressio 4 segunda barra. Outro problema na eliciagdo de respostas emocionais ocorre com o condicionamento respondente, Ora, quem pune ou reforga negativamente em excesso acabaré tornando-se um estimulo condicionado que eliciaré as mesmas respostas emocionais outrora eliciadas pelos estimulos aversivos envolvidos. Trata-se do exemplo tipico da ctianga que teme o pai severo. Esse pai dir que seu filho o respeita, Na realidade, seu filho 0 teme, uma vez que a sua presenga eliciara respostas emocionais aversivas. De forma similar, uma namorada que controla 0 comportamento do namorado com chantagens emocionais, isto & usa o reforgo negative e a punigGo, pode tornar-se um estimulo aversivo condicionado. O namorado passard a se sentir mal na presenga da namorada, pois ela se transformou em um estimulo condicionado que elicia as mesmas respostas emocionais provocadas por suas chantagens emocionais. Um outro fendmeno observado & 0 paradoxo da aprendizagem por reforgo negativo, Conforme apresentado, 0 reforgo negativo aumenta a probabilidade do comportamento que o suprime. Entretanto, a apresentagdo do estimulo aversivo pode eliciar respostas reflexas que dificultam a emissGo do comportamento operante que retiraria o estimulo aversivo. Em outras palavras, 0 nico comportamento que retiraria 0 estimulo aversivo torna-se menos provavel devido as respostas reflexas cliciadas por ele, o que certamente representa um paradoxo. Tomemos um gago como exemplo, Caso a crianga gaga fale corretamente, seu pai no fala nada. Por outro lado, quando essa crianga gagueja, ouve a critica do pai. Podemos dizer que falar corretamente mantido por reforgo negativo. Quando o pai critica a crianga ao gaguejar, ela passa a emitir respostas reflexas que quase impedem a emissiio do comportamento operante de falar corretamente. Nesse caso, gaguejar torna-se muito mais provavel do que falar sem gaguejar. Sendo assim, o estimulo que serviria para “motivar” & justamente o que impede que 6 falar corretamente ocorra. Supressiio de outros comportamentos além do punido O efeito da punigo nao se restringe apenas ao comportamento que produziu a conseqiiéncia punitiva, Outros comportamentos que estiverem ocorrendo temporalmente préximos ao momento da punigdo podem ter sua freqiiéncia reduzida. Por exemplo, imagine uma festa de criangas em que 0 Jodozinho esti correndo, pulando, conversando e dancando. Em sua empolgagio, Jodozinho estoura um baldo préximo a um adulto, que se assusta. O adulto imediatamente di uma forte palmada em Jodozinho. E provavel que Jodozinho pare de estourar baldes, mas, além disso, os demais comportamentos citados deixardo de ocorrer. Nesse sentido, o efeito da punigdo possivelmente interferiré nos comportamentos aos quais ela ndo foi contingent. O efeito disso na terapia pode ser muito prejudicial. Uma vez que o terapeuta puna algum comportamento do cliente durante a sesso, outros comportamentos dentro da sessio, muitas vezes desejaveis ao processo terapéutico, podem deixar de ocorrer. Emissio de respostas incompativeis ao comportamento punido Apés a punigdo de um comportamento, os organismos, em geral, passam a emitir uma segunda resposta que torne improvavel a repeti¢ao do comportamento punido. Essa segunda resposta & chamada resposta incompativel ou resposta controladora, uma vez que é uma forma de 0 organismo controlar seu préprio comportamento. A resposta é negativamente reforgada por diminuir a probabilidade de emissio de um comportamento punido e, por conseguinte, de o organism entrar em contato com a punicdo, Umtriste exemplo desse conceito pode ser 0 caso do rapaz que as 3 da manhd, depois de ingerir cerveja, telefona para a ex- namorada fazendo juras de amor. Mas, para infelicidade do rapaz, quem atende & 0 novo namorado dela com voz. de sono. Certamente, essa é uma punigdo positiva que dispensa comentirios, a qual, na verdade, diminuira a probabilidade de ele telefonar outras vezes, Entretanto, ao beber novamente, as 3 da manhd, ele pode sentir-se tentado a fazer o “maldito” telefonema, Para evitar que repita esse comportamento, 0 ex-namorado simplesmente entrega 0 celular a um amigo, pegando-o s6 no dia seguinte. Entregar o celular ao amigo é uma resposta incompativel ao comportamento de telefonar, uma vez que 0 torna menos provavel. ‘Um outro exemplo muito comum & 0 da menina que teve um namoro em que investiu muito. Mas, para infelicidade da moca, seu namorado a trocou por outra pessoa. Essa menina sofreu muito com o término, ou seja, seu comportamento de investir em um relacionamento estivel foi severamente punido. Ela pode desenvolver 0 seguinte padrio: quando comegar a se envolver com alguém e perceber que esti comecando a gostar dessa pessoa, ela rompe o relacionamento antes de se estabelecer 0 namoro. Nesse caso, a resposta de romper relacionamentos ainda no inicio pode ser considerada incompativel com 0 comportamento de namorar, © qual foi punido no pasado. Dai decorre a grande desvantagem da emissdo de respostas incompativeis. Elas tornam impossivel para 0 organismo discriminar que a contingéncia de punigdo nfo esti mais em vigor, uma vez que impede que 0 organismo se exponha a contingéncia novamente. No caso de nossa amiga, ela pode ter perdido muitas oportunidades de ser feliz com alguém que no a abandonaria. Como ela termina uma relao antes de comegé-la, no tem meios de perceber que, dessa vez, a situagio sera diferente favoliase rebels so utes do abuso do canitle verso Contracontrole Este talvez seja o efeito colateral do controle aversivo mais indesejado. No contracontrole, o organismo controlado emite uma nova resposta que impede que o agente controlador mantenha 0 controle sobre o seu comportamento. No caso da punigao, garante-se que o comportamento punido continue a ocorrer sem entrar em contato com ela. Um exemplo banal ocorre quando freiamos o carro diante de um radar, colocando-o na velocidade permitida pela via e, assim, nos esquivamos da multa, Na realidade, a funedo punitiva do radar seria suprimir o fato de dirigir acima da velocidade permitida em toda a sua extensdo, ¢ no apenas na presenga dos radares. A resposta de frear na presenga apenas do radar & negativamente reforgada (no levar multa), Enfretanto, no foi esta a resposta esperada pelo controlador de transito, o qual programou essa contingéncia de punigao. ‘No caso do reforgo negativo, a resposta de contracontrole suprime ou evita o estimulo aversivo sem a emissio da resposta programada pelo controlador. Um professor de educagio fisica que utiliza reforgo negativo para fazer com que seus alunos se empenhem nos exercicios costuma gerar respostas de contracontrole. Os alunos fazem os exereicios determinados pelo professor, este ndo tece nenhum comentirio. Entretanto, se ele vé algum aluno parado, da-lhe uma bronca na frente dos colegas. Em outras palavras, os alunos somente fazem os exercicios para evitar a repreensio do professor (reforgo negativo). Um contracontrole ébvio é fazer 0 exercicio apenas no momento em que o professor esta olhando; assim que vira as costas, os alunos ficam parados a enrolar. Nesse caso, a resposta de observacio, que ¢ agir discriminativamente ao comportamento do professor (atentar ao que o professor esti fazendo), ¢ de modo negativo reforgada pelas broncas. Outro exemplo ocorre quando a mie obriga o filho a comer. Se ele est comendo, sua mie nao diz nada. Por outro lado, se o filho para de comer, a mie comega a brigar com ele. E provavel que essa crianga dé sua comida para o cachorro quando sua mie nao estiver por perto, ¢ diga que ja comeu tudo. Ligar o chuveiro, mas no se molhar, fingindo que esté tomando banho, também é um exemplo de contracontrole comum emitido por criangas ¢ adolescentes. Como diz 0 verso da antiga misica “No mundo da lua”, do Biquini Cavadio: “Nao quero mais ouvir a minha me reclamar, quando cu entrar no banheiro, ligar o chuveiro ¢ nio me molhar”, A mentira como um contracontrole, A mentira, mitas vezes, funciona como uma resposta de contracontrole, como no caso do Bart Simpson dizendo para a Sra. Krabappel (sua professora) que o Ajudante de Papai Noel (seu cachorro) havia comido 0 dever de casa, Caso Bart chegasse & escola semo dever feito, sua professora administraria alguma punio, como uma bronca ou uma adverténcia. A fim de evitar entrar em contato com o estimulo aversivo, Bart inventa a historia de que seu cachorro comeu o dever de casa, esquivando-se. Um exemplo mais banal que esse é muito comum entre namorados. A namorada, que est oito quilos acima do peso, emite aquela pergunta infeliz: “Benzinho, vocé acha que cu engordei?”. © pobre do namorado esti em ums situagdo desesperadora, pois, caso seja sincero, sua namorada, mesmo chateada, pode comegar uma dicta, ficando mais atraente para ele. Entretanto, a conseqiiéneia de longe mais provavel & a de que uma resposta sincera leve a uma briga homérica, a qual certamente representa uma punido positiva, além da punicao negativa pela perda dos reforgadores primirios aos quais teria acesso estando de bem com a namorada, A resposta que se torna provavel, obviamente é: “O que é isso meu amor? Vocé esta linda!” Apesar de faltar com a verdade, o namorado ser recompensado por isso, evitando a punicdo administrada pela namorada caso falasse a verdade e ainda entrando em contato com os reforgadores providos por ela. Sendo assim, a mentira, nesse caso, € uma resposta de contracontrole, pois garante que nosso amigo evite a punigdo, Um ratinho esperto. Para finalizar a discussio acerca do contracontrole, devermos saber que ndo se restringe a animais humanos. Um experimento de controle aversivo ilustra esse ponto de maneira muito interessante. Trata-se de um experimento simples em que um rato previamente modelado a obter comida com respostas de pressdo & barra passa a receber um choque pela grade metilica no chlo da caixa quando a pressiona, continuando a receber comida como conseqiiéncia dessa resposta (ou seja, punigdo sem extingo). O pélo do animal € um isolante elétrico e, mesmo sem ser um eletricista, nosso ratinho desenvolveu um método muito interessante de obter seus reforgadores, evitando © contato com o estimulo aversive. Fle simplesmente deitava de costas na grade do chao da caixa, colocava a cabega no comedouro e pressionava a barra cilindrica como rabo. Nosso malandrinho, portanto, com essa resposia de contracontrole, obtinha alimento e evitava 0 choque. Por que punimos tanto? ‘Ao observarmos todos esses eft esejaveis do controle aversivo, uma questo permanece: por que esse & 0 método mais utilizado para controlar o comportamento? A resposta a essa pergunta compreende trés pontos: 1, Imediaticidade da conseqiiéncia. Quem pune para suprimir um comportamento negativamente reforgado de forma quase imediata, Digamos que Homer esteja assistindo a um jogo de fitebo! americano na TV enquanto Lisa pratica seu saxofone. © som do instrumento o incomoda, isto é, representa um estimulo aversivo que reforgaré negativamente 0 comportamento de Homer com sua retirada. Homer prontamente pune o comportamento de Lisa gritando: “Lisa, pare de tocar esse maldito saxofone!”. Lisa para de tocar o insirumento de imediato, reforcando de modo negative o comportamento de Homer. 2. Eficdeia nfio dependente da privagdo, Para controlarmos positivamente um comportamento, temos de identificar quais eventos serdo reforgadores para o individuo. Além disso, mesmo os reforgadores primirios no so eficazes o tempo todo. Caso 0 organismo no esteja privado do reforgador em questio, esse no sera eficaz. Dai vem a outta vantagem do controle aversive para quem controla: uma palmada seré aversiva independentemente de privagio, Ou seja, uma palmada seré eficaz para punir ou para reforgar negativamente 0 comportamento de uma crianga em qualquer situagao. Supondo que queremos que uma crianga faga o dever de casa, Podemos reforcar positivamente seu comportamento com balas. Entretanto, se ela ndo tiver privada de balas, estas no serdo eficazes como estimulos reforgadores, ou seja, no aumentardo a probabilidade do comportamento de fazer o dever. Entretanto, se dermos uma palmada nela caso ndo faga © dever de casa (isto é, reforgamento negativo), ¢ provavel que ela faga o dever para evitar a palmada. Note que, para a palmada reforgar negativamente seu comportamento, no foi necessdrio privar a crianga de coisa alguma, 3. Facilidade no arranjo das contingéncias. Existem alternativas ao controle aversivo, como discutiremos a seguir. Sem diivida, essas alternativas sio muito mais aconselhdveis do que o controle aversivo. Eniretanto, elas dio muito mais trabalho de organizar do que as contingéncias de controle aversivo. No caso do exemplo do Homer e da Lisa, ele poderia, por exemplo, sentar, perto da filha para ouvi-la quando ela tocasse o saxofone em outro hordrio que no o do jogo. Elogid-la nessas ocasiGes ou sairem ambos para tomar um sorvete quando acabasse um ensaio: certamente, essas alternativas fariam com que a pequena Lisa parasse de tocar 0 instrumento na hora do jogo e evitariam os efeitos colaterais da punigdo, Entretanto, Homer teria muito mais trabalho para controlar o comportamento de Lisa: 1) ouvi-la tocar, o que ndo é muito reforgador para ele; 2) leva-la para tomar sorvete, organizando sua privagio de sorvete; 3) prestar atengo nos momentos em que estivesse tocando; 4) organizar a passagem de um esquema de reforgamento em CRF para esquemas intermitentes. Frente ao comportamento de dar um berro, nio hi divida de que 0 controle positivo do comportamento envolve respostas muito mais custosas, que demorardo mais para produzirem seus efeitos. Acconseqiiéncia final desse processo & a de que tendemos mais a punir ou a reforgar negativamente o comportamento do que controli-lo por reforgo positive, a despeito de todas as desvantagens do controle aversivo. Por outro lado, a divulgagdo ¢ a comprovagio empirica dos efeitos indesejaveis desse tipo de controle pode sensibilizar pais e educadores para que ambos utilizem meios mais positivos para controlar 0 comportamento. O controle existe; negé-lo somente aumenta a chance de sermos controlados. Em concordancia com Freud, a principal razio que leva ao softimento psicolégico é o histérico de controle aversivo do comportamento. Quais as alternativas ao controle aversivo? Ao desaconselharmos com tanta énfase 0 uso do controle aversivo, temos que sugerir algumas alternativas. Felizmente elas existem, tendo maior ou menor eficécia, mas, na verdade, apresentam menos efeitos colaterais. Reforgo positivo em lugar de reforgo negative Essa ogo € dbvia, Caso queiramos aumentar a probabilidade de emissio do comportamento, podemos fazé-lo por reforgamento positivo em vez de negativo. Um professor de boxe pode elogiar os golpes corretos de seus alunos em vez de criticar os incorretos. Uma namorada pode ser mais carinhosa com seu namorado quando ele consegue combinar 0 sapato com © cinto, em vez de ficar emburrada toda vez. que ele usa pochete na cintura, Exting&io em vez de punigao Uma alternativa muito comum é o uso da extingdo para diminuir a freqiiéncia do comportamento em lugar da punigo, Na verdade, este & 0 método menos aversivo, mas também gera respostas emocionais. Um experimento com pombos ilustra esse ponto muito bem. Um pombo previamente reforcado a bicar um disco para a obtengao de alimento é submetido ao procedimento de extingdo, Durante a sessdo de extingao, abrese uma porta na caixa de Skinner dando acesso a um novo compartimento com outro pombo dentro, O animal em extingdo bica 0 outro pombo até a morte. Caso coloquemos um novo, disco na caixa que sirva apenas para abrir a porta do outro compartimento, o animal bica esse disco para ter acesso ao outro pombo. Um exemplo comum é o da crianga que joga seu carrinho de bombeiros na parede quando este deixa de fimeionar, Uma outra desvantagem da extingio é que nem sempre podemos suprimir o reforgador que mantém o comportamento indesejado. A maconha nio deixaré de produzir seus efeitos, ¢ caso sejam eles que mantenham o comportamento de consumi-la, nio poderemos utilizar extingiio, {4 que ndo podems retirar o reforgador. Por fim, a extingdo apenas diminui a freqiiéncia do comportamento em vez de treinar novas respostas desejaveis do ponto de vista do controlador. A auséneia de reforgamento também pode agravar um quadro depressivo, por exemplo. Digamos que um terapeuta opte por extinguir respostas queixosas de sua cliente deprimida, Sendo assim, quando a cliente comegar a se queixar dos filhos, do marido, das amigas, etc., 0 terapeuta pode colocar em extingao tal relato, deixando de dar atengGo. De fato, a cliente pode parar de falar sobre isso; entretanto, no estar aprendendo novas formas de obter a atengo das pessoas. Uma outra conseqiiéncia é a de abandonar a terapia, uma vez que nio estd recebendo reforgadores. NS Figura 4.5 Caixa de condicionamento operante para pombos. Pombos sio muto utizados em pesquisas em Andie do Comportamento. Nos tris ddscos (em frente a0 pombo), cores e figuras séo projetadas. Bizar um disco espectco aciona 0 comedoure (dando miho ao pombo privado de comida). Reforsamento diferencis Mais uma vez iremos nos referir ao reforgamento diferencial, Sem divida, esse é um processo comportamental de fundamental importineia para explicagdo, predi¢do e controle do comportamento. Relembrando: 0 reforgamento diferencial envolve sempre reforgo ¢ extingao, Como alternativa & punigo, poderiamos extinguir a resposta indesejada e reforgar comportamentos alternativos. Nesse caso, 0s efeitos emocionais da extingo seriam atenuados, uma vez que o organismo continuaria a entrar em contato com os reforgadores contingentes a outros comportamentos. Além disso, produziria o aumento da probabilidade de emissio dos comportamentos desejéveis. No exemplo da cliente deprimida, descrito anteriormente, o terapeuta poderia reforgd-la com atengio quando falasse de outros assuntos que nio as queixas. Sendo assim, ela aprenderia a obter reforcadores de outras formas que ndo pelas queixas, além de suprimi-las com menos efeitos emocionais. Aumento da densidade de reforgos para outras alternativas Goldiamond foi um analista do comportamento que se preocupou em construir repertérios em vez de extirpar comportamentos de umrepertério comportamental. Conforme jé discutido, a extingdo também traz fortes respostas emocionais aversivas. Nesse sentido, Goldiamond desaconselha até o reforgamento diferencial, uma vez que & composto de extingo. A sugestio, portanto, €a de reforcar com mais freqiiéncia outros comportamentos do que os indesejéveis, mesmo que se mantenha 0 reforgamento para os indesejaveis também, No caso da cliente deprimida, seria dar atengdo a suas reclamagdes também, mas com freqiiéncia e magnitude bem menores do que a dada para seus demais relatos verbais. Essa alternativa também é dil para comportamentos que no podem ser extintos, como o do exemplo da maconha, ou mesmo o de Lisa. Uma vez que no podemos tirar os reforgadores dos efeitos da droga ou do préprio som do instrumento,podemos reforgar com muta freqiiéncia outros comportamentos, para que ocupem o espaco daquele comportamento cuja freqiiéncia queremos diminuida. Sem divida, essa ¢ a interveng&o mais lenta; por outro lado, é a menos aversiva para o organismo que se comporta, trazendo menos efeitos colaterais indesejados. Algumas conclusdes importantes Baseado em tudo 0 que fora discutido até aqui, algumas conclusdes podem ser tiradas, ¢ mais alguns pequenos pontos precisam ser discutidos. Em primeiro lugar, fica claro para a Andlise do Comportamento que 0 uso de controle aversivo para alterar a probabilidade de emissdo de um comportamento deve ser aplicado apenas em iltimo caso, o que nio significa que devemos parar de estudar esse tipo de controle, to freqiiente em nosso dia-a-dia. Além disso, 0 controle aversivo no é somente social. Caso coloquemos 0 dedo na tomada, o choque & uma punigo positiva que provavelmente diminuiré a probabilidade dese comportamento no futuro. Sendo assim, por mais que o evitemos, o controle aversivo & natural continuard existindo em nossa interago com a natureza, Por fim, no podemos confundir a recomendagdo de evitar o controle aversive com a nogo de que tudo & permitido, Muitos pais, nas décadas de 1970 ¢ 1990, confundiram o conselho de “no punir"com o de “deixe seu filho fazer tudo 0 que quiser” Sem diivida, a criago sem limites ¢ quase tio prejudicial quando a criagdo extremamente rigorosa. De fato, alguns comportamentos de nossos filhos precisam ter sua freqiiéncia reduzida; entretanto, se tivermos outras alternativas & punigo, estas devem sempre ser as escolhidas. Principais conceitos apresentados neste capitulo Conceito Descrigao, Exemplo ‘Controle do comportamento por contingéncias {de reforco negativo e punio (posttva e — negative). Controle aversive Reforco negative Estimulo aversive Comportamento de fuga Comportamento de esquiva Punic&o positiva ‘Conseqiiéncia do comportamento que aumenta ‘sua freqiiéncia peb retrada ou pela evacdo de Um estimub aversWvo. Estinub cuja retrada ou evitacéo aumenta @ freqiénca do comportamento, ou cuja aces reduz a freqUéncia do comportamento que 0 produzs ‘Comportamento mantido por reforgo negativo, Pela remocdo de um estimulo aversivo do ‘ambiente. ‘Comportamento mantido por reforco negatvo, pela evitacdo do contato com um estimule aversivo ‘Conseqiéncia do comportamento que reduz sua freqlénca peb adigo de um estimulo ‘Mentir geramente é um comportamento ‘mantido por reforco negativo. Evtamos Inimeros estimubs aversivos mentindo, ‘Se vocé mente, apanha, passando a ment ‘menos. Para voce, apanhar é um estimub aversivo. Vocé est em uma sessdo terapéutca, @ 0 psicébgo sé faz perguntas que elicam em voc® respostas de ansiedade extrema. Vocé se levanta e vai embora no me da sessdo, ‘Apés 0 evento descrto (fuga), vacé sempre Inventa uma desculpa pare ngo i terapi. Jodozinho chega em casa embriagado, toma ‘uma bela surra de seu pai por ter bebido & ‘aversivo a0 ambiente, para de beber CConseqdéncia do comportamento que reduz ‘sue freqléncia peb retirada de um estimulo _ 20802nho chega em casa embragado, perde a unico negativa Sede Cae Rates camoramentsc| gee “Mesada” do més porter bebo © pra de ambiente, beber aa ‘Comportamento que mpede 0 comportamento Jofoznho dorme na casa de amigos quando de um agente punidor. sai note e “toma uns drinks a mais” Bibliografia consultada e sugestdes de leitura Catania. A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognigdo. Porto Alegre: Artmed. Capitulo 6: As conseqiiéncias do responder: controle aversivo Millenson, J. R. (1975). Principios de andlise do comportamento. Brasil aversivas ‘Skinner, B.F. (1983). O mito da liberdade. So Paulo: Summus. Coordenada. Capitulo 17: Contingéncias

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