Comunicação verbal 1. Fale a mesma coisa três vezes
O cérebro humano simplesmente ama o número três.
Professores experientes sabem disso, tanto que costumam dar três exemplos a fim de garantir o aprendizado. Isso significa que um bom professor costuma escrever no quadro três frases exemplificativas; não duas, não quatro, mas três.
Se aplicarmos isso à oratória, geraremos não somente
apreensão do conteúdo transmitido mas também – e sobretudo – impacto.
Por exemplo, em vez de dizermos apenas que a situação
é clara, devemos procurar palavras do mesmo campo semântico (de sentido) do vocábulo “clara”, de modo a repetir a ideia três vezes. Veja:
A) A roubalheira está clara.
B) A roubalheira está clara, límpida, cristalina.
O impacto da frase B é indubitavelmente maior.
Obs. 1: se houver palavras com gradação, comece da
menos significativa para a mais significativa, como ocorreu na frase B (clara é menos significativa que límpida, que é menos significativa que cristalina). Obs. 2: essa mesma técnica pode ser aplicada a substantivos e a advérbios também.
2. Boa noite a todos, a todos e a todas ou a “todes”?
Se você for um consumidor dos meus conteúdos,
certamente você sabe que todos já se refere a todas, uma vez que, na língua portuguesa, o masculino já engloba o feminino. Todavia, à luz da retórica, da boa comunicação, esse uso vai depender – e muito – não só do objetivo de quem fala mas também de quem ouve.
Imaginemos que o orador tenha valores feministas ou
que ele vá falar para um público feminista. Imbuído da vontade de agradar a essa plateia, ele pode lançar mão de um todos e todas. Por que não? E o oposto é verdadeiro. Não dizer todos e todas, hoje em dia, já deixa a entender a ideologia do falante.
Sobre o “todes”, bem... Caso você ou a plateia tenham
valores progressistas, caso você queira acentuar uma ideologia mais alinhada com a comunidade LGBTQIA+, use e abuse. Mas saiba que, do ponto de vista gramatical, trata-se de um assassinato. 3. Clichês
Clichê é toda palavra, expressão ou ideia gasta. Como
sabemos, tudo que é usado em demasia perde o valor. O clichê, na realidade, é uma doença, uma praga, uma epidemia (viu? Acabei de fazer uso da técnica número um), pois ele retira o valor das palavras e, consequentemente, dos discursos.
É o caso, por exemplo, da palavra gratidão. Fala-se
gratidão por tudo! A consequência? Na hora em que precisamos usar a palavra gratidão mesmo, com o sentido de ser verdadeiramente grato, o nosso interlocutor nem acredita em nós.
A mesma coisa ocorreu com o vocábulo empoderada.
Da mulher que não depila as axilas, passando pela que abdicou da carreira para ser mãe de cinco filhos, àquela que é CEO de uma grande empresa, todas são empoderadas. Ou seja: se todas são, ninguém é.
Por último, mas não menos importante: a palavra
assertivo. Assertivo vem de asserto (esse asserto é com “ss” mesmo), que significa afirmação. Logo, se uma pessoa é assertiva, ela é afirmativa, não certa. Assertivo nada tem a ver com ter acertado. Esse caso, além de representar um clichê pelo uso excessivo, constitui um erro vocabular. 4. Estrangeirismos
Para esse caso, nada mais elucidativo do que este artigo
que escrevi:
Um novo target para você!
O mundo corporativo sometimes me espanta. Sério. Fico
worried. Não consigo entender a reason de tantas palavras estrangeiras quando we have sinônimos altamente utilizáveis em português. Não estou pedindo para ninguém falar “centro de compras” em vez de shopping center. No. Apenas questiono alguns exageros que tangenciam a cafonice.
Não perguntamos o que o outro acha, pedimos o seu
feedback. Dizemos que é necessário fazer uso do empowerment empresarial, quando temos a palavra empoderamento (nesse caso, aliás, acho até saudável utilizar o sinônimo em inglês, já que o vocábulo em questão foi totalmente desgastado nos últimos anos. Tudo é empoderamento. Já percebeu?). Mas, voltando ao que interessa: por que precisamos achar o core da organização se temos a palavra centro? Ora, o que menos estamos é linguisticamente centrados.
Outro dia, um amigo meu, em uma conversa ao celular,
disse: – Cíntia, tenho que deligar. Estou recebendo uma call e ainda tenho que realizar um follow up bem complicado.
Senti-me péssima. Parecia que a nossa ligação
telefônica havia atrapalhado algo muito importante do dia dele. Pensei comigo: eu nunca recebo uma call, tampouco realizo follow up. Ele deve ser muito importante mesmo. Um verdadeiro workaholic. Trabalha full time.
Se o seu chefe disser para você que lhe falta
background, a chance de você ficar chateado aumenta vertiginosamente. Mas background é mais considerável do que experiência, leitor? Não. Contudo, nós, jecas, fazemos uso exagerado daquilo que já representa, genuinamente, uma inevitabilidade, o estrangeirismo.
Bem, chega de brainstorming, que eu já estou ficando
boring com essa conversation toda. Como preciso dar startup nesta coluna, vou terminar o meu text por aqui. Não vamos começar a falar rato no lugar de mouse. Never! Mas, oh, God! Pense about as palavras que você usa na sua no seu dia a dia e stop de usar tantos termos em inglês. Que esse seja um novo target para você!