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MATTOSO, Kátia de Queirós. Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1982.

Deixar de ser escravo

p. 174-175 – a palavra “jeito” é usada pela autora como a “astúcia, arte, destreza” do
escravo ou ex-escravo para sobrevivência em uma sociedade desigual.

Capítulo VII – A carta de alforria (176-198)


p. 176-181 Definição jurídica e descrição – Um levantamento (não muito bom) da
legislação imperial acerca da escravidão. Alguns dados errados, outros confusos, outros
desorganizados. A autora parece não dar a ênfase adequada à intervenção estatal em
uma relação até então privada, e no efeito desagregador decorrente.
p. 180 – interessante – Desconhecia essa informação. Embora em 1865 se tenha passado
a considerar inadmissível a revogação da abolição por ingratidão, o Brasil só adotou um
código civil próprio em 1917, e até lá vigoraram as Ordenações Filipinas, que em seu
título 13, livro 4o, previa esta revogação de alforrias. Criava-se, assim, uma situação
ambígua. Via ordenações, permanecia tal prática oficialmente legal.

p. 181-186 – Quem compra sua liberdade? - sobre alforrias compradas. Nada muito
interessante. Há uma comparação entre Bahia e Parati, onde a proporção de alforrias
compradas era inferior, e das condicionais, superior. Questiona a gratuidade das
alforrias condicionais. Aponta ainda o predomínio de crioulos, mestiços, mulheres,
crianças.

p. 186 – 198 – Ser libertado imediatamente.


p. 186 – Ser liberto = categoria relacional com ser escravo
p. 187 – Discute a idéia da libertade como recompensa, como merecimento pelo bem
servir. Mesmo quando exigido um pagamento, a liberdade é tomada como recompensa.
p. 189 – Discute formas de acesso do escravo ao dinheiro que formará o pecúlio pelo
qual comprará sua liberdade. Observa que isso desfavorece os escravos do meio rural
em relação ao urbano. Observa que “ Para o cativo trata-se, portanto, de ganhar este
dinheiro, de obtê-lo por empréstimo, legado, doação, ou ainda, o que acaba dando no
mesmo, conseguir gratuitamente o direito à alforria, já que a gratuidade é uma forma
de doação”.
p. 190-192 – Variedade dos valores pelos quais se comprava a alforria. Estimativas de
quanto tempo se levaria para atingir tais valores (não dou muito crédito). Escravidão de
parentes, relações familiares, alforrias pagas por familiares (alguns exemplos, não
análise).
p. 198 - “Mesmo assim, as cartas de alforria são reflexo nítido da mentalidade dos
senhores que, numa sociedade escravista, não teriam qualquer necessidade de justificar
a liberdade concedida, mas adoram convencer-se que agem de acordo com o bom
direito e a estrita eqüidade”. -- Ambigüidade.

Capítulo VIII - A miragem da liberdade (p. 199-218)

p. 199 – variação regional (SP – Bahia) da situação dos libertos


p. 200-207 – Ser libertado é ser livre? (necessitou resumo mais detalhado)

p. 200-201 – diferença jurídica entre libertos crioulos (cidadãos brasileiros) e libertos


africanos (estrangeiros, necessidade de naturalização. isso não foi estudado, casos
raros).
p. 202 – Aspectos regionais (econômicos, demográficos, etc.). Idéia de integração do
liberto, que seria maior quando a sociedade se mostrasse capaz de esquecer sua origem.
Condições econômicas e demográficas poderiam facilitar ou dificultar tal esquecimento.
Libertados rurais “sua história permanece bastante misteriosa para nós”, em número
reduzido, teriam se mesclado a “uma população relativamente rala de pequenos
agricultores” em áreas agrícolas mais antigas (como Recôncavo).
p. 203 Embora a ascensão à condição de pequeno agricultor, de meeiro, fosse o acesso a
riquezas antes impossíveis, permanecia a dependência em relação ao antigo proprietário.
“Para livrar-se de seu antigo proprietário, para tornar-se efetivamente independente,
seria preciso partir para muito longe da fazenda e cortar todos os vínculos que o
prendem ao mundo de escravo”
[subjacente em todo texto de Mattoso está essa idéia, dos vínculos comunitários de
escravos e ex-escravos]
p. 203-204 – A terra prende o homem, etc. (aquele papo do Ciro). Exagera (pra caralho)
quando compara o liberto a um servo à disposição da corvéia. No sul, esse papel não foi
desempenhado apenas pelos libertos, mas tb pelos colonos. Segundo a autora, no sul o
liberto não teve condições de sobreviver a essa concorrência, sendo obrigado a vendê-la
e evadir-se para as cidades.
p. 205 – Em contrapartida, em Salvador o afluxo de imigrantes é pequeno, é pequeno o
número de brancos e a maioria destes são portugueses. Pode-se, pois, aspirar à conquista
de “um lugar ao sol” ainda que “ele continua a ser associado aos escravos, tendo
deixado de gozar, em geral, da ajuda eficiente de um senhor”. “os libertos de Salvador
somente competem com os escravos, mas estes contam com o apoio de seus senhores”.
p. 206 – A busca do “lugar ao sol” dos libertos (segundo ela, como indivíduos), porém,
implicava também na assimilação de valores do grupo dominante, e ainda a manutenção
de vínculos de obediência em relação aos antigos senhores e mesmo sua descendência.
A alforria não implica, pois, em liberdade imediata. Ela só se completa na segunda ou
terceira geração. Aponta semelhanças entre libertos e escravos (tipo de ofício e serviço
reservados aos estratos sociais inferiores, dependência dos senhores brancos.
A carta de alforria também destaca o liberto entre os demais no seio da comunidade
negra [não tanto; em um tempo de alforrias em massa / evidência de que não é apenas a
adaptação que está em jogo]; o preço para conquista de sua “precária emancipação”
“chama-se adaptação ao meio”.
p. 207 - “É certo que o escravo liberto tem geralmente plena consciência das armadilhas
que sua nova identidade lhe prepara. Sabe do risco de morrer livre mas pobre, de viver
livre mas indefeso, porém preferiu este tipo de liberdade à escravidão bem protegida,
pois não nos esqueçamos de que o liberto é quase sempre o escravo anteriormente mais
'protegido', caso contrário não teria alcançado a alforria. (...) De um modo ou de outro,
ele está preparado para a alforria, disposto a aceitar-lhe os riscos e perigos.
Neste final do século XX, essa liberdade nos parece inteiramente teórica, assim como a
emancipação outorgada em 1888, quando da abolição da escravatura, a milhares de
homens e mulheres, lançados de um dia para outro à alegria de uma liberdade
reconquistada e aos temores de uma amanhã sem pão e teto. Isto, porém, é outra
história.”

p. 207-213 – Ser libertado sob condição é ser escravo?

p. 207 – liberdade – é precária, mas é reconhecida; dá prestígio ao liberto e aos seus


filhos. Liberdades condicionais – tão dispendiosas, ou mais, aos escravos quanto
alforrias pagas, ainda que sejam tidas como gratuitas pelos senhores.
p. 208 – estatuto legal dos livres sob prestação de serviços – equivalentes aos menores
não-emancipados. Tem personalidade jurídica, é considerado livre, não pode ser punido
com castigos corporais. No entanto, sua liberdade é ainda mais frágil do que dos demais
libertos, já que condicionadas às restrições explicitadas na carta de alforria. (ex. morte.
quem morre antes?)
(...)
p. 211 – Mais um exemplo de alforria envolvendo uma família, i. e., uma pessoa
alforriando seus irmãos. Sob condição.
p. 211-212 – Analisa a questão da inter-dependência entre senhor e escravo. De forma
mais explícita ou mais velada, em muitos casos a alforria condicional se dava porque a
mão-de-obra daqueles escravos lhe seria absolutamente indispensável.
“Uma interdependência que assinala as relações entre dominador e dominado e
complica infinitamente a imagem desse mundo ruidoso de vida, no qual o “jeito” de um
se ajusta sempre mais ou menos ao “jeito” do outro, e todos querem sempre salvar as
aparências, cada qual calcula com esperteza como acomodar desejo e interesse, como
proteger-se mais e explorar melhor os seus trunfos.” [Negociação e conflito]
p. 212-213 – Faz algumas considerações sobre o estabelecimento do valor de um
salário, do qual o estravo tornava-se merecedor a partir do momento em que passava a
ser livre. Essa remuneração podia servir à compra da liberdade.

p. 213-218 – A mentalidade do libertando e a do liberto

p. 214 – crítica à “imagem ridícula do escravo passivo, indolente, e sem caráter,


descritos por pessoas apressadas demais em desagravar o sistema escravista: seus
argumentos são mal escolhidos. Na verdade o escravo reserva-se a liberdade de
contestar ou de recusar-se às exigências do senhor que lhe pareçam ofensivas à sua
dignidade (...)”
Reivindicações, organização, etc.
“Para o escravo, submissão e aceitação são táticas, fazem parte de toda uma dialética na
qual o cativo encontra sua própria resposta aos problemas de sua vida dupla, a dupla
estrutura em que se insere: resposta menos evidente, mais sutil do que possa parecer à
primeira vista, mas que desejaríamos ver compreendida ao tentarmos precisar a
mentalidade do libertando e a do libertado”.
p. 215 – A imagem do liberto como traidor, como aquele que se portou bem para obter
vantagens junto ao senhor; e da mesma forma se afastar da (pouco homogênea)
comunidade dos escravos.
“ O escravo candidato à alforria dá-se conta perfeitamente de que se tornará diferente:
diferente dos escravos, seus irmãos de ontem, diferente dos homens livres da sociedade
de adoção”.
Relação entre traços raciais e oportunidades existentes. No entanto, graças a seus
privilégios, coube aos forros “a tarefa de salvaguardar, adaptando-a, a herança da África
longínqua.”
p. 216 – Nesse sentido, o libertável serve à sua comunidade negra como intermediário
natural perante os senhores.
“(...) o comportamento do liberto dependerá da composição da sociedade que vai
acolhê-lo. Quanto mais fechada for às contribuições culturais do mundo branco, tanto
mais depressa o liberto integrar-se-á nela. Se a sociedade de adoção é aberta à influência
branca, as possibilidades de integração do forro diminuem”.
Faz uma comparação entre forros no “sul” e em Salvador, onde havia uma vasta camada
intermediária de antigos escravos mestiços e descendentes de negros. Neste ambiente
era mais fácil ao liberto buscar “limpar o sangue” [ou deixar para trás seu vínculo com o
cativeiro]
p. 217 fala sobre o “embranquecimento social” e econômico dos indivíduos. Os
testamentos de forros por ela analisados demonstram que apenas a partir da segunda
geração iniciava-se esse processo de embranquecimento.
“A longo prazo, o forro tem duas opções: ficar em Salvador e ver sua descendência
completamente assimilada, perder gradualmente o mundo negro de seus antepassados,
ou voltar para a África”. [mas antes se falou na adaptação da África ao novo meio]
p. 218 – Diferente é a situação do alforriado “num meio onde a imigração branca é
realmente importante”. (estabelece o que entende por sul. = ao sul de Minas e do Rio, i.
e., SP, PR, SC, RS) DIFERENÇAS:
 “A maldição da escravatura pesará sobre ele durante muito tempo”.
 Será repelido como um “ser inferior” pela sociedade branca [em Salvador
não? Recife?]
 “O processo de embranquecimento e aculturação é imperativo”.
 A sociedade branca defendia-se da miscigenação com o negro, considerado
inferior ao índio.
 Acabam por constituir uma categoria social diferenciada por sua cor e tarefas
econômicas.
A autora dá uma escorregadela feia, quando afirma que os escravos “só muito
tardiamente foram introduzidos em grande número nas regiões do sul do Brasil. Além
disso, chegaram ali ao mesmo tempo que os imigrantes brancos”. Maior furada.
“Os antigos escravos, e mesmo seus filhos, terminam por constituir uma categoria social
claramente diferenciada por sua cor e suas tarefas econômicas. Não encontram ali as
solidariedades necessárias a um verdadeiro progresso econômico e social. Se tal ocorre,
seu ritmo é extremamente lento. Ali o mulato é, para os brancos, igual a um negro,
enquanto os africanos não o vêem assim. Ele se torna hostil aos brancos e aos negros e a
ambivalência desta situação se prolonga por várias gerações, o que não parece ser o
caso dos alforriados na Bahia.[minhas evidências empíricas, observações participantes
e trabalho de campo sustentam minha discordância da afirmativa]”

Capítulo IX – O liberto, ponte nas relações sociais (p. 219- 240) O capítulo se propõe à
análise das relações sociais enter alforriados, livres e escravos, visando fazer uma !!!!
autópsia???? da sociedade brasileira escravista.

Relações sociais entre libertos e homens livres (p. 220-231)

Insiste na comparação entre Salvador e São Paulo, procurando demonstrar que a


primeira, por ser desde muito tempo atrás uma cidade mestiça, seria mais acolhedora
para a população liberta. São Paulo, por sua vez, teria predominância de brancos e
índios.
Em Salvador, a lenta ascensão social de mulatos, ainda que tenha ocorrido de forma
individual, marcou a sociedade como um todo por ter acontecido em grande número.
Disserta sobre a categoria “brancos da terra”, que designava aqueles que eram
considerados brancos por sua ascensão sócio-econômica, mas não por sua “pureza de
sangue”, critério que passa a ser “esquecido”. Observa ainda como essa “pureza”
costumava ser manipulada de acordo com as conveniências.
Com a independência, há uma mudança na situação. Separado de sua “mãe branca” (ou
tida como tal, já que a autora lembra que Portugal também é um país miscigenado [e
qual não é?]), reforça-se o desprezo pela escravidão e a ambição de construir um Brasil
europeu; uma nostalgia de uma (suposta) europeidade perdida.
p. 225-226 – O único instrumento de ascensão dos mulatos é o “embranquecimento”.
Observa que no século XIX baiano era comum mestiços “brancos da terra” se tornarem
médicos, advogados, professores. “Mas todos esses mulatos, admitidos nos mais altos
cargos do estado, adotam a conduta de brancos, pensam como brancos, servem ao
estado branco no aparelho governamental, nos conselhos, nas câmaras, nos corpos
diplomáticos” (será? acho esse raciocínio complicado).
p. 226-227 – A autora sugere que os alforriados crioulos (nacionais) tendiam a
mimetizar o comportamento dos mulatos em ascensão, dos “brancos da terra”, enquanto
os africanos tendiam a ser considerados perigosos, indignos de confiança, suscetíveis a
revoltas (que de fato ocorreram).
[acho meio esquemático]
p. 228 - “Contudo, grande número de libertos africanos, assim como escravos a cujo
grupo eles pertenciam até pouco antes, continuam a viver duas estruturas, dois mundos
somente incompatíveis a nossos olhos cegos”. Fala brevemente sobre irmandades, S.
Benedito e Santa Ifigênia, nagôs e fons do Daomé.
p. 229 – Fala dos que retornaram à África e lá se descobriram brasileiros (assim como
no Brasil se descobriram africanos). Tornaram-se católicos, protestantes, muçulmanos.
Rapidinho, superficial.
p. 230 – Parte agora para as relações em São Paulo, com base em Florestan Fernandes e
Roger Bastide.
 São Paulo é branca
 São Paulo não alforria seus escravos, pois são poucos.
 Pequeno comércio e transporte passam de índios para imigrantes, sem
participação de negros (ao contrário de BA, RJ e MG) “essa mão de obra
branca é numericamente majoritária e não recusa os empregos que alguns
portugueses vindos para a Bahia consideram indignos”.
 A “população de cor” era marginalizada, cabendo os serviços mais penosos e
de remuneração mais baixa.
 Em SP do séc. XIX a pigmentação da pele torna-se símbolo da condição
social do indivíduo (mais do que na BA).
 A sociedade branca “opõe milhares de óbices à integração e à assimilação
do negro”
“ A sociedade paulista chega até a exigir dos libertos, dos negros e das faixas de
população livre, tipos de comportamento iguais aos dos escravos: respeito e contenção
de linguagem, gestos circunspectos, discrição na expressão e na voz. A vocação de
humilde do escravo deve perpetuar-se em todas as atitudes dos negros e mestiços livres:
quem tem a pele escura deve ficar de pé sem balançar o corpo, não falar sem ordem,
obedecer sem replicar e manter o bom humor mesmo nos serviços mais ingratos,
somente dizer “senhor”, “senhora”, “dona” quando se dirigir ao branco e nunca ao
negro”.
p. 231 – Diante de tais exigências o liberto “rebela-se, torna-se instável em seu trabalho.
Confia apenas naquele que o libertou, que o conhece e respeita, que o protege contra a
agressividade do meio, em relação ao qual – hábito e reconhecimento – aceita ter
atitudes de respeito que nega ao conjunto dos brancos. Assim, pois, o liberto paulista
torna-se, em geral, um verdadeiro dependente. Gravita como satélite em torno do seu
ex-proprietário”.
Como são grupo minoritário numericamente, “dificilmente pode preservar a herança
africana [e o batuque? não se poderia pensar, por outro lado, que uma minoria numérica,
exatamente por este motivo, conservaria ciosa os traços culturais que a distinguia dos
demais?], grupo no qual mulatos e negros estão unidos pelo mesmo desdém da classe
dominante”.

Relações sociais entre libertos e escravos – p. 231-237

p. 231 – Crítica à historiografia, que sempre se preocupou com a relação dos libertos
com os brancos, mas não entre libertos e escravos (com exceção dos historiadores da
Bahia – não diz quais).
p. 232 – Revolta escravos Engenho Sant'Ana – antagonismo entre crioulos e africanos
[ok, mas crioulos e africanos não é a mesma coisa que libertos e escravos]
p. 233 – análise – bacana – de um processo crime envolvendo um escravo muçulmano e
um forro cristão. Para o primeiro, o islamismo era uma religião libertadora, um
“refúgio”, enquanto para o outro o cristianismo era uma via de acesso à sociedade na
qual se queria integrar.
Fala de antagonismos de africanos entre si.
p. 234 – Fala do alufá (líder religioso muçulmano) Pacífico Licutan, que era escravo.
Venerado por fiéis cativos e libertos, não foi alforriado. “São os menos integrados à
cultura dominante que, pelo transe, se comunicam mais facilmente com o além. Quanto
menos assimilado seja o africano, tanto menos deseja esquecer sua herança negra,
quanto é menos fascinado pela cultura dos senhores, e mais facilmente aumenta seu
peso particular no grupo dos negros. O sacerdote secreto de um terreiro de culto
africano é o primeiro entre os seus, mesmo sendo o último na casa do amo. As relações
sociais entre libertos e escravos estabelecem-se, pois, em função sobretudo da
identidade cultural entre eles”.
p. 235 – A maioria dos libertos são proprietários de escravos (entre 1800-1826). (53 em
100)
Destes 53, 25 libertam todos seus escravos ao morrer.
De crioulos, porém, é apenas 1 em 12. Para a autora, o que evidencia é que eles agiam
tal qual brancos.
Os que não libertam todo o plantel, mas alguns dentre eles, libertam os que tem a
mesma origem. (geges libertam geges, nagôs libertam nagôs)
Entre 1863 e 1890, 24 em 100 libertos eram possuidores de escravos [fim do tráfico,
ainda mais na Bahia...]. 11 libertam todos eles.
A autora defende atitudes mentais distintas de crioulos e africanos perante a escravidão.
Enquanto os primeiros naturalizariam a instituição, que conheciam desde o nascimento,
os segundos, nascidos livres, eram mais sensíveis aos males da escravidão. “O africano
liberto está mais próximo dos escravos, mais solidário com sua antiga comunidade”.
[ok, mas não se pode esquecer que a sociedade africana é escravista. Talvez nem todos
tivessem nascido livres (ainda que se tratasse de forma distinta de escravidão)]
p. 236 – Além disso, apoiando afilhados e “protegidos de toda espécie”, auxiliando na
formação de pecúlios e na educação, o “liberto africano é (...) ponte em torno da qual se
forjam novas relações sociais; ele sustenta firmemente o elo que liga o escravo ao
homem verdadeiramente livre”. “Outros (libertos africanos) são escolhidos padrinhos
de filhos de escravos, mas também escravos são escolhidos padrinhos de filhos de
libertos, o que confirma claramente não serem hierarquias sociais estabelecidas pelos
brancos, de modo algum, as mesmas da sociedade dos negros. Os méritos pessoais de
um amigo contam mais, para o negro, do que as seduções de apoios concedidos por um
branco. As relações de tipo patriarcal desenvolvem-se em todos os níveis: no interior da
comunidade negra como na sociedade branca, e também nas relações entre brancos e
negros”.
p. 236-237 – A autora expõe, ainda, a idéia de que libertos africanos foram guardiões da
tradição cultural africana (“ritos, segredos, mitos”). Ainda que mais susceptíveis à
atração desempenhada pela cultura branca européia, libertos crioulos e mulatos forros
[sic], mantinham-se como vínculo indispensável entre “o mundo dos livres e o dos ainda
escravos”. Mais ainda, os libertos exercem seja um papel de “catalisador” dos
antagonismos surgidos das relações escravistas, seja “forjando o equilíbrio desta
sociedade de dupla estrutura, a sociedade baiana de dominante negro”.
[Interessante. Ele é, talvez, o que torna possível essa sociedade, mas ao mesmo tempo
pode catalisar tensões. Enfim, é isso que acontece com os mediadores.]
“É evidente que o liberto, se não rejeita seu mundo africano, é menos bem recebido pela
sociedade dos brancos do que o crioulo ou o mulato. [por isso, o segredo... existem
“jeitos”] Esta análise, válida para Salvador, também é verdadeira para o resto do país
(...)”

África esquecida ou África nova? p. 237-240

p. 237-238 – Transcrição da lei da abolição.


Afirma que a lei aliviou a consciência daqueles que lutaram pelo fim da escravidão.
Todos comemoraram, “crioulo ou africano, negro de pele de ébano ou mulato de pele de
branco”.
p. 239 – Poucos foram, finalmente, os escravos que conseguiram comprar por si
mesmos a liberdade: nessa perspectiva, a “lei áurea” surgiu como arquétipo de
milhares de cartas de alforria até então outorgadas, essas cartas depreciadas, que
impunham tantas restrições, tantas condições à libertação, que mais pareciam atos de
chantagem à liberdade do que verdadeiros instrumentos de emancipação. A liberdade
total e incondicional, oferecida de graça a 13 de maio de 1888, parece querer inaugurar
uma nova era”.
A festa durou pouco. Breve caracterização do que foi (ou teria sido) a vida dos forros.
 “A liberdade só de continuar pobre, indigente mesmo, não é verdadeira”
 ex-escravos foram expulsos de fazenda (História oral, Itaparica)
 “Feitor já não há para alimentá-los, nem senhor para tratá-los e vesti-los”.
 Vida de errância e sofrimento, são obrigados a dispersar-se da ilha
 Muitos vão para Salvador.
“Lei áurea, sem dúvida, mas que abandona à sua sorte o liberto, desorganiza os circuitos
de trabalho em benefício dos homens livres [quais homens livres? tinha?] e anula os
ajustamentos sociais criados por três séculos de sistema escravista.
Transição – cativos dos campos para trabalhadores rurais assalariados
p. 240 – A autora observa que durante o século XX, a cor da pele, anteriormente
“esquecida”, passa a ser lembrada novamente, tornando-se uma fronteira nítida entre
ricos e pobres. “Apesar de todas as evidências, as velhas famílias tradicionais,
arruinadas ou não, sustentam sua sobranceria numa suposta ascendência
irrepreensivelmente branca. O racismo dissimulado é presente em toda parte, negado em
toda parte, no esforço por fazer esquecido o sangue africano”.

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