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Outras Expressões – Português – Ensino Secundário

Ficha 3 – Gramática (funções sintáticas)


1. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelos constituintes sublinhados no texto.

Os Maias: romance pedagógico?


Lembram-se da esmerada educação, à inglesa, que (a) Afonso proporcionou a Carlos: ar livre,
natureza, ginástica, observação direta (b) das coisas (c), ausência de preconceitos (d), tudo norteado
por um ideal de mens sana in corpore sano (e). […] Se soubermos ler Os Maias, Carlos não fraquejou
por causa da educação recebida, mas apesar da educação recebida. Quais, portanto, os motivos da sua
5 frustração? Dois, basicamente: o temperamento, portuguesmente mole e apaixonado (f); o meio
lisboeta, portuguesmente ocioso. O romance é uma pseudoexperiência de resultados pré-determinados
(g); um homem com o temperamento de Carlos e a sua educação, colocado no meio lisboeta, posto
perante as situações que ele teve de enfrentar (h), reage como Carlos reagiu. A análise dessa
experiência (i) é, concomitantemente (j), na ótica do romancista, a análise do caso português (k). Uma
10 lição de desengano.
Formado pelo curso de Medicina e pelo conhecimento da Europa, Carlos chega a Lisboa (l)
desejoso de estudar, de investigar, de publicar (m). Mas o “tédio moroso” do seu gabinete fá-lo bocejar;
do Rossio vêm “uma sussurração lenta de cidade preguiçosa” e um “ar aveludado de clima rico” que
envolvem Carlos “numa indolência e numa dormência” (n). Aliás, como o Ega, como Craft, não passa
15 dum requintado dilettante. Talvez seja sincero (o), talvez não tenha já ilusões quando diz à Gouvarinho,
sorrindo: “A água fria e a ginástica têm melhor reputação do que merecem…”. De qualquer modo, há
forças, leis inexoráveis, que nenhuma educação, por mais racional, consegue vencer (p). Neste sentido,
Eça tornou Os Maias um romance positivista, determinista (q). À medida que se desenrola a ação
vemos que, de longe a longe, Carlos ou Ega têm assomos breves de atividade (r): Carlos escreve uns
20 artigos, Ega volta à ideia do cenáculo, “representado por uma revista que (s) dirigisse a literatura,
educasse o gosto, elevasse a política, fizesse a civilização, remoçasse o carunchoso (t) Portugal…”.
Logo, porém, reconhecem que não nasceram para criar civilizações, mas para, deliciadamente, lhes
colher os frutos. […]
Os Maias encerram um pensamento, destinam-se a fazer pensar (u). Com ironia grave, alertam
25 para os perigos do amor-paixão (v), põem em dúvida a justeza dos “espíritos fortes” (pois não teve
razão Vilaça ao prevenir de que as paredes do Ramalhete eram fatais?), desafiam as leis da
verosimilhança, combinam positividade e transcendência (w). Mas o que domina como objeto de
reflexão é Portugal, personagem oculta por detrás das personagens visíveis (x). Um país
aparentemente sem remédio, um país que as élites não são capazes de salvar (y). Afloram, aqui ou ali,
30 as ideias feitas de Eça de Queirós sobre o feitio português (z). Mas o projeto global de escrever, de
explicar Portugal-problema é, no romance, o seu mais forte princípio de unidade (aa), desdobrando-se
nos temas centrais do Amor e do Ódio, abrangendo a história dos Maias, a tragédia de Carlos e a
comédia lisboeta (bb).

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COELHO, Jacinto do Prado, 1976. “Para a compreensão d’ Os Maias como um todo orgânico”.
In Ao contrário de Penélope. Lisboa, Bertrand (pp. 186-188)

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