Trata-se, em síntese, de uma investigação que, a partir da revisão de pesquisas
bibliográficas, visa apresentar um panorama amplo acerca do empreendedorismo, em especial, pelo cotejamento de conceitos centrais para essa temática, por exemplo, os tipos de empreendedores e suas particularidades em comparação com a figura do inventor, do gestor e do líder, diferentes teorias acerca do empreendedorismo e seus impactos para o desenvolvimento. Pela perspectiva etimológica, a palavra empreendedorismo teria sua origem entre os séculos XV e XVI e designaria uma relação, estado, qualidade ou habilidade relativa à amizade ou, de modo mais característico, à liderança. Contudo, o prisma econômico é o verdadeiro responsável por revelar a importância do empreendedorismo. O empreendedor é um indivíduo agrega valor aos produtos e serviços, gere recursos com base na eficiência e na eficácia e provoca mudanças a partir do aproveitamento de diversas oportunidades contextuais. Nas palavras dos autores: “empreendedor busca a mudança, e responde e explora a mudança como uma oportunidade” (BAGGIO; BAGGIO, 2014, p. 26). Enquanto campo de estudo, o empreendedorismo reflete um conjunto de práticas na geração de riqueza que articula o conhecimento de diversas áreas a serviço do desenvolvimento. No caso do Brasil, mesmo com tantas riquezas naturais e um grande potencial empreendedor, há ao menos 5 (cinco) obstáculos a serem superados: a autoconfiança, a falta de confiança entre os brasileiros, a falta de abordagens próprias com correspondência cultural, a disciplina, a necessidade de compartilhamento e a superação da burocracia. Esse fato é reforçado por uma pesquisa de 2005 que identificou o Brasil como o ocupante da 15ª posição do Ranking do Empreendedorismo por Oportunidades e a 4ª posição do Empreendedorismo por Necessidades. Neste sentido, o conceito de empreendedorismo expressa a ideia de aproveitamento global de oportunidades, capacidades e possibilidades, racionais e intuitivas, para a realização de projetos em meio a permanente busca pelo aprendizado e pelo autoconhecimento. Justamente, por isso, o comportamento empreendedor é aquele que “impulsiona o indivíduo e transforma contextos” (BAGGIO; BAGGIO, 2014, p. 27), em outros termos, é caracterizado pela inovação dos contextos. Pelo empreendedorismo, como ensina Schumpeter, “produtos ou métodos de produção existentes são destruídos e substituídos por novos” (BAGGIO; BAGGIO, 2014, p. 27). O empreendedor, por consequência, busca oportunidades, as identifica, assume o risco e inova para a transformação social e econômica. Para explicar a atividade empreendedora, as teorias econômicas enfatizaram o papel do empreendedor na economia, uma vez que ele aproveita as oportunidades para a realização de seus negócios e cria novas maneiras de empregar os recursos. A teoria comportamentalista, por outro lado, vai além e identifica o papel do empreendedorismo na motivação e comportamento humano, especialmente, pelo uso da criatividade e da intuição. Embora a estrutura institucional seja responsável por conformar a relação entre os diversos agentes (econômicos, sociais e políticos), o empreendedorismo interage dentro desta estrutura com a criação de empresas, gerando empregos e renda, influindo diretamente no fenômeno do desenvolvimento para além do aspecto econômico. Por este elemento dinâmico, o empreendedorismo pode ser entendido a partir de diferentes tipos. Os dois tipos iniciais são os empreendedores por necessidade e por oportunidades. No empreendedorismo por necessidades, os indivíduos criam negócios quando não tem outra alternativa; enquanto o empreendedorismo por oportunidades, os indivíduos descobrem uma via lucrativa. Os tipos de empreendedores também podem ser vistos pela ênfase do trabalho desenvolvido. Se as novas oportunidades de negócios são realizadas dentro de uma empresa já existente, serão empreendedores corporativos. Se o novo negócio considera um cenário que ainda não foi adequadamente atendido, será um empreendedor start-up. Entretanto, se o novo negócio surge do redimensionamento das relações de uma comunidade com a esfera governamental e o setor privado, tem-se um empreendedorismo social. O empreendedorismo social, entretanto, é uma atividade mais particularizada, uma vez que “não produz bens e serviços para vender, mas para solucionar problemas sociais, e não é direcionado para mercados, mas para segmentos populacionais em situações de risco social (exclusão social, pobreza, miséria, risco de vida)” (BAGGIO; BAGGIO, 2014, p. 30). Essa forma de atuação pode ser melhor compreendida pela Teoria da Mudança, pois o empreendedorismo social é marcado pelo mapeamento de requisitos e condições para a realização de uma transformação social, especialmente, de uma determinada comunidade. Tem-se, na atualidade, inclusive, novas formas de empreendedorismo em pleno desenvolvimento, como o ecoempreendedor e o empreendedor tecnológico. No que tange, especificamente, o empreendedor tecnológico, observa-se o recurso ao mundo acadêmico combinado com oportunidades de negócios da economia digital e do conhecimento. Conquanto as teorias identifiquem diversas características dos empreendedores, é relativamente reiterado o destaque em habilidades como o caráter visionário, proatividade, planejamento, com conhecimento especialmente em negócios, autoconfiança, aproveitamento de oportunidades, criativos e inovadores, líderes e formadores de equipes. Ainda que possam ser observados traços comuns entre empreendedores e empreendedoras, há diferenças significativas, por exemplo, os tipos de negócios, o histórico e as fontes de fundos. Os empreendedores combinam várias espécies de habilidades, sejam elas técnicas, administrativas ou pessoais, sempre tendo em vista “gestão de mudanças, liderança, inovação, controle pessoal, capacidade de correr riscos e visão de futuro” (BAGGIO; BAGGIO, 2014, p. 33). Além disso, vários fatores motivam os empreendedores. Dentre os fatores pessoais, está a insatisfação com o trabalho, a realização pessoal e a necessidades de mudança de vida. Pela perspectiva ambiental, está a possibilidade de desenvolver projetos e a identificação de oportunidades. Pelo prisma sociológico, está o agrupamento com semelhantes e a influência familiar. De todo modo, é possível afirmar que o empreendedor tem a ascensão social como principal motivação. Ainda assim, o empreendedor não pode confundido com outras figuras importantes da seara dos negócios. Enquanto o inventor é um indivíduo que cria algo pela primeira vez e está motivado ideações pessoais e pelo próprio trabalho, o empreendedor é aquele faz tudo pelo crescimento de seu empreendido, inovando circunstancialmente pela sua atividade. Enquanto os gerentes administram recursos de acordo com metas e se adaptam a mudanças, os empreendedores instituem objetivos, identificam fontes de custeio e iniciam o processo de mudança e transformação. Não obstante um empreendedor seja sempre um líder, o líder não será necessariamente um empreendedor, pois a liderança pressupõe um poder de influência, enquanto o empreendedor formula e redimensiona negócios. O processo de empreender envolve a combinação de diversos aspectos ao planejamento e à implementação, inclusive, técnicas para a geração de ideias e sua execução. O Plano de Negócios, especificamente, auxilia na análise da viabilidade financeiras do empreendimento proposto e das oportunidades a serem exploradas. Seria fases do processo de empreender: “a) identificar e avaliar a oportunidade; b) desenvolver o plano de negócios; c) determinar e captar os recursos necessários; d) gerenciar a organização criada” (BAGGIO; BAGGIO, 2014, p. 35). Inevitavelmente, este processo deve considerar obstáculos e fatores que dificultem sua concretização, inclusive, as causas que representam resistência à mudança. Como bem conclui os autores, o “empreendedor por ser visto como o indivíduo que detecta uma oportunidade e cria um negócio para capitalizar sobre ela, assumindo riscos calculados” BAGGIO; BAGGIO, 2014, p. 36). O artigo, de modo geral, atinge ao seu objetivo que é uma apresentação dos principais conceitos relacionados ao empreendedorismo, particularmente, a partir do confrontamento das definições, sejam suas aproximações, como também aspectos de distanciamento. Contudo, os autores, em tese, poderiam ter explorado outras pontualidades esclarecedoras. Por exemplo, no que tange à figura da liderança, poderia ter sido realizada a diferenciação da centrada no empregado e centrada na produção de forma a tornar mais claro o tipo de liderança que pode ser o empreendedor. Ao tratar dos processos de empreendedor, seria possível explorar questões relativas às estratégias de negociação, por exemplo, a lógica do ganha-ganha e do ganha-perde, além das relações da árvore da decisão para a formulação de planos de negócios. Ainda assim, é um ótimo texto introdutório, inclusive, para o estudo interdisciplinar em cursos de outras áreas, como da educação e da tecnologia, uma vez que as oportunidades para empreender não ficam centradas apenas na formação de alunos da área de gestão.