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FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

METODOLOGIA DA HISTÓRIA II
Priscila dos Santos Lopes
10326833
Noturno

Discussão para a aula:


A emergência da afirmação de uma brasilidade na Arte Moderna e a figura do
mestiço

SÃO PAULO
2017
A emergência da afirmação de uma brasilidade na Arte Moderna e a figura do
mestiço

Pensando a história da arte no Brasil no período de produções de arte moderna,


percebe-se o fenômeno da busca por símbolos nacionais capazes de representar através
da arte plástica elementos genuinamente brasileiros, visando romper com a cultura de se
criar arte estética e tematicamente europeia. Dentro dessa mentalidade artistas
encontram nas representações de mestiços e, principalmente, mulatos, uma maneira de
expressar um fenômeno brasileiro e, mais do que isso, um modo de se criar um símbolo
nacional capaz de compreender um aspecto específico da cultura e sociedade brasileiras.
A obra de Freyre, Casa Grande & Senzala, foi forte legitimadora da escolha do
elemento “mestiço” nas representações pictóricas como tradução da cultura e
diversidade brasileira, ao afirmar e reconhecer as contribuições culturais positivas do
negro, do índio e do branco na miscigenação.
Para compreender melhor estes termos, pode-se citar, por exemplo, Di Cavalcanti,
artista modernista carioca, responsável por ilustrar inúmeras mulheres mulatas em suas
obras. O autor afirma que a arte deve ser expressão da cultura, assim como a comida e
as vestimentas, e portanto, trazer à luz os aspectos culturais de uma sociedade. Desta
forma, o autor se apega a imagem da mulher mulata como símbolo autêntico brasileiro,
elevando-a a fenômeno cultural brasileiro. A ideia positiva por trás das representações
das mulatas em sua obra remete às noções de miscigenação abordadas por Freyre. O
mulato e o mestiço são conceituados como símbolos da diversidade cultural e humana
brasileira.
Outro artista capaz de representar pictoricamente os conceitos abordados por Freyre é
Candido Portinari. Este artista constitui melhor a ideia da triangulação das raças, em
termos de harmonia, e a relação existente entre o mulato e o mestiço e o trabalho. Este
tipo de pintura serviu para cristalizar a concepção de harmonia entre as raças e dar
visibilidade. A exaltação nacional da mulata de Cavalcanti se encontra numa dimensão
menos contextual no que diz respeito às funções sociais. Sua obra exalta as festividades
e a vida boêmia, não compreendendo a função social exercida pelo tipo apresentado nas
obras. Portinari, diferentemente, aborda a questão do mestiço dentro do contexto de
trabalho, o que leva à reflexão da relação entre miscigenação e uma maior
adaptabilidade ao trabalho e até mesmo os lugares ocupados por esses povos. Este
artista é capaz de transmitir toda uma nova concepção que se passava a ter acerca das
mesclas de raças e de dar visibilidade e transmitir como positivos os movimentos em
direção às diversas representações da mestiçagem. Duas de suas obras podem retratar
explicitamente as ideias apresentadas, sendo elas Mestiço (figura 1) e Índia e Mulata
(figura 2). Ambas as pinturas exploram duas relações importantes. Primeiro a relação
entre os tipos representados e o meio. O ambiente ilustrado nas duas pinturas se referem
ao trabalho e, portanto, uma posse de um homem branco. Sendo esta última a segunda
relação, do meio com o seu dono. Os personagens apresentados nas pinturas são o
centro e a temática das obras e, mais do que isso, estão em harmonia com a composição,
representando uma harmonia em relação às raças.
É importante entender como as correntes de pensamento influenciam o funcionamento e
a cultura de uma sociedade. Mesmo que nem sempre referido, as ideias propostas por
Freyre foram capazes de afirmar e legitimar todo um movimento e uma mobilização
artística que visava encontrar brasilidades e realidades brasileiras a fim de se criar uma
arte puramente brasileira. As representações de mestiços e mulatos formaram uma
resposta visual às questões latentes em relação a miscigenação, questões estas discutidas
por Freyre.  

Figura 1

Mestiço, 1934

Candido Portinari

Pintura a óleo/tela,
81x65,5 cm

Coleção Pinacoteca
do Estado de São
Paulo, São Paulo
Figura 2 – Índia e Mulata, 1934
Candido Portinari
Pintura a óleo/tela, 72x50 cm
Coleção Particular, Rio de Janeiro

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