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DO
Rafael Vaz Machry
Thizá Massaia Londero Gai
André Luiz Loeser Corazza
Igor Reis Pereira
Jéssica Nascimento Monte
Larissa Maria Faccin Blás
Leonardo Rodrigues
Murilo Daminelli Favaro
CRI
Organizadores
DE
ESTUDANTE
PARA ESTUDANTE
NO
LO
GIA
Este projeto recebeu apoio financeiro da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia - RS e da Universidade Federal de Santa Maria
(Fundo de Incentivo ao Ensino - FIEn 2021).
Rafael Vaz Machry
Thizá Massaia Londero Gai
André Luiz Loeser Corazza
Igor Reis Pereira
Jéssica Nascimento Monte
Larissa Maria Faccin Blás
Leonardo Rodrigues
Murilo Daminelli Favaro
Organizadores
22-118408 CDD-616.4
NLM-WK-110
Executado por
pubblicato@pubblicato.com.br
www.pubblicato.com.br
51 3013.1330
UNIDADE 2: TIREOIDE
Capítulo 4: Hipotireoidismo p. 72
Capítulo 5: Hipertireoidismo p. 91
Capítulo 6: Nódulos Tireoidianos p. 107
Capítulo 7: Câncer de Tireoide p. 121
Capítulo 8: Tireoidites p. 135
UNIDADE 3: HIPÓFISE
Capítulo 9: Hiperprolactinemia p. 149
Capítulo 10: Acromegalia e gigantismo p. 166
Capítulo 11: Síndrome de Cushing p. 180
Capítulo 12: Adenomas hipofisários não funcionantes p. 191
Capítulo 13: Hipopituitarismo p. 199
Capítulo 14: Diabetes insipidus p. 218
UNIDADE 4: ADRENAIS
Capítulo 15: Insuficiênciaadrenal p. 225
Capítulo 16: Hiperaldosteronismo p. 245
Capítulo 17: Feocromocitoma p. 255
Capítulo 18: Carcinoma adrenal p. 264
UNIDADE 5: GÔNADAS
Capítulo 19: Síndromedos ovários policísticos p. 272
Capítulo 20: Hipogonadismo feminino e climatério p. 288
Capítulo 21: Hipogonadismo masculino p. 303
UNIDADE 6: OSTEOMETABOLISMO
Capítulo 22: Hiperparatireoidismo p. 315
Capítulo 23: Hipoparatireoidismo p. 328
Capítulo 24: Vitamina D p. 335
Capítulo 25: Osteoporose p. 348
Capítulo 26: Raquitismo p. 363
UNIDADE 7: ENDOCRINOPEDIATRIA
Capítulo 27: Distúrbios de diferenciação sexual p. 376
Capítulo 28: Hiperplasia adrenal congênita p. 399
Capítulo 29: Baixa estatura p. 417
Capítulo 30: Puberdade precoce p. 431
Capítulo 31: Puberdade tardia p. 452
AUTORES p. 548
UNIDADE 1. DIABETES
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UNIDADE 1:
DIABETES
UNIDADE 1. DIABETES
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Capítulo 1
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
Agora que você já tem uma ideia melhor sobre como a doença apare-
ce no mundo, vamos entender o que ocorre no corpo dos pacientes com
DM. Essa parte será essencial para você entender as manifestações clí-
nicas, o tratamento e as complicações da doença.
Você já sabe como funciona a fisiologia normal do metabolismo dos
carboidratos e o funcionamento do pâncreas: o objetivo final é a utiliza-
ção da glicose como fonte energética pelo corpo (encéfalo, músculos, te-
cido adiposo, entre outros). Para que isso aconteça, uma complexa rede
neuro-hormonal está envolvida, sendo a insulina o principal regulador.
A insulina é produzida no pâncreas, nas células beta das ilhotas
pancreáticas, e é responsável por permitir a entrada da glicose nas cé-
lulas, por meio dos receptores de insulina (IRs, de insulin receptors).
Esses receptores são a chave para a abertura dos transportadores de
glicose (GLUTs, de glucose transporter) e permitem que a molécula de
glicose possa entrar nas células e participar do metabolismo energético
celular, resultando na produção de ATP. No entanto, a insulina não faz
só isso: ela também funciona como sinalizador hormonal para diversos
processos homeostáticos.
Quando estamos em jejum, os níveis de glicose plasmáticos são bai-
xos, e, portanto, também são os de insulina. Os baixos níveis de insu-
UNIDADE 1. DIABETES
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Potencial evento
desencadeante
Início da destruição
Alterações
autoimune das células
imunológicas Redução
com liberação progressiva Aumento
normal de da liberação gradual
insulina de insulina dos níveis
com níveis de glicose.
de glicose Início da
normais instalação de
manifestações
clínicas do
diabetes
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
Hemoglobina Glicose
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
Automonitorização da glicemia:
É de fundamental importância, pois através das medições da glicose
sanguínea, o médico, junto ao paciente, poderá ajustar as dosagens de
insulina e a quantidade de carboidratos na dieta. Aferições regulares de
glicose auxiliam na detecção de episódios de hiperglicemia e hipogli-
cemia, as quais podem passar despercebidas pelo paciente.
No início do tratamento, é essencial que esse monitoramento seja
feito, para os ajustes de dose de insulina. É interessante também que os
pacientes, sempre que possível, registrem as glicoses aferidas ao longo
do tempo para facilitar a análise do tratamento.
Esse automonitoramento pode ser feito de duas formas:
Ponta de dedo: é feito com uma lanceta, que irá furar o dedo do pacien-
te. O sangue coletado é lido por um glicosímetro, que informa o valor
da glicose plasmática naquele momento. Recomenda-se que a aferi-
ção seja realizada antes das refeições, para um possível ajuste da dose
de insulina, e ao se deitar, para detectar uma possível hipoglicemia.
Monitoramento contínuo: diferentemente da ponta de dedo, esse
método utiliza um sensor de glicose subcutâneo, que fica continua-
mente em contato com o fluido intersticial. Dessa forma, para fazer a
medição da glicose, não é necessário furar o dedo, bastando apenas
passar sobre o sensor um leitor que informará em sua tela o nível
de glicose, ou ainda outros sensores que medem a glicemia sem a
necessidade de escaneamento.
Insulinot erapia:
É a base farmacológica do tratamento do DM tipo 1. Diferentemente do
tratamento para o DM tipo 2, que muitas vezes associa o uso de insulinas
com os antidiabéticos orais (serão vistos no próximo capítulo), os pacien-
tes com DM tipo 1 franco não se beneficiam dessa associação, uma vez que
grande parte dos antidiabéticos orais não conseguirá estimular o pâncreas
a produzir mais insulina nesses casos, já que as células beta-pancreáticas
produtoras de insulina foram destruídas pela autoimunidade.
O pâncreas do paciente com DM tipo 1 não cumpre mais a sua função
de sintetizar e liberar insulina e, por isso, devemos suprir essa necessi-
dade através da aplicação de insulina exógena. O objetivo da insulino-
UNIDADE 1. DIABETES
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Formas de administração:
A administração da insulina pode ser feita de 3 formas diferentes:
através de agulha e seringa, caneta, ou bomba de infusão contínua. O
método de administração pode variar de acordo com cada paciente, sua
adaptação e suas necessidades. Para fazer a aplicação com agulha e se-
ringa ou com caneta, o paciente deve fazer uma prega subcutânea em re-
gião abdominal, interior das coxas, posterior dos braços ou região glútea.
Perfil de ação:
As insulinas diferem entre si de acordo com as suas propriedades
farmacocinéticas, podendo ser classificadas como insulinas de ação
rápida, ultrarrápida, intermediária, lenta e ultralenta, mais bem expli-
cado na tabela 2. Essas diferenças são de suma importância para que
possamos planejar o melhor esquema de tratamento para cada paciente
Esquemas de administração:
Existem diferentes esquemas de administração das insulinas. O
principal esquema utilizado atualmente para o DM tipo é o chamado de
esquema intensivo, pois é o que melhor mimetiza a secreção fisiológica
de insulina. Para isso, utilizamos uma combinação:
UNIDADE 1. DIABETES
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1) Insulina de ação longa, que tenha efeito por até 24 horas e garanta
uma dose basal de insulina por todo esse período, sem que haja pi-
cos de ação que causem hipoglicemia.
2) Insulina de ação ultrarrápida, que será aplicada em bolus antes das
refeições, para que se evite o aumento da glicemia pós prandial.
Dosagem de insulina:
A dose de insulina pode variar bastante de acordo com cada paciente
e com as condições relacionadas à idade, ao peso corporal, ao nível de
atividade física, e outros. Utiliza-se como base uma insulina total diária
entre 0,5 e 1,0 U/kg. Desse total, aproximadamente 50% são referentes à
insulina basal (de ação lenta) e os outros 50% são referentes à insulina
em bolus (de ação rápida ou ultrarrápida) que será administrada várias
vezes ao longo do dia.
A insulina basal tem a função de fornecer o controle glicêmico para
os momentos de jejum, e como o seu nome sugere, serve de base para o
paciente. Ela não tem efeito sobre o controle da glicemia pós refeições
ou pós prandiais. Já as insulinas de ação ultrarrápida ou rápida pos-
suem duas funções: corrigir o valor da glicemia antes das refeições e
de evitar um excesso de elevação glicêmica produzido pelo alimento
no período pós prandial. A quantidade de insulina em bolus a ser ad-
ministrada antes das refeições pode variar de acordo com condições
relacionadas à glicemia do paciente antes da refeição e à quantidade
de carboidratos disponíveis na alimentação. Quanto maior for a con-
centração de glicose pré-prandial e/ou a quantidade de carboidratos a
serem ingeridos, maior será a quantidade de insulina de ação ultrarrá-
pida necessária.
As doses inicialmente estipuladas para um paciente recém-diag-
nosticado estão sujeitas a alterações, que devem ser feitas após a aná-
lise do controle das glicemias. Por exemplo, diante de um caso de hi-
poglicemia pós-prandial, possivelmente a dose de insulina em bolus
administrada antes da refeição foi desproporcionalmente alta em rela-
ção à glicose pré-prandial e/ou à quantidade de carboidratos ingeridos.
Da mesma forma, o contrário é verdadeiro: se houver um episódio de
hiperglicemia pós-prandial, é provável que a dose de insulina ultrarrá-
pida administrada antes da refeição tenha sido insuficiente. A melhor
UNIDADE 1. DIABETES
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Efeitos adversos:
O principal e, possivelmente, mais grave efeito adverso do uso incor-
reto das insulinas é a hipoglicemia. Ela ocorre principalmente quando
a dose de insulina aplicada é maior do que a necessária, mas também
em situações como jejum prolongado, consumo de bebidas alcoólicas e
atividade física sem monitoramento, entre outras.
Além da hipoglicemia, outros efeitos adversos da insulinoterapia
incluem ganho de peso (lembre-se que a insulina é um hormônio ana-
bólico) e reações cutâneas à sua aplicação, que vão desde alergias até
a chamada lipodistrofia insulínica. Esta consiste em um acúmulo de
gordura na região em que se aplica a insulina repetidamente e, por isso,
os pacientes devem ser orientados a fazer o rodízio dos locais de aplica-
ção. Esse acúmulo lipídico se torna prejudicial para o tratamento, uma
vez que se torna imprevisível o quanto de insulina será efetivamente
absorvida pelo organismo quando aplicada novamente nessas regiões.
Orientação alimentar:
A dieta para cada paciente deve ser individualizada de acordo com
suas necessidades. Recomenda-se que a alimentação preze por alimentos
com baixo índice glicêmico, evitando ingerir principalmente os açúcares
refinados, que podem ser substituídos por alimentos diet. Os carboidratos
seguem sendo a base da dieta do paciente, e para isso, é importante que
seja feita a sua contagem. Ela é de grande auxílio no tratamento do DM
tipo 1, quando associada a outras medidas. Seu objetivo é aprimorar o
controle glicêmico, relacionando a quantidade de carboidratos ingeridos
UNIDADE 1. DIABETES
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Exercício físico:
A realização de atividades físicas pode ser um importante aliado no
tratamento do DM tipo 1, desde que seja bem orientada. Exercícios ae-
róbicos regulares podem promover controle do peso, prevenir doenças
cardiovasculares, melhorar a qualidade de vida, e no caso do DM, auxi-
liar no controle glicêmico através da maior captação de glicose pelos
músculos. Esta última tem como resultado a redução da glicose circu-
lante no sangue, independente de insulina.
UNIDADE 1. DIABETES
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9. Prognóstico:
SSe você leu até aqui, não desista, falta só mais um pouquinho para
você chegar sabendo tudo que precisa no próximo ambulatório de endo-
crinologia. Em relação ao prognóstico do diabetes, a primeira coisa que
você deve saber é a distinção entre as complicações agudas e crônicas.
O controle glicêmico intensivo mostrou uma diminuição na incidên-
cia de doenças macro e microvasculares nos pacientes com DM tipo 1.
Até mesmo poucos anos de controle glicêmico intensivo apresentam
efeitos na redução dessas complicações durante os 10 anos seguintes,
persistindo por até 30 anos, no caso específico das doenças macrovas-
culares. Como a hiperglicemia é o principal fator de risco para as mi-
croangiopatias, a redução da hemoglobina glicada que é proporcionada
pelo esquema intensivo, principalmente no início do tratamento, está
associada a reduções de até 70% na incidência dessas complicações,
além de fazer com que elas progridam mais lentamente.
Algumas das possíveis complicações decorrentes da hiperglicemia
merecem uma atenção ainda maior no acompanhamento de pacientes
com DM tipo 1, como retinopatia diabética, insuficiência renal, doenças
arterial e venosa periféricas e doenças coronarianas. Outros focos de
atenção devem ser as doenças cardiovasculares, uma vez que consti-
tuem a principal causa de morbidade e mortalidade prematuras para
esses pacientes - estudos sugerem uma expectativa de vida menor em
8 a 13 anos, em comparação a indivíduos hígidos.
As preocupações com o controle glicêmico buscam evitar tanto a
hiperglicemia, quanto os episódios de hipoglicemia, já que esse é um
UNIDADE 1. DIABETES
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Por fim, é fundamental que você lembre que pacientes com diabetes
tipo 1 também são mais propensos a desenvolverem outras doenças au-
toimunes, por vezes como parte de uma síndrome autoimune poliglan-
dular. Estudos observaram que a prevalência de doenças autoimunes
dentro de uma população com mais de 25000 portadores de DM tipo
1, e idade média de 23 anos, é equivalente a 27%. As condições mais
comumente associadas à tireoidite de Hashimoto e à doença de Graves
(duas patologias que você irá aprender nos capítulos seguintes), segui-
das da doença celíaca. Outras condições incluem doenças vasculares
do colágeno (como artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico),
gastrite autoimune, vitiligo e doença de Addison (insuficiência adrenal
primária). Por isso, as diretrizes de acompanhamento de pacientes com
diabetes incluem exames periódicos de rastreamento para essas doen-
ças, especialmente as doenças da tireoide e a doença celíaca.
O DM tipo 1 é o resultado de uma resposta autoimune que desencadeia a destruição de mais de 90% das
células β-pancreáticas produtoras de insulina, com consequente hiperglicemia crônica.
É a forma mais comum de diabetes na infância, mesmo com o crescimento do DM tipo 2 em pacientes
pediátricos.
Embora mais comumente surja na infância, o DM tipo 1 pode surgir em qualquer idade.
As características clássicas associadas ao quadro clínico são os “4Ps”: Poliúria, Polidipsia, Polifagia e
Perda de Peso.
A dosagem dos autoanticorpos contra as células beta-pancreáticas é um marcador que pode surgir
anos antes da expressão clínica da doença. Os principais são o Anti-GAD (presente em até 80% dos
pacientes), Anti-ilhota (ICA) e Anti-IA2.
Níveis de HbA1c < 6,5% são indicados como meta geral do tratamento, podendo esse valor ser menos
rigoroso de acordo com a condição do paciente.
A administração de insulina pode ser feita de três formas: por seringa, por caneta ou por bomba de
infusão contínua. Já o monitoramento da glicemia pode ser feito pelo método de glicemia de ponta de
dedo ou por monitoramento contínuo.
De acordo com o seu padrão de ação, as insulinas são classificadas em insulinas de ação rápida,
ultrarrápida, intermediária, lenta e ultralenta.
A base para o cálculo da dose diária de insulina total varia de 0,5 a 1,0 U/Kg. Desse total, aproximadamente
50% devem ser referentes à insulina basal e os outros 50% se referem à insulina em bolus, que será
administrada várias vezes ao dia.
O principal esquema utilizado atualmente para o tratamento do DM tipo 1 é chamado de intensivo e
mimetiza a secreção fisiológica de insulina. Ele combina insulina de ação longa e insulina ultrarrápida.
Além dele, existe o esquema convencional, em que são aplicadas insulinas de ação intermediária e de
ação ultrarrápida ou rápida.
UNIDADE 1. DIABETES
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CHIMEN, M. et al. What are the health benefits of physical activity in type 1
diabetes mellitus? A literature review. Diabetologia, v. 55, n. 3, p. 542–551, mar.
2012.
Capítulo 2
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
Metas terapêuticas:
O principal objetivo do tratamento do diabetes é o controle glicêmi-
co, de forma que haja redução das complicações crônicas micro e ma-
crovasculares da doença. Para isso, utilizam-se diferentes metas tera-
pêuticas, de acordo com o perfil de cada paciente.
De forma geral, para indivíduos adultos, tem-se como meta uma gli-
cemia de jejum ≤ 110 mg/dL (tolerável até 130 mg/dL), uma glicemia
UNIDADE 1. DIABETES
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pós-prandial ≤ 160 mg/dL (tolerável até 180 mg/dL) e uma HbA1c por
volta de 7,0%.
Em relação à hemoglobina glicada, as metas devem ser especial-
mente individualizadas. Alvos glicêmicos menos rígidos devem ser
considerados em pacientes com menor expectativa de vida, comorbi-
dades limitantes (especialmente neoplasia avançada, doença cardio-
vascular ou doença renal do diabetes avançada), risco de hipoglicemia
grave ou não percebida (disautonomia) e função cognitiva e/ou capa-
cidade funcional comprometidas. Por isso, no tratamento de idosos
com fragilidade, pode-se ter uma meta de hemoglobina glicada mais
elevada, geralmente até 8,5%, devido ao risco de potenciais episódios de
hipoglicemia que uma HbA1c mais baixa pode causar. Por outro lado,
adultos jovens e hígidos podem ter metas mais rigorosas, com HbA1c <
6,5% ou até inferior a 6,0%, para uma maior prevenção das complicações
crônicas.
Tratamento farmacológico:
Os medicamentos antidiabéticos disponíveis no Brasil se dividem
em oito classes farmacológicas, além da insulina, e podemos uni-las
dentro de alguns grupos, de acordo com o seu mecanismo de ação. As
biguanidas e as tiazolidinedionas são fármacos sensibilizadores de in-
sulina; as sulfonilureias e as glitazonas são secretagogos de insulina;
os inibidores da DPP-IV e os análogos do GLP-1 são incretinomiméticos.
Além delas, temos também os inibidores da alfa-glicosidase e os inibi-
dores do SGLT-2.
A seguir, vamos explicar como cada uma dessas classes de antidiabé-
ticos funciona, destacando as suas indicações, seus prós e seus contras.
UNIDADE 1. DIABETES
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Biguanidas
As biguanidas são uma classe de antidiabéticos orais representa-
das pela metformina e classificadas como sensibilizadores de insulina.
Entre os seus mecanismos de ação, cita-se o aumento da sensibilidade
insulínica no fígado, com consequente redução da produção hepática
de glicose (gliconeogênese), e aumento da sensibilidade periférica à in-
sulina, com elevação da captação muscular de glicose.
A metformina é o agente de primeira linha para o tratamento do
DM2 devido à série de vantagens que podem ser atribuídas ao seu uso:
redução da glicemia de jejum em cerca de 60 a 70 mg/dL e da HbA1c
em 1,5 a 2,0%; não causa hipoglicemia, nem ganho de peso (podendo até
determinar a redução de dois a três quilos durante os primeiros meses
de tratamento); tem baixo custo, bom perfil de segurança, extensa ex-
periência de uso e alta eficácia. Além disso, previne a progressão para o
DM2 nos casos de pré-diabetes, com redução de risco equivalente a 31%;
UNIDADE 1. DIABETES
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Tiazolidi nedionas
As tiazolidinedionas, também conhecidas como glitazonas, são
uma classe de antidiabéticos orais classificada como sensibilizadora
de insulina, e representada pela pioglitazona. Seu mecanismo de ação
consiste na redução da resistência insulínica nos tecidos periféricos,
especialmente no tecido musculoesquelético, e, em menor grau, nos
adipócitos e nos hepatócitos.
A redução da glicemia acontece após um período de seis a oito se-
manas e atinge seu máximo após cerca de três meses. Ela ocorre devido
ao estímulo à captação de glicose pelos músculos e pela diminuição dos
níveis de ácidos graxos livres em 20 a 30%, por meio da incitação à sua
deposição no tecido adiposo periférico.
Entre as suas vantagens, tem-se redução da glicemia de jejum em cer-
ca de 50 mg/dL (de 35 a 65 mg/dL) e da HbA1c entre 0,5 e 1,4%; raramente
causam hipoglicemia; levam à redução do espessamento médio-intimal
carotídeo e, consequentemente, à diminuição de eventos relacionados à
doença cardiovascular aterosclerótica; reduzem o risco de infarto agudo
do miocárdio, acidente vascular encefálico isquêmico e morte entre 16 e
24%; e melhoram o perfil lipídico por meio da redução dos níveis de trigli-
cerídeos e aumento dos níveis de colesterol HDL-C (em 5 a 10%).
Os efeitos adversos mais citados são ganho de peso, na ordem de dois
a três quilos; retenção hídrica e edema periférico, podendo desencadear
ou descompensar um quadro de insuficiência cardíaca congestiva em
pacientes propensos; perda óssea e aumento no risco de fraturas em 2,5
vezes - especialmente no quadril e nos punhos (fraturas osteoporóti-
cas) e em pacientes do sexo feminino que fazem uso de pioglitazona por
mais de 12 a 18 meses; e discreto aumento do risco de câncer de bexiga,
associado ao uso crônico, com duração superior a dois anos.
As contraindicações à classe consistem em insuficiência hepática,
gravidez e insuficiência cardíaca classes III ou IV de NYHA. Além disso,
recomenda-se evitar o seu uso em mulheres no climatério e em pacien-
tes com história de câncer de bexiga.
Os representantes comerciais da pioglitazona são Gliozac®, Piotaz®,
Pioglit®, Actos® e Stanglit®, e podem ser encontrados na posologia de
15, 30 ou 45 mg, 1x/dia, sem necessidade de associação às refeições.
UNIDADE 1. DIABETES
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Sulfonilureias
As sulfonilureias são uma classe de antidiabéticos orais represen-
tada no Brasil pela gliclazida, glimepirida e glibenclamida, fazendo
parte dos chamados secretagogos de insulina. Como o seu mecanis-
mo de ação consiste em aumentar a secreção de insulina pelas cé-
lulas beta-pancreáticas, elas são eficazes somente nos pacientes que
ainda apresentam secreção endógena residual do hormônio. Depois
de alguns anos, os pacientes em uso dessa classe podem passar por
uma elevação gradual da glicemia, em decorrência da degradação
progressiva das células beta. Esse fenômeno é denominado falência
secundária, e ocorre em cerca de 5 a 7% dos pacientes ao ano.
As vantagens atribuídas à classe são baixo custo, redução da gli-
cemia de jejum em cerca de 60 a 70 mg/dL e da HbA1c em 1,5 a 2,0%,
e redução do risco de complicações microvasculares. Em relação às
desvantagens, além do alto risco de falência secundária, cita-se hi-
poglicemia, ganho de peso (em torno de dois a quatro quilos ou 7% de
ganho sobre o peso inicial), perfil incerto de segurança cardiovascular,
e necessidade de ajuste ou de evitar o uso em caso de doença renal.
Quanto às contraindicações, inclui-se taxa de filtração glomerular
estimada (TFGe) < 30 mL/min/1,73 m², insuficiência hepática, DM com
deficiência grave de insulina, infecções graves e gestação.
Os representantes comerciais dessa classe são Diamicron MR®
e Azukon MR® (gliclazida), Amaryl®, Betes®, Bioglic®, Glimepil® e
Azulix® (glimepirida) e Daonil®, Gliben®, Diaben® e Glibendiab® (gli-
benclamida), e devem ser administrados antes das refeições.
A glibenclamida é disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), mas leva à aceleração na progressão da falência secundária das
células beta, o que faz com que os pacientes precisem de reposição
insulínica mais brevemente do que precisariam se fizessem o uso de
outras sulfonilureias.
A gliclazida também pode ser disponibilizada pelo SUS e é a sul-
fonilureia mais segura do ponto de vista cardiovascular. Ela causa
menos hipoglicemia e menor ganho de peso em relação às demais
representantes da classe, e não é contraindicada em pacientes com
insuficiência renal avançada.
Glinidas
As glinidas são uma classe de antidiabéticos orais classificada como
secretagogos de insulina, sendo representadas pela repaglinida e pela
nateglinida. Apesar de apresentarem o mesmo mecanismo de ação que
as sulfonilureias, ou seja, promoverem o aumento da secreção insulíni-
UNIDADE 1. DIABETES
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Inibidores da Alfa-Glicosidase
Os inibidores da alfa-glicosidase são uma classe de antidiabéticos
representada pela acarbose, cujo mecanismo de ação consiste na ini-
bição dessa enzima presente na borda em escova do trato gastrointes-
tinal, levando a uma lentificação na absorção de carboidratos.
Entre as suas vantagens, pode-se citar o fato de ela não causar hi-
poglicemia, não provocar ganho de peso (podendo inclusive levar a
sua redução), ter a capacidade de reduzir eventos cardiovasculares,
melhorar o perfil lipídico e diminuir significativamente, em até 20%,
a trigliceridemia pós-prandial, além da sua utilidade na prevenção da
progressão para o DM2 em indivíduos com pré-diabetes, com redução
de risco equivalente a 25%.
Apesar disso, a acarbose é uma das drogas menos potentes para re-
dução da glicemia - reduz a glicemia pós-prandial em 40 a 60 mg/dL,
diminui a glicemia de jejum discretamente (de 20 a 30 mg/dL) e leva à
redução de apenas 0,5 a 0,8% na Hb1Ac. Ademais, os efeitos adversos
são frequentes, especialmente os gastrointestinais, destacando-se fla-
tulência, meteorismo, diarreia, cólicas e distensão abdominal.
Entre as suas contraindicações, estão doença inflamatória intesti-
nal, doença intestinal associada à má absorção (síndromes disabsor-
tivas), obstrução intestinal, doenças hepáticas, doença renal crônica
grave, gravidez e lactação.
Os representantes comerciais da acarbose são Aglucose® e Gluco-
bay®. Eles devem ser iniciados em doses baixas, com posologia de
UNIDADE 1. DIABETES
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50 a 300 mg, e administrados duas a três vezes por dia, no início das
principais refeições.
Inibidores da DPP-IV
Os inibidores da DPP-IV, também conhecidos como gliptinas, são
fármacos incretinomiméticos, ou seja, que aumentam a secreção de
insulina e reduzem a secreção de glucagon em resposta às refeições,
apresentando efeito incretínico.
As incretinas são hormônios intestinais que potencializam a secre-
ção de insulina pelas células beta-pancreáticas em resposta às refei-
ções, e são representadas pelo GLP-1 (glucagon-like peptide 1) e pelo
GIP (glucose-dependent insulin-realizing peptide). A dipeptil peptida-
se-4 (DPP-IV) é a enzima naturalmente responsável pela degradação
do GLP-1 endógeno e, ao inibir a sua ação, essa classe farmacológica
aumenta os níveis de GLP-1 ativos em duas a três vezes, elevando, por-
tanto, a secreção insulínica pós-prandial.
As vantagens encontradas no uso dessa classe são redução da glice-
mia pós-prandial em 50 mg/dL, da glicemia de jejum em 20 mg/dL e da
HbA1c em 0,6 a 0,8%; são extremamente bem tolerados; não alteram o
peso; não causam hipoglicemia; e não costumam causar nenhum efeito
adverso grave.
Os efeitos adversos mais comuns são náuseas, cefaleia, infecção
urinária e faringite leves. Outros incluem angioedema e urticária (ra-
ros), probabilidade incerta de pancreatite aguda, artralgia e penfigoide
bolhoso, além do aumento do número de internações por insuficiência
cardíaca (nos casos da saxagliptina e, provavelmente, da alogliptina).
As contraindicações ao seu uso consistem em hepatopatias agudas
e sensibilidade aos componentes da fórmula. Devem ser evitados na
gravidez, na lactação e em pacientes com menos de 18 anos.
Os representantes comerciais da classe são Januvia® (sitagliptina),
Galvus® (vildagliptina), Trayenta® (linagliptina), Nesina® (alogliptina)
e Onglyza® (saxagliptina).
Análogos do GLP-1
Os análogos ou agonistas do GLP-1 são uma classe de antidiabéticos
que atua potencializando esse hormônio incretínico por meio da liga-
ção ao seu receptor endógeno. Com isso, provoca o aumento da secreção
de insulina dependente de glicose e inibição da secreção de glucagon,
além da lentificação do esvaziamento gástrico e aumento da saciedade,
com consequente diminuição do apetite.
Assim como os inibidores da DPP-IV, também são considerados
fármacos incretinomiméticos, mas apresentam efeitos mais inten-
UNIDADE 1. DIABETES
40
Inibidores do SGLT-2
Os inibidores do SGLT-2, também conhecidos como gliflozinas, são
a classe de antidiabéticos mais promissora e em maior destaque atu-
almente. Esses fármacos são bloqueadores seletivos do cotranspor-
tador de sódio-glicose tipo 2 (SGLT-2), o que causa o bloqueio da reab-
sorção de glicose nos túbulos renais proximais e, consequentemente,
UNIDADE 1. DIABETES
41
9. Prognóstico:
Octeto de DeFronzo:
Resistência periférica à insulina.
Secreção deficiente de insulina pelas células beta-pancreáticas.
Aumento na síntese hepática de glicose.
Fisiopatologia Aumento da lipólise.
Hiperglucagonemia.
Deficiência incretínica.
Aumento da reabsorção de glicose pelos túbulos renais.
Resistência insulínica no cérebro.
“4P’s”: poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso.
Quadro Clínico
Sintomas menos específicos: tonturas, dificuldade visual, astenia e cãibras.
Glicemia plasmática em jejum;
Glicemia plasmática ao acaso;
Exames Teste oral de tolerância à glicose (TOTG);
Complementares Hemoglobina glicada;
Frutosamina;
Glicosúria.
DIABETES MELLITUS:
PRÉ-DIABETES:
Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL
Glicemia de jejum = 100 - 125 mg/dL
Diagnóstico Glicemia 2 horas após TOTG ≥ 200 mg/dL
Glicemia 2 horas após TOTG = 140 - 199 mg/dL
HbA1c ≥ 6,5%
HbA1c = 5,7 - 6,5%
Glicemia casual ≥ 200 mg/dL + sintomas
Educação alimentar;
Modificações Perda de peso;
do estilo de vida Atividade física;
(MEVs) Controle da pressão arterial e da dislipidemia;
Cessação do tabagismo.
BIGUANIDAS Redução da gliconeogênese hepática e
Metformina aumento da sensibilidade periférica à insulina.
SULFONILUREIAS
Gliclazida
Glibenclamida
Tratamento
Glimepirida Aumento da secreção pancreática de insulina.
GLINIDAS
Nateglinida
Repaglinida
TIAZOLIDINEDIONAS
Aumento da sensibilidade periférica à insulina.
Pioglitazona
INIBIDORES DA
Lentificação da absorção intestinal de
ALFA-GLICOSIDASE
carboidratos.
Acarbose
UNIDADE 1. DIABETES
49
INIBIDORES DA DPP-IV
Alogliptina
Linagliptina
Saxagliptina
Estímulo à secreção de insulina dependente de
Sitagliptina
glicose e redução da secreção de glucagon.
Vildagliptina
ANÁLOGOS DO GLP-1
Dulaglutida
Liraglutida
Semaglutida
INIBIDORES DO SGLT-2
Tratamento
Canagliflozina Redução da absorção renal de glicose e aumento
Dapagliflozina da glicosúria.
Empagliflozina
Esquema basal: insulina de ação intermediária ou
prolongada,
1 ou 2 vezes ao dia.
INSULINOTERAPIA
Esquema basal-bolus: insulina de ação
intermediária ou prolongada, 1 ou 2 vezes ao dia,
e insulina de ação rápida ou ultrarrápida antes
das refeições.
Capítulo 3
1. Introdução:
Complicações Microvasculares:
Retinopatia Diabética
2. Epidemiologia:
em cerca de 40% dos pacientes com DM. Embora a perda da visão ocor-
ra em ambos os tipos de diabetes, ela apresenta etiologias diferentes.
No DM tipo 1, costuma ser causada por retinopatia proliferativa grave,
hemorragias vítreas e deslocamento da retina. Já nos pacientes com
DM tipo 2, o edema e a isquemia maculares são as principais causas.
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
Imagem 3: RD proliferativa.
Fonte: “Proliferative diabetic retinopathy” por Community Eye é licenciada por CC BY-NC 2.0. Cópia
da licença: https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/
6. Exames complementares:
7. Tratamento:
Prevenção:
De uma forma geral, o objetivo principal do manejo dos pacientes
com DM é a prevenção das complicações relacionadas, uma vez que,
após instaladas, muitas vezes o tratamento é pouco efetivo e o dano,
irreversível.
A prevenção é baseada em modificações do estilo de vida (alimen-
tação saudável, perda de peso e exercícios físicos), controle intensivo
da glicemia e da pressão arterial, manejo das condições associadas e
detecção precoce da presença da complicação. Como a prática de exer-
cícios físicos melhora o controle glicêmico, contribui para a perda de
UNIDADE 1. DIABETES
54
Terapia:
O tratamento da retinopatia diabética geralmente se inicia nos ca-
sos leves e moderados que apresentam associação com edema macular
(principal causa da perda de visão).
A terapia de escolha é a fotocoagulação focal a laser, a qual induz
a atrofia das zonas isquêmicas da retina e “queima” os vasos com per-
meabilidade alterada, reduzindo, assim, o estímulo para a formação de
novos vasos. Essa técnica é efetiva na redução da progressão da RD e
pode ser indicada tanto nos casos de retinopatia proliferativa quanto
não-proliferativa.
Outras opções terapêuticas são a injeção ocular de triancinolona
intravítrea (uma injeção de dexametasona para a redução do edema)
ou de agentes anti-angiogênicos, como o anti-VEFG, em associação à
fotocoagulação.
Nos casos de retinopatia diabética proliferativa em que há hemorra-
gia vítrea e não se consegue visualizar a retina, pode ser necessária a
realização de vitrectomia antes da utilização do laser.
8. Prognóstico:
Neuropatia Diabética
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
Neuropatia autonômica:
As alterações autonômicas podem ser triadas facilmente através da
aferição da pressão arterial com o paciente deitado, sentado e em pé, e
também por meio da contagem da frequência cardíaca. Para pacientes
com disautonomia cardiovascular e hipotensão postural sintomática,
podem ser realizados testes funcionais como o tilt table ou teste de in-
clinação ortostática, além da avaliação do intervalo RR no eletrocardio-
grama (ECG).
Pé diabético:
De acordo com os achados do exame físico é possível determinar a
presença de infecção e a sua gravidade. A úlcera do pé diabético é consi-
derada não infectada diante da ausência de sintomas locais ou sistêmi-
cos de infecção. Por outro lado, a infecção é determinada pelo achado de
ao menos dois dos seguintes sinais locais: edema ou área de enduração
local; eritema maior que 0,5 cm ao redor da úlcera; sensibilidade ou dor
local; aumento da temperatura; presença de secreção purulenta. Quando
presente, a gravidade da infecção pode ser classificada em:
6. Tratamento:
Neuropatia autonômica:
O manejo da hipotensão ortostática pode ser realizado por meio de
medidas não farmacológicas, como elevação da cabeceira da cama, in-
gestão adequada de sal, evitar hipovolemia (desidratação, uso de diuré-
ticos), usar meias elásticas compressivas e evitar mudanças posturais
bruscas. Pacientes com disautonomia cardiovascular devem ser bem
avaliados antes de iniciarem programas de atividades físicas, devido ao
risco de arritmias e isquemia silenciosa.
Para pacientes com queixas urinárias, pode-se recomendar a reali-
zação da manobra de Credé (compressão da bexiga) durante a micção, a
adoção de micções programadas ou o autocateterismo vesical intermi-
tente. Se a disfunção erétil estiver presente, fármacos inibidores da fos-
fodiesterase do tipo 5, como sildenafila, vardenafila ou tadalafila, podem
ser utilizados, além de drogas de uso intracavernoso ou intrauretral.
Quanto às disfunções gastrointestinais, o paciente deve ser orien-
tado em relação a boas medidas comportamentais, como o aumento
na frequência e redução da quantidade de alimento nas refeições, dar
preferência por alimentos de fácil digestão e evitar medicamentos que
retardam o esvaziamento gástrico. O tratamento da gastroparesia dia-
bética pode ser realizado com agentes pró-cinéticos, como metoclopra-
mida, domperidona ou bromoprida.
Úlceras do pé diabético:
O tratamento se baseia em repouso, realização de curativos para au-
xílio na cicatrização, e antibioticoterapia se houver infecção. Diante de
úlceras infectadas, deve-se solicitar cultura (da base da úlcera após de-
bridação, da aspiração da ferida, ou do conteúdo drenado pela ferida) e
iniciar antibioticoterapia.
As infecções leves ou superficiais costumam ser causadas por ger-
mes únicos, geralmente Gram positivos. Nesses casos, está indicada a
UNIDADE 1. DIABETES
62
7. Prognóstico:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Diagnóstico:
6. Tratamento:
Controle lipídico:
Em pacientes com DRD não dialítica e TFG < 60 ml/min/1,73 m² ou
pós-transplantados renais, é recomendado o uso de estatinas de alta
potência para a redução do risco de eventos cardiovasculares.
Complicações Macrovasculares:
2. Epidemiologia:
3. Anamnese:
4. Exame físico:
5. Tratamento:
Doença cerebrovascular:
Quando houver estenose carotídea superior a 70%, a endarterecto-
mia está indicada, pois reduz o risco de AVE. Pacientes com fibrilação
atrial associada devem ser anticoagulados.
9. Tabela de resumo:
COMPLICAÇÕES MICROVASCULARES
Manifestações Clínicas Investigação Tratamento
Exame oftalmológico
Fotocoagulação a
Redução da acuidade completo,
Retinopatia Diabética laser e/ou agentes
visual ou cegueira principalmente
antiangiogênicos
fundoscopia
Inicialmente Relação albumina/
assintomática. creatinina urinária, iECA ou BRA
Doença Renal do Edema, urina com cálculo da taxa de Diálise e/ou transplante
Diabetes espuma, ganho de peso, filtração glomerular e renal podem ser
sintomas de uremia, dosagem de albumina necessários
hipertensão arterial urinária
POLINEUROPATIA
SIMÉTRICA DISTAL:
Avaliação da Cuidado com os pés e
Dor em repouso, em
sensibilidade (teste do tratamento sintomático
caráter de queimação,
monofilamento) para a dor
piora noturna e melhora
com deambulação
HIPOTENSÃO
POSTURAL:
Medidas não
farmacológicas
NEUROPATIA BEXIGA NEUROGÊNICA:
AUTONÔMICA: Micção programa ou
Contagem da FC e
Hipotensão postural cateterismo vesical
aferição da PA com
Neuropatia Diabética Bexiga neurogênica DISFUNÇÃO ERÉTIL:
o paciente deitado,
Disfunção erétil Inibidores da
sentado e em pé
Gastroparesia diabética fosfodiesterase tipo 5
Enteropatia diabética DISAUTONOMIA
GASTROINTESTINAL:
Medidas
comportamentais e
agentes pró-cinéticos
Cuidados com
os pés. Uso de
Exame cuidadoso dos
ÚLCERA DO PÉ antibioticoterapia
pés diariamente e no
DIABÉTICO no caso de infecção.
consultório médico
Desbridamento cirúrgico
pode ser necessário.
UNIDADE 1. DIABETES
70
COMPLICAÇÕES MACROVASCULARES
Modificação do estilo
de vida
iECA ou BRA, estatina,
Dor torácica típica ou
Doença Arterial AAS e betabloqueadores
atípica, equivalentes
Coronariana (se IAM prévio)
anginosos
Pode ser necessária
revascularização
miocárdica
Modificação do estilo
Claudicação de vida.
Doença Vascular intermitente, dor nos Estratificação do risco Exercícios físicos
Periférica membros inferiores em cardiovascular supervisionados.
repouso Revascularização se
sintomas críticos
Modificação do estilo
de vida.
Endarterectomia se
estenose carotídea >
Doença Cerebrovascular AVE
70%
Anticoagulação se
associação com
fibrilação atrial
UNIDADE 2:
TIREOIDE
UNIDADE 2. TIREOIDE
72
Capítulo 4
Hipotireoidismo
Gabrielle Simon Tronco
Larissa Maria Faccin Blás
Graziella Rissetti
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
e médio comprimem a face interna muscular a exploram o lobo pelo uso dos
dedos desde a cartilagem tireóide até o 6o anel traqueal. O mesmo é repetido
para o outro lobo. Para facilitar a identificação glandular, solicitamos ao pa-
ciente que degluta.
No que diz respeito à ausculta, essa deve ser realizada em todos os pa-
cientes com suspeita de tireotoxicose em função do aumento da vasculari-
zação glandular que pode originar sopros muitas vezes acompanhados de
frêmitos.
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
seguir com o raciocínio para verificar onde está o problema. Nesse mo-
mento, você pode estar se questionando a razão pela qual não pedimos o
T4 total. Isso pode ser explicado porque quando se é pedido o hormônio
“total” podemos ter variações que não representam a realidade, uma vez
que parte dos hormônios tireoidianos está ligado a proteínas as quais,
caso diminuídas, podem falsear o valor encontrado. Assim, ao requisi-
tarmos apenas a porção livre, estaremos certos que essa não será afetada
pelo aumento ou diminuição de proteínas. Da mesma forma, diante de
uma suspeita de hipotireoidismo, a dosagem de T3 acaba não sendo de
grande valor, uma vez que, como vimos inicialmente, o T4 se converte
perifericamente em T3. Com isso, a redução de seus níveis séricos sem-
pre sucede a redução de T4, sendo uma informação, por vezes, “atrasada”
e sem muito valor clínico, diferentemente do que acontece nos quadros
de hipertireoidismo, que podemos ter tireotoxicose por T3.
Após pedirmos o T4L e verificarmos que está baixo, precisamos, en-
tão, encontrar a fonte do problema. Para fazermos isso, devemos olhar
para o TSH, que irá nos indicar se o problema é na glândula ou no SNC.
Por isso, geralmente esses dois exames são requisitados juntos, uma vez
que, apenas olhando para o T4L ou só para o TSH, teríamos a informação
incompleta. Na vigência do aumento de TSH, entende-se que o feedba-
ck negativo dos hormônios tireoidianos não está acontecendo e, então,
a hipófise está liberando quantidades maiores de TSH na tentativa de
normalizar os níveis hormonais. Assim, ao encontrarmos um T4L baixo
juntamente a um TSH aumentado, estamos diante de um hipotireoidis-
mo primário, cuja principal causa é a tireoidite de Hashimoto.
Por outro lado, ao encontrarmos um T4L baixo juntamente a um
TSH diminuído, estamos diante de um hipotireoidismo central. Nesse
caso temos a evidência de que a hipófise não está mandando o sinal
que deveria para estimular a tireoide, mesmo com a ausência do fee-
dback negativo desempenhado pelos hormônios tireoidianos. Por fim,
ao encontrarmos um T4L normal na presença de um TSH aumentado,
estamos diante do chamado hipotireoidismo subclínico.
Para efetivar o diagnóstico de tireoidite de Hashimoto podemos,
ainda, requisitar os autoanticorpos presentes nessa doença, como o
anti-TPO, anti-Tg e anti-TRAb bloqueador. Contudo, diante da pre-
valência dessa patologia em nosso meio, ao encontrarmos um HP, a
suspeição quanto a Hashimoto, mesmo antes de pedir tais anticorpos,
é alta. Ao encontrarmos laboratoriais sugestivos de HC, devemos re-
quisitar um exame de imagem, preferencialmente uma ressonância
magnética que nos possibilite enxergar a sela túrcica para verificar
possíveis alterações que justificariam o quadro.
UNIDADE 2. TIREOIDE
87
TSH, T4L
RNM DE SELA
TÚRCICA
Normal Tumor ou
Infiltração
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
HIPOTIREOIDISMO:
Corresponde a baixas concentrações de hormônios tireoidianos que causam uma síndrome clínica
caracterizada por diminuição do metabolismo geral.
Hollowell JG, Staehling NW, Flanders WD, et al. Serum TSH, T(4), and thyroid
antibodies in the United States population (1988 to 1994): National Health and
Nutrition Examination Survey (NHANES III). J Clin Endocrinol Metab 2002;
87:489.
Jonklaas J, Bianco AC, Bauer AJ, et al. Guidelines for the treatment of
hypothyroidism: prepared by the american thyroid association task force on
thyroid hormone replacement. Thyroid 2014; 24:1670.
UNIDADE 2. TIREOIDE
91
Capítulo 5
Hipertireoidismo
Gabrielle Simon Tronco
Larissa Maria Faccin Blás
Thizá Massaia Londero Gai
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame Físico:
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
SUSPEITA DE TIREOTOXICOSE
TSH, T4L
Alto Baixo
Mensurar TRAb
Doença de Cintilografia,
Graves RAIU ou ambas
8. Tratamento:
caz de tratamento, dado que resolve 80% das situações com apenas uma
dose, havendo remissão em 6 meses. A partir desse momento é que jul-
gamos a necessidade ou não de uma segunda dose. A dose estipulada
está relacionada com a gravidade, o tamanho do bócio e a captação em
24 horas, variando de 5 a 15 mCi. A complicação mais frequente é o de-
senvolvimento de hipotireoidismo (sendo necessário acompanhar T4L
e TSH indeterminadamente) e pode haver tireoidite pós-radiação, com
a liberação de quantias excessivas de hormônio na circulação; diante
disso, em idosos, cardiopatas ou pacientes muito sintomáticos é reco-
mendado o controle por um mês com drogas antitireoidianas antes da
aplicação do radiofármaco, seguida pela suspensão ao menos dois dias
antes (em geral, de 3 a 7 dias), servindo como forma de maximizar a
captação de iodo pela tireoide.
A oftalmopatia pode ser exacerbada com a terapia com radioiodo,
especialmente em tabagistas, havendo recomendações de, ou poster-
gar o tratamento até a resolução da oftalmopatia, ou o uso de pred-
nisona 0,4 a 0,5 mg/kg, 2 a 3 dias antes e mantendo por um mês. Por
se tratar de radiação, há contraindicação absoluta em mulheres ges-
tantes ou em aleitamento materno, bem como em bócios volumosos,
como retroesternais, pelo risco de tireoidite. Após uma semana da
aplicação do iodo-131, os antitireoidianos e betabloqueadores são rei-
niciados, sendo mantidos por alguns meses e, além disso, há o acom-
panhamento da função tireoidiana de 4 a 6 meses após, com ajuste
medicamentoso.
No que diz respeito à tireoidectomia, os procedimentos subtotal ou
quase total são os mais empregados. As indicações para esta terapêu-
tica são mais restritas: falta de controle/contraindicação com o uso de
tionamidas ou intolerância/recusa do uso de Iodo-131; bócio volumoso
com deformidade estética ou compressão traqueal; suspeita de neopla-
sia tireoidiana e gestantes com hipertireoidismo grave não controlado
por tionamidas. Ainda, podemos ter como indicação tabagistas com of-
talmopatia moderada a grave e desejo de rápido controle da doença ou
baixa adesão aos medicamentos. O preparo pré-cirúrgico é necessário
através do uso de PTU ou MMZ por 6 semanas; o iodeto deve ser inicia-
do de 7 a 10 dias antes para diminuir a vascularização glandular. Quan-
do há casos de cirurgia de urgência, é recomendado o uso, por 5 dias
antes, de dexametasona (0,5 mg 6/6h), propranolol (40 mg 8/8h) e ácido
iopanoico, um inibidor da desiodase tipo 1 – Telepaque® – 500 mg 6/6h.
Como complicações, podemos ter principalmente hipoparatireoidismo
transitório ou permanente (em função de lesão às paratireoides), hiper-
tireoidismo recorrente e paralisia de cordas vocais.
UNIDADE 2. TIREOIDE
105
9. Prognóstico:
TIREOTOXICOSE HIPERTIREOIDISMO
Síndrome clínica caracterizada pelo aumento dos Aumento dos hormônios tireoidianos derivados
hormônios tireoidianos independentemente da diretamente da glândula tireoide
origem.
De Leo, Simone, et al. “Hyperthyroidism.” The Lancet, vol. 388, no. 10047, Aug.
2016, pp. 906–918, Franklyn JA, Boelaert K. et al. Thyrotoxicosis Lancet. 2012
Mar 24; 379(9821):1155-66. Epub 2012 Mar 5
Ross DS, Burch HB, Cooper DS, et al. 2016 American Thyroid Association
Guidelines for Diagnosis and Management of Hyperthyroidism and Other
Causes of Thyrotoxicosis. Thyroid 2016; 26:1343.
Capítulo 6
Nódulos Tireoidianos
Larissa Maria Faccin Blás
Leonardo Rodrigues
Thizá Massaia Londero Gai
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
deste foi a região brasileira com mediana mais elevada de excreção uri-
nária de iodo (298,80 µg/L), com o Rio Grande do Norte sendo o estado
com maior mediana (361,00 µg/L).
Agora você já sabe que o sal de cozinha é iodado por ser uma estratégia
de saúde. Mas quando falamos em sal, a primeira coisa que muitas pessoas
pensam é no seu malefício ao corpo, haja vista que o seu consumo inapro-
priado está associado à temida “pressão alta”. E nesse contexto, alternativas
à ingestão do sal convencional surgem. Um sal que muito ganhou destaque
em dado momento foi o Sal Rosa do Himalaia. Muito se comentou que este sal
possuiria vantagens e benefícios à saúde quando comparado ao sal tradicio-
nal a que estamos habituados. Quanto a isso, vale comentar que estudos que
objetivaram fazer uma comparação físico-química desse sal com o sal comum
observaram que o sal do Himalaia mostrou teores de sódio semelhantes ao sal
de cozinha (ligeiramente maiores, inclusive) e maior predomínio de minerais
como ferro e magnésio. Contudo, já que estamos falando da tireoide, foi de-
monstrado que o sal rosa do Himalaia não possui teores de iodo.
3. Fisiopatologia:
BENIGNAS MALIGNAS
Fatores de Risco:
DADOS
HISTÓRIA SINTOMAS SINAIS
SOCIODEMOGRÁFICOS
Passado de irradiação Nódulo fico, duro, indolor, com
Sexo Masculino Disfonia
de cabeça e pescoço margens irregulares
História familiar de
Idade < 20 anos Disfagia Linfadenopatia cervical ipsilateral
câncer de tireóide
Nódulo de crescimento
Idade > 70 anos Dispneia Metástases à distância
rápido
Avaliação Diagnóstica:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
Com base na pontuação TI-RADS, dada pela soma dos pontos dos
4 primeiros parâmetros com os pontos de todos os achados presentes
do 5º parâmetro, surgem 5 categorias TI-RADS - TR1 a TR5 -, as quais
representam risco crescente de malignidade:
7. Tratamento:
História Clínica
Exame Físico
Possui critérios
Nódulo Nódulo Normo Nódulo sólido isoecóico ou hiperecóico sem Fazer PAAF
(ultrassonográficos,
Hipercaptante ou Hipocaptante características ultrassonográficas suspeitas quando ≥ 1,5cm
(clínicos) para PAAF?
SIM NÃO
Acompanhamento
PAAF
clínico
Sistema Bethesda de
classificação
Hipercaptante
Bethesda IV - Neoplasia folicular Risco de malignidade: Cintilografia
(ou suspeita de neoplasia folicular) 25 a 40%
Hipocaptante
Cirurgia
8. Tabela de resumo:
9. Leitura recomendada:
RUSS, Gilles et al. European Thyroid Association guidelines for ultrasound
malignancy risk stratification of thyroid nodules in adults: the EU-TIRADS.
European thyroid journal, v. 6, n. 5, p. 225-237, 2017.
Capítulo 7
Câncer de Tireoide
Eduarda Ruch
Leonardo Rodrigues
Iuri Martin Goemann
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
TI - RAD
COMPOSIÇÃO ECOGENICIDADE FORMA MARGENS FOCOS ECOGÊNICOS
Cístico ou quase 0 pontos Anecoico 0 pontos Mais largo 0 pontos Lisas 0 pontos Nenhum ou 0 pontos
completamente que alto grandes artefatos
Cístico Hiperecoico ou 1 ponto Mal definidas 0 pontos em cauda
isoecoico Mais alto 3 pontos
Espongiforme 0 pontos que largo Lobulado 2 pontos Macrocalcificações 1 ponto
Hipoecoico 2 pontos ou irregular
Misto 1 ponto Calcificações 2 pontos
(Sólido Cístico) Muito 3 pontos Extensão 3 pontos periféricas
Hipoecoico Extratireoidiana
Sólido ou quase 2 pontos Focos ecogênicos 3 pontos
completamente puntiformes
Sólido
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
LEE, K. et al. Thyroid Cancer [Updated 2021 Jul 19]. StatPearls, 2021. PMID:
29083690
TESSLER, F. N. et al. ACR Thyroid Imaging, Reporting and Data System (TI-
RADS): White Paper of the ACR TI-RADS Committee. Health Services Research
and Policy vol. 14, 2017.
Capítulo 8
Tireoidites
Verônica Hamann Aita
André Luis Loeser Corazza
Thizá Massaia Londero Gai
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
Na prática, essas fases não são bem divididas, porém é notável que nas
tireoidites subagudas a fase hipotireoidea é bem limitada, pois logo que a
inflamação da tireoide regride, temos a volta do quadro eutireoideo.
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Diagnóstico:
7. Exames complementares:
(ver capítulo 5) ou uma massa palpável (ver capítulo 6). Dessa forma,
conforme os sinais e sintomas do paciente iremos pensar em um ou
outro tipo de tireoidite, e a partir disso podemos lançar mão de exames
complementares que possam confirmar nossa hipótese diagnóstica
principal.
Exames Laboratoriais
Hemograma: pode ocorrer uma diminuição da hemoglobina e hema-
tócrito e linfocitose. Nos casos de tireoidite supurativa, geralmente
haverá leucocitose com desvio à esquerda.
Função tireoidiana (TSH, T3, T4): na fase aguda, a maioria dos pa-
cientes apresenta evidências bioquímicas de tireotoxicose, ou seja,
altas concentrações séricas de T3 total e T4 livre e baixas de TSH.
Esse quadro pode persistir de 2 a 8 semanas e pode ser seguido por
hipotireoidismo transitório, ocorrendo diminuição de T3 e T4 e au-
mento de TSH. A tireoglobulina pode estar aumentada, e sua princi-
pal utilidade é diferenciação da tireotoxicose factícia.
Anticorpos tireoidianos: o anticorpo antitireoperoxidase (anti-TPO)
geralmente está presente na tireoidite linfocítica subaguda, tireoi-
dite de Hashimoto e doença de Graves. Na tireoidite de Quervain
costuma ser indetectável ou em baixos títulos. Antitireoglobulina
(TRAb) positivo sugere doença de Graves.
Provas inflamatórias: na tireoidite granulomatosa/de Quervain, o
VHS geralmente está alto, acima de 50mm/h, podendo ultrapassar
valores de 100mm/h. A PCR também pode estar elevada.
Outros: os testes de função hepática são frequentemente anormais
durante a fase inicial da tireoidite subaguda de Quervain e, em se-
guida, voltam ao normal à medida que a doença regride. A causa
específica da alteração é desconhecida, mas pode estar relacionada
à infecção viral ou à própria tireotoxicose.
Exames de Imagem
Não há um fluxograma de investigação radiológica das tireoidites.
Por exemplo, quadros em que o paciente se apresenta com tireotoxico-
se, podemos iniciar a investigação radiológica com cintilografia e cap-
tação de iodo, enquanto um paciente com massa palpável, um ultras-
som de tireoide, será melhor indicado. Cada exame de imagem deve ser
solicitado conforme as indicações clínicas do paciente. Assim, em de-
terminada tireoidite, um ou outro dos exames de imagem abaixo pode
ser mais eficiente para elucidar um diagnóstico mais preciso.
UNIDADE 2. TIREOIDE
144
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
Pearce EN, Farwell AP, Braverman LE. Thyroiditis. N Engl J Med. 2003 Jun
26;348(26):2646-55. doi: 10.1056/NEJMra021194. Erratum in: N Engl J Med. 2003
Aug 7;349(6):620. PMID: 12826640.
Zhao N, Wang S, Cui XJ, Huang MS, Wang SW, Li YG, Zhao L, Wan WN, Li YS, Shan
ZY, Teng WP. Two-Years Prospective Follow-Up Study of Subacute Thyroiditis.
Front Endocrinol (Lausanne). 2020 Feb 28;11:47. doi: 10.3389/fendo.2020.00047.
PMID: 32184756; PMCID: PMC7058985.
UNIDADE 3:
HIPÓFISE
UNIDADE 3. HIPÓFISE
149
Capítulo 9
Hiperprolactinemia
Bibiana Bauer Barcellos
Kênia Cordeiro Silva
Tanize Louize Milbradt
Eduardo Bardou Yunes Filho
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Etiopatogenia:
Causas fisiológicas:
HIPOTÁLAMO
GnRH
Feedback negativo
Prolactina
FSH LH
HIPÓFISE
Útero
Inibição
Estimulação
Causas farmacológicas:
Causas patológicas:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
Anticorpo
Prolactina
Sinalizador
PEG
Macroprolactina
Prolactina Monomérica
Prolactina Dimérica
Exames de imagem:
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
DOPAMINA HIPOTÁLAMO
Medicação
Adenoma
Tratament o medicamentoso:
Bromocriptina: é recomendado iniciar com 2,5 mg, por via oral, de-
pois do jantar ou a hora de dormir durante uma semana; então au-
mentar para 2,5 mg duas vezes por dia (depois do café da manhã e
depois do jantar ou a hora de dormir); e incrementos de dose de 2,5
mg podem ser realizados a cada 3 a 7 dias até chegar à dose deseja-
da, que varia de 5 a 15 mg/dia (na maioria das vezes não se ultrapas-
sam 7,5 mg/dia).
Cabergolina: inicialmente é indicado utilizar 0,25 mg, por via oral,
duas vezes por semana ou 0,5 mg uma vez por semana; e incremen-
tos de 0,25 mg a 1,0 mg duas vezes por semana podem ser realizados,
com intervalo de incremento de no mínimo 4 semanas conforme
necessidade, com dose máxima de 2 mg/semana.
Os benefícios esperados com a medicação são a redução ou norma-
lização dos níveis séricos da prolactina, redução do tumor da hipófise e
alívio dos sintomas associados, ciclos menstruais regulares, restaura-
ção do desejo sexual e fertilidade, além da reversão ou estabilização da
perda de massa óssea.
Gravidez:
Seguimento clínico:
Tempo de tratamento:
9. Prognóstico:
O que é Aumento dos níveis séricos de prolactina acima dos valores de referência (em
hiperprolactinemia? geral, mulheres até 30 ng/mL e homens até 20 ng/mL).
Quadro clínico Oligomenorreia ou amenorreia, galactorreia, diminuição da libido, dispareunia,
disfunção erétil, infertilidade, redução da densidade óssea. Em caso de tumores
intracranianos, cefaleia periorbitária e bitemporal, distúrbios visuais e neurológicos.
Etiologias Fisiológicas: gestação, amamentação, estresse, exercício, sono, relação sexual.
Medicamentosas: antidepressivos, antipsicóticos, ansiolíticos, anti-hipertensivos,
opioides, procinéticos, narcóticos.
Patológicas: doenças/tumores hipotalâmicos e hipofisários, doenças
endocrinológicas, doenças autoimunes, insuficiência renal, cirrose, lesões
irritativas torácicas e lesões do cordão medular.
Macroprolactinemia.
Idiopática (diagnóstico de exclusão).
UNIDADE 3. HIPÓFISE
165
Diagnóstico Exame físico: galactorreia (pode estar presente em 30 a 80% dos casos), bócio,
hirsutismo/hiperandrogenismo nas mulheres, redução do campo visual por
confrontação e existência de lesões traumáticas ou irritativas na parede torácica.
Exames laboratoriais: a prolactina deve ser confirmada em uma segunda
dosagem. Idealmente, a medida deve ser feita pela manhã, após repouso de 20
minutos, sem necessidade de jejum. Cuidado com o efeito gancho, que pode
auxiliar no diagnóstico diferencial de pseudoprolactinoma e deve-se, além
disso, descartar macroprolactinemia. Solicitar β-hCG, TSH, T4 livre, creatinina,
albumina, EQU, urocultura, enzimas hepáticas para excluir doenças sistêmicas
que secundariamente elevam a prolactina.
Exames de imagem: RM de sela túrcica para investigação de adenoma hipofisário.
Tratamento Hiperprolactinemia de causa secundária: tratamento específico de causa base
do distúrbio.
Hiperprolactinemia de causa medicamentosa: suspender ou substituir medicação.
Hiperprolactinemia sintomática com ausência de adenoma de hipófise:
tentativa com terapia hormonal com estrogênio e testosterona.
Hiperprolactinemia assintomática com ausência de adenoma de hipófise:
acompanhamento clínico, a cada 3 meses dosar prolactina e anualmente RM/
TC de sela túrcica.
Paciente sintomático com presença de micro/macroadenoma:
1. Iniciar tratamento com Agonista Dopaminérgico (atenção: substituir ou
suspender antipsicóticos) como cabergolina (menos efeitos colaterais e meia
vida longa) ou bromocriptina (mais usado em gestante);
2. Se não houver melhora com ADs, como intolerância ou resistência e
persistência de tumor compressivo, apesar das doses máximas de ADs, bem
como sinais graves de compressão ou apoplexia do macroadenoma, optar por
cirurgia transesfenoidal;
3. Sem melhora com nenhuma das opções anteriores, ou por contraindicação
cirúrgica, iniciar radioterapia.
Se valores permanecerem normais/diminuição de 50% ou desaparecimento de
adenoma, iniciar redução medicamentosa até interrupção.
Capítulo 10
Acromegalia e Gigantismo
Leonardo Rodrigues
Murilo Daminelli Favero
Rafael Vaz Machry
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
Acromegalia:
A prevalência global de acromegalia foi de 28 a 137 casos por milhão
de habitantes. Entretanto, a possibilidade de subnotificação não pode
ser deixada de lado. A idade média de diagnóstico é entre 40-50 anos e
não há diferença de gênero. Já o atraso até o diagnóstico parece estar
diminuindo. Hoje, a média de tempo até o diagnóstico é de 5 anos, ao
passo que em estudos mais antigos, mostrava-se tempo de até 15 anos.
Gigantismo:
Apesar de haver poucos estudos epidemiológicos, estima-se que a
prevalência mundial de casos gira na casa de 70 casos por milhão, sen-
do, portanto, equivalente à média de prevalência de casos de acrome-
galia. Algumas evidências têm mais apoio da literatura, como a predo-
minância no sexo masculino e a falta de etiologia genética identificável
em aproximadamente 50 por cento dos casos. O gigantismo já foi obser-
vado desde os primeiros dois a três meses de vida.
UNIDADE 3. HIPÓFISE
168
3. Fisiopatologia:
Acromegalia:
Mais de 95% dos pacientes com acromegalia apresentam um quadro
esporádico de adenoma secretor de GH, o qual a regulação positiva de
STAT3 (transdutor de sinal e ativador da transcrição 3) resulta em hi-
persecreção de GH. Raramente, a acromegalia pode surgir de um tumor
familiar ou ser devido a produção ectópica de GH ou GHRH.
Ainda, os adenomas são classificados de acordo com a morfologia
celular, expressão de produto gênico, extensão de granularidade intra-
UNIDADE 3. HIPÓFISE
169
Gigantismo:
Deve ser considerado em crianças com mais de 3 desvios acima da
altura média normal para a idade ou mais de 2 desvios padrão sobre
sua altura parental média ajustada. Mas como eu vou saber quando a
criança está fora da sua curva de crescimento? Confere o capítulo de
puberdade precoce em que esta explicação está bem detalhada, vale a
pena! Da mesma forma que a acromegalia, o gigantismo pode ser cau-
sado por um tumor hipofisário secretor de GH ou hiperplasia associada
a várias síndromes específicas. O adenoma, em 57% das vezes, é espo-
rádico, ao passo que o restante é ligado a alguma alteração genética.
Ainda, citamos alguns dos principais distúrbios genéticos que estão li-
gados com o risco de tumor de hipófise secretor de GH: Neoplasia Endó-
crina Múltipla tipo 1, Síndrome do Acrogigantismo ligado ao X (X-LAG),
Complexo Carney, Síndrome McCune–Albright e Adenomas hipofisá-
rios familiares isolados (FIPA).
4. Anamnese:
Acromegalia:
As modificações decorrentes da acromegalia ocorrem de forma len-
ta, contribuindo para o atraso de 5 a 10 anos entre o surgimento dos pri-
meiros sinais e sintomas e o diagnóstico da doença. As manifestações
podem ser decorrentes do excesso de GH/IGF-1 ou secundárias ao efeito
de massa exercido pelo tumor. Muitos pacientes são diagnosticados por
acaso, quando procuram atendimento médico por cefaleia, distúrbios
visuais, alterações odontológicas, distúrbios menstruais, artralgias ou
apneia do sono. Por exemplo, aumento no sapato, anel e chapéu que
começam a ficar apertados são situações comumente relatadas.
UNIDADE 3. HIPÓFISE
170
Gigantismo:
As características físicas podem se assemelhar com as vistas
em pacientes com acromegalia, como mãos e pés grandes, aspereza
das características faciais com protuberância frontal e prognatismo
(projeção da mandíbula), cefaleia e suor excessivo. Os adenomas se-
cretores de GH em adolescentes estão frequentemente associados a
amenorreia com ou sem galactorreia em meninas e sintomas de com-
pressão tumoral em meninos. Características faciais dismórficas e/ou
problemas neurocognitivos podem sugerir uma causa sindrômica ou
cromossômica de estatura alta (por exemplo, Sotos, Marshall-Smith,
Klinefelter ou síndrome XYY). Distúrbios coexistentes, como neurofi-
bromatose ou síndrome de McCune-Albright, também devem ser con-
siderados.
5. Exame físico:
Essas citadas são as mais vistas, mas existem outros sinais que
paciente com acromegalia apresenta frequentemente, como mãos em
forma de espada, visceromegalia (tireoide, coração, fígado e baço), de-
feitos visuais, aumento de lábios e de nariz, prognatismo, separação
dos dentes, pele oleosa, Skin tags (manchas pigmentadas na pele e
UNIDADE 3. HIPÓFISE
171
Complicações cardiovasculares
Hipetensão
Hipertrofia biventricular
Cardiomiopatia
Insuficiência cardíaca congestiva
Arritmia
Doença Valvar
Complicações endócrinas e metabólicas
Tolerância à glicose reduzida
DM2
Complicações respiratórias
Resistência insulínica
Obstrução de via aérea superior
Dislipidemia
Ronco excessivo
Nódulos de tireoide
Apneia do sono
Disfunção ventilatória
Complicações gastrointestinais
Pólipos colônicos
Complicações do sistema musculoesquelético
Dolicomegacólon
Fraturas vertebrais
Artropatia
Desordens reprodutivas Parestesia
Distúrbios menstruais Aumento da espessura da cartilagem articular
Disfunção erétil Síndrome do túnel do carpo
6. Exames complementares:
Particularidades do gigantismo:
Dependendo dos achados clínicos, a avaliação inicial pode incluir a de-
terminação da idade óssea, testes de função tireoidiana, concentrações de
hormônios esteróides sexuais, cariótipo e estudos relacionados ao GH.
7. Diagnóstico:
Então, o paciente veio com sinais e sintomas clínicos até você e, ob-
servando o paciente, você suspeitou de acromegalia. Logo, você lembrou
que precisamos avaliar o nível de GH e IGF-1, como mencionado anterior-
mente. Você vai pedir quais exames? Na prática, vamos iniciar pedindo
IGF-1. Se a concentração sérica de IGF-1 for elevada, partimos para o teste
que confirmará o diagnóstico: TOTG para medir a secreção do GH sérico. A
supressão inadequada de GH após uma carga de glicose confirma o diag-
nóstico de acromegalia. Ao realizar o teste, medimos o GH sérico antes e
duas horas após a administração da glicose e o critério para o diagnós-
tico de acromegalia é uma concentração de GH superior a 1 ng/mL após
essa segunda avaliação. Lembre-se, esse caminho base até o diagnóstico é
igual no caso de gigantismo. Uma pequena particularidade do gigantismo
é que, nas crianças em surtos de crescimento puberal, as respostas do GH
à glicose podem ser paradoxais, e as concentrações de IGF-1 costumam ser
fisiologicamente elevadas. Assim, o diagnóstico requer evidências claras
de ressonância magnética para uma lesão hipofisária.
Diagnóstico diferencial:
A fonte de secreção excessiva de GH na acromegalia ou no gigan-
tismo pode não ser necessariamente de origem hipofisária. Secreção
ectópica de GHRH em tumores carcinoides, tumores de células das ilho-
tas pancreáticas, carcinoma de células pequenas do pulmão, adenomas
UNIDADE 3. HIPÓFISE
174
8. Tratamento:
Tratamento cirúrgico:
A opção cirúrgica é o tratamento de primeira linha e a ressecção tran-
sesfenoidal é o técnica de escolha para microadenomas, macroadeno-
mas restritos à sela túrcica ou macroadenoma que comprimem o ner-
vo óptico, sempre com o objetivo de preservação da função hipofisária.
Ainda, a cirurgia pode ser considerada em macroadenomas não inteira-
mente ressecáveis, com a finalidade de reduzir o volume tumoral para
aumentar a eficácia do tratamento farmacológico. Hipopituitarismo se
desenvolve em aproximadamente 20% dos pacientes, refletindo danos ao
tecido hipofisário normal circundante. As complicações graves como al-
teração visual e meningite são raras, e outras complicações, como sinu-
site, fístula liquórica e diabetes insípido permanente ocorrem em torno
de 5% dos casos. No pós-operatório, o nível de GH medido por meio de
TOTG nas primeiras 24 horas após a cirurgia é um significativo preditor
de resultados. Após a cirurgia, sugerimos medir o IGF-1 em 12 semanas,
além de avaliação de ressonância de sela túrcica no mesmo momento.
Tratamento medicamentoso:
Recomenda-se terapia farmacológica em paciente com doença per-
sistente após cirurgia ou em paciente com doença significativa (ou seja,
com sinais e sintomas moderados a graves de excesso de GH e sem efei-
tos de massa local). A terapia inicial deve ser com Análogos de Somatos-
tatina (SRL).
Análogos da somatostatina:
Dos cinco subtipos de receptor de somatostatina, SST2 e SST5 são
expressos preferencialmente em superfícies de células somatotróficas
e é por esses receptores que os medicamentos irão mediar a supressão
UNIDADE 3. HIPÓFISE
175
Agonistas dopaminérgicos:
Servem, principalmente, como adjuvantes dos análogos da somatos-
tatina, quando a hiperprolactinemia simultânea está presente. A eficá-
cia do agonista da dopamina parece ser independente das concentra-
ções de prolactina. O representante máximo da classe é a Cabergolina.
Radioterapia:
É sempre bom lembrar que a radioterapia deve ser evitada, princi-
palmente em crianças, sendo usada, sempre, como última opção. As
duas modalidades de terapia de radiação comumente utilizadas são a
irradiação externa (convencional) e a irradiação estereotáxica de alta
dose única. Ambas as técnicas podem servir como terapia adjuvante à
cirurgia ou a opção farmacológica.
Particularidades do Gigantismo:
No gigantismo, a agressividade da doença hipofisária é visível, pois
no momento do diagnóstico, mais de 75% dos pacientes têm extensão
extrasselar e cerca de 55% dos tumores já são invasivos. Ainda, tanto para
os adultos como para os pacientes pediátricos o tratamento tem o mes-
mo princípio, já que não há estudos robustos sobre terapêutica para estes.
UNIDADE 3. HIPÓFISE
176
Intervenção ortopédica:
A intervenção cirúrgica ortopédica, para desgastar as placas epifi-
sárias no nível do fêmur e da tíbia (epifisiodese), tem sido usada para
limitar a ganho de altura. Claro, é um meio que não serve para todos os
casos e é reservado para os pós-púberes, pois a terapia hormonal tem
baixa eficácia nessa faixa etária. Essa técnica, pode reduzir a estatura
em até 7 cm nos meninos e 5,9 cm nas meninas.
Solicitar TOTG
GH não para avaliar
suprimido? supressão Acromegalia
de GH GH suprimido? ou Gigantismo
estão
excluídos!
Diagnóstico Solicitar RM
de de sela túrcica
Acromegalia para localizar
ou Gigantismo provável
confirmado Adenoma Solicitar TC
de Tórax e
Massa tumoral Massa tumoral abdomên
encontrada? não encontrada? +
dosagem de
GHRH
Antagonista de GH+
Análogo da
Somatostatina +
radioterapia
Acompanhamento:
Os pacientes devem ser acompanhados até que o controle bioquí-
mico seja alcançado. Depois disso, a avaliação hormonal é realizada
semestralmente. Naqueles com remissão vista laboratorialmente e em
quem não há nenhum tecido tumoral residual, a ressonância magné-
tica deve ser repetida a cada 1 a 2 anos. O acompanhamento inclui o
tratamento de novos supercrescimentos de tecidos moles, compressão
de nervos e comprometimento odontológico, além de avaliações reu-
matológicas, cardíaca e metabólica.
Em resumo, os objetivos do tratamento da acromegalia são:
Reduzir os níveis séricos de GH basal < 1 ng/mL ou nadir GH < 0,4 ng/mL
durante o TOTG e normalizar os níveis de IGF-1 para sexo e idade
Reduzir o volume tumoral e preservar a função hipofisária.
9. Prognóstico:
moles sejam melhoradas uma vez que o controle bioquímico foi alcan-
çado, medidas de baixa qualidade de vida, incluindo ansiedade e de-
pressão, podem persistir. Hipertensão arterial, estreitamento do espaço
articular e novas fraturas vertebrais não parecem melhorar apesar do
GH e IGF-1 atingirem níveis dentro da normalidade.
E quanto ao prognóstico e comorbidades do gigantismo? Pois bem,
tudo isso dependerá, também, da idade e da fase em que é feito o diag-
nóstico, se conseguirmos controlar a altura final do paciente e se o pa-
ciente não teve muito tempo de exposição a níveis excessivos de GH
e IGF-1. Caso não tenhamos conseguido controlar a altura final do pa-
ciente, ele terá maior risco com artropatias e doenças musculoesquelé-
ticas, como hipercifose, discopatia e osteoartrose em idade precoce de
coluna vertebral. Já se ele teve muito tempo de exposição ao excesso
hormonal, o paciente terá os mesmo fatores de risco que pacientes com
acromegalia, como maior risco para doenças cardiovasculares, para
diabetes melittus tipo 2, além de risco aumentado de novas neoplasias.
GIGANTISMO ACROMEGALIA
Acontece antes da fusão das epífises ósseas. Acontece após a fusão das epífises ósseas.
Deve ser considerado em crianças com mais de 3 A idade média de diagnóstico é entre 40 e 50 anos
desvios acima da altura média normal para a idade e não há diferença de gênero.
ou mais de 2 desvios padrão sobre sua altura
parental média ajustada.
O adenoma, em 57% das vezes, é esporádico, ao Mais de 95% dos pacientes com acromegalia
passo que o restante é ligado a alguma alteração apresentam um quadro esporádico de adenoma
genética: Neoplasia Endócrina Múltipla tipo 1, secretor de GH, o qual a regulação positiva
Síndrome do Acrogigantismo ligado ao X (X-LAG), de STAT3 (transdutor de sinal e ativador da
Complexo Carney, Síndrome McCune–Albright e transcrição 3) resulta em hipersecreção de GH.
adenomas hipofisários familiares isolados (FIPA).
Em mais de 95% dos casos, ambas as doenças são As características mais vistas na clínica são:
causadas por um adenoma hipofisário secretor de aumento de extremidades, características faciais
GH, que é um tumor de crescimento geralmente ásperas, aumento da espessura da pele, cefaleia,
lento e benigno, com a secreção de GH ocorrendo de macroglossia, hiperidrose, artralgias, ronco, cansaço
forma pulsátil, ainda, em aproximadamente 30% dos e síndrome do túnel do carpo.
tumores, existe a secreção associada de prolactina.
Há grande variabilidade da concentração sérica de GH ao longo do dia, sendo necessários outros
parâmetros além da medida de GH basal para o diagnóstico de acromegalia e de gigantismo.
IGF-1: é o marcador de escolha para avaliar a secreção de GH das últimas 24 horas. Fornece boa
distinção entre indivíduos sem patologia. Contudo, os resultados devem ser interpretados de acordo
com a idade e o sexo de cada paciente.
UNIDADE 3. HIPÓFISE
179
O teste de supressão de GH é o padrão ouro para fazer um diagnóstico definitivo e deve ser realizado se
a dosagem de IGF-1 sugerir excesso de GH.
Todos os pacientes com acromegalia ou gigantismo, confirmado laboratorialmente, devem realizar
também dosagem de prolactina e avaliação do restante da função hipofisária.
É necessário, também, localizar anatomicamente o tumor, e a ressonância magnética com contraste
(RM) de sela túrcica é o exame de escolha.
A fonte de secreção excessiva de GH na acromegalia ou no gigantismo pode não ser de origem
hipofisária. Secreção ectópica de GHRH em tumores carcinoides, tumores de células das ilhotas
pancreáticas, carcinoma de células pequenas do pulmão, adenomas adrenais ou feocromocitomas são
alguns exemplos que podem produzir GH ectópico.
O objetivo do tratamento é controlar o tamanho do adenoma hipofisário, a secreção de GH e IGF1, e
prevenir sequelas clínicas ao longo dos anos, mantendo a função normal da hipófise.
A opção cirúrgica é o tratamento de primeira linha e a ressecção transesfenoidal é a técnica de escolha
para microadenomas, macroadenomas restritos à sela túrcica ou macroadenoma que comprimem o
nervo óptico.
A cirurgia pode ser considerada em macroadenomas não inteiramente ressecáveis, com a finalidade de
reduzir o volume tumoral.
Recomenda-se terapia farmacológica em pacientes com doença persistente após cirurgia. A terapia
inicial deve ser com Análogos de Somatostatina (SRL).
Agonistas dopaminérgicos: servem, principalmente, como adjuvantes dos análogos da somatostatina,
quando a hiperprolactinemia simultânea está presente.
Antagonistas do receptor de GH: particularmente úteis para o tratamento de doenças refratárias.
A radioterapia deve ser evitada, principalmente em crianças, sendo usada, sempre, como última opção.
Os pacientes devem ser acompanhados até que o controle bioquímico seja alcançado. Depois disso, a
avaliação hormonal é realizada semestralmente.
Capítulo 11
Síndrome de Cushing
Luana Mendes de Oliveira
Isabela Batista dos Santos
Rafael Vaz Machry
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
SIM
Terapia prolongada com glicocorticoide? Provável Síndrome de Cushing exógena
NÃO
Testes de triagem
Dosagem do cortisol livre urinário NEGATIVO
Improvável Síndrome de Cushing exógena
Teste de supressão de dexametasona de baixa dose
Dosagem de cortisol salivar noturno
POSITIVO
TC ou RM do abdômen
Testes Confirmatórios
Teste 1: Supressão com dexametasona de alta dose
Adenoma, carcinoma
Teste 2: Teste do CRH
ou hiperplasia da glândula
adrenal
Supressão do ACTH no teste 1 Sem supressão do ACTH no teste 1
Aumento do ACTH/Cortisol no teste 2 Sem aumento do ACTH/Cortisol no teste 2
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
Capítulo 12
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
1 2
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
MASSA HIPOFISÁRIA
Adenomas
não funcionantes
Di Somma, C., Scarano, E., de Alteriis, G. et al. Is there any gender difference
in epidemiology, clinical presentation and co-morbidities of non-functioning
pituitary adenomas? A prospective survey of a National Referral Center and
review of the literature. J Endocrinol Invest 44, 957–968 (2021).
Esposito, D., Olsson, D. S., Ragnarsson, O., Buchfelder, M., Skoglund, T., &
Johannsson, G. (2019). Non-functioning pituitary adenomas: indications for
pituitary surgery and post-surgical management. Pituitary.
Solari, D., Zenga, F., Angileri, F. F., Barbanera, A., Berlucchi, S., Bernucci,
C.,Cappabianca, P. (2018). A Survey on Pituitary Surgery In Italy. World
Neurosurgery.
UNIDADE 3. HIPÓFISE
199
Capítulo 13
Hipopituitarismo
Ariel Parcianello Melo Vieira
Rafael Fortes Locateli
Rafael Vaz Machry
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
Hipopituitarismo Adquirido
A etiologia do hipopituitarismo adquirido pode resultar de várias
condições que acometem a hipófise e/ou hipotálamo (Tabela 1). As
principais causas, em ordem decrescente de ocorrência, foram: tumor
hipofisários ou consequência do seu tratamento (cirurgias e/ou radio-
terapia); tumor extra-hipofisário (craniofaringioma, cordomas, glio-
mas, menigiomas); idiopáticos; doenças inflamatórias e infiltrativas;
e síndrome de Sheehan.
Hipopituitarismo Congênito
O hipopituitarismo congênito ocorre a partir de anomalias estrutu-
rais da hipófise ou de distúrbios hereditários que levam a desordens
na citodiferenciação e na secreção hormonal de uma ou mais linha-
gens celulares. Ocorrem de maneira habitual na infância e adolescên-
cia, com manifestação clínica variável.
5. Exames complementares:
Deficiência de gonadrotrofina
LH e FSH basais: baixos ou normais
Testosterona matinal baixa (em homens)
Estradiol baixo (em mulheres)
Deficiência de TSH
TSH basal: baixo ou normal; às vezes, algo elevado (em geral, < 10 mUI/L)
T4 livre baixo, T3 normal ou baixo
Deficiência de ACTH
ACTH basal: baixo ou normal (< 10 pg/mL)
Cortisol basal < 3 µg/dL
Durante ITT ou após estímulo com ACTH sintético (250 µg), pico de cortisol < 18 µg/dL
Deficiência de GH
UNIDADE 3. HIPÓFISE
207
IM: via intramuscular; EV: via endovenosa; VO; via oral. Adaptado de Toogood e Stewart, 2008;
UNIDADE 3. HIPÓFISE
208
6. Diagnóstico:
7. Tratamento:
tando para a vida adulta, os quais persistam com DGH, em especial aque-
les sintomáticos, com baixa massa óssea para a idade. Nestes casos, o
esquema padrão de reposição é feito com base na vida adulta, com doses
menores e não calculadas por peso corporal, e monitoramento realizado
pela dosagem do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1).
Nos adultos, raramente é necessário repor rhGH). A dose inicial de
rhGH é de 0,1 a 0,4 mg/dia, administrada por via subcutânea ao deitar-se,
sem relação com peso corporal. Na presença de deficiências hormonais
combinadas, o ideal é iniciar com a reposição de rhGH somente quando
as outras deficiências já estiverem compensadas. Na fase de titulação, a
dosagem do rhGH é ajustada a cada 4 a 6 semanas de acordo com os efei-
tos colaterais e os níveis plasmáticos de IGF-1, que devem ser mantidos
entre o valor médio e o limite superior da faixa de referência ajustada
para a idade do paciente. Os ajustes consistem em variações da dose de
0,1 a 0,2 mg/dia para mais ou para menos. No momento em que se alcan-
ça a dose de manutenção, a qual possui grande variabilidade individual,
o monitoramento com IGF-1 pode ser semestral ou anual.
Adverte-se que as mulheres que façam uso simultâneo de terapia es-
trogênica deem preferência às preparações transdérmicas (adesivos e
gel), pois o estrogênio oral antagoniza os efeitos do GH, sendo necessário
aumentar a dosagem de rhGH, o que reduz a eficiência e aumenta o cus-
to. O monitoramento terapêutico engloba avaliação anual da composição
corporal e da massa óssea por meio dos dados antropométricos, bioim-
pedância e/ou DXA.
Deve-se atentar para o surgimento de sinais e sintomas de insuficiên-
cia adrenal e hipotireoidismo e monitorar os níveis plasmáticos de cor-
tisol e T4 livre, pois o rhGH causa redução do T4 livre, associada ou não
com aumento do T3. Nesses casos, é necessário a reposição com levotiro-
xina após o início do rhGH. Na deficiência de GH há um aumento da ati-
vidade da 11β-hidroiesteroide desidrogena tipo 1 (HSD11B1), enzima que
converte a inativa cortisona em cortisol, e ao iniciar a terapia com rhGH,
cessa a atividade da HSD11B1 e o hipocortisolismo pode se fazer evidente.
Os efeitos colaterais são dose-dependente e têm relação com a reten-
ção hídrica provocada pelo GH. Nos adultos, a terapia inicial com baixa
dosagem, não relacionada com o peso corporal e paulatinamente titula-
da até a dose de manutenção, atenua o surgimento dos efeitos adversos,
os quais frequentemente são cefaleia, artralgias, mialgias, edema de ex-
tremidades e síndromes do túnel do carpo.
As contraindicações absolutas ao uso do rhGH são doenças malignas
ativas, retinopatia diabética proliferativa e hipertensão intracraniana be-
nigna. Ademais, não há contraindicação ao uso para diabéticos, contudo
é necessária monitorização frequente da glicemia de jejum e hemoglo-
UNIDADE 3. HIPÓFISE
211
bina glicada nos pacientes obesos, com mais de 60 anos de idade e com
histórico familiar de diabete melito tipo 2.
Não há evidências que suportem a hipótese da recorrência de doen-
ças neoplásicas, novos tumores ou lesões hipofisárias, quanto ao uso do
rhGH. Por este motivo, o rastreio de neoplasias na população adulta tra-
tada ou em tratamento com rhGH deve seguir as ferramentas-padrão re-
comendadas para a população geral.
8. Prognóstico:
9. Tabela de resumo:
Epidemiologia As taxas relatadas de incidência (12 a 42 novos casos por milhão ao ano)
e prevalência (300 a 455 por milhão) são provavelmente subestimadas,
caso se considere a frequente ocorrência (25 a 50%) após traumatismo
cranioencefálico.
UNIDADE 3. HIPÓFISE
217
Capítulo 14
Diabetes Insipidus
Nina Guterres Ragagnin
Bruna Luisa Franke
Rafael Vaz Machry
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
Interpretação:
Primeira parte: osmolalidade urinária menor que 600 mOsm/kg e
osmolalidade plasmática maior que 295 mOsm/kg sugerem DI.
Segunda parte (após administração de DDAVP): aumento da osmo-
lalidade urinária superior a 50% sugere DI central, se aumento da
osmolalidade urinária menor que 10%, indica DI nefrogênico, e poli-
dipsia primária se osmolalidade urinária maior que 600 mOsm/kg.
UNIDADE 3. HIPÓFISE
222
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
Turcu, Adina F., et al. “Pituitary Stalk Lesions: The Mayo Clinic Experience”.
The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, vol. 98, no 5, maio de
2013, p. 1812–18.
UNIDADE 2. TIREOIDE
224
UNIDADE 4:
ADRENAIS
UNIDADE 4. ADRENAIS
225
Capítulo 15
Insuficiência Adrenal
Virgínia Nascimento Reinert
Gabrielle Simon Tronco
Graziella Rissetti
1. Introdução:
2. Etiologias:
Secundárias ou terciárias:
A diferença entre IA secundária e terciária reside no local e, con-
sequentemente, no hormônio afetado. Quando há interferência na li-
beração de ACTH pela hipófise, estaremos diante da IA secundária.
Diferentemente, ao intervir na secreção do CRH pelo hipotálamo, esta-
remos falando de uma IA terciária.
Alguns autores não fazem essa distinção entre secundária e terciá-
ria, gerando certa confusão. Contudo, isso é um pequeno detalhe entre
causas hipofisárias (secundária) e hipotalâmicas (terciária). Você irá
entender melhor depois (ver item fisiopatologia).
Uma causa de IA secundária corresponde ao hipopituitarismo con-
gênito ou adquirido. O adquirido pode ser devido a trauma, infecção,
granulomas ou tumores em área hipofisária. A deficiência isolada de
ACTH é rara (geralmente com etiologia autoimune), sendo as IA se-
cundárias, em sua maioria, associadas a um quadro de pan-hipopitui-
tarismo (pois faltam outros hormônios além do ACTH).
O uso crônico, mais de 3 semanas, de glicocorticoides por qualquer
via (oral, inalatória ou tópica) em doses suprafisiológicas constitui o
principal motivo para deflagrar uma IA terciária/secundária. A para-
da abrupta ou situações estressoras em que não houve ajuste do GC
UNIDADE 4. ADRENAIS
228
3. Epidemiologia:
4. Fisiopatologia:
COLESTEROL
17-α-Hidroxilase 17-α-Hidroxilase
PREGNENOLONA 17 - α - hidroxilase pregnenolona DHEA DHEAS
21-β-Hidroxilase 21-β-Hidroxilase
Aromatase
DESOXICORTICOESTERONA Desoxicortisol Testosterona Estradiol
11-β-Hidroxilase 11-β-Hidroxilase
Aldosterona-sintetase
ALDOSTERONA
Glicocorticoides – Cortisol:
Este hormônio é nosso primordial glicocorticoide endógeno, ele é libe-
rado de maneira pulsátil de acordo com o ritmo circadiano e suas concen-
trações máximas se dão pouco antes do indivíduo despertar pela manhã e
mínimas ao redor da meia-noite (quando ele começa a dormir). Somente 5
a 10% do cortisol circula em fração biologicamente ativa, ou seja, na forma
livre. Mais de 90% do cortisol circulante está ligado a proteínas, com des-
taque para a transcortina ou CBG (globulina ligadora de corticosteroides),
a principal determinante do cortisol plasmático total. Diversas situações
alteram a CGB como, por exemplo, hiperestrogenismo.
Os glicocorticoides possuem inúmeras funções, algumas delas são:
Promover a regulação do metabolismo intermediário (proteínas,
lipídeos e carboidratos) atuando de forma catabólica e hiperglice-
miante. Como? Estimulando a degradação de proteínas e lipídios
para a geração de substratos para a gliconeogênese hepática e a gli-
cogenólise e também agindo como contra-regulador da insulina.
Atuar no sistema cardiovascular. Como? O cortisol estimula a ex-
pressão de receptores para catecolaminas (receptores alfa e beta)
consequentemente aumentando a resposta simpática e atuando na
contratilidade cardíaca.
UNIDADE 4. ADRENAIS
232
Andrógeno s:
O sulfato de dehidroepiandrosterona (S-DHEA), a androstenediona e a
testosterona são os principais.
Os efeitos fisiológicos dos esteróides sexuais adrenais geralmente são
fracos em comparação com os gonadais. Efeitos maiores são vistos nas
mulheres e consequentemente a isso, as alterações clínicas são mais
pronunciadas. Lembre-se: a formação de andrógenos na suprarrenal é
regulada pelo ACTH, e não pelas gonadotrofinas. Na zona reticular, o Sul-
fato de Diidroepiandrosterona (S-DHEA) é o principal precursor androgê-
nico fabricado.
5. Manifestações clínicas:
Achados laboratoriais:
Achados hematológicos:
6. Diagnóstico:
Cortisol:
Sempre deve ser dosado pela manhã! (Ver item Fisiopatologia).
Para iniciar o diagnóstico laboratorial, uma dosagem de cortisol
plasmático basal deve ser realizada no início da manhã como primeiro
teste. Valores iguais ou menores que 3 µg/dL sugerem IA, ao passo que
valores maiores ou iguais a 19 µg/dL podem excluir o diagnóstico.
Devemos lembrar que o cortisol plasmático não é composto apenas
pela fração livre, ou seja, se houver suspeita de aumento dos níveis de
CBG, como por exemplo no hiperestrogenismo, o exame pode estar alte-
rado. Geralmente os casos irão se apresentar com cortisol basal entre 3
e 19 µg/dL, fazendo com que testes adicionais sejam necessários.
Em relação ao cortisol urinário, sua excreção basal torna-se baixa
somente em pacientes com IA grave, não sendo um bom exame isolado
para triagem. Na dosagem de cortisol salivar, um valor de 1,8 ng/mL
aumenta a probabilidade de ser IA e valores acima de 5,8 ng/mL conse-
guem excluir a hipótese diagnóstica.
Teste da metirapona:
A metirapona é um inibidor da enzima 11ß-hidroxilase que irá supri-
mir a síntese de cortisol. Espera-se que os níveis de ACTH e 11-desco-
xicortisol aumentem, já que o 11-desoxicortisol deixa de ser convertido
neste hormônio. É um teste não muito realizado, pois a hipercortisolemia
não funciona como um estímulo tão forte para o ACTH ser secretado se
comparado ao estresse da hipoglicemia. Além disso, há dificuldade em
conseguir a droga para realização. O teste consiste em administrar 30
mg/kg de metirapona à meia-noite e, pela manhã, verificar se há valores
de ACTH > 100 pg/mL e um nível de 11-desoxicortisol > 7 µg/dL, ou seja,
uma resposta fisiológica adequada.
7. Investigação etiológica:
IA primária:
Por conta de a adrenalite autoimune ser a causa mais prevalente des-
se subtipo de IA, é necessário investigá-la. Para isso, podemos:
UNIDADE 4. ADRENAIS
239
IA secundária/terciária:
Primeiramente, investigamos o uso prévio de GC, já que se configura
UNIDADE 4. ADRENAIS
240
8. Tratamento:
9. Tabela de resumo:
CORTISOL PLASMÁTICO
Exemplo:
Dosar ACTH
Se acima de 100 pg/ml: IA primária Teste da cortrosina
ACTH normal ou diminuído: IA secundária ITT (IA secundária)
Teste da Metirapona
Prosseguir investigação etiológica
Capítulo 16
Hiperaldosteronismo
Igor Reis Pereira
Murilo Daminelli
Graziella Rissetti
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
Renina plasmática
Angiotensinogênio Angiotensina I
Enzima conversora
de angiotensina
Vasoconstrição
ELEVAÇÃO
DA PRESSÃO Angiotensina II
ARTERIAL
Retenção de sal e água
Liberação de
ALDOSTERONA pelas
suprarrenais
Mecanismo Causa
Estenose da artéria renal
Isquemia renal
Hipertensão maligna
Insuficiência cardíaca
Cirrose hepática
Queda do volume intravascular
Síndrome nefrótica
Uso excessivo de laxante ou diurético
Doença renal crônica
Distúrbios de perda de sódio
Acidose tubular renal
Hiperplasia do aparelho justaglomerular Síndrome de Bartter
Tumor secretor de renina
4. Anamnese:
5. Exame físico:
Exame de IMAGEM
7. Tratamento:
8. Prognóstico:
9. Tabela de resumo:
Capítulo 17
Feocromocitoma
Igor Reis Pereira
Murilo Daminelli Favaro
Iuri Martin Goemann
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
São neoplasias raras que podem estar presentes em 0,1 a 0,2% dos
pacientes com hipertensão e a estimativa é de que ocorra, anualmen-
te, em cerca de 2 a 8 pessoas por milhão. Não há preferência por sexo,
sendo a idade média de diagnóstico 40 anos, mas podendo ocorrer
em crianças ou idosos. Até 50% dos tumores são diagnosticados em
autópsias. Os tumores extra-adrenais ou bilaterais costumam possuir
associação genética, com história familiar positiva para a neoplasia,
ocorrendo em idade mais precoce.
UNIDADE 4. ADRENAIS
256
Essa regra era utilizada para determinar algumas variações comuns des-
ses tumores, entretanto foi descoberto que a porcentagem fixa de 10% não
apresentava valores tão fiéis. Dessa forma, hoje sabemos que os tumores po-
dem se distribuir da seguinte forma:
20% são extra-adrenais.
10% são bilaterais.
25% são malignos (até 36%, se considerar paragangliomas).
13 a 25% são assintomáticos.
30 a 40% são hereditários.
3. Fisiopatologia:
Os feocromocitomas ou paragangliomas, originam-se de células cro-
mafins da medula das glândulas adrenais e de gânglios simpáticos ou
parassimpáticos e podem ser chamados de tumores secretores de ca-
tecolaminas. Seu nome faz referência à coloração escura que resulta
da oxidação, nas células cromafins, das catecolaminas produzidas em
grande quantidade nesses tumores, que são bem vascularizados.
Os locais de origem tumoral variam desde medula suprarrenal ou
tronco simpático (gânglios simpáticos) até glomo carotídeo (quimiorre-
ceptor que está localizado medialmente à bifurcação da artéria carótida
comum), timpânico, jugular ou vagal (gânglios parassimpáticos), corres-
pondentes do sistema paraganglionar.
A glândula suprarrenal, mais especificamente a região medular, é res-
ponsável pela produção e secreção de três catecolaminas (epinefrina, no-
repinefrina e dopamina). A liberação dessas substâncias para a corrente
sanguínea, provenientes das células cromafins, ocorre após a secreção de
acetilcolina por neurônios paraganglionares (responsáveis pelo estímulo
à liberação), que inervam diretamente a glândula. Cerca de 80% da secre-
ção é na forma de epinefrina, devido à ação da enzima feniletanolamina
N-metiltransferase (PNMT), que converte localmente a norepinefrina em
epinefrina e é estimulada e regulada pela ação do cortisol, presente na
glândula e proveniente do córtex suprarrenal. Em Paragangliomas, a se-
creção de norepinefrina ocorre em maior quantidade por conta da menor
ação da PNMT. Grande parte dessas catecolaminas circulam no sangue
conjugadas a sulfatos, portanto são inativas, porém, na presença do tumor
a secreção ocorre de forma exacerbada e parte das catecolaminas produ-
zidas irão circular livremente na corrente sanguínea.
Essas catecolaminas, como epinefrina e norepinefrina, são conheci-
das como “hormônios de luta e fuga” e são liberadas em maior quanti-
UNIDADE 4. ADRENAIS
257
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
DIAGNÓSTICO FEOCROMOCITOMA
Níveis maiores que três vezes Níveis até três vezes o limite
o limite superior da normalidade superior da normalidade
Identificação de
massa tumoral em
glândula suprerrenal
Diagnóstico
provável Instituição de tratamento e preparo pré-operatório
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
parte dos casos. Após a adrenalectomia, até 75% dos pacientes podem
voltar ao estado de normotensão e recidivas podem ocorrer em 5 a
10%, sendo recomendada a dosagem de catecolaminas e metanefrinas
anualmente por cinco anos após a cirurgia.
Capítulo 18
Carcinoma Adrenal
Cícero Toniolo
Laura Nilsson Vincensi
Thaís Gilioli
Pietra Fischer Pascoal
Bruno Schmidt Dellaméa
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
5. Exames complementares:
6. Diagnóstico:
7. Tratamento:
8. Prognóstico:
9. Tabela de resumo:
UNIDADE 5:
GÔNADAS
UNIDADE 5. GÔNADAS
272
Capítulo 19
1. Introdução:
Hiperandrogenismo Oligomenorreia
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
LH
CÉLULA DA TECA
COLESTEROL PREGNELONONA
PROGESTERONA
17-0HP
ANDROSTENEDIONA
TESTOSTERONA
FSH
ANDROSTENEDIONA ESTRONA
TESTOSTERONA AROMATASE ESTRADIOL
CÉLULA DA GRANULOSA
Pulsatilidade do GnRH
E a Síndrome Metabólica?
Além da resistência insulínica, o perfil lipídico anormal e a presen-
ça de marcadores de inflamação compõem a síndrome metabólica nas
pacientes. Acometendo mais de um terço das mulheres com SOP, essa
síndrome representa uma série de fatores de risco que aumentam a
propensão ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes
mellitus. Apesar disso, alguns estudiosos defendem que o risco cardio-
vascular não deve ser generalizado para todas as pacientes com SOP, e
sim, especificamente para aquelas com os sintomas clássicos na pre-
sença de obesidade e diabetes.
De qualquer modo, o risco existe e deve ser considerado mesmo em
pacientes jovens com síndrome dos ovários policísticos. Por isso, o es-
tilo de vida deve ser uma preocupação do profissional de saúde para um
bom prognóstico. Do ponto de vista do tratamento da SOP, já que o uso
de anticoncepcionais orais (ACO) é uma das opções terapêuticas (como
veremos adiante), o risco cardiovascular pode se tornar uma preocu-
pação ainda maior quando destacamos que o ACO estão associados ao
tromboembolismo venoso e piora do perfil lipídico.
Aumento na
relação
LH / FSH
Alteração na
pulsatilidade Hiperandrogenismo
do GnRH
FISIOPATOLOGIA
Sangramento Redução da
uterino ação da
anormal aromatase
4. Manifestações clínicas:
5. Exames complementares:
6. Diagnóstico:
Oligomenorreia
ou Amenorreia
Morfologia Hiperandrogenismo
Ovariana Policística clínico
à ultrassonografia ou laboratorial
7. Tratamento:
ovulação em até 75% das pacientes com SOP, mesmo sem a inserção de
nenhuma terapia medicamentosa.
Além disso, a prática de exercícios físicos também atua na redução
da resistência insulínica, além de ser fator protetor para as doenças
cardiovasculares associadas à síndrome metabólica.
Anticoncepcionais hormonais:
Depois de entender o organismo da paciente portadora dessa sín-
drome, qual o tratamento principal que somos induzidos a pensar? Que
é necessário restaurar o equilíbrio entre andrógenos e estrógenos. Os
contraceptivos hormonais são uma ferramenta terapêutica útil, pois
promovem feedback negativo hipotalâmico-hipofisário (minimizando
a alteração da pulsatilidade do GnRH), diminuem o hiperestímulo à teca
e reduzem a produção dos androgênios ovarianos.
Os progestágenos (combinados ou isolados) protegem o endométrio.
No caso dos contraceptivos combinados, a porção estrogênica incre-
menta os níveis de SHBG, o que diminui os níveis de androgênios circu-
lantes, aliviando os sintomas do hiperandrogenismo.
Em mulheres que não necessitam de contracepção e que não se
queixam de hirsutismo, mas apresentam anovulação resistente às me-
didas de estilo de vida, os progestágenos servem como reguladores do
ciclo menstrual e atuam na prevenção do câncer endometrial por per-
mitir a descamação cíclica do endométrio.
Antiandrogênicos:
Além dos contraceptivos hormonais, existem medicamentos como
a espironolactona e o acetato de ciproterona que agem como bloquea-
dores fracos de receptores andrógenos, atuando como inibidores an-
drogênicos, sendo estratégias úteis na terapêutica da acne, alopecia e
hirsutismo. Em relação específica ao hirsutismo, podemos utilizar os
mesmos fármacos antiandrogênicos (espironolactona e acetato de ci-
proterona), além do uso da finasterida (inibidor da enzima 5-alfa-redu-
tase tipo 2). Por fim, também podemos lançar mão de métodos de re-
moção mecânica dos pelos, como a depilação à laser. Para o tratamento
específico da acne e alopecia, outros tratamentos dermatológicos adi-
cionais podem ser necessários.
Tratamento da infertilidade:
No que se refere ao desejo de gestação, o tratamento da infertilidade
pode ser feito com alguns medicamentos: o citrato de clomifeno (anta-
gonista estrogênico que atua no hipotálamo e na hipófise) e o letrozol
(inibidor da aromatase) são ótimos como terapia de primeira linha, e
a metformina também pode ser utilizada para auxiliar na indução da
ovulação, além do tratamento da resistência à insulina. Em caso de in-
sucesso na ovulação ou de resistência a outros indutores, indução do ci-
clo com gonadotrofinas exógenas são uma opção. A fertilização in vitro
(FIV) pode ser empregada na falha dos demais métodos.
Ainda assim, é importante lembrar que a perda de peso deve ser
sempre reforçada, pois uma redução de 5 a 10% está comprovadamente
associada à restauração da ovulação na maioria das mulheres com SOP.
8. Prognóstico:
9. Esquema de resumo:
DIAGNÓSTICO
Anticoncepcionais Aumento LH / FSH
Metformina
TRATAMENTO
SOP FISIOPATOLOGIA
Redução da aromatase
Antiandrogênicos
Atresia folicular
QUADRO CLÍNICO
Capítulo 20
Hipogonadismo Feminino
1. Introdução:
2. Fisiopatologia:
3. Etiologias:
Hipotalâmicas:
Tumores;
Infecções e doenças granulomatosas;
Trauma que comprometa a comunicação do eixo hipotálamo-hipófise;
UNIDADE 5. GÔNADAS
290
Cirurgia ou radioterapia;
Síndrome de Kallmann;
Funcional;
Distúrbios alimentares;
Exercício físico extenuante;
Estresse emocional;
Doença crônica debilitante;
Hiperprolactinemia;
Hipotireoidismo;
Hipofisárias:
Tumores de hipófise;
Cirurgia ou radioterapia;
Infecções e doenças granulomatosas;
Síndrome de Sheehan;
Apoplexia hipofisária;
Hipofisite linfocítica;
Síndrome da sela vazia;
4. Manifestações clínicas:
5. Anamnese:
6. Exame físico:
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
9. Tabela de resumo:
Climatério
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
Sintomas vasomotores:
Os fogachos são ondas de calor que geralmente iniciam com uma
sensação repentina de calor na parte superior do tórax e no rosto, que
logo se generaliza, sendo o sintoma mais comum do climatério. Pode es-
tar associado a palpitações, sensação de ansiedade e transpiração. Ques-
tione sobre os fogachos, sua incidência, momento do dia, intensidade -
“tem sentido algum tipo de desconforto anormal em relação ao calor?”
UNIDADE 5. GÔNADAS
298
Alterações Ósseas:
A osteoporose é uma patologia muito frequentemente associada a
mulheres no climatério. Questione fraturas prévias recentes da pacien-
te e fatores de risco para osteoporose.
Queixas genitourinárias:
O hipoestrogenismo altera o epitélio da vulva e da vagina. Isso re-
sulta na redução da lubrificação e menor elasticidade. Tais fatores
associam-se a disfunções sexuais na mulher, sendo a principal a dis-
pareunia. Ademais, a mulher climatérica tem um enfraquecimento do
assoalho pélvico, predispondo a maiores riscos de cistocele, ureteroce-
le e incontinência urinária. Lembre-se de abordar estas queixas, pois
muitas mulheres acabam não relatando num primeiro momento.
Alteração do humor:
Devido às alterações corporais e hormonais, as mulheres climaté-
ricas têm maior predisposição à depressão e à ansiedade. Questionar
a paciente sobre sentimentos de tristeza, desânimo, cansaço, falta de
energia, humor depressivo, ansiedade, irritabilidade, déficit de atenção,
concentração e memória, diminuição da libido.
Vale lembrar que a consulta com a paciente com queixas do período cli-
matérico é uma ferramenta para abordar questões de prevenção em saúde
da mulher como a coleta de preventivo do colo de útero.
5. Exame Físico:
6. Exames Complementares:
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
Capítulo 21
Hipogonadismo Masculino
Rodolfo Martins Hernandes
Luisa Trentini Zanferari
Virgínia Nascimento Reinert
Rafaela Fenalti Salla
1. Introdução:
HIPOTÁLAMO
HIPÓFISE
TESTÍCULOS
HIPOTÁLAMO
HIPÓFISE
TESTÍCULOS
2. Epidemiologia e Etiologias:
Doenças c ongênitas:
Síndrome de Klinefelter (SK) é a causa genética mais comum de hi-
pogonadismo masculino, tendo sua incidência entre 1:500 e 1:1.000
meninos nascidos vivos;
Síndrome do homem XX (variante da SK): acomete cerca de 1 em
cada 9.000 a 20.000 meninos;
Criptorquidismo é observado em até 3% dos meninos nascidos a ter-
mo e em 30% dos prematuros com idade gestacional ≤ 30 semanas.
Após 6-9 meses de vida a incidência é semelhante a população adul-
ta (entre 0,7 e 0,8%);
Síndrome da regressão testicular ocorre em 1 a cada 20.000 nascidos
do sexo masculino e em 1 a 5% daqueles com criptorquidismo;
Distrofia miotônica é uma doença com incidência entre 1 e 35 por
100.000 habitantes, que em homens cursa com insuficiência testicu-
lar primária em até 80% dos acometidos;
Hipoplasia de células de Leydig é uma patologia de herança autossô-
mica recessiva com incidência estimada em 1:1.000.000;
Síndrome de Noonan (pseudo-Turner ou Síndrome de Ullrich) tem
incidência entre 1:1.000 e 1:5.000.
Defeitos Adquiridos:
Orquite viral é a principal causa de insuficiência testicular pós-pu-
beral, principalmente pós parotidite viral (25% dos casos desenvol-
vem orquite clínica);
Traumatismo ou torção são a segunda maior causa de atrofia testi-
cular em adultos;
Varicocele, radiação, fármacos (cetoconazol, espironolactona, cipro-
terona, glicocorticoides e agentes quimioterápicos como ciclofosfa-
mida e procarbazina) e toxinas (álcool, fungicidas e inseticidas como
dibromocloropropano - DBCP ou metais pesados como chumbo e cá-
dmio) também podem causar redução ou até inibição da biossíntese
de testosterona.
Doenças sistêmicas podem cursar com hipogonadismo hipergona-
dotrófico: insuficiência renal, doença pulmonar obstrutiva crônica
UNIDADE 5. GÔNADAS
305
Doenças congênitas:
Deficiência isolada de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH)
é rara. Quando acompanhada de anosmia ou hiposmia chama-se
Síndrome de Kallmann. Outras doenças genéticas que também cur-
sam com hipogonadismo são Síndrome de Prader-Willi e Síndrome
de Laurence-Moon-Biedl. Nesses casos, a etiologia do hipogonadis-
mo é variada.
Deficiências isoladas de LH e FSH são ainda mais raras.
Síndrome de Klinefelter
A síndrome de Klinefelter (SK) é a principal causa genética de hipogona-
dismo primário e infertilidade em homens, possuindo uma incidência entre
1:500 e 1:1.000 meninos nascidos vivos. Em instituições psiquiátricas há uma
incidência de 1:169 homens, homens com déficit intelectual 1:100 e homens
UNIDADE 5. GÔNADAS
306
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
Repetir TT
TT intermediária
Repetir TT/TL
TT < 230ng/dl
TT normal/baixa TT normal/baixa
TL normal TL baixa
Dosar LH e FSH
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
Terapias androgênicas:
A testosterona pode ser administrada por via oral, nasal, intramus-
cular (IM), transdérmica, na forma de gel ou adesivos, ou subcutânea
através de implantes ou injeções. Dentre essas opções temos como
mais recomendadas/utilizadas:
Undecilato de Testosterona (1000 mg/4ml) 1 ampola IM a cada 10 a
14 semanas
Cipionato de Testosterona (200 mg/2ml) 200mg IM a cada 2 a 4 se-
manas
Enantato de Testosterona 200 mg IM a cada 2 a 4 semanas.
9. Prognóstico:
Definição Redução em uma ou ambas as funções principais dos testículos: produção de esperma
e de testosterona.
Classificação Hipogonadismo primário (doença dos testículos)
Hipogonadismo secundário (doença da hipófise ou hipotálamo).
Sintomas Redução da energia, libido, massa muscular e pelos do corpo, bem como ondas de
calor, ginecomastia e infertilidade
Diagnóstico Clínica + Testosterona Total matinal (entre 8h e 10h) abaixo de 230 ng/dL ou TT entre
230 e 350 com TL abaixo de TL < 6,5 ng/dL.
Primário: testosterona sérica ou contagem de espermatozoides reduzidos e LH e/ou
FSH séricos acima do normal.
Secundário: testosterona sérica ou contagem de espermatozoides reduzidos e LH e/ou
FSH séricos normais ou diminuídos.
Tratamento Varia de acordo com a etiologia e sintomatologia:
Terapia androgênica – de acordo com níveis de testosterona.
Perda de peso e controle metabólico.
Agonistas dopaminérgicos prolactinomas ou hiperprolactinemia idiopática.
Citrato de clomifeno – para manter a fertilidade.
GnRH e gonadotrofinas – restauração de fertilidade no hipogonadismo secundário.
International Society For The Study of the Aging Male (ISSAM): Recommendations
on the diagnosis, treatment and monitoring of hypogonadism in men 2015.
Glass AR, Swerdloff RS, Bray GA, et al. Baixa testosterona sérica e globulina
ligadora de hormônio sexual em homens maciçamente obesos. J Clin
Endocrinol Metab 1977; 45: 1211.
Caronia LM, Dwyer AA, Hayden D, et al. Diminuição abrupta dos níveis séricos
de testosterona após uma carga oral de glicose em homens: implicações para o
rastreamento de hipogonadismo. Clin Endocrinol (Oxf) 2013; 78: 291.
UNIDADE 5. GÔNADAS
314
UNIDADE 6:
OSTEOMETABOLISMO
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
315
Capítulo 22
Hiperparatireoidismo
Bruna Luisa Franke
Rafael Fortes Locateli
Eduardo Holshbach Cantarelli
Rafael Vaz Machry
1. Introdução:
Você deve estar iniciando a leitura desse capítulo com muito medo
de não entender o metabolismo do cálcio. E isso é muito comum. Respira
fundo! Vamos tentar entender juntos essa doença tão complexa e, quando
compreendida, se torna fácil.
As glândulas paratireoides são derivadas da terceira e quarta bolsa fa-
ríngea. Grande parte dos indivíduos possuem 4 glândulas paratireoides,
ovais e amarelas, localizadas na face posterior dos lobos da glândula tire-
óide. Todavia, essa localização pode variar em algumas pessoas, podendo
ser encontradas desde a bifurcação da artéria carótida até o mediastino.
Tais glândulas são responsáveis pela regulação dos níveis de cálcio e de
fósforo através do hormônio produzido por elas, o paratormônio (PTH).
Dessa forma, como os paratireoides trabalham? Essas glândulas pos-
suem receptores sensíveis ao cálcio (CaSR) que reagem às quedas na con-
centração de cálcio iônico, estimulando a produção de PTH. Por outro lado,
o excesso de cálcio no organismo ativa os receptores CaSR, diminuindo a
liberação de paratormônio. A figura 1 sintetiza o metabolismo deste con-
trole fisiológico.
Ação do PTH Ação do PTH
sobre os sobre os rins
óssos
Paratireoides
Aumento da Redução de secreção de
reabsorção PTH pelas paratireoides
óssea
CÁLCIO SÉRICO
Rins
Ossos Aumento da
absorção instestinal Ação do calcitriol
de cácio e fósforo no intestino Conversão da vitamina
Intestino D para sua forma ativa
1,25 (OH)2 D
O PTH é um hormônio com várias ações. Nos rins, o PTH leva à di-
minuição da excreção urinária de cálcio (calciúria), ao aumento da ex-
creção de fósforo (fosfatúria), e induz a conversão da vitamina D para
a sua forma mais ativa, a 1,25-di-hidroxivitamina D ou calcitriol. Você
vai entender melhor no capítulo que aborda Vitamina D. Esta atua no
intestino aumentando a absorção de cálcio e fósforo. Nos ossos, o PTH
causa o aumento da reabsorção óssea (ação osteoclástica).
Chegando direto ao ponto, o hiperparatireoidismo primário (HPP)
é uma patologia caracterizada pela hipersecreção de PTH por uma ou
mais glândulas paratireoides, resultando em hipercalcemia e hipofosfa-
temia. Essa condição é relativamente comum e pode causar complica-
ções renais e esqueléticas principalmente. Atualmente, grande parte das
pessoas diagnosticadas com HPP apresentam a forma assintomática, ou
seja, com grau leve de hipercalcemia sem outras repercussões. O HPP é
a causa mais comum de hipercalcemia no ambiente ambulatorial e, em
geral, resulta de adenomas solitários ou de hiperplasia das paratireoides.
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
Exames Laboratoriais:
Cálcio total: valores de referência na tabela 1, lembrando que pode
variar de acordo com cada laboratório. Encontraremos hipercalcemia
no HPP (exceto na apresentação normocalcêmica). Noventa por cento
das hipercalcemias estão relacionadas ao HPP ou à malignidade. Ide-
almente, deve ser mensurado mais de uma vez (fatores pré-analíticos
e analíticos interferem). Conferir diagnóstico diferencial no quadro 1 e
fluxograma de investigação na figura 1.
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
320
Cálcio corrigido:
Cálcio Corrigido = Cálcio Total Medido + 0,8 × (4 -Albumina Medida)
Urina de 24 horas:
Cálcio e creatinina urinários: usados para avaliar a proporção en-
tre a depuração de cálcio e a de creatinina (DCa), diferenciando o HPP
(DCa > 0,01) da hipercalcemia hipocalciúrica familiar (HPF) (DCa < 0,01),
já que ambas as condições cursam com PTH elevado. Aqui surge uma
dúvida importante: Se o PTH aumenta a reabsorção de cálcio, por que
há hipercalcemia no HPP? Na verdade, em qualquer causa de hiper-
calcemia, haverá hipercalciúria por transbordamento, independente do
efeito do PTH.
Outros Exames:
Eletrocardiograma: a hipercalcemia pode causar encurtamento do
intervalo QT devido à redução do segmento ST.
Densitometria mineral óssea (DMO): solicitar, além do quadril e da
coluna lombar, avaliação do ⅓ distal do rádio. Este é o local de maior e
mais precoce reabsorção óssea.
Exames de imagem: suspeitando-se de HPP, é importante conhecer
a anatomia das glândulas paratireoides para avaliação pré-cirúrgica,
quando indicada. Estes exames também podem ajudar na identifica-
ção de glândulas ectópicas (pescoço ou mediastino, por exemplo) e em
casos de recidiva após a cirurgia. Recomenda-se a realização tanto da
cintilografia (com sestamibi marcado com tecnécio-99) quanto do ul-
trassom (US) cervical, pois juntos são mais sensíveis.
Tomografia computadorizada (TC) cervical: assim como US e cinti-
lografia, está indicada somente para avaliação pré-operatória, não para
o diagnóstico do hiperparatireoidismo.
Exame de imagem renal: US, TC ou raio X abdominal para avaliar
presença de nefrolitíase ou nefrocalcinose.
Testes genéticos em indivíduos selecionados: suspeita de síndro-
mes genéticas.
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
322
Deve-se: confirmar hipercalcemia (usar cálcio corrigido, repetir exame se necessário) e dosar PTH
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
Hiperparatireoidismo Primário
9. Prognóstico:
Capítulo 23
Hipoparatireoidismo
Yasmin Lima Santos
Jéssica Nascimento Monte
Eduardo Bardou Yunes Filho
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
ORLOFF, Lisa A.; WISEMAN, Sam M.; BERNET, Victor J.; et al. American Thyroid
Association Statement on Postoperative Hypoparathyroidism: Diagnosis,
Prevention, and Management in Adults. Thyroid, v. 28, n. 7, p. 830–841, 2018.
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
335
Capítulo 24
Vitamina D
André Luiz Loeser Corazza
Larissa Maria Faccin Blás
Rafael Vaz Machry
1. Introdução:
2. Metabolismo da vitamina D:
3. As funções da vitamina D:
Vitamina D e o intestino:
Vitamina D e os rins:
6. Deficiência de vitamina D:
Fisiopatologia:
Hiperparatireoidismo secundário:
Bem, já falamos disso no primeiro capítulo deste módulo. Mas va-
mos repetir aqui! Quando há falta de substrato para a 1 alfa-hidroxilase
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
342
Obesidade:
A vitamina D sendo uma molécula lipossolúvel é facilmente “seques-
trada” pelo tecido adiposo. Dessa forma, a obesidade está associada a uma
maior prevalência de deficiência de vitamina D pelo fato de o excesso de
gordura corporal reter a 25OHD, diminuindo a sua biodisponibilidade.
Pelo mesmo raciocínio podemos antever que em pacientes obesos
será necessário maiores doses de colecalciferol para repor os níveis sé-
ricos de vitamina D, devido a esse sequestro do tecido adiposo.
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
343
Idosos:
Vários fatores contribuem para a deficiência de vitamina D ser mais
prevalente na população idosa, dentre eles podemos citar:
Síntese cutânea de colecalciferol prejudicada, seja por baixas reser-
vas de 7-dehidrocolesterol, seja por baixa exposição solar.
Perda da função renal, o que pode contribuir para menor hidroxila-
ção renal da vitamina D.
Baixa ingesta de vitamina D.
Aumento da massa gorda.
Grávidas e lactantes:
Durante a gestação, sobretudo nos primeiros trimestres, o feto de-
senvolve a maioria dos seus sistemas e órgãos, entre eles, a matriz e
colágeno para o seu esqueleto. No último trimestre o feto passa a cal-
cificar o esqueleto, o que aumenta a demanda materna de cálcio. Essa
demanda é atendida sobretudo pelo aumento da produção de 1,25OHD
pelos rins da mãe e da placenta. A deficiência de vitamina D materna
está relacionada a alguns desfechos negativos como baixo peso ao nas-
cimento e o aumento de cesarianas.
Já nas lactantes, a mulher necessita de um aumento da eficiência na
absorção de cálcio da dieta, uma vez que necessita garantir adequados
níveis de cálcio no leite. Mais uma vez, a vitamina D tem papel crucial
nesse aumento de demanda de cálcio.
Como podemos observar tanto as gestantes como as lactantes são
populações de risco para hipovitaminose D e precisam de atenção es-
pecial quanto à necessidade de suplementação dessa vitamina.
Síndromes disabsortivas:
No caso das síndromes disabsortivas, como doença celíaca, doença
inflamatória intestinal e cirurgia bariátrica, podemos ter má absorção
intestinal da vitamina D3/D2. Com isso, a fonte dietética de vitamina D
fica prejudicada, podendo levar a um quadro de hipovitaminose D.
Quadro clínico:
Tratamento:
8. Leitura recomendada:
Capítulo 25
Osteoporose
Virgínia Vezzosi Fournier
André Luiz Loeser Corazza
Rafael Vaz Machry
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
I. Ativação:
O “gatilho” para que o remodelamento ocorra é a exposição da ma-
triz óssea, que pode ocorrer de duas maneiras distintas: por microtrau-
ma na região (que por si só leva à exposição) ou de forma fisiológica,
através da retração das células de revestimento ósseo e degradação
da membrana colágena por colagenases. A exposição da matriz atrai
células precursoras dos osteoclastos da circulação sanguínea. Os pre-
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
351
II. Reabsorção:
Ligados à matriz, os osteoclastos liberam fatores responsáveis pela
degradação dos componentes da matriz óssea (mineral e orgânica), sen-
do os principais responsáveis os íons H+ e diversos tipos de lisoenzimas.
A matriz mineral é dissolvida e a matriz orgânica é degradada, sendo o
processo auxiliado por macrófagos da região. O resultado é literalmen-
te um buraco microscópico no osso. Você não lembra, mas você já sabe
como se chama esse buraco! No osso cortical (aquele que tem a estrutura
Harvesiana organizada) esse “buraco” nada mais é do que o canal Harve-
siano (lembrou daquela estrutura bonitinha da aula de histologia?), em
formato cilíndrico. No osso trabecular, a ausência dessa estrutura com-
pacta encontrada no osso cortical gera uma cavidade irregular, chama-
da “lacuna de Howship”. Dica importante: você não precisa saber esses
nomes nem pra prova e nem pra vida. A formação dessa cavidade acaba
liberando diversos fatores de crescimento presentes na matriz. Esses fa-
tores são responsáveis pela quimiotaxia e pela ativação dos próximos
protagonistas do remodelamento: os osteoclastos.
III.Reversão:
Ao final da formação da cavidade realizada pelos osteoclastos, o “bu-
raco” já está repleto de novos soldados prontos para continuar o proces-
so. Os pré-osteoblastos são atraídos até o local, e são, então, ativados em
osteoblastos. Com o trabalho terminado, os osteoclastos se desprendem
da superfície óssea, dando espaço para os osteoblastos trabalharem.
Essa fase representa nada mais do que a transição entre reabsorção e
formação da matriz óssea.
IV. Formação:
Os osteoblastos, então, iniciam sua longa jornada de trabalho (a for-
mação completa da matriz pode levar mais de 1 ano, acredita?). A ma-
triz orgânica (que recebe o nome de osteoide), que é formada principal-
mente por fibras colágenas tipo I e proteoglicanos, é a primeira a ser
sintetizada e depositada sobre a cavidade. A matriz mineral, por sua
vez, é composta por sais de cálcio e fósforo. O principal cristal recebe o
nome chique de hidroxiapatita. A deposição da matriz mineral ocorre
em duas etapas, uma “imediatamente” após a deposição de osteoide e
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
352
outra que inicia 30 dias após, levando até mais de 100 dias no osso corti-
cal para a mineralização completa (no osso trabecular, por não ter uma
estrutura tão rígida, o processo é um pouco mais rápido). Essa é a fase
mais demorada do remodelamento.
V. Quiescência:
Osso novo pronto = osso pode descansar. A fase de quiescência nada
mais é do que o osso em descanso após o término do remodelamento.
Depois desse processo, um fator é determinante: a quantidade de osso
reabsorvido tem que ser exatamente igual à quantidade de osso novo
depositado, para que não haja um balanço negativo, certo? Certo! Va-
mos analisar o gráfico (figura 2).
Se você entendeu até aqui, agora você está pronto. Prepare-se para um
momento mindblowing da fisiologia.
A expressão das moléculas do RANK-L e da OPG sofre regulação hormo-
nal. Dentre muitos hormônios e fatores que fazem parte dessa regulação, al-
guns são muito importantes: os estrogênios, o paratormônio e os glicocorti-
coides. Os estrogênios atuam aumentando a expressão da osteoprotegina e
reduzindo a expressão do RANK-L, reduzindo a taxa de reabsorção pelos os-
teoclastos. Ou seja: é um hormônio osteoprotetor. Na menopausa, a falência
ovariana leva à queda dos níveis dos estrogênios, e o mecanismo osteoprote-
tor é perdido = aumento da atividade osteoclástica = aumento da reabsorção
= perda de massa óssea. Agora você entendeu com propriedade os principais
fatores de risco da osteoporose: mulheres na pós-menopausa.
O paratormônio (se você não lembra dele, sugiro que vá novamente ao
capítulo 22 sobre hiperparatireoidismo) e os glicocorticoides atuam de for-
ma semelhante entre si: ambos reduzem a expressão de osteoprotegerina e
aumentam a expressão do RANK-L, aumentando a taxa de reabsorção óssea.
Lembrando que o objetivo final do paratormônio é elevar o cálcio sérico, e,
portanto, essa característica faz todo sentido. Assim, tanto o hiperparatireoi-
dismo (por qualquer causa) quanto o hipercortisolismo são fatores de risco
para a osteoporose. Lembra que o processo de reabsorção é muito mais rá-
pido do que o processo de deposição de osso novo? Então, caso o controle
hormonal do remodelamento não esteja balanceado, os osteoblastos sofrem
para conseguir suprir a reabsorção.
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
T ≥-1: normal.
T entre -1 e -2,5: osteopenia.
T ≤ -2,5: osteoporose.
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
Feito o diagnóstico, vamos direto dar uma medicação pro nosso pa-
ciente, certo? Não! Antes de qualquer coisa, não podemos esquecer do
tratamento não farmacológico! Essa parte do tratamento é com frequ-
ência negligenciada pelos profissionais e pacientes, apesar da sua im-
portância. O incentivo à atividade física é uma das principais medidas,
já que a prática está relacionada com o aumento da massa óssea (lem-
bra que o osso gosta de carga e impacto?). Deve ser preconizada a reali-
zação de pelo menos 150 minutos por semana da atividade que for mais
prazerosa para o paciente, visando a manutenção no longo prazo. Não
só em relação à osteoporose, mas o abandono do etilismo e tabagismo
também merece atenção especial. A ingestão de quantidade adequada
de calorias e nutrientes deve ser incentivada, especialmente o cálcio -
alerta de polêmica nesse tópico, vamos entender melhor.
Tratamento farmacológico:
Além da abordagem não farmacológica, todos os pacientes com
osteoporose devem receber tratamento farmacológico. A primeira li-
nha de tratamento são os bisfosfonatos (BFs), medicações compro-
vadamente eficazes em reduzir o risco de fraturas em diversos sítios
(quadril, vértebras e outras). Eles funcionam como inibidores da ação
osteoclástica, induzindo a apoptose dessas células. Existem vários re-
presentantes dessa classe. O alendronato está disponível no SUS e tem
o benefício do uso 1x/semana, posologia mais confortável para o pa-
ciente. Os principais problemas dos bisfosfonatos estão relacionados
à intolerância gastroesofágica, que acarreta regras para o uso desses
medicamentos, com o risco de estenose de esôfago caso não sejam se-
guidas. Os BFs disponíveis via oral devem ser tomados em jejum, com
grande quantidade de água, e os pacientes não podem se deitar por 30
minutos após a ingesta. Efeito adverso raro (mas que seguidamente é
cobrado em provas de residência) é a osteonecrose de mandíbula. O uso
dos BFs é contraindicado em pacientes com TFG < 30 ml/min.
9. Prognóstico:
MERLIJN, T.; SWART, K.M.A.; VAN DER HORST, H.E.; et al. Fracture prevention
by screening for high fracture risk: a systematic review and meta-analysis.
Osteoporosis International, v. 31, n. 2, p. 251–257, 2020.
Capítulo 26
Raquitismo
Samira Mohamad Bjaige Collins
Mizaéli da Silva Rodrigues
André Luiz Loeser Corazza
Iuri Martin Goemann
1. Introdução:
2. Fisiopatologia:
3. Anamnese:
4. Exame físico:
Suturas amplas
Figura 3: Em (A) geno varo fisiológico: 0 a 18 meses e em (B) geno valgo fisiológico: 3 a 5 anos.
Adaptado de: SCHÜNKE, M. Prometheus, atlas de anatomia: anatomia geral e aparelho locomotor.
2ª Edição. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, 2013.
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
368
5. Exames complementares:
6. Diagnóstico:
Diagnóstico clínico:
Baixa estatura.
Diminuição da velocidade de crescimento.
Deformidades esqueléticas (principalmente em membros inferiores
devido à pressão em crianças deambulantes).
Atraso no fechamento das fontanelas.
Craniotabes.
Rosário raquítico.
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
369
No raquitismo hipofosfatêmico:
Abscesso dentário.
Alopecia, comum em pacientes com raquitismo dependente de vita-
mina D tipo II.
Diagnóstico laboratorial:
Você percebe sinais de raquitismo em seu paciente, qual o próximo
passo?
Inicialmente, será necessário solicitar exames laboratoriais para
dosagem de PTH, concentrações séricas de fósforo e cálcio, com o ob-
jetivo de determinar a classificação inicial de raquitismo. A partir dos
resultados, você deverá interpretar o tipo de raquitismo: calcipênico ou
fosfopênico e solicitar exames laboratoriais direcionados. Além disso,
é necessário analisar a dosagem da fosfatase alcalina sérica - geral-
mente encontra-se muito acima da referência para a idade – a fim de
acompanhar a evolução do raquitismo.
Diagnóstico diferencial:
O diagnóstico diferencial pesquisa as possíveis causas do raquitis-
mo ou patologias não relacionadas que tenham sintomatologia e acha-
dos à inspeção similares.
Em resumo:
Os exames laboratoriais que devem ser solicitados para excluir a hi-
pótese de raquitismo por doença renal ou hepática são creatinina e
enzimas hepáticas.
O TRP é útil para o diagnóstico das formas de raquitismo secundá-
rias à perda renal de fósforo.
Na qual,
Fração de Excreção de Fósforo=(Concentração de Fósforo Urinário×Con-
centração de Creatinina Plasmática)/(Concentração de Fósforo Plasmático
×Concentração de Creatinina Urinária)
7. Tratamento:
8. Prognóstico:
Tabela de resumo:
Holick MF, Binkley NC, Bischoff-Ferrari HA, Gordon CM, Hanley DA, Heaney
RP, et al. Evaluation, treatment, and prevention of vitamin D deficiency: an
Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab.
2011;96(7):1911-30.
UNIDADE 6. OSTEOMETABOLISMO
375
UNIDADE 7:
ENDOCRINOPEDIATRIA
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
376
Capítulo 27
1. Introdução:
O desenvolvimento sexual:
O cariótipo humano é formado por 46 cromossomos, sendo 22 pares
de cromossomos autossômicos e dois cromossomos sexuais, que podem
ser XX ou XY. O cromossomo Y normal carrega o gene SRY no seu bra-
ço curto, e este gene é responsável pela produção do fator determinan-
te testicular. Portanto, um indivíduo 46,XY com o gene SRY presente irá
diferenciar a sua gônada bipotencial em testículos. Uma outra situação
que pode ocorrer é a translocação do gene SRY para outro cromossomo
qualquer, culminando também na formação testicular. No indivíduo XX,
como não há gene SRY, ocorre a diferenciação gonadal com formação
dos ovários. Existem diversos outros genes que também foram relacio-
nados à diferenciação sexual, como por exemplo, os genes WT1, SF-1,
DMRT1, que possuem papel importante na determinação do sexo e po-
dem, quando danificados, causar alterações na organogênese da gônada
bipotencial. O gene SOX9 atua juntamente com o gene SRY na diferen-
ciação das células de Sertoli e no desenvolvimento testicular. Os genes
DAX1, WNT4 e SRPO1 foram relacionados à diferenciação ovariana e, em
casos de mutação, deleção ou duplicação, culminam em um distúrbio
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
377
Organogênese masculina:
O processo de diferenciação masculino inicia com a expressão do
gene SRY, que causa a ativação de outros genes e a formação testicular.
As células de suporte se tornam células pré-Sertoli e as células esteroi-
dogênicas viram células de Leydig. O gene SRY e o gene SOX9 são res-
ponsáveis por impedir o desenvolvimento ovariano.
Quando formadas, as células de Sertoli produzem o Hormônio Anti-
mulleriano (responsável por provocar a regressão dos ductos de Muller).
Já as células de Leydig - estimuladas pela gonadotrofina coriônica hu-
mana - produzem a testosterona, que é responsável por induzir a diferen-
ciação dos ductos de Wolff, e o fator-3 semelhante à insulina, que provo-
ca a descida dos testículos para o saco escrotal.
Entre a 8ª e a 12ª semana de gestação, inicia-se o processo de forma-
ção da genitália externa, quando a testosterona, produzida pelas células
de Leydig, é convertida em diidrotestosterona (DHT) por uma enzima
chamada 5α-redutase. A DHT é o hormônio responsável pela virilização
da genitália masculina. O tubérculo genital cresce para formar a glande
do pênis, as pregas urogenitais se unem para formar a uretra esponjosa
e as saliências labioescrotais se desenvolvem em bolsas escrotais e pre-
param o espaço para a descida dos testículos, como ilustrado na Figura 1.
Organogênese feminina:
A formação dos ovários inicia apenas a partir da 12ª semana de ges-
tação e depende da ausência dos fatores da diferenciação masculina, ou
seja, da ausência do SRY e do hormônio antimulleriano. Durante mui-
to tempo, acreditava-se que a diferenciação feminina era um processo
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
378
passivo, que ocorria apenas pela ausência dos fatores masculinos. Con-
tudo, diversos genes foram sequenciados e identificados como essen-
ciais para a formação ovariana, como por exemplo os genes DAX1, WNT4
e RSPO1, atuando de forma antagônica aos estímulos masculinos. Na or-
ganogênese feminina, as células de suporte se diferenciam em células
da granulosa e as células esteroidogênicas se tornam células da teca.
A formação da genitália externa feminina ocorre na presença de um
ovário (normal ou em fita) ou na ausência de gônadas. O ovário não pro-
duz hormônios durante o período fetal. Após a 12ª semana, a glândula
suprarrenal fetal produz sulfato de dehidroepiandrosterona (SDHEA), um
androgênio que é metabolizado em testosterona, que é então aromatiza-
da em estrogênio pela aromatase placentária. Na diferenciação femini-
na, o tubérculo genital gera o clitóris, a saliência labioescrotal forma os
grandes lábios e as pregas uretrais formam os pequenos lábios, como
ilustrado na Figura 1.
Membrana cloacal
Saliências labioescrotais
A
Pregas uretrais
Estágio indiferenciado
Falo primordial
Tubérculo genital
Membrana cloacal
B Membrana anal
Corpo cavernoso
Prepúcio Monte pubiano
Uretra esponjosa
Orifício uretral
externo
Clitóris
Corpo esponjoso
Escroto Comissura anterior
Rafe periana
Orifício uretral externo
(linha de fusão das pregas uretrais)
Orifício vaginal
G Rafe escrotal H
(linha de fusão das saliências labioescrotais)
Comissura labial externa
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia e Classificação:
Síndrome de Klinefelter:
A síndrome de Klinefelter (SK) é a principal causa de hipogonadis-
mo primário e infertilidade em homens. Nestes pacientes, o cariótipo
mais comum é 47,XXY, e a apresentação clínica cursa com alta esta-
tura, quadris largos, ginecomastia no final da puberdade, déficits neu-
rocognitivos, pelos corporais reduzidos, criptorquidia, hipogonadismo,
infertilidade e baixa testosterona sérica, com altos níveis de hormônio
luteinizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH). Essa síndro-
me está associada a maior ocorrência de diabetes, síndrome metabóli-
ca, osteoporose e tremores. As crianças podem apresentar dificuldades
na aprendizagem e no desenvolvimento da fala, além de micropênis.
Outras informações mais aprofundadas sobre essa síndrome estão
no capítulo 20 deste livro, que trata sobre Hipogonadismo masculino.
Vale a pena conferir.
Síndrome de Turner:
A síndrome de Turner é a anormalidade cromossômica mais co-
mum em mulheres, ocorrendo com uma incidência aproximada de
1:2500 nascidos vivos femininos. Nesta síndrome, ocorre uma haploin-
suficiência do cromossomo X (monossomia X), causada pela perda de
um cromossomo X ou parte dele. Cerca de 45% das pacientes portadoras
da síndrome de Turner possuem cariótipo 45,X, mas aproximadamente
50% das pacientes portadoras dessa síndrome possuem cariótipo em
mosaico (45,X/46,XX; 45,X/47,XXX ou variantes). Isso significa que,
nestas meninas, o erro genético ocorreu após a fecundação, na divisão
celular pós-zigótica. O fenótipo irá variar conforme os tecidos que fo-
ram acometidos, mas costuma ser mais leve nos mosaicismos do que
nas pacientes com monossomia completa.
As características mais comuns da síndrome de Turner são a baixa
estatura, baixa implantação das orelhas, pescoço curto e alado, tórax
alargado, quarto metacarpo curto e cúbito valgo (deformidade no co-
tovelo). Estas pacientes apresentam hipogonadismo primário e insufi-
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
381
DDS Ovotesticular:
DDS ovotesticular é o nome dado ao raro distúrbio de diferencia-
ção sexual no qual ocorre a formação de tecido testicular e ovariano
no mesmo indivíduo, seja em gônadas separadas (ovário de um lado e
testículo de outro) ou ambos os tecidos em uma mesma gônada (ovo-
testis). Antigamente era denominado ‘’hermafroditismo verdadeiro’’. O
cariótipo é variável, sendo mais comum o 46,XX (60%), seguido dos mo-
saicismos ou quimeras (46,XX/46,XY ou 45,X/46,XY) em 20% dos casos,
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
382
Hipotálamo
Testosterona
Produzida pelas as células
Atua sobre o hipotálamo e sobre de Sertoli, atua sobre a
FSH
a hipófise anterior para inibir a hipófise anterior para inibir
produção e liberação de LH LH a produção de FSH
Atua sobre as células
de Leydig para Inibina B
estimular a produção Testículo
de testosterona
4. Anamnese:
Ao nascimento:
Muitos casos serão de genitália ambígua descoberta no momento do
parto. A ambiguidade genital é uma emergência médica, principalmen-
te pelo risco de morte associado à insuficiência adrenal no caso de uma
HAC, mas também pela designação do sexo social. Pela complexidade
do tema, faz-se necessária uma abordagem multidisciplinar.
Sempre que houver a suspeita de um possível distúrbio da diferen-
ciação sexual, os cuidadores devem ser questionados sobre a realiza-
ção da rotina pré-natal, as medicações que utilizadas pela mãe durante
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
389
Na adolescência:
Nos adolescentes, a coleta da anamnese deve incluir todos os dados
perinatais comentados acima, acrescida do desenvolvimento dos ca-
racteres sexuais secundários esperados para a idade. Todos devem ser
questionados sobre o aparecimento de pelos pubianos, axilares, apa-
recimento de barba, engrossamento da voz, aumento do tamanho das
gônadas e do pênis ou clitóris, sobre a ocorrência de ereções e ejacula-
ções. Também deve ser perguntado se ocorreu sangramento vaginal ou
crescimento mamário.
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
Alterações cromossômicas:
Será pela realização do cariótipo conforme exposto na seção 4. Usu-
almente esses casos também cursam com gonadotrofinas elevadas.
DDS pós-gonadais:
Hiperandrogenismo gestacional:
O diagnóstico é feito principalmente pela anamnese e exame físi-
co. A mãe geralmente apresenta sinais de excesso desses hormônios,
como hirsutismo, clitoromegalia, engrossamento da voz e acne. Altera-
ções na ultrassonografia abdominal materna podem indicar a etiologia
da doença, como a presença de ovários policísticos ou luteoma.
Deficiência de aromatase:
O diagnóstico é feito a partir da anamnese, exame físico e exames
laboratoriais. A suspeita é reforçada nos casos de virilização materna
que cessa após o parto. Nos indivíduos 46,XY, as manifestações clínicas
costumam aparecer somente no período pós-puberal, com crescimento
linear exacerbado, ausência de estirão, osteopenia e hábito eunucoide,
devido ao atraso do fechamento das epífises, visto que o estrógeno é o
principal fator para maturação da idade óssea, tanto em homens quanto
mulheres. A investigação envolve radiografia de mãos e punhos (com
atraso da idade óssea), níveis plasmáticos de FSH (elevados na maioria
dos casos), de estradiol (muito baixos) e de testosterona (variável). A
avaliação clínica seleciona os indivíduos que devem realizar o estudo
genético (mutações no gene CYP19A1) para diagnóstico definitivo.
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
Capítulo 28
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
COLESTEROL
17-α-Hidroxilase 17-α-Hidroxilase
PREGNENOLONA 17 - α - hidroxilase pregnenolona DHEA DHEAS
Aromatase
DESOXICORTICOESTERONA Desoxicortisol Testosterona Estradiol
11-β-Hidroxilase 11-β-Hidroxilase
Aldosterona-sintetase
ALDOSTERONA
4. Manifestações clínicas:
Forma clássica:
5. Diagnóstico:
6. Exames complementares:
7. Tratamento:
Forma clássica:
O objetivo do tratamento, que deve ser feito de forma precoce e ao longo
de toda a vida do paciente, consiste em:
Repor as deficiências de glicocorticoides e mineralocorticoides, pre-
venindo crises adrenais e mantendo um volume plasmático ideal e o
equilíbrio fisiológico.
Atenuar os sinais e sintomas do hiperandrogenismo, permitindo o
crescimento e desenvolvimento normal do infante.
Genitália ambígua:
Recém-nascidos com genitália atípica sem gônadas palpáveis de-
vem ter eletrólitos monitorados a partir do terceiro dia de vida e, após
coleta dos exames basais, é possível acompanhar o paciente internado
com eletrólitos diários ou iniciar tratamento empírico para HAC. Para
saber mais sobre o assunto, você pode voltar ao capítulo anterior.
Alguns casos de virilização, como por exemplo uma clitoromegalia
sem demais alterações, a genitália pode normalizar somente com o tra-
tamento clínico.
Quando há uma alteração anatômica virilizante mais significativa,
essas pacientes são encaminhadas para centros especializados em re-
construção cirúrgica. A idade correta para a genitoplastia feminizante
é controversa e algumas literaturas citam que seja realizada antes dos
dois anos de idade, pois, quando o diagnóstico é tardio, há a necessi-
dade de avaliação psicológica para definição da identidade de gênero
antes da realização da cirurgia.
Caso a paciente não tenha sido submetida ao procedimento, um exa-
me para avaliar possível obstrução anatômica ao fluxo menstrual deve
ser realizado antes da puberdade.
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
410
Crises adrenais:
Você já sabe que devemos ficar extremamente atentos à possibilida-
de de uma crise adrenal nos primeiros dias de vida de um recém-nasci-
do. No entanto, essa crise também pode ser desencadeada por doenças
adjacentes, traumas e situações de estresse, caso não haja um reajuste
da dose da terapia habitual do paciente com HAC clássica.
Os objetivos iniciais são o tratamento da desidratação, da hipoten-
são e dos distúrbios eletrolíticos, além da correção do hipocortisolismo
e da possível hipoglicemia. Sugerimos fortemente que, se você ainda
não viu, leia (ou releia!) o item “crise adrenal” do capítulo 15, pois lá es-
tará explicado todo o manejo de uma crise adrenal, independentemente
da etiologia.
Caso tenhamos a suspeita da forma perdedora de sal ou a confirma-
ção de uma crise adrenal, o tratamento hospitalar deve ser feito com
urgência, com a infusão de bolus intravenoso (IV) de 10 a 20 ml/kg de
solução salina a 0,9%, além de doses de ataque de hidrocortisona admi-
nistradas por infusão IV contínua. Não se deve utilizar soro fisiológico
hipotônico, pois pode piorar a hiponatremia.
A hidrocortisona intravenosa em meio hospitalar pode ser infundida,
em bolus, da seguinte forma:
Lactentes e pré-escolares com até 3 anos: hidrocortisona 25 mg IV.
Escolares com idade entre 3 e 12 anos: hidrocortisona 50 mg IV.
Adolescentes com 12 anos ou mais: hidrocortisona 100 mg IV.
Após o bolus, essa dosagem torna-se a dose diária e deve ser admi-
nistrada por via intravenosa dividida a cada seis horas. Se durante a
evolução clínica o paciente apresentar melhora e aceitação normal da
dieta, as doses subsequentes poderão ser reduzidas para ½ e ¼, até a
dose usual por via oral, juntamente à alta hospitalar.
Como a hidrocortisona nessas dosagens também apresenta ação
mineralocorticoide, torna-se desnecessária a reposição mineralocorti-
coide, embora alguns hospitais iniciem fludrocortisona durante a redu-
ção para a dose de manutenção.
Pacientes portadores de HAC clássica que sofreram traumas, ou com
doenças associadas à febre, vômito e/ou diarreia acentuados, devem ter
a dose de glicocorticoide dobrada ou triplicada durante o quadro, se to-
lerarem medicação por via oral. Nesses casos, é primordial se atentar
ao risco de hipoglicemia. Caso o quadro clínico seja mais grave, com
desidratação significativa, a criança deve receber glicocorticoides in-
travenosos, conforme indicado acima na administração hospitalar de
hidrocortisona IV.
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
411
Adrenalectomia cirúrgica:
Em pacientes refratários, com hiperandrogenismo não controlado
ou que tiveram Síndrome de Cushing iatrogênica (vide capítulo 11), a
adrenalectomia pode ser considerada. Ela permite uma reposição de
glicocorticoides em doses mais baixas devido à redução dos níveis cir-
culantes de 17-OHP. Entretanto, a terapia com fludrocortisona perma-
nece necessária.
Alguns estudos citam um maior risco de crise adrenal após a cirurgia.
8. Prognóstico:
COLESTEROL
17-α-Hidroxilase 17-α-Hidroxilase
PREGNENOLONA 17 - α - hidroxilase pregnenolona DHEA DHEAS
Aromatase
DESOXICORTICOESTERONA Desoxicortisol Testosterona Estradiol
11-β-Hidroxilase 11-β-Hidroxilase
Aldosterona-sintetase
ALDOSTERONA
Deficiência de 17-alfa-hidroxilase:
Assim como ocorre nas outras formas de HAC há um acúmulo dos precur-
sores (neste caso são a pregnenolona e progesterona) que geram um desvio na
rota e aumentam a quantidade de desoxicorticosterona. Assim, devido ao efei-
to mineralocorticoide, os pacientes cursam com hipocalemia e hipertensão.
Como essa deficiência cursa com uma supressão leve dos níveis de glico-
corticoides, o que a diferencia da deficiência de 21-OH e de CYP11B1 consiste
na deficiência grave de esteroides sexuais, com consequente ambiguidade ge-
nital no sexo masculino.
A suspeita clínica e o diagnóstico geralmente ocorrem devido ao atraso do
desenvolvimento puberal em uma mulher, seja ela 46XX ou 46XY com fenó-
tipo feminino.
COLESTEROL
17-α-Hidroxilase 17-α-Hidroxilase
PREGNENOLONA 17 - α - hidroxilase pregnenolona DHEA DHEAS
Aromatase
DESOXICORTICOESTERONA Desoxicortisol Testosterona Estradiol
11-β-Hidroxilase 11-β-Hidroxilase
Aldosterona-sintetase
ALDOSTERONA
9. Tabela de resumo:
Definição Síndromes causadas por deficiências enzimáticas variadas no processo de
esteroidogênese adrenal.
Classificação Forma clássica: com deficiência glicocorticoide, diagnosticada ao nascimento,
mais agressiva e rara, pode ocasionar crise perdedora de sal devido à deficiência
mineralocorticoide. Subdividida em perdedora de sal ou virilizante simples se há
ou não deficiência de mineralocorticoide.
Forma não clássica: sem deficiência glicocorticoide, diagnosticada tardiamente,
mais branda e comum.
Manifestações Clínicas São dependentes da enzima acometida e do grau de deficiência enzimática.
Forma clássica:- deficiência de 21-OH: genitália externa ambígua em meninas,
recém-nascidos do sexo masculino podem apresentar hiperpigmentação da
bolsa escrotal ou falo aumentado. Além disso, hiponatremia, hipercalemia e
crise adrenal.
Capítulo 29
Baixa Estatura
Mariana Penteado Borges
Tanize Louize Milbradt
Tatiane de Campos
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
0 a 12 meses: 25 cm/ano.
1 a 2 anos: 12 cm/ano.
2 a 3 anos: 10 cm/ano.
4 a 8 anos: 5 a 7 cm/ano.
8 anos até puberdade: 5 cm/ano.
Hipotálamo
GnRH
Hipófise
Secreção pulsátil
GH
Fígado Crescimento
IGF-1
Ossos
Músculos
4. Diagnóstico:
Critérios diagnósticos:
O déficit de crescimento pode ser diagnosticado por vários critérios,
devendo-se atentar a estas situações.
Estatura de - 2 DP ou mais abaixo da média para idade e sexo ou
abaixo do percentil 3 (definição clássica de BE).
Estatura de - 1 DP da estatura-alvo familiar.
Velocidade de crescimento abaixo de - 2 DP para a idade cronológica
no último ano, ou abaixo de - 1,5 DP por mais de dois anos, na ausên-
cia de baixa estatura.
Previsão de estatura final abaixo de - 2 DP em relação à estatura-alvo.
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
420
5. Etiologia:
Displasias ósseas:
Causam BE desproporcional por defeitos intrínsecos no desenvolvi-
mento de ossos e cartilagens. Neste grupo se inclui a acondroplasia.
6. Anamnese:
7. Exame físico:
8. Exames complementares:
Exames laboratoriais:
Os exames laboratoriais são importantes para a investigação de do-
enças crônicas. Alguns dos mais solicitados são: hemograma comple-
to (para avaliar anemia); função renal com exame qualitativo de urina;
função hepática; velocidade de hemossedimentação (avaliação do perfil
inflamatório), TSH (para afastar hipotireoidismo), albumina e ferritina
(para avaliação do estado nutricional); cálcio total, fósforo e fosfatase al-
calina (para pesquisa de distúrbios do metabolismo ósseo) e vitamina D
(para afastar raquitismo).
Solicitar a dosagem de imunoglobulina IgA e de antitransglutami-
nase IgA para investigação de doença celíaca, em crianças com baixo
peso e baixa velocidade de crescimento, com ou sem alteração de hábi-
to intestinal.
Exames mais específicos, como IGF-1, proteína ligadora de IGF-1 (IG-
FBP3) e glicemia são solicitados para avaliar a ação do GH. Quando a
criança apresenta baixa velocidade de crescimento e/ou nível de IGF1
baixo ou normal baixo, na ausência de doenças crônicas, os testes de
estímulo para liberação do hormônio do crescimento são solicitados. Os
mais frequentemente realizados são o teste da clonidina (0,15 mg/m2, por
via oral, máximo de 0,25 mg) e o teste do glucagon (0,03 mg/kg, intrave-
noso, máximo de 1 mg).
Cariótipo:
O cariótipo deve ser solicitado para todas as meninas com baixa es-
tatura, independentemente da presença ou ausência de estigmas para
síndrome de Turner.
Exames de imagem:
A radiografia simples de mão e punho esquerdo em incidência ante-
roposterior (AP) para determinação da idade óssea (IO) é o principal exa-
me de imagem a ser solicitado para crianças com baixa estatura. Para
avaliar a IO, deve-se comparar a radiografia do paciente com o atlas de
idade óssea, disponível em folhetos e aplicativos de celular. O mais uti-
lizado é o Greulich-Pyle. Pela comparação, podemos estabelecer a idade
correspondente ao estágio de maturação óssea que a criança está e ob-
servar se há discrepância com a idade cronológica (IC). A IO auxilia na
predição da estatura final (PEF).
Pode haver uma variação fisiológica (desvio padrão) entre a IO e a IC,
variável conforme a idade e o sexo. Em geral, quando há uma variação
de mais de 12 meses para menos ou mais, estaremos diante de um atraso
e de avanço de idade óssea, respectivamente. O atraso de idade óssea
pode decorrer de um retardo constitucional de crescimento ou de uma
deficiência hormonal. Em crianças menores de 2 anos a avaliação da IO
é menos confiável.
Outro exame a ser solicitado, principalmente na suspeita de deficiên-
cia de GH ou pan-hipopituitarismo, é a ressonância nuclear magnética
(RNM) de sela túrcica. A partir desse método, podemos diagnosticar tu-
mores hipofisários, agenesia da hipófise e outras alterações.
9. Diagnósticos diferenciais:
DÉFICIT DE CRESCIMENTO
Evidência de desordem
Possível BE familiar
genética?
IO: atrasada
VC: normal
PEF: no alvo familiar
SIM NÃO
RCCP
10. Tratamento:
11. Prognóstico:
Epidemiologia 80% dos casos ocorrem por BE fisiológica: causa familiar e retardo
constitucional do crescimento e puberdade.
20% dos casos ocorrem por BE patológica, como doenças crônicas, doenças
endócrinas e síndromes genéticas.
Crescimento Normal 12 meses: 25 cm/ano
1 a 2 anos: 12 cm/ano
2 a 3 anos: 10 cm/ano
4 a 8 anos: 5 a 7 cm/ano
8 anos até a puberdade: 5 cm/ano
Puberdade: 8 a 12 cm/ano
Critérios Diagnósticos Estatura de - 2 DP ou mais abaixo da média para idade e sexo ou abaixo do
(déficit de crescimento) percentil 3 (definição clássica de BE).
Estatura de - 1 DP da estatura-alvo familiar.
Velocidade de crescimento abaixo de - 2 DP para a idade cronológica no
último ano, ou abaixo de - 1,5 DP por mais de dois anos, na ausência de baixa
estatura.
Previsão de estatura final abaixo de - 2 DP em relação à estatura-alvo.
Anamnese Idade em que os pais perceberam a BE; uso de medicações e doenças;
desenvolvimento neuropsicomotor, sono e alimentação; menarca e pubarca, se
paciente adolescente.
Dados de nascimento; complicações neonatais e durante a primeira infância;
doenças no primeiro ano de vida.
Intercorrências na gestação; uso de medicações na gravidez; história de uso de
álcool e tabagismo.
História familiar: altura dos pais; menarca da mãe e pubarca do pai; doenças
crônicas e genéticas na família.
Exame Físico Estado geral; hidratação e nutrição; fácies; ausculta cardíaca, respiratória e
exame abdominal.
Maturidade sexual (estágios de Tanner).
Peso; altura; perímetro cefálico; envergadura; relação segmento superior/
inferior; cálculo da velocidade de crescimento.
Estatura Alvo=(Altura da Mãe + Altura do Pai ∓+/-13)/2
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
430
Exames Laboratoriais:
Complementares Hemograma completo
Perfil hepático e renal
Ferritina e albumina
VHS
TSH e T4 livre
Fósforo e fosfatase alcalina
Imunoglobulina IgA e anti-transglutaminase IgA
Dosagem de IGF-1 e glicemia
Cariótipo: para todas as meninas
Imagem:
Rx de punho e mão esquerda em AP;
RNM de sela túrcica (se suspeita de deficiência de GH).
Tratamento Depende da causa de base.
Uso de somatotropina: deficiência de GH (DHG), síndrome de Turner,
Síndrome de Noonan, Síndrome de Prader-Willi, PIGs sem recuperação aos
2 ou 4 anos, doenças crônicas (insuficiência renal crônica), BE idiopática.
O SUS só fornece a suplementação de GH para pacientes com DHG e
síndrome de Turner.
Pode ser necessário acompanhamento multidisciplinar.
DAUBER A. Genetic Testing for the Child With Short Stature-Has the Time
Come To Change Our Diagnostic Paradigm? J Clin Endocrinol Metab, v.104, n.7,
p.2766-69, 2019.
FINKEN, M.J.J. et al. Children Born Small for Gestational Age: Differential
Diagnosis, Molecular Genetic Evaluation, and Implications. Endocrine Reviews,
v. 39, n. 6, p. 851-894, 2018.
Capítulo 30
Puberdade Precoce
Leonardo Rodrigues
Murilo Daminelli Favero
Virgínia Nascimento Reinert
Tatiane de Campos
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Classificação:
5. Etiologias:
Causas idiopáticas:
O desenvolvimento precoce central idiopático é uma importante
causa de PPC, principalmente entre o sexo feminino, sendo responsá-
vel por até 80 a 90% dos casos. Já no sexo masculino, a causa idiopáti-
ca corresponde a 30-40% dos casos, sendo necessário mais atenção às
causas orgânicas.
Mutações genéticas:
As mutações genéticas específicas têm sido cada vez mais associa-
das ao desenvolvimento de puberdade precoce, e estão, muitas vezes,
relacionadas às causas idiopáticas. Mutações que culminam em hipe-
rexpressão do gene da kisspeptina 1 (KISS1) e do seu receptor (KISS1R)
estão relacionadas à patogênese da doença.
Mutações que diminuem a expressão hipotalâmica do gene MKRN3,
e consequentemente, os níveis séricos da proteína MKRN3, estão rela-
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
436
Cistos ovarianos:
São a causa mais comum de PPP em mulheres. Nesses casos, o qua-
dro das pacientes geralmente é composto por crescimento das mamas
acompanhado de sangramento vaginal, haja vista a diminuição dos ní-
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
437
Tumores ovarianos:
Embora raros, também são causa de puberdade precoce periférica.
Dentre eles, o mais comum é o tumor de células da granulosa, que se
manifesta com precocidade isossexual. Por outro lado, existem tam-
bém os arrenoblastomas (tumores de células de Leydig ou Sertoli), ca-
pazes de produzir andrógenos e cursarem, portanto, com precocidade
heterossexual.
Testotoxicose:
É uma disfunção rara que ocorre devido à mutação envolvendo o
gene do receptor de LH, responsável pela maturação precoce das célu-
las de Leydig e consequente produção de testosterona. Assim como nos
tumores de células germinativas, tal distúrbio não acarreta puberdade
precoce nas mulheres, pois há necessidade da ativação dos receptores
de LH e FSH de forma concomitante.
Hipotireoidismo primário:
O hipotireoidismo primário de longa data em crianças está associa-
do à puberdade precoce tanto em meninos quanto em meninas. O me-
canismo proposto para tal associação está relacionado ao fato de que o
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
438
Patologias adrenais:
Incluem tumores secretores de andrógenos e defeitos enzimáticos
relacionados à síntese dos esteroides.
No sul e no sudeste do Brasil encontramos uma incidência maior de
carcinoma adrenal, muito relacionado a uma maior prevalência da Sín-
drome de Li Fraumeni, caracterizada por mutação no gene da proteína
p53. Dessa forma, quando temos quadros clínicos exagerados de adre-
narca, sem o desenvolvimento de mamas em meninas, podemos estar
diante de um câncer de adrenal (você pode encontrar mais sobre essa
patologia voltando ao capítulo 18 deste livro). Em meninos observam-se
sinais de virilização acentuados, como acne, pelos pubianos e aumento
peniano. Nos tumores adrenais, os níveis séricos de dehidroepiandros-
terona sulfato (SDHEA) estão bastante elevados.
Diferentemente dos tumores de célula de Leydig, por exemplo, quan-
do a causa é adrenal, os homens não cursam com aumento testicular
(volume < 4 mL ou diâmetro < 2,5 cm). Vale ressaltar que a causa mais
comum de virilização no sexo feminino é devido ao excesso de andró-
genos adrenais.
Síndrome de McCune-Albright:
Essa síndrome tem como tríade clássica manchas da pele “café-
-com-leite”, a displasia fibrosa óssea e a puberdade precoce. Os pa-
cientes possuem uma mutação no gene GNAS, que é responsável pela
codificação da proteína Gs, a qual ativa a adenilil-ciclase. Como conse-
quência, eles ficam suscetíveis a uma estimulação contínua da função
endócrina de algumas glândulas, podendo acarretar puberdade preco-
ce quando o estímulo for sobre as gônadas.
Como se trata de causa periférica de puberdade precoce, a sequên-
cia normal de desenvolvimento não necessariamente deve ser seguida,
podendo o sangramento vaginal acontecer antes do desenvolvimento
das mamas. No entanto, vale lembrar que quando suprimidos os níveis
excessivos de esteroides sexuais, o quadro pode migrar para uma pu-
berdade precoce central, com ativação do eixo hipotálamo-hipófise-go-
nadal e aumento das concentrações de gonadotrofinas.
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
439
Telarca precoce:
É definida pelo desenvolvimento isolado da mama, uni ou bilateral-
mente. Na maioria dos casos, está presente abaixo dos dois anos e a
remissão acontece espontaneamente. O desenvolvimento das mamas
é acompanhado de velocidade de crescimento adequada para a idade,
idade óssea normal e ausência de outras características sexuais se-
cundárias. O quadro tende a ser benigno e autolimitado, no entanto, o
acompanhamento desses casos, se faz necessário, pois, em 10 a 20% dos
casos, o aumento das mamas pode representar a apresentação inicial
de uma puberdade precoce central.
A telarca prematura pode ocorrer em dois picos distintos: durante os
dois primeiros anos de vida ou entre os seis e oito anos. Embora a fisio-
patologia seja potencialmente diferente em cada um dos picos, em am-
bos os mecanismos há ativação transitória do eixo hipotálamo-hipófi-
se-gonadal com secreção excessiva de FSH. As concentrações séricas
de LH e estradiol geralmente estão na faixa pré-púbere, mas deve-se
tomar cuidado ao interpretar esses níveis em crianças abaixo de dois
anos, já que níveis elevados nessa idade podem estar relacionados ao
episódio de minipuberdade transitória da infância.
Adrenarca prematura:
É caracterizada pelo aparecimento isolado de pelos pubianos e/ou
axilares, odor apócrino e/ou acne antes do desenvolvimento normal,
podendo estar associados a uma leve elevação dos níveis de SDHEA.
Ela pode ainda estar relacionada a uma leve aceleração da velocidade
de crescimento ou idade óssea avançada.
Esse tipo de distúrbio é mais comum no sexo feminino, em especial
em meninas negras ou hispânicas e/ou com resistência à insulina e
obesidade.
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
440
6. Anamnese:
7. Exame físico:
8. Exames complementares:
Testosterona sérica:
Concentrações elevadas de testosterona indicam produção testicu-
lar em meninos e exposição exógena ou produção adrenal em ambos
os sexos. Nos casos em que não se sabe a procedência da produção
excessiva de testosterona, testes adicionais devem ser solicitados
(SDHEA, por exemplo) para diferenciar as fontes adrenais das testi-
culares.
Quando as altas concentrações de testosterona estão associadas
a níveis suprimidos das gonadotrofinas, tem-se um possível caso de
PPP.
Estradiol sérico:
Semelhante à testosterona, altos valores de estradiol associados à
supressão de gonadotrofinas estão relacionados com puberdade pre-
coce periférica. Na avaliação da puberdade precoce central tem baixa
sensibilidade.
Esteroides adrenais:
São úteis na diferenciação entre puberdade precoce periférica e
adrenarca prematura isolada.
Na adrenarca prematura, as concentrações de SDHEA giram entre
40 e 135 mcg/dL e os níveis de testosterona estão menores ou iguais a
35 ng/dL. Enquanto isso, níveis elevados de SDHEA são sugestivos de
tumor adrenal.
A 17-hidroxiprogesterona (17-OHP) é um precursor de hormônios
adrenais e níveis superiores a 200 ng/dL são sugestivos de hiperplasia
adrenal congênita não clássica secundária à deficiência de 21-hidro-
xilase, mas necessitam de confirmação diagnóstica.
A gonadotrofina coriônica é dosada em homens para confirmar
ou afastar a possibilidade de tumor secretor de hCG. Porém, quando
o tumor está localizado no mediastino anterior, o cariótipo deve ser
solicitado a fim de investigar a presença da síndrome de Klinefelter.
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
446
Ultrassonografia pélvica:
Na puberdade precoce central, as meninas geralmente possuem
maior volume uterino e ovariano quando comparadas às com telarca
prematura. São considerados púberes o volume ovariano > 1,5 mL e
comprimento uterino > 3,4 cm. O exame também auxilia na identifi-
cação de um cisto ou tumor ovariano em mulheres com precocidade
periférica.
Ultrassonografia de testículos:
Utilizada em casos de assimetria testicular, pode indicar a presença
de um tumor de células de Leydig em meninos com precocidade peri-
férica.
9. Diagnóstico:
Menino com telarca isolada < 8 anos Menino com aumento testicular < 9 anos Meninas e meninos com sinais de viriização
LH, FSH, estradiol, TSH LH, FSH, TSH, testosterona, beta-HCG, RX IO 17OHP, SDHEA, testosterona total,
US pélvico, RX IO RNM encéfalo androstenediona, RX IO
< 6anos ou queixa de SNC: RNM encéfalo US testículo se assimetria
LH basal < 0,3 UI/L (ICMA) LH basal >0,3 UI/L (ICMA) ßHCG aumentado 17-OHP aumentada SDHEA aumentado
Telarca precoce ou
Tumores
PPP ou Solicitar TC
gonadais,
PPC inicial (teste com PPC Hiperplasia adrenal abdome (tumor
cerebrais, fígado
leuprorrelina conforme adrenal)
ou mediastino
demais exames)
10. Tratamento:
11. Prognóstico:
Capítulo 31
Puberdade Tardia
Cícero Toniolo
Laura Nilsson Vincensi
Thaís Gilioli
Jéssica Nascimento Monte
Nathaly Michaela Melo da Conceição
Bruno Schmidt Dellaméa
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
Hipogonadismo Hipogonadotrófico:
Nesses pacientes, a puberdade não inicia por volta dos 14 anos em
garotos e dos 13 em garotas, ou o amadurecimento puberal é incompleto
ou transitório. A altura é apropriada para a idade, mas devido aos níveis
baixos de esteroides gonadais (como o estradiol), não há fusão epifisária
na idade normal. Isso leva ao crescimento dos braços por mais tempo
e à redução da proporção superior/inferior, chamada de proporção cor-
poral eunucoide. Se não houver tratamento, o crescimento se prolonga,
resultando em altura final elevada.
Adolescentes que apresentaram ao nascer criptorquidia e micro-
pênis por deficiência de testosterona fetal têm maior probabilidade de
apresentar hipogonadismo hipogonadotrófico.
O hipogonadismo hipogonadotrófico pode ser transitório ou defini-
tivo. Fatores desencadeantes para o quadro transitório incluem dese-
quilíbrio nutricional ou bioquímico e estresse metabólico decorrente de
diferentes afecções crônicas, como anorexia nervosa, hemocromatose
ou endocrinopatias como hipotireoidismo, hipercortisolismo e hiper-
prolactinemia. Outros fatores relacionados são desnutrição por má ali-
mentação ou síndrome disabsortiva, exercícios extenuantes, abuso de
álcool e drogas como a maconha, além de amenorreia psicológica.
Quanto ao quadro definitivo, algumas etiologias que podem ser ci-
tadas são: tumores do sistema nervoso central (SNC); malformações
congênitas; radioterapia do SNC; processos inflamatórios; lesões vas-
UNIDADE 7. ENDOCRINOPEDRIATRIA
454
Hipogonadismo Hipergonadotrófico:
Os indivíduos apresentam alturas normais nos anos iniciais ou mé-
dios da adolescência, por isso, as alterações não costumam ser detec-
tadas até a idade esperada para a puberdade. A síndrome de Turner,
explicada anteriormente no capítulo 20, é a causa mais comum de hi-
pogonadismo hipergonadotrófico no sexo feminino. Já no sexo mas-
culino, a síndrome de Klinefelter, explicada no capítulo 21, constitui a
etiologia mais comum.
Na tabela abaixo, listamos algumas características clínicas suges-
tivas e alguns diagnósticos ou etiologias diferenciais relacionadas à
puberdade tardia.
5. Exame físico:
Alguns dos itens que você precisa avaliar são altura, peso e pro-
porções, como envergadura e segmentos corporais. No exame geral
sistemático, deve-se examinar a tireoide e atentar para a presença de
estigmas sugestivos de síndromes genéticas (citados acima), além de
observar odor androgênico e pelos axilares.
O estadiamento e a maturação sexual são avaliados de acordo com
os critérios de Tanner e Marshall, que incluem a avaliação do desenvol-
vimento das mamas, testículos e pelos pubianos. Para melhor entender
esses critérios, confira no capítulo de puberdade precoce todos os deta-
lhes dessa análise clínica.
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
Hipogonadismo
VC* normal para estágio pré-puberal VC reduzida hipergonadotrófico
Anosmia ou hiposmia
RNM com lesão expansiva Olfato e RNM normais
Ausência de bulbo olfatório
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
Nos casos em que o paciente tem outras causas além do ACCP, é es-
sencial que o diagnóstico e o manejo sejam feitos de forma precoce.
Além disso, não podemos esquecer que o atraso puberal pode levar a
um impacto psicológico importante durante o desenvolvimento, cau-
sando estresse emocional, social e escolar.
KLEIN, David A.; EMERICK, Jill E.; SYLVESTER, Jillian; et al. Disorders of Puberty:
An Approach to Diagnosis and Management. American Family Physician, v. 96,
n. 9, p. 590–599, 2017.
UNIDADE 8:
URGÊNCIAS E
EMERGÊNCIAS EM
ENDOCRINOLOGIA
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
462
Capítulo 32
Emergências Hiperglicêmicas
Tanize Louize Milbradt
André Luiz Loeser Corazza
Larissa Maria Faccin Blás
Thizá Massaia Londero Gai
1. Introdução
2. Epidemiologia:
3. Causas precipitantes:
por CAD. Assim, é preciso ter maior atenção nos pacientes diabéticos
que fazem uso dessa classe de fármacos hipoglicemiantes.
Além disso, o uso de outras medicações também pode desencadear
crises hiperglicêmicas; é o caso dos glicocorticóides, beta-bloqueado-
res, diuréticos tiazídicos, alguns agentes quimioterápicos e antipsicóti-
cos atípicos, como a olanzapina e a risperidona.
Em relação ao EHH, especificamente, os fatores precipitantes mais
comuns são de origem infecciosa, com destaque para infecções de tra-
to urinário e pneumonias. Em muitos casos, o desencadeador pode ser
uma condição aguda, como infarto agudo do miocárdio, acidente vas-
cular encefálico e traumas.
É importante destacar que a causa motivadora da crise hiperglicê-
mica é desconhecida em 2 a 5% dos casos.
4. Fisiopatologia:
HORMÔNIOS
CONTRARREGULARES
GLUCAGON
CATECOLAMINAS
CORTISOL
GH
INSULINA
Fisiopatologia do EHH:
Os mecanismos fisiopatológicos do EHH diferem da CAD no que diz
respeito ao grau de desidratação, bem como pela ausência de cetonemia
significativa, conforme destacado na figura 2. Mas como isso ocorre?
No EHH, o déficit insulínico não é tão grande como na CAD, e a insu-
lina circulante ainda é capaz de suprimir a cetose, já que se sabe que ela
inibe a lipólise (isto é, evita a quebra de triglicerídeos em AGL e, conse-
quentemente, evita a oxidação em corpos cetônicos). Apesar disso, esse
“pouco” de insulina circulante não consegue suprimir a gliconeogênese
hepática e também não é suficiente para favorecer a captura de toda a
glicose nos tecidos periféricos, tendo em vista que neles já há uma im-
portante resistência à ação da insulina. Assim, apesar da ausência ou da
pouca cetose, há um quadro significativo de hiperglicemia (com níveis
superiores aos encontrados na CAD), com osmolalidade sérica elevada,
o que ocasiona a diurese osmótica e, posteriormente, quadros graves de
desidratação. Nesse sentido, pacientes diabéticos que possuem maior
risco de desidratação, como idosos ou indivíduos com acesso restrito
à água, podem ter propensão ao desenvolvimento de EHH, já que, se o
paciente não bebe água, o plasma fica muito hipertônico, favorecendo
todo o processo já descrito.
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
467
Lipólise
Utilização
Ácidos da glicose Gliconeogênese Glicogenólise
graxos livres
AUSÊNCIA DE CETOGÊNESE
HIPERGLICEMIA
EHH
CAD
Figura 2: Representação esquemática do mecanismo fisiopatológico da
Cetoacidose diabética (CAD) e do Estado Hiperosmolar Hiperglicêmico (EHH).
Elaborado pelo autor. Adaptado de Diabetic ketoacidosis and hyperosmolar hyperglycemic state.
Freitas-Foss Mc & Foss MC. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 389-393, abril/dez. 2003.
5. Anamnese:
O paciente com EHH, por sua vez, apresenta um quadro mais insidio-
so, que evolui ao longo de dias a semanas. Os sintomas são semelhantes
aos da CAD, exceto pelos quadros de dor abdominal e outros sintomas
relacionados à cetoacidose. A característica mais marcante aqui é a
desidratação grave e o rebaixamento no nível de consciência. Assim,
os pacientes possuem sintomatologia neurológica proeminente, já que
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
468
6. Exame físico:
7. Exames complementares:
Potássio: a maior parte dos pacientes com CAD e EHH possuem dé-
ficit de potássio corporal (5 a 10 mEq/kg). Já a concentração sérica do
íon pode ser normal, alta ou baixa. A diminuição do potássio total se
deve à perda urinária do íon e aos vômitos, quando presentes. Já a hi-
percalemia que pode ocorrer nesses pacientes se deve ao fato de que há
o deslocamento do potássio do meio intracelular para o extracelular,
conforme demonstrado na figura 3. Isso ocorre devido à saída de água
e eletrólitos do interior das células em resposta ao efeito osmótico da
hiperglicemia, bem como em virtude da acidose metabólica e proteó-
lise. Além disso, a falta de insulina diminui a entrada do íon potássio
nas células, o que provoca o seu acúmulo no meio extracelular. A rei-
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
471
A B
HIPERGLICEMIA VIGENTE
HIPERGLICEMIA
INTRACELULAR
DIURESE OSMÓTICA
EXTRACELULAR
SAÍDA DO POTÁSSIO (K) DO
INTRACELULAR PÁRA O EXTRACELULAR
HIPERGLICEMIA VIGENTE
INSULINO TERAPIA
INTRACELULAR
C EXTRACELULAR
8. Diagnóstico:
TRÍADE DE
CETOACIDOSE
BICARBONATO
< 15 mEq/L
9. Tratamento:
Hidrataçã o:
É a primeira ação que deve ser instituída na suspeita de CAD e EHH.
Com ela, objetiva-se expandir o volume intravascular, restaurar a perfu-
são renal e reduzir a resistência insulínica, por meio da diminuição dos
níveis de hormônios contrarreguladores circulantes.
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
475
Dosagem de potássio:
Mas e a insulinoterapia? Calma! Antes de iniciar a insulina, é im-
prescindível que o potássio seja dosado.
Caso a dosagem de potássio sérico seja menor que 5,2 mEq/L, é re-
comendada a reposição de 20 a 30 mEq de K a cada litro de solução de
hidratação.
Se o potássio inicial for < 3,3 mEq/L, NÃO se deve iniciar insulina!
Como explicado anteriormente, a acidose metabólica e a insulinopenia
fazem com que o potássio saia de dentro da célula e vá para o meio ex-
tracelular. Assim, há depleção do potássio corporal total (por causa da
desidratação), mas o potássio sérico pode estar elevado. A insulinotera-
pia, no entanto, promove o movimento do potássio de volta para dentro
da célula. Assim, se o paciente já chega com uma hipocalemia impor-
tante (dosagem de potássio < 3,3 mEq/L), caso seja administrada insu-
lina, haverá intensificação desse movimento de retorno, ocasionando
uma hipocalemia severa, o que aumenta o risco de arritmias cardíacas
e pode ser fatal.
Insulinoterapia:
Depois de ter certeza de que o nível sérico de potássio é, no mínimo,
≥ 3,3 mEq/L, é hora de administrar a insulina! Com ela será possível
corrigir a hiperglicemia, inibir a lipólise, a cetogênese e a secreção de
glucagon, melhorando, assim, a cetoacidose.
Em quadros de EHH e CAD moderada a grave, a infusão endovenosa
recomendada é de 0,14 UI/kg/h de insulina regular ou a administração
de bolus de 0,1 UI/kg seguida de infusão de 0,1 UI/kg/h. A vazão pode
ser reduzida para 0,02 a 0,05 UI/Kg/h quando for iniciado SG 5% (quando
glicemia < 200 mg/dL e < 300 mg/dL na CAD e EHH, respectivamente). A
meta é uma redução de 50 a 75 mg/dL/h da glicemia.
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
476
10. Prognóstico:
Capítulo 33
Emergências Tireoidianas
Pietra Fischer Pascoal
Rafael Fortes Locateli
Thizá Massaia Londero Gai
COMA MIXEDEMATOSO
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
Patologia de base:
Pode ser tanto o hipotireoidismo primário quanto o central. A maio-
ria, cerca de 85%, é decorrente do hipotireoidismo primário, pois é a
causa mais prevalente da diminuição do hormônio tireoidiano. Entre
os hipotireoidismos primários, vale destacar: 1) tireoidite autoimune
crônica, porque seu curso é insidioso e pode ser subdiagnosticado; 2)
hipotireoidismo pós-cirúrgico ou pós-ablativo, que evolui de forma
mais rápida sem o tratamento hormonal adequado; 3) hipotireoidismo
decorrente do uso crônico de drogas, como amiodarona e lítio.
Mecanismos neurovasculares:
São eles: bradicardia, diminuição do débito cardíaco e vasoconstri-
ção periférica.
Fatores precipitantes:
Certas condições podem romper o equilíbrio no hipotireoidismo gra-
ve ao diminuir o volume sanguíneo e alterar tanto a hematose, quan-
to o controle ventilatório. Os gatilhos mais frequentes são, em ordem:
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
482
HIPOTIREOIDISMO
Fator precipitante
T4
T3 INTRACELULAR
Termogênese Inotropismo
Bradicardia
Insuficiência respiratória
COMA
MIXEDEMATOSO
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
Hormônios tireoidianos:
Devemos administrar o quanto antes. A terapia requer monitoriza-
ção cardíaca contínua e redução da dose do hormônio caso haja altera-
ções isquêmicas ou arritmias. O uso correto de hormônios tireoidianos é
capaz de reverter anormalidades cardíacas e hiponatremia decorrentes
do CM. Há controvérsias no que tange à reposição desses hormônios:
incerteza quanto às doses empregadas inicialmente e se os pacientes
devem ser tratados com levotiroxina (T4) isolada, liotironina (T3) isola-
da ou T3 e T4 combinados.
Por que essas controvérsias? Precisamos lembrar que T3 é o hormô-
nio biologicamente ativo, ou seja, é ele que age nos tecidos. Seu efeito
é mais rápido, mais potente e consegue atravessar a barreira hemato-
encefálica. Além disso, no CM há diminuição da 5’-deiodinase tipo I,
enzima que permite conversão de T4 em T3. Então por que não é con-
senso usar T3? Ele tem meia-vida curta, concentração sérica flutuante
e aumenta risco para eventos cardiovasculares e óbito, principalmente
em idosos e cardiopatas. No Brasil, a ANVISA não aprova nenhuma for-
mulação de T3, então esse hormônio só é disponível manipulado, cuja
procedência é incerta.
Terapia combinada:
Dose de ataque: 200 a 300 μg de T4 com 10 μg de T3, em bolus lento.
Manutenção: T4 50 a 100 μg/dia + T3 10 μg a cada 8 a 12 horas, IV. VO
com 50 a 100 T4 μg/dia.
Glicocorticoides:
Administrar depois da coleta dos níveis basais de cortisol, até que a
possibilidade de insuficiência adrenal coexistente seja excluída (ver ca-
pítulo 15) ou haja melhora clínica.
Os glicocorticoides devem ser utilizados em doses de estresse (hidro-
cortisona IV, dose de ataque de 100 a 200 mg, depois 25 a 50 mg de 6 em
6 horas).
A justificativa desse tratamento é que pacientes com hipotireoidismo
primário autoimune podem ter insuficiência adrenal primária conco-
mitante e pacientes com hipotireoidismo central podem ter hipopitui-
tarismo além da insuficiência adrenal secundária. Ademais, no hipoti-
reoidismo grave há uma resposta alterada do cortisol diante do estresse
e, também, a rápida restauração da taxa metabólica pode precipitar um
quadro de insuficiência adrenal transitória.
Medidas de suporte:
É necessária muitas vezes a internação do paciente em Unidade de
Terapia Intensiva (UTI).
Suporte ventilatório com gasometria regular nas primeiras 48h.
_ Cuidado! A infiltração mixedematosa da faringe dificulta o manejo
de vias aéreas. A depressão do sistema respiratório pode durar de
três a seis meses após o tratamento do hipotireoidismo e o paciente
com consciência rebaixada tem maior risco de broncoaspiração.
Solução salina hipertônica se houver hiponatremia grave. Se hipona-
tremia leve (> 120 mEq/L), a reposição de levotiroxina já é suficiente
para reverter o quadro.
_ Cuidado! Evitar a administração de líquidos IV hipotônicos, pois a
perfusão renal reduzida e a secreção inapropriada de vasopressina
aumentam a possibilidade de retenção de água.
Monitorar drogas e evitar sedativos, uma vez que o metabolismo da
maioria das medicações fica prejudicado.
Controlar hipoglicemia (administração de glicose IV, se necessário).
A hipotensão, em geral, será corrigida pela terapia com hormônio ti-
reoidiano e reposição de volume. Se houver hipotensão grave ou re-
fratária a fluidos, administrar vasopressor (noradrenalina).
Correção de hipotermia: o mais indicado é o reaquecimento passivo
com cobertor, pois o reaquecimento ativo acarreta o risco de vasodi-
latação e, em decorrência disso, pode precipitar uma hipotensão re-
fratária. Se não houver melhora da hipotermia em 48 horas, deve-se
considerar tratamento mais agressivo com hormônios da tireoide, in-
clusive com inclusão de T3.
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
491
Alta hospitalar:
A melhora clínica e bioquímica costuma ser evidente em uma se-
mana e deve ser avaliada ao longo de três parâmetros: estado de cons-
ciência, função cardíaca e função pulmonar. É muito importante frisar
que depois da alta o paciente tem que fazer uso contínuo de levotiroxina
a fim de evitar outro CM.
9. Prognóstico:
COMA MIXEDEMATOSO
O que é Emergência. Níveis baixos de hormônios tireoidianos.
Epidemiologia Rara, mas com alta mortalidade
Fisiopatologia Decorre de hipotireoidismo descompensado por um fator precipitante
Fatores precipitantes Abandono de reposição hormonal
Infecções
IAM
AVC
Exposição prolongada ao frio
Anamnese História ou sintomas de hipotireoidismo
Abandono de reposição de levotiroxina
Ablação da tireoide ou tireoidectomia prévia
Exame físico Bradicardia
Rebaixamento nível de consciência
Mixedema
Hipercapnia
6 “hipo’s”: hipotermia, hipotensão, hipoventilação, hipoglicemia, hiporreflexia,
hiponatremia
Exames laboratoriais •Creatinina
Dosagem do cortisol
ECG
Ecocardiograma e peptídeo natriurético cerebral
Eletrólitos
Enzimas musculares
Gasometria
Glicemia
Hemograma
Hormônios tireoidianos
Perfil lipídico
Radiografia de tórax
Outros exames de acordo com fator precipitante
Diagnóstico Clínica e baixos níveis de hormônios tireoidianos
OBS: Não esperar exames para início de terapia se alta suspeição
Diagnósticos Doença do eutireoidiano doente
diferenciais Intoxicação
AVC
Tratamento Hormônios tireoidianos T4 ou T3 e T4 – preferencialmente IV
Dose de ataque e de manutenção
Glicocorticoides Até descartar insuficiência adrenal
Terapia de suporte Ventilação
Manejo da hipotermia
Reposição volêmica
Tratamento fator precipitante
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
493
CRISE TIREOTÓXICA
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
Patologia de base:
Pode ser um hipertireoidismo já diagnosticado ou não. A etiologia
mais comum é a doença de Graves, mas outras situações de tireotoxi-
cose endógena, como bócio multinodular tóxico e adenoma tóxico da
tireoide, podem ser responsáveis.
Fatores precipitantes/desencadeadores:
Descontinuação do medicamento antitireoidiano e infecção são os
principais.
Cirurgias (de tireoide ou não) são um fator mais raro atualmente.
Trauma, cetoacidose diabética, infarto agudo do miocárdio, aciden-
te vascular cerebral, isquemia mesentérica, transtornos psicóticos,
IC, toxemia gravídica, parto, terapia com radioiodo (raro), queima-
duras, excesso de hormônio tireoidiano exógeno, excesso de iodo
(contraste iodado ou sobrecarga de ingestão de iodo) e medicações
como amiodarona, anestésicos e salicilatos também podem ser fa-
tores desencadeadores.
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
496
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
Variáveis Pontos
Termorregulação 37,2 – 37,7°C 5
37,8 - 38,2°C 10
38,3 – 38,8°C 15
38,9 – 39,3°C 20
39,4 – 39,9°C 25
40°C 30
Efeitos no SNC Ausente 0
Leves: agitação 10
Moderados: delirium, psicose, letargia intensa 20
Graves: convulsão, coma 30
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
499
8. Tratamento:
Terapia de suporte:
Assegurar via aérea e status cardiovascular.
A necessidade de fluidos intravenosos depende da evolução do
quadro e das comorbidades do paciente - a maioria vai necessitar
reposição volêmica, mas deve ser cautelosa para não deixarmos o
paciente ainda mais hipervolêmico.
Corrigir distúrbios eletrolíticos (ex. hipercalcemia).
Drogas vasoativas podem ser utilizadas para controlar hipotensão.
A saturação e o nível de consciência determinarão a necessidade de
oxigenioterapia ou ventilação mecânica.
A correção da hiperpirexia deve ser precoce e agressiva com mantas
de resfriamento (resfriamento passivo) e antitérmicos (dipirona ou
paracetamol - não usar aspirina, pois esta pode interferir na proteí-
na de ligação da tireoide e, assim, aumentar as concentrações séri-
cas de T4 e T3 livre).
Monitorar glicemia.
A busca e o tratamento de fator precipitante devem ser feitos assim
que possível.
No controle de IC e arritmias, deve-se ser criterioso no uso de diuréti-
cos e digitálicos - se não for IC grave, controlar a frequência cardíaca
com um betabloqueador pode ser suficiente. Avaliar necessidade de
anticoagulante, principalmente se houver fibrilação atrial.
Estratégias terapêuticas:
Existem cinco passos estratégicos específicos no tratamento de CT
que, embora sem estudos prospectivos, são utilizados no manejo, são eles:
Betabloqueador:
Deve ser iniciado após as medidas de suporte iniciais. Controla o au-
mento do tônus adrenérgico (melhora sudorese, pressão arterial, tremor,
arritmias, taquicardia e ansiedade), diminui a longo prazo a conversão pe-
riférica de T4 e T3 e ajuda a diminuir metabolismo acelerado das drogas.
Propranolol: 60 a 80 mg a cada 4 horas via oral/nasogástrica ou 0,5
a 1 mg por 10 minutos, seguida de 1 a 2 mg em 10 a 15 minutos por
via endovenosa. Normalmente é a escolha inicial, porque, em dose
alta, inibe a desiodase tipo 1, reduzindo os níveis séricos de T3. A do-
sagem deve ser controlada pela frequência cardíaca e pela pressão
arterial. Cuidar hipotensão e agravamento da IC preexistente.
Esmolol: dose de ataque de 500 mcg/kg durante um minuto, seguida
por 50 a 100 mcg/kg/minuto. Por ser um betabloqueador de curta
ação permite titulação rápida e minimiza as reações adversas.
Atenolol ou metoprolol: betabloqueadores cardiosseletivos para pa-
cientes com doença reativa das vias aéreas (asma ou doença pulmo-
nar obstrutiva crônica). O metoprolol IV é utilizado na dose de 5 a 10
mg a cada 4 horas.
Diltiazem ou verapamil: podem ser usados como alternativa em pa-
cientes com contraindicação ao uso de betabloqueadores, pois são
bloqueadores de canais de cálcio. A dose de ataque do diltiazem IV
de 0,25 mg/kg por 2 minutos, e a manutenção é feita com infusão de
10 mg/min. Se optarmos pela via oral, a dose de diltiazem é de 60 a
90 mg a cada 6 a 8 horas.
Antitireoidiano:
Bloqueiam a síntese do hormônio tireoidiano dentro de uma a duas
horas após a administração. No entanto, eles não têm efeito na libera-
ção do hormônio pré-formado da glândula tireoide. As tionamidas são
a classe utilizada.
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
502
Soluções de iodo:
Bloqueiam secreção de hormônio tireoidiano pré-formado e, em al-
tas doses, podem diminuir a taxa de síntese também. Como a etiologia
da tireotoxicose é normalmente desconhecida na admissão, temos que
administrar a solução de iodo pelo menos uma hora após a adminis-
tração da primeira dose de tionamida, para evitar que o iodo seja usado
como substrato para a síntese de novos hormônios em pacientes com
adenoma tóxico ou bócio multinodular tóxico. As doses orais são:
Solução de iodeto-iodo de potássio (Lugol): 10 gotas (6,25 mg de io-
deto/iodo por gota [0,05 mL]), 3 vezes ao dia. Diluir e ingerir com ali-
mentos: mesmo que geralmente bem tolerado, há relatos de lesão
local da mucosa duodenal ou esofágica e hemorragia.
_ O lugol é estéril, então pode ser adicionado diretamente aos flui-
dos intravenosos ou administrado via retal.
Iodeto de potássio supersaturado (SSKI): 5 gotas (50 mg de iodeto/
gota [0,05mL]) a cada 6 horas.
Agentes de contraste iodados (pouco disponíveis): são inibidores
potentes da conversão de T4 em T3 e bloqueiam a ligação de T3 a
seu receptor e a liberação do hormônio tireoidiano. Há poucos dados
publicados sobre sua eficácia na CT, embora já preconizados na pre-
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
503
Glicocorticoides:
Reduzem conversão de T4 em T3, promovem estabilidade vasomo-
tora, diminuem liberação de hormônios tireoidianos, possivelmente
reduzem o processo autoimune na doença de Graves e tratam insufi-
ciência adrenal (hipocortisolismo) relativa possivelmente associada à
CT. Hidrocortisona 100 mg IV a cada oito horas (ou dexametasona 2 mg
a cada 6 horas) deve ser iniciada. Recomendado por especialistas, em-
bora associado à hiperglicemia e necessidade de insulinoterapia, sem
mudança na mortalidade.
Outras terapias:
Plasmaférese: utilizada quando a terapia tradicional não tem suces-
so no preparo de pacientes com tempestade tireoidiana para cirurgia.
Remove citocinas, anticorpos e hormônios tireoidianos do plasma.
Lítio: bloqueia agudamente a liberação do hormônio tireoidiano, po-
rém a toxicidade renal e neurológica limitam sua utilidade. Indicado
para pacientes com contraindicação aos antitireoidianos ou alérgicos a
iodo. Dose de 300 mg a cada 6 horas por via oral. Deve-se fazer controle
sérico para evitar intoxicação.
Tratamento dos fatores precipitantes: a conduta depende exclusiva-
mente do fator. Não existe indicação de antibioticoterapia empírica. De-
ve-se, portanto, administrar antibiótico de acordo com culturas e sus-
peição. Medicamentos desencadeadores devem ser cessados. Quando
o fator precipitante for cirurgia, traumas ou o próprio hipertireoidismo
não tratado, controla-se a clínica e depois é feito o reajuste do tratamen-
to do hipertireoidismo.
Seguimento:
Assim que as condições clínicas do paciente melhorarem, a terapia
com iodo deve ser interrompida, os glicocorticoides podem ser redu-
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
504
9. Prognóstico:
CRISE TIREOTÓXICA
O que é Uma emergência com clínica exacerbada de tireotoxicose pela
hipersecreção aguda de T4 e T3, resultando em um estado hipermetabólico
com resposta adrenérgica excessiva.
Epidemiologia Rara, atinge mais mulheres em torno da 4ª década de vida.
Fisiopatologia Binômio hipertireoidismo – fator desencadeante.
Fatores desencadeantes Descontinuação do medicamento antitireoidiano
Infecção
Anamnese Cirurgias prévias
Exposição a iodo
Medicamentos de uso contínuo
Uso de drogas
Comorbidades
Exame físico Taquicardia, hiperpirexia, disfunção do sistema nervoso central, bócio,
tremores, diaforese, palpitações, fadiga, perda de peso, sopro na tireóide,
dispneia, oftalmopatias, edema de membros inferiores, sintomas
gastrointestinais, esplenomegalia, ginecomastia, anorexia, eritemas
palmares, hiperreflexia, alargamento da pressão de pulso, convulsões e
arritmia cardíaca.
Exames laboratoriais Teste de função tireoidiana
Eletrólitos
Glicemia
Função renal e hepática
Hemograma
Culturas
TRAb ou determinação da captação de radioiodo
Diagnóstico Clínico. Podemos usar as escalas BWPS ou JTA
Tratamento Terapia de suporte (ventilação, fluidos, mantas térmicas)
Betabloqueador
Antitireoidiano
Soluções de iodo
Glicocorticoide
Sequestradores de ácidos biliares
Tratamento do fator precipitante (ATB?)
Terapia definitiva (ablação, tireoidectomia ou antitireoidiano a longo prazo)
Prognóstico Mortalidade entre 16-30%.
Fatores relacionados: idade, quadro na admissão, necessidade de terapia de
suporte mais agressiva, comorbidades e atraso no início da terapia.
UNIDADE 8. URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS EM ENDOCRINOLOGIA
506
POKHREL, B.; AIMAN, W.; BHUSAL, K. Thyroid Storm. In: StatPearls. Treasure
Island (FL): StatPearls Publishing, 2021.
UNIDADE 9:
OUTROS TEMAS
RELEVANTES
UNIDADE 9. OUTROS TEMAS RELEVANTES
508
Capítulo 34
Obesidade
Igor Reis Pereira
Eduardo Holshbach Cantarelli
Milene Moehlecke
1. Introdução:
Apesar de, por muitas vezes, ser vista como um problema decorrente
de escolhas pessoais do paciente, a obesidade é reconhecida mundial-
mente como uma doença e, portanto, capaz de gerar impactos negati-
vos sobre a saúde do indivíduo. Sabemos que o excesso de peso está as-
sociado a maior morbimortalidade e a obesidade é uma doença crônica
com aumento da prevalência em todas as faixas etárias e, por isso, pode
ser classificada como uma epidemia mundial. Além disso, a obesida-
de está associada ao desenvolvimento de uma série de outras doenças
crônicas, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão
arterial, além de diversos tipos de cânceres. Portanto, devemos nos
atentar aos sinais e à investigação da obesidade na prática clínica, sen-
do o cálculo do índice de massa corporal (IMC) associado à medida da
circunferência abdominal, ferramentas importantes a serem utilizadas
em consulta médica.
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
A Es
Hipotálamo utontímu Grelina PYY Leptina/Insulina
ôm lo
ico
Tronco Cerebral
Estímulo
Autonômico
Aferente
Insulina
Grelina
Leptina PYY
CCK
Adiponectina GLP-1
Estômago
Pâncreas
Intestino
Tecido Adiposo
Ingestão alimentar
Perda de peso
HIPOTÁLAMO
ADIPÓCITOS
Ganho de peso
Leptina Ingestão alimentar
Gasto energético
IMC ≥ 40 kg/m².
6. Exames complementares:
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
9. Prognóstico:
Qual o papel da leptina na perda de peso? A redução de tecido adiposo leva à redução da leptina
circulante, hormônio com efeitos anorexígenos.
Quais são os agentes estimuladores da fome? Grelina e neuropeptídeo Y
Qual o risco de desenvolvimento Se apenas um dos pais tem obesidade, o risco é 3 a 4 vezes
de obesidade na prole de pais com maior comparado a pais sem a doença. Se ambos os pais
obesidade? tiverem obesidade, o risco é aproximadamente 10 vezes maior
O que é obesidade severa? Definida por um IMC ≥ 40 kg/m²
Como o tabagismo pode interferir A cessação do tabagismo pode levar a um ganho de peso
no peso corporal? variável devido à ausência dos efeitos ativadores da nicotina
em neurônios que agem diminuindo a ingestão de alimentos
Quais os parâmetros utilizados na IMC e circunferência abdominal
avaliação do paciente?
Quais exames devem ser pedidos no Devemos solicitar exames que avaliem o perfil metabólico
momento do diagnóstico de obesidade? e o risco de desenvolvimento de comorbidades: glicemia de
jejum, HbA1c, TSH, enzimas hepáticas e perfil lipídico
Qual a meta de perda de peso estimada 3 a 7%
com mudanças de hábitos de vida?
Quais terapias podem ser acrescentadas Terapia medicamentosa, inserção de dispositivos
quando as mudanças no estilo de vida intragástricos e cirurgia bariátrica.
não forem suficientes?
Qual a indicação de cirurgia bariátrica? Falha com o manejo conservador (dieta, exercícios e ou
medicamentos), por um período mínimo de 2 anos, ou IMC ≥
50 kg/m².
Qual o impacto da cirurgia bariátrica A cirurgia bariátrica é o tratamento mais efetivo no longo prazo
sobre a perda de peso? para controle do peso em pacientes com obesidade severa.
UNIDADE 9. OUTROS TEMAS RELEVANTES
523
Deurenberg P, Yap M, van Staveren WA. Body mass index and percent body fat:
a meta analysis among different ethnic groups. Int J Obes Relat Metab Disord
1998; 22:1164.
Razak F, Anand SS, Shannon H, et al. Defining obesity cut points in a multiethnic
population. Circulation 2007; 115:2111.
Tsai AG, Wadden TA. In the clinic: obesity. Ann Intern Med 2013; 159:ITC3.
Bray GA, Frühbeck G, Ryan DH, Wilding JP. Management of obesity. Lancet
2016; 387:1947.
UNIDADE 9. OUTROS TEMAS RELEVANTES
524
Capítulo 35
Dislipidemia
Rafael Fortes Locateli
Nathaly Michaela Melo da Conceição
Thizá Massaia Londero Gai
1. Introdução:
2. Epidemiologia:
3. Fisiopatologia:
4. Anamnese:
5. Exame físico:
6. Exames complementares:
LDL=(colesterol total-HDL)-(TG/5)
7. Diagnóstico:
8. Tratamento:
Tratamento medicamentoso:
Estatinas: inibidores da HMG-CoA redutase. São eficazes na redução
da mortalidade cardiovascular, redução do LDL em 15 a 55%, redução do
TG em 7 a 28% e aumento do HDL em 2 a 10%. Podem interromper ou
diminuir a progressão da aterosclerose, além de diminuir o volume das
placas mais instáveis e inflamadas. São utilizadas preferencialmente
à noite, 1 vez por dia. Efeitos adversos são raros (os musculares são os
mais comuns e podem surgir de semanas a anos após o tratamento,
variando de mialgia a rabdomiólise e hepatite).
UNIDADE 9. OUTROS TEMAS RELEVANTES
533
Em pacientes com LDL < 40, devemos manter o uso de estatinas caso
estas não causem efeitos colaterais ou reduzir a dose pela metade, na
presença de tais efeitos.
A intolerância às estatinas pode acontecer e cursar com mialgia, fa-
diga e câimbras. Ocorre em 10 a 25% dos pacientes. Nesses casos, algu-
mas medidas devem ser tomadas, dentre elas, devemos nos atentar a:
Dosar TSH, vitamina D e CPK
Tentar pelo menos 2 tipos diferentes e dar preferência para Pravas-
tatina, Lovastatina, Fluvastatina, Rosuvastatina e Pitavastatina,
pois essas têm menos toxicidade muscular.
Diminuir a dose da estatina atual e associá-la com Ezetimiba 10mg/dia.
UNIDADE 9. OUTROS TEMAS RELEVANTES
534
9. Prognóstico:
Capítulo 36
1. Introdução:
2. Diagnóstico:
3. Homem transexual:
Efeitos Adversos
Alguns efeitos adversos podem ser observados, apesar da seguran-
ça da terapia para a maioria dos pacientes. Dentre eles, há registros de
sangramento menstrual persistente, caso em que poderemos aumentar
a dose de testosterona, associar uma progestina oral ou associar um
agonista do GnRH.
Em relação à fertilidade, o uso de doses fisiológicas de hormônio li-
mita o potencial fértil do paciente e esse potencial pode ser revertido
com diminuição da dose ou interrupção da terapia. A conversa com o
paciente sobre coleta e congelamento de óvulos é importante. Apesar
do alto custo, essa é uma possibilidade de manter o potencial fértil mes-
mo com a terapia hormonal. Após cirurgias de retirada de gônadas a
infertilidade se torna permanente.
4. Mulher transexual:
Efeitos A dversos
Tromboembolismo venoso: estudos demonstraram um risco au-
mentado de desenvolvimento de tromboembolismo venoso (TEV) em
pacientes que faziam uso de etinilestradiol. Quando se comparou com
o uso de outras formulações de estrogênio, o risco existiu, mas houve
uma relação com outros fatores, como imobilização, tabagismo e dis-
túrbios da coagulação. Esse risco tende a aumentar com o tempo de
terapia. Além disso, há indicação de suspender a administração de es-
tradiol cerca de duas a quatro semanas antes de cirurgias de grande
porte, que requerem imobilização pós-operatória, com retorno da tera-
pia quatro semanas após o início da mobilização da paciente. O rastreio
para trombofilias não é recomendado, já que a incidência é parecida
com a da população geral, mas quando se diagnostica, devemos admi-
nistrar anticoagulantes caso a opção seja continuar o uso do hormônio.
O estrogênio pode causar elevações significativas de triglicerídeos
e deve ser evitado nos indivíduos com hipertrigliceridemia familiar. O
rastreio para essa condição deve ser feito antes do início da terapia e o
acompanhamento do perfil lipídico realizado em toda consulta.
Alguns relatos mostraram desenvolvimento de hiperprolactinemia,
principalmente em indivíduos que faziam uso de etinilestradiol e ace-
tato de ciproterona. Há uma sugestão de dosagem prolactina sérica.
Caso os valores encontrados estejam elevados e não diminuam com
a redução da dose de estrógeno, indica-se a realização de ressonância
magnética para excluir a possibilidade de prolactinoma.
UNIDADE 9. OUTROS TEMAS RELEVANTES
545
Rastreamento de câncer:
Em mulheres transexuais o rastreamento para câncer de mama e de
câncer de próstata devem ser realizados periodicamente, em perío-
do semelhante a pessoas cisgênero, assim como a avaliação de risco
para tromboembolismo venoso.
Em homens trans as avaliações específicas se relacionam ao câncer
de mama e para câncer cervical, na presença dos mesmos.
UNIDADE 9. OUTROS TEMAS RELEVANTES
547
6. Tabela de resumo:
Quais os critérios diagnósticos para definir Incongruência persistente entre a identidade de gênero e
incongruência de gênero? o gênero designado ao nascer, na ausência de transtornos
mentais confundidores.
Quais os critérios utilizados para iniciar a Presença de incongruência de gênero persistente e
terapia hormonal? documentada, capacidade do paciente em tomar decisões
e resolução de questões médicas ou mentais.
Como é feita a terapia hormonal no homem Utilizando testosterona e repondo a níveis séricos
trans? fisiológicos.
Como é feita a terapia hormonal na mulher Utilizando estrógeno, repondo a níveis séricos fisiológico,
trans? associado ao uso de antiandrogênicos.
Quanto tempo demora para se obter os O tempo de início e de efeito máximo para os efeitos
efeitos físicos da terapia hormonal? esperados da terapia hormonal variam e dependem de
cada efeito.
Como é feito o acompanhamento do O intervalo entre as consultas é semelhante para homens
paciente transexual? e mulheres trans. No primeiro ano, as consultas são feitas
a cada 3 meses e a partir disso, a reavaliação do paciente
ocorre de uma a duas vezes por ano.
7. Leitura recomendada:
Cícero Toniolo
Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Eduarda Ruch
Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Graziela Risseti
Médica graduada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com Residência Médica
em Medicina Interna e em Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal de
Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFSCPA). Mestre em Patologia: Processo Saúde e Doença
pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFSCPA). Professora do
Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Leonardo Rodrigues
Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Milene Moehlecke
Médica graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com
Residência Médica em Medicina Interna e em Endocrinologia e Metabologia pelo
Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Doutora em Endocrinologia e Metabologia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora do Curso de Medicina
da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA).
Tatiane de Campos
Médica graduada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com Residência
Médica em Pediatria pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e em Endocrinologia
Pediátrica pelo Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG). Mestre em Ciências Médicas:
Endocrinologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora do
Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Thaís Gilioli
Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade de Caxias do Sul (UCS).