Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Nomeação de Inventariante - em Busca de Critérios (Mazzei e Deborah)
Nomeação de Inventariante - em Busca de Critérios (Mazzei e Deborah)
Revista Nacional de
Direito de Família e Sucessões
Ano VII – Nº 41
Mar-Abr 2021
Classificação Qualis/Capes: B4
Editor
Fábio Paixão
Coordenador
Mário Luiz Delgado
Conselho Científico
Álvaro Villaça Azevedo
Águida Arruda Barbosa
Cibele Pinheiro Marçal Tucci
Débora Brandão
Débora Gozzo
Fernanda Tartuce
Gilberto Fachetti Silvestre
Jones Figueirêdo Alves
Luis Felipe Salomão
Marília Xavier
Paula Victor (Portugal)
Rodolfo Pamplona Filho
Rodrigo Toscano de Brito
Rui Portanova
Ursula Basset (Argentina)
A responsabilidade quanto aos conceitos emitidos nos artigos publicados é de seus autores.
As íntegras dos acórdãos aqui publicadas correspondem aos seus originais, obtidos junto ao
órgão competente do respectivo Tribunal.
A editoração eletrônica foi realizada pela LexMagister, para uma tiragem de 5.000 exemplares.
v. 41 (mar./abr. 2021)
ISSN 2358-3223
CDU 347.6(05)
CDU 347.65(05)
LEXMAGISTER
Diretor: Fábio Paixão.
Comissão de Estudos de Direito de Família e das Sucessões: Águida Arruda Barbosa, Álvaro Villaça Azevedo, Caetano Lagrasta,
Carolina Scatena do Valle, Cassio Sabbagh Namur, Cibele Pinheiro Marçal Tucci, Clarissa Bernardo, Cláudia Stein Vieira, Débora
Brandão, Débora Gozzo, Fernanda Tartuce, Flávio Murilo Tartuce Silva, Gabriele Tusa, Jones Figueirêdo Alves, José Fernando Simão,
Marco Antonio Fanucchi, Maria Fernanda Vaiano S. Chammas, Mário Luiz Delgado, Natalia Imparato, Renata Mei Hsu Guimarães,
Renata Silva Ferrara, Silvano Andrade do Bonfim, Valeria Lagrasta Luchiari.
Opinião Legal
1. Alimentos: os Principais Julgamentos Ocorridos no Segundo Semestre
do Ano de 2020 no Superior Tribunal de Justiça
Leonardo de Faria Beraldo e Taisa Maria Macena de Lima...................................... 160
Jurisprudência
1. Superior Tribunal de Justiça – Habeas Corpus. Execução. Prisão Civil por
Alimentos. Regime de Cumprimento da Prisão Civil do Devedor de
Alimentos Durante a Pandemia Causada pelo Coronavírus Após a Perda
de Eficácia do Art. 15 da Lei nº 14.010/2020. Imediato Cumprimento
da Prisão em Regime Fechado. Impossibilidade. Substituição da
Prisão em Regime Fechado pelo Regime Domiciliar ou Diferimento
do Cumprimento em Regime Fechado. Impossibilidade de Fixação
Apriorística e Rígida do Regime sem Considerar as Circunstâncias
Específicas de Cada Hipótese. Escolha a Critério do Credor dos
Alimentos que, em Tese, Poderá Indicar a Medida Potencialmente
mais Eficaz Diante das Especificidades da Causa e do Devedor. Adoção
pelo Juiz, de Ofício ou a Requerimento, de Outras Medidas Indutivas,
Coercitivas, Mandamentais ou Sub-Rogatórias, Inclusive Cumulativas
ou Combinadas. Possibilidade
Relª Minª Nancy Andrighi..................................................................................... 170
2. Superior Tribunal de Justiça – Ação de Extinção de Condomínio
c/c Cobrança de Aluguéis. Direito Real de Habitação. Companheira
Supérstite. Negativa de Prestação Jurisdicional. Não Configuração.
Extinção de Condomínio e Alienação de Imóvel Comum. Inviabilidade.
Aluguéis. Descabimento. Julgamento: CPC/2015
Relª Minª Nancy Andrighi..................................................................................... 176
3. Tribunal de Justiça do Distrito Federal – Recurso Adesivo. Arbitramento
de Aluguel. Direito Real de Habitação. Cônjuge Sobrevivente.
Imóvel Destinado à Residência. Outros Imóveis de Natureza Diversa.
Possibilidade. Ressalva para Constituição de Nova Família. Lei nº
9.278/96. Termo Inicial. Citação
Rel. Des. Mario-Zam Belmiro................................................................................ 187
4. Turma Recursal Cível dos Juizados Especiais Cíveis do Rio Grande do
Sul – Ação de Reparação de Danos. Envio de Mensagens Ofensivas e
Perturbadoras por Celular e e-Mail de Forma Anônima Durante Longo
Período de Tempo
Rel. Juiz Cleber Augusto Tonial.............................................................................. 198
Doutrina
Introdução
O presente trabalho tem como foco principal efetuar a análise do texto
do art. 617 do Código de Processo Civil atual (CPC/2015) e busca trazer
contribuição efetiva acerca de tema nervoso que envolve o inventário causa
mortis, qual seja a nomeação judicial do protagonista da inventariança.
Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 – Doutrina
8
1 “Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem: I – o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que
estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste; II – o herdeiro que se achar na posse e na administração
do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser nomeados; III – qual-
quer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do espólio; IV – o herdeiro menor, por seu
representante legal; V – o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a herança
estiver distribuída em legados; VI – o cessionário do herdeiro ou do legatário; VII – o inventariante judicial, se houver;
VIII – pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial. Parágrafo único. O inventariante, intimado
da nomeação, prestará, dentro de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente desempenhar a função.”
2 A redação original do CPC/73 era a seguinte: “Art. 990. O juiz nomeará inventariante: I – o cônjuge sobrevivente
casado sob o regime de comunhão, desde que estivesse convivendo com outro ao tempo da morte deste; II – o
herdeiro que se achar na posse ou administração do espólio, se não houver cônjuge supérstite ou este não puder ser
nomeado; III – qualquer herdeiro, nenhum estando na posse e administração do espólio; IV – o testamenteiro, se lhe
foi confiada a administração do espólio ou toda a herança estiver distribuída em legados; V – o inventariante judicial,
se houver; VI – pessoa estranha idônea, onde não houver inventariante judicial. Parágrafo único. O inventariante,
intimado da nomeação, prestará, dentro de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente desempenhar o car-
go”. Por meio da Lei nº 12.195/2010, alteraram-se os incisos I e II do art. 990, que passaram a ostentar os seguintes
textos, respectivamente: “I – o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro
ao tempo da morte deste; II – o herdeiro que se achar na posse e administração do espólio, se não houver cônjuge
ou companheiro sobrevivente ou estes não puderem ser nomeados”.
3 O texto original sobre a nomeação do inventariante no CPC/1939 era o seguinte: “Art. 469. A nomeação de inventariante
recairá: I – no cônjuge sobrevivente, quando de comunhão o regime do casamento, salvo si, sendo a mulher, não estivesse
convivendo com o marido ao tempo da morte deste; II – no herdeiro que se achar na posse e administração dos bens, na
falta de cônjuge sobrevivente ou quando este não puder ser nomeado; III – no herdeiro mais idôneo, si nenhum estiver
na posse dos bens; IV – no testamenteiro, quando não houver cônjuge ou herdeiro, ou quando o testador lhe conceder
a posse e a administração da herança por não haver cônjuge ou herdeiro necessário; V – em pessoa estranha, idônea, na
falta de cônjuge, herdeiro ou testamenteiro, onde não houver inventariante judicial”. O referido texto sofreu alteração
na década de 1960, por meio da Lei nº 4.121/62, passando a ter a seguinte redação: “Art. 469. A nomeação de inventa-
riante recairá: I – No cônjuge sobrevivente quando da comunhão o regime do casamento, salvo se, sendo a mulher não
estivesse, por culpa sua, convivendo com o marido ao tempo da morte dêste; II – No herdeiro que se acha, na posse
de administração dos bens, na falta de cônjuge sobrevivente ou quando êste não puder ser nomeado; III – No herdeiro
mais idôneo, se nenhum estiver na posse dos bens; IV – No testamenteiro quando não houver cônjuge ou herdeiro,
ou quando o testador lhe conceder a posse e a administração da herança por não haver cônjuge ou herdeiro necessário;
V – Em pessoa estranha na falta de cônjuge, herdeiro ou testamenteiro onde não houver inventariante judicial”.
4 O texto inicial do CC/1916 era o seguinte: “Art. 1.579. Ao cônjuge sobrevivente, no casamento por comunhão de
bens, cabe continuar, até a partilha, na posse da herança, com cargo de cabeça do casal. § 1º Se, porém, o cônjuge
sobrevivo for a mulher, será mister, para isso, que estivesse vivendo com o marido, ao tempo de sua morte. § 2º Na
falta de cônjuge sobrevivente, a nomeação de inventariante recairá no co-herdeiro que se achar na posse corporal e
na administração dos bens. Entre co-herdeiros, a preferência se graduará pela idoneidade. § 3º Na falta de cônjuge
ou de herdeiros, será inventariante o testamenteiro”. A redação em voga foi alterada pela Lei nº 4.121/62, inserindo-
se nova redação, a saber: “Art. 1.579. Ao cônjuge sobrevivente, celebrado sôbre regime da comunhão de bens cabe
continuar até a partilha na posse da herança com o cargo de cabeça do casal. § 1º Se porém o cônjuge sobrevivo fôr
a mulher, será mister, para isso que estivesse vivendo com o marido ao tempo de sua morte, salvo prova de que essa
convivência se tornou impossível sem culpa dela. § 2º Na falta de cônjuge sobrevivente, a nomeação de inventariante,
recairá no co-herdeiro que se achar na posse corporal e na administração dos bens. Entre co-herdeiros a preferência
se graduará pela idoneidade. § 3º Na falta de cônjuge ou de herdeiro, será inventariante o testamenteiro”.
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 9
5 Próximo: ARAÚJO, Luciano Vianna. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 539-925. Coord. Cassio Scarpinella
Bueno. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 2. p. 191.
6 As regras de partilha do inventário podem ser aplicadas para dar fim a toda forma de condomínio. No sentido, o art.
731 do CPC/2015, parágrafo único, faz alusão aos arts. 647-658 do mesmo diploma, para os casos de cônjuges não
acordarem sobre a partilha dos bens.
7 A leitura quanto ao teor das primeiras declarações (art. 626 do CPC/2015) demonstra que a primeira tarefa do inven-
tariante está em dimensionar o condomínio hereditário, com a identificação dos seus condôminos (e interessados),
assim como a massa de bens que é formada.
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 11
dem ter se formado, já que é ilusório pensar que no modelo atual do direito
sucessório, haverá sempre apenas relação condominial unitária8.
Avaliado o patrimônio e confrontado às obrigações que vinculam o
espólio, será feita a liquidação, dando-se fim ao “grande condomínio” for-
mado com a abertura da sucessão, procedimento este que admitirá variações
de desfecho.
As premissas trazidas permitem absorver as nuances sobre os efeitos da
sucessão e as funções que serão exercidas pelo inventariante. Fica evidenciado,
portanto, que a titularidade da herança será dos herdeiros, mas o inventariante
que será o administrador pela direção do patrimônio até que seja individu-
alizado9, processo este que não é simples e passará por diversas fases. Por tal
passo, diante do feixe de atribuições que lhe são dirigidas, é natural que as
funções do inventariante devam ser exercidas de forma transparente, fato que
reclama não apenas a necessidade de prestação de contas, mas da busca de
consenso junto aos interessados, o que reclamará a oitiva constante destes10.
Diante desse quadro, a inexistência de conflito de interesses é um dos pon-
tos nervosos na escolha do inventariante, pois é perfeitamente normal que
as pessoas indicadas no rol do art. 617 tenham que lidar com os “interesses
condominiais” em confronto aos seus interesses pessoais. Tirando-se como
exemplo a arrecadação, o cônjuge/companheiro sobrevivente (se nomeado
inventariante – art. 617, I) terá que definir se determinado bem está na titula-
ridade pessoal (bem particular) ou se foi alcançado pela comunhão patrimonial
em vida com o falecido, sendo que a opção levada a cabo poderá diminuir a
massa patrimonial do espólio. Em outra ilustração, o herdeiro (art. 617, II)
que recebeu doação em vida terá que efetuar a colação, procedimento este
que também afeta seu direito individual e o monte hereditário, não apenas em
relação à colocação do bem dentro ou fora do espectro do espólio, mas também
8 No sentido, em exemplificação, quando a abertura da sucessão contiver descendentes diretos do falecido e a presença
de cônjuge/companheiro sobrevivente que contraiu o regime da comunhão parcial com o falecido (art. 1.829, I, do
CC/02), será necessária a análise sobre a possível formação de dois blocos patrimoniais distintos, a saber: (a) bens
particulares e (b) bens em comunhão. Na ilustração, em relação aos bens em comunhão o cônjuge/companheiro
sobrevivente não terá tratado como herdeiro, estando fora da relação condominial gerada pelos arts. 1.784 e 1.791
do CC/02, mas não deixa de ser tratado como condômino patrimonial, diante da colagem externa da meação ao
condomínio hereditário. De forma diversa, em relação aos bens particulares, forma-se condomínio único, pois
em tal bloco o cônjuge/companheiro sobrevivente é tratado como herdeiro. Sobre a dinâmica formação de blocos
patrimoniais distintos, confira-se: MAZZEI, Rodrigo. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 610 a 673. Coord.
José Roberto Ferreira Gouvêa, Luis Guilherme Bondioli e José Francisco Naves da Fonseca. São Paulo: Saraiva, no
prelo. v. XXII.
9 No sentido: GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. São
Paulo: Saraiva, 2017. p. 1.444-1.445.
10 É fundamental que o contraditório seja pleno no inventário causa mortis. Apenas como exemplo da sua importância,
no ambiente da Lei nº 11.101/05, o contraditório qualificado enseja à formação de Comitê de Credores (art. 27) e
permite que falido fiscalize a administração da falência e postule para em prol da conservação de seus direitos ou
dos bens arrecadados (art. 103, parágrafo único). Sobre o transporte de técnicas iterativo do inventário sucessório
com a Lei nº 11.101/05, confira-se: MAZZEI, Rodrigo. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 610 a 673. Coord.
José Roberto Ferreira Gouvêa, Luis Guilherme Bondioli e José Francisco Naves da Fonseca. São Paulo: Saraiva, no
prelo. v. XXII.
Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 – Doutrina
12
no valor que será trazido em caso de resposta positiva, tendo em vista que o
parágrafo único do art. 639 do CPC/2015 remete à avaliação contemporânea
à abertura da sucessão.
Registre-se que o conflito de interesses que surge em razão da inventa-
riança com os interesses pessoais do nomeado (como interessado na herança)
tem sido analisado, na maioria das vezes, a partir de visão retrospectiva, ou seja,
para decidir acerca da remoção de inventariante11, quando deveria ser feita
de forma prospectiva, isto é, levando-se em conta os problemas que a eleição
pode causar no plano abstrato pela projeção da conflituosidade, em vez de
concretamente aguardar a ocorrência de ilícito na administração na herança.
Assim, a “colisão de interesses” é utilizada como motivação para a remoção do
inventariante, mas, contraditoriamente, não é levada em consideração quando
se faz a designação judicial do protagonista da inventariança, abrindo espaço
para que quadro de alta conflituosidade se instale.
Não suficiente, diante da quantidade e da própria complexidade de me-
didas que deverão ser adotadas pelo inventariante, cujo quadro será flutuante
a partir das particularidades da herança (seja no plano objetivo dos bens, seja
no contexto subjetivo dos atores), é fundamental que o eleito tenha atributos
que permitam desenvolver as atividades a ele incumbidas. Com variações que
serão intrínsecas aos atores e ao próprio acervo que fará parte da abertura da
sucessão, o policentrismo12 e a multipolaridade13 que marcam o inventário
11 No sentido: “(...) a remoção do inventariante foi justificada pelo intenso dissenso entre a maioria dos herdeiros e
explícito conflito de interesses entre o inventariante e o espólio (o inventariante é sócio das empresas cujas cotas são
objeto de partilha), mencionando também desídia na condução do inventário (andamento lento sem perspectiva de
solução) e acusações de condutas graves na condução do cargo (utilização do acervo patrimonial para se enriquecer
ilicitamente). (...) O magistrado tem a prerrogativa legal de promover a remoção do inventariante caso verifique a
existência de vícios aptos, a seu juízo, a amparar a medida, mesmo que não inseridos no rol do art. 995 do Código
de Processo Civil de 1973. 4. Justifica-se a aplicação da medida de remoção quando o julgador atesta a ocorrência de
situação de fato excepcional, como, por exemplo, a existência de animosidade entre as partes, fatos ou condutas que
denotam desídia, má administração do espólio e mau exercício do múnus da inventariança. 5. A ordem de nomeação
de inventariante, prevista no art. 990 do Código de Processo Civil de 1973, não apresenta caráter absoluto, podendo
ser alterada em situação excepcional, quando tiver o juiz fundadas razões para tanto, sendo possível a flexibilização
e alteração da ordem de legitimados, inclusive com a nomeação de inventariante dativo, para se atender às peculia-
ridades do caso concreto. (...)” (STJ, AgInt no REsp 1.294.831/MG, 4ª Turma, DJe 20.06.2017)
12 O conceito de policentrismo foi introduzido na ciência jurídica por Lon Fuller. Para o autor, as situações policêntricas
são aquelas que possuem diversos pontos de influência com diferente distribuição de tensões. Para exemplificar,
Fuller utiliza a metáfora de uma teia de aranha. Um puxão em um dos fios distribuirá tensões com padrões com-
plexos por toda a teia. Dobrar o puxão original não apenas duplicará as tensões anteriores, mas implicará em uma
nova distribuição de tensões, com novos padrões complexos. Trata-se de uma situação policêntrica por existirem
“muitos centros”, na medida em que cada intersecção de fios é um centro de distribuição de tensões diferente. (The
forms and limits of adjudication. Harvard Law Review, v. 92, n. 2, p. 353-409, dez. 1978, p. 395). Veja-se, ainda, sobre
o tema: FLETCHER, William. The discretionary Constitucion: institucional remedies and judicial legitimacy. The
Yale Law Journal, vol. 91, n. 4, p. 635-697; VITORELLI, Edilson. O devido processo legal coletivo: dos direitos aos litígios
coletivos. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 584.
13 Em síntese, a multipolaridade pode ser identificada em sentido amplo (ainda que sob o aspecto processual) como a
existência de múltiplos interesses sobre o objeto tutelado, os quais podem se relacionar ou não, isto é, podem con-
vergir em relação a determinados pontos e divergir em relação a outros, ou sempre divergir. Sobre o tema, conferir:
DIDIER Jr., Fredie; ZANETI Jr., Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 14. ed. Salvador: Juspodivm,
2020. p. 581; TEMER, Sofia. Participação no processo civil: repensando litisconsórcio, intervenção de terceiros e outras
formas de atuação. Salvador: Juspodivm, 2020; e EID, Elie Pierre. Multilateralidade no processo civil: divergência
de interesses em posições jurídicas. Revista de Processo, vol. 297, nov. 2019, p. 39-77.
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 13
14 Sobre o assunto, confira-se: MAZZEI, Rodrigo. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 610 a 673. Coord. José
Roberto Ferreira Gouvêa, Luis Guilherme Bondioli e José Francisco Naves da Fonseca. São Paulo: Saraiva, no prelo.
v. XXII. O assunto está abordado com mais vagar e detalhes pelo mesmo autor em estudo escrito especialmente para
homenagear o Professor Cândido Rangel Dinamarco: MAZZEI, Rodrigo. Ensaio sobre a multipolaridade e o policentrismo
(com projeção aos conflitos internos do inventário causa mortis), no prelo.
15 No tema, o inventariante também é um sujeito processual, aplicando-se sobre este o disposto no art. 3º do CPC/2015,
que prevê a necessidade de estimulação à resolução consensual dos conflitos e o uso de todos os métodos para tanto.
No tema, em análise ampla: MAZZEI, Rodrigo; CHAGAS, Bárbara Seccato Ruis. Métodos ou tratamentos adequados
de conflitos. In: JAYME, Fernando Gonzaga et al. (Org.). Inovações e modificações do Código de Processo Civil: avanços,
desafios e perspectivas. Belo Horizonte: Del Rey, 2017. v. 1. p. 113-128.
Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 – Doutrina
14
16 A comunhão de fato, reconhecida na Súmula nº 380 do STF, não teve forma para ensejar regulação legal, fixando-se
seus efeitos apenas no plano patrimonial em decisões judiciais.
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 15
exceções legais (art. 263 do CC/1916), eram projetadas para uma grande
massa, a ser dividida em dois após a sucessão. Considerando que a partir do
CC/02 o cônjuge e o companheiro passaram a ser tratados como herdeiros
concorrentes17, a análise da linha de comunicação de bens durante a relação,
notadamente no caso do regime de comunhão parcial, passou a ter colorido
mais pulsante. Isso, porque os bens particulares do falecido são tratados como
herança em favor do cônjuge/companheiro sobrevivo, que concorrerá com
os descendentes e ascendentes do autor da herança em tal parcela patrimonial
(art. 1.829, I, do CC/02).
A ilustração acima demonstra a importância do labor do inventariante
para a definição da massa hereditária, com tarefa muito mais complexa do que
a que era efetuada na época da entrada em vigor do CPC/73. O resultado da
empreitada alcançará não só os herdeiros (e seus eventuais cessionários), mas
a todos para os quais a análise das “forças da herança” é relevante, como é o
caso do legatário e dos credores em geral.
A complexidade e as áreas de conflito podem se tornar mais agudas
nos casos de falecimento de pessoa que teve relacionamento conjugal ou de
convivência anterior, sem que tenha se formalizado a partilha respectiva, ou
seja, houve o início de nova relação, sem que de forma antecedente a preté-
rita tivesse formalmente se encerrado no plano patrimonial18. Em tais casos,
seguindo-se a ideia de que todos adotaram o regime legal da comunhão parcial,
o cônjuge/companheiro que convivia com o falecido terá que apurar não o
contexto de bens particulares da sua relação, mas também da pretérita que já
se findou (seja por separação de fato, seja por decisão judicial), mas que não
houve a partilha de bens. Há análise de estado de mancomunhão19 para o inven-
tário sucessório, algo inimaginável quando da entrada em vigor do CPC/73.
Agrega-se mais complexidade quando se verifica, a partir da ilustração,
que o falecido deixou descendentes diversos, sendo que alguns não são comuns
com aquele que convivia no momento do óbito. A conjugação do art. 620, IV,
do CPC/2015 com o art. 2.002 fará com que o cônjuge/companheiro sobrevivo
tenha que apurar a necessidade de colação em relação aos descendentes do
falecido, sendo que no grupo há pessoas com quem possui laços familiares
(os de origem comum) e outras com as quais não possui vínculo no sentido
e, em certos casos, a relação pessoal nem sempre é amistosa.
17 E, posteriormente, igualando-se companheiro e cônjuge na posição de concorrência, por meio de equiparação pelo
STF (RE 646.721 e RE 878.694).
18 A própria legislação admite tais situações, consoante pode se aferir do texto dos arts. 1.562, 1.581, 1.723, § 1º, do
CC/02.
19 Finda a relação que escora o casamento ou a união estável, caso não seja efetuada a partilha, os bens e direitos dos
ex-consortes se reunirão sob o status mancomunhão, formando uma “massa juridicamente indivisível, indistintamente
pertencente a ambos” (STJ, REsp 1.274.639/SP, 4ª Turma, DJe 23.10.2017).
Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 – Doutrina
16
20 Tratando da idoneidade como fator relevante para a escolha do inventariante, Clóvis do Couto e Silva, em comentários
ao art. 990, III, do CPC/73, consignou que: “No anterior CPC (art. 469, III), determinava-se que o juiz deveria
escolher o herdeiro mais idôneo, condição esta que não se reproduziu no art. 990, III, do atual CPC. Todavia, é óbvio
que entre os herdeiros há de escolher o juiz aquele que lhe parecer mais indicado para o cargo, o mais idôneo, embora
esse pressuposto não esteja expresso no atual CPC. Não há arbítrio por parte do juiz na escolha de inventariante,
mas há discrição, ou seja, autonomia vinculada a uma finalidade, à melhor administração do acervo hereditário”
(SILVA, Clóvis do Couto e. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 890 a 1.045. São Paulo: RT, 1977. v. XI. t. I.
p. 295).
21 Basta notar a aproximação aos arts. 469 do CPC/1939 e 1.579 do CC/1916.
22 “Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador
de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada. Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado
for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela
condução do processo de falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do
juiz.”
Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 – Doutrina
18
nistrador judicial da falência, assim como, ainda que com colorido diverso,
nos arts. 1.73523 e 1.73624 do CC/02, em relação à designação de tutor.
Merece ficar consignado que a jurisprudência já deu sinais de que o art.
617 reclama interpretação mais ampla do que simples aferição da sequência
do seu rol, considerando como premissas importantes para a nomeação do
inventariante a análise dos conflitos de interesse (o fazendo a partir da ani-
mosidade que será deflagrada25), assim como do exame da pessoa com mais
aptidão para a inventariança26.
A exposição que segue nos itens seguintes reforça as balizas aqui posta-
das, em relação ao rol de legitimados ao exercício da inventariança previsto no
art. 617 do CPC/2017, em que se destaca a necessidade do seu enquadramento
dentro do direito material e processual atualmente em vigor. Tais diálogos são
fundamentais e visam trazer ao art. 617 para a contemporaneidade, retirando-o
da dimensão ultrapassada do século XX.
23 “Art. 1.735. Não podem ser tutores e serão exonerados da tutela, caso a exerçam: I – aqueles que não tiverem a livre
administração de seus bens; II – aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem constituídos em
obrigação para com o menor, ou tiverem que fazer valer direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou cônjuges
tiverem demanda contra o menor; III – os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes expres-
samente excluídos da tutela; IV – os condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a família
ou os costumes, tenham ou não cumprido pena; V – as pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e
as culpadas de abuso em tutorias anteriores; VI – aqueles que exercerem função pública incompatível com a boa
administração da tutela.”
24 “Art. 1.736. Podem escusar-se da tutela: I – mulheres casadas; II – maiores de sessenta anos; III – aqueles que tiverem
sob sua autoridade mais de três filhos; IV – os impossibilitados por enfermidade; V – aqueles que habitarem longe do
lugar onde se haja de exercer a tutela; VI – aqueles que já exercerem tutela ou curatela; VII – militares em serviço.”
25 No sentido: “A remoção do inventariante, substituindo-o por outro, dativo, pode ocorrer quando constatada a
inviabilização do inventário pela animosidade manifestada pelas partes” (STJ, REsp 988.527/RS, 4ª Turma, DJe
11.05.09). “Se o Tribunal de origem atesta a ocorrência de situação de fato excepcional consubstanciada na existência
de animosidade entre as partes, admite-se o temperamento da ordem legal de nomeação de inventariança, conforme
firme convicção do Juiz que repousa na ponderada análise dos elementos fáticos do processo” (STJ, REsp 1.055.633/
SP, 3ª Turma, DJe 16.06.09).
26 No sentido: “A norma que se extrai do art. 990 do CPC não veda que o órgão jurisdicional nomeie como inventariante
aquele que, de acordo com as circunstâncias do caso concreto, reúna as melhores condições para o desempenho
dessa função, ainda que não expressamente incluído no rol de legitimados. Precedentes” (STJ, AREsp 688.767/SP,
3ª Turma, DJe 24.08.2015). Igualmente: STJ, AgInt no AREsp 1.002.793/MG, 4ª Turma, DJe 21.02.2017).
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 19
27 Bem próximo: NEVARES, Ana Luiza Maia. As inovações do Código de Processo Civil de 2015 no direito das
sucessões. Revista IBDFAM: Família e Sucessões, Belo Horizonte, IBDFAM, v. 13, jan./fev. 2016, p. 67).
28 “Art. 168. As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o mediador ou a câmara privada de conciliação
e de mediação. § 1º O conciliador ou mediador escolhido pelas partes poderá ou não estar cadastrado no tribunal.
§ 2º Inexistindo acordo quanto à escolha do mediador ou conciliador, haverá distribuição entre aqueles cadastrados
no registro do tribunal, observada a respectiva formação. § 3º Sempre que recomendável, haverá a designação de
mais de um mediador ou conciliador.”
29 “Art. 471. As partes podem, de comum acordo, escolher o perito, indicando-o mediante requerimento, desde que:
I – sejam plenamente capazes; II – a causa possa ser resolvida por autocomposição. § 1º As partes, ao escolher o
perito, já devem indicar os respectivos assistentes técnicos para acompanhar a realização da perícia, que se realizará
em data e local previamente anunciados. § 2º O perito e os assistentes técnicos devem entregar, respectivamente,
laudo e pareceres em prazo fixado pelo juiz. § 3º A perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a que seria
realizada por perito nomeado pelo juiz.”
30 Próximo: ARAÚJO, Luciano Vianna. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 539-925. Coord. Cassio Scarpinella
Bueno. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 2. p. 195. Parecendo concordar: ROSA, Conrado Paulino da; RODRIGUES,
Marco Antônio. Inventário e partilha. Salvador: Juspodivm, 2019. p. 352; e CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro.
Inventário e partilha judicial e extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 62.
Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 – Doutrina
20
31 Basta observar o inciso I do art. 1.736 que, com raízes no art. 414, I, do CC/1916, parece trazer uma presunção de que
a mulher casada não pode priorizar o exercício da tutela em razão de ser a responsável pelos cuidados do lar. Pior ainda, em
discriminação, o mesmo inciso (diante da especificidade subjetiva) afasta igual escusa ao homem casado que, se assim
o desejar fazer, terá que procurar encaixe em outro inciso do art. 1.736. No sentido: TARTUCE, Flávio. Código Civil
Comentado: doutrina e jurisprudência. SCHREIBER, Anderson et al. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 1.378; CARVA-
LHO FILHO, Milton Paulo de. Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Manole, 2010. p. 2.023.
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 21
32 Tratando do transporte de técnicas (tendo como pano de fundo o direito material) confira-se: MAZZEI, Rodrigo;
GONÇALVES, Tiago Figueiredo. Ensaio sobre o processo de execução e o cumprimento da sentença como bases de
importação e exportação no transporte de técnicas processuais. In: ASSIS, Araken de; BRUSCHI, Gilberto Gomes
(Coord.). Processo de execução e cumprimento da sentença: temas atuais e controvertidos. São Paulo: RT, 2020. p. 27-32.
33 Na busca dentro do direito sucessório de regras que possam se alvo de conexão com os arts. 1.735 e 1.736 do CC/02,
extrai-se apenas a preocupação acerca do conflito de interesses entre o incapaz e seu representante legal. Com efeito,
o art. 671, II, do CPC/2015 prevê a possibilidade de nomeação de curador especial ao incapaz quando este concorre
com seu representante legal na partilha, ao reconhecer que se trata de hipótese de presumida “colisão de interesses”.
Apesar da limitação temática, o art. 671, II, desnuda que o “conflito de interesses” é um problema que precisa ser
enfrentado no processo sucessório, sendo que o exercício da inventariança é um dos palcos de análise do assunto. A
nomeação do inventariante não pode ficar imune a tal aferição, pois a eleição de pessoa com “conflito de interesses”
pode colocar em jogo não apenas a lisura da administração, como também abre espaço para que se instale ambiência
de litigiosidade, fato que prejudica a fluidez de avanço das etapas do inventário causa mortis.
Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 – Doutrina
22
Note-se que a doutrina que sustenta que o rol do art. 617 possui caráter
obrigatório, com cronologia preferencial, admite que a sequência ditada em
lei se sujeita a temperamentos, isto é, pode ceder em razão de circunstâncias
fáticas34. Aliás, a jurisprudência tem se posicionado no sentido de que a ordem
ditada pelo art. 617 fica fragilizada quando se verifica que a nomeação recairá
sobre pessoa inapta à administração da herança e/ou que a sua designação cria
agudo ambiente de animosidade35.
A partir dos fatos que fundamentam o desvio à ordem do dispositivo
em comento (incapacidade de administração e/ou conflito de interesses),
extrai-se por interpretação contrario sensu, quais são os pilares que sustentam
o rol do art. 617 do CPC/2015. Com efeito, presume-se que as pessoas postas
no referido cardápio sequencial são as que possuem não só as melhores con-
dições para administrar o monte hereditário, como também são aquelas que
a designação provocará menor insurgência dos demais interessados, a fim de
não criar espaço para as animosidades.
Dessa forma, os atores do art. 617 foram escolhidos em razão de pre-
sunções de que sua designação seria positiva para o inventário causa mortis, pois,
repita-se, são pessoas que, além de estarem em posições que facilitariam a
administração do espólio, não provocariam insurgências agudas dos demais
interessados na sucessão. A assertiva aqui efetuada só tem razão de ser se o
intérprete identificar que o art. 617 do CPC/2015 mantém, com pequenas
modificações, a estrutura e comandos de dispositivos do século XX, a saber: (I)
art. 1.579 do CC/1916, (II) art. 469 do CPC/1939, e (III) art. 990 do CPC/73.
Com tal alerta, é de fácil observância que os elencos legais que servem
de inspiração para o art. 617 do CPC/2015 trabalhavam com direito material
muito diferente daquele em vigência quando da promulgação do CPC/2015,
com alterações de tamanha monta que afetaram as presunções que até então
militavam em favor dos principais personagens trazidos no rol de legitimados
para a inventariança. Ora, os arts. 1.579 do CC/1916, 469 do CPC/1939 e art.
990 do CPC/73 (na sua redação original) traziam – sem exceção – premissas
de direito material que desapareceram, dentre as quais se destacam: (a) regime
legal da comunhão universal, (b) casamento indissolúvel, (c) o cônjuge não
34 No sentido: SILVA, Ricardo Alexandre da; LAMY, Eduardo. Comentários ao Código de Processo Civil: artigos 539-673.
São Paulo: RT, 2017. v. IX. p. 508; ROSA, Conrado Paulino da; RODRIGUES, Marco Antônio. Inventário e partilha.
Salvador: Juspodivm, 2019. p. 351-352; CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Inventário e partilha judicial e extrajudicial.
Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 59; ARAÚJO, Luciano Vianna. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 539-925.
Coord. Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 2. p. 191; TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito
das sucessões. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 593; BARROS, Hamilton de Moraes. Comentários ao Código
de Processo Civil: arts. 946-1.102. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1988. v. IX. p. 213; CARVALHO, Dimas Messias
de. Direito das sucessões: inventário e partilha. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 390-391; e OLIVEIRA, Euclides de;
AMORIM, Sebastião. Inventário e partilha: teoria e prática. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 320.
35 Posição adotada pelo STJ no REsp 283.994/SP e REsp 1.055.633/SP.
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 23
36 Veja-se sobre o tema: MAZZEI, Rodrigo. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 610 a 673. Coord. José Roberto
Ferreira Gouvêa, Luis Guilherme Bondioli e José Francisco Naves da Fonseca. São Paulo: Saraiva, no prelo. v. XXII.
Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 – Doutrina
24
estes teriam não só aptidão para administrar a herança, não só pela capacidade
no sentido, mas também por não despertarem quadro de animosidade entre
outros atingidos pela abertura da sucessão37.
Ainda que em breve resenha, não pode ficar dúvida que foi o direito
material (já em muito superado) que talhou o rol dos arts. 1.579, § 2º, do
CC/1916, 469, II, do CPC/1939, 990, II, do CPC/73, pois a posição refletida
na sequência legal estava escorada em presunções que militavam em favor
dos seus atores. Entretanto, a partir de novos balizamentos do direito ma-
terial, as presunções que inspiraram o art. 617 não mais se aplicam, pois há
aguda mudança em relação ao direito material38. Tanto assim que a figura
do cônjuge/companheiro sobrevivo se posta em posição, muitas vezes, de
grande conflito patrimonial, já que com a adoção da comunhão parcial como
regime legal, não só é necessária a depuração de bens particulares próprios do
falecido daqueles alcançados pela meação, como também, a partir do CC/02
(art. 1.829, I), passou a se postar como herdeiro concorrente na parte dos
bens de titularidade individual do autor da herança. Reportando-se ao que
já foi antecipado nos itens anteriores, para não ser repetitivo, as presunções
favoráveis aos personagens do rol do art. 617 estão sobremaneira abaladas e,
muitas das vezes, o que se tem é o inverso, pois, ainda que de atos concretos,
é possível se extrair projeções abstratas de áreas de conflito.
No que se refere à capacidade de administração, o estremecimento da
presunção da boa gestão dos atores sequenciados no rol do art. 617 decorre
de fatores que advêm da sociedade atual, em que as titularidades estão muito
longe de se fixarem apenas em bens duráveis, não sendo raro, em ilustração,
a dualidade da figura da pessoa natural com a pessoa jurídica, quadro este
que se apresenta em diversas atividades. Fatores outros como a mudança da
expectativa de vida e dos arranjos familiares podem afetar a natural vocação
dos protagonistas “preferenciais” referenciados no rol do art. 617 para a in-
ventariança, pois, em ilustração, não se justificará a nomeação de inventariante
de cônjuge/companheiro supérstite de avançada idade e que se submete a
cuidados especiais, ou, ainda, de descendente de relacionamento anterior do
37 Há uma presunção tão forte no sentido de se blindar a inventariança para o cônjuge e os descendentes (na qualidade
de herdeiros necessários preferenciais) que a legislação até hoje não considera como de valor exponencial a vontade
do testador para a nomeação do inventariante. No particular, basta observar que o testamenteiro está colocado em
posição de desprestígio no rol dos arts. 1.579, § 2º, do CC/1916, 469, II, do CPC/1939, 990, II, do CPC/73 e 617 do
CPC/2015, postura que é perfilada pelo CC/02, já que, segundo o texto do art. 1.977 (em reprodução ao disposto no
art. 1.754 do CC/1916), o testador somente pode conceder ao testamenteiro a posse e a administração da herança, ou
de parte dela, se não deixar cônjuge/companheiro sobrevivente ou outros herdeiros necessários. Com outras palavras,
militava uma presunção tão forte em favor do cônjuge e dos herdeiros para a posse da herança, que a legislação criou
restrição para designação de inventariante pelo testador.
38 Sobre a análise da densidade do direito material para o transporte e formatação de técnicas processuais, confira-se:
MAZZEI, Rodrigo; GONÇALVES, Tiago Figueiredo. Ensaio sobre o processo de execução e o cumprimento
da sentença como bases de importação e exportação no transporte de técnicas processuais. In: ASSIS, Araken de;
BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Processo de execução e cumprimento da sentença: temas atuais e controvertidos.
São Paulo: RT, 2020. p. 27-32.
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 25
39 Não é ocasional a anotação de Hamilton de Moraes Barros que, mesmo sob a égide do CPC/73, ainda com nomen-
clatura diversa, já projetava o dueto como a base de atributos do inventariante, ao concluir sobre a inventariança:
“(..) dois requisitos influem na escolha entre os herdeiros: a sua probidade e as suas qualificações para o encargo”
(Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 946-1.102. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1988. v. IX. p. 217).
40 Há grande fluxo de troca iterativa de técnicas entre o inventário sucessório e a Lei nº 11.101/05. Não se trata de
comunicação isolada, nem de fluxo único da Lei nº 11.101/05, pois técnicas do inventário também são exportadas
para o processo concursal falimentar, como é o caso do incidente de remoção de inventariante (aplicável ao adminis-
trador judicial), diante da omissão de regramento do assunto na referida legislação extravagante. No tema, confira-se:
MAZZEI, Rodrigo. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 610 a 673. Coord. José Roberto Ferreira Gouvêa,
Luis Guilherme Bondioli e José Francisco Naves da Fonseca. São Paulo: Saraiva, no prelo. v. XXII.
41 No sentido, além do previsto no art. 30 da Lei nº 11.101/05 (que traz impedimentos ao exercício da administração
judicial), o texto do art. 21 da Lei nº 11.101/05 se distancia do que estava disposto no art. 60 do Decreto-Lei nº
7.661/1945 (revogada Lei de Falências), em que a opção prioritária se dava entre os credores da falência, fato que
Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 – Doutrina
26
propiciava não só “conflitos de interesses”, mas possível aumento de litigiosidade em relação aos demais credores.
A nomeação de pessoa estranha, fora do ambiente dos créditos falimentares, somente se dava em caráter residual.
Confira-se o dispositivo citado: “Art. 60. O síndico será escolhido entre os maiores credores do falido, residentes
ou domiciliados no fôro da falência, de reconhecida idoneidade moral e financeira. § 1º Não constando dos autos
a relação dos credores, o juiz mandará intimar pessoalmente o devedor, se estiver presente, para apresentá-la em
cartório dentro de duas horas, sob pena de prisão até trinta dias. § 2º Se credores, sucessivamente nomeados, não
aceitarem o cargo, o juiz, após a terceira recusa, poderá nomear pessoa estranha, idônea e de boa fama, de preferência
comerciante. § 3º Não pode servir de síndico: I – o que tiver parentesco ou afinidade até o terceiro grau com o
falido ou com os representantes da sociedade falida, ou dêles fôr amigo, inimigo ou dependente; II – o cessionário
de créditos, que o fôr desde três meses antes de requerida a falência; III – o que, tenha exercido cargo de síndico em
outra falência, ou de comissário em concordata preventiva, foi destituído, ou deixar de prestar contas dentro dos
prazos legais, ou havendo-as prestado, as teve julgadas más; IV – o que já houver sido nomeado pelo mesmo juiz
síndico de outra falência há menos de um ano, sendo, em ambos os casos, pessoa estranha à falência; V – o que, há
menos de seis meses, recusou igual cargo em falência de que era credor”.
42 No sentido: SILVA, Ricardo Alexandre da; LAMY, Eduardo. Comentários ao Código de Processo Civil: artigos 539-673.
São Paulo: RT, 2017. v. IX. p. 510; GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Processo de conhecimento e cumprimento de
sentença: comentários ao CPC de 2015. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. v. 2. p. 1.049; e ARAÚJO, Luciano
Vianna. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 539-925. Coord. Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo: Saraiva,
2017. v. 2. p. 196. Dimas Messias de Carvalho faz a divisão em três espécies legal ou legítima, judicial ou dativa, pois
analisa com independência a figura do inciso VII (que trata de inventariança judicial) em relação ao ator do inciso
VIII, pois este é único que é, na sua visão, dativo (Direito das sucessões: inventário e partilha. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2018. p. 391 e 394).
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 27
incisos I-VI à sucessão legítima, o que não é vero. Basta observar que o art.
617 convoca o herdeiro testamentário, o legatário43 e o testamenteiro.
A presença do testamenteiro no elenco vinculado à inventariança legíti-
ma, por sua vez, quebra a lógica da classificação que, como acima gizado, está
na existência de interesse próprio no desfecho do inventário causa mortis. Não
são raros os casos em que o testamenteiro é pessoa estranha à herança, não lhe
tendo nenhum benefício senão o recebimento de honorários pelo exercício
da função, em situação próxima ao que ocorre com o inventariante dativo
(que também faz jus a honorários pelo seu labor). Não parece ser suficiente
a afirmação de que o testamenteiro possui interesse no inventário causa mortis
pelo fato de ter aceitado o encargo de cumprir as disposições testamentárias44.
Mais convincente é compreender que o testamenteiro é uma figura singular
e que possui legitimação extraordinária, que não se confunde com interesse
próprio ou mesmo indireto (= recebimento de honorários, já que este direito
também está na órbita do inventariante dativo).
Conclui-se que o grupo de personagens inclusos nos incisos I-VI do
art. 617 estão unidos por serem sujeitos que estão na órbita da sucessão “le-
gítima” (=sucessão legal) e da sucessão testamentária, ou seja, são atores que
estão vinculados ao autor da herança pela lei (= sucessão legal) ou por ato de
autonomia da vontade (= sucessão testamentária). Enfim, são pessoas que detém
legitimação em decorrência da própria legislação que regula a sucessão causa
mortis e do exercício de autonomia da vontade exercitado em vida pelo autor
da herança. De forma diversa, em regra, a inventariança dativa terá natureza
suplementar, pois os atores dos incisos VII e VIII do art. 617 somente terão
espaço para exercer a função de inventariante se for inviável a nomeação das
figuras postas no primeiro grupo.
A classificação adequada (se é que é necessária) deve ter como norte a
própria necessidade de socorro da nomeação de inventariante dativo, pois este
é um ato que não segue o caminho natural previsto na legislação que envolve
o direito sucessório. Dessa forma, pode se cindir o art. 617 em dois grupos, a
saber: (a) inventariança ordinária (= aquela que é naturalmente esperada, pois
seus atores estão vinculados à sucessão legal ou ao exercício da autonomia
da vontade do autor da herança) e (b) inventariança extraordinária (= quando é
necessária a designação judicial de pessoa que não faz parte da sucessão legal
ou da sucessão testamentária).
Há de ficar bem claro que a inventariança dativa (ou extraordinária)
poderá ter campo não apenas quando não há a possibilidade de designação
das pessoas encartadas nos incisos I-VI do art. 617, mas também quando a
nomeação daqueles legitimados for inviável faticamente, como é o caso de
designação que cria grande animosidade interna entre os interessados na he-
rança45, ou, ainda, quando se verifica, de plano, que os legitimados naturais
não possuem aptidão para exercer a função46.
Ademais, a nomeação de inventariante dativo também terá espaço quan-
do houver escolha consensual dos herdeiros no sentido, formalizada mediante
negócio jurídico processual47, já que a nomeação adjudicada é residual, isto é,
apenas tem lugar quando os herdeiros não indicarem pessoa para o exercício da
função. Dessa forma, não se pode descartar a possibilidade de que os herdei-
ros, cientes do estado de animosidade e dos interesses divergentes existentes
entre eles, optem, em comum acordo, pela nomeação de inventariante dativo,
como forma de prevenir conflitos futuros, ou, ainda, cientes da presença de
titularidades alcançadas pela herança cuja gestão demanda a execução de ati-
vidades complexas, optem pela nomeação de profissional especializado com
capacidade técnica adequada para a administração do espólio.
Saliente-se, ainda, que cronologicamente a inventariança dativa pode ser
determinada no curso do inventário causa mortis em decorrência de remoção de
inventariante48. Assim, é perfeitamente possível que se verifique a presença de
vários legitimados para a inventariança ordinária, mas que por motivos apurados
no caso concreto seja preferível que a função seja exercitada (desde o início
ou por permuta) por inventariante dativo.
Diante do alerta realizado nos itens anteriores, a respeito da presunção
do conflito de interesses entre os legitimados à inventariança gerada pela
arquitetura do direito de família em vigor, conclui-se que há, no cenário
atual, forte tendência ao aumento da designação de inventariantes dativos
nos inventários judiciais. Demais disso, percebe-se uma propensão para que a
nomeação do inventariante dativo se volte a profissional idôneo, com experi-
ência técnica e conhecimentos mais profundos de gerenciamento patrimonial
ou pessoa jurídica especializada, tal como ocorre na escolha do administrador
judicial da falência e da recuperação judicial (art. 21 da Lei nº 11.101/05), na
medida em que a variação das titularidades que se encontram açambarcadas
45 No sentido: STJ, AgInt no REsp 1.294.831/MG, 3ª Turma, DJe 20.06.2017; REsp 1.055.633/SP, 3ª Turma, DJe
16.06.09; REsp 988.527/RS, 4ª Turma, DJe 11.05.09.
46 Nesse passo, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça que a ordem do art. 990 não é absoluta e comporta ser inob-
servada em várias hipóteses, como as de desavença entre os herdeiros e inaptidão para o exercício da inventariança (REsp
520/CE, 4ª Turma, DJe 04.12.89).
47 Veja-se que o rol de legitimados ao exercício da inventariança já vem sendo flexibilizado pelo Superior Tribunal
de Justiça, desde a vigência do CPC/73, nas hipóteses em que a indicação do inventariante atende aos interesses de
todos ou da grande maioria dos herdeiros. Nesse sentido: REsp 357.577/RJ, 4ª Turma, DJe 08.11.04; e AgRg no
REsp 1.153.743/SP, 4ª Turma, DJe 02.02.2017.
48 No sentido: STJ, AgInt no AREsp 1.388.943/SP, 4ªTurma, DJe 25.06.2019; e REsp 988.527/RS, 4ªTurma, DJe
11.05.09.
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 29
Conclusão
A correta interpretação do art. 617 dentro do contexto atual informa
que se trata de um rol de referência, de aplicação residual e voltado ao juiz, que ne-
cessita ser sopesado em cada caso concreto. Antes da designação adjudicada do
protagonismo da inventariança, portanto, deverá o juízo sucessório analisar se
há ambiência para nomeação consensual, cabendo a este, inclusive, estimular
que as partes cheguem a um consenso no sentido (art. 3º, § 3º, do CPC/2015).
A possibilidade de ocorrência de animosidade, conflitos de interesses
e nomeação de administrador sem perfil para função de inventariante são
fatores que deverão sempre ser sopesados quando da eleição ou designação
para a inventariança. Mesmo que o inventariante não possa ser visto como
“auxiliar do juízo” em conceito estrito, não se pode cogitar que a nomeação
leve em conta apenas um rol de preferências firmado para outro momento
histórico, deixando de considerar critérios objetivos fundamentais para a
administração da herança, em que a análise das aptidões dos candidatos e os
reflexos da designação são inevitáveis.
Dessa forma, tem-se que a ordem sucessiva do art. 617 é apenas refe-
rencial e a nomeação judicial de inventariante não pode se sujeitar ao critério
sequencial do rol com o de maior eficiência. O juiz, ao efetuar a designação
do inventariante, que se dará depois de ouvidos todos os interessados, deverá
sopesar a aptidão dos candidatos, lembrando que esta deve ser proporcional
e adequada às peculiaridades da herança, pois a realidade do caso concreto
que ditará os contornos mais complexos ou não dos atos de administração.
Todavia, não basta que se apresente candidato com perfil adequado
à administração do condomínio hereditário, se, na situação versada, aquele
tenha conflito de interesse, caracterizado pela dualidade de seus interesses indi-
viduais (como interessado na herança) em contraposição aos do monte que
irá administrar. Outrossim, as animosidades devem ser reduzidas ao máximo
no ventre do inventário causa mortis, de modo que há de se evitar designações
que venham desencadear quadro no sentido. Todo esse conjunto de elementos
objetivos deverá ser examinado pelo juiz para a nomeação do inventariante,
Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 – Doutrina
30
sendo certo que a decisão que for contrária à ordem ditada pelo rol de refe-
rência do art. 617 deverá estar devidamente fundamentada (arts. 11 e 489, II,
do CPC/2015).
Por fim, é inevitável concluir na necessidade de se repensar o papel da
inventariança dativa, pois esta ganha real importância no cenário atual, em que
há grande número de inventários judiciais marcados por animosidade aguda
entre seus interessados e/ou com grau de complexidade nas questões que
carrega. Para tanto, é fundamental que a Lei nº 11.101/05, consoante previsto
em seu art. 21, se torne inspiração para que a nomeação do inventariante pelo
juízo sucessório – quando assim se impor – siga os critérios objetivos fixados
no citado dispositivo, pois não é possível se abrir mão do profissionalismo
para tão importante incumbência.
TITLE: Appointment of the inventor: criteria for (interpreting) and applying article 617 of CPC.
ABSTRACT: The purpose of this article is to identify the objective criteria for the correct application of
article 617 of the Code of Civil Procedure, which has a reference list for the nomination of the inventorius.
For this purpose, initially, a brief analysis of the profile of the inventorius will be carried out, identifying
the functions that will be exercised by him in the probate. In a second plan, it will be demonstrated the
need for framing article 617 to the current Brazilian inheritance law, which has engendered an increase
in the areas of conflicts of interest among those legitimated to the exercise of inventory and the complex-
ity of the management of the assets. Finally, the fundamental objective criteria for the administration of
inheritance will be investigated, which must be weighed in the concrete case for the correct application
of article 617 by the judge.
Referências
ARAÚJO, Luciano Vianna. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 539-925. Coord. Cassio Scarpinella
Bueno. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 2.
BARROS, Hamilton de Moraes. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 946-1.102. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1988. v. IX.
CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Inventário e partilha judicial e extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das sucessões: inventário e partilha. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
CARVALHO FILHO, Milton Paulo de. Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência. São Paulo:
Manole, 2010.
DIDIER Jr., Fredie; ZANETI Jr., Hermes. Curso de direito processual civil: processo coletivo. 14. ed. Salvador:
Juspodivm, 2020.
EID, Elie Pierre. Multilateralidade no processo civil: divergência de interesses em posições jurídicas. Revista
de Processo, vol. 297, nov. 2019, p. 39-77.
FLETCHER, William. The discretionary Constitucion: institucional remedies and judicial legitimacy.
The Yale Law Journal, vol. 91, n. 4, p. 635-697.
FULLER, Lon. The forms and limits of adjudication. Harvard Law Review, v. 92, n. 2, p. 353-409, dez. 1978.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. São
Paulo: Saraiva, 2017.
Doutrina – Revista Nacional de Direito de Família e Sucessões Nº 41 – Mar-Abr/2021 31
MAZZEI, Rodrigo. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 610 a 673. Coord. José Roberto Ferreira
Gouvêa, Luis Guilherme Bondioli e José Francisco Naves da Fonseca. São Paulo: Saraiva, no prelo. v. XXII.
MAZZEI, Rodrigo. Ensaio sobre a multipolaridade e o policentrismo (com projeção aos conflitos internos do inventário
causa mortis), no prelo.
MAZZEI, Rodrigo; CHAGAS, Bárbara Seccato Ruis. Métodos ou tratamentos adequados de conflitos. In:
JAYME, Fernando Gonzaga et al. (Org.). Inovações e modificações do Código de Processo Civil: avanços, desafios
e perspectivas Belo Horizonte: Del Rey, 2017. v. 1.
MAZZEI, Rodrigo; GONÇALVES, Tiago Figueiredo. Ensaio sobre o processo de execução e o cum-
primento da sentença como bases de importação e exportação no transporte de técnicas processuais. In:
ASSIS, Araken de; BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Processo de execução e cumprimento da sentença:
temas atuais e controvertidos. São Paulo: RT, 2020.
NEVARES, Ana Luiza Maia. As inovações do Código de Processo Civil de 2015 no direito das sucessões.
Revista IBDFAM: Família e Sucessões, Belo Horizonte, IBDFAM, v. 13, jan./fev. 2016.
OLIVEIRA, Euclides de; AMORIM, Sebastião. Inventário e partilha: teoria e prática. 25. ed. São Paulo:
Saraiva, 2018.
ROSA, Conrado Paulino da; RODRIGUES, Marco Antônio. Inventário e partilha. Salvador: Juspodivm, 2019.
SILVA, Clóvis do Couto e. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 890 a 1.045. São Paulo: RT, 1977.
v. XI. t. I.
SILVA, Ricardo Alexandre da; LAMY, Eduardo. Comentários ao Código de Processo Civil: artigos 539-673.
São Paulo: RT, 2017. v. IX.
TARTUCE, Flávio. Código Civil Comentado: doutrina e jurisprudência. SCHREIBER, Anderson et al.
Rio de Janeiro: Forense, 2019.
TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
TEMER, Sofia. Participação no processo civil: repensando litisconsórcio, intervenção de terceiros e outras
formas de atuação. Salvador: Juspodivm, 2020.
VITORELLI, Edilson. O devido processo legal coletivo: dos direitos aos litígios coletivos. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2019.