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O TRATAMENTO DE LIXIVIADOS BRUTOS DE ATERROS

SANITÁRIOS EM FILTROS ANAERÓBIOS DE BRITA – EFEITO DO


TEMPO DE DETENÇÃO HIDRÁULICA

Eduardo Fleck
Engenheiro do DMLU/PMPA
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Francisco Ricardo Andrade Bidone


Professor Adjunto do Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS.
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RESUMO
A pesquisa com filtro anaeróbio demonstrou que tal sistema constitui-se em excelente
alternativa de reduzido custo para o tratamento de lixiviados brutos. Utilizando-se afluente
com 2690-8860 mgDBO5/L e 5345-14.670 mgDQO/L, apontou-se para um tempo de
detenção hidráulica próximo a 56 dias como ótimo dos pontos de vista operacional e
econômico, produzindo eficiências de remoção de DBO5 de 82,43% e de DQO de 77,70%. O
processo apresenta-se muito efetivo também na remoção de metais do meio líquido. Os
resultados experimentais permitiram propor-se uma modificação na equação geral de Young
(1991) para filtros anaeróbios, obtendo-se uma equação empírica apropriada para projetos de
filtros anaeróbios para tratamento de lixiviados.

ABSTRACT
Research with anaerobic filter demonstrated that such system is an excellent low cost
alternative for raw leachate treatment. Being used raw leachate with 2690-8860 mgBOD5/L
and 5345-14,670 mgCOD/L, it was pointed for a hydraulic detention time close to 56 days as
operational and economical optimum, leading to removal efficiencies of 82.43% to BOD5 and
77.70% to COD. The process demonstrated also be very effective to metals removal from the
liquid phase. Experimental data allowed to intend a modification on the general equation of
Young (1991) for anaerobic filters, being obtained an appropriate empirical equation for
project of raw leachate treatment with anaerobic filters.

1. INTRODUÇÃO
A experiência do DMLU na utilização de filtros anaeróbios para tratamento de
lixiviados de aterros sanitários provém do início da década de 1990, a partir da construção de
drenos-filtros de brita no Aterro Sanitário Zona Norte, tendo-se efetivado com a construção
do filtro anaeróbio de base no Aterro Sanitário da Extrema. Embora tais unidades biológicas
tenham apresentado elevada efetividade na estabilização dos lixiviados, mostrou-se necessário
um estudo específico da variação da eficiência de estabilização em função do tempo de
detenção hidráulica, o que demandou uma pesquisa conveniada com o Instituto de Pesquisas
Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, da qual apresentam-se
sucintamente os principais aspectos, resultados e conclusões a seguir.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os filtros anaeróbios constituem-se em unidades de tratamento em que as reações
bioquímicas de estabilização da matéria orgânica contida na água residuária ocorrem quando
da passagem desta através de um leito de material suporte cujas unidades apresentem filmes
bacterianos anaeróbios aderidos às suas superfícies, além de biomassa bacteriana dispersa
retida nos interstícios do meio.
A retenção de biomassa por adesão dá-se pela extraordinária capacidade das bactérias
em aderirem-se às superfícies livres imersas em sistemas aquosos que apresentem condições
para o seu crescimento, como presença de nutrientes e de compostos carbonáceos, e ausência
de compostos inibidores e tóxicos, ainda que, neste aspecto particular, possamos observar a
excepcional capacidade de tais organismos em aclimatarem-se a meios inóspitos. A Figura 1
apresenta uma ilustração adaptada de CHERNICHARO (1997) em que é representada uma
unidade de meio suporte com biofilme aderido. Outro tipo de retenção de biomassa bacteriana
ativa ocorre nos interstícios do meio: a retenção intersticial. Trata-se de um crescimento
disperso que mantém-se no leito principalmente devido a um efeito de filtragem da massa
bacteriana, que evita que a mesma seja lavada pelo fluxo de água residuária que atravessa o
filtro. A Figura 2 apresenta uma ilustração relativa a esse tipo de retenção.

Figura 1 - Retenção de biomassa por adesão Figura 2 - Retenção intersticial de biomassa

Nos flocos e filmes anaeróbios, as diferentes populações bacterianas agrupam-se em


camadas superpostas, de modo que haja um sentido de fluxo dos substratos em contracorrente
com o fluxo dos produtos. A Figura 3 representa esquematicamente o modelo proposto por
GUIOT et al (1992) apud CHERNICHARO (1997) para o arranjo bacteriano anaeróbio típico.
A modelagem matemática da digestão anaeróbia é deveras difícil, uma vez que o
sistema é complexo e precisa ser estudado com mais profundidade (CHERNICHARO, 1997).
YOUNG (1991) reuniu dados operacionais de diversos filtros anaeróbios, e, relacionando-os
estatisticamente, determinou os principais parâmetros que influenciam o desempenho desses
sistemas, que são (1) tempo de detenção hidráulica, (2) concentração do afluente, (3) área
superficial do meio suporte, (4) declividade do sistema, (5) carga orgânica. A partir de testes
experimentais, o pesquisador concluiu que o tempo de detenção hidráulica é o parâmetro mais
significativo, e estabeleceu uma equação para descrever o desempenho dos filtros anaeróbios
tratando diversos tipos de afluentes (equação 1):

E = 100.(1-Sk.TDH-m) (1 ≤ TDH ≤ +∞) (1)


Onde E representa a eficiência do sistema (%), TDH o tempo de detenção hidráulica (h),
Sk é um coeficiente do sistema, e m um coeficiente do meio suporte. Os coeficientes Sk e m
para leitos de brita assumem os valores 1,0 e 0,40 respectivamente (YOUNG, 1991).

Figura 3 - Estrutura de um arranjo bacteriano anaeróbio típico

A Figura 4 apresenta a curva da função de Young para leitos de brita, para 1 h ≤ TDH ≤
100 h.

Figura 4 – Representação gráfica da Equação de Young (1991) para Sk = 1,0 e


m = 0,40

WU et al.(1988) utilizando um filtro anaeróbio de dois estágios com meio suporte


sintético (96,5% de vazios e 141 m2/m3) para tratar lixiviado bruto proveniente de um aterro
para resíduos domésticos e industriais reportaram eficiências de remoção de DQO de 91%,
89% e 83% utilizando taxas de aplicação superficiais de 2,0, 2,7, e 3,8 kgDQO/(m2.d),
respectivamente. As eficiências de remoção de DBO5 foram superiores a 90%, e a remoção de
metais pelo biofiltro foi muito efetiva. Os autores verificaram que o processo de remoção
biológica de matéria orgânica deu-se quase que exclusivamente no primeiro reator e
concluíram, através do estudo da cinética do processo que, para o lixiviado utilizado, a taxa
ótima de utilização de substrato seria de 3,9 kgDQO/(m2.d), indicando esse valor para
projetos de filtros anaeróbios tratando lixiviados similares. Os mesmos autores citam
resultados de CHIAN e DEWALLE (1977), que utilizando um filtro anaeróbio de mistura
completa aplicaram uma mistura de lixiviado bruto e efluente recirculado com 20-30 gDQO/L
a uma taxa de 3,8 kgDQO/(m2.d) e obtiveram um efluente com 1,5 gDQO/L.
SCHAFER et al. (1986) apud QASIM e CHIANG (1994) utilizaram um filtro anaeróbio
de fluxo ascendente com meio suporte com índice de vazios de 95% e 114,8 m2/m3 para
tratamento de lixiviado com 38.500 mgDBO5/L e 60.000 mgDQO/L. Utilizando TDH
superiores a 4,9 d (média: 7,4 d) e carga aplicada de 7,1 kgDBO5/(m3.d) obtiveram remoções
de DBO5 e SST de 95% e elevados rebaixamentos nas concentrações de metais.

3. METODOLOGIA
A pesquisa utilizou 8 reatores de seção retangular de 0,35 x 0,50 m na porção central e
seção circular de diâmetro 0,35m na base e no topo, com 0,85 m de altura e 130 L de
capacidade volumétrica. Cada reator possuía duas torneiras, instaladas a aproximadamente 6
cm e 40 cm da base e uma tampa circular superior dotada de cinta metálica para garantia de
vedação. Cada tampa possuía em bocal de nylon ao qual foi adaptada uma mangueira de
borracha de 0,5 m de comprimento, cuja extremidade oposta encontrava-se mergulhada em
uma garrafa plástica contendo lixiviado, permitindo a equalização das pressões interna e
externa. O meio suporte utilizado foi pedra britada nº 5 (diâmetro superior a 75 mm)
previamente selecionada, tendo sido imersa durante 112 dias em lixiviados para formação de
biofilmes aclimatados ao afluente a tratar. Após decorrido tal período observou-se a formação
de espessos filmes negros viscosos envolvendo as unidades de meio suporte.
O trabalho foi conduzido em um sistema de alimentação descontínua dos reatores em
que, em intervalos de sete dias, frações dos volumes presentes nos reatores foram retiradas,
sendo substituídas por afluente, de modo a manterem-se determinados tempos de detenção
hidráulica médios, e, por conseguinte, taxas volumétricas e superficiais aplicadas constantes
em cada reator ao longo do experimento. Quatro pares de reatores operaram com diferentes
tempos de detenção hidráulica, que foram de 14, 28, 56 e 91 d. O experimento utilizou
lixiviado bruto proveniente do Aterro Sanitário Metropolitano Santa Tecla, Gravataí. As
unidades experimentais operaram a temperatura ambiente, sujeitas às variações climáticas e
intempéries externas.

4. RESULTADOS
As cargas orgânicas aplicadas aos reatores variaram em função das taxas volumétricas,
das variações das características dos afluentes ao longo do tempo, e dos volumes de vazios
dos reatores, sendo muito próximas para reatores de um mesmo par. A Tabela 1 apresenta as
taxas e cargas aplicadas em cada reator.

Tabela 1 – Taxas volumétricas, superficiais e orgânicas aplicadas aos reatores


Reator TDH (d) TAV [m3/(m3.d)] TAS COA COA
[m3/(m2.d)] [kgDBO5/(m3.d)] [kgDQO/(m3.d)]
A.1.a 14 0,0164 0,0139 0,044-0,1451 0,0875-0,2402
A.1.b 14 0,0164 0,0139 0,044-0,1451 0,0875-0,2402
A.1.c 28 0,0042 0,0036 0,0105-0,0346 0,0225-0,0505
A.1.d 28 0,0042 0,0036 0,0121-0,0370 0,0241-0,0540
A.1.e 56 0,00096 0,0008 0,0026-0,0085 0,0052-0,0124
A.1.f 56 0,00096 0,0008 0,0026-0,0085 0,0065-0,0124
A.1.i 91 0,00037 0,0003 0,0011-0,0034 0,0020-0,0056
A.1.j 91 0,00037 0,0003 0,0011-0,0034 0,0020-0,0056
TDH: tempo de detenção hidráulica; TAV: Taxa de aplicação volumétrica; TAS: Taxa de aplicação superficial; COA: carga
orgânica aplicada

O afluente utilizado apresentou pH entre 8,3 e 8,8, DBO5 entre 2690 e 8860 mgO2/L
(média: 4976), DQO entre 5345 e 14.670 mgO2/L (média: 9379) e relação DBO5/DQO
variando entre 0,35 e 0,71 (média: 0,53). Os reatores operaram sob as mesmas condições de
contorno durante 20 semanas, tendo, após, o experimento prolongado-se por subseqüentes 11
semanas. Através do monitoramento das cargas aplicadas e removidas dos reatores foi
possível efetuarem-se balanços de massa globais acurados para o período de 20 semanas,
calculando-se as eficiências de remoção. Tais eficiências, para reatores de mesmo tempo de
detenção hidráulica, apresentaram-se muito próximas, sendo tomadas suas médias como
representativas das eficiências para os diferentes tempos de detenção hidráulica. A Tabela 2
apresenta tais resultados e médias.

Tabela 2 - Eficiências globais de remoção de DBO5 e DQO do período semanas 1-20


Reatores TDH Eficiência de Eficiência de Eficiência Média de Eficiência Média de
Remoção de Remoção de Remoção de DBO5 Remoção de DQO do
DBO5 (%) DQO (%) do TDH (%) TDH (%)
Reator A.1.a 14 d 64,17 64,71 64,15 63,92
Reator A.1.b 64,13 63,13
Reator A.1.c 28 d 73,59 71,22 76,41 71,71
Reator A.1.d 79,22 72,20
Reator A.1.e 56 d 78,89 77,05 82,43 77,70
Reator A.1.f 85,97 78,35
Reator A.1.i 91 d 83,35 72,84 82,16 76,83
Reator A.1.j 80,97 80,82

As figuras 5 e 6 apresentam as plotagens das médias de remoção de DBO5 e DQO


versus respectivos tempos de detenção hidráulica, atribuindo-se, para a construção, eficiências
nulas para tempo de detenção hidráulica igual a zero. As curvas obtidas aproximam-se muito,
em forma, da curva representativa da equação de Young para Sk = 1,0 e m = 0,40 (Figura 4).
Contudo, verificou-se que há uma grande disparidade no que refere-se aos tempos de
detenção hidráulica necessários para estabilização de lixiviados em relação aos tempos
requeridos para estabilização de esgoto e outros afluentes que serviram de base para o
estabelecimento da equação de Young. O próprio artigo de YOUNG (1991) ressalta esse fato,
com base em alguns experimentos reportados utilizando filtros anaeróbios para o tratamento
de lixiviados.

Figura 5 – Plotagem de eficiência média de remoção de DBO5 versus


tempo de detenção hidráulica para os pares de reatores com
idênticos tempos de detenção hidráulica
Figura 6 – Plotagem de eficiência média de remoção de DQO versus
tempo de detenção hidráulica para os pares de reatores com
idênticos tempos de detenção hidráulica

Um fato extremamente importante a ser destacado é o de que as remoções médias para


TDH = 91 d foram inferiores àquelas obtidas para TDH = 56 d. Teoricamente, pela
extrapolação da equação de Young para TDH ¤ +∞ a eficiência de remoção tenderia a 100%.
Porém, considerado o fato de que, em geral, parte da carga orgânica dos afluentes (incluindo o
lixiviado de aterros) são refratárias ao tratamento anaeróbio, pode-se prever que após
decorrido um certo tempo de detenção crítico necessário e suficiente para o consumo da
matéria orgânica anaerobicamente não refratária, haverá o início de um processo endógeno
ocasionado pela ausência de substrato, que levará à perda do meio biológico aderido do filtro
anaeróbio, motivo pelo qual a adoção de um TDH superior será indesejável. Se houver
desprendimento de biofilmes para a fase líquida, além de biomassa bacteriana, compostos
refratários à metabolização anaeróbia nela adsorvidos passarão para a fase líquida,
incrementando DQO e DBO5 (teste executado em condições aeróbias) desta. Nas condições
em que realizou-se o experimento, e em relação às características do afluente utilizado, pode-
se prever que o TDH crítico seja não superior a 56 dias.
Verificou-se que a curva obtida experimentalmente para remoção de DBO5 versus
tempo de detenção hidráulica pode ser interpolada com notável aproximação utilizando-se
uma equação de Young modificada aplicando o fator 1/24 ao termo TDH (equação 2).

  TDH  −0, 4 
E = 100.1 −    para TDH≥24
(2)
  24  

O prosseguimento dos trabalhos experimentais por mais onze semanas, ainda que com a
perda de um dos reatores, produziu resultados que endossaram as conclusões estabelecidas,
pelo que o estudo aponta ser a equação 2 útil para projetos de filtros anaeróbios para
tratamento de lixiviados, já tendo sido utilizada com sucesso para dimensionamento do filtro
anaeróbio do sistema de tratamento de lixiviados do Aterro do Recreio, em Minas do Leão,
Rio Grande do Sul.
A Tabela 3 apresenta um comparativo entre as médias referentes às características do
afluente utilizado e dos efluentes dos reatores de iguais tempos de detenção hidráulica, o que
demonstra superior estabilidade dos efluentes dos reatores com TDH de 56 dias.
Tabela 3 – Médias das características do afluente e dos efluentes do experimento por TDH
TDH DBO5 (mgO2/L) DQO (mgO2/L) pH* DBO5/DQO
AFLUENTE 4976 9379 8,3 0,53
14 dias 1717 3628 8,3 0,47
28 dias 1321 2765 8,4 0,47
56 dias 1053 2599 8,3 0,40
91 dias 1319 3031 8,2 0,45
*adotou-se o cálculo de somatório dos resultados dividido pelo número de parcelas, o que a rigor seria errôneo, considerando
que o pH representa o co-logarítmo de uma concentração.

Procederam-se duas amostragens de meio biológico aderido (biofilmes anaeróbios)


durante o experimento, para análise de metais adsorvidos, estimativa de matéria orgânica
adsorvida no meio e contagem de organismos heterotróficos. A primeira amostra foi coletada
no reator denominado A.1.c, que operou com TDH de 28 d, dezessete dias após o término dos
trabalhos experimentais da unidade, quando ainda continha o lixiviado residual da operação
(que também foi coletado e analisado). A Tabela 4 apresenta os resultados analíticos
referentes às amostras.

Tabela 4 – Resultados da análise de biofilme e lixiviado (1ª Coleta)


Parâmetro Lixiviado Biofilme
Anaeróbio*
DBO5 (mgO2/L) 1730 36.800
DQO (mgO2/L) 3120 48.720
Contagem de Bactérias Heterotróficas (UFC/mL) não analisado 8,7 x 107
*os resultados para as análises de biofilme foram expressos originalmente em mgO2/g e UFC/g em base úmida e convertidos
para mgO2/L e UFC/mL sem apreciável erro.

A segunda coleta foi procedida em outro reator, propositadamente 150 dias após a
finalização de sua operação, ainda com lixiviado remanescente De modo análogo ao
procedimento anterior, coletaram-se meio biológico e lixiviado. A Tabela 5 apresenta os
resultados analíticos obtidos.

Tabela 5 – Resultados da análise de biofilme e lixiviado (2ª Coleta)


Parâmetro Lixiviado Biofilme Anaeróbio*
DBO5 (mgO2/L) 680 25
DQO (mgO2/L) 1540 103
Contagem de Bactérias Heterotróficas (UFC/mL) 30 220.000
Alumínio (mgAl/L) 0,3 1030
Cromo Total (mgCr/L) 0,04 17,6
Ferro (mgFe/L) 2,0 29.070
Mercúrio (mgHg/L) ND ND
*os resultados para as análises de biofilme foram expressos originalmente em mgO2/kg e UFC/g em base úmida e
convertidos para mgO2/L UFC/mL sem apreciável erro.

Verificou-se, portanto (1) a elevada viabilidade do meio biológico anaeróbio, mesmo


após 150 d sem nova alimentação, (2) a grande capacidade de adsorção de matéria orgânica
do meio biológico, que na primeira amostra concentrou vinte e uma vezes a DBO5 do líquido
(no segundo caso, a quase inexistência de matéria orgânica anaerobicamente estabilizável
produziu inversão de tal resultado), e (3) a notável capacidade de concentração de metais no
meio biológico, por fenômenos de biossorção e bioacumulação entre outros mecanismos
coadjuvantes (os resultados indicam concentrações de alumínio, cromo e ferro,
respectivamente 3433, 440 e 14.535 vezes superiores no biofilme em relação à fase líquida).
Os trabalhos experimentais com filtros anaeróbios prosseguiram pesquisando-se
aplicação em reator de dois estágios, obtendo-se resultados muito próximos aos obtidos na
fase relatada. Em outra fase empreendida utilizou-se reator sem meio suporte (unidade de
controle) paralelamente a reator com meio suporte aclimatado, comprovando-se a superior
performance da segunda unidade em relação à primeira, em que também são promovidos
processos naturais de estabilização pelo meio biológico suspenso no líquido.
O sucesso obtido no trabalho experimental com filtros anaeróbios confirmou as
observações que verificaram-se nos aterros do DMLU que utilizaram filtros anaeróbios,
respaldando-as de maneira definitiva.
Os resultados do trabalho empreendido provém de simples observação da performance
dos filtros anaeróbios experimentais. Os autores da pesquisa não conceberam um novo
sistema biológico de tratamento, uma vez que a tecnologia de filtros anaeróbios é de
conhecimento público. Contudo, não é demasiada pretensão afirmar-se que a experiência e
seus resultados são de enorme importância no sentido de fornecerem subsídios para o projeto
de unidades de tratamento que podem, a partir de baixos investimentos, como por exemplo,
construção de uma simples bacia impermeabilizada com materiais inertes residuários
abundantes e volume de vazios compatível com a vazão de lixiviados gerados e o tempo de
residência necessário do líquido, promover remoção de mais de quatro quinto da matéria
orgânica originalmente presente em lixiviados brutos sem requisito de operação qualificada
ou disponibilização de energia. Esta é uma proposta dirigida sobretudo a municípios e
comunidades carentes.

5. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

FLECK, Eduardo. 2003. Sistema integrado por filtro anaeróbio, filtro biológico de baixa
taxa e banhado construído aplicado ao tratamento de lixiviado de aterro sanitário.
Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, Dissertação de Mestrado, 344p.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHERNICHARO, A.L. 1997. Reatores Anaeróbios. Belo Horizonte: UFMG. 245p.


QASIM, S.R.; CHIANG, W. 1994. Sanitary landfill leachate: generation, control and
treatment. Lancaster: Technomic Publishing Co., Inc., 339p.
WU, Y.C.; HAO, O.J.; OU, K.C.; SCHOLZE, R.J. 1988. Treatment of leachate from a solid
waste landfill site using a two-stage anaerobic filter. Biotechnology and Bioengineering,
New York, V.30, p.661-667.
YOUNG, J.C. 1991. Factors affecting the design and performance of upflow anaerobic
filters. Water Science & Technology, 24, No. 8, p.133-55.

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