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KEITH OATLEY JENNIFER M. JENKINS COMPREENDER eee @ usr PIAGET I ABORDAGENS AO ENTENDIMENTO FIGURA 1.0. - 1; INTRODUGAO emogdes ou uma descoberta sobre elas, Se 0 leitor iniciasse a leitura da litera " aPés um curto perfodo de tempo que as emogées exam mesementa Sapestos dispersos da vida e do comportamento mentais humanos, nada tercls em comum a nao ser 0 nome wemogdes», Acreditam menos bem definidos. O que fazemos neste capitulo Bins 2 investigagio e ao pensamento, para dar corpo a algumas \deias, Agata aie rea Quem esté certo e quem estéerrado?» Estas abordagens ska complementares e a questio é: como é que os diversos temas que tam poderao ageupar. 2 eel tura cientifica sobre o assunto poderia FUNDAR UMA PSICOLOGIA DE EMOCOES Numa érea em que nem tudo é ébvio, as perspectivas das pessoas que apre- saligmes aqui permanecem actuas eestdo ainda a ser desenvolvidas desecbon argent disso. Algumas destas pessoas ~ Darwin, James e Freud ~ langaren as fandacoes para a psicologa, a psiquiatria ea biologia como um tole horn Como Para o entendimento das emogdes. Pode considerar-se que este Brupo estabeleceu a compreensio das emotes na tradicio das ciéneiss CHARLES DARWIN: A ABORDAGEM BIOLOGICA A nossa descendéncia assim, éa origem das nossaspnites ‘and Animals (1872), escrito como os tor poderd ima- 90es Possufam funcdes na nossa 2 sobrevivéncia. Com efeito, PSicélogos e biélogos presumem que foi que afirmou. Porém, nio 0 O seu argumento encontrava-se mais perto do que qualquer coisa que poderiamos sens: im das Espécies Darwin mencionara os seres humanos apenas passagem e em termes vagos, embora haja um curto pardgrafo na secgao fi dizendo: «Num futuro distante, vejo campos abertos para mais pesquisas imp tantes. A psicologia basear-se-é numa nova fundagZo, a da aquisigdo necessé de cada poder e capacidade me wvés da gradagao. Lancar-se-d luz sobr origem do homem e da sua hist6ria» (Darwin, 1859, p. 458). Darwin iniciou suas préprias observacées acerca das emogSes em 1838, O que the interes no era, como actualmente se tomou, as emogées em si; mas um interesse 1 expressdes emocionais como prova possivel da evolugdo da espécie humana continuidade do comportamento humano com o de outros animais e as ba: fisicas da mente. Ele prosseguiui numa frente alargada, observando as express emocionais nos animais, bem como nos humanos adultos e nas criancas. Fstava in ressado quer no normal quer no anormal e conseguiu a ajuda do director de u grande aslo de doentes mentais no Norte de Inglaterra para proceder a observ ses dos pacientes af intemnados. Desenvolveu novos métodos também, reconk cendo a importancia de estudos transculturais: foi um dos primeiros a us uestiondrios, Ele enviou um conjunto de perguntas impressas a missiondios jutros que podiam observar pessoas de outras culturas, pedindo-lhes para obs varem expresses particulares. Recebeu 36 respostas. Darwin também estudou pintura ¢ interessou-se pela Expression of the Emotions foi um dos primeiros livros em que se fias (como as do inicio deste capftulo) para ilustrar pontos especificas a0 leit Darwin trabalhou com um fotdgrafo e coleccionou imagens de criancas e « adultos exprimindo emogdes naturalmente © em poses - O aspect vador da obra de Darwin, neste caso, era usar a fotografia para mostrar os /humanos em termos de expresses emocionais e nao em termos de fisionomia a ideia popular, mas questiondvel de que se pode ler as personalidades di pessoas nos seus rostos O livro apresentava duas componentes. Uma era um conjunto de observ {Ges e de descobertas de Darwin, baseadas nos muitos métodos que adoptara o desenvolvera. A partir destes, formou uma taxonomia, fornecendo nomes 3 Principais expressie: . A segunda componente do livro de Darwin sobre expressdes foi 0 seu cor junto de conclusies teéricas. Concluiu que as expresses emocionais so padrée de acco que ocorrem mesmo «que nao possam... ter 0 minimo uso» (p. 28 A ideia principal de Darwin acerca das expressdes da emogio era que derivavan de habitos que no nosso passado evolucionério ou individual foram um di stes baseiam-se em mecanismos semelhantes a reflexos. Algumas acgoe Ocorrem quer sejam tteis quer nao e sdo despoletadas involuntariamente em cir 2B TABELA 1.1 Expresses emocionais analisadas por Darwin (1872), 0 apareiho motor usado e 0 tipo «de emogio expresso. Esta tabela esboca parte da taxonomia de Darwin das expressoes ‘emocionais e as emogdes com que se relacionam Expresso Aparelho motor Exemplo de emogae Corar Vasos sanguineos Vergonha, modéstia Contacto corporal Punhos cerrados Chorar thar carrancuda Aparelho dérmico ‘Aparelho vocal Misculos somaticos ‘Miscuios faciais Masculos somaticos sem funcdes, 0 apéndice. Darwin salient descendemos de antepassados de. As expresses emocionais apr sortiso de desdém, u 108 parcialmente os di acto de rosnar e da pr 4 104 outras expressbes &infancia inci, apesar de na vida ad samente Os gritos nos bebés e produziu um hos e da secrecio das grimas para ajudar a protege: ida segregam Embora 0 objectivo de Darwi continuidades entre os hhumanos ¢ 0s outros animais, esta mensagem pode ser lida de outra forma: talvez, como humanos adultos, devéssemos ser capazes de nos erguer acima das nossas ns bestaise infant sm da citagao de Darwin no paixdes animais. Est ssenta num mecanismo com aspectos que s30 lades mo foriana. Os estéicos, at xe. Darwin adicionou as observagbes da c 2. Porm, com e evolugio humana a part também fomeceu uma das mais importantes bases pai 66es mos, uma ideia que retomamos no capi WILLIAM JAMES: A ABORDAGEM CORPORAL 150 comum, rminado tipo de acti- dete sentir-no de medo muras, correr, etc, a sensagao das nossas respostas corporais aquilo que perce Durante algum tempo a teoria de James, as reacc as suas exten- ses, foram praticamente o todo da psicologia das tradigao, quase todos os manuais de psicologia reconheci psicdlogo dinamarq 1885) havia independ uma ide| teoria tor u-se conhecida como a teoria das poralmente. Podemos tremer ou transpirar, a respiragdo pode ser tomada por uma mos ou rimos desesperadamente. As emocies Uma parte do sistema sensorial visa 0 nosso ames capta-se quando diz o seguint icblogos também a consideraram ‘A sua importancia é redobrada, Em primeiro lugar, James sublinhou a persor de que 0s si idas. Nao pulsar. A mente (V. teoria, € 0 conj parte do sist sensagio de que este poderia ser o nosso prop 1c40 das emogbes f nnstrada experimen- 1966). O ponto principal corporais, segundo esta o de mudaneas realizadas pelo sistema nerv coragio a 26 Respiragio ALIA Ritmo cardiaco Resposta gavinica — SS da pele FIGURA 1.2, ~ Esta figura mostra um sujeito a quem se medem os indices fisclogicos das ‘emogies, como a respiragdo,o ritmo cardiaco @ a Resposta Galvénica da Pele (GSR ou a Condutbiidade da pele, uma medida cronometrada das atteragdes da transpracdo). as dos movimentos dos Iteracoes de ansiedade: no seu ca 3S, provavelment uma ma constituigio her hos a passar neces sidades (Bo sintomas de ansiedade corporal res. Nao sdo raras: o leitor poderia Perguntar-sea si mesmo qual é a sua propria vers James estava certo: aquilo a que chamava as emogBes grosseiras est ass0- ciado a dis is (como com 0s ata- ques de os causam medo. Podemo: de que nao somos espiritos di mogdes mos- ser téo fortes que eles pr James como uma advertén Agitando 0 corpo, as nossas contecer. Em segundo lugar, James propds que as emogies dao «cor e calor» a viven- cia. Sem estes efeitos da emosio, dizia, tudo seria bago. Esta ideia ce que a emo- "U nos entendimentos psicoldgicos da emogdo, wes podem ser agradaveis ou desagradaveis rOprios estados de sentimento, podem ser coisas a procurar ou a evitar. SIGMUND FREUD: A ABORDAGEM PSICOTERAPEUTICA descrigto feita por jeto de wm dos primeiros easos de Freud). Freud e Breuer, 1985 oria sobre emogdes enquanto tal. Com >, Propds trés teorias acerca dos efeitos de questées emocionalmente signif a sua teoria dos traumas emocionais, que analisaremos aqui; a los conflitos internos (Freud, 1915-1916); e a teoria da compulsio a repetigdo (Freud, 1920), De cada vez ele modificou a sua teoria anterior porque nao funcionava t30 ‘quanto pensara. igmund Freud ndo propés uma tos emocionais, era a de que determinados malmente de tipo sexual, podem ser tio prejudiciais que deixam mar- igicas que podem afectaro resto das nossas vidas. A sua principal expo- icd0 foi numa série de casos curtos: apresentamos um, 0 caso de Katharina (Freud e Breuer, 1895, pp. 190-201). Freud dava um passeio nos Alpes Orientais ’os principios da década de 1890, tentando, como afirmou, afastar a medicina e as neuroses completamente da sua mente. Disse que acabara de o conseguir quando, numa hospedaria do topo de uma montanka, uma voz interrompeu a sua ¢ontem. plagio da paisagem perguntando: «© senhor & médico?» Freud denunciara-se no livro de registos. A voz pertencia «a uma rapariga com um aspecto bastante car- rancudo de, via servido a refeicao [de Freud)» (p. 190) ‘Chamava-se Katharina e era sobrinha do proprietario, Disse que os seus nervos _ndo eram bons e que consultara um médico, mas ainda nao so sentia bem. Assim, Freud voltara as neuroses ~ 0 nome téenico que dava aos problemas Popularmente conhecidos como «nervos». Katharina contou que sofria de ata. bido e um ques em que pensava que ia sufocar. Havia um 21 Parecia rebentarem-the a cabeca, ve aperto no peito que lhe provocava Froul perguntou-the se se sentia assustadla, Ela respond q mente, afirmou, enchia-se de coragem e ia a qual sentia-se como se estivesse para morrer e, nestes dias, 28 eria actualmente denominado por um ataque de panico (Associacé itrica Americana, 1994). Estes ataques podem ocorrer em perturbagée que sao habitualmente estados incapacitantes erénicos, em que ums nga ¢ sentir-se incapaz de participar na vid: social. Em termos de emogées, estes ataques so episédios de medo com pertur bagdes corpora violentas do tipo que James descreveu. Os ataques de piinico acontecem frequentemente sem qualquer nogfo do objecto que produ ‘esse medo e, por vezes tal como com Katharina, fazendo quem sofre deles pensar que as proprias perturbagdes causardo a morte. Nos seus ataques, Katharina disse: «Vejo sempre uma cara horrorosa que olha para mim de uma forma terrivel e fico assustada>(p. 192). Katharina nao sabia dizer a quem pertencia este rosto. Freud estava certo de que se tratava de um ataque de medo, também cha- mado ansiedade. O seu objectivo na terapia era descobrir como os ataques come- savam e qual - ou. quem ~ seria 0 objecto temido, Afirmou que 0 topo de uma montanha nao parecia 0 local ideal para tentar a hipnose, assim, questionou Katharina. Os ataques, contou, haviam comegado cerca de dois anos antes. Freud. pensou que deveria tentar uma suposigdo, dado que constatara que as mulheres Jovens experimentavam sensag6es de horror quando confrontadas pela primeira vez. com 0 mundo da sexualidade. «Se no sabe», declarou, «vou dizer-the como fo algo que a envergonhou la. «Foi quando apanhei o meu tio ‘com uma rapariga, com Frat inha prima» Freud continuou a questo tinha espreitado por uma janela na passa- ‘gem para uma divisdo para ver o tio deitado em cima de Franziska. Ela lisse: «Afastei-me da anela imediatamente e encostei-me & parede, mal conseguindo res- Pirar ~ exactamente 0 que acontece desde enti. Tudo ficou escuro, a8 pal fecharam-se e pemaneceu um martlar e um zumbido na minha cabea>(p. 193) Katharina afirmou que nao tinha compreendido o significado daquela cena ra altura. O rosto que via durante os seus ataques nao era o de Franziska, Fra tum rosto de homem. Seria 0 do tio? Nao sabia, Ndo o havia visto claramente e Porqué, perguntava, «seré que, nessa altura, ele estava a fazer uma cara tio hor- Torosa?» (p. 194). Freud concordou, mas continuou a perguntar. Trés dias mais tarde Katharina afirmou que sentira vertigens novamente e que em seguida sofrera de néuseas e v6mitos durante trés dias, Freud sugeriu que a sua doenga Significava que sentira nojo quando olhou para dentro do quarto. «Sim, tenho a certeza de que sentinojo», disse pensativa, «unas nojo de qué?» (p Nem Freud nem Katharina puderam perceber, mas ele pedi wat a historia, Declarou que finalmente havia contado esse episddio Suspeitava de que ela estava a esconder qualquer segredo. Seguir. dcsagradaveis entre o tio ea tia no decurso das quais ouvra cosas que preferra 1 fer ouvido. No fim, a tia mudow-se com Katharina para ocupar a presente Sstalagem, deixando o tio com Franziska que, por essa altura, estava gravida, ee pessoa pode perder toda a 29 nia de entrega reconhee: FIGURA 13. -A fotografia de grupo da cont do grau honorario da Universidade Clark em ferénca, €o quinto a partir da dreta. Na segunda terceiro desde a esquerda, encontra-se James Cattell mais viu Kath © estava inconsciente, como Katharina disse: «Por Deus, sim Isso foi quan apanhei o meu tio com a rapariga, com a Franziska» Outros elementos do caso cle Katharina sao comuns psicoterapia, Incl \ogdes entre os problemas pri Cipais a serem tratados. Tais emogdes, quando se tornam profundamente perturbadoras ou incapacitantes, séo chamadas sintomas. Os vam as suas bases emocionais, embora sejam frequentemente mais intensos « mais duradouros do que as emogdes comuns, Sio, em parte, anormais no facto cle que quem os sofre os experimenta como inapropriades, incapacitantes, por vezes incompreensiveis. A psicoterapia 6 frequentemente dirigida ao afrouce mento da sua garra, compreendendo-os ou regulando-os ou tornando-os mais suportaveis. Para compreender as emogdes,o trabalho de Freud du inicio &ideia de que, deliberada ou involuntariamente, a mente parece prevenit-se contra emocoes desagradaveis. Freud chamou a estes processos mecanismos de defesa e a sua filha Anna Freud desenvolveu aideia (1937), Mais geralmente, os investigadores que expandiram 0 trabalho de Freud sobre o tratamento de eventos emocio. nalmente tensos falam em termos de lidar com 0 evento e com as emogbes que produz (Lazarus, 1991). AS BASES FILOSOFICAS E LITERARIAS Darwin, James e Freud nao foram, de todo, os primeiros na tradiggo ociden- tal a pensar sobre as emogies. Reflexdes acerca das emogies podem ser encon, radas em alguns dos documentos escritos subsistentes mais antigos. Alguns escrito afectaram profundamente o pensamento moderno. Nesta seccio consi. dleramos as abordagens de quatro escritores que representam correntes impor. tantes do pensamento referente as emogdes. ARISTOTELES: A ABORDAGEM CONCEPTUAL nada é bom ou mau, $60 pensamento o faz asim. ‘Shakespeare, Hamlet, 12,1. 249-250 Aristoteles, que viveu de 384 a 322 A.E.C (Antes da Era Comum), langou algumas das fundacdes da psicologia das emogées europeia e americana. A sua Perspectiva mais fundamental consstia em que as emogdes esto ligadas 3 accdo «gue derivam daquilo em que aceditamos. Um motivo pelo qual a abordagem de Arist6teles ¢ importante consste no facto de, noutras abordagens, as emostes 32 lesmente nos acontecerem (como & sugerido por Darwi ¢ James), Estes argumentos podem indicar que as emogdes so meramente acer tecimentos biol6gicos, como espirrar, sem significado ou que s40 opostas pensamento. Que qui les quando defendeu que as emogve dependem dag que acreditamos? Principal andlise das emogdes realizada por Aristételes no seu live em que apresentava preocupacées praticas: como é que efectuamos o argumentos persuasivos, especialmente quando falamos acerca de decisdes pri ticas? Em muitos casos, aquilo que deviamos acreditar e aquilo que deveriamo fazer nao € certo, Assim, temos de tentar aproximar-nos da verdade realizandk lum argumento que seja persuasivo, Aplicam-se trés principios gerais, afitm, Arist6teles. Em primeiro lugar, hd mais probabilidades de um ouvinte acredi riuma boa pessoa do que numa md, Em segundo lugar, as pessoas sio persu das por argumentos que abordam a verdade, ou uma verdade aparente,acerc do assuinto em questio. No tépico das emogdes, Aristételes deixa claro que nao esta interessado nas emogGes para suscitar 0 preconceito, a piedade, a ira, etc, para influenciar a irra cionalidade das pessoas. Ele concebe a retérica como uma busca da verdade, falando e discutindo, Referindo-se ao discurso num tribunal, diz: «Nao estd certo corromper 0 juiz levando-o 3 ira, ou a piedade - seria o mesmo que empenar a régua do carpinteiro antes de ele a usar» (1984, 1354a, 124). A sua Preocupagio com as emogies consiste no facto de que falar é um assunto pessoa Quando se fala para persuadir, tem de se saber alguma coisa acerca da pessoa Para quem se fala, acerca dos seus valores e acerca dos efeitos que esse discurso Pode ter sobre ela. Quando «as pessoas se sentem amistosas e aféveis pensam tim tipo de coisa; quando se sentem iradas e hostis, pensam outra coisa comple- te diferente, ou a mesma coisa com uma intensidade diferente» (1377b, 29) «As emogées», continua Aristteles, «so todos aqueles sentimentos que mudam [as pessoas] de forma a afectar os seus julgamentos e so também assis. tidas pela dor ou pelo prazer. Esses sdo a ira, a piedade, o medo e outros, com os seus opostos» (1378, 1.20), Aistoteles continua para definir e analisar emocdes diferentes, comecando Pela ina: «A ira pode ser definida como um impulso, acompanhado pela dor, Para a vingana conspicua por uma atitude desrespeitosa dirigida sem justfica, S80 em relagio aquilo que nos preocupa ou em relagéo a0 que preocupa os nos- $08 amigos» (1378, 1.32). A ita € definida nos termos co, to que uma pessoa Possui e na forma como este conhecimento & usado. Aristételes fal decompor algo nas suas partes. E isto que as suas definicées co forna as propriedades de cada parte claras. O que ele quer dizer com ser des. ‘peitado, por exemplo, éalguém tratar-nos com desprezo ou contrariar os nossos . Na Europa ¢ na América, no obstante as potenciais contradi ‘bes de algumas das nossas conviegdes cuturais acerea das emogies, «romantico simente ainda um termo apropriado para 0 magdo das emogoes e das suas nara-se firmemente uma parte da das ideias de iterdade individual Foi a Jean-Jacques Rousses que foi geralmente atribuida a suns as encontraron ua pont radas para a mudanga de valores qu Rent publco a Kee, acumen considerada ova religiosa se baseia na forma como nos sent turas ou nos argumentos para a existéncia de Deus. Foi ele que comecou 0 ata- que as buscas cultivadas como artfiiaise corruptoras: em vez. isso, propés que a educagio devia ser natural e que as emogdes naturais das pessoas indicam 0 que esté certo - tém meramente de estar atentas para os sentimentos da sua consciéncia. A sua frase sonante do inicio do Contrato Social (1762) «© homem nasce livre ¢, em todo o lado, encontra-se acorrentado» tornou-se o grito de ordem para os jacobinos na Revolugso Francesa etais pensamentos também atravessaram © Atlantico para ajudar a alimentar a Guerra de Independéncia americana. © romantismo inspirou escritores, que se pode considerar que continua- rama articular as mudangas culturais que estavam a ocorrer. Os roménticos esta- vam fascinados pelo natural. Os cendrios selvagens, previamente, contudo, assustadores e birbaros, comegaram a ser valorizados. Os escrtores comegaram aexplorar os mundos da vida comum, em vez das vidas dos aristocratas. Explo- raram a infdncia, os sonhos, locais distantes, 0 exético, A escrita em si mesma tomou-se uma forma de descobrir verdades emocionais interiores. E,em vez da razio, foi a emogio, experimentada e aceite, que se tornou ideal. As emogées ‘eram expressas por poetas, romancistas e dramaturgos, bem como por pintores e Imiisicos. Leitores, audiéncias, espectadores, ouvintes, todos se comoviam; tam- bbém eles experimentavam emogdes, Recordemos a nova ciéncia social de George (analisada no capitulo 1) em que a experiéncia das emogées se tomnou central Em vez de conta a do romantismo, consideremos apenas um romance Shelley filha da famosa feminista Mary Wollstonecraft e do im Godwin. Aos 16 anos ela fugiu com o poeta Percy - Quando fez 18 anos, Mary juntamente com Percy, a sua meia- rd Byron e outro amigo, estavam de férias durante um Vero 4» nos Alpes. Uma chuva incessante confinou-os & casa durante dias. iam bastante e tinham longas conversas sobre literatura, filosofia e biologia. O facto de as 61 Um dia, Byron sugeriu que cada um devia escrever uma historia de (Quando foi para a cama Mary Shelley ndo conseguiu dormie Impel versa sobre experiéncias em que a electricidade foi usada pata musculares em criaturas mortas, ve ular o mente uma imagem de Wr RA 2.1.— Pagina nici do volume da primeiaedigéo de Frankenstein, escito por Mary Wolstonecratt Shelley, mas originamente publicado anonimamente foi um soe Brimeiros romances do periodo romantica inglés, enlatizando as emogbes ¢ os cove efeitos. constr um homem a a sua pele amarelada mal anos de trabalho duro impul los e das artrias»(p. 105). Apés nado pela excitacdo da investigacZo infunde-Ihe a cen- ise com a sua amada na rua e ‘om a cor da morte, os seus ti iver da minha falecida mae» ( (Com esta imagem surpreendentemente madera de um abuso ineestuoso da e7a, Frankenstein acorda. Sobe novamente as escadas para o seu laboratsio, A cr lexgue'se eestca as maos como se quisesse deter sew criador. Frankenstein loge nova- mente da sala. Quando 0 rosto da criatura se encontrava em repouso era fei, mas a ‘mado tornava-se uma visio do Inferno. Depois de dois anos e de uma longa doenga, Frankenstein volta para a familia em Genebra para descobrir que uma crianga,o sew irmo, hava sido assasinada. Vislumbra sua cratura na mata e adivinha que fora ela quem cometera 0 acto, Uma criadaé co dena pelo crime © morre por isso. Num tormento de culpa, Frankenstein tenia encon- tear consolo fugindo para os Alpes, mas a criatura encontra-o no mio daquele cenésio he da sua fuga do laborats- 8 primeiros encontros com os humanos, fra repelido por use num casebre abandonado encostado & pared da casa cde um camponis. Através de uma festa observou os habitantes da casa, uma rapariga, ‘um jovem e um homem velho cego, irma e irmio com o pai. Quando o homem sort pat ‘com bondade e afeigdo, a criatura wsentiy sensagdes de uma natureza realiza outastarefas para a familia. Meticulosamente aprende as {umes soiais. Numa inocéncia que reflect a leituraatenta de Rous ‘acaba por sentir uma benevoléncia naturale amor pelos camponeses pos tm an 0 jovem bate na c Seguinte a familia abandona a cas receseelangafogo ao casebre casa cata yaguia nesse Favero na amargura, mas na Primavera sente bondade € ‘olla. Decide encontrar o seu crador. Em Genebra, enconta um rapazinhoe aproxima-se ado que a clang seria demasiado nova para sentir o preconceto. Porém, 3 {fianca fica alarmada, chama-e ogre e ameaga-o dizendo que 0 Seu Pai, igat. A criaturaestrangula 0 rapaz ~instigado pela rava 20 Ouvito nome da amaia do homem que fol responsvel pela sua destiguraso. Dias mais tarde, a criatura enconira Frankenstein nos Alps. firma que sed sem- Pte evitado pelos sees humanos. Confssa que se fomou mat, mas porque & mens 63 feveria ele corner o risco les puciessem espalhar a destruigdo ou deveria ul ‘outro monstro para qui 0 desejo desta criatura que busca Frankenstein continua a ser um romance excitante; faz pensar nestes dias de robbs e de inteligéncia artificial, da nossa exploraczo construgio de sistemas tecn (Perrow, 1984). No romance e cendrios entre a paisagem selvagem, oa énfase do natural, a desconfianga do a arrogantemente ultrapassam os seus limites. Os valores do romantismo nao eram os da cultura europeia antes do sé No romance ce Shelley podemos ver muitos destes valozes tomados exp ainda continuam connosco. Nés experimentamos as emogBes como rates para muito do que fazemos. s emogtes como causas de accio, o ical e @ apreensio dos humanos que COMPARANDO-NOS A NOS PROPRIOS COM PESSOAS DE OUTRAS CULTURAS °s como 0s antropé- iferentes da nossa do Norte e da Europa, dado que é a tradigao em que os autores deste livro (um inglés e 0 outro ameri, ano) foram criados e acerca da qual possufmos um conhecimento em primeira ‘mao. Para compreender as emogdes — as suas, as das bem, as das pessoas em sociedades diferentes ~ ¢ livro serd norte-americana e europeia, comecamos com a cultura ocidental orem, consiste apenas num ponto de patida, sendo um ponto de partida pros: a América abrigam muita culturas diferentes. Ndo pensamos ‘que a nossa cultura é superior. Se féssemos japoneses ou indianos, escreveriamos of lidade: antes, entre os muitos valores que qualquer sociedade humana pode adoptar, alguns so esco- Ihidos em vez de outros. Por exemplo, sugerimos que a América do Norte é ainda em muitos aspectos romantica. Nos tltimos 20 anos as preocupacées ambientalistas tomaram-se fortes. Aproximam-se muito das atitudes romanticas dos valores que afirmam o natural, mas isto nao significa que estes conceitos sejam ieracionais. ESTE E OESTE je uma sociedade nao ocidental, 0 2 ocidental, numa economia de dinheiro. As dife- rengas ndo se devem a diferentes graus de progresso industrial, de instrugdo ou semelhantes: no obstante, os climas emocionais euro-americanos e japoneses realmente diferem. O principal contraste verificado por observadores ocidentais japoneses encontra-se na natureza do eu. No Ocidente conceptualizamos o eu como um «eu-préprio» (Lewis, 1992), uma entidade auténoma, a fonte das deci- des, dos pensamentos e das acgdes, bem como o centro da experiéncia das emo- Ges. Este eu esté separado dos outros eus. Nesta sociedade & importante ser independente, para afirmar 0 eu, para competir com outros eus se necessério. Em contraste, no Japéo e em muitas culturas nao ocidentais, embora esta explicagdo seja, sem diivida, demasiado simplificada, muitos comentadores des- ereveram 0 eu como um «eu-nés», derivando de ligagies com a familia, os colegas 0 grupo social, F mais importante dar-se bem com 0s outros e viver em harmo- nia com eles (Markus e Kitayama, 1991), Para que no pensemos que 0 «eu» inde- endente, devendo a autenticidade aos seus desejos e emogbes individuais, é natural, devemos reflectir que este énfase sobre o natural é por si mesmo parte da heranca cultural ocdental (ver secgio anterior sobre o tomantismo). Em termos das culturas mundiais, é0 eu individualista que ndo é comum (Geertz, 1975). Em todas as sociedades as criangas desenvolvem um sentido delas mesmas como fisicamente separadas do mundo. Neisser (1988) propés que este aspecto fico se deveria chamar 0 «eu ecoldgico», Além disso, as pessoas em todo 0 [ado provavelmente tém um sentido de uma vida mental privada, incluindo uma corrente de pensamentos conscientes, sentimentos e sonhos. Todavia, alguns ‘utros aspectos do eu diferem e afectam a vida emocional. Com um eu interde- Pendente ou um eu-nds, os pensanentos e os sentimentos concentram-se no em «starem separados, mas em encaixarem-se com outros. Mesmo na nossa socie- dade indivi ta, pode obter-se um sentido disto: quando nos apaixonamos, Podemos experimentar os limites de nés mesmos em expansdo para incluit « 65 Outra pessoa nas nossas preocupa «nds» imérias e a tornarmo-nos mais um, lependiéncia e de auto-afirmagdo. No entre pessoas de grupos sociais tos (63%) ‘era manter a autoridade ou a independéncia ou a ria da imagem pessoal. Miyake etal. (1986) verticaram diferentes efcitos terpessoal na América e no Japo desde cedo na vida. Os cientistas mos. traram brinquedos interessantes a bel tempo que levava para as criangas comecarem a movimentar-se em direcgao 20, bringuedo ap6s a audigio da expresso da mae, os bebés americanose japonesrs rio eram diferentes na rapidez com que se movimentavam apts 0 som das vvozes alegres ou temerosas das maes. Depois Wes falarem com uma vor irada as criancas americanas comegaram a para o brinquedo uma imédia de 18 segundos mais tare, mas as criangasjaponesaslevaram significa vamente mais tempo, uma média de 48 segundos, para comesarem a movimen. tare. Os bebés japoneses eram provavelmente mais inibidos pelas expressdes iradas das maes porque estes eram acontecimentos raros. Falando de uma emog0 mais positiva: no Japdo ha uma emogdo, ame, para # qual nao existe uma tradugio simples (Morsbach e Tyler, 1986). Amae é uma emosdo de interdependéncia, que surge de uma espécie de simbiose, do conforto na completa acitagdo da outra pessoa. Nao & que esta emogdo no seja reconhe, civel noutras culturas ou que Ihe falte significado universal. Antes, nfo possul uum lugar claro na vida adulta ocidental. O seu ideograma chinés original ra um , quando os ocidentais imaginam esta emogao, sabem que se deve ter abandonado a situacio. No Japao isto no se esta é uma emogio de uma relagio de aceitacdo no seio de uma familia eé ibém valorizada como uma dependéncia mitua entre amantes. Possui a sua palavra especial ¢ a sua importincia cultural especial. No Ocidente seria consi. derada regresso. E uma emocao nao de separacio, mas de unio. Heelas (1986) conduz os leitores lares tém tendéncia para 0 hipo-reconhy cimento € para a supressio do medo. Uma fonte para esta teoria constitu ‘manuais de conselhos pa is: Stearns e Haggarty (1991) estudaram 84 de tes manuais publi 50 e 1950, bem como literatura popular dest nada is criangas, Antes de 1900, destacaramsetréscaracteristcas avisos aos pa acerca dos perigos em suscitar medo nos flhos; 0 siléncio quanto & questio d lidar com os medos da infincia; as historias para rapazes que visavam inspira coragem e estar preparado para agir correctamente apesar do medo. Em seguid: ‘ocorreu uma mudanca: «Diz-se aos pais do século xx que ndo s6 evitem assusta 0 filhos como um dispositivo disciplinar, mas também para dominarem as sua proprias emogies, para que ndo déem sinais de perturbagdo» (Stearns Haggarty, 1991, p. 75). O Dr. Spock (1945) no seu influente manual descteveu o medos da inféncia como necessitando de uma gestio cuidadosa. A separacio d criangas pequenas suscita medos e deve ser evitada, Se os medos ocorrerem devem ser tratados com paciéncia e afecto. Cerca da década de 1940 as histdrias para rapazes que consistiam em agir bem, apesar do medo, cido, para serem substituidas por aventura: ‘medo sequer. Na sociedade americana, cont tinica coisa que deve- iprio medo.» Numa transformagao da ideia medieval de julga- ‘mento final, o filme de Hollywood Defending your Life representa acontecimentos p65 uma morte terrena em termos de um julgamento no tribunal com advoga- dos. Em vez do pecado ¢ 0 julgamento de que o medo governou a vida da pes- soa que determina se a pessoa segue em frente ou pata tras. No Ocidente, pensa-se que as emog6es, excepto 0 medo, sfo grandemente involuntérias e que 6 geralmente melhor expressé-las. Pensa-se que 0s tiscos de Savide suprimem outras emogdes e ficamos desconfiados de alguém que parece demasiadamente controlado emocionalmente. Em contrast, no Japio mutes €mogdes eestados corporais sio cultivados em algumas circunstancias, mas con. trolados noutras. Matsumoto etal. (1988) constatou que os americanos acredita- Yam que o medo podia ser influenciado. Fm comparagao com os japoneses, 0s americanos pensavam que a ia ea aversio eram mais involunt Na América 05 individuos possuem dieitos. Nas 6

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