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ALESSANDRA BIANECK

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA E APLICAÇÃO DA LEI 13.465/2017

Monografia apresentada como requisito


parcial de avaliação das atividades de
elaboração de Trabalho de Conclusão
do Curso de Direito da Universidade
Positivo
Orientadora: Dra.  Clarissa  Bueno 
Wandscheer
 

CURITIBA
2019
AGRADECIMENTOS

Quero agradecer aos meus familiares,à algumas


amigas,à Deus , à Nossa Senhora (que intercedeu
na cura de um câncer maligno terminal) e
principalmente à Dra.Clarissa que dedicou seu
tempo atenção em prol da realização do presente
estudo.
“Pai misericordioso e compassivo, que governais
o mundo com justiça e amor, dai-nos um
coração sábio para reconhecer a presença do
vosso Reino entre nós. Em sua grande
misericórdia, Jesus, o Filho amado, habitando
entre nós testemunhou o vosso infinito amor e
anunciou o Evangelho a fraternidade e da paz.
Seu exemplo nos ensine a acolher os pobres
e marginalizados, nossos irmãos e irmãs com
políticas públicas justas, e sejamos
construtores de uma sociedade humana e
solidária. O divino Espírito acenda em nossa
Igreja a caridade sincera e o amor fraterno; a
honestidade e o direito resplandeçam em nossa
sociedade e sejamos verdadeiros cidadãos do
“novo céu e da nova terra” Amém!
Oração da Campanha da Fraternidade 2019
,lema: “Serás libertado pelo direito e pela
Justiça”
RESUMO

O presente estudo contém uma sucinta análise da Lei 13.465/2017 no que tange a
regularização fundiária urbana(REURB) e sobre como os conceitos históricos
influenciaram na evolução da propriedade e no seu cumprimento da função social e
o acesso à moradia .Explica também os mecanismos da regularização fundiária
urbana(REURB-S), voltada para o cidadão que reside em núcleos urbanos informais,
para que este possa adquirir seu título de propriedade de forma
desburocratizada,célere e sem a necessidade da usucapião.Serão pincelados os
ordenamentos jurídicos vigentes que foram alterados,quais instrumentos jurídicos
foram criados ,além de identificar quem são os beneficiários e agentes
regularizadores fundiários legitimados que podem ter acesso a REURB.Não menos
importante é trazer neste estudo os motivos e as críticas doutrinárias que
influenciaram no resultado de três ações diretas de inconstitucionalidade em relação
à Lei 13.465/2017.
Palavras-chave: 1.Lei 13.465/2017 2.REURB 3.Unidade Informal Urbana 4.
REURB-S
RESUMEN

El presente estudio contiene un sucinta análisis de la Ley 13.465 /


2017 en lo que se refiere a la regularización agraria urbana (REURB) y sobre cómo
los conceptos históricos influenciaron en la evolución de la propiedad y en el
cumplimiento de la función social y el acceso a la vivienda. de la regularización
agraria urbana (REURB-S), orientada hacia el ciudadano que reside en núcleos
urbanos informales, para que éste pueda adquirir su título de propiedad de forma
desburocratizada, célere y sin la necesidad de la usucapión. Serán pincelados los
ordenamientos jurídicos vigentes que fueron en el que se establecen los criterios y
las críticas doctrinales que influenciaron en el resultado de tres acciones directas de
inconstitucionalidad, en relación con la Ley 13.465 / 2017.
Palabras clave: 1.Lei 13.465 / 2017 2.REURB 3.Unidad Informal
Urbana 4. REURB-S
ABSTRACT
The present study contains a brief analysis of Law 13.465 / 2017 regarding urban
land regularization (REURB) and how historical concepts influenced the evolution of
property and its fulfillment of social function and access to housing. It also explains
the mechanisms (REURB-S), aimed at the citizen who resides in informal urban
centers, so that he can acquire his property title in a bureaucratized way, quickly and
without the need of usucapião.Saracter the legal systems in force that were altered,
which legal instruments were created, as well as to identify who are the legitimized
beneficiaries and regularizing landowners who may have access to REURB.No less
important is to bring in this study the motives and doctrinal criticisms that influenced
the outcome of three direct actions of unconstitutionality in relation to Law 13,465 /
2017.
Keywords: 1.Lei 13.465 / 2017 2.REURB 3. Urban Informal Unit 4. REURB-S
LISTA DE ABREVIATURAS

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA (REURB): é aquela que “abrange medidas


jurídicas,urbanís cas, ambientais e sociais des nadas à incorporação dos núcleos
urbanos informais ao ordenamento territorial urbano e à tulação de seus ocupantes”
(art. 9º, caput, da Lei nº 13.465/2017).
REURB- S: Regularização Fundiária Urbana Social
REURB- E: Regularização Fundiária Urbana Específica
ZHIS: Zona Habitacional de Interesse Social
ZEIS: Zonas Especiais de Interesse Social
CRF:Cer ficado de Regularização Fundiária
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
1 HISTÓRICO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE NO BRASIL…………....1
1.1 DISCURSOS DO PROPRIETÁRIO E DIREITO À MORADIA..............................3
1.2DIVERGÊNCIAS HISTÓRICAS PROPRIEDADE, POSSE E ORIGEM DA
FUNÇÃO SOCIAL……………………………………………………………………………5
TEORIAS SUBJETIVA E OBJETIVA……………………………………………………....6
2. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA E REURB…………………………………………..8
2.1 REURB- E REURB-E………………………………………………………………….10
2.1.1 Legitimação Fundiária e Legitimação da Posse………………………………....11
3 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO………………………………………………...12
4 ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS………………………………………………………….16

4.1 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE………………………………….17


4.2 CRÍTICAS DOUTRINÁRIAS E DEFICIÊNCIAS DA LEI 13.465/2017…………...18
4.3 DIFICULDADES NA APLICABILIDADE DA LEI 13.465/2017……………….......20
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como foco a análise da regularização fundiária urbana


(REURB) e identificar quais são as dificuldades enfrentadas na aplicabilidade da Lei
13.465/2017.Tem como intuito explicar os novos institutos jurídicos,quais são os
mecanismos utilizados e como funciona a aplicação deste novo instrumento jurídico
na concretização do acesso à moradia,destinado à população que reside em núcleos
urbanos informais.
No primeiro capítulo será exposto o discurso do proprietário,o direito à
moradia e algumas divergências históricas entre a propriedade e a posse, que
causam dissonância cognitiva até os dias atuais .Não menos importante o tema
relacionado a origem da função social,as teorias subjetiva e objetiva e qual delas
vige no ordenamento jurídico brasileiro.
No segundo capítulo será feito um panorama sobre regularização fundiária
como gênero,quais são suas espécies e subdivisões.Também serão identificados
quais são os novos instrumentos jurídicos da Lei 13.465/2017 (Legitimação fundiária
e legitimação de posse) , quem são seus beneficiários e legitimados.
No terceiro capítulo será elencado o funcionamento do procedimento
administrativo e pincelado quais são as principais alterações legislativas advindas
da Lei 13.465/2017 ,além se ser identificado quais são as críticas doutrinárias e os
fundamentos estabelecidos para que a mesma seja alvo de três ações diretas de
inconstitucionalidade.
Para realizar este trabalho de conclusão de curso, optou-se pela pesquisa de
revisão de literatura jurídica em que foram aplicados os métodos dedutivo e
bibliográfico.Além da análise teórica civil constitucional e doutrinária sobre como se
dá a aplicabilidade da REURB através da Lei 13.465/2017. O objetivo é tentar
facilitar a compreensão das premissas jurídicas no que tange o direito à moradia e
verificar se a REURB vêm sendo aplicada e caso contrário ,quais os entraves que
dificultam sua aplicabilidade
1. HISTÓRICO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE NO BRASIL

Neste capítulo será exposto de forma sucinta e crítica a gênese da


propriedade, da posse e qual o posicionamento teórico adotado no Brasil.A história
da propriedade à nível mundial sofreu inúmeras interferências quanto a sua
finalidade desde seus primórdios. No presente estudo os holofotes direcionam-se ao
Brasil, contudo faz-se necessário recordar as influências advindas da Europa no
Código Civil de 1916.
Alguns fatores como o crescimento exponencial dos centros urbanos à partir
da década de 1960 no Brasil e a sua falta de planejamento urbanístico repercutiram
na eclosão de seus grandes centros urbanos,constituídos com unidades
informais(popularmente conhecidas como invasões e favelas),que em sua maioria
geram diversos danos e desequilíbrios sócio, econômico e ambientais.Pois suas
estruturas precárias e insalubres reforçam a marginalização,a gentrificação e o
retrocesso ao progresso democrático brasileiro.
A regularização no Brasil após sua independência (1822) e após a Lei de
Terras (Lei nº601, de 1850) propiciaram aos possuidores a obtenção do Título de
Sesmarias(somente aos que cumpriam com os requisitos de caráter residencial e
função social).
A propriedade possui um vínculo ad eterno com o poder e a riqueza de forma
impregnada em alguns níveis socioeconômicos,mas que devido o enaltecimento da
função social (através de uma abrangência principiológica elencada nos art.5º, XXII,
XXIII e art.170, II, III) os interesses do privado que aos poucos perde espaço para o
cumprimento da função social.Decorre de inúmeras lutas através de movimentos
sociais, que apenas reivindicam seu direito à moradia.
Segundo SOUZA1 o caráter evolucional da propriedade privada doravante
vista como um direito tornou-se um direito /dever. E cita a Constituição de Weimar
(1919), em seu art. 153:“a propriedade obriga”.SOUZA2 denomina como

1
SOUZA,Adriano Stanley Rocha . (s.d.). Do direito de propriedade ao dever da Propriedade.Contribuições da
Constituição da República de 1988. In: KOZICKI,Ka a; MOREIRA,Tomás Antônio;BESSA,Fabiane Lopes Bueno
Ne o;ALMEIDA ,Gabriel Gino. ESPAÇÕES E SUAS OCUPAÇÕES ,Debates sobre a moradia e a propriedade no
Brasil Contemporâneo. Campinas,SP: Russell. 2010 p.18-19.
2
op.cit.
“propriedade função “ em que o“senhor que tudo pode “ assume o papel de o
“senhor que tudo deve”.
A propriedade no Código Civil de 1916, mais precisamente em seus
artigos 524 e seguintes3,elencam ao proprietário um caráter exclusivo (privado) e
ilimitado do domínio, totalmente patrimonialista.No Brasil em seu período
Colônia-Império houve a implementação da propriedade dividida em capitanias
hereditárias e que através da enfiteuse postergou a manutenção do Império.
Segundo uma analogia de SOUZA4 os feudos de antigamente são os
latifúndios de hoje.No Brasil República, com a Constituição de 1934, foi incluída a
função social que posteriormente permaneceu em todas outras Constituições e
atingiu sua máxima na Constituição de 1988.Esta evolução encontra-se disposta
em seu art. 1128.5
Devido a constatação da evolução da função social da propriedade e os
resultados da Revolução Industrial, outros problemas surgiram no Brasil, como por
exemplo a superpopulação dos grandes centros urbanos à partir da década de 1960.
A influência econômica, fatores sociais como por exemplo a necessidade de
pertencimento das pessoas na sociedade através de costumes, aliou-se a um
consumismo desenfreado, que se postergou através de crediários com juros
abusivos gerando altos índices de inadimplemento devido falta de emprego, pobreza

3
CC/1916: Art. 524. A lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de
quem quer que injustamente os possua.Parágrafo único. A propriedade literária, científica e artística será regulada conforme
as disposições do Capítulo VI deste Título.
4
op.cit.
5
Vejamos a seguir ,no CC, Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002:
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer
que injustamente a possua ou detenha.§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar
e das águas.§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados
pela intenção de prejudicar outrem.§ 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por
necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público
iminente.§ 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na
posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem
realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico
relevante.§ 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá

a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.


e má-fé por parte de alguns.O Brasil deixou de ser um celeiro agrícola de
subsistência para albergar indústrias e sentimentos de países desenvolvidos.
Contudo a equiparação com países desenvolvidos não pode ser
implementada no Brasil devido sua “decomposição genética” e a presença
dicotômica do discurso do direito do proprietário impregnado de falsidade ideológica.
Nada mais claro do que a continuidade de um padrão hegemônico destinado aos
que já possuem propriedade, surgindo entre meios, o caos da desigualdade social e
geográfica.
Contudo não existem mecanismos eficazes, apenas a busca de
respostas no âmbito jurídico à respeito do mito do discurso proprietário, que age
através de instrumentos de forma pejosa,resultando em críticas e dissentimentos
gerados nas esferas do Poder Público, de seus operadores jurídicos e das minorias.6
A historicidade dos fatos permite reconhecer a origem e os motivos deste
caos urbano onde atualmente milhares de pessoas vivem de maneira informal, além
de estabelecerem-se em áreas de risco e Preservação Permanente (APP) sem as
mínimas condições, de forma extremamente vulnerável e insegura.

6
SOUZA,Adriano Stanley Rocha . (s.d.). Do direito de propriedade ao dever da Propriedade.Contribuições da
Constituição da República de 1988.In:KOZICKI,Ka a;MOREIRA,Tomás Antônio;BESSA,Fabiane Lopes Bueno
Ne o;ALMEIDA ,Gabriel Gino. (2010). ESPAÇÕES E SUAS OCUPAÇÕES ,Debates sobre a moradia e a propriedade
no Brasil Contemporâneo. Campinas,SP: Russell.p.24-28
1.1 DISCURSOS DO PROPRIETÁRIO E O DIREITO À MORADIA

Neste capítulo será exposto o pensamento de alguns doutrinadores contrários


ao discurso do proprietário,no que tange a função social. Segundo o autor
RYZYK(2004) para findar as amarras impostas com o nascimento do contratualismo,
urge a degeneração que coaduna no conceito de propriedade. Senão continuará o
crisóstomo dos “livres” entravado e um linimento homilético de igualdade formal 7.
NEVES(2007)8 acredita que o direito à moradia nada mais é que um álibi
para abrandar as tensões sociais e refere-se ao termo constitucionalização simbólica
de acordo com as palavras de Paolo Grossi(2004)9:”No projeto jurídico burguês,
abstração e igualdade jurídica são noções constitucionais que fundamentam o
mesmo projeto”.
Para SANTOS(2005)10 “falar sobre o futuro da urbanização e das cidades é
uma coisa temerária ,mas não falar sobre o futuro é deserção”. O direito à moradia
pode ser equiparado segundo aponta SARLET(2007)11 à alimentação e à nível
internacional à um adequado padrão de vida.Para PIOVESAN (2008):12”Com o ato
de ratificação e a regra internacional passam a vigorar de imediato tanto na ordem
jurídica internacional como na interna, sem necessidade de uma norma de direito

7
RYZYK, C. E. (2004). Locke e a Formação da Racionalidade do Estado Moderno: O Individualismo Proprietário entre o
Público e o Privado .In:FONSECA, Ricardo Marcelo (Org.).Pensando A Teoria do Estado. Belo Horizonte: Fórum,p
65-78.op.cit.p.33
8
NEVES, M. (2007). A constitucionalização Simbólica. São Paulo: Martins Fontes,p-154.In:KOZICKI,Ka a;MOREIRA,Tomás
Antônio;BESSA,Fabiane Lopes Bueno Ne o;ALMEIDA ,Gabriel Gino. (2010). ESPAÇÕES E SUAS OCUPAÇÕES
,Debates sobre a moradia e a propriedade no Brasil Contemporâneo. Campinas,SP: Russell.p.38
9
GROSSI, P. (2006). História da Propriedade e Outros ensaios.Trad.Luiz Hernani Fritoli e Ricardo Marcelo
Fonseca. Rio de Janeiro: Renovar.p.124.In:KOZICKI,Ka a;MOREIRA,Tomás Antônio;BESSA,Fabiane Lopes Bueno
Ne o;ALMEIDA ,Gabriel Gino. (2010). ESPAÇÕES E SUAS OCUPAÇÕES ,Debates sobre a moradia e a propriedade
no Brasil Contemporâneo. Campinas,SP: Russell.p.28
10
SANTOS, M. (2005). A Urbanização Brasileira. São Paulo: EduspIn:KOZICKI,Ka a;MOREIRA,Tomás
Antônio;BESSA,Fabiane Lopes Bueno Ne o;ALMEIDA ,Gabriel Gino. (2010). ESPAÇÕES E SUAS
OCUPAÇÕES ,Debates sobre a moradia e a propriedade no Brasil Contemporâneo. Campinas,SP:
Russell.p.48
11
SARLET, I. W. (2007). A Eficácia dos Direitos Fundamentais,. Porto Alegre : Livraria do
Advogado.SARLET, I. W. (2007). A Eficácia dos Direitos Fundamentais,. Porto Alegre : Livraria do
Advogado.p53
12
PIOVESAN, F. (2007). Direitos Humanos e o direito Constitucional Internacional.9ª ed. Porto Alegre : Livraria do
Advogado.p.85.SARLET, I. W. (2007). A Eficácia dos Direitos Fundamentais,. Porto Alegre : Livraria do
Advogado..In:KOZICKI,Ka a;MOREIRA,Tomás Antônio;BESSA,Fabiane Lopes Bueno Ne o;ALMEIDA ,Gabriel Gino.
(2010). ESPAÇÕES E SUAS OCUPAÇÕES ,Debates sobre a moradia e a propriedade no Brasil Contemporâneo.
Campinas,SP: Russell.p.53-54
nacional que a integre ao sistema jurídico”, em outras palavras, pelo fato do direito à
moradia estar contemplado como direito humano, sua incorporação deve ser
automática.
Segundo (JUNIOR)13 destaca-se o direito à moradia em outros dispositivos,
como um reforço da positivação com status de direito fundamental.Ele cita vários
dispositivos como por exemplo a Emenda nº 26 de 2000, art. 23, IX; art. 7º ,IV,CRFB
encontra-se vinculado ao cumprimento da função social no art. 5º, XXIII; art. 170, III;
art. 182, §2º; art. 183 e art. 191 CRFB( usucapião urbana e rural); decorrente do
art1º,III,CRFB( decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana) e do art.
5º, XI( direito de defesa) .
DUSSEL(2000)14declara que existem certas limitações para viver em uma
sociedade que variam desde alimentos, casa, segurança, liberdade, soberania,
valores ,identidade cultural e plenitude espiritual.Dentre tantos autores não se pode
deixar de mencionar AMARTYA SEN que através de suas palavras revela a triste
realidade sobre a negação das liberdades à maioria da população mundial devido a
pobreza econômica, “ladrão” de seus direitos básicos.
Outro posicionamento ilustre seria o de HEGEL(2002) sobre a efetividade
de um direito ao mínimo existencial, que aponta para todos como um
reconhecimento recíproco da consciência de si, isto é, o reconhecimento recíproco
da totalidade das necessidades. Segundo suas palavras”a efetivação do mínimo
existencial para todos exige um reconhecimento recíproco das consciências-de-si,
isto é, o reconhecimento recíproco da totalidade das necessidades , pois no egoísmo
do desejo, todo dever humano se trai”.15

13
JÚNIOR,Odoné Serrano . (s.d.). O Direito à Moradia ,Escassez de Recursos e Controle Judicial das Escolhas
Orçamentárias .In:KOZICKI,Ka a;MOREIRA,Tomás Antônio;BESSA,Fabiane Lopes Bueno Ne o;ALMEIDA ,Gabriel
Gino. (2010). ESPAÇÕES E SUAS OCUPAÇÕES ,Debates sobre a moradia e a propriedade no Brasil
Contemporâneo. Campinas,SP: Russell.p.66-68
14
DUSSEL, E. (2000). Ética da Libertação.Na Idade da Globalizaçãoe da Exclusão. Petrópolis:
Vozes.In:KOZICKI,Ka a;MOREIRA,Tomás Antônio;BESSA,Fabiane Lopes Bueno Ne o;ALMEIDA ,Gabriel Gino.
(2010). ESPAÇÕES E SUAS OCUPAÇÕES ,Debates sobre a moradia e a propriedade no Brasil Contemporâneo.
Campinas,SP: Russell.p.70
15
(HEGEL,2002;FRAGA,2006).In:KOZICKI,Ka a;MOREIRA,Tomás Antônio;BESSA,Fabiane Lopes Bueno
Ne o;ALMEIDA ,Gabriel Gino. (2010). ESPAÇÕES E SUAS OCUPAÇÕES ,Debates sobre a moradia e a propriedade
no Brasil Contemporâneo. Campinas,SP: Russell.p.81
1.2 DIVERGÊNCIAS HISTÓRICAS ENTRE A PROPRIEDADE,A POSSE E A
ORIGEM DA FUNÇÃO SOCIAL

Desde a época dos romanos o significado de posse e propriedade, são


interpretados pela grande maioria da população de forma errônea e tornaram-se
palco de muitas discussões até os dias atuais. Passaram-se milênios e todos hoje
sabem que a posse pelo homem é um fato anterior a propriedade e que esta
somente surgiu após a sua regularização por meio de normas jurídicas
A legitimação da posse, foi um marco histórico na regularização fundiária, em
que concedeu o direito de uso, gozo e fruição e pode ser transmitida em vida ou
falecimento.A importância dos princípios fundamentais garantidos na Carta Magna e
a adaptação na sociedade atual, desmistifica o contexto milenar da posse,
visualizada doravante sob o prisma apenas das coisas materiais.
Existe uma similaridade externa entre posse, propriedade e domínio quanto ao
animus, a vontade de submeter a coisa para si. Somente a partir do ato praticado, se
constata qual instituto vige e quais são as medidas cabíveis para a conquista da
propriedade. Normalmente existe a relação do domínio com o direito e a posse com
o fato.
As principais diferenças entre os dois institutos, é que a posse pode ser
assimilada a estar na coisa, um direito potestativo por parte do possuidor e que pode
vir a ser tutelado pelo Estado por meio da usucapião. A propriedade, por sua vez
pode assemelhar-se ao domínio, pois se efetiva somente com atos jurídicos de seu
titular, geralmente através de um contrato de compra e venda, que logo após deve
se registrado e emitida sua matrícula.
A única convergência entre estes dois institutos, baseia-se no animus de obter
a coisa para si, não sendo possível a distinção ente possuidor, proprietário e um
terceiro.E o instrumento objeto desta convergência é a usucapião.A posse pode ser
aplicada de formas errôneas, tanto com sentido de propriedade, como de domínio. A
posse é um poder fático e a propriedade é um poder de direito.
1.3 TEORIAS SUBJETIVA E OBJETIVA
Será exposto de forma sucinta quais são as principais teorias que involucram a
posse: a Teoria Subjetiva (Savigny) e a Teoria Objetiva (Jhering).
Para Savingy, em sua Teoria Subjetiva, a vontade do possuidor em ter a coisa
para si (animus domini) e apreensão para si (corpus), constituíam os requisitos
essenciais para instituir o conceito de posse.
Para Jhering, a detenção e a posse possuíam o mesmo significado, pois para
ele bastava estar na coisa (corpus),” A posse e a detenção da coisa possuem o
mesmo significado, basta apenas estar na coisa (corpus). Lembrando que posse e
detenção são institutos distintos no ordenamento. Tanto que para ele, a posse faz
parte do rol de direitos reais”.16
Rudolf von Jhering afastou-se do idealismo filosófico e desenvolveu um
sistema pragmático com base sociológica devido às mudanças constantes e a
funcionalidade do direito.Ele pensou em algo que garantisse os interesses da vida
de forma prática e não com base na vontade.17
Segundo Jhering, na atualidade existe uma miscelânea entre o Direito Romano
e Canônico e que esta separação entre posse e propriedade vêm desde a época dos
romanos. Conforme suas palavras:“O fato e o direito, considera-os a antítese a que
se reduz a distinção entre a posse e a propriedade. Sendo que posse é o poder de
fato e a propriedade o poder de direito”18.
Hoje a maioria dos países e seus códigos civis atuais e vigentes baseiam-se na
teoria de Jhering, dentre eles Peru, México, China, União Soviética, Itália e a
Alemanha. No Brasil, o Código Civil de 1916 e o atual aceitaram a proposta de
Jhering.Pode ser visualizado em seu art. 1196, Código Civil brasileiro atual:
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade

16
JHERING, R. V. (2009). Teoria Simplificada da Posse.3.ed.rev. São Paulo: EDIPRO.p.74
RIZZARDO,A.(2014.).DireitOdasCoisas.7.ed.rev.atual.eampl.RiodeJaneiro:Forense.s/p,xxxii,chamada:347.2R62
17

7d 7ed.(BC).
18
JHERING, R. V. (2009). Teoria Simplificada da Posse.3.ed.rev. São Paulo: EDIPRO.p.78
Segundo BUSSADA (1988), a Teoria de Jhering ressignificou a subjetividade
da vontade como correspondência exterior da propriedade em que o possuidor age
de forma exterior através do animus em relação à coisa e declara:
“Se possuído é todo aquele que se comporta perante o objeto da posse
como se fora o próprio dono, se a posse manifesta-se como o reflexo da
propriedade, seria inconcebível conciliar dois elementos antiéticos: real,
quando fundada num título, e pessoal, em caso contrário”.19

A justificação na escolha deste tema encontra-se implícita na Constituição


Federal 1988(conforme art. 1196), pois retrata a importância dos direitos do
possuidor inerente a função social da propriedade.

2. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA E REURB


A evolução da regularização fundiária no Brasil seguiu o seguinte percurso,
através dos principais instrumentos jurídicos:CRFB/1988(houve Emenda
Constitucional nº26 , 14 de fevereiro de 2000, Lei 10.257, Usucapião Especial
Urbano, Concessão de Direito Real de Uso,CRDU(Decreto Lei 217/1967),
Concessão de uso de solo para fins de moradia, Medida Provisória nº
2.220/2001,Usucapião coletiva,Usucapião extrajudicial, Medida provisória nº759 que
deu origem a Lei 13.465/2017 e o Decreto 9310/ 2018.
Atualmente a regularização fundiária com destaque na função social da
propriedade pode ser visualizada como gênero e possui quatro espécies: a
regularização fundiária urbana, regularização fundiária rural, regularização fundiária
de área pública e de área particular. O presente estudo é direcionado para a
regularização fundiária urbana, que subdivide-se em: Reurb –S e Reurb –E,
conforme a Lei 13.465/2017.A regularização fundiária urbana encontra-se inserida
na Constituição Federal (1988), em seus artigos 182 e 183.20

19
BUSSADA,W.(1988). Reintegração de Posse:Interpretada Pelos Tribunais. São Paulo: Javoli.números de
chamada:347.232.B981r.p.455

20
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas
em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da -cidade e garantir o bem- estar de seus
habitantes. (Regulamento) (Vide Lei nº 13.311, de 11 de julho de 2016) [...]
Art. 183.Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não
seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do
estado civil. § 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º - Os imóveis públicos não
serão adquiridos por usucapião.
Através da leitura dos artigos elencados na Lei 13.465/2017, o legislador
adotou medidas específicas ao encarregar aos entes públicos a criação de políticas
públicas para o cumprimento da função social, no que tange o direito à moradia,
através do desenvolvimento urbano, da sustentabilidade econômica, social e
ambiental, do empoderamento da mulher, da gratuidade, da legitimidade fundiária,
da desburocratização, da celeridade dos procedimentos de aprovação e do registro
sem a necessidade de documentos pessoais, projetos de regularização devidamente
cientificado pelo órgão competente, listas com dados específicos, matrícula dos
confrontantes e a precisa identificação do imóvel.
A lei 13.465/2017 possibilita a execução sobre a área pública e extingue os
requisitos da Lei 8.666/1993. Adentra de forma esclarecedora e preventiva sobre um
tema temerário e gerador de polêmicas que são as denominadas áreas de APP,
mananciais ou de conservação ambiental.
Destarte, a Lei 13.465/2017, salienta a importância da tomada de decisão
pelo Poder Público sobre a elaboração de estudos técnicos e especializados,
através de órgão competentes, para que seja feito um levantamento técnico
ambiental da região a ser promovida pela REURB.
Caso seja constatado algum dano de perigo iminente à população ou um
dano irreversível ao meio ambiente, será feito a realocação destas pessoas. Neste
estudo técnico deverá constar projetos de compensação ambiental e a
demonstração de que haverá a adequação, proteção e melhorias de
sustentabilidade nas áreas de preservação, mananciais e a sustentabilidade21.
Outros termos foram ressignificados como por exemplo o núcleo urbano
informal que recebe nova roupagem sobre as denominações doravante
empregadas como invasões, favelas, aglomerados. Encontra-se detalhado e
expresso no art.11, I, II, III da Lei 13.465/201.22

21
Pode-se visualizar com mais nitidez os mecanismos que deverão ser aplicados em território nacional através do seguinte
dispositivo:Art. 9o Ficam instituídas no território nacional normas gerais e procedimentos aplicáveis à Regularização Fundiária
Urbana (Reurb), a qual abrange medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais destinadas à incorporação dos núcleos
urbanos informais ao ordenamento territorial urbano e à titulação de seus ocupantes. § 1o Os poderes públicos formularão e
desenvolverão no espaço urbano as políticas de suas competências de acordo com os princípios de sustentabilidade
econômica, social e ambiental e ordenação territorial, buscando a ocupação do solo de maneira eficiente, combinando seu uso
de forma funcional. § 2o A Reurb promovida mediante legitimação fundiária somente poderá ser aplicada para os núcleos
urbanos informais comprovadamente existentes, na forma desta Lei, até 22 de dezembro de 2016.

22
Art. 11. Para fins desta Lei, consideram-se: I - núcleo urbano: assentamento humano, com uso e características urbanas,
constituído por unidades imobiliárias de área inferior à fração mínima de parcelamento prevista na Lei nº 5.868, de 12 de
A identificação das áreas passíveis de regularização fundiária urbana e as
que já estão irregularmente ocupadas, mesmo que se trate de áreas rurais(com
destinação urbana)e os imóveis pertencentes ao Minha Casa Minha Vida, devem ser
diagnosticados e declarados pelos Municípios e Estados do Brasil.
Existem algumas precauções legislativas como por exemplo as distância das
margens de reservatórios artificiais e APP que se dão entre o nível máximo
operativo normal e a cota máxima além de identificar as áreas de fronteira de 150
km que não poderão ser objeto da REURB. Os objetivos da Lei 13.465/2017 são
claros e devem ser observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
Encontram-se expressamente elencados em seu primeiro artigo.23

2.1 REURB-S E REURB-E

A lei 13.465/2017 quando se refere a REURB prevê uma subdivisão:


Reurb-S e o Reurb-E. O conceito de Reurb-S visto de modo sucinto refere-se à
finalidade de cunho social voltado à população carente e que viabiliza a
regularização fundiária das unidades informais declaradas pelo Poder Executivo
Municipal.
Haverá inclusão das pessoas com baixa renda e que residam no imóvel. Se
houver o enquadramento neste sentido terão seus direitos reais através da
gratuidade do registro do imóvel além da infraestrutura básica garantida pelo Poder
Público.

dezembro de 1972, independentemente da propriedade do solo, ainda que situado em área qualificada ou inscrita como rural; II
- núcleo urbano informal: aquele clandestino, irregular ou no qual não foi possível realizar, por qualquer modo, a titulação de
seus ocupantes, ainda que atendida a legislação vigente à época de sua implantação ou regularização; III - núcleo urbano
informal consolidado: aquele de difícil reversão, considerados o tempo da ocupação, a natureza das edificações, a
localização das vias de circulação e a presença de equipamentos públicos, entre outras circunstâncias a serem avaliadas pelo
Município;
23
I - identificar os núcleos urbanos informais que devam ser regularizados, organizá-los e assegurar a prestação de serviços
públicos aos seus ocupantes, de modo a melhorar as condições urbanísticas e ambientais em relação à situação de ocupação
informal anterior; II - criar unidades imobiliárias compatíveis com o ordenamento territorial urbano e constituir sobre elas direitos
reais em favor dos seus ocupantes; III - ampliar o acesso à terra urbanizada pela população de baixa renda, de modo a
priorizar a permanência dos ocupantes nos próprios núcleos urbanos informais regularizados; IV - promover a integração social
e a geração de emprego e renda; V - estimular a resolução extrajudicial de conflitos, em reforço à consensualidade e à
cooperação entre Estado e sociedade; VI - garantir o direito social à moradia digna e às condições de vida adequadas; VII -
garantir a efetivação da função social da propriedade; VIII - ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes; IX - concretizar o princípio constitucional da eficiência na ocupação e no uso do
solo; X - prevenir e desestimular a formação de novos núcleos urbanos informais; XI - conceder direitos reais,
preferencialmente em nome da mulher; XII - franquear participação dos interessados nas etapas do processo de regularização§
2o Os atos de que trata este artigo independem da comprovação do pagamento de tributos ou penalidades tributárias, sendo
vedado ao oficial de registro de imóveis exigir sua comprovação. .
No que tange a finalidade da Reurb-E,trata-se da regularização para um
público específico em que o particular deverá arcar com os gastos incluídos no
projeto de regularização e poderão ter acesso aos seus direitos reais.Com relação
aos legitimados o art. 14 da Lei 13.465/2017 explicita quem são os legitimados que
podem requerer a Reurb.24
A Lei 13.465/2017 faz também uma designação imediata sancionatória
aos Municípios quanto ao incumprimento dos cartórios que não aplicarem a isenção
das custas e emolumentos.E fundamenta quais os requisitos que devem ser
preenchidos no art.13 da Lei 13.465/201725para que os beneficiários se tornem
isentos no pagamento de custas e emolumentos.

2.1.1 LEGITIMAÇÃO FUNDIÁRIA e LEGITIMAÇÃO DA POSSE

A legitimação fundiária de imóveis públicos pertencentes aos entes federativos


reconhece o direito de propriedade sem a necessidade de título individualizado e
outros requisitos exigidos na usucapião.As inscrições deverão ser transportadas com
todos dados existentes no registro da área maior originária para as matrículas das
unidades imobiliárias que não houverem sido adquiridas por legitimação
fundiária.Após o cumprimentos dos requisitos será encaminhada a CRF como
também os outros documentos dos beneficiários,além do projeto de regularização
fundiária aprovado26.

24
Art.14/Lei 13.465/2017 I - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, diretamente ou por meio de entidades da
administração pública indireta; II - os seus beneficiários, individual ou coletivamente, diretamente ou por meio de cooperativas
habitacionais, associações de moradores, fundações, organizações sociais, organizações da sociedade civil de interesse
público ou outras associações civis que tenham por finalidade atividades nas áreas de desenvolvimento urbano ou
regularização fundiária urbana; III - os proprietários de imóveis ou de terrenos, loteadores ou incorporadores; IV - a Defensoria
Pública, em nome dos beneficiários hipossuficientes; e V - o Ministério Público. § 1o Os legitimados poderão promover todos os
atos necessários à regularização fundiária, inclusive requerer os atos de registro. § 2o Nos casos de parcelamento do solo, de
conjunto habitacional ou de condomínio informal, empreendidos por particular, a conclusão da Reurb confere direito de
regresso àqueles que suportarem os seus custos e obrigações contra os responsáveis pela implantação dos núcleos urbanos
informais. § 3o O requerimento de instauração da Reurb por proprietários de terreno, loteadores e incorporadores que tenham
dado causa à formação de núcleos urbanos informais, ou os seus sucessores, não os eximirá de responsabilidades
administrativa, civil ou criminal.
25
§ 1o Serão isentos de custas e emolumentos, entre outros, os seguintes atos registrais relacionados à Reurb-S: I - o primeiro
registro da Reurb-S, o qual confere direitos reais aos seus beneficiários; II - o registro da legitimação fundiária; III - o registro do
título de legitimação de posse e a sua conversão em título de propriedade; IV - o registro da CRF e do projeto de regularização
fundiária, com abertura de matrícula para cada unidade imobiliária urbana regularizada; V - a primeira averbação de construção
residencial, desde que respeitado o limite de até setenta metros quadrados; VI - a aquisição do primeiro direito real sobre
unidade imobiliária derivada da Reurb-S; VII - o primeiro registro do direito real de laje no âmbito da Reurb-S; e VIII - o
fornecimento de certidões de registro para os atos previstos neste artigo.
26
Art. 90. Ficam a União, suas autarquias e fundações autorizadas a transferir aos Estados, aos Municípios e ao Distrito
Federal as áreas públicas federais ocupadas por núcleos urbanos informais, para que promovam a Reurb nos termos desta Lei,
observado o regulamento quando se tratar de imóveis de titularidade de fundos.
Segundo RICALDE (2017):
“[...] conceito de legitimação fundiária justifica o instrumento que reconhece a aquisição da
propriedade de forma originária de aquisição do direito como de propriedade conferido por ato
poder público, para àquele que detiver área pública ou possuir área privada, como sua ,
unidade imobiliária com destinação urbana,integrante de núcleo urbano informal, desde
que existente até a data de 22 de dezembro de 2016. Na REURB –S de imóveis
públicos(União,Estados,Distrito Federal, Municípios) e suas entidades vinculadas, quando
titulares do domínio, ficarão autorizados a reconhecer o direito de propriedade aos ocupantes
do núcleo urbano informal regularizado por meio da legitimação fundiária urbana(REURB).27

Apenas na REURB-S28 ,a legitimação fundiária será concedida ao beneficiário


desde que cumpra os seguintes requisitos:que o beneficiário não seja
concessionário,foreiro ou proprietário de imóvel urbano ou rural; o beneficiário não
tenha sido contemplado com legitimação de posse ou fundiária de imóvel urbano
com a mesma finalidade , ainda que situado em núcleo urbano distinto e em caso de
imóvel urbano com finalidade não residencial , seja reconhecido pelo poder público
o interesse público de sua ocupação.29
Segundo RICALDE(2018)30a legitimação da posse concede um título através
do poder público que reconhece a posse de imóvel objeto da REURB, desde que
conste com a identificação de seus ocupantes, o tempo da ocupação e a natureza
da posse .Não se aplica em imóveis urbanos situados em áreas de titularidade do
poder público.
Uma novidade é que aquele que recebeu o título de legitimação de posse ,
após cinco anos de seu registro terá convertido-o automaticamente em título de
propriedade(preenchidos os requisitos do art 183 ,CRFB), que constituirá forma

27
RICALDE, M. d. (2018). Regularização Fundiária urbana:impactos da Lei nº 13.465/2017,1ªed. Campo
Grande: Contemplar.p.134-135
28
Art. 88. Na hipótese de imóveis destinados à Reurb-S cuja propriedade da União ainda não se encontre regularizada no
cartório de registro de imóveis competente, a abertura de matrícula poderá ser realizada por meio de requerimento da
Secretaria do Patrimônio da União (SPU), dirigido ao oficial do referido cartório, acompanhado dos seguintes documentos: I -
planta e memorial descritivo do imóvel, assinados por profissional habilitado perante o Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia (Crea) ou o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), condicionados à apresentação da Anotação de
Responsabilidade Técnica (ART) ou do Registro de Responsabilidade Técnica (RRT), quando for o caso; e II - ato de
discriminação administrativa do imóvel da União para fins de Reurb-S, a ser expedido pela Secretaria do Patrimônio da União
(SPU).
29
RICALDE, M. d. (2018). Regularização Fundiária urbana:impactos da Lei nº 13.465/2017,1ªed. Campo
Grande: Contemplar.p.134
30
RICALDE, M. d. (2018). Regularização Fundiária urbana:impactos da Lei nº 13.465/2017,1ªed. Campo Grande:
Contemplar.p.135
originária de aquisição.O dispositivo legal art. 25 da Lei 13.465/2017 expressa seu
conceito sobre a legitimação de posse.31
E nos casos em que não obedecerem estes requisitos, haverá outra
oportunidade de legitimação, desde que satisfaçam os requisitos de usucapião, que
estejam vigentes na legislação e que o beneficiário faça um requerimento perante o
registro de imóveis competente.
Quando ocorre esta conversão do título de propriedade garante-se que a
unidade urbana estará desimpedida de ônus, exceto se o beneficiário tiver alguma
restrição. A legitimação deverá ser cancelada quando não satisfizer as condições da
Lei 13.465/2017 ,desde que seja sempre antes da conversão em propriedade.
A ampliação dos limites da usucapião urbana (imóveis com até 250 m² e 5
anos de posse ,com destino residencial) na legitimação fundiária difere da
legitimação da posse em imóveis residenciais ou não e com áreas superiores à
250m,² que deverão continuar com as diferentes modalidades de usucapião.

3. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

De acordo como artigo 2832 da Lei 13.465/2017, a REURB deve ser requerida
pelos legitimados, através de um requerimento por escrito de forma administrativa,
pois compete ao poder público municipal a elaboração do projeto da regularização
fundiária e o saneamento vinculado ao processo administrativo por meio de sua
decisão, para que possa ser expedida a Certidão de Regularização Fundiária (CRF)
pelo Município.E tanto o registro quanto a aprovação da regularização fundiária
ficam a cargo do Registro de Imóveis competente.

31
Art. 25. A legitimação de posse, instrumento de uso exclusivo para fins de regularização fundiária, constitui ato do poder
público destinado a conferir título, por meio do qual fica reconhecida a posse de imóvel objeto da Reurb, com a identificação de
seus ocupantes, do tempo da ocupação e da natureza da posse, o qual é conversível em direito real de propriedade, na forma
desta Lei. § 1o A legitimação de posse poderá ser transferida por causa mortis ou por ato inter vivos. § 2o A legitimação de
posse não se aplica aos imóveis urbanos situados em área de titularidade do poder público.
32
Art. 28. A Reurb obedecerá às seguintes fases: I - requerimento dos legitimados; II - processamento administrativo do
requerimento, no qual será conferido prazo para manifestação dos titulares de direitos reais sobre o imóvel e dos confrontantes;
III - elaboração do projeto de regularização fundiária; IV - saneamento do processo administrativo; V - decisão da autoridade
competente, mediante ato formal, ao qual se dará publicidade; VI - expedição da CRF pelo Município; e VII - registro da CRF e
do projeto de regularização fundiária aprovado perante o oficial do cartório de registro de imóveis em que se situe a unidade
imobiliária com destinação urbana regularizada. Parágrafo único. Não impedirá a Reurb, na forma estabelecida nesta Lei, a
inexistência de lei municipal específica que trate de medidas ou posturas de interesse local aplicáveis a projetos de
regularização fundiária urbana.
A classificação da modalidade da REURB é de incumbência do Município,
que deverá classificar in situ, processar, analisar e aprovar para emissão da CRF. A
classificação será fixada no prazo máximo de 180 dias ou se indeferido o
requerimento que seja de forma fundamentada. Caso o Município não se manifeste,
haverá a classificação de acordo com a indicação do legitimado em seu
requerimento e não poderá ser revisado mediante estudo técnico que a justifique.
Após o recebimento do requerimento e ao tratar-se de imóveis públicos ou
privados ou Municipais,haverá uma notificação feita pelo Município aos titulares do
domínio(aos confinantes e terceiros eventualmente interessados) que terão um
prazo de 30 dias para manifestarem-se e apresentarem uma impugnação.
A citação deverá ser realizada por via postal, com aviso de recebimento no
endereço constante da matrícula ou da transcrição. Caso ocorra a impugnação
haverá a oportunidade das partes de realizarem composição de conflitos através de
um procedimento extrajudicial ,caso este resulte infrutífero, será intimado o
Município e a parte interessada para manifestar-se no prazo de 10 dias.Somente
assim poderão apresentar o recurso cabível e propiciar a parte requerente o prazo
de 10 dias para contrarrazões.
Estas serão enviadas ao Corregedor Permanente ou Corregedoria da Justiça,
que após análise poderão ser refutadas ou terão continuidade portanto devem ser
enviadas novamente ao Oficial de Cartório que cumprirá com as decisões judiciais.
Caso o Cartorário negue-se a prestar o registro, deverá fundamentar os motivos da
recusa e formular exigências nos termos da Lei 13.465/2017.Incumbe ao cartorário
receber a CRF que deverá prenotá-la, autuá-la e instaurar o procedimento registral
no prazo de 15 dias além da emitir de uma nota de exigência ou a prática de atos
tendentes ao registro.
Ao final tanto o projeto de regularização fundiária aprovado quanto a
expedição da CRF poderão ser requeridos por qualquer um de seus legitimados de
forma imediata ao Oficial de Cartório competente que dará a ciência independente
de determinação judicial ou do Ministério Público.
O fato de haver um requerimento de instauração da REURB já serve de
garantia e preservação das situações pré-existentes em relação a permanência dos
ocupantes das áreas públicas, que são alvo da regularização.33O procedimento
registral deverá ser concluído no prazo de sessenta dias, prorrogáveis por até igual
período ,mediante justificativa fundamentada pelo oficial de cartório do registro de
imóveis.O projeto de Regularização fundiária encontra-se disposto no art. 35 da Lei
13.465/201734.
Após o Registro da CRF o oficial do cartório deverá comunicar ao Incra,
Secretaria da Receita Federal e do Ministério do Meio Ambiente para que esses
órgãos cancelem os respectivos registros de forma parcial ou total que encontram-se
incluídos no Cadastro Ambiente Rural (CAR) e nos cadastros de imóveis rurais.
Se o imóvel não estiver devidamente matriculado ou inscrito, os entes
públicos deverão apresentar o memorial descritivo e planta perimetral para serem
validadas, garantindo que os ocupantes permaneçam nas áreas de interesse para
REURB.
Em área de ente público ou privado o projeto de regularização fundiária e a
infraestrutura mínima necessária à sua elaboração deverão ser custeados em casos
de Reurb-S pelos Municípios ou Distrito Federal. Já no caso que se trata de áreas
privadas a Reurb-E será por conta de seus beneficiários e nas áreas de interesse
público custeadas pelos Municípios, que posteriormente entrarão com ação de
regresso em face de quem beneficiou-se da Reurb-E.

33
RICALDE, M. d. (2018). Regularização Fundiária urbana:impactos da Lei nº 13.465/2017,1ªed. Campo Grande:
Contemplar.p.136-138.
34
Art. 35. O projeto de regularização fundiária conterá, no mínimo:I - levantamento planial métrico e cadastral,
com georreferenciamento, subscrito por profissional competente, acompanhado de Anotação de
Responsabilidade Técnica (ART) ou Registro de Responsabilidade Técnica (RRT), que demonstrará as unidades,
as construções, o sistema viário, as áreas públicas, os acidentes geográficos e os demais elementos
caracterizadores do núcleo a ser regularizado;II - planta do perímetro do núcleo urbano informal com
demonstração das matrículas ou transcrições a ngidas, quando for possível;III - estudo preliminar das
desconformidades e da situação jurídica, urbanís ca e ambiental;IV - projeto urbanís co;V - memoriais
descri vos;VI - proposta de soluções para questões ambientais, urbanís cas e de reassentamento dos
ocupantes, quando for o caso;VII - estudo técnico para situação de risco, quando for o caso;VIII - estudo técnico
ambiental, para os fins previstos nesta Lei, quando for o caso;IX - cronograma sico de serviços e implantação
de obras de infraestrutura essencial, compensações urbanís cas, ambientais e outras, quando houver, definidas
por ocasião da aprovação do projeto de regularização fundiária; eX - termo de compromisso a ser assinado
pelos responsáveis, públicos ou privados, pelo cumprimento do cronograma sico definido no inciso IX deste
ar go.Parágrafo único. O projeto de regularização fundiária deverá considerar as caracterís cas da ocupação e
da área ocupada para definir parâmetros urbanís cos e ambientais específicos, além de iden ficar os lotes, as
vias de circulação e as áreas des nadas a uso público, quando for o caso.
Em casos de condomínios a serem divididos em lotes, como exaure o art. 45
da Lei 13465/2017, o Município poderá indicar de forma individual ou coletiva as
unidades imobiliárias que correspondem às frações ideais registradas sob sua
exclusiva responsabilidade.
Caso não conste a aprovação do projeto de regularização fundiária pelo
Município as matrículas serão requeridas pelos legitimados e será dispensada a
outorga da escritura pública indicando quadra e lote.O registro do projeto REURB
aprovado possibilitará a abertura de nova matrícula conforme disposto no art.44 da
Lei 13.465/2017.35
O oficial de cartório ao atender o princípio da especialidade, apresentará o
memorial descritivo da gleba conjuntamente com o projeto de regularização fundiária
e averbará na matrícula existente, desde que anterior ao registro do projeto.
Se houver dúvida quanto a extensão da gleba este poderá abrir nova
matrícula para a área destacada e averbar de forma destacada na matrícula matriz,
além de indicar apenas os dados do núcleo urbano informal que será regularizado.
Neste caso não se faz necessário anexar plantas, projetos e memoriais.
Será feito um convite ao beneficiário para tomar ciência da CRF e caso este
não compareça o silêncio será reconhecido como aceitação por sua parte quanto a
expedição do registro. Nos casos de que o projeto de regularização fundiária não
envolva a integralidade do imóvel matriculado o registro se dará baseado na planta e
no memorial descritivo, com destaque e averbação na matrícula da área total, objeto
e questão.

35
Art. 44. Recebida a CRF, cumprirá ao oficial do cartório de registro de imóveis prenotá-la, autuá-la, instaurar o procedimento
registral e, no prazo de quinze dias, emitir a respectiva nota de exigência ou praticar os atos tendentes ao registro. § 1o O
registro do projeto Reurb aprovado importa em: I - abertura de nova matrícula, quando for o caso; II - abertura de matrículas
individualizadas para os lotes e áreas públicas resultantes do projeto de regularização aprovado; e III - registro dos direitos
reais indicados na CRF junto às matrículas dos respectivos lotes, dispensada a apresentação de título individualizado. § 2o
Quando o núcleo urbano regularizado abranger mais de uma matrícula, o oficial do registro de imóveis abrirá nova matrícula
para a área objeto de regularização, conforme previsto no inciso I do § 1o deste artigo, destacando a área abrangida na
matrícula de origem, dispensada a apuração de remanescentes. § 3o O registro da CRF dispensa a comprovação do
pagamento de tributos ou penalidades tributárias de responsabilidade dos legitimados. § 4o O registro da CRF aprovado
independe de averbação prévia do cancelamento do cadastro de imóvel rural no Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra). § 5o O procedimento registral deverá ser concluído no prazo de sessenta dias, prorrogável por até igual
período, mediante justificativa fundamentada do oficial do cartório de registro de imóveis. § 6o O oficial de registro fica
dispensado de providenciar a notificação dos titulares de domínio, dos confinantes e de terceiros eventualmente interessados,
uma vez cumprido esse rito pelo Município, conforme o disposto no art. 31 desta Lei. § 7o O oficial do cartório de registro de
imóveis, após o registro da CRF, notificará o Incra, o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria da Receita Federal do Brasil
para que esses órgãos cancelem, parcial ou totalmente, os respectivos registros existentes no Cadastro Ambiental Rural (CAR)
e nos demais cadastros relacionados a imóvel rural, relativamente às unidades imobiliárias regularizadas.
Caso não sejam identificadas as transcrições ou matrículas, o Oficial de
Cartório abrirá matrícula de acordo com a CRF e efetivará o seu registro.Somente
quando não houver qualquer empecilho o mesmo poderá efetuar seu registro na
matrícula de imóveis cujas áreas tenham ou não sido atingidas de forma total ou
parcial.No art. 50 da Lei nº 13.465/2017 as matrículas abertas para cada parcela,
deverão constar nos campos referentes ao registro anterior e ao proprietário.36
De acordo com RICALDE (2017)37 pode-se observar que após o registro da
CRF todos os atos dos beneficiários da REURB como compra, venda e hipoteca,
deverão ser registrados nas matrículas das unidades que participaram da
regularização fundiária.Vale o mesmo para o patrimônio público que ao ser
devidamente aprovado (vias públicas, áreas destinadas ao uso comum do povo,
prédios públicos e os equipamentos urbanos) serão matriculados à requerimento do
Município pelo Oficial do Cartório.
O autor salienta que as unidades desocupadas e não comercializadas terão
suas matrículas em nome do titular originário do domínio. Já as unidades não
edificadas que vieram a ser comercializadas a qualquer título terão suas matrículas
abertas em nome do adquirente, conforme procedimento previsto nos art. 84 e 99
da Lei 13.465/2017.38

36
Art.50,Lei 13.465/2017as matrículas abertas para cada parcela, deverão constar dos campos referentes ao registro anterior e
ao proprietário. I − quando for possível, a identificação exata da origem da parcela matriculada, por meio de planta de
sobreposição do parcelamento com os registros existentes, a matrícula anterior e o nome de seu proprietário; II − quando não
for possível identificar a exata origem da parcela matriculada, todas as matrículas anteriores atingidas pela REURB e a
expressão “proprietário não identificado”, dispensando-se nesse caso os requisitos dos itens 4 e 5 do inciso II do art. 167 da Lei
nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973.
RICALDE, M. d. (2018). Regularização Fundiária urbana:impactos da Lei nº 13.465/2017,1ªed. Campo Grande:
37

Contemplar.p.142-145.
38
Art. 84. Os imóveis da União objeto da Reurb-E que forem objeto de processo de parcelamento reconhecido pela autoridade
pública poderão ser, no todo ou em parte, vendidos diretamente aos seus ocupantes, dispensados os procedimentos exigidos
pela Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. § 1o A venda aplica-se unicamente aos imóveis ocupados até 22 de dezembro de
2016, exigindo-se que o usuário seja regularmente inscrito e esteja em dia com suas obrigações para com a Secretaria do
Patrimônio da União (SPU). § 2o A venda direta de que trata este artigo somente poderá ser concedida para, no máximo, dois
imóveis, um residencial e um não residencial, regularmente cadastrados em nome do beneficiário na Secretaria do Patrimônio
da União (SPU). § 3o A venda direta de que trata este artigo deverá obedecer à Lei no 9.514, de 20 de novembro de 1997,
ficando a União com a propriedade fiduciária dos bens alienados até a quitação integral, na forma dos §§ 4o e 5o deste artigo.
§ 4o Para ocupantes com renda familiar situada entre cinco e dez salários mínimos, a aquisição poderá ser realizada à vista ou
em até duzentas e quarenta parcelas mensais e consecutivas, mediante sinal de, no mínimo, 5% (cinco por cento) do valor da
avaliação, e o valor da parcela mensal não poderá ser inferior ao valor equivalente ao devido pelo usuário a título de taxa de
foro ou ocupação, quando requerido pelo interessado. § 5o Para ocupantes com renda familiar acima de dez salários mínimos,
a aquisição poderá ser realizada à vista ou em até cento e vinte parcelas mensais e consecutivas, mediante um sinal de, no
mínimo, 10% (dez por cento) do valor da avaliação, e o valor da parcela mensal não poderá ser inferior ao valor equivalente ao
devido pelo usuário a título de taxa de foro ou ocupação, quando requerido pelo interessado. § 6o A regulamentação do
disposto neste artigo será efetuada pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU) no prazo de doze meses contado da data de
publicação desta Lei.
Art. 99. O art. 28 da Lei no 11.483, de 31 de maio de 2007, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 28. Fica a União
autorizada a renegociar, notificar e inscrever em dívida ativa da União dívidas e saldos devedores decorrentes de contratos de
transferência de domínio e de débitos dos demais contratos firmados pela extinta RFFSA que tenham por objeto bens imóveis
4. ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS

Antes de adentrar nas alterações legislativas, é importante salientar que Lei


13.465/2017 criou novos instrumentos jurídicos como a criação do Direito Real de
Laje, novas formas de condomínios (lotes e urbano simples) e de instrumentos de
regularização como a legitimação fundiária, arrecadação de imóveis abandonados e
a permissão da regularização da propriedade fiduciária do fundo de arrendamento
residencial (FAR) e com isso houve a alteração de forma substancial as legislações
vigentes.
A alteração em especial que sofreu a Lei nº 10.406/2002 e o acréscimo do
§7º ao artigo 2º da Lei 6.766/79, segue in verbis“o lote poderá ser constituído sob a
forma de imóvel autônomo ou de unidade imobiliária integrante de condomínio de
lotes”. É o que acontece no Condomínio Urbano Simples, em um mesmo imóvel,
existem variadas construções, desde que estas estejam de acordo com os padrões
urbanísticos estabelecidos de acordo com cada município. Nele serão demarcadas
as áreas comuns (acesso público) e as de área exclusiva, pertencente ao particular.
Outras leis como O Estatuto da cidade (2001) da Lei nº10.257, Medida
Provisória 2.200 (2001), Lei 11.124/05, A Lei de Acesso aos Imóveis da União
(2007), em que a mesma Lei que instituiu o Programa minha Casa Minha Vida (Lei
11.977/09). Modificou o Decreto-Lei n° 3.365/1941, e a Lei nº 13.001/2014, Lei nº
11.952/2009, A Lei nº 8.629/1993, Lei nº 13.340/2016, Lei nº 8.666/1993, Lei nº
6.015/1973 Lei nº 12.512/2011, Lei nº9.514/1997, Lei nº6.766/1979, Lei 96.766/1979,
Lei nº9.760/1946.

operacionais e não operacionais.§ 2o Para os fins deste artigo, considera-se débito consolidado o somatório da dívida e do
saldo devedor decorrente de contrato de transferência de domínio ou de posse, ou o valor correspondente ao total da dívida
decorrente dos demais contratos firmados pela extinta RFFSA que tenham por objeto bens imóveis operacionais e não
operacionais.” (NR)
4.1 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

A Lei 13.465/2017 é um recompilamento de institutos jurídicos, pois visa a


concretização da Regularização Fundiária de forma descomplicada e legitimadora do
incentivo a democracia, do bem estar social e de serviços ambientais conforme
expresso em seu art. 1°, da Lei 13.465/201739. Apesar de facilitar e acelerar a
regularização fundiária, a Lei 13.465/2107 é objeto de não raras discussões ao ponto
de tornar-se alvo de 3 Ações Diretas de Inconstitucionalidade.Segundo os motivos à
seguir:
A ADIn 5.883: protocolada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil consideram a
Lei 13.465/2017 como a “Lei da Grilagem” que ataca as unidades de conservação,
ordenação urbana e facilita a privatização de terras públicas e a formação de uma ”
cidade de papel”
A ADIn 5.787: protocolada pelo Partido dos Trabalhadores(PT), alega que às
inúmeras alterações pela Lei 13.465/2017 irão fomentar conflitos fundiários;
A ADIn 5771/2017 propostas pelo Procurador Geral da Justiça, Rodrigo Janot
Monteiro de Barros,N220.490/2017-AsJConst/SAJ/PGR, considera a inobservância
do ordenamento jurídico, administrativo e estimula a antidemocracia, além de
colocar em situação de perigo a preservação do meio ambiente.40

39
Esta Lei dispõe sobre a regularização fundiária rural e urbana, sobre a liquidação de créditos concedidos aos assentados da
reforma agrária e sobre a regularização fundiária no âmbito da Amazônia Legal; institui mecanismos para aprimorar a eficiência
dos procedimentos de alienação de imóveis da União; e dá outras providências.
40
“ A Lei 13.465/2017, além de ser fruto de medida provisória destituída dos requisitos constitucionais de relevância e
urgência(art. 62, caput), afronta múltiplos princípios e regras constitucionais,como o direito à moradia (art. 6o),o direito à
propriedade e o cumprimento de sua função social (art. 5o, caput e inciso XXIII), a proteção do ambiente (art. 225, caput, § 1o,
I, II, III e VII, e §§ 2o e 4o), política de desenvolvimento urbano (art. 182, caput e §§ 1o e 2o),o dever de compatibilizar a
destinação de terras públicas e devolutas com a política agrícola e o plano nacional de reforma agrária (art.188, caput), os
objetivos fundamentais da República (art. 3o, I,aIII), a proibição de retrocesso, o mínimo existencial e o princípio da
proporcionalidade (na faceta de proibição da proteção deficiente),a competência constitucionalmente reservada à lei
complementar (art. 62, § 1o, III), a competência da União para legislar sobre Direito Processual Civil (art. 62, I, b), a previsão de
que o pagamento de indenizações da reforma agrária será em títulos da dívida agrária (art. 184, caput), a exigência de
participação popular no planejamento municipal (art. 29, XII)11 e as regras constitucionais do usucapião especial urbano e rural
(arts. 183 e 191).”
Documento assinado via Token digitalmente por RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS, em 31/08/2017 19:17. Para
verificar a assinatura acessehttp://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave
C655D46F.9D2B96A4.97E5E5B7.32387B36
4.2 CRÍTICAS DOUTRINÁRIAS E DEFICIÊNCIAS DA LEI 13.465/2017

Segundo opinião do autor PEDROSO existe um motivo que leva à


inconstitucionalidade do art.13 da Lei 13.465/2017, devido ao disposto no art. 151,
inciso III, CRFB,que diz:
“ ... veda à União instituir isenções de tributos de competências dos
Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios da natureza jurídica de
tributos dos emolumentos extrajudiciais, instituídos pelos Estados da
Federação, encontra-se consolidada no Egrégio Supremo Tribunal Federal:
ADI,378 –Es, j.13.0.2010, DJ de 09.02.2011, rel.Min.Dias Toffoli.

Assim, reconhecida a natureza jurídica de tributo para os emolumentos


extrajudiciais instituídos pelos Estados(conforme posição pacífica do STF) é
inconstitucional a isenção prevista no art.13 da Lei 13.465/2017 criada pela União
(fundamento idêntico para sustentar a inconstitucionalidade do disposto no art. 98,
§1º, inciso IX, do CPC/15 –ou seja lei federal que isenta o particular do pagamento
de emolumentos previstos por lei estadual”.41
Segue a crítica quanto a ineficácia prática do art. 26 pois incumbe a
conversão imediata desde que atendido o art.183 da CRFB pelo Registrador de
Imóveis que deverá verificar o cumprimento de todos os requisitos do contrário
qualquer ilegalidade poderia ocasionar em sua responsabilização a nível cível e
administrativa.
Outro contrassenso do dispositivo 26 da Lei 13.465/201742 é sobre a não
necessidade de prática do ato registral que traz consigo insegurança jurídica para
terceiros e a dificuldade em sua identificação. Logo pode-se observar em seu §1º, a
afirmação de que ao não haver sido cumpridos os requisitos de que tratam o art.183,

41
AMADEU,Vicente de Abreu Amadel;PEDROSO ,Alberto Gen l de Almeida,FILHO,Ralpho Waldo de Barros Monteiro. (s.d.). Primeiras
Impressões Sobre a Lei Nº 13.465/2017. SÃO PAULO: ARISP-ASSOCIAÇÃO DOS REGISTRADORES IMOBILIÁRIOS DE SÃO
PAULO-h p://www.arisp.com.br/lei_n13465_2017.pdf.p.32
42
Art. 26. Sem prejuízo dos direitos decorrentes do exercício da posse mansa e pacífica no tempo, aquele em cujo favor for
expedido título de legitimação de posse, decorrido o prazo de cinco anos de seu registro, terá a conversão automática dele em
título de propriedade, desde que atendidos os termos e as condições do art. 183 da Constituição Federal, independentemente
de prévia provocação ou prática de ato registral. § 1o Nos casos não contemplados pelo art. 183 da Constituição
Federal, o título de legitimação de posse poderá ser convertido em título de propriedade, desde que satisfeitos os requisitos
de usucapião estabelecidos na legislação em vigor, a requerimento do interessado, perante o registro de imóveis
competente. § 2o A legitimação de posse, após convertida em propriedade, constitui forma originária de aquisição de
direito real, de modo que a unidade imobiliária com destinação urbana regularizada restará livre e desembaraçada de
quaisquer ônus, direitos reais, gravames ou inscrições, eventualmente existentes em sua matrícula de origem, exceto quando
disserem respeito ao próprio beneficiário.
CRFB deverão ser cumpridos os requisitos da usucapião estabelecidos na legislação
em vigor no registro de imóveis competente.
Outro contrassenso refere-se sobre a legitimação de posse em que esta
poderá vir a ser cancelada a qualquer momento quando as exigências que constam
na Lei 13.465/2017 não forem satisfeitas sem a obrigação de indenizar quem se
beneficiou indevidamente. Recorda que o ato de cancelamento deve ser feito antes
da concretização de posse em propriedade pois caso venha ser realizada posteriori,
irá desaparecer automaticamente os vícios referentes à posse.43
Com relação à crítica do art. 23 §5° da Lei 13.465/2017, o Poder Público
competente irá enviar a CRF para registro imediato sobre a aquisição originária da
propriedade, não se faz necessário que o título seja individualizado, nem as cópias
de documentos dos beneficiários, o projeto de regularização fundiária aprovado, a
listagem de seus ocupantes e a identificação das áreas que ocupam.
Segundo o autor PEDROSO(2018) teme que se pode dar seguimento a um
mercado informal pois não existe a identificação dos beneficiários,ou seja, qualquer
pessoa poderia ser proprietária e utilizar-se do título de propriedade a seu bem
entender. Em suma viola diretamente o direito de propriedade elencado na CRFB,
pois incumbe ao Poder Público Municipal (executivo), auferir a propriedade aos
ocupantes, sem indenização prévia e sem levar em conta o tempo e o tipo de
usucapião.
Existe uma violação no que tange a usucapião de bens público,em que é
vedada expressamente na CRFB,pois não existe a necessidade de cumprir todas
formalidades pertinentes como licitação, autorização legislativa(prévia da lei
n°8.666/1993).Geraria consequentemente insegurança jurídica ao patrimônio
público, ao Interesse Público, à tripartição de poderes e aos órgãos competentes de
fiscalização. Em seu parágrafo único do art. 28 o autor salienta a inexistência de
qualquer legislação específica municipal com relação às medidas e posturas de
interesse local aplicáveis projetos de regularização fundiária urbana.

43
AMADEU,Vicente de Abreu Amadel;PEDROSO ,Alberto Gen l de Almeida,FILHO,Ralpho Waldo de Barros Monteiro. (s.d.). Primeiras
Impressões Sobre a Lei Nº 13.465/2017. SÃO PAULO: ARISP-ASSOCIAÇÃO DOS REGISTRADORES IMOBILIÁRIOS DE SÃO
PAULO-h p://www.arisp.com.br/lei_n13465_2017.pdf.p.165
4.3 DIFICULDADES NA APLICABILIDADE DA LEI 13.465/2017

Segundo PEDROSO(2018)44 a legitimação fundiária da propriedade individual


é sustentada pela instituição da usucapião.E quando se fala de área de domínio
público (183, §3º, CRFB)isto não seria adequado. Pois a Lei 13.465/2017 passou
despercebida ao conferir que os Municípios possam fazer a regularização fundiária
de entes públicos aos ocupantes através do usufruto do instituto jurídico da
usucapião.
Ele confirma a violação direta à divisão dos poderes, pois o Poder Público
(executivo) não é dotado de poder jurisdicional que justifique sua atribuição ao
particular do domínio de área pública que não lhe pertence a título constitutivo ou
declaratório. Mesmo que seja em área de REURB Municipal também não poderá ser
considerado como aquisição originária pelo fato de ser derivada. É fruto de
transmissão dominial e passa por cima da imprescritibilidade dos bens públicos que
consta no art. 183, §3°, CRFB por sua razão jurídica de ser.45

PEDROSO(2018) previu que possa haver uma contra defesa de cunho


emocional defendendo os casos em que haja abandono ou inércia por parte do
proprietário, mesmo assim, ele afirma que isso não deixa de ser uma forma abusiva
e que desvia o princípio da divisão de poderes.
No que tange o art. 11, II da Lei 13.465/2017 há o reforço da perda da
propriedade privada sem indenização além de ficar a cargo da municipalidade os
vagos e imprecisos critérios para qualificação e afirmação dos requisitos que
constituem um núcleo urbano informal consolidado.
Segundo PEDROSO(2018)46 considera-se a legitimação fundiária como uma
“nova espécie” de usucapião que ao convertê- la em direito real, através da
aquisição originária do domínio, falta portanto um suporte jurídico-constitucional.E

44
AMADEU,Vicente de Abreu Amadel;PEDROSO ,Alberto Gen l de Almeida,FILHO,Ralpho Waldo de Barros Monteiro. (s.d.). Primeiras
Impressões Sobre a Lei Nº 13.465/2017. SÃO PAULO: ARISP-ASSOCIAÇÃO DOS REGISTRADORES IMOBILIÁRIOS DE SÃO
PAULO-h p://www.arisp.com.br/lei_n13465_2017.pdf.p.30-39

45
op.cit.p.172
46
op.cit.p.17
justifica que em áreas abandonadas existe a necessidade da arrecadação dos
imóveis abandonados e que se por acaso for domínio do ente público,este deverá
fazer a transmissão do domínio aos ocupantes de forma derivada.Segundo o autor
PEDROSO(2018)47 poderá ser viabilizada através da mesma razão jurídica da
legitimação fundiária de área privada de acordo com os art. 64 e 65 da Lei
13.465/2017.
Outras críticas de diversos experts são com relação a facilitação que a
demarcação urbanística permite é quanto à impugnação de proprietários ou
confrontantes pois asseveram que o fato de regularizar assentamentos não
consolidados permitirá que haja um estímulo a invasões e grilagem.
Contrapondo estas suposições, houve de forma clara a previsão da Lei
13.465/2017 descrita no artigo 1º, que ora se transcreve in verbis:
Aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco
anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros
quadrados de imóvel público situado em área com característica e finalidade
urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua família, tem o direito à
concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto
da posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer
título, de outro imóvel urbano ou rural (redação dada pela Lei n.º 13.465, de
2017)

Com relação a gratuidade na Reurb-S as críticas relatam que pode atingir os


cartórios em seu aspecto econômico, mas quem afirma isto deixa de pensar que no
futuro várias movimentações registrais se darão devido aos imóveis que são objetos
da Reurb, fomentando custas e contribuições de impostos. Outros aspectos que
geram preocupação são com relação a falta do “Habite-se” que geraria a
regularização de estruturas comprometidas ,além da violação do direito de ir e vir
nos loteamentos de acesso controlado.
Outra discussão acalorada repercute sobre a legitimidade do artigo 23 §4°da
Lei 13.465/2017, pois abre para questionamentos sobre a autorização que outorgou
aos Municípios em não necessidade de autorização legislativa municipal ou
estadual, nessas hipóteses.

47
op.cit.p.175
Quanto a Reurb-E os beneficiários deveriam cumprir a Lei 6766, pois
beneficiam-se das obras efetivadas pelos Municípios e Distrito Federal.Fato que o
dinheiro que deveria ser arrecadado seria utilizado para custear os procedimentos
necessários na Reurb-S.Neste quesito esqueceram-se de que haverá reembolso dos
beneficiários da REURB-E aos Municípios.

CONCLUSÕES

O direito de propriedade sofreu inúmeras transformações que repercutem em


sua contemporaneidade à um nível social, político, econômico e ambiental.Devido ao
não cumprimento destes direitos pelo poder público, inúmeros são suprimidos,
restringindo-se aos que apoiam o discurso do proprietário e reverberam diretamente
na imensa população brasileira, que vive em condições irregulares e de extrema
vulnerabilidade.
A Lei 13.465/2017 apesar de ser alvo de rotundas críticas, possui vários
pontos positivos, como por exemplo a emissão da CRF(ato que isenta o pagamento
de tributos ou penalidades tributárias advindas dos legitimados) e a sua aprovação
independe de averbação prévia ao cancelamento do cadastro de imóvel rural no
INCRA.
Outro fator benéfico e célere é com relação ao registro que possui um prazo
estipulado de sessenta dias e poderá ser prorrogável, desde que devidamente
fundamentado pelo cartorário competente.Esta forma desburocratizada da REURB e
seu procedimento célere e econômico,concatena no cumprimento da função social
da propriedade,no bem–estar da sociedade além de coadunar respectivamente no
desenvolvimento da democracia brasileira que infelizmente dorme um profundo sono
letárgico no leito de um discurso homilético e hegemônico fincado no patriarcalismo.
Ao garantir-se o direito de propriedade aos hipossuficientes, pobres na acepção da
palavra, dá-se um passo à inclusão social,a garantia do direito à moradia, a
igualdade,ao empoderamento da mulher e auxilia na erradicação da pobreza.
Por fim o beneficiário adquirirá seu almejado sonho em conquistar sua
independência, diante do regime da propriedade privada, além de facultar-lhe o
direito de alienação, hipoteca e outras formas de relações jurídicas estabelecidas
que consequentemente aumentarão o fluxo de transações de cunho mercantil.
Outro benefício da Lei 13.465/2017 refere-se sobre a execução de áreas
públicas, eximindo a necessidade de cumprimento aos requisitos estabelecidos pela
Lei 8.666/1993. Desfazendo-se dos mecanismos ineficazes na concretização da
regularização fundiária urbana.
A aplicabilidade da Lei 13.465/2017 através da REURB facilitará para a
maioria da população carente o acesso à moradia, além da concretização de certa
forma, na garantia da dignidade da pessoa humana e na melhoria da qualidade de
vida em geral.
Não basta apenas outorgar o título é preciso que sejam integralizadas
medidas políticas urbanas, estudos técnicos, planejamentos urbanos, sócio
-econômico e ambientais através de parcerias com diversos órgãos públicos
estabelecendo novos mecanismos de controle social para a manutenção das áreas.
É necessário um fortalecimento no que diz respeito às associações de bairros
através de audiências públicas, nas quais deverão ser coletadas as informações da
população (sobre variados assuntos, que vão desde como estão as obras de
infraestrutura básica e quais são os problemas que assolam a região).
Ao tornar o informal em formal é possível atingir todos os níveis da população
e propiciar a garantia de seus direitos básicos, inerentes à dignidade do homem
conforme disposição no Texto Maior.Urge fomentar medidas específicas ,decisões
estruturadas e estratégias em busca de soluções de gestão e efetivação de direitos
básicos de acordo com a necessidade particular de cada região.
A aplicação da Lei 13.465/2017 busca efetivar o direito de
propriedade,romper com o paradigma do discurso homilético do proprietário,
ocasionando pode-se assim dizer uma Virada de Copérnico na Regularização
Fundiária Urbana em que coloca no seu centro, o sujeito com suas necessidades
básicas e dentre elas o almejado direito à uma moradia digna.
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ia/regularização-fundiaria-urbana-reurb-conceitos-obje vos-pressupostos-e-efe vação-registrla/506
5+&cd=7&hl=ptConsultor Legisla vo do Senado Federal Texto re rado do link:
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