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Pilar Lorente

Mestrado – História da Música Occidental


Novembro de 2022
Ficha de Leitura – Feminine Endings, de Susan McClary (Capítulo 4)
Feminine Endings é uma colectânea de sete capítulos escritos por Susan McClary (1946). Foi
publicada em 1991, sendo que dez anos depois a autora fez uma retrospetiva e colocou-a ao início do
livro.

A temática abordada em Feminine Endings são os estudos de género na música, interligada


com a sociedade e a cultura. Tem como objetivo, tal como nos é dito nos agradecimentos, ser uma
compilação de várias fontes sobre o tema, abordando-o de um ponto de vista feminista. O que começou
por ser sete artigos separados acabou por criar um livro pioneiro, e abordam repertórios desde
Monteverdi a Laurie Anderson, explorando-os através da Nova Musicologia. Ainda que a autora aborde
objetos já estudados previamente, estes nunca foram investigados desde esta perspetiva nem focados
sob esta temática.

Este livro não só usou, mas como ajudou a fundar a Nova Musicologia. Na sua Introdução, a
autora cita Kerman (página ix), explicando que este encorajou o afastamento da perspetiva positivista
(Contemplating Music, 1985). Comenta também que cada capítulo explora outras disciplinas para além
do musical - ao longo do seu trabalho a autora menciona filmes, literatura, História, fala de significados
culturais e sociais e diz que no seu trabalho é evidente a teoria literária, os estudos culturais e o
feminismo (página xiv).

No capítulo que vou explorar, a Nova Musicologia também está presente nos seguintes aspetos:

- Página 81: “…their (madwomen) musical manifestations need to be examined at least in part against
the broader contexts from which they emerge and in which they are received.”

- Página 81: “both cultural and musical points of view”.

- Fala de Michael Foucault, Madness and Civilization e define-o como “the first “archaeology” of
attitudes toward insanity in early modern Europe” (Página 82).

- Fala de psiquiatria e arte pública, dizendo que estão interligadas (Página 84)
- “In other words, explanatory models in science and representational artifacts in the arts are often
interdependent in processes of social formation.” (Página 84)
- Fala sobre Platão (Página 85) – filosofia, como a música era vista.
- Dá contexto sobre a obra literária de Walter Scott, Lucy Ashton (Lucia di Lamermoor) (Página 90).
- Fala de Ophelia de Shakespeare (Página 92)
- Fala da ópera Lucia di Lamermoor num contexto político: “the fact that her dilema seems domestic
rather than overtly political meant that it could (and did) pass through the censors.” (Página 98).
- É dado um contexto político em torno ao género do século XIX (Página 99).
- “… music is a socially organized enterprise – is likewise condemned to meaning.” (Página 102).
“Excess and Frame: The Musical Representation of Madwomen”,
Ainda que haja interesse no tema da representação das madwomen, a autora reflete o seguinte:
“Some of the pieces in question are dismissed as unworthy of serious critical attention, while others are
acknowledged and studied as important masterworks, but with the issues of madness and gender shoved
to the side as irrelevant to the music itself. The very aspects of these operas that make them favourites
among opera lovers typically are overlooked (…)”.

Na página seguinte, explica como as diferenças sociais entre o género feminino e masculino
muitas vezes são definidas através da medicina e da lei (Nova Musicologia), e que “cultural enterprises”
ajudam a definir e a construir estas formulações, que associaram o racional ao homem e o irracional à
mulher. No entanto, não podemos olhar para as protagonistas de óperas de madwomen como meras
vítimas, pois o seu virtuosismo musical indica-nos muito mais que isso: “her moments of excesso are
its very raison d’être”.

“Their dementia is delineated musically through repetitive, ornamental, or chromatic excesses,


and how normative procedures representing reason are erected around them to serve as protective
frames preventing “contagion””. (Página 81).

A autora cita Faucault, que explica que no Renascimento a loucura tinha uma liberdade
imaginativa e não estava domada, ou seja, podia florir. No entanto, passou a estar ligada à razão e a
tentar ser reprimida, por exemplo, com a criação dos hospícios. Ainda que fosse contida na sociedade,
o público tinha um interesse enorme em ver a loucura em palco e em que esta fosse exibida (Página 83).

Doerner: explica que as agências do Estado também queriam exibir esta loucura para persuadir
o público a “embrace restrictive legal and behavioral codes” (Página 83).

Uma das convenções artísticas: madwomen não falam, são silenciadas. No entanto, na música
esta regra torna-se o contrário - dá voz aos pensamentos das personagens. Ainda assim, quando a
personagem é uma madwomen isto pode ser um problema, pois o que esta defende pode influenciar-
nos e causar paixões que, segundo a autora, nos levam à loucura. Para isto não acontecer, e tal como
McClary demostra nos exemplos, o compositor acrescenta sempre à obra uma figura masculina como
a voz da razão para balancear a loucura, de forma a proteger-nos e não sermos contaminados (Página
86).

A autora conclui que o que a psiquiatria diz é refletido posteriormente na arte, o que acaba por
influenciar a música e o público.

“In other words, the very qualities regarded as evidence of superior imagination – even of a
genius – in each period of music are, when enacted on stage, often projected onto madwomen.” (Página
101)
Representar madwomen – escusa para fugir às normas formais e estruturais musicais (Página
109).

Metodologia
- Apresenta opiniões de outros autores (Ethan Morden, por exemplo).
- Exemplifica o tema com obras de vários períodos (Monteverdi, Donizetti, Schoenberg).
- Utiliza outras fontes e explica que a matéria para estudar o tema está disponível: “Fortunately, much
of the information required for such a task is already avaliable” (Página 81), e cita Michael Foucault,
Klaus Doerner e Elaine Showalter. Segundo a última, a loucura era vista como uma peculiaridade
feminina, um excesso de sexualidade feminina.

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