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O ROMANCEÍRO DA INCONFIDl!lNCIA
Cecflla Meireles
FICHA CATALOGRAFICA
352 p.
340.12 141.13 t.
CDU: 340.12
A minha família.
COMISSÃO EDITORIAL
Impresso no Brasil
ISBN: 85-7041-015-8
© Copyright: 1986 - Joaquim Carlos Salgado
EDITORA UFMG
Avenida Antônio Carlos, 6627 - Pampulha
Caixa Postal, 1621 - Tel. 441-8077, ramal 1438
31.270 - Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil
ABREVIATURAS
As obras de Kant são por mim citadas segundo a Akademie
Ausgabe, com a designação do volume, em algarismo romano, e
da página, em algarismo arábico A Crítica da Razão Pura é citada
segundo a edição de Karl Vorlãnder, da Philosophische Bibliothek
(Felix Meiner); as duas edições da Crítica da Razão Pura são
designadas pelas letras "A" (a primeira) e "B" (a segunda),
seguindo-se o número da página.
Uso as seguintes abreviaturas: K r V (Kritik der reinen
Vernunft), K p V (Kritik der praktischen Vernunft), K U k
(Kritik der Urteilkraft), MS (Metaphysik der Sitten), Z. ew. Fr
(Zum ewigen Frieden). Algumas obras são designadas pelas
primeiras palavras, como por exemplo : Grundlegung ( Gnmdle-
gung zur Metaphysik der Siten); Die Religion (Die Religion
innerhalb der Grenzen der blossen Vernunft) etc.
SUMÃRIO
INTRODUÇÃO
§ 2• - O Objetivo do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
CAP1TULO I
IGUALDADE FORMAL E JUSTIÇA AT:J;i KANT
§ 6• - Aristóteles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . 27
§ 7• - O «Medlum> da Virtude . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
§ 8• - Classificação da Justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
~ 9• - Elementos da Justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
§ 16• - A Igualdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
a) Grotlus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
b) Pufendorf . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
d) Thomasius 74
e) Lock.e 76
f) Hobbes 77
CAPITULO II
A FORMAÇAO DO CONHECIMENTO EM KANT
CAPíTULO III
A ID1:IA
a) A Razão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
CAPITULO IV
CAPiTULO VI
JUSTIÇA E DIREITO: A JUSTIÇA COMO ID:Jr:IA DO DIREITO
CAPiTULO VII
DIREITO E ESTADO: O ESTADO COMO GUARDIAO DO DIREITO
CONCLUSÃO
I - Justiça: Igualdade e LiQerdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 339
2. A questão é bem posta, nesse.s termos, por José Henrique dos Santos,
na conferência pronunciada na comemoração dos 200 anos da Critica da
Razão Pura, em 25/05/81, no D,epartamento de Filosofia da UFMG. Quando
Michel Villey ( Leçons d'historie de la philosophie du àroit, Paris, Dalloz, 1962,
p. 268) afirma que Kant não pocl,e mais exercer qualquer influência no
direito, tem isso de verdade, apenas em parte, e na medida em que as cate-
gorias modernas da Teoria Geral do Direito (portanto, técnicas e não filo-
sóficas) se tornam mais complexas. Se categorias como empresa (e não mais
pessoa), propriedade com fins sociais (e não mais propriedade livre) e con-
trato forçado (não mais decorrente da livre vontade) - como exemplifica
Villey - não mais levam em conta o livre arbítrio d,e forma absoluta, nem
por isso o principio da liberdade como autonomia está postergado, visto que
a legislação que institucionaliza tais categorias é que exige o momento da
liberdade como participação na sua elaboração. Não é necessário recorrer
aos kantianos (Engisch, Stammler, Lask, Radbruch e Kelsen (a.e bem que
neste a questão é mais complexa) ou aos hegelianos que a Kant sempre
.estão de certo modo ligados (Binder, Carl Schmidt, Larenz, Schõnfeld),
para que se note sempre a necessidade de se recorrer a Kant, ainda que
para superá-lo (Windelband) sem, contudo, eliminá-lo. Maihofer, ligado à
filosofia da existência (Begriff und Wesen des Rechts, «Vorwort»; Darmstadt,
Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1973, p. XVIII e segs) mostra como a
justificação racional do direito integra a Filosofia do Direito, a par da sua
origem histórica, da sua validade formal e da sua eficácia. Também ActhllL
..JCaufma.nn (Wozu Rechtsphilosophie Heute?, Frankfurt, Atenaum, 1971)
~onclui que a tarefa da filosofia do direito é fazer o direito mais justoJ(p. 9)
"'e, com isto, tornar as relações entre os homens mais humanas (p. 39), isto é,
~zer o homem mais livre numa sociedade que muda, ainda que a sua plena
liberdade seja uma utopiiu(p. 36). Sobre~ liberdade colll.Q_ fim do dlreito,_g
~ . Villey passa rapidamente, para concluir que
Kant é um positivista jurídico. Antes dele, porém, em estudo mais detalhado
sobre a «coação» em Kant, Edgar da Mata Machado (Direito e Coerção, cap.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 15
O OBJETIVO DO TRABALHO
10. Kroner, Richard. Von Kant bis Hegel, TUbingen, J.C.B. Mohr (Paul
Si.ebeck), 1977.
11. Grunillegung, IV 448.
12. Ritter, Joachim. «Moralitãt und Sittllchkeit», in: Hegel in der Sicht
der neueren ForBchung, Darmstadt, Wissenschaftliche Buchgesellschait, 1973,
p. 332. Uso o termo «ético» no sentido amplo, compreendendo também o
dir,elto. Kant usa o termo «moralisch», referindo-o tanto à teoria do direito
como à ética (MetaphyBik der Sitten, VI 379, 380, 383 e 406). Na nossa
\lngua, embora tais palavras tenham or)ginariamente o mesmo sentido, o termo
ético tem sido empregado com significado mais abrangente que o termo
«moral» (de «mos»), 1!: de notar ainda que «1!:tlca» como substantivo designa
a ciência (a Moral) e o objeto dessa ciência (as regras ou o «êthos» por
ela estudados). 1gegel, em nota ao § 151 da sua Filosofia do Direito, distingue
entre 'ii8oç (Sltte: costume), que se r,efere à sociedade humana e EBoç (Gewo-
J
nheit: hábito), que se refere ao individuo O termo eticidade (Sittlichkelt)
usa para significar o momento dialético em que «o homem reconhec,e suas
próprias aspirações livres» nas instituições politicas (no Estado) e constitui o
tema da terceira parte da Filo8ofia do Direito, desenvolvido nos i.I:êL.!ru!-
mentos da substância ética: a famílliJ., ª saciedac~lvil e ~ ' definido
como a realidade da eticidade (Grundlinien der Philosophie de8 Rechts,
Hamburg, Felix Meiner, Philosophlsche Bibliothek, §§ 142, 156 e 257; Enzi-
klopüdie, Frankfurt, Suhrkamp, § 517). H. C. L. Vaz desenvolve dialetica-
mente esses dois momentos do ético, além de apres.entar, em estudo de pro-
fundidade, uma fenomenologia do «êthos» nas suas «Liçõe8 sobre Eltica», ainda
Inéditas.
13. Schambeck, H. «Der Begriff der Natur der Sach,e», ln: Die Onto-
logische Begründung àe8 RechtB, Darmstadt, Wissenchaftllche Buchgesells-
chaft, 1965, p. 189.
14. L. Vaz mostra que o poder politico não se manifesta como pura
violência, mas busca uma legitimação racional (Antropologia e Direitos
Humanos». Rev. Ecles. Brasileira, vol. 37, março, 1977) .
CAPÍTULO I
§ 49
§ 59
A PERSPECTIVA PLATôNICA
9. La República, 338 e,
10. Las Leye&, 715.
11. Eutifr6n, 10 e.
12. Welzel, Hans, Derecho Natiiral y Ju&ticia Material (Trad. de Fellpe
Gonzales Vicén), Madrid, Aguilar, 1957, p. 21.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 25
§ 69
ARISTõTELES
21. Cfr. Hegel, Grundlinien der Philosophie des Rechts, Hamburg, Fellx
Mein,er (Philosophische Bibliothek), 1955, p. 16.
22. «A política é precisamente isto: a justiça em si» ( Las Leyes, 757) .
23. Garcia Mãynez, Eduardo. Doctrina Aristotélica de La Justiça, UNA
de México, 1973, p. 31.
24. «A palavra EQ'fOV, que neste contexto traduzimos por função, signi-
fica, igualmente, atividade ou tarefa. Ao referir-se a tal tópico (EN, 1097b)
H. H. Joachim, em seu excelente comentãrio, afirma que Aristóte~es aceita
e desenvolve a seu modo, a doutrina exposta por Platão em República.
Por função de uma coisa se entende - explica Joachim - o que só esta
pode fazer, ou o que ela pode fazer melhor que qualquer outra». (E. G.
Garcia Máynez, op. cit. p. 34) .
28 A IDli:IA DE JUSTIÇA EM KANT
31. Eduardo Garcia Máynez (op. cit.; p. 31) invoca a W. Jager, citando
um trabalho por ele publicado .em 1928 ('über Ursprung und Kreialauf des
phüosophischen Lebens ldeals) onde afirma «que a história da filosofia
grega ~vela uma espécie de movimento pendular entre dois pólos: o ideal
da vida contemplativa e o da vida politica». Na verdade, a distinção de
Aristóteles é tripartite, pondo-se com isso, mais uma vez, na linha platônica,
se bem que em termos emp!ricos. O verum, o bonum e o puZchrum apar,ecem
como três formas de vida: a especulativa, a moral e a hedonista, entendida
esta como o desejável, ligado ao plano da ,emoção. Braumgarten leva essa
terceira forma de vida ao plano de uma reflexão que hoje se denomina esté-
tica. Kant farâ a critica da razão no ato do juízo estético, aprofundando
filosoficamente as três dimensõ.es em que se manifesta a razão, prenunciadas
por Aristóteles (11Jtica a Nicômaco, 1104) e vividas intensamente pelo grego,
na filosofia, na política e nas artes.
32 . 11Jtica a Nicômaco, 1103a.
33. Ética a Nicômaco, 1096a.
34. Ética a Nicômaco, 1096b.
35.. Stica a Nicômaco, 1096a.
30 A IDli'.JIA DE JUSTIÇA EM KANT
§ 79
O "MEDIUM" DA VIRTUDE
40. Cfr. Gomez Robledo, A., Meditaci6n sobre la justicia, México, Buenos
Aires, Fondo de Cultura Econômica, 1963, p. 45.
41. Etica a Nicômaco, 1103b.
42. 1!:tica a Nicômaco, 1103b.
43. 1!Jtica a Nicômaco, 1103b.
44. Ética a Nicômaco, 1103a.
32 A IDtlIA DE JUSTIÇA EM KANT
homem, não, porém, como um ser isolado, mas como um ser social.
A virtude se traduz, enfim, no realizar o que o homem tem em si
de melhor.
De que modo, contudo, realiza o homem o "optimum" do seu
ser? Aristóteles já havia respondido a essa questão no capítulo I
do Livro TI da tiltica a Nicômaco. Agora procura explicar esse
modo de consegui-lo, aclarando melhor o que seja a virtude:
§ 89
CLASSIFICAÇÃO DA JUSTIÇA
§ 99
ELEMENTOS DA JUSTIÇA
§ 109
O OUTRO
§ 119
A VONTADE
"O ato justo e o injusto são, pois, definidos pelo ato voluntário
e pelo involuntário.
Quando um ato injusto é voluntário, é censurado e, então, é
ao mesmo tempo, ato de injustiça".63
§ 129
A CONFORMIDADE COM A LEI
§ 139
CONFORMIDADE COM A LEI E EQülDADE
77. Cfr. Garcia Máynez ( op. cit., p. 184) ao expor a hipótese de Paul
Moraux sobre a existência de uma obra de Aristóteles acerca da justiça
(n:eot õuw.iooúvl'lç), como réplica à A RepúbUca de Platão. Essa obra daria
unida.de aos temas das «Éticas» e da Política.
78. Retórica, 1368b e 1373b.
79. Êtica a Nicômaco, 1134b, 1135a e Política, 1373b.
80. Gómez R., Meditación sobre la justicia, p. 70.
81. Retórica, 1374a.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 43
O BEM COMUM
§ ·159
A IGUALDADE
92 . Política, 1282b.
93. A idéia de auto-suficiência (rdrtáq,mo.) será retomada por Hegel, no
nível da superação da liberdade Individual abstrata e do poder ab.soluto uo
Estado, como nova concepção de liberdade.
94. Stica Nicomaquea, 1160a.
95. Del Vecchlo, op. cit., p. 25.
96. Id. lbid., p. 36.
97. Id. Jbid., p. 22.
46 A ID11lIA DE JUSTIÇA EM KANT
A IGUALDADE E O ESTOICISMO
.-134. Cfr. H. Welzel, op. cit., p. 35. Leibniz, de outra parte, já havia
interpretado a expressão honeste vivere como a justiça que existe na relação
entre o homem e Deus; a expressão neniineni lcteclere; como a que existe na
relação do homem com a humanidade e a expressão iits · sumn cii-ique tribuere
como a justiça entre o homem e o Estado. (Ver Dei Vecchio, op. ·cit., p. 23).
135. Dei Vecchio (op. cit., p. 47) e Castan Tobe:iias (op·. ·cit,,.p. 50)
atribuem a Cícero o mérito de ter ligado ao «suum» o «ius .»
136. Del Vecchio, Filosofia del Derecho, Trad. Luis Legaz y Lacambra.
Barcelona, Bosch, 1942, p. 282, passim. .
137. Radbruch, G. Rechasphilosophie, Stuttgart, Koehler, 197;!, · p. 130.
138. Del Vecchio, Justice et verité, p. 47. . · ·· · ·
139. Kelsen (Was ist Gerecht·igkeit?, p. 23) . procura demonstrar ,esse
formalismo, e até «esterilidade» da fórmula, ao dize_r que «ela pode s.ervir para
justificar qualquer ordem social que se queira, seja ela uma ordem capitalista
ou socialista, autocrática ou democrática».
56 A ID:l!JIA DE JUSTIÇA EM KANT
140. Castan Tobefiãs, op. cit., p. 50-51) demonstra o triunfo dessa con-
cepção derivada da idéia de justiça, própria da filosofia clássica. Deve ser
ressalvada, contudo, a posição de Platão, sobre a qual discorri acima.
141. Da República, I, 44 .
142. Id. Ibid., I, 45.
143. Las Leyes, Trad. Alvaro D'ors, Madrid, IEP, 1970, IlI, 12.
144. Cfr. Alvaro D'ors, Introducción, in Las Leyes de Cicero, Madrid,
Instituto de Estudios Politlcos, 1970, p. 18.
145. Las Leyes, I, 7.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 57
§ 17 9
SANTO AGOSTINHO
§ 189
SANTO TOMAS DE AQUINO
181. Urdafl.oz, op. cit., p. 246. Vários são os autores que se r,eferem ao
4:SUum» como objeto da justiça; Platão (A República), Aristóteles (Retórica
e Grande ll;tica), Cícero (De Flnibus e De Legibus) Ulplano (Digesto), bem
como Justiniano, reproduzindo Ulpiano (Instituitlones), Santo Ambrósio (De
Offic!ls, apud Santo Tomás) e Santo Agostinho (D,e llbre arbítrio, apud
Santo Tomás e De Clvltate Dei) e, finalmente, Santo Tomás, na Summa
Theologica, 2-2- q. 57, 58 e 61.
182. Bumma Theologica, 2-2 q. 60 a 5.
183. Sumina Theologica, 2-2 q. 58 a 11.
184. Summa Theologica, 2-2 q. 58 a 11.
185. Summa Theologica, 2-2 q. 52 a 2.
186. Summa Theologica, 2-2 q. 58 a l!.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 65
192. «Et talis participatio legis aeternae in rationall creatura !ex natu-
ralis dicitur» (Summa Theologica, 1-2 q. 91 a 2 e a 4).
193. Summa Theologica, 1-2 q. 90 a 2.
194. «A razão pode, sem dúvida, ser movida pela vontade como se disse,
pois do mesmo modo que a vontade apetec.e o fim, a razão opera com relação
aos meios que conduzem a ele. Para que a vontade, porém, ao apetecer
esses meios, tenha força de lei é necessário que ela mesma seja regulada
pela razão. Desse modo é que se entende que a vontade do principe tem
força de lei, de outro modo a vontade do príncipe seria antes uma iniqüidade,
do que lei>) (Summa Theologica, 1-2 q. 90 a 1).
195. Summa Theologica, 1-2, q. 95 a 2; 2-2 q. 60 a 5.
196. Summa Theologica, 2-2 q. 57 a 4.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 67
§ 199
GROTTIJS E OUTROS REPRESENTANTES DA
ESCOLA JUSNATURALISTA CLASSICA
a) GROTIUS
b) PUFENDORF
c) LEIBNIZ
d) THOMASIUS
§ XLII - Justi: Quod tibi non vis fieri, alteri ne faceris". 240
e) LOCKE
f) HOBBES
250. Hobbes, Th. Leviatã, São Paulo, Abril S.A. Cultural, 1974, p. 78.
251. ld. ibid., p. 78.
252. Id. ibid., p. 95 .
253. ld. ibid., p. 96.
254. ld. ibid., p. 79.
255. Id. ibid., p. 99.
256 . Id. ibid., p. 98.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 79
§ 209
O PROCESSO DE INTERIORIZAÇÃO
NA FILOSOFIA DE KANT 1
3. K r V, B. 124-125.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 85
§ 219
O PROBLEMA DA CRíTICA DA RAZÃO PURA
4. K r V, A IX.
5. K r V, B 9. Sobre a origem sociológica da filosofia de Kant, cfr.
Manfred Buhr ,e Gerd Irreitz, «Immanuel Kant», Materialien 2u Kants Re-
chtsphilo/lophie, Frankfurt, Suhrkamp, p. 108 e segs.
6. K r V., B I; ver, ainda, B 166.
86 A IDll':IA DE JUSTIÇA EM KANT
10. K r V, A 8 e B 12.
11. K r V, B 10. Paton explica a distinção entre juizos analíticos e
juízos sintétlcoa do seguinte modo: «no caso de um juízo analítico não se
pode pensar o sujeito sem que com ele SE' pense também o predicado, ainda
que de modo não totalmente claro, ao passo que no caso de um juizo sin-
tético a priori, o sujeito pode ser pensado sem o predicado» (Paton, J. H.
Der kategorische Imperativ; trad. alemã: Karen Schenck, Walter de Gruyter,
1962, p. 142) .
88 A IDl!lIA DE JUSTIÇA EM KANT
§ 22'
A ESTÊTICA TRANSCENDENTAL
11 . K r V, B 20 e segs.
15. «Ich nenne alie Erkenntnis transzendental, die .slch nlcht sowohl rnit
Gegenstãnden, sondern mit iinserer Erk&nntnisart von (fBgenstiinden, insofern
diese a priori moglich sei.n soll, überhaupt beschãftigt (K r V., B 25).
16. Reale, Miguel, Filosofia do DiT(!ito, São Paulo, Saraiva, 1978, p. 101.
90 A 1D$JIA DE JUSTIÇA EM KANT
17. K r V, B 33.
18. «ln der Erscheinung nenne ich das, was der Empfindung korres-
pondiert, die Materie derselben, dasjenige aber, welches macht, dass das
Mannigfaltige der Erscheinung ln gewisser Verhfiltnissen geordnet werden
kann, nenne lch die Form der Erscheinung» (K r V, B 34) .
JOAQUIM CARLOS SALGADO 91
§ 23 9
O ESPAÇO
19. K r V, B 36.
20. K r V, B 37 .
21. K r V, B 38 .
92 A IDli:IA DE JUSTIÇA EM KANT
22. K r V, B 38.
23. K r V, B 39.
24. Kant suprimiu o item n• 3 na 2• edição. Na edlção A, havia 5
Itens; na B, aparecem 4. É que o conteúdo do texto do item 3 da edição A
é matéria de exposição transcendental e não de exposição metafísica.
25 . K T V, B 42.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 93
§ 24°
O TEMPO
26. K, r V, B 44.
27. K r V, B 46 e segs.
28. K r V, B 48.
94 A IDJ;JIA DE JUSTIÇA EM KANT
29. K r V, B 49.
30. K r V, B 50.
31. K r V, B 52.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 95
do lado das coisas em si, quer como acidente, quer como subs-
tância. A mesma observação feita para o espaço quanto à ideali-
dade com relação às sensações é válida para o tempo.
Kant, diante das objeções que se fizeram à sua teoria do
tempo, diz que não nega a realidade do tempo. Nega sim a sua
realidade absoluta, enquanto fora Jo sujeito, mas afirma sua rea-
lidade empírica, enquanto condição de toda experiência. "O tempo
é algo real; é a forma real da intuição interna". 32
O espaço e o tempo são duas fontes de conhecimentos sin-
téticos a priori, justamente por serem formas puras da intuição
sensív,el. Não poderiam ser a priori se não fossem formas e
não estivessem do lado do sujeito como condições de toda expe-
riência, anteriores a ela portanto, nem poderiam ser sintéticas se
não estivessem do lado do sensível . Mostram-no as proposições
matemáticas.
Duas dificuldades adviriam de considerar-se o espaço e o tempo
como substâncias independentes de nós, ou como acidentes, relações
das coisas em si: lQ) ter-se-iam o espaço e o tempo como dois
entes infinitos, existentes em si mesmos, mas sem serem algo
real, só existindo enquanto continentes das coisas; 2 9 ) seriam
conhecidos através da experiência ·e, assim sendo, não poderiam ser
fontes de conhecimentos a priori, tal como nos fornece a Mate-
mática. 33
Se a "Estética Transcendental", como foi dito, trata do estudo
das formas a priori da sensibilidade, é preciso terminar, pois,
por explicar se há, além do espaço e do tempo, outra forma a
priori da intuição sensível.
Kant considera o movimento e a mudança (transformação) os
únicos que poderiam pleitear tal posição. Refuta, porém, essa pre-
tensão, dizendo que o movimento supõe algo que mova, o que
pressupõe algo empírico; da mesma forma, a mudança implica
algo que muda no tempo, o que quer dizer que se trata de um
conhecimento empírico. Não poderiam ser incluídos ·entre os dados
a priori da "Estética Transcendental".
32. K r V, B 53.
33. K r V, B 55.
96 A ID1i:IA DE JUSTIÇA EM KANT
§ 25~
A TEORIA DA IDEALIDADE DO ESPAÇO E DO TEMPO
34. K r V, B 64.
35. K r V, B 64.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 97
36. K r V, B 67.
37. KrV,B68.
38. K r V, B 69.
39. K r V, B 69.
98 A rn:mrA DE JUSTIÇA EM KANT
40. K r V, B 70 - 71.
41. K r V, B 72.
42. K r V, B 73.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 99
§ 26ç
A LõGICA TRANSCENDENTAL
43. K r V, B 74 e 75.
44. K r V, B 75.
100 A ID1:IA DE JUSTIÇA EM KANT
LõGICA TRANSCENDENTAL
45. K r V, B 77.
46. K r V, B 79.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 101
§ 27º
A ANALíTICA TRANSCENDENTAL
47. K r V, B 80 e 81.
48. K r V, B 87.
49. K r V, B 89.
102 A IDJl':IA DE JUSTIÇA EM KANT
50. K r V, B 90.
51. K r V, B 93.
52. K r V, B 93.
53. K r V, B 94.
JOAQUTht CARLOS SALGADO 103
§ 289
OS CONCEITOS PUROS DO ENTENDTh1:ENTO
54. K r V, B 103.
55. K r V, B 104.
104 A IDl!rIA DE JUSTIÇA EM KANT
unidade realidade
j
Da Quantidade pluralidade
· totalidade
Da Qualidade
j
negação
limitação
da inerência e da substância (substância e acidente)
l
Da Relação da causalidade e da dependência ( causa e efeito)
da comunidade (ação recíproca - agente e paciente)
possibilidade - impossibilidade
Da Modalidade
!existência - inexistência
necessidade - contingência
A DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL
DOS CONCEITOS PUROS
56. K r V, B 105.
57. K r V, B 114.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 105
62. K r V, B 126.
63 . K r V, B 130 .
64. K r V, B 131.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 107
65. K r V, B 132.
66. K r V, B 139.
67. K r V, B 136 e 137 .
68. K r V, B 137.
69. K r V, B 137.
70. K r V, A 123.
71. K r V, B 139.
108 A IDlilIA DE JUSTIÇA EM KANT
12. K r V, B 143.
73. K r V, B 147 e 166.
74. K r V, B 147 e 148.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 109
§ 309
O RESULTADO DA ANALiTICA 'IRANSCENDENTAL
75. K r V, B 148.
76. K r V, B 1.
77. K r V, B 166.
78. K r V, B 166 e 167.
79. K r V, B 167.
80. K r V, B 168.
81. K r V, B 169.
110 A IDJl'JIA DE JUSTIÇA EM KANT
82. K r V, B 184.
83 . K r B 183 e 184 .
84. K r V, B 186.
85. K r V, B 187.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 111
88. K r V, B 303.
CAPíTULO III
A Idéia
§ 319
A IMPORTÃNCIA DA "!Df:IA"
1. K r V, B 337.
2. K r V, B 337.
3. A palavra faculdade (Vermõgen) aparece em Kant com acepções
diversas. Em sentido estrito traduz também a palavra «Kraft» (Urteilskraft,
Einbildungskraft) e significa atividade. Neste caso seriam faculdades tão
somente a razão e o entendimento, ao passo que a sensibilidade, por ser pura
receptividade, passividade portanto, não se considera propriamente faculdade.
Contudo, a palavra é usada também no sentido amplo; neste caso, passa a
significar capacidade, aptidão, abrangendo também a sensibilidade (Vermõgen)
equivale, pois, à capacidade ou possibilidade de receber (sensibilidade) ou de
atuar (entendimento e razão). Somente a palavra «Kraft», traduzida também
como «faculdade», tem um sentido apenas ativo, razão por que não se em-
prega para a sensibilidade enquanto tal. De qualquer forma, Kant procura
empregar a palavra «Vermõgen» (faculdade) com mais freqüência no sentido
de atividade, embora apareça também como designativa da receptivldade
sensível, ou seja, faculdade da intuição (Vermõge der Anschauung). V,er a
respeito Kant-Lexikon, elaborado por Rudolf Eisler, Hildesheim, Georg Olms
Verlag, 1972.
114 A IDt:IA DE JUSTIÇA EM KANT
§ 329
A IDÉIA EM PLATÃO
29. «Si alguno dijera que sin tener tales cosas, huesos, tendones y todo
lo d,emás que tengo, no seria capaz de !levar a la prática mi decisión, d!rla
la verdad. S!n embargo, el decir que por ellas hago lo qué hago, y eso
obrando con la mente en vez de decir que és por elección de lo mejor podria
ser una grande y grave ligereza de expresión (Fe'dón, 99).
30. Fedón, 100.
31. Assim se expressa Platão; «. . . aceptando como princípio que hay
algo belo em si e por si, bueno, grande .e que igualmente existen lru;; demas
realidades de esta indole. . . espero que a partir d,ellas descubriré y te demons-
traré la causa de que .el alma sea algo immortal», E mais adiante: «A mi
me parece que se existe otra cosa bella a parte de lo bello em si, no és bella
por niguma otra causa, sino por e! hecho de que participa de eso que hemos
dicho que és bello en si (Fedón, 101) .
32. Fedón, 449.
33. IIQAITEIA (Der Staat), 508.
34. Um primeiro desdobramento das essências enquanto diferenças intro-
duzidas no ser como determinações mais ricas, ao modo como as desenvolve
Hegel na Lógica (ver Logik, Hamburg, Félix Meiner, 1934, 2• Vol.), é feito
por Platão no O Sofista, também obra importan~e quanto ao estudo das
idéias, quando se têm em vista as dificuldades levantadas no Parménicles
após a bela exposição de A República.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 123
Mas como alcançar o bem, esse sol que nem todos podem mirar,
mas somente os que podem ver com a alma?
O bem é o senhor do mundo inteligível, como o sol é o senhor
do mundo sensível. Para demonstrar a relação entre um e outro
mundo, recorre a um exemplo prático: se dividirmos uma linha
em duas partes desiguais, podemos representar, na parte menor, as
coisas sensíveis, na maior, as inteligíveis. Em seguida, obedecendo
à proporção da divisão anterior, dividimos a parte menor em duas
partes desiguais: uma, a maior, que representa as coisas sen-
síveis, e outra menor, que representa suas imagens. Dividindo a
parte maior, que representa as coisas inteligíveis, temos : na parte
menor, a verdade enquanto alcançada através de hipóteses, com
o auxilio das coisas sensíveis, ou seja, pela aritmética, geometria,
astronomia e estereometria, que "não buscam um princípio, mas
uma conclusão" .
A ciência não está, pois, comprometida com os sentidos,35
porque estes são apenas objeto da opinião variável, mas com o
conhecimento daquilo que é permanente e que só a inteligência pode
conseguir. O conhecimento sensível usa das hipóteses como prin-
cípios e a sua verdade é o próprio proceder do pensar, como pro-
curou demonstrar Cassirer na obra acima citada. A demonstração,
portanto, não fornece um resultado absoluto, mas tão só o resultado
determinado pelo pressuposto (hipótese) de que se partiu. O
conhecimento científico usa também do sensível. O geômetra, para
fazer uma demonstração, parte de uma hipótese, mas usa também
um circulo desenhado, ou seja, dados sensíveis para chegar ao seu
objetivo. Mas ele sabe que o círculo a que se refere não é aquele
que desenhou (na verdade não precisa ter e nem terá a precisão
do círculo) , mas a idéia do círculo que é sempre idêntico e que
se encontra em sua mente. O conhecimento científico, portanto,
auxiliando-se do sensível, não se elabora sobre ele, mas sobre a
idéia, visto que o circulo traçado nada mais é do que a imagem
do circulo que o geômetra concebe, isto é, que ele capta pelo pen-
samento. Daí, o objeto da ciência não é um conhecimento
sensível, embora se ligue ao sensível, mas intelectual, abaixo, con-
CRíTICA A PLATÃO
§ 34<1
ID:mIA E RAZÃO PARA KANT
a) A RAZÃO
67. «Er dehnte seinen Begrif freillch auch auf spekulatlve Erkenntnlsse
aus. . . Hierin kann ich lhm nun nicht folgen, so wenlg als ln der mystlschen
Deduktlon dieser Ideen, oder den übertrelbungen, dadurch er sle gleichsam
hypostasierte;» (K r V, B 371, nota) . Ver ainda K r V, B 375. Cfr. ainda,
sobre a «confusão» gerada pelo platonismo entre conceito e ldéla, ser e dever
ser, W S Campos Batalha, Introdução oo Estudo do Direito, Rio, Forense,
1981, p. II.
68. K r V, B 882.
69. K r V, B 863, Ver ainda: Paton, H. J., Der Kategorische lmperatw
(trad. alemã de Karen Schenck), Berlin, Walter de Gruyter, 1962, p. 85.
70. Paton, op. cit., p. 85 e 109.
132. A ID:1!1IA DE JUSTIÇA EM KANT
b) A ID:tIA
96. K r V, B 383.
Kroner, op. cit., p. 128.
97 .
Apesar da coerência lógica, a demonstração por silogismo é apa-
98 .
rente (Cfr. Ma.réchal, op. cit., p. 89).
99. Kroner, <>'P· cit., p. 128.
100. Kroner, op. cit., p. 126 e 128.
101. dch verstehe unter der Idee einen notw.endlgen Vemunftbegrlff,
dem keln kongruJerender Gegenstand in den Slnnen gegeben werden kann».
(K r V, B 383).
JOAQUIM CARLOS SALGADO 139
§ 35~
A IDÉIA E A PASSAGEM PARA A FILOSOFIA
PRÃTICA DE KANT
a) IDÊIA E FIM
O mérito de Platão é o esforço por elevar-se da ordem física
do mundo à unidade sistemática desta ordem do mundo segundo
102. K r V, B 389.
103. K TV, B 367.
104. K r V, B Sobre a importância dessa concepção da ldéla como wn
«maximum» para a desvinculação da ética de Kant, da de Wolff, após a lei-
tura de Rousseau, ver Dieter Heinrich, «über Kants früheste Ethlk-Versuch
elner Reconstrutlon», In: Kant-Studien, n• 54: 404 e sega. 1963.
105. K r V, B 374.
106. K T V, B 386.
107. :Maréchal, J., Le Point du Départ de la Métaplvystque p. 31 e sega.
Kant define a regra como a premissa maior do silogismo (K r V, B 386 e 387).
140 A IDli'.JIA DE JUSTIÇA EM KANT
fins, isto é, idéias .108 Daí porque Platão, com acerto, pôde cons-
tatar que o indivíduo como tal, por exemplo, este homem, não
realiza plenamente a idéia de humanidade . 109 A idéia aparece como
um cânon e também como uma tarefa. 11º O homem formula um
projeto e procura realizá-lo. A representação de uma casa, já que
seja apenas uma antecipação daquilo que o engenheiro quer rea-
lizar, é regra determinadora da sua ação . Ao lado do mundo das
causas eficientes do entendimento, aparece agora o das causas
finais, onde a razão opera com objetividade. Pensar na fainalidade
é pensar na razão prática, na vontade. Como vontade, a razão
capta a idéia como realidade (Wirklichkeit). Kant recrimina,
como disse acima, Platão por ter estendido o conceito de idéia
às coisas da natureza, que é o reino da causalidade necessária.
A idéia como fim só é possível na obra humana, no fazer do ser
que realiza a cultura, que é tudo daquilo que o homem faz, ao
lado da natureza (natura) que lhe é dada. A natureza - a
não ser que seja pensada como obra de um ser inteligente, que
tem vontade - não tem finalidade. Nada tem fim na natureza,
a não ser se criado por um ser inteligente. 111 Na cultura, porém,
tudo é dotado de uma finalidade. Nada do que o homem faz deixa
de ter uma finalidade, ainda que essa não seja uma utilidade ime-
diata. Se o homem pode criar, fazer cultura, ou seja, dar finali-
dade ou significado às coisas é porque dotado de vontade.
Na Crítica do Juízo Kant define cultura como a prestabilidade
da natureza para fins desejados por um ser racional, o que inclui
"Die Teleologie erwãgt die Natur ais ein Reich der Zwecke,
die Moral ein mõgliches Reich der Zwecke ais ein Reich der
Natur. Dort ist das Reich der Zwecke eine theoretische Idee,
zur Erklãrung dessen, was da ist. Hier ist eine praktische
Idee, um das, was nicht da ist, aber unser Tun und Lassen
wicklich werden kann, und. zwar eben dieser Idee gemãss
zustande zu bringen" .11s
129. «Denn in Betrachtung der Natur gibt uns Erfahrung die Regei an
die Hand und 1st der Quell der Wahrheit, ln Ansehung der sittlich.en Gesetzse
aller ist Erfa.hrung (lelder ! ) die Muter des Scheins ... » (K r V, B 375) .
130. K r V, B 373: Denn nichts kann Schãdlicheres und einea Philo·
phen Unwürd.igeres gefunden werden, ais dle pobelhafte Berunfung auf vor-
gcblich wlderstreltende Erfahrung ... ».
131. V. Cassier, E., Kants Leben und Lehre. Darrnstadt, Wlssen-
chaftliche Buchegesellschaft, 1975, p . 213 .
146 A IDl:IA DE JUSTIÇA EM KANT
§ 36~
"Es ist hiermit ebenso, als mit dem ersten Gedanken des
Kopernikus bewandt, der nachdem er mit der Erklãrung der
Himmelsbewegungen nicht gut fort wollte, wenn er annahm,
das ganze Sternenheer drehe sich um den Zuschauer, versu-
chte ob es nicht besser gelingen mõchte, wenn er den Zus-
chauer sich drehen und dagegen die Sterne in Ruhe liesse.
In der Metaphysik kann man nun, was die Anschauung der
138. J. Marltain (A Filosofia Moral, Trad. A.A. Lima, Rio, Agir, 1973),
embora acuse o racionalismo de responsável pela «desintegração» da unidade
orgânica da cultura» (p. 155), reconhece ter Kant operado uma revolução na
ética (p. 117). «Kant», diz Maritaln, «percebeu o ponto fraco do ,eudemo-
nismo aristotélico. Percebeu também o ponto fraco de muitas explicações
populares da moral religiosa, pouco cuidadosas de não apr.esentá-la apenas
como um eudemonlsmo transcendente. Percebeu, com clareza, a necessidade
que tem a . vida moral de se sujeitar a uma suprema motivação desinteres-
sada, definitivamente libertada da supremacia do amor próprio. Ness.e ponto,
merece ele a gratidão dos filósofos, obrigados com isso a esclarecer esse
problema meU!or do que habitualmente o fazem». (p. 119).
139. Malgrado o respeito que Platão vota a Protágoras, não se pode
desconhecer com que descaso, e até mesmo certa agressividade, Platão trata
dos sofistas. A célebr,e frase de Protágoras: «o homem é a medida de todas
as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são»
(Teeteto, 152) é comentada por Platão como a expressão de um relativismo
sensualista, o que dificilmente poderia ser defendido por uma sofista que me-
recera até elogio de Platão. Se o pensamento de Protágoras não comporta
o relativismo com que o interpreta Platão, então fácil será concluir que
Protágoras se coloca ao lado de Sócrates numa séria virada antropológica
da filosofia grega . A respeito, ver o comentário de Rodolfo Mondolfo, em
O Pensamento Antigo, São Paulo, Mestre lou, 1964, p. 139.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 149
143. Carnelll, Lorenzo, ed., Prefâcio, ln: Ciencia del Derecho. Buenos
Aires, Editorial Losada S.A., 1949, p. 15.
144. ld. ibià., p. 12.
145. Beck, op. cit., p. 34.
152 A IDJ!:IA DE JUSTIÇA EM KANT
§ 37~
§ 389
A VONTADE
autolegislar, razão que legisla para si mesma ;16 leis a priori, diz
Kant, leis universais ( o a priori é que dá a universalidade), visto
que deduzidas da razão, e não simplesmente leis ou conceitos
gerais que o entendimento colhe na experiência através de simples
indução. 16 Daí a diferença radical com relação à filosofia moral
de Wolff: Wolff elabora uma ética com base num conceito de
vontade como um querer em geral, que nada mais é do que um
querer psicológico; não "investiga a idéia, os princípios de uma
possível vontade pura", que é o objeto da metafísica dos costumes
e sim "as condições do querer humano em geral" .17 Ora, os mo-
tivos da ação "moral devem ser representados plenamente a priori
pela razão" e não alcançados corno um conceito geral do enten-
dimento, através de comparação das experiências por ele levadas
a efeito . 18 A fonte de todo motivo genuinamente moral é a razão
pura e não o entendimento pelo seu processo de generalização dos
dados da experiência, fornecidos pela sensibilidade. Na ordem
prática a sensibilidade não interfere . :m a razão que determina o
agir, do mesmo modo que, na esfera teórica, é a sensibilidade que
determina o conhecimento.
§ _399
VONTADE PURA E BOA VONTADE
20. K p V, V, 57.
21. Grundlegung, IV, 394.
22. Grundlegung, IV, 412; K p V, V, 62.
23. «Reine Verfunft ist fur sich allein praktisch und gibt dem Mensch
ein allgemeines Gesetz, welch,es wir das Sittengesetz nennen» (K p V, V 31;
ainda a p. 55).
JOAQUIM CARLOS SALGADO 163
§ 4011
30. Grundlegung, IV, 395 - 396. A conseqüência de.ssa ética não eude-
mônica s,erá o postulado do ideal supremo na esfera do individuo, que não
conseguirá a felicidade neste mundo pelo fato de praticar o bem, ou seja,
de agir moralmente. Essii lado individualista da filosofia moral de Kant é
que possibilitará o postulado do bem supremo, fundamental para a filosofia
da religião. Cabe lembrar, entretanto, que o bem supremo tem outro signi-
ficado, quando se refere não ao indivíduo, mas à espécie. Na espécie, o bem
supremo é a realização da idéia de justiça (como se verá) interna e externa-
mente entre as nações. A espécie poderá fundar um reino dos fins, racional,
em que o homem seja sempre considerado fim em si mesmo (humanismo
radical).
31. Grundlegung, IV, p. 396.
32. Grundlegung, IV, 412.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 165
33. «... der Begrlf des Guten und Bõsen nicht vor dem moralischen
Gesetzse (dem er dem Ansch,ein nach sogar zum Grunde gelegt werden müsste),
sondem nur (wie hier auch geschieht) nach demselben und durch dasselbe
bestimmt werden müsse» (K p V, V, 62 - 63). Essa passagem é funda-
mental para compreend.er-se o formalismo kantiano, mais tarde reproduzido
por Kelsen em «Zum Begrift der Norm» (e Teoria Pura do Direito p. 37 e
segs.) In: Die Wiener Rechtstheioretische Schule, Wien, Schambeck, p. 1455
- 1468, ao afirmar que o valor decorre da norma, não a norma do valor.
Num certo sentido, diz Ricoeur (citado por Vialatoux) toda moral é for-
malista e nisto Kant é invencivel (Cfr. Vialatoux, op. cit. p. 52).
34. über den Gemeinspruch VIII, p . 280.
35. Id. ibià p. 282 - 283.
36. Vialatoux, op. cit., p. 50.
37 . A respeito do conceito «sentimento moral», ver Sprute, Jurgen;
«Der Begrlff des Moral Sense bei Shaftesbury und Hutcheson»: Kant-Btudien,
n. 71; 221 1980.
166 A IDli:IA DE JUSTIÇA EM KANT
38. «Wenn efn vemUnftfges Wesen sfch sefne Maxlme als praktlsche
algemelne Gesetze denken soll, so kann es slch dleselbe nur als solche Prln-
clplen denken, dle nlcht der Materle, sondern bloss der Form nach den Bes-
tlmmungsgrund des Wlllens enthalten» (K p V, V, p. 27) .
39. Vlalatoux, op. cit., p. 14.
40. K p V, V, 28.
41. Grunãlegung, I:v, 452.
42. N. Hartmann, desenvolvendo o argumento de Scheler, procura
demonstrar que toda a contribuição positiva de Kant, a rejeição de uma ética
empirlca e heterônoma (subjetivista no sentido de casuistlca), a exigência
de rigorosa universalidade dos s,eus prlnciplos etc., n!l.o necessita do forma-
lismo, v:lsto que a priori não se confunde com formal (Ethik, p. 110).
JOAQUIM CARLOS SALGADO 167
§ 41°
SER E DEVER SER
68. «Denn ln Betrachtung der Natur gibt uns Erfahrung dl,e Regei an
die Hand und ist der Quell der Wahrheit: ln Ansehung der slttllchen Gesetze
aber ist Erfahrung (leider!) die Mutter des Schelns» (K r V, B 375).
69. Baratta, A. «Natur der Sache und Naturrechb, in: Die antalogische
Begründung eles Rechts, Wlssenschaftllche Buchgesellschaft, 1965, p. 112.
70. Id. Ibui., p. 114.
176 A ID1:IA DE JUSTIÇA EM KANT
71. K r V, B 575.
72 . Kant. promove urna depuração do «dever ser» hipotético, cuja
neceasldade é relativa, Isto é, está sempre condicionada à relação de melo e
fim. A questão que se coloca é se é possivel um «Sollen» puro, que não
seja determinado externamente, mas exclusivamente pela razão pura; um
«Sollen» que seja a determinação da vontade pura é possivel, na medida em
que a vontade pura possa determinar-se sem Interferência externa (das incll-
naçõ,es sensiveis) ; essa capacidade de determinar-se é a liberdade. O «Sollen»
que dai decorre vincula incondicionalmente. :11: incondlcionado porque não tem
origem fora da vontade pura, que auto-determina, que é livre. Nesse sen-
tido é incondicionado, pois não há possibilidade de a ldéia do «SoJLem> ser
de outro modo, ao passo que as condições da realidade podem ser outras
e, neste caso, outra será a realidade. Sobre essa condicionalidade do ser ,e
incondicionalidad,e do dever ser, cfr. Ellscheid, op. cit., p. 36 e sega. e prln-
c!palment.e à p. 42 e sega.
73. «Wir kõnnen gar nicht frager.: was ln der Natur geschehen soll;
ebensowenig ais: was für Eigenschaften ein Zirkel haben soll, sondern was
darin geschieht, oder welche Eigenschaften der letztere hat» (K r V, B 575) .
JOAQUIM CARLOS SALGADO 177
76. «. . . es ist hêichst ververfllch, die Gesetze über das, was ich tun
sol!, von demjenigen herzunehmen, oder dadurch ,einschrãnken zu wollen, was
getan wird». (K r V, B 375).
77. K r V, B 575. Esse aprofundamento não é levado em consideração,
obviamente, por Kelsen (Teoria Pura do Direito, p. 23), qu.e adota, por força
da pureza que pretende para a teoria do direito, uma distinção meramente
lógico-formal entre ser ,e dever ser ( expressão da relação de imputação),
ren,egando todo o conteúdo da Ética e da Filosofia do Direito de Kant (Cfr.
Dernokratie und Sozialismus, Wien, Verlag der Wiener Volksbuchlandlung,
1967, p. 82) . Kelaen atalha essa inv,estigação de profundidade ao dizer -que
a distinção entre ser e dever ser não pode ser aprofundada para além da
afirmação de que um não decorre do outro (Teoria Pura do Direito, p. 23).
JOAQUIM CARLOS SALGADO 179
§ 421
HEIDEGGER E A QUESTÃO DO SER E
DEVER SER EM KANT
91. K r V, B 627.
92. Der etnzig mi:igliche Bewei8gnind zu ei:ner Demonstration des Daseins
Gottes, II, 205.
93. K r V, B 302.
94. Heidegger, Kants Tliesi8 über das Sein, p. 23 e segs.
95. Id. ibid., p. 13 e 14.
184 A IDl!:IA DE JUSTIÇA EM KANT
96. K r V, B 627.
97. Id. ibid., p. 25.
98. Id. ibid., p. 26.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 185
§ 43~
HEGEL E O DEVER SER
dever, a não ser em um ente livre. O dever ser, para Kant, não
se encontra no mundo da natureza, mas no da liberdade. Não pode
por isso ser estudado na esfera da razão teórica, mas numa outra
dimensão da consciência, a razão prática, que oferecerá a resposta
aos problemas metafísicos mais importantes: Deus, o homem e
o mundo, que são postulados no sentido de justificar a própria
esfera da liberdade ou da moralidade e que deverão solucionar as
grandes oposições levantadas a partir da Crítica da Razão Pura:
a oposição interior e exterior, ou liberdade e necessidade, ou ainda
homem e natureza; a oposição dentro do próprio homem que é
ser híbrido, em que a natureza física e psicológica ou sensível se
coloca diante do homem como razão; a oposição entre Deus legis-
lador, que é o postulado do ser moral perfeito - já que o homem
não pode realizar na plenitude o dever moral puro - e a nossa
consciência .
Para resolver essa oposição, Kant recorre aos postulados da
razão prática: o postulado da harmonia da natureza com o homem,
o postulado da harmonia interna no homem, isto é, entre seu
elemento natural e o racional, e o postulado da harmonia entre. o
homem e o sobrenatural .
A primeira oposição ( consciência de si moral e o outro) , isto
é, o dever puro e o que não é ele,- Kant procurará resolver, separan-
do radicalmente o mundo moral, do mundo natural. Daí que não
poderia contemplar, na sua visão moral, qualquer conteúdo, que
sempre seria externo. A moralidade se mostra como imposição
pura e simples do dever ao sujeito, pois não "é moral deduzir a
virtude da felicidade, como fazem os epicuristas". Entretanto, em
Kant já estava superado o estoicismo moral, fechado em si mesmo.
Julgando poder deduzir a felicidade da virtude (o que é impossível
para Kant), era necessário agir moralmente. Nessa primeira opo-
sição é que aparece o problema da felicidade. Hegel critica a Kant,
afirmando que todo cumprimento do dever está, para o sujeito
que o cumpre, ligado indissoluvelmente à felicidade que é o seu
fim. Se para Kant a felicidade é contingência que não pode inter-
ferir no cumprimento do dever, por ser a ele estranha, para Hegel
não há dever que não se ligue à felicidade. O dever não pode ser
fechado na consciência moral abstratamente, mas tem de ser
cumprido pelo indivíduo singular, visto que a moralidade não pode
permanecer na pura disposição do agir, mas tem de encontrar no
agir a sua "realização efetiva, o dever cumprido que é ao mesmo
188 A ID1!::IA DE JUSTIÇA EM KANT
A distinção feita por Kant entre ser e dever ser é abstração que
deve ser superada, da mesma forma que ocorrerá na distinção entre
legalidade e moralidade no interi0r da razão prática, bem como
o dualismo originário de fenômeno e "noumenon" - a primeira
abstração que deve ser superada, pois que o efetivamente real é
o que "essencialmente é para um outro, ou seja, é o ser". A dife-
rença entre o em si e o ser não contém verdade alguma, pois o que
não é para o outro, o que não se manifesta é pura abstração, ou
seja, o que não se manifesta não é; ora, a essência da essência
é manifestar-se, da mesma forma que a essência da manifestação é
manifestar a essência. 118
Ao identificar o homem com a razão, Kant o torna um ser
abstrato, diz Hegel. O homem é também ser vivo e ser vivo não
é nele algo contingente, mas necessário, pois em primeiro lugar
ele precisa viver para ser racional, precisa satisfazer as suas neces-
sidades vitais para que possa desenvolver as suas qualidades
espirituais, já que não pode existir apenas como ser espiritual, ll9
O bem superior da existência espiritual "não exclui o bem natural
da vida" 120 e vida é um processo na totalidade .121 No dever ser
kantiano, a moral (ou o direito) é algo diverso da moral existente;
é moral em si, mas como pura ~xigência inessencial, subjetiva e
aparente 122 e, por isso mesmo, surge como o confronto permanente
entre o que o homem é e o que deve ser, o que ele é na situação
de "insatisfeita existência empírica" e o que deve ser como lei
moral universal. 123 Ora, o homem é, diz Hegel, tal como deveria
ser.
§ 449
OS ESTU.ÃRIOS DO DUALISMO
124. Ellscheid ( op. cit., p. 9) diz que a noção de ser para Kant não se
restringe à esfera da natureza.
125. Ellscheld, op. cit., p. 7.
126. Id. ibid., p. 10~
127. Id. ibid., p. 9.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 195
§ 459
DEVER SER E LIBERDADE
129. Schmidt, Gerhard. «Das Splel der Moralitãt und die Macht der
Notwendigkeit», in: Hegel in der Sicht der neueren Forschung, Darmstadt,
W!ssenschaftliche Buchgesellschaft, 1973, p. 189.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 197
por ela mesma criada. Nesse caso, esta mesma lei não teria razão
de ser. O "Sollen" só existe para um ser que se coloca no conflito
entre os impulsos e inclinações dos sentidos e o império da von-
tade pura que se expressa na forma do "Sollen", a lei moral,
embora esta possa conceber-se como válida para qualquer ser
racional. 13º Não se deve perder de vista, entretanto, que a neces-
sidade, a incondicionalidade da lei moral quanto à sua determinação
não significa relação de causa e efeito com ação concreta, pois que
isto só se dá na esfera da natureza, é claro.
Também o "Sollen" não é a primeira causa, por analogia com
primeira causa da dialética da razão pura. l!l a liberdade, também
pensada como causa incausada, que se coloca como primeira causa,
que cria o "Sollen" ou lhe dá fundamento, já que ess-e é posto pela
vontade livre. ia1
l!l preciso lembrar-se sempre da distinção entre o "Sollen"
puro e simples de Kant e a idéia corno dever ser, sem se esquecer
de que o "Sollen" mesmo é uma idéia. O direito positivo não se
enquadra · na esfera do "Sollen" moral, a determinação incondi-
cionada da vontade. Nesse sentido, o direito positivo não está na
esfera do "Sollen, porque não ordena incondicionadamente. Só a
moral define essa esfera. O dev~r ser que aparece no direito se
identifica como idéia. Portanto, em Kant temos dois conceitos de
dever ser: a) um comum, tirado da tradição platônica o dever
ser como idéia, pois a idéia é o modelo, indica como deve ser a
realidade, o ponto de convergência da ação que, em Kant, passa
a ser uma regra; b) o conceito próprio de Kant, restrito à ação
moral, significando imposição da lei moral, criada pela vontade
livre . 132 A indagação é a seguinte: o direito positivo é apenas uma
determinação de vontade que tem apenas a aparência do dever ser,
já que este, fundando-se em si mesmo, isto é, sendo a lei moral,
§ 469
135. K r V, B 818.
136. «Grundsãtze a priori führen dlesen Namen nicht bolas de.swegen,
weil sie die Grtinde anderer Urteile in sich enthalten, sondern auch weil sie
selbst nJcht in héiheren und allgemeineren Erkenntnissen gegründet sind>
(K r V, B 188) .
137. Cfr. Paton, op. cit., p. 58.
138. Grunàlegung, IV, 412.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 201
144. Grundlegung, IV, 400. Em outro contexto (Logik, IX, 24), Kant
liga ao conceito de máxima o conceito de fim. Máxima «é um principio
interno de escolha entre diferente fins» .
145. Z. ew. Fr., VIII, 376 - 377.
146. Cfr. Paton, op. cit., p. 59.
JOAQUIM. CARLOS SALGADO . 203
§ 47'1
A LEI MORAL COMO FATO DA RAZÃO
154. K p V, V 31 -- 32.
155. Grundlegung, IV, 412 e 455; K p V, V, p. 55.
156. Grundlegwng, IV, 449. O mesmo ocorre com a vontade pura: sua
realidade objetiva é dada por um «Faktum» na lei moral a priori (K p V,
V, 55).
157. K p V, V, 55
158. K p V, V, 42. «Praktische VemUIÚt ist Freiheit», diz Kant à p. 59.
Considerando a equação liberdade razão prática, Beck procura mostrar dois
sentidos do «Faktum»: ora é a consciência da lei, ora a própria lei (Beck,
op. cit, p. 160).
159. K p V, V, 29.
160. Grunálegung, IV, · 448.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 207
§ 489
A LEI MORAL E O IMPERATIVO
"Tu não deves mentir" é uma lei válida não somente para
seres humanos. 167 Essa passagem da Fundamentação trouxe a
Kant a crítica de Schopenhauer, segundo a qual, para Kant, a lei
moral é válida para todo ser racional; para o homem, que, na
verdade é o único ser racional que podemos conhecer, no entanto,
a lei moral é válida per accidens; Kant estaria procurando fazer
o leitor crer ( ou aproveitar dessa crença) "em anjinhos" . 168
respeito pela lei moral (ou seja, dever). Para Kant, o próprio
Cristo, como homem, tinha suas ações submetidas à lei moral
como um "Sollen." Suas ações não eram a pura espontaneidade
de uma vontade pura, mas de uma vontade em que também inter-
feriam os desejos, os sentimentos, enfim. O fato de o Cristia-
nismo afirmar a santidade completa de Cristo não quer dizer
que sempre agira na qualidade de ser puramente racional, mas
como um ser que fazia prevalecer a ;ei moral sobre as suas incli-
nações e os seus impulsos. Mesmo que tenha realizado sempre
a lei moral, essa lei sempre lhe apareceu como um imperativo.
Por outro lado, de nenhum modo significa essa vinculação do
imperativo com o sensível, que a lei moral humana tenha a origem
também no sensível. A presença do sensível simplesmente faz
com que a lei moral, que tem origem tão só na razão, que é um
desdobramento espontâneo da razão pura prática, se imponha ao
sensível como um mandamento, com toda a força do seu império.
O sensível é somente a condição pela qual a lei aparece ao destina-
tário de que esse sensível é parte, como mandamento ou imperativo
capaz de determinar a vontade de forma absolutamente a priori,
isto é, independentemente de qualquer condição empírica.
O imperativo é a fórmula mandamental da lei da razão que,
por sua vez, é a representação de um princípio objetivo (qualquer
que seja e não somente moral), na medida em que esse principio
é cogente para a vontade. 170 O modo pelo qual o imperativo se
expressa é a cópula "dever ser" . Ao expressar-se por um "deve
ser", o imperativo "revela uma relação de uma lei objetiva com
uma vontade que não se determina necessariamente" pela lei, em
virtude da sua constituição subjetiva. Por isso, aparece como uma
força coativa (Nõtigung) .m
OS IMPERATIVOS
§ 509
AS ESPÉCIES DE IMPERATIVO
"Dieser Wille darf also nicht das einzige und das ganze, aber
er muss doch das hõchste Gute und zu allem übrigen, selbst
aliem Verlangen nach Glückselligkeik, die Bedingung sein, ... " .11 7
§ 5l9
POSSIBILIDADE DOS ThfPERATIVOS
§ 529
OS IMPERATIVOS HIPOTÉTICOS
182 . K r V, B 19.
183. «Kant», diz Paton ( op cit., p. 140), «foi o primeiro a fazer a
distinção entre juízos analíticos e sintéticos».
184. K p V, V, 20.
216 A IDl!IIA DE .JUSTIÇA EM KANT
§ 53'1
O IMPERATIVO CATEGõRICO E SUA POSSIBILIDADE
186. K p V, V, 41.
187 . K p V, V, 21.
188. Com base na teoria da aferição da validade da máxima pelo cri-
tério a sua universalização, Manfred Morits (-Ober einige formale Strukturen
des kategorischen Imperativas»; Kant-Btudien Internationaler Kant-Kongress,
n• 65: 201 e segs, 1974) procura mostrar que a ação universalizável pode
ser também negativa (ação omissiva) e até mesmo meramente permissiva.
Quando Kant diz «age apenas ... » significa: uma ação comlsslva contrária não
é passivei de universalização, mas uma ação com1ssiva, sim. E esta seria
um imperativo categórico que pode ser tanto uma ordem, como um.a proi-
bição. Entretanto, como proibição ele é sempre sujeito a uma condição, diz
218 A ID:11:IA DE JUSTIÇA EM KANT
E mais adiante:
§ 559
UNIVERSALIDADE E IGUALDADE
218. K r V, B 374.
219. Mesmo o texto de Kant, citado na nota anterior, mostra que o
ideal não é algo que se tem como impossivel de realizar, mas algo que pode
não ser realizado (em certas circunstância.s). Daí dizer Kant ser algo a que
aspiramos, ainda que não estejamos em condições de realizá-lo. A concessiva
não exclui a possibilidade de virmos a estar em condições de fazê-lo.
228 A IDtlIA DE JUSTIÇA EM KANT
229. K p V, V, 69.
230. Grundlegung, IV 422.
232 A IDJí:IA DE JUSTIÇA EM KANT
A IDÉllA DE LIBERDADE
1. Metafísica, 892b.
2. P:tica a Nicômaco, llllb.
234 A IDÉIA DE JUSTIÇA EM KANT
assemelha à autonomia.
Não coincide, ainda a liberdade kantiana com o ivre arbítrio
concebido por~nto ~ i ~ , lcomo capacidade interna e esco-
~ ( ou indeterminação do sujeito), depois desenvolvido por
§ 579
A INFLUÊNCIA DE ROUSSEAU NA FORMAÇÃO
DA IDÊIA DE LIBERDADE EM KANT
"Es war eine Zeit da ich glaubte dieses allein kõnnte die Ehre
der Menscheit machen u. ich verachtete den Põbel, der nichts
davon weis. Rousseau hat mich zurechtgebracht. Dieser ver-
blendete Vorzug verschwindet, ich lerne die Menschen ehren u.
ich wurde mich un nützer finden wie den gemeinen Arbeiter,
wenn ich nicht glaubete e dass diese Betrachtung allen übrigen
einen Werthgeben kõnne, die Rechte der Menscheit herzus-
tellen" . 16
--
leis ¼trc'as . 17 Em Rousseau, os conceitos de ser e dever ser não
são diferenciados; a natureza é o estado originário de que sai o
homem e, ao mesmo tempo, o fim a que ele volta; isso não se con-
forma com o pensamento analítico de Kant, quanto ao distancia-
mento conceptual de ser e dever ser . 18 Nesse sentido, Hegel sente-se
40. K p V, V, 33 e 48.
41. K p V, V, 6. JÍl impossível pensar a necessidade e a liberdade no
mesmo ser humano, sem que ele seja considerado como um ser em si, ao
mesmo tempo · que fenômeno.
42. K r V, B 585 e 586. Ver ainda a página 830 da edição B, onde a
liberdade é conceituada como «causalidade da razão na determinação da von-
tade». Demais, a liberdade em s.entido estrito (im strengsten Slnne), pre-
nunciada no segundo prefácio à Crítica da Razão Pura (K r V, B XXVIII),
não pode ser pura negatividade, já que a possibilidade da moralidade exige
mais do que isso: ~x!ge que a razão seja causa determinante (p. 581).
·13. «C'est la liberté la clef de voute du systeme kantien et cette liberté
c'est !e thême central de la Critique de la raison Pratique». Hyppolite, Jean,
Genese e't Structure de la Phénoménologie de l'1!Jsprit de Hegel, Paris, Aubier
- Montaique, 1946, 2• vol, p. 454.
44. «Die \Villkür, c!Je durch reine Vernunft bestlmmt werden kann,
helsst dle freie Willkür», ou: «Die menschliche Willkür ist dagegen eine solche,
welche zwar durch Antriebe affiziert ab,er nicht bestimnt wird» (M S, 213).
JOAQUIM CARLOS SALGADO 245
45. «Der Wille ist also das Begehrungsvermiigen, nlcht sowohl (wie
die WillkürJ in Beziehung auf die Handlung, ais vlelmehr auf den Bestim·
mungsgrund der Willkür zur Handlung betrachtet, und hat se!ber vor slch
eigentlich keinen Bestimmungsgrund, sondérn ist, sofern sle die Wlllkür bes-
timmen kann, die praktische Vernunft selbst». A palavra «sie» estâ no lugar
de «Vernunft», ou deveria ser «er», como nota VorUi.nder à p. 14 da sua
edição (M S, VI, 213).
46. Delbos (op. cit., p. 455) chega a essa conclusão, que me parece
discutivel: «Sous en aeul nom, il y a bien Iâ, semble-t-il, d.eux espéces de Ubertés
radicalement dlfferentes». Delbos tenta corrigir a amblgüidade (na sua
opln!ão), afirmando que prevalece o conceito de liberdade da «Fundamen-
tação», que pode manifestar-se no agir da vontade no empirico: se ela é
afetada pelos sentidos, continua livre, mas não realiza a sua determinação.
47. Re/lexion 4904, XVIII, 24.
246 A IDl!lIA DE JUSTIÇA EM KANT
48. Z. ew. Fr., VIII, 350. Não creio, como quer Bobbio, que se possa
conceber uma espécie de tensão entre dois conceitos de liberdade na obra
de Kant: um derivado de Montesquieu, que define a liberdade como o «direito
de faz,er tudo o que as leis permitem», e outro, de Rousseau, que a entende
como autonomia ou a obediência à lei que alguém prescreve a si mesmo.
A liberdade, no sentido jurídico dado por Montesquieu, é complementar e
condicionada ao conceito de autonomia (no sentido de liberdade politica de
Rousseau) na Moral de Kant. Ter p,ermissão não significa ausência' de legis-
lação (um tipo de liberdade como Indeterminação absoluta), mas tão somente
possibilldade de uma legislação individual, que deverá, da mesma forma,
ser uma legislação da razão (Cfr. Bobblo, N. «Deux Notions de la Liberté
dans la Pensée de Kant», ln: La Philosophie Politique de Kant, Paris, PUF,
1962, p. 106 e segs). Pura conformidade com a lei, de outro lado, não é bas-
tante para Kant. l!l preciso que ~ssa lei - que ordena, proibe e permite -
tenha tido a minha aprovação para que se legitime.
49. M S, VI, 226.
50. Refiexion 7063, XIX, p. 240.
51. K. Borries (Kant al8 Politiker, Leipzig, Scientia Verlag, p. 192,
p. 86) Interpreta Kant nessa paseagem, dizendo que o arbítrio, quando se
determina a partir de si mesmo, é livre (liberdade positiva); quando não é
afetado por móbeis sensíveis, é lib,erdade negativa. Penso que o arbitrlo não
é determinado de si mesmo, mas pela vontade que é a razão prática. Mala
JOAQUIM CARLOS SALGADO 247
"Nun das kõnnen wir wohl einsehen: dass, obgleich der Mensch
als Sinnenwesen der Erfahrung nach ein Verrnõgen zeigt, dem
Gesetz nicht allein gemãss, sondern auch zuwider zu wãhlen,
dadurch doch nicht seine Freiheit als intelligibelen Wesens
definiert werden kõnne, weil Erscheinungen kein übersinnliches
Objekt ( dergleichen doch die freie Willkür ist) verstandlich
machen kõnnen; und dass di-e Freiheit niemmermehr darin ge-
setzt werden kann, dass das vernünftige Subjekt auch eine
wider seine (gesetzgebende) Vernunft streitende Wahl treffen
kann, wenngleich die Erfahrung oft genug beweisst, dass es
geschieht ... ". 52
E na página seguinte:
possível ocorrer em nós a lei moral, que, por outro lado, nos pos-
sibilita conhecer a liberdade. A liberdade é a "ratio essendi" da
lei moral; esta, por sua vez, é a "ratio cognoscendi" da liberdade,
o que não constitui círculo vicioso para Kant, visto que a lei
moral .se apresenta para ele como um "Faktum" da razão. 62 A
"prova" da liberdade só se torna possível, portanto, através do
princípio supremo da moralidade, o imperativo categórico que pres-
creve o que deve acontecer e não descreve o que acontece, e que,
de outro lado, só é possível sob o postulado da liberdade. 63 A lei
moral é colocada em primeiro lugar por uma questão de método;
só através dela é que é possível conhecer a liberdade. O dever
ser decorre da liberdade, ou: o homem deve, porque é livre. A dife-
rença essencial entre a ética clássica e a ética kantiana está no
conceito de liberdade como autonomia; para Kant, o bem que obriga
não é algo que está fora da vontade, mas é a própria vontade
que é boa em si mesma. A autonomia da vontade, na medida em
que ela ganha universalidade pela racionalidade, é o que caracte-
65. Grundlegung, IV, 432; Cfr. Stahl, F. J., Geschichte der Rechts-
Philosophi.e, H:eldelberg, Akadenúe Verlagshandlung von T. G., 1847, 134.
66. Grundlegung, IV, 447. Ver ainda Re{lexion 6.850 e 6.767, XIX, p.
178 e 155.
67. Id. ibid., p. 431.
252 A ID:0IA DE JUSTIÇA EM KANT
é ser da mesma forma livre. Daí que §__ combate à coação, que a
sensibilidade exerce sobre o meu espontâneo agir racional pela
coação à mesma sensibilidade, é válido, de vez que a liberdade é
uma relação de negatividade com a natureza sensível, não com a
razãi} ( que é ela mesma como mundo inteligível ou "noumênico") ,
como diz a Reflexão '1202:
"lch bin frei aber nur vom Zwang der Sinnlichkeit ... , kann
aber nicht zugleich von einschrãnkenden Gesetzen der Ver-
nunft frei sein; denn eben da rum, weil ich von jenem frei bin,
muss ich unter diesen stehen ... ". 86
89. Z. ew. Fr., VIII, 350, nota. Reflexion 8979, XIX, p.612 .
90. O texto do art.4,, é o seguinte: «La l!berté consiste à pouvoir
fair,e tout ce que ne nuit pas à autrui: ainsi l'exercice du droit naturel de
chaque homme n'a de bornes que celle.s, qui assurent aux autres membres
de la societé la jou1ssance de ces mêmes droits. Ces bornes ne peuv,ent être
determlnées que par la loi» . (V Staatsverfassungen, Günther Franz ( ed.),
Darmstadt, Wissenschaftlich,e Buchgesellschaft, 1975, p. 304). Note-se que
a segunda parte desse dispositivo constitucional é plenamente conforme o
pensamento de Kant. Já o art. 6• da Constituição Republicana de 1793, que
define a liberdade, em nada coincide com o que a respeito pensa Kant (Staats-
verfassungen, p. 374) .
91. Ober den Gemeinspruch, VIII, 290 - 291.
92. Id. ibid., 289 - 290.
JOAQUIM: CARLOS SALGADO 259
§ 60º
LIBERDADE EXTERNA E SUAS CONSEQOONCIAS
94. A respeito desse tema darei apenas breves indicações. Cfr. Bobbio,
Diritto e Stato neZ Pen.siero di EmanueZe Kant, p. 86 e s,egs . e Goyard -
Fabre S., Kant et le Probleme du Droit, Paris, Vrin, 1975, p. 44 e sesg.
95. Z. ew. Fr., VTII, 383.
96. M S , VI, 223.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 261
pelo qual ele sente a sua imposição, o seu império sobre os desejos.
ã ' um im ulso para a moralidade, s é a pró~Jdade
(Sttlichkeit) considerada subjetivamente como impulso. 97 Dever,
nesse caso, é a expressão da vinculação (Verbindlichkeit) humana
à lei moral, que aparece como um dever ser (Sollen). /}?ever, na
definição de Kant, é "a necessidade de uma ação por reverência
à lei~ (Notwendigkeit einer Handlung aus Achtung fürs Gesetz 98
e denota a consciência de que a vontade está ligada à lei moral,
que, nesse caso, se expressa pelo imperativo. A lei moral, contudo,
só existe pelo princípio da autonomia. Só se pode obrigar, ter
dever, diante da lei que a vontade mesma gerou.
:m necessário, portanto, ter em mente que o dever, essa neces-
sidade da ação que decorre do respeito à lei, não tem significado
algum, não pode existir, se a lei moral não for a própria emanação
da vontade que se vincula pela sua ação, o que nos leva a con-
siderações sobre o princípio da autonomia da vontade. Somente
cria dever, somente vincula a lei criada pela própria vontade vin-
culada, na medida em que essa lei seja universal, válida para todo
ser racional, porque produto da vontade pura ou da razão pura
prática.99
Para Kant há, pois, somente um dever, comum a todos os tipos
de imperativo: aquele que surge ·para a vontade, na medida em
que seja essa vinculação criada por wna lei que tem origem na
razão. :m limitação da vontade pela lei através da máxima. 100 Daí
que o dever moral e o dever jurídico não se distingüem em subs-
tância. A ação é que, na medida em que se relaciona com o dever,
pode ser moral ou jurídica (ou de outra ordem normativa). A ação
moral tem uma característica que a torna inconfundível. Na ação
moral o homem age "por dever" (aus Pflicht) e não simplesmente
"conforme o dever" (pflichtmãssig). A questão está, pois, no mo-
97. K p V, V, 76.
98. Grundlegung, IV, p. 400.
99. Interpretando Beck, podemoa dl.z.er que, na fórmula kantiana, só
cria dever a legislação da própria vontade e isso resolve o problema da
responsabilidade colocado pelos deterministas, segundo os quais não podemos
dizer que alguém é livre de cumprir ou não uma lei (Mefiatófeles); pensa-se
que é livre. Este problema é válido se se trata de liberdade de escolha,
hetenônoma, diante d,e uma lei externa; não, se se trata de liberdade como
autonomia. Tenho o dever de cumprir a lei que criei (Beck, op. cit., p. 186).
100. über 1um Gemeinspruch, VIII, p. 279 - 280.
262 A IDl!:IA DE JUSTIÇA EM KANT
102. Reflexion 6854, XIX, 186 e 7197, XIX, p. 270. A Reflexion no 7209,
XIX, 285, é ainda mais incisiva sobre esse privilégio da liberdade de fundar
todo dever ser: «Ausser den subj,ektiven Gesetzen, wodurch Handlungen
geschehen, gibt es objektlve Gesetze der Freihelt und Vernunft, welch,e Bedin-
gungen moglicher guter Handlungen enthalten und alBo .sagen, was ges-
chehen soll» .
264 A IDll:IA DE JUSTIÇA EM KANT
103. über den Gemeimpruch, vm, 303 - 304. Ver ainda a Reflexdo
~· 7983: «Was eln Volk nlcht thum kann, das kann auch eln jeder Souveraln
11lcht thun» (XIX, 572); M 8, VI, 327; Was ist Aufkliirung?, VIII, 39 - 40; z.
~w. Fr., VIII, 360.
104. M 8, VI, 220.
105. M S, VI, 222.
106. M S, VI, 222.
107. M 8, VI, 220.
108. M S, VI 220.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 265
Diz Kant:
"Die ethische Gesetzgebung ( die Pflichten mõgen allenfalls
auch iiussere sein) ist diejenige, welche nicht ãausserlich sein
kann; die juridische ist welche auch iiusserlich sein kann.
So ist eine iiusserliche Pflicht, sein vertragsmiissiges Verspre-
chen zu halten; aber das Gebot, dieses bloss darum zu thun,
weil es Pflicht ist, ohne unf eine andere Triebfeder Rücksicht
zu nehmen ist bloss zur innern Geseztgebung gehi:irig. 113
d) Autonomia e heteronomia
O conceito de ~ foi já discutido acima e se define
como a tgualidade que a vontade tem de legislar para si mesma] 114
2. Ver especialmente: Idee (VIII, 15/31) e über den Gebrauch der teleo-
logischen Principien in der Philosophie (VITI, 157/184) .
3. VorHi.nder, «Einleitung», ln: Kant, Metaphysik der S·itten, Hamburg,
li'elix Melner ( Phllosophlsche Bibliothek), p . xxxm.
272 A IDltIA DE JUSTIÇA EM KANT
§ 6~
O JUSTO E O DIREITO NATURAL
"Eine jede Handlung ist recht, die oder nach deren Maxime
die Freiheit der Willkür eines jeden mit jedermanns Freiheit
nach einem allegemeinen Gesetze zusammen bestehen kann" . 24
§ 639
A DEFINIÇÃO DO DIB.EITO
26. «Noch suchen dle Jurlsten elne Deflnltlon zu lhrem Begrlffe von
Recht» (K r V, B 760). Essa passagem tem sido uma preocupação constante
dos juristas (por exemplo, Somló, Tr.endelenburg, A. Feuerbach, :Malhofer,
Wolf, Garcia Maynez) quando procuram discutir o conceito do direito. Del
Vecchlo entende que essa passagem da obra de Kant não é mais válida, visto
que a «investigação sobre a histórica e positiva relatividade do direito, na
medida em que este pertence ao mundo da experiência", tem sua própria
legitimidade («Vom Wesen des Naturrechts»; ln: Naturrecht oder Rechts-
positivismus Y,,, Darmstadt, Wlssenschaitllche Buchgesellschait, 1972, p . 305
- 306).
27. tJber den Gemeinspruch, vm, p. 306: «so grUndet es slch auf
Prinziplen a priori ( denn was Recht sei, kann nlcht Erfahrung lehren) ».
28. MS, VI, 229.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 279
29. MS, VI, 230. A distinção entre conceito e ldéla do direito, posta
por Kant, será desenvolvida pelos neokantlanos, (Stammler e Del V~chio).
Cfr. Reale, M. Estudos de Filosofia e mêncin do Direito, São Paulo, Saraiva,
1978, p. 36.
30. MS, VI, p. 230.
31. Maihofer, Werner; «Vorwort»; ln: «Begriff und Wesoo des Rechts»,
p. XXI.
32. MS, VI, 237; Malhofer, op. cit., p. XXI.
280 A IDlilIA DE JUSTIÇA EM KANT
um. E para que· essa limitação seja justa, tem de ser igual para
todos. Como limitá-lo? Ou, por outra, como podem unir-se os
arbítrios segundo uma lei universal da liberdade ( zusam menve-
reinigt werden kann)?
§ 64 9
47. Reflexian "1735, XIX, 503: «Der Satz: exeundum est e statu naturali
bedeudet: Man kann jeden zwingen mit uns oder unserer Republic in statum
civilem zu treten. Dahrer der Krieg in diese Absicht alleln gerecht ist».
48. Lisser, op. cit., p. 44.
49 . Riedel, Manfred, «H:erschaft und Gesellschaft»; in: M aterial-ien zu
Kants Recht8phüosophie, Frankfurt, Suhrkamp, 1976, p. 135.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 285
"Der algemeine Wille des Volks ist nicht der Wille aller über
einen gegebenen Fall, sondern derjenige, der dies vrschie-
denen Willen bloss verknüpft, d. i., der gemeinschaftliche
Wille, der für alie beschliesst: also die blosse Idee der bürger-
lichen Einheit" . 68
age sempre com pura liberdade, mas por afecção dos sentidos, por
inclinaçã<LJ A coação é a contrafação da inclinação contrária à lei
racional. Daí que a ordem coativa existe segundo uma lei universal
da liberdade; o fim e a razão de ser da coação é a possibilidade da
liberdade em sociedade, de modo universal, isto é, de todos igual-
mente. A justiça aparece aí como distribuição dessa limitação da
coação igualitariamente e, por isso, da segurança da liberdade que
é igual para cada cidadão. E é por força de ser todo ser humano
igual em liberdade ( visto que racional) que a garantia dessa
igualdade se dá pela ~ . Yg_ma das formas dessa ga_rantil!, é a
coação, que será justa na medida em que seja igual para todos
(já que todos devem ser iguais em liberdade..tJ e também justa
na medida em que não seja uma limitação desproporcional do
arbítrio que fira a· liberdade, mas que baste para aparar as incli-
nações e fazer exsurgir a liberdade. Daí ser o princípio de justiça
da sanção a correspondência entre ela e o mal causado, que é
efeito das inclinações e impulsos sensíveis do homem; nem exces-
siva com relação a essas inclinações e impulsos sensíveis do homem,
nem escassa, que não assegure a lei universal da liberdade.
O mesmo argumento dado por Kant para demonstrar a pos-
sibilidade do imperativo categórico 62 é que impõe a conclusão da
necessidade do direito como ordem coativa. O imperativo categó-
rico é possível somente na medida em que puder ser pensado sinte-
ticamente a priori.
Isso é possível porque o homem pertence a dois mundos. S~
o homem fosse tão só do mundo inteligível, não haveria imperativo
categórico, dado que nada haveria que ordenar. Agiria segundo
a sua vontade pura, isto é, por liberdade pura, não havendo neces-
sidade do dever. Mas como sofre a influência dos sentidos, das
inclinações e dos instintos, ele tem de superar essa força para
realizar a ação da vontade. Daí o imperativo a ordenar-lhe, a
impor-lhe um dever. )
No mundo moral, é isto de fácil compreensão. Tudo se passa
no interior da vontade humana. Quando, porém, a ação humana
se exterioriza e surge a necessidade do respeito à liberdade, à
vontade ou à esfera de ação livre do outro, então o dever ser
expresso no imperativo deve guarnecer-se de uma garantia também
O CONTRATO SOCIAL
1. «A natura sind alle frey, und nur die Handlungen slnd recht, die
kelnes Freiheit elnschrãnken» (Reflexion 6738, XIX, 145).
2. , Reflexion 7445, XIX, 380 .
3. Metzger, op. cit., p. 85. Metzger ressalta a diferença entre Kant
e Achenwall no qual se inspirou: para Achenwall não há sociedade no esta-
do de natureza; para Kant, sim.
4. M S, VI, 306 e 312 - 313.
292 A IDÉIA DTIJ JUSTIÇA EM KANT
"Sondern es ist eine blosse idee der Vermunft, die aber ihre
unbezweifelte praktische Realitãt hat: nãmlich jeden Gesetz-
geber zu verbinden, dass er seine Gesetze so gebe, als sie aus
dem vereinigten Willen eines ganzen Volks haben entspringen
kõnnen. (grifo meu). E à linha seguinte: "Denn das ist der
Probierstein der Rechtsmãssigkeit eines jeden õffentlichen
Gesetzes" . 10
história da liberdade e, com ele, ela termina" ,12 razão pela qual os
dados empíricos da formação do Estado são apenas presuntivos
(mutma:::ss:::l;:.:ic:::h......,_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ~
12. Borries, Kurt, Kant als Politiker (Leipzig, Sclentla Verlag, 1928),
p. 60.
13. Beyssade, Jean Marie, «L'll':tat de Guerre et Pacte social selon
J'.J. Rousseau», ln: Kant-Studien, n. 70:163 e segs., 1969.
14. A responsabilidade existe porque se pode atender à legislação da
vontade pura e fazer com que ela domine as lncllnações sensivels.
15 . O pacto social não é de sujeição, nem se realiza .em duas etapas ( de
união e depois de sujeição), como afirmava Achenwall.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 295
§ 669
LIBERDADE, IGUALDADE E CIDADANIA
37. Habermas, J., «Publizltat ais Pr!nzlp der Vermlttlung von Politlk
und Moral (Kant)», in: Materialien zu Kants Rechstsphilosophie, Frankfurt,
Suhrkamp, 1976, p. 184.
38. Re{lexion, 1235, XV, p. 544.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 303
§ 679
O CAMINHO PARA O REPUBLICANISMO
44. Digo possivelmente porque, segundo Peter Burg (Kant unà die
Fmnzüsische Revolution, p. 137), é possível que Kant não tenha conhecido
bem Pufendorf, pois que o cita pouco.
45. Idee, VIII, 20.
46. ldde, VIII, 20.
47. Borrles, K. Kant als Politiker. Leipzig, Scientla Verlag (Fellx
Meiner) 1928, p. 61.
306 A IDll::IA. DE JUSTIÇA EM KANT
48. K U K, V, 432.
49. Euchner, W. «Kant ale Philosoph des Politlschen Fortschritts», ln:
Materialien zu Kants Rechtsphilosophw, Frankfurt, Suhrkamp, 1976, P· 393.
50. über den Gemeinsopruch, VIII, 290.
51. Der Streit der Fakultiiten, VII, 84 - 85.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 307
§ 689
"Auf die Rechte der Menschen kommt mehr an, ais auf die
Ordnung (und Ruhe). Es lãsst sich grosse Ordnung und ruhe
bey allgemeiner Unterdrückung stiften" . 66
68. Reflexion 7762, XIX, 509: «Der Usurpator hat jede Zeit Unrecht,
aber dasVolk hat kein Recht gegen lhn».
69.Fetscher, op. cit., p. 284.
Fetscher, op .. cit. , p.
. 70 . 282.
71.W as ist Aufküimng 1, VDI, 39. Cfr. Fetscher, op. cit. , p. 28.
Z. ew. Fr., VIII, 350.
312 A ID:mIA DE JUSTIÇA EM KANT
77. Na «über den Gemeinspruch>, VIII, p. 310, Kant dá. duas causas
do progresso do homem para o melhor: a Providência como plano racional
que orlenta a natureza, e a Educação, que cultiva a moralidade. Em ldee
(VIII, p. 20 - 21) a humanidade é levada a sair dÔ seu rude estado de
natureza para a perfeição do estado de liberdade.
78. Passinl, op. cit., p. 147.
79. Der Btreit der Fakultãten, VII, 148.
80. Burg, op. cit., 124.
81. Id. ibià., p. 126.
314 A IDl!lIA DE JUSTIÇA EM KANT
82. Kant não assume a.e bases materialistas dos enc!clopedistas fran-
ceses, mas chega a tomar uma posição mais ou menos semelhante à de
alguns deles. O que, entretanto, em Btreit der Fakultéiten se mostra in-
questionável é que a concepção da história fundada· na vontade divina fica
totalmente abalada diante da ~eg!t!mação do poder pela vontade popular
pr,econlzada pela Revolução Francesa, que destruiu a base da legitimação
feudal: omni.s potestas a Deo. Kant passa a fundamentar a história na razão
(Burg, op. cit ., 102).
83. Id. ibid.
84. Já vimos que a ciência do direito para Kant é a filosofia do direito,
única capaz de responder o que é o direito. O jurista não chega ao conceito
a priori do direito, porque está preocupado com a sanção imposta estatuta-
riamente pelo legislador e não com a adequação da norma estatutária com
a razão ( Burg, op . cit . , 126) . A filosofia do direito é o conhecimento da
validade última do direito poaltivo, que é dado pelo direito natural, como
prlncipios a priori da razão. Não há uma ciência positiva do direito nos
moldes de Kelsen.
85. Burg, op. cit., 133.
86. Deve-se lembrar que a razão é a faculdade dos prlnciplos, o enten-
dimento, dos conceitos. Aqueles referem-se à esfera prática, estes à teórica
(Burg, op. cit., 133) .
87. Burg, op. cit., 129.
88. Reflexion, 7665, XIX! 482.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 315
"Es kann kein mit summo suo imperante stattfinden, weil ein
Theil seine Bedingungen nicht zu zwingen, ja nicht eimmal
dariiber zu urtheilen, befugt ist" . 100
§ 69~
O ESTADO REPUBLICANO
sua época. Por isso Kant não transige com alguma outra forma
de Estado que não coloque o direito como fim primeiro e, com isso,
desvie da sua origem e da razão de ser do pacto social que o pos-
sibilita. O Estado despótico pode realizar o bem material dos
indivíduos, tanto quanto o pode até o estado de natureza, como
observa Rousseau. 127 Esses, considera Kant como falsos Estados.
Verdadeiro, somente o que busca o seu fundamento nos princípios
formais do direito,128 com o que Kant leva para a consideração
do Estado o método purificador da sua ética, caracterizada por
uma rígida separação entre forma e matéria, felicidade e dever; 129
e define o Estado de direito:
127. M S, VI 318.
128. Metzger, op . cit. , p. 99.
129. Id. ibidem, p. 106 .
130. M S, VI, 313.
131. «Dle gesetzgebende Gewalt kann nur den verelnlgen Wlllen des
Volks zukornmen» ( M S, VI, 313) .
326 A ID:GJIA DE JUSTIÇA EM KANT
145. Z. ew. Fr., VIII, 378: «So lat es z. B. eln Grundsatz der mora-
lischen Polltik: dass slch .ein Volk zu ei nem Staat nach den allelnlgen
Rechtsbegriffen der Frelhelt und Gleichhelt vereinigen solle, und dieses
Princlp 1st nlcht auf Klugh.eit, sondern auf Phlicllt gegründet».
146 . Passlni, op. cit. , p. 153.
147. Vorarbeiten zu «Zwm ewigen Frieden», xxm, 164.
148. «Kant foi o único que deu ao Estado de direito puro um lado
legitimamente ético» (Metzger, op. cit., p. 101, nota 3).
149. M S, VI, 154; Z. ew. Fr., VIII, 378 e 379.
150. Vorarbeiten zum Gemeinspruch, XXIII, 129.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 331
§ 70 9
A PAZ PERP:li1TUA
154. K r V, B 375.
155. Não cabe aqui discutir se se trata de wn artificio de Kant a
introdução desse ideal na ética, no sentido de salvar o seu sentimento ple-
tista, ou se o bem supremo legítimo é mesmo o postulado de Deus como
pretende Luclen Goldman (A Origem da Dialética, p. 212 .e sega.) . Interes
sa-me tão só que Kant concebe, a par do bem supremo referente à morali-
dade do individuo, o bem supremo referente à espécie hwnana. De qualquer
modo, se há uma preocupação polítlca fundamental no pensamento de Kant
(e não apenas metafísica com base religiosa) com suporte na liberdade, não
há como relegar a segundo plano o bem supremo por ele representado na
idéia de paz perpétua. Esse bem supremo é que está no centro das preocu-
pações filosóficas de Kant, não o do individuo isoladamente. Tanto assim
que, como reconhece o próprio Goldmann (op. cit., p. 237), para a ldéia
de bem supremo da comunidade humana, Kant encontra uma prova eficaz,
a Revolução Francesa e suas conseqüências políticas, o que não é possível
para o Ideal do bem supremo do Individuo. O «plano da natureza~ que
propulsiona a história. não é um artificio para provar a existência de Deus,
mas uma constatação que possibilita postulá-la. A paz perpétua é o núcleo
da filosofia da história de Kant.
156 . Ellscheld, op . c4t., p. 79.
JOAQUIM CARLOS SALGADO 333
1. K r V, B 375 - 376.
340 A IDJ!:IA DE JUSTIÇA EM KANT
II
CRITICA: AINDA O FORMALISMO
REFEMNCIAS BIBLIOGRÃFICAS
IMPRENSA UNIVERSITARIA
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